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  • Neste livro bem escrito, Mark Dever aborda de modo convincente o assunto bsico de alcanar os perdidos com o evangelho. Estimulante em sua simplicidade e aplicao prtica.

    RobeRt e. Coleman, professor de evangelizao e discipulado,Gordon-Conwell Theological Seminary

    Poucos homens tm corao e erudio para falar to biblicamente sobre o assunto de evangelizao como o meu amigo Mark Dever. Todos seremos evangelistas melhores se lermos e meditarmos nas verdades teolgicas expressas nes-te importante livro.

    Johnny hunt, pastor, First Baptist Chruch of Woodstock, Georgia

    O autor levou-me a Cristo h mais de uma dcada. Por-tanto, ele sabe o que fala. Pelo que sei, ele o nico cristo que conduziu um grupo de atestas na faculdade com pro-psitos evangelsticos! Este livro cheio de discernimentos prticos a respeito de como obedecer Grande Comisso deve estimular-nos, como indivduos e como igrejas, a res-plandecer como estrelas no universo.

    John FolmaR, pastor,United Christian Church of Dubai, Emirados rabes Unidos

  • Nossas lentes teolgicas variam, mas, apesar disso, ve-mos a mesma coisa: o propsito da vida crist e a vocao da igreja ter parte na obra redentora de Deus no mundo. E, no importando qual seja a sua tradio evanglica, h algo neste livro que o ajudar a entender e fazer isso melhor. Nestes trinta anos em que conheo Mark Dever, ele sempre tem estudado e praticado o que escreve neste livro. Leia, cresa e faa!

    DaviD R. thomas, pastor,Centenary United Methodist Congregation,

    Lexington, Kentucky

    O profundo desejo de Mark Dever de ver pessoas vindo a Cristo, combinado com um firme e permanente compromisso com a evangelizao bblica, originou um importante livro para a nossa poca um livro que deve ser lido fielmente por todos que desejam compartilhar sua f.

    J. maCk stiles, secretrio geral, IFES, Dubai,

    Autor de Speaking of Jesus

  • O Evangelho e a EvangelizaoTraduzido do original em inglsThe Gospel & Personal Evangelismpor Mark Dever Copyright 2007 by Mark E. Dever

    Publicado por Crossway Books, Um ministrio de publicaes de Good News PublishersWheaton, Illinois 60187, U.S.A

    Esta edio foi publicada atravs de um acordo com Good News Publishers

    Copyright2009 Editora FielPrimeira Edio em Portugus: 2011

    Todos os direitos em lngua portuguesa reservados por Editora Fiel da Misso Evanglica Literria

    Proibida a reProduo deste livro Por quaisquer meios, sem a Permisso escrita dos editores, salvo em breves citaes, com indicao da fonte.

    Presidente: James Richard Denham III.Presidente emrito: James Richard Denham Jr. Editor: Tiago J. Santos FilhoTraduo: Francisco Wellington FerreiraReviso: Tiago J. Santos FilhoDiagramao: Layout Produo GrficaCapa: Rubner DuraisISBN: 978-85-99145-98-2

    Caixa Postal 1601CEP: 12230-971

    So Jos dos Campos, SPPABX: (12) 3919-9999

    www.editorafiel.com.br

  • Com gratido a Deuspor sua fidelidade pelos frutos dados por meio da evangelizao, os agora queridos amigos John, Karan e Ryan,

    e pelos amigos que me ensinaramsobre a evangelizao:

    Jim PackerWill MetzgerMack Stiles

    Sebastian Traeger

  • Sumrio

    Prefcio: C. J. Mahaney.....................................................11

    Introduo: Uma Histria Admirvel ...............................15

    1 Por que No Evangelizamos? ..................................23

    2 O que o Evangelho? .............................................39

    3 Quem Deve Evangelizar? ........................................57

    4 Como Devemos Evangelizar? ..................................71

    5 O que No Evangelizao? ..................................91

    6 Depois de Evangelizar, o que Devemos Fazer? ......111

    7 Por que Devemos Evangelizar? .............................127

    Concluso: Fechando a Venda ........................................143

    Apndice: Uma Palavra aos Pastores ..............................151

  • Uma das primeiras coisas que descobri sobre meu bom amigo Mark Dever que ela anda to rpido quanto fala. H mais de dez anos, tomei o carro e fui de minha igreja, na periferia de Washington DC, ao encontro com ele na Capitol Hill Baptist Church, onde ele serve como pastor principal. O dia estava agradvel, e, por isso, Mark sugeriu que caminhssemos um pouco, do prdio histrico de sua igreja at a lanchonete Subway mais prxima. Embora eu ande habitualmente em passo rpido, tive dificuldade em acompanhar Mark.

    Momentos antes de entrarmos naquele fast-food, Mark explicou que comia ali freqentemente, no por cau-sa da cozinha excelente, e sim por causa do propsito de compartilhar o evangelho. No interior, ele saudou por nome os proprietrios um casal de muulmanos da ndia e os envolveu em uma conversa agradvel.

    Quando me sentei, comecei a questionar Mark a respeito

    Prefcio

  • evangelho e evangel izao

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    de seu amor pelos incrdulos e suas estratgias para comparti-lhar o evangelho. Ele me disse que freqenta intencionalmente o mesmo restaurante e lojas para desenvolver relacionamentos e criar oportunidades esperanosas de evangelizao.

    Desde aquele dia, tenho procurado seguir o exemplo de Mark e tenho desfrutado a alegria de compartilhar as boas-novas com muitas pessoas que encontro na rota apa-rentemente comum da vida cotidiana.

    Se voc, como eu, j viveu dias inteiros desinteressado e inconsciente de pecadores perdidos ao seu redor, ou se voc deseja compartilhar o evangelho, mas no sabe como estabelecer um relacionamento e comear uma conversa, O Evangelho e a Evangelizao Pessoal o encorajar e o equipa-r. Enquanto voc l, captar a contagiante paixo de Mark por compartilhar o evangelho de Jesus Cristo e receber ins-truo prtica sobre a evangelizao pessoal.

    Embora este livro seja para todos os cristos, ele tam-bm um dom para os pastores. Cultivar a evangelizao na igreja local uma das mais importantes responsabilidades e um dos mais difceis desafios de um pastor. Talvez o mais difcil. Entretanto, nas paginas de O Evangelho e a Evangeli-zao Pessoal, a sabedoria, o ensino e a experincia de Mark Dever o ajudaro nessa tarefa vital do ministrio.

    Essa a razo por que, durante vrios anos at ago-ra, tenho importunado Mark a escrever este livro. Assim, pela graa de Deus, os membros de igrejas, pastores, voc e eu nos importaremos com aqueles que antes ignorvamos. Seremos amigos de pecadores que esto sem esperana e sem Deus. Compartilharemos com eles as boas-novas do

  • recomendaes

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    sacrifcio vicrio de Jesus Cristo, na cruz. Um dia, essas al-mas perdidas podero se converter de seus pecados e crer na morte e ressurreio do Salvador em favor delas. E haver solene regozijo no cu e na terra (Lc 15.10)!

    Mark, obrigado por escrever O Evangelho e a Evange-lizao Pessoal. Agradeo-lhe mais ainda por seu exemplo persuasivo de compaixo pelos perdidos e por sua fidelida-de em proclamar Jesus Cristo crucificado. Que haja muitas conversas e abundantes frutos de evangelizao como resul-tado deste livro.

    Estou aguardando o nosso prximo almoo juntos, meu amigo. Vamos caminhar at ao Subway!

    C. J. MahaneySovereign Grace Ministries

  • Desejo contar-lhe uma histria admirvel sobre uma pessoa com a qual voc gostaria de parecer-se. E, por favor, continue lendo apesar de alguns detalhes. No posso contar histrias de outra maneira.

    John Harper nasceu em um lar cristo em Glasgow, na Esccia, em 1872. Quando tinha 14 anos, ele se tornou um cristo e, a partir daquele momento, comeou a falar de Cristo para os outros. Aos 17 anos de idade, John comeou a pregar, andando pelas ruas de seu vilarejo e derramando a sua alma em apelo veemente para que os homens se recon-ciliassem com Deus.

    Depois de seis ou sete anos de labuta nas esquinas das ruas, pregando o evangelho e trabalhando no moinho du-rante o dia, John Harper foi tomado pelo Rev. E. A. Carter, da Misso Batista Pioneira, em Londres. Isso deixou Harper livre para dedicar seu tempo e energia obra que ele tanto amava evangelizar. Em breve, em setembro de 1896, Har-

    introduo

    uma HiStria admirvel

  • evangelho e evangel izao

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    per comeou sua prpria igreja. Essa igreja, que ele comeou com apenas 25 membros, tinha mais de 500 membros quan-do ele a deixou 13 anos depois. Durante esses anos, ele se casara e ficara vivo. Antes de perder sua esposa, Deus o abenoara com uma linda menina chamada Nana.

    A vida de John Harper foi cheia de incidentes. Ele qua-se morreu afogado vrias vezes. Quando tinha dois anos e meio, ele caiu em um poo, mas foi ressuscitado por sua me. Aos vinte e seis anos, foi levado ao mar por uma cor-renteza e quase no sobreviveu. Aos trinta e dois, encarou a morte em um navio avariado no Mediterrneo. Esses en-contros com a morte pareceram confirmar John Harper em seu zelo por evangelizao, que o marcou pelo resto de seus dias nesta vida.

    Enquanto pastoreava sua igreja em Londres, Harper continuava sua evangelizao zelosa e fiel. Na verdade, ele era um evangelista to zeloso que a Moody Church, em Chicago, o convidou a ir America para uma srie de reu-nies. Ele foi, e tudo correu muito bem. Alguns anos depois, a Moody Church convidou-o novamente a ir aos Estados Unidos. Assim, um dia Harper embarcou em um navio, com um passagem de segunda classe, partindo de Southampton (Inglaterra), a fim de viajar para a Amrica.

    A esposa de Harper morrera poucos anos antes. Ele levava consigo sua nica filha, Nana, que tinha seis anos de idade. O que aconteceu depois disso sabemos princi-palmente de duas fontes. Uma das fontes Nana, que morreu em 1986, aos 80 anos de idade. Ela lembrava que havia sido acordada por seu pai algumas noites depois

  • apresentao

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    do incio da viagem. Era quase meia-noite, e ele disse que o navio em que estavam havia batido em um iceberg. Harper lhe disse que outro navio estava vindo para res-gat-los, mas, por precauo, ele a colocaria em um bote salva-vidas com uma prima mais velha, que os acompa-nhava. E, quanto a ele, esperaria at que o outro navio chegasse.

    O resto da histria uma tragdia famosa. A peque-na Nana e sua prima foram salvas. Entretanto, o navio em que estavam era o Titanic. S sabemos o que aconteceu depois com John Harper porque, alguns meses mais tarde, em uma reunio de orao em Hamilton (Ontrio), um jovem escocs se levantou e contou, em lgrimas, a ex-traordinria histria de como fora convertido. Explicou que estivera no Titanic naquela noite em que este batera no iceberg. Ele se agarrara a um pedao de destroos flu-tuante nas guas congelantes. De repente, contou ele, uma onda trouxe um homem, John Harper, e o colocou perto mim. Harper tambm estava agarrado a um pedao de destroos.

    Ele gritou: Homem, voc salvo?No, no sou, eu respondi.Ele gritou de novo: Creia no Senhor Jesus Cristo e

    voc ser salvo.As ondas levaram [Harper], mas, pouco depois, ele foi

    trazido de volta para o meu lado. Voc est salvo agora?, perguntou em voz alta.

    No, eu respondi. Creia no Senhor Jesus Cristo e voc ser salvo.

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    Ento, soltando o pedao de madeira, [Harper] afun-dou. E ali, sozinho na noite, tendo mais de trs quilmetros de gua abaixo de mim, eu confiei em Cristo como meu Sal-vador. Sou o ltimo convertido de John Harper.1

    Agora, tratando de algo completamente diferente, mencionarei a minha vida como evangelista. Eu no sou John Harper. s vezes, sou um evangelista relutante. De fato, s vezes sou um evangelista relutante e s vezes no sou evangelista de modo algum. Tem havido ocasies de luta ntima: Devo falar com esta pessoa? Sendo, em geral, uma pessoa ousada, at pelos padres americanos, posso fi-car quieto, respeitando o espao da outra pessoa. Talvez eu fique sentado ao lado de algum no avio (e, nesse caso, j deixei pouco espao para ela!); talvez algum fique conver-sando comigo a respeito de algum outro assunto. Talvez seja um parente que conheo h muitos anos ou uma pessoa que nunca conheci. Contudo, sem importar quem seja, aquela pessoa se torna para mim, naquele momento, um desafio espiritual que inspira desculpas e cessao do testemunho cristo.

    Se houver um tempo no futuro em que Deus avaliar todas as nossas oportunidades perdidas de evangelizao, receio que eu possa causar certa demora na eternidade.

    Se voc se parece comigo no que diz respeito evan-gelizao (e muitos parecem), desejo encoraj-lo a ler todo este livro. Ele tem o alvo de encorajar, esclarecer, instruir,

    1 ADAMS, Moody. The Titanics last hero: story about John Harper. Columbia, SC: Olive Press, 1997. p. 24-25.

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    repreender e desafiar, elaborado na forma de captulos bre-ves. Minha orao que, como resultado do tempo que voc gastar na leitura deste livro, mais pessoas ouam as boas-novas de Jesus Cristo.

    No admirvel que tenhamos dificuldades para com-partilhar essas novas maravilhosas? Quem recusaria dizer a um amigo que ele tem um bilhete de loteria premiado? Que mdico no desejaria dizer ao seu paciente que os exames tiveram resultado negativo (o que, na realidade, uma coisa boa)? Quem no se sentiria honrado por um telefonema do presidente da repblica dizendo-lhe que gostaria de encon-trar-se com ele?

    Ento, por que ns, que temos as melhores notcias do mundo, somos to demorados em cont-las aos outros? s vezes, nosso problema pode ser qualquer um dentre uma longa lista de desculpas. Talvez no conheamos bastante o evangelho ou achemos que no. Talvez pensemos que isso tarefa de outra pessoa de um pastor ou de um mission-rio. Talvez no saibamos mesmo como realiz-la. Ou talvez pensemos que estamos evangelizando quando, de fato, no estamos.

    Digamos que somos fiis na evangelizao, mas o que fazemos se a pessoa que evangelizamos fica nervosa ou mes-mo se irrita conosco? Por outro lado, o que fazemos se a evangelizao parece dar certo, se algum faz a orao de salvao conosco ou pelo menos diz que deseja ser um cristo?

    E mais uma pergunta que os crentes fazem costumei-ramente a respeito da evangelizao: certo eu no querer

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    evangelizar e faz-lo motivado por sentimento de culpa? Sei que isso no o melhor, mas pelo menos correto? Es-sas so algumas das perguntas que pretendemos responder. Alm dessas, quero considerar algumas outras perguntas a respeito de compartilhar as boas-novas: por que no evan-gelizamos? O que o evangelho? Quem deve evangelizar? Como devemos evangelizar? O que no evangelizao? O que devemos fazer depois de evangelizar? Por que devemos evangelizar? Em resumo, discutimos neste livro as melhores notcias que existem e como devemos compartilh-las.

    Deus estabeleceu quem deve evangelizar e como faz--lo. Deus mesmo est no mago do evangelho as boas-novas que estamos disseminando. E, em ltima anlise, devemos evangelizar por causa de Deus. Tudo que fazemos neste livro conectar alguns dos pontos em nossa maneira de pensar e, espero, em nosso falar.

    Nossas respostas a essas perguntas no so completamente distintas. Elas se entrelaam e influenciam umas s outras, mas cada uma delas prov um ponto de vista separado com o qual podemos ver e entender este grande tema bblico da evange-lizao. Para responder a essas perguntas, examinaremos todo o Novo Testamento, desde o epicentro da evangelizao o Livro de Atos aos evangelhos e s epistolas.

    claro que este pequeno livro no pode responder to-das as perguntas que existem sobre a evangelizao (porque eu no posso responder todas as perguntas!). No entanto, meu desejo que, por consider-las, voc descubra que pode ser mais compreensivo e mais obediente na evangeli-zao. No posso prometer que voc se tornar outro John

  • recomendaes

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    Harper (ainda no me tornei um), mas todos podemos nos tornar mais fiis.

    Tambm espero que, medida que voc evangelize mais, ajudar a sua igreja a desenvolver uma cultura de evangelizao. O que significa isso? Significa uma expectati-va de que os cristos compartilhem o evangelho com outras pessoas, conversem sobre evangelizao, orem, planejem e trabalhem juntos regularmente para ajudar um ao outro a evangelizar. Queremos que a evangelizao seja algo normal em nossa vida e em nossas igrejas.

    Esse foi o propsito por que escrevi este livro. Espero que voc o leia com esse mesmo propsito.

  • A. T. Robertson foi um famoso professor da Bblia e uma ama-do palestrante de seminrio. Era tambm conhecido como um professor exigente. s vezes, os alunos tinham de ficar de p na sala de aula e recitar de memria longas passagens de seus livros de estudo. Algumas vezes, eles se saam bem; outras vezes, no. Depois de uma mal-sucedida ocasio especfica de recita-o, o Dr. Robertson disse a um dos alunos: Bem, desculpe-me, irmo, mas tudo que posso fazer por voc orar e reprov-lo.1

    Reprovar uma palavra que no usamos mais com freqn-cia. uma palavra severa, desagradvel e inflexvel. No entanto, talvez seja uma boa palavra a usarmos para resumir como muitos de ns temos nos sado em obedecer chamada a evangelizar. Jesus nos mandou contar a todas as naes as boas-novas, mas no te-mos feito isso. Ele chama pessoas a serem pescadores de homens, mas preferimos observar. Pedro disse que devemos estar sempre

    1 GILL, Everett. A biography of A. T. Robertson. New York: Macmillan, 1943. p. 187.

    caPtulo 1

    Por que no evangelizamoS?

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    preparados para responder a todo aquele que nos pedir razo da esperana que temos, mas no estamos. Salomo disse que quem ganha almas sbio, mas falhamos nisso.

    No entanto, se voc se parece comigo em algum aspecto, talvez no seja to insensvel quanto s suas falhas na evangeli-zao. Voc tem alterado seus registros mentais. De fato, quando voc no d testemunho de Cristo, ocupa-se em desculpar, justifi-car, racionalizar e explicar sua conscincia por que foi realmente sbio, amvel e obediente no compartilhar o evangelho com de-terminada pessoa naquele momento e naquela situao.

    Neste captulo, queremos considerar algumas das des-culpas mais comuns que usamos para justificar nossa falta de evangelizao. Em geral, essas desculpas vm nossa mente, impedem que realizemos certas conversas e desaparecem ra-pidamente. Neste captulo, queremos deter essas desculpas e mant-las quietas por um momento, a fim de conversarmos com elas. claro que h muitas outras desculpas, mas essas so populares. Primeiramente, consideraremos as cinco desculpas especialmente comuns. Depois, consideraremos aquelas des-culpas apresentadas pelos incrdulos, aqueles que recusam as novas do evangelho que estamos tentando apresentar-lhes. Por fim, consideraremos as desculpas que se referem a ns mesmos e veremos o que podemos fazer a respeito delas.

    1 deSculPa BSica: no Sei o idioma deleS.

    Ora, a barreira do idioma uma desculpa impres-sionante. E tem de ser a melhor neste captulo. Se voc

  • Por que no evangel izamos?

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    est sentado prximo a pessoas que falam somente chins ou francs, no tem oportunidade de compartilhar nada com elas e, muito menos, as boas-novas sobre o Cristo e a alma dessas pessoas. claro que voc ter de aprender uma nova lngua, para que seja capaz de compartilhar o evangelho com muitas outras pessoas. Voc deve le-var consigo Bblias ou literatura evangelstica em outros idiomas para dar, quando tiver oportunidade. Desde a Torre de Babel, Eu no sei tem sido uma das mais le-gtimas desculpas que podemos imaginar. Paulo advertiu os cristos de Corinto quanto inutilidade de falar pa-lavras ininteligveis para algum (1 Co 4.10-11, 16, 23). Afinal de contas, todo o propsito de usar palavras ser entendido!

    2 deSculPa BSica: a evangelizao ilegal.

    Em alguns lugares, evangelizar uma prtica ilegal. No mundo, existem pases em que reinam tiranias das trevas. Podem ser atestas ou islmicas, seculares ou at crists (de nome). Todavia, em muitos pases comparti-lhar o evangelho bblico proibido. E, com certeza, ele no pode ser crido por aqueles que no so cristos con-fessos! Nesses pases, voc pode sair e evangelizar uma vez. A segunda ou terceira vez pode ser impedida por presso social, ou leis, ou deteno, ou armas. No mui-tos dos que lem este livro esto provavelmente nessa condio.

  • evangelho e evangel izao

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    3 deSculPa BSica:a evangelizao cauSa ProBlemaS no traBalHo.

    Mesmo em pases onde a evangelizao legalmente permitida, muitos de ns trabalhamos em empresas cujos patres nos pagam para terem certa quantidade de tarefas realizadas; e eles tm uma expectativa legtima. Durante as horas de trabalho, talvez a nossa evangelizao distraia as pessoas, ou reduza nossa produtividade, ou faa outras coi-sas que causem em nossos patres uma preocupao vlida. Certamente no queremos que o compartilhar o evangelho traga m reputao para ns ou para o evangelho por al-guma razo que no seja discordncia para com a prpria mensagem. Entendemos que todos esto, por natureza, em inimizade com Deus; mas no queremos dar s pessoas ra-zes para se oporem ao nosso evangelho. No queremos que a nossa evangelizao seja um obstculo ao evangelho as boas-novas.

    4 deSculPa BSica: outraS coiSaS Parecem maiS urgenteS.

    H tantas outras coisas a fazermos em determinado dia. Temos de cuidar da famlia e fazer planos para o fim de semana. O trabalho tem de ser feito, e as contas, pa-gas. Estudar, cozinhar, limpar, fazer compras, retornar as ligaes telefnicas, escrever e-mails, ler, orar eu poderia continuar falando sobre todas as coisas boas que precisamos

  • Por que no evangel izamos?

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    fazer. E muitas dessas coisas so sensveis ao tempo. Se eu tiver um desentendimento com a esposa, preciso resolv-lo imediatamente. Se o beb estiver chorando, tenho de lev--lo para casa neste momento. Se o trabalho da faculdade para amanh, preciso comear a escrev-lo hoje mesmo. Se no temos comida para a noite, tenho de fazer compras e cozinhar agora. lcito que, alm da evangelizao, eu faa e honre muitos compromissos da vida. Contudo, os nossos ou-tros compromissos se tornam s vezes to numerosos ou os interpretamos assim que no temos tempo de evangelizar? Se estamos muito ocupados, como estamos administrando as coisas para que tenhamos tempo de evangelizar?

    5 deSculPa BSica:no conHeo no-criStoS.

    Isolamento dos incrdulos pode ser a desculpa mais comum para a falta de evangelizao. Essa a desculpa pre-ferida de cristos maduros. Quando penso sinceramente em minha prpria vida, percebo que tenho poucos relaciona-mentos significativos com no-cristos. Sou um pastor e, na maior parte de meu trabalho, no tenho pessoas no-crists ao meu redor. Estou ocupado escrevendo sermes, aconse-lhando, planejando, treinando outros cristos, respondendo chamadas telefnicas at escrevendo um livro sobre evan-gelizao! Estou geralmente indisponvel s pessoas, exceto para os membros de minha igreja, durante o dia, ou minha famlia, noite. Estou realmente absorvido em relaciona-mentos cristos e creio que sou chamado para isso.

  • evangelho e evangel izao

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    No entanto, como encaixar a evangelizao em casos semelhante ao meu? Se voc uma jovem dona de casa que tem filhos, ou um cristo idoso, aposentado, que tem dificuldades para estabelecer novos relacionamentos, en-to voc tambm sabe algo a respeito deste desafio. Se voc um novo cristo, talvez j foi aconselhado (sabiamente) a estabelecer amizades significativas com outros cristos. E, se voc j um cristo por algum tempo, provavelmente j esteja ocupado em servir na igreja, gastando seu tempo em instruir cristos mais novos. Uma das melhores deci-ses que podemos fazer orar e conversar com um amigo cristo sobre a maneira como podemos cumprir de modo legtimo nossos papis na igreja, no lar e no trabalho, en-quanto, ao mesmo tempo, procuramos conhecer e falar com os no-cristos.

    deSculPaS concernenteS a eleS

    Outro grupo de desculpas relaciona-se com os pro-blemas que voc e eu achamos que os outros tero quando falarmos de Cristo para eles. Quantas vezes se formam em minha mente estas desculpas mais sutis e requintadas, quan-do penso em compartilhar o evangelho com algum? As pessoas no querem ouvir. No se interessaro. Talvez j conheam o evangelho. Provavelmente no dar resulta-do. Duvido que eles crero. No levo em conta o poder do evangelho e me vejo envolvido em uma maneira de pensar erroneamente desanimadora.

    Evidentemente, devo considerar quo fiel tudo isso.

  • Por que no evangel izamos?

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    Como Paulo disse aos corntios: Quem que te faz sobres-sair? E que tens tu que no tenhas recebido? (1 Co 4.7). Por que pensamos que respondemos ao evangelho e outra pessoa no responderia? Voc ainda no percebeu que Deus salva alguns dos mais improvveis convertidos? Se voc no tem certeza disso, considere alguns de seus amigos convertidos. Considere a sua prpria converso. Jonathan Edwards deu a um relato do Grande Despertamento o ttulo de A Narrati-ve of Surprising Conversions [Uma Narrativa de Converses Surpreendentes]. De fato, em um sentido, todas as conver-ses so surpreendentes: inimigos so amados, os alienados so adotados, os que deveriam ser punidos tornam-se her-deiros da vida eterna. exatamente essa natureza radical e surpreendente da converso que deve encorajar-nos evangelizao. Deus pode salvar qualquer pessoa. E, quanto mais improvvel isso parea, tanto mais glria (podemos at raciocinar) ele recebe quando a converso acontece.

    o mago da queSto: Planeje Parar de no evangelizar

    Estamos nos aproximando do mago de grande parte de nossa falta de evangelizao. O que acontece conosco quando no evangelizamos? Pensemos em doze passos que podemos tomar: orar, planejar, aceitar, entender, ser fiel, correr o risco, preparar, ver, amar, temer, parar e considerar.

    1) Ore. Acho que muitas vezes no evangelizamos por-que fazemos tudo em nossa prpria capacidade. Tentamos deixar Deus fora do assunto. Esquecemos que vontade e

  • evangelho e evangel izao

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    prazer dele que o evangelho seja conhecido. Deus quer que pecadores sejam salvos. Em palavras simples, no oramos por oportunidades de compartilhar o evangelho. Ento, por que devemos ficar surpresos se as oportunidades no nos vm? Se voc no evangeliza porque acha que no tem oportunidades, ore e admire-se quando Deus responder s suas oraes.

    2) Planeje. Como j consideramos, s vezes no que-remos evangelizar porque pensamos: Estou muito ocupado com outras coisas boas. Essas coisas so maneiras legtimas de gastar meu tempo. Por isso, no tenho tempo para evan-gelizar agora. Quando minha sade melhorar... eu terminar minha tese... meu filho estiver na escola... meu marido se aposentar... eu receber promoo... ela estiver em melhor estado de esprito, ento..., dizemos, compartilharei o evangelho. Para lutar contra desculpas como essas, preci-samos planejar a separao de tempo para estabelecermos relacionamentos ou nos colocarmos em posies em que seremos capazes de conversar com no-cristos. Fazemos planos para tantas coisas menos importantes; por que no os fazemos para a evangelizao?

    3) Aceite. Temos de aceitar o fato de que a evan-gelizao nossa tarefa. Consideraremos isso melhor no captulo 3. Agora, apenas reconheamos que s vezes no evangelizamos porque achamos que isso no nossa tarefa. Achamos que isso tarefa de pregadores ou de algum que treinado e pago para faz-lo. Mas, se vamos evangelizar, precisamos reconhecer como nos temos esquivado de nos-so dever e ajustar-nos para aceitar a responsabilidade pela

  • Por que no evangel izamos?

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    evangelizao. Devemos ser os cristos mais prximos de um incrdulo especfico. Talvez ele tenha uma tia ou tio cristo, um amigo ou um empregado cristo que esteja orando por ele. Talvez sejamos a resposta dessas oraes. Devemos acei-tar, podemos aceitar, temos de aceitar o maravilhoso papel que Deus nos designou como evangelistas na vida de outras pessoas!

    4) Entenda. Parte de nosso fracasso em evangelizar re-sulta de uma falta de entendimento. Deus no usa tanto os dons na evangelizao (embora haja um dom bblico de evangelista), e sim a fidelidade de milhares e milhares de cristos que jamais diriam que tm o dom de evangelizar. Sua concluso de que voc no possui dom para uma tare-fa especfica no o exime da responsabilidade de obedecer. Voc pode chegar concluso de que evangelizar no o seu dom, mas continua sendo o seu dever. No ter o dom de misericrdia no nos isenta, de modo algum, de sermos mi-sericordiosos. Todos os cristos devem exercer misericrdia; alguns deles sero particularmente dotados em fazer isso, de modos especiais, em certas ocasies, porm todos devem ser misericordiosos. Deus pode abenoar e usar de modo inco-mum um Pedro, um Filipe, um Whitefield, um Spurgeon, um Hudson Taylor e um Adoniram Judson, mas ele chama todos ns a compartilharmos as boas-novas.

    5) Seja fiel. Talvez precisemos equilibrar novamente as nossas lealdades. Pode acontecer que estamos sendo muito educados e, por isso, infiis a Deus nesta rea. Talvez esteja-mos mais preocupados com a reao das pessoas do que com a glria de Deus. Talvez estejamos mais preocupados com os

  • evangelho e evangel izao

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    sentimos delas do que com os de Deus. Deus no gosta de ter a sua verdade suprimida, e isso o que os no-cristos esto fazendo (Rm 1.18). Boas maneiras no so desculpa para infidelidade em relao a Deus, mas as temos usado com muita freqncia.

    6) Corra o risco. Relacionada a atitude de ser fiel, est a de correr o risco. Obedeamos mesmo que no estejamos certos da resposta. Talvez voc no evangelize porque t-mido. Voc no gosta realmente de conversar muito com os outros, em especial quando tem de falar sobre coisas que os deixa incomodados. Parece fatigante e perigoso. Talvez voc prefira deixar que outro, algum que se sente mais confortvel, faa a evangelizao. Mas, voc pode convi-dar incrdulos para uma reunio em que eles ouviriam o evangelho? Pode compartilhar com eles um livro til ou um testemunho de sua prpria vida? Pode se tornar amigo deles para que, no futuro, compartilhe mais naturalmente o evan-gelho com eles? Precisamos estar dispostos a correr o risco a fim de que evangelizemos.

    7) Prepare. s vezes, no evangelizamos porque acha-mos que estamos despreparados ou mal equipados. Talvez no saibamos como fazer a transio da conversa. Ou tal-vez pensemos que em nossa ignorncia falhamos nisso e, realmente, causamos prejuzo espiritual s pessoas por de-sacreditarmos o evangelho diante delas. Tememos a nossa ignorncia. Achamos que nos cumpre fazer o evangelho pa-recer sensvel s pessoas ou que devemos responder todas as perguntas delas. Assim, tendo essas expectativas elevadas, decidimos que no podemos satisfaz-las e negligenciamos

  • Por que no evangel izamos?

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    a evangelizao. Em vez disso, poderamos nos preparar por conhecer o evangelho, desenvolver humildade e estudar mais. Assim como podemos planejar ter tempo, assim tam-bm podemos nos preparar para sermos capazes de usar bem as oportunidades quando elas surgirem.

    8) Veja. Voc j orou por alguma coisa e ficou surpreso quando ela lhe foi dada? Eu j tive essa experincia. E acho que isso significa que eu no estava esperando que Deus respondesse a minha orao. Talvez o mesmo se aplique evangelizao. Talvez j orei por oportunidades, mas no es-perei por elas. Talvez fui descuidado quando elas chegaram.

    A maneira como sou descuidado pode variar. s vezes, no vejo as oportunidades porque estou ocupado. Afinal de contas, a evangelizao pode consumir tempo e ser incon-veniente. Ou talvez eu esteja muito cansado. Talvez gastei toda minha energia em entretenimento pessoal, ou traba-lho, ou qualquer outra coisa, exceto com aquele no-cristo com quem eu podia conversar. Por isso, nem ao menos per-cebo a oportunidade.

    Talvez a minha negligncia das oportunidades seja ha-bitual. Talvez eu seja preguioso, tendo mais cuidado em no ser perturbado e inquietado do que em compartilhar o evangelho com uma pessoa. Em poucas palavras, talvez eu seja egosta. No vejo a oportunidade porque no estou disposto a ser incomodado. Creio que isso significa, em l-tima anlise, que sou aptico. Minha cegueira em relao proviso de Deus voluntria. No considero a realidade e a finalidade da morte, do julgamento e do inferno. Por isso, no percebo a realidade e a triste condio das pessoas que

  • evangelho e evangel izao

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    esto diante de mim. Temos no somente de fechar os olhos em orao para pedir oportunidades, mas tambm de abri--los, depois, para v-las.

    9) Ame. Somos chamados a amar os outros. Compar-tilhamos o evangelho porque amamos as pessoas. Deixamos de compartilhar o evangelho porque no amamos as pesso-as. Em vez de am-las, ns as tememos erroneamente. No queremos causar embarao. Queremos o respeito delas e, afinal de contas, imaginamos, se tentarmos compartilhar o evangelho com elas, pareceremos tolos! E, por isso, ficamos quietos. Protegemos nosso orgulho ao custo da alma dos incrdulos. Em nome de no querermos parecer esquisitos, ficamos contentes em ser cmplices do fato de que conti-nuem perdidos. Como disse um amigo: No quero ser o cristo esteretipo em um avio.

    Essa atitude me caracteriza freqentemente. Meu corao frio para com as outras pessoas. Tenho amor prprio distorcido e um deficiente amor pelos outros. E, para demonstrar isso, deixe dizer-lhe: enquanto escrevia este captulo, um amigo no-cristo telefonou-me porque desejava falar comigo. Conversamos por trinta minutos, durante os quais estive impaciente, desejando retornar escrita deste livro sobre evangelizao. Ah! Desven-turado homem que sou! Quem me livrar deste corpo de indiferena? Se queremos evangelizar mais, temos de amar mais as pessoas.

    10) Tema. Devemos temer, mas o nosso temor deve ser direcionado no ao homem, e sim a Deus. Quando no compartilhamos o evangelho, estamos recusando

  • Por que no evangel izamos?

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    viver no temor do Senhor. No estamos considerando a Deus nem a sua vontade como normas nicas e essenciais de nossas aes. Temer a Deus significa am-lo. Quando aquele que nosso todo-poderoso Criador e Juiz se tor-na nosso misericordioso Redentor e Salvador, achamos o objeto perfeito para toda a devoo de nosso corao. E essa devoo nos levar a compartilhar estas boas-novas de Cristo com os outros. Devemos orar pedindo a Deus que desenvolva em ns um amor e um temor maiores para com ele.

    11) Pare. Devemos parar de culpar a Deus. Devemos parar de isentar-nos da evangelizao com base no fato de que Deus soberano. Levando em conta a onipotncia di-vina, no devemos concluir que nossa obedincia intil. Pelo contrrio, devemos entender, pela Palavra de Deus, que ele chamar para si mesmo um grande nmero de pes-soas de cada tribo, lngua e nao; isso nos encorajar na evangelizao. Encorajou Paulo em Corinto quando ele es-tava desanimado (ver Atos 18). E, se voc entender que a converso resulta de proclamar o evangelho e da obra do Esprito, voc parar de tentar fazer a obra do Esprito e se dedicar proclamao do evangelho.

    No saber tudo no significa que no sabemos alguma coisa! Somos incapazes de responder todas as perguntas a respeito de como a soberania de Deus e a responsabilidade humana se harmonizam, mas podemos certamente crer que elas se harmonizam. Foi Paulo quem escreveu uma das mais claras passagens bblicas sobre a soberania de Deus (Ro-manos 9) e, em seguida, escreveu um dos mais pungentes

  • evangelho e evangel izao

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    textos bblicos sobre a responsabilidade do homem na evan-gelizao (Romanos 10). Ele acreditava que ambas as coisas eram verdadeiras. Portanto, quem somos ns para culpar a Deus por nosso silncio pecaminoso?

    12) Considere. O escritor da Epstola aos Hebreus disse: Considerai, pois, atentamente, aquele que supor-tou tamanha oposio dos pecadores contra si mesmo, para que no vos fatigueis, desmaiando em vossa alma (Hb 12.3). Quando no consideramos suficientemente o que Deus fez por ns em Cristo o custo elevado des-sa obra, o seu significado e a importncia de Cristo para ns , perdemos o nimo para evangelizar. Nosso cora-o se torna frio, nossa mente alimenta pensamentos menos importantes (fica mais preocupada com interes-ses passageiros), e nossos lbios silenciam. Considere o quanto Deus nos tem amado. Considere que Deus glorificado pelo nosso falar do seu maravilhoso amor aos outros. E considere que, em vez de anunciarmos a bondade Deus no evangelho, nos envolvemos em cons-pirao de silncio. Acabamos por revelar-nos como frios para com Deus.

    Se queremos ser mais fiis na evangelizao, devemos alimentar a chama de nosso amor para com Deus, bem como a chama da gratido e da esperana. Um fogo inflamado por Deus no ter qualquer dificuldade em acender nossa lngua. Como Jesus disse: A boca fala do que est cheio o corao (Mt 12.34). Quanta evangelizao est fluindo de nossos lbios? O que isso sugere a respeito de nosso amor para com Deus?

  • Por que no evangel izamos?

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    Quanto a isso, por que devemos am-lo assim? Isso nos leva a considerar o que exatamente a mensagem que dese-jamos compartilhar. O que que incendeia o nosso corao? Queremos considerar isso no prximo captulo.

  • Meus amigos sabem que eu gosto de leituras. Por isso, s vezes no Natal eu ganho calendrios com hist-rias ou leituras interessantes. No posso lembrar em que calendrio eu li o seguinte relato, mas fiquei muito im-pressionado e o anotei. No sei se verdade ou no, mas uma grande ilustrao sobre a importncia de acertar a histria de sua vida.

    De acordo com este relato, pouco mais de cem anos atrs o editor de um jornal ingls abriu uma cpia de seu jornal quando a edio j estava venda e descobriu nele uma mistura tipogrfica involuntria e embaraosa de duas histrias: uma se referia a uma mquina patenteada de matar porcos e fazer lingia; a outra dizia respeito a um ajuntamento em honra de um clrigo local, o reverendo Doutor Mudge, que na ocasio foi presenteado com uma bengala de casto de ouro. Uma parte da notcia dizia o seguinte:

    caPtulo 2

    o que o evangelHo?

  • evangelho e evangel izao

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    Vrios dos amigos do Rev. Dr. Mudge o chamaram on-

    tem, e, depois de uma conversa, o porco inocente foi

    apanhado pelas pernas traseiras e descido por uma cor-

    da, at que chegou ao tanque de gua quente... Ento,

    ele veio para frente e disse que havia pocas em que

    os sentimentos dominavam uma pessoa, e, por essa ra-

    zo, ele no tentaria fazer nada alm de agradecer aos

    que estavam ao seu redor pela maneira como o grande

    animal foi cortado em pedaos, o que foi simplesmente

    admirvel. O doutor concluiu suas observaes, quan-

    do a mquina o apanhou, e, em menos tempo do que

    o necessrio para escrever isso, o porco foi cortado em

    fragmentos e transformado em uma deliciosa lingia.

    A ocasio ser lembrada por muito tempo pelos ami-

    gos do doutor como uma das mais prazerosas de suas

    vidas. Os melhores pedaos podem ser comprados ao

    preo de dez centavos a ona, e estamos certos de que

    aqueles que, durante muito tempo, tm sido abenoa-

    dos pelo ministrio do doutor se regozijaro com o fato

    de que ele tenha sido tratado de maneira to amvel.

    O cristianismo notcias. O cristianismo as boas not-cias de fato, as melhores notcias que o mundo j ouviu. Mas essas notcias mais importantes do que a histria do reverendo Dr. Mudge ou da mquina de lingia podem ser igualmente misturadas e confundidas. Aquilo que passa por evangelho se torna, com muita freqncia, um reves-timento finssimo esparramado superficialmente sobre os valores de nossa cultura, sendo moldado e conformado aos

  • o que o evangelho?

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    contornos de nossa cultura, e no verdade de Deus. A verdadeira histria, a verdadeira mensagem, se perde.

    Esta idia de boas notcias no um acondicionamento posterior do cristianismo. Jesus Cristo falou sobre as boas notcias. E, ao falar nesses termos, ele retrocedeu lingua-gem das profecias de Isaas, usadas centenas de anos antes (Is 52.7; 61.1). No importando o que Jesus possa ter dito em aramaico, os crentes e os prprios apstolos gravaram a afirmao dele usando a palavra grega euangelion literal-mente, boas-novas.

    O que so exatamente estas boas-novas? Neste cap-tulo, queremos contar a verdade sobre a histria; queremos tornar as notcias corretas. Qual a mensagem que ns, crentes, temos para proclamar? Elas so Tudo est bem comigo? Ou: Deus amor? Ou: Jesus meu amigo? Ou: Devo viver corretamente? O que so as boas-novas de Jesus Cristo?

    aS BoaS-novaS no So aPenaS que tudo eSt Bem conoSco

    Talvez voc j ouviu falar sobre o livro intitulado Im OK, Youre OK1 (Eu Estou Bem, Voc Est Bem.), que ago-ra tem quase quarenta anos. Algumas pessoas parecem imaginar que o cristianismo essencialmente uma sesso de terapia religiosa, na qual nos assentamos e procuramos

    1 HARRIS, Thomas A. Im okay, youre okay: a practical guide to transitional analysis. New York: Avon, 1969.

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    ajudar uns aos outros a nos sentirmos melhor a respeito de ns mesmos. Os bancos so divs, o pregador faz perguntas, e o texto a ser exposto o prprio ego do ouvinte. Mas, depois de havermos sondado as profundezas de nossa alma, por que ainda continuamos a nos sentir vazios? Ou sujos? Existe algo a respeito de ns e de nossa vida que est incom-pleto ou mesmo errado?

    Lembro-me de ter ouvido uma celebridade sendo en-trevistada em um programa de televiso depois da morte de uma amiga ntima. Chorando, ela exclamou: Por que morrem as pessoas que eu amo? Sim, por qu? A Bblia rejeita completamente a idia de que estamos bem, de que a condio do homem excelente, de que todas pessoas tm apenas necessidade de aceitar sua condio presente, sua finitude e suas imperfeies ou de que precisamos somente ver o lado brilhante das coisas.

    A Bblia ensina que em nossos primeiros pais, Ado e Eva, todos ns fomos seduzidos a desobedecer a Deus. Portanto, no somos justos nem estamos em um bom re-lacionamento com Deus. Na verdade, nosso pecado to srio que, conforme Jesus ensinou, precisamos de um novo nascimento (Joo 3); e Paulo ensinou que precisa-mos ser criados novamente (1 Corntios 15). Como lemos em Efsios 2, estamos mortos em nossos delitos ofensas e pecados.

    Voc sabe o que so delitos so pecados represen-tados no sentido de transpor um limite. Em nossa poca, Michel Foucalt viveu, assim como o Marqus de Sade antes dele, para transpor os limites. Existe o pensamento de que

  • o que o evangelho?

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    Foucalt procurava deliberadamente contaminar outros com o vrus da Aids, que ele contrara e do qual morreu. Os ba-nheiros pblicos de So Francisco se tornaram os lugares onde Foucalt transps no somente os limites de respeito sexualidade, mas tambm os de respeito prpria vida. Transgresses. Cruzar a linha.

    Nossas transgresses talvez no paream to ousadas ou ofensivas, mas so letais ao nosso relacionamento com Deus. Paulo disse em Romanos 6.23 que o salrio do pe-cado a morte. Podemos entender melhor essa verdade por nos voltarmos Epstola de Tiago. Ele disse: Qual-quer que guarda toda a lei, mas tropea em um s ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: No adulterars tambm ordenou: No matars. Ora, se no adulteras, porm matas, vens a ser transgressor da lei (Tg 2.10-11).

    Observe quo srio cada pecado. A nfase de Tiago que as leis de Deus no so apenas estatutos externos, aprovados e publicados por um Congresso no cu e impostas por Deus. A lei de Deus a expresso do carter do prprio Deus. Transgredir esta lei, viver contra ela, significa viver contra Deus.

    Se minha esposa pede que eu v loja e compre um item especfico, mas, em vez disso, eu retorno sem o item e sem qualquer desculpa razovel (como: O estoque desse produto estava esgotado, No pude ach-lo, Devera-mos usar este). Eu simplesmente decidi no traz-lo, e isso se refletir em nosso relacionamento.

    A Bblia apresenta a Deus no somente como nosso

  • evangelho e evangel izao

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    Criador, mas tambm como Aquele que nos ama inten-samente. Ele quer tudo de ns. Pensar que, s vezes, podemos desconsider-lo, deixar de lado os seus cami-nhos, quando isso nos convm, significa mostrar que no entendemos toda a natureza de nosso relacionamento com Deus. No podemos dizer que somos crentes e, ao mesmo tempo, quebrar de modo consciente, alegre e re-petitivo a lei de Deus.

    Mas esse o nosso estado. Temos cruzado os limites que Deus estabeleceu com retido para a nossa vida. Temos contrariado tanto a letra como o esprito de suas instrues para ns. E no somente nos sentimos culpados, somos real-mente culpados diante de Deus. No temos apenas conflito em nosso ntimo, estamos em conflito com Deus. Quebra-mos freqentemente as leis de Deus; e fazemos isso porque somos, como nos diz Efsios 2, mortos em delitos e pecados.

    Ora, isso pode parecer bastante cruel para ser, de algum modo, relacionado quilo que chamamos de boas-novas. Mas no h dvida de que uma compreenso exata da si-tuao em que estamos essencial para chegarmos aonde precisamos estar. Acredito que um dos primeiros estgios de tornar-se um crente envolve a compreenso de que nossos problemas no so fundamentalmente que bagunamos a nossa prpria vida ou que temos falhado em atingir o nosso pleno potencial, e sim que temos pecado contra Deus. Por isso, agora comeamos a perceber que somos, com justia, o objeto da ira de Deus, do seu juzo que merecemos a morte, a separao de Deus, a alienao espiritual de Deus agora e para sempre.

  • o que o evangelho?

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    Isso o que os telogos chamam de depravao. a morte que merece a morte.

    Voc percebe que a razo por que todas estas coisas er-radas so bastante trgicas? So pecados cometidos contra um Deus perfeito, santo e amvel. So pecados cometidos por criaturas feitas imagem dele.

    O verdadeiro cristianismo realista quanto ao lado obscuro de nosso mundo, nossa vida, nossa natureza, nos-so corao. No entanto, o verdadeiro cristianismo no pessimista por completo ou moralmente aptico, encora-jando-nos apenas a assentar-nos e aceitar a verdade nua e crua. No, as novas que ns, cristos, temos de anunciar so importantes e tremendas no somente porque nossa de-pravao abrangente e nosso pecado, disseminado, mas tambm porque os planos de Deus para ns so maravilho-sos, diferentes.

    Quando comeamos a compreender isso, nos torna-mos agradecidos pelo fato de que o cristianismo no , em ltima anlise, uma mensagem a respeito de amenizar os so-frimentos da vida ou a respeito de despertar-nos para a vida e ensina-nos a viver bem. O cristianismo nos ensina a viver com um anseio por transformao, uma f crescente, uma esperana firme e segura quanto ao que h de vir.

    aS BoaS-novaS no So aPenaS que deuS amor

    Outras vezes, podemos ouvir o evangelho apresentado apenas como a mensagem de que Deus amor. Ora, isso

  • evangelho e evangel izao

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    parece o ttulo de uma notcia do jornal de Oklahoma: O clima frio faz a temperatura a cair. Bem, isso pode ser ver-dade, mas to bvio que alguma coisa pode estar faltando ou ter sido omitida.

    verdade que Deus amor. At na prpria Bblia! Deus amor (1 Jo 4.8). Mas h um perigo em dizer isso como se fosse auto-evidente.

    Talvez possamos obter alguma idia do que o amor quando, como pais, dizemos aos nossos filhos, por alguma boa razo da qual estamos inconscientes, que eles no podem fazer algo que querem fazer. E qual a resposta que obtemos freqen-temente? Se voc me amasse, me deixaria fazer isso. Ora, isso argumentao errada! uma falcia que pode ser to sutil quanto significativa. O amor nem sempre permite. De fato, s vezes o amor previne e, s vezes, pune.

    Se dizemos: Deus amor, o que pensamos sobre o amor divino?

    Alm disso, amor tudo o que a Bblia diz que Deus ? A Bblia no diz que Deus Esprito? Como um Esprito ama? A Bblia no diz que Deus santo? Como um Esprito Santo ama? A Bblia no diz que Deus nico e que no h ningum semelhante a Ele? Como voc pode saber isso, se Deus mesmo no lhe disser? Pode imagin-lo, conjectur--lo e sup-lo a partir de sua prpria experincia? Ou pode delinear o modo de ser desse amor com base em seu prprio corao?

    Joo Calvino disse: evidente que nenhum homem pode chegar ao verdadeiro conhecimento de si mesmo, sem primeiro ter contemplado o carter de Deus e, em seguida,

  • o que o evangelho?

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    descido considerao de seu prprio carter. Pois o nosso orgulho inato tal que estimamos invariavelmente a ns mesmos como pessoas justas, inocentes, sbias e santas, at que somos convencidos, mediante provas incontestveis, de nossa injustia, maldade, tolice e impureza. Todavia, nunca somos convencidos disso enquanto confinamos nossa aten-o em ns mesmos e no consideramos o Senhor, que o nico padro pelo qual este julgamento deve ser formado.2

    Esta uma dentre outras coisas importantes que devemos observar: Deus se revela a si mesmo como o Deus que exige santidade de todos os que desejam ter um relacionamento de amor com ele. Como a Bblia diz: Segui a paz com todos e a santificao, sem a qual ningum ver o Senhor (Hb 12.14). somente no contexto de entendermos algo sobre o carter de Deus, de sua justia e perfeio que comeamos a entender a profunda natureza do significado de dizermos que Deus ver-dadeiramente amor. E seu amor possui uma profundidade, uma consistncia, uma plenitude e uma beleza tal, que, em nosso estado presente, podemos apenas admirar.

    aS BoaS-novaS no So aPenaS que jeSuS quer Ser noSSo amigo

    Outras vezes, o evangelho apresentado apenas como a mensagem de que Jesus quer ser nosso amigo ou, como uma variao disso, Jesus quer ser nosso exemplo.

    2 CALVIN, John. Institutes of the christian religion, 2 vols. In: MCNEIL, John T. (Ed.). The Library of Christian Classics, vol. 20. Philadelphia: Westminster Press, 1960. 1.1.35.

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    No entanto, o evangelho cristo no apenas uma questo de auto-ajuda, ou de um grande exemplo, ou de um rela-cionamento a ser cultivado. H um passado concreto que temos de acertar pecados que cometemos e culpas em que incorremos. O que deve ser feito? O que o nosso Deus santo far? Se ele, em seu amor, deseja ter um povo para si mes-mo, como resolver esta situao sem comprometer a sua prpria santidade?

    Deus vir em carne e nos far saber que nosso pecado contra ele no muito importante? Deus o perdoar e o esquecer? Como isso afetar a moralidade de Deus? O que isso causar no carter daquele que nos ama?

    O que Jesus quer? O que ele veio fazer neste mundo? Quando estudamos os evangelhos, o que nos causa admi-rao o fato de que vemos Jesus escolhendo morrer. Foi isso que ele apresentou como o mago de seu ministrio; e no o ensinar, nem o ser um exemplo. Como ele mes-mo disse: O prprio Filho do Homem no veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10.45). Jesus ensinou que sua escolha de glorificar seu Pai, por meio da morte na cruz, era central ao seu ministrio. Portanto, no surpreendente que o foco e o mago do relato de todos os quatro evangelhos seja a crucificao de Cristo.

    Mas o que isso significa? Por que um acontecimento que parece horrvel seria o foco de algo chamado boas-novas?

    Com as palavras do prprio Senhor Jesus, o Novo Testamento comeou a explicar esse acontecimento an-tes mesmo que ele se realizasse. Jesus entreteceu duas

  • o que o evangelho?

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    linhas de profecia do Antigo Testamento (Mc 8.27-38), que, conforme sei, no haviam sido colocadas juntas at quele momento quando ele se apresentou como uma combinao de Filho do Homem (Daniel 7) e o Servo Sofredor (Isaas 53).

    Os apstolos aprenderam de Jesus, com clareza, como deviam entender sua morte na cruz. E, para ensinar isso aos cristos, o Esprito Santo inspirou vrias figuras no Novo Testamento que nos transmitem a realidade: Jesus como um sacrifcio, uma redeno, uma reconci-liao, uma justificao legal, uma vitria militar e uma propiciao.

    Nessa linguagem de figuras do Novo Testamento nada se refere a algo que seja meramente potencial, uma possibilidade ou uma opo. Pelo contrrio, cada figura se refere a algo que cumpre realmente a sua finalidade ou propsito. Por exemplo, como poderamos dizer que Deus e pecadores so reconciliados se esses pecadores reconciliados fossem lanados no inferno? Que tipo de propiciao existiria se a ira de Deus no foi mitigada? Que tipo de redeno haveria se os refns no foram li-bertados? O principal ensino de todas essas figuras que o benefcio tencionado no somente se tornou possvel, mas tambm garantido, no pelo simples ministrio de ensino de Cristo, e sim por intermdio de sua morte e sua ressurreio.

    No podemos evitar o fato de que o mago do minist-rio de Cristo era a sua morte na cruz e de que o mago dessa morte era a certeza de que Deus estava lidando de modo

  • evangelho e evangel izao

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    eficaz com as reivindicaes de seu amor e de sua justia. Muito dessas figuras sangue, compra, vitria aparece reunido na magnificncia da viso final dada por Deus ao apstolo Joo:

    Um dos ancios me disse: No chores; eis que o Leo

    da tribo de Jud, a Raiz de Davi, venceu para abrir o

    livro e os seus sete selos. Ento, vi, no meio do trono e

    dos quatro seres viventes e entre os ancios, de p, um

    Cordeiro como tendo sido morto... Veio, pois, e tomou

    o livro da mo direita daquele que estava sentado no

    trono; e, quando tomou o livro, os quatro seres viven-

    tes e os vinte e quatro ancios prostraram-se diante do

    Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taas de

    ouro cheias de incenso, que so as oraes dos santos,

    e entoavam novo cntico, dizendo:

    Digno s de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque

    foste morto e com o teu sangue compraste para Deus

    os que procedem de toda tribo, lngua, povo e nao.

    (Ap 5.5-9)

    Cristo no apenas nosso amigo. Cham-lo apenas de amigo significa macul-lo com elogio tmido. Ele nosso amigo, porm muito mais do que isso! Por meio de sua morte na cruz, Jesus se tornou o cordeiro que foi morto por ns, nosso redentor, aquele que fez a paz entre ns e Deus; aquele que tomou para si mesmo a nossa culpa; aquele que venceu nossos inimigos mais letais e aplacou a ira pessoal e justa de Deus.

  • o que o evangelho?

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    aS BoaS-novaS no So que devemoSviver corretamente

    Um erro muito comum confundir o evangelho com viver corretamente. s vezes, as pessoas acham que as boas-novas, a mensagem da Bblia, apenas que devemos viver com moralidade. s vezes, o cristianismo apresen-tado como nada mais do que virtudes pessoais e pblicas. Pensa-se que os crentes ocupam-se apenas em fazer coisas religiosas: Batismo, Ceia do Senhor e ir igreja. A vida cris-t imaginada como que consistindo de obedecer aos Dez Mandamentos e Regra urea (Mt 7.12), ler a Bblia e orar. Ser cristo, imagina-se, significa trabalhar pelo bem da co-munidade, ajudar os outros, contribuir para refeies dadas a pessoas carentes e no demolir os prdios histricos, para dar lugar a estacionamentos.

    No entanto, embora parea bastante admirvel para aqueles que pensam dessa maneira, o evangelho bblico no fundamentalmente a respeito de nosso amor ou nosso poder. Ser um cristo no apenas viver em amor, ou viver pelo poder do pensamento positivo, ou fazer qualquer coisa que pudermos fazer. O evangelho exige uma resposta mais radical do que qualquer destas coisas conseguiria. O evangelho no apenas um aditivo que pode tornar melhor as nossas vidas que j so boas. No, o evangelho uma mensagem de maravilhosas boas no-tcias para aqueles que reconhecem seu desespero justo diante de Deus.

    O que o evangelho exige? O que voc deve fazer

  • evangelho e evangel izao

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    quando seu prprio senso de necessidade, seu entendimen-to a respeito de Deus e de Jesus Cristo, quando todas estas coisas surgem juntas? Deus nos chama a arrepender-nos de nossos pecados e crer somente em Cristo.

    Com freqncia, encontramos o arrependimento e a f mencionados juntos no Novo Testamento. Quando Paulo se reuniu com os lderes da igreja de feso (essa reunio relatada em Atos 20), ele resumiu deste modo a mensagem que havia pregado: Testificando tanto a ju-deus como a gregos o arrependimento para com Deus e a f em nosso Senhor Jesus [Cristo] (At 20.21). Essa a mensagem que Paulo e outros cristos pregaram em todo o Novo Testamento.

    Quando pessoas ouvem a verdade a respeito do seu pecado, da santidade de Deus, do seu amor em Cristo, da morte e ressurreio de Cristo em favor de nossa justifica-o, a mensagem exige uma resposta. E qual essa resposta? vir frente? preencher um carto de deciso ou levantar a mo? ter uma conversa com o pregador ou decidir ser batizado e unir-se igreja? Embora algumas dessas coisas possam estar envolvidas, nenhuma delas absolutamente necessria. A resposta s boas-novas , como Paulo pregou, arrepender-se e crer.

    Onde Paulo e os outros autores do Novo Testamento obtiveram essa mensagem? Se voc ler as primeiras pala-vras do Evangelho de Marcos, voc descobrir a resposta. Eles a obtiveram de Jesus, que proclamava: Arrependei-vos e crede no evangelho (Mc 1.15). A resposta a essas novas arrepender-se e crer.

  • o que o evangelho?

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    Temos de pensar honestamente que as afirmaes do evangelho so verdadeiras. No entanto, h mais do que isso no crer que salva. Por exemplo, voc pode crer que o Salto Angel, na Venezuela, quase vinte vezes mais alto do que as cataratas do Nigara; ou que uma teia de aranha aplica-da em um ferimento ajudar a estancar o sangue; ou que os habitantes da Islndia lem anualmente mais livros por pessoa do que os habitantes de qualquer outro pas; ou que Chistopher Wren tinha apenas seis meses de treinamento como arquiteto. Mas nenhum desses tipos de crer expres-sa o que Jesus quis dizer em Marcos 1, quando exortou as pessoas a que cressem.

    O crer que salva no um mero assentimento inte-lectual; um crer um viver no conhecimento dessas boas-novas. um descansar em, um confiar em. Temos de concordar com o fato de que somos incapazes de sa-tisfazer as exigncias de Deus para ns, no importando quo boa seja a nossa vida moral. Devemos parar de con-fiar um pouco em ns e um pouco em Deus. Devemos chegar a compreender que temos de confiar plenamente em Deus, temos de confiar somente em Cristo para a nos-sa salvao. Esse verdadeiro crer e confiar faz a diferena. Portanto, esse crer exige no somente f, mas tambm arrependimento.

    O arrependimento e esse tipo de crer, ou f, ou con-fiana, so as duas faces da mesma moeda. Voc no pode ter a base (a f) e depois, se quiser ser santo, comear a acrescentar algum arrependimento a essa base. No, o arre-pendimento aquilo que voc faz quando comea a pensar

  • evangelho e evangel izao

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    dessa maneira e cr em Jesus com sua vida. Qualquer su-posta f sem essa mudana no nada, seno uma base falsa. Como disse J. C. Ryle: Existe um tipo de cristianis-mo comum e mundano hoje em dia, o qual muitos possuem e acham ser suficiente um cristianismo barato que no ofende a ningum, que no requer sacrifcio, que no tem qualquer custo e que no exige qualquer preo.3

    O arrependimento que Jesus exige est conectado com o crer nestas novas, porque, se elas so realmente novas, no surpreendente que voc mude sua mente quando as ouve. A palavra traduzida por arrependimento metanoia, que significa, literalmente, mudar sua mente.

    O verdadeiro cristianismo nunca um simples acrs-cimo, no um mero cultivo de algo que sempre tivemos. Pelo contrrio, o verdadeiro cristianismo , em certo sen-tido radical, uma mudana de rumo no sentido contrrio. uma mudana de rumo que todos os cristos fazem como parte de seu confiar na obra consumada de Cristo, na cruz. Dizer que cr, sem viver como deveria, no crer de conformidade com o sentido bblico. E voc pode comprovar a veracidade disso nos personagens bblicos desde Abrao o grande exemplo de f at ao prprio Jesus Cristo.

    Mudamos a maneira como agimos; sim, mudamos. Mas o fazemos somente porque mudamos aquilo em que cremos. As boas-novas do cristianismo tm um contedo cognitivo.

    3 RYLE, J. C. Santidade sem a qual ningum ver o Senhor. 2 Ed. So Jos dos Campos, SP: Fiel, 2009. p. 195.

  • o que o evangelho?

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    No simplesmente um entusiasmo religioso, nem uma pro-funda intuio pessoal. So novas, as boas-novas, as mais recentes. O evangelho novas!

    Em nossa igreja local, sempre peo que os candidatos a membros da igreja contem-me o evangelho em um mi-nuto ou menos. Como voc faria isso? Eis o que entendo a respeito destas boas-novas: as boas-novas so que o Deus nico, que santo, nos fez sua imagem para que o conhe-amos. No entanto, ns pecamos e nos separamos dele. Em seu grande amor, Deus se tornou homem em Jesus, viveu de modo perfeito e morreu na cruz, cumprindo ele mesmo a lei e tomando sobre si mesmo a punio pelos pecados de todos aqueles que se converteriam e creriam nele. Ele ressuscitou dos mortos, mostrando que Deus aceitou o sa-crifcio de Cristo e que a ira de Deus contra ns foi satisfeita. Ele agora nos chama a arrepender-nos de nossos pecados e crer somente em Cristo, a fim de obtermos perdo. Se nos arrependemos de nossos pecados e confiamos somente em Cristo, somos nascidos de novo para uma nova vida, uma vida eterna com Deus.

    Ora, essas so as boas-novas.So bastante complicadas para o cristo falar aos ou-

    tros? Consideraremos isso no prximo captulo.

  • No posso fazer o que voc acabou de fazer.O qu?, eu respondi, sinceramente ignorante quanto afirmao.

    Envolver uma pessoa numa conversa como essa.Meu amigo era um cristo firme. Crescia rpido em

    sua vida espiritual; era, porm, um cristo bem mais novo do que eu. Alm disso, ele tem, eu diria, uma personalida-de equilibrada, enquanto eu sou um extrovertido incomum, o que traz bnos e desafios. Entretanto, a capacidade do extrovertido de falar com muitas pessoas uma vantagem.

    O que no vantagem foi o que aconteceu com meu amigo ele ficou com o sentimento de que no podia evan-gelizar. Prosseguimos e tivemos uma boa conversa sobre evangelizao e suas recentes oportunidades, mas essa expe-rincia me fez considerar o fato de que clrigos, como eu, muitas vezes transmitem, voluntria ou involuntariamente, a impresso de que a evangelizao deve ser deixada aos

    caPtulo 3

    quem deve evangelizar?

  • evangelho e evangel izao

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    cuidados de profissionais. Afinal de contas, voc no de-sejaria que qualquer pessoa fizesse uma cirurgia em voc, desejaria? No gostaria que sua conta bancria fosse inves-tigada quando parasse para abastecer o carro, gostaria? No entregaria o cuidado do talo de cheques da famlia ao seu filho de nove anos, entregaria? Bem, voc imagina, no sou to eloqente como o pastor. No posso pregar como ele. No posso responder perguntas como ele.

    E chega concluso fatal: No devo compartilhar o evangelho com os outros pelo menos, no muito. E, quando o fizer, ser somente com amigos mais prximos... e talvez somente depois de longo tempo.. e somente se eles me perguntarem primeiro... e somente se eu tiver realizado minha hora devocional naquele dia.. E somente se...

    De quem a obra de evangelizao? O Novo Testa-mento nos diz que h pessoas que tm o dom de evangelista (cf. Ef 4.11, At 21.8). Sabemos que em nossos dias existem pessoas que so chamadas de evangelistas. s vezes, eles at abrem empresas que tm nomes como Associao Evan-gelstica Fulano de Tal. Eles so os chamados a pregar as boas-novas?

    Em Atos 4.29, lemos que Pedro orou: Agora, Senhor, olha para as suas ameaas e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra. Essa ora-o se aplica somente aos pregadores? A evangelizao realmente a obra dos pastores? Paulo escreveu a Timteo, um pastor, dizendo-lhe: Faze o trabalho de um evangelis-ta (2 Tm 4.5). Os chamados e equipados devem tornar-se evangelistas profissionais? O restante de ns deve deixar

  • quem deve evangel izar?

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    a evangelizao somente para os mais importantes? Os membros comuns de igrejas devem permanecer quietos e passivos, apenas convidando os outros a ouvir pastores, pre-gadores, preletores e outros evangelistas treinados? A nossa evangelizao consiste apenas de convidar pessoas a vir aos cultos, e no de convid-las diretamente a vir a Cristo?

    O cristo comum est fazendo evangelizao como o empregado tpico que tenta fazer a contabilidade da em-presa? Devem todos os crentes ser evangelistas ou devem deixar isso queles que se formaram em seminrios ou facul-dades teolgicas?1

    Embora esse tema de evangelizao seja bastante dif-cil para muitos de ns, no podemos evit-lo sem evitar a Bblia. Passagens a respeito da propagao das boas-novas esto em toda a Bblia. Paulo escreveu aos cristos roma-nos: Sou devedor tanto a gregos como a brbaros, tanto a sbios como a ignorantes; por isso, quanto est em mim, estou pronto a anunciar o evangelho tambm a vs outros, em Roma (Rm 1.14-15). Essas declaraes so apenas afir-maes da vocao de Paulo ou se aplicam igualmente a todos ns?

    claro que essas afirmaes eram verdadeiras no que diz respeito a Paulo. Mas, quando lemos o Novo Testamen-to, no encontramos ali o ensino de que a chamada para evangelizar se limitava a Paulo ou mesmo aos apstolos. Foi o prprio Senhor Jesus que ensinou em sua comisso

    1 Para saber mais sobre este assunto, ver: PLUMMER, Robert. Pauls understanding of the chris-tian mission: did the apostle Paul expect the early christians communities to evangelize? Car-lisle, UK: Paternoster Biblical Monographs, 2006.

  • evangelho e evangel izao

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    final aos discpulos: Toda a autoridade me foi dada no cu e na terra. Ide, portanto, fazei discpulos de todas as na-es, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos te-nho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias at consumao do sculo (Mt 28.18-20). Essa instruo comumente chamada de Grande Comisso, que Jesus deu aos seus discpulos; e seria difcil superestimar sua importn-cia. John Stott concluiu o seguinte dessas palavras de Jesus:

    [Esta] comisso... est imposta a cada membro de toda

    a igreja... cada cristo chamado a ser uma testemu-

    nha de Cristo no ambiente especfico em que Deus

    o colocou. Embora o ministrio pblico da Palavra

    seja um ofcio sublime, o testemunho particular ou a

    evangelizao pessoal tem um valor que, em alguns as-

    pectos, supera at a pregao pblica, visto que assim

    a mensagem pode ser adaptada de modo mais pessoal.2

    Esses primeiros discpulos, tornando-se apstolos, le-varam a srio a Grande Comisso dada por Jesus. Eles evangelizaram constantemente (At 5.42; 8.25; 13.32, 14.7, 15, 21; 15.35; 16.10; 17.18). No entanto, muitos agora es-to perguntando: quem deve fazer isso hoje? Somente os pregadores ou profissionais eclesisticos?

    De acordo com a Bblia, todos os crentes receberam essa comisso. No livro de Atos dos Apstolos temos vislumbres

    2 STOTT, John. Personal evangelism. Downers Grove, IL: InterVarsity, 1949. p. 3-4.

  • quem deve evangel izar?

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    da obedincia universal chamada para evangelizar. Em Atos 2, vemos que todos os cristos receberam o derramamento do Esprito. No Antigo Testamento, esse derramamento era uma preparao para a obra de transmitir profeticamente a Palavra de Deus. Por isso, quando continuamos a leitura de Atos dos Apstolos, no nos surpreendemos em descobrir que muitas pessoas evangelizavam. Em Atos 8.1-4, lemos:

    Naquele dia, levantou-se grande perseguio contra a

    igreja em Jerusalm; e todos, exceto os apstolos, fo-

    ram dispersos pelas regies da Judia e Samaria. Alguns

    homens piedosos sepultaram Estvo e fizeram grande

    pranto sobre ele. Saulo, porm, assolava a igreja, en-

    trando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres,

    encerrava-os no crcere. Entrementes, os que foram

    dispersos iam por toda parte pregando a palavra.

    No mesmo captulo, lemos a histria de Filipe, um di-cono, que evangelizava (At 8.5-12, 26-40). E, depois, lemos:

    Os que foram dispersos por causa da tribulao que

    sobreveio a Estvo se espalharam at Fencia, Chi-

    pre e Antioquia, no anunciando a ningum a palavra,

    seno somente aos judeus. Alguns deles, porm, que

    eram de Chipre e de Cirene e que foram at Antio-

    quia, falavam tambm aos gregos, anunciando-lhes o

    evangelho do Senhor Jesus. A mo do Senhor estava

    com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor.

    (At 11.19-21)

  • evangelho e evangel izao

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    De tudo que o Novo Testamento afirma sobre persegui-es, fica evidente que os cristos primitivos no tentavam manter sua religio em segredo, embora o compartilh-la trouxesse conseqncias. Escrevendo aos novos cristos de Tessalnica, Paulo mencionou a muita tribulao de-les (1 Ts 1.6) e se referiu queles que os atribulavam (2 Ts 1.5-7). Vemos isso tambm em muitas passagens do Novo Testamento. Embora os cristos sofressem porque sua vida havia mudado, eles continuavam a falar para compartilhar o evangelho e explicar sua nova f.

    H, tambm, estas instrues de Pedro aos cristos:

    Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso co-

    rao, estando sempre preparados para responder a

    todo aquele que vos pedir razo da esperana que h

    em vs, fazendo-o, todavia, com mansido e temor,

    com boa conscincia, de modo que, naquilo em que

    falam contra vs outros, fiquem envergonhados os que

    difamam o vosso bom procedimento em Cristo.

    (1 Pe 3.15-16).

    Sabemos que Cristo mesmo veio buscar e salvar o perdido (Lc 15; Lc 19.10). Por fazer expiao pelos pe-cadores, Cristo o nosso nico Salvador. No buscar os pecadores como ele o fez, Cristo nosso exemplo. En-to, como podemos seguir a Jesus Cristo sem convidar as pessoas a que venham a ele? Podemos ser discpulos de Cristo e no buscar a dracma perdida, a ovelha perdida, o filho perdido? H muito testemunho de Cristo no livro de

  • quem deve evangel izar?

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    Atos dos Apstolos. At aqueles que no eram designa-dos como apstolos, evangelistas ou presbteros oravam pelos perdidos e buscavam-nos.

    Quando um escriba perguntou a Jesus qual era o mandamento mais importante, ele respondeu citando Deu-teronmio 6, uma exortao no sentido de amar a Deus, e Levtico 19, uma exortao nestes termos: Amars o teu prximo como a ti mesmo (Mc 12.31). Tiago chamou esse amor de a lei rgia (Tg 2.8). O que esse amor exige de ns? Parece exigir isto: o que queremos para ns mesmos quere-mos tambm para aqueles que amamos. Se voc deseja amar a Deus com afeio perfeita, tambm desejar isso para o seu prximo. No entanto, voc no ama seu prximo como a si mesmo se no est tentando persuadi-lo quanto ao melhor e mais importante aspecto de sua vida seu relacionamento reconciliado com Deus. Se voc um cristo, est seguindo a Cristo. Est seguindo-o e deseja-o. Portanto, voc deve tambm desejar esse maior bem para todos que voc ama. o prprio amor que exige buscarmos o melhor para aqueles que amamos, e isso tem de incluir o compartilhar com eles as boas-novas de Jesus Cristo.

    Alm disso, todo cristo deve viver um vida que reco-menda o evangelho. O amor que a comunidade de cristos do Novo Testamento compartilhava apresentado como parte integral do testemunho deles ao mundo, conforme vemos em Joo 13.34-35. Esse amor no era compartilhado apenas entre os lderes; era compartilhado entre todos os cristos. De fato, a operosidade da f por meio da comuni-dade de uma igreja local parece ser o plano de evangelizao

  • evangelho e evangel izao

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    mais bsico de Jesus. E envolve todos ns.3 Paulo escreveu igreja em Filipos exortando-os a que continuassem preser-vando a palavra da vida (Fp 2.16). Eles fariam isso tanto por sua vida com por suas palavras.

    Sabemos que a inteno de Deus em estabelecer a igre-ja era dar testemunho de si mesmo e de seu carter. Como Paulo escreveu: Para que, pela igreja, a multiforme sabe-doria de Deus se torne conhecida (Ef 3.10). Embora Paulo tenha dito que essa sabedoria deveria se tornar conhecida dos principados e potestades nos lugares celestiais, sabemos de outras passagens do Novo Testamento que o plano de Deus era tambm que seu carter se tornasse conhecido das outras pessoas.

    Todo crente tem um papel em tornar visvel o evange-lho do Deus invisvel. O amor de Deus tem de ser observado supremamente na igreja. John Stott comentou sobre esse desafio e oportunidade:

    A invisibilidade de Deus um grande problema. Era

    um problema para o povo de Deus na poca do Anti-

    go Testamento. Os seus vizinhos pagos os insultavam,

    dizendo: Onde est o vosso Deus? Os deuses deles

    eram visveis e palpveis, mas o Deus de Israel no era

    nem uma coisa, nem outra. Hoje, em nossa cultura

    3 Esta a concluso do excelente estudo de Robert Plummer citado antes: A misso apostli-ca transfere-se a cada igreja com um todo no somente a qualquer grupo ou membro espec-fico. Portanto, todo membro individual dentro da igreja manifestar atividade missionria de acordo com seus dons especficos e situao de vida. Tudo, exceto os aspectos no-repetveis da misso dos apstolos (ou seja, o testemunho ocular e a promulgao inicial de revelao autoritria) transfere-se igreja como um todo (p. 144).

  • quem deve evangel izar?

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    cientfica, os jovens so ensinados a no crer em nada

    que no seja aberto investigao emprica. Ento,

    como Deus resolveu o problema de sua prpria invi-

    sibilidade? Evidentemente, a primeira resposta em

    Cristo. Jesus Cristo a imagem do Deus invisvel.

    Joo 1.18 afirma: Ningum jamais viu a Deus; o Deus

    unignito, que est no seio do Pai, quem o revelou.

    As pessoas dizem: Isso maravilhoso, mas aconteceu

    h 2.000 anos. No h nenhuma maneira pela qual o

    Deus invisvel se torna conhecido hoje? H. Retor-

    namos a 1 Joo 4.12, que diz: Ningum jamais viu a

    Deus. exatamente a mesma afirmao introdutria.

    Mas, em vez de continuar referindo-se ao Filho de

    Deus, o texto declara: Se amarmos uns aos outros,

    Deus permanece em ns. Em outras palavras, o Deus

    invisvel, aquele que se tornou visvel em Cristo, agora

    se torna visvel nos cristos, se amamos uns aos outros.

    uma afirmao impressionante. A igreja local no

    pode evangelizar, proclamar o evangelho de amor, se

    no , ela mesma, uma comunidade de amor.4

    (nfase no original.)

    Uma das principais razes por que a igreja local tem de ser uma comunidade de amor que, assim, os outros co-nhecero o Deus de amor. Deus fez as pessoas sua imagem para que o conheam. A vida da igreja local torna visvel

    4 STOTT, John. Why dont they listen? Christianity Today, Carol Stream, v. 47, n. 9, p. 52, Sept. 2003.

  • evangelho e evangel izao

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    o evangelho audvel. E todos ns devemos ter uma parte nessa evangelizao.

    Podemos contribuir para a evangelizao apenas por edificarmos a igreja local ajudando a organiz-la ou a lide-r-la. Podemos ensinar e preparar outros. Podemos oferecer hospitalidade e encorajamento. Podemos orar, servir, mos-trar misericrdia e dar. No entanto, todos ns temos uma responsabilidade de falar sobre Deus e as boas-novas tanto dentro como fora da igreja.

    Martyn Lloyd-Jones ensinou: Evangelizao depende eminentemente da qualidade da vida crist que conhecida e desfrutada na igreja.5 Um exemplo notvel dessa verdade se acha na experincia de John Bunyan. Ele mesmo a con-tou em sua autobiografia, intitulada Graa Abundante para o Principal dos Pecadores. (Esse ttulo se referia a ele mesmo.) Bunyan contou esta histria:

    Um dia, a boa providncia de Deus me colocou em

    Bedford, para que eu trabalhasse em minha profisso.

    E, numa das ruas daquela cidade, cheguei a um lugar

    em que havia trs ou quatro mulheres pobres sentadas

    diante de uma porta, tomando sol e falando sobre as

    coisas de Deus. E, estando agora disposto a ouvi-las,

    aproximei-me para ouvir o que falavam, pois, eu mes-

    mo era agora um alegre conversador sobre os assuntos

    da religio.

    5 MURRAY, Iain H. D. Martyn Lloyd-Jones: the first forty years 1899-1939. Edinburgh: Banner of Truth, 1983. p. 246.

  • quem deve evangel izar?

    67

    No entanto, apesar disso, posso dizer que ouvi mas no

    entendi, pois falavam acima de meu entendimento. A sua

    conversa se referia ao novo nascimento, obra de Deus

    no corao delas e como haviam sido convencidas de

    seu miservel estado natural. Contavam como Deus as

    visitara com seu amor no Senhor Jesus e compartilhavam

    com que palavras e promessas haviam sido revigoradas,

    confortadas e apoiadas contra as tentaes do Diabo.

    Alm disso, elas argumentavam sobre as sugestes e as

    tentaes de Satans. E diziam umas s outras por quais

    tentaes tinham sido afligidas e como haviam sido sus-

    tentadas sob os ataques do Maligno. Tambm falavam

    sobre a impiedade de seu prprio corao e a sua incre-

    dulidade. Menosprezavam, denegriam e abominavam

    sua justia prpria, considerando-a imunda e insuficiente

    para lhes fazer qualquer bem.

    E, pelo que me pareceu, falavam como se a alegria as

    fizesse falar. Falavam da linguagem das Escrituras com

    tanto prazer e com tanta aparncia de graa em tudo

    que diziam, que pareciam haver encontrado um novo

    mundo, como pessoas que habitavam sozinhas e no

    deviam ser reputadas entre seus vizinhos (Nm 23.9).

    Diante disso, senti que meu corao comeou a abalar-se,

    como que desconfiando de que minha condio equivalia

    a nada, pois vi que, considerando todos os meus pensa-

    mentos sobre a religio e a salvao, o novo nascimento

    jamais entrara em minha mente; tampouco eu conhecia

    a consolao da Palavra e as promessas, nem a iluso e

    o engano de meu prprio corao. Quanto aos pensa-

  • evangelho e evangel izao

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    mentos secretos, no tomava conhecimento deles, nem

    entendia o que eram as tentaes de Satans, nem como

    elas deveriam ser enfrentadas e resistidas, etc.

    Portanto, quando ouvi e considerei o que elas disse-

    ram, deixei-as e sai andando para o meu emprego.

    Todavia, a conversa e o dilogo delas me acompanha-

    ram, e meu corao se deteve a consider-los, pois eu

    estava grandemente afetado pelas palavras delas, tanto

    por estar convencido de que desejava ter as evidncias

    de um homem verdadeiramente piedoso, como por es-

    tar convencido, por elas, da felicidade e da condio

    bendita desse homem.6

    Compartilhar nossas histrias no uma descoberta re-cente feita pelos cristos. Bunyan e as mulheres citadas nessa histria faziam isso como parte de sua evangelizao. Essas mulheres, por viverem normalmente a vida crist e conversa-rem umas com as outras, foram parte do plano evangelstico de Deus. No foram somente sermes que Deus usou para con-verter John Bunyan. Ele usou cristos normais.

    Gostaria de narrar mais uma histria de cristos co-muns que Deus usou para anunciar as boas-novas: a histria de James Smith. Ele era um escravo que vivia perto de Ri-chmond, no Estado da Virgnia. A crueldade desumana de seus senhores separaram-no de sua famlia a esposa, Fanny, e os filhos por dcadas. Mas a f crist de Smith o

    6 BUNYAN, John. Grace abounding to the chief of sinners. Grand Rapids, MI: Baker, 1986. p. 29-30, 37-40.

  • quem deve evangel izar?

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    sustentava. Cada noite, depois de seu dia de trabalho, Smith pregava o evangelho de Jesus Cristo a seus colegas escravos, mesmo depois de seu senhor chicote-lo por evangelizar. Mas no foi por conta das capacidades de Smith como pregador que Deus lhe deu uma das mais admirveis oportunidades de evangelizar. Smith foi vendido a uma fazenda na Georgia. Seu novo dono, preocupado com a falta de obedincia de Smith, ordenou ao seu capataz que surrasse Smith para que ele obede-cesse as instrues, especialmente aquelas que limitavam suas oraes e seu reunio com outros para cultuarem a Deus. O ca-pataz deu 100 chicotadas nas costas de Smith. 100 chicotadas! Mais tarde, o mesmo capataz ouviu Smith orando em favor da sua alma a alma do capataz. Este, quando ouviu a orao, foi profundamente comovido e implorou o perdo de Smith; e o encorajou a fugir.7

    Deus chama todos os cristos a compartilhar as boas-novas. Nossas igrejas precisam assegurar-se de que co-nhecemos as boas-novas e de que todos somos chamados a express-las com clareza. Devemos trabalhar em treinar uns aos outros para que tenhamos o tipo de vida crist e o enten-dimento claro que nos ajudaro a compartilhar o evangelho. Se somos honestos, devemos reconhecer que a principal ra-zo por que queremos transferir a outros a responsabilidade pela evangelizao que no estamos exatamente certos a respeito de como realiz-la. Esse o assunto que desejo abordar no prximo captulo.

    7 BRITT, Donna. Love stories that transcend bonds of slavery, time. Washington Post, Wa-shington DC, Feb. 11, 2005, B 01. In: DERAMUS, Betty. Forbidden fruit: love stories from the underground railroad. New York: Atria, 2005. p. 15-27.

  • como devemoS evangelizar?

    Evangelizamos por pregar a Palavra e propagar a mensa-gem do evangelho (cf. Rm 10.17). Mas, como devemos propagar a Palavra? Essa pergunta mais importante do que alguns tm imaginado. No importando os meios especficos quer seja publicamente pelos vrios meios de comunica-o, quer seja de modo particular, em conversas pessoais, quer seja por meio de impressos ou de sermes, quer seja por meio de conversas ou de grupos de estudo , como devemos propagar o evangelho?

    Desejo considerar este assunto de duas maneiras. Em primeiro lugar, no aspecto mais bsico, h certo equil-brio pelo qual devemos nos esforar na evangelizao, um equilbrio de honestidade, urgncia e alegria. Com muita freqncia, temos apenas um ou, no melhor, dois desses as-pectos, e no os trs. O equilbrio importante. Essas trs

    caPtulo 4

    como devemoS evangelizar?

  • evangelho e evangel izao

    72

    virtudes juntas representam apropriadamente o evangelho. Em segundo, na outra metade do captulo, ofereo algumas sugestes especficas a respeito de como podemos dissemi-nar o evangelho.

    o equilBrio

    Honestidade. Primeiramente, dizemos com honestida-de s pessoas que, se elas se arrependerem e crerem, sero salvas. Mas elas precisaro arrepender-se, e isso ter um custo. Temos de ser exatos no que dizemos, no retendo qualquer parte importante que nos parea desagradvel ou repulsiva.

    Ao considerarem como evangelizar, muitas pessoas no gostam de incluir nada negativo em sua apresentao. Em relao a compartilhar o evangelho, imagina-se que h abordagens negativas e positivas. Falar a respeito de pecado, culpa, arrependimento e sacrifcio considerado uma abor-dagem negativa, sendo essa a razo por que presentemente ela reprovada. Eis o que disse um importante pregador de televiso: Creio que no existe, feito em nome de Cristo e sob a bandeira do cristianismo, algo que tenha sido to destrutivo personalidade humana e, por conseqncia, contraproducente obra de evangelizao quanto a estrat-gia grosseira e no-crist de tentar conscientizar as pessoas de sua condio pecaminosa e perdida.1 Outros que so mais teologicamente ortodoxos sugerem que, embora

    1 SCHULLER, Robert. Milk & Honey, p. 4, Dec. 1997.

  • como devemos evangel izar?

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    julgamento e culpa fossem culturalmente relevantes para uma gerao anterior, so estranhos em nossos dias. Eles su-gerem que as pessoas contemporneas respondero melhor a uma mensagem de liberdade.

    No entanto, de acordo com a Bblia, ainda que li-berdade seja um aspecto maravilhoso de nossa mensagem (cf. Jo 8.32-36), pecado e culpa esto no prprio ma-go do evangelho. Conscientizar as pessoas de seu estado pecaminoso e perdido uma parte de compartilhar as boas-novas de Cristo. Se voc ler os resumos dos sermes de Pedro registrados nos primeiros captulos de Atos dos Apstolos, perceber que Pedro foi admiravelmente ho-nesto quanto ao pecado daqueles que o ouviam. Suas declaraes no foram calibradas de modo a bajular as pessoas. Por ser franco, Pedro estava seguindo fielmente o mtodo que Jesus utilizara com ele e com outros aps-tolos, alguns meses antes, ao dizer: Qualquer que no tomar a sua cruz e vier aps mim no pode ser meu disc-pulo (Lc 14.27).

    Pense nisso. No creiamos que todos estamos enga-jados em uma busca pela verdade. A Queda no deixou as pessoas neutras em relao a Deus, e sim em inimizade para com ele. Portanto, no devemos supor que os no--cristos buscam a Deus pelo simples fato de que foram criados imagem dele. A Bblia ensina que as pessoas esto, por natureza, alienadas de Deus. E temos de ser honestos quanto a isso.

    O que o arrependimento? deixar os pecados que voc ama e voltar-se para o Deus santo a quem voc

  • evangelho e evangel izao

    74

    chamado a amar. admitir que voc no Deus. come-ar a valorizar a Jesus mais do que seus prazeres imediatos. desistir daquelas coisas que a Bblia chama de pecado e abandon-las para seguir a Jesus.

    Quando anunciamos o evangelho s pessoas, preci-samos faz-lo com honestidade. Reter partes importantes e desagradveis da verdade significa comear a manipu-lar e tentar enganar a pessoa com quem compartilhamos o evangelho. Ento, quando evangelizamos, no devemos esconder problemas, ignorar nossas prprias imperfeies ou negar as dificuldades. No devemos apresentar somente as coisas positivas que imaginamos serem valorizadas por nos-sos amigos no-cristos, apresentando a Deus apenas como o meio pelo qual eles podem satisfazer e atingir seus prprios objetivos. Temos de ser honestos.

    Urgncia. Se devemos seguir um modelo bblico de evangelizao, precisamos enfatizar a urgncia com que as pessoas devem arrepender-se e crer, para que sejam salvas. Elas tm de resolver agora. No devem esperar at que surja oportunidade melhor. As pessoas podem mostrar bastante cuidado com seu dinheiro, a ponto de esperarem para contratar um plano de telefone celular ou renovar seu plano atual somente depois de have-rem pesquisado na internet, telefonado e conseguido duas ou trs ofertas para compararem. Mas, no que diz respeito alma, no h lgica em esperar por uma me-lhor oferta para obter perdo. De acordo com o Novo Testamento (Jo 14.6; At 4.12; Rm 10 e todo o livro de Hebreus), Cristo o nico caminho. De que outro modo

  • como devemos evangel izar?

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    poderamos sugerir que pecadores se reconciliem com o Deus santo? E, se Cristo o nico caminho, pelo que estamos esperando? No sabemos se teremos o amanh, e no devemos agir como se o amanh nos pertencesse (Tg 4.13). Hoje, se ouvirdes a sua voz, no endureais o corao (Sl 95.7-8; Hb 4.7).

    Jesus contou esta histria:

    Certo homem tinha uma figueira plantada na sua

    vinha e, vindo procurar fruto nela, no achou. Pelo

    que disse ao viticultor: H trs anos venho procurar

    fruto nesta figueira e no acho; podes cort-la; para

    que est ela ainda ocupando inutilmente a terra?

    Ele, porm, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este

    ano, at que eu escave ao redor dela e lhe ponha

    estrume. Se vier a dar fruto, bem est; se no, man-

    dars cort-la.

    (Lc 13.6-9)

    Apresentar a natureza urgente da salvao no manipulativo, nem insensvel. a verdade. O tempo da oportunidade acabar.

    Como cristos, tornamo-nos cientes da verdade de que a histria no cclica, repetindo-se sempre em uma interminvel rotao de acontecimentos, girando at que alguma de suas partes perca seu significado. No. Sabemos que Deus criou este mundo e o levar a um trmino no jul-gamento final. Sabemos que ele d a vida e toma-a. O tempo que possumos limitado; a quantidade incerta, mas o seu

  • evangelho e evangel izao

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    uso depende de ns. Por isso, Paulo disse, em Efsios, que devemos aproveitar cada oportunidade (Ef 5.16).

    semelhana de um colecionador que adquire uma coleo, devemos ter o desejo de capturar cada hora que se passa e transform-la em um trofu para Deus e sua graa. Como Paulo disse: O tempo se abrevia; o que resta que... os que se utilizam do mundo, como se dele no usassem; porque a aparncia deste mundo passa (1 Co 7.29-31).

    Quais so as suas circunstncias agora mesmo? Con-fie no Senhor para us-lo nestas circunstncias, em vez de procurar outras. No permita que a perma