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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação 1 O Espaço Paulo Freire do FISL como locus de compartilhamento de conhecimento e aprendizagem colaborativa Wilkens Lenon Silva de Andrade 1 (UFPE) Rafaela da Silva Melo 2 (UFRGS) Resumo: O presente trabalho se apresenta como um relato da experiência de criação do Espaço Paulo Freire, um locus criado a partir de um movimento de educadores e pesquisadores das tecnologias digitais livres aplicadas à educação, que ocorre anualmente no Fórum Internacional Software Livre. O Espaço tem como propósito discutir e socializar experiências de professores, gestores, estudantes e profissionais da educação de vários estados do país, com base no princípio do compartilhamento do conhecimento e da aprendizagem colaborativa. Palavras-chave: Software Livre; Aprendizagem Colaborativa; Compartilhamento do Conhecimento. Abstract: This work is presented as an account of the creation of the experience of space Paulo Freire, a locus created from a movement of educators and researchers free of digital technologies applied to education, which takes place annually at the International Forum Free Software. The space is to discuss and socialize experiences of teachers, administrators, students and education professionals from various states of the country, on the basis of knowledge sharing and collaborative learning. Keywords: Free Software; Collaborative Learning, Sharing Knowledge. Introdução Nas últimas décadas a educação pública brasileira tem passado por mudanças significativas, dentre as quais se destacam as políticas públicas de inclusão digital. 1 Wilkens Lenon Silva de ANDRADE, Mestre. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (EDUMATEC) E-mail: [email protected] 2 Rafaela da Silva MELO, Graduanda. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Faculdade de Educação (FACED) E-mail: [email protected]

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O Espaço Paulo Freire do FISL como locus de compartilhamento de conhecimento e aprendizagem

colaborativa

Wilkens Lenon Silva de Andrade1 (UFPE) Rafaela da Silva Melo2 (UFRGS)

Resumo: O presente trabalho se apresenta como um relato da experiência de criação do Espaço Paulo Freire, um locus criado a partir de um movimento de educadores e pesquisadores das tecnologias digitais livres aplicadas à educação, que ocorre anualmente no Fórum Internacional Software Livre. O Espaço tem como propósito discutir e socializar experiências de professores, gestores, estudantes e profissionais da educação de vários estados do país, com base no princípio do compartilhamento do conhecimento e da aprendizagem colaborativa. Palavras-chave: Software Livre; Aprendizagem Colaborativa; Compartilhamento do Conhecimento. Abstract:

This work is presented as an account of the creation of the experience of space Paulo Freire, a locus created from a movement of educators and researchers free of digital technologies applied to education, which takes place annually at the International Forum Free Software. The space is to discuss and socialize experiences of teachers, administrators, students and education professionals from various states of the country, on the basis of knowledge sharing and collaborative learning. Keywords: Free Software; Collaborative Learning, Sharing Knowledge.

Introdução

Nas últimas décadas a educação pública brasileira tem passado por mudanças

significativas, dentre as quais se destacam as políticas públicas de inclusão digital.

1 Wilkens Lenon Silva de ANDRADE, Mestre.

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (EDUMATEC) E-mail: [email protected] 2 Rafaela da Silva MELO, Graduanda.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Faculdade de Educação (FACED) E-mail: [email protected]

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Segundo pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet – TIC's na Educação

(CGI.br, 2012) a presença de dispositivos portáteis (computadores, laptops e

tablets) nas escolas públicas tem crescido progressivamente, bem como o número

de materiais produzidos para o uso nesses equipamentos. Há também o

investimento de diversas instituições educacionais em capacitações e formações

para professores.

Esse crescimento (embora pouco expressivo se compararmos com as

demandas existentes nas escolas públicas brasileiras) tem contribuído para o

aumento da participação por professores, gestores, estudantes, pesquisadores e

demais profissionais da educação em cursos, seminários, congressos e demais

eventos de tecnologias digitais no país, em cujas grades de programação sejam

contempladas atividades voltadas a esse público, como é o caso do Fórum

Internacional Software Livre (FISL) realizado anualmente na cidade de Porto Alegre,

RS. Tal procura é motivada em grande parte pelos desafios colocados pela presença

das TIC's no contexto escolar e pelo desejo dos educadores e estudantes em

ampliarem seus conhecimentos e compartilharem experiências com diferentes

sujeitos, grupos e instituições.

Nesse sentido, esse trabalho se apresenta como um relato da trajetória de

criação do Espaço Paulo Freire, um locus construído a partir de um movimento de

educadores e pesquisadores das tecnologias digitais aplicadas à educação, que

ocorre anualmente no FISL 3 que, atualmente, é um dos maiores eventos de

tecnologia da América Latina. O Espaço Paulo Freire tem como propósito discutir,

divulgar e socializar experiências de professores, gestores, estudantes e

profissionais da educação de vários estados do país e do exterior, com uso de

software e demais tecnologias livres na educação, tendo por base o princípio do

compartilhamento do conhecimento e da aprendizagem colaborativa.

3 Com 14 anos de história, o Fórum Internacional Software Livre (FISL) já se consolidou como o mais significativo encontro de

comunidades de Software Livre na América Latina. O FISL é resultado do trabalho, da colaboração e do envolvimento de milhares de pessoas que acreditam nas soluções tecnológicas e educacionais livres e na força de uma comunidade atuante em todo o mundo.

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Revisão Bibliográfica

Discorrer sobre o processo da aprendizagem exige antes de tudo uma

reflexão sobre o ato de conhecer, sobretudo, nas formas como o sujeito apreende o

conhecimento, mas também como outros sujeitos dele se apropriam e, finalmente,

como esse conhecimento é ampliado produzindo mais conhecimento.

Segundo Levy (2004), a mente humana é um sistema aberto, capaz de filtrar

e recombinar as impressões externas ao sujeito. É capaz de aprender e gerar

conhecimento através de uma complexa rede de interações. Com efeito, “o ser

cognoscente é uma rede complexa na qual os nós biológicos são redefinidos e

interfaceados por nós técnicos, semióticos, institucionais, culturais […] é preciso

pensar em efeitos de subjetividade nas redes de interfaces e mundos emergindo

provisoriamente de condições ecológicas locais.” (Levy, 2004, p. 98).

Esta definição de Ecologia Cognitiva de Pierre Levy deixa claro que o saber é

o resultado de complexas interações entre os sujeitos do conhecimento e o meio

ambiente, interfaceados por instituições humanas, artefatos culturais, signos e

símbolos semióticos e culturas diversas, incluindo-se aqui, as redes digitais cuja

base são os computadores usados nos processos de interação humana na era

contemporânea. Esse é o paradigma que está na fundação da internet, de acordo

com o próprio Lévy:

O crescimento da comunicação baseado na informática foi iniciado por um movimento de jovens metropolitanos cultos que veio à tona no final dos anos 80. Os atores desse movimento exploraram e construíram um espaço de encontro, de compartilhamento e de invenção coletiva. Se a Internet constitui o grande oceano do novo planeta informacional, é preciso não se esquecer dos muitos rios que a alimentam: redes independentes de empresas, de associações, de universidades, sem esquecer as mídias clássicas (bibliotecas, museus, jornais, televisão, etc). É exatamente o conjunto dessas “redes hidrográficas”, até o menor dos BBS, que constitui o ciberespaço, e não somente a internet. (LÉVY, 1999, p. 116).

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Portanto, se o pensamento, suporte de todas as formas de saber, surge como

resultado dessas conexões, conclui-se que o processo de aprendizagem se dá dentro

de um contexto colaborativo proporcionado pela teia de relações que é

estabelecida entre sujeitos individuais, grupos sociais, somados a outros elementos

presentes na cultura, como as tecnologias digitais. Dessa maneira, a inteligência

coletiva se desenvolve em redes de colaboração que são hoje, mais do que nunca,

mediadas pelas redes cibernéticas no contexto da cultura digital. Assim, empregar

as tecnologias informáticas como auxílio ao processo de ensino e aprendizagem é

fundamental para o alcance dos objetivos educacionais, no mundo contemporâneo.

Mas, também é necessário, por outro lado, que a escola faça o uso apropriado

dessas tecnologias em seu contexto cultural, como afirma o professor Nelson Pretto,

ao se reportar sobre a apropriação do conhecimento tecnológico no contexto

escolar:

Isso significa que não podemos nos contentar com simples apropriações dessas tecnologias, como se elas fossem, por si sós, capazes de reverter situações. É por isso que precisamos enxergar que, com essas

potencialidades, pululam elementos que, longe de serem unificadores, constituem-se em diferenciadores dos seres e de suas culturas, passando a polos geradores de novas articulações. A inteligência coletiva, como afirma Lévy (1993), passa a ser o elemento mais significativo a ser perseguido (PRETTO, 2006, p. 23).

É fundamental a compreensão de que não se pode fazer uso puramente

pragmático das tecnologias informacionais no ambiente escolar, imaginando que,

por exemplo, a tela do computador é a mesma coisa que usar um quadro-negro.

Portanto, se faz necessário uma pedagogia do saber-fazer. Saber e fazer, a partir de

uma prática consciente, crítica, científica, lúdica, com vistas a apropriação das

tecnologias digitais por todos os envolvidos no processo educativo.

É preciso saber o que fazer com a tecnologia, saber empregá-la em sala de

aula, sem dissociá-la do cotidiano dos indivíduos envolvidos, principalmente em sua

modalidade hipertextual, estruturada em redes de trocas de saberes e articulação

de habilidades, com a participação direta, dialética, dos atores envolvidos no

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contexto. Nesse sentido é oportuna a afirmação dos pesquisadores Pretto e Assis

(2008):

Produzir informação e conhecimento passa a ser, portanto, a condição para transformar a atual ordem social. Produzir de forma descentralizada e de maneira não-formatada ou preconcebida. Produzir e ocupar os espaços, todos os espaços, através das redes. Nesse contexto, a apropriação da cultura digital passa a ser fundamental, uma vez que ela já indica intrinsecamente um processo crescente de reorganização das relações sociais mediadas pelas tecnologias digitais, afetando em maior ou menor escala todos os aspectos da ação humana. (PRETTO, ASSIS, 2008, p. 78).

Neste cenário, surgem possibilidades para atuação de professores criativos e

abertos aos novos espaços e tempos criados pela cultura digital. Mas para que se

produzam mudanças significativas, com benefícios para a educação, é preciso que

se alterem as práticas pedagógicas, através da mudança de paradigma, passando-se

de uma cultura analógica, baseada numa perspectiva simplesmente utilitarista das

tecnologias digitais e do laboratório de informática, em que se coloca dois alunos

na frente do computador. Clicando passivamente o mouse ou repetindo comandos

automáticos, sem a devida contextualização com a vida e com os conteúdos do

currículo articulados com a realidade, para uma mentalidade em que as práticas

tenham sentido na vida dos alunos.

Em razão da emancipação tecnológica do professor, Pretto e Pinto chamam a

atenção para as práticas pedagógicas, a fim de que estas se tornem afinadas com a

era das redes informacionais.

Obviamente, intensifica-se dessa forma o trabalho do professor, já que a escola e todo o sistema educacional passam a funcionar com outros tempos e em múltiplos espaços, diferenciados. Não deixa de ser, no entanto, esse

um rico momento para repensarmos as políticas educacionais na perspectiva de resgatar a dignidade do trabalho do professor, com a retomada de sua autonomia e, com isso, experimentar novas possibilidades com a presença de todos os novos elementos tecnológicos da informação e comunicação. (PRETTO, 2006, p. 24).

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Nessa direção, Lia Ribeiro Dias, ao descrever a visão de emancipação digital,

do professor Gilson Schwartz 4 , deixa claro que o compartilhamento do

conhecimento se fundamenta numa dimensão coletiva de disponibilização

intencional e generosa dos saberes nas redes de interatividade entre os sujeitos.

Convencido de que o uso passivo das tecnologias e só o consumo das informações disponíveis na rede não produzem um aprendizado autônomo, Schwartz (2010) defende que é preciso dar um passo além e trabalhar com o conceito de emancipação digital, que envolve a construção colaborativa dos conhecimentos. (DIAS, 2011, p. 76).

O compartilhamento ativo do conhecimento, portanto, emancipa os sujeitos,

porque os liberta da passividade que os reduz a simples consumidores de tecnologia,

elevando-os à condição de autores e coautores dos saberes compartilhados. Essa

dinâmica de compartilhar conhecimento, a partir das redes informacionais e da

troca generosa do conhecimento entre sujeitos, tende a promover a autonomia de

professores e estudantes, na medida em que se tornam parceiros nas redes

colaborativas do processo de ensino e aprendizagem, a partir da cultura escolar

onde interagem:

Não é o caso o professor rivalizar com os estudantes em torno do manejo tecnológico, não só porque corre o risco de ficar para trás, mas, sobretudo porque sua função é outra, de teor tipicamente pedagógico. Torna-se fundamental abandonar velhas estratégias didáticas, entre elas: I) aprender dos estudantes em termos de manejo tecnológico; II) abandonar a obsessão por controle disciplinar; III) compartilhar a reconstrução de conhecimento; IV) superar o instrucionismo. Ter conhecimento já é não suficiente. Colaboração e compartilhamento são habilidades cruciais (DEMO, 2010, p. 17-20).

Nessa grande teia de colaboração planetária existe um fundamento

sociotécnico definidor das conexões que permitem as relações de trocas e

aprendizado em rede, o software. É esse elemento que cimenta os suportes e os

meios digitais para o estabelecimento das redes informacionais necessário à

4

Gilson Schwartz é Diretor Acadêmico da Cidade do Conhecimento, projeto do Instituto de Estudos Avançados da

Universidade de São Paulo (www.cidade.usp.br).

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formação dos coletivos humanos, através dos quais professores e alunos podem

interagir.

É, pois, na construção e ampliação desses espaços que o GT Educação do fisl

atua, na defesa do acesso livre e do compartilhamento sem barreiras do

conhecimento entre e para os sujeitos. Sérgio Amadeu da Silveira ressalta a

importância da luta pela liberdade de acessar e compartilhar conhecimento,

livremente, nos ambientes de pesquisa e ensino ao afirmar que:

A ciência somente pôde se desenvolver devido à liberdade assegurada à transmissão e ao compartilhamento do conhecimento. Na era informacional, quanto mais se compartilha o conhecimento, mais ele cresce. Os softwares são os principais intermediadores da inteligência

humana na era da informação. Garantir seu compartilhamento é essencial para a construção de uma sociedade livre, democrática e socialmente justa. A transmissão e a disseminação do conhecimento tecnológico permitem viabilizar o fortalecimento da inteligência coletiva local e evitar a submissão e o aprisionamento pela inteligência monopolista e redutora das possibilidades de equalização social e de melhoria econômica dos povos (SILVEIRA, 2004, p. 7).

Entendemos como emergente a necessidade da construção de novos espaços

de aprendizagem e exercício da cidadania, onde os sujeitos possam adquirir

condições de atuar na produção de conhecimentos que lhes deem autonomia e que

contribuam para a sua coletividade, pois garantir o acesso e o compartilhamento

são formas de construção de uma sociedade mais livre, mais democrática e

socialmente justa. É nessa lógica pedagógica libertadora que o GT de educação do

fisl criou um espaço de compartilhamento do conhecimento, para trocas de

experiências e aprendizagem colaborativa – o Espaço Paulo Freire.

Abordagem Metodológica

Para a construção da trajetória de criação do Espaço Paulo Freire, realizamos

uma pesquisa documental, a partir de registros presentes em um número

diversificado de fontes. A pesquisa documental busca selecionar, tratar, interpretar

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materiais dispersos que ainda não receberam um tratamento analítico, ou seja,

trabalha-se centralmente com as fontes primárias.

Para a pesquisa documental é preciso inicialmente entender e diferenciar as

fontes primárias e fontes secundárias. As fontes primárias são dados originais, a

partir dos quais é possível estabelecer uma relação direta com os fatos a serem

analisados. Por fontes secundárias compreende-se a pesquisa de dados de segunda

mão (Oliveira, 2007), ou seja, informações que foram trabalhadas por outros

estudiosos e, por isso, já são de domínio científico, o chamado estado da arte do

conhecimento.

É valido ressaltar, que tanto a pesquisa documental como a pesquisa

bibliográfica tem o documento como objeto de investigação. Entretanto,

consideram-se aqui que o conceito de documento ultrapassa a ideia de textos

escritos e/ou impressos, podendo ser escrito e não escrito, tais como filmes, vídeos,

slides, fotografias ou pôsteres. Sobre essa ampliação do conceito de documento,

Fonseca (2002) menciona:

A pesquisa documental recorre à fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas,

tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc (FONSECA, 2002, p. 32).

Para Figueredo (2007) esses documentos podem ser utilizados como fontes

de informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu conteúdo para

elucidar determinadas questões e servir de prova para outras, de acordo com o

interesse do pesquisador. O corpus de nossa pesquisa documental está composto de

treze reportagens publicadas em veículos midiáticos digitais (portais de notícias,

página oficial do evento e blogs) durante os anos 2012 e 2013 (grande parte

publicados durante as duas edições do fisl), vídeos disponibilizados na Internet

produzidos pela TV OVO (de Santa Maria-RS) em parceria com GT Comunicação do

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fisl, mensagens eletrônicas das listas de discussões5 do GT Educação e por fim, de

relatórios oficiais produzidos pela Associação Software Livre.org sobre o Fórum

Internacional Software Livre.

Posterior à etapa de coleta, realizamos uma análise documental, que se

constitui como uma técnica de tratamento de informações na pesquisa qualitativa,

seja complementando informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando

aspectos novos de um tema ou problema (Ludke e André, 1986). A análise dos

documentos também se propõe a produzir ou reelaborar conhecimentos e criar

outras formas de compreender os fenômenos, sendo uma condição necessária que

os fatos devem ser explicitados, pois constituem os objetos da pesquisa, mas, que

por si mesmos, não explicam nada, devendo então ser interpretados e sintetizados

pelos pesquisadores.

Na análise documental buscou-se identificar informações factuais nos

documentos a partir de questões de interesse. Este procedimento também foi

adotado por se constituir como uma fonte estável e rica e ainda de baixo custo

para os pesquisadores. A partir das informações coletadas, organizou-se um

panorama da trajetória de construção do Espaço Freire e da sua atuação no Fórum

Internacional Software Livre.

O Espaço Paulo Freire: Um locus de Criação e Compartilhamento de

Conhecimento

Com a intensificação do uso das tecnologias na educação e com o avanço das

políticas públicas de inclusão digital, a educação e seus debates tem ganhado mais

espaço no Fórum Internacional Software Livre. O Grupo de Trabalho da Educação

5 Listas de discussões são canais digitais em que se estabelece a comunicação por e-mail assíncrona entre os membros

associados de um grupo virtual. São comunidades virtuais baseadas em trocas de experiências e na colaboratividade em rede. Estes espaços são muito utilizados pelos membros do movimento Software Livre. O Grupo de Trabalho Educação do Fórum Internacional do Software Livre, utiliza-se ativamente destes espaços, para discussão, organização do evento e articulações diversas.

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(GT Educação), criado para coordenar as diversas atividades envolvendo software

livre na educação, constitui-se como uma frente que reúne educadores,

pesquisadores e simpatizantes apaixonados pela temática, que por acreditarem no

poder transformador da educação e no valor do conhecimento compartilhado,

agrega a todos os interessados, em espaços físicos e onlines, para trocar

experiências e aprender juntos.

O GT Educação do fisl tem como missão a construção de espaços para

debates, reflexões e projetos que divulguem a filosofia do software livre e os

valores da cultura livre na educação enquanto prática pedagógica dos sujeitos

existentes nos contextos escolares. Propõe-se que todas as atividades que

ocorrerão durante o evento, sejam resultantes de diálogos entre as comunidades

com o fisl e do fisl com as comunidades.

A organização das atividades pelo GT Educação (construção da programação,

escolha de palestrantes, oficinas, estrutura física e outros aspectos) ocorre da

seguinte maneira: o ano, os organizadores comunicam-se a partir de uma lista de

discussão por e-mail (as listas são também conhecidas como fóruns virtuais) e

também são realizadas algumas reuniões presenciais na sede da Associação

Software Livre.org6 na cidade de Porto Alegre – RS.

Nesta reunião, os integrantes do GT Educação que residem nesta cidade,

apresentam para todos os organizadores do evento maior, as propostas construídas

a partir das listas de discussões. E por fim, acontece o fisl, que é o espaço

presencial do grande encontro de todos os participantes, para onde convergem

relatos, exposições de casos de sucesso, discussão de novos projetos, atividades e a

confraternização dos seus membros e colaboradores.

Para Kenski (2001) os ambientes de comunicação mediados por

computadores com acesso à internet propiciam o desenvolvimento de interações

6 A Associação SoftwareLivre.org (ASL) é uma entidade civil sem fins-lucrativos, com sede em Porto Alegre/RS, que reúne

empresários, profissionais liberais, estudantes e servidores públicos, estabelecendo relações com os mais diversos setores da sociedade. O objetivo é tornar o software livre amplamente incluído na sociedade, propiciando espaço de discussão, apoio, fomento e organização de iniciativas nas mais diversas áreas relacionadas.

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educativas mais amplas, impensáveis no passado recente, sendo possível combinar

momentos presenciais e a distância, onde os participantes podem trocar ideias e

experiências, vivenciar atividades individuais e grupais, e criar condições para a

construção de conhecimentos de forma colaborativa. Nestes espaços, como ocorre

com a lista de discussão por e-mail do GT Educação, o aprendizado acontece

quando se estabelecem determinadas dinâmicas de troca e relacionamentos,

intelectuais e afetivos, com vistas a alcançar objetivos específicos. Estas

comunidades virtuais promovem a discussão simultânea de diversos tópicos e assim,

ampliam as possibilidades espaço-temporais para aprendizagem e de

compartilhamento do conhecimento.

A partir dos diálogos entre os organizadores e as comunidades, foi proposta

pelo GT Educação em 2012, durante a 13ª edição do fisl, a criação do Espaço Paulo

Freire, nome em homenagem a um dos patronos da educação brasileira: o educador

e filósofo pernambucano Paulo Freire (1921-1997) que se consagrou

internacionalmente pelo seu trabalho na educação popular, voltada tanto para a

escolarização como para a formação da consciência política. Este espaço foi criado

em razão da necessidade de um espaço mais centralizado e agregador para oficinas

e demais atividades de formação, se constituindo como uma extensão das

atividades já existentes nas salas de conferências.

Figuras 1 e 2: Oficinas no Espaço Paulo Freire durante o fisl13

Fonte: Coletivo Percurso da Cultura, 2012.

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O sucesso e a grande procura dos participantes do fisl pelas oficinas e demais

atividades oferecidas pelo Espaço Paulo Freire, repercutiram em vários âmbitos e

viabilizaram um maior investimento e ampliação da proposta por atrair educadores

de escolas públicas e privadas, estudantes, pesquisadores e interessados de vários

estados do país e do exterior, interessados em trocar experiências sobre o uso das

tecnologias e do software livre na educação. A trilha educacional de oficinas

realizadas no Espaço Paulo Freire, tem contribuído para a promoção e divulgação

do uso software livre na educação e na elaboração de propostas pedagógicas

baseadas na colaboração em rede. Dessa teia de ideias, surgiu o projeto FISL na

Escola que ampliou a proposta inicial do Espaço Paulo Freire.

FISL na Escola

O FISL na Escola é uma proposta do GT Educação, para o evento que ocorreu

em julho de 2013, visando ampliar as atividades já existentes no Espaço Paulo

Freire. A proposta teve por objetivo a promoção e a socialização de experiências

inovadoras de escolas brasileiras que utilizam software e outras tecnologias livres.

O GT Educação formou uma comissão para escolha das escolas participantes,

considerando os seguintes critérios de seleção: a) mérito da atividade desenvolvida

na escola como exemplo de utilização do software livre com fins educacionais; b)

distribuição geográfica das escolas pelo país; c) disponibilidade técnica da escola

para o evento, tendo em vista garantir a oportunidade de participação para as

escolas que possuem pouca disponibilidade de recursos técnicos (computadores,

banda larga, etc.).

As escolas selecionadas participaram da programação de forma presencial e

por videoconferência. No caso da última, durante o momento de apresentação, as

escolas compartilhavam suas experiências utilizando as tecnologias digitais e logo a

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seguir, os coordenadores de cada sessão no espaço presencial anunciavam a

abertura de debates, análises das experiências apresentadas pelas escolas, por

palestrantes convidados e pelo público presente no Espaço Paulo Freire.

A estrutura montada para o FISL na Escola, visando ampliar a participação

dos educadores e reduzir a distância entre os participantes das diversas regiões do

país, tornou possível um espaço de interatividade em rede que permitiu ligar

pontos distantes, de forma online, para a socialização de experiência com usos de

software e tecnologias livres, projetos ligados à aplicação de tecnologias

educacionais envolvendo elementos da cultura livre ou para a troca de experiências

e aprendizagem entre pares.

Democratizar a Ciência é possível? Trilhando caminhos para a

construção de uma Ciência Cidadã

Um dos destaques do FISL na Escola do ano de 2013, foi a apresentação do

projeto “Estações Meteorológicas”, coordenado pelos professores Rafael Peretti

Pezzi, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e Rafael Vasques Brandão do Colégio de Aplicação (CAp) da mesma instituição. O

projeto oferece a possibilidade de construção de estações meteorológicas

modulares em escolas públicas. Caso venha a ser concretizado, o projeto poderá

contribuir para a confecção de um mapa dos microclimas da cidade de Porto Alegre

e outras cidades.

Na apresentação para o público presente no Espaço Paulo Freire, um vídeo

inicial que permitiu aos alunos e professores discutirem o conceito de REA's

(Recursos Educacionais Abertos), termo cunhado pela UNESCO em 2001, que

designa materiais e ferramentas educacionais que podem ser usadas, estudadas,

modificadas e distribuídas livremente.

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O grupo discutiu com o público como as características de estudo,

modificação e redistribuição são vantajosas em relação aos materiais didáticos

tradicionais, como livros e artigos, que via de regra, não pode ser modificados e

distribuídos. Há também os aparelhos eletrônicos, cujos fabricantes de forma

proposital obscurecem o nome de algumas peças e processos, impedindo seu estudo,

modificação e adaptação às práticas educacionais (Ferreira; Melo, 2013).

Figura 3: Modelo de Estação Meteorológica Modular

Fonte: Portal do CTA – Centro de Tecnologia Acadêmica da UFRGS

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Os Recursos Educacionais Abertos (REA's), portanto, são o ponto chave para a

construção de uma Ciência Cidadã7, que consiste na participação de pessoas, ainda

que “leigas”, no processo de construção e descoberta científica. E que diz respeito

também à disponibilização imediata dos métodos e dos resultados das pesquisas, o

que resgataria os valores originais da Ciência, baseada na produção científica entre

pares e possibilitaria a ampliação da sua democratização. Segundo a Wikipédia, a

Ciência Cidadã é baseada na participação informada, consciente e voluntária, de

milhares de cidadãos que geram e analisam grandes quantidades de dados,

partilham o seu conhecimento e discutem e apresentam os resultados. Qualquer

pessoa pode dedicar a sua inteligência ou os seus recursos tecnológicos e

disponibilidade de tempo para encontrar resultados de utilidade social.

Diversas oficinas, experiências, debates e relatos foram socializados através

da programação do FISL na escola. De um modo geral, as experiências apresentadas

pelas escolas brasileiras participantes, mostraram que expressões como

colaboratividade em rede, independência tecnológica, narrativas digitais, formação

a distância, criatividade e autonomia, já fazem parte do cotidiano de educadores e

estudantes que atuam em processos de construção e colaboração do conhecimento

livre.

Figuras 4 e 5: FISL na Escola.

Fonte: GT Comunicação do fisl (2013).

7 O conceito não é recente, pois a prática da ciência-cidadã tem origem entre o fim do século XIX e início do século XX, mais

precisamente, a partir de 1900, por meio da contagem coletiva de pássaros. Atualmente o movimento pela ciência-cidadã tem se ampliado graças ao avanço das telecomunicações e do uso da internet.

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O projeto FISL na Escola se tornou uma referência marcante da atuação do

GT Educação, por ultrapassar os limites do debate e da reflexão, permitindo a

participação online (em um evento presencial) de professores e estudantes de

escolas em várias regiões brasileiras. Conectadas remotamente, socializando,

refletindo e aprendendo ideias de cultura livre, colaboração em rede, tecnologias

livres, compartilhamento do conhecimento e ética hacker (entendendo o termo

hacker não apenas do ponto de vista da programação de computador, mas como

compartilhamento de informação, descentralização e tecnologia) e demais

conceitos e movimentos distintos, mas que dialogam entre si, por terem em comum

o desejo de construir tecnologias alternativas às que estão postas pelo mercado

global e proporcionar a criação de novas redes de aprendizagem e colaboração que

se entrelaçam nos múltiplos espaços-temporais.

O GT Educação do Fisl consolida entendimentos e tece novas redes

nas interações pós-evento

Uma das principais características do GT Educação é ser um coletivo em constante

movimento. A todo o momento, novas ideias surgem a partir da interação com os

participantes do fisl, através das novas articulações e novos desafios colocados

para os próximos eventos. As atividades coordenadas pelo GT Educação no Fórum

Internacional Software Livre obtiveram destaque no evento, que a cada ano se

consolida pela multiplicidade de expressões e interações no âmbito da tecnologia,

da cultura, da educação, da comunicação, do conhecimento e de tantos outros

campos do saber. Os resultados alcançados são para o grupo importantes desafios

para novos projetos a serem construídos para os encontros presenciais.

As atividades realizadas pelo GT Educação são resultantes de teias de

conexões entre diferentes sujeitos individuais, grupos sociais e culturais,

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instituições e muitos outros atores que, aliados com as tecnologias digitais, atuam

em um contexto colaborativo. Um dos aspectos a destacar foi o apoio de

instituições de ensino superior, como a Universidade Federal de Minas Gerais. E

também da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que realizou atividades

conhecidas como “pré-fisl” (oficinas e os debates nas escolas e nos Telecentros,

Installfest8 e outros) Estas atividades além de divulgarem o evento, promoviam

também a discussão sobre a utilização de software livre no cotidiano dessas

comunidades.

Como fruto deste trabalho, contaram-se com a participação de 19 escolas da

Rede Pública Municipal de Porto Alegre, que participaram de oficinas, palestras,

feiras, atividades culturais e outras atividades durante o fisl. Além do aumento de

público nas atividades do Espaço Paulo Freire (professores, estudantes, gestores e

demais profissionais da educação) o que reflete uma carência e uma grande

demanda por formação por parte de professores especialmente para o uso de

Software Livre na Educação, como destaca uma das professoras formadoras do

Núcleo de Tecnologia Educacional da 39ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE)

de Carazinho-RS em entrevista para a TV OVO:

O interesse em participar das atividades do Espaço Paulo Freire, vem pela necessidade imediata de aprender a utilizar software livre. O sistema operacional Linux já foi instalado nas máquinas das nossas escolas e não

houve capacitações. [...] É tudo na descoberta, pois não temos especialistas e precisamos estar em lugares como este para aprender mais e compartilhar com os professores da nossa rede. (TV OVO, 2012).

Para o fisl de 2014, o GT de Educação deseja estabelecer parcerias com o GT

Robótica, visando ampliar ainda mais as atividades para o público presente. Nesse

sentido, o GT Educação desenvolverá suas atividades com ênfase na

sustentabilidade (eixo temático para todas as propostas para a próxima edição do

8 Installfest é um evento, geralmente patrocinado por um Grupo de Usuários GNU/Linux, em que pessoas se reúnem para

realizar instalações em massa de sistemas operacionais de computador ou software livre, principalmente o sistema operacional Linux e outros softwares de código aberto. É geralmente um evento de apoio e de construção da comunidade, onde iniciantes trazem seus computadores, e usuários experientes os auxiliam a instalar e configurar o sistema.

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fisl). Quatro atividades integrarão a programação do Espaço Paulo Freire: um

Installfest com toda a infraestrutura necessária à instalação de distribuições

GNU/Linux e aplicativos voltados ao público educacional, além de oficinas para o

uso de software livre na educação, de metareciclagem9 e um espaço para coleta de

equipamentos eletrônicos descartados.

Considerações Finais

A partir da análise da trajetória de construção de um lócus de educação e

formação, concluímos que iniciativas, como a da criação do Espaço Paulo Freire no

maior evento de tecnologias livres da América Latina, a partir das ações do GT de

educação, têm promovido a interculturalidade, sustentada por trocas de saberes e

experiências entre educadores, alunos, gestores, estudantes e demais profissionais

da educação. Visando não apenas a formação, mas também a integração desses

sujeitos, buscando novas possibilidades e alternativas que superem o individualismo

e a cultura consumista e imediatista nas tecnologias digitais na era da globalização

econômica.

Dessa forma, constatamos que a expansão das tecnologias de informação e

comunicação e as facilidades de deslocamento permitem um aumento de contato

presencial entre pessoas. Assim, ideias, invenções e significados também

promovem um maior contato entre as culturas diversas e a criação de novas redes

de colaboração e de aprendizagem. O GT Educação do FISL surge como um coletivo

pensante e atuante na construção de espaços de debates e inventividades, criando,

a partir dos seus processos interativos, alternativas práticas para a concretização

das suas propostas tecno-pedagógicas, como o Espaço Paulo Freire que, desde a sua

9 A metareciclagem é um meio seguro e consciente de reciclar o lixo eletrônico, consiste na desconstrução do lixo tecnológico

para a reconstrução da tecnologia. Os princípios da metareciclagem têm por base a desconstrução do hardware, o uso de softwares livres, o uso de licenças abertas e a ação em rede, buscando a formação de uma ideia sobre a reapropriação de tecnologia objetivando a transformação social.

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criação, vem se tornando um importante lócus de formação e compartilhamento de

conhecimento entre os sujeitos da educação que comparecem ao evento.

Com efeito, esse movimento sociotécnico educacional faz emergir novas

redes, sob formas criativas e transformadoras de conceber e propor o uso das

Tecnologias de Informação e Comunicação na escola. Sendo assim, a cultura digital

assume o ethos da diversidade humana, respeitando os espaços e os tempos

escolares, mas também os transformando e adaptando-os às necessidades dos

sujeitos interagentes deste novo mundo que une a escola aos novos espaços-tempos

criados pelos suportes digitais.

Referências

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