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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE Curso de Docência Superior O ENSINO SUPERIOR E A TERCEIRA IDADE JAIR WOWCZYK Prof. Orientador MARCO LAROSA TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM DOCÊNCIA SUPERIOR RIO DE JANEIRO, RJ, 2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE Curso de Docência Superior

O ENSINO SUPERIOR E A

TERCEIRA IDADE

JAIR WOWCZYK

Prof. Orientador

MARCO LAROSA

TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM DOCÊNCIA SUPERIOR

RIO DE JANEIRO, RJ, 2001

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EPÍGRAFE

“Toda sociedade, em todas as épocas, repousa

sobre um conjunto extremamente sutil de equilíbrios

e de tensões, do qual os acontecimentos

demográficos fazem parte”.

JEAN-PIERRE BOIS

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AGRADEÇO AO MEU ORIENTADOR,

PROFESSORES E COLEGAS, PELO SABER E

INCENTIVO RECEBIDOS AO LONGO DESTE CURSO

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DEDICO ESTE TRABALHO Á MEMÓRIA DE

MEUS PAIS E IRMÃO, JÁ FALECIDOS, E A TODOS

OS MEUS FAMILIARES

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RESUMO

O extraordinário progresso da tecnologia nas áreas bio-

médicas tem sido um dos fatores preponderantes para o aumento

dos índices de expectativa de vida. Os levantamentos censitários

no mundo, em geral, e no Brasil, em especial, evidenciam a cada

pesquisa que aumenta consideravelmente a proporção de idosos

na população brasileira. O Brasil era considerado até muito pouco

tempo atrás como uma nação de jovens. Atualmente, as

estatísticas confirmam que se trata de um país onde predomina

progressivamente a Terceira Idade. Daí a necessidade de se

criarem condições para que os idosos participem ativamente em

áreas adequadas às suas condições etárias, na construção da

nacionalidade. O retorno deles às Escolas e, mais especialmente,

à Universidade é o tema desta monografia que sugere as áreas

profissionais mais adequadas para o desempenho dos integrantes

da Terceira Idade.

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SUMÁRIO

RESUMO, 5

INTRODUÇÃO, 7

CAPÍTULO PRIMEIRO, 11

DA EDUCAÇÃO EM GERAL

E DO ENSINO SUPERIOR, EM PARTICULAR

1.1. Origens históricas, 11

1.2. Ensino Superior e o privilégio social, 14

1.3. A luta pela democratização, 17

1.4. Saber repetido e produção do saber, 17

1.5. As faixas etárias e a educação superior, 18

CAPÍTULO SEGUNDO, 21

A TERCEIRA IDADE

2.1. Velhice – prestígio e aversão. O velho e a

História, 21

2.2. A velhice (terceira idade) no Brasil, 29

2.3. O potencial representado pela terceira idade para

a sociedade moderna, 31

2.4. A terceira idade e a educação, 32

CAPÍTULO TERCEIRO, 34

A EXPERIÊNCIA DA TERCEIRA IDADE E AS

NOVAS ÁREAS PROFISSIONAIS

3.1. A situação atual brasileira, 34

3.2. Expectativas, 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS, 37

BIBLIOGRAFIA, 42

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INTRODUÇÃO

Desde o século XIX o progresso das ciências e das

técnicas, em especial na área das ciências biomédicas,

contemplou à humanidade com melhores condições de saúde

propiciando assim um progressivo maior índice de longevidade.

Através dos tempos, a história do homem tem oscilado no

que respeita aos índices demográficos.Épocas de fartura

alimentícia em sucedido a épocas de carência. Basta recordar, no

caso do antigo Egito, onde José vendido pelos irmãos como

escravo, na corte do faraó desvenda o significado do sonho do

governante onde apareciam sete vacas gordas seguidas por sete

vacas magras. O número sete, segundo José, representava sete

anos de fartura aos quais se seguiriam sete anos de privações.

Aconselhava, portanto, conservar nos silos o excesso dos tempos

de fartura para se fazer frente à possível fome dos anos de

privação. Seu conselho lhe valeu ser nomeado pelo faraó para o

maior cargo administrativo da corte – o de vizir – taty – uma

espécie de primeiro ministro.

Às temporadas de fartura, historicamente se sucederam

sempre momentos de privação e fome. As pragas e os caprichos

da natureza punham a perder as colheitas. Má nutrição e fome

traziam doenças e morte. “A história da alimentação humana

explica bem os ciclos da duração da vida do homem e da

mulher”.(Castro, Unicam e Almed. Patrocínio da Unicef).

O meio ambiente hostil e as cíclicas crises agrícolas que

carregam a fome, juntamente com as pestes ceifadoras de

multidões, criaram impactos negativos sobre a população humana.

Assim aconteceu nos casos da peste negra, durante os tempos

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medievais e, a famigerada gripe espanhola, já em pleno século

vinte. Durante a idade moderna ficaram famosas as pestes que

chegaram mesmo a obrigar as famílias reinantes das principais

nações européias a procurarem abrigo fugindo para o campo.

A cidade do Rio de Janeiro, até os inícios do século XX,

pela sua situação de agregado de casas sem ventilação e esgoto,

foi durante muito tempo um foco constante das moléstias

endêmicas, destacando-se nessas a febre amarela. Os navios

provenientes da Europa, no auge do verão, evitavam aportar na

capital do Brasil (Mauro,1991) .

De acordo com os estudos etnológicos e históricos foi

possível confirmar-se que os grupos sociais mudam sua afeição

ou não aos idosos conforme o tempo seja de fartura ou de

carência alimentar. Assim, quando paira o fantasma da fome os

velhos são mal vistos, até mesmos escorraçados, pois “consomem

a comida necessária para manter vivos os mais moços”.Já nas

épocas de fartura, a sociedade não somente trata bem ao velho

como procura obter dele um conselheiro em função da experiência

adquirida por ele durante sua vida. É daí que advém os

“Conselhos de Anciãos” e, em Roma antiga, o Senado, instituição

cujo nome provém de senex – velho.

Nesta introdução se impõe esclarecer que a percepção do

problema da velhice é dificultada pelo fato de que nos diversos

períodos históricos o homem tem tido conceitos diferentes sobre o

que é ser velho. De acordo com a média de vida da época,

acreditavam ser idoso indivíduos de 35 anos, ou em outros casos,

pessoas com 80 anos. Na realidade não há uma consonância

através dos tempos sobre a denominação das pessoas e suas

faixas etárias.

Como mostra Philippe Ariès em seu livro “ História Social da

Criança e da Família “ (Rio,1981), a criança somente passou a

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constituir, na civilização européia ocidental, objeto da atenção dos

adultos a partir do século XVIII. Por sua vez a adolescência, seria

uma “invenção” do século XX.

De fato, no Brasil, até o século XIX, a moça com treze anos

de idade já era casada pelos pais passando a dirigir a casa e

cuidar dos filhos. O rapaz, normalmente com idade semelhante,

ingressava no comércio onde iria fazer “carreira”. Como se vê, não

se conhecia a adolescência.

Quanto ao velho, em uma sociedade patriarcalista e

escravocrata, era objeto do respeito de todos. Era o patriarca,

respeitado e temido. Sua palavra era a decisão final para qualquer

tipo de litígio, fosse este de que natureza fosse. Mas ser velho era

atingir a faixa dos 45 ou 50 anos. A duração média de vida de

cada época é que caracterizava, para aquela sociedade, o que era

ser velho. Por certo, exceções existiam.

Há de se acrescentar que, fora certos tipos de doenças que

não respeitavam nem respeitam classe social, a duração média de

vida era diferente conforme o segmento da sociedade a que

pertencia o homem.

Escravos exauriam as vidas no eito de seus senhores. Os

forros, no século XIX, tinham vida curta habitando em cortiços

infectos, onde a falta total de higiene provocava epidemias.

Sabe-se atualmente, que a prevenção através das vacinas,

a boa alimentação, os exercícios moderados e regulares e

ocupação da mente são as condições para uma vida saudável .

Resta apenas a destinação, até agora inexorável, das destinações

do ser humano frente à esta programação ainda inevitável contida

no genoma humano. Mas as pesquisas bio-médicas já se ocupam

da descoberta de técnicas que permitam impedir que as doenças

hereditárias possam vir a aflorar.

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Com o adiantamento tecnológico, o melhoramento dos

índices sanitários e as melhores condições de alimentação, a

duração da vida passou a atingir, na área da civilização ocidental,

índices expressivos. O resultado disso foi o aumento numérico da

população idosa (Bois,1994).

Atualmente, essa constatação está levando os estudiosos e

governo a programarem políticas para a terceira

idade.(Barros,1998) .

Analisar o papel que esses idosos saudáveis podem

representar no corpo social, como força de trabalho, é o objetivo

principal dessa monografia.

A terceira idade, constituída por homens e mulheres

saudáveis que passaram dos sessenta anos, é atualmente uma

realidade a ser encarada pelos dirigentes do Estado.

Diversas áreas da sociedade civil já se aperceberam da

importância representada por esse novo extrato social e algumas

iniciativas vêm sendo tomadas visando reincorpora-la ao setor

produtivo, naturalmente, observando-se suas características

próprias.

Essa pesquisa sugere, em sua conclusão, o que uma parte

dessa terceira idade pode produzir no domínio da educação em

geral e mais especificamente, no ensino superior.

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CAPÍTULO PRIMEIRO

DA EDUCAÇÃO EM GERAL

E DO ENSINO SUPERIOR, EM ESPECIAL.

1.1.Origens históricas

A educação em geral, desde suas origens mais remotas,

teve sempre a finalidade de transmitir a herança cultural da

sociedade.

Desde que alguns assumiram o governo do grupo em

resultado da divisão do trabalho, surgiu o Estado em sua forma a

mais embrionária. Esses que tinham inicialmente, a função de

proteger a colheita e o patrimônio do grupo, aos poucos se foram

tornando os beneficiados do trabalho da grande massa. Logo, o

“governo” se tornou uma reunião de favorecidos e os produtores

foram relegados à condição de dominados.

Essa sociedade sentiu sempre a necessidade de se

perpetuar através da juventude. Essa ao aprender com os mais

velhos as técnicas de produção, ao crescerem e ocuparem suas

posições na sociedade tinham condições de manter a produção

grupal. A educação foi assim, desde os inícios o processo de

transmissão dessa herança cultural, entendendo-se “cultura” –

dentro da concepção sócio-etnológica – como o somatório das

realizações sociais do grupo.

A complexidade crescente das sociedades históricas

obrigou a diversificação do trabalho e as necessidades da

administração dos núcleos impuseram uma especialização na

arte de educar.Assim como, a crescente complexidade dos

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agrupamentos sociais originou a família, o Estado e a propriedade

privada, igualmente deu origem a instituição “escola”, o local onde

se processa a arte de ensinar.Assim como as demais instituições

sociais a escola também se transformou, diversificando com o

passar dos tempos. Isso não impede que, desde à sua criação

não venha mantendo, em essência, sua característica original.

Dentre outras maneiras de focalizar a escola, uma em

especial é aquela que a encara como “grupo social”.

De acordo com Antônio Candido (1985,107),

“A estrutura administrativa de uma escola exprime a sua organização no plano consciente, e corresponde a uma ordenação racional, deliberada pelo Poder Público. A estrutura total de uma escola é, todavia algo mais amplo, compreendendo não apenas as relações ordenadas conscientemente mas, ainda, todas as que derivam da sua existência enquanto grupo social. Isto vale dizer que, ao lado das relações oficialmente previstas (que o Legislador toma em consideração para estabelecer as normas administrativas), há outras que escapam à sua previsão, pois nascem da própria dinâmica do grupo social escolar. Deste modo, se há uma organização administrativa igual para todas as escolas de determinado tipo, pode-se dizer que cada uma delas é diferente da outra, por apresentar características devidas à sua sociabilidade própria.”

Desta maneira, por exemplo, no antigo Egito aprendia-se

os rudimentos da arte de escrever e ler nas escolas da vida

(templos) ou com professores particulares. A escrita era

fundamental para que os administradores soubessem quanto se

produzia e quanto deveria ser arrecadado como tributo para os

armazéns reais. Mas “escribas”, diante da complexidade das

atividades gerais, tiveram de se especializar. Surgiram desta

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forma, escribas dos templos, escribas militares, escribas do

palácio, etc...

A formação do escriba se diversificou também. Inicialmente,

conheciam os signos hieroglíficos e hieráticos (depois, demóticos)

e se aperfeiçoavam em desenhá-los com perfeição. Aqueles que

se destacavam nessa tarefa eram encaminhados às escolas dos

templos e do palácio, e nelas se especializavam.

É nesse sentido que, desde as origens a educação foi se

dividindo em elementar (propiciada a todos) e especial (ou

superior) à qual eram encaminhados um pequeno grupo.

Todavia, os que cursavam essa educação superior, se no

início eram os mais aptos, com o passar dos tempos se

transformaram nos “privilegiados” decorrentes de sua posição na

estrutura social.

Dessa forma a educação superior se transformou em

privilégio de classe, principalmente porque à instrução esteve

sempre associado o poder.

No Brasil essa afirmação se confirma. Desde o século XVI

que somente foram criadas na colônia os colégios,

predominantemente dos jesuítas, que visavam através do ensino

catequizar o “gentio”.(Matos,1965).

Ainda nos fins do século XVIII não existiam nessas terras

de Portugal um só estabelecimento de ensino superior.

Os colégios dos inacianos foram substituídos pela Reforma

de Pombal em “aulas régias” e criado o “subsídio literário”,

imposto para financiar o custo dessa nova forma de se transmitir o

saber.

Proclamada a Independência e reunida a Assembléia

Constituinte chegou a se discutir nela a criação de duas

“universidades” para o Império, uma no norte, outra no sul.

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A dissolução da constituinte e a imposição da Carta

Outorgada de 1824 por D. Pedro Iº afastaram a pretensão da

criação de uma universidade no Brasil. Na última Fala do Trono

com a qual se abriam os trabalhos legislativos, D. Pedro Segundo,

pouco antes da Proclamação da República conclamava os

congressistas para a necessidade da fundação de uma

universidade brasileira.

Somente a República concretizaria esse sonho e assim

mesmo quando já madura.

Até a década de 40/50 os estudos superiores no Brasil

persistiram sendo uma expressão dos privilégios de classe.

Somente com a queda do Estado Novo em 1945 e a promulgação

da Constituição de 1946 se estabeleceu, de fato, os inícios

democráticos no Brasil.

No ensino essa conquista é devida a reforma introduzida

pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1946.

A partir daí, ainda que com alguns entraves, timidamente a

Universidade do Brasil e outras de caráter privado, começaram a

se abrir para o povo brasileiro.

1.2. Ensino Superior e privilégio social

Desde a época colonial que os estudos superiores

constituíram privilégio das classes favorecidas.

Não havendo no Brasil estabelecimento de ensino dedicado

a este fim, os filhos das classes abastadas, na época aprazada,

iam para Portugal, Espanha ou França a fim de cursarem os

estudos superiores (Medicina, Leis Civis e Eclesiásticas e

Engenharia).

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Mesmo depois da independência os jovens das classes

favorecidas iam ao estrangeiro a fim de completar seus cursos. O

mais escolhido era o das Ciências Jurídicas. O Brasil se

transformava em um País de Bacharéis.

Desde o Império, entretanto, já era possível formar-se o

brasileiro em leis através de duas notáveis instituições: as

Faculdades de Direito do Recife e de São Paulo.

Primeiro surgiram entre nós as Faculdades isoladas. Isso

passou a acontecer com a estadia no Rio de Janeiro da Corte

Portuguesa nos inícios do século XIX. As necessidades do Império

Português, ao trazer para cá a rainha D. Maria e seu filho regente,

D. João, acabou por trazer também todas as benfeitorias que uma

sede da monarquia requeria. Muito lucrou o Brasil com a

permanência da Corte no Rio de Janeiro.(Norton,1956) .

No Império, a despeito da existência de um governante

sábio como D. Pedro Segundo, os estudos superiores

continuaram sem assumir a forma universitária.

Tanto no Império como na República Velha predominaram

os privilégios de classe representados pelos interesses da

oligarquia cafeeira. Os filhos dos barões do café é que cursavam

os estudos superiores.

Coma Revolução de Trinta esses privilégios se estendem

paulatinamente à classe média, nascida com a implantação e o

desenvolvimento da sociedade industrial(Castro,1981) .

A democratização somente se iniciaria após a queda da

ditadura de Vargas em 1945.

Entretanto, isso não representou a ascensão das massas

populares aos estudos superiores. Novos extratos da classe

média, os mais baixos, começam a ter acesso às Faculdades. A

maioria do ensino estava nas mãos do poder público e até a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1946 somente

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poderiam prestar Exames Vestibulares àqueles que tivessem

concluído, com aprovação, o Curso Secundário. A grande maioria

do povo só cursava o Comercial e o Industrial. Daí a

impossibilidade de acesso aos estudos superiores.

Com a possibilidade de ingresso a todos que tivessem se

habilitado através da conclusão do curso médio (secundário,

comercial, industrial e agrícola), inflaram os candidatos ao

vestibular e as faculdades por não terem vagas necessárias criou-

se o artifício dos “excedentes” .

Para por fim a essa excrescência, fundou-se a

CESGRANRIO, que coincidia com a fundação de faculdades

particulares. O candidato prestava prova vestibular e pelo grau

recebido era classificado (dentro das opções por ele escolhidas)

para ingressar em determinadas faculdades onde os cursos

desejados pelo candidato, apresentavam vagas.

Essa “democratização” canhestra era a imagem viva de

uma grande distorção e engano contra o povo.

A massa que estudava em colégios públicos gratuitos

recebia um nível de instrução deficiente face ao nível das

questões formuladas pelo CESGRANRIO.

Os filhos dos ricos investiam em cursinhos caros mas que

preparavam de acordo com o nível requerido pelo vestibular.

Assim, passavam para as faculdades públicas (as de melhor nível

de ensino na época) aqueles que podiam pagar faculdades

particulares e essas restavam para o povo, mal preparado para o

vestibular e que seria também mal preparado nos cursos

superiores, visto que, com exceções, a grande maioria das

instituições privadas eram fracas e orientadas tão somente para

os grandes lucros.

O ensino superior de qualidade persistia sendo uma

educação para privilegiados.

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1.3. A luta pela democratização

Desde o Manifesto pela Escola Nova que um grupo de

intelectuais vem se batendo pela democratização do ensino em

geral e superior, em particular.

O acesso a cargos importantes ficou sujeito aos

privilegiados do ensino superior.

A rede de faculdades particulares, em sua maioria,

apresenta-se despreparada para a formação que dela se exige. O

governo atual, com os Provões, pretende corrigir esse mal e até

mesmo descredenciar os estabelecimentos de ensino superior que

não satisfazem às finalidades que deles espera o poder público. O

resultado dos “Provões” tem demonstrado que até mesmo os

cursos de pós-graduação de universidades públicas estão a

merecer reformulações imediatas.

A luta pela democratização está longe de terminar.

1.4. Saber repetido e produção do saber

Durante séculos a educação se baseou na memorização. O

professor era um mero transmissor de um saber que nem dele

era. Recebia esse conhecimento de seus professores e seguindo

a tradição o transmitia a seus alunos aos quais competiria, por seu

turno, passa-lo integralmente a seus alunos.

Nada se criava. Tudo se repetia.

Imperou sempre para se acabar com qualquer discussão a

frase: - “O Mestre disse!”

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A sociedade industrial e os tempos mais recentes passaram

a contestar esse tipo de ensino.

O aluno necessita aprender a pensar por si mesmo.

Não interessa a solução dada por Pitágoras, Kepler, Bacon,

ou qualquer outro. É preferível acertar, errando do que nunca se

emancipar passar a pensar sozinho.

A forma atual de ensino é o ensinar a pensar.

Ao aluno não deve interessar mais o conhecimento já feito

de a ele simplesmente transmitido. Deve conhecer como

pensaram – em tais situações – os grandes intelectuais. Mas

jamais deverá repetí-los.

Cumpre ao aluno, orientado pelo mestre, criar seu próprio

saber. Daí a importância de se aprender a pesquisar. Com o

domínio desse instrumento o educando caminha no sentido da

construção de seu próprio saber.

Nisso consiste a grande e verdadeira revolução da

educação deflagrada pouco antes do raiar desse novo milênio e

que nele se concretizará.

Rompida a cultura alfabetizada, expressão do privilégio de

uns poucos, vai se impondo, cada vez mais, a cultura midiática,

popularização indiscriminada do saber.

A comunicação de massa e a informática juntamente com a

cultura midiática, através dos procedimentos da produção do

saber, certamente concretizarão essa nova forma de educação

que irá vigir durante o terceiro milênio.

1.5. As faixas etárias e a educação

Desde a pré-Idade Moderna, lá pelo século XIV, que as

escolas reuniam em uma mesma classe alunos das mais variadas

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idades. Meninos ombreavam com homens maduros no

aprendizado elementar.

Com o advento das Universidades, ainda na Idade Média e

depois no período renascentista, voltaram a se agrupar em torno

do Mestre jovens e homens maduros, Esse o ensinamento das

maiores autoridades da História da Educação.

Atualmente, o fenômeno volta a se repetir.

Com o surgimento e expansão da Terceira Idade, os idosos

procuram os bancos universitários para completar os estudos que

o exercício da profissão os obrigou a abandonar.

As classes das faculdades começam já a exibir homens e

mulheres de mais de sessenta anos de idade fazendo seus cursos

de nível superior. Uma das maneiras – segundos os geriátras – de

se manter jovem é exercitar constantemente o pensamento.

A Terceira Idade adentra a Universidade e conquistando um

espaço cria seu próprio lugar nas áreas de produção do saber.

Quando o poder público passou a normatizar as escolas e

suas classes, estabeleceu-se o critério de que determinada série

e grau de ensino deveria ser freqüentada apenas por alunos

compreendidos em fixada faixa etária. Os educandos que

passassem dessas idades tinham de ser encaminhados a outra

espécie de instrução - ou a educação especial (caso se tratasse

de dificuldade de aprendizagem), ou educação supletiva (caso já

estivesse o aluno fora das idades limites da série ou grau).

Quanto aos educadores, nos tempos antigos, eram eles

sempre pessoas de idade madura . Os jovens ainda se estavam

preparando para o exercício do magistério ao qual, como se

acreditava, era imprescindível a experiência dos anos.

Com a modernidade esse quadro mudou. As Faculdades de

Filosofia, Ciências e Letras passaram a formar docentes jovens. A

volta desses ao magistério trouxe uma modificação de hábitos em

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termos do relacionamento educador/educando nas unidades de

ensino. Com o ingresso dos integrantes da meia-idade mais uma

vez se transformará o cenário das escolas e faculdades.

Primeiramente, nas salas de aula, juntos estarão na qualidade de

alunos, moços e idosos, e no exercício do magistério igualmente,

permanecerá essa convivência.

Em todos os níveis da educação assiste-se a presenças

nas salas de aula de alunos idosos, alguns se alfabetizando,

maravilhados pelos novos horizontes que se descortinam diante

deles, outros fazendo parte dos “grupos de universitários” que se

debruçam sobre pesquisas encomendadas por seus mestres.

A Escola está novamente aberta à Terceira Idade!

Dentre as diferentes especializações de terceiro grau

procuradas pelos idosos destacam-se os cursos de História,

Letras e Pedagogia, o que não impede também a escolha dos

estudos jurídicos.

Muito se pode esperar da presença do idoso nos domínios

da educação, visto que agregarão ao saber atual suas

experiências de vida, certamente muito ricas.

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CAPÍTULO SEGUNDO

A TERCEIRA IDADE

2.1. Velhice – prestígio e aversão. O velho e a

História

Através dos tempos, de acordo com as informações

históricas e antropológicas, o velho, ora tem sido exaltado, ora

desprestigiado pela comunidade em que vive.

Essa situação cambiante em relação ao idoso esteve

sempre relacionada à situação dos estoques alimentares. Em

momentos de fartura, prestigiava-se a experiência acumulada dos

velhos. Em épocas de fome, ele era abandonado à sua sorte,

negando-se-lhe alimento que era necessário à sobrevivência dos

mais jovens, ainda em plena capacidade produtiva.

Isto ocorria e parece ainda ter lugar entre os povos

“primitivos”, segundo informam as pesquisas etnológicas.

Entre as civilizações históricas da antiguidade, garantidos

os recursos alimentares, apelou-se sempre para a sabedoria de

vida acumulada pelo idoso.

No antigo Egito os textos ensinam que muitos foram os

membros das classes dirigentes que atingiram idades avançadas.

Ptah-hotep, autor de um livro sobre ética, em cerca de 2.300 anos

antes de Cristo, teria vivido 112 anos.

Informa a Bíblia acerca da longevidade dos Profetas

hebreus.

Em Grécia e Roma, exaltava-se o idoso e lhe era dado o

poder em assembléias que decidiam sobre o destino da nação.

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Assim, em Roma o Senado, cujo nome vem de senatus, por sua

vez originário de senex, “velho”.

Cícero (106/43), grande pensador romano, autor de

tratados jurídicos e filosóficos, deixou o De Senectude, Da

Velhice, uma apologia acerca desta quadra da vida humana .Esta

obra é um diálogo entre Catão o Antigo e dois jovens, Cipião

Emiliano e Lelius. Idoso magnífico, Catão, desenvolve argumentos

práticos à favor da idade avançada. Adversários de Cícero

declaram este seu livro não passa de uma repetição fiel das idéias

de Platão.

Catão, o mais famoso dos senadores de Roma, permaneu

ativo até sua morte aos 89 anos de idade em 149, e Plutarco

consagrou a ele páginas notáveis, valorizando sua atividade

pública como a direção de suas propriedades e sua arte na

conversação.

Nos inícios dos tempos medievos, sobre as ruínas da

romanidade, quando ainda ruíam as estruturas sócias e políticas

do mundo antigo, enquanto as cidades eram abandonadas e os

campos esquecidos, o enfraquecimento do poder central permitia

a emergência da feudalidade.

Muito embora a Ingreja, tenha mantido os valores morais

nas cidades episcopais e nos monastérios, protegendo os fracos

das brutalidades de que eram vítimas, nada fez, de específico,à

favor dos velhos.

Os séculos XIV e XV foram especialmente duros para o

Ocidente. Neste fim da Idade Média estiveram presentes a guerra

e a maior das pestes conhecidas até então, a peste negra. .

Fomes e massacres foram uma constante.O declínio dos Tempos

Medievais foi pouco favorável aos homens. Curiosamente, os

velhos não foram os únicos perdedores.

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Nos inícios da Idade Moderna as estruturas da população

se encontram modificadas. Muito embora a longevidade média

não tenha progredido a redução das mortes pela violência faz com

que os jovens fossem proporcionalmente mais numerosos do que

no século XV.

Por dois séculos, um tempo de pessimismo e de ódio

sarcástico impera sobre a velhice.

Sob o ponto de vista demográfico o século XVI assinalou

um tempo de recuperação seguido de uma relativa estagnação

correspondente ao XVIIº século.

O adiantamento intelectual do século XVIII permitiu, graças

ao desenvolvimento das ciências matemáticas, avaliar-se com

mais precisão a quantidade de idosos na população.

A representação da idade, em imagem como na literatura,

representa uma ruptura definitiva com o pessimismo e a ironia do

século XVII. Surge uma imagem positiva da velhice,

particularmente evidente a partir da segunda metade do século

XVIII.

A velhice das Luzes é encontrada nos fatos. Nos domínioas

do Estado e da família o velho recupera seu prestígio.

Paralelamente ao surgimento de instituições dedicadas à

velhice a grande corrente romântica se orienta em uma exaltação

do velho.

O século XIX, tempo de equilíbrio, se caracteriza por um

notável crescimento populacional na Europa. A família passa a ser

numerosa com oito, dez. doze crianças, devido aos elevados

índices de natalidade.

Pela primeira vez, na civilização européia, a velhice passa a

ser exatamente compreendida como um problema da sociedade, e

não mais como um simples destino do indivíduo (Bois,1994,83) .

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A história do XXº século foi assinalada pelo movimento

demográfico.

A velhice da Europa é o resultado de uma realidade

complexa, com as hecatombes da primeira metade do século que

destruiu classes inteiras de adolescentes e homens jovens

deixando envelhecer muitas moças sem marido.

Por toda a parte o envelhecimento da população no período

compreendido entre as duas grandes guerras mundiais é devido,

mais que à extensão da duração da vida em decorrência do

progresso da medicina, à proporção decrescente de jovens na

população total em decorrência da diminuição dos índices de

natalidade.

É possível resumir-se algumas considerações gerais das

concepções de Bois, de cuja obra já se transcreveu alguns

trechos mais acima. Quanto à história da velhice, em si, parecem

interessantes as reflexões do referido historiador sobre a duração

na vida humana conforme se encontra descrito na Bíblia.

O envelhecimento da população na terceira parte do século

XX, o aumento do número de pessoas idosas, finalmente, o da

longevidade média, contribuíram para fazer da velhice, muito

embora todas as épocas tenham possuído velhos, uma novidade

de nosso tempo : nossa velhice não é a dos nossos parentes,

nossos avós ou de nossos ancestrais mais afastados . Deve-se

prestar atenção para o fato, muito desconhecido, de que as

palavras enganam. Empregar absolutamente, os termos velhice e

velho designam uma realidade relativa . As sociedades históricas,

ao se desenvolverem, se diferenciam e distribuem os indivíduos

em categorias de idade às quais correspondem caracteres

identificadores específicos mais exatos que as divisões simbólicas

da vida em quatro tempos correspondentes às estações, segundo

o modelo popularizado por Pitágoras , ou as sete idades de

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acordo com o modelo de santo Agostinho . A partir dos séculos

XVII e XVIII, os primeiros aritméticos políticos e os primeiros

lexicógrafos, que contam e definem com rigor sociedades

novamente numéricas, estabelecem: a velhice começa aos 60

anos, a caducidade ou decrepitude aos 90. No século XX, estas

idades não correspondem mais nem à duração, nem ao conteúdo,

nem ao sentido dos períodos da vida.

De resto, existiram sempre pessoas idosas e muito idosas,

mas ao contrário de uma idéia infelizmente difundida, os limites

extremos da vida não progrediram. Com um limite comum

aproximadamente, situado entre 90 e 100 anos, regularmente

atingido e ultrapassado por algumas pessoas, a vida não é mais

longa hoje em dia que antigamente. A diferença é que, em nossos

dias, os centenários são numerosos, enquanto não possuem há

muito tempo senão particularidades interessantes. As

potencialidades biológicas permanecem , mesmo quando os

dados demográficos se transformaram ao fim de um progresso

lento porém poderoso, a par que a alimentação , a higiene e a

medicina , propagam o bem-estar geral . Os países do Terceiro

Mundo, os do espaço tropical e equatorial, que possuem velhos,

não têm o problema da velhice colocado como nos países ricos,

os do espaço temperado do hemisfério Norte.

A velhice tem sempre criado reações contrastantes e

opostas. Qualquer que seja o discurso dominante de uma época,

ele se baseia sobre dois temas antinômicos porém sem dúvida

complementares - sabedoria e loucura , alegrias e tristezas ,

beleza e feiúra , virtudes e corrupções da idade e das pessoas

idosas – que expressam duas aspirações , a tentação de uma vida

longa e a recusa das fraquezas clássicas da idade . Atualmente,

numa efervescência mais extensa que fecunda, as interrogações

vão acima de tudo de um otimismo concretizado pela imagem de

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uma velhice ativa e dinâmica , às mais inquietantes que dizem

respeito aos problemas da dependência , do financiamento da

longevidade, do equilíbrio entre a vida , a doença , a morte .

Certos países, tais como as Províncias Unidas, ousaram

recentemente introduzir práticas eutanásicas legais.

Abordando domínios muito diversos, uma história da velhice

não pode escapar à perspectivas diacrônicas de ordem política ou

legislativa , econômica ou moral , afetiva ou familiar , até

escatológica , mas que se inscreve inevitavelmente em um quadro

cronológico .

Em linhas gerais, da Antigüidade ao XVIº século , a

abstração domina . Na falta de recenseamentos ou de instituições

, a velhice se faz objeto das diligências teológicas, alquimistas , às

vezes morais . É o corolário do número pouco expressivo dos

velhos , e de uma longevidade média geralmente baixa .

Uma ruptura fundamental transforma esta história , no

momento em que os Estados modernos compreendem o interesse

em conhecer o número e a idade dos homens , e quando com 7 à

8 % dos velhos nas populações , um limiar de percepção se abre

. Em meio ao século XVIII, a abstração ganha corpo , e produz

duas surpreendentes reações , uma e outra violentas , uma

reação sensível exaltada sob a revolução na Festa dos Velhos , e

em oposição a exaltação da juventude dos tempos românticos .

Nos séculos XIX e XX , as paixões se esfumam , a posição

do coração , das pesquisas científicas e das práticas sociais se

impõem . Assim, os conhecimentos médicos da velhice e das

instituições específicas acompanham, daí em diante, o movimento

demográfico, e tentam responder aos dados de sua evolução .

Finalmente, no momento em que as famílias atingem quatro

gerações, esta nova ruptura dos antigos equilíbrios renova a

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interrogação sobre a velhice e põe em discussão nossa antiga

escala de idades

No amplo panorama de uma Antigüidade considerada como

um todo, se sucedem ou se aparelham épocas míticas e épocas

históricas, que assistem o desenvolvimento de diversas

civilizações milenares. Elas deixaram perspectivas sobre a velhice

na qual os velhos em suas instituições ou suas estruturas sociais,

mas quase não os recensearam.As crônicas e as narrativas

mencionam homens idosos à título individual , não serial . Em

troca, os textos literários, tratados morais ou obras de arte não

faltam, porém não reproduzem senão a visão de uma fração

estreita do corpo social.

Parece aceito que, nas sociedades as mais elevadas, os

velhos tinham um status assinalado por privilégios . Além da

idade, mas presentes em meio dos seus, eles encarnavam a

continuidade e os dispensadores do saber: saber e poder são

rápido confundidos . Tal foi a sorte comum da velhice e dos velhos

nas sociedades do antigo Oriente Próximo , durante muito tempo

meio termo entre o mito e a história . A Grécia homérica não

escapa a este modelo tanto como Roma arcaica.

Portanto, a posição dos velhos se encontra recolocada face

a estas sociedades organizadas . O desaparecimento do sagrado

na política, depois o desenvolvimento das instituições e das

administrações contribuíram para o declínio dos sistemas

gerontocráticos. Assim, a sociedade hebráica post-exílio, depois a

Grécia clássica das cidades, relegaram os velhos para as funções

subalternas , como mais tarde a Roma imperial ... A velhice passa

a ser então um simples destino, objeto de derrisão ou de piedade,

cuja medida é relativa ao homem.

A velhice deve ser também considerada entre os mitos e

realidades existentes.

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A história começa nos mitos e lendas que aproximam os

homens dos deuses, e os afastam da realidade. Adão viveu 950

anos e morreu, diz o Gênesis, caso se acredita nos testemunhos

arqueológicos, a caça e a guerra , as fomes , as carências e as

doenças não deixaram aos homens do Neolítico e do Paleolítico

nenhuma chance de envelhecer . E Lucie, a pequena

australopitéca de Olduvaï, tinha entre 20 e 30 anos quando

morreu , há três milhões de anos . Portanto, as civilizações

intercalam voluntariamente, entre os deuses e a história, um

cortejo espantoso de velhos com longevidades notáveis. Um

exemplo disto é a descrição da duração da vida humana antes do

dilúvio, na Bíblia. O modelo do Gênesis (versículo 3 à 31) é , neste

sentido , uma boa introdução à história da velhice . O texto bíblico,

claro e afirmativo, atribui aos dez primeiros patriarcas vidas muito

longas , entre os 365 anos de Henoch e os 969 anos de seu filho

Mathusalem , e os resume sob uma formulação uniforme . Assim,

“quando Malthusalem tinha 187 anos, ele gerou Lamek. Após o

nascimento de Lamek, Mathusalem viveu 782 anos , e gerou

filhos e filhas .Toda a duração da vida de Mathusalem foi de 969

anos , depois ele morreu “ . A longevidade dos patriarcas não

coloca nenhum problema, mais do que a funções humana. Não se

tem prestado atenção às implicações desses dados particulares.

Ao nascimento de Mathusalem, nenhum homem jamais viu morrer

seu pai.Este filho de velho cresceu cercado de grandes velhos –

em seu nascimento. Adão, o mais idoso , com 687 anos – e de um

numeroso parentesco masculino e feminino , este não tendo sido

nomeado , com exceção de Eva de quem ignora-se se está ainda

viva . Com 187 anos, Mathusalem se torna um velho pai. A morte

aparece após o nascimento de Lamek. Com a idade de 243 anos,

Mathusalem perde seu ancestral Adão, após então que ele estava

com 300 anos, Henoch desaparece . Mathusalem tendo sido o

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primeiro patriarca perdeu seu pai muito cedo. Seguem a intervalos

regulares as mortes dos grandes antepassados.

Embora seja bastante interessante não é possível, pelas

limitações de um trabalho monográfico desta natureza, o

alongamento das considerações neste assunto.

2.2. A velhice (terceira idade) no Brasil

Tarefa difícil esta de se levantar o tempo médio de duração

de vida do índio, negro e branco, povoadores da colônia.

Se na Metrópole, nas condições existentes na época, já era

impraticável uma tarefa desta natureza, o que se dizer então, da

colônia.

Em relação à colônia é interessante levantando-se dados

sobre o povoamento do território brasileiro levantar-se

informações acerca da duração de vida do índio, do colonizador e

do negro escravo.

A bibliografia sobre o Brasil colonial tem negligenciado

bastante em relação aos estudos de história social dos habitantes

das terras descobertas por Cabral.

Para se ter informações sobre a organização social e

política das diferentes nações indígenas faz-se necessário o

aprofundamento das “notícias” fornecidas pelos cronistas dos

séculos XVI, XVII e XVIII.

Primeiramente há de se considerar que imperava uma

grande diversidade de “culturas” índias, daí também se

diferenciando suas estruturas sócio-políticas.

Quanto ao levantamento, ainda que médio, da duração de

vida do silvícola, impõe-se dizer que as guerras entre as tribos e

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as perseguições para apresamento levadas contra eles por

“paulistas” e mamelucos, tornam praticamente impossíveis

quaisquer avaliações neste sentido. Se escravizados, a duração

de vida era bastante curta, pois que, por natureza nômade, a

privação da liberdade, assim como ao negro africano cativo, trazia

uma “nostalgia” que acabava por lhes apressar em muito a morte.

O escravo negro morria cedo, conforme informam os

africanistas. O trabalho pesado associado aos maus tratos e

alimentação deficiente eram as causas do abreviamento de suas

vidas. Entretanto, face ao custo elevado das “peças” alguns

senhores cuidavam para que a mesma pudesse render, no

trabalho, o maior tempo possível, melhorando suas condições de

vida. Isto não impedia que fossem atacados da “nostalgia”, o

famoso “banzo”, que os levava ao definhamento e morte.

Quanto ao branco colonizador, sua expectativa de vida na

colônia era menor ainda do que em Portugal. Doenças tropicais

que neles se estabeleciam minavam suas vidas. Às condições

tropicais, não se encontravam preparados ainda para enfrentar,os

colonizadores.

Como esclarece Caio Prado Júnior (1976,35),

“As estatísticas demográficas que possuímos da colônia são extremamente escassas. Não havia coleta regular e sistemática de dados, e faziam-se recenseamentos apenas para dois fins específicos e restritos: um eclesiástico, outro militar. Os párocos organizavam listas paroquiais que se destinavam a recensear os fiéis sujeitos à desobriga pascal, e que serviam também para a divisão e formação das paróquias. A outra fonte de dados que possuímos é dos coletados para fins de recrutamento militar. “

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Se as doenças eram muitas, bastante maior era o número

de perigos a que se encontrava exposto o branco colonizador:

cobras, onças, índios bravios, etc. Assim, a média de duração da

vida era baixa.

Aliás, mesmo no Brasil independente persistiram as

péssimas condições sanitárias nas cidades e povoados. O próprio

Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX, era tão mal

visto pelos europeus por causa das maleitas e doenças que, boa

parte dos navios deixavam de aportar na cidade durante a

canícula do verão.

Cronistas desta época escrevem sobre a febre amarela que

consumia os europeus que insistiam em residir na cidade. A

salvação eram os lugares altos, os ares não tinham as miasmas

emanadas dos pântanos e pauis.

Mesmo com o advento da República a expectativa de vida,

em pleno século XX, apresentava índices baixos. Depois de 1937,

em pleno Estado Novo, programava o governo o saneamento da

baixada fluminense para evitar a mortandade resultante das febres

que tinham nos mosquitos seus transmissores.

Quando se fala de expectativa de vida deve-se considerar

sempre se se trata de área urbana, suburbana ou rural.

Igualmente, importa saber-se das classes sociais. Nas favelas, os

“valões” são focos constante de contaminação e a mortalidade

infantil assume ainda índices assustadores.

2.3. O potencial representado pela terceira

idade para a sociedade moderna

Quando se fala do aumento do índice de expectativa de

vida no brasileiro atual a referência se dirige a integrantes das

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classes média A e B e da alta burguesia que habitam os grandes

centros urbanos.

Persistem os elevados índices de mortalidade nos grandes

“bolsões de pobreza” onde fome e doença caminham juntas. Os

noticiários das TVs projetam imagens constrangedoras de famílias

que nada têm para comer e bebem água barrenta. As crianças

apresentam os ventres inchados pela verminose e têm curtíssimo

tempo de vida. As “cestas básicas” assim como as verbas de

combate às secas são recursos para “políticos” inescrupulosos

que se locupletam às custas da miséria e morte do povo

desvalido.Nestas áreas a expectativa de vida permanece em

níveis da Europa Medieval dos séculos XIV e XV.

Todavia, a despeito de coexistirem os baixos índices de

duração da vida dos favelados com a expectativa “civilizada” dos

integrantes das classes média e “alta burguesia”nos grandes

centros urbanos brasileiros, é expressivo o número de idosos no

levantamento do último censo efetuado. De acordo com ele o

Brasil, à semelhança das grandes nações do primeiro mundo, “

caminha a passos largos para ser um país de idosos”.

Diante desta realidade, as autoridades político-

administrativas têm a obrigação de rever seus programas e

replanejarem a sociedade tendo em vista este extraordinário

potencial representado pelos integrantes da terceira idade.

2.4. A terceira idade e a educação

Essa expressiva massa de idosos que com a compulsória

se recolheu da atividade profissional vem sentindo a necessidade

de voltar aos bancos escolares e universitários a fim de completar

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os estudos interrompidos pela necessidade, na época estudantil,

de abandonar os estudos para “ganhar seu sustento e da família”.

Desta forma alfabetizam-se alguns e se maravilham com os

novos horizontes propiciados pela “cultura letrada”.

Outros, submetem-se aos exames de madureza e

ingressam no ensino superior à procura de uma nova profissão.

Velhice com saúde permite um redirecionamento de vida.

As políticas públicas criando a qualidade de vida permitem ao

idoso usufruir com dignidade esta nova etapa de suas vidas.

O levantamento censitário evidencia o imenso potencial

representado pelos integrantes da terceira idade e as grandes

empresas já programam sua produção para atender este novo tipo

de cliente.

Instituições bancárias, como é o caso do Banco Real,

organizam concursos sobre a maturidade a fim de atrair esta nova

clientela.

A Escola e a Universidade à semelhança do que ocorre nas

grandes empresas, deve também planejar suas atividades de

maneira a atender esta novíssima parcela da população.

Muito se pode esperar da atualização desta potencialidade

representada pelos integrantes da Terceira Idade.

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CAPÍTULO TERCEIRO

A EXPERIÊNCIA DA TERCEIRA IDADE E

AS NOVAS ÁREAS PROFISSIONAIS

3.1. A situação atual brasileira

Como se teve a oportunidade de ler a terceira idade é uma

realidade a ser considerada pelos governantes do Estado.

O objetivo principal desta monografia é o papel

desempenhado pela educação e cultura na vida deste “novo”

idoso. Como as instituições de ensino contribuirão para ele e

como ele se pode adequar às condições destas agências

educativas: a Escola e a Universidade.

No Brasil atual os integrantes da Terceira Idade, de acordo

com os informes estatísticos, já representam uma realidade

expressiva. Assim como as classes dirigentes européias atuais já

planejam suas políticas públicas considerando o estimável

potencial representado pelos integrantes da terceira idade, o

governo brasileiro também deve rever metas e redimensionar seus

programas frente a esta nova realidade.

É sabido que através do decorrer da história, as formas de

se encarar a velhice e o velho se modificaram.

Os estudos sócio-antropológicos têm permitido uma melhor

compreensão, exaltação ou, até mesmo, execração do idoso.

No transcorrer destas considerações monográficas esses e

outros motivos referentes às opiniões e crenças em relação a

maturidade foram apresentados .

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Os estudos da idade madura progrediram

consideravelmente nos últimos anos em consonância com o

adiantamento geral por que vem passando as ciências e as

técnicas.

O adiantamento extraordinário das pesquisas médico-

biológicas abriram uma nova compreensão para as diferentes

faixas etárias, propiciando seguras orientações para que se

possam usufruir de melhores condições de vida, ampliando a

longevidade . Outros ramos do conhecimento humano estão

trabalhando no mesmo sentido. Assim, a psicologia, a estatística,

a demografia, a informática, etc. Assiste-se ao desenvolvimento

da gerontologia e da geriatria, cujos esforços estão recuperando

para a sociedade a potencialidade do integrante da terceira idade

e fazendo deste um indivíduo mais feliz e seguro de si mesmo.

O Brasil vem acompanhando estes adiantamentos e desta

maneira a presença do idoso em certas áreas da produção, da

cultura e da educação já está passando a ser atitude usual.

3.2. Expectativas

Em diversas áreas da iniciativa privada têm sido tomadas

decisões visando o reingresso do idoso como agente produtivo.

No domínio da administração pública, entretanto, o assunto

está merecendo uma melhor atenção por parte do executivo e

legislativo.

Leis impedem ainda a permanência em função do servidor

depois do mesmo ter atingido a compulsória. Iniciativas neste

sentido devem ser tomadas no Congresso Nacional, adequando

as normas administrativas às novas tendências mundiais.

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Na área do ensino universitário público tem sido adotada

como solução para o professor aposentado pela compulsória o

seu reingresso às atividades como professor visitante. Isto se dá

porque a autonomia universitária permite a utilização deste

recurso que contorna, sem satisfazer muito, os impecilhos

causados por uma legislação de administração pública já

superada.

Durante anos, no exercício do magistério, o educador se

aperfeiçoa e através de concursos galga novas referências

chegando à posição de doutor e até mesmo, atualmente, fazendo

seu pós-doutorado.

Incorporada esta excelente qualificação, chega aos seus

setenta anos de vida e , por força de uma norma defasada, é

obrigado a abandonar o magistério e as pesquisas. A grande

prejudicada é a sociedade que investiu tanto em um de seus

membros e perde toda esta potencialidade acumulada.

Os poderes executivo e legislativo estudam juntos as

modificações necessárias à legislação, que se fazem

indispensáveis, a fim de permitir a continuação deste profissional

no desempenho de seus serviços à sociedade.

Na área privada universitária o assunto está afeto, quando

muito, a alterações do Regimento Interno da instituição, visto que

já se abrem perspectivas para adequar esta situação à nova

realidade, através de medidas já empregadas com o consenso

das autoridades trabalhistas de comum acordo com os sindicatos

de classe.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vida humana é, desde o nascimento até a morte, uma

contínua transformação.

Aliás, vivemos em um mundo que se transforma a cada

instante acompanhando a nossa própria transformação.

Voltando-se os pensamentos para a infância espantado se

fica ao constatar o quanto mudou o modo de cada qual, ver,

sentir e agir . Mudaram, igualmente, as pessoas, os hábitos, o

modo de vestir, os gostos, entretenimentos, etc. Tudo mudou e

tudo sempre está a mudar. Assim aconteceu com cada qual,

assim acontecerá com os filhos e com os netos. E por aí à fora.

É próprio das coisas estarem sempre se transformando Daí

ser fundamental para a saúde física e mental o saber adaptar-se

às transformações .É fundamental se saber ser jovem, ser

adulto, ser maduro . Quem não se adapta, não sobrevive, acaba

insano. Essa a essência do aconselhamento dos sábios através

dos tempos.

Maturidade não significa idade. Pode-se ser uma criança

madura, um adolescente maduro, um adulto maduro. Há muitos

adultos, por outro lado , que se comportam como se crianças

fossem – são imaturos . Entretanto, os avanços das pesquisas

psicológicas nos ensinam que é através da maturidade que se

consegue atingir a felicidade. Os imaturos são profundamente

infelizes, pois estão sempre procurando a felicidade em lugares

estranhos e não compreendem que , conforme sua adaptação às

suas condições existenciais , ela pode estar justamente onde se

está.

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E, o que durante nossa vida nos ajuda a aceitar e viver

essas mudanças? Por certo, a maturidade.

É fundamental se desenvolver o senso de maturidade para

se poder usufruir dos prazeres latentes na velhice.

Somente a maturidade permite o êxtase na apreciação de

tudo que é belo, bom e verídico .

Que é ser maduro e como amadurecer ? O exemplo, como

sempre é a natureza que nos oferece. Frutos há para serem

colhidos. Importante é saber-se distinguir o temporão do maduro .

Aquele, colhido antes do tempo, pode ter forma linda, porém terá o

sabor acre do que não atingiu seu verdadeiro tempo.

O Eclesiastes há muito ensina que, há tempo para plantar e

há tempo para colher ; há tempo para rir e há tempo para chorar ...

“ Tudo deve ser feito em seu devido tempo . Portar-se

como criança quando já se é fisicamente adulto é ser imaturo

Reagir como criança em sendo adulto, é confessar nos gesto e

nas palavras a sua imaturidade . A maturidade representa as

respostas adequadas da vida emocional às expectativas

existenciais . A infelicidade é o preço da imaturidade .

As escolas do futuro, certamente , hão de ensinar a seus

alunos o desenvolvimento emocional juntamente com a educação

física e a intelectual . O fracasso da escola do passado é que

formou adultos de belo físico e ótimo intelecto, mas anões

emocionais.

A falta de atenção a adequação emocional tem sido a

causa de tanto desvario e desajustes que se multiplicam nos

noticiários policiais dos jornais e TVs .

Maturidade, sendo uma forma de comportamento, também

se ensina . Ensina-se na prática do dia-a-dia , da mesma forma

como se ensina ao educando, nas escolas, a ser cidadão .

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Certamente, maturidade é função da escola e advém

através da cultura que cada um pode formar . Não se obtém

maturidade através da educação formal, escolar propiciada pela

escola , mas certamente através da educação informal, onde se

aprende a viver enfrentando os problemas que a existência nos

propõe . Não é a toa que desde longa data ouvimos falar da “

escola da vida “.

O processo educativo não se resumo em ensinar certas

noções básicas como ler, escrever e contar . Através de nossas

percepções, este mundo imenso se transfere inteirinho pra dentro

de nós . Afinal, pode-se chamar também de cultura ao que

permanece harmonizado de tudo aquilo que nos foi possível

assimilar em nossa fase escolar .

Se é necessário amadurecer as crianças, jovens e adultos,

mais ainda o é em se tratando do idoso. Ao amadurece-lo se está

permitindo que ele possa vir a ser feliz em uma fase da vida que

deve e pode constituir o somatório de tudo de bom que foi a ele

propiciado.

É fundamental retirar o belo do colorido de uma flor, do

mavioso canto de uma ave, do sorriso de um recém nascido.

Compete a todos descobrir dentro de si este ser

maravilhoso, que sendo a razão da vida e do universo transforma

o homem e lhe propicia projeção eterna.

A velhice é uma das fases da vida em que o ser humano

pode refletindo sobre as pessoas e coisas do passado e do

presente entar divisar a razão de ser do homem e da humanidade.

A educação em qualquer que seja o grau é o instrumento

para amadurecendo o idoso lhe permitir compreender melhor a si

mesmo e a seus companheiros de caminhada, desde os

pequeninos até os mais velhos que ele.

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Quanto à educação e a velhice ela representa papel

preponderante na formação do idoso e na preparação deste para

transmitir aos mais jovens sua experiência de vida. E que não se

fique a pensar que já passou o tempo de aprender. Não!

Definitivamente, não!

Ninguém melhor do que Senêca, célebre pensador romano

da antigüidade compreendeu que não há tempo para se iniciar

qualquer tipo de estudo :

- “Erra todo aquele que não inicia o seu estudo por pensar

que já é tarde demais para fazê-lo ! “

Cumpre seguir à procura do desconhecido com o

entusiasmo que nos faz esquecer das possíveis limitações físicas

do ser humano .

Faz-se oportuno ainda, antes de se encerarem estas

considerações, dizer-se que o aproveitamento dos idosos,

naturalmente, não se pode realizar em todo tipo de atividade.

Aliás, isto não acontece nem mesmo com os jovens, pois que o

exercício profissional pressupõe a posse de determinadas

condições pelo agente produtivo.

O potencial representado por integrantes da terceira idade

deve ser aproveitado tendo-se em consideração a locação destes

recursos nas áreas apropriadas.

Dentre estas avultam as atividades de ensino, de

administração, jurídicas e outras. Quanto ao agente pode o

mesmo atuar quer nos domínios técnicos, científicos ou artísticos.

Pela análise dos informes qualitativos e quantitativos se é

levado a a crer que atividade de eleição para o idoso é a que se

refere ao ensino em seus diferentes graus. Quando se fala em

educação atualmente, compreende-se tanto a atividade docente

quanto a de pesquisa. Vivencia-se o início de uma nova era em

que uma revolução de caráter cultural está fazendo com que seja

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abandonada a memorização como forma principal de aquisição do

saber alheio e o desenvolvimento das técnicas indispensáveis à

pesquisa que propicia ao agente a produção de seu próprio

conhecimento.

Este, sem dúvida, um domínio onde o idoso poderá atuar

exercendo suas potencialidades.

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