O Ensino de Geografia e Literatura: uma contribuição estética

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A relação ensino, geografia e literatura tem como centralidade a contribuição para a edificação de uma metodologia de ensino e pesquisa que permita a ampliação da compreensão das analogias geográficas pelo aluno no seu cotidiano. A literatura não é aqui compreendida como ferramenta, mas como elemento histórico, social e geográfico, isto é, não se trata de buscarmos a delimitação geográfica numa obra literária, pois entendemos que a mesma em si é, também, geográfica. As reflexões nesse trabalho objetivam construir um cabedal teórico que permita a ampliação da discussão e da prática didática e pedagógica no cotidiano da geografia escolar no ensino fundamental e médio.

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  • CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/ ISSN 1678-6343

    Instituto de Geografia UFU Programa de Ps-graduao em Geografia

    Caminhos de Geografia Uberlndia v. 15, n. 49 Mar/2014 p. 8089 Pgina 80

    O ENSINO DE GEOGRAFIA E A LITERATURA: UMA CONTRIBUIO ESTTICA1

    Igor Antnio Silva Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlndia

    [email protected]

    Tulio Barbosa Professor Doutor da Universidade Federal de Uberlndia

    [email protected]

    RESUMO

    A relao ensino, geografia e literatura tem como centralidade a contribuio para a edificao de uma metodologia de ensino e pesquisa que permita a ampliao da compreenso das analogias geogrficas pelo aluno no seu cotidiano. A literatura no aqui compreendida como ferramenta, mas como elemento histrico, social e geogrfico, isto , no se trata de buscarmos a delimitao geogrfica numa obra literria, pois entendemos que a mesma em si , tambm, geogrfica. As reflexes nesse trabalho objetivam construir um cabedal terico que permita a ampliao da discusso e da prtica didtica e pedaggica no cotidiano da geografia escolar no ensino fundamental e mdio.

    Palavras-Chave: Ensino de Geografia. Literatura. Esttica. Crtica.

    THE TEACHING OF GEOGRAPHY AND THE LITERATURE: AN AESTHETIC CONTRIBUTION

    ABSTRACT

    The relationship between teaching, geography and literature has as a central contribution to the building of a teaching methodology and research that allows the expansion of geographical understanding of analogies by students in their daily lives. The literature is not understood here as a tool, but as an historical, social and geographical element, that is, it is not seeking a geographical demarcation in literary work, because we understand that it itself is also geographical. The reflections in this work aim to build a leather framework that allows the expansion of the discussion and the didactic and pedagogical practice in everyday school geography in elementary and middle school.

    Key words: Teaching Geography. Literature. Aesthetics. Criticism.

    PARA PENSARMOS A RELAO GEOGRAFIA E LITERATURA O Ensino de Geografia pela literatura promove a ampliao das concepes conceituais e categricas para os estudantes ao mesmo tempo em que estimula nova linguagem e, portanto, promove o desenvolvimento da capacidade crtica nos alunos para alm do dogmatismo e da hierarquizao de valores e conhecimentos orientados pelas metodologias positivistas ou mesmo pela exacerbao do relativismo estimulado pelos autores ps-modernos, em outras palavras, as relaes filosfico-geogrficas e didtico-pedaggicas pela literatura promovem a ampliao da interpretao do que seja o mundo e como o mesmo organizado, essa verificao crtica ser direcionada pelas experincias dos estudantes pela leitura imbricada sua prpria cotidianidade.

    1 Recebido em 19/08/2013

    Aprovado para publicao em 26/02/2014

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    A literatura em consrcio com a cincia geogrfica permite a superao da estruturao da sociedade pela maleabilidade da imaginao, porm no se trata de nulidade dos postulados cientficos, pois os mesmos so inseridos e extrados da relao dialtica fico-realidade cuja permite a verificao da origem da obra literria e sua correspondncia real com o cotidiano dos estudantes. A constituio ontolgica dos estudantes a partir desta relao passa pela verificao interpretativa de mundo, mas no um mundo alienado e distante, j que esse consrcio permite o entendimento das ingerncias cotidianas e suas manifestaes na vida dos estudantes, ao mesmo tempo em que demonstram a efetividade da esttica como condio para a liberdade. Neste sentido, o equacionamento da conscincia objetiva e das formas subjetivas que organizam o espao geogrfico passam pela produo esttica das obras de artes. O presente trabalho tem como objetivo central viabilizar a compreenso da espacialidade pela linguagem literria sem abandonar os pressupostos cientficos. Buscamos compreender o processo de produo interdisciplinar (Geografia e literatura) objetivando a construo de uma metodologia didtica a partir do espao e que contribua para o processo ensino-aprendizagem no ensino fundamental e mdio; centralizamos a pesquisa na elaborao metodolgica terica e prtica a partir do estudo de obras literrias e a aplicabilidade das mesmas para o ensino de Geografia como componente crtico para a celebrao de uma esttica que v alm da forma autorizada pelos cnones oficiais e, portanto, limitadores de uma construo terica e prtica vivenciada no cotidiano sem prender-se ao mesmo, ou seja, a esttica precisa evitar a priso espao-temporal e trazer elementos para repens-los. A relao Literatura, Geografia e Ensino precisam ser processados para alm da dogmatizao das categorias geogrficas procuradas nos livros de literatura, ou seja, alguns ainda consideram a relao comprometida pela necessidade em encontrar nos livros alguma parte do mesmo que relate as categorias geogrficas, como se a relao Literatura e Geografia fosse apenas compreendida por essa procura. Neste sentido, avanamos em oposio a essa viso positivista, pois entendemos que a obra literria em si resultado de processos geogrficos, histricos, polticos, econmicos, sociais e culturais, isto , no podemos ao ler uma obra buscar isoladamente as categorias geogrficas como se as mesmas no se comunicassem com o mundo. As prticas metodolgicas que envolvem o ensino de Geografia trazem as marcas do positivismo ao separar os processos multifatoriais e multiescalares que so componentes e construtores da obra literria, uma vez que a separao destes inviabiliza a compreenso da totalidade. Pensar a totalidade significa ir alm das explicaes dicotmicas - essncia e aparncia - para adentrarmos nas relaes efetivadoras de lgicas e processualidades que atestam as imbricaes das condies materiais e das premissas que mantm o modo de produo capitalista. A totalidade operacionaliza pela leitura e compreenso de obras literrias por meio do ensino de Geografia potencializa a construo de alunos crticos, todavia isso somente possvel com a no fragmentao das informaes, dos conhecimentos e das relaes. A obra literria precisa ser apresentada como resultado de processos e no como mera ilustrao para o ensino de Geografia. A separao da obra dos elementos geogrficos inviabiliza no apenas o entendimento da totalidade, tambm a solidificao de vises crticas que possam interpretar o mundo de forma mltipla. A fragmentao da realidade pela simplificao metodolgica positivista ou ps-moderna na relao Literatura e Geografia produz um caminho interpretativo fragmentrio, pois os alunos buscaro nos livros a Geografia categorizada e conceituada e no a Geografia do cotidiano, das relaes mltiplas e ininterruptas. A fragmentao da Geografia por abordagens positivistas ou ps-modernas levam os alunos a no relacionarem os elementos cotidianos que vivenciam com as teorias, como se fossem coisas diferentes, como se as experincias dos alunos no contassem como prticas geogrficas. Essas experincias dos alunos so as categorias e conceitos geogrficos vivos e a leitura de obras literrias permitir a correspondncia das experincias dirias destes com as ficcionais que devem convergir para a reflexo de suas prprias vivncias.

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    O saber espacial somente tem sua plenitude na cognoscibilidade do sujeito ao compreender a relao ntico-espacial, deste modo, a constituio do sujeito evidenciar a formao da humanidade scio-histrica e geogrfica a partir da sua identificao (conformidade ou inconformidade) com o mundo. Para isso a linguagem imprescindvel constituio ontolgica do sujeito, portanto, o ensino de Geografia apresenta aos alunos reflexes categricas e conceituais (no sentido dialtico de correspondncia com o mundo) atravs das quais o mundo torna-se compreensvel, isto , a humanidade interiorizada no aluno via Geografia. A partir de Monteiro (2002a) compreendemos essa relao como fomentadora da constituio do homem, mas no um homem isolado, fragmentado e recluso em si, mas um homem capaz de ir alm de suas generalidades dogmatizantes e constituir uma universalidade que produza, segundo Monteiro (2002b), o homem verdadeiro e inteiro. A interiorizao do conhecimento geogrfico pelas articulaes escalares e as mltiplas linguagens so imprescindveis formao do saber espacial e a constituio crtica nos sujeitos. O ensino de Geografia promove a elaborao crtica das relaes espaciais, em outras palavras, constroem nos alunos uma perspectiva geogrfica dimensionada no cotidiano sem ser engessada s ideologias como delimitadoras e definidoras da relao sujeito-mundo. Ensinar Geografia significa aproximar os alunos da compreenso da realidade a partir das relaes espaciais, logo a construo de uma viso crtica pela cincia geogrfica passa obrigatoriamente pelo ensino realizado multiescalarmente atravs de muitas linguagens. Para alm do engessamento da linguagem acadmica e dos manuais pedaggicos (como os livros didticos) urgem outras linguagens capazes de fomentarem nos alunos a crtica nos seus aspectos sociais, polticos, econmicos, culturais, espaciais e histricos. Tais linguagens partem das constituies estticas elaboradas a partir das artes, deste modo, a msica, a literatura, a arte plstica, a dana, o teatro, o cinema e a escultura so fontes elaborativas para a constituio ntico do ser humano, em outras palavras, a formao do ser humano pela Geografia emerge tambm da linguagem esttica. Cotidianamente o aluno move-se em diferentes linguagens, o mundo percebido pelo mesmo a partir da relao das suas prticas e dos discursos compreendidos pelo cotidiano e por sua avaliao do mesmo, cuja depende tambm do processo de aprendizagem geogrfica. Diante disso, entendemos que a constituio crtica do sujeito ser formada a partir de sua no conformidade ao cotidiano, ou seja, o cotidiano passa a ser compreendido como um conjunto heterogneo que contm simultaneamente a realidade fsica e um conjunto simblico expresso, principalmente esteticamente. Os alunos olham o mundo pelas premissas de suas conscincias e as legitimam como verdadeiras e reais pela aproximao interpretativa de seu mundo (escala micro) ao mundo total (escala macro), todavia a infidelidade desta aproximao ou mesmo correspondncia se deve a incapacidade de compreender criticamente o mundo, no por ignorncia, mas por no serem ensinados ou serem vitimas de um sistema impeditivo de pensarem alm do cotidiano. A Geografia, para alm da narrativa espacial, tem tambm sua responsabilidade iniciada no processo de formao da humanidade nos alunos. Segundo Callai (2010, p.16) ensinar Geografia significa: [...] desenvolver modos de pensar que envolvam a dimenso espacial.. Ensinar Geografia, portanto, significa possibilitar a compreenso dos mltiplos aspectos da vida cotidiana, aspectos representados materialmente e imaterialmente pelas relaes culturais, sociais, econmicas e polticas. O ensino de Geografia tem como objetivo central colaborar para a formao da humanidade nos sujeitos atravs da interiorizao de prticas que possibilitem a orientao social a partir de valores ticos e solidrios para o convvio cotidiano na organizao da espacialidade. A formao da humanidade nos sujeitos pela Geografia passa pelo desafio em apresentar-lhes e faz-los crticos quanto ao mundo. O desafio principal ao ensino possibilitar que os alunos tenham adquiridos conhecimentos que os permitam compreender suas experincias cotidianas relacionadas aos aspectos materiais, tecnolgicos, sociais, culturais, polticos e econmicos. Para isso fundamental o desenvolvimento de metodologias capazes de fomentarem o conhecimento geogrfico e conduzirem os sujeitos ao pensamento crtico em todas as dimenses: no pensar e no cotidiano prtico.

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    A construo do conhecimento geogrfico precisa ser organizada pela relao dialtica prtica-conceitual, deste modo, o saber espacial ser compreendido a partir do cotidiano do aluno com suas mltiplas experincias. Deste modo, torna-se fundamental o desenvolvimento de metodologias que utilizem diferentes linguagens para que seja possvel desenvolver nos alunos a compreenso espacial da realidade. Diante disso, a utilizao da literatura na formao pedaggica geogrfica de grande importncia e relevncia, uma vez que permite a compreenso da espacialidade como parte da totalidade a partir do entendimento dos valores sociais e da instrumentalizao crtica organizao social, poltica, econmica e cultural. O desenvolvimento do conhecimento passa, portanto, pela perspectiva espacial por meio de outra linguagem, neste caso a literatura, permite o entendimento e o desenvolvimento da totalidade geogrfica, por meio das relaes processuais categricas e conceituais que partem obrigatoriamente da constituio simblica materializada socialmente e apresentadas pela literatura. Essas categorias e conceitos precisam ter como prevalncia as experincias dos sujeitos e conscincia de como os mesmos so inseridos socialmente e espacialmente. Conscincia que ser efetivamente trabalhada nas obras literrias, isto , as mesmas obrigam-se a fornecerem experincias que sero debatidas com a vida dos alunos, deste modo, as categorias e conceitos geogrficos so vivos e no constituies meramente tericas. O processo ensino-aprendizagem a partir da Geografia e da Literatura permite a edificao de uma interdisciplinaridade contribuinte para que os alunos tenham ampla compreenso das relaes sociais, histricas e geogrficas, tambm se soma a ampliao da capacidade crtica a partir de outra linguagem, as categorias da representao geogrfica (MOREIRA, 1987) em consrcio com a literatura permitem a ampliao da compreenso do espao cotidiano pelos alunos. A interdisciplinaridade no significa o abandono das categorias geogrficas ou os postulados analticos da literatura, entendemos que o processo interdisciplinar o conjunto categorial e conceitual de ambas as reas do conhecimento que so processadas pedagogicamente e miram para uma finalidade comum: a formao do aluno como cidado e a ampliao de sua capacidade crtica. O ensino de Geografia a partir da relao interdisciplinar com a literatura promove a superao de uma educao esttica, segundo Castellar (2010, p. 39): Um dos desafios colocados para os professores nos dias de hoje est em superar os vcios de uma educao esttica, inerte e ineficaz, investindo em uma educao com mais qualidade e criatividade. O desafio da superao da paralisia pedaggico-geogrfico passa obrigatoriamente pela ampliao das linguagens apresentadas e trabalhadas em sala de aula; logo, a linguagem literria contribui dinamicamente para a aproximao efetiva dos alunos com a totalidade espacial a partir de ideias mais criativas e muito mais prximas do cotidiano destes. importante pensarmos o ensino de Geografia pela construo de uma metodologia fomentadora da relao contnua entre a perspectiva espacial e seus desdobramentos em diferentes linguagens, neste caso, a literatura. A posio dialgica no ensino de Geografia favorece a ampliao da compreenso da realidade e a importncia disto est na movimentao terico-conceitual da relao dialtica entre campos distintos de conhecimentos aplicados simultaneamente na elaborao metodolgica para contribuir para o processo ensino-aprendizagem. Esse processo fundamenta-se na constituio esttica do espao, ou seja, constri-se uma perspectiva esttica geogrfica. O pensamento esttico geogrfico parte de suas propriedades categricas e conceituais, constitui-se esteticamente a partir do processo dialtico na relao processual da sociedade com o sujeito e este com o seu cotidiano, portanto, a Literatura, nesta relao, torna-se imprescindvel para apoiar e alavancar a coerncia entre a realidade e a fico no direcionamento esttico para a perspectiva espacial. Os desafios da interdisciplinaridade Geografia e Literatura residem principalmente na relao realidade-fico, uma vez que a narrativa literria no precisa ser fiel aos aspectos reais do cotidiano, enquanto a Geografia busca a compreenso da realidade. Essa relao

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    merece o mximo de ateno, pois ao negligenciar limites da linguagem geogrfica e da linguagem literria o trabalho interdisciplinar poder no alcanar os objetivos centrais. O equilbrio fundamental para o desenvolvimento do trabalho para compreendermos os limites de cada linguagem e elaborar um conjunto metodolgico que possa servir de base para o processo ensino-aprendizagem alcanando a elaborao de uma esttica geogrfico-literria. A elaborao de uma esttica geogrfico-literria colabora na mediao da totalidade espacial do aluno para seu cotidiano, ao mesmo tempo em que promove a leitura historiogrfica da dimenso espacial na relao ficcional-real. A contribuio deste processo interdisciplinar colaborar para o entendimento do processo histrico e geogrfico mediado pela cultura. Portanto, torna-se fundamental a verificao cultural e a delimitao desta no processo ensino-aprendizagem pela interdisciplinaridade sem isol-la como fazem os ps-modernos, ou seja, precisamos compreender a cultura pelas relaes totalizadoras da mesma sem subtrair a materialidade ou a imaterialidade. O caminho que apresentamos parte do processo ensino-aprendizagem pelo desenvolvimento cientfico e metodolgico interdisciplinar que coordena as relaes entre as especificidades das reas de conhecimento e da esttica literria. Desta forma, no negligenciamos, a partir da leitura Williams (1979), as relaes sociais e culturais constituintes na literatura e interpretadas pelas exigncias cientficas da Geografia, pois voltamos nossa ateno centralidade dos discursos produzidos historicamente e delimitados pelas condies materiais e imateriais do modo de produo capitalista. Deste modo, a obra literria parte de uma intencionalidade esttica vinculada s condies sociais e culturais do autor, portanto, Geografia cabe a identificao destes processos e o resultado processual torna-se vlido a partir da continncia relacional fico-realidade, em outras palavras, os alunos tero, de fato, a edificao de saberes interdisciplinares ao compreenderem dialeticamente o espao ficcional e real sem a subtrao das consequncias histricas vinculadas ao fazer-se como sujeito.

    ENSINO DE GEOGRAFIA E LITERATURA fundamental compreendermos os processos relacionais do ensino de Geografia e Literatura por um vis crtico e que possamos assumir a orientao pedaggica pelo cotidiano ligando a literatura realidade dos alunos. Urge empenharmos nas anlises das obras literrias no pela procura dos conceitos e categorias geogrficas, mas pela totalidade da prpria Geografia explicitada na obra literria. Os processos de anlises das obras literrias em consrcio com os postulados geogrficos apresentam uma viso plural do discurso literrio, no devemos focar o discurso pelo discurso, sobretudo, fundamental a interao do sujeito para com o universo ficcional projetado no retorno realidade a partir das consideraes experimentadas cotidianamente pelo sujeito, pois o aluno desenvolver sua formao crtica por meio do pensamento cientfico, da imaginao, da sensibilidade, da criatividade e da fantasia. A partir de Cndido (2002) entendemos a Literatura como fomentadora do processo para educar os sujeitos alm da normalidade ideologizada e/ou das pedagogias conservadoras e positivistas ou ps-modernas, pois apresenta aos sujeitos um impacto considervel e permite aos mesmos redescobrirem o mundo e colabora para que os sujeitos construam seus caminhos para a liberdade. A literatura, portanto, tem o papel libertador, isto : Ela no corrompe nem edifica, portanto, mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver. (CANDIDO, 2002, p.85). As experincias, no sentido de Thompson (1981), produzidas a partir das leituras no revelaram, por si e em si, a verdade a partir da realidade, porm apresentam axiomas possveis de serem relacionados ao cotidiano, possibilitando ir alm da aparente concretude e harmonia. fundamental a construo metodolgica para o processo ensino-aprendizagem sem abdicar dos processos histricos, geogrficos e ficcionais dialeticamente presentes nos sujeitos, pois os mesmos desenvolvero capacidades avaliativas para compreenderem suas condies ontolgicas. A compreenso ontolgica leva a subtrao da crise existencial, que segundo Agosti (1970), essa crise permanente produz nos seres humanos o estreitamento de

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    sua viso e at mesmo a banalizao de suas condies existenciais. Para isso a relao ensino de Geografia e literatura dever ser realizada a partir de articulaes escalares entre a produo dos discursos literrios e os postulados cientficos geogrficos; assim, analisar obras literrias e construir um caminho metodolgico didtico fundamental para o fortalecimento de uma viso comprometida com a totalidade, ou seja, uma viso crtica de mundo. Neste sentido, a relao entre a anlise do discurso literrio e a cincia geogrfica permite a construo do entendimento entre a produo ideolgica a partir dos elementos constitutivos da cultura e das relaes dialticas com as experincias dos sujeitos no cotidiano dos mesmos. Apontamos o discurso literrio como significativo para a compreenso scio-espacial e histrica, no de forma isolada, mas articulada entre a ontologia do ser social e as experincias ficcionais que revelam aspectos sombreados e no ntidos do cotidiano para os sujeitos. Nesta sequncia o sujeito (o aluno) passa a compreender as relaes cotidianas a partir de seus esforos em se projetarem para alm da normalidade e da causalidade cotidiana, funda-se no sujeito uma simbologia que o projeta para fora do que Kosik (1995) chamou de pseudoconcreticidade. O fundamento interpretativo do mundo via interdisciplinaridade geogrfica e literria permite aos sujeitos integrarem-se s redes simblicas as quais delimitam seu universo existencial, em outras palavras, a cultura solidifica a compreenso simblica e interfere diretamente na perspectiva espacial, sempre atrelada as ingerncias de como se vive e no nosso caso vivemos no modo de produo capitalista. Neste sentido, a relao ensino de Geografia e Literatura tem como centralidade a necessidade de partir do espao para alcan-lo, em outras palavras, o espao que buscamos compreender interdisciplinarmente encontra-se no prprio entendimento da espacialidade nos seus aspectos materiais e imateriais, neste sentido, Santos (1996, p. 85) aponta que: O espao no pode ser estudado como se os objetos materiais que formam a paisagem tivessem uma vida prpria, podendo assim explicar-se por si mesmos. O espao mltiplo, no se pode compreend-lo a partir da materialidade, da aparncia e do isolamento dos objetos, pois o espao o visvel sustentado pelo invisvel e vice-versa; a a manifestao do espao por permanncias e/ou mudanas promove a espacialidade. A relao espao geogrfico e espao da narrativa no devem ser confundidos, pois deve ocorrer uma interao processual na anlise do espao pelo confronto da totalidade ficcional e real. Assim, entendemos que a importncia em compreendermos o espao passa obrigatoriamente pela ampliao de nossa crtica para entendermos a totalidade, pois segundo Matti (2002, p. 140): Tudo no ocidente uma questo de espao [...] E todo espao , de imediato, uma questo de delimitao. A alma limitada pelo corpo; o mundo limitado pelo caos; a civilizao limitada pela barbrie. A delimitao espacial no pode ser isolada na anlise da obra literria como apontou Lins (1976). Ao mesmo tempo a obra literria revela uma espacialidade que no comporta a delimitao imediata na perspectiva geogrfica. Entender a relao espacial literria e geogrfica delimitar retas transversais e paralelas, ou seja, a espacialidade manifesta-se pela elaborao do cruzamento das aes ficcionais com a materialidade-imaterialidade geogrfica, isto , a transversalidade do real e do ficcional produz correspondncias verificveis em ambas, isto no significa que a obra literria necessite ser realista, a transversalidade tambm no significa empirismo, trata-se de coincidncias ou construes propositais que revelem simultaneamente o espao geogrfico e literrio como desdobramentos ou mesmo at recolhimentos estruturais. A relao Literatura e Geografia para o ensino exige a compreenso desta espacialidade e de suas continuidades entendidas nas experincias cotidianas dos alunos. As retas paralelas compem o impossvel, so universos simblicos trabalhados que se tocam esporadicamente, mesmo assim existem elementos de validao para a relao interdisciplinar, pois a compreenso da espacialidade geogrfica passa pela comparao dos impossveis, fomentando o desenvolvimento no de paralelismo entre o real e o ficcional, mas apresentando-os validamente no cotidiano. A partir de Barthes (1970) as construes das retas de anlises s obras literrias devem partir da constituio simblica, dos cruzamentos e paralelismos da composio narrativa

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    em consrcio e com isso entendemos as experincias dos sujeitos no seu cotidiano. Para que possamos desenvolver uma metodologia interdisciplinar entre Geografia e literatura fundamental compreendermos o processo de formao universal do smbolo na obra literria e suas correspondncias (ou mesmo divergncias) com as preocupaes categricas e conceituais da Geografia. Tambm no caminho de Barthes (1970) a criao literria a criao, pelo escritor, do prprio mundo literrio, composto por formas e contedos especficos fundadores de uma espacialidade; assim, a partir de Williams (1979) compreendemos que a literatura a manifestao da cultura do escritor e de suas experincias. O mundo literrio, portanto, no irreal no sentido da inexistncia, da impossibilidade de contextualizao fenomnica dos seus elementos, a realidade ficcional est na ntima relao do processo criativo e da realidade scio-histrica e geogrfica. Cndido (2005) afirma que o processo de estudo de uma obra literria no pode ser realizado apenas pelos elementos literrios, a compreenso do contexto histrico e geogrfico imprescindvel. As experincias reveladas na leitura das obras somente existiro na correspondncia simblica dos sujeitos, torna-se realidade aquilo que pode ser compreendido fenomenicamente.

    Muitos dos valores ativos da literatura devem ento ser vistos no como ligados ao conceito, que passou tanto a limit-los como a resumi-los, mas como elementos de uma prtica continuada e em transformao, que j ultrapassa, substancialmente e agora no nvel da redefinio terica, as suas velhas formas. (WILLIAMS, 1979, p. 59).

    No buscamos o engessamento da obra literria a partir das categorias, teorias e conceitos geogrficos, mas as correspondncias entre os elementos da obra literria e as preocupaes geogrficas, em outras palavras, no podemos ir at o texto procurar elementos que no compem o repertrio da criao literria do autor, mas identificar retas interpretativas simblicas que permitam a compreenso da obra pelos cruzamentos e paralelismos com a cincia geogrfica, que revelem o espao na sua multidisciplinaridade escalar. Constituem, portanto, as obras literrias e a Geografia conjuntos de imagens e smbolos que repercutem no cotidiano dos leitores fomentando-os a ampliao de suas consideraes crticas quanto ao seu universo simblico e material. fundamental sublinharmos: a obra literria ou romance resultado do processo criativo do escritor, do perodo histrico e das condies geogrficas, desta forma, no podemos e nem devemos centralizar o romance como tratado cientfico instrumental, ou como apontou Barthes (1971) o romance resultado da liberdade, mas uma liberdade vigiada pelos elementos mencionados anteriormente, isto :

    O romance, segundo Brosseau (1996), apresenta uma forma especfica: ele no um discurso cientfico, logo no diz a mesma coisa e nem apresenta a mesma forma que aquele. Por isso, ele no pode ser tratado como uma ferramenta, mas deve ser respeitado em sua especificidade. (BARCELOS, 2009, p. 44).

    Trata-se, portanto, de organizarmos a ordem das imagens e dos smbolos correspondentes esfera esttica artstica e a cincia geogrfica a partir da composio interdisciplinar. A organizao esttica das imagens pelas obras literrias prende-se s condies subjetivas e objetivas dos autores, pois refletem as condies histricas e geogrficas em que as mesmas foram compostas e no se podem ignorar tais elementos conjunturais - exatamente este o papel da cincia geogrfica nesta construo para a compreenso da totalidade por meio de outra linguagem. A relao interdisciplinar aqui objetivada fundamental para a compreenso do mundo, nas palavras de Barthes (1971, p. 44) [...] o mundo no fica inexplicado quando o narram [...]. A narrativa promove a compreenso do mundo, todavia a narrativa por si no suficiente para explicar a totalidade, portanto, a narrativa literria precisa de interpretaes promovedoras da compreenso imagtica e simblica elaborada pelo escritor e evidenciada ou no

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    evidenciada no cotidiano, pois segundo o prprio Barthes (1977) apontou que o texto essencialmente simblico, por isso, o entendimento da mesma passa obrigatoriamente pelas experincias dos sujeitos e estas sero compreendidas multi-escalarmente e multidirecionalmente a partir de um logos espacial. Dessa forma, a literatura no somente reconstitui uma experincia, como tambm formula experincias. (BARCELOS, 2009, p. 42). O termo ausente da completude histrica para o entendimento da totalidade dialtica para Thompson (1981) a experincia, em outras palavras, a experincia o ponto nevrlgico para a superao da prpria condio existencial, ter conscincia do cotidiano experenciado significa projetar-se para alm do engessamento imposto pelas condies materiais e at mesmo imateriais. Pensar no cotidiano e relatar as experincias projetadas em cenrios no convencionais (ou convencionais e/ou ausentes do cotidiano) parte fundamental da metodologia que deve ser trabalhada a partir da relao com o ensino de Geografia e a Literatura, essa relao interdisciplinar promove a quebra de verdades e descondiciona o sujeito dos processos ideolgicos que o mesmo submetido cotidianamente. Barthes (1977) compreende esse caminho relacional e interdisciplinar como necessrio para a efetivao de novas solues para velhos problemas; assim, Barthes (1977, p. 155) quanto interdisciplinaridade entende que:

    Na verdade, como se a interdisciplinaridade que hoje tida como um valor primordial na investigao no possa ser realizada pela simples confrontao de agncias especializadas do conhecimento. A interdisciplinaridade no a calma de uma segurana fcil, mas comea efetivamente [...] quando a solidariedade das velhas disciplinas quebra - para baixo talvez at com violncia, atravs dos choques de moda - no interesse de um novo objeto e uma nova linguagem de nenhuma das quais tem um lugar no campo das cincias que estavam a ser levado pacificamente junto, este mal-estar na classificao sendo precisamente o ponto a partir do qual possvel diagnosticar uma determinada mutao.

    Barthes (1977) j salientava a inexistncia da brandura pela opo interdisciplinar e apontou que s vezes a inevitabilidade da quebra de uma disciplina importante para a construo de outras, todavia, isso soa intil, pois segundo o autor o texto a prpria interdisciplinaridade. Cabe-nos compreender o texto articulando-o com as experincias cotidianas que promovem o entendimento do universo simblico na projeo sujeito-mundo e vice-versa. O universo simblico dos sujeitos (dos alunos) - via interdisciplinaridade geogrfico-literria - ser evidenciado medida que conseguirem organizar a simbologia pela correlao da esttica e do mundo. A organizao simblica resulta na produo de uma identidade que extremamente importante para a compreenso das experincias cotidianas. Torna-se fundamental trabalharmos pela relao interdisciplinar para o entendimento da prpria existncia social, histrica, geogrfica, poltica, cultural e econmica destes alunos. Por meio da relao interdisciplinar pela fundamentao esttica geogrfica compreendemos a necessidade em trabalharmos as obras literrias pela enredo edificado imageticamente, ou seja, a narrativa literria precisa direcionar os leitores para tambm lerem espacialmente o seu cotidiano, desta forma, as imagens encontradas diariamente pelos alunos sero evidenciadas pela relao daquilo que a literatura promove imbricada Geografia. Buscamos esse caminho na esperana da superao da obsesso e do fetichismo imposto pelo modo de produo capitalista, j que as imagens cotidianas sero confrontadas ao universo literrio e, por fim, reprojetadas no mundo pelos alunos. Para Tournier (1994) o ocidente imagtico e a construo da identidade ocidental passa pelas imagens. Para a Geografia isso significa que o espao organizado materialmente e imaterialmente, logo a constituio material do mesmo passa dialeticamente pela relao produo-consumo-moral e conjuntamente revela ao sujeito a totalidade via imagem, o mesmo pensa o mundo a partir de pressupostos estticos, faz-se, portanto, fundamental o desdobramento esttico no ensino de Geografia a partir da interdisciplinaridade com a literatura. O ensino de Geografia quando atento aos problemas tpicos da esttica (percepo, forma e contedo, relao sujeito e objeto, o sujeito diante do belo e questo de mtodo), colabora

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    para o aperfeioamento do entendimento da realidade, pois os alunos tero maior capacidade avaliativa quanto aos mltiplos fenmenos da dinmica social e da dinmica da natureza por meio de uma percepo atrelada existncia da materialidade construda geogrfica e historicamente. Diante disso imprescindvel a compreenso da esttica e sua relao metodolgica com o cotidiano do aluno, ou seja, necessrio provocar nos alunos (desde as sries iniciais do ensino fundamental) outro olhar sobre o espao organizado materialmente e dialeticamente relacionado superestrutura, portanto, a esttica literria imbricada s categorias geogrficas resultar numa percepo crtica do sujeito para com o mundo, todavia tal crtica relaciona-se com a materialidade, com a prtica cotidiana, com a possibilidade de reconstruir o mundo por meio dos valores ticos revelados esteticamente, isto , a esttica pode revelar a superestrutura, entidade subjetiva do ser, na concretude dos objetos e suas funes sociais. Neste sentido, compreendemos a esttica filosofia empregada na avaliao do mundo, isto , por meio do ensino de Geografia ser construda uma viso de mundo, logo o ensinar geogrfico relaciona-se, obrigatoriamente, tambm com a formao crtica dos valores estticos e ticos (MOREIRA, 1987). Os valores estticos entrelaam-se com a questo de mtodo e configuram a percepo do sujeito, portanto, a esttica no apenas o estudo do belo, o esttico um valor subjetivo que se objetiva cotidianamente e interfere na interpretao da realidade. A esttica revela uma sensibilidade propositiva ou mesmo impositiva. A sensibilidade humana esttica liga-se ao belo, portanto, a beleza um dos fatores que determina a relao entre o que se v e o que se sente, ou melhor, como o ser humano, cotidianamente, lida e cr nas coisas esteticamente que o comovem? Segundo Haug (1997) no capitalismo a aparncia restrita ao valor de uso, portanto, os elementos sensibilizadores que compe o universo esttico dos ocidentais capitalistas so os smbolos prprios do consumo, isto , o imperativo esttico o valor de uso, mas no se trata de um valor de uso meramente subsidirio, visto que o valor de uso liga-se, intimamente, ao valor de troca trata-se no apenas de trocas materiais, trata-se de trocas simblicas subjetivas. A interdisciplinaridade fundamenta a imbricao esttica e cientifica resultando num quadro compreensvel para os alunos, mas no um quadro sustentado pela mesmice do cotidiano, um quadro capaz de eivar a crtica aos alunos, isso significa pensar para alm das limitaes impostas pelas condies materiais, sociais e culturais. Tal postura no ensino de Geografia permitir a superao do que Moreira (2006) chama de o homem atpico, isto , pelo ensino de Geografia a partir da literatura, num posicionamento interdisciplinar, os professores subtrairo de seus alunos a inrcia diante do mundo. Neste sentido, as diferentes linguagens (Geografia e Literatura) colaboraro para uma postura em que o sujeito (o aluno) ocupe o centro da sua existncia a partir de valores mais amplos do que os impostos pelo capitalismo. Neste sentido, a partir de Monteiro (2002a e 1988) entendemos que o universo literrio no est distante do universo cotidiano e o processo ensino-aprendizagem pela Geografia fomentar outra viso de mundo sem limitar-se s imposies das elites detentoras dos meios de produo.

    CONSIDERAES FINAIS A relao geografia, ensino e literatura tem como centralidade a ampliao da compreenso crtica dos alunos. O ensino de Geografia por meio das anlises literrias promove a ampliao das relaes significativas e simblicas com o cotidiano do aluno, tal ampliao torna inevitvel a crtica prpria condio histrica, social e geogrfica do aluno. Para alm da fico como fico firmamos a necessidade em processar a realidade pelo movimento dialtico do sujeito com o mundo e com a obra literria. O caminho que traamos, ora inicial, tem ainda muitas questes para serem refletidas, mas entendemos que essas levantadas nesse trabalho sinalizam os principais problemas que iremos dedicar. Afastamos a literatura como ferramenta e tomamos a mesma como componente geogrfico, como parte da totalidade da realidade. Diante disso, firmamos o compromisso em construir um cabedal terico que permita a ampliao das questes didticas e pedaggicas para o ensino de Geografia.

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