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MARINA BRITO SILVA O Efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético do modelo Golden Retriever Muscular Dystrophy: uma droga promissora para a regeneração da musculatura distrófica? São Paulo 2009

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MARINA BRITO SILVA

O Efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético do

modelo Golden Retriever Muscular Dystrophy: uma droga promissora para a regeneração da musculatura distrófica?

São Paulo

2009

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MARINA BRITO SILVA

O Efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético do

modelo Golden Retriever Muscular Dystrophy: uma droga promissora para a regeneração da musculatura distrófica?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências

Departamento: Cirurgia

Área de Concentração: Anatomia dos Animais Domésticos e

Silvestres

Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica Miglino

São Paulo

2009

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Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO

(Biblioteca Virginie Buff D’Ápice da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)

T.2143 Silva, Marina Brito FMVZ O Efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético do modelo

Golden Retriever Muscular Dystrophy: uma droga promissora para a regeneração da musculatura distrófica? / Marina Brito Silva. – São Paulo : M. B. Silva, 2009. 88 f. : il.

Dissertação (mestrado) - Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Cirurgia, 2009.

Programa de Pós-Graduação: Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres.

Área de concentração: Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres.

Orientador: Profa. Dra. Maria Angélica Miglino.

1. Losartan. 2. Golden Retriever (GRMD). 3. TGF-beta. 4. Distrofia muscular. I. Título.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome: SILVA, Marina Brito Título: O efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético do modelo

Golden Retriever Muscular Dystrophy: uma droga promissora para a

regeneração da musculatura distrófica?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Anatomia dos Animais

Domésticos e Silvestres da Faculdade de

Medicina Veterinária e Zootecnia da

Universidade de São Paulo para obtenção do

Título de Mestre em Ciências

Data: ____/___/______

Banca Examinadora

Prof.Dr.______________________________Instituição:__________________ Assinatura___________________________ Julgamento: _________________ Prof.Dr.______________________________ Instituição:__________________ Assinatura____________________________________________________ Julgamento:___________________________________________________ Prof.Dr.______________________________Instituição:__________________ Assinatura____________________________Julgamento:_________________

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa a todos os

pacientes com Distrofia Muscular,

principalmente àqueles que tive a alegria

de conviver. Vocês foram o meu maior

incentivo e serão sempre um exemplo de

vida!

Aos queridos cães do canil GRMD-Brasil

que serviram não apenas como modelo

animal de pesquisa, mas como uma força

para enfrentar cada obstáculo!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida e por colocar no meu caminho as pessoas

e vivências necessárias para fazê-la valer a pena!

Aos professores Maria Angélica Miglino e Carlos Eduardo Ambrósio, pela

oportunidade e confiança na realização do tão desejado mestrado.

A prima Maria Helena, sempre disposta a ajudar o próximo, me abriu essa

oportunidade única.

Ao meu futuro marido e eterno companheiro, Rodrigo, pelo amor, apoio e

paciência dedicados em todos os momentos.

Aos meus pais, Joaquim e Dora, os grandes incentivadores do meu

crescimento pessoal e profissional.

Aos meus queridos irmãos, Cláudia, Elisa e Saulo, pela alegria do convívio em

família.

A todo o grupo do canil, pelos momentos de união e apoio. Pessoas que se

tornaram muito importantes não apenas para a realização dessa pesquisa, mas

como grandes amigos: Thais: que desde o início foi sempre tão solicita, suas

idéias e sugestões foram fundamentais para esse estudo. Levo comigo sua

determinação e otimismo! Angélica: difícil até achar palavras para dizer o

quanto você é especial para mim, obrigada pela amizade! Leandro: deixo aqui

meu eterno agradecimento pelas muitas horas de discussão e de amizade, não

consigo imaginar essa pesquisa sem seus ensinamentos e sugestões.

Karlinha: sempre com uma palavra de apoio e força, você é só sucesso!

Marininha: exemplo de determinação, obrigada pela ajuda! Os amigos Jú

Passos, Matheus, Sarmento, Cris, Renata, Carol, Di, agradeço pelos

momentos de alegria e contribuição dentro e fora do canil!

Ao querido funcionário do canil e amigo Augusto, pela sua caridade

incondicional.

A profa. Dr. Mayana Zatz, pela busca incessante ao tratamento da distrofia

muscular.

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A professora Maria Helena Larsson, por disponibilizar sua atenção e serviços

de laboratório e cardiologia.

Aos queridos funcionários, Jaque, Maicon, Diogo e Ronaldo pela atenção e

ajuda necessária.

A professora Patrícia Gama e todo seu grupo de pesquisa, por me acolherem

tão bem em seu laboratório e me guiarem nas reações de imuno-histoquimica.

A FAPESP, pelo apoio financeiro.

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RESUMO SILVA, M. B. O efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético do modelo Golden Retriever Muscular Dystrophy: uma droga promissora para a regeneração da musculatura distrófica? [The effect of Losartan in the skeletal muscle morphology of Golden Retriever Muscular Dystrophy: a promising drug for the dystrophic muscle regeneration?]. 2009. 88 f. Dissertação (Mestrado em Ciências)- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) tem como característica marcante a

substituição do músculo pelo tecido fibroso, sendo este um dos maiores

obstáculos para a eficácia de terapias para a distrofia muscular. Intervenções

para preveni-la provavelmente poderão ser necessárias como parte de um

tratamento eficaz. Correlações significativas entre fibrose e a expressão do

TGF-beta, uma citocina fibrogênica multifuncional nas distrofias musculares

têm sido relatadas, enfatizando o papel dessa citocina no desenvolvimento da

fibrose muscular e sugerindo-a como alvo para terapias antifibróticas. Nesse

estudo avaliamos o efeito do Losartan sobre o desenvolvimento da fibrose na

musculatura esquelética do modelo canino Golden Retriever Muscular

Dystrophy (GRMD). Foi realizado previamente um estudo piloto com um cão

distrófico para estipular dosagem e eventuais efeitos colaterais ao

medicamento. Foram utilizados cinco cães adultos, sendo dois machos e duas

fêmeas e um animal controle. Utilizou-se a dose de 50mg de Losartan,

administrada via oral, uma vez ao dia. Os exames clínicos e laboratoriais não

evidenciaram reação adversa durante o período do experimento, portanto, o

Losartan mostrou-se como uma terapia segura. Os fragmentos da biopsia

muscular retirados antes de iniciar com o Losartan (T0) e após (Tf) foram

utilizados para histologia e imuno-histoquimica do TGF-beta1 para comparação

destes dois tempos. As avaliações de goniometria e perimetria juntamente com

os resultados de imuno-histoquimica e quantificação do colágeno ajudaram a

inferir sobre o efeito do Losartan na fibrose do músculo distrófico. Não foi

encontrada diferença significativa para os valores de goniometria e perimetria.

Já a porcentagem da área de deposição de colágeno dos animais nos Tf foi

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estatisticamente menor do que o T0. A diminuição da presença do TGF-beta1

evidenciada nas imagens de imuno-histoquimica, com a diminuição do depósito

de colágeno, após o período de uso do Losartan, sugerem um efeito inibitório

do medicamento sobre esta citocina nos músculos dos cães GRMD estudados.

Palavras-chave: Losartan. Golden Retriever (GRMD). TGF-beta. Distrofia

Muscular.

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ABSTRACT

SILVA, M. B. The effect of Losartan in the skeletal muscle morphology of Golden Retriever Muscular Dystrophy: a promising drug for the dystrophic muscle regeneration? [O efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético do modelo Golden Retriever Muscular Dystrophy: uma droga promissora para a regeneração da musculatura distrófica?]. 2009. 88 f. Dissertação (Mestrado em Ciências)- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

Duchenne Muscular Dystophy (DMD) has the substitution of the muscle by

connective tissue as its most relevant characteristic. Once fibrotic proliferation is

a major obstacle to the efficacy of therapies for muscular dystrophies, early

interventions to prevent it will probably be necessary as part of an effective

treatment. A significant correlation between fibrosis and the expression of TGF-

beta 1, a multifunctional cytokine, in Duchenne muscular dystrophies has been

reported, emphasizing the role of this cytokine in the development of muscle

fibrosis, and suggesting it as target for fibrotic therapies. In this study we

evaluated the effect of Losartan over the development of the connective tissue

on the skeletal musculature of the canine model GRMD. One dystrophic dog

was previously used in the pilot study to estipulate the dosage and any side

effects caused by Losartan. Five adults dystrophics dogs, two male and two

female and one control animal were used in the experiment. A dose of 50mg of

Losartan was orally given once a day. The clinical and laboratorial exams did

not show any adverse effect through the experimental period, therefore

Losartan utilization showed to be a safe therapy. Muscle biopsy fragments have

been removed before starting Losartan (T0) and after (Tf) were used for

histology and TGF-beta1 imunohistochemistry to compare this two times. The

evaluations range of motion and limb circumference measures within

imunohistochemistry and colagen quantification results helped to infer about

Losartan effect in the dystrophic muscle fibrose. Range of motion and limb

circumference values did not show statistical difference. Although the

percentage of connective tissue deposition area in the animals in Tf was

statistically lower than T0. The decrease of TGF-beta1 signalization showed in

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imunohistochemistry pictures within the decrease of connective tissue

deposition, after Losartan, suggest an inhibitory effect of this medication

through this cytokine in the studied GRMD muscle.

Key Words: Losartan. Golden Retriever (GRMD). TGF-beta. Muscle

Dystrophy.

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1 INTRODUÇÃO

A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) constitui um distúrbio genético, de

caráter recessivo, com alta taxa de mutação em um gene localizado no braço curto

do cromossomo X. Apresenta como sinais clínicos a perda progressiva da força

muscular, resultando em fraqueza dos músculos respiratórios e cardíacos, sendo

que a grande maioria dos pacientes desenvolve cardiomiopatia. Ocorre,

principalmente, em pessoas do sexo masculino, sendo que as mulheres são

portadoras. Sua incidência é de cerca de um para cada 3500 nascidos vivos do sexo

masculino. No Brasil, ocorrem por ano, cerca de 700 novos casos de DMD. Ela

caracteriza-se pela deficiência ou ausência de proteína distrofina na superfície da

membrana da célula muscular, podendo acometer a musculatura cardíaca e o

sistema nervoso (CAROMANO, 1999).

A distrofina é o maior componente do complexo distrofina - glicoproteínas

(DGC), no qual liga o citoesqueleto da miofibrila com a matrix extracelular. A ruptura

desse complexo causa um aumento da susceptibilidade de lesão induzida pela

contração, e lesão do sarcolema, ocasionando necrose da miofibrila, levando à

perda progressiva da massa e função muscular (COULTON, 1988; PASTORET,

1995; TANABE, 1996).

O músculo distrófico apresenta variações no tamanho da fibra muscular e

acúmulo de núcleos centrais, infiltração de tecido conectivo e adiposo e elevado

nível de creatinoquinase no plasma. O estágio inicial da doença é caracterizado pela

presença de grupos focais de miofibras necróticas e hipertrofia muscular. Na fase

patológica, repetidos ciclos de degeneração desgasta a capacidade de regeneração

das células satélites, e estão associadas com repetidos ciclos de inflamação e

fibrose significante, no qual afeta os músculos de forma geral, podendo levar a uma

parada cardiorrespiratória (DECONINCK; DAN, 2007).

Embora o camundongo mdx seja o modelo animal mais utilizado em estudos

da patogênese e dos efeitos da terapia gênica e transplante celular, a lenta

progressão da doença nesse modelo o torna clinicamente pouco viável para se

transpor resultados para humanos portadores de DMD. O quadro clínico do mdx é

mantido relativamente normal, já que apresenta uma menor degeneração das fibras

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musculares, maior regeneração e menos fibrose do que encontrado nos pacientes

com DMD (PASTORET; SEBILLE, 1995; SHELTON, 2004).

O modelo canino Golden Retriever Muscular Dystrophy (GRMD) é o modelo

animal mais similar a DMD humana. Por ser geneticamente homólogo, compartilha

seu quadro de miopatia severa e desenvolvimento clínico letal. Em ambas as

doenças, a necrose e regeneração começam cedo no músculo esquelético e estão

associados com a proliferação do tecido conjuntivo (COOPER et al., 1988;

VALENTINE et al., 1988; VALENTINE et al., 1990).

Não existe até o momento uma terapia efetiva para bloquear ou reverter o

processo da distrofia muscular. Embora a terapia gênica e o transplante de células

tronco possam fornecer a cura para a DMD, resultados positivos podem demorar

algum tempo até serem clinicamente viáveis. Neste sentido, a busca de terapias

paralelas e medicamentosas que possam melhorar a condição vital do paciente, por

retardo da progressão dos sinais clínicos, é de grande importância, uma vez que,

melhoram a qualidade de vida dos mesmos (COHN, 2007).

Quanto ao tratamento de manutenção, principalmente de fisioterapia, a

literatura científica, ainda que escassa, recomenda diferentes programas de

exercício para as distrofias musculares e, aquelas encontradas, sugerem um efeito

benéfico da atividade física para a DMD, principalmente naqueles com alterações

mínimas da função muscular (DEMOS, 1983; RIDEAU, 1985; VIGNOS et al., 1996;

ANSVED, 2003).

Dentre os agentes terapêuticos propostos para uso no paciente DMD, o

Losartan, um bloqueador do receptor da angiotensina II, pode ser bastante

promissor, já com resultados positivos no modelo mdx, uma vez que equilibrou os

ciclos de degeneração e reparação (COHN et al., 2007).

Sendo estes ciclos os principais responsáveis pela perda progressiva de

massa e força musculares em portadores de DMD, novas pesquisas em um modelo

animal com maior similaridade clínica da doença, o GRMD, tornam-se necessárias,

com o objetivo de gerar novos conhecimentos sobre seu efeito na progressão desta

doença.

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2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Distrofia Muscular de Duchenne (DMD)

Distrofia muscular é um termo amplamente utilizado para se referir a qualquer

doença de ordem primária da musculatura esquelética, que resulta em degeneração

progressiva, regeneração limitada e fibrose de mifobrilas (BERGMAN et al., 2002). A

DMD é a forma mais grave, comum e de evolução mais rápida dentre as miopatias

hereditárias. Teve seu primeiro gene identificado em 1986 e recebe esse nome em

alusão ao neurologista francês que forneceu a primeira descrição completa da

patologia, em 1868 (JORDE, 2004).

Mutações no gene da distrofia levam à deficiência da distrofina, uma proteína

associada ao sarcolema dos músculos lisos, cardíacos e esquelético, que ajuda a

manter a integridade da membrana durante o processo de contração muscular. Esta

proteína é codificada por um enorme gene localizado no cromossomo -X, sendo,

portanto, mais susceptível a mutações. Sendo assim, a deficiência da distrofina afeta

predominantemente o sexo masculino, pelo fato das pessoas deste sexo possuir

apenas um cromossomo X (BERGMAN et al., 2002).

Segundo Valentine et al. (1989), o músculo sem a proteína distrofina, fica

mais susceptível a lesões induzidas pelo exercício, evidenciada pelo rápido influxo

de enzimas musculares. Pelo fato desse complexo protéico estar embebido no

sarcolema e de fornecer a ligação entre o citoesqueleto interno da célula muscular e

a matrix extracelular, a perda desta proteína destrói essa ligação e então gera a

degeneração muscular (DAVIES, 1997).

Esta descoberta importante feita há mais de dez anos abriu novos caminhos

para investigações produtivas. O complexo processo relacionado à necrose da fibra

muscular não tem sido claramente descrito, portanto não existe ainda nenhum marco

de melhora no tratamento dos pacientes (TKATCHENKO et al., 2001).

Vainzof e Zatz (2003) relataram que estudos moleculares em indivíduos com

distrofias musculares, têm apresentado variabilidade clínica inter e intra-familiar em

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diferentes desordens genéticas, levantando a importância de outros fatores, que não

os genéticos, na determinação da expressão fenotípica.

As crianças afetadas apresentam fraquezas progressivas devido à perda da

massa muscular e as contraturas. A lesão da miofibrila sem uma total recuperação

tanto nas crianças quando no modelo canino GRMD, resultam em fibroses,

contraturas e fraqueza muscular (CHILDERS et al; 2002).

O diagnóstico de DMD pode ser estabelecido na maioria dos casos, através

da história familiar, de achados clínicos, laboratoriais e genéticos (analise de DNA),

podendo ser utilizados eventualmente, exames eletrofisiológicos e histológicos. Os

níveis enzimáticos, principalmente de creatinoquinase (CK), biopsia muscular e

análise de DNA são amplamente explorados na caracterização da doença

(CAROMANO, 1999).

A dosagem da CK é de extrema importância, uma vez que também servirá de

indicação no diagnóstico diferencial entre as formas de distrofias musculares

progressivas. Na DMD, os autores colocam que os níveis CK estão aumentados de

100 a 300 vezes na fase pré-clínica. Através de Western blot também pode-se

diagnosticar a DMD ao detectar menos de 3% de distrofina no músculo,associada à

diminuição de α-sarcoglicanas (ERAZO-TORRICELLI, 2004).

Na análise da estrutura do músculo esquelético a partir da biópsia, realizada

normalmente nos músculos quadríceps, gastrocnêmio ou deltóide, observa-se

padrão distrófico, ou seja, comum às distrofias musculares progressivas, mostrando

hipertrofia e atrofia de fibras, perda da forma poligonal em corte transversal, necrose

e regeneração de fibras com deposição de tecido conjuntivo e adiposo. Em algumas

distrofias, tais como as congênitas (DMC) e fascioescapulohumeral (DFEH), o

padrão distrófico da fibra muscular não se apresenta em idades precoces. Desta

forma, a ausência de alterações distróficas características, nem sempre descarta a

existência de uma distrofia muscular (CAROMANO, 1999; ERAZO-TORRICELLI,

2004).

Wang et al. (1999) investigaram trinta pacientes portadores de DMD e

notaram que alterações histopatológicas foram observadas em todos os casos

estudados, tais como degeneração, necrose e regeneração de fibras musculares.

Em relação às reações imuno-histoquímicas, todos os sujeitos mostraram reação

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negativa para anticorpos anti-distrofina Dys1-3. Em três dos trinta casos estudados,

com quadro clínico severo, foram observadas algumas características diferentes na

morfometria, como ausência de diferença no diâmetro das fibras do tipo I e II, e o

diâmetro das fibras do tipo I em um dos casos foi menor do que todos os outros

trinta, com grande proliferação de tecido conjuntivo e adiposo.

O estudo imuno-histoquímico permite detectar a presença ou ausência de

proteínas do sarcolema ou ligadas a esta membrana, incluindo a determinação da

porcentagem de núcleos centralizados e a variabilidade do tamanho das fibras.

Ambos os parâmetros juntos descrevem bem o processo de degeneração-

regeneração da musculatura esquelética (BRIGUET, 2004; ERAZO-TORRICELLI,

2004).

2.2 Modelo de estudo

Modelos animais são usados para fornecer hipóteses científicas na DMD.

Dentre eles, os mais estudados são o camundongo mdx e o canino Golden Retriever

Muscular Dystrophy (GRMD).

O camundongo mdx mantém relativamente seu quadro clínico devido à

patologia ser considerada moderada e a função mecânica muscular pouco

comprometida, além de não apresentar fibrose endomisial extensiva, uma das

características patológicas mais importantes na DMD (YAMAZAKI et al., 1994;

COLLINS & MORGAN, 2003). Por outro lado, o modelo canino GRMD além de

apresentar o curso rapidamente progressivo e fatal da doença, possui o

envolvimento muscular análogo aos pacientes com DMD. Portanto, os testes de

força muscular e de amplitude de movimento podem ser usados como parâmetros

em cachorros afetados, predizendo dessa forma os resultados do tratamento e a

patogênese (CHILDERS et al., 2002).

O GRMD é considerado o modelo animal mais relevante para o estudo da

DMD, embora o uso deste modelo animal para pesquisa requer um alto custo, além

de possuir uma variação intra-animal a qual dificulta uma padronização (COLLINS;

MORGAN, 2003; MCCLOREY et al., 2006).

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Mutações espontâneas do gene da distrofina, resultando na distrofia muscular

ligada ao cromossomo X têm sido identificadas em diversas raças de cães

domésticos: o Golden Retriever, o Rottweiller e o Beagle. Destes, o GRMD tem sido

o modelo animal mais amplamente estudado e o melhor caracterizado. Em 1958,

Méier documentou o primeiro caso de cão com distrofia em um filhote de Golden

Retriever. Desde as primeiras descrições, a mutação do gene da distrofina no

GRMD tem sido identificada e então, este modelo animal tem sido reconhecido e

amplamente utilizado nas avaliações experimentais de novos tratamentos

previamente aos estudos clínicos em humanos (COLLINS; MORGAN, 2003;

SHELTON; ENGVALL, 2004;).

O cruzamento de cães GRMD de uma fêmea heterozigota, ou seja, portadora

do gene com a distrofia, com um macho afetado gera machos normais, fêmeas

heterozigotas e machos e fêmeas afetados (NGUYEN, 2002).

Clinicamente, os cães machos afetados cansam-se com facilidade,

desenvolvem deformidades esqueléticas e marchas alternantes anormais,

caracterizadas por passadas rígidas e curtas. Podem, ainda, apresentar redução na

capacidade de abrir os maxilares e dificuldade na apreensão e deglutição de

alimentos; a maior parte da musculatura esquelética torna-se atrófica, porém, certos

grupos musculares e a língua apresentam-se com hipertrofia (NGUYEN et al., 2002).

Esta hipertrofia está associada com a disfunção da faringe e do esôfago resultando

em disfagia, sialorréia e regurgitação. A função respiratória está diminuída e

caracterizada pelo o aumento da freqüência respiratória de repouso e um excessivo

componente abdominal respiratório após mínimos esforços (SHELTON, 2005).

A patogênese do GRMD se manifesta intra – útero e pode ser identificado a

partir do nascimento, com importantes sinais de necrose dos músculos dos

membros, pescoço e tronco que progridem conforme o animal alcança a maturidade

(COLLINS; MORGAN, 2003). Os sinais clínicos progridem rapidamente entre os três

e seis meses de idade (KORNEGAY et al.,1994). O estágio inicial da doença é

caracterizado pela presença de grupos focais de miofibrilas necrosadas, hipertrofia

muscular e altos níveis anormais de CK. Em uma segunda fase (patológica),

repetidos ciclos de degeneração diminuem a capacidade de regeneração das

células satélites e mecanismos fibróticos causam o progressivo depósito de tecido

fibroso e colagenoso.

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Em humanos, este processo ocasiona contraturas articulares, perda da

marcha entre 10-12 anos de idade, e na maioria das vezes, assim como ocorre com

os seres humanos, os cães distróficos morrem por falência respiratória e/ou

cardíaca, embora alguns alcancem a idade adulta (COLLINS; MORGAN, 2003).

Estudos “in vivo” da musculatura pélvica têm mostrado que cachorros com

distrofia muscular de Duchenne são mais fracos que os cachorros normais em todas

as idades. Essas semelhanças clínicas na evolução e gravidade da distrofia entre

humanos com DMD e o modelo GRMD, justificam seu uso como modelo de estudo

para os mecanismos que contribuem para a lesão em músculos distróficos

(CHILDERS, 2001).

2.3 Regeneração Muscular/ Reparação tecidual

A distrofia muscular progressiva (DMP) é caracterizada pela necrose das

fibras musculares, regeneração e fibrose endomisial (YAMAZAKI et al., 1994).

Durante a lesão muscular o músculo esquelético tem a extraordinária

habilidade de iniciar um processo de reparação rápido e extensivo, prevenindo a

perda de massa muscular. A reparação do músculo esquelético é um processo

rapidamente sincronizado envolvendo a ativação de várias respostas celulares. A

fase inicial da reparação muscular é caracterizada pela necrose do tecido lesado e

ativação da resposta inflamatória. Esta fase é rapidamente seguida da ativação das

células miogênicas para proliferar, diferenciar e se fundirem, ocorrendo a formação

de uma nova miofibrila e reconstituição do aparato contrátil funcional (CHARGÉ,

2004).

As células satélites são células miogênicas que participam na reparação e

crescimento das fibras musculares (REIMANN et al., 2000). A ativação da célula

satélite adulta é o elemento chave neste processo. O fator de sinalização liberado

durante o processo de regeneração tem sido identificado, mas suas funções ainda

não foram totalmente definidas. Evidências recentes suportam a idéia de uma

possível contribuição das células troncos adultas no processo de regeneração

muscular (CHARGÉ, 2004).

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É sabido que a falta de distrofina na DMD resulta em necrose da fibra

muscular logo no início da doença e que a capacidade de regeneração fica

comprometida ao longo do curso da doença. Sabe-se também que o fator de

crescimento (TGF-beta) tem propriedades que podem causar inibição parcial

temporária de diferenciação das células satélites inibida. A remoção da sinalização

do TGF durante estágios tardios de regeneração podem resultar na fusão extensiva

das células satélites e subseqüente formação de novas fibras (ALLEN; BOXHORN,

1987).

Estudo feito por Cozzi et al. (2001), mostrou que a substituição do músculo

por tecido fibrótico foi claramente evidenciada bem antes de completar a maturação

muscular, mostrando que esta não é um fator crítico para a iniciação da necrose da

fibra no modelo canino, ao contrário do que é sugerido para a DMD.

Ainda nesse estudo, as porcentagens de fibras necrosadas e

hipercontraturadas mostraram declínio para níveis moderados e estáveis em animais

distróficos idosos. A regeneração, a qual mostrou-se prevalente durante o estágio

inicial da lesão, também declinou para níveis baixos em animais adultos. Este

declínio pode ser devido à exaustão do potencial de regeneração seguido de

repetidos ciclos de degeneração-regeneração (COZZI et al., 2001).

O aumento progressivo da fibrose intersticial no músculo acaba impedindo a

migração das células miogênicas, as quais são necessárias para a formação

muscular (LUZ et al., 2002). A proliferação do tecido conectivo é também variável

nos pacientes com DMD, e embora a fibrose geralmente aumente com a progressão

da doença, ela pode não estar relacionada com a idade (COZZI et al., 2001).

O papel da fibrose não tem sido bem esclarecido e ainda não é claro porque a

capacidade de regeneração declina na DMD e em camundongos mdx (LUZ et al.,

2002).

A fibrose é capaz de limitar a utilidade de terapias gênicas ou transplantação

mioblastica para corrigir o defeito primário, já que a proliferação de tecido conectivo

barra o suporte nutricional para a fibra muscular e a migração e fusão de novas

células implantadas. O tratamento anti-fibrose de pacientes DMD, tendo como alvo

os mediadores da citocina como o tratamento com antiinflamatórios ou TGF-beta,

Page 22: O Efeito do Losartan na morfologia do músculo esquelético ... · muscular, resultando em fraqueza dos músculos respiratórios e cardíacos, sendo que a grande maioria dos pacientes

19

podem limitar a degeneração muscular e contribuir para a melhora do curso da

doença (PASSERINI et al; 2002).

2.4 Losartan Losartan é uma potente droga anti-hipertensiva, inibidora dos receptores AT1

da angiotensina II, sendo que seu uso vem sendo sugerido promissoriamente como

opção terapêutica no tratamento de doenças musculares progressivas.

Os antagonistas da angiotensina II (AAIIs) foram introduzidos para o

tratamento da hipertensão arterial há cerca de 10 anos. Durante esse período eles

foram avaliados não apenas em termos de eficácia e segurança, mas também em

vários estudos grandes com desfechos clínicos (RIBEIRO; GAVRAS, 2006). Os

AAIIs são eficazes em todas as formas clínicas de hipertensão e em todos os grupos

étnicos. Foi visto que ele atua efetivamente abaixando a pressão sanguínea em

diversos modelos animais e humanos com hipertensão (CHRIST et al., 1993).

Os principais estudos clínicos do Losartan, em pacientes diabéticos com

nefropatia e proteinúria comprovaram, além de redução da pressão arterial, proteção

cardiovascular e renal (RIBEIRO; GRAVAS, 2006). Segundo Goa et al. (1996), o

efeito anti-hipertensivo do Losartan é evidenciado com uma semana de inicio de

uso.

Em paciente com hipertensão moderada, foi relatado que uma dose de 50 a

100 mg do Losartan uma vez ao dia como monoterapia é suficiente para abaixar a

pressão em uma semana, ou no máximo seis semanas, além de ser uma droga bem

tolerada. O tempo para atingir o pico de concentração no plasma é mais ou menos

de uma hora para o Losartan e de três a quatro horas para seu metabólico E 3174.

Essa droga pode ser administrada com ou sem comida e em pacientes com alto

risco de hipotensão e com disfunção hepática, a dose inicial deve ser de 25mg. Não

há necessidade de ajustar a dose para pacientes idosos ou com disfunção renal.

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20

Dados obtidos em poucos pacientes e, evidências em diversos estudos em

animais sugerem que o Losartan causa regressão da hipertrofia no ventrículo

esquerdo (GOA; WAGSTAFF, 1996).

Estudos recentes também mostraram em camundongos mdx que o Losartan

normaliza a síntese de colágeno e assim reverte a fibrose ventricular esquerda em

ratos com hipertensão espontânea (SHR) (VARO et al., 2007). Estes achados

sugerem que o tratamento com Losartan restaura a atividade da colagenase no

ventrículo esquerdo de SHR. Portanto, o efeito antifibrótico desse medicamento em

SHR parece ser não apenas por sua habilidade em diminuir a síntese de colágeno

tipo I, mas também devido sua capacidade de estimular a degradação do colágeno.

Ainda nesse estudo, Varo et al. (2007) relataram que a administração do

Losartan resultou na diminuição da expressão do TGF-beta, um fator de crescimento

que está presente e aumentado no ventrículo esquerdo dos SHR.

Em um estudo feito em camundongos com hipertensão espontânea foi

administrado Losartan via oral em doses de 1a 30 mg/kg/dia por oito a vinte

semanas, e foi evidenciado um aumento da taxa de sobrevida e a prevenção no

desenvolvimento de infartos cerebrovascular e cardiovascular. O efeito foi evidente

durante o uso do Losartan e persistiu por oito semanas depois de parado com o

medicamento. Foi mostrado também que o Losartan (10mg/kg/dia) reduziu o

colágeno e, portanto a fibrose do miocárdio tanto em modelo hipertensivo com um

clampe quanto com dois clampes renais (GOA; WAGSTAFF, 1996).

A farmacocinética e a relação de efeito concentração – plasma do Losartan foi

determinada em uma pesquisa feita com cachorros anestesiados e conscientes. A

biodisponibilidade via oral de doses únicas de 5 a 20 mg/kg mostrou-se consistente

e previsível, porém a absorção foi baixa e rápida, com pico de nível no plasma

observados em 1 hora. O tempo de eliminação (meia vida) foi de 108 a 153 min. O

estudo mostrou alta significância entre a relação concentração e efeito (CHRIST et

al., 1993).

Outro estudo foi realizado avaliando o efeito do E-3174, seu metabólico ativo,

no sistema cardiovascular no modelo canino. Concluiu-se que este modelo de

estudo é apropriado para uso na caracterização dos efeitos do Losartan e seu

metabólico nos caninos com insuficiência cardíaca, não havendo diferença entre

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21

eles. Para essa pesquisa foi utilizada uma dosagem de 1 mg/ml/kg do Losartan e 0.3

e 1mg/ml/kg do E-3174 em caninos, administrados pela veia femoral por 10 min de

infusão (SUZUKI et al., 2001).

Segundo Christ et al. (1993), o protótipo do antagonista do receptor de

angiotensina II, deveria permitir mais o uso racional desta droga em estudos

utilizando modelos animais apropriados.

Segundo Sweet et al. (1993), os modelos animais são bons preditores da

resposta humana. Embora a formação do maior metabólico do Losartan, o E 3174,

diferir de acordo com as espécies, estudos em ambos animais e humanos, sugerem

uma associação entre nível de droga no plasma e os antagonistas da angiotensina

II.

Goldberg et al. (1995) testaram a segurança e tolerância do Losartan em

aproximadamente 2900 pacientes hipertensos tratados em experimentos duplo

cego. Os efeitos adversos mais reportados foram dor de cabeça (14.1%), infecções

das vias áreas superiores (6.5%), tonturas (14.1%), astenia/fadiga (3.8%) e tosse

(3.1%), sendo que estes sintomas também foram freqüentemente reportados em

pacientes recebendo placebo. Apenas o sintoma tontura mostrou relação freqüente

com os efeitos adversos ao medicamento comparado ao placebo. Em pesquisas

clínicas controladas, o Losartan foi a droga mais bem tolerada quando comparada

aos outros agentes antihipertensivos, como foi determinado pela incidência de

pacientes reportando qualquer experiência relacionada com os efeitos adversos da

droga. Não houve nesse estudo nenhuma diferença clínica importante tanto nas

fichas clínicas, quanto laboratoriais nos subgrupos demográficos de idade, sexo ou

raça, demonstrando uma excelente tolerância.

Até agora, uma das únicas drogas utilizadas rotineiramente em pacientes com

DMD é a administração crônica de corticoesterioides (Predinisona). A maioria dos

médicos inicia a prescrição diária da Predinisona quando os pacientes começam a

apresentar progressivamente os sintomas (CHEN et al., 2005).

Wagner et.al. 2002 mostraram que a reposição por tecido fibrótico e

gorduroso em diafragma de camundongo mdx, como resultado de repetidos ciclos

de degeneração e diminuição de regeneração muscular, parece ser atenuado na

falta da miostatina (membro da família do TGF-beta). Estes achados, mais uma vez,

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confirmam que a regeneração muscular pode ser relacionada com a inibição da

atividade do TGF-beta, cuja proposta está sendo elaborada com o uso do Losartan

(WAGNER et.al. 2002).

2.5 TGF- beta

Pelo fato da distrofina estar ausente na membrana sarcoplasmática, tanto nos

pacientes quanto no modelo GRMD, durante a contração muscular principalmente,

ocorre ruptura dessa membrana, causando o influxo de cálcio e posterior ativação da

protease endógena com a ativação da cascata inflamatória (COLLINS; MORGAN,

2003). Como conseqüência dessa inflamação, ocorre necrose e substituição do

tecido muscular por tecido fibroso e adiposo (KORNEGAY et al., 2003).

Embora a falta da distrofina tenha sido conhecida como a causa da

degeneração da fibra muscular, a patogênese da fibrose intersticial permanece

ainda desconhecida. Porém, sabe-se que envolve a ação de diversas citocinas,

como as de transformação do fator de crescimento (TGF-β 1) (GOSSELIN et al.,

2004).

TGF- β1 pertence à família multifuncional de peptídeos que promovem o

acúmulo da matriz extracelular, agindo diretamente para estimular a síntese de

diversas matrizes moleculares importantes como a fibronectina, colágenos e as

proteoglicanas. (KHALIL et al., 2000). Apresenta múltiplas funções, como, por

exemplo, pode estimular ou inibir o crescimento de células em cultura, sendo que a

proliferação de fibroblastos é aumentada, enquanto que o crescimento das células

epiteliais, endoteliais, linfóides e os mioblastos são suprimidos (YONG Li et al;

2003).

O TGF-beta, conhecido por acelerar o crescimento dos fibroblastos devido

suas propriedades fibrogênicas, é visto como o primeiro fator responsável pela

indução da fibrose em diversos tecidos lesionados, sendo um candidato que pode

causar fibrose na DMD e ter um impacto negativo no processo de regeneração

muscular, enquanto que em células musculares normais, ele está ausente

(YAMAZAKI,1994; YONG LI et al; 2003).

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23

Esse fator de crescimento é pouco descrito no músculo de pacientes, com

poucos e recentes estudos sugerindo que a ativação desta via pode levar a

apoptose muscular na miopatia. Porém, o TGF-beta 1 é bem conhecido e estudado

como regulador de diversas respostas celulares como a proliferação, diferenciação,

migração e apoptose, e também é conhecido como um forte modulador da

inflamação. O RNAm e a proteína do TGF-beta1 estão aumentado em músculos de

pacientes sintomáticos com DMD e outras miopatias (CHEN et al., 2005).

Recente artigo publicado mostrou que o aumento da atividade do TGF-beta

no músculo esquelético impede a resposta fisiológica das células satélites de

regenerar os músculos nas várias formas de miopatia, um processo essencial para a

preservação da arquitetura do músculo e sua função (COHN et al., 2007). Este fator

de crescimento induz também o acúmulo de matriz extracelular em várias doenças

como as cirroses hepáticas e pneumonite intersticial.

Para investigar sua função na patogênese na Distrofia Muscular Progressiva

(DMP) um estudo feito por Yamazaki (1994) determinou o grau de expressão do

TGF-beta1 e seu local de imunoreatividade. Foi verificado que TGF-beta 1 apresenta

um papel importante na síntese e no acúmulo de matriz extracelular em DMP e está

também envolvido na fibrose da DMD (YAMAZAKI, 1994).

Yamazi et al. (1994) reportou que no músculo do paciente com DMD, ocorre

alta imunoreatividade do TGF-beta1 na fibra muscular e no espaço extracelular,

apesar disso, estes dados pouco indicam o tipo celular do RNA mensageiro (RNAm)

do TGF-beta1. Usando hibridização in situ, os dados do estudo de Gosselin et al.

(2004) indicam que no diafragma do modelo mdx, células mononucleadas,

presumamente células inflamatórias de infiltração parecem ser a fonte primaria do

RNAm do TGF-beta1. Numerosos estudos têm mostrado que o nível de células

inflamatórias está significantemente aumentado no músculo do mdx, incluindo

macrófagos, células T CD4 e CD8, eosinofilos. Destas células, macrófagos parecem

contar com o maior número no músculo do mdx.

Em marcação de imuno-histoquimica o TGF-beta geralmente está presente

em áreas do perimísio e endomisio do tecido conectivo, enquanto em indivíduos

normais não apresenta nenhuma marcação (BERNASCONI et al., 1995). Segundo

Andreetta et al. (2006) e Ishitobi et al. (2000), o TGF-beta está aumentado no

músculo e no plasma de pacientes com DMD.

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24

Estudo feito por Chen et al. em 2005 mostrou que a via do TGF-beta está

altamente sinalizada em pacientes sintomáticos com DMD (idade entre 5 -12 anos)

mas não na idade infantil, apesar de mostrar uma forte evidencia da resposta

inflamatória nesse estágio de vida. Outro estudo relata um pico no nível de TGF-

beta1 entre 2- 6 anos de idade (BERNASCONI et al., 1995). Segundo esse mesmo

autor, a expressão dessa citocina está relacionada com a idade do paciente e com o

grau de fibrose muscular.

Em estudos dos músculos do diafragma em camundongos mdx, sinais de

fibrose estão presentes desde as seis semanas de idade e o aumento da

concentração de colágeno corresponde com o aumento do TGF-beta. Portanto, esta

citocina parece ter dois papéis na patogênese do músculo distrófico. Primeiro,

promovendo a fibrose muscular, e segundo, inibindo a diferenciação miogênica, no

qual poderia contribuir para a perda progressiva das fibras musculares (GOLDSPINK

et al., 1977). Juntamente com outros autores, este estudo mostrou que defeitos na

degradação do colágeno também têm papel na fibrose do músculo distrófico.

Foi observado em um estudo (YONG LI et al; 2003), que o aumento da

expressão do TGF-beta1, estimulou a diferenciação dos mioblastos em células

fibróticas in vivo, porém o tratamento com decorin, um inibidor de TGF-beta 1, como

visto em outros estudos em camundongos mdx (WAGNER, 2002; YONG LI et al.,

2003; GOSSELIN, 2004; COHN et al., 2007) preveniu este processo de

diferenciação. Estes resultados podem determinar o mecanismo envolvido no

desenvolvimento da fibrose na musculatura esquelética lesionada, e

conseqüentemente direcionar para o desenvolvimento de novas estratégias

terapêuticas, prevenindo este processo fibrótico e promovendo a regeneração

muscular.

Portanto, intervenções terapêuticas que visam neutralizar as citocinas podem

ser benéficas na diminuição da progressão patológica da doença (GOSSELIN;

WILLIAM, 2004).

Apesar de ser uma estratégia promissora para o aumento da massa e força

muscular em pacientes com doenças musculares degenerativas, incluindo a DMD,

essa terapia não irá corrigir o defeito molecular nestas patologias. O grande

impasse é se o aumento da massa muscular resultante da inibição da atividade da

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miostatina (membro da família do TGF-beta) pode ser mantido ao longo do tempo

nas etapas repetidas dos ciclos de degeneração e reparação (WAGNER et al; 2002).

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3 OBJETIVOS

Os objetivos do estudo foram divididos em objetivos geral e específicos

conforme citado abaixo.

3.1 Objetivo geral

Avaliar o efeito da droga Losartan no músculo esquelético distrófico no

modelo GRMD e sua relação com as alterações músculo-esqueléticas e efeitos

adversos do medicamento neste modelo de estudo da DMD.

3.2 Objetivos específicos - Observar possíveis efeitos adversos em fígado e rins, por meio de avaliação

bioquímica do sangue e da função renal, avaliando a viabilidade do uso do Losartan

nos cães afetados pela distrofia muscular.

- Identificar, por meio da imuno-histoquímica, a presença de TGF-beta 1 no músculo

esquelético de cada animal antes da aplicação do losartan e nos diferentes tempos

de aplicação do mesmo, comparando entre eles e também com o controle.

- Identificar, através da técnica de imuno-histoquimica, se houve alteração na

expressão da proteína distrofina na membrana das fibras esqueléticas dos animais

submetidos à terapia com Losartan e do controle.

- Avaliar a quantidade de tecido conjuntivo (fibrose muscular), antes da aplicação do

Losartan e nos diferentes tempos de aplicação do mesmo, comparando entre os

animais e também com o controle.

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- Acompanhar a evolução das alterações músculo esqueléticas da doença por meio

de avaliações de Amplitude de movimento articular e Circunferência dos membros

nos diferentes tempos de aplicação do Losartan.

- Relacionar os achados moleculares e morfológicos com os dados das avaliações

músculo esquelética dos animais GRMD tratados e não tratados com Losartan,

antes e depois da aplicação do medicamento.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto proposto foi conduzido após aprovação pela Comissão de Bioética

da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo

(FMVZ-USP), protocolo número 1175/2007.

A colônia de cães GRMD – Brasil, localizado na Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Departamento de Cirurgia –

Setor de Anatomia, possui dezenove animais afetados pela distrofia muscular

homóloga à Distrofia Muscular de Duchenne encontrada em humanos, estes com

idades compreendidas entre sete e trinta e nove meses de idade, destinados à

terapia medicamentosa e celular para a Distrofia Muscular. Além destes possuiu

ainda dezenove fêmeas portadoras, destinadas à reprodução.

4.1 Delineamento experimental

Foram selecionados cinco cães adultos da raça Golden Retriever afetados

pela distrofia muscular de Duchenne (GRMD), sendo três cães machos (um deles

controle) e duas fêmeas, pertencentes ao grupo de animais do canil GRMD Brasil

localizado no Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP, coordenado pela Profa. Dra.

Maria Angélica Miglino (Quadro 1).

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NOMES TATUAGEM NASCIMENTO PESO GRUPO

Bis 2L2 11/04/06 19kg Controle

Suflair 3H10 15/04/06 26kg experimental

Lucky CH5 24/02/05 21kg experimental

Traquinas 1X1 09/04/06 19kg experimental

Lola 3H6 15/04/06 25kg experimental

Quadro 1 –Animais selecionados do Canil GRMD Brasil/ USP para a pesquisa

Os critérios de seleção do estudo foram: animais distróficos adultos, que não

estivessem participando de outro estudo e nem usando outra medicação. Todos os

animais eram mantidos sob condições adequadas de cuidados médicos veterinários,

alimentação, higiene e recreação.

Devido ao número restrito de cães para o estudo, um animal foi considerado

controle (2L2) dos outros quatro, para avaliação da progressão da doença. Os

quatro animais experimentais foram comparados entre si, e com o controle, nos

tempos antes (T0) e após os diferentes tempos de uso do medicamento (Tf).

Os animais foram avaliados no primeiro momento determinado como tempo

zero (T0), antes de iniciar administração do medicamento, em Maio de 2008 com os

protocolos e parâmetros de avaliação descritos abaixo, e foram reavaliados após

aplicação do Losartan. O animal CH5 recebeu o medicamento durante seis meses, o

animal 3H6 e 3H10 durante quatro meses e o animal 1X1 durante dois meses, tendo

os mesmos parâmetros do T0 avaliados pelo mesmo examinador.

4.2 Estudo Piloto

Antes do início do experimento, foi realizado um estudo piloto com um animal

adulto do sexo masculino (CH5), data de nascimento (24/02/05) do canil GRMD para

estipular dosagem do medicamento e reações adversas do mesmo.

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Foi realizado biopsia no T0 (antes de começar com medicamento) com a

finalidade de avaliar a morfologia das fibras musculares e também verificar por meio

de imuno-histoquimica a presença de TGF-beta 1 antes e após o tratamento com o

Losartan. Foi iniciado com o medicamento no dia 03/10/07. A dosagem inicial do

Losartan foi de 12,5mg, dobrando a intensidade em intervalos de dois meses, até

chegar na dosagem final estipulada de 50mg.

Os principais efeitos adversos a longo prazo do Losartan, verificados em

estudo duplo cego de Goal (1996) com 2800 pacientes humanos portadores de

hipertensão severa, estão descritos no quadro 2. Para identificá-los e também com o

objetivo de acompanhar a evolução da doença nos cães tratados, foi instituído

exame clínico semanal de acordo com ficha clinica estipulado pelos médicos

veterinários do Canil GRMD – USP (Figura 1).

EFEITOS ADVERSOS

Dores de cabeça (14,1 %)

Infecções das vias aéreas superiores (6,5%)

Tonturas (4,1%)

Astenia/fadiga ( 3,8%)

Tosse (3,1%)

Quadro 2– Efeitos adversos do Losartan

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Figura 1 - Ficha clínica utilizada para avaliação semanal dos animais

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4.3 Protocolo de uso do Losartan

O protocolo para uso do Losartan foi estabelecido depois de realizado estudo

piloto em um dos cães distróficos e com referência em experimentos previamente

feitos em cães e humanos usando o Losartan, porém com outra finalidade

(HASHIMOTO et al., 1999; SUZUKI et al., 2001; WAGSTAFF, 1996; WONG et al.,

1991; GOA).

A dose estipulada foi de 50mg, uma vez ao dia, via oral nos quatro cães

experimentais.

4.4 Parâmetros de Avaliação

Todos os animais foram avaliados no T0 e após a aplicação do Losartan, no

tempo final do experimento (Tf), com parâmetros que buscaram levantar dados

sobre: A Amplitude de movimento articular (ADM), a fim de acompanhar a evolução

da patologia através dos encurtamentos musculares e contraturas articulares;

Perimetria, para avaliar o ganho ou perda de massa muscular e aferição da Pressão

Arterial, para verificar se não ocorria hipotensão devido ao efeito vasodilatador do

medicamento Losartan.

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4.4.1 Avaliação da amplitude de movimento articular ou Goniometria

Foram avaliadas no T0 e Tf as articulações do membro pélvico, como as

articulações do quadril, joelho e tarso, e do membro torácico, como as articulações

do ombro, cotovelo e carpo, a fim de acompanhar a evolução da fibrose muscular,

sabendo que esta, quando aumentada, pode levar a uma diminuição da amplitude

de movimento. Os dados foram coletados com um goniômetro universal médio da

marca ISP. Os animais foram posicionados em decúbito lateral, confortavelmente, e

a ADM medida a partir do ponto de flexão máxima da articulação avaliada, até a

extensão máxima, através da movimentação passiva e lenta da articulação pelo

avaliador.

Os animais não receberam sedação durante a coleta dos dados para permitir

a expressão normal de dor. O centro do goniômetro foi posicionado em cada eixo

articular durante as medidas. Os braços distais e proximais do goniômetro foram

posicionados nas marcações anatômicas selecionadas dos membros (Figura 2).

Figura 2 - Avaliação da amplitude de movimento articular usando o goniômetro

4.4.2 Avaliação da Circunferência do membro ou Perimetria

Foram avaliados no T0 e Tf os grupos musculares dos segmentos da coxa e

perna bilateralmente do membro pélvico, com intuito de analisar a massa muscular

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dos animais, verificando se houve ganho, manutenção ou perda da massa muscular,

antes e após a aplicação do Losartan. Foi utilizada uma fita métrica padrão

posicionado no ventre muscular do músculo avaliado. Tanto para a perimetria,

quanto para a goniometria foram realizadas três medidas consecutivas de cada

membro e achado a média. Para análise dos valores de goniometria e perimetria, os

dados do membro esquerdo e direito foram expressos em média e desvio padrão.

4.4.3 Biópsia muscular

A coleta dos fragmentos musculares foi retirada do ventre do músculo bíceps

femoral do membro pélvico, alternando o lado direito e esquerdo de cada um dos

cães (experimental e controle), antes de iniciar a terapia com o Losartan (tempo

inicial) e ao final do protocolo terapêutico (tempo final) com a finalidade de avaliar a

morfologia das fibras musculares dos cães tratados e do controle e também verificar

por meio de imuno-histoquimica a expressão do TGF-beta1 nos dois momentos da

avaliação. Foi realizado biópsia do tipo aberta e retirado um fragmento de 1x 2 cm²

(Figura 3). Após canulação venosa e fluidoterapia de manutenção, os animais foram

submetidos ao seguinte protocolo anestésico: associação Maleato de Acepromazina

+ Cloridrato de Tramadol (0,05 mg/kg e 2mg/kg, respectivamente) via intramuscular.

Anestesia local infiltrativa à base de Cloridrato de Lidocaina 2% sem vasoconstrictor

(7mg/kg) para incisão de pele, divulsão de tecido subcutâneo e fascia muscular. No

momento da coleta do fragmento muscular será administrado Propofol (2,5 mg/kg)

via intravenosa. No pós-operatório imediato foi utilizada Dipirona (25mg/kg) e

Carprofeno (2,2mg/kg), ambos via intravenosa. A analgesia mediata e de

manutenção foi conduzida a partir da utilização dos mesmos fármacos administrados

por via oral durante 3 a 5 dias. Foi utilizada antibioticoterapia à base de Cefalexina

(20mg/Kg) BID, por 7 dias.

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Figura 3 – A e B: Coleta do músculo bíceps femoral durante procedimento de

biópsia muscular

4.4.4 Protocolo Histológico – Morfometria

Os fragmentos musculares coletados a partir de biópsia aberta (T0 e Tf) de

cada animal foram incluídos em Paraplast, corados com Picrossírius para

identificação do colágeno entre as fibras musculares. Os fragmentos foram fixados

em paraformaldeido a 4% durante um período superior a 24 horas. Em seguida,

foram desidratados em série crescente de etanol (70 a 100%) para desidratação e

xilol para diafanização, utilizando-se procedimento convencional, para inclusão em

Paraplast® (Leica/Germany), confeccionando-se blocos retangulares com base de

3x4 cm.

Foram realizados cortes de 5μm em micrótomo (Leica RM 2065) para

obtenção das lâminas, e posteriormente desparafinizados em estufa a 60ºC por 2

horas. Utilizou-se a coloração de Hematoxilina e Eosina para análise estrutural e das

características histopatológicas do músculo distrófico, e a de Picrossírius para

identificação e quantificação das fibras colágenas musculares. As laminas foram

fotomicrografadas em Microscópio Olympus BX 60 acoplado a câmera Axio CAM

HRc, utilizando-se o software Zeiss® KS 400.

A B

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36

Para a quantificação do colágeno muscular, foram padronizadas 10 fotos de

cada corte de cada animal referentes aos dois tempos: T0 e Tf. Foram analisados

um corte em cada lâmina, com objetiva de 40x, que possui área total por campo de

149774 micrômetros quadrados (µm2). A área ocupada pelas fibras colágenas em

cada imagem foi mensurada por um programa de histomorfometria específico do

software Zeiss® KS 400. Os valores das áreas de colágeno obtidos nos 10 campos

de cada corte foram somados e em seguida foi calculada a porcentagem de

colágeno em relação à área total dos 10 campos (2246610,0 μm2). Os cálculos

foram feitos segundo a fórmula: (Somatório das mensurações) x (área total

analisada)-1 x 100 = porcentagem de fibra de colágeno por área.

4.4.5 Protocolos de Imuno-histoquímica (IHC)

Foram utilizados dois protocolos de imuno-histoquímica como mostrado

abaixo.

4.4.5.1 Protocolo Imuno-histoquimica (IHC) para o TGF-beta 1

Foi estipulado protocolo de imuno-histoquimica (IHC) para avaliação do TGF-

beta1 no músculo dos cães distróficos. Como o Losartan pode levar a inibição do

TGF-beta1, que por sua vez está relacionado com o aumento da fibrose,

pretendemos verificar através da imuno-histoquimica a resposta desse medicamento

na musculatura esquelética dos cães GRMD.

A imuno-histoquimica foi realizada em cortes histológicos de 5µm de

espessura, dispostos em lâminas previamente tratadas com poli-D-lisina. Depois de

desparafinizados, os cortes foram hidratados em TBS 5mM.Triton X-100 0,1%, TBS

5mM, pH 7,4 e tratados com H2O2 3% diluído em metanol para inativação de

peroxidase endógena. Em seguida, os cortes foram lavados com H2O destilada,

receberam TBS, TBS 5mM.BSA 0,1%, e depois tratados com hialuronidase diluída

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37

em tampão acetato para a recuperação do antígeno. Após estes procedimentos, os

cortes foram lavados com TBS 5mM.BSA 0,1% para em seguida receberem o soro

de cabra 40% diluído com TBS 5mM.BSA 0,1%. As lâminas foram incubadas com

anticorpo primário policlonal (rabbit anti TGF-β1 Imprint, 1:100) overnight a 4ºC, o

controle negativo não recebeu o anticorpo primário. Os cortes, inclusive o controle

negativo, foram incubados 2 h TA com anticorpo secundário (biotinylated goat anti-

rabbit, Jackson Immunoresearch) e em seguida com o complexo estreptavidina-

peroxidase (Jackson Immunoresearch 10μg/mL 1 h TA). As lâminas foram reveladas

com diaminobenzidina (DAB 0,05%- Dako) e contracoradas com Hematoxilina de

Mayer.

4.4.5.2 Protocolo Imuno-histoquimica (IHC) para a Distrofina

Cortes da espessura de 5µm foram fixados em laminas previamente

silanizadas. As laminas foram desparafinadas em estufa a 37ºC por 24 horas,

seguido de protocolo de desparafinização e desidratação em xilol e alcoóis. Foi

realizado bloqueio com peroxidase a 3% em álcool etílico absoluto. Seguiu-se a uma

lavagem em água destilada, e as laminas foram feridas em tampão citrato por 14

minutos em microondas na potência de 80%. Em seguida, deixou-se que as laminas

esfriassem dentro do próprio tampão e foram lavadas em agua destilada sob

agitação. Foi realizado bloqueio de proteínas inespecíficas com Protein Block (Dako)

por 45 minutos em câmara úmida. Retirou-se o excesso de Protein block e o

anticorpo primário DYS-1 (Novocastra) na diluição de 1:10 foi aplicado em apenas

um corte overnight, deixando outro como controle negativo (PBS) afim de avaliarmos

a eficácia do protocolo e descartamos os testes falso-positivos. No dia seguinte, as

laminas foram lavadas três vezes de cinco minutos com PBS, e o anticorpo

secundário vimentina-sptreptavidina (LSAB+-Dako) foi aplicado nos dois cortes de

cada lamina deixando-os reagir 45 minutos cada. A revelação foi realizada por kit

DAB+ (Dako), e as laminas coradas com hematoxilina e novamente desidratadas em

bateria de alcoóis e xilol.

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38

4.4.6 Pressão Arterial (P.A.)

A P.A foi aferida utilizando aparelho Doopler vascular portátil modelo DV2001,

antes de iniciar com o Losartan para se obter os valores iniciais do cão sem o

medicamento. Após dado início ao experimento a P.A foi aferida semanalmente

durante o primeiro mês, passando depois a ser aferida quinzenalmente. Caso fosse

verificado um quadro de hipotensão a dosagem do medicamento seria ajustada

(Figura 4).

Como valor normal de referência para P.A, considerou-se a pressão sistólica

entre 160-180 mm Hg (BROWN; HENIK, 1998).

Figura 4 - Aferição da P.A usando o Doppler 4.5 Exames laboratoriais

Foram realizados os exames de urina, hemograma e bioquímica.

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39

4.5.1 Exame de Urina A urina foi obtida por micção espontânea ou sondagem vesical. Cada amostra

de urina foi avaliada fisicamente quanto à cor, aspecto, odor e densidade; este

ultimo em refratômetro com limite Maximo de mensuração de 1,040. O exame

químico foi realizado pela imersão rápida de fita reagente especifica para urinálise

(Combur - 10®, Roche) e leitura contra padrão de cores estabelecido pelo

fabricante, depois de ocorrido um minuto. A sedimentoscopia foi realizada após a

amostra ser centrifugada a 200 g por 10 minutos (Centrifuga Excelsa Baby II,

Fanem), segundo técnica rotineiramente empregada pelo Laboratório de Análise

Clínicas do Departamento de Clínica Médica do Hospital Veterinário da Faculdade

de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

4.5.2 Hemograma, bioquímicas sérica e urinária Pela punção da veia cefálica, colheu-se aproximadamente 4 mL de sangue,

divididos em duas alíquotas. Uma foi acondicionada em tubo estéril contendo

anticoagulante ácido etileno diaminotetracético (EDTA) a 7,5 % (Vacuntainer®,

Becton Dickinson) para a realização de hemograma e contagem de plaquetas,

sendo feita lamina de esfregaço sanguíneo com sangue in natura no momento da

colheita. Outra alíquota foi transferida para o tubo de vidro siliconizado contendo gel

separador de soro (Vacuntainer SST®, Becton Dickinson), centrifugado a 1500 g

durante 15 minutos para obtenção do plasma sanguíneo, no qual foram avaliadas as

demais provas laboratoriais. Todos os exames foram processados pelo Laboratório

Clínico do Departamento de clínica Médica da FMVZ-USP.

Para contagem de hemácias, leucócitos e plaquetas foi utilizado aparelho de

uso veterinário (Contador hematológico modelo ABX Vet). O exame diferencial dos

leucócitos e avaliação morfológica das hemácias e leucócitos foram realizados em

esfregaços de sangue corados pelo método de Rosenfeld, observados em aumento

de 500 vezes em microscópio (modelo Jenamed 2 Carl Zeiss).

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40

As análises bioquímicas foram realizadas em analisador automático (Liasys,

Roche) utilizando “Kits” comerciais. Essas análises envolveram as determinações

das concentrações séricas de uréia, creatinina, alanina aminotransferase (ALT),

aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA), creatina quinase (CK),

gama-glutamil transferase (GGT), proteína total, albumina, cálcio, fosforo, sódio,

potássio e colesterol (Quadro 3).

Análises laboratoriais Parâmetros Analisados Urina Sangue Soro

Hemograma (hemo) -

Contagem total Hemoglobina Hematócrito Diferencial de leucócitos Contagem total de plaquetas

-

Perfil Hepático - -

Fosfatase Alcalina Alaninaminotransferase Aspartatoaminotransferase Creatina Quinase Proteína Total Albumina Bilirrubinas

Urinálise (urina)

Análise físico-química Sedimentoscopia

- -

Perfil Complementar - -

Uréia Creatinina Cálcio Fósforo Sódio Potássio Colesterol

Quadro 3 – Sumário dos parâmetros a serem analisados em correspondência com as análises laboratoriais

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41

4.6 Análise Estatística

A diferença entre as médias encontradas para os valores da Amplitude de

Movimento Articular e Perimetria dos animais distróficos tratados e do controle, foi

calculada através do teste t de Student. Estabeleceu-se grau de confiança de 95% e

os valores considerados estatisticamente diferentes para p value < 0,05.

A média (μm2) encontrada para cada um dos animais, em relação à área de

colágeno, foi comparada com a média do T0 e do Tf de cada animal e com a média

entre os animais. Foi utilizado Análise de Variância com intervalo de confiança de

95%.

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5 RESULTADOS

Os resultados foram divididos entre os do estudo piloto e do experimento.

5.1 Piloto

Durante estudo piloto com um dos animais distróficos (CH5), a dosagem

inicial usada nos dois primeiros meses do Losartan foi de 12,5mg (Outubro à

Novembro de 2007), tendo como referência o peso dos animais que é de

aproximadamente 20kg com a dosagem já estipulada em humanos. Como não foi

verificado efeito adverso que pudesse interferir no protocolo terapêutico a ser

implantado, após dois meses a dose foi aumentada para 25mg (durante período de

Dezembro à Janeiro de 2008), passando para 37,5mg (Fevereiro à Março de 2008),

até chegar a dosagem final de 50mg, que teve início em 19 de Março de 2008,

sendo avaliado um mês com essa dosagem (Março a Abril). Esse mesmo animal

usado no estudo piloto foi incluído no grupo experimental, sendo acompanhado

desde o início da dosagem de 50mg (Março de 2008) até completar seis meses do

tempo com o medicamento (Agosto de 2008), tempo que foi realizada a última

biopsia referente ao tempo final do experimento (Tf).

A pressão arterial (PA) foi aferida com intuito de verificar se esta mantinha

valores normais ou se mostrava valores inferiores ao normal, durante a aplicação do

medicamento, já que o Losartan por ser um vasodilator podia resultar na queda da

pressão arterial.

A pressão arterial antes de iniciar com Losartan foi aferida em dois dias

diferentes para se obter os valores de referencia daquele animal, obtendo valores de

13x10 mmHg e 12x90 mmHg respectivamente. Durante o primeiro mês de cada

mudança de dose, a PA foi aferida semanalmente, passando depois a ser feita

quinzenalmente. O mesmo critério foi feito para os exames laboratoriais: bioquímico,

hemograma completo (tabelas 1, 2 e 3) e urina.. Durante todo o tempo do

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experimento os valores da PA (sistólica) ficaram entre 13, 14 e 15 mmHg, não

apresentando valores que indicassem quadro de hipotensão.

Durante exame clínico realizado semanalmente, de acordo com ficha clinica

estipulado pelos médicos veterinários do Canil GRMD-USP, não foi observada

nenhuma alteração relevante que pudesse ser evidenciada pelo uso do Losartan,

justificando o aumento da dosagem.

As principais alterações no exame bioquímico observado nesse cão do estudo

piloto foram aumento nos valores de ALT, CK e AST. Os valores variaram de 452 a

19690 UI/L para CK, 151 a 299,9 UI/L para ALT e 139,7 a 512,4 UI/L para AST

(Gráficos 1, 2 e 3), tendo como base a variação normal dos valores de 10 a 200 de

CK, até 50 de ALT e até 40 de AST (Gráficos 1 a 3).

Gráfico 1- Concentrações médias de CK (U/L) do animal CH5 durante administração do Losartan. Outubro de 2007 a Abril de 2008

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Gráfico 2- Concentrações médias de ALT (U/L) do animal CH5 durante administração do Losartan. Outubro de 2007 a Abril de 2008

Gráfico 3- Concentrações médias de AST (U/L) do animal CH5 durante administração do Losartan. Outubro de 2007 a Abril de 2008

Os valores de potássio, uréia e creatinina se mantiveram com média entre 4,5

e 5,9 mEq/l, 25,8 a 51,2 mEq/l e 0,73 a 1,1mg/ dl respectivamente, tendo como base

a variação normal dos valores de 3,8 a 5,2 de potássio, 40 de uréia e 1,5 a 2,0 de

creatinina (Gráficos 4 a 6).

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Gráfico 4- Concentrações médias de Potássio mEq/l do animal CH5 durante

administração do Losartan. Outubro de 2007 a Abril de 2008

Gráfico 5- Concentrações médias de Uréia mEq/l do animal CH5 durante administração do Losartan. Outubro de 2007 a Abril de 2008

Gráfico 6- Concentrações médias de Creatinina mg/ do animal CH5 durante administração do Losartan. Outubro de 2007 a Abril de 2008

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Tabela 1- Média e Desvio padrão dos exames de bioquímica do cão CH5 no tempo zero e ao longo do estudo piloto

*Valores de referencia para cães adultos. Laboratório de patologia clinica- HOVET- USP

Creat: Creatinina; Ptns. t.: proteínas totais; Album.: Albumina; CK: creatina quinase; AST :aspartato aminotransferase ; Ca: cálcio; P: fósforo; Na: sódio; k: potássio

Tabela 2- Média e Desvio padrão dos exames de Leucograma e contagem de plaquetas do

cão CH5 no T0 e ao longo do estudo piloto

*Valores de referencia para cães adultos. Laboratório de patologia clinica- HOVET- USP Leuc: Leucócitos ; Segm: segmentados; Eos: eosinófilos; Bas: basófilos; Linf tip.: linfócitos típicos; Mon.: monócitos

Tabela 3- Eritrograma do cão CH5 durante T0 e ao longo do estudo piloto

*Valores de referencia para cães adultos. Laboratório de patologia Clinica- HOVET- USP

Hm: Hemácia; Ht: hematócrito; Hb: hemoglobina; VCM: volume corpuscular médio; HCM: hemoglobina corpuscular média; CHCM: concentração de hemoglobina corpuscular média.

Uréia (mg/dL)

Creat. (mg/dL)

Ptns t. (g/dL)

Album (g/dL)

CK (UI/L)

AST (UI/)

Ca (mg/d)

P (mg/dL)

Na (mEq/L)

K (mEq/

L)

Média 39,5 0,9 6,2 3,2 7828,4 271,9 10,2 4,4 146,2 5

Desvpad 7,2 0,1 0,4 0,3 4473,7 101,6 0,7 0,7 3 0,3

Valores referência* Até 40 Até 1,5-

2,0 5,5-8,5 2,7-4,6

10-200

Até 40

7,5-11,3

2,1-6,3 135-145 3,8-

5,2

Leuc. (µL-1)

Segm. ( µL-1)

Eos.( µL-1)

Bas.( µL-1)

linf tip.( µL-1)

Mon. ( µL-1) Plaquetas

Média

12576,9

7660,4 940,8 0 3070,2 480,5 544076,9

Desvpad 2738,5 2881,1 524,7 0 777,5 232,1 45657,8 Valores

referência* 6000-15000

3000-11800 0-750 raros 1500-

5000 0-800 200-500mil

Hm (x 106 µl)

Ht (%)

Hb (g/dL)

VCM (µm3)

HCM (µm3)

CHCM (%)

Média 5,1 36,8 12,5 72 24,3 33,8

Desvpad 0,3

2,1 0,7 2,8 0,9 0,9

Valores referência*

5,0-8,0 37-54 12,0-18,0

60,0-77,0 22,0-27,0 31,0-36,0

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5.1.1 Exame de urina

Durante exames de urina do estudo piloto, o animal apresentou na maioria

deles proteinúria e hemoglobinúria à administração do Losartan. Não se observou

alterações quanto à presença de glicose, corpos cetônicos, urobilinogênio na urina

(Tabela 4).

No exame do sedimento urinário, a descamação das vias urinarias foi vista na

maioria dos exames realizados, enquanto os cristais urinários estavam presentes em

quatro dos exames avaliados, apresentando fosfato triplo. A contagem de hemácias

apresentou valores entre 0 e 25 e os leucócitos entre 0 e 17. Quanto a presença de

bactérias, todos os exames apresentaram pelo menos uma cruz (+) durante os

quinze exames avaliados (Tabela 5).

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Tabela 4- Exame de urina tipo I do cão piloto CH5 de acordo com as semanas de tratamento com o Losartan

Densid: Densidade; Amar: amarelo; Ptns :proteinas ; Corp cet: corpos cetonicos; Urobilin:urobilinogênio; pig biliar: pigmento biliar; Hb: hemoglobina

Exame de Urina

Semanas Odor

Aspecto

Cor

Ph

Densid.

Ptns.

Glicose

Corp cet.

Urobilin.

pig biliar

Hb

0 sui gen Turvo amar citr 8 1042 + - - - - ++

1 sui gen Límpido amar ouro 8,5 1046 - - - - + -

2 sui gen Turv amar ouro 7,5 1047 + - - - ++ +++

3 sui gen lig turv amar ouro 7,5 1045 + - - ´ ++ +

4 sui gen Turvo amar ouro 8,5 >1050 + - - - + -

6 sui gen lig turv amar ouro 8 1047 - - - - ++ -

8 sui gen Turv amar ouro 7,5 >1050 + - - - +++ ++

10 sui gen Lig turvo amar ouro 7 >1050 + - - - ++ -

12 sui gen Turvo Amar 8 1045 + - - - - -

Ouro

14 sui gen Turvo Amar ouro 8,5 1050 + - - - ++ ++

16 Aliaceo Turvo Amar citr 6 1050 + - - - - +

18 Aliaceo Lig turvo Amar ouro 8 >1050 + - - - - (+)

20 sui gen Lig turvo Amar ouro 7 >1050 + - - - ++ +++

22 Sui gen Turvo

Amar ouro 7,5 >1050 + - - - ++ +++

24 Sui gen Lig turvo

Amar ouro 8,5 1043 + - - - + +++

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Tabela 5- Exame de sedimento urinário do cão piloto CH5 de acordo com as semanas de tratamento com o Losartan

Sedimento urinário

Semanas

Hm

Leuc.

Ept ren.

Pelv ren.

Desc v. u.

Trans bex.

Cristais

Gran.

Hial.

Cer.

Bact.

0 20-25 13 a 17

- (+) + - - - - - (+)

1 0 a 2 0-2 - - Raras - - - - - (+)

2 20 a 25

13 a 17

+ + + - - - - - +

3 2 a 4 6 a 8 + + (+) - - - - - (+)

4 0-2 8 a 10 + ++ + - Fosf tripl +

- - - (+)

6 0-2 6 a 8 (+) - (+) - - - + - (+)

8 8-10 2-4 - - (+) - - - - - +

10 0-2 4-6 - (+) + - - - - - +

12 0-2 2-4 - + (+) - - - - - +

14 8-10 4-6 ++ + + - Fosf tripl+ - - - +

16 6-8 0-2 - + Raras (+) - - - - (+)

18 6-8 8-10 - - (+) - Fosf.tripl++

- - - (+)

20 13-17 2-4 + + + - Fosf tripl+ - - - +

22 20-25 2-4 (+) - + - - - - - +

24 8-10 6-8 - (+) + - - - - - (+)

Hm: Hemácias; Leuc: leucócitos; Ept ren: epitélio renal; Pelv ren: pelve renal; Desc v.u: descamação de vias urinárias; Trans bex: transição da bexiga; Gran: cilindros granulosos; Hial: cilindros hialinos; Cer cilindros céreos; Bact: bactérias.

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5.2 Experimento

Depois de finalizado o estudo piloto, foi dado início ao experimento com os

quatro animais em Maio de 2008.

O animal CH5 recebeu o Losartan durante seis meses (Março a Agosto de

2008) sendo avaliado o segundo e sexto mês com o Losartan (Biopsias feitas em

Maio e Agosto de 2008), os animais 3H6 e o 3H10 receberam Losartan por quatro

meses (Maio a Setembro de 2008) e o animal 1X1 recebeu o Losartan por dois

meses (Maio a Julho de 2008).

Foi realizado uma biopsia no T0, antes de iniciar com medicamento e no Tf de

cada um dos animais, a fim de avaliar a morfologia das fibras musculares e também

verificar por meio de imuno-histoquimica a expressão de TGF-beta 1 nesses dois

tempos. Foram também realizados os exames laboratoriais (bioquímico, hemograma

completo), aferição da P.A, avaliação de perimetria, goniometria e quantificação do

colágeno.

5.2.1 Exame clínico

Para avaliação semanal dos cães foi utilizada a ficha clinica padronizada

pelos Médicos Veterinários do Canil GRMD – USP (Figura 1). Cada animal possui

uma ficha individual, onde são avaliados: estado nutricional, temperatura retal,

auscultação cardiopulmonar, palpação abdominal, avaliação de mucosas e palpação

de linfonodos, de modo a identificar eventuais efeitos adversos do uso da droga e,

também, com o objetivo de acompanhar a evolução clínica da doença nos cães

tratados.

Durante o experimento, não foi observada nenhuma alteração relevante que

pudesse ser evidenciada pelo uso do Losartan.

A aferição da pressão arterial dos animais foi realizada antes de iniciar o

tratamento com o Losartan (T0) para verificar os valores de referência de cada

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animal e durante uso do medicamento, sendo os dois primeiros meses avaliados

quinzenalmente e os meses seguintes mensalmente. Foram obtidos três valores

(sistólica) e feito a média para cada tempo (Quadro 4).

Como valor normal de referência para P.A, considerou-se a pressão sistólica

entre 160-180 mm Hg (BROWN; HENIK, 1998).

CH5 2L2

(controle)

3H6 1X1 3H10

T0 13 /14/15 19/20/20 20/20/20 18/19/19 15/15/15

10

mês/quinzena1

14/15/15 18/21/21 18/18/18 16/16/16 21/22/22

10

mês/quinzena2

15/15/16 18/18/18 21/22/22 20/21/21 18/18/18

20

mês/quinzena1

18/18/18 19/19/20 19/19/20 18/18/19 14/14/15

20

mês/quinzena2

15/15/16 19/20/20 15/16/16 19/19/20 22/22/24

30 mês 14/15/16 20/21/20 17/18/20 * 17/18/18

*óbito

Quadro 4- Valores da P.A dos animais nos T0 e Tf.

5.2.2 Exames de sangue

As principais alterações no exame bioquímico observado nesses cães foram

aumento nos valores de ALT, CK e AST, quando comparados aos valores de

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referência para cães normais adultos, embora em cães distróficos esses valores já

estejam aumentados, como mostrados também no animal piloto.

Os valores de CK variaram de 5893 a 10586,2 UI/L para o animal 2L2; 1254 a

26749,6 UI/L para 3H10; 5674,5 a 15034,4 UI/L para 3H6; 1858,2 a 18846 UI/L para

1X1 e 5360,6 a 19690 UI/L para CH5.

Os valores de ALT variaram de 255,1 a 371,8 UI/L para 2L2; 298,9 a 402,9

UI/L para 3H10; 258,1 a 422, 1 UI/L para 3H6; 255,8 a 636, 4 UI/L para 1X1 e 158,8

a 299,9 UI/L para CH5.

Os valores de AST variaram de 144,7 a 230, 4 UI/L para 2L2; 186,8 a 606,3

UI/L para 3H10; 155,2 a 326,6UI/L para 3H6; 63,4 a 495,4 UI/L para 1X1 e 163,3 a

423 UI/L para CH5.

As tabelas a seguir mostram a variação mensal dos parâmetros de bioquímica

sérica e hemograma dos cães GRMDs durante o período com o Losartan e também

do animal controle, além dos valores de referência para animais normais adultos

(Tabelas 6 a 9).

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Tabela 6 - Média ± Desvio padrão dos exames de bioquímica dos cães 2L2 (controle), 3H10, 3H6 e 1X1 ao longo do tempo de tratamento com o Losartan

Animais Ureia (mg/dL)

Creat (mg/dL)

Ptns.t (g/dL)

Album

(g/dL)

CK (UI/L)

AST (UI/L)

ALT (UI/L)

2L2 50,5±13,

1

0,9±0,1 6,8±0,

4

3,4±0,

1

8763,3±1911,6 184,5±31,3 299,6±38,

2

3H10 34,3±8,3 0,7±0,1 6,6±0,

8

3,4±0,

3

12575,7±7712,6 363,6±147,

1

404,3±16

2

3H6 36,1±6,7 0,7±0,2 6,3±0,

1

3,2±0,

2

17633,2±22988,

3

221,4±69,3 325,6±62,

2

CH5 34,8±7,6 0,8±0,0

7

6,4±0,

3

3,2±0,

1

11772,7±3946,6 310,7±79,7 249,6±45,

4

1X1 32,3±3 0,8±0,1 6,5±0,

7

3,3±0,

5

10577,4±6769,1 311,4±188,

8

467,9±15

9

valores referência*

Até 40 Até 1,5-

2,0

5,5-8,5 2,7-4,6 10-200 Até 40 Até 50

*Valores de referencia para cães adultos. Laboratório de patologia Clinica- HOVET- USP Creat: creatinina; Ptns. t: proteínas totais; Album: albumina; CK: creatina quinase; AST: aspartato aminotransferase; ALT: alanina aminotransferase .

Tabela 7- Média ± Desvio padrão dos íons dos exames de bioquímica dos cães 2L2

(controle), 3H10, 3H6 e 1X1 ao longo do tempo de tratamento com o Losartan

Animais Cálcio (mg/dL) Potássio (mEq/L)

Fósforo ( mg/dL) Sódio (mEq/L)

2L2 10,1±0,8 5,2±0,3 5,2±0,6 148,2±2,8

3H10 10,1±1 5±0,2 4,9±0,7 145,7±2,7

CH5 10,2±0,9 5±0,3 4±0,7 146,5±3,5

3H6 9,9±1,4 5,4±0,1 5,2±0,8 145±2,1

1X1 9,6±0,6 5±0,1 4,9±0,9 146,4±2,8 valores referência*

7,5-11,3 3,8-5,2 2,1-6,3 135-145

*Valores de referencia para cães adultos. Laboratório de patologia Clinica- HOVET- USP Ca: Cálcio; K: potássio; P: fósforo; Na: sódio.

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54

Tabela 8- Média e Desvio padrão dos exames de Leucograma dos cães 2L2 (controle), 3H10, 3H6 e 1X1 ao longo do periodo de tratamento com o Losartan

Animais Leuc (µL) Segm (µL) Eos (µL) Linf.Tip (µL) Mon (µL)

2L2 19850±2639,3 13826,5±2420,1 586,4±237,4 4660,1±842 752,6±348,4

3H10 16000±850,2 9122,1±867,5 1242±496 5373±1151,9 261,151,3

CH5 13400±1796,2 7562,9±3055,9 1003±477 3275±789 470±264

3H6 18125±2149,9 10783,8±2269,5 1334±239 5477,8±792,9 509,3±185,8

1X1 19250±3985,3 13154,7±4210,9 569,7±493,6 9455,8±10449,9 569,8±460,2

valores referência*

6000-15000 3000-11800 0-750 1500-5000 0-800

*Valores de referencia para cães adultos. Laboratório de patologia Clinica- HOVET- USP Leu: Leucócitos; Neut: neutrófilos; Segm: segmentados; Eos: eosinófilos; Linf tip: linfócitos típicos; Mon: monócitos.C

Tabela 9- Média e Desvio padrão dos exames de Eritograma dos cães 2L2 (controle), 3H10, 3H6 e 1X1 ao longo do periodo de tratamento com o Losartan

Animais Hm

(x 106 µl) Ht

(%)

Hb (g/dL)

VCM (µm3)

HCM (µm3)

CHC (%)

2L2 5,4±0,3 37,8±1,7 13,1±0,7 69,1±4,2 24,4±0,6 34,7±0,9

3H10 5,6±0,4 39,8±2,4 13,8±0,9 68,3±1,4 23,6±0,9 34,6±0,8

CH5 5,7±0,3 37,7±1,8 12,8±0,8 70,4±1,5 23,9±0,5 34±1

3H6 5,6±0,4 39,8±2,4 13,8±0,9 71,6±1 24,9±0,5 34,7±0,8

1X1 6,0±0,3 40,8±1,8 14,3±1,1 68,4±0,9 23,9±0,6 34,9-1,1

valores referência*

5,0-8,0 37-54 12,0-18,0 60,0-77,0 22,0-27,0 31,0-36,0

*Valores de referencia para cães adultos. Laboratório de patologia Clinica- HOVET- USP Hm: Hemácias; Ht: hematócrito; Hb: hemoglobina ; VCM: volume corpuscular médio; HCM: hemoglobina corpuscular média; CHCM: concentração de hemoglobina corpuscular média.

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55

5.2.3 Morfologia da fibra muscular Antes de iniciar a oferta do medicamento foi realizada biopsia para avaliar a

morfologia das fibras musculares, bem como verificar mediante a técnica de imuno-

histoquimica a expressão de TGF-beta 1 e da distrofina dos cinco animais.

A análise histológica do músculo distrófico revela um padrão difuso da

patologia caracterizado pela degeneração, sendo possível identificar áreas de

infiltração de células inflamatórias com substituição por tecido adiposo e conjuntivo

(Figura 6-B).

Diferente do músculo esquelético normal, no qual as fibras musculares são

relativamente de tamanho homogêneo, uniformemente espaçadas e angulares, com

os núcleos localizados na periferia da célula (Figura 6-A), os cortes histológicos do

músculo distrófico apresentam variação no tamanho e formato das fibras, com

alguns núcleos localizados no centro das mesmas (Figura 6B).

A morfologia das fibras musculares antes de iniciar o tratamento com o

Losartan apresentava-se mais desorganizada e com maior quantidade de tecido

fibroso ao redor das fibras (Figura 6-C). Após o Tf pode-se observar, em um dos

cães estudados, uma melhor organização das fibras musculares e menor quantidade

de tecido conjuntivo ao seu redor (Figura 6-D).

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56

Figura 6- Fotomicrografia de músculo bíceps femoral. A: músculo de cão sadio evidenciando arquitetura muscular organizada com núcleos localizados na periferia das fibras (*). B: músculo de cão distrófico com fibras de diferentes diâmetros (►), infiltrado inflamatório (→) e núcelos centrais (*). C: músculo de cão distrófico em T0. Fibras desorganizadas com presença de processo inflamatório infiltrativo (→) e significante deposição de tecido conjuntivo (c). D: biopsia no Tf. As fibras estão mais organizadas e com menos infiltrados inflamatórios (→) e tecido conjuntivo (c). Coloração: HE, aumento: A e B: Barra = 50µm; C e D: Barra = 25µm

5.2.4 Quantificação do Colágeno Os valores obtidos após a mensuração da área do colágeno nos cortes

microscópicos da musculatura esquelética dos cinco animais GRMD, sendo um

desses animais utilizado para controle, foram descritos em forma de porcentagem

em relação à medida do campo total.

O percentual de colágeno no Tf foi estatisticamente menor do que o T0,

quando comparado esses dois tempos em cada animal e quando comparado os

resultados entre os diferentes animais (Tabela 10).

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57

Tabela 10- Porcentagens da área de colágeno muscular em relação à área muscular total

para cada um dos animais distróficos no T0 e Tf expressos em %

T0 Tf 2L2 (controle) 15,7 12,2 CH5 5,5 3,3 3H6 5,4 0.9 3H10 23 12 1X1 15,7 12.2

teste... considerando p < 0.05

As figuras abaixo ilustram cortes transversais corados com picrossírius e

fixados em Bouin, que caracterizam a coloração amarelada das fibras musculares, e

o colágeno aparece em vermelho (Figura 7).

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58

Figura 7 – Fotomicrografia de músculo bíceps femoral. A: músculo de cão distrófico (CH5), corado com coloração de Picrossírius, evidenciando colágeno em região de endomísio e perimísio (→). B: Fotomicrografia polarizada desse mesmo cão. C: cão distrófico (3H6) no T0, evidenciando maior presença de tecido conjuntivo (→). D: cão 3H6 no Tf com menor deposição de tecido conjuntivo (→). Barra= 25µm

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59

5.2.5 Imuno-histoquimica (IHC)

O protocolo de IHC para avaliação do TGF-beta1 foi estabelecido

primeiramente no animal do estudo piloto. Foram feitos cortes de fragmentos do

músculo bíceps femoral, coletados dos membros pélvicos direito e esquerdo,

alternadamente, nos momentos T0 e Tf do tratamento com Losartan, para analisar a

expressão do TGF-beta1 na musculatura esquelética dos cães GRMDs.

Ao analisar as imagens dos animais do grupo experimental no T0, observa-se

que existe uma maior marcação do TGF-beta1 quando comparado com o Tf.

Observa-se que as regiões ao redor das fibras musculares, onde há presença de

colágeno, são bastante marcadas, porém, nota-se também a presença do TGF-

beta1 em regiões de endomísio e perimísio.

As imagens mostram na seqüência a marcação do anticorpo TGF-beta1 no

músculo esquelético distrófico dos cães controle e tratados com Losartan (Figuras 8

e 9).

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60

Figura 8- Imuno-histoquímica para localização do TGF-beta1 em cortes transversais do músculo bíceps femoral. A: controle negativo, barra = 25µm. B: controle negativo, aumento 40x. C: T0 do cão distrófico- controle (2L2). D: Tf. E: T0 do cão distrófico (1X1) evidenciando a marcação do TGF (em marrom) em endomísio (*) e tecido conjuntivo (→). F: Tf. Barra = 25 µm

*

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61

Figura 9- Imuno-histoquímica para localização do TGF-beta1 em cortes transversais do músculo bíceps femoral. A: T0 do cão distrófico (CH5). B: Tf. C: T0 do cão distrófico (3H10). D: Tf. E: T0 do cão distrófico (3H6. F: Tf. Barra = 25µm

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62

Os mesmos cortes de fragmentos do músculo bíceps femoral retirados para a

IHC do TGF-beta1 foram utilizados para analisar a expressão da distrofina na

musculatura esquelética dos cães GRMDs.

Ao analisar as imagens abaixo dos animais do grupo experimental no T0 e no

Tf e do animal controle não foi possível observar marcação para proteína distrofina.

Diferente do músculo de um animal normal onde essa proteína está presente

(Figuras 10 e 11).

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63

Figura 10- Imuno-histoquímica para localização da distrofina em cortes transversais do

músculo bíceps femoral. A: cão sadio, evidenciando a marcação da distrofina (em marrom) na periferia da membrana sarcoplasmática das fibras. B: controle negativo. C: T0 do cão controle (2L2). D: Tf. E: T0 do cão 1X1. F: Tf. Barra = 25µm

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64

Figura 11- Imuno-histoquímica para localização da distrofina em cortes transversais do músculo bíceps femoral. A: T0 do cão CH5. B:Tf. C: T0 do cão 3H10 D: Tf. E: T0 do cão 3H6. F: Tf. Barra = 25µm

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65

5.2.6 Avaliação da Amplitude de movimento articular ou Goniometria Foram descritos os valores em graus da Amplitude de Movimento (ADM)

máxima de flexo-extensão das articulações do cotovelo, carpo, joelho e tarso, antes

de iniciar o experimento (T0), e, após o período de administração do Losartan, assim

como do animal controle.

O animal 1X1 não pôde ter seus dados de goniometria e perimetria avaliados,

pois foi a óbito antes de realizar a última avaliação, devido à própria evolução da

doença.

Os valores obtidos da avaliação da ADM dos três animais distróficos (3H6, 3H10 e

CH5) no T0 foram comparados com a média dos valores da ADM de cada animal no

seu Tf (sendo o animal CH5 com dois e seis meses de tratamento, os animais 3H10

e 3H6 com quatro meses de uso do Losartan) (Figuras 12 a 16).

Não foi encontrada diferença significativa entre as médias das articulações do

joelho, tarso e carpo, dos animais distróficos durante o T0 e o Tf (p > 0,05).

Figura 12- Médias das ADM das articulações do cotovelo, carpo, joelho e

Tarso do animal controle 2L2

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66

Figura 13 - Médias das ADM das articulações do cotovelo, carpo, joelho e tarso do

animal CH5 nos tempos zero e com dois meses de losartan

Figura 14- Médias das ADM das articulações do cotovelo, carpo, joelho e tarso do

animal CH5 nos tempos zero e com seis meses de losartan

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67

Figura 15- Médias das ADM das articulações do cotovelo, carpo, joelho e tarso do

animal 3H10 nos T0 e Tf

Figura 16- Médias das ADM das articulações do cotovelo, carpo, joelho e tarso do

animal 3H6 nos T0 e Tf

5.2.7 Circunferência do membro ou Perimetria

Foram avaliados, os grupos musculares dos segmentos do membro torácico

(braço e antebraço) e do membro pélvico (coxa e perna), bilateralmente de todos os

animais.

Os valores obtidos da avaliação da perimetria dos quatro animais distróficos

no T0 foram comparados com a média dos valores da perimetria de cada animal no

seu Tf. O animal CH5 foi avaliado em dois diferentes tempos: com dois e seis meses

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68

de tratamento mediante biopsias realizadas com 2 meses e no final de 6 meses de

tratamento. Os animais 3H10 e 3H6 foram avaliados com quatro meses de uso do

Losartan (Figuras 17 a 21).

Não foram encontradas diferenças significativas entre as médias dos

segmentos do braço, antebraço, coxa e perna dos animais distróficos durante o T0 e

o Tf (p > 0,05).

Figura 17 - Médias da perimetria dos músculos do braço, antebraço, coxa e perna respectivamente, do animal controle 2L2

Figura 18 - Médias da perimetria dos músculos do braço, antebraço, coxa e perna respectivamente, do cão CH5 nos tempos zero e com dois meses de Losartan (Tf)

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69

Figura 19 - Médias da perimetria dos músculos do braço, antebraço, coxa e perna

respectivamente, do cão CH5 nos tempos zero e com seis meses de Losartan (Tf).

Figura 20 - Médias da perimetria dos músculos do braço, antebraço, coxa e perna

respectivamente, do cão 3H10 nos T0 e Tf

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70

Figura 21 - Médias da perimetria dos músculos do braço, antebraço, coxa e perna

respectivamente, do cão 3H6 nos T0 e Tf

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71

6 DISCUSSÃO

Nesse estudo foi avaliado o efeito do Losartan, como função de inibidor do

TGF-beta 1, sobre o desenvolvimento da fibrose na musculatura esquelética do

modelo canino GRMD.

Observando os resultados encontrados entre os grupos de animais

experimentais e o controle, nota-se que os exames laboratoriais e clínicos (pressão

arterial) se mantiveram com valores bem aproximados.

Os valores da pressão arterial dos animais experimentais durante o estudo se

mostraram relativamente iguais aos valores do tempo zero, não sendo constatado

quadro de hipotensão referente ao uso do Losartan.

Os exames de bioquímica sérica dos animais distróficos de ambos os grupos

experimental e controle, mostraram aumento nos níveis séricos das enzimas CK,

ALT e AST quando comparados aos mesmos valores em animais normais. O

aumento dessas três enzimas está associado às lesões hepáticas, do músculo

esquelético e do miocárdio (VALENTINE et al., 1990). Segundo Anderson (1982) e

Walton (1988), em decorrência das anormalidades estruturais e funcionais da

membrana celular, ocorre um aumento de enzimas séricas em pacientes portadores

de distrofias. A dosagem dos níveis dessas enzimas, principalmente da CK é

utilizada no diagnostico da DMD e também no diagnóstico diferencial entre as

formas de distrofias musculares progressivas. Elevadas concentrações destas

enzimas são realmente notadas na deficiência da distrofina em camundongos mdx,

cães GRMD e humanos, devido à destruição do sarcolema.

Embora o decréscimo nos níveis séricos de CK ofereça evidências

bioquímicas e funcionais de uma melhora da função muscular nos cães GRMD

(BOGDANOVICH et al., 2002), tanto nos achados de Cohn et al. (2007) quanto na

nossa pesquisa, não houve relação do Losartan com descréscimos nos níveis de

CK. Como os valores das enzimas já estavam altos antes de iniciar o tratamento

com o Losartan e mantiveram altos no animal controle, desta forma, o Losartan na

dose estipulada para estes animais, não interferiu nos níveis, já elevados, de CK,

ALT e AST.

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72

O tratamento com Losartan, pelo fato de ser um inibidor de angiotensina, está

relacionado com a queda nos níveis de aldosterona. Portanto, os pacientes podem

apresentar aumento nos níveis de potássio, uréia e creatinina. Porém, em pacientes

hipertensos com função renal normal, o aumento desses valores foi irrelevante

(MAZZOLAI; BURNIER, 1999).

Durante o estudo, os animais mantiveram esses valores dentro dos

parâmetros de normalidade. Apenas um animal apresentou pico do valor do potássio

durante um curto intervalo de tempo, logo retornando aos valores normais.

Segundo Goa (1996), a função renal está preservada durante administração

do Losartan em humanos. A freqüência de filtração glomerular, o fluxo sanguíneo

renal, o volume urinário ou outros parâmetros renais não foram alterados em

paciente normais recebendo dosagem única de 100 mg, assim como em pacientes

com hipertensão, os quais receberam 50 mg do Losartan diariamente, por períodos

de sete dias a um ano.

Em pacientes com disfunção renal a excreção da creatinina também não foi

alterada durante a terapia com Losartan durante 1 a 12 semanas. A excreção dos

eletrólitos urinários (incluindo o sódio e potássio) em indivíduos normaisapresentava-

se aumentada ou inalterada, enquanto que a uricosuria era normal.

Nos exames de urina, o animal do estudo piloto apresentou proteinúria

moderada em todos os exames realizados. Segundo Bush (2004) esses resultados

podem ocorrer na insuficiência renal, estresse, doenças infecciosas e na hematúria.

A hemoglobinúria estava presente na maioria dos exames deste cão, a qual poderia

estar relacionada às hemácias lisadas. Assim como a descamação presente nas

vias urinárias durante os exames, a hemoglobinúria pode ser explicada também pela

forma de colheita utilizada, ou seja, a cateterização.

Em relação às investigações histopatológicas do músculo, observamos no T0,

que as fibras musculares não apresentam-se uniformemente espaçadas,

relativamente do mesmo tamanho como aquelas encontradas no músculo

esquelético normal, tais quais as relatadas por Erazo- Torricelli (2004). Elas estavam

hipertrofiadas ou atrofiadas, apresentando um formato mais arredondado, seguidas

de concomitante heterogeneidade do diâmetro das mesmas. Este achado soma-se

aos relatos de Milhorat et al. (1966) e Valentine et al. (1986).

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73

Para Valentine et al. (1990) investigações histopatológicas nos músculos de

cães GRMD revelam necrose precoce de fibras, e regeneração associada com

fibrose endomisial e perimisial. Disto resulta severa miopatia, similar ao processo

que ocorre na DMD. A infiltração de neutrófilos e macrófagos aparece no interior das

fibras musculares necrosadas, e, ao redor de vasos sanguíneos, ilustrando a

penetração destas células no tecido muscular.

O aumento do tamanho da fibra muscular se deve a um mecanismo

compensatório tardio para mitigar a perda funcional das fibras nesses cães GRMD

(PASSERINI et al; 2002). De acordo com Nguyen e colaboradores (2002), as fibras

de músculos distróficos apresentam núcleo central indicando estagio tardio de

regeneração, juntamente com áreas de fibrose endomisial.

Foi possível observar em um animal desse estudo mediante técnica

histológica do músculo esquelético, que após o tratamento com o Losartan (Tf) foi

verificada melhora na organização das fibras musculares, como demonstrado em

imagem do músculo esquelético.

Em termos de degeneração miopática, o modelo GRMD é o que mais se

assemelha a DMD, e também o mais indicado para desenvolvimento de testes

terapêuticos, como alternativa para a doença em humanos. O estudo do processo

de formação de fibrose nestes animais é importante, uma vez que a restauração da

função da distrofina em DMD só se torna possível com o controle efetivo da fibrose

(PASSERINI et al., 2002).

De acordo com Valentine et al. (1990) o desenvolvimento gradual da fibrose

endomisial e perimisial é uma característica comum de humanos e cães do modelo

GRMD, porém ausente no camundongo mdx. Os autores sugerem que o aumento

do colágeno intersticial pode interferir no metabolismo muscular normal resultando

em uma regeneração anormal e diminuindo a perfusão vascular, re-inervação e

ainda, impor restrições mecânicas.

Em alguns cortes histológicos foi possível identificar no perimísio muscular a

presença de fibroblastos entremeados à um tecido conjuntivo abundante, indicando

a importância destas células na fisiopatologia da distrofia muscular, uma vez que

temos a substituição do músculo lesado pelo tecido fibroso constituído por fibras

colágenas.

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74

No presente trabalho, foi estudada a fibrose a partir da quantificação das

fibras colágenas no tecido muscular e pela expressão do TGF-beta1 em nível

molecular e suas correlações.

Comparando a quantidade, em porcentagem, de tecido fibroso durante o T0 e

Tf, podemos observar uma diminuição na média entre o tempo antes e após o

tratamento com Losartan em todos os cães experimentais, inclusive o controle, o

que dificulta afirmar que o Losartan tenha conseguido inibir o TGF-beta1 que por sua

vez, diminuiu a proliferação de tecido conjuntivo na musculatura esquelética.

Cohn et al. (2007) comparando camundongos mdx tratados e não tratados

com Losartan durante 6-9 meses, observaram um decréscimo na deposição do

colágeno no diafragma.

É importante lembrar que durante este estudo, cuidados especiais foram

tomados em relação à quantificação de colágeno, para excluir as áreas que

representassem artefatos e pudessem assim confundir com as áreas de fibrose.

Embora a fibrose não seja evidenciada no primeiro mês de vida dos cães

distróficos, as anormalidades encontradas na musculatura tais como fibras

hipercontraturadas, macrófagos antes do nascimento, ou seja, este microambiente

patológico podem contribuir para a síntese e ativação dos fatores fibrogênicos, tais

como os TGF-beta1 (PASSERINI et al; 2002).

Embora todos os músculos dos cães distróficos apresentem deficiência de

distrofina, os níveis de fibrose e a capacidade de regeneração e função variam entre

os animais, sugerindo que a ausência de distrofina é necessária, porem não

suficiente para determinar o padrão de extensão da fibrose (ANDERSON et al. 1988;

PORTER et al. 2003). Esse dado justifica a variação do grau de fibrose encontrada

entre os cães do estudo.

Para avaliar o importante papel do TGF-beta1 na dosagem do colágeno

nesse estudo, procuramos neutralizar a via do TGF-beta1 através da administração

do Losartan.

Estudos demonstraram que o TGF-beta1 está significantemente mais

expresso no músculo de pacientes distróficos do que em controles, estando

relacionado o grau de fibrose muscular com a idade do paciente (BERNASCONI et

al; 1995).

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75

Esse mesmo autor mostrou que a extensão da marcação positiva da imuno-

histoquimica para o TGF-beta1 varia de animal para animal, dado esse também

encontrado nesse estudo. Embora mostrado no estudo de Passerine et al. (2002),

que os tecidos conectivos perimisial e endomisial marcados para o TGF-beta1 foi

mais evidente na fase inicial da doença, ele afirma que uma nova onda de síntese e

ativação do TGF-beta1 pode ocorrer em adultos, possivelmente agindo para

sustentar a fibrose presente na fase mais tardia, como ocorre nos cães desse

estudo.

Porém, diferente dos achados de Passerine et al. (2002), os quais mostraram

níveis de TGF-beta1 em GRMD adultos semelhantes aos cães normais, este estudo

mostrou que a marcação de TGF-beta estava presente e aumentada nos cães

GRMD adultos em estagio avançado de fibrose, suportando a idéia de que essa

citocina está elevada não somente no inicio da fibrogênese.

Estudos mostrando a imunolocalização do TGF-beta em pacientes saudáveis,

controles de todas as idades mostraram rara marcação e quando presente estava

geralmente marcado nos capilares ou ocasionalmente presente no perimísio. Já os

animais GRMD de todas as idades apresentaram marcação positiva em região do

perimísio e endomisio próximo as áreas de fibras musculares desarranjadas. Aos 30

dias de vida a marcação do TGF- beta estava presente em áreas de tecido

conjuntivo e nos GRMD adultos foi fortemente evidenciado em perimísio e endomisio

(PASSERINI et al., 2002).

Em estudo feito por Bernasconi et al. (1999) os pacientes com miopatia, no

caso a distrofia muscular congênita, a marcação do TGF-beta1 estava presente em

perimísio e também no endomisio da maioria dos músculos dos pacientes.

No presente estudo a extensão de TGF-beta positivamente marcado estava

também presente, em geral, em região de perimísio, endomísio e em áreas de tecido

conjuntivo.

Os achados desse estudo usando bloqueador de TGF-beta como inibidor da

fibrose, ou Losartan, junto com os achados de Gosselin et al. (2004) e Cohn et al.

(2007), constituem evidências adicionais para o envolvimento do TGF-beta1 no

desenvolvimento da fibrose. É importante lembrar que o tratamento com o Losartan

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76

não elimina a citocina dos músculos, porém traz para níveis similares aos indivíduos

saudáveis controles.

A diminuição da sinalização do TGF-beta1 evidenciada nas imagens de

imuno-histoquimica após o período de uso do Losartan, juntamente com a

diminuição da deposição de colágeno, sugerem um efeito inibitório do medicamento

sobre essa citocina nos músculos dos cães GRMD estudados.

As imagens de imuno-histoquimica da distrofina não mostraram marcação em

nenhum dos animais experimentais nos dois tempos nem do controle. Portanto, não

se pode observar correlação da expressão da distrofina com a aplicação do

Losartan, sendo que devido à doença essa proteína continua sendo ausente.

Dentre os métodos de avaliação utilizados, além da quantificação das áreas

de colágeno e imuno-histoquimica, estão também a goniometria e perimetria como

parâmetros de avaliação física. A perimetria e a gonimetria são duas ferramentas

freqüentemente utilizadas pela fisioterapia em pacientes humanos. Suas aplicações

foram validadas no modelo animal GRMD, obtendo medidas confiáveis e capazes de

acompanhar a progressão da doença, trazendo alguma contribuição para a perda

muscular e a deterioração da motilidade nos cães distróficos (JAEGGER et al.,

2002).

A amplitude de movimento articular (ADM) está relacionada com a deposição

de colágeno nos músculos e tecidos adjacente. Normalmente, a movimentação

constante dos segmentos corporais em si, mantém a flexibilidade dos tecidos moles

periarticulares e a lubrificação da articulação com a produção de líquido sinovial.

Platt e Garosi (2004) atribuem às contraturas musculares como a causa da limitação

do movimento, característica das doenças musculares.

Os valores de ADM das articulações analisadas (cotovelo, carpo, joelho e

tarso) nos cães do experimento, não mostraram alterações estatisticamente

significantes. Porém, comparando as médias dos valores retratados nos gráficos no

tempo após o uso do Losartan, com os valores iniciais, pudemos notar um discreto

aumento da amplitude das articulações do joelho e tarso em todos os animais do

experimento, inclusive do controle, o que dificulta a análise dos dados. Gaiad (2006)

observou em seus estudos valores de ADM de tarso e joelho diminuídos em GRMD

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adultos, porém, quando comparados aos valores de cães normais. Estes achados

sugerem uma limitação do movimento causada por encurtamento muscular devido

ao acúmulo de tecido conjuntivo característico da doença. Porém, não podemos

inferir que a diminuição do colágeno encontrado nos Tf dos animais do nosso

estudo, com o uso do Losartan, refletiu numa tendência a mobilidade das estruturas

moles periarticulares destas articulações, visto que o animal controle apresentou

aumento semelhante.

A amplitude articular do cotovelo também aumentou no Tf em todos os

animais, com exceção do animal 3H6. Diferente dos achados de Gaiad (2006);

Howell et al. (1997) e Kornegay et al. (1994), que encontraram valores aumentados

para a amplitude de movimento do carpo em seus animais GRMD, nesse estudo o

carpo se mostrou com valores menores ou iguais no animais experimentais e

controle, no Tf.

De acordo com Kornegay et al. (1994), assim como os meninos com DMD

apresentam contraturas que produzem limitações funcionais, muitas vezes mais

importantes que a própria fraqueza muscular, contraturas articulares no animais

GRMD alteram a conformação e restringem a marcha progressivamente,

principalmente entre os três e seis meses de idade.

Para que os valores desse estudo sejam mais fidedignos, será necessário o

acompanhamento em longo prazo da variação dessas articulações, com mais de um

animal controle e as medidas feitas com mais de um avaliador.

Analisando os resultados da Perimetria no animal CH5 nos tempos com dois

e seis meses de tratamento, observa-se aumento ou manutenção nas medidas de

circunferência de todos os grupos musculares avaliados (braço, antebraço, coxa e

perna). A medida do braço foi praticamente mantida nos animais 3H6 e 3H10 com

quatro meses de Losartan, quando comparado com o controle, que teve essa

medida diminuída ao longo de quatro meses. Porém, os valores de perimetria

analisados não foram estatisticamente significantes.

As medidas dos segmentos do antebraço, coxa e perna tiveram variações

distintas entre os animais 3H6 e 3H10. As discrepâncias observadas nos valores da

perimetria podem ser explicadas pelas diferenças de fenótipos e sexo dos cães

GRMDs avaliados no presente estudo.

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As circunferências dos membros torácico e pélvicos não foram ainda descritas

no modelo GRMD, porém, assim como a goniometria, elas são medidas de

avaliação bastante usadas em humanos, e têm a finalidade de estabelecer a perda

de massa muscular. Esse método de avaliação é amplamente usado na fisioterapia

em pacientes portadores de disfunções, tais como as neuromusculares e consegue

retratar de forma indireta a progressão da DMD.

Durante o estudo uma das fêmeas distróficas foi a óbito por insuficiência

cardiorrespiratória súbita, devido ao curso natural da doença, já que apresentava os

exames clínicos e laboratoriais estáveis. Dessa forma, foi avaliado apenas o tempo

de dois meses com uso do Losartan.

Os parâmetros de avaliação citados acima para avaliar o efeito do Losartan

no músculo distrófico dos cães não relatam uma diferença expressiva entre os

animais do grupo experimental e do controle, já que tanto os valores da

quantificação do colágeno, quanto os valores de goniometria mostraram

semelhanças entre os dois grupos. Porém, quando comparado cada animal

experimental no T0 com seu Tf, a diminuição tanto da quantidade de tecido fibroso e

principalmente na marcação do TGF-beta, corroboram para um efeito benéfico do

uso do Losartan nesses cães.

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7 CONCLUSÕES

1 - Os achados suportam a idéia de que o tratamento em curto prazo (dois

meses) com a dosagem de 50mg oral diária do Losartan possui efeito antifibrótico no

músculo esquelético do modelo GRMD, além de ser bem tolerado.

2 - Uma vez que a fibrose parece ser resultado de diversos mecanismos

envolvendo outras moléculas além do TGF-beta1, outras citocinas, ou fatores de

crescimento podem estar envolvidos na prevenção e/u redução da fibrose tardia.

3- Estudos avaliando a influência do Losartan na musculatura esquelética

devem ser acompanhados no GRMD desde idade pré-púbere e em prazo mais

longo (“follow up”), usando um maior número de animais controles tanto distróficos

quanto normais, para desta forma, buscar melhores resultados.

4 - A variabilidade fenotípica dos animais GRMD estudados dificulta a análise

e comparação entre os animais e o animal controle.

5 - Os achados de amplitude de movimento articular e perimetria não

mostraram relação direta com os achados da quantificação do colágeno e de imuno-

histoquimica pelo fato de não terem sido estatisticamente significantes e

apresentarem valores semelhantes com o do animal controle.

6 - Novas pesquisas poderão utilizar esses achados no modelo animal GRMD

para elucidar influência e contribuição do Losartan no tratamento com crianças

portadoras de DMD.

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