O Dirigente Cristão

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Dirigente Cristão O Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul Nº 190 - Ano XXI - Agosto/ 2012 Impresso fechado. Pode ser aberto pela ECT. 2º FAS: fórum impulsiona a sociedade à sustentabilidade Celso Wichinieski

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Revista O Dirigente Cristão da ASDCE-RS

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DirigenteCristão

O

Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do SulNº 190 - Ano XXI - Agosto/ 2012

Impresso fechado. Pode ser aberto pela ECT.

2º FAS:fórum impulsiona a sociedade à sustentabilidade

Celso Wichinieski

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O Dirigente CristãoÓrgão Informativo da Associação de Dirigentes Cristãos

de Empresa do Rio Grande do Sul (ADCE-RS)Filiada à ADCE/UNIAPAC/Brasil

PresidenteAntonio D’AmicoVice Presidente

Juarez PereiraEduardo Albershein DiasAssessoria Doutrinária

Pe. Federico Juarez - Pastor Carlos DreherPe. Martinho Lenz, SJ

Editores In MemoriamFulvio de Silveira Bastos

Renato Cardoso

SedeCentro Arquidiocesano de Pastoral

Praça Monsenhor Emílio Lotterman 96, conj 12Bairro Floresta CEP 90560-050 Porto Alegre/RS

Fones (51) 3332.0811Fax: (51) 3222.8997

e-mail: [email protected]

Conselho DiretorCezar Saldanha (Porto Alegre)

Carlos Egídio Lehnen (Porto Alegre)Márcio Luiz Onzi - Serra (Caxias do Sul)

Moacir Basso - Serra (Caxias do Sul)Sergio Ricci - Planalto Médio (Passo Fundo)Ubiratan Oro - Planalto Médio (P. Fundo)

Fernando Rosa Lutdke (Santa Maria)Luiz Fernandes da R. Pohlmann (Santa Maria)

Gilmar V. Lazzari - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul)Paulo Bohn - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul)

ComissõesAlecio Ughini - Baptista Celiberto

Carlos Egídio Lehnen - Luiz Roberto PonteFrancisco Moesch - Gilberto Lehnen

José Antonio Célia - José Juarez Pereira Luiz Arthur Giacobbo - Ricardo Jakubowski

Rita Campos Daudt - Sergio Kaminski

Edição:

Rua Jerusalém, 415 - CEP 91420-440 - Porto Alegre/RSFone: (51) 3392.0055

[email protected]: Carlos Damo

Reportagem, Projeto Gráfico e Diagramação: Cíntia Machado DRT/RS 14080

Tiragem 4500 exemplaresCirculação Bimestral - Distribuição Gratuita

É permitida a reprodução total ou parcial das matérias aqui publicadas, desde que conservada a forma e

citados a fonte e o autor. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

Ação sustentável2º FAS promove a ação, educando para a sustentabilidade

Cobertura fotográfica do 2º FAS: Celso Wichinieski

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Missa que deu início à confraternização

Ação sustentável

Dois dias de contribuições para a causa da sus-tentabilidade. A opinião e a experiência de especia-listas nacionais e internacionais das mais diversas áreas. Economistas, dirigentes, gestores públicos, cientistas, representantes do terceiro setor, religio-sos, entre outros, sugeriram modelos a seguir, refle-xões, cases de iniciativas já realizadas.

Esse foi o 2º FAS, Fórum ADCE para a Susten-tabilidade, que, com o lema “educar pelo exemplo e agir”, buscou impulsionar a ação da sociedade em seus diferentes setores. O evento, promovido pela ADCE/RS e pelo Geelpa, aconteceu durante os dias 4 e 5 de junho, no Plaza São Rafael, em Porto Ale-gre/RS.

“Impressionou profundamente ouvir de Eduar-do Aninat e Stefano Zamagni uma conceituação de economia de mercado livre mais compatível com a visão social cristã. Suas palestras deram pratica-mente uma resposta concreta às inquietações de João Paulo II, no item 42 da Encíclica Centésimus Annus”, destacou o presidente da ADCE/RS, Anto-nio D’Amico.

O presidente do Geelpa, Tito Livio Goron, tam-bém vê positivamente os resultados do 2º FAS: “os objetivos do Fórum foram plenamente alcançados. Excedemos em muito o que havíamos realizado em 2011. Podemos nos regozijar pelo sucesso obti-do no evento”.

PARTICIPAÇÃO ECUMÊNICA

O número de igrejas participantes cresceu nessa edição do FAS. Tal fato motivou um jantar de integração ecumênica, ao final do primeiro dia do Fórum. “Conseguimos sensibilizar um bom número de entidades religiosas, que ao final manifestaram ter gostado de participar e expressaram o desejo de voltar a tomar parte

Acima: abertura do 2º FASÀ esquerda: assinatura do memorando de entendimento para ações conjuntas entre ADCE/RS e Uniapac LA. 1) Juarez Pereira, 2) Sérgio Cavalieri, 3) Juan Manuel Valdivia e Antonio D’Amico

“Creio que a grande missão da ADCE é refletir em cima de pro-postas concretas e de um capi-talismo novo, mais preocupado com a felicidade das pessoas”, D’Amico

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no próximo Fórum”, conta Goron. Ele explica que o objetivo é aumentar mais a cada ano o número de igrejas e entidades cristãs envolvidas no FAS.

“Temos trabalhado muito com a sustentabili-dade, tanto no aspecto empresarial, como no for-talecimento da sociedade. Para nós é fundamental estabelecer parcerias, não só ecumênicas, como com diferentes setores da sociedade. Acho muito bom ter um espaço assim”, declara o pastor Carlos Bock, Di-retor da Fundação Luterana de Diaconia.

Outro representante ecumênico foi o pastor Cláudio Kupka, pastor da Igreja Evangélica de Con-fissão Luterana no Brasil (IECLB), na Paróquia Ma-triz, em Porto Alegre. Para ele, o FAS permite unir a visão cristã sobre a sustentabilidade, com a prática empresarial. “O contexto é de empresários compro-metidos com a fé cristã”, coloca.

COMPROMISSOS E LANÇAMENTOS

O 2º FAS serviu de palco para a assinatura do memorando de entendimento para ações conjuntas entre ADCE/RS e Uniapac LA. O documento foi assinado por Juan Manuel Valdivia, presidente da Uniapac Latino-americana, ao final de sua palestra, juntamente com os presidentes das ADCE’s gaúcha e brasileira, Antonio D’Amico e Sérgio Cavalieri, respectivamente, além de Juarez Pereira, coordena-dor do FAS.

Ao final do 2º FAS, Guilherme Guaragna, Di-retor da Braskem e responsável pelo planejamento do evento, fez o lançamento de novos projetos. Um deles é o Programa Carbono Neutro que, em parce-

“Impressionou profundamente ouvir de Eduardo Aninat e Stefano Zamag-ni uma conceituação de economia de mercado livre mais compatível com a visão social cristã”, D’Amico

“Para nós é fundamental estabe-lecer parcerias, não só ecumêni-cas, como com diferentes setores da sociedade.”, Bock

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ria com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, vai compensar a emissão de carbono através da recu-peração da mata ciliar do Lago Guaíba. O programa acontece a partir da iniciativa de pessoas físicas, empresas, órgãos públicos e instituições em geral.

Outra iniciativa é a Exposição Internacional para Sustentabilidade, que ocorrerá paralelamente ao 3º FAS, em 2013. Trata-se de uma oportunidade para que todas as entidades, de todos os tamanhos, mostrem o trabalho realizado na área de sustentabi-lidade e sirvam de exemplo.

O presidente da ADCE/RS faz uma reflexão quanto aos resultados da segunda edição do Fó-rum e suas aplicabilidades: “em resumo, creio que a grande missão da ADCE é refletir em cima de propostas concretas e de um capitalismo novo, mais preocupado com a felicidade das pessoas e, portan-to, com a geração de riquezas no bem comum e não em mera especulação financeira, como temos assis-tido nos últimos anos”, declara D’Amico, fazendo um balanço das informações transmitidas durante o 2º FAS.

“Os objetivos do Fórum foram plenamente alcançados. Excede-mos em muito o que havíamos realizado em 2011”, Goron

Sentido horário: jantar de integração ecumênica; Guilherme Guaragna fazendo o lançamento de novos projetos; painel do 2º FAS; execução do hino riograndense ao final do Fórum; os presidentes do Geelpa e ADCE, Tito Livio Goron e Antonio D’Amico, encerrando o evento

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O italiano Stéfano Zamagni, economista e pro-fessor na Universidade de Bologna proferiu a pales-tra máster do 2º FAS. Zamagni foi um dos princi-pais consultores do Papa Bento XVI na redação da encíclica Caritas in Veritate, publicada em 2009, so-bre o desenvolvimento integral do homem. Partindo dos princípios da Doutrina Social da Igreja (DSI) e, ao mesmo tempo, da realidade econômica mundial, o palestrante baseou seu discurso em lições deixa-das pela crise, apontando, ainda, um plano de ação com três passos para a mudança.

APRENDENDO COM A CRISE

Zamagni explica que a atual crise econômica mundial teve origem na desregulamentação do movimento especulativo, promovida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), no início dos anos 1990. Esse é um episódio que o economista conside-ra marcante para o panorama atual. A partir desse esclarecimento, Zamagni toma a crise como exem-plo para mudanças, afirmando que ela deixa cinco lições, relacionadas à liberalização do movimento de capital; à especulação; ao taylorismo; à sustentabili-dade e à avareza.

“Todos os cinco pontos que eu citei estão na DSI”, afirma Zamagni. O economista demostra que tais aspectos são discutidos também em outros am-bientes: apresenta um documento chamado “Voca-tion of the business líder”, que reúne estudiosos de diversos países. É um documento internacional que, por enquanto, tem edição apenas em inglês. “Os cinco pontos dos quais eu falei são aqui discutidos de forma muito ampla. Isso quer dizer que os fun-damentos da DSI são concretos. Nesse documento, os empresários são instruídos a fazer um exame de consciência”, defende Zamagni.

Com relação ao futuro Zamagni acredita que é preciso agir em três planos: cultural, econômico e político. Ele destaca a necessidade de mudança geral de mentalidade.

DSI e gestão empresarialZamagni faz uma análise do mercado e aponta caminhos a seguir rumo a melhorias

A liberalização do movimento de capital, com a desregulamentação do movimento especulativo não garantiu nem o cresci-mento, nem a estabilidade financeira. O mercado de capital deve ser liberalizado, mas regulamentado.

Nos últimos 20 anos muitos empresários tornaram-se investidores, por acreditarem ser uma maneira mais fácil de ganhar di-nheiro. O problema, segundo Zamagni, é que enquanto o empresário realiza um jogo de soma positiva, o investidor é um especialista em jogos de soma nula.“Nós temos que retomar a atividade empresarial, porque a especulação faz perder muito. A empresa passou a ser considerada mercadoria: pode existir hoje e amanhã não. Mas o que acontece com as pessoas que hoje trabalham e amanhã não tem mais trabalho?”, argumenta Za-magni.

CulturalÉ preciso deixar claro à sociedade que ser empresário é uma vocação, não é um trabalho como qualquer outro. “Por que é importante dizer que é uma vocação? Quer dizer que é importante abrir a por-ta ao dom, pois há problemas em nossa sociedade que não podem ser resolvidos sem o dom, a justiça somente não basta”, explica Zamagni.

Econômico“É necessário que o empresário hoje en-tenda que o seu compromisso não está somente na empresa. Ele deve se preocu-

Lições deixadas pela Crise Econômica

2º FAS: GESTÃO SUSTENTÁVEL

Plano de Ação

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par também com a cidade. Os empresá-rios devem descobrir a subsidiariedade. Devo me comprometer com a sociedade para fazer com que as coisas caminhem. A empresa deve se sentir responsável em relação às famílias daqueles que estão trabalhando. Hoje o seu trabalho é fazer com que se crie harmonia entre a vida de trabalho e a vida pessoal. A família e a empresa devem estar em harmonia. É preciso ser responsável com relação a instituição importante que é a família”, defende Zamagni. Ele explica que isto não só é possível, como a produtividade e o lucro da empresa aumentam com tal mo-

delo de gestão. O economista afirma que as empresas que praticam a responsabi-lidade familiar são as de maior sucesso. “É possível mudar a organização interna, sem renunciar ao sucesso”, coloca.

PolíticoZamagni afirma que a política possui grande responsabilidade em tudo, entre-tanto, os políticos, em geral, não fazem o bastante, pois estão mais preocupados em se reeleger. “A política deve procurar o bem comum. O egoísmo do país não pode se sobrepor ao bem comum, isto piora a situação”, explica o economista.

É preciso transformar a empresa por den-tro. As empresas, em geral, seguem o modelo taylorista, no qual, as pessoas que trabalham nas organizações são conside-radas recursos (recursos humanos). “Isto é, os trabalhadores não são pessoas, mas indivíduos que fornecem força produtiva. Por essa ótica, o dirigente não precisa se preocupar com problemas individuais dos trabalhadores. O modelo taylorista não tem mais futuro. As empresas que seguem esse modelo estão destinadas a falir, pois não produzem valor agregado”, defende o economista.

A sustentabilidade está ligada a questão básica da justiça social e não apenas ao ambiente. “Se não estabelecermos a so-ciedade, nós não teremos sustentabilida-de. Alcançar o desenvolvimento integral do homem significa levar em conta a di-mensão material, a das relações e a espi-ritual. Se acreditamos na sustentabilidade devemos compreendê-la em todas as di-mensões. Negar a espiritualidade significa não resolver o problema da sustentabili-dade”, explica Zamagni.

5ª A avareza é o problema que tem maior impacto na sociedade. “Quem é avaro nunca tem o suficiente, sempre quer mais e cria problemas para toda a sociedade. Por isso, a avareza é considerada por São Paulo a raiz de todos os males”, defende Zamagni. Ele conta que o mercado nas-ceu para o bem comum, que os primeiros economistas eram todos franciscanos, entre 1300 e 1400, com apenas uma exceção. “Nas últimas décadas a cultura da avareza transformou o livre mercado. Temos que retornar, o mercado tem que servir para o bem comum”, defende.

Stéfano Zamagni, economista e professor

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A NOVA RELAÇÃO

“É preciso entender, depois implantar e viver um novo conceito de empresa”, defende. Valdivia parte do princípio de que a empresa é formada por todos os que a integram e, assim, ela deve ser con-vertida em comunidade de pessoas.

Segudo o modelo proposto, os trabalhadores de uma empresa necessitam estar envolvidos no processo, possuir informação e capacitação para a tomada de decisões e participação efetiva. Valdivia aconselha ainda a participação dos colaboradores na propriedade e na gestão institucional. “Poucas em-presas alcançaram isto, mas vale a pena trabalhar para que os colaboradores tornem-se acionistas, pois eles sentem que estão atuando em algo próprio”.

Através de tais ideias, o mexicano defende que seja possível colocar a economia a serviço da huma-nidade, tornando as empresas altamente produtivas, humanas e socialmente responsáveis. “O mundo se transforma porque nós o transformamos”, finaliza.

“A chave para a sustentabilidade está na valori-zação do ser humano”, acredita Juan Manuel Valdi-via, empresário mexicano e Presidente da Uniapac Latino-americana. Sua fala orientou-se nesse senti-do, indicando um novo paradigma na relação capi-tal/trabalho.

O empresário defende que as organizações de-vem tornar-se mais justas e mais humanas, reconhe-cendo as capacidades e a dignidade de cada pessoa. “Como humanidade, temos avançado, mas não o suficiente. A empresa está sendo atacada, porque está a serviço apenas de alguns homens”, elucida.

VALORES

O mexicano lembra que a espiritualidade não está separada da vida cotidiana, nesse sentido, pro-põe alguns valores como base para a nova relação capital/trabalho:

• Respeitoàdignidadedapessoa• Bemcomum• Destinouniversaldosbens• Subsidiariedade• Participação• Solidariedade

Valdivia lembra ainda outros três aspectos que devem ser respeitados: a verdade, a liberdade e a justiça. “Não de por caridade o que está obrigado a dar por justiça”, salienta.

O ser humano na empresaA palestra “Capitalismo Sustentável” trata do lado humano nas relações de trabalho

“O mundo se transforma porque nós o transformamos”,Valdivia

2º FAS: GESTÃO SUSTENTÁVEL

Juan Manuel Valdivia, Presidente da Uniapac Latino-americana

Ilustração: sxc.hu

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“Pensamos se não estávamos propondo concei-tos que eram muito difíceis de colocar em prática. A partir dessa reflexão, surgiu o Protocolo de Res-ponsabilidade Social Empresarial (RSE)”, explica o argentino José María Simone, vice-presidente da Uniapac Latino-americana. A instituição, da qual a ADCE/RS faz parte, é uma federação internacional de líderes cristãos, denominada Union Internatio-nale des Associations Patronales Catholiques.

Simone explica que o Protocolo existe para auxi-liar no dia-a-dia dos empresários, orientando-os nas decisões. O material propõe ferramentas e explica como estas devem ser empregadas. Orienta na reali-zação de diagnóstico, planejamento, monitoramen-to. “O que estamos propondo não substitui o que já é feito (cerificações, por exemplo), mas complemen-ta. Nós focamos no direcionamento geral da empre-sa, na forma de gestão”, alerta o empresário.

Responsabilidade Social EmpresarialUniapac propõe protocolo que auxilia na implantação da gestão sustentável nas empresas

A PESSOA COMO CENTRO

Em geral, três conceitos são considerados quan-do se trabalha a sustentabilidade nas empresas: eco-nômico, social e ambiental. O modelo de gestão pro-posto pela Uniapac inclui um quarto: a pessoa. Ela é colocada no centro das decisões e é considerada sob três aspectos: é um ser humano, que tem necessida-des espirituais e materiais.

“Se nas tomadas de decisões do dia a dia pen-sarmos que estamos impactando pessoas dentro da empresa e fora da empresa com nosso produto e que estas pessoas são compostas por esses três ele-mentos, estamos fazendo algo. Esta é a proposta da Uniapac: mudar a forma de pensar o como vamos fazer”, explica Simone. “A empresa não está sozi-nha, ela faz parte de um conjunto com os stakehol-ders, ou seja, todas as organizações de pessoas que tem relações com a empresa. Todas as pessoas são impactadas e temos que trabalhar em conjunto para saber o que vai acontecer com elas” exemplifica o empresário.

“Se pensarmos que estamos impactando pessoas com nosso produto, estamos fazendo algo”, Simone

2º FAS: GESTÃO SUSTENTÁVEL

Pilares do desenvolvimento sustentável• Econômico: inclui aspectos como concorrência, inovação, rentabilidade.• Social: é preciso pensar nas pessoas que estão dentro e nas que estão fora da empresa.• Ambiental: deve-se considerar o que acontece hoje e o que vai acontecer no futuro.• Pessoa: aspectos humano, espiritual e material.

Conceitos de RSE• Empresa: entidade constituída por pessoas para a produção de algum bem ou serviço que atenda necessidades da sociedade. Gera valor agregado e resultados econômicos que permitem a susten-tabilidade econômica. Propicia nesse processo a realização, como pessoas, de todos os seus inte-grantes e, também, do bem comum.• Responsabilidade Social: forma de gestão surgi-da a partir do empenho pessoal, moral, consciente e consistente dos membros da empresa com base na ética social cristã.

Rentabilidade dos valoresApresenta o Protocolo de Responsabilidade Social EmpresarialEditora: Uniapac

José María Simone, vice-presidente da

Uniapac Latino-americana

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“O lucro pode e deve conviver com a inclusão social”, afirma Paulo Resende, Diretor Executivo da Fundação Dom Cabral, sintetizando o conteúdo de sua palestra, intitulada “Formação e prática empre-sarial para sustentabilidade”. “Eu diria que é possí-vel uma empresa lucrar mais, ao trabalhar a susten-tabilidade no seu conceito mais amplo”, completa.

SUSTENTABILIDADE NÃO É CARIDADE

Resende salienta que há grande diferença entre sustentabilidade e caridade. Essa última seria o que as empresas em geral têm feito. O problema é que tal ação não é bem vista pela sociedade e, normal-mente, causa perda de dinheiro. “É preciso incorpo-rar a sustentabilidade à gestão. Quanto mais o capi-talismo se envolve em problemas sociais, ambientais e econômicos, mais é culpado, porque faz isso como caridade, invés de incorporar ao negócio”, explica.

A real sustentabilidade, conforme Resende, está na forma como a organização atua. “O ideal não é reciclar, mas não ter o que descartar. A produtivida-de é maximização quando não há resíduos”, coloca.

SUSTENTABILIDADE NA GESTÃO

Uma das chaves para a gestão sustentável está no valor compartilhado. Esse conceito é explicado por Resende através do seguinte exemplo: “na me-dida em que você abre para fornecedores locais, cria um ambiente agradável em torno da sua empresa. Isso vai crescendo com o aumento das iniciativas”.

Para Resende, a implantação da sustentabilidade na gestão encontra obstáculos porque os processos de geração dos lucros estão muito amarrados. Cita exemplos de profissionais que buscaram implantá--lo, sem sucesso porque a empresa não aceitou a mudança. Por outro lado, Resende apresenta diver-sas organizações que se preocupam com a susten-tabilidade e estão muito bem, como Natura, Alcoa, Editora Abril e Unilever.

“Em um jogo de soma zero, o lucro é exatamente igual à perda social”, declara Resende, que traz tam-bém outro panorama, ao afirmar que: “a expectativa de vida aumenta, à medida que a distribuição de capital é maior”.

“Muita gente que defende o meio ambiente acha que temos que voltar para a idade da pedra, não se deve ser radical na defesa da sustentabilidade”, de-fende. Resende acredita que a chave está em inovar, não em retroceder.

Empresa sustentávelResende aponta para a diferença entre caridade e um modelo de gestão efetivamente sustentável

Propósito: A essência da empresa é a inovação. É preciso incluir progresso econômico associado a progresso social. A produção de bens deve tornar-se globalmente responsável e sustentável.

Ética: Forma a base da liderança globalmente responsável. Inclui na gestão valores como jus-

tiça, liberdade, honestidade, humanidade, res-ponsabilidade, solidariedade, desenvolvimento sustentável e transparência.

Estadismo Corporativo: Faz com que o tra-balho seja um instrumento de satisfação e reali-zação.

2º FAS: GESTÃO SUSTENTÁVEL

Gestão Sustentável: Metodologia

O caminho para a sustentabilidade é traçado por uma tríade. essa tríade é incluída no diagnóstico corporativo e no como fazer.

“Muita gente que defende o meio ambiente acha que temos que vol-tar para a idade da pedra”, Resende

Paulo Resende, Diretor da Fundação Dom Cabral

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países, marcham em paz, com democracia, progres-so social e regulação nacional. “Este é um desafio para nossa Uniapac, enquanto força global”, propõe.

OUTRO MUNDO

Remetendo ao lema do Fórum Social Mundial, o economista afirmou, sem hesitar, que outro mun-do é possível. Para alcançar esse objetivo, Aninat aposta na ação: “o dia que passarmos a ação e não ficarmos apenas no campo da reflexão, teremos esperanças de uma sociedade melhor”, afirma ele, baseando-se em uma citação de Jacques Maritain.

Outra chave para a mudança, conforme Aninat, está na consciência: “eu acredito que se educarmos a consciência das pessoas, vamos avançar vários passos a caminho das soluções”.

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“O capitalismo já está ficando obsoleto”, afirmou Eduardo Aninat durante a palestra de abertura do 2º FAS. Para o economista, ex-ministro da fazenda do Chile e presidente da Fundação Uniapac, o mo-delo de capitalismo conhecido hoje não tem sido satisfatório em, pelo menos, dois aspectos: não pro-porciona equilíbrio na distribuição e não respeita o meio ambiente.

“A minha tese é de que o sistema atual é incom-pleto e começa a dar pequenos sinais de necessidade de mudança. A crise econômica que atinge Europa e EUA é um deles”, explica. O economista defende que a crise é um indicador de insatisfação e, sobre-tudo, evidencia a ignorância a respeito do que fazer.

Em mais de um momento Aninat chamou aten-ção para a falta de lideranças mundiais capazes de conduzir uma mudança, determinando prioridades. Para ele, este é o maior problema e não tanto a ques-tão econômica.

Não é, entretanto, por perceber a necessidade de mudanças que Aninat deixa de acreditar no capi-talismo. Para o economista, esse é um sistema que permite decidir, definir o que é preciso fazer. Ele cita a Europa como exemplo: através dos múltiplos governos, o continente alcançou a condição de Es-tado forte, apesar de nos últimos anos passar por desregulação financeira.

AMÉRICA LATINA

A condição dos países latino-americanos me-receu a atenção do palestrante. “A América Lati-na não tem voz nessa discussão”, alerta Aninat, referindo-se à crise econômica. Para ele, esta é uma situação estranha, uma vez que na região, que o eco-nomista vê com status de continente, se cresce cerca de 4% a 4,5% ao ano; há pouca inflação; e 31, de 33

Futuro do capitalismoO chileno Eduardo Aninat aborda aspectos do capitalismo e assinala a necessidade de mudanças no sistema

“Estou absolutamente seguro de que outro mundo é possível”, Aninat

ValoresO capitalismo deveria incorporar valores como fraternidade, solidariedade, subsidiariedade, equi-dade, liberdade, bem comum e respeito à dignida-de da pessoa.

Questão Ambiental“Nem tudo está perdido, os instrumentos moder-nos trazem alguma solução”, afirma inspirando-se nos mecanismos de compensação de CO2. “A in-teligência humana inova dentro de valores e prio-ridades importantes”, demonstra.

Produção e consumoPerguntado sobre a possibilidade de redução da produção e do consumo para favorecer o planeta, mas sem destruir o mercado, o economista pro-vocou reflexão: “não podemos pensar que limitar algo pode ser uma solução. Entre as alternativas de controlar/diminuir ou de melhorar as opções, fico com a segunda sempre”, opina.

Eduardo Aninat, ex-ministro da fazendo do Chile

2º FAS: MODELO ECONÔMICO

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Mostrando que todos na sociedade têm o seu pa-pel na construção da cidadania, da sustentabilidade e do equilíbrio social, o painel “Sociedade em ação: modelo de convergência” reuniu representantes de diversos setores, apresentando cases.

UM CASE DO TERCEIRO SETOR

Maria Elena Pereira Johannpeter, presidente da Parceiros Voluntários, falou sobre a ONG, represen-tando a sociedade e o terceiro setor. Ela explica que a instituição surgiu de forma intuitiva, a partir da crença de que o povo gaúcho, sendo solidário, pode-ria dedicar-se mais ao voluntariado. “Voluntariado é bem mais do que ser bonzinho, é algo que merece uma reflexão grande, pois vai contra um elemento da natureza humana, que é o individualismo. Ele nos tira do ‘o que eu ganho com isso?’ e nos coloca no ‘como eu posso ajudar?’”, explica Maria Elena.

O trabalho da Parceiros Voluntários iniciou em 1997. De lá para cá, espalhou-se pelo estado, bene-ficiando milhares de crianças, adolescentes, idosos e portadores de necessidades especiais. Mais da me-tade dos voluntários da ONG são adultos entre 26 e 50 anos; quase 90% dedicam pelo menos 3h/sema-na ao voluntariado.

O trabalho realizado pela ONG inclui metodo-logias para dar efeitos multiplicadores e de longo prazo a iniciativas solidárias, além de estimular o voluntariado organizado. A partir daí, surgem ações como a de um policial que busca manter jovens lon-ge da violência; pedreiros que ergueram voluntaria-mente uma creche popular; trabalhos de incentivo a portadores de necessidades especiais. São profis-sionais e pessoas de boa vontade que fazem da sua experiência instrumentos de transformação.

Sociedade em açãoUm modelo de convergência foi apresentado a partir da ação de diversos setores da sociedade

UM CASE EMPRESARIAL

Sérgio Cavalieri, presidente do Conselho de Administração da ALE Combustíveis e da ADCE Uniapac Brasil, trouxe um case que reúne três áreas da sociedade: civil, governamental e empresarial. Trata-se do Programa Regresso, que visa à reinser-ção de ex-presidiários no mercado de trabalho e na sociedade.

Conforme dados trazidos pelo empresário, o índice de reincidência dos egressos é de 70%, sen-do a principal causa desta realidade a dificuldade dos mesmos em obter emprego. O programa é uma parceria entre o Instituto Minas pela Paz (IMPP), a Secretaria de Estado de Defesa Social de MG (Seds) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).

Graças a esse projeto, cerca de 435 egressos fo-ram inseridos no mercado de trabalho e 2000 pes-soas receberam capacitação profissional. Cavalieri conta que a MASB, construtora do Grupo Asamar, fundado e administrado por sua família há três ge-rações, aderiu ao Programa Regresso em 2012 e os resultados tem sido positivos.

Hoje a média de egressos atuando na MASB é de 28, sendo que mais da metade foram promovi-dos uma ou duas vezes. Cavalieri ressalta um ponto interessante, a média de permanência desses traba-lhadores é de 12 meses, enquanto no mercado da construção civil, tal média está em sete meses.

“Costumamos fazer trabalhos sociais, dado aos nossos valores cristãos, mas esse foi dos projetos mais emocionantes que eu realmente me envolvi. Espero que isso siga adiante”, declara. O empresário adverte que é necessária uma ordem direta do ges-tor para que o RH contrate essas pessoas, do contrá-rio, elas não serão contratadas.

UM CASE DE GOVERNO

Para o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, Porto Alegre é uma cidade que reflete muito bem a participação do cidadão nos destinos do seu cotidia-no. “Não à toa a cidade é conhecida como capital da democracia participativa no mundo”, diz. Fortunati apresentou cases de ações sustentáveis realizadas na capital gaúcha, entre eles estão os seguintes.

“Voluntariado nos tira do ‘o que eu ganho com isso?’ e coloca no ‘como posso ajudar?’”, Maria Elena

“Esse foi dos projetos mais emo-cionantes que eu realmente me envolvi. Espero que isso siga adiante”, Cavalieri

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2º FAS: O PAPEL DE CADA UM

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Crianças e adolescentes em situação de risco: Porto Alegre conseguiu tirar milhares de crianças das ruas, através do trabalho de uma rede com 500 entidades que fazem parte do Fórum Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, coordenada pela prefeitura. Conforme Fortunati, o número de crianças e adolescentes nas ruas está reduzido a 40.

Residencial Nova Chocolatão: a antiga Vila Cho-colatão era caracterizada pela grande quantidade de lixo descartada no local pelos catadores após seleção do mesmo; pela forte presença de famílias; por ser centro de distribuição de drogas na capital, devido sua localização central. Fortunati explica que a pre-sença do narcotráfico foi um grande fator de dificul-dade na transição para a nova vila. Foi necessário um trabalho conjunto entre diversas instituições para combater o crime, e convencer as pessoas a irem para a nova vila, construída na Rua Protásio Alves. “Conseguimos deslocar as 700 pessoas para a Nova Chocolatão, chegando a uma nova realidade, que está em execução, de forma permanente”, expli-ca o prefeito.

UMA VISÃO DE GOVERNO

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Gen-ro fez uma reflexão sobre a sustentabilidade, lem-brando que se trata de algo novo: “todos os regimes que apresentaram alteração nas forças produtivas sempre foram não sustentáveis. Esse é um ato de consciência totalmente contemporâneo”.

Quanto ao modelo de convergência para a sus-tentabilidade, o governador afirma: “As forças pro-dutivas devem fazer um planejamento, para isso, deve haver consciência de agentes públicos e dos agentes privados. É preciso definir os tipos de técni-cas e tecnologias adequadas para o desenvolvimento sustentável. Se a sustentabilidade não for uma cons-ciência da sociedade, ela será apenas uma falácia”.

Genro declarou que uma série de experiências está sendo feita para começar a insinuar um projeto de sustentabilidade no RS. O governador apresen-tou como exemplo os movimentos de proteção à agricultura familiar, que objetivam permitir a sus-tentabilidade econômica e social da atividade, além de orientar as famílias a usarem tecnologias e técni-cas que não agridam o meio ambiente.

“Porto Alegre é uma cidade que reflete muito bem a participação do cidadão”, Fortunati

“As forças produtivas devem fa-zer um planejamento com cons-ciência dos agentes públicos e dos agentes privados”, Genro

Programa RegressoEmpresas interessadas em participar do Progra-ma Regresso, devem procurar a Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais.www.seds.mg.gov.br(31) 3915 3075

Parceiros VoluntáriosInteressados em tornar-se um parceiro voluntá-rio podem contatar diretamente as regionais da ONG, ou obter informações através dos meios abaixo.www.parceirosvoluntarios.org.br(51) 2101 9750

Maria Elena Pereira Johannpeter, Sérgio Cavalieri, Tarso Genro e José Fortunati

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AS EMPRESAS E A SUSTENTABILIDADE

Jorge Soto, Diretor de Desenvolvimento Susten-tável da Braskem, classifica o envolvimento das em-presas em relação a questão da sustentabilidade em quatro níveis: reativa, funcional, integrada e proa-tiva. Ele explica que hoje em dia aquelas que estão mais desenvolvidas nesse sentido ainda se encon-tram no terceiro nível apenas. Tal fato se justifica porque o mundo se encontra em um estágio deno-minado pelo profissional como de transformação do papel empresarial.

Abordando a experiência vivenciada pela Braskem, Soto defende que para a organização al-cançar a sustentabilidade, ela precisa considerar alguns fatores, como a promoção da educação, a transmissão de informações para a sociedade (pois o consumidor também deve estar preparado para escolhas responsáveis) e o desenvolvimento de pro-jetos sociais.

Um exemplo de ação desenvolvida pela Braskem foi o programa de educação para o trabalho “Acre-ditar”. A iniciativa formou, em 2011, mais de 700 operários. “Quantidade de profissionais mais alta do que a empresa poderia absorver: o objetivo era, também, contribuir com a sociedade”, explica Soto.

Baseando-se na informação de que os países mais ricos tem alto nível de desenvolvimento hu-mano, mas também alta pegada ecológica, o pro-fissional manifesta o desejo de que o Brasil, seja o primeiro a conseguir melhorar o nível de desen-volvimento humano, sem, entretanto, aumentar a pegada ecológica. “Infelizmente ainda não se des-cobriu como fazer isso, mas o Brasil pode ser um exemplo”, motiva Soto.

“O ideal seria que os países mais pobres, conseguissem au-mentar o desenvolvimento hu-mano, mantendo a pegada eco-lógica baixa”, Soto

O painel “Educação para Sustentabilidade” re-sume em seu título o objetivo central do 2º FAS: incentivar a ação e instruir através do exemplo. Os painelistas, representantes de diferentes áreas da sociedade, demostraram que cada um tem seu papel na busca pela sustentabilidade e que para que ela seja alcançada, é necessária a contribuição geral.

UM CASE ESCOLAR

O emprego da arquitetura sustentável no Colégio Anchieta, além de otimizar recursos naturais, é um exemplo presente no cotidiano dos alunos e estimu-la discussões em sala de aula sobre o tema.

O arquiteto Klaus Dal Bohne explica que a escola, com sede em Porto Alegre, utiliza tais re-cursos arquitetônicos desde a década de 1970. O estacionamento solar é um grande exemplo. Entre suas funcionalidades, de acordo com o profissional, estão a produção de energia limpa 100% renovável, a geração de sombra e a absorção da água da chuva através da grama.

Um dos frutos desse trabalho realizado em prol da sustentabilidade é a Festa de São João chamada Carbono Free, que foi criada em 2007 e desde então ocorre todos os anos, envolvendo os alunos.

Educação para SustentabilidadeCase e visões de representantes de diferentes áreas dão exemplos de atitudes em prol da sustentabilidade

I 14 I O DIrIgente CrIstãO I

2º FAS: O PAPEL DE CADA UM

“Todos esses recursos empregados na escola estão servindo também para a educação dos alunos”, Bohne

Ilustração: Cíntia Machado

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UMA VISÃO DE GOVERNO MUNICIPAL

“A ideia do 2º FAS é colocar todos os atores no mesmo debate para tentarmos resolver o problema juntos. Não há como apenas um órgão mudar a re-alidade atual.” Esse trecho sintetiza a percepção do vereador e ex-secretário do meio ambiente de Porto Alegre, Beto Moesch. Ao longo de sua palestra ele buscou mostrar que para alcançar a sustentabilida-de é necessária a participação de todos.

Um exemplo prático deste conceito é mostrado pela seguinte informação, trazida pelo vereador: 80% da poluição dos mares provêm das cidades. O lixo é jogado no chão, vai para os arroios, depois para os rios, até chegar no mar. “Cuidar do ambien-te é também papel do cidadão”, defende. “Sustenta-bilidade pressupõe mudança. Mudança de cultura, mudança de paradigma. Nós ainda não estamos pre-parados para ela, estamos nos preparando”, reforça Moech.

Entre os recursos para o alcance da realidade sustentável, está a fiscalização ambiental, conforme explica o vereador, remetendo ao papel dos gover-nos. “A fiscalização ambiental tem um viés muito mais educativo do que punitivo”, explica e idealiza: “os governos deveriam incutir práticas de sustenta-bilidade em todas as suas ações e instituições”.

“O poder público tem que ser o primeiro a dar o exemplo. Educação ambiental tem que ser perma-nente”, defende Moech.

UM REPRESENTANTE DA IGREJA

“As igrejas não vão resolver problemas técnicos do mundo, mas elas podem colocar sinais de es-perança”, sintetiza o teólogo luterano e reitor das Faculdas EST, Oneide Bobsin. “Não creio na catás-trofe. Na tradição judaico-cristã o paraíso não é sau-dade, é esperança”, afirma transmitindo otimismo.

O reitor destaca dois pontos. O primeiro com relação à redução do consumo, que ele considera importante, implantando atitudes educativas inclu-sive dentro de sua própria casa e na convivência familiar. “Sinto-me como um pregador hipócrita se a mensagem que eu transmitir não passar pelo que eu acredito e pelo que eu vivo”. Bobsin conta que em sua casa já fizeram uma horta, um sistema de captação de água da chuva e que bens como carro e computador são utilizados por todos em conjunto, como método de conscientização e cultivo de hábi-tos positivos.

Outro aspecto destacado pelo reitor é a percep-ção do ser humano sobre si mesmo e tal reflexo em seu comportamento. “Não devemos acreditar que nós seres humanos somos o centro do mundo. A tradição cristã colocou o homem, macho, branco, que não representa a toda a humanidade, no centro. Que os homens e as mulheres se reconheçam como uma espécie”, defende Bobsin alertando para a ne-cessidade de que o ser humano entenda que é parte do planeta e tem a mesma importância das demais.

“Sustentabilidade pressupõe mu-dança. Mudança de cultura, mu-dança de paradigma”, Moesch

“Não devemos acreditar que nós seres humanos somos o centro do mundo”, Bobsin

Klaus Dal Bohne

Jorge Soto

Beto Moesch

Oneide Bobsin

LOCAÇÃO E VENDA DE IMÓVEIS EM PONTOS ESTRATÉGICOS

DE BAIRROS NOBRES DA CIDADE.3327.2727

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uma perspectiva do sagrado voltaremos a violentar a terra, poluindo-a, escravizando-a, esquecendo que somos parte dela”. O religioso elencou, em sua pa-lestra, quatro pontos teológicos que colocam o ser humano em comunhão com toda a terra:

1º: Deus tornou o humano gestor e intendente do paraíso. Seu projeto é reunir a humanidade em um só povo.

2º: Jesus se encarna para levar-nos plenamente à vida em Deus.

3º: o espírito que dá a vida conduz e inspira o cuidado, a ternura e a compaixão, gerando uma cul-tura de paz, respeito pela vida e pela criação.

4º: a doutrina da trindade santa consagra todas as criaturas, ecossistemas, biomas em uma rede soli-dária, interdependente e dinâmica.

O teólogo ressalta a inter-relação do ser humano com a natureza: “sabemos da fragilidade da nossa existência e do quanto dependemos do criador e de toda a natureza”. Ele conclui defendendo a necessi-dade unir três agendas, a da eliminação da pobreza, da preservação da terra e da espiritualidade.

VISÃO ANTROPOLÓGICA

Castor Ruiz é filósofo e professor. Buscou ir além da realidade concreta, para pensar possibilida-des, entendendo ser este o objetivo da mesa.

Para Ruiz, o termo terra pode ser entendido a partir de três sentidos e todos eles têm vínculo es-treito com a vida: solo; natureza; planeta terra. En-tretanto, o filósofo entende que esta é uma relação delicada: “os fios que mantém a vida na terra são teias frágeis. Pela primeira vez na história uma es-pécie ameaça inclusive a sua própria existência e o faz de forma alarmante”.

Depois da água, em 2011, a terra foi tema espe-cial da 2ª edição do FAS. Os elementos da natureza representam a necessidade de cuidado com a mesma e chamam atenção para as realidades de cada um. A discussão sobre o elemento terra ganhou espaço no painel “Terra é vida”, no qual a temática foi abor-dada sob a ótica teológica-cristã, “vida em Deus”; a partir da visão antropológica, “vida para o homem”; e também através do viés socioeconômico, “vida para o mundo”.

VISÃO TEOLÓGICA-CRISTÃ

“Não estamos em época de mudança, mas em mudança de época: mudança de perfil, de civiliza-ção, ou seja, do modo de conviver”, afirma Dom Roberto Paz, Bispo de Campos, no RJ, filósofo e teólogo, em sua abordagem. “O compromisso da fé deve nos levar a uma teologia e uma espiritualidade sustentável que corrija desmandos e priorize o cui-dado, o desenvolvimento integral de toda a pessoa e de todas as pessoas, o vínculo de parentesco entre todas as criaturas”, explica.

Dom Roberto acredita que a espiritualidade é essencial para o alcance da sustentabilidade: “sem

A importância da terraEspecialistas fazem reflexão sobre o papel da terra na vida, a partir de três aspectos

“Somos responsáveis pelo mundo que deixamos e não pelo mundo do qual desfrutamos”, Ruiz

“Não estamos em época de mudança, mas em mudança de época”, Dom Roberto

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2º FAS: O PAPEL DE CADA UM

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Um ponto que Ruiz destaca é a questão do con-sumo. “O consumo deixou de ser apenas um meio necessário para a vida digna. É preciso redefinir a produção, considerando as necessidades reais e não as supérfluas, para acabar com o consumo desenfre-ado. Ou somos capazes de fazer uma transição para um modelo sustentável, ou sofreremos crises trau-máticas”, defende.

A final, Ruiz defende: “somos responsáveis pelo mundo que deixamos e não pelo mundo do qual desfrutamos”.

VISÃO SÓCIO-ECONOMICA

O ponto de vista de Ruiz é compartilhado por Rafael Sittoni Goelzer, Diretor da Quinta da Estân-cia Grande e filho dos fundadores do local. O admi-nistrador aprendeu desde cedo com os pais a cuidar e valorizar a terra. Ele conta que sua mãe nunca se considerou proprietária da terra e, ao ser pergun-tada a respeito, respondia: “não sou dona, eu estou

responsável. Se essa terra não tivesse sido cuidada pelo donos antigos , ela não estaria como está hoje”.

“Terra é vida é exatamente o que a gente sempre vivenciou lá, pois a Quinta da Estância surgiu da evolução de um sonho dos meus pais de morar no campo”, explica, transmitindo a relação de um em-presário com a terra.

Goelzer defende a necessidade de gestão am-biental: “vamos comparar a terra a uma empresa privada. No planeta absorvemos todo o lucro e ain-da comemos parte do patrimônio. Com o consumo elevado dos recursos naturais, nossa capacidade de gerar valor vai diminuindo”. Para o empresário, a sustentabilidade é um exercício diário e fundamen-tal para o sucesso nos negócios.

“No planeta absorvemos todo o lucro e ainda comemos parte do patrimônio”, Goelzer

Dom Roberto Paz, Castor Ruiz e Rafael Goelzer

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Sendo o elemento terra, a temática especial do 2º FAS, a questão da agricultura sustentável torna--se essencial nas discussões. Quem deu voz ao tema foi o agrometeorologista e pesquisador da Embrapa Passo Fundo, Gilberto Cunha.

SUSTENTABILIDADE E TECNOLOGIA

Remetendo à história da agricultura no Brasil, Cunha lembra que desde os anos 1970 a atividade evoluiu muito. Se na época o país não dava conta de produzir o suficiente para sua população, hoje em dia a pungência econômica no setor corre mundo.

Por outro lado, o crescimento deixa marcas na natureza, como a alteração do bioma natural. “Não se pode ignorar o custo ambiental da agricultura, assim como o da urbanização, e negar que a ativi-dade humana altera o ambiente. O importante é não radicalizar e entender que a evolução tem um custo”, reflete o pesquisador. Cunha defende que a tecnologia é um caminho para minimizar o impacto causado.

Para o pesquisador, a agricultura orgânica é um dos modelos possíveis, mas os recursos tecnológicos propiciam outros. “A agricultura sustentável passa

“A agricultura sustentável passa pela inovação tecnológica”, Cunha

Agricultura sustentávelCunha vê a tecnologia como melhor ferramenta para reparar os impactos causados pela agricultura

pela inovação tecnológica”, defende. Nesse sentido, Cunha lembra que elementos como a agroenergia e os agrocombustíveis também geram impactos, mas a evolução do conhecimento trará versões mais efi-cientes de tais recursos.

Cunha defende que alcançar a sustentabilidade não significa voltar ao passado: “há muitas oportu-nidades no desenvolvimento e até possibilidades de negócios”.

CONSUMO CONSCIENTE

“Consumo consciente e agricultura sustentável se casam com desenvolvimento econômico”, coloca. Para o pesquisador, consumo consciente na agri-cultura está muito ligado à segurança alimentar e erradicação da fome. “O planeta pode suprir as ne-cessidades de alimentação de toda sua população, a dificuldade é o acesso”, declara.

O pesquisador indica: “se não conseguimos pro-jetar um futuro muito distante, ou entender com clareza o que devemos fazer, com o conhecimento que temos hoje, podemos enxergar o que não deve ser feito”.

2º FAS: TECNOLOGIA

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Gilberto Cunha, pesquisador da Embrapa Passo Fundo

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A quantidade de energia utilizada por cada um diariamente é muito grande e parte dela é desperdí-cio, como a utilização de climatizadores de ambien-te com janelas abertas simultaneamente. “Poupar energia depende também da consciência dos usuá-rios”, declara o professor. Duarte conta que ações educacionais desenvolvidas na PUCRS possibilita-ram a conservação de 8% de energia, em 2010, em relação ao que estava previsto.

Entre a ação individual e os meios de gestão, grande quantidade de energia pode que ser poupa-da: “temos um potencial muito grande de conserva-ção de energia sim”, afirma Duarte, que lembra que para manter a estrutura que temos, tal recurso é imprescindível.

“O homem se desenvolveu, está no topo e por isso tem obrigações com o planeta”, declara o co-ordenador do Grupo de Eficiência Energética da PUCRS, professor e engenheiro Odilon Francisco Duarte.

O professor defende que, embora o desenvolvi-mento científico traga inúmeras possibilidades, a consciência no uso dos recursos deve estar em pri-meiro lugar. Duarte aborda a temática a partir do setor de energia, sua especialidade.

GERAR X POUPAR

O desenvolvimento científico possibilita meios de obter e manter a energia, como a utilização de energias renováveis e a gestão da energia. “Nós te-mos a solução. É verdade que muitas vezes ela se torna cara”, explica Duarte.

A ciência traz soluções, mas poupar energia é o meio mais eficiente. O professor declara: “não existe energia mais limpa do que a não produzida, 1 kWh poupado é 10 vezes mais barato que 1 kWh gerado”.

“Não existe energia mais limpa do que a não gerada”, Duarte

Desenvolvimento e consciênciaTecnologia traz soluções na manutenção de recursos, mas consciência é imprescindível

2º FAS: TECNOLOGIA

• A energia é essencial e sua ausência, um fator limitador para o crescimento.• O Brasil é o 6º país com energia mais cara.• A competitividade empresarial é dificultada pelos altos custos de energia. • Até 2035 o parque gerador brasileiro vai ter que crescer 75% para evitar o ra-cionamento.• A geração de energia causa impactos.

Alguns fatos

sobre energia:

Odilon Francisco Duarte, Coordenador do Grupo de Eficiência Energética da PUCRS

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O painel “Ecumenismo cristão: o modelo de Cristo em nossa vida” reuniu um empresário, um teólogo protestante e um teólogo católico. Respecti-vamente Luis Roberto Ponte, também ex-ministro da Casa Civil; Anivaldo Padilha, líder ecumênico metodista; Dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo da Arquidiocese de Campo Grande.

A HISTÓRIA DO ECUMENISMO

Padilha trouxe detalhes da história do ecume-nismo no Brasil. História da qual ele participou e é hoje testemunha. Foi no final da década de 50 que a Igreja Católica se abriu para o ecumenismo e, a partir de então, católicos e protestantes começaram a trabalhar juntos, no Brasil.

União da fé, união das igrejasO diálogo entre as religiões foi também um assunto valorizado durante as reflexões do 2º FAS

Dom Dimas observa que o empenho da Igreja Católica no ecumenismo foi um pouco tardio, ape-nas após o Concílio Vaticano II e acredita que ainda hoje o movimento católico é muito tímido nesse sentido.

Padilha explica que o Golpe Militar de 1964 in-terrompeu o trabalho conjunto entre as igrejas. Ele próprio foi líder estudantil e do movimento ecumê-nico de juventude brasileira e latino-americana, na época. “Essas atividades me custaram quase um ano de prisão, pelo DOI/CODI, em São Paulo, e 22 dias de tortura. Isso é um pouco do que foi o movimento ecumênico no Brasil”, testemunha.

SOBRE O ECUMENISMO

Ecumenismo é a atitude de abertura e de diá-logo com outras religiões. Tanto Padilha, o teólogo protestante, quanto Dom Dimas, o teólogo católico concordam quanto a esse diálogo.

“Muitas vezes a antipatia entre as igrejas se deve a falta de convivên-cia e de conhecimento”, Dom Dimas

“Descobri que o ecumenismo não era uma opção, mas um passo de obediência ao desejo de Jesus”, Padilha

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Luis Roberto Ponte

Anivaldo Padilha

Dom Dimas Lara Barbosa

2º FAS: ECUMENISMO

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os sofismas que levam a injustiça e demonstra pelo exemplo de vida que é somente pela prática do bem, que se alcança a sociedade sustentável”, conclui Ponte

Ligando a questão do ecumenismo à temática central do FAS, a sustentabilidade, Dom Dimas opi-na que o conceito de caridade proposto pela igreja poderia andar de mãos dadas, com o conceito de responsabilidade social. “Os empresários poderiam ir além, mostrando que a responsabilidade social atende a um chamado de cristo”.

Padilha também relaciona ecumenismo e susten-tabilidade e lembra que o ecumenismo tem o concei-to da justiça socioambiental como uma questão éti-ca a ser discutida. Ele defende também a necessida-de de novas relações capital/trabalho e das empresas com seus consumidores.

“Ocorre hoje com muita frequência competição entre as igrejas”, afirma Dom Dimas. Para ele, a jus-tiça, a solidariedade e a paz são muito mais impor-tantes que as discussões teológicas. “Muitas vezes a antipatia entre as igrejas se deve a falta de convi-vência e de conhecimento”, opina Dom Dimas.

Para Padilha, o ecumenismo está diretamente li-gado à missão da igreja: “iniciei minha participação no movimento ecumênico ainda bem jovem e desco-bri que o ecumenismo não era uma opção, mas um passo de obediência ao desejo de Jesus”.

ECUMENISMO E SUSTENTABILIDADE

O ex-ministro Luis Roberto Ponte, por sua vez, baseou seu discurso na área em que é experiente, a política, abordando a questão da religião e da sus-tentabilidade a partir dessa ótica. Fez uma reflexão sobre assuntos como baixos salários, falta de segu-rança, distribuição da renda pública. “A Doutrina Social da Igreja ajuda a esclarecer a verdade sobre

“É somente pela prática do bem, que se alcança a sociedade sus-tentável”, Ponte

I O DIrIgente CrIstãO I 21 I

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“Defendo que é o envolvimento das pessoas, a capacidade de criar ambientes onde todos se sintam parte e todos possam livremente dizer o que pensam que gera a sustentabilidade”, coloca Cesar Busatto, Secretário de Coordenação Política e Governança Local de Porto Alegre, ao explicar o conceito com o qual a Secretaria de Governança trabalha.

TRAJETÓRIA EM PORTO ALEGRE

“Porto Alegre tem sido uma cidade extremamen-te inovadora do ponto de vista da sua democracia”, acredita o secretário. Busatto divide a trajetória de participação popular na capital em três etapas. • Reinvindicação e Controle Social: envolve even-tos como a criação das associações de moradores, iniciada na década de 1950 e o surgimento do Orça-mento Participativo, em 1989, quando Olívio Dutra foi prefeito. • Governança do Desenvolvimento Local: começou em 2005, no primeiro governo de José Fogaça e tem como fundamento a governança solidária local. Tem por base a articulação de todos os atores da socieda-de, para contribuírem juntos no desenvolvimento. • Wiki Cidadania: inicia com o governo de José Fortunati e tem muito a ver com a explosão das mí-dias sociais. Cidadania trabalhando em conjunto.

Compromisso na gestão públicaBusatto apresenta o modelo de gestão democrático como forma de atingir a sustentabilidade

PARTICIPAÇÃO CIDADÃ

Busatto relaciona o modelo de gestão atual à for-ma de interação nas redes sociais, nas quais todos se comunicam com todos. “Essa é a grande transfor-mação social que está acontecendo no mundo. Está vindo aí uma nova forma de organização social”, explica o secretário, demonstrando a influência das redes sociais na estrutura da sociedade.

Um exemplo prático é o portoalegre.cc, platafor-ma colaborativa na internet, na qual cada cidadão coloca suas causas e chama outros cidadãos para torná-la realidade. Cerca de nove mil pessoas parti-cipam ativamente dessa ferramenta que produziu ações como Serenata no Parque da Redenção, even-to noturno que em sua primeira edição reuniu mais de mil pessoas, demostrando que o parque pode ser espaço de lazer para os cidadãos também à noite.

Busatto cita ainda a campanha “Eu curto, eu cuido”, que estimula o descarte de lixo orgânico em containers e a reparação de calçadas pelos proprie-tários dos terrenos. Tal iniciativa visa despertar a responsabilidade do cidadão em geral, inclusive go-verno e empresas. “Cidadania plena é aquela que in-clui direitos e responsabilidades, quando acrescen-tarmos a segunda, tudo começa a mudar”, coloca.

Para o secretário é a participação de todos os se-tores da sociedade que vai gerar a mudança e garan-tir a sustentabilidade. Ele defende que não há mais espaço para governos autossuficientes.

“Cidadania plena é aquela que inclui direitos e responsabilidades”, Busatto

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2º FAS: O PAPEL DE CADA UM

Cesar Busatto, Secretário de Coordenação Política e Governança Local

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Participei do 2º Fórum ADCE para Sustentabilida-de e voltei mais determinado em fazer a minha parte na preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Neste encontro em Porto Alegre, promovido pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa, sob o tema “educar pelo exemplo e agir”, empresários, economistas, teólogos, políti-cos, engenheiros, professores e outros, expuseram ideias e experiências sobre formas sustentáveis de vida. Para mim foi um enorme aprendizado nesta matéria que sempre me interessou. Lembro-me que em 1982, ao optar pelo tema “ecologia” para a minha dissertação do bacharelado, desacon-selharam-me por ser um assunto “sem interesse” no aspecto teológico. No entanto, quando hoje o termo “sustentabilidade” é definido como a capa-cidade de integrar as questões sociais, energéticas, econômicas e ambientais, de imediato os cristãos têm a tarefa de lembrar uma quinta questão, a espiritual. Segundo a fé bíblica, a sustentação, a rocha firme, a pedra angular é Cristo, e sem ela a casa cai.

Entre tantas palestras interessantes, fiquei impres-sionado com a abordagem do ex-ministro da Casa Civil, Luis Roberto Ponte. Com voz embargada, disse que “a doutrina social da igreja ajuda a es-clarecer a verdade sobre os sofismas que levam a

injustiça, e de-monstrar atra-vés do exemplo de vida que é somente pela prática do bem que se alcança a sociedade sustentável”. Percebi certa decepção dele com a vida pú-blica, homem experiente que é nos seus 78 anos de idade. Penso que a maio-ria dos que chegam a este tempo de existência terrena, deve se sentir assim, frustrada com os “sofismas”, ou seja, as argumentações falsas com aparência de verdadeiras. É a insustentabilidade da palavra com a verdade o pior desastre ambien-tal deste planeta que sofre os efeitos do pecado. Mas foi por isto mesmo que “a Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade” (João 1.14).

PastorMarcos Schmidt

2º FAS: TESTEMUNHO

O cristão e a sustentabilidade

Marcos Schmidt, é pastor luterano Igreja Evangélica Luterana do Brasil Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RSContato: [email protected]

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CONSTRUTORA PELOTENSE LTDA.

Comprometimento com o desenvolvimento social,

respeitando e valorizando o ser humano.

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