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Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 19 e 20 de outubro de 2012 O “coronelismo eletrônico” e a política na sociedade do espetáculo: uma abordagem histórica Gilberto da Silva i Resumo: Este ensaio pretende abordar o papel dos novos donos de partidos e seus entrelaçamentos com o que “restou da ditadura”, o coronelismo eletrônico, e o “produto” voto como espetáculo-mercadoria. Num primeiro movimento pretendemos discutir os conceitos históricos de coronelismo e clientelismo para, em seguida, traçar pontos de alinhamento com aspectos que consideramos como um “novo coronelismo” que faz parte do sistema de dominação clientelista na política nacional. Palavras-chave: Clientelismo; Coronelismo; Coronelismo Eletrônico; espetáculo- mercadoria.

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O “coronelismo eletrônico” e a política na sociedade do espetáculo: uma

abordagem histórica

Gilberto da Silvai

Resumo: Este ensaio pretende abordar o papel dos novos donos de partidos e seus

entrelaçamentos com o que “restou da ditadura”, o coronelismo eletrônico, e o

“produto” voto como espetáculo-mercadoria. Num primeiro movimento pretendemos

discutir os conceitos históricos de coronelismo e clientelismo para, em seguida, traçar

pontos de alinhamento com aspectos que consideramos como um “novo coronelismo”

que faz parte do sistema de dominação clientelista na política nacional.

Palavras-chave: Clientelismo; Coronelismo; Coronelismo Eletrônico; espetáculo-

mercadoria.

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Origens

A prática clientelista no Brasil está ligada aos primórdios da ocupação territorial que foi

baseada na grande propriedade da terra.

O clientelismo − fenômeno mais amplo do que o coronelismo, vem desde a Colônia se

firmando como um mecanismo de troca de favores nas relações políticas, servindo

como objeto de cooptação, restrição à plena cidadania e uso privado dos recursos

públicos. Os grandes proprietários de terra passaram a ter poder de polícia além das

funções administrativas, ou seja, assumiram também poderes estatais. A origem da

indistinção entre público e privado se deu pela prática de doação e pelo arrendamento

ou compra das terras da Coroa

que, não dispondo de recursos para enfrentar sozinha a tarefa

colonizadora, deixou-a nas mãos de particulares, que, embora sob o comando legal do monarca e sob o monopólio econômico da metrópole,

dirigiam senhorialmente seus domínios e dividiam a autoridade

administrativa com o estamento burocrático. Esta partilha do poder torna-se no Brasil, não uma ausência do estado (ou uma falta de estado),

nem como imaginou a ideologia da ‘identidade nacional’, um excesso

de Estado para preencher o vazio deixado pela classe dominante inepta

e classes populares atrasadas ou alienadas, mas é a forma mesma da realização politica e de organização do aparelho do Estado em que os

governantes e parlamentares “reinam” ou, para usar a expressão de

Faoro, são “donos do poder”, mantendo com os cidadãos relações pessoais de favor, clientela e tutela, e praticam a corrupção sobre os

fundos públicos. (Chaui, 2000: 90-91)

Durante a Colônia, sobretudo durante o Segundo Reinado, assistimos à farta

distribuição de cargos públicos, proteção e favorecimento em troca de lealdade politica

e pessoal, mas é com o novo rearranjo político que acontece a partir da instituição da

primeira República que o clientelismo passa a ter a força do poder do coronelismo.

Para entender o conceito de coronelismo é preciso voltar à história. O termo “coronel”

vem da extinta corporação paramilitar Guarda Nacional Imperial, criada em 1831

durante a Regência, controlada pelo ministro da Justiça, com o intuito inicial de

combater os distúrbios urbanos que foram desencadeados após a abdicação do

Imperador. A Guarda lutou na guerra do Prata (como ficou conhecida a luta contra

Oribes e Rosas), na guerra do Uruguai e do Paraguai entre os anos de 1851 e 1870.

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O período da Regência também foi marcado por um intenso movimento político com

vários levantes sociais tais como a Sabinada, Balaiada, Farroupilha, Cabanada (ou

Cabanagem no Pará) e Praeira exemplos de luta contra o poder imperial.

Para ingressar na ‘milícia cidadã’, era só o interessado ter dinheiro suficiente para

comprar uma patente de oficial, coisa para poucos.

Só mais tarde é que a Guarda se transforma num mecanismo de cooptação dos grandes

latifundiários rurais. Os postos militares eram colocados à venda e assim os

proprietários e seus próximos adquiriram os títulos de tenente, capitão, major, tenente-

coronel e coronel da Guarda Nacional (o posto de general era prerrogativa exclusiva do

Exército). A prática da parentela era o recorte de um poder que dispunha do aparato

público como extensão da economia familiar. A fraqueza dos municípios contribuiu

para manter o coronelismo na sua expressão governista.

No Império, cada município possuía um regimento da Guarda Nacional. A patente de

“coronel” era vendida ao chefe político deste município, que normalmente era o mais

rico comerciante, industrial ou fazendeiro. O coronel torna-se o chefe político a quem o

poder estadual ou federal pedia votos.

A Guarda era uma organização militarizada que abrangia toda a população adulta

masculina e os seus oficiais eram indicados pelo governo central entre as influências do

governo e dos grandes proprietários e comerciantes. Com o tempo, a Guarda Nacional

deixou de exercer funções de segurança e virou um instrumento político-eleitoral sendo

extinta em 1918. Com a Primeira República (1889-1930) e o fortalecimento das novas

oligarquias o cenário começa a mudar com o coronelismo atingindo o seu auge de

poder. O processo da proclamação da República segundo o sociólogo Francisco de

Oliveira (2010, 37) pode ser entendido no sentido moderno como um golpe de Estado

que foi conduzido por militares conservadores e, logo em seguida, usurpado pela nova

classe paulista que emergia da expansão cafeicultora.

De fato, desde a instauração da República, as forças armadas e os grupos de oficiais

interferem através de levantes armados ou com acordos políticos na vida política do

país.

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A ditadura de Floriano Peixoto é usada pelas elites para pedir o retorno da monarquia e

pavimentar a entrega do poder à Prudente de Moraes, um representante da burguesia

cafeicultora.

Baseado no grande latifúndio e no poder do senhor rural sobre a população, o

coronelismo exerce sua influência e atinge seu auge na Primeira República, gozando

uma maior estabilidade com o advento do federalismo. A Constituição de 1891,

inspirada no modelo norteamericano, estabeleceu a forma republicana de governo e o

federalismo (República dos Estados Unidos do Brasil), garantindo ampla autonomia

para os estados; extinguiu o Poder Moderador e instituiu os poderes Legislativo,

Executivo e Judiciário. O exercício do Poder Judiciário passou a ser feito pelo Supremo

Tribunal Federal; o Poder Legislativo, constituído pelo Congresso Nacional: Senado

Federal e Câmara dos Deputados; a escolha do Presidente da República e dos membros

do poder Legislativo por meio do sufrágio direto universal masculino (os cidadãos com

direitos plenos poderiam votar em seus representantes, sem necessidade de comprovar a

renda); não podiam votar: analfabetos, menores de 21 anos, mulheres, monges

regulares, praças das Forças Armadas e mendigos.

Com estas medidas que beneficiavam a oligarquia rural, a Constituição de 1891 abriu as

portas do paraíso para o coronel. O governo federal passa a ser um mero reflexo ou

mesmo um mero instrumento das oligarquias estaduais e ou seus caudilhos. Agora havia

um governador de Estado eleito que dependia mais dele do que o ministro da Justiça.

Neste contexto surgiu o coronelismo como sistema, na terminologia de Víctor Nunes,

que no livro clássico Coronelismo, enxada e voto - o município e o regime

representativo no Brasil, publicado em 1949, usa o termo coronelismo para identificar

aqueles que mandavam na política local, geralmente os grandes latifundiários, que

agiam para estabelecer o compromisso entre poder privado e poder público, derivado de

um longo processo histórico que se enraizou pela estrutura social. Leal, jurista mineiro,

enfatiza que o coronelismo é uma relação de troca de favores entre o poder público e o

privado. Esta troca de favores entre os chefes políticos locais e o poder público ocorria

graças ao chamado “voto de cabresto”.

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E assim nos parece este aspecto importantíssimo do ‘coronelismo’, que

é o sistema de reciprocidade: de um lado, os chefes municipais e os ‘coronéis’, que conduzem magotes de eleitores como quem toca tropa

de burros; de outro, a situação política dominante no Estado, que dispõe

do erário, dos empregos, dos favores e da força policial, que possui, em suma, o cofre das graças e o poder da desgraça. É claro, portanto, que os

dois aspectos – o prestígio próprio dos ‘coronéis’ e o prestígio de

empréstimo que o poder público lhes outorga – são mutuamente

dependentes e funcionam ao mesmo tempo como determinantes e determinados. Sem a licença do ‘coronel’ – firmada na estrutura agrária

do país –, o governo não se sentiria obrigado a um tratamento de

reciprocidade, e sem essa reciprocidade a liderança do ‘coronel’ ficaria sensivelmente diminuída. (Leal, 2012:63)

A influência social do coronelismo estava diretamente ligada à estrutura agrária do país

e se refletia na desorganização administrativa municipal através de favores pessoais

concretizados no “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Nos períodos de

eleições a face cruel do coronelismo se fazia sentir através do “mandonismo” que se

materializava na perseguição aos adversários e no poder autoritário do coronel que era o

mandatário dos votos. Vigora a lei de “uma mão lava a outra”, a reciprocidade entre o

poder público e o “coronelismo”. Os favores prestados pelo “coronel”, o senhor dos

capangas, o dono da família (e da justiça), o pai, o patriarca, o “painho” local

(paternalismo), a sonegação de direitos aos adversários resvala na ilegalidade de um

município sob a égide do poder do coronel.

Leal acreditava que a urbanização, a industrialização, a libertação do eleitorado rural, o

aperfeiçoamento da justiça eleitoral iriam enterrar coronéis e coronelismo. O sistema era

como uma cadeia: o coronel municipal apoiava o coronel estadual que apoiava o

coronel nacional, também chamado de presidente da República, que apoiava o coronel

estadual, que apoiava o coronel municipal que apoiava apenas aqueles que o obedecia.

As técnicas eleitorais foram aperfeiçoadas para garantir o poder local. As práticas

fraudulentas mais comuns eram o chamado “bico de pena” executada pelos membros

das mesas eleitorais. Outra prática era a depreciação ou quando os diplomas eram

cassados na aprovação final na câmara legislativa assim como a prática da violação do

sigilo do voto. Quanto mais regular a eleição, de acordo com as atas, mais fraudada era,

ou seja, o processo todo era fraudulento.

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A Justiça Eleitoral só foi criada em 1932. O voto secreto foi instituído e o voto feminino

também. As mesas receptoras perderam o pode de apurar os votos, mas esse aumento do

poder público no processo eleitoral não resultou num imediato enfraquecimento do

coronelismo, outras ilegalidades ou irregularidades permaneceram.

O poder do coronel em determinadas regiões superava o poder do próprio Estado. No

período liberal é recorrente o poder público ser confundido com o partido dominante

(como o príncipe, na visão de Gramsci estudando Maquiavel), “o que leva a oposição

coronelística local a impasses, dificilmente rompidos, e que facilimamente terminam em

tragédias mais amplas” (Carone, 1985:263). O coronelismo tem sua lei própria com

base na coerção da força e na lei oral, ele protege e socorre, mas cobra a troca, exige a

obediência e a fidelidade.

É nesse cenário que surge o “juiz nosso” e o “delegado nosso”, para aplicar a lei contra

os inimigos e proteger os amigos e também várias expressões como: ‘para os amigos,

pão; para os inimigos, pau’. O clientelismo, isto é, a troca de favores com o uso de bens

públicos, sobretudo empregos, tornou-se a moeda de troca do coronelismo. Em sua

forma extrema, o clientelismo virava nepotismo. O coronel nomeava, ou fazia nomear,

filho, genro, cunhado, primo, sobrinho. Só não nomeava mulher e filha porque o lugar

delas ainda era dentro de casa.

O coronelismo não era apenas um obstáculo ao livre exercício dos direitos políticos. Ou melhor, ele impedia a participação política porque

antes negava os direitos civis. Nas fazendas, imperava a lei do coronel,

criada por ele, executada por ele. Seus trabalhadores e dependentes não eram cidadãos do Estado brasileiro, eram súditos dele. Quando o Estado

se aproximava, ele o fazia dentro do acordo coronelista, pela qual

coronel dava seu apoio politico ao governador em troca da indicação de autoridades, como o delegado de policia, o juiz, o coletor de impostos, o

agente do correio, a professora primária. Graças ao controle desses

cargos, o coronel podia premiar os aliados, controlar sua mão de obra e

fugir dos impostos. Fruto dessa situação eram as figuras do “juiz nosso” e do “delegado nosso”, expressões de uma justiça e de uma polícia

postas a serviço do poder privado. (Carvalho, 2012:56)

Os coronéis tornaram-se poderosos e onipresentes na República Oligárquica exercendo

o poder através da manipulação dos partidos estaduais. A política real se dava no âmbito

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dos estados, por partidos republicanos locais sob o domínio das oligarquias. Por meio da

chamada ‘política dos governadores’ que consistia num rodízio ou permuta entre São

Paulo e Minas (política do café com leite) e com forte apoio do Rio Grande do Sul, os

coronéis foram enquadrados pelos partidos republicanos estaduais: o Partido

Republicano Paulista - PRP, que financiou e manteve por quase cem anos o jornal

Correio Paulistano e o Partido Republicano Mineiro - PRM. Os coronéis do oeste

paulista, do café assumiam um tom mais paternal e era por seu intermédio que a cidade

conseguia um serviço de abastecimento aqui, um hospital ali.

No Rio Grande do Sul, seu enquadramento foi feito por Júlio de Castilhos, um dos

principais líderes do PRR (Partido Republicano Rio-grandense), fundado em 23 de

fevereiro de 1882 e que defendia a autonomia da província e ajudava a imprensa com

subsídios repassados a vários periódicos que se autoproclamavam órgãos do partido.

Outros estados, como Bahia e Pernambuco, tiveram maiores dificuldades em controlá-

los; nesses estados, alguns coronéis se tornaram legendários. Em Pernambuco, Chico

Romão (região de Serrita), Chico Heráclio (região de Limoeiro) e Veremundo Soares

entre outros davam as cartas da politica local. Veremundo (1878-1973) era considerado

um coronel intelectual; morou em Salgueiro (PE) onde construiu em 1919 um palacete

chamado Chalé Villa Maria que lhe serviu de moradia. Mais recentemente o palacete foi

cenário de festas juninas que contaram com a presença do seu bisneto Fernando Soares

Cavendish, dono da Delta, empreiteira envolvida no denominado escândalo Cachoeira.

As obras de Jorge Amado demonstram de certa forma estereotipada, a influência dos

coronéis na Bahia que chegavam a desafiar o governo do estado e a eliminar

adversários. O coronel estadual, ou governador, em geral membro das velhas

oligarquias, não conseguia controlar os coronéis municipais, chefes de estados dentro do

estado. Os partidos eram meras aglomerações de coronéis rivais.

O maior dos coronéis baianos na Primeira República foi Horácio de Matos, senhor das

Lavras Diamantinas. Em fins de 1919, ele chefiou uma revolta de coronéis contra o

governo do estado. Reuniu mais de 4 mil homens em armas. O governo federal

interveio e assinou um tratado de paz com os coronéis, passando por cima do

governador. Horácio lutou contra a coluna Prestes e contra Lampião. Em 1930, a pedido

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de Washington Luís reuniu milhares de homens para atacar Minas Gerais na expectativa

de fazer abortar a revolução que a Aliança Liberal pusera na rua. A Aliança Liberal, que

propunha o fim das fraudes eleitorais, era a coligação partidária oposicionista, que em

1929 lançou Getúlio Vargas à presidência, derrotado nas eleições de março de 1930.

Através de um golpe, no dia 3 de novembro de 1930, Vargas assume o poder e passa a

governar através decretos-lei. “A Revolução de 30, com a implantação de uma nova

república para substituir os processos do voto de cabresto e do atraso social e

econômico do país, abriu novas perspectivas para o jornalismo” e depois, com o Estado

Novo, estabelecido à partir de 1937 a “sombra da censura cobriu o País, e não só a

imprensa foi vítima, mas a Nação inteira atingida pela ditadura”. (Bahia, 1967:65)

A crise de 1929 ajudou no desmoronamento da política baseada na cultura do café. A

classe dominante divide-se e a politica dos governadores entra em crise. A oligarquia

dos proprietários rurais reinou da proclamação da república até 1930, assentada sobre a

manipulação da politica municipal, espaço privilegiado para a prática coronelística. O

coronelismo – governista por definição−, como sistema nacional de poder, acabou em

1930, com a chegada de Getúlio Vargas à presidência da República e mais precisamente

com a prisão do governador gaúcho, Flores da Cunha, em 1937.

O coronelismo, como força política, deixou de existir em vários locais, mas algumas

práticas do coronelismo, como o clientelismo, por exemplo, a compra de votos e fraudes

eleitorais continuaram existindo, por muito tempo, em algumas regiões. A prática

clientelista passa a ser exercida pelo Estado.

O Estado Novo (1937-1945) se caracterizou pela introdução de novo regime político

marcado pelo autoritarismo graças ao imenso controle politico, social e cultural e pelo

cerceamento das liberdades em muitos planos, com repressão, tortura e violência

segundo Capelato (2012:113). Nesse período um grande número de jornais, revistas e

panfletos são fechados por determinação de Vargas, que criou o DIP – Departamento de

Imprensa e Propaganda, nos moldes nazistas para controlar a imprensa. O DIP distribuía

verbas a jornais e emissoras enriquecendo os donos de jornais e corrompendo jornalistas

(Sodré, 1966:439). Vale lembrar que em 1937 é regulamentada a profissão de jornalista.

O Estado Novo ao destruir o federalismo de 1891, passa a concentrar o poder e o

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enfraquecimento dos estados reduziu o poder dos governadores e de seus coronéis. Mas

os coronéis não desapareceram e nem mesmo cessaram a coação e as práticas

fraudulentas. Alguns coronéis da velha estirpe ainda sobreviveram ao Estado Novo.

Chico Romão viveu até a década de 60, mesmo que assustado ao final da vida com o

surgimento das Ligas Camponesas. Surgiu, então, o novo coronel, metamorfose do

antigo, que vive da sobrevivência de traços, práticas e valores remanescentes dos velhos

tempos. Ainda na década de 1930, surgiu no Rio de Janeiro o populismo, que se

difundiu principalmente pelas grandes cidades até a década de 60. O eleitor, no

populismo, dispensava a mediação do coronel, mas em contrapartida fazia do líder um

grande coronel urbano. (Murilo, 2001).

Getúlio Vargas chegou a dizer que “voto não enche a barriga” numa clara demonstração

de desconfiança em relação à democracia liberal representativa. Mesmo após a

urbanização da maioria da população, na década de 50 (êxodo rural), os rastros das

práticas permaneceram, ainda que sob outras formas como transporte gratuito de

eleitores, cabos eleitorais, empreguismo etc. “mais acentuado em uns, menos em outros,

os traços do sistema continuam a influir e a marcar a vida política do país, o que

demonstra a permanência e a coexistência da tradição coronelística com as novas

formas modernizadora da dinâmica politica brasileira.” (Carone, 1985:265)

O curral é, portanto, o reduto, o espaço da lealdade ao patrão, ao pai, ao painho. O

próprio termo “curral” significava o local que os coronéis concentravam seus eleitores

de onde seriam conduzidos por seus prepostos para votar no candidato escolhido pelos

poderosos.

Assim, o sistema coronelístico permanece o mesmo, jogo de interesses,

empreguismo, força, favores, dependência e toda a trama de relações

sociais, politicas e familiares persistem, o que explica o automático reflorescimento do sistema logo após a abertura democrática de 1945 e

a consequente constituição do sistema político-partidário oligárquico, o

da União Democrática Nacional, do Partido Social Progressista.

(Carone, 1975:155)

Durante a Primeira República o único partido de caráter nacional a ser constituído é o

PCB – Partido Comunista do Brasil. Em maio de 1945, Vargas baixou um decreto

permitindo apenas registro de partidos de caráter nacional, mas o domínio coronelístico

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vai seguir em regiões menos adiantadas, apesar de manter-se em alguns casos nos

centros urbanos.

Clientelismo, a lógica da política-mercadoria

A década de 1940 é rica num debate voltado para os rumos que o Brasil deveria tomar

após a derrocada da República Oligárquica. Travou-se uma batalha entre as políticas

intervencionistas contra as políticas liberais. É com Roberto Simonsen que o projeto

desenvolvimentista encontra seu eixo baseado no não rompimento radical com a

oligarquia agroexportadora. Na busca da conciliação, o projeto desenvolvimentista

deixa intactas instituições politicas e acaba por absorver as pressões das massas urbanas.

A urbanização e o incremento dos meios de comunicação, com a abertura de estradas e

a difusão do rádio de pilha, começam a minar as bases sociais do coronelismo que passa

a dar lugar a um sistema político também fundado no clientelismo, mas de caráter mais

complexo, seja pela maior dificuldade de se controlar os estratos subordinados por meio

de mecanismos de submissão pessoal, seja pela presença mais efetiva do Estado. Até

este período o monopólio da informação estava nas mãos dos detentores de rádio e da

imprensa escrita. Em setembro de 1950 surge a televisão brasileira com a inauguração

da TV Tupi de Assis Chateaubriand. O repórter Esso foi estrear na TV em 1953. Em

fevereiro de 1954, o Exército insistiu com a demissão de João Goulart como ministro do

Trabalho numa postura contra o populismo de Vargas.

Aqui um adendo para registrar a grande campanha exercida pelas rádios e TVs (TV

Tupi e Rádio Globo, principalmente), dando espaços generosos a Carlos Lacerda,

sempre ao vivo para atacar Getúlio Vargas, sobretudo após Vargas dar dinheiro ao

Samuel Wainer para criar o jornal Última Hora, cujo veículo foi arquitetado para furar o

bloco antigetulista na mídia. O atentado ao jornalista Carlos Lacerda foi o fato que a

oposição precisava para endurecer com Getúlio, fato que culminou com seu suicídio em

24 de agosto de 1954.

Segundo Oliveira (1977:115) os anos 50 marcam o “aprofundamento da divisão social

do trabalho na direção da industrialização” e um esforço desesperado de “acumulação

na economia nacional”.

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A partir de 1964, houve o período que denominamos como a Ditadura Militar, em que

as forças armadas exerceram o poder em nome das classes dominantes. O parlamento e

os partidos foram esvaziados de seus poderes e submetidos a um rígido controle

repressivo e as eleições indiretas tornam-se uma prática.

A derrubada de João Goulart foi uma prova de que os processos

constitucionais de praxe tinham fracassado no Brasil. Não era a

primeira vez que o Exército intervinha para acabar com a briga

entre políticos. O procedente óbvio era 1954, mas 1964 foi

profundamente diferente, por várias razões. (Skidmore, 2010:350)

Antes de se tornar um conhecido ‘neoliberal’ Roberto Campos, ministro do

Planejamento do Governo Castelo Branco, defendia o regime militar dizendo que o

autoritarismo era necessário para o desenvolvimento explícito em seu Plano de Ação

Econômica do Governo (PAEG).

Os anos 70, sob o regime da ditadura militar, foram marcados pela ascensão dos

movimentos sociais e sindicais. É neste contexto que reaparecem as lutas operárias,

permitindo o surgimento de Lula, no ABC paulista. Esse processo culminaria com a

fundação da CUT – Central Única dos Trabalhadores, em 1983. É, também, nesse

período criado o PT – Partido dos Trabalhadores (manifesto de fundação de 1980), que

desde então canalizou os esforços de boa parte da classe trabalhadora, da juventude e

dos movimentos sociais para um projeto de transformação social, cuja única definição

perceptível foi a de não escolher o caminho da revolução armada e sim a via eleitoral.

Com a eleição indireta de Tancredo Neves à Presidência da República, em 1984 e o seu

falecimento antes mesmo da posse (abril de 1985), tivemos a ascensão do seu Vice a um

novo governo. Esse Vice era José Sarney, que durante a ditadura foi líder da Arena,

partido assumidamente situacionista. Contudo, esse fato, somado à nova Constituição de

1988 e à outra eleição presidencial, no final de 1989, marcou o processo do “fim da

ditadura militar” implantada em 1964. A Constituição de 1988 contribuiu para o

fortalecimento dos municípios atribuindo a estes a condição de entidade estatal,

politico-administrativa, com personalidade jurídica e competência normativa e aumento

da sua autonomia politica, administrativa, financeira e legislativa. Mas apesar deste

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fortalecimento a Constituição de 1988 manteve o poder concentrado no nível da União,

ou seja, descentralizou os encargos, com uma transferência de maiores atribuições, e

cortou progressivamente recursos financeiros, com a não transferência de recursos do

governo federal. Esse processo gerou um reforço às práticas clientelistas e um grande

túnel de entrada para os modelos de privatização.

O período aberto em 1990 não foi uma ruptura política e institucional com o período

anterior, mas uma transição previamente acertada entre as classes dominantes, com o

intuito de preservar a integridade das forças armadas e todo o seu aparato de repressão.

Assim, frustrou-se a maioria da população (movimento operário, estudantil e popular),

que havia se mobilizado pelas eleições diretas.

Durante os cinco anos de governo Sarney o que mais marcou foi a inflação e os

sucessivos planos econômicos fracassados e sua generosidade na distribuição de

concessões de rádio e TV para parlamentares que votaram para aumentar seu mandado

de 4 para 5 anos. Seu governo foi um show de clientelismo.

Em 1989 o coronelismo uniu-se para apoiar Fernando Collor de Mello (PRN) - que

numa histeria generalizada, visava afastar a “personificação do mal global”, Leonel

Brizola-, difamar e manipular o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, disseminando

preconceitos e pânico em seus palanques, às vezes travestidos de jornalismo. Célebre foi

a intervenção da TV Globo, no episódio manipulatório de edição do último debate, dois

dias antes da eleição do segundo turno, quando toda a estrutura dessa rede televisiva

estava voltada para a eleição do "caçador de marajás", Fernando Collor de Mello.

Collor baseou seu governo no autoritarismo, na mentira e na publicidade com gestos de

Mussolini, atitudes de Jânio Quadros e muita prepotência, aliada à arrogância típica dos

coronéis, senhores de escravos do Nordeste.

Em 1992, com a pressão de milhões de pessoas, principalmente os estudantes de “caras

pintadas”, mobilizadas a favor da queda daquele Presidente, uma CPI concluiu que

Collor sabia e se beneficiava de um esquema ilegal de arrecadação de dinheiro

organizada pelo seu tesoureiro de campanha eleitoral, Paulo César Farias. A Câmara

autorizou o impeachment, o que resultou na imediata cassação do seu cargo. Um fim

melancólico.

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Em 1992 assumiu o Vice de Collor, numa nova manobra apaziguadora. Tendo iniciado

sua carreira no MDB, Itamar foi eleito vice-presidente pelo PRN— uma legenda

eleitoral “de aluguel” como outras — e por isso governou sem dispor de uma base

partidária própria.

O Plano Real foi o ponto culminante de uma politica conservadora construída

habilmente após os fracassos de Dilson Funaro e Zélia Cardoso. A mídia costurou o

apoio ao Plano Real casado com a simpatia indiscreta do ‘príncipe’ Fernando Henrique

Cardoso conduzindo-o à presidência em 1994.

Com Itamar Franco na presidência, deu-se o período da “república do pão-de-queijo”,

importante para o processo de democratização do país, depois da ditadura militar, do

clientelismo comandado por Sarney e do ‘governo mentira’ de Collor. É feita a

transição entre esse último e FHC.

O clientelismo será realimentado por FHC, através das barganhas com o uso dos

recursos públicos. Outras de suas marcas na Presidência buscavam a consolidação dos

métodos neoliberais de governar, como a diminuição da participação do Estado na

economia, a tentativa de diminuir a própria máquina do Estado, o recurso sistemático a

instrumentos monetaristas de controle do mercado, a desregulamentação das relações de

trabalho etc. Após dois mandatos, apesar de se apropriar - como o pai - do plano real,

FHC não conseguiu eleger seu sucessor.

FHC criou uma rede de proteção social com o Bolsa Escola, Bolsa Alimentação,

Auxílio Gás etc. que foi unificado no programa Bolsa Família na gestão Lula. Essa

profusão de programas compensatórios serve atualmente como exemplos de políticas de

expansão do clientelismo. Corrupção, CPIs, escândalos, caso Sivam, privatização

duvidosa da Telebrás permearam o governo FHC e que forma fragilizaram a base de

sustentação do governo. Fernando Henrique Cardoso debelou a inflação, apossou-se do

Real e estabilizou a economia mas não obteve a aprovação popular: deixou o Planalto

com 26% de aprovação, 57 pontos percentuais abaixo do que recebeu Lula no fim de

oito anos.

O período Lula de certa forma continuou o período FHC. Preservou a política

econômica e as reformas liberais, consolidando a hegemonia liberal e a democracia,

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como sistema de dominação social. Não só manteve o clientelismo, como aumentou

esta prática, para alguns observadores. Assim, após dois mandatos de FHC, que apesar

de visto como “o pai do plano real” não conseguiu eleger seu sucessor, a chegada de

Lula à presidência é o ponto culminante da crise de alternativas de esquerda para os

movimentos sociais e a maioria da população, ainda muito carente dos serviços públicos

básicos.

É recorrente a prática do clientelismo não apenas nos períodos eleitorais, como

manutenção dos “currais”, mas em todos os momentos da prática politica. Estão sempre

presentes, na atividade política tradicional, as relações/articulações entre o político e o

eleitor, através da troca de “ajudas” e “favores” por voto e apoio político, o uso e desuso

dos cargos de confiança que são preenchidos por indicações politicas. É como se o

político tivesse sua clientela (seu eleitorado) nas mãos, exercendo seu poder através da

barganha mútua e cotidiana. O coronel de hoje segundo José Murilo de Carvalho

Tempera tudo isso com o molho do paternalismo e do clientelismo

distribuindo as sobras das benesses públicas de que se apropria.

Habilidoso, ele pode usar máscaras, como a do líder populista, ou do campeão da moralidade. Para conseguir tudo isso, conta hoje, como

contava ontem, com a conivência dos governos estadual e federal,

prontos a comprar seu apoio para manter a base de sustentação, fazer

aprovar leis, evitar investigações indesejáveis. Nesse sentido, o novo coronel é parte de um sistema clientelístico nacional. (Carvalho, 2001)

Nas bases eleitorais, o político “coronelista”, disputa um cliente e este é o eleitor.

Troca-se apoio político e lealdade por benefícios patrimoniais, máquina política por

compromisso, pratica-se o nepotismo. O clientelismo permanece vivo.

Segundo Hermínia Maricato, “o clientelismo político nunca esteve tão forte como na

primeira década do século XXI nas cidades brasileiras”, pois o Brasil carrega a mazelas

de um processo de urbanização dependente e subordinada, do desprestigio do trabalho

braçal como herança escravocrata, do patrimonialismo e a privatização da esfera

pública.

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Autoridades do executivo e do legislativo agem como donas de pedaços

da cidade e de seus moradores desafiando qualquer perspectiva de impessoalidade e racionalidade (ainda que nos limites da sociedade

capitalista) no uso do fundo público ou planejamento no uso e na

ocupação do solo. O mercado é restrito: seja o mercado de trabalho, seja o mercado de acesso à moradia e à cidade com seus serviços,

equipamentos e infraestrutura. A ilegalidade é regra. (Maricato, 2011:

132)

As elites usam do clientelismo para garantir sua sobrevida como privilegiadas, por mais

adversas que sejam as condições no capitalismo. Com isso o clientelismo continua forte,

mantendo-se tanto nos períodos democráticos, como nos períodos autoritários,

atravessando fronteiras de classes, grupos e categorias profissionais, numa

demonstração de força corporativa e de controle.

CPI dos Bingos, dos Correios, Sanguessugas, Mensalão, CPI Cachoeira são amostras de

como o fisiologismo e o clientelismo estão arraigados na política nacional nesta

intrigante relação entre o público e o privado. Casos que envolvem uma relação de troca

ou permuta baseada na transferência de recursos públicos para a esfera privada são

frequentes. Um dos flagrantes disso ocorreu em 2009, quando surge uma série de

denuncias dirigida ao então presidente do Senado, José Sarney, mostrando que a sua

Fundação, com sede em São Luiz no Maranhão recebia fundos da Petrobrás. Também

seu filho e seu neto faziam tráfico de influência para intermediar empréstimos de bancos

e para influenciar nomeações de diretores da Eletrobrás.

O grande desafio das esquerdas para as políticas públicas seria o de resgatar a cidadania

da população excluída, dando-lhes condições para a sua emancipação. Esse foi o mote

inicial do Bolsa-Família, por exemplo. Mas, com o passar do tempo, ficou provado

tratar-se, apenas, de mais uma “política compensatória”, como também acontece com o

fornecimento de uns poucos remédios gratuitos para o tratamento de algumas doenças

crônicas. Tudo isso evidencia que, com a crescente acumulação de riquezas pelos

grandes capitais (particularmente os dos banqueiros), é impossível trazer o conjunto da

população, inclusive a que está na pobreza absoluta, para condições mais dignas de

existência. Seria preciso enfrentar as elites econômicas e iniciar uma real distribuição de

renda.

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3. O Coronelismo eletrônico

As empresas de rádio e televisão operavam até a Constituição de 1988 através de

concessões e licenças expedidas diretamente pela Presidência da República.

A ditadura militar liberou inúmeras concessões públicas de rádio e televisão para

políticos, em sua maioria da Arena (Aliança Renovadora Nacional), apesar da lei da

época deixar claro o impedimento de concessão para quem exercia mandato eletivo.

Para efetivar essas concessões usavam parentes, teste de ferro, laranjas etc, mas o

mando real era do parlamentar.

A partir da Constituição de 88 o poder de outorga continua sendo prerrogativa do

Executivo porém a autorização precisa passar pela apreciação do Congresso Nacional.

A “Constituição Cidadã”, de 1988, redigida e aprovada pela Constituinte trouxe

características liberais e democráticas e estabelece o voto facultativo para analfabetos e

adolescentes e os direitos e garantias fundamentais. Mas é também o momento em que

os movimentos sociais se desencantam com os rumos da politica e descrenças no

processo democrático. Surge um ‘neocoronelismo’ o chamado coronelismo eletrônico

que se transforma num meio hegemônico de informação e indução de modas e costumes

praticados por figuras como o ex-senador Antonio Carlos Magalhães que, quando

ministro das Comunicações do governo José Sarney, distribuiu canais de rádio e

televisão a todos os grupos políticos regionais dominantes, especialmente no Norte e

Nordeste do País, articulando a filiação de muitos desses canais à mais poderosa das

redes privadas de televisão, à qual ele estava, na época, umbilicalmente ligado. Assim

floresceu a relação de crescente promiscuidade entre o poder político e o poder da mídia

que desvirtua a democracia brasileira.

Antonio Carlos Peixoto de Magalhães – ACM era um queridinho da intelectualidade,

vivia cercado de artistas, poetas, cantores, e claro, de Roberto Marinho e Nascimento

Britto, dono do Jornal do Brasil. Durante anos foi personagem central do poder, desde

1964 quando se colocou como uma das peças chaves de Castello no Congresso.

Acabou sendo escolhido ministro das Comunicações – na cota de Roberto Marinho –

por Tancredo Neves e continuou no governo Sarney até que em 1990 elegeu-se

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governador da Bahia, pela terceira vez. Brigou e amou Fernando Collor, fez de gato e

sapato Itamar Franco e foi o caviar da sopa de FHC.

É nesse período e mais notadamente a partir dos anos 90 que os velhos barões da mídia,

no nosso caso coronéis, adaptaram-se aos novos rumos do capitalismo e surgem com

força os nomes como Marinho, Mesquita, Sirotsky, Bittencourt e Frias que passam a

ditar as regras no mundo da imprensa e a pautarem a chamada “opinião pública”. O

auge deste império foi durante o “principado” de Fernando Henrique Cardoso, período

em que as elites se unificaram em torno dele, tentando vender uma imagem de que o

país vivia uma nova fase de desenvolvimento - ao entregar o patrimônio público a

preços irrisórios (via privatizações), reduzindo investimentos na saúde, na educação, no

saneamento e em outras áreas sociais, entre outras medidas com as mesmas intenções.

FHC liberou milhares de licenças de rádio e tv, sendo centenas delas para entidades ou

empresas controladas por políticos favoráveis à emenda da reeleição.

O coronelismo eletrônico, longe das formas tradicionais do coronelismo com base rural

significa uma nova forma de dominação graças aos seus ‘novos latifúndios’- as

concessões de televisão e rádio baseadas nas barganhas e na troca de favores. Os

veículos de comunicação se esbaldam de verbas públicas e as usam para a manutenção

do filhotismo, do apadrinhamento de candidatos políticos e no arrendamento do seu

latifúndio para produtoras independentes.

A “relação de reciprocidade” explicitada por Leal em seu livro clássico é aqui

alimentada e conservada dando sustentação para as lideranças dos coronéis modernos

em detrimento da implantação, organização e democratização de políticas públicas

voltadas para o cidadão e para a sociedade.

A constatação do uso político das emissoras e da vinculação de políticos a elas são os

alicerces do conceito de coronelismo eletrônico. Delineado, por exemplo, por Santos e

Capparelli (2005), baseia-se também na inexistência de instituições políticas adequadas,

ou melhor, em um vazio institucional-legal interessante a uma minoria favorecida pelo

poder concedente. Por que “coronelismo eletrônico”? Pela tradição política brasileira,

mantêm-se o título de “coronelismo” e, por não estar obrigatoriamente ligado à estrutura

fundiária e nem tê-la como principal fonte de poder, mas sim a mídia eletrônica, ganha

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o qualificativo “eletrônico”, mais consoante com o objeto em estudo. O “objeto do

desejo” é novo, mas a moeda de troca continua sendo o voto.

4. O Voto como espetáculo

Temos visto um processo de mercantilização do voto e uma teatralização da realidade

onde

“o voto conseguido por meio do marketing gera um cliente e não uma pessoa solidária e

consciente. Trata-se de uma relação imediata e instável. O cliente logo abandona o líder,

caso este não possa atender as suas demandas”. (Sampaio, 2006)

Predomina-se o voto como marketing e todo e qualquer meio para agradar o eleitorado.

Não elegemos mais quem gostamos e sim quem a mídia nos faz gostar, através de seus

mecanismos de manipulação ou de ideologização. Essa situação evidenciou-se nas

eleições presidenciais de 2010, com a ausência de discussões mais profundas sobre os

programas de governo, o escamoteamento do confronto de ideias e com a presença

relevante dos marqueteiros.

É de Marx a famosa frase de que a sociedade capitalista, à primeira vista, é uma

“imensa coleção de mercadorias”. Parafraseando Marx, Debord afirma que “toda a vida

das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como

uma imensa acumulação de espetáculos”. O espetáculo é uma relação social entre

pessoas, mediadas por imagens, na sociedade do espetáculo, a mercadoria é a razão

última de todas as relações sociais, a racionalidade mercantil impregna o conjunto das

relações sociais.

A concepção de Debord é a de que, a partir do momento que a mercadoria ocupa a

totalidade da vida social, o espetáculo domina a sociedade moderna. Não o ser humano,

mas uma sombra sua, parcializada e corrompida por idiossincrasias, “o consumidor” se

torna o centro da nova sociedade e o valor de uso das mercadorias passa a ser ainda

mais comandado pelo valor de troca. A sociedade moderna, especialmente no período

pós-Segunda Guerra Mundial, se torna a sociedade do espetáculo onde a representação

fetichizada do mundo dos objetos e das mercadorias se torna hegemônica. O reino da

aparência é o novo circo que representa o pão cotidiano consumido pelo ser humano

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enclausurado numa sociedade que produziu uma intensa mercantilização das relações

sociais.

Em 1988, Debord publica os Comentários sobre a Sociedade do

Espetáculo, reconhecendo que, em vez de a sociedade do espetáculo ser

destruída, ela se fortaleceu no período histórico posterior às lutas sociais

de 1968. Nesse texto, ele afirma que a produção de espetáculos tomou

conta de toda a vida social; o poder espetacular manifesta-se agora de

forma integrada, já que desapareceram os movimentos sociais de

oposição, que se assimilaram à sociedade capitalista e não defendem

mais sua superação. (Novaes, 2011)

Os partidos políticos são poucos representativos hoje e a politica está centrada na

“personalidade”. A salada partidária e sua fragmentação contribuem para reafirmar essa

posição. A consistência ideológica e programática dos partidos pouco importa, o mais

importante é ganhar as eleições.

Tudo é possível até como nos ensinou o então ministro da Fazenda do presidente Itamar

Franco, o diplomata Rubens Ricúpero: ‘eu não tenho escrúpulo, mostro o que é bom e

escondo o que não presta’ no que foi rapidamente defendido pela revista Veja (7/9/1994

– p.33) “Óbvio que todo mundo diz uma coisa em público e outra no âmbito privado, às

pessoas de confiança”. O politico torna-se um ator de posse de uma apurada técnica

para comprar votos ou ter um sistema de cabresto forte.

É preciso nesta forma de dominação seguir os parâmetros midiáticos ditados pela

sociedade do espetáculo e quando alguém não age de acordo com os princípios da

ideologia dominante, com certeza será taxado, julgado e condenado por maldade

subversiva, pois “o espetáculo submete a si os homens vivos, na medida em que a

economia já os submeteu totalmente. Ele não é nada mais do que a economia

desenvolvendo-se para si mesma. É o reflexo fiel da produção das coisas, e a

objetivação infiel dos produtores”. (Debord, 1997: 140)

Na mercadoria candidato o mais importante é a embalagem ou a etiqueta e o eleitor

acaba virando um consumidor sem regras, desfeito de pensamentos mais profundos

porque o mais importante é vender o produto. Há casos que não encontramos diferença

entre votar e comer um Mc Donald´s: o amo muito tudo isso se desfaz em minutos. O

eleitor é visto como um consumidor e o político um produto a ser consumido. Podemos

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eleger quem oferece um comercial divertido, numa boa embalagem confeccionada por

profissionais orientados pela lógica da publicidade.

Quanto mais o homem transforma sua vida num produto, mais ele o separa da vida. A

alienação se completa. A mercadoria voto tem preço que é calculado com base em seus

gastos. Um preço que o coronel tem que cobrar com valores de mercado e este preço é

alto devido ao custo com a contratação de profissionais especializados em marketing. O

nosso eleitorado tem sua origem no coronelismo baseado no personalismo, na pessoa,

como era o antigo coronel, no caciquismo, na troca pessoal de favores e quase pouco

centrada na politica classista. Enquanto existir a miséria que obriga as pessoas a

venderem seus votos o clientelismo prevalecerá.

4.1. Sociedade do Espetáculo e Luta de Classes

“Coronelismo eletrônico”, o chamado “protagonismo do consumidor”, “partidos

mercadorias”, “voto mercadoria”, “mercantilização das relações sociais”, “espetáculo

como fetichização da realidade” etc., são expressões que poderão nos ajudar muito a ter

um entendimento mais adequado do período histórico, que vivemos. Mas, precisamos

tratar com atenção alguns aspectos, se não quisermos que a nossa própria teoria nos

cause o terror, que pretendeu Michael Jackson, no seu thriller Moonwalker, para

trabalhar com um ícone da atual sociedade do espetáculo.

Nesse espetáculo filmado, talvez intuitivamente, o autor usa “mortos vivos” e meche

com alguns medos, que pairam sobre as sociedades atuais (opressão, violência,

inesperado, intimidação). Poderíamos, também, usarmos um exemplo dos clássicos da

literatura nacional, Érico Veríssimo, na sua obra Incidente em Antares, onde mortos não

enterrados revivem e acabam denunciando inúmeras arbitrariedades, até então

escondidas da população local. Veríssimo nessa obra, lançada em 1971, produz uma

sátira politica, contundente e hilária abordando temas como tortura, corrupção e

mandonismo. Quem sabe, nesse segundo exemplo fugiríamos um pouco da Síndrome de

Colonizadoii, que nos impede de entendermos melhor nossos próprios espetáculos. Aqui

uma grande questão se coloca: como os grupos sociais dominados podem escapar do

processo de submissão e resignação a que foram submetidos e adquirirem

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independência do processo de caridade privada institucionalizada e pela filantropia dos

programas compensatórios?

O sistema capitalista não sucumbiu aos diversos conceitos utilizados, ao contrário,

constatou-se o seu fortalecimento, criando e recriando permanentemente vastos

segmentos marginalizados do processo produtivo. O espectro da luta de classes continua

a assombrar porque as massas pauperizadas não podem mais ser enquadradas no

mercado de trabalho.

Disso decorre que, ao “enterrar vivas” as classes sociais, estaremos apenas camuflando

a realidade - na melhor das hipóteses – ou tentando adaptar a realidade às nossas teorias

– na pior das hipóteses. Em ambos os casos estaremos, apenas, preparando o susto de

vê-las reemergirem, nos seus papéis de classes cada vez mais evidentes.

Os movimentos e os setores sociais, muitas vezes são vítimas das manipulações do

marketing, hoje mais facilmente propagado pela grande mídia eletrônica. Mas,

historicamente, não cabe a eles o desmascaramento dessas propagandas, Justamente

porque os seus comportamentos derivam mais das provocações que sofrem, do que de

uma análise de fundo e um planejamento. As elaborações teóricas e históricas são mais

dos intelectuais (orgânicos ou não) e dos partidos políticos, não os preocupados com os

papéis, que as “modas” venham a lhes atribuir, mas os que são conscientes da

necessidade de contribuírem para que as transformações sociais sejam para melhor.

Essas elaborações teóricas devem conquistar esses setores hoje marginalizados e

oprimidos e incorporar suas reivindicações e anseios num programa de ruptura.

É pouco todo o esforço para interpretar a realidade, para a maior aproximação possível

das nossas ações para que resultem, de fato, no efeito demandado pelas maiorias sociais

(que, não por acaso, compõem os setores mais oprimidos politicamente e explorados

economicamente). Vale a pena fazermos menção, mais uma vez, à ficção

cinematográfica para trazermos “De Volta para o Futuro” uma frase, que, mesmo sendo

do século XIX, é bastante atual para traduzir a busca da humanidade, que dura toda a

sua existência.

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Os poderes objetivos e estranhos que até aqui vinham imperando

na história, colocam-se sob o controle do próprio homem. Só a

partir de então, ele começa a traçar a sua história com plena

consciência do que faz. E só daí em diante as causas sociais

postas em ação por ele começam a produzir predominantemente,

e cada vez em maior medida, os efeitos desejados. É o salto da

humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade.

(Engels, 1988:76-77).

Como combater a alienação sob formas alienadas? Debord ao analisar o proletariado

como sujeito e como representação escrevia: “a burguesia chegou ao poder porque é a

classe da economia que se desenvolve. O proletariado só poderá ser o poder se ele se

tornar a classe da consciência”. (Debord, 1977:58)

Coronelismos contemporâneos

Como poderia uma antiga forma de dominação política persistir até os dias de hoje? Se

partirmos da conceituação de Vitor Nunes o coronelismo como sistema político apenas

se restringe ao período da 1° República, ou República Oligárquica (1891-1930), quando

o Brasil ainda não havia constituído as bases sociais e econômicas para a instauração de

um regime republicano e democrático, pois foi diante destas inadequações que surgiu a

figura do “coronel” enquanto uma relação política de compromissos.

Podemos, em certo sentido, até afirmar que o coronel é, ainda hoje, um mito do

imaginário, sobretudo do imaginário nordestino. Como explicar o sucesso de

personagens como Ramiro Bastos (Gabriela) ou mesmo o Odorico Paraguaçu da novela

O bem-amado (1973) de Dias Gomes? Ou o coronel Limoeiro personagem do Chico

Anysio inspirado em Chico Heráclio. Histórias de poder ilimitado, de quem manda

prender e soltar, que casa e descasa e que ganha as eleições de qualquer jeito. O jurista

Barbosa Lima Sobrinho em prefácio à segunda edição de Coronelismo, Enxada e Voto

de Victor Nunes Leal afirma que "para manter a liderança, o "coronel" sente a

necessidade de se apresentar como campeão de melhoramentos locais, senão para

contentar amigos, pelo menos para silenciar os adversários. E o prestígio político de que

desfruta o habilita como advogado de interesses locais".

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Exceto em obscuras regiões, é provável que o “coronel”, latifundiário pré-capitalista,

que controla trabalhadores dependentes em suas terras, não exista mais. No entanto, será

que não persistem os currais eleitorais, a fidelidade ao “coronel/empresário, homem de

negócios” e a vinculação das escolhas eleitorais, nos vários níveis da eleição (estadual e

federal)? Apesar dos avanços da democracia representativa, da urbanização, do voto

livre e do maior acesso à informação, ainda existem evidencias das políticas arcaicas

nos municípios.

Na verdade, o “coronel”, que apoia os candidatos governistas, continua dando-lhes

votos em troca de recursos; permanece o medo das pessoas em “desrespeitar o chefe”; o

“coronel” ainda é visto como o único que pode trazer recursos ao município ou nos

bairros dos grandes centros urbanos; mantêm-se prefeituras ou subprefeituras, que

pouco atende às demandas populares, com o empreguismo e favoritismo, contra o

concurso público e a burocracia etc. Também permanece a força da cooptação das elites

e a utilização do voto de favor, apesar da implantação das urnas eletrônicas e de meios

mais eficazes de combate aos desvios eleitorais - como as campanhas efetuadas pelo

Tribunal Eleitoral no combate às fraudes, compra de voto e pela defesa da cidadania.

Mas não se vê tais avanços em muitas regiões (como as do semiárido), onde a estrutura

fundiária é muito concentrada e o domínio da água, exemplificando, é mais importante

do que da terra. Essas estruturas estão nas mãos de quem?

Cinco séculos de dominação latifundiária ensinou às elites como manter o poder e a

reproduzir a cultura do clientelismo, se necessário, aliada a uma boa dose de

autoritarismo, com vínculos profundos no poder local e nos privilégios, que obtém da

sua relação com as diversas instâncias de poder. A força do “favor” e o poder de

polícia, aliados, distribuem benefícios aos correligionários e repressão aos inimigos,

sempre voltando à velha máxima: “aos amigos pão, aos inimigos pau”. O poder

coronelístico se mantém, sendo solidário com o governo, quando convém ou

obedecendo-o, sempre que necessário. Em cada período eleitoral surge um político

clientelista de “novo estilo”, um novo “cacique” urbano ou um novo partido, com seu

dono disputando a preferência do mercado, através da captação de doações de

campanha. A estes interessa uma sociedade desarticulada e sem identidade, uma

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democracia frágil e sem participação popular para continuar sua dominação

hegemônica.

Reafirmamos aqui que a figura típica do coronel que acostumamos a ver nas obras de

Jorge Amado não existe mais. Esse coronel do imaginário pertence ao passado e o que

restou foi seu caráter autoritário e clientelista que veste roupa de médico, terno de

advogado, paletó de industrial, batina de padre, gravata de pastor ou é comerciante:

mudou de título mas não de poder. Hoje, como já dizia o ‘insuspeito’ Aureliano Chaves:

não há mais coronéis, mas há a mercadoria voto, “que transforma o voto em mercadoria

e o negociam segundo interesses peculiares, utilizando inclusive os meios de

comunicação para deformar as informações e confundir o julgamento do eleitor”.1

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i Mestre em Comunicação, jornalista e sociólogo e editor do site Partes. É membro do grupo de pesquisa

Comunicação e Sociedade do Espetáculo. ii William Jorge Gerab em http://www.partes.com.br/2013/01/08/sindrome-de-colonizado/