O conto e as contas do m2

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Susirosa 2011 O CONTO E AS CONTAS DE UM m2 de metáfora a mascote

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Susirosa 2011

O CONTO E AS

CONTAS DE UM m2 de metáfora a mascote

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O CONTO E AS CONTAS DE UM m2

Havia há muito, muito tempo uma doce rapariga

que gostava das caminhadas... Gostava do ar limpo

e azul do verão e de sentir o frio passeio, no

rosto, da chuva do inverno... Gostava de calçar as

suas “botas de ir a qualquer parte” e perder-se nos mais insuspeitados

lugares para a descoberta, muitas vezes espontânea e agressiva, duma

natureza que fora a mesma que desfrutaram e cuidaram quantas pessoas lá

estiveram ao longo dos tempos... Gostava de se sentar, já quando o cansaço

era intenso, e mirar o horizonte, deixando a sua mente livre para imaginar o

que qualquer pessoa, em tempos já longínquos, pensara naquele mesmo lugar: em que condições de vida podiam estar aqueles que a precederam naquele

cenário...?

Aprendeu, graças à sua sensibilidade e vivência peculiar, a respeitar o que

estava a ver, a escutar, a cheirar... e aprendeu ao sabor da tranquilidade o

sentir fazer-se parte dela. Certa vez até, depois de muito esforçar-se,

aprendeu, como tinha contado o Grão Chefe Sioux naquela carta escrita aos

americanos, escutar o crescimento das folhas nas árvores... E isso, isso,

precisamente, foi o que mudou as coisas. Aquele esforço veio com o

compromisso, talvez tácito e inconsciente, com essa terra que cada dia dava

sustento aos seus pés.

A rapariga gostava de muitas mais coisas... do chocolate, dos colegas, da

música, da leitura, dos sonhos... e até do seu trabalho. Considerava ser uma

pessoa de sorte por ter o trabalho mais considerado por ela: O ensino era a

sua profissão. Nesse ambiente era onde queria deixar presente, não só do

quanto nos seus próprios estudos tinha aprendido, mas principalmente,

daquelas descobertas vitais que foram vindo como bofetadas e mudaram o

seu jeito de vida e de compromisso com ela. Isso fazia-se com o exemplo da

sua própria atitude, mas também com a criação de situações para que os

meninos, com os quais tinha a sorte de trabalhar, descobrissem e a

fizessem descobrir (de forma espontânea e simultaneamente agressiva) o

que o espaço de que faziam parte lhes guardava como prendas embrulhadas

em papéis de brilhantes cores...

Foi neste cenário que a rapariga encontrou uma nova ideia educativa no

âmbito da sua comunidade autónoma: A Agenda 21 Escolar de Galicia.

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Derivada daquela outra, geral, A Agenda 21, de compromissos com o

Planeta, esta relacionava-se com os compromissos com a terra (e tudo

quanto dela faz parte) que se está a pisar. E gostou... agora já conhecem o

grande vício da rapariga: os gostos por quase tudo!

A educação é um pilar, a instrução outro, a formação outro ainda… sabia-o!

Foi então que ela incluiu essa Agenda 21 Escolar Galega na sua formação e,

o mais importante, incluiu-a no seu esquema e metodologia de trabalho e no

seu esquema e metodologia de vida. Decidiu ir pouco a pouco, quais pingos

constantes de água, molhando tudo quanto ela fazia na sua escola para,

assim, dar a conhecer e obter compromissos com esse ambiente social e

natural no qual se vive.

Não era tarefa fácil e, de facto, nem sempre o conseguiu: As gentes,

descobriu, têm também os seus gostos, diferentes, respeitáveis, inclusive

desejáveis (era insaciável nisso dos gostos) mas a ideia era muito boa... e ela

não podia permanecer sozinha nela... Pensou convencer primeiro os meninos

(sempre mais abertos a viver sonhos sem vergonhas, nem medidas) e nessa

corrente, os adultos também subiriam... Achava...

Já tudo estava claro, já tinha os primeiros passos dados, permissões,

projectos, aprovações... e já era altura de ir de encontro ao terreno de jogo.

Mas não se previam facilidades... como apresentar aquele jeito de

metáfora... ? Fazia falta outra metáfora mais próxima da linguagem que

pertencia aos meninos, talvez também aos adultos... Envolvida naqueles

pensamentos, apanhou o carro para conduzir os quarenta quilómetros que a

afastavam do seu trabalho... Inconscientemente a música entrava no seu

cérebro, automaticamente, como a própria ligação da rádio... E foi assim,

entre as ondas, que deslumbrou a solução: “tititititi, un metro quadrado para sentirse bien, un metro quadrado donde me guste vivir, tititititi” Cantava, com o seu particular estilo, Pau Donés, o líder do Jarabe de Palo...

Vamos... um clássico para os adolescentes!! E o inconsciente tornou-se

consciente, então... e fez-se a mascote de toda a apresentação:

“Pensai, fazer uma mudança no meu próprio metro quadrado, naquele que

me pertence porque é onde eu estou a me mover... Isso é fácil. Melhorar

esse próprio metro quadrado. Aquele, inclusive, que gostaríamos ver

melhor na escola... É fácil????”

“Sim, achamos que sim” - era a resposta verbal e gestual das turmas

“Então, eu acho que se cá, somos quase 300 pessoas… Então... Então

falamos de quase 300 metros quadrados melhorados...!!!!!!!!!!!!!!!!!”

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“Parece bom. Gostamos da ideia...” - “ Eu já sei o que propor para

melhorar...” - “ Eu também...” - “ Eu achava bom fazer...” - “E porque

não....?” - falavam todos ao mesmo tempo...

Bem, mas... Não faz falta ser um Matemático de prestígio para fazer

outro cálculo: Se no mundo há milhares de milhões de pessoas... Então,

então... ENTÃO SERIAM MILHARES DE MILHÕES DE METROS

QUADRADOS MELHORADOS!!!!!!!”

A actividade, depois daquelas apresentações, era intensa... E a rapariga

pensou que já não gostava tanto de ser abordada nos corredores com aquilo,

que parecia ser o único que já fazia !!! Mas continuava a faltar qualquer

coisa … um testemunho que formasse uma corrente entre tudo o que já se

fazia…

E eis que, num momento de inspiração, na busca de um qualquer projecto,

numa simbiose perfeita com o eTwinning, obedece à sombra de uma tecla do

computador, e no reflexo da mesma, vê emergir, lá longe… no meio do

Atlântico, umas ilhas cuspidas por vulcões e esculpidas pelo mar. Ilhas que

nem sempre se avistavam no mapa, pelo que, ao tê-las encontrado, podia

considerar-se uma pessoa de sorte! Momento mágico aquele! Lá estavam,

quais marés cheias de ventos desafiando marinheiros e cartógrafos que as

desenharam e cuja beleza se afigurava como açafates de flores,

apresentando-se assim mesmo, ao mundo, revelando um sentir, espelhado na

água, os Açores!

Numa destas ilhas viviam raparigas e rapazes, em muito semelhantes a ela,

no gosto pela natureza, no envolvimento pessoal, no compromisso

profissional, e no encanto pelo poder da profissão que dispunha as mentes a

reflectir algo que já viviam, embora sem nome.

E, na plataforma, gentes de um e de outro lado fizeram coro, trocaram

palavras e afectos, sonhos e vontades … e, sentiram-se próximas, num

mundo virtual, embora real no transporte de um novo horizonte para se

auto-formar e perspectivar novas dimensões de viver com "open mind"…

A memória, essa coisa tão volátil!... Lembram-se daquela rapariga de que

falávamos? Tornou-se ainda mais conhecida pelas palavras que proferiu (

bendita canção que ouvira) :

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No sentido de proliferar o que na sua escola de bom se fazia, enviou convite!

Imensa alegria foi sentida por quem do outro lado, já há muito espreitava

outros ares, novos saberes … qual pirata dos mares em sentido inverso às

habituais rotas da ilha! Os ventos eram bem outros, reconhecia-o -- leves

mas com espessura! Então, que levar de presente a tão ilustre anfitriã?! Mas

o mar não respondia… Eis que o vento segredou “ Constrói o m2 -- nada

melhor haverá para reconhecer o seu valor do que devolver as suas palavras

em forma de mascote!”

Quais cineastas das palavras, nas mãos dos meninos

colocaram a capacidade de o personificar… Da ilha

partiram gentes que o levaram e o entregaram! E a

rapariga, que o tinha ensaiado, sobreactuava, como

se fora uma descoberta do momento, ante a

surpresa de todos, que não tinham reparado de como era fácil melhorar

este nosso planeta e convidou outros a fazerem-no.

De facto, uma imagem vale mais do que mil palavras... É por isso que, naquele

sonho tornado realidade, afortunadamente, decidiu-se que aquela prenda

que representava a metáfora transformada mascote do nosso

posicionamento, devia ir contando esta história a outros espaços, para dar

nome e recolher quanto de bom se estava já a fazer pelo Planeta.

O metro quadrado continua a viagem... Já atravessou todo o Atlântico e

agora, demansinho, quer ser testemunha de quantas paragens faça no

Continente, transportando não só a ideia, mas também a prática, de tantas

escolas que diariamente procuram a melhoria do chão que pisam e de tudo

quanto dele faz parte, com o objectivo de levar afectos e de permitir o

exercício de uma cidadania plena europeia. Quererá certamente melhorar

algo… Quererá seguramente partilhar como tal aconteceu… Podemos contar

o início... podemos sonhar com o fim... Deixemo-lo partir... Na sua volta, ele

será, certamente, o portador de uma história criada ao amparo das nossas

participações, numa rede de escolas, pessoas, afectos... que contar,

novamente, enriquecida…

Susirosa /2011