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O CINEMA E A DIVERSIDADE CULTURAL NA SALA DE AULA

Fátima Sueli Alexandre Nigg1 Jeani Delgado Paschoal Moura2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar o uso do cinema na discussão sobre a diversidade cultural presente em sala de aula, como parte da pesquisa do Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria do Estado do Paraná, PDE/2013. A diversidade cultural está ligada a educação atual, pois a constante transformação da composição ética da sociedade brasileira trouxe a necessidade de se ensinar a respeitar as outras culturas. O desrespeito à cultura tem influenciado os índices de evasão escolar brasileiro. Em Ivaiporã o índice de pessoas que não sabem ler e escrever entre os pardos e negros é o dobro se comparado aos brancos. O projeto aplicado buscou promover a valorização e respeito às diferentes culturas, bem como o desenvolvimento de uma postura crítica que confronte qualquer forma de discriminação. O cinema, como metodologia de ensino, tem a vantagem de se usar várias formas de linguagens, sendo fonte de cultura e informação, cria condições para o conhecimento da realidade, propiciando ao aluno meios para se formar como um cidadão crítico. Como resultados, houve a ampliação do conhecimento sobre a diversidade cultural existente na região, assim como a melhoria significativa nas relações sociais entre os educandos, sendo o reconhecimento das outras culturas muito importante para aprender a valorizar e a respeitar todas as culturas e tradições.

Palavras-chaves: Ensino de Geografia. Cinema. Diversidade Cultural. INTRODUÇÃO

A “diversidade cultural” torna-se um tema atual em razão da necessidade

escolar de atender tal diversidade entre seus educandos. Conhecer a composição

populacional em que prevalecem vários estereótipos, tanto sociais quanto culturais,

é um dever de cada educando, pai, professor e demais membros da comunidade.

Atualmente, segundo os dados do Censo (IBGE, 2010), o índice de evasão

escolar no Brasil é de, aproximadamente, 10% (dez por cento) no ensino médio e de

3,2% (três vírgula dois por cento) no ensino fundamental. Devemos considerar ainda

uma informação constatada no Censo (IBGE, 2010) da cidade de Ivaiporã, em que o

índice das pessoas que não sabem ler e escrever, com 15 anos ou mais, é de 11,6%

1 Professora de Geografia do Ensino Fundamental e Ensino Médio da rede pública do Estado do

Paraná. Graduada em Geografia, habilitação em geografia pela Fafijam/PR. Especialista em Educação Especial pela Fafijan/PR. Aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria do Estado do Paraná, PDE/2013 2 Orientadora/ Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina/UEL.

(onze vírgula seis por cento), porém se estes índices forem desmembrados, a

realidade é bem diferente, ou seja, nos habitantes amarelos o índice é 5,3% (cinco

vírgula três por cento), nos brancos é 9% (nove por cento), nos pardos é de 16,1%

(dezesseis por cento) e os negros (cor preta) é de 20,6 (vinte vírgula seis por cento)

como se comprova a falta de oportunidade seja ela econômica ou social e também a

falta de respeito com as pessoas pardas e negras marcaram a sociedade brasileira.

O Brasil passa por uma fase de grande crescimento econômico e social,

particularmente, no Estado do Paraná, quando este se firmou como a quinta maior

economia nacional, consequentemente, passou a receber pessoas de diversas

regiões do país e do mundo, portanto, é constante a transformação na sua

composição étnica e cultural. Este fato traz diversos registros relacionados às

dificuldades para se lidar com o tema do preconceito e da discriminação étnico-

racial, crime praticado por parte dos educandos e dos profissionais, muitas vezes, de

forma inconsciente. Todo educando possui o direito de ser respeitada em sua

cultura, a violação desse direito influencia no seu processo educacional, via de

regra, se torna motivo de reprovação e evasão escolar, causando danos

irreversíveis no seu psicológico.

Diante da presença da multiculturalidade no cotidiano escolar este artigo

busca debater a valorização e o respeito às diferentes culturas, bem como o

desenvolvimento de uma postura crítica que confronte qualquer forma de

discriminação. No Colégio Estadual Bento Mossurunga Ensino Fundamental e

Médio, localizado no município de Ivaiporã, estado do Paraná, existem culturas

diferentes como a africana, a ucraniana, a japonesa, entre outras; a aceitação das

mesmas merece um trabalho mais aprofundado, que se resgate, respeite e valorize

as diversidades culturais do Brasil, bem como de outros países.

No cotidiano da sala de aula presenciam-se diversos dilemas ocasionados

pelas diversidades culturais, raciais e sociais dos educandos, pela falta de respeito e

compreensão de como são tratadas. Tais confrontos chegam a gerar agressões

verbais e não é raro se presenciar agressões físicas. A cor da pele, os trajes e os

costumes são, via de regra, motivos para se iniciar um constrangimento, que podem

ocorrer quando se contam piadas e se colocam apelidos.

Nesse contexto, o isolamento social acontece frequentemente. O mesmo

também ocorre quando não há aceitação pela sua opção e gênero, pelo seu porte

físico que vai da magreza à obesidade, a sua escolha religiosa ou, simplesmente,

por ser uma pessoa tímida. Ou seja, toda e qualquer particularidade é causa de um

preconceito que pode marcar uma pessoa até o fim de sua vida.

Diante destas situações problemas, os questionamentos que buscaremos

responder com esta pesquisa são:

O que temos feito com as diferenças existentes na escola e na sociedade?

Qual o trato pedagógico que a escola tem dado às diferenças?

Como resgatar nos educandos a valorização nas matrizes raciais formadoras

do povo brasileiro?

O presente artigo fora elaborado inicialmente baseando-se em dados

levantados no projeto "O cinema e a Diversidade Cultural na Sala de Aula" parte do

Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, neste projeto foram elencados

desejos de como se interagir conteúdos da disciplina de geografia e o cinema, após

enfocar-se na diversidade cultural, foram elaboradas atividades que se realizaram no

primeiro semestre do ano de 2013, sendo utilizado mecanismo como: pesquisas

bibliográficas, atividades práticas, visitas de campo e sessão de cinema.

O CINEMA E A DIVERSIDADE CULTURAL

O que pretendemos ensinar passa por explicar o como, o quê e para quê

estamos ensinando. Na construção do saber escolar é primordial que nossos alunos

reflitam a sua condição de sujeitos sociais e partícipes na construção de uma

sociedade democrática, em que os mesmos estejam preparados para fazer escolhas

e compreender o lugar onde vivem. Para Gonzáles (1999, p.93) “O saber escolar

encontrar-se então, em um contexto de conhecimento e no âmbito das relações

sociais”.

A Geografia restrita à memorização de dados e informações é esquecida, por

isso a sua abordagem deve ser filosófica e comprometida com a realidade social. É,

portanto, um processo no qual a aprendizagem significativa se contrapõe à

abordagem repetitiva. Espera-se uma prática mais dinâmica em que seja possível ao

aluno compreender o que está sendo ensinado. Nesse sentido, é preciso optar por

uma metodologia que envolva o educando na construção do conhecimento, que

relacione o conhecimento aprendido a partir da sua realidade local ao global.

A educação geográfica contribui para que os educandos reconheçam a ação

social e cultural de diferentes lugares e as interações entre as sociedades e a

dinâmica da natureza que ocorrem em diferentes momentos históricos. Isso porque

a vida em sociedade é dinâmica e o espaço geográfico absorve as contradições em

relação aos ritmos estabelecidos pelas inovações e que implica nas alterações de

comportamento e na cultura da população dos diferentes lugares.

A ampliação das novas tecnologias e o acesso às mídias estão fazendo com

que muitos educandos e professores considerem que os conhecimentos geográficos

estão sendo repassados por esse meios, ou seja, a internet assumiu o papel de

professor ao ser utilizada, muitas vezes, como fonte norteadora de conhecimentos.

A Geografia é mais do que possuir essas informações e estudá-las significa

relacioná-las aos métodos de análise e processos de aprendizagem.

Nessa perspectiva a educação geográfica para a formação do conceito de

identidade é expresso de diferentes formas: na consciência de que somos sujeitos

da história; nas relações com lugares vividos, nos costumes que resgatam a nossa

memória social; na identificação e comparação entre valores que explicam nossa

identidade cultural.

Ensinar Geografia significa possibilitar ao educando raciocinar

geograficamente o espaço terrestre em diferentes escalas, numa dimensão cultural,

econômica, ambiental e social. A abordagem do termo diversidade cultural torna-se

um tema atual, pois é nesse ambiente que todos devem ter as mesmas

oportunidades de aprendizagem e criar estratégias para atendê-los é nosso

compromisso. O desafio, portanto, é oferecer um ensino que respeite a cultura da

comunidade escolar, para motivar as potencialidades dos alunos, desenvolvendo

assim uma aprendizagem significa numa perspectiva social:

escola/professor/educando/pais/comunidade, criando assim um ambiente escolar

com alunos ativos, criativos, solidários e com uma consciência crítica do real papel

do ser humano no ambiente em que vive.

A escola é formada por uma população de diversos grupos étnicos com seus

costumes, crenças, estrutura biológica e estímulos sociais e culturais. Segundo

Morin (2001, p.56):

a cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social.Não sociedade humana, arcaica ou moderna, desprovida de cultura, mas cada cultura é

singular. Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio das culturas.

É de competência do professor fazer um trabalho diversificado, salientando

que diversificar não significa formar grupos homogêneos, mas fornecer trocas de

experiências para o crescimento de cada um. Para compreender seu

desenvolvimento é preciso considerar o espaço onde vivem e a maneira que

constroem significados; tais afirmativas estão amparadas pelo Artigo 210 da

Constituição Federal e pela Lei nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Básica e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), portanto, devem ser

atendidas nas suas particularidades. Um currículo e uma pedagogia democrática,

segundo Apple, citado por Silva (2002):

devem começar pelo reconhecimento dos diferentes posicionamentos sociais e repertórios culturais nas salas de aula e fundamentar o currículo no reconhecimento dessas diferenças que privilegiem nossos alunos de formas evidentes, como ressalta o PCN (1997, p.15): ‘saber discutir pluralidade a partir das diferenças dos próprios alunos é um modo de conduzir o tema de forma mais próxima da realidade’.

Os maiores desafios da escola, atualmente, é desenvolver um Projeto Político

Pedagógico que estabeleça uma visão real da práxis pedagógica em relação a

diversidade cultural para a competência dos alunos e que atende as diferenças

individuais para que não gere indisciplina, agressividade, fracasso, pois não existe

espaço apropriado para que os alunos demonstrem as suas habilidades, não

podendo esquecer que o despreparo de professores em trabalhar o assunto também

causa interferência no sucesso do objetivo final.

Desse modo, o currículo tem sido o fruto de uma seleção resultante do

processo que reflete, predominantemente, os interesses particulares da classe

dominante que não tem valorizado os vários interesses culturais presentes na

escola.

Forquim (1993) diz entre outras coisas, que a transmissão da cultura no

âmbito escolar ocorre de forma bastante conflituosa, uma vez que os conteúdos

tratados dizem respeito à escolha e à imposição dos professores de forma

dissociada da realidade de quem aprende e de quem ensina.

Ainda segundo Forquim, não haverá ensino sem aquiescência dos alunos e

clareza dos professores uma vez que”ninguém pode ensinar verdadeiramente se

não ensina alguma coisa que seja verdadeira ou válida aos seus próprios

olhos”(1993,p.09).

Os agressores, em geral, pessoas pertencentes a famílias desestruturadas

com baixo grau de afetividade e seus atos ferem o Código Civil que determina que

todo ato ilícito que causa dano a outrem gera o dever de indenizar e, também, no

Código de Defesa do Consumidor se o ato de desrespeito for dentro de escolas,

tendo em vista que escolas prestam serviço de consumidor.

A maior vítima de agressões são os negros e os homossexuais, esse fato se

perpetua na escola de forma alarmante. Essas vítimas sofrem diversas limitações,

como afirma Reis (1999, p.189): “Enquanto o negro brasileiro não tiver acesso ao

conhecimento da história de si próprio, a escravidão cultural se manterá no país”, ou

seja, todos sofreram com a escravidão cultural de nosso país.

Há um consenso entre antropólogos e historiadores ao definirem a cultura

brasileira e suas múltiplas dimensões, em que a característica marcante é a riqueza

da diversidade, resultado do processo histórico-social e das dimensões continentais

de nossa territorialidade, gerando diferentes “culturas brasileiras”. Da confluência, do

entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e

campeiros e com negros africanos, uns e outros aliciados com escravos, originaram-

se a nossa cultura. Darci Ribeiro (1995, p.16) disse que “A sociedade e a cultura

brasileira são conformadas como variantes da versão lusitana da tradição

civilizatória européia ocidental, diferenciados por coloridos herdados dos índios

americanos”.

Darci Ribeiro, ao longo de sua vasta obra, declara o quão difícil é entender

esse processo, uma vez que só dispomos de relatos de um dos protagonistas, o

invasor, e ressalta a importância de lermos de forma crítica a versão do dominador.

Apesar da influência marcante da matriz européia por força da colonização

ibérica em nosso país, não conseguiu, de todo, apagar as culturas indígenas e

africanas, mas, ao contrário, deixou-se influenciar pela riqueza cultural de índios e

negros. Apesar desse fato incontestável de que somos uma nação multirracial e

pluriética, a escola brasileira ainda não aprendeu a conviver com essa realidade, e

não sabe como trabalhar com crianças e jovens na sua grande maioria constituída

por negros e mestiços. Livros didáticos, currículos, programas de ensino mostra uma

preponderância da cultura dita superior e civilizada da matriz européia, despreza-se

a participação das minorias étnicas, especialmente, os índios. Quando aparecem

nos livros didáticos, seja nos textos ou nas ilustrações, índios e negros são tratados

de forma pejorativa, preconceituosa ou estereotipada (ORIÁ, 1996).

A história do Brasil exalta o colonizador português ignorando a presença

indígena, seu genocídio e etnocídio praticado: eram cinco milhões na época do

“descobrimento”, hoje não passam de 350 mil. O negro era visto como mercadoria e

objeto na mão de seus proprietários negam-se ao negro a sua participação na

construção da história e da cultura brasileira, embora tenha sido ele a mão-de-obra

predominante na produção da riqueza nacional, em diferentes momentos de nosso

processo histórico econômico. A respeito de sua importância na formação cultural

brasileira, podemos citar o aproveitamento especializado na metalurgia, marcenaria,

carpintaria, entre outras áreas.

A história do Brasil como é apresentada, seja pelo pensamento conservador de direita ou pelo pensamento tido como progressista de esquerda, induz muitas ideias errôneas ou incompletas sobre as populações negras. Esta indução errônea tem motivos e consequências, e elas despolitizam a população negra, tornam as identidades negras fragiliza das e permitem a realização de uma ampla desqualificação social das populações negras. As ideias permitem a prática da produção de uma hierarquia social, na qual nada produzido pela população negra parece ter importância, tudo que é produzido pela população branca é bom e necessário. na história do Brasil o acerto tecnológico transmitido pelas populações negras ao país não aparece. Nem mesmo as profissões exercidas pelos africanos e afrodescendentes na condição de escravizados ou de livres também não aparecem. (CUNHA, 2010, p.10)

Currículos que se silenciam e omitem a condição de sujeitos históricos às

populações negras e ameríndias tem elevado os índices de evasão e repetência de

crianças provenientes de extratos sociais mais pobres. Estas não se identificam com

uma escola moldada nos padrões eurocêntricos, que não valoriza a diversidade

étnico-cultural de nossa formação. Forquim afirma que,

A escola não pode ignorar os aspectos “contextuais” da cultura (o fato de que o ensino dirige-se a tal público, em tal país, em tal época), mas ela deve sempre também se esforçar para pôr ênfase no que há de mais feral, de mais constante, de mais incontestável e, por isso mesmo, de menos “cultural”, no sentido sociológico do termo, nas manifestações da cultura

humana. (FORQUIM,1993, p.143)

A escola, na medida em que é considerada espaço institucional, cuja função

social é de promover a sociabilidade, a produção e a ampliação de saberes

acumulados, se torna peça fundamental e estratégica para a formação crítica do

indivíduo, currículo e atitudes pedagógicas devem estar articulados visando um

ensino de qualidade na diversidade, de valorização das diferenças, respeitando a

realidade vivida pelos alunos e seus anseios formativos. O que para Forquim (1993,

p.147) se traduz em ”ensinar algo que valha a pena, a quem o ensino se dirige,de

uma legitimidade,de uma validade ou de um valor próprio naquilo que é ensinado”.

Reconhecendo a necessidade de uma educação multicultural, criou-se no

âmbito dos PCNs, como tema transversal a permear as diferentes disciplinas da

Pluralidade Cultural. O MEC coloca como um dos objetivos gerais do ensino

fundamental o conhecimento e a valorização da pluralidade como patrimônio

sociocultural do país, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações,

devendo educandos e professores posicionar-se contra qualquer forma de

discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de sexo, de etnia,

entre outras características.

Ciente de toda valorização às culturas das minorias sociais, muito pouco se

fala das etnias na escola brasileira. Muito recentemente por pressão dos

movimentos sociais, é que a questão da pluralidade cultural vem encontrando

respaldo no ambiente escolar. Segundo Gadotti (1992, p.23)

a diversidade cultural é a riqueza da humanidade. Para cumprir sua tarefa humanista, a escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas além da sua. Por isso, a escola tem que ser local como ponto de partida, mas tem que ser internacional e intercultural como ponto de chegada. [...] Escola autônoma significa ecletismo, um conjunto amorfo de retalhos culturais, significa sobre tudo diálogo com todas as culturas, a partir de uma cultura que se abre as demais.

Consideramos, portanto, que um longo caminho precisa ser percorrido para

que a escola seja, de fato, um instrumento de afirmação de uma identidade

pluricultural. Constatamos, também que a falta de conhecimento das peculiaridades

e das especificidades regionais em um país de dimensões continentais, bem como

dos elementos referenciais das culturas silenciadas de índios, negros e imigrantes

nos currículos escolares têm contribuído para a formação de preconceitos e

estereótipos por parte dos próprios brasileiros. Isso em nada contribui para a

construção de uma sociedade democrática que todos almejamos em que as

diferenças raciais e culturais não se constituam em motivo de discriminação social,

mas sim em instrumento possibilitador da construção de uma nova identidade

nacional, assentada no pluralismo cultural. Só assim estaremos contribuindo para a

construção de uma escola plural e cidadã que formas agentes de transformação

social.

Diante da realidade cultural brasileira e sua ampla diversidade (negros, índios,

mulheres, homossexuais, portadores de necessidades especiais entre outros)

colocamos frente a frente com a luta desses e de outros grupos em prol do respeito

à diferença. A luta pelo direito e pelo reconhecimento das diferenças não pode se

dar de forma separada ou isolada e nem resultar em práticas culturais, políticas e

pedagógicas solitárias e excludentes.

Na construção do diálogo e cidadania a todos não podemos esquecer-nos de

uma instituição muito importante em nossa sociedade: a escola deve compreender

que a racionalidade científica é importante para a formação, porém, ela não muda

por si só o imaginário e as representações coletivas negativas que se construíram

sobre os excluídos sociais.

Se nos orgulharmos da pluralidade cultural da sociedade brasileira,

precisamos criar de fato condições para que as diversidades sejam respeitadas. A

escola é um dos espaços socioculturais em que diferenças se encontram, por isso

seus educadores precisam de formação que dêem suporte para os mais diversos

processos educativos.

As diversidades são construídas culturalmente e historicamente, nas relações

sociais e de poder. Para considerarmos alguma coisa diferente estamos partindo

sempre de uma comparação. Esse padrão pode ser de comportamento, inteligência,

esperteza, beleza, cultura, linguagem, de classe social, de raça, de gênero, de idade

etc.

A discussão a respeito da diversidade deve incluir e abranger uma política

pública, pois diz respeito às relações estabelecidas entre os grupos humanos e por

isso mesmo não está fora das relações de poder. Ela diz respeito aos padrões e

valores que regulam essas relações.

A partir dos anos de 1990 a questão das diferenças vem ocupando um lugar

no discurso pedagógico. Aos poucos educadores têm compreendido melhor que

estabelecimento de padrões culturais, cognitivos e sociais contribui mais com a

produção da exclusão do que com a garantia de uma educação escolar democrática,

inclusiva e de qualidade.

Refletir sobra a escola e a diversidade cultural significa reconhecer as

diferenças, respeitá-las, aceitá-las e colocá-las na pauta das reivindicações no

processo educativo. Reconhecer as diferenças implica em romper preconceitos,

superar as velhas opiniões formadas sem reflexão, sem o menor contato com a

realidade do outro. Um ensino pode ser multicultural a partir do momento em que

põe em ação certas escolhas pedagógicas, ao mesmo tempo éticas, isto é, se leva

em conta deliberadamente num espírito de tolerância, nos seus conteúdos, métodos,

diversidade de pertencimentos e referencias culturais dos educandos aos quais ele

se dirige, tendo por meta tanto melhorar a situação escolar dos educandos das

minorias étnicas quanto de prepará-los.

O trato desigual das diferenças produz práticas intolerantes, arrogantes e

autoritárias. A idéia de padronização da margem ao entendimento das diferenças

como desvio, patologia, anormalidade, deficiências, defasagem e desigualdade.

Avançar nas práticas educativas que contemplem o uno e o múltiplo significa romper

com a ideia de homogeneidade e de uniformização que ainda impera no campo

educacional. Isso nos coloca diante dos diversos espaços sociais em que o

educativo acontece e nos convida a extrapolar os muros da escola e a ressignificar a

prática educativa. Colocamos diante do desafio da mudança de valores, de lógicas e

de representações sobre o outro, principalmente, aqueles que fazem parte dos

grupos historicamente excluídos da sociedade.

educar para a diversidade é fazer das diferenças um trunfo, explorá-las na sua riqueza, possibilitar a troca, proceder como grupo, entender que o acontecer humano é feito de avanços e limites. E que a busco do novo, do diverso que impulsiona a nossa vida deve nos orientar para a adoção de práticas pedagógicas, sociais e políticas em que as diferenças sejam entendidas como parte de nossa vivência e não como algo exótico e nem como desvio ou desvantagem. (GONÇALVES; SILVA, 1996 apud GOMES, 2000, p.168)

Na busca de uma sociedade mais justa, em que preconceitos devem ser

derrubados e as riquezas individuais exaltadas e respeitadas, as práticas

pedagógicas devem se apropriar de todos os recursos oferecidos pelas pesquisas e

pelas novas tecnologias. Diante do avanço tecnológico e da gama de informações

disponibilizadas pela mídia, a escola cumpre seu papel apropriando-se de várias

modalidades e linguagens e desenvolvendo no aluno a capacidade de assimilar as

mudanças tecnológicas que implicam em novas formas de aprender a ler e lidar com

os novos instrumentos para essa leitura. Assim a escola constitui lugar de reflexão

acerca da realidade, seja local, regional, nacional ou mundial, fornecendo

instrumentos capazes de permitir ao aluno a construção de uma visão organizada e

articulada de mundo. O professor como mediador entre aluno e informação,

promove o “pensar sobre” e desenvolve no aluno a contextualização, dando

significado às informações.

Segundo Pontuschka (2007, p.262 apud SILVEIRA, 2003) a revolução

tecnológica em curso destinou à informação um lugar estratégico, e os

agrupamentos sociais que não souberem manipular, reunir, desagregar, processar e

analisar informações ficarão distantes da produção do conhecimento. Não é

novidade o uso de meios audiovisuais como recursos didáticos em sala de aula, há

quem veja como dinamização prática das atividades escolares e outros, devemos

repensar a nossa relação com os meios didáticos audiovisuais e construir propostas

que façam de seu uso experiências ricas e produtivas para o conhecimento escolar

e um momento crítico da realidade em que vivemos e, ao mesmo tempo, um lugar

para sonhar com o mundo.

Nos últimos anos a Geografia tem se aproximado da linguagem fílmica, os

professores de geografia passaram a utilizar cada vez mais filmes e documentários

nas suas aulas, apesar dessa timidez, não podemos dizer o mesmo em relação ao

nosso objeto de preocupação e estudo: o espaço. Francastel (1989, p.157) nos

revela que,

[...] qualquer que seja a importância do movimento ou do tempo ou do qualquer outro elemento técnico ou psicológico no mecanismo de expressão fílmica, deve ter-se sempre em mente que o cinema estabelece a noção de espaço. É sobretudo por isso que ele se diferencia da literatura e da música, e que se integra, de forma clara, no campo das artes de expressão plástica.

Harvey (1992) disse que o cinema, entre todas as formas artísticas tem a

capacidade mais robusta de tratar de maneira instrutiva temas entrelaçados do

espaço e do tempo. A vantagem (sempre relativa) dos filmes documentários e/ou

ficção está na ludicidade que empresta ao nosso trabalho, pois a imagem está em

movimento, assim nos traz forte impressão de realidade, mas não é mais ou menos

importante que mapas, cartas, fotografias, pinturas etc.

O papel do filme na sala de aula é o de provocar uma situação de

aprendizagem, precisa estar a serviço da investigação e da crítica a respeito da

sociedade em que vivemos. Metz (1982) e Xavier (1988) afirmam que toda leitura de

imagem é produção de um ponto de vista: a do sujeito observador, este constrói e

localiza o significado do filme.

[...] Procedendo ao levantamento das realidades através de seus primeiros planos que também sublinham os detalhes ocultos nos acessórios

familiares, perscrutando as ambiências banais sob a direção engenhosa da objetiva, se o cinema, de um lado, nos faz enxergar melhor as necessidades dominantes sobre nossa vida, consegue, de outro, abrir imenso campo de ação do qual não suspeitávamos. Os bares e as ruas de nossas grandes cidades, nossos gabinetes e aposentos mobiliados, as estações e usinas pareciam aprisionar-nos sem esperança de libertação. Então veio o cinema e, graças à dinâmica dos seus décimos de segundo, destruiu esse universo carcerário, se bem que agora abandonados no meio dos seus restos projetados ao longe, passemos a empreender viagens aventurosas. (XAVIER,1988,p. 368)

Segundo Morin (1999), “a alma mágica do cinema”, o que chama de projeção,

é o imaginário humano que nos permite também participar de ilusão oferecida pelo

cinema e vivê-la como uma experiência; permite-nos entender as relações humanas

de uma maneira complexa: somos capazes de pautar nosso comportamento pelo

dos outros, que nos possibilita viver na pele de um personagem. Essa capacidade

de nos extasiarmos e de refletirmos é que dá ao cinema um alto valor educativo,

experiências e novos conhecimentos que possibilitam reflexo, planejamento e

avaliação da vida.

O cinema na educação se popularizou com a invenção do vídeo, na década

de 1970. Na década de 1990 com a formação de videotecas nas escolas passara a

fazer parte da infra-estrutura de apoio aos professores nas escolas. A relação dos

professores e alunos com apresentações de filmes foi sempre conflitiva: escolhas de

títulos inadequados, condições de apresentação difíceis e uma metodologia

disciplinar conservadora.

É preciso que o filme tenha qualidade expressiva e não apenas teórico-

científica, mesmo que trate de conceitos sobejamente aceitos; se a filmagem é

medíocre os resultados serão negativos. Não se deve fazer distinção entre filmes de

arte ou comerciais, pois a cultura cinematográfica de professores e alunos é eclética

e diversificada. Além disso, trabalhar com ficção, com metáforas do real é a melhor

forma de lidar com nossos sonhos, anseios e receios. Franco (1997, p.34) diz

O bom é ver. Expectar. É definitivamente o prazer de ver/ ouvir a grande mágica sedutora das linguagens audiovisuais. Por isso mesmo tão persuasiva e pedagógica. Não creio que tenha mais nenhuma eficácia tentar negar ou minimizar esse festival dionisíaco. Um século de cinema plasmou esse hábito psicossocial de buscar alegria no jogo de ver/ouvir.

A linguagem cinematográfica faz parte dessa revolução tecnológica dentro da

escola por contribuir com a formação de habilidades voltadas ao intelecto, ao

artístico e afetivo. O cinema surgiu no final do século XIX em decorrência do avanço

científico e do aperfeiçoamento das técnicas de projeção de imagens empreendidas

por diversos cientistas. Segundo Mocellin (2009), nas duas primeiras décadas do

século XX, houve certo desprezo pela “sétima arte” por parte da elite intelectualizada

europeia e norte americana, além de ser visto, inicialmente, por simples inovação

técnica, estabeleceu-se como diversão popular, mais foi justamente a aceitação

popular do cinema que influenciou o seu uso político: com o triunfo da Revolução

Russa (1917), Leon Trotsky declarou que a inovação seria um contraponto para os

atrativos do álcool e da religião – um suporte para a educação das massas, durante

vários anos o cinema serviu de propaganda para ideias nazistas bolchevistas e um

ótimo propagador dessas idéias.

Ao invés de seguir a tendência dominante de tratar o cinema como mais um

recurso didático para o ensino Duarte (2002) parte do entendimento de que a

educação e o cinema são formas de socialização dos indivíduos e instâncias

culturais que produzem saberes, identidades e visões do mundo.

Duarte (2002) com base em Pierre Bourdieu, afirma que a experiência das

pessoas com o cinema contribui para desenvolver o que se pode chamar de

“competência para ver”. Porém o desenvolvimento de tal competência não se

restringe ao simples ato de assistir filmes, tal competência tem ligação com o

universo social e cultural dos indivíduos. Duarte (2002) reafirma a necessidade de

explorarmos filmes nas escolas, mas não somente como recurso de apoio didático,

de segunda ordem. Podemos contribuir no processo de “ensinar a ver”, devemos

nos preocupar com a escolha de filmes.

Ainda na primeira metade do século XX algumas escolas dos Estados Unidos

começaram a utilizar filmes como material didático e o resultado na retenção do

aprendizado aumentaram e filmes pedagógicos começaram a ser criados a Erpi

Classroom Films Inc foi pioneira nesse assunto.

No Brasil, intelectuais ligados à Escola Nova, que propunham uma ruptura

com as práticas tradicionais, centradas no papel do professor, também identificaram

no cinema um forte potencial didático.

Entretanto, apesar de várias tentativas, o uso de imagens cinematográficas

nunca foi implementado como prática didática regular, sendo recente a preocupação

sobre a utilização ou não do cinema como ferramenta didática, refletido em obras a

partir de 1990 que apontam caminhos metodológicos possíveis para o professor.

Longe de tratar o cinema apenas como mais um recurso didático-pedagógico,

a escola precisa assimilar a ideia de que a educação e o cinema são formas

similares de socialização: há um paralelo entre as relações construídas por alunos e

professores e as relações construídas entre expectadores e filmes.

Por meio do cinema podem-se estabelecer diálogos, interpretações e

compreensões de relações familiares, escolares, da sociedade, enfim, permite-nos

expressar diferentes emoções vividas coletivamente.

Segundo Duarte (2002, p.17) ver filmes é uma prática social tão importante,

do ponto de vista da formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura

de obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais.

Morin preparou em 1999, um documento, a pedido da UNESCO, sobre a

educação do futuro, onde expõe a sua crença sobre a necessidade de educar para

afastar os obstáculos da compreensão humana, combatendo o egocentrismo, o

etnocentrismo e o sociocentrismo. As ideias de Morin são pautadas na

transdiciplinaridade, na contextualização e no papel político-pedagógico do

professor, para que este possa desvendar, juntamente com seus alunos, as relações

de dominação que estão presentes em todas as esferas da sociedade, inclusive nos

meios de comunicação de massa. Compreendendo a cidadania, respeitando o outro

e exigindo para si mesmo o respeito.

METODOLOGIAS PARA SE TRABALHAR COM O CINEMA EM SALA DE AULA

A prática da inserção do cinema nas atividades educativas não é nova, mas

encontra resistência por parte de alunos e professores, pois, muitas vezes, há a falta

de estrutura e preparo pedagógico. Para que haja o sucesso nessa empreitada é

importante alguns preparos: que o professor assista ao filme antes de apresentá-lo,

boas condições de apresentação em termos de imagem, som, iluminação,

equipamentos testados entre outros. É importante também informar os alunos sobre

os conteúdos que serão abordados e as atividades que lhes serão solicitadas,

apresentação de filmes usados com parcimônia. Ao lado de todos esses cuidados é

muito importante que o professor continue se colocando como o narrador de seu

conteúdo teórico, para o qual a apresentação do filme é apenas um dos meios de

sensibilização e informação. Para o efetivo uso dos filmes como material pedagógico

foi utilizado o método de aprendizagem baseada em problemas em que as

dificuldades em relacionamentos são o problema a ser trabalhado.

Inicialmente foram apresentados os clipes: Contra o preconceito racial3, Para

os pássaros (For the birds)4 e o texto “Mas o que é diversidade? – Educação e

Diversidade Étnico-Cultural"5 de Nilma Lino Gomes, estes sobre a temática

preconceito e diversidade cultural. Ao final da apresentação fora solicitado aos

educandos a elaboração de textos que relatassem situações onde o preconceito

estava presente, nesta atividade os educandos participaram ativamente das

discussões desenvolvidas, a necessidade de se respeitar as diferenças fora o

principal tema abordado, iniciando assim o questionamento essencial para o

reconhecimento e abordagem a diversidade cultural que é o respeito às diferenças.

A segunda atividade "levantamento dos dados" ocorreu por meio da aplicação

de questionário para conhecer as matrizes raciais formadoras de nossos alunos e

também levantar o interesse pelo cinema e de sua percepção de vê-lo como mais um

modo de aprendizado e informação. Em um segundo momento fora realizado a

tabulação das informações levantadas e foram expostas em gráficos de barra, pelas

quais os educandos discutiram os resultados obtidos. Fora apresentado as

informações educacionais do município de Ivaiporã, levantadas no Censo IBGE

(2010) Planilha de “Pessoas de 15 anos ou mais de idade que não sabe ler e

escrever”. Por fim fora elaborado um mural com os gráficos e com as interpretações

realizadas pelos alunos, incentivando a tolerância e respeito à diversidade cultural e

social. Neste procedimento de pesquisa a união entre as informações coletadas por

meio dos questionários e as informações previamente pesquisadas pela autora,

foram essenciais para o desenvolvimento de sentimento de pesquisador em cada

educando, onde conhecer uma determinada população e cultura necessita de uma

fundamentada pesquisa que permita conhecer e respeitar as tradições e costumes

de qualquer população.

A terceira atividade denominada "Formação do Povo Brasileiro" incisou com a

apresentação dos vídeos:- “O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro Capítulo I” – Matriz

Indígena6, “O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro Capítulo II” – Matriz Européia7, “O

3 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=kF0BwezoSiE.

4 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=qsJoRrIoMKs.

5 Disponível em: http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/diversidade_educacao.pdf

6 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=2gqz4BHYcck.

7 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=qaqL7ZgrBo0.

Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro Capítulo III” – Matriz Africana8, estes vídeos fazem

parte de um documentário de Darcy Ribeiro dividido em 10 programas da elogiada

série baseada em sua obra central O Povo Brasileiro. Ao apresentar os três primeiros

capítulos fora apresentado a formação da população brasileira, foram levantadas

diversas questões para discussão com os educandos como: Matrizes brasileiras; o

que herdamos dos povos (matrizes formadoras); Características herdadas das

matrizes européias, africanas e indígenas. A obra de Darcy Ribeiro "O povo

brasileiro" fora grande fundamentador para o estudo e compreensão da formação da

população brasileira, seu uso em sala de aula proporciona aos educandos um

conhecimento mais aprofundado sobre quais as matrizes populacionais existentes no

Brasil, observei que documentários podem não surtir efeitos tão positivos quando

esperado, porém fora notada um desenvolvimento no conhecimento social ao serem

colocados a discutir a formação da população brasileira na atualidade.

Em sala de aula fora trabalhado o texto “A importação da mão de obra

especializada – Tecnologia Africana na formação Brasileira”9 de Henrique Cunha

Junior. Sendo trabalhado os seguintes tópicos: O escravismo criminoso como mão

de obra brasileira, sendo relatado a questão do uso da população africana como mão

de obra escrava durante o período de colonização do Brasil; Conhecimentos da mão

de obra africana, sendo repassado aos educandos a questão de questionar quais

eram as reais habilidades apresentados pelos africanos e reconhecer que devido a

diversos fatores foram pouco utilizadas durante os anos; Trabalhos profissionais já

presentes na matriz africana que contribuíram para a economia brasileira,

abordagem que passa então ao momento de reconhecimento de oportunidades

sociais de desenvolver a cultura africana no Brasil. A leitura e compreensão de texto

é uma estratégia comum na disciplina de Geografia, o uso neste caso fora

fundamental como mecanismo de interligação entre ações, sendo este texto um texto

que apresenta uma linha de pensamento que apresenta as questões sociais e

econômicas pouco conhecidas sobre a matriz africana existente na população

brasileira, os educandos por sua vez, demonstram surpresa ao adentrar neste

assunto sendo levantado diversos questionamentos referentes a outras populações e

fomentando a necessidade de se pesquisar diversas culturas e as suas contribuições

para a formação da população brasileira.

8 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=llgw7FbAS0U.

9 Disponível em: http://www.ifrj.edu.br/webfm_send/268.

A quinta atividade "A cultura brasileira" ocorreu por meio de uma divisão inicial

dos educandos em três equipes, em que cada uma foi levada ao laboratório de

informática para assistir a um vídeo da série de Darcy Ribeiro e depois analisá-lo.

Em seguida foi formada uma roda de discussão para serem expostos seus temas de

maneira lúdica: poesia, teatro ou música, fotos. Vídeos trabalhados: “O Povo

Brasileiro de Darci Ribeiro Capítulo IV” – Encontros e Desencontros10, “O Povo

Brasileiro de Darci Ribeiro Capítulo V” – O Brasil Crioulo 11 e “O Povo Brasileiro de

Darci Ribeiro Capítulo V” – O Brasil Sertanejo12. Nesta atividade Darcy Ribeiro retrata

a formação atual da população brasileira, sendo consideradas as diversas variantes

existentes, ou seja, as influências de culturas de diversos países do mundo,

reconhecer que o Brasil é um país multicultural e comum para escritores, porém os

educandos ao serem questionados inicialmente desconheciam esta informação,

durante a visualização do vídeo e a discussão coletiva da obra observei a dificuldade

dos educandos em permanecer com atenção em vídeos educativos, somente ao

oportunizar mini intervalos entre os vídeos para a explanação da importância da

atividade e que foram alcançados melhores resultados.

A sexta atividade foi o desenvolvimento do “Seminário das Culturas Mundiais”

realizado por meio de palestras com: Ilma Silva dos Santos de Souza habilitada em

História com especialização em Cultura Afro-descendente, que abordara:

Diversidade étnica cultural Brasileira e Preconceito Racial. Nesta palestra fora

explanado a questão do preconceito em sua restrita significância, levando os

educandos a questionar-se sobre as suas atitudes do cotidiano e como determinadas

ações ou palavras podem ferir os sentimentos de pessoas e na maioria dos casos

cometer o crime do Racismo, a participação dos educandos nos questionamentos a

palestrante foi intensa, a busca pelo conhecimento foi desenvolvida e melhorada nos

educandos. A segunda palestra do evento fora ministrada por Adriana Custódio

Moreira habilitada em Pedagogia, que abordou os temas: Preconceitos presentes na

atual sociedade brasileira e mundial como: cultural, de gênero e social. Nesta

palestra a exploração da interação entre as culturas existentes no Brasil fora o

principal enfoque, sendo levada aos educandos a interpretação de pequenos trechos

de filmes onde cada educando fora levado a interpretar as atitudes e realizar suas

10

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=oBFk2kD4L40. 11

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=_MXnEw1rfss. 12

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=j7uIZ95ALyA.

considerações referentes a ser ou não atos de preconceito ou racismo, durante a

palestra fora notória o assombro com as atitudes preconceituosas, porém fora

confirmada por vários alunos terem presenciado ou passado por situações similares,

esta temática fora essencial para o desenvolvimento da interação com os educandos

sendo neste momento trabalhado a importância em se respeitar as culturas e

tradições de todas as populações do mundo para assim alcançar um convívio social

valoroso entre o Brasil e sua multiculturalidade existente.

A Geografia por meios de temas ligados à população, ao povoamento e a

formação do povo brasileiro pode efetivamente promover a integração e posicionar-

se contra qualquer forma de discriminação, quanto traz para a discussão esse

processo e ressalta a importância das três matrizes formadoras do povo brasileiro. O

cinema tem a vantagem de usar várias formas de linguagens, é uma fonte de cultura

e informação, cria condições para o conhecimento da realidade e por meio de filmes

e documentários, propicia ao aluno condições de formar-se como cidadão crítico.

A sétima atividade realizada fora "Cinema com leitura de preconceitos" onde

se realizou um festival de cinema com a apresentação dos seguintes filmes:

Preciosa (Precious: Based on the Novel 'Push' by Sapphire), Duelo de Titãs

(Remember the Titans) e Homens de Honra (Men of Honor). Após a apresentação

dos filmes cada educando elaborou resumos sobre os temas discutidos em cada um

deles, sendo reconhecido o preconceito e todas as suas variações existentes da

sociedade brasileira e mundial. O uso dos filmes em sala de aula sempre fora um

grande exemplo de como incentivar a interação entre o conteúdo adquirido em sala

e a visualização de determinados fatos, esta interação permite aos educandos uma

opinião sobre diversos acontecimentos. Esse método é essencial na disciplina de

geografia como fonte demonstrativa das culturas existentes em todo o mundo, sendo

por meio de produções de seus países ou que se baseiem em suas culturas fontes

de trabalho e pesquisa para os educandos. Durante a apresentação dos filmes a

magia do cinema fora impregnada na escola e os educandos ficaram encantados

com todos os filmes, as estórias eram aprofundadas nas questões sociais e

situações apresentadas nos filmes foi fonte de diversos comentários após a

apresentação dos mesmos. Como o educando M.A.P 14 anos "[...] é triste notar que

o preconceito existe a tanto tempo e até hoje não fora vencido."

A oitava atividade fora a "pesquisa cinematrográfica" onde os educandos

foram divididos em três equipes, cada equipe pesquisou filmes que apresentassem

preconceitos raciais, culturais, sociais ou de gênero, após a seleção dos filmes fora

discutido os temas encontrados. O encerramento da atividade ocorreu com a

apresentação de o 14º Episódio da 2º Temporada da série “Todo mundo odeia o

Chris”13, neste episódio Srta Morello viaja para a África e então, um professor

substituto negro (Orlando Jones) começa a dar aulas. O professor espera mais de

Chris, e torna a sua vida complicada. Enquanto isso, Tonya consegue tudo o que ela

quer acusando que Drew bateu nela, mas depois, Rochelle descobre que a garota

estava mentindo. Julius está furioso com o Sr. Omar, pois ele está usando o telefone

de sua casa, para ligar para as viúvas. No final o professor leva um tiro. Nesta

atividade fora trabalhada a questão do relacionamento entre o preconceito e o

racismo, priorizar características como sendo únicas de uma população poderá

repassar imagens errôneas de determinadas populações e construir uma visão

deturpada de uma pessoa sem nem ao menos oportunizá-la chances de interagir

nesta nova sociedade que está vivenciando. Durante o desenvolvimento da

atividade fora observado a preponderância do horror ao racismo e ao preconceito,

sendo observado comentários espontâneos de como seria importante serem

punidas as pessoas que praticam estes atos, alcançando assim um desenvolvimento

da valorização cultural e das tradições das pessoas de todo o mundo e

oportunizando o crescimento pessoal e emocional da maioria dos educandos.

A nona atividade fora a "Visita a Campo", esta ação surgiu como importante

mecanismo para a compreensão da formação cultural existente na região central do

Paraná, na região existem diversas comunidades indígenas onde sua cultura se

encontra parcialmente valorizada e esta situação fora motivadora para a visitação a

uma destas comunidades no município de Manoel Ribas. A visita fora realizada no

Colégio Estadual Augusto Kauling do município de Manoel Ribas onde se localiza

uma colônia indígena, sendo esta uma tribo que preserva seus costumes sociais. Os

alunos fotografaram e levantaram informações referentes à vida em uma

comunidade indígena. Finalizando, cada aluno realizou um relato da experiência

adquirida e entrega dos vídeos e fotos tiradas. O processo de visita de campo

oportunizou aos educandos um conhecimento realista de situações estudadas em

sala de aula, o fato de presenciar um estudo melhora muitas vezes a qualidade do

ensino, sendo visualizado o que se deseja explicar o aprendizado flui naturalmente.

13

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=BBd-RXpu814

Durante a visita os educandos observaram que diversas tradições culturais

estudadas em livros sobre as comunidades indígenas não estão presentes na

atualidade, costumes como roupas e casas (as antigas ocas) se modernizaram com

o tempo e a educação passou a ser oportunizada através das escolas públicas, que

passaram a ofertar suas línguas tradicionais como parte do currículo, ficara

evidenciado que nem sempre o que aprendemos como tradição de uma cultura é

imutável e que preconceitos são a exemplificação do não conhecimento de

determinado tema, assunto ou pessoa.

A décima atividade "Noite cultural" fora a finalização das atividades, que

ocorreu por meio da apresentação dos filmes: Casamento Grego (My Big Fat Greek

Wedding), Quem quer ser um Milionário (Who Wants To Be A Millionaire?), Orgulho

e Preconceito (Pride and Prejudice) e Gran Torino (Gran Torino). Os filmes

apresentados aos educandos e membros da comunidade escolar seguiram a

apresentação de temas essenciais para o desenvolvimento da multiculturalidade

existente no Brasil e no mundo, em Casamento Grego são relatadas as tradições e

costumes da população grega de maneira lúdica através de uma comédia romântica

que trata da união entre um grego e uma americana. O filme Quem quer ser um

Milionário relata alguns costumes e tradições indianas sendo expressa de acordo

com as respostas de um jovem indiano em um programa de televisão. Orgulho e

preconceito e Gran Torino são filmes que expressão de maneira direta situações

onde o preconceito está arraigado no cotidiano das pessoas indiferente da época em

que se vive. A apresentação destes filmes ocorreu por meio de uma seção de

cinema onde se contou com a maioria de educandos e alguns pais que assistiram

aos filmes e participaram da confraternização de encerramento. Esta atividade

oportunizou a integração de opiniões e os educandos sendo defendido um

sentimento de união e respeito entre as tradições e culturas de cada população,

sendo assim alcançado um início de socialização entre as diversas culturas de todo

mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Utilizar o cinema em sala de aula sempre fora uma questão de oportunidade

na disciplina, escritores como Duarte (2002) defende que a educação e o cinema

são mecanismos de socialização entre os indivíduos e as instâncias culturais que

produzem as visões de mundo, nesta linha de pensamento a atividade desenvolvida

fundamentou-se na necessidade de transparecer a importância de conhecer e

pesquisar as culturas existentes no mundo e em sua região, valorizando e

respeitando determinados comportamentos próprios de um povo.

O cinema fora uma ótima ferramenta para a transmissão de conhecimentos. A

qualidade do ensino está ligada diretamente a busca por novos mecanismos para

uso na educação, o cinema apresentou resultados significativos no tocante à

interação entre os educandos, onde práticas costumeiras de preconceito foram

inibidas e surgiram ainda educandos idealizadores da defesa de direitos da cultura

mundial e assim obtendo ótimos resultados no relacionamento interpessoal entre

educandos.

Melhorar o ensino de Geografia não consiste somente em trabalhar os

conteúdos curriculares, mas sim preparar nossos educandos para um convívio na

sociedade onde o respeito à ética sejam fundamentais na construção de uma

sociedade igualitária, a diversidade cultural é visualizada em todas as regiões do

Brasil e valorizar e respeitar essa diversidade é o papel de todos os cidadãos

brasileiros advindos de todas as partes do mundo.

REFERÊNCIAS

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