O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende

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    3 – O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende

    A poesia produzida na época do humanismo (século XIV) nas cortes de D. Afonso V,

    D. João II e D. Manuel, foi compilada (recolhida) por arcia de !esende, nao"ra Cancioneiro Geral , impresso em #$#%, &uando a tipo'rafia era muito recente em

    ortu'al. !essaltese &ue não se trata de um c*dice, ou cole+ão de c*pias manuscritas,

    como o Cancioneiro da Ajuda, mas de um liro impresso, contendo -- composi+/es,

    de 0-% poetas, escrito em espanhol e em portu'u1s, 23 reelando influ1ncia erudita.

    4 Cancioneiro  se'ue os modelos das compila+/es de poemas castelhanos realizados

    anteriormente, como o Cancioneiro de Baena de #55$ ou o Cancioneiro General  de

    6ernando del 7astillo, pu"licado em #$##.  8st3 dedicado ao pr9ncipe João, futuro D.

    João III de ortu'al. 4s temas reelam uma poesia de car3cter palaciano, so"re o diaa

    dia na corte, além de outras de tem3tica reli'iosa, amorosa, ele'9aca, além de al'umas

    tentatias de poesia épica.  Ao contr3rio da poesia da época troadoresca, &ue era

     pensada para ser cantada e "ailada, os poemas do Cancioneiro são aut*nomos, ou se2a,

    são criados como te:tos liter3rios e não como letras de can+/es, sendo &ue o seu ritmo é

    conse'uido pela sonoridade das palaras e pela or'aniza+ão em ersos e estrofes.

    A maioria das suas composi+/es destinaase aos ser/es do pa+o, onde se recitaa, se

    disputaa concursos poéticos, ouiase m;sica, 'alanteaase, 2o'aase, realizaamse

     pe&uenos espet3culos de ale'orias ou par*dias, etc.

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    8:emplo=

    Cantia# $artindo%se

    )enhora, partem tão tristes

    meus olhos por %*s, meu bem,

    que nunca tão tristes %istes

    outros nenhuns por nin"u+m

     

    ão tristes, tão sa-dosos,

    tão doentes da partida,

    tão cansados, tão chorosos,

    da morte mais desejosos

    cem mil %e.es que da %ida,

     partem tão tristes os tristes,

    tão fora de esperar bem,

    que nunca tão tristes %istes

    outros nenhuns por nin"u+m

    &s$arsa @ composi+ão de uma s* copla com um m9nimo de - ersos e um m3:imo de

    #%. !eserada ao tratamento de assuntos tristes. ?ão tem motes nem 'losas.

    8:emplo=

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      /s bons %i sempre passar 

    no mundo "ra%es tormentos;

    e, para mais m0espantar,

    os maus %i sempre nadar 

    em mar de contentamentos

    Cuidando alcançar assim

    o bem tão mal ordenado,

     fu mau, mas fui casti"ado'

     Assi que, s* para mim

    anda o mundo concertado

    'ro(a @ ossui um n;mero indefinido de coplas, e não tem mote nem 'losas.

    8:emplo=

    ro%as que Garcia de 1esende fe. & morte de 2 3n4s de Castro, que el(rei 2 Afonso, o

    Quarto, de #ortu"al, matou em Coimbra por o pr5ncipe 2 #edro, seu filho, a ter como

    mulher, e, polo bem que lhe queria, nam queria casar Endereçadas &s damas

    )enhoras, s6al"um senhor %os quiser bem ou ser%ir,

    quem tomar tal ser%idor,

    eu lhe quero descobrir 

    o "alardam do amor

     #or )ua Merc4 saber 

    o que de%e de fa.er 

    %ej6o que fe. esta dama,

    que de si %os dar7 fama,

     s6estas tro%as quereis ler

     !ala 2 3n4s

    Qual ser7 o coraçam

    tam cru e sem piadade,

    que lhe nam cause pai8am

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    9a tam "ram crueldade

    e morte tam sem re.am:

    riste de mim, inocente,

    que, por ter muito fer%ente

    lealdade, f+, amor 

    * pr5ncepe, meu senhor,

    me mataram cruamente

    osso )enhor 

     #orque a natural condiçam dos #ortu"ueses + nunca escre%erem cousa que façam,

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    endo dinas de "rande mem*ria, muitos e mui "randes feitos de "uerra; pa. e %ertudes,

    de ci4ncia, manhas e "entile.as sam esquecidos Que, se os escritores se quisessem

    acupar a %erdadeiramente escre%er nos feitos de 1oma, r*ia e todas outras anti"as

    cr*nicas e est*rias, nam achariam mores façanhas nem mais not7%eis feitos que os que

    dos nossos naturais se podiam escre%er, assi dos tempos passados como d6a"ora' tantos

    reinos e senhorios, cidades, %ilas, castelos, per mar e per terra tantas mil l+"oas, per

     força d6armas tomados, sendo tanta a multidão de "ente dos contrairos e tam pouca a

    dos nossos, sostidos com tantos trabalhos, "uerras, fomes e cercos, tão lon"e

    d6esperança de ser socorridos, senhoreando per força d6armas tanta parte de ?frica,

    tendo tantas cidades, %ilas e fortale.as tomadas e continuamente em "uerra sem nunca

    cessar, e assi Guin+, sendo muitos reis "randes e "randes senhores seus %assalos e

    trebut7rios e muita parte de Eti*pia, Ar7bia, #+rsia e @ndias, onde tantos reis mouros e

     "entios e "randes senhores sam per força feitos seus s9ditos e ser%idores, pa"ando(lhe

     "randes p7reas e tributos e muitos destes pelejando por n*s, debai8o da bandeira de

    Cristos com os nossos capitães, contra os seus naturais, conquistando quatro mil

    l+"oas por mar que nenh9as armadas do )oldam nem outro nenhum "ram rei nem

     senhor nom ousam na%e"ar com medo das nossas, perdendo seus tratos, rendas e %idas,

    tornando tantos reinos e senhorios com inumer7%el "ente & f+ de esu Cristo, recebendo

    7"ua do santo bautismo, e outras not7%eis cousas que se não podem em pouco escre%er

    odos estes feitos e outros muitos doutras sustncas nam sam de%ul"ados como foram,

     se "ente doutra naçam os fi.era E causa isto serem tam confiados de si, que não

    querem confessar que nenhuns feitos sam maiores que os que cada um fa. e faria, se o

    nisso metessem E por esta mesma causa, muito alto e poderoso #r5ncepe, muitas

    cousas de fol"ar e "entile.as sam perdidas, sem ha%er delas not5cia, no qual conto

    entra a arte de tro%ar que em todo tempo foi mui estimadada e com ela >osso )enhorlou%ado, como nos hinos e cnticos que na )anta 3"reja se cantam se %er7

     E assi muitos emperadores, reis e pessoas de mem*ria, polos rimances e tro%as

     sabemos suas est*rias e nas cortes dos "randes #r5ncepes + mui necess7ria na

     "entile.a, amores, justas e momos e tamb+m para os que maus trajos e en%ençes

     fa.em, per tro%as sam casti"ados e lhe dam suas emendas, como no li%ro ao adiante se

    %er7 E se as que sam perdidas dos nossos passados se puderam ha%er e dos presentes se escre%eram, creo que esses "randes #oetas que per tantas partes sam espalhados

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    não te%eram tanta fama como tem

     E porque, )enhor, as outras cousas sam em si tam "randes que por sua "rande.a e meu

     fraco entender nam de%o de tocar nelas, nesta que + a somenos, por em al"9a parte

     satisfa.er ao desejo que sempre ti%e de fa.er al"9a cousa em que $ossa Alte.a fosse

     ser%ido e tomasse desenfadamento, determinei ajuntar al"9as obras que pude ha%er

    dal"uns passados e presentes e ordenar este li%ro, nam pera por elas mostrar quais

     foram e sam, mas para os que mais sabem s6espertarem a fol"ar d6escre%er e tra.er &

    mem*ria os outros "randes feitos, nos quais nam sam dino de meter a mão 

    arcia de !esende