O Banguê das Alagoas

172
Manuel Diégues Júnidr. li /\ .. O BANGUE NP{S AlAGOAS TRAÇOS DA DO SISTEMA ECONÔMICO DO ENGENHO DE AÇÚCAR NA VIDA E NA CULTURA REGIONAL lFAL

description

.

Transcript of O Banguê das Alagoas

  • Manuel Digues Jnidr.

    li /\ ..

    O BANGUE NP{S AlAGOAS TRAOS DA INFLU~NCIA DO SISTEMA ECONMICO DO ENGENHO

    DE ACAR NA VIDA E NA CULTURA REGIONAL

    lFAL

  • Ed i t o ras de oi t o universidades federa is nordestinas uniram-se, em 1999, numa rede regional que teve, corno primeira iniciativa, compor uma coleo destinada a publicar ou republicar obras representativas da produo intelectual da Regio. A temtica dos livros selecionados abrangente, incluindo reas corno a Literatura, as Cincias Sociais, o Folclore, a Antropologia e outras. Importa que essas publicaes representem a (re)descoberta de um autor ou o resgate de um texto que, embora portad or de mensagem atual, de h muito desaparecera das livrarias. Assim nasceu a Coleo Nordestina, cujo objetivo constituir-se, aos poucos, em repositrio bibliogrfico da Arte, da Cultura e da Cincia regionais, apto a preservar esse patrimnio e difundi-lo, permanentemente, em escala nocional.

    Atualmente, a rede Nordeste conta com 22 Editoras filiadas, que divulgam a Arte, a Cincia e a Cultura de seus Estados.

    (

    OFAL ' BIBIYHE':A CENTRAL CO .. E. .:. 5 t ~PECIAIS

    Manuel Digucs jnior

    O Bang nas Alagoas TRAOS DA lNFLUNCL\ DO SISTEMA ECONMICO

    DO ENGENHO DE CANA DE ACAR ~A V1DA E NA CULTURI\ REG IONAL

    EDUfAL, 2006

    J,C,

  • ..

    ~ UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS ~J4 Reitorfl Conselbo Edttortal Ana Dayse Reze11de Dorea Sheila Diab Mnluf (Presidenle)

    Ccero l'ricles de Oliveira Carvalho Vice-reiwr E11rico de Barros lbo Fi/11

    Jtaria do Socorro 11guiar de Oliveira C11vafcarite Roberlo Sarmento Lima

    Diretora da Edufal Slu:ifa Diab M.aluf

    /roei/da :\faria de Moura Lima Li11demberg Medeiros de .4rafijo Flvio ,l/1/t1io Mirt111da de Souza eurico Pi1110 de Lemos rlntonic de Pdua Cavalca11/e Cristia11e CJ1i110 E.1/evo Olivi>irn

    Catalogao na fonte Universidade Federal de Alagoas

    Biblioteca Central Diviso de Tratamento Tcnico Bibliotecria Responsvel: Helena Cristina Pimentel do Vale

    - - - -D559e Diguesjnior, Manuel, 1912-1991. O bang nas alagoas : traos da influncia 1!0 sistema econmico do

    engenho de cana de acar aa vida e na cultura regional.- 3.ed. /Manuel Digues Jnior. -Macei: llDUfAL, 2006

    341 p. : il. - (Coleo Nordestina)

    J. Engenhos -Alagoas. 2. Cana-de-acar - Alagoas. 3. Alagoas -Histria Social. 4. Brasil - Histria. 1. Freyre, Gilberto, 19001987. li. Ttulo. Ili. Srie. (Coleo Nordestina)

    CDl: 39:66'\.!(813.5) _. 'Jl"~:=:lil\lllii= ISBN 85-7177-1162

    Direitos desta edio reservados Edufal. Etfora da t:nivcrsidade Federal de Alagoas

    Campus A. C. Simes, BR 104, Km, 97,6- Fone/Fax: (82) 3214.1111 'lbulciro do Martins CEP: 57.072970- Macei Alagoas

    E-mail:[email protected] Site: "''~w.cdufal.ufal.br

    -

    /

    SUMARIO

    APRESENTAO 07 l'HEFCIO 1 09

    -~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~-~-

    1' H E F CIO 2 17 l'HEFCIO 3 21 INTRODUO 25

    Cttp. J: O BANG E A FORMO DA SOCIEDADE ALAGOANA 41 -----

    ambiente geogrfico. O papel dos rios. A ma_ta. os rum?s da colonizao. Os primeiros ncleos de povoamento. O povoamento do Norte. Os engenhos de Cristvo Lins. Rodrigo de Barros Pimentel no povoamento do vale do Santo Antnio Grande. A diviso da sesmaria. O povoamento das lagoas. A sesmaria de Diogo Soares. Os engenhos da Lagoa do Sul. Gabriel Soares. Miguel Gonalves Vieira e aocupaodesuasesmaria. Os engenhos da Lagoa do Norte. O povoamento das margens d? Iio ~1unda. Fundamentos de Penedo. Os engenhos de acar na regio, e particularmente em Coruripe e Poxim. O engenho na formao social das Alagoas. O cruzamento demogrfico. O ndio. O negro. O problema da colonizao. Tentativas de imigrao. Influncia do engenho. O petodo holands nas Alagoas. A invaso e a conquista. Os engenhos durante o domnio holands. Destruio de engenhos. Os senhores de engenho na rest.aurao. A economia aucareira na poca.

    Cap. II: O BANG E A ECONOMIAALAGOANA 109 Os sistemas do bang. A necessidade d'gua. A barcaa e sua importncia na economia aucareira. O carro de boi e o cavalo.

    3

  • A exclusividade da cultura. As culturas ancilares. O tabaco. O algodo. A farinha de mandioca. Perodo de crise. A evoluo dos engenhos. Seu nmero em vrias pocas. Fausto e decadncia do bang. O engenho a vapor. A cultura da cana. O trabalho nos engenhos. O brao escravo. Melhoramentos introduzidos na agricultura aucareira. A estrada de ferro. O rio no comrcio do acar. O comrcio aucareiro no sculo XIX. Falsificao do produto. O "acar enforcado". As estradas. A navegao martima. As safras e a exportao de escravos. O engenho central, seu aparecimento. Como se Manifestaram os presidentes da Provncia. O bang e o Engenho central. O problema da mecanizao da lavoura. A rotina e suas causas. A abolio da escravatura e o bang. A situao do trabalho nos engenhos. Idias surgidas. O esprito associativo. O Comcio Agrcola do Quitunde e jetituba, suas realizaes. A Sociedade de Agricultura~ Congressos Agrcolas. A crise agrcola nos princpios do sculo XX. O engenho e a usina. O comrcio do acar. A crise de 1929. O Instituto do Acar e do lcool e sua repercusso na economia aucareira. O Congresso dos Bangezeiros e Fornecedores de Cana. Cooperativismo.

    Cap. Ili : O BANG E O ESCRAVO NEGRO -------- 161 Os primeiros escravos nas Alagoas. Populao geral e populao escrava. Os tipos tnicos introduzidos. Palmares. Os negros palmarinos e os engenhos. As entradas contra os quilombos. Outros quilombos. Notcias de jornais. Negros fugidos. Os motivos da fuga. O escravo e o senhor de engenho. O tratamento ao escravo. Negros doentes. Negros marcados. Doenas de carncia. Defeitos ffsicos. O que revelam anncios de jornais do Sculo XIX.

    4

    Cores de escravos que aparecem em anncios. Habilidades do negro. A negra doceira, cozinheira e ama de leite. A populao escrava no sculo XIX. A aplicao da quota de

    em~cipao. Manumisses espontneas. A falta de braos na agncultura. O que dizem as falas presidenciais. O trabalho livre.

    Cap. IV: O BANG E VIDA SOCIAL __________ 193 Esplendor social do bang. A famlia. Os entrelaamentos de famlia entre os engenhos. Os nomes nativistas e os senhores de engenho. Movimentos polticos e sua repercusso no bang. 1817 e 1824 e os senhores de engenho. D. Ana Lins. O engenho Sinimbu trincheira republicana. ' A poltica regional e o engenho. A cabanada. Os Mendona. A sedio de 1844. Senhores de engenho entre "lisos" e "cabeludos". As questes de terra. Suas causas principais. Os conflitos do engenho Oriente. O caso de Manuel Isidoro, do Malvano. Os proprietrios rurais e os partidos. Arquitetura do engenho. A casa-grande. O engenho Buenos Aires e suas tradies. Capelas de engenho. Batizados. Casamento. Morte. Enterros nas capelas de engenho. Notcias e crnicas de jornais. Festas nos engenhos. Alimentao. A utilizao da mandioca. Comidas de milho. Frutas. Os doces. Bolos e quitutes. Artes domsticas. Croch. Renda. Uso de jias e adereos. Venda de jias falsificadas. Reunies sociais. O piano. Visitas. Passar-o-dia. Banhos de rio. D,oenas. As endemias rurais. As epidemias e os engenhos. o colera de 1856; senhores de engenho vitimados.

    Cap. V: O BANG EA CULTURA ----------235 Relaes entre a economia, a arte e a literatura. Fins econmicos da formao territorial das Alagoas. Manifestaes culturais. Revistas e jornais de natureza agrcola.

    5

  • ...

    O complexo "acar'' na literatura.al~a. Estudos econmicos sobre o acar. l'\'lemrias e relatrioo. O acar nas snteses histricas do E.5tado. Os poetas e os assuntos regionais. Poesias sobre motivos de engenho. Poetas de Viosa. Evocaes do Buenos Aires. Manifestaes artsticas. Pintores que procuram temas nos engenhos. Outras manifestaes culturais. Figuras ilustres provindas de engenhos. Polticos, juristas, sacerdotes, soldados, intelectuais. A agricultura e o filho doutor. O ensino: carncia do ensino rural. Influncia dos cursos superiores na vida rural. Expoentes do bang na cultura alagoana.

    Cap. VI: O BANG E O FOLCLORE 285 .Manifestaes folclricas sobre engenho e acar. O engenho e o folclore. O ciclo do acar. O coco, dana originria de engenho. Versos de coco referentes a assuntos de acar e de engenho. Poesia popular. Emboladas. Cantigas. Lendas e supersties. Medicina popular. Adivinhaes. Festas tradicionais nos engenhos. A botada. A peja. Costumes ligados vida dos bangs. Aspectos lingsticos do engenho alagoano. Brasileirismos da rea canavieira.

    FONTES BIBLIOGRFICAS O Fontes Fundamentais li) Fontes Complementares Nota da revisora

    6

    317 317 320 333

    APRESENTAO

    Muito tem se falado, comentado e opinado sobre produo de cana-de-acar em Alagoas. Alguns de forma competente e vibrante demonstram a relao ntima dessa atividade com o bem estar dos alagoanos. Outros, no rnxergam essas virtudes decantadas e at arriscam atribuir atividade, causas J)ara o pouco desenvolvimento de Alagoas.

    Esse debate est recheado de extremismos, de ideologias, de fanatismos e at fundamentalismo, em alguns casos. Mas, em raras ocasies ele travado cm bases desapaixonadas serenas e comparativas, como deveria ser.

    Esse livro no pretende e no se prope, at pelo aspecto temporal de $ua primeira edio, assumir nenhum papel elucidativo e conclusivo para a :mlise dessa matria. Contudo, questionar e debater esse importante segmento de atividade econmica que beira os 400 anos, requer, em nome da serenidade e da seriedade de propsitos visitar a sua preciosa e rica histria.

    Nesse contexto, o livro " O Bang das Alagoas " contribui de forma definitiva para uma introduo na saga da cana-de-acar em Alagoas.

    O lanamento de mais uma renovada edio desse rico conjunto de fundamentos que extrapolam atividade da cana e ampara bases importantes da nossa verdadeira histria, acontece num momento de grande visibilidade da produo canavieira alagoana no cenrio nacional.

    Por outro lado, essa 3 edio vem ratificar a parceria existente dessa Importante. atividade econmica representada pelo Sindicato da Indstria do Acar e do lcool no Estado de Alagoas e a Universidade Federal de Alagoas, que representa o que temos de mais denso no nosso segmento cultural.

    7

  • A reedio " O Bang das Alagoas" conduz o leitor a revisitar essa bela passagem da nossa histria civilizatria , alm de, sobretudo, demonstrar o compromisso dos que fazem a produo de cana em Alagoas com a difuso da cultura e dos aspectos relevantes da nossa histria.

    Pedro Robrio de Melo Nogueira Presidente do Sindicato da Indstria do Acar

    e do lcool no Estado de Alagoas

    8

    ; .

    PREFACIO 1

    Manuel Digues jnior foi do grupo de estudantes que, no Recife de 1933, / fJ 1 I, J 935, reuniam-se comigo todas as tardes, na Biblioteca Pblica, par:JJ..juntos l\'llllli11armos papis e jornais velhos. Foi como alguns deles adquiriram o gosto (1ctft1 /1csqr1isa de biblioteca e de arquivo. Mas por uma pesquisa de biblioteca e de tm11111lo que fosse uma com1ante aventura de descobrimento de fatos socialmente

    11.~n{ficc.1ttvos, tantas vezes desprezados por cronistas e at historiadores voltados 11/1111tfl.\' para os conhecimentos mais ostensivos e vistosos do passado poltico e 1111/lltlr do Brasil. Copiavam os estudantes o que o companheiro mais velho de f't'l'

  • ..

    acar atravs do latifndio, da monocultura e da escravido. Atravs do sistema patriarcal e quase feudal de relaes de senhores de terras com lavradores; de donos de casas-grandes com escravos de senzalas ou quilombos de mucambos; de homens com mulheres,- de brancos com pretos,- de europeus com indgenas; do homem com a natureza - com as terr~~ com as matas, com as guas.

    um sistema de que ningum consegue separar a formao brasileira, tal a sua repercusso sobre as prprias reas pastoris e de minerao, tambm atingidas pelo drama do regime patriarcal de famlia, de religio, de poltica, e no apenas de economia. O Brasil inteiro sofreu a influncia imediata ou remota do sistema que teve seu centro no Nordeste.

    O aspecto alagoano desse drama que foi - repita-se - durante todo um perodo o do Brasil quase inteiro, estuda-o agora Manuel Diguesjnior nas pginas de um ensaio realmente notvel. Retrata de perto a gente alagoana em vrias situaes e atitudes, das que o acar, mais do que qualquer outra influncia isolada ou s. criou menos para indivduos que para familias numerosas e compactas,- as ramalhudasfamlias das casas-grandes.

    Dessas famlias convm nos lembrarmos que os prprios escravos se tornavam sociolgica e cu/turalmenw 11um1bros. Tanto certo que nas Alagoas, como noutras partes do Brasi~ muitos foram os escravos que tomaram no s os nomes como os caractersticos das famlias senhoriais, tornando-se sociologicamente Mendmzas, Wanderleys, Meles, Cava/cantis, Uns e Machados; seguindo Mendonas, Wanderleys, Meios, Cava/cantis, Uns e Machados em suas peculiaridades de fala, de andar, de gesto, de recreao, de devoluo religiosa, de sentimento ou de compromisso poltico.

    um aspecto do sistema de relaes patriarcais no Brasil que eu quisera ver estudado um dia por pesquisador da aptido e dos recursos de Manuel Digues f nior. Pois nesse aspecto se refletem alguns dos principais caractersticos que aquele sistema assumiu entre ns confundindo interesses de classe ou de raa com os de soltdariedade ou coeso de famlia. Os escravos do Capito Machado, devoto de Nossa Senhora da Conceio, por exemple, empenharam-se em lutas com os escravos do Coronel Mendona, devotos da madona ou santa rival - Nossa Senhora da Guia - por .fidelidade devoo da famlia ou da casa de que se sentiam sociolegicamente membros,- e com um entusiasmo que talvez lhes faltasse para lutarem por Nossa

    . Senhora do Rosrio ou por So Benedito dos Pretos. Ou empenhavam-se em debates sangrentos pelo Partido Conservador (o dos seus senhores) contra escravos que

    10

    /11111111111 a faca ou a cacete pela vitria do Partido Liberal - por ser os de seus tv11/wctivos senhores- com um fervor que no se confundia, segundo testemunhas i l/JnNJS, com os dos merce11rios "o dos capangas" cangaceiros de aluguel. Um fii1111r que vinha de identificao profunda do escravo com os sentimentos, os {11/1'"''\~e~~ os compromissos do seu senhor ou da casa da famlia que considerava "'' sua casa ou fam(/ia sociolgica - com prejuzo de sentimentos de dasse ou de 1~111~dncia de raa.1

    claro que houve excees importantes a essa tendncia. Que houve , , , 11t1os cuja devoo verdadeira no era nem Nossa Senhora da Conceio, nem m1.1mo a do Rosrio, mas o Xang ou a Exu. E cuja identificao foi com a gente ,/1 ''"' classe (escrava ou operria) ou de sua raa (africana) nos movimentos ltllfrtrios que mais de uma vez chegaram da Bahia ou de Pernambuco at Alagoas, /1111ocupando capites-generais e inquietando senhores de engenho. Mas no nos 1l11>t1111os esquecer de que nas Alagoas, como noutras partes do Brasil, a tendncia ,/11111f 11ante foi para o escravo sentir-se membro da fam(/ia de que era escravo, a p11nlo de identificar-se com os seus sentimentos, sua linguagem, seus gestos, seus ,/1111.1os domsticos, suas devoes e seus s(mbolos. Sabe-se que houve escravos, fw t!Sfe Brasil, de tal modo identificados com a poltica dos seus senhores, que, bomons feitos, usavam, como os senhores, o cavanhaque ou a pra que se tornara /11.1lt.:11ia dos membros do Partido Conservador.

    &se aspecto do sistema de relaes patriarcais no Brasil pena que no tlf111r

  • Alis Manuel Digues jnior aproxima-se do assunto ao recordar que, na luta contra os holandeses, "o escravo negro acompanhou o senhor de engenho no seu sofrimento e 11a sua recreao" (pg.143) ... "Moradores e cabras de engenho, gente do eito e da bagaceira, pessoal da moenda e da casa-grande, juntaram-se todos no mesmo sentmento de confraternizao com os proprietrios rurais, reagindo contra os holandeses". Isto, porm, - repita-se - em dias anormais. O fato mais interessante o de ter se verificado, seno confraternizao, acomodao, em dias normais, daqueles dois elementos aparentemente antagnicos: senhores e escravos.

    Um alagoano nascido em Wosa nos dias de trabalho escravo, - o velho historiador Alfredo Brando - pde escrever as palavras que o autor de o BANG NAS ALAGOAS recolhe numa de suas pginas: "As novenas de aoutes, os bancos e . as gargalheras nunca medraram em minha terra", isto , Viosa.

    O que no significa que o cativeiro tenha sido em Viosa, ou em qualquer parte do Brasil escravocrata, uma vida ideal para o trabalhad01; por mais acomodatcio e menos necessitado de ou-tra assistncia seno a elementarmente material que ele fosse. Manuel Digues jnior salienta, no seu ensaio, ter chegado a tais extremos entre os alagoanos o hbito, nada cristo nem sequer humano, do senhor lanar fora de casa o escravo, por velhice ou enfermidade, que, em 1833, o Governo da Provncia viu-se obrigado a tomar medidas no sentido de moderar esse requinte de crueldade da parte de donos de negros. Crueldade pior, talvez, que as novenas ou gargalheiras. Apenas menos ostensiva.

    A respeito do que foi o tipo dominante de escravo de engenho nas Alagoas, valeu-se Digues jnior de valiosa material antropolgico: o oferecido pelos anncios de jornal de negros venda e de pretos fugidos. Encontrou a evidncia de suplcios, castigos e doenas, que caracterizam os corpos de escravos nas Alagoas; marcas de propriedade; traos de vcios; sinais de procedncia africana; indcios de subnutrio, caractersticos de cor, aparncia e conformao de corpo; informaes sobre trajos, oflcios, profisses, artes, habilidades. \ claro que o escravo por assim dizer ideal encontrou-o s uma vez no Dirio das 'Alagoas de 29 de abril de 1879, e na pessoa de certo escravo fugido da casa do Padre Daltro. Ao Padre Daltro esse negro desaparecido deve ter feito enorme falta, pois era, ao que parece, o mais completo homem orquestra que j se viu em figura de escravo no Brasil: "sabe ler, ajuda missa, corta cabelo, bom cozinheiro, copeiro, sapateiro, conversa bem, entende ginstica, trabalha em trapzio, bom pajem".

    12

    Recorda Diegues jnior que, nas Alagoas, como noutras partes do Brasil, mmttrrisas familias patriarcais acrescentaram aos velhos nomes portugueses ou rmv/wu .. \, nomes indgenas. s vezes os nomes dos prprif e11grnhos Ou dn.'i rios ou dils /1 iqoas dos engenhos. O nativismo ligando-se ao patriarca/ismo tias casas-gra 1ules,

    11110 J tive ocasio de salientar. O caboclismo ou o telurismo patritico, sugerido /lfllm nomes da fam#ia, dando aos senhores a impresso de serem mais donos das wm1..\ 0 das guas do que se conservassem os velhos nomes europeus. Oiticicas, 1~11m.~tlS, Gejuibas tornaram-se nomes de grandes famflias patria~is das Alagoas. / 111111 f.lns Vieira juntou ao nome portugus o de Cansano de Simmbu. E um dos ''"""' mais ilustres que Alagoas deu ao Brasil nos dias de Imprio foi o dessa gente de e ~ 111 grande que quis sentir-se to da terra quanto suas prprias terras.

    Nas Alagoas encontram-se ainda boas casas-grandes do tempo do Imprio e "''''"'Colnia. Sempre me recordo de urna, assobradada e vasta de Wanderkys antigos ,,., 1~~rf o. Conheci-a h anos, vindo das Alagoas para Pernambuco ~orvelho caminho

    111/bo e pouco movimentado hoje: talvez at com assombraoes do tempo dos 011111,.ngos - que atravessa alguma das melhores e mais doces te"as de engenhos e Ll/llllll'iais de Porto Calvo. Porto Calvo f()f,, como salienta Manuel Digues jnior, 110 /irlrrwlro ncleo de povoamento"das Alagoas; e esse povoamento se fez em torno de

    ""~"11/Jos de acar, de casas-grandes, de capelas patriarcais e, principalmente, com f,mulias ou individuos vitulos de Pernambuco. Do Pernambuco de Duarte Coelho.

    Que, nas Alagoas, engenhos, casas-grandes e capelas patriarcais foram omwos de povoa

  • absorvidos por Mendonas como senhores dos melhores engenhos ou das melhores terras E pelo que se conhece de alguns casos concretos, pode-se esboar a 1:1.meralizao - que daqui sugtro a Manuel Diegues jnior estudar ou consulerar numa das prximas pesquisas - de que tais substituies ou absores importaram, em numerosos casos, em mudanas dos nomes dos santos padroeiros seno dos engenhos, das capelas patriarcais. Parece que a fam(/ia adventcia fazia do seu padroeiro uma de suas insgnias de domnio ou de conquista, uma de suas demonstraes de prestgio patriarcal. Se um Mendona opulento substitua um Wanderley decadente na posse de um engenho, considerava-se natural que, na capela da casa-grande, o santo de devoo da famla antiga fosse substitudo pelo da nova e rica. Donde se pode dizer que santos e no apenas capeles, eram antes membros que senhores das famlias patriarcais. Os patriarcas eram todo-poderosos em relao com os prprios santos.

    Se do Brasil inteiro que se formou sombra dos engenhos patriarcais de acar, pode-se dizer que a gua foi um dos elementos mais nobres de sua paisagem, nas Alagoas- terra de tantas lagoas, tantos rios, tantos riachos - a importncia da gua foi mxima na caracterizao do complexo agrrio. Muitos foram os engenhos alagoanos que, em vez de tomarem das familias proprietrias, nomes de santos ou de mulheres.foram buscar um tanto pagmente na gua suas denominaes. Manuel Diegues jnior recorda vrios: Riacho, Poo,Ribera, gua Comprida, gua Fria, gua Clara, Riacho Branco. E mais.foi na gua dos rios - dos ''pequenos rios" -que o senhor de engenho alagoano eruxmtrou, como nenhum outro, o que Digues fnior chama "o melhor colaborador para sua organizao econmica". Fora para movimentar a moenda da fbrica. Humidade para fecundar o solo. Transporte para a produo e para a gente. Banho para os animais. Banho para as pessoas. Nenhuma sub-regio do acar no Brasil poderia oferecer melhor confirmao que a alagoana da sugesto, por mim esboada em ensaio j antigo com aprovao de um gegrafo da competncia do professor francs Pierre Monbeig: a de que o rio pequeno teve influncia considervel na formao agrria do Brasil.

    So vrios os aspectos ou traos do complexo social representado pelo bang, ou pelo acar, nas Alagoas, que Manuel Digues jntor examina no seu ensaio: vendas de engenhos anunciadas nos jornais, introduo de engenhos a vapor, relaes dos principais traados de estradas de ferro com a lavoura da cana e a indstria do acar, epidemias, crises, a repercusso dos trabalhos da lavoura de mna e da indstria do ru;carno folclore, os primeiros reflexos dos engenhos centrais

    14

    11a situao dos bangs, o complexo "acar"na literatura e na arte alagoanas, os homens ilustres vindos dos engenhos, as festas de engenho ou de casa-grande, a cozinha das casas-grandes que o ensaista alagoano supe, a meu ver erradamente, ter sido farta em todos os engenhos, quando essa fartura parece ter sido o caracterstico apenas de alguns, a falta de adaptao do ensino s necessidades agrrias do que resultou o afastamento de tanto filho de engenho das velhas casas-((randes, os efeitos da Abolio sobre a economia aucareira das Alagoas, a transformao do bangenzeiro em simples fornecedor de cana sob a presso da concorrncia tcnica, industrial e comercial do usineiro poderoso e muitas vezes ausente da terra: residente nas capitais.

    Reconhece o autor, com outros alagoanos empenhados em deter a descaracterizao da paisagem, da economia e da vida social de sua boa provncia causada pelo avano imoderado das usinas que, ''no cooperativismo repousa a possibilidade de salvao do bang"(pg. 127). Velha idia minha durante anos lida por puro romantismo, pelos chamados homens prticos, que tive a satisfao de ver adotada pelo grupo de senhores de engenho do Vale do So Miguel que, em 1943,fundaram a Cooperativa dos Plantadores de engenho de Cana de So Miguel tios Campos, estabelecendo a a Usina Caet. A ''primeira fbrica de acar, pelo 1'/stetna cooperativista - destaca Diguesjnior- inaugurada no apenas no Brasil mas em toda a Amrica do Suf' (pg.127). Para essa experincia alagoana, tm os nlhos voltados brasileiros de outros Estados, onde o dono do bang enraizado f1rra, vem sendo esmagado pelo usineiro novo - quase sempre homem de cidade e de esprito apenas comercia/ quando no vilo; e cuja superioridade sobre o antigo {t1bricante de acar decorre, principalmente, da imensa superioridade tcnica da

    11~i11a sobre o bang. " O ensaio de Manuel Digues jnior, slido com na documentao que

    11/erece sobre aspectos ignorados ou pouco conhecidos da histria social das Alagoas, 11 lambm valioso pelas sugestes de que o autor anima esse rico documentrio, f mcientemente desentranhado por ele de velhas crnicas, de publicaes antigas e 1116 de MSS raros. um ensaio que obriga o leitor a pensar; que provoca reaes noutros estudiosos do assunto,- que sugere novas pesquisas a outros pesquisadores. St1t1 orientao - a de juntar a interpretao sociolgica da histria do Brasil agrrio 11 patriarcal ao estudo das fontes regionais dessa histria, abundantes em terras rnmo a das Alagoas - sem ser a que merece a inteira aprovao dos ortodoxos da rr(}nica histrica, parece a mais capaz de enriquecer o conhecimento do passado

    15

  • bl'asileiro de perspectivas largamente sociais. No uma orientao fci./ de ser soguida. Ao contrrio: dificlima. Como o chamado "modernismo" nas artes e nas letras, presta-se esse sociologismo arriscado ao sacrifci.o da substnoia aparncia para efeitos de novidade ou de sensao.

    f chega a ser mesmo considervel, entre ns, certa sociologia apenas cenogrfica feita precipitadamente sombra da histria. No , porm, o caso de Manuel Digues jnior - sempre contido em seus pendores para a abstrao sociolgica, pelo conhecimento da histria concretamente regional e pelo contacto quase cotidiano com os arquivos, com os documentos, com as fontes da histria social do acar no Brasil e, particularmente, nas Alagoas. Seu trabalho se junta aos de Alberto Ribeiro Lamego, jos Antnio Gonalves de Melo, neto, Wanderley Pinho, Afonso Vrzea, Gileno D Carli,jos Calazam~ isto , aos melhores estudos de economia, sociologia e ecologia ultimamente aparecidos em torno do complexo brasileiro do acar.

    ***

    A.cabo de reler o prefcio que, a pedido de Professor Manuel Diguesjnior, escrevi para seu notvel O Bang nas Alagoas, em ano j distante: 1948. Impressiona-me no prefcio o que nele permanece atual Como me impressionava agradavelmente o fato de O Bang nas Alagoas ter sido o incio de uma brilhante sucesso de estudos sobre assuntos antroposociais brasileiros, marcados pela inteligncia e pelo saber de um hoje mestre de renorrw internacional.

    GILBERTO FREYRB

    Rio, setembro de 1948- agosto 1978.

    16

    ,,

    PREFACIO 2

    A obra de Manuel Dgues Jnior, "o BANG NAS ALAGOAS", toma-se pela sua prpria especificidade, uma obra clssica para quem deseja melhor compreender a natureza e a prpria essncia da formao histrica de Alagoas, Identificada com a cultura da cana-de-acar.

    Somam-se obra de Manuel Diegues Jnior - , para compreenso das sociedades que se gestaram a partir da monocultura da cana-de-acar, as obras do historiador Moacir Medeiros de Sant'Ana, "Contribuio Histria do Acar cm Alagoas", publicado na dcada de 70, pelo Museu do Acar, e a do gegrafo Manuel Correia de Andrade, "Usinas e Destilarias das Alagoas ... ", na dcada de 1990, pela Editora da Universidade de Alagoas. Essas obras desnudam a natureza e a prpria essncia da monocultura da cana-de-acar em Alagoas.

    O carter pioneiro e, ao mesmo tempo, indito da obra da Manuel Oigues Jnior revela-se no apenas pela utilizao dos jornais como fonte de 1Jesquisa histrica, mas tambm na abordagem antropo-sociolgica como elemento explicativo do processo de construo da formao e consolidao da sociedade alagoana que orbitou em tomo dos engenhos bangs.

    A "anlise" que Digues Jnior faz do processo de formao de sociedade ttlagoana baseia-se inicialmente na descrio e na anlise das condies naturais do espao geogrfico alagoano e pelo papel desempenhado pelos rios, lagoas e das matas no processo de instalao dos primeiros engenhos bangs nas regies de Porto Calvo dos Quatro Rios (hoje Porto Calvo), Alagoas do Norte (hoje Santa Luzia do Norte) e Santa Maria Madalena de Alagoas do Sul (hoje Matcchal Deodoro). A nica das quatro vilas fundadas inicialmente em Alagoas - Porto Calvo, Santa Luzia do Norte e Marechal Deodoro atualmente - apenas 11ma1 a Vila do Penedo do So Francisco, no teve a sua origem e consolidao econmica cm funo dos engenhos bangs, mas sim de\'ido a sua localizao geogrfica cstr.atgica, prximo foz do rio S. Francisco, assentada sobre um bloco rochoso,

    17

  • bastante conhecido pelos seus habitantes com "a rocheira" que teria sido o ncleo geo histrico da formao da Vila do Penedo que cresceu em funo da sua pos1ao geografica excepcional como porta de entrada e sada para o interior do Brasil, consolidando-se com a expanso dos currais, e mais tarde do algodo pelo interior dos sertes do rio So Francisco.

    Para que se concretizasse o processo de instalao dos primeiros engenhos bangs e a prpria ao colonizatria europia em territrio alagoano, ela foi bastante retardada, dado resistncia ferrenha que as populaes indgena caets, potiguares e de outras tribos que reagiam s tentativas de implantao das primeiras vilas em territrio alagoano. Entretanto um fato histrico - a morte do Bispo D. Pero Fernandes Sardinha e demais tripulantes do navio que naufragou prximo ao litoral de Coruripe - atribuda aos ndios caets, pr-determinou a oficializao por parte da Coroa Portuguesa da escravido indgena a partir de 1562, e o processo gradativo, e cada vez mais acelerado, de extennnio das populaes indgenas do litoral de Alagoas.

    A presena holandesa no passou despercebida na obra de Digues Jnior que faz uma anlise dos impactos econmicos e scio-culturais que a guerra do acar teve sobre o territrio alagoano, destacando o papel que Alagoas teve como rea produtora de alimentos de subsistncia, vveres (gado, pcixe-seco etc) e de produtos de exportao para o mercado internacional - acar, fumo, pau-brasil, resinas vegetais, etc.

    A importncia que a cana-de-acar teve sobre a economia alagoana - e ainda tem como elemento absorvedor da grande quantidade de mo de obra rural - analisada a partir de montagem dos primeiros engenhos bangs, da sua evoluo tecnolgica, da convivncia nem sempre harmoniosa com outras culturas agrcolas tais como o milho, feijo, mandioca, o fumo e o algodo e ainda dos cclicos perodos de crise e prosperidade decorrentes das oscilaes de preos do acar no mercado internacional, assim como, a transio dos decadentes engenhos bangs para o aparecimento das primeiras Usinas de Acar e o impacto que a crise estrutural de sistema capitalista em 1929 teve

    ~obre o setor aucareiro em Alagoas.

    18

    Sobre a atualizao de mo de obra escrava africana, Digues jnior apia-se nos documentos analisados pelo Baro de Studaurt, Ernesto Encs e

    11~ publicaes de Edison Carneiro que resgatam a historiddadc do 11cgro como agente de histria-embora lhes negasse essa condio a historiografia tradicional, reforando a inconsistncia do "mito do senhor bondoso"e apoiando-se cm manuscritos da poca sobre a escravido e no le\1antamento das condies de vida dos escravos, segundo anncios de jornais do sculo XIX, demonstrando o carter insurgente dos escravos africanos contra o sistema que os oprimia, lutando individualmente ou coletivamente contra o sistema escravista, cuja forma mais organizada de protesto coletivo foi a constituio dos Quilombos.

    A interrelao umbilical existente entre os engenhos bangs, a vida social e as diversas expresses ou manifestaes da cultura "erudita"e a "popular" so analisadas a partir da auto-identificao da terra com os processos de formao das tradicionais famlias alagoanas, identificadas com as estruturas oligrquicas ou de mando ainda sobreviventes nos tempos atuais; cujas manifestaes materiais ou espirituais produzidos pelo homem do povo, ou "folk", permaneceram integradas a esse processo direta ou indiretamente.

    Jos Roberto Santos Lima Prof. Depto de Histria da Ufa! Macei-AL, Abril de 2002

    19

  • ,

    PREFACIO 3

    Na 2 Edio de "O Bang nas Alagoas", feita pela EOUFAL, em 1980, Gilberto Freyre, que havia prefaciado a sua l3 edio, h mais de trinta anos, a pedido cio autor, acrescenta, ao prefcio original, que, alm da atualidade do que foi, quela .1ltura, identificado no notvel trabalho de Manuel Digues Jnior, o "impressionava 11gradavelmente o fato de O Bang nas Alagoas ter sido o incio de uma brilhante \Ucesso de estudos sobre assuntos antroposociais brasileiros, marcados pela luteligncia e pelo saber de um hoje mestre de renome internacional". Eloqente .uestado este-sobretudo vindo de quem veio- j por si s suficiente como apresentao do trabalho inaugural de tamanho flego para um jovem mestre de 37 anos na difcil e 1lclicada tarefa de desvelar a gnese social de um grupo humano e os elementos e motivos que agregam elementos e situaes to dspares em um todo social que alguns denominam de gente alagoana, sem que houvesse, quela altura, sobre Alagoas, qualquer produo na vertente terico-metodolgica por ele seguida.

    Moacir Palmeira, por sua vez, ao apresentar 'O Engenho de Acar no Nordeste'', outro trabalho magistral do Mestre Oigues Jnior, escrito menos de trs mos depois de "O Bang nas Alagoas", afinna que "o plus d ' O Engenho de

    ~tcar no Nordeste, aquilo que Jaz a sua diferena e que lhe d um encanto 11pecfico o seu modo de usar o mtodo etnogrfico': Sem contradizer essa afinnao, 111 diria que, na verdade, esse encanto, de uma certa forma, j se faz presente cm "O lltmg nas Alagoas" e o que neste identifico como o mais rico e o mais inovador.

    Explico-me: ainda que em "O Bangii nas Alagoas", Digues Jnior se tllsponha a apresentar .. os traos da influncia do sistema econmico do engenho de rttcar na vida e na cultura regional", sendo esse, inclusive, o sub-ttulo de seu estudo, u que ele consegue com maestria inigualvel ultrapassar as fronteiras de uma produo 'ciohistrica comumente produzida em Alagoas e sobre Alagoas at 1949 e mesmo 1lcpols, demolindo, para isso, os muros que cercavam outras disciplinas do campo .ocial vistas sob uma tica tradicional e ortodoxa, sem jamais abrir mo do rigor cientfico. Com isso, penso que possvel afirmar ser Oigues Jnior um precursor dos estudos hlslrico-sociais sobre as Alagoas numa perspectiva inovadora, atravs de uma obra 11ue pode ser tranqilamente filiada ao movimento da chamada "Notwelle Htstoire",

    21

  • .1lnda revolucionria na Europa na dcada de 40 do sculo XX, que, no se contentando cm ser apenas Histria, no sentido tradicional, dialoga com a economia, com a sociologia, com a antropologia e mesmo com a psicologia e destas cincias particulares incorpora categorias. mtodos e tcnicas. Sob essa perspectiva, no apenas o germe da etnografia que se encontra presente em "O Bang nas Alagoas". Ali possvel j ver pulsando a dinmica social que se desenvolve e d substncia aos modos de vida da gente alagoana at os tempos presentes e, nesse sentido, penso ser possvel j afirmar sobre "O Bang" o mesmo que foi dito por Palmeira sobre "O Engenho de Acar no Nordeste".

    Assim sendo, somente por "O Bang nas Alagoas" j seria possvel classificar o genial Manuel Digues Jnior como um clssico no campo das cincias sociais produzidas em terras brasileiras e no apenas cm Alagoas. Minai, tendo mergulhado nos modos de organizar a vida social em um quinho do territrio nacional, desde que aqui se estabeleceram os colonizadores, Digues Jnior foi capaz de extrair, dos mitos e dos ritos por esses engendrados, os significados e as regras de convvio que ainda hoje produzem o cimento social que d coeso e sentido s aes dominantes, estabelecendo de forma bem viva os grupos, cuja hegemonia faz de Alagoas - e, por via das permanncias, tambm de extensas pores do nosso imenso Brasil - um espao de unidade em meio a tanta e to cruel disparidade.

    Quando Roberto Da Matta, em seu exemplar ensaio intitulado "Carnaval, Malandros e Heris", de 1979, sobretudo no captulo denominado "Voc sabe com quem est falando?" -cujo sub-ttiulo "para uma sociologia do dilema brasileiro", discute a prevalnca, na cultura nacional, do pblico sobre o privado, da pessoa sobre o indivduo, da casa sobre a rua -e que j se encontrava, cm germe, em Srgio Buarque de Holanda, em "Razes do Brasil", de 1936, quando ele ope, por exemplo, "modo de vida" a 'meio de vida", na sua referncia modernizao dos estilos de vida dos bares do caf - toma corpo, como fonte caudalosa, nas anlises feitas por Digues Jnior, j em 1949, em "O Bang nas Alagoas'', a presena firme e forte do patrimoniatismo, com a conseqente estrutura social patriarcal que se nutre do filhotismo, do familismo e dafamulagem. Ali encontram-se vivas e vicejantes, nas anlises de Digues Jnior sobre como se organizou a vida colonial e como foi estruturado o espao de convivncia, as relaes de trabalho e de poder numa regio que deu origem prpria sociedade brasileira que se vai espraiar por todas as outras regies e que vai atravessar o Imprio e todas as "Repblicas", at esta em que vivemos.

    22

    Se o que faz de um pensador um clssico , sobretudo, a perenidade das lll

  • '

    INTRODUO

    A histria dos engenhos de acar nas Alagoas quase se confunde com " p1 pria histria do hoje Estado, antiga Capitania e Provncia. A evoluo de um 11111111 e condicionou a do outro;~acompanha a histria do Estado, o th"lll'tlVolvimento da cultura da cana e da indstria do acar. As dificuldades 111w sofre o acar, refletem-se na histria regional. Os seus dias de esplendor Jn os dias ureos da terra - vilas, comarca, capitania, provncia ou Estado.

    : Desbravando o territrio, as primeiras bandeiras que o explrfm, \ ,1s~\111tam na construo de engenhos os fundamentos da colonizao. Saem \ tldcs os ncleos de povoamento, expandindo-se em blocos, s vezes, dispersos, , 1wla disseminao dos engenhos.l A seguir o desenvolvimento da cultura da l t 1 ;llt:l de acar adensa a populao que vive, ou que vegeta, em derredor da 1 1\plorao do acar. No s do acar; do prprio homem tambm. Do escravo, f1 111ais tarde do assalariado, este em condies talvez piores que aquele. ~

    - --, Excetuado Penedo, cuja fundao se iniciou como arraial fortificado, e c111 parte Atalaia, os demais ncleos populacionais das Alagoas nasceram e 1 nsceram em derredor dos engenhos de fabricar acar. Porto Calvo, primeiro, ft , J desdobrando-se mais tarde em So Bento, Camaragibe, Porto de Pedras e So

    / ~ \)' '=:==!!~ l.us do Quitunde, e Alagoas, logo depois, multiplicando-se a seguir em Pilar, , ~ .~

    Snnta Luzia, Macei, So Miguel, Anadia, e!!contraram nas fbricas de acar o , 1 O' ponto de partida da sua colonizao. Do seu povoamento, pode-se dizer tambm,1 porque ele s se fez regular mediante a expanso dos centros demogrficos e 11ociais que eram os bangs.

    Em Atalaia, mesmo, cujos fundamentos remontam aos fins do sculo XVll, como ponto de referncia no combate aos negros palmarinos, encontrou o bang habitat satisfatrio; e mal surgia o povoado de que Domingos jorge Velho lanou os alicerces, comearam a aparecer os engenhos, alastrando-se rapidamente pelo vale riqussimo do Paraba. Capela, Viosa, Unio vo encontrar,

    25

  • igualmente, no acar o elemento pro ulsor d . de '};iiogresso. . p . _"" nqueza, de seu c~me~, " - f De modo que o aucar se irmano , , . . , . . .

    Cmtegrando de tal fo :- , , ~ propna historra regional, neliCs

    "r- . rma que nao e poss1vel isohr d ;t, histria poltica e social e a histo' . d , , um a outra; completam-se a

    na o aucar Estas muitas , 1. mostra-lhe a evoluo, quando no a d '. . vezes exp ica aquela; -- ~ - etermma, acentua-lhe os contornos r

    or isso mesmo no 12arece acredit Llj ' - ... -:-- _ Y --as, agoas sem o a~car1Do ban .. A Ye - 11e possa ex.SJ!r uma llist!@

    termo e evfuo no podendo ~u: rirmc1p~lmente. Se este j chegou ao seu por haver conclud~ s ciclo n exigi:- le ;~ai~ nov;is energias e nova vitalidade, lhe deve tudo. eve ao ba;g ~~l vigas mestras dentro das qua1s n ' e tambem lhe deve a fixao das . . . asceu e cresceu 0 ru d , d1st_n~ui_o, sua_~ondensa~o,_sua~ -~ o povo~t~ :ua Reclamava portanto 0 ban .. A al de maneira que n~ se apagu' e gufe agoano que se escrevesse a sua histria

    m, no uturo suas tradi 1- h ' os engenhos resistindo invaso holand ' fr oes ,c. e1as de beleza: consecutivos; senhores de engenho bate~sda, ~ so endo os martmos ~e incndios martirizados, como o caso do velhQ G ~ .s~ ~or Deus e por sua patria, alguns Ana Lins fazendo do seu Sini . a . ne oares trateado nas Alagoas; D. festas religiosas, as de batizad:budtrmche1ra republicai:a em 1817 e 1824; as senhores de engenl10 ou se e, e casdamentos, tambem as reunies sociais

    - - - n 1oras e engenh d ' trancelins de ouro mo'vei's de . d. , O CL'

  • publicados (procurei sempre confrontar a publicao com o original) , quer po outros inditos, doados ao Instituto Histrico de Alagoas ou a mim gentilment oferecidos.

    De Porto Calvo como de Atalaia e aindar em grande- i:>arte; de Penedo ~ ' ningum sabe por onde andam os velhos at(lujy__os. certo que estes trs ilmnicpios foram erigidos em comarca muito tarde, j no sculo XIX, pois primeira, a das Alagoas, criada em 1706, somente em 1833 comeou a se desdobrada. Mas os prprios arquivos eclesisticos so novos. E em Porto Calv que foi freguesia, segundo todas as probabilidades, nos ltimos anos do scul XVI, como em Penedo, j parquia na poca da invaso holandesa, s s encontram documentos de tempos mais recentes. Documentos civis o eclesisticos de Atalaia, Poxim, Camaragibe, dos primitivos tempos, s igualmente desconhecidos, pois o mais antigo que h, pode andar pelos ce1 anos.

    ~sta ~arncia de documentos dificulta, em grande parte, a reconstituia \ do passa~o l..a~9?2 pr~pal~ente ~o que se re~er

  • l

    se erigiu a organizao brasileira, em virtude de circunstncias ligadas vid jurdica da colnia portuguesa. Cumpre destacar, de comeo, que a noss condio de terra pertencente Ordem de Cristo, e no coroa portuguesa, impediu maior elasticidade fonnao dos ncleos administrativos do territrio. E pelo fato de que as vilas somente podiam ser erigidas em terras emancipadas, no alodiais; sendo o territrio brasileiro de propriedade da Ordem de Cristo, era necessrio antes de dar vida administrativa aos ncleos populacionais - os povoados - emancipar a terra, compr-la a seu dono.

    Evidentemente estas dificuldades foram sobremaneira vencidas durante o domnio holands. Incorporando Portugal a Espanha, o territrio brasileiro passou tambm jurisdio dos Filipes; neste perodo, e verificada a invaso holandesa, afastaram-se, ou mesmo no se lhes deu importncia, aquelas dificuldades existentes at ento. ..justamente durante_o_~odo de invaso

    holandes~e se erigem as trs vilas alagoanas - Porto Calvo, Alagos e Pefld. ' Restaura.do inteiramente o domnio lusitano em 1654, somente mais de um

    sculo depois, cm 1764, que se cria a quarta vila em territrio alagoano: a de Atalaia. ----O~t~ modo~ e voltafld0 ao principal do assunto que vims focalizando, a freguest:fera.ahasede re-fernciaJla vida colonial. (l(s cmputos QQ.12Ul~nais se baseiam na freguesia, e contam-se "almas" e no pessoas. As discriminaes econmicas se fundam, igualmente, no territrio paroquial: nmero de engenhos, de fogos, de companhias militares, etc.

    - No s_e.conhece com exatido a data em que foi criada a primeira fregu~sia nAlagoas.Sbe-se que foi orto Calvo, orquanto j figura na Folha ~ral que aeompanha o alvar de 1 o de JUn 10 de 1617(1). Quando, porm? No h notcia exata; pode-se admitir, entretanto, que date dos ltimos anos -do sculo XVI, pois a esta poca Cristvo Lins j tinha engenhos de acar na regio portocalvense, mantinha capela nos seus engenhos, e em 1600!era feito Alcaide-mor de Porto Calvo.

    rncr. Anais da Biblioteca Nacional, \'OI. XXVll, 1905, Rio de janeiro, 1906. pgina 365.

    30

    -A scgun~o-a~ -Pene~ qual tambm no se conhece a '" dnc ser'porm, dos primeiros--nos do sculo XVII, e talvez 1615, no 1111111110 na Folha Geral citada, pelo fato de no ter vigrio colado. Da mesma

    l1t1111111no se sabe a data de criao da das Alagoas. Penedo e Alagoas, porm, j 111 ll1guesias em 1631, quando comea a invaso holandesa.

    Nos meados do sculo XVII cria-se a uarta freguesia, a de Santa Luzia tka Nurll', e nos fins do mesmo sculo,..a..de~ Mi~ ~am~cer 1I\1110 seguinte sucedem-se as novas freguesias erigidas:

  • .11

    de modo a dar o distrito administrativo e judicirio, e no somente territorial, carter de ncleo primrio da vida regional. A legislao de 1938, com a lei 311 fixou, de modo geral, este princpio.

    ' I O bng se situa nesta paisagem histrica com admirvel colorido

    /que transcende da importncia puramente econmica, para projetar-se e importncia cultural, a compreendidos os diversos aspectos de vida no period

    \ colonial atravs de suas man. ifestaes em vrios campos de atividade: a instruo J sociedade, administrao, poltica, escravido, organizao econmica.

    Procurando reconstituir neste estudo a existncia do bang alagoano cujo comeo fomos buscar na colonizao do territrio para traz-lo na su evoluo at os nossos dias, fazemo-lo na certeza de no se tratar de cois definitiva. Preferimos considerar o presente trabalho apenas um ensaio, um tentativa, talvez mesmo uma experincia.

    .A__falta de qualquer estudo an~rior -1espeito dQ engenhe-AtlS-Aiagoas e mesmo a ificxistenia de estudos mais gerais sobre o bang em outras re aucareiras do pas, fazem com que se possa considerar em aberto, no camp

    de estudos regionais, um tema como esse:..Pe fato, as monografias ou ensai qt~exis~m, cm g~ral sobre a cana de acar o_p o_acar1 e uo SQQrJ!..Q.Dgenh so quase sempre tcmcSoirtstrcos; a memria de Pereira da Costa sob as origens da indstria aucareracm Pcfnambuco ou a do Dr. Messias de Gusm sobre a indstria aucareira alagoana esto nesse caso. Aquele, mais histric este, eminentemente tcnico, apontam-se corno exemplos do fato indicado.

    \. No conhecemos, e creio que no existem, monografias com a arnplitu que demos a este trabalho. Ou seja, estudando, algumas vezes em traos rpido todof os aspectos que se relacionan1 com o bang; no s a histria ou a tcnic portanto, mas, igualmente, a vida social, as manifestaes culturais a repercusses folclricas, o papel do escravo negro, a prpria formao d sociedade alagoana sob a influncia do engenh~)

    O plano, sejamos justos em reconhec-lo, ousado; e somos, por iss os primeiros a admitir no tenhamos atingido ao ideal de um trabalho pcrfeit completo, sem lacunas. Ao contrrio, parece-nos que coisa constante a assinai

    32

    111'litC estudo: as lacunas. Esperamos, porm, possam outros melhor cntcndluos ou mais cultos cobr-las, indicando-as e apontando os assuntos que as remcdlcm

    Se bem que nos afigure falho ou lacunoso, o plano que adotamos p1mce o nico a permitir o estudo das relaes do bang alagoano com o homem alagoano; ou mais especificamente o conhecimento de sua histria .111 avs de seus variados contornos. Dentro do plano que adotamos, tornou-se p11ssvel dar, talvez em pinceladas largas, mas nem por isso menos exatas, os 11pcctos histricos e econmicos da evoluo do bang alagoano, ao lado do

    111glstro dos fatos ou de nomes que aparecem nas suas manifestaes sociais 1111 cu lturais.

    Perdoem-nos aqueles que virem nestas lacunas ou senes erros li n1mveis, capazes de prejudicar a todo o conjunto. Permitam-nos que nos 1rnlhamos s palavras de Schirer referindo-se a Jacob Grimm, e que certa

    11 ,111io Carolina Michaelis repetiu a propsito de Tefilo Braga: "Quem no ousou 11.10 ganhou nem perdeu. preciso que tenha a coragem de errar quem cultiva 1rrrcnos virgens. Trabalhos esmerados e circunspectos, acabados em todas as 111lncias, at os ltimos pontinhos sobre os ii, to perfeitos que seja preciso 1111clflos pela bitola mais alta, mostram as culminncias a que se pode e deve ' hvar o trabalho do investigador. Mas, ao mesmo tempo, obras assim feitas tm 11111 car~r severo de intangibilidade que repele, descorooa, humilha e abate".

    IA influncia do engenho bang na vida alagoana estendeu-se 1 1111ncipalmente at as ltimas dcadas do sculo XIX, quando a revoluo

    l111h1strial da tcnica de produo do acar comeou a penetrar nas Alagoas. ~"vitria, a da tcnica industrial, se verificava coincidenternente com a extino tio brao escravcl, o per~odo era de evoluo, sobretudo de transio: a J il1,agregao do primado. n.tral; a quebra do tradicionalismo de famlia; a \ 1hrndncia do patriarcalisrrio e, em parte, do patrimonialism~Com a novtt \ h111kade produo e de trabalho-a do trabalho livre em substituio ao trabalho \ ~navo - surgia igualmente nova tcnica de relaes econmicas e sociais cntrl~ 11 wnhor e os trabalhadores; entre o senhor de engenho e os moradores; entre o J

    11 ~lnelro e os lavradores, aparecendo um novo tipo humano na paisagem da J l11a aucareira: o fornecedor. --~-------

    33

  • ( A rotina agrcola, de que se servia o engenho bang, no se con~il~a~a com progresso da usina; da o fracasso do engenho. ce~tra~ , baseado na dmsao do trabalho: de um lado, a agricultura, de outro, a mdustna. O progresso desta superou a rotina daquela; e em conseqncia \i. usina teve de estender ~uas

    1 atividades parte agrcola, absorvendo-a tambm. Temos, portanto, a um ~nodo

    \ de aguda transformao na economia e na vida social do Nordeste; e em pa~cular das Afagoasj Pcrodo este - o da transio econmica do sistema do bangue para

    L- 0 da usina e da transio social do patriarcalismo quase feudal para o aburguesamento da usina - que pretendemos estudar um .. ~a; .trata-se de fase que reclama ateno mais demorada, em face das consequenc1as com. que se refletiu essa transio na vida alagoana; e tambm na de toda a rea da agricultura da indstria da cana e da indstria do acar do Nordeste.

    Mas se na verdade a poca de fausto de engenho - fausto econmico e social - entra em declnio nas ltimas dcadas do sculo passado, parece fora de dvida que nas Alagoas o engenho continuou a exer.c~r _funo p~lm.ordial nos fatos de sua histria; e no exclusivamente de sua historia econom1ca ou poltica, porque se prolonga histria de sua gente, em todos_os seus aspectos. Da termos estendido o presente ensaio, tanto quanto poss1vel, at quase os nossos dias ; estudando o engenho bang d~de de seus pri~rdios na t~rra alagoana., no podamos deixar de estud-lo, com o mesmo carmho, no penodo de sua decadncia - que do sculo atual, na sua luta quase perma~e?te co~ a usina; cm sua luta por uma sobre\1vncia que a tcnica de produao mdustnal insiste em aniquilar.

    Recorremos s melhores fontes da histria alagoana, no s da histria oficiaJmente aceita, seno tambm daquela que vive ignorada nos arquivos, e~ documentos valiosos, muitos dos quais vm retificar afirmativas at hoie mantidas. Em todas estas fontes, ainda inditas ou pouco conhecidas, procuramos colher elementos; igualmente naquelas obras, j consagradas algumas, outras menos utilizadas, mas do mesmo modo importantes, em que se encontram elementos sobre a histria regional.

    No arquivo do Instituto Hlstrico de Alagoas, em documentos da coleo Bonifcio da Silveira, estes na maioria j publicados na Gazeta de Alagoas, em

    34

    lornrnentos de outras origens, como por exemplo os de instituies eclesisticas u 1s. rebuscamos a maior parte das infonnacs transmitidas neste estudo. >utra preciosa fonte de estudo na histria alagoana a que permanentemente

    1 e urremos, foi a Re"ista do Instituto Histrico de Alagoas, antigamente Revista d 1 Instituto Arqueolgico e Geogrfico Alagoano.

    Dentro do arquivo do Instituto Histrico de Alagoas, convm salientar a 11111rlbuio de Pedro Paulino da Fonseca; o que este cronista alagoano deixou

    h 111 merece as honras de divulgao. So MSS interessantes, valiosos, em que .1 \l'llte o trabalho da pesquisa e do aprofundamento cm que se embebeu o \1'111'rando alagoano. Alm destes MSS, no s histricos seno ainda referentes 1 .1~1>ectos sociais das Alagoas - festas religiosas, procisses, festas profanas, 111111cmoraes, etc. - so tambm importante contribulo as suas saudaes

    l'111vfncia das Alagoas, que em alguns anos divulgou pela imprensa no dia 16 h '

  • anima a acreditar que este ensaio de Edson Carneiro seja um marco novo definitivo na histria dos Palmares; ou melhor na nova histria dos Palmares.

    Infelizmente, focalizando o tema apenas no que se relaciona com o engenho e o escravo negro de engenho, no nos foi possvel aprofundar mais estudo dos Palmares; fixamo-nos apenas naquilo que o tema Palmares oferec como reclamando reviso, capaz de reinclu-lo no seu verdadeiro sentido e n sua exata realidade.

    Como a respeito dos Palmares, so outros assuntos da histria alagoan dignos de novo exame e estudo. Quero crer que isto se possa fazer se das nov geraes alagoanas sarem elementos interessados em conhecer o passado d sua terra, engolfando-se na surpreendente riqueza que h e~ do~umento antigos. Depender tambm, certo, se o professorado souber mcutir entre o moos este propsito de reconstituir os fatos histricos nas suas melhores fontes e no apenas na repetio do que os historiadores tm dito.

    Ainda valendo-se dos arquivos do Instituto Histrico de Alagoas, percorremos todas as informaes de dois jornais interessantssimos para est~d e compreenso da vida alagoana: o Dirio das Alagoas, que nos seus qua,s~ trmt anos, conseguiu reunir tudo quanto se passou na terra alagoana em polm:a, ~ comrcio, em vida social, em literatura, em publicaes diversas , em anunc10 -principalmente anncios sobre fuga de escravos; constitui :ealmente e~te jornal como bem disse Craveiro Costa, "um marco do desenvolvimento da 1mprens alagoana"; e o Guttenberg, mais do nosso tempo, pois deLxou de c.ircul~r e 1912 depois de trinta e um anos de publicao, no decorrer dos quais regi~tro os mais diversos fatos, acontecimentos, aspectos dignos de serem recolhidos prosseguindo assim no bom jornalismo que o Dirio das Alagoas havia iniciad no meado do sculo XIX.

    A outras colees de jornais, algumas, infelizmente, incompletas tambm recorremos: ainda no Instituto Histrico de Alagoas, ao jornal de Alago Gazeta de Alagoas, a O Semeador, em cujas pginas colaborou o erudit pesquisador Cnego Teotnio Ribeiro, conhecedor como poucos das minci histricas da regio alagoana. As vezes artigos sem assinatura, mas que revela

    36

    11111lfto, a profundeza de conhecimentos, a segurana das observaes do ti 1 .1 nmeros esparsos de jornais que se divulgaram em Macei ou no interior

    111 1 .1atlo; na biblioteca pblica do Recife, ao dirio de Pernambuco, rico lt 1111-.llrio no s de informaes sobre a vida pernambucana, mas ainda sobre 1k 10

  • outros MSS de interesse para a histria alagoana, bem como a colees do Dirio dt Pernambuco, existentes naquele estabelecimento. Outros amigos nos auxlllaram ainda nos trabalhos realizados, atendendo gentilmente s nossas consultas quer feitas em cartas, quer verbalmente; o caso de Joo Cavalcanti de Albuquerque Lins, Benedito Aires de Gusmo, Hanlilton de Freitas, Olmpio Ciraco da Silva, Emlio Machado da Cunha e Eloi Moreira Brando S, agentes de estatstica, respectivamente, de Porto de Pedras, Porto Calvo, Pilar (hoje Manguaba), Passo de Camaragibe, So Lus do Quitunde e Viosa (hoje Assemblia).

    Tambm agradecemos ao industrial Carlos Nogueira e ao Dr. Pompeu Sarmento nos terem facilitado a consulta de antigas escrituras referentes a engenhos de Camaragibe e Rio Largo, e tambm, quanto ao primeiro, por ter nos proporcionado uma cpia de planta do engenho Buenos Aires, levantada na dcada de 1880. E ainda, ao Dr. Orlando Cavalcanti, ilustre linhagista da famlia de seu sobrenome, a respeito de que prepara alentado estudo, reconstituindo toda a genealogia dos Cavalcanti desde o Filipe da colonizao at os nossos dias, tendo nos prestado interessantes infonnaes; ao SI'. Alarco Aiala, descendente dos Mendona, que gentilmente nos auxiliou na reconstituio da descendncia do Ouvidor Mendona; ao desembargador Carlos de Gusmo, que nos encantou sempre com suas informaes acerca de engenhos, senhores de engenho e famlias alagoanas, ligadas aos diversos ramos de Calvacanti, Gusmo, Lira e Mendona, do norte do Estado; ao seu irmo, senhor de engenho Messias de Gusmo, que nos ofertou antigas publicaes sobre economia alagoana, tais como a Revista Agrcola, relatrios, memrias, etc.

    Cabe ainda agradecimentos ao desenhista Francisco Xavier da Costa que a pedido nosso copiou vrios mapas e plantas antigos das Alagoas; desenhou casas grandes e capelas de engenho; facilitou-nos exame minucioso em velhas cartas da regio aucareira das Alagoas pelas reconstituies realizadas.

    Por fim os maiores agradecimentos a dois nomes que desejo ver associados ao preparo deste ensaio: Rui Palmeira, que o idealizou perante a direo da Cooperativa dos Bangezeiros e Fornecedores de cana elas Alagoas, confiando-nos obsequiosamente a tarefa de escrev-lo, e Gilberto Freyrc, na

    38

    indicao de fontes, nas sugestes, na troca de idias, na anima~o que nos deu para nos dedicarmos ao estudo - pesquisa e anlise - da .~ncultura da cana e da indstria do acar na regio alagoana. E por extensao em toda a regio nordestina.

    tvli\NUEL DIGUES JNIOR

    Macei, 1945. Rio de janeiro, 1946.

    39

  • CAPTULO l A ,.

    O BANGUE E A FORMAAO DA SOCIEDADE ALAGO ANA

    " O ambiente geogrfico. O papel dos rios. A mata. Os rumos da rnlonizao. Os primeiros ncleos de povoamento.

    O povoamento do Norte. Os engenhos de Cristvo Llns.

    Rodrigo de Barros Pimentel no povoamento do vale de Santo A11t11io lirunde. A diviso da sesmaria.

    O povoamento das Lagoas. A sesmaria de Diogo Soares. Os engenhos da l,ugoa do Sul. Gabriel Soares.

    Miguel Gonalves Vieira e a ocupao de sua sesmaria. Os enge11 hos da 1 . 1goa do Norte. O povoamento das margens do rio Munda.

    Fundamentos de Penedo. Os engenhos de acar na regio, t particularmente em Coruripe e Poxim.

    O engenho na formao social das Alagoas. O cruzamento demogrlco. o ndio. O negro. O problema da colonizao. Jentativas de imigrao. Influncias do engenho.

    O p~odo holands nas Alagoas. A invas e a conquista. Os cngeuhos durante o domnio holands. Destruio de engenhos. Os senhores d.e engenho na restaurao. A economia aucareira na poca:

    41

  • ... _ ........ :.::1 ,,-.~-rJAr...;: ~~---.J '.\\ .....

    -~el admit;r-se que haja partido de trs focos iniciais o povoamento do territrio alagoano. Um assentou no norte, e teve Porto Calvo como ncleo de irradiao. O segundo situa-se no centro do litoral e se desenvolveu em torno das lagoas, que deram nome ao povoado inicial: Alagoas ou Alagoa do Sul e Alagoa do Norte. Prolongou-se pelo Vale do Mundal a cujas margens assentaram os fundamentos da economia local: os engenhos de acar. O terceiro foco situou-sc ao sul; Penedo o seu centro de expanso.

    . Um quarto foco, complemenk'lr daqueles trs primeiros, surge j nos meados do sculo XVII, e seu aparecimento se deve luta contra os Palmares, que determina a expanso do povoamento do interior. Vencidos os quilombos do Zumbi, os vencedores localizam suas moradas nas terras conquistadas, distribudas ento em sesmarias aos conquistadores. Comea da o povoamento do interior; expande-se a dilatao territorial. Completa-se a estruturao geogrfico-_Qcial dasAl~oas~

    Parte esta expanso de Atalaia, ncleo do quarto foco de povoamento. Dos fins do sculo XVII para princpios dos seguintes so concedidas as sesmarias na regio. Na segunda metade do sculo XVIII (1764) recebe Atalaia os atributos de vila, que se seguem ao ttulo eclesistico de parquia (1763). a quarta vila de Alagoas; e a dcima segunda freguesia.

    O povoamento dos trs primeiros ncleos inicia-se nos ltimo3 decnios do sculo XVI. Nas primeirs dcadas do sculo seguinte, e ao iniciar-se o domnio batavo, est perfeitamente estabilizado; alicera-se cm bases slidas, que sfto, elo ponto de vista econmico, a agricultura da cana de acar no norH.' e no centro litorneo, os campos da pecuria, no sul. Nos comeos do scnlo XVII so sedes de freguesia os trs povoados iniciais: Porto Calvo, Alagoa do Sul e Penedo. Na tercera dcada do sculo so elevados categoria de vila.

    43

  • Eclesiastcamcnte e politicamente tm sua organizao assegurada. De cada ponto nuclear se vai irradiando o povoamento vizinhana. Novas freguesias sao criadas: Santa Luzia do Norte e So Miguel nas Alagoas; Camaragibe e So Bento em Porto Calvo; Poxim e Traipu cm Penedo. Povoados surgem paralelamente vida dos ncleos fundamentais ./A cana de acar assegura a prosperidade econmica pela fundao de engenhos. Cria-se uma sociedade em fundamentos estveis. f

    __ - ----Do ponto de vista geogrfico podcrn-S..,e caracterizar estes ncleos pela influncia do seu principal acidente; acidente, no caso dos trs ncleos do litoral, principalmente hidrogrfico, por isso o seu elemento a gua: rios ou lagoas. O litoral alagoano podemos distribu-lo em trs regies: a regio dos quatro rios, que a do norte, presidida pela presena dos rios Manguaba, Camaragibe, Santo Antnio Grande e Tatuamunha, a que se juntam outros rios menores: o So Bento, o Maragogi, o Comandatuba, o Mocait, o Tapamund. Depois a regio das grandes lagoas, onde se destacam as lagoas do Norte ou Munda, e a do Sul ou Manguaba; finalmente, a regio so-franciscana presidida pelo So Francisco, cujo centro, Penedo, foi o ponto de irradiao dos.eu povoamento, quer dilatando-~e ~ara o norte, quer penetrando o serto.

    Na regio dos quatro rios que foi a sesmaria de Cristvo Lins e Rodrigo de Barros Pimentel, pois aquele que dividiu seu primitivo feudo em 1608, os rios Manguaba, Camaragibe, Santo Antnio Grande e Tatuam unha, afora os pequenos, constituem o ponto de referncia na concesso das sesmarias, na fixao dos limites das doaes feitas, na caracterizao dos engenhos levantados, cujos nomes muitas vezes so colhidos no rio a cuja margem se construam as fbricas de acar.

    Os rios Parafba e Munda so os elementos referidos no povoamento da regio das grandes lagoas; como seriam depois no da regio palmarina. Eles e as lagoas do Norte e do SulJA colonizao se fez acompanhando o curso das guas.~ A sesmaria de Diogo Soares baseia-se na boca da lagoa Manguaba; a de Manuel Antnio Duro iria para o serto at cntestar o rio Munda, ao despejar na lagoa do Norte. Limitada pela lagoa do Norte e pelo rio Santo Antnio Mii:im feita a concesso de Miguel Gonalves Vieira. Para o sul, o rio So Miguel referido na sesmaria dos Moura.

    44

    Na regio so-franciscana o grande rio da unidade_ nacional o ill\tribuidor do povoamento; as distncias se fixam em torno do Sao Francisco, 1111 do Piau, ou do coruripe, ou do Panema; e assim se vai estendendo para o 1111rto, margeando 0 curso do grande rio, e ao se alastrar para o norte, costeando 11 Atlntico, at encontrar as concesses territoriais de Diogo Soares da Cunha,

  • l:unb~~ os cami!1110s, por onde as canoas ou as barcaas navegavam, fazendo 0 com:m? do aucar E at as prprias barcaas se construam tendo como rcferen~1a de tamanho o nmero de sacos ou de caixas de acar que pudessem

    conduzir. 1' So ?os, porm,. que, quando se inquietam, se desbragam em estragos,

    causando rumas, destruindo canaviais,lcabando com as planta~es. Rios sem n~nhum r~s~ito ao trabalho humano., Uma vez, em meados do sculo XIX, 0 Sao Francisco encheu que arruinou os canaviais, destruiu 0 engenho Correntez~; ~as, dir-se-: o So Francisco. Sucede, entretanto, que os pequenos nao sao menos desbragados, nem menos violentos.

    De uma notcia de jornal pode-se ver o que fizeram o Munda o Parafa e o Subam_a, que consideravelmente cheios, "ho produzido grandes d~struies ~m ~lantaoes de canas, mandiocas e outras lavouras". E registrava o noticirio:

    mui~os engenhos de acar prestes a moer e outros j moendo acho-se paralisado~ e a espera de que melhore o tempo11m fPesar disso, sempre 0 nct pequ:n~, no col~~oraaor e amigo ao colnizador.i o centro geogrfico do sistemd econom1~res1d1do pela cana de ~car.

    De modo que as sesmarias concedidas em territrio aJagoano encontraram no elemento geogrfico seu principal fator de fixao e tambm foram encontrar na fisionomia da terra, na nomenclatura das guas e das florest~ - os n~m~ de rios: os nomes de rvores, o prprio nome da mata _ a caractenzaao dos nucleos de _Povoamento criados. o batismo dos engenhos, dos ~ovoados, uns e outros mais tarde evoluindo e, s vezes, transformando-se em c1dad:S dos ~ossos dias, encontrou farto manancial no elemento geogrfico; na suges~ao da agua. CAac~oeira, Munda, Ri_:icho, Pratagi, So Miguel, Jlqui, Camaragibe, Santo Anton10 Grande, Olhos d'Agua - abundante este no apenas em ~ng:nhos mas em localidades tambm - so nomes que encontraram lnsp1raoes na geografia local - o rio, o riacho, as quedas d'gua. Outros foram buscar seu nome nos motivos da terra - Pau Amarelo, Boca da Mata, Angelim, Mato Grosso, Junco, Barro Branco, Campo Verde, TabocaJ, Gravat, Jngazelra. 111 Dl~RJO DAS ALAGOAS, Macei, 19 set. 1860.

    11 DIARJO DAS ALAGOAS, 18 sei. 1860.

    46

    dt, ores grandes e frondosas, cuja madeira foi empregada nos caibros, nas 1111~rf'S de casa, nos altares, nos pilares.

    Do que eram as matas das Alagoas, h dois documc11to:i 1mpor1.1.nlcs: 1111 c.trtas-relatrios do Ouvidor Jos Mendona de Matos Morl'irn, que foi u11wrvador das matas das Alagoas, cargo criado por sugesto sua, quando c11t.10 1 p111pos a executar os respectivos encargos' A minudnc.ia da dcscri.10 nos ~ "' \cr a extenso que1inham as nossas matas: lguas e mais lguas tlc lonsta,

    11111111 pelo litoral como para o serto, tanto de frente como de fum~o. Alm disso, fica-se sabendo que j no sculo XVITI, se uuhzam ;rrnrc.,

    d 1 111atas entre a lagoa Jiqui e o rio So Miguel para construo dt 11:1vlos nirrt;mtis. Nelas que "se prov todo a marinha mercantil da Baa, dtpois dtt 11111hlbio das mattas de Palmares"; nos seus portos- adiantava- se constn>l'ITl 1111111.ts embarcaes, e na poca em que o Ouvidor escrevia estavam stndo LOl\Mrudas sete ou oito.

    Das matas dos Palmares, "as famosas e bem conhecidas matas dos t,11r11ares, tanto pela fertilidade delas como pela extraordinria grandeza de sua.o; 111.1dclras11, como das matas de Santo Antnio Grande e de Camaragibc, falam o ( 111\ ldor cheio de entusiasmo. Entusiasmo que se arrefecia o seu bocado, quando

    ,. l'l'feria destrui~o feita gelos muitos roados e Relo muito ~g~--~ Verific-se que na rea aucareira onde mais scnSfvr se c11co11tra esta

    tk.truio. No eram somente as derrubadas para as construes de navios; os l%1

  • / das matas, o que acarretava tambm a falta de lenha para os seus cozimentos. Mas no escondia ele que eram os engenhos destruidores das matas; os de\ lf' 111contramos alguns em colees de jornais do sculo XIX.

    No primeiro ncleo de povoamen19 :...~o No:te, Porto Calvo - e nos ilnh focos-do segundo - os das margens das lagoas,:- e em torno_~ econo1111a

    1~111 arcira qne se processa SeClesenvolvunento. E e~ derredor lo~ e.ngcn~10s. d.i. famlias dos senhores de engenho - os Uns, Wanderley, Ac1oh, Ba1 ros l'l111t1ttel, Botelho, Soares, Bezerra, Calheiros, Gomes de Melo, Carvalh? ~ ~uc r lorma a sociedade alagoana, cujos fundamentos encontr~m,o~ nos pnm1~1YO~ P"'"atlores, os que vieram nos fins do sculo xvn e nos 1~nnc1p1os do segumtc. 1 ila que parte a histria no somente do engenho de. aucar.n':5 '..\lagoas, mas 1 11 nhm da prpria sociedade alagoana; o que quer dizer ~ ~11stona mesma das \l 1 1oas, unida como est a sua \ida existncia dos bangue~. ,

    no desenvolvimento da agricultura da cana de aucar que assenta a OI l' 1nizao de cada um desses ncleos fundamentais do po'o~e~to das Ala~~ 1 atravs da economia a~careira que se expande a colomzaao do terntono .11 a g o ano., 'fi -

    somente na segunda metade do sculo l.'Vl, quando se ven ca a excursao ili- jernimo de Albuquerque contra os caets que havi~m sacri~~ado , bisp~ D. hrnandes Sardinha, que comeam as exploraes desta regtao. Ate ~ntao o ll'rritrio das Alagoas era quase ignorado, tanto que Frei Vicente, ao registr~r a morte do Bispo, se refere vagamente ao lugar como situado entre Baia e Pcrnambuco

  • Todava, deveriam j existir alguns pequenos ncleos na rea geogrfica do atual Estado. Admite-se que Eduardo Coelho, na viagem que fez ao sul do seu feudo, ha\'ia deixado algumas famlias na regio do Penedo e das Alagoas. No h, entretanto, maiores elementos para positivar-se isto, o que, porm, se pode aceitar como possvel, sobretudo no que se refere a Penedo, em vista de tratar-se de um arraial fortificado, ponto extremo da ~itana Duartina.

    Contudo, certo que somente a partir da bandeira de jernimo de Albuquerque que se inicia o povoamento da regio alagoana atravs da obra t;olonza. . . . .. H a duas confuses que dados mais seguros perm1teii; retificai .. ?

    Cristvo uns a que se refere o cronista, segundo deste nome, nao era i\~10\i , . 'talano e no foi 0 fundador de Porto Calvo. Borges da Fonseca ass111ala mm1 1 ) A l ct'~O

    .tpcnas Cristvo Lins, e frei Ca.latl.o, seu contcrnporaneo, c lama-o i 1s va

    mnGALVO, Olmpio Euzbio ele Arrouxelas. Sucinta descrio do municpio ele Porto Cal\'o. N. /nst. Arcb. Geogr. Alagoano, Macei, 2(16): 17:H86, jun. 1889.

    ;l

  • 1.lns de Vasconcelos. Foi o restaurador de Porto Calvo, e era neto do primeiro Cristvo Lins, o povoador. Em segundo lugar, sendo o segundo do mesmo nome, e, portanto, o restaurador na guerra holandesa, no foi casado com D. Adriana de Holanda, de quem era neto, pois esta fora mulher do primeiro Cristvo Lins. Sua mulher foi D. Brites de Barros Pimentel, filha do primeiro Rodrigo de Barros

    ~m~~. , Houve, pelo menos, cinco Cristvo Lins. O primeiro o fundador de

    Porto Calvo, tronco dos Lins das Alagoas; o segundo neto deste, sendo filho de Bartolomeu Lins, e foi restaurador de 1645; o terceiro filho de Cibaldo Lins, sobrinho de Cristvo Lins II, e, pois, bisneto do primeiro; o quarto filho de Jos Barros Pimentel, neto do primeiro Rodrigo de Barros e tetraneto de Cristvo I.ins; o quinto, finalmente, filho do terceiro Rodrigo de Barros, e casou com Mssia Lins de Almeida, filha de Cristvo Lins II, do qual foi genro, portanto. o que se pode concluir das informaes genealgicas de Borges da Fonseca, nesta parte confirmadas por outros autores.

    ' Cristvo Lins, o primeiro, portanto o povoador, veio descendo do norte para o sul, e em 1600 j o encontramos Alcaide-mor de Porto Calvo e senhor do engenho Buenos Aires, que a tradio admite ser a mais antiga fbrica de ~car nas Alagoas. Sua fundao deve datar da poca em que Cristvo Lins se fLxou no territrio alagoano, quando da sua expedio.

    De engenho de Crist'1o Lins h notcia deixada pela crnica de Knivet tratar-se do engenho Buenos Aires, de que hoje restam runas; fiGava

    ClllKNIVET, Anthony. Narrao da viagem que, nos anos de 1951 e seguintes, fez(. .. ) R. fnst. Hist. Oeogr. Brasileiro, Rio de janeiro,n. 41 , I" parte, 1878.

    111>ALMllDA, Cndido Mendes de. Memritl para a bt:vtria do Hstado do Maranhiio (. .) v. 2, Rio de l:tnclro, 1874, p. 22, nota 2.

    1 n 111:1rgem do rio Can1aragibe, enquanto o citado por Knivet, segundo traduo t 11tt de sua narrativa de viagem, ficava alm do rio Manguaha. ou na margem ~ 1t 1 o. Passado o rio Santo Antnio, "arribamos depois a um no amplo, o t 1111.uagibe, e continuamos em direo ao rio das Pedras. Oa1 partimos, rio

    111 11, sobre uma jangada feita com trs moires secos am~u-rados j1111los. Ao dl 1 Imediato desembocamos num vasto descampado onde st vin grande 111 11nt ltlade de gado, e uma moenda e cana, para a qual nos dirigimos; o

    1uoprlclrio do engenho era um holands a quem entr~ganios H ~nrta do Ri11rnador" - o que narra Knivet, na traduo de Gmomar cll' C:in .ilho l f llll't)( I ~)

    Neste caso o engenho seria o Escurial, tambm de Crislvao Llns, e 11 11Tavado no territrio porto-calvense, onde poca se achava o povoador do 11111 1, alago~mo. O que fora de dvida que j cm 1590, mais ou nwnns, 11 ls16vo Lins estava residindo em Porto Calvo com engenho mo11L1PRIMEIRA visitao do Santo Ofcio s terras do Brasil. Denunciaes de Pernambuco. (1593-1'9)) So Paulo, 1929.

    53

  • { 1:

    1 1

    J 1 !

    1 ! ! 1 1 1 , 1 1

    /:

    \' 1. 1 i 1 't \ : 1 ! 1 1 1

    1 \ \

    \

    '

    i 1 1 1 '

    1

    54

    o ..e e . ro O'l-c g. u -o 2o c..c ::::se ~CV e O'l o e U CD o ro -o O'l ro

    :.t=# (/) e ro ro u ro -

    i.-= ro ro ro '- N O'l e o (/) .._ -

    ro E -g ::::s ro '--0 9>

    - ro o ~ 1 -g '::::s .. - ~ cr (/) o e -o o e CD ~ > r (/)-(i) ~ o -o ro a..

    "O CD ..... -o

    .CD O >t ro o >Infeliz1nente, no encontrru11os elementos mais completos que nos pern1itam acompanhar a sucesso do engenho Buenos Aires . O seu nome no aparece no relatrio de Adriaen van der Dussen; pode-se, contudo, admitir tratar-se de un1 daqueles que figuram apenas com o nome do proprietrio. Da acreditamos seja um dos engenhos de Cristvo Botelho. Este era filho de Brites Lins e, conseqentemente, neto de Cristvo Lins l. admissvel, deste modo, que o engenho lhe tivesse chegado s mos por sucesso hereditria.

    Na guerra holandesa aparece com ao destacada o engenho Escurial como sendo propriedade de Manuel Camelo Quiroga. Figura na relao que o "Breve Discurso"C16l arrolou dos engenhos existentes e1n 1638 em Porto Calvo; no co1n o nome de Escurial, mas com o de seu ento proprietrio.

    No ano seguinte, no relatrio de van der Dussen sobre engenhos do Brasil holands, a propriedade de Quiroga aparece com o norne de So Francisco. Ser o mesmo Escurial ou outro engenho de Quiroga? Admitimos a primeira hiptese . .f\fanuel Carnelo Quiroga foi casado com D. Maria Uns, quinta. filha de Bartolomeu Lins, e, pois neta de Cristvo Lins l. Alm disso, o nrnero de engenhos da relao de 1639 coincide com o da relao de 1638, no havendo assim maior probabilidade do aparecimento de um novo engenho.

    Com a 1norte de Camelo Quiroga, durante a Juta da restaurao, o Escorial passou para Clemente da Rocha Barbosa, com que1n a viva Maria Lins casou em segunda npcia. O segundo marido da filha de Bartolon1eu Lins teve o apelido de "P de Pato", por ter uma perna 1nuito inchada, explica Borges da Fonseca; e adianta que Clemente da Rocha con1prou a Sebastio Carvalho a parte que a este coubera no engenho, por morte de sua segunda mulher D. Ma.ria Camelo, filha nica do primeiro 1natrimnio de i\ilaria Lins.

    Parece-nos que, antes de Camelo, o Escrial teve con10 proprietrio Rodrigo de Barros Pimentel, o primeiro deste nome, casado com D. Jernima ele Almeida, filha de Brites Lins e Baltazar Almeida Botelho e neta do povoador .

  • Dos trs engenhos restantes no h, . - ' , . elas permitam admitir-se que sejam da f: a ~~na? \agas not1c1as, embora todas vale do Camaragibe e do l\fanm1aba . amfu11adlms os engenhos existentes no 1 ' ' e assrm n ados por Crist , - L e es a nosso ver baseando-se . ovao ms. Seriam

    ' ' nas conJeturas que a segt . 'f engenhos do Morro, em Porto Calvo B . . , Hr JUSt1 tcamos, os Jesus, hoje usina do mesmo n 'o a1xo, depo1: do Meio e mais tarde Bom Camaragibe. orne, e Maranhao, estes dois ltimos em

    Paralelamente a Cristvo Uns sur em . engenhos; entre eles figuram Rodr' d B g ou.tros colomzadores construindo lins, e outros parentes do povoad~~o A ear arros P1ment~I, sobrinho de Cristvo que em 1630 j exist'am - . p ecem quase simultaneamente, tanto

    1 na regia.o de Porto Calvo dez enge h . sua maioria, so patentes de Cristvo Lins. n os, CUJOS donos, na

    Em 1608 Cristvo Lins divide suasesm . d . de Barros Pimentel esta divis . .ana, oandoapartcsulaRodrigo permitiu que fosse dado mai o que m~ts ad1ai!te exa~inaremos com vagar, Antonino Grande e do Cama~:~ebse~volv1mento ~ colomzao do vale do Santo

    b' e, impoiiailte area aucareira , d , que surgem novos engenhos nestes al . , 1 . . . , a partir ai um dos incendiados em 1636 e v e~, me us1ve o ?e Cristvo Dias Delgado, e Castanha. , que se situava em Panpueira, no vale do Jetituba

    Passamos a examinar os elernent . , . terem sido os trs restantes os engenhos Ma~~:::: que ~e apoia a afirmativa de vem registrado em Borges da Fonseca como "M ao, ~o edo Morro. O ltimo Barros Pimentel, o que , indiscutivelment t J~" pertence~te a Rodrigo de de Rodrigo de Barros o Morro c!e:;e r~nc~~nto de copista. O engenho documentos da poca. ' 0 penodo holands, conforme

    O primeiro proprietrio do Morro d h, , . Barros Pimentel, portu s tronc '. e que . a noticia, Antnio de seu filho Rodrigo o ve~o , qu .da fadmha Barros Pim. ente1, seguindo-se-lhe " ) J e viveu urailte a luta co t t.. 1 serviu ao Rei e Ptria" e 'd d ' n ra os 110 andeses e

    . ons1 eran o o casamento de Rod . d uma neta de Cristvo Lins, possvel admitir- ,ngo e Barros com

    Em 1639 M . . se que ela tenha herdado o Morro o orro pertencia a Rodrigo de B p . do relatrio de van der Dussen f h arros unente!, como se v

    , ' e m a como lavradores Pedro Ferreira da Silva '

    56

    l tli 111 de Lima e Gonalves Domingos. Outro engenho de Rodrigo de Barros 11i1i111cl, tambm arrolado, o Santo Antnio; deve ser a atual Usina Sm1to 11111nlo, pois se encontra, cm mapas antigos, situado no mesmo local.

    Alm disso esse engenho se localiza justamente na principal parte de 1 11.1s que coube a Rodrigo de Barros, na partilha de 1608, isto , na concesso 11111 lhe fez Cristvo Lins. H ainda que considerar que Antnio de Barros 1111wntel era concunhado de Cristvo Lins; sua mulher D. Maria de Holanda, 111 lrn1 de D. Adriana de Holanda. O engenho Morro e o Santo Antnio so, t11 nrto, os dois que Rodrigo de Barros possua poca do domnio holands 1 que encontramos arrolados no "Breve Discurso", que diz ser um deles ri 1111tcmente feito. Este "recentemente" deve referir-se, sem dvida, ao Santo i\11lonio.

    O primeiro proprietrio do engenho de Baixo, de que h melhor referncia, 111stvo Lins, o segundo deste nome, neto do povoador e chefe da restaurao

    p11r10-calvense em 1645; parece tambm que o engenho de Baixo, depois do Meio, 111,1ls tarde engenho do Bom jesus, coube por herana ao segundo dos Cristvo l l11s da nossa histria. Um documento de 1686 nos deixa ver que esse Cristvo l lt1s deLxou o ento engenho de Baixo parasuamulher D. Brites de Barros Pimentel, q111 o doou a seu irmo, o capito Jos de Barros Pimentel.

    Por outro documento, este de 1709, sabe-se que o morto Capito-Mor Jn~

  • L

    por jos de Barros Pimentel, mais tarde restringido por joo Lins de Vasconcelos e sua mulherMs da coleo Bonifcio Silveira publicado na seo "Patrimnio Histrico", da Gazeta de Alagoas, Macei.

    58

    Cibaldo Lins um dos primeiros nomes que encontramos como 1111i tilrio do Maranho. Entretanto, sabemos que o Maranho foi crigi~o

    Ili\ p1clao de terra do Buenos Aires, como se constata de uma anot.iao 1 11111c sobre este ltimo engenho, documento em poder do seu atual 111111trio. _

    de admitir-se que Cristvo Lins tenha erigido o Maranhao pouco jk1b

  • que a rea aucareira alagoana presenciou sempre: "declaro que por fragilidade de humana alis fragilidade humana tive de Dona Maria Souza Alarco Ai ala; os filhos seguintes", cujos nomes faz desfilar: Jos de Mendona de Matos Alarco Aiala; Jacinto Paes de Mendona; Bernardo Antnio de Mendona; Brbara Francisca Xavier de Matos; Maria Josefa Diniz de Alarco Aiala; Antnio de Mendona Alardo Aiala.

    E acrescentava, como que justificando-se, o poderoso Ouvidor que se tomara igualmente poderoso senhor de terras cm Camaragibe: "todos eles existem e so meus filhos naturais, porque a referida sua me se achava no estado vi dual e conhecendo eu que as Leys do Imprio pela distinta condio que me compete na ordem da Sociedade os inhabilito por meio de sucesso abintestado ... "

    A descendncia do Ouvidor se foi alastrando pela regio aucareira do norte alagoano; estendeu-se por Porto de Pedras, por Porto Calvo, por So Lus do Quitunde, atravs dos novos engenhos que os Mendona incorporaram ao seu patrimnio. Transfo1mou-se a famlia num dos mais poderosos grupos de senhores de engenho, de donos de terras e de escravos; grupo igualmente de onde saram expresses p}2!ticas e intelectuais das mais altas durante o Imprio e a Repblica nas Alagoat.feontinuavam os Mendona, pelo sculo XIX em diante, as atividades que teriam sido a dos Uns, dos Vasconcelos, dos Acioli, nos sculos anteriores. Sempre lgados terra, pelo contacto com a agricultura da cana de acar,

    enriql!_ec_er~-na tambm, enriquecendo o seu nome, com brases de nobreza. !'Vfas voltando aos primrdios da colonizao, veremos que, paralelamente

    faina de Cristvo Lins outros engenhos vo surgindo quase todos posteriores aos seus; uns construdos por descendentes do povoador, outros por contef!1Porneos. Os de Rodrigo de Barros Pimentel, por exemplo.

    Nos primeiros anos do sculo XVII os nomes de Cristvo Lins e Rodrigo de Barros Pimente 1 aparecem em uma escritura de doao feita na via de Olinda. Este documento da maior importncia na histria do povoamento do norte das Alagoas. Por ele se verifica que o feudo dos Lins partilhado, ficando a parte norte (zona de Prto Calvo atual) para Cristvo Lins, e a sul (zona de Camaragibe atual) para Rodrigo de Barros Pimentel. O Cristvo Lins doador o primeiro desse nome, isto , o povoador.

    60

    l ~ ,., ~o~<

    Na carta de doao diz que, como Alcaide-Mt e repftidor das ternL

  • L -

    De l com a demarcaso que le mandei fazer e meter marco n costa do mar de fronte do dito citio raxo donde tem ua caza e mora dito Antonio Maxado e Vasconccllos e pelo sul parte a dita sorte de terr com as de Joo Graia Riscado ter oito sentas Braas pouco mais houmenos e para o serto o que e axar vaga entre os mais ereos a quem tenho dado e vendido nas terras que constaro das suas aduais e escripturas a real sorte de terras dou e doua ao dito Rodrgio Barros Pimentel livre e ezscnta sem foro e sem peno Algua som entes dzimos a Deus com todos os seos mattos pastos agoas lenhas mangues e pesqueras assim dorrio como da costa do rnar cm sua confrontaso tudo a ellc pertencente a coai terra alli-comfrontada lhe a dou por respeito ser hu dos primeiros que no Povohar deste Porto Calvo me acompanhou sempre e ter mettido nas ditas teras gados e criais e feito cazas e assistir com as uas pesoa e escravos na Dita terra o dito Rodrigo de Barros Pimentel e esperar dele munto augrnento na dita povoao como dele comfio pelo zello que tenho espremcntado nelle do servio Heal servio (e assim poder fazer da dita terra o que Bem le parecer como cosa sua que j he e fica sendo ade perpetua rey memoria) e sendo que algum tempo tenha duvidas com Antonio Maxado nunca paar o riaxo das laiges para o norte o dito Rodrigo ele Barros e Antonio Maxado nunca paar ao sul o dito riaxo tambm por que fica para deviza de hu e houtro senhores das elitas terras e assim para firmeza de tudo !e mandei pasar a prezente carta de aduao por mim asignada e selada com 0 segnete de minhas armas. Nesta Villa ele Olinda aos vinte oito de maio de mil ceis centos e oito annos. E eu Pedro Frrz. Lisboa escrivam das aduaes o escrevy. Cristovam Lins estava o selo do scgoete das armas do alcaide.

    A carta de doao acima transcrita, alm de outros aspectos que permite sejam estudados, contribui, tambm, para se verificar que a repartio das terras visou ao progresso econmico da regio. Na terra j Rodrigo de Barros Pimentel metera "gados e criais" e fizera casas; assistia, isto , morava com suas pessoas e escravaria. Cristvo Lins esperava ainda que o doado fizesse muito aumento na povoao.

    62

    H realmente fez. ao de Rodrigo de Barros Pimentel que se deve o Ih .lvhncnto da regio, erguendo - ele e seus parentes - eng;nhos de am ;tr,

    1111ulo canas, vencendo a grossa mataria ento existente. E de conclt11r-sc, 11l1 qttc nesta poca Cristvo Lins se tenha transferido de Camaragibe para 1j1,1 .. tlvo, passando da para Rodrigo de Barros Pimentel ou seus descendentes

    111 1prlldade dos engenhos desse vale, o de Camaragibe. Do Buenos Aires, por 111plo, cm que assistia Cristvo Lins desde fins do sculo XVI. .

    o "riaxo das Lages", a que se refere a carta, deve ser chamado no das 1 l , que antigamente separava os encapelados Quintas e Janga; ele banha o 1 1111,1!10 Lajes, no Municpio de Porto de Pedras, acima de Tatuamunha. A nosso

    1 , 'Sl' o acidente citado na doao. Em primeiro lugar verifica-se que o rio Tatuam unha deve ter ficado dent~o

    11 lria doada, e isto pela circunstncia de no ter sido citado. Send? o ma~s 111porl;ulte acidente hidrogrfico entre os rios Manguaba. e ~amarag1~e, sena

    1111ural que ele aparecesse citado, ao menos como hm1te; se na~ , f~i r 1 ltliiitemente porque estava o rio Tatuamunha dentro da zona que Cnstovao 1 tm . Estas md.ica~oes locahzam 111 1 ll'itamentc o limite norte da sesmaria de Rodrigo d: B".1'ros Punente!.

    Tal concluso combina exatamente com a referencia do documento, ao f!\,1r que Rod1igo de Barros "nunca paara o riaxo das Lages para. n~rte'', ,~ q11a1110 ao vizinho Antonio Maxado ''nunca paara o lado su.I do dito riacho , 11:1rho que se constitui desse modo a diviso das terras dos dois senhores, como il\a a carta de doao. . ..

    Dentro dessa rea que lhe foi doada, Rodrigo de Barros Pimentel 1111c1ou ~uus atividades de povoador. margem do Santo Antnio Grande, ergueu o

    "'~listas e outras informaes sobre aspectos geogrficos e econtllicos de Prto de Pcd~~s d

  • engenho Santo Antnio, e outros colaboradores seus levantaram tambm fbricas de acar.

    De certo, o Limite sul da sesmaria de Rodrigo de Barros Pimentel no era o rio Santo Antnio Grande; ao que parece ela descia alm de Paripueira. O seu limite sul era a sorte de terras de Joo Garcia Rjscado, como refere a carta de doao. Nenhum elemento ternos quer para identificar esse proprietrio de terras nas Alagoas, quer ainda para situar onde ficavam estas terras. Cabe, supor, entretanto, que Joo Garcia Riscado fosse proprietrio entre Paripueira e o rio Sm1to Antnio Mirim. Essa observao surge do fato de, antes de 16 J O, ter sido concedida a Miguel Gonalves Vieira uma sesmaria que comeava, ao norte, no Santo Antnio Mirim. Assim, acima do Santo Antnio Mirim deveria comear a sesmaria de Joo Garcia Riscado.

    Como j referimos Rodrigo de Barros deu incio, nas suas novas terras, obra colonizadora, erguendo margem do rio Santo Antnio Grande o engenho deste nome(21J em cujas terras hoje existe a usina Santo Antnio. No perodo holands, conforme se v do relatrio de van der Dusscn, j aparece o Santo Antnio entre os engenhos de Rodrigo de Barros Pimentel; de se presumir seja ele o recentemente construdo a que se refere o "Breve Discurso".

    de crer que poca do relatrio citado estivesse moendo o Santo Antnio. Na relao de van der Dussen aparecem como lavradores Jernimo da Costa Santa Cruz com 35 tarefas, Maria Vaz com J O e existindo ainda 4 tarefas do partido do engenho.

    Um outro Rodrigo de Barros Pimentel foi tambm proprietrio do Santo Antnio; o segundo do mesmo nome, filho do primeiro, e que foi tambm senhor do Escurial. Este segundo Rodrigo de Barros casou com Cosma Lins, filha de Bartolomeu Lins, neta, pois, elo primeiro Cristvo Lins. H posteriormente, notcia de Manuel Vera Cruz Pimentel como proprietrio do mesmo engenho. Pelo sobrenome de acreditar seja descendente do primeiro.

    Convm ponderar que na relao dos engenhos confiscados e vendidos cm 1637 figura o Rio Formoso, comprado por Rodrigo de Barros Pimentel, em

    W>LJRA, Ambrsio. O municpio de Camaragibe. Cidade do Passo, 1881.

    '.~ de junho, a Manuel Gonalves, de Olinda. Dois m1os depois, cm 16'~9, l'slc 1ngcnho Rio Formoso j aparece como propriedade de Roland Carpcnll'I' 1. 111gcnho de bois e estava moendo, com noventa tarefas plantadas.

    Registra Manuel Caladot22>, que Rodrigo de Barros Pimentel, o velho, foi o primeiro brasileiro que prenderam nas Alagoas, em 1645 quando irrompeu a 1;11crra da restaurao; em janeiro seguinte sofreu tratos cruis na sua priso do 111cife. Porque mandava cartas e avisos foi torturado cm 10 de janeiro de 1646

  • ~

    longo da costa para o sul, e duas lguas para o norte. Diogo Soares pedira cst:L'l terras para nelas criar vila, adiantando logo que o seu nome sera Madalena.

    Afirma Di:L'i Cabra1

  • 1

    1 j '

    1

    Uma referncia de Melo Morais nos faz crer que anteriormente a Diogo Soares existissem outros moradores na Madalena, entre eles os irmos Barbosa Correia de Arajo - Manuel, Francisco e Baltazar. Segundo tradio entre seus antepassados, esses irmos fundaram os engenhos Terra Nova e Mija Velha, ambos situados em terras hoje do murticpio de Pilar; o Mija Velha o atualmente Flor da Paraba. Em 1825 o ento proprietrio do Terra Nova, Antnio Cavalcanti Correia comprava o Mija Velha a Ana Casado de Lima, que o havia adquirido por compra ao Capito G