Barros Rogato A aventura do sonho das imagens em Alagoas

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El.INALDO BARROS SOA· RJ.:s. nasczdu Pm 23 de dezembro de 1'146 <>m Warrio na Rua San ta FP. Ponta Grossa, bem pertmhu do hoje na lembrança. CT,VE LUX, de lumtno.~a memorta lmctou nas ltdes Jornaltslir:as t'aete.• ainda e!ltudante secunda­riMa do Colégto Estadual d~ Ala­l(oos. Pm 1 9fi.S. p,çcret•endo para a págw.a esportn·a do exttnto, DIÁRIO DE ALAGOAS, leva· do pelo ami~to e companheiro de ew:ola, Edson Alcántara

Dots ano:; depots, Ja umrer· sttariu. passuu a escreuer sobre C I·

nema no JORNAL DE ALA· GOAS, e de.~de então colaborou com quase todos os jornais ou pe· rtádtco.5 alagnanos. tait; como: J ORNAL DE HOJE. O DIÁ· RIO , GAZETA DE ALA· GOAS, O SEMEADOR, úLTI· MA PALAVRA, TRIBUNA DE ALAGOA S, etc. Ultima· mente parltctpa do tele-)nrnaft.~· mo da TV GAZETA, comentan­do .,ubre a Sétuna Arte, endente· mente Tambémtemarttgossobre Teatro e Mú.çÚ·a Popular Brast· t.•tra

Formado, m LETRAS. pela l nwerstdadt' Frderal de Ala · J?tl(J.ç, em 1970, e professor do Co­lel(w (;uulo de J.'ontgalland e do ( 'ur:;o de Educação Artística do Ci'ntro de Estudos Supenores de Maceió ICESMACJ. Foi (unciO­nart >do extlflto Departamento de A~;swttos Culturais (DAC), 6rgao da Secreta na de Educação e par­lt<'tpou de du·c•rsa.ç comi.çs•w~ or­ganuadora;; do Festwal do Ctne· ma Brasileiro de Penedo ( 1975 a 19821, alem dl! ta organizado di­versos Fest wais Estudantis de Mustca Popular. Durante quase dms anos foi dtrl'lor do Musl'u da Imagem e do Som de Ala.l(oas 1 M/Slu e desnwolveu dwPr.~a.~ l'.lpostções e ahrtu o espaço J)(lra

t•t.<rta:çóes e pesquisas estudantis

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AGRADECIMENTOS

-Ao pessoal do Arquivo Público - Benedito Rosalvo Filho (funcionário do Instituto Histórico e ~ográfico de Alagoas) - Almir Guilhermino - cineasta e professor da UF AL - Almiro Rodrigues - da equipe do Museu da Imagem e do Som de Alagoas (MISAIFUNTED) pela reprodução das fotos do filme. -Manoel Augusto -operador de cinema do SESC. -Arlindo Tavares, V era Alves e José da Guia- jornalistas da Secretaria de Comunicação Social. - Célio Miranda - filho de Moacyr Miranda e herdeiro de uma valiosa cópia de "Casamento é Negócio?" e fotos de Rogato.

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"Uma simples estrela, contaminada pelo vtrus da humildade, falando lembra-me um fogo fátuo, luminoso e arredio, iuquebran­tavelmente simples! Alagoano, morador do bairro de Ponta Gros­sa, durante 25 anos, criado na porta do cinema, donde tempos depois escreveu o livro "CINE LUX - RECORDAÇOES DE UM CINEMA DE BAIRRO", seu palácio de sonhos. Participou da organização de diversos Festivais de Cinema de Penedo, tendo reunido material sobre os realizadores de super 8 e lançou o livro "PANORAMA DO CINEMA ALAGOANO" - um grande painel sobre o cinematografia estadual em 1983. Lamenta ser o último dos moicanos,já que outros bons (lmanoel Caldas, Jorge Barbosa, Manoel MirandaJr.) não fervilham nos jornais. Quando adolescente gauava aulas no Colégio Estadual de Alagoas paro deleite de seu prazer maior.

Ruminações de sua in{dncia aliada a um grande talento lite­rário o fizeram um dos melhores crlticos da .sétima arte. ( ... /'

Jorge Luiz, Coluna SPOT, Jornal de Hoje, em 18102191.

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Elinaldo,Barros Soares, filho de José Soares Filho e Elita Soares Barros, a eles dedica este trabalho.

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"Maater a memória 6 preeervar D08U identidade, D088a Jmtória. É Def8r o esquecimento."

(Daniel Filho, in, "Ante. Que me Eequeçam." Editora Guanabara, 1988).

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-APAESENTAÇAO QUASE DESNECESSÁRIA

'' José Maria Tenório Rocha

Aos inúmeros cognomes dados às Alagoas, sobretudo a capital, Maceió, poderíamos, sem embargo, somar mais um: terra das pes­quisas anunciadas e não realizadas, o que parece comprovar a asser­tiva proverbial: "Maceió, um dia só"; é que na efervescência de determi­.nados momentos solenes, estudiosos e "quase pesquisadores", dese­jando "contribuir" para a elucidação de problemas angustiantes da cultura da terra, dão certos pareceres ex-cátedra, para em segui­da afirmar que estão interessados em um aprofundamento daquela questão e que depois publicarão estudos acerca daquele fato!

Assistimos certos anúncios de entusiasmar a mais empedernida das criaturas: um desses estudjosos, entusiasmado pelo fato de ser convidado a integrar uma associação cultural de caráter foclórico, bradou que estava interessado em fazer um estudo psico-social a respeito do terror que as crianças têm do boi de reisado, especial­mente das marradas do boi; ao bradar, com olhos bem arregalados, chegou até a traçar certas idéias que seriam desenvolvidas.

Outro estudioso, sociólogo, ainda não concluiu pesquisa que iniciou ·em 1984, à respeito de grafitos e pichações; informou que seguiriã uina linha teórica proposta pela sociologia americana! Igual façanha ocorreu com aquele "pesquisador" que propôs o lança­mento de uma geografia do folclore alagoano; isto foi feito na década de setenta, e ainda não foi concretizado ...

São exemplos e exemplos de "encher cadernos", que não vem ao caso listarmos agora.

Aconteceu que Elinaldo Barros, sem nada anunciar, fugiu ao determinismo ao interpretar aquilo que tanto ama: estudar a proble­mática da cultura cinematográfica alagoana.

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Tempos houve que esse bigodudo, aliás, queria dizer, estudioso· do cinema, esteve meio desligado, desentusiasmado com as pesqui­sas e não queria dar um aprofundamento a seus artigos e estudos, alguns já publicados, sobre o Super 8 em Alagoas, dando continui­dade, de certa forma, ao meu trabalho sobre a cinematografia em Alagoas. Na ocasião eu estava jornalista, redacionando no Jornal de Alagoas, para estimular o jovem. fiz matéria intimidativa onde dizia: se você não realizar o trabalho sobre o Super 8, realizo eu! O Elinaldo parece que tomou sangue novo e aceitou a fustigação, elaborando o excelente "Panorama do Cinema Alagoano", mais entusiasmado ficou e publicou " Recordações de um cinema de bairro" sempre bem vindo, e agora, volta as suas atenções ao inicia­dor disso tudo na terra caeté: Guilherme Rogato.

É trabalho paciente que alia, de um lado, um bom linguajar e faro de quem viu o que eu não vi, e isto é muito salutar! Outra coisa positiva é que tanto eu quanto Elinaldo, escrevemos sobre o filme "Casamento é negócio ?", de Rogato, sem nunca o termos assistido. Tempos depois dos nossos trabalhos publicados, eis que assistimos ao tão falado filme! Agora, o estudioso já pode ter uma visáo real, concreta, do que foi a obra, analisand<>-a, não com os olhos da atualidade, mas com a capacidade imaginativa de tentar entender as dificuldades do "fazer cinema não é sopa, não" como apregoado em samba, na década de quarenta.

Do entusiasmado Elinaldo eu esperava isto e muito mais e, espero sobretudo que as autoridades que dirigem os destinos da cultura em Alagoas, se dígnem a ver este trabalho como uma valiosa contribuição ao nosso combalido e depredado patrimônio cultural e o publique rápido, para o bem de todos nós, principalmente para que não sejamos omissos, quando se perguntar sobre algo que nos toca que está tão enevoado.

Que toquem os atabaques em treze terreiros de Xangô de Ma­ceió, anunciando que mais um trabalho sério está para ser lançado; e COII\O o trabalho. é saboroso! Saboroso como a terra que o viu nascer ...

Que repiquem os sinos ... anunciando ...

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ÍNDICE DOS CAPÍTULOS

Take 1 Cores Deliciosas - Estética e Arte Os Cinematographistas Carnaval Cinematográfico A Rogato - Film Vai ao Foot-ball Um Filme Álbum de Alagoas Uma Pausa Para o Frevo Alagoas' Takes - Aos Trancos e Barrancos O Sonho Continua A Passagem de Edson Chagas De uma Bravata ao Bravo do Nordeste O Filme de Rogato e a Imprensa Alagoana Entrevistando um Galã A Trama do Filme Um Esclarecimento ao Público O Ocaso de um Fotógrafo O Último Foco

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TAKE 1

Aportando na p(>nte de desembarque de Jaraguá, com a finali· dade de promover uma Exposição Fotográfica em Maceió, pisou Guilherme Rogato pela primeira vez o solo alagoano no ano de 1918. A exposição ocorreu nos primeiros dias de janeiro do ano seguinte, mas foi um ato designador àquele toque em nossa terra. Pois, foi como se houvesse um intento dos deuses - a força de Netuno, quem sabe, após a longa viagem por seus domínios mari· nhos. Maceió, até então pequenina e pacata, banhada por belas águas, seduzia o jovem visitante como uma bela Y ara.

Se não foram os deuses, porventura as ocultas e misteriosas forças do destino atuando sobre o jovem visitante. Ou talvez, chi lo sa, o espírito indômito de um imigrante sonhador, que deixa sua terra em busca de outra à cata de um novo ancoradouro que dê a segura guarida ao seu barco de sonhos. Pois, é preciso resgistrar que nas veias de Guilherme Roga to corria o sangue latino e italiano de uma brava familia desabridamente lutadora, que, como tantas, partiram da terra peninsular em busca de um novo mundo.

Rogato, menino de doze anos, viveu fortemente esta marcanto experiência da emigração no começo da década, quando seus paas, vindos da Itália, desembarcaram no Porto de Santos, almejando uma nova vida, na data de 16 de setembro de 1910. Por uma desaas coincidências que só o cinema sabe ~ustar, a data da chegada doe Rogato ao Brasil é a justa combinaç~o com a data da emancipação política de Alagoas. As forças do destino histórico também jogaram seus lances e cartas sobre o audaz vi~ante.

Guilherme Roga to nasceu em San Marco Argentano, na região de Conssenza, na Itália, no dia 07 de dezembro de 1898. seus paiE foram: José (Guiseppe) Rogato e Filomenta Ponte Rogato. O jovem Guilherme Rogato casou·se com uma descendente de italianos, Ma· ria Rosa Greco. O casamento foi em Cambuci, São Paulo. Rogato

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teve duas filhas: Ada Rogato, pioneira da aviação no Brasil e Flávia Rogato, conceituada médica maceioense.

Foi através de uma pequena e muito importante publicação de 27 páginas, o opúsculo "Subsídios à História da Cinemato. erafia em Alagoas", de autoria do professor e folclorista José Maria Tenório Rocha, editado pelo extinto Departamento de Assun­tos Culturais (DAC), da Secretaria de Educação e Cultura, em 1974; que pela primeira vez Guilherme Rogato ganhou ã condição de elemento de estudo. Muito antes, foi citado no livro de Alex Via­nny, "Introdução ao Cinema Brasileiro", publicado em 1959 pelo Instituto Nacional do Livro. Vianny, pesquisador e cineasta brasileiro, citou Rogato e o seu filme "Casamento é Negócio?".

José Maria Tenório Rocha, professor da Universidade Federal de Alagoas, foi muito feliz no primeiro parágrafo de seu valioso trabalho quando escreveu: "A história da cinematografia em Ala­goas é a própria história de Guilherme Rogato e sua vida nesse Estado."

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COAES DELICIOSAS -ESTÉTICA E AATE

Quando Guilherme Rogato chegou a Maceió para a Exposição Fotográfica em Esmalte, trouxe consigo como companheiro de via­gem e profissão, o fotográfo argentino Ramon Spá. Os dois tentavam mostrar as novidades na arte de Louis Daguerre e buscavam, tam­bém, ampliar novos horizontes profissionais. Sobre a Exposi~ão, eis o que registrou no espaço da coluna REGISTO SOCIAL (sic),

0 Jornal de Alagoas de domingo, 12 de janeiro de 1919, tendo inclusive ilustrado a nota com uma foto de Spá. Por sinal, o fotógrafo argentin~ posa ao lado de uma câmara sobre um tripé, elegante­mente trajado. Sob o titulo EXPOSIÇOES, diz a nota:

"Os eldmios artistas fotográficos Rogato e Spá vêm inaugurar no Teatro Cinema Floriano a sua magnífica exposição de retratos em esmalte.

Os clichês são belfssimos, coloridos com perfeição e demonstram bem o traço original dos seus confeccio­nadores.

Há meses que os dois conceituados photogra­phos se acham em Maceió. É excusado falar da perí· cia com que eles executam os trabalhos que lhes são confiados merecedores que são justo da simpatia e preferência da sociedade alagoana. Das lindas foto­grafias exibidas destacam-se as dos drs. Fernando Lima Finnino Vasconcelos e Leonino Corrêa, cha-, mando também muito a atenção do público aquele jovial sorriso de uma criancinha, filha do sr. Mário Guimarães.

Cores deliciosas, estética e arte-eis em súmula a exposição aberta há dias, de retratos feitos por um

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proceso moderno, retratos esses que além de dura­tivos são vendidos por preços módicos.

O sr. Spá declarou-nos que não duraria muito tempo a exposição, indo como tem que ir à capital da República a negócio de sua profl88áo.

Recomendamos ao público de Maceió os traba­lhos de Roga to e Spá que são excelentes e que atestam perfeitamente seus dotes de artistas. n

De fato, os artistas fotográficos conquistaram a simpatia da sociedade maceioense, através de suas inegáveis qualidades profis-­sionais. Como o próprio Spá afirmara, a exposição seria breve, pois outros compromi~s exigiam suas presenças na outrora Belacap, o Rio de Janeiro. ~ra reforçar o caráter de brevidade da exposição e tentar conquistar, ainda, algum cliente retardatário, uma nota no pé direito da primeira página do Jornal de Alagoas de 31 de janeiro de 1919, anunciava sob o titulo ROGATO & SPÁ:

"Devendo seguir viagem para o Rio de Janeiro no dia 2 de fevereiro impreterivelmente e tendo vários de nossos amáveis fregueses demonstrado desejos de adquirir as chapas por nós tiradas, prevenimos aoe interessados que podem desde já procurá-las que as cederemos a preços módicos.

Também realizamos os trabalhos de nossa expo­sição imitação a esmalte como aceitamos qualquer encomenda sempre que se nos concede cinco dias para poder executá-la."

Dias depois os dois artistas partiram e o Jornal de Alagoas de dois de fevereiro de 1919, um domingo, noticiava na coluna REG ISTO SOCIA'L, com uma foto de Rogato:

· Com destino à capital da República onde têm o seu atelier à ru' Buenos Aires, n~ 317, tomam passa­gem hoje no ltaquera os distintos cavalheiros Gui­lherme Rogato e Ramon Spá.

Aqui em Maceió, durante os meses de sua esta­dia, tiveram os artistas fotográficos a gentileza da preferência da sociedade alagoana. Guilherme Roga­

. to e Ramon Spá voltarão em breve a esta capital onde pretendem executar um álbum do Estado. ' Desejamos-lhe uma feliz viagem."

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OS CINEMATOGAAPHISTAS

Pouco tempo depois, sozinho, Guilherme·Rogato, o sympathlco fotógrafo, retomou a Maceió e sua vinda foi registrada na coluna do Jornal de Alagoas, REGISTO SOCIAL, com o título, CHEGA­DAS, na data de 28 de junho de 1919, umsabbado,conforme era então grafado.

"GUILHERME ROGATO- A bordo do paquete •'Brasil" chegou ontem a esta cidade o inteligente artista fotógrafo Guilherme Rogato, cujos trabalhos já são bastante conhecidos do público.

Guilherme Rogato está hospedado no Hotel Lueo Brasileiro, onde se encontra à dispoeição doe &eu.e

clientes. Agradecemos a visita do sympathico artista,

apresentamos-lhe os n08808 cumprimentos de boas vindas."

A presença de Rogato em Ma~ió nesta ~~o foi breve. Poia pouco tempo depois retornava ao Rio de Janeuo detxando nas mloe das au~ridadeslocais a ideia de se fazer um vasto álbum de fotogra­fias do Estado de Alagoas.

No começo de 1921, em Janeiro. Rogato ~tava nov~~nte em Maceió e, desta feita, estava muito bem eqwpado. A Idéia era a de assentar e f\justar o tripé e as lentes de suas machina1. Rogato trouxera não somente as máquinas que fixavam no papel um mo­mento posado dá vida. Trouxe também uma ~ara de cinemaW.. grafia. O cinema já era um fato consumado na ctdade q~e ~u(a algumas casas de espetáculo e no Brasil corriam peloe1Jl8.18 divereoe pontos do pais uma nova figura - o cinematografista.

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Eles registravam com suas maravilhosas máquinas primitivas em imagens animadas, aspectos gerais da vida e da paisagem brasi~ leira. A máquina que Rogato trouxera para Maceió era em uma caixa de madeira, com manivela, talvez uma Ememman (alemã), uma Pathé (francesa) ou uma Williamson (inglesa). Afinal, muito tempo se ·passara que Alfonso Segreto rodou em 19 de julho de 1898 algumas vistas da então límpida e bela baia de Guanabara. Segreto desabrochou o cinema brasileiro ao retomar da· Europa com uma dessas caixas de cinematografia, a bordo de um navio. Dai, surgiram, então, os cinegrafistas.

Luis Thomas Reis, um dos nossos célebres cinematografistas, pontificou na Amazônia registrando os contatos das expedições do militar sertanista, Marechal Cândido Rondom, com os indígenas. Na mesma região, Silvino Santos se destacou em Manaus traba­lhando para a empresa. de J. G. Araújo. O pemambucan~ Edson ~ é um dos nomes do famoso e proficuo Ciclo do Recife . O gaúcho Eduardo Abelim é um outro pioneiro que acabou se tomando um l!Jimpático personagem do filme de Lauro Escorei, "Sonho Sem Fim", com Carlos Alberto Ricelli. Houve também os italianos Paulo Benedetti, Gilberto Rossi, lgino Bonfioli, Pedro Comello, espalhados pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Segundo o pesqui­sador e cineasta Jurandyr Noronha em seu livro "No Tempo da Manivela", editado pela Ebal/Kinarte, os italianos eram préeisa­mente o que se chamavam de "retratistas" .

. Oriundo de um grande centro do pais onde todas as grandes . n~vidades ecoavam depois em outros recantos, Roga to aos poucos fo1 fazendo com que a então pequena e pacata província praieira recebesse as luzes e as lentes da fotografia e, depois, também, do cinema. E o Jornal de Alagoas, na coluna "Registo Social", em 16 de janeiro de 1921, noticiou:

"(. .. ) Guilhenne Rogato está hospedado no Hotel Lusp B!asileiro, pretendendo montar por estes dias umatelier nesta capital onde se demorará algum tem­po, achando-se aparelhado com novos materiais foto­gráficos e máquinas aperfeiçoadas de cinematogra­fia."

Começava então a se desenvolver os sonhos e os desejos de ver as imagens animadas de Alagoas.

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CARNAVAL CINEMATOGAÁACO

Naqueles idos o Carnaval em Maceió era um grande aconteci­mento. Vivia-se intensamente o período de folia. No matutino Jor• nal de Alagoas havia uma coluna assinada por um animado entu­siasta da festa de Momo, que se escondia sob o curioso e erudito pseudônimo de Falstaff.

No texto "Evolução Urbana e Social de Maceió no Período Repu­blicano", de autoria do célebre sociólogo, professor Manoel Diegues Júnior, incluso no livro "Maceió,., de Craveiro Costa (2~ edição, DAC/SEC, 1981), há uma passagem sobre os antigos carnavais festivos da província. Eis um trecho:

"( ... )Não menos festejado pelos maceioense era o Carnaval. O Zé-Pereira da Fênix Alagoana. funda­da em 1886, os brinquedos de rua - corso, combates de serpentinas e de confetti, saída de mascarados - os bailes foram pouco a pouco evoluindo e quase desaparecendo o brilho de antes. Desaparecer mesmo desapareceu o Zé-Pereira. Entre 1900 e 1920, mais ou menos na noite do sábado gordo o acontecimento máximo do carnaval maceioense era o Zé-Pereira . Muitos rapazes e homens de letras dos nossoe dias e senhoras respeitáveis de hoje saíam nos carros triunfais, simbolizando a Vitória, a Glória, o Saber ou então figuras mitológicas - Vênus, Netuno, etc. (. .. )"

Mas, é na coluna CARNAVAL, sob a máscara nominal de Falstaff, que vem este registro que marca o primeiro contato de Maceió e, logicamente, do Estado, com o fazer cinematográfico.

No domingo, datado de 6 de fevereiro de 1921, a ~ntlltima nota:

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"O Carnaval de Maceió vai ser cinematografado. O Rogato, artista de verdade, vai ganhar a rua de máquina em punho e, já se sabe, o sucesso está ga­rantido. Nada escapará à reportagem da Rogato­Film que, dias depois, ressuscitará a pândega de Mo­mo nos écrans dos nossos cinemas.

Rogato-Film vai dar a nota!"

Uma semana depois, no dia 13 de fevereiro, no mesmo jornal, numa pequena nota da página 3, o artista Rogato avisa aos seus clientes e amigos que "fixou residência provisoriamente nesta capital à rua 15 de novembro, 89, onde aceita chamados para executar em domiçilio qualquer trabalho fotográfico e cine· matográfico, acha~ o-se para isso devidamente aparelhado."

Aos poucos, Guilhenne Rogato foi ocupando seu espaço na cida­de, ao tempo em que fixava no papel ou na película imagens alagoa­nas. Atento aos fatos que ocorriam não só na capital, mas também no interior, eis que no Jornal de Alagoas, do dia 15 de fevereiro de 1921, numa longa matéria sobre a inauguração da ponte de Vitória, em Quebrangulo, ocorrida dois dias antes, em meio aos nomes dos convidados está o de Regato. Ativo, próximo aos dias finais de março, ei-lo expondo nas elegantes vitrines dà loja A Carioca, situada então à rua do Comércio. O noticiário acusa que está sendo "Expostas uma interessante coleção de retratos de pessoas da nossa sociedade executadas artisticamente pe­lo talentoso fotógrafo, sr. Guilherme Rogato!'(Jomal de Ala· goas, 21 de março de 1921).

Mas foi em abril, na coluna TELAS E PALCOS, no dia 8, que se anunciou a exibição dos primeiros filmes alagoanos. Pela nota, o colunista apesar de separar cada trabalho, chamou-os de "magnffico filme", ~mo se fosse um único trabalho. Eis a nota:

"Serão exibidos no Odeon o magnífico fllme" "O Càmaval de Maceió e Inauguração da Ponte em Vitó­ria", trabalho talentoso do artista sr. Guilhenne Ro­gato. Película clara e perfeita contendo todos os qua­dros. No mesmo programa, "O Dom da Fascinação", seis atos empolgadíssimos interpretados pela mui querida artista Dorothy Dalton. ( ... )"

Durante mais dias "O Carnaval de Maceió" foi anunciado em exibições, também, no cinema Delícia, que ficava na rua do

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Sol, def~nte o prédio dos Correios. Por sinal, acompanhando a 2! série de "Perseguidos por Três". Na coluna TELAS E PALCOS, do Jornal de Alagoas de 18 de abril de 1921, o registro:

"Na sexta-feira continuação do filme seriado da Inter Ocean Film, "A Casa dos Mistérios" e amanhã no Del1cia será focalizado o belo filme "0 Carnaval em Maceió", trabalho da Rogato-Pilm em três atos".

Sente-se, pelo noticiário da época, que Roga to não era somente um cinematografista. Era, também, um empresário de cinema, cria­dor da Rogato-Film.

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Um brasileiro nascido em São Paulo e tendo estudado na lngla· terra foi quem introduziu o ''foot-ball" no Brasil. Para confundir alguns o seu nome não é nada braileiro. Charles Miller era filho de ingleses e foi através dele que a bola e o esporte mais popular oo país aqui entraram em 1894.

Já o futebol em Alagoas não há registros oficiais de sua chegada. Mas, segundo o pesquisador alagoano Lauthenay Perdigão, no seu livro, "Memória Fotográfica do Futebol Alqoano" (Edição MISAIFUNTED, 1986), o ano extra-oficial é 1908. Segundo este IJ'&Ilde estudioso do futebol foram uns estudantes alagoanos que cursavam a Universidade em Recife que trouxeram a novidade esportiva para Alagoas durante o período das férias escolares.

Quando o governador Fernandes Lima tomou poeee, em meio u festividades comemorativas pelo evento havia uma peleja futebo-11atica pJ"'OI'88D&CCa para o campo da Pf.\iuçara. O Jornal de Alasou concedeu um grande espaço nas duas primeiras páginas para regi• trar a cerim6nia de posse, na edição de 15 de junho de 1921. No ~A TAÇA FERNANDES LIMA está registrado o embAte futebolfltieo entre o Clube de Regatas Brasil e o Y piranga, com muitos termos relativos ao esporte grafados em inglês. E nesta ocuiio eeteve preeente Gui.lberme Rogato. Ou melhor, a Ropto­Film. Eis a nota, tal e qual:

A TAÇA FERNANDES UMA

"( ... ) As 15 112 horas com a presença do sr. gover­nador e de sua exma. familia, teve começo no vasto pound do C.R.B. o match de foot-ball em que se bateram, disputando a taça Fernandes Lima, oft'ere-

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cida pela acreditada casa A Carioca, os teams do Regatas e do Ypiranga.

Uma verdadeira multidão se apinhava no campo da Pajussara, enquanto automóveis e bondes mais gente conduziam a assistir a peleja sportiva.

Um enthusiasmo delirante reinou até o término do jogo em que se verificou a magnífica victoria do Regatas pelo score de 4x0.

O habilíssimo photographo Guilherme Roga to ci­nematographou as partes mais animadas do jogo que esteve a altura dos creditos dos dois gremios sportivos que se bateram com galhardia e enthusiasmo. ( ... )"

Meses depois o resultado do trabalho chegava às telas do cinema Moderno. A coluna TELAS E PALCOS, de 17 de julho de 1921, registrava:

"As Festas do Dia 12 - Assistimos ontem apÓs a última sessão do Moderno, a projeção de mais um film de Rogato-Film, trabalho magnífico do habilís­simo artista Guilherme Rogato. Vimos no ecran di­versos aspectos da festa do dia 12 de junho eoleni­sando a posse do exmo. dr. Fernandes Lima no gover­no do Estado.

Trata-se de um trabalho caprichosamente execu­tado, o qual deverá ser exhibido por estes dias com sucesso garantido. Porque effectivamente, vale a pes­soa assistir o bello fil.m.

Assistiram ontem a projeção desse interessante ftlm o exmo. dr. Fernandes Lima e família, deputa­dos, poüticos em destaque e representantes da im­prensa, saindo todos agradavelmente impressiona­dos." .

Guilherme Rogato marcava presença com seu proftcuo traba­lho. Com o futebol, Rogato marcava o seu terceiro tento cinema­tográfico.

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UM AlME ÁLBUM DE ALAGOAS

Rogato assinalava pontos cada vez mais em suas atividades por trás das câmaras. Ora atuando como fotógrafo em seu atelier, ora como cinegrafista.

Corria o ano de 1925 e foi exibida na tela do cinema Floriano um filme amazonense realizado pelo cinegrafista Silvino Santos, "No Paú das Amazonas". Os jornais alagoanos cometeram dois eqwvocos no registro. Deram o titulo de ''Terra das Amazonas" e a autoria do mesmo a J. G. Aralijo. Mas, segundo o livro "História do Cinema Brasileiro", organizado por Fernão Ramos, edição do Circulo do Livro, no módulo 2, intitulado "Os Ciclos Regionais de Minas Gerais, Norte e Nordeste", por Ana Lúcia Lobato, tem ele­mentos que esclarecem o engano da imprensa alagoana. O empre­sárioJ. G. Araújo era um próspero homem do comércio e dos negócios e produziu e distribuiu filmes que Silvino Santos realizou sob contra· to. Talvez, o filme aqui chegou com papéis timbrados em nome do empresário e assim foram enviados notas aos jornais.

O filme amazonense inflou de entusiasmo as páginas da im­prensa ~agoana que já houvera, anteriormente, alardeado na colu­na NOTAS E FATOS, do Jornal de Alagoas de 10 de julho de 1925, sobre a fascinante influência do cinema.

Quando partiu em fevereiro de 1919 com destino ao Rio de Janeiro, Rogato e seu companheiro de profissão, o argentino Spá, pretendiam voltar para executar um álbum de fotografias do Estado. Seria um álburo-documento. O filme amazonense era um docu­mento, não do Estado do Amazonas, em termos oficiais. Era uma visão em caráter particular e privado, pois era uma panorâmica do império muito bem sucedido do senhor J . G. Arat\jo, com suas fábricas, cabeças de gado, barcos, seringais, escritórios, conforme cita o "História do Cinema Brasileiro".

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O articulista de NOTAS E F A TOS fazia loas as poder do cinema como elemento de propaganda eficiente a exercer seu poder sobre os meios sociais. O autor da nota dizia que "oe norte ameri­canoe, industrioeos por execel6ncia, praticam com evidente e reconhecido proveito, através do univerao, a propa&aDda cinematograifica doe aeus costumes sociais, poUticoe e comer· ciais." E no bojo do artigo inflamado de entusiasmo, sentenciava que o cinema "é hoje o melhor meio de propaa&Dda." E mais, num arremate, dizia que "o reclame vence em toda parte, até no cemitério."

Todo este furor em tomo da defesa de um filme documento de Alagoas visava sensibilizar os homens públicos do Estado, eati­mulando-os a vender uma bela imagem de Alagoas. O articulista dava a idéia e até mesmo quem poderia e~ecutá-la. O ·brilhante foto-artista Guilherme Rogato.

"É bem verdade que este foto-artista será auxi­liado na sua empresa pela imponência dos nos808 acidentes naturais. Alagoas tem cenários insinu81).­tes. As nossas praias do aterro de Jaraguá e Pejuçara nada ficam devendo às lindas praias de Copacabana e Icaraí.

O sr. Rogato além de nossas praias encontrará belíssimas lagoas, aspeetos curioeoe à margem do S6o Francisco; desenvolvimento industrial e agrícola do Estado, enfim nada lhe faltará para um verdadeiro sucesso.

E os n08808 coestaduanos terão de ver brevemen­te a Terra Alagoana desfilando encantadoramente pelas telas dos cinemas elegantes."

Com tamanha força e pelo trabalho até então bem desenvolvido, Rogato conseguiu a aprovação da idéia e na data de 25 de agosto de 192Q. a mesma ~oluna registrava que "o experimentado e cons­ciente profissional tinha recebido o aval do Governo do Esta­do, que compreendeu a importância da feitura de uma peli­cula capaz de revelar à perfeição como natureza e proereseo."

Rogato mais uma vez dirigiu-se à Ponte de Desembarque de Jaraguá, embarcando mais uma vez com destino ao Rio de Janeiro. Navegava em bü.sca do material indispensável para o seu arrojado empreendimento. Seu desejo era percorrer os 36 municípios alagoa­nos "para flagar-lhes todas as atividades e 08 aspectos melho­res."

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No dia 7 de setembro está de volta, pronto para montar um moderno atelier de cinematografia. Tudo propicia para o infcio das filmagens do documentário que, segundo nota do Jornal de Alagoas, num arroubo comparativo, deveria se chamar à semelhança do filme amazonen,e, Ulferra du A.Jaaoaa."

Esta nota, publicada em 11 de dezembro de 1925, Jornal de Alagoas, NOTAS E FATOS, elogia seus filmes anterio~ exibidos em Maceió, que foram muito apreciados, não obstante a deficiência de seu primitivo aparelho. Mais adiante, prossegue a nota: "(. .. ) Este grande filme, colhido e pronto em todos 08 esmeros de· detalhes, será paasado não 86 nos nossos munic1pios, como nos demais Estados da Federação e no Distrito Federal. Reco­mendamos por isso Guilherme Roeato aos senhores indus· triais e apicultores mais adiantados, principalmente os &&­

nhores prefeitos, tão disposto ele vai contribuir para essa obra de propaganda intuitiva das nossas riquezas."

Na véspera do Natal do mesmo ano saiu a última nota daquele ,período, na página 3 do Jornal de Alagoas, sob o título, ROGA-· TO-FILM.

O fotógrafo Guilhenne Rogato continua traba­lhando com atividade na Rogato--Film, que é uma fita destinada à propaganda do Estado de Alagoas.

O artista italiano tem w:olhido magnificos tre­chos de n08808 interiores, especialmente dos n08808 rios e cachoeiras. A oportunidade é das melhores para os industriais alagoanos, que por meio da Rogato­Film. poderão fazer excelentes propagandas de suas fábricas e seus produtos."

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UMA PAUSA PAAA O FAEVO

Com a chegada do ano de 1926 Rogato aproveitou um momento de pausa nas filmagens do documentário sobre o Estado de Alagoas e voltou ao ponto de partida da cinematografia alagoana. Estava com um equipamento moderno, muito diferente do então deficiente aparelho primitivo de seus primeiros filmes. De máquina nova e moderno atelier foto-cinematográfico, resolveu assim focar mais uma vez, os animados festejos do carnaval maceioense. E outra vez era noticia o labor artistico-cultural de Rogato. Na edição de 16 de abril a coluna TELAS E PALCOS, do Jornal de AJaaoaa, e~pou:

"Rogato-Fllm - O Carnaval AJaaoano em 1928

Maceió assistirá brevemente as encenações em n08808 principais cinemas de um filme atnalfssimo da Rogato-Film.

Trata-se, como já anunciamos, de um filme noeeo, ultimamente apanhado, flagrantemente por uma vi­são analítica e acurada de Guilherme Rogato e intitu­lado, O CARNAVAL ALAGOANO, em 1926.

Nessa película focalizar-se-ão os sublimes e inte­ressantes aspectos da nossa capital, nos seus nnnimos detalhes, naqueles três dias de sedução coletiva em que ninguém se pertence porque se corporifique no dominio absoluto da liberdade.

Toda a cidade, a estas horas, anseia para ver, animadas na tela, as fisionomias que realizaram. a graça, o esplendor, a beleza, naquelas 72 horas satani­camente divinas.

O Carnaval alagoano em 1926 focaliza tudo -em nuances artísticas e harmoniosas. Os clubes rea-

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,

parecerão com a elegância e o aprumo rítmico, a ga­lhardia, a mocidade que viveram os seus magnifi­cientes salões, no relâmpago tranqüilo das suas luzes em profusão, no apurado gosto de seus detalhes, nos seus meio-tons velados das cortinas, em todas essas pequeninas cousas que são a alma por assim dizer, das grandes reuniões sociais.

A Rogato-Film dar-nos-à todo esse movimento no seu futuro, em que Maceió ressurge na esplan­dência vitoriosa do Carnaval que passou. Aguarde­mos!."

No sábado, 17 ·~e abril, foi estampado no anúncio do Theatro Cinema Floriano Empresa Silva & Cia., na página 6: "Reaparece o audacioso vaqueiro Jack Ho:xie em "Vingando o Passado", um belo romance de aventuras da Universal. No mesmo pro­grama, o belo filme O CARNAVAL DE MACEIÓ de 1926, produção da Rogato-Film, em um esplêndido trabalho que merece ser visto por todos os alagoanos."

Este mesmo anúncio repetiu-se em outros dias, modificando apenas o filme estrangeiro que o de Rogato acompanhava.

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ALAGOAS'TAKES - AOS TAANCOS E BARRANCOS

~ase um ano depois da última nota publicada ~os jornais alagoanos sobre o documentário que chegou a ser batizado pela imprensa de "Terra das Alagoas", eis que na data de 20 de outubro de 1926 saiu uma longa nota de teor crítico. publicada no Jornal de Alagoas, dissertando sobre as dificuldades de se concluir o filme propaganda estadual. _

Rogato esbarrava na emperrada e enferrujada engre~.gem do serviço público. A sua sorte foi que mais uma vez as .pa~s da imprensa lhe acenaram o merecido apoio. E este veiO rmpr~sso na página 3, sob o titulo "A Nota", ~~nada por Joe. ~ col~sta defendia a concretização do documetárío de caráter ofictal. Ets al­guns trechos:

"Guilherme Rogato, o artista-fotógrafo, estacou em meio do projeto da fita cinematográfica ~ Ala­goas, que já teve um bom começo de .execuçao J>S:ra desinteresse dos que deveriam incenti~á-lo. Essa m­diferença explica-se com o incremento que tem ~lcan­çado no país a indústria singular da exploraçao do povo, bastando um pretexto ocasional qual~uer para a tentativa de convertê-lo numa fonte de mteresses rendosos. ( ... ) .

O caso, porém, de Guilherme Rogato é m~1to outro. Não tem sido necessariamente compreendido. É ·honesto e afeta os interesses da coletividade algoa­na.

A fita que ele propõe a fazer será a melhor ~ro~­ganda para se mostrarem lá fora, do modo m818 tm­pressivo, o desenvolvimento, os processos, os traba-

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lhos das indústrias, as belezas materiais e todas as coisas que oferecem capacidade para um aproveita­mento útil, interessando o emigrante e o capitalista, trazendo para o Estado o coeficiente do esforço ou do valor produtivos; numa esperança de progresso e riqueza. ( ... )

Auxiliando-se a iniciativa de Rogato, ter-se-á­prestado um serviço a nossa terra, recebendó-se em troca o orgulho que alevanta a alma, a vaidade q_ue estimula e a glória do que temos feito, do que somos e do muito que ainda poderemos ser".

Finalmente, em julho de 1927, no dia 7, aconteceu o ~ançamento do tão esperado documentário alagoano. Seu título ficou um pouco diferente do anterior, que antes quiseram batizar. Chamou-se, en­fim, de "Um Pouco de Alagoas".

O jornal maceioense Gazeta de Notícias, na mesma data, acima, publicou esta nota na coluna PALCOS E CINEMAS:

FLORIANO - Rogato-Film apresentará hoje uma fita que deverá interessar a todos os alagoanos, pois nela estão os mais pitorescos aspectos do nosso Estado e do adiantamento de nossa indústria pelas suas fá­bricas, tudo isso fazendo de "Um Pouco de Ala­goas" uma produção que merece a assistência de nosso público."

No outro dia, 8 de julho, o mesmo órgão de imprensa noticiou na mesma coluna:

"FLORIANO- Con.Stituiu-se um verdadeiro sucesso a exibição ontem neste cine-teatro da exibição do fil­me da Rogato-Film, "UM POUCO DE ALAGOAS". Hoje na primeira sessão, acompànhando de um núme­ro excelente do Fox Jornal, repete-se este belo pro­grama".

Enquanto isso, num jornal do município alagoano de Penedo, intitulado "O Luctador", do dia 16 de julho de 1927, o seguinte registro, na Crônica Social:

"UM POUCO DE ALAGOAS - Já está sendo focado nas telas dos cinemas da capital o filme ''Um

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Pouco de Ala , de grande metragem, apanhado pelo compete • .: fotógrafo Rogato.

O novo filme apresenta belos aspectos de Maceió, da Cachoeira de Paulo Monso e da maioria doe muni­dpioe do Estado, inclusive Penedo.

Brevemente o apreciado filme será exibido no cinema Ideal desta cidade."

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O SONHO CONTINUA

O fascínio do cinema, o sonho de se tornar um astro ou uma I

estrela da tela sempre orbitou na cabeça de muita gente. A ilusão de se tomar uma figura radiante do retângulo luminoso batia tam­bém pelos lados da praieira Maceió, que, até então, sem nenhum filme de ficção realizado amadoristicamente, de repente, viu-se se­duzida por um irresistível canto de sereia.

Ser ator ou atriz dentro dos nossos limites, naqueles idos, deve­ria mexer bastante com os sentimentõs de vaidade dos nossos jovens nativos, enfatiotados em seus trajes europeus em nosso clima tropi· cal. Crepitaram todas as fogueiras das vaidades quando foi publi­cada ~o REGISTO SOCIAL, do Jornal de Alagoas, de 10 de novembro de 1926, o seguinte texto:

"Já se sabe toda a gente no Brasil, que deseJa a Fox Film possuir no seu elenco de artistas cinemato­gráficos um ator ou atriz brasileiros. Para isso está divulgando o necessário concurso com suas condições gerais: - plástica, graça e inteligência, em tipos foto­gênicos.

E o que vem a ser um tipo fotogênico, afinal? O indivíduo a que nós costumamos dizer que se

presta para poses. Por que uma cara bonita nem sempre fica bem,

enquanto que outras, feias, não raro, tomam expres­sões de franca simpatia.

Mas a história volta a tona, a propósito de urna comédia ou coisa parecida que Rogato quer filmar em Maceió.

Já tem ele quem lhe escreva o libreto, facil-mente. Não lhe será dificil conseguir cinco ou seis

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rapazes e os aspectos, os cenários em que o enredo deve discorrer.

A "encrenca", a interrogação indecifrável em que a porca torce o rabo, está justamente na necessidade de uma ou duas moças capazes de desempenharem papéis de relativa importância.

E aí está nada mais nada menos uma tentação. De mim, eu acho, até, que essa oportunidade singular que se apresenta entre nós, pode chegar a influir em beneficio de alguma provável candidata conter­rânea ao concurso da Fox.

Portanto, aí fica o aviso e o convite: Quem quer ser atriz de cinema? O primeiro entendimento, discreto e honesto, é

ali na Rua do Comércio, com o Rogato, de borda e capello em fotografia e .outras ciências e artes correlatas.

Depois, talvez, seja a chance para o triunfo defini­tivo na vida."

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A PASSAGEM DE EDSON CHAGAS

Era forte o sentimento de um dia ser realizado um filÍne de ficção alagoano, com personagens nossos, envolvidos no decantado cenário de belezas naturais de Alagoas. Rogato, o nosso bravo pioneiro, já tinha a idéia, mas a preparação para o primeiro filme de ficção começou a tomar corpo com a presença do famoso cinegrafista e ourives, Edson Chagas. Sua chegada foi devidamente registrada no tópico Viajantes, da coluna REGISTO SOCIAL, do Jornal de Alagoas, de 21 de novembro de 1930.

Chagas foi um importante cinegrafista do famoso Ciclo de Reci­fe, movimento cinematográfico que, dentre outros filmes, dois deles foram trazidos pelo próprio integrante, quando de sua passagem por Maceió: "A Filha do Advogado", de Jota &ares e ''No Cená­rio da Vida", de Soares e Luiz Maranhão.

A presença deste pernambucano agitou os círculos culturais de Maceió. O entusiasmo foi tanto que no dia 28 de novembro de 1930 o Jornal de Alagoas publicou na coluna NOTAS E FATOS um comentário assinado por um misterioso M., sob o título, "Um Filme Alagoano":

"Vários elementos de destaque em nossos meios sociais estão empenhados em auxiliar os intnitoe do cinematografista Edson Chagas, ora nesta c:apital, no sentido de fazer um filme alagoano.

A idéia é louvável. Um camaraman inteligente poderá facilmente apanhar uns certos aspectos curio­sos de nossa terra, costumes e paisagens, fazendo do celulóide um meio de programa de nossas belezas naturais (que nós as temos, algumas) e os interes­santes usos do nosso povo.

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As nossas praias com os seus braços alvos e lon­gos para o mar, as nossas lagoas, os nossos hábitos provincianos - tudo envolvido em rápida reporta­gem, meio disfarçada por uma história da vida, dará um filme que irá impressionar, talvez, os amadores de cinema do Brasil.

Pena é que nos faltem recursos. Toda a espécie de recursos. É preciso que muita força de vontade e persistência vençam essa escassez de recursos pró­pria da terra pequena. Além de vencer outros obstá­culos, talvez maiores até."

Alguns dias depois o mesmo Jornal de Alagoas através de suas páginas voltava a noticiar, no dia 3 de dezembro, com a chama­da, CINEMA EM ALAGOAS. E o sub-titulo: "Será Realizado Dentro em Breve o Primeiro Filme Alagoano."

"A notícia de que vai se produzir entre nós o nosso primeiro filme tem andado de boca em boca nas rodas mais chies e distintas.

A lista de adesão à idéia tem sido distingüida ultimamente com nomes significativos em nossos meios literários, comerciais e artísticos. (. .. )"

O texto relata, também, que havia um grande número de candi­datos a figurantes, assim como o entusiasmo de muitas pessoas que colocaram suas residências e apoio material à disposição dos produtores. Para realizar o filme que seria uma espécie de "repor· tagem curiosa de nossa terra, animada por um interessante romance de vida de cidade pequena", Chagas contaria com o apoio de diversos intelectuais de brio da cidade, dentre eles, Gui­lhenne Rogato. A nota encerra pedindo as presenças de comer­ciantes, intelectuais, banqueiros, jornalistas, representantes de clu­bes, etc.

Dias depois foi publicado um anúncio da Alagoas Film, em tom de edital, convocando rapazes e senhoritas a comparecerem ao atelier de Rogato, na rua do Comércio, munidos de fotografia. par& participarem de tão esperado primeiro filme de ficção.

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DE UMA BRAVATA AO BRAVO DO NORDESTE

O entusiasmo era tamanho que articulistas extrapolavam a realidade nacional do fazer cinematográfico e desencavam bordoa­das no cinema brasileiro de então. Curiosamente, estas bordoadas continuam, ainda hoje. No dia 28 de dezembro de 1930, na primeira página do Jornal de Alagoas, um furioso comentário de Flanco Mayo, intitulado "Cinema Alagoano'\ descia a ripa em severas críticas à cinematografia brasileira, que segundo o autor, "tem sido mal aventurada". O senhor Mayo afirmou que 110S filmes brasileiros hoje produzidos pecam por todos os princípios em que se assenta a técnica cinematográfica. "O autor lastima que de onde era de se esperar uma realização de cinema mais ou menos perfeita, no caso no sul do país, se tem observado um verdadeiro fracasso na filmagem de pelicula com artistas nossos. Em outra passagem do texto vergasta sua ira contra "o tal do instinto de imitação cega de nossa gente da vida estrangeira é uma verdadeira miséria para o país."

Flanco Mayo se arremessa contra os realizadores da época, chamando-os de "fazendores de fita", pois, segundo ele, arrumam máquinas, alguns metros de película virgem, alguns rapàzes e mo­ças para desperdício total.

Mas, num tom de exacerbado ufanismo regional diz que em Alagoas levanta-se um brado de revolta contra esse espfrito de imitação de nossa gente. E mais, afirma peremptoricamente que o ftlme alagoano não vai ser dirigido, fotografado, cenarizado, etc., por uma única pessoa, que é ao mesmo tempo camaraman, diretor, cenarista, às vezes até artista e vezes outra o galã.

O articulista meteu as mãos pelos pés, num total desconhe­cimento do assunto em pauta, quando colocou quatro intelectuais alagoanos da época como homens de cinema, embora nunca houve

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nada nas vidas dos mesmos com o fazer cinematográfico. O escor­regão maior é este:

(. .. ) Os senhores Maciel Filho, Alberto Passos Guimarães, Valdemar Cavalcante e Aloisio Branco são os nomes capazes para todos os títulos de espírito e por estarem integrados no intrincado metier do cine­ma moderno, de encaminhar esse empreendimento para uma finalidade de sucesso indubitável. (. .. ) Cre­mos, francamente, que pela primeira vez iremos ver uma fita brasileira de verdadeiro cinema."

Com a ajuda da imprensa local, com notas comedidas e algumas hipérboles, Chagas realizou antes do tão sonhado longa-metragem dois pequenos curtas. O primeiro foi exibido no dia 11 de janeiro de 1931, no cine Capitólio. Filmou na tarde do dia l! de janeiro daquele ano a saída dos espectadores do extinto cinema. Em feve­reiro exibiu o Alagoas Jornal N~2 Estes filminhos serviram de preâmbulo para o grande sonho alagoano. Nesta época ele travou amizade com Ernani Rocha Passos e em longas e animadas conver­sas no Bar do Copertino, mais tarde o extinto Ponte Central, planeja­ram o filme "Um Bravo do Nordeste." Segundo depoimento de Erna­ni Rocha Passos ao Museu da Imagem e do Som de Alagoas (MISA/ FUNTED) a história foi escrita por ele e Chagas. Nenhum intelec­tual alagoano participou da elaboração do argumento, contrariando assim o artigo xenófobo e ufanista de Flanco Mayo. O filme, contra­riando as notas da imprensa alagoana, não captou imagens de nos­sas praias ou lagoas. Chagas e equipe foram para o município de União dos Palmares e a trama envolvia uma história de amor e roubo de gado, num clima de "nordestwestern". "O Bravo do Nor­deste" foi lançado em maio e, contrariando o artigo ufanista que arrasava o cinema

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b~asileiro por sempre ter um faz tudo, eis que Edson Chagas foi também um faz tudo. Ele foi: cinegrafista, diretor, argumentista e pi-odutor. No elenco, as presenças de Emani Passos, Nice Ayres, Francisco Rocha, Elizabeth Montenegro. O filme foi exibido no dia 8 de maio no Capitólio e depois em outros cinemas de Maceió e, também, em alguns municípios alagoanos. Rogato não participou da equipe de filmagem e este filme sumiu, como tantos outros do passado.

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O FilME DE AOGATO E A IMPRENSA ALAGOANA

Edson Chagas partiu levando co~go seus trabalhos que sumi­ram nos desvãos do tempo. Guilhenne Rogato, que aqui já estava estabelecido, e com uma intensa atividade profissional e artística já comprovada, continuou persistindo no seu sonho de imagens. Uniu-se a figuras expressivas da sociedade alagoana, como o empre­sário Moacyr Miranda, que foi fundador do cinema Delícia, defronte ao prédio dos Correios e Telégrafos, na rua João Pessoa, Centro de Maceió e também do cine Lux, no bairro de Ponta Grossa, ambos extintos. Ao grande animador cultural dos natais e outros festejos populares, o radiante Major BonifÁcio. E. também, ao escritor Carlos Paurílio, que redigiu as legendas que fazem o acompanha­mento do desenrolar do filme.

Com o argumento e o roteiro prontos, o atuo:;CI fotó~o ítalo-a· lagoano filmou então "Casamento é Negócio". tendo como co-di.re­tor Etelvino Lima. O que a imprensa alagoana sempre ·deseJOU em' tantas matérias surgiu nas telas dos velhos cinemas de Maceió que sumiram ou trocaram de nome, como o Floriano, hoje São Luiz. Luziram nos retângulos das telas as imagens de nossa gente e de nossas paisagens naturais. O esplendor da Lagoa Mundaú e as ruas provincianas de Maceió. Tão provincianas que em um mo­mento do filme, em uma das primeiras seqüências, rodada na Praça Deodoro, em pleno Centro, enquanto as personagens interpretadas pór Armando Montenegro e Angelo Fragoso armam a trapaça da trama do roteiro, por trás dos dois distintos amadores estão um galo e uma galinha ciscando. A praça central era a própria extensão do quintal das casas. Curiosamente, ao fundo, o bonde, sinônimo de progresso, faz seu infalível e recalcitrante trajeto.

Quando o filme chegou às telas os jornais alagoanos foram, naturalmente, bastante receptivos. Além das naturais chamadas

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publicitárias, foram publicadas uma variedade de notas, comen­tários e até uma entrevista. Houve, de fato, farta divulgação que prestigiou o feito, estimulando o público a apoiar a iniciativa audaz de Rogato e sua equipe. Inclusive, com termos em francês. Uma nota do Jornal de Alagoas, de 6 de abril de 1933:

CASAMENTO É NEGÓCIO? EXIBIÇÃO DO FILME ALAGOANO

AMANHÁ NO CAPITÓLIO

O nosso público terá oportunidade de assistir, amanhã, em "premiere"no Cine Capítolio, a exibi­ção da película produzida pela Gaudio Film, "Casa­mento é Negócio?" - resultado de um esforço elo­giável do foto-artista Guilherme Rogato e de um pu­nhado de "Jeune homme á la mode'' de nossa socie­dade.

No dia anterior o mesmo Jornal de Alagoas, na página 7, na coluna TELAS E PALCOS registrou este comentário por sinal o primeiro sobre o filme. ' '

CASAMENTO É NEGóCIO? A exibição em sessão especial da película da Gau­

dio Film. Em sessão especial reservada para a imprensa,

foi focada ante-ontem, no Cine Capitólio, às 15 112 horas, a nova e interessante película da Gaudio Film, dirigida pelo competente cinematografista Guilher­me Rogato.

A impressão deixada por este filme, trabalhando com amadores conhecidos no nosso meio e em cenários lpcais é lisonjeira para a vitoriosa fábrica alagoana, cuja produção representa o resultado de um grande esforço, digno de incentivo.

"Casamento é Negócio?" merece ser visto pelo nosso público que muito terá o que apreciar.

A sua exibição terá lugar sexta-feira próxima no Cine Capitólio.

Entretanto, sobre esta pré-estréia, um outro periódico, o Diário de Maceió, Wl! órgão de imprensa do Partido Nacional em Alagoas,

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na mesma data de 05 de abril de 1933, na página 4, na coluna Crônica da Cidade, apresentou o seguinte texto:

CINEMATOGRÁFICAS

Casamento é Negócio?

Sua exibição para a Imprensa no Cinema Capitólio.

Assistimos, ante-ontem, a convite do Sr. Rogato a exibição no cinema Capitólico da película Casa­mento é Negócio?, da Gaudio Film.

A Ímpressão que tivemos da focalização do celu­lóide alagoano foi de muito otimismo.

A nossa observação rigorosa de jornalista não escapou, porém, a alguma carência de uma melhor técnica para a maior perfeição de direção e filmagem, o que não desmerece de modo algum o valor da pelf· éula em apreço, desde que a sua realização representa para o Cinema Alagoano um atestado de esforço e de competência, não só por parte do artista Rogato, como pelos demais elementos indispensáveis à sua confecção.

Entretanto, a beleza dos nossos recantos, os pano­ramas deslumbrantes, os aspectos naturais e soberbos e mais portentosos quadros da natureza e o enredo escolhido para a interpretação encobrem a deficiência a que aludimos, proporcionando aos espectadores a visão mágica do cenário das terras por onde correm as águas das nossas lagoas.

Os personagens do filme portaram-se de maneira apreciável, motivo porque merecem os francos aplau­sos do nosso público a quem deixamos a tarefa de maiores elogios.

"Casamento é Negócio?" é, portánto, uma mag­nífica estréia do Cinema Alagoano.

Nenhum alagoano deverá deixar de assistir a este filme.

No dia da estréia oficial de "Casamento é Negócio?" a data de 7 de abril de 1933, o Jornal de Alagoas, na coluna PALCOS E TELAS, a seguinte nota:

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CASAMENTO É NEGÓCIO? A primeira produção da Gaudio-Film, hoje, no

Capitólio. O elegante cassino da rua dr. Rocha Cavalcante,

apresenta, hoje, o filme alagoano - "Casamento é Negócio?", produção da Gaudio-Film.

Película toda ambientada em cenografia alagoa­na, "Casamento é Negócio?" merece ser vista pelo nosso público.

Essa iniciativa do foto-artista Guilherme Roga­to, dada a escassez de recursos sensíveis em nosso meio no que se refere a cinematografia, constitue uma vitória bem significativa para a nossa população.

Os protagonistas de "Casamento é Negocio?" são os nossos apreciáveis conterrâneos: Moacir Miranda, Luiz Girard, Agnelo Fragoso, Armando Montenegro, Morena Mendonça e o popularizado Major Bonifácio da Silveira.

O Capitólio terá hoje, decerto, uma boa casa.

Nos anúncios publicitários que exortavam o público a compa­recer ao cinema Capitólio, nas duas sessões noturnas, além do elen· co, frases como:

"Novela sobre assu.nto local e de palpitante atualidade." Ou ainda: "Aspectos de Maceió e lindos panoramas das lagoas do Norte e Manguaba e seus pitorescos canais.''

E, evidentemente, um apelo ao sentimento nativista: "Deve. mos valorizar o que é nosso, como um estímulo ao nosso progresso."

Dentre as matérias publicadas na imprensa alagoana, o Diário de Maceió não considerou as experiências filmicas feitas anterior­mente, ~sp~ialmente a "Um Bravo do Nordeste", de Edson Chagas. O joma, refere-se mais de uma vez a "Casamento é Negócio?" como o primeiro filme alagoano. E dentro desta ótica apresentou este comentário, datado de 8 de abril de 1933, destacando aspectos positi­vos do filme, inclusive, os cenários naturais.

CINEMATÓGRAFICAS

O primeiro filme alagoano ainda está na tela do Capitólio.

Parece ter sido geral por parte dos "fans" de Ma­ceió a aceitação de "Casamento é Negócio?", o primei­ro filme alagoano realizado pela Gaudio Film.

Trazendo para o celulóide trabalhado com tanto cuidado pelo fotógrafo artista Roga to as belezas natu­rais de Alagoas. O nosso film fixou no conceito popu­lar que é a afirmativa de que é fácil fazer-se cinema em Alagoas, com os nossos elementos maiS significa­tivos, com as nossas paisagens, com as cousas tipica­mente nossas.

A Lagoa Manguaba muitas vezes apanhada de relance pela câmara de Rogato mostrou que não só os canais de Veneza nem os lagos escandinavos os componentes geográficos da beleza e da harmonia visuais do cinema.

O assunto dessa produção inicial da Gaudio Film parece também ter agradado bastante pelo entremea­do interessante de um delicioso caso de amor com o caso oportuníssimo de nosso petróleo e nossas jazi­das tão decantadas.

Os astros do filme- Louis Girad, Moacyr Miran­da, Morena Mendonça, Josefa Cruz, Bonifácio Silvei­ra, Armando Montenegro, Agnelo Fragoso - são to­das figuras integrantes em nosso meio, conhecidas e portanto agradáveis de ver, nesse trabalho de inter­pretação arttstica.

"Casamento é Negócio?" merece ser visto por to­dos os alagoanos por ser a produção cinemeira mais tipicamente de nossa terra, realizado para os n08806 olhos e para a nossa sensibilidade.

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ENTREVISTANDO UM GALÃ

O encantamento diante do filme "Casamento é Negócio?'' bem que poderia ser medido com as diversas matérias publicadas nos jornais alagoanos. No entanto, o maior grau de medição deste entu­siástico encantamento veio através do Diário de Maceió. 'A terceira página do referido órgão de imprensa se transformou numa página de uma especializada revista de cinema. Talvez, naqueles idos, cir­culasse em Maceió exemplares da extinta revista Cinearte, que durante longo tempo esteve sob a direção do cineasta e jornalista Adhemar Gonzaga, um respeitável nome da cinematografia brasi-leira.

Tal e qual uma publicação peculiar aos assuntos cinemato-gráficos que atraem a curiosidade das pessoas, o Diário de Maceió entrevistou em 6 de abril de 1933, na página 3, um dos atores do filme, Louis Girard. O nome veio em francês, embora q_ue nos anúncios publicitários estivesse grafado, Luiz. O certo é que nAo foi uma mera e comum entrevista. O jovem ator amador foi alçado à condição de astro . Um galã franco-alagoano. Uma espécie de Ramon Navarro ou Valentino da taba caeté.

"Entrevista com o astro do primeiro tilm alagoano" O que revela ao Diário de Maceió o galã de "Casa·

mento é Negócio?" - Um amigo de Maurice Che­valier.

A empresa Gaudio Film que vai amanhA apre­sentar ao público de Maceió a sua primeira produçlo encontrou para o intérprete principal de "Casamento é Negócio?" um rapaz que consorcia qualidades artl&­ticas de fotogenia e gosto pelo cinema e qualidades

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individuais de finura de trato e educação esmerada: Louis Girard.

Filho de franceses, o jovem astro de Alagoas tem deste modo, uma herança de bom gosto e galanteria' nata do espírito gaulês. Mesmo porque, cousas d~ ~a~~s ~e cl~e média assumem, em relação, para Cl v 1hzaçoes am11 em infância, como a nossa, um cará­ter de quase co 1pleta aristocracia. . A empre~ cinematográfica de Alagoas não pode­

na ter escolhido para galã do seu drama de amor um mais puro representante da elegância francesa em nosso meio.

Ora, o "Diário de Maceiósempre atento aos seus compromissos de grande informador do público ala-· goano, procurou ter com Louis Girard alguns minu­tos, para satisfazer o apetite de notícias do nosso povo.

CHEVAUER & GffiARD

O jovem astro alagoano, que chegou, faz um ano de Paris, onde muitos anos residiu, contou-nos alguns episódios interessantes de sua estadia na terra de seus pais.

-Estava nesta época em sucesso extraordinário o nome de Maurice Chevalier. Esse delicioso "chan­~~er'' era a gripe da França. As suas canções, Irradiadas do Cassino de Paris, eram repetidas por todas as bocas e assoviadas por todos os recantos. Os trejeitos de Chevalier, a careta de Chevalier com aquele beiço inferior avançado demais era nesse tem­po o figurino mais em moda. E ele fazia a consagração de uma navalha, de um creme, de um alfaiate com a assinatura paga a peso de ouro para propaganda de jornais.

E foi no Cassino de Paris onde travei conheci­mento com esse maravilhoso herói popular da Ftança, que Hollwood roubou para seu industrialismo do celu­lóide artístico.

- E Chevalier? Girard continuou:

- Não sei de ninguém mais camarada. Nem de pessoa mais amável para conversar de cabaré. As

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pilhérias que se assistem nos seus fllmes estão de minuto a minuto em suas palestras, com aquele mes­mo virar de olhos tão finalmente malicioso.

Conheci nessa época também Josefine Baker, no Folies Bergeres, uma mulata que faz.ia sucesso mais pelo exótico de sua epiderme tostada demais, do que por capacidade propriamente artística. E estive pes­soalmente com a famosa Mistinguete, no Moulin Rou­ge, essa mulher cujas pernas tiveram força para fir­mar conceito no mundo inteiro.

PREDILEÇÕES ARTíSTICAS

Perguntamos a Louis Girard pelos seus as­tros prediletos.

- Jeannete Mac Donald é o meu "beguin". Sua voz, seu talento de interpretação me inquietam sem­pre. De astros torço por Chevalier e Menjou, talvez por um certo instinto nacionalista.

Admiro também Ramon Na varro, que teve, para mim, sua mais bela exposição de talento interpre­tativo em "Pagão".

E "Casamento é Negócio?", pergunta o re­pórter: " - Pode ficar certo de que o primeiro filme realizado pelo artista Roga to é um verdadeiro milagre de trabalho enérgico e sem desfalecimentos. Pode-se calcular mais ou menos o que é lutar contra a indife­rença de tO.dos e a inevitável má vontade da cidade pequena. A realização do filme alagoano representa, para os que conheceram de perto a soma de sacrificio dos seus responsáveis, uma expressiva vitória. Vitó­ria de Alagoas e de alagoanos. A Gaudio recolheu gente dedicada para o seu trabalho inicial e por isso conseguiu um filme que não significa de maneira nenhuma, o máximo de nossas possibilidades em in­dústria cinemeira, mas o mais decisivo esforço pelo brilho artístico do cinema em Alagoas."

Com as últimas gotas de um coquetel encerramos a palestra com o astro alagoano.

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A TAAMA DO FilME

"CASAMENTO É NEGÓCIO?" corre por conta de uma frase dita pelo personagem interpretado pelo Ml\jor Bonifácio Silveira à sua mulher, D. Josefa Cruz, tentando justificar a desilusão amo­rosa do filho do casal, Moacyr Miranda, o qual, desiludido, parte em busca de novos rumos para a sua vida.

Quando, após os letreiros, o filme inicia, as primeiras imagens são as pernas de Morena Mendonça, nervosa, andando de um lado para outro de uma calçada do Centro de Maceió, como se esperando alguém ou algum transporte. Este chega através de Louis Girard, um dândi, bem recostado no bãnco traseiro de um automóvel sem capota e com motorista particular. Galanteador, convida a jovem para entrar no automóvel, no qual a levará até a sua residência, defronte a Praça Sinimbu. Por sinal, a casa da personagem de Morena Mendonça era a do poeta Jorge de Lima. Girarei aproveita o mf)mento e marca um encontro na velha Ponte do Trapiche da Barra, para um passeio de barco pelas águas das lagoas Mundaú e Manguaba. A resposta de Morena é curiosa:

"( ... )Tenho que sair escondida da mamãe ... " Logo em seguida surge o personagem de Moacyr Miranda indo

até a' casa de Morena, que o atende com um certo desdém. Meio zangado ele disse que não gostou da atitude da moça. Depois, ele vai ao encontro de seus pais dar a notícia do descobrimento de petróleo ~m Riacho Doce. O velho pai diz que o filho acredita em bobagens que ele ouve desde os seus tempos de menino.

Na Praça Deodoro, aparece Agnelo Fragoso na pele de um tipo pobretão que é abordado por Armando Montenegro. Este propõe 1\juda a Fragoso em troca de um serviço.

Depois vemos Girard esperando Morena para o passeio lacustre e são mostrados alguns flagrantes da paisagens lagunar. O persona­gem de Girard diz para encantar a bonita Morena Mendonça:

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"- Você vai ver agora um dos ma:ts belos presentes que a natureza nos deu, a nós, alagoanos. A la~oa. M~ngu?~a! Com suas águas tranqüilas e piscosas, os seus coqueirais poebcos, as suas canoas sonolentas ... "

Extasiada diante da natureza a moça comenta: "Que lindo! As casinhas parecem debruçadas na água e os co-. d " queiros ampara o-as... . . Esta é uma das mais longas següências do filme e,, defiruttva

para as personagens de Girard e Morena. Diante da visão paradi­síaca da paisagem, ele a pede em casamento.

A lagoa, cujas belezas foram tão decantadas pela imprensa alagoana e pelo filme de Rogato, surgiu, depois, em mais dois filmes brasileiros, como belo cenário. Primeiramente em Joana France­sa"(1972) em uma das mais belas seqüências do filme de Carlos · Diegues, o passeio dos personagens Lianinho (Hélber Rangel) e Joana (Jeanne Moreau). Ele é o filho herdeiro do senhor de engenho e leva Joana a passear pela lagoa e seus canais. Em uma das praias ele conta a bonita lenda da Flor da Baronesa. Tempos depois, em 1982, Adnor Pitanga dirigiu Arlindo Barreto e Tânia Moraes num barzinho da Massagueira no terceiro episódio de "Mulheres Libe­radas", diante da opulência da Manguaba.

O filme de Rogato prossegue com Moacyr entusiasmado pelo petróleo, mas numa conversa nos jardins da casa de Morena, ela esclarece o que quer da vida, duramente:

"-Você é pobre, Moacyr. Não pode me dar um automóvel, um ''bangalow". Eu quero é gozar a vida. Só me casarei com um homem que possa me satisfazer todos os meus desejos."

Apesar da dureza da situação, o rapaz ainda tem esperanças de que dias melhores virão com o jorrar do petróleo. O jornal anuncia que vai jorrar petróleo na torre de Riacho Doce. Moacyr vai assistir ao jorro e para lá se dirige a dupla Fragoso e Montenegro. Este desce do automóvel e entrega um artefato de explosivos além de uma soma em dinheiro, na estrada quase deserta. Um garoto que brincava pelas redondezas, fica atrás dQ..carro e ouve a conversa que fala em dinamitar a torre na hora do jorro de petróleo. O menino corre e no caminho encontra o mocinho Moacyr Miranda, contan­do-lhe o fato. Os dois retornam ao local, perto da ponte de Garça Torta, e Moacyr flagra Fragoso com um rastilho já aceso. Ele põe o malandro para correr e consegue apagar a chama. Vem outro carro e com ele a notícia: "- Moacyr, o petróleo está jorrando."

De imediato ele retoma a Maceió, à casa de Morena, e presencia, da calçada, o romance entre Morena e Girard. Desolado, retoma a casa dos pais e resolve partir da cidade.

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UM ESCLARECIMENTO AO PÚBLICO

Logo após os letreiros iniciais, breves, que anunciam, titulo do filme, elenco, e reduzida equipe técnica, surge na tela um outro letreiro que talvez não tenha acontecido em nenhum outro filme já realizado. . , .

Inusitado o novo letreiro não traz agradecimentos as pessoas que por razoo's diversas tenham colaborado para a realização do filme. Por exemplo, o caso do poeta Jorge de Lima, que cedeu sua residência, na é}X)ca, diante da Praça Sinirnbu.

Estampado na tela o letreiro, curiosamente, pede a comp__reen­são do espectador para possíveis falhas, e faz uma profissao de fé na incrementação da cinematografia brasileira.

Numa sessão especial, onde fizeram parte Almir Guilhermino, Celso Brandão, ambos cineastas, e Milton Pradines, representando o Inst.ituto Arn~m de Mello, o cineasta Carlos Diegues fi~ou s~re~ e encantado d~ante desta atitude singela de nosso p10ne1ro. Eis o texto:

O pensamento de que Alagoas também podia con­correr para a evolução da cinematografia nacional, é que encetamos este modesto trabalho, esperando que o distinto público saberá medir o nosso esforço dentro de nossas possibilidades.

Tecnicamente, deve haver falhas a que não po­díamos fugir, mas fizemos tudo o que estava em nos­sas forças e talvez tenhamos realizado alguma cousa.

Nossos intérpretes, todos amadores, apesar de sentirem pela primeira vez dentro de uma câmara, não desmereceram os seus papéis, conduzindo-se com desenvoltura e naturabilidade. Estamos portanto sa­tifeitos com o nosso trabalho e confiados que os inte-

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ressados pelo cinema brasileiro não nos negarão o 8eu apoio material e moral, nesse empreendimento de incrementar a cinematografia no Brasil.

Se em filmes de profissionais de Hollywood, a terra do cinema, produções regadas a grandes orçamentos acontecem falhas, imagine um filme amador feito nwna pequena província dos anos 30. Há defeitos de enquadramentos em alguma~:~ cenas, nas quais persona­gens aparecem cortados, enquanto sobra espaço do outro lado. Mas, a nota de esclarecimento é wn ato de sinceridade e coragem em admitir as falhas. Todavia, a realização do filme fm uma modesta, porém importante, contribuição alagoana para a afirmaçã~ da ~ine­matografia brasileira. E ainda antes de iniciar o filme em s1, ROga to demonstrou mais uma vez seu lado de homem simples, agradecendo aos espectadores que foram ver seu filme com este período:

GAUDIO-FILM apresentando a sua produção · inaugural, agradece a gentileza de todos os que a prestigiam, nesse momento, com a sua presença.

Hoje quem deve agradecer, prestigiando-o, "in memoriam", é a Cultura Alagoana.

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O OCASO DO FOTÓGAAFO

Quando Guilherme Roga to encerrou sua missão terrena, fazen­do, finalmente a última jornada, não houve notícia nos jornais. A mesma Maceió que o recebera com registro e nota de boas vindas havia mudado muito. Ele próprio sucumbira aos desgastantes pro­blemas da existência e viu corroer com o passar dos tempos a sua vitalidade, que aos poucos foi sumindo.

A cidade e o comércio cresceram e outros setores moderniza­ram-se e as novas gerações de jornalistas talvez até desconhecessem os relevantes serviços por ele prestado à sociedade maceioense. Desconheciam totalmente a relevância de seu trabalho e ao apreço que durante muito tempo conseguiu granjear junto a esta mesma cidade. A data de sua morte, 9 de setembro de 1966, não obteve uma pequena nota. Morreu anônimo como tantos morrem e os jor­nais alagoanos não fazem registros obituários.

Mas, como todo aquele que no labor de sua jornada deitou sementes no seu caminhar, Rogato colheu, mesmo após o esqueci­mento e a morte, duas crônicas que o hom~nagearam com toda

.. !.\ força do merecimento. Como uma sábia ironia, as mesmas páginas do velho Jornal de Alagoas acolheram a crônica de Paulo de Castro Silveira, na terça-feira, 13 de setembro de 1966-ROGA TO, O PIONEIRO. No domingo, 18 de setembro, foi publicada a de Heliônia Ceres, em sua coluna, A SEMANA QUE EU VI. Seguindo a ordem cronológica natural, eis as crônicas.

"ROGA TO! O PIONEIRO"

"A nossa geração conheceu o italiano ainda jo­vem. Era o artista por excelência. Fotografava seus retratos e passava horas e horas retocando a chapa, embelezando a obra. Um Pigmalião apaixonado que·

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rendo introduzir um sopro de vida em pedaços de vidros como se fossem partículas da estátua de Gala­téia, como se ainda vivéssemos no tempo de Vênus. ( ... )

Elegante no vestir, usava um clássico colete de traspasso, bengala, polainas e o chapéu de palhinha de abas largas como se fosse um Maurice Chevalier.

Ninguém como ele sabia tratar com as crianças. Para fotografá-las com perfeição, usava bonecos, pás­saros e flores artificiais barulhentas. E aí começava a batalha para que o retrato saísse bom. Inimigo dos "instantâneos" só depois de muito rogado ia tirar uma fotografia de um casamento. Na verdade prefe­ria que os noivos fossem para o seu estúdio. Então, armava cenários que davam um fundo artístico admi­rável.

Se era primeira comunhão, o comungante surgia diante de um Nazareno bondoso, de olhos meigos, cercado de um ninho com a hóstia entre os dedos· polegar e indicador. Era uma beleza de fotografia.

Foi um dos pioneiroJ do cinema nordestino. E o seu filme CASAMENTO É NEGóCIO?-composto por Moacyr Miranda (galã), Luiz Girard, Armando Montenegro, Morena Mendonça e Agnelo Fragoso­ainda está aí para mostrar o talento do fotógrafo. Usando uma tese em defesa do petróleo brasileiro nos idos de 1932 e tendo como autor das legendas (filme silencioso) o poeta e contista Carlos Paurílio, o italiano assumiu o risco de uma incompreensão.

:t Assim foi a vida de Guilherme Rogato que desa­parecéu sem brilho neste setembro de 1966.

Certa vez quando concluía o filme CASAMENTO É, NEGÓCIO? houve uma cena na Praça Sinimbu, em frente a casa do médico e poeta Jorge de Lima.

Moacyr Miranda, heróico galã do drama do petró­leo vinha correndo avisar a bem amada (no filme) que o ouro negro jorrava do solo alagoano. E~contra, todavia, a moça beijando o vilão.

Rogato, Diretor Cinematografista, Laboratoris­ta, Roteirista e Cenarista, grita para o galã:

- Moacire ... fazere uma cara triste ... Tua noiva te traindo, Moacire ...

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A cena foi repetida. Com beijos e tudo. E a distân­cia a "maloqueiragem" não sabendo ao certo o que estava se passando, gritava:

- Sem vergonha ... (. .. ) ( ... ) Abrimos o nosso álbum de retratos. E senti­

mos a presença do pioneiro, do grande artista Gui­lherme Rogato, que não é mais dos nossos, porém nem por isto deve ficar esquecido, por ser agora um fotógrafo do Céu."

O cronista errou num ponto. Não há cena de beijo em todo o filme. Naquela época nenhuma jovem arriscaria tal gesto na pro­víncia caeté.

O texto da escritora Heliônia Ceres, quando cronista da Gazeta de Alagoas:

A SEMANA QUE EU VI

SEGUNDA-FEIRA: ''Ele era um dos mais importan­tes fotógrafos da cidade. Lembro-me que em ocasiões excepcionais íamos a Rogato levados por nosso pai fixar em fotografia a data especial. Nessa époça er& próspero e tinha a prerrogativa de ser pai de Ada Rogato, uma aviadora de valor no quadro da aviação brasileira. Depois os fatos se sucederam e quando voltei a prestar-lhe atenção notei-o velho e empobre­cido, sentado sempre num bane~ ou caixão à entrada do seu estúdio, aguardando talvez os -~ientes que não ., inham. De começo me reconhecia. Depois nem isso. ~ hoje eu soube que morreu e que na igreja de São Benedito sozinho aguardava o próprio funeral , entregue a Deus, sem amigos, sem carinho, sem amor, como um grande solitário que afinal descansou."

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O ÚLTIMO fOCO

Rogato, assim como vários pioneiros do Cinema Brasileiro, dei­xou as atividades cinematográficas açoitaào pelas necessidades da sobr~vivência. Além das dificultosas questões do mercado exibidor.

Partiu para outras atividades e ingressou no ramo da indústria . Implantou uma cervejaria e tentou uma fábrica de macarrão. Ár­duas e penosas tentativas na trajetória de um pequeno empresário. Mas, sempre retornava para o mundo das imagens de seu estúdio de fotografias, lá na Rua do Comércio, 422.

Diante de suas lentes muitos alagoanos deixaram gravadas poses para a posteridade. Lembranças em fotos que ornamentam paredes ou que estão guardadas em antigos e grossos álbuns de fotografias, com suas simpáticas, tradicionais e colantes cantonei­ras.

Guilherme Rogato deve figurar no mesmo panteão artístico que abriga uma plêiade de alagoanos célebres que deram suas valio­sas contribuições para desprovincianizar a tacanhez da sociedade maceioense.

Rogato arregimentou seu amor pela arte, seu espírito aventu reiro e ~ua fibra moral para trazer o mundo das imagens em movi­men~ para dinamizar Alagoas. . Pelejou o quanto pode para finc~:r com firmeza o tripé de suas

câmeras, mergulhando de cabeça, corpo e alma para dentro de um pano preto para mirar e disparar a explosão do magnésio. Labutou bastante para chamejar o brilho de suas luzes, ajustando o foco de suas coruscantes lentes, até concretizar o sonho cintilante e sua obra radiosa- "Casamento é Negócio?"

Foi através do empenho de seu gesto pioneiro que Alagoas também emprestou sua cintilante contribuição à cinematografia nacional. Pelos embates de Guilherme Roga to, Alagoas viu, depois, algumas tímidas experiências em filmes de 16 milímetros, até che-

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gar a grande aventura amadorística do Super 8 que tantos experi­mentaram. Alguns deles: Adelvan Henrique, Joaquim Silva, Celso Brandão, Mário Jorge Feijó, Joaquim Alves, José Maria Tenório Rocha, Benvau Fon, Otávalo Viveiros, Kleiner Gomes, José Márcio Passos, Carlos Hora, José Geraldo Marques, Luciano Agreli, Bene­dito Ramos e tantos. Todos por causa de Rogato.

Por causa de Rogato, Alagoas assistiu, também, às tentativas de José Wanderley Lopes e a sua empresa de cinema, a Caeté Filmes do Brasil. Através dela diversos cinejomais de a.ssuntos polfticos e culturais alagoanos foram exibidos nos cinemas do Esta­do. José Wanderley Lopes, de máquina em punho, apanhando fla­grantes alagoanos, foi uma volta ao tempo de Rogato. A Caeté sonhou e concretizou a produção de dois filmes de longa-metragem, lançando-os no mercado exibidor. "A Volta Pela Estrada da Vio­lência", direção de Aécio de Andrade, 1971; "Mulheres Libera· das", três episódios dirigidos por Adnor Pitanga, também alagoano, em 1982.

As imagens de Rogato desaguam na obra caudalosa de Celso Brandão, possuidor da maior produção audio-visual do Estado. Celso Brandão, em cinema, vídeo e fotografia, capta imagens do povo e da cultura de Alagoas, com força, vigor, talento e beleza extraordi­nariamente hannônicos.

Até mesmo não alagoanos, como os irmãos nordestinos de Per­nambuco e da Paraíba, os professores universitários Almir Guilher­m.ino e Pedro Nunes já realizaram trabalhos com imagens em movi­mento aqui em Alagoas.

Almir rodou "Tena's Take", com Regina Dourado. A história da moça Caetana que desejou trocar a vida besta de uma cidadezinha do interior em busca do sonho~ imagens do cinema e da televisão. Este curta-metragem em 35 mm., que participou do Festival de Cinema de Cuba, 1988, tem como um de seus pontos altos a fotogra­fia de Benvau Fon. Recentemente Almir Guilhermino realizou um vídeo sobre a obra do poeta Jorge de Lima, "0 Acendedor de Lampiões", com o ator alagoano, Chico de Assis.

Pedro Nunes, com a experiência paraibana do Super 8, fez, juntamente com o alagoa.no Cláqdio Manoel, o vídeo "Pa8$os, Es· paços, Corpo e Linguagem". É uma produção de 1989, de forte beleza plástica, sobre a arte do bailarino Edu Passos, um guerreiro ébano da dança moderna.

A luta e o que ficou do empenho deste ítalo-alagoano não foram em vão. Os caminhos do cinema nos chegaram com seus passos. Todos aprenderam a lição com seus gestos e o seu destemor. Tode>é -

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sabem que a sua luta foi 4_ura, como ainda hoje é duro e dificil fazer cinema no Brasil. Mas, ainda assim, o cinema é um sonho sem fim.

Guilherme Rogato é um nome importante da Cultura Alagoa­na. Foi um bravo pioneiro da cinematografia no Brasil.

E aqui fica o registro.

1993- Ano da comemoração dos anos 60 de "Caaamento é Negócio?", uma obra alagoana do pioneiro Guilherme Rogato. Este é o único filme que restou da fase primitiva em Alagoas.

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DOCUMENTAÇÃO fOTOGAÁACA

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Fof na antiga Ponte de Desembarque, em Jaraguá, em 1918, que Rogato aportou pela primeira vez em Maceió. (Foto: MISA)

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Rogato, em pose clássica e elegante

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Guilherme Rogato noticiado pelo Jornal de Alagoas de 2 de feve­reiro de 1919

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O foto-artista argentino Ramon Spá, na coluna Registo Social do Jornal de Alagoas, em 12 de janeiro de 1919

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Rogato numa pose romântica

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Guilherme Rogato - pioneiro do cinema alagoano

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Uma reprodução da página do Diário de Maceió com a entrevista de Luis Girard.

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Agnelo Fragoso e Annando Montenegro e ao fundo um galo, na· !>raça Deódoro, no centro de Maceió

,.. ·.Agnelo.Fragoso, o vagabundo de "Casamento é

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O. Josefa Cruz e Moacyr Miranda

Luis Girard e Morena Mendonça no primeiro encontro, o da carona

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A partida de Moacyr Miranda, sob a tristeza de D. Josefa Cruz e do Major Bonifácio Silveira, na seqüência final

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O jantar de D. Josefa Cruz e o Major Bonifácio Silveira

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D. Josefa Cruz e Morena Mendonça- as duas mulheres do filme

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Moacyr Miranda esperando o jorro da torre de petróleo de Riacho Doce

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Luis Girard e Morena Mendonça na seqüência romântica na lagoa Manguaba

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Plano de conjunto que focaliza a casa do poeta Jorge de Lima, na Praça Sinimbu, uma das locaçóes do filme

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A casa do poeta Jorge de serviu de residência para o persona­gem de Morena Mendonça e o carro do poeta usado no filme por Luis Girard.

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Ao Exmo. Sr. Presidente do Conselho Estadual de Cultura.

APRECIAÇÃO E PARECER

Para apreciar oferecendo parecer, é encaminhado à Câmara de Artes, o livro "ROGATO - A AVENTURA DO SONHO DAS IMAGENS EM ALAGOAS", de autoria do Professor Elinaldo Bar­ros Soares.·

Quem conhece o professor Elinaldo Barros Soares, não é porque, simplesmente, foi ou é seu aluno, nos colégios ou nas faculdades do Centro Educacional de Maceió (CESMACJ, ou como colega de trabalho na Secretaria de Cultura e Esportes do Estado de Alagoas. Seguramente, trata-se de alguém que, preocupa-se em conhecer a cultura cinematográfica nacional e internacional em suas mais va­riadas formas e ckl maneira mais profunda e séria qual a da pesquisa que, soergue ao conhecimento, as realidades indagadas para a luz ckl ciência.

Memória cultural é uma das coisas de que muito carece este nosso Brasil. Alagoas. engastada na realidade nacional, L•em através destu ubru, truzer à LEMBRANÇA E PERPETUAR NOS ESCRI­TOS, a trajetória de um "ítalo-alagoano" que df!dicou toda a sua existência útil ao torrão que adotou como seu na realização pioneira da 7~ Arte w1ui .

._, "O objetivo da arte é a expressão". Isto foi muito bem realizado por Rogato. Tomou da essência da expressão que é a imaginação e prucuruu dur (urma utilizundu, rw seu tempo, us meius de que a tecnologia dispunha para a mais perfeita realização ao seu alcance. Foi esmerado e consciente profissional. Dedicação total ao Estado de Alugou:. de:;de u :;uu juventude ate o esquecunentu nu velhice, perspassanâo pelas mais ovacionadas realizações na A VENTURA DO SONHO DAS IMAGENS. O ápice da perfeição fotográfica estava ali: du preparuçáo das emulções quimicus uu estétiw umbiente du "studio". Seguro do seu saber, não era egocêntrico, passando aos seus auxiliares Fiel Amorim, Cajueiro, Juca e Pedro Farias os conhe­l:imenlos que us tornurum exímios fotógru(os.

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A força maior do escrito do Professor Elin.aldo Barros Soares é voltada para a realização cinematográfica CASAlrfENTO É NE­GóCIO?, ubra do pioneiro Guilherme Rogatu. Únicu filme que nos resta CÚl fase primeira do cinem.a alagoano. - Substancial pesquisa jornalística, não anunciada, porém, realizada. - documento reen­uiudu uu uttiuerso cultural em forma de liuro puru u cunhecimento e aprofuneúlmento dos que se dedicam ao estudo da nossa cultura artística. É uma tentativa de preservação da nossa identidade histó­ricu mtsle segnumto das artes.

É um livro que, no dizer de Júlio de Albuquerque, cod4quisa um momento, postergando a imagem viva no sonho da aventura.

Pela sua expressão, Pela sua essência, Pelu suu (urma, Somos pela publicação

Em Maceió, 10 de maio de 1993

Bendito José CÚl Fônseca

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Edição: SECULTE Capa: PAULO CALDAS

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Pela Se<'rPtarra de Cultura participou (/p cnml~-~liPs nrJ[tlfll zadora.~ dP Puentos 1 arratlos cn mv, Festual de Fotugrafla, ~alou de Humor. Festwal de Marechal Deodoro e Sem ma rim; dP LitPra · tura. Juntamente com o tnlt>lt•( • tual e médiCo. Jsmar Malta Gatta e. sua mulher. Mana Flora cil' Melo Soores. produzzrom n pm grama DIFUS ÃO CULT U­RAL, pela Radw EduC'alH•a Ft.f Escreveu os liurns " PANORA· MA DO CINEMA ALAGOA­NO", editado pelo DAC em J!J8.1 e " CINE LUX-RECO RDA­ÇÕES DE UM CINEMA OE BAIRRO", editad() pela St•r•rt• taria de Cultura, em 1987, amhos premiados pela Academia Ala goona de Letras.

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"A história da cinematografia em Alagoas é a própria hzstória de Guilherme Rogato e sua t•ida neste Estado".

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José Maria Tenório Rocha