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O ADOLESCENTE E A SOCIEDADE: INTERANDO O JOVEM À SOCIEDADE POR MEIO DA LEITURA E PRODUÇÃO DE CRÔNICAS

Gilza Belasque de Pádua1

Marilúcia dos Santos Domingos Striquer2

RESUMO

Este artigo apresenta os resultados de implementação de um projeto de intervenção pedagógica, de mesmo nome, projeto que justificou-se pela situação alarmante da dificuldade dos alunos a respeito da leitura e da produção textual. Na maioria dos casos, os alunos não apresentam dificuldades em se expressar na oralidade, através da linguagem coloquial, os problemas aparecem quando surgem as necessidades de produzirem textos escritos, principalmente coerentes com suas próprias ideias e experiências. Elegi para o trabalho e ensino da língua portuguesa com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, a crônica social pelo fato de ser um gênero textual que envolve situações concretas de uso da língua, trabalhando com fatos que se relacionam com interesse dos alunos, fato do dia a dia, de acontecimentos que eles vivem em suas comunidades, considerando-se que a escola é um autêntico lugar de comunicação e que nela acontece ocasião de produção e recepção de texto. Busquei contribuir para o desenvolvimento das capacidades de linguagem dos alunos na leitura e na escrita do gênero textual crônica social. A metodologia utilizada foi a Sequência Didática.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Produção textual. Gênero crônica.

1 Professora da SEED. Professora PDE, turma 2012-2013.

2 Professora orientadora. Professora da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), campus

Jacarezinho.

1 INTRODUÇÃO

É consenso a situação alarmante a respeito da leitura e da produção textual

no Brasil, a qual é revelada em muitos estudos acadêmicos e de ordem social. Da

mesma forma, é muito comum a queixa de educadores sobre as dificuldades de

letramento apresentadas pela grande maioria dos alunos. Problema que também foi

analisado por Schneuwly e Dolz (apud ROJO e CORDEIRO, 2004, p. 10) que

afirmam que “as práticas escolares tendem a formar leitores com apenas

capacidades mais básicas de leitura, ligadas à extração simples de informação de

textos relativamente simples”, um dos fatores que promovem os problemas citados.

Situação que também em minha própria experiência de 18 anos, como

professora da Educação Básica tenho observado que meus alunos enfrentam

inúmeras dificuldades quando vão produzir textos. Na maioria dos casos, eles não

apresentam dificuldades em se expressar na oralidade, através da linguagem

coloquial, os problemas aparecem quando surgem as necessidades de produzirem

textos escritos. Durante anos tentei fazer com que eles gostassem de escrever, que

compreendessem a necessidade, porém sempre encontrava barreiras, sendo que a

maior delas é principalmente promover que os alunos produzam textos coerentes

com suas próprias ideias e experiências.

Em busca de contribuir para a melhoria do quadro atual e de desenvolvimento

efetivo de meus alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, elegi uma prática social

como eixo condutor de um Projeto de Intervenção Pedagógica que teve como

objetivo mais amplo levar o aluno a compreender e produzir textos escritos, os quais

se fazem a partir de um querer dizer e se estruturam no entrelaçamento de

elementos como a unidade temática, os componentes estruturais, as intenções

comunicativas, os interlocutores, a situação comunicativa, dentre outros. Além disso,

a pretensão era também que o aluno entendesse que “[...] a escrita apresenta

elementos significativos próprios, ausentes na fala, tais como o tamanho tipo de

letras, cores e formatos, elementos pictóricos, que operam como gestos, mímica e

prosódia graficamente representados” (MARCUSCHI, 2005, p. 17). Ou seja, a escrita

não é algo tão distante da vida do aluno, do que ele cotidianamente faz com a

oralidade.

Mais especificamente, elegi um dos gêneros que emergem da prática social

de linguagem de documentar e/ou memorizar ações humanas, de discuti-las sobre

um olhar subjetivo, específico de seu produtor, o gênero textual: crônica social.

Justifico a delimitação diante do fato da crônica ser um gênero textual que envolve

situações concretas de uso da língua, trabalhando com fatos que se relacionam com

o interesse do aluno do 9º ano, fatos do dia a dia deles, de acontecimentos que eles

vivem em suas comunidades. Assim, considerando-se a escola um “autêntico lugar

de comunicação” e que nela acontecem “ocasiões de produção e recepção de

textos” (Schneuwly e Dolz, 2004, p. 78), a crônica representa uma estratégia

importante por se destinar à estar relacionada com acontecimentos diários da vida

do aluno.

O projeto “O Adolescente e a Sociedade: Interando o Jovem à Sociedade por

meio da Leitura e Produção de Crônicas”, foi implementado em uma turma do 9º ano

do Colégio Estadual João Marques da Silveira – EFM, no período de 20 de fevereiro

a 12 de julho, do ano letivo de 2013.

O objetivo deste projeto foi contribuir para o desenvolvimento das

capacidades de linguagem dos alunos na leitura-escrita do gênero textual crônica

social e os mais específicos, tendo em vista a concepção de linguagem como

discurso que se efetiva nas diferentes práticas sociais, no processo de ensino-

aprendizagem da crônica social, busquei que os alunos pudessem: empregar a

língua oral em diferentes situações de uso, saber adequá-las a cada contexto e

interlocutor, reconhecer as intenções implícitas nos discursos do cotidiano e

propiciar a possibilidade de um posicionamento diante deles; desenvolver o uso da

língua escrita em situações discursivas por meio de práticas sociais que considerem

os interlocutores, seus objetivos, o assunto tratado, além do contexto de produção;

analisar os textos produzidos, lidos e/ou ouvidos, possibilitando que o aluno amplie

seus conhecimentos linguístico-discursivos; aprofundar, por meio da leitura de textos

(crônicas jornalísticas), a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade

estética, permitindo a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita; aprimorar

os conhecimentos linguísticos, de maneira a propiciar acesso às ferramentas de

expressão e compreensão de processos discursivos, proporcionando ao aluno

condições para adequar a linguagem aos diferentes contextos sociais, aprimorando-

se, também, da norma padrão; passar aos alunos pela prática da leitura e escrita

como identificar os elementos estruturais e literários de uma crônica jornalística.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Diretriz Curricular Estadual de Língua Portuguesa (DCE) (PARANÁ, 2008),

assume uma concepção de linguagem que não se fecha “na sua condição de

sistema de formas (...), mas abre-se para sua condição de atividade e

acontecimento social, portanto estratificada pelos valores ideológicos”

(RODRIGUES, 2005, p. 156). Dessa forma, a linguagem é vista como fenômeno

social, pois nasce da necessidade de interação (política, social, econômica) entre os

homens. Tendo esses preceitos e tantos outros originários das reflexões do Círculo

de Bakhtin, o documento defende o posto por Bakhtin/Volochinov (1999):

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua (p. 123).

Portanto, ensinar a língua materna requer que se considerem muito mais do

que os aspectos linguísticos de um texto, mas os aspectos sociais e históricos em

que o sujeito está inserido, bem como o contexto de produção do enunciado, uma

vez que os significados de um texto são sociais e historicamente construídos, pois

toda palavra significa na relação com o outro, em seu contexto de produção:

Toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige a alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. [...] A palavra é território comum do locutor e do interlocutor (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p. 113).

Sob essa perspectiva, o ensino da Língua Portuguesa deve visar o

aprimoramento dos conhecimentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que

eles possam compreender os discursos que os cercam e terem condições de

interagir com esses discursos. Para isso, é relevante que a língua seja percebida

como uma arena em que diversas vozes sociais se defrontam, manifestando

diferentes opiniões. A esse respeito, Bakhtin/Volochinov (1999, p.66) defendem que:

“(...) cada palavra se apresenta como uma arena em miniatura onde se entrecruzam

e lutam os valores sociais de orientação contraditória. A palavra revela-se, no

momento de sua expressão, como produto de relação viva das forças sociais”. E

mais, ensinar a língua portuguesa implica:

[...] saber avaliar as relações entre as atividades de falar, de ler e de escrever, todas elas práticas discursivas, todas elas usos da língua, nenhuma delas secundária em relação a qualquer outra, e cada uma delas particularmente configurada em cada espaço em que seja posta como objeto de reflexão [...] (NEVES, 2003. P. 89).

O professor de Língua Portuguesa precisa, então, propiciar ao educando a

prática, a discussão, a leitura de textos das diferentes esferas sociais (jornalística,

literária, publicitária, digital, etc.), o que garantirá o envolvimento do aluno com

diferentes e diversas práticas discursivas, alterando “seu estado ou condição em

aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo

econômicos” (SOARES, 1998, p. 18). Práticas discursivas, ou práticas sociais de

linguagem, compreendidas pela DCE como “toda atividade humana exercida como

na linguagem” (PARANÁ, 2008, p. 47), as quais se materializam em forma de

gêneros, por isso os gêneros devem ser tomados como objeto de ensino.

De acordo com Bunzen (2006), muitas das práticas discursivas presentes nos

diversos gêneros fazem parte do cotidiano dos educandos e podem, então, ser

legitimadas na escola. Isso colaboraria com a não fragmentação entre a língua e a

vida do aluno, uma vez que na escola ele não leria e produziria apenas textos

escolares didatizados, mas teria contato com textos presentes nos diversos espaços

de socialização que frequenta.

Nessa perspectiva não faz mais sentido que a escola ensine tipos textuais,

definidos por Marcuschi (2009) como sendo sequências definidas pela natureza

linguística de sua composição: narração, descrição, dissertação. O que deve ser

ensinado são os gêneros textuais, pois eles são representantes das práticas sociais

de linguagem presentes concretamente no nosso dia-a-dia, visto que apresentam

características sócio-comunicativas. Exemplos: conversa telefônica, sermão,

romance, bilhete, horóscopo, resenha, bula de remédio entre outros. Conceito que

se origina no pensamento de Bakhtin (1997), quem defende que é impossível se

comunicar verbalmente a não ser por um texto que é formado tanto de

características estruturais (como ele é feito) como de condições sociais (como ele

funciona na sociedade).

Assim, segundo Marcuschi (2009) os gêneros textuais são fenômenos

históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social das pessoas, são

entidades sociodiscursivas e formas de ação social em qualquer situação

comunicativa. Caracterizam-se como eventos comunicativos, altamente maleáveis,

dinâmicos e plásticos, os quais, após a invenção da escrita alfabética, por volta do

século VII A.C., multiplicam-se, mas expandiram-se ainda mais e principalmente com

o surgimento da cultura impressa, e atualmente com o aparecimento da cultura

eletrônica, particularmente do computador (internet) uma nova explosão de novos

gêneros e formas de comunicação, tanto na oralidade como na escrita

transformaram gêneros existentes e novos muitos outros foram criados.

Os gêneros textuais caracterizam-se muito mais por suas funções

comunicativas, cognitivas e institucionais, do que suas peculiaridades linguísticas e

estruturais, e por assim ser, de acordo com Bakhtin (1997), os gêneros são tipos

relativamente estáveis de enunciados elaborados pelas mais diversas esferas de

atividade humana. Assim, quando dominamos um gênero textual, não dominamos

uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos

específicos em situações sociais particulares. Pois, como afirmou Bronckart (1999,

p. 103), “a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização,

de inserção prática nas atividades comunicativas humanas,” o que permite dizer que

os gêneros textuais operam, em certos contextos, como formas de legitimação

discursiva, já que se situam numa relação sócio-histórica com fontes de produção

que lhes dão sustentação muito além da justificativa individual.

Brait (2000, p. 20) recorda que “não se pode falar de gêneros sem pensar na

esfera de atividades em que eles se constituem e atuam, aí implicadas as condições

de produção, de circulação e recepção”. Há diferentes esferas de comunicação, e

cada uma delas produz os gêneros necessários a suas atividades, tendo-se, por

exemplo: os gêneros da esfera jornalística (notícia, reportagem, editorial,

classificados...); da esfera televisiva (novela, telejornal, entrevistas...), da esfera

cotidiana (listas de supermercado, receitas, recados...), da esfera digital (e-mail,

bate-papo virtual, lista de discussão...), e assim por diante.

Alguns gêneros são adaptados, transformados, renovados, multiplicados ou

até mesmo criados a partir da necessidade que o homem tem de se comunicar com

o outro, tendo em vista que “todos os diversos campos da atividade humana estão

ligados ao uso da linguagem” (BAKHTIN, 1992, p. 261). Um exemplo dessa

necessidade é o surgimento dos gêneros do discurso eletrônico (e-mail; chat; lista

de discussão; videoconferência interativa; fórum de discussão; blog), que são

criados e transformados pela cultura tecnológica na qual estamos inseridos.

Os gêneros variam assim como a língua – a qual é viva, e não estanque. As

manifestações comunicativas mediante a língua não acontecem com elementos

linguísticos isolados, elas se dão, conforme Bakhtin, como discurso.

Portanto, os gêneros discursivos “são formas comunicativas que não são

adquiridas em manuais, mas sim nos processos interativos” (MACHADO, 2005, p.

157). Nessa concepção, antes de constituir um conceito, é uma prática social e deve

orientar a ação pedagógica com a língua. Compreender essa relação é fundamental

para que não se caia tão somente na sua normatização e, consequentemente, no

que Rojo (2004, p. 35) define como “pedagogia transmissiva das análises estruturais

e gramaticais”, que dissocia o texto de sua realidade social.

O trabalho com os gêneros, portanto, deverá levar em conta que a língua é

instrumento de poder e que o acesso ao poder, ou sua crítica, é legítimo e é direito

para todos os cidadãos. E, precisa pautar-se na elaboração de atividades planejadas

que possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão

e o uso da linguagem em diferentes situações, diversas práticas sociais. Desse

modo, sugere-se um trabalho pedagógico que priorize as práticas sociais. Para

tanto, Dolz, Noverraz e Scheneuwly (2004) elaboraram um conjunto de

procedimentos para o ensino dos gêneros, chamado de Sequência Didática.

3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Uma das possibilidades de ensinar leitura e produção de texto na perspectiva

dos gêneros textuais é através da sequência didática que é “um conjunto de

atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero

textual oral ou escrito” (SCHNEUWLY, NOVERRAZ e DOLZ, 2004, p. 97). Esse

conjunto de atividades, ligadas entre si, é planejado para ensinar um gênero textual

específico, etapa por etapa. Para Schneuwly, Noverraz e Dolz (2004, p. 97), “uma

sequência didática tem, precisamente, a finalidade de ajudar o aluno a dominar

melhor um gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira

mais adequada numa dada situação de comunicação”.

A grande vantagem desse tipo de trabalho é que leitura, escrita, oralidade e

aspectos gramaticais são trabalhados em conjunto, o que faz mais sentido para

quem aprende, pois:

Criar contextos de produção precisos, efetuar atividades ou exercícios múltiplos e variados: é isso que permitirá aos alunos apropriarem-se das noções, das técnicas e dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e escrita em situações de comunicação diversas. (SCHNEUWLY, NOVERRAZ e DOLZ, 2004, p. 96).

A estrutura de base de uma sequência didática, segundo os autores pode ser

representada pelo seguinte esquema:

1) Na apresentação da situação - é descrita de maneira detalhada a tarefa de

expressão oral ou escrita que os alunos deverão realizar.

2) O segundo passo é a elaboração de um texto inicial pelos alunos, um

modelo do gênero que se propõe trabalhar. É por meio dessa primeira produção que

o professor identifica os problemas apresentados pelos alunos, suas dificuldades,

para que os módulos possam ser preparados.

3) Os módulos são constituídos por várias atividades que oportunizam aos

alunos instrumentos necessários para o domínio do gênero em questão, pois os

problemas são explorados de maneira ordenada e aprofundada, o professor pode

planejar etapas do trabalho com os alunos, explorando diversos exemplos do gênero

antes da escrita final.

4) E finalmente, é na produção final que o aluno pode colocar em prática os

conhecimentos que adquiriu ao longo do processo, cabendo ao professor a tarefa de

medir os progressos alcançados. (SCHNEUWLY, NOVERRAZ e DOLZ, 2004, p. 98).

A finalidade da sequência didática é, portanto, ajudar o aluno a dominar

melhor um gênero, permitindo-lhe escrever ou falar de uma maneira mais adequada

numa determinada situação de comunicação.

Cada gênero de texto necessita um ensino adaptado, pois apresenta características distintas. “No entanto, os gêneros podem ser agrupados em função de um certo número de regularidades lingüísticas e de transferências possíveis”. (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004, p. 120).

Tais regularidades linguísticas, bem como discursivas e funcionais formaram

a base do que Dolz e Schneuwly (2004) chamam de conjunto de fenômenos que

permitem um agrupamento de gêneros. Nesse agrupamento os gêneros são

divididos levando-se em conta três critérios: o domínio social da comunicação (a

esfera social (BAKHTIN, 1997); a situação comunicativa) a que pertence um gênero;

a tipologia, ou seja, as seqüências tipológicas (BRONCKART, 1999) que

predominam em um gênero; as capacidades de linguagem envolvidas na produção e

compreensão do gênero.

Os agrupamentos ficaram assim divididos:

QUADRO 1: PROPOSTA PROVISÓRIA DE AGRUPAMENTO DE GÊNEROS Domínios sociais de comunicação

Aspectos tipológicos Capacidades de linguagem

dominantes.

Exemplos de gêneros orais

e escritos

Cultura literária ficcional Narrar

Mimeses da ação através da criação da intriga no domínio do

verossímil.

Conto maravilhoso Conto de fadas Fábula Lenda [...]

Documentação e memorização das ações humanas

Relatar Representação pelo discurso de

experiências vividas, situadas no tempo.

Relato de experiência vivida

Relato de viagem Diário íntimo Testemunho Anedota ou caso [...]

Discussão de problemas sociais controversos

Argumentar Sustentação, refutação e

negociação de tomadas de posição.

Textos de opinião Diálogo argumentativo Carta de leitor Carta de reclamação [...]

Transmissão e construção de saberes Texto expositivo (em livro

Expor Apresentação textual de diferentes

saberes.

didático) Exposição oral Seminário [...]

Instruções e prescrições Descrever ações

Regulação mútua de comportamentos.

Instrução de montagem Receita Regulamento [...]

(Fonte: DOLZ, SCHNEUWLY, 2004, p. 60-61)

Com base no agrupamento sugerido, o professor pode selecionar os gêneros

não por considerar a narração pré-requisito para o ensino da dissertação, como

ocorre em uma proposta de ensino tradicionalista, mas (e principalmente) pode

trabalhar com cada grupo em todas as séries, variando o grau de complexidade e

aprofundamento no estudo dos elementos constituintes dos gêneros. No entanto, é

importante relembrar que para o ensino de cada um desses gêneros de sequências

didáticas específicas devem ser elaboradas. E ainda é importante lembrar que os

gêneros fazem parte de nossa realidade linguística, cultural e social. A melhor

alternativa para trabalhar o ensino de gêneros textuais é envolver os alunos em

situações concretas de uso da língua, e uma das formas de se alcançar este

propósito é fazendo uso das sequências didáticas, pois é dessa maneira que se

pode viabilizar aos alunos o contato, o estudo e a apropriação dos gêneros.

Como minha proposta era o ensino de um gênero específico: a crônica social,

a qual, conforme o quadro de agrupamento é um gênero que pertence ao domínio

social da documentação e/ou memorização das ações humanas, sendo que a

tipologia que predomina é a do relatar, embora sequências descritivas e narrativas

também a constituíssem, e as capacidades de linguagem dominantes é a

representação pelo discurso na modalidade escrita de acontecimentos vividos por

uma sociedade, experienciados pela sociedade, abaixo, em seção específica,

apresento os conceitos teóricos a respeito deste gênero.

CRÔNICA

Do grego Cronikós, relativo ao tempo (chrónos) pelo latim chronica, o vocábulo ‘crônica’ designava, no início da era cristã, uma lista ou relação de acontecimentos ordenados segundo a marcha do tempo, isto é em seqüência cronológica (MOISÉS, 1978, p. 245 apud ROSSETTI e VARGAS, 2006, p. 8).

Portanto, era entendida como a narração cronológica histórica dos fatos e que

dizia respeito aos acontecimentos sem interpretação do cronista. Somente a partir

do século XIX, se constitui como um gênero específico.

A história brasileira começou com uma crônica “A carta de Pero Vaz de

Caminha ao Rei de Portugal” comunicando o descobrimento de uma nova terra,

registrando o circunstancial (SÁ, 1997 apud CEREJA e MAGALHÃES, 2005). Mas a

crônica moderna nasceu nos jornais, nas colunas e artigos opinativos, como um

gênero não ficcional, ou seja, que trata de assuntos do cotidiano, do que é fato

ocorrido na sociedade. Contudo, logo o cronista passou a acrescentar aos fatos sua

emoção, poesia e uma preocupação estética, fazendo surgir a crônica literária.

Alguns autores, como Cereja & Magalhães (2005), Rossetti & Vargas (2006),

concebem a crônica como um gênero híbrido, que oscila entre a literatura e o

jornalismo, devido imbricar uma visão pessoal, subjetiva do cronista que é retirada

de um noticiário de jornal, e por quase sempre explorar o humor, “às vezes, diz as

coisas mais sérias por meio de uma aparente conversa fiada; outras vezes,

despretensiosamente, faz poesia da coisa mais banal e insignificante” (CEREJA e

MAGALHÃES, 2005, p. 71).

Contudo, ao mesmo tempo, os próprios autores, Cereja e Magalhães (2005),

a distinguem, apresentando definição estanques de crônica literária e de crônica

jornalística, definindo a jornalística como “um dos mais antigos gêneros jornalísticos”

(p. 73), originária, no Brasil, há uns 150 anos, com o advento do Romantismo o

desenvolvimento da imprensa. Segundo os autores, ela era designada naquela

época de folhetim, e tratava de assuntos do dia, política, sociedade, cultura. Aos

poucos, foi se afastando da finalidade de apenas informar e comentar, tornando-se

mais poética.

Especificamente a crônica social ou jornalística é que é a que delimitei como

eixo de ensino e aprendizagem em minha intervenção pedagógica, a qual se

caracteriza por algumas especificidades:

- Se diferencia da notícia, pois não é feita por um jornalista e sim por um

escritor, mas toma por base as notícias do cotidiano;

- Seus personagens podem ser reais ou imaginários; mas se imaginários são

sempre embasados em pessoas reais;

- Não é mera transcrição da realidade, mas sim uma visão recriada da

realidade;

- Apresenta a predominância da atitude discursiva do relatar, conforme tabela

de agrupamento de Dolz e Schneuwly (2004), atitude que, de acordo com Baltar

(2004) promove que o ator verbal relate ao seu interlocutor, fatos ocorridos num

espaço de tempo e num lugar específicos, geralmente acontecimentos relacionados

ao tempo presente, contemporâneo à produção do texto; e que cria o efeito de

sentido de dizer a outro o que se viu, agindo como um “repórter”, como um “relator”

de como o fato realmente se passou segundo sua ótica. Esse ator, então, deixa

pistas da opção retórica de organização de seu texto, lançando mão,

predominantemente, de articuladores de tempo, informando ao seu locutor nuanças

do fato ocorrido.

- Também muito presentes na textualidade da crônica estão as seqüências

narrativas. De acordo com Baltar (2004), ao narrar, o ator verbal cria em seu

interlocutor a experiência de um mundo ficcional que retrate episódios verossímeis

vividos por personagens inventados em lugares construídos, num determinado

tempo transcorrido, iniciando em um estado natural de coisas com nuanças de

tensão e de resolução de tensões, desencadeadas por forças externas

transformadoras, que, no final, voltam ou não a um estado de resolução de intriga.

Esse ator, então, deixa pistas da opção retórica de organização de seu texto,

lançando mão, predominantemente, de unidades linguísticas: verbos, nomes etc.,

que configurem a atitude discursiva do narrar, para que o interlocutor possa

recuperar o efeito de sentido pretendido.

4 RELATO DE EXPERIÊNCIA

No dia 20 de fevereiro de 2013, iniciei a apresentação do Projeto PDE,

intitulado “O Adolescente e a Sociedade: Interando o Jovem à Sociedade por meio

da leitura e produção de crônicas”, à turma do 9º “B”. Busquei propiciar aos alunos

que um detalhamento acerca dos pormenores que envolvem o projeto em questão,

ou seja, pontuei aspectos como a justificativa, a problematização, os objetivos (geral

e específicos), a fundamentação teórica e o cronograma a ser executado. Neste

mesmo dia, apresentei a biografia do cronista Marcial Salaverry, já que julguei

importante que os alunos tomassem conhecimento do produtor dos textos que

seriam utilizados durante a implementação do projeto.

Nos dias 22, 27 e 28 de fevereiro, bem como nos dias 01,07, 08 e 13 de

março, realizei as leituras, discussões e análises das crônicas: “A difícil arte de

recomeçar”, “Amar é consentir o outro... sim”, “Amor é prosa, sexo é poesia”, “Ter ou

não ter namorados”, “Alguns problemas nitidamente masculinos”, “Viúva

inconsolável”, “A sexualidade no amor”, “Antigamente”, “Homem que é homem”, “A

juventude e seus problemas”, “A vida é uma aventura”, “Quando as mulheres

acordam”, “A força da palavra”, “Algo sobre o livre arbítrio”, “Paraolímpiadas”, “Uso

de anabolizantes e dopping”, “Existe alegria na derrota”, “Crônicas esportivas”

“Regras para uma boa partida de futebol”, “O sol e a lua”, “Redescobrindo o amor”,

“Relacionamentos duradouros”, “Dividir conhecimentos”, “Corsas de nossa alma”,

“Carência afetiva”, “A verdadeira beleza da mulher” e “Amor e preconceito”.

Além do trabalho com as crônicas escritas, apresentei aos alunos o filme “O

homem nu”, de Hugo Carvana, para que pudessem estabelecer comparações com a

crônica homônima do autor, Fernando Sabino. Para tanto, pedi aos alunos que

observassem as semelhanças e diferenças entre o filme e o texto escrito, e depois

escrevessem um texto expondo suas constatações.

No dia 15 de março, trabalhei com o conceito de crônicas, especificamente

sua história, buscando apresentar as semelhanças e diferenças entre a crônica

literária e a crônica jornalística.

Em 20 de março, busquei que eles detectassem as mostras dos aspectos

discursivos do gênero crônica, realizando leituras e discussões em relação às

crônicas selecionadas para embasar as aulas. Os textos com os quais trabalhei, já

foram citados anteriormente no início deste tópico.

Já no dia 21, tencionei, por meio de leituras e discussões, elencar as

especificidades da crônica social e jornalística. Para tanto utilizei os seguintes

mecanismos para que eles realizassem a atividade solicitada, apresentei a eles as

particularidades do gênero, e depois como pode ser verificado a seguir, realizamos a

leitura e discussão da crônica “Um papo cabeça – Diga não às Drogas”, de Marcial

Salaverry, em que os alunos puderam expor oralmente suas considerações sobre a

crônica e a temática com a qual trabalha. Após o debate, solicitei que eles fizessem

as atividades abaixo:

Atividades: 1 - Quem é o autor do texto que você acabou de ler? Qual sua (possível) intenção no momento da escrita? Como você sabe? 2 – A quem se dirige o cronista? Transcreva as linhas (frases) em que você baseou para dar sua resposta. 3 – Com base em sua experiência pessoal, responda:

a) Em seu grupo de amigos, é comum haver garotos (as) com 13 ou 14 anos usando drogas? Por que você acha que isso ocorre?

b) Você concorda que muitos adolescentes começam a se drogar por curiosidade ou por desconhecer os males das drogas?

c) Depois da leitura houve mudança em seu ponto de vista? Por quê? d) Com que finalidade o cronista usou a afirmação: “Adote seu filho, antes que um

traficante o faça”.

4 – Em que pessoa o texto foi escrito?

( ) 1ª pessoa ( ) 3ª pessoa

2 – O narrador é:

( ) narrador-protagonista ( ) narrador-observador

No dia 22 de março, foram realizadas atividades ortográficas e estruturais, por

meio de leituras e pesquisas de palavras em dicionários para verificar a ortografia de

palavras que não eram comuns aos alunos. Também foi contactado o autor por meio

das redes sociais para esclarecimento do significado de palavras tais como: ósculos

e amplexos.

A partir da leitura e debate da crônica “Porque os jovens se drogam” os

alunos realizaram a primeiro produção deles de uma crônica. A seguir, apresento o

texto de uma das alunas (sem revisão), para exemplificação dos textos produzidos

pelos alunos:

A arte da vida

E todas as vezes que tento uma conversa, lá vem elas reclamações e mais

reclamações. Talvez você passe boa parte do seu tempo reclamando e deixando a vida

passar. As pessoas hoje em dia não querem ser magoadas, mas magoam, não querem ser

iludidas mas iludem, querem pessoas verdadeiras sem erros, pessoas perfeitas, coisas que

não se pode exigir nem de si mesmo. Pessoas deviam buscar o verdadeiro ideal da outra

pessoa, mas hoje em dia o carro que você tem, ou a roupinha de marca que você usa,

conta bem mais que o verdadeiro ideal que deveria ser buscado.

Por isso as vezes ouço me chamarem de louca. Estas pessoas não me

compreendem. Procuro não ser superficial como elas, se tenho vontade de rir, rio, se quiser

gritar, grito, desde que ninguém sofra consequências com os meus atos, faço o que me der

vontade. Quero usar minha vida para tentar entender o ser humano. Sei que vu me ferir

cada vez mais pois todas as idealizações cairão por terra. Sei que nem sempre o herói é

herói, e que o bandido pode ser bom. Sinto falta de alguém? Sim, e muito. Mas acredito

que cada coisa tem uma explicação espero tudo se resolver dando tempo ao tempo. Não

gosto de pessoas perfeitas, gosto de pessoas reais. Esta é uma dificuldade da vida: buscar

uma pessoa real em um mundo no qual todas as pessoas querem ser perfeitas...

Talvez se começássemos dar tempo ao tempo, seguir o percurso do rio, e não

tentar alterá-lo as coisas seriam mais simples. Plante novas ideias, projete um novo futuro.

Vamos ser loucos na medida da lucidez, e é claro que existiriam dias ruins, mas saiba que

dias melhores virão, curta a simplicidade da vida mas viva na humildade, brinque, não

importa sua idade, viva as simples coisas da vida. A amizade é uma delas. Entenda que

colegas vão e vem, mas nunca abra mão de seus poucos e bons amigos, aqueles que

estão com você em todas as horas...

Acorde cedo (a propósito tentar ser sem reclamações) tome um bom café e distribua

“bom dia”, a vida é curta demais para ser desperdiçada procurando perfeições, demonstre

seus sentimentos, reflita sobre os reais valores das coisas e da vida.

Lembre-se de passar um tempo com as pessoas que você ama, pois elas não

estarão aqui para sempre, dê um abraço carinhoso em seus pais, pois não lhe custa um

centavo, diga um “EU TE AMO” verdadeiro a pessoa amada, valorize sua família, enfim se

ame, mas ame também a imperfeição, o passado já não importa, quando o presente é

oposto. Preste contas somente à Deus, pois só ele está te reservando um futuro

maravilhoso, não ligue para que as “pessoas” dizem, afinal quem são elas para julgarem

alguém.

A arte da vida está só começando, respire fundo, crie coragem o melhor ainda está

por vir...

O exemplo demonstra que o aluno conseguiu compreender as características

do gênero crônica, seguindo as orientações sugeridas, todavia, o texto apresenta

inúmeras dificuldades, dentre as quais é possível citar logo no início do texto a

inadequação da pontuação, a concordância verbal e o uso abusivo da linguagem

coloquial, já que apesar do gênero utilizar-se deste tipo de linguagem, é preciso ser

feito de forma comedida. Há também a repetição de determinados vocábulos ao

longo de todo o texto, o que culmina por empobrecer a qualidade de sua produção.

Tendo em vista estas dificuldades, e pelo levantamento realizado em todos os

textos, ou seja, pela dificuldade apresentada pela maioria dos alunos, foram

elaborados módulos de trabalho para os seguintes problemas: paragrafação,

pontuação, concordância verbal e enriquecimento de vocabulário.

No mês de abril foram feitas leituras de jornais atividades sobre coesão

textual, por exemplo:

Exercícios: 1 – Leia os textos seguintes, tentando perceber possíveis relações semânticas entre as orações. Depois complete-os com uma das conjunções ou locuções conjuntivas, de modo a estabelecer relações de coerência e coesão entre as orações. a) “Mas para aprender, é preciso que limites lhes sejam dados, e é preciso também que haja diálogo.” (quando, que, mas, como) b) “O que poderá acontecer num primeiro momento, mas o preço a ser pago é caro demais.” (já que, enquanto, conforme, mas) c) “Procurem fazer com que seus pais vejam o que está acontecendo, e da necessidade de um diálogo mais franco e honesto.” (como, e, porém) d) “Justamente por isso, deve ser feito com amor, e quando há amor.” (mas, entretanto, e, por isso) 2 – A conjunção mas na frase abaixo possui o valor semântico de oposição. Que ideia essa conjunção opõe? Mas para aprender, é preciso que limites lhes sejam dados, e é preciso também que haja diálogo.” Sugestão de resposta: Opõe que para aprender é necessário que haja diálogo. 3 – Leia: “Se sobreviver ao uso, poderá constatar que ficou impotente por ter usado algo para melhorar o desempenho.” a) Identifique na primeira oração a conjunção. b) Qual dos seguintes valores semânticos ela expressa? ( ) causa ( ) consequência ( ) condição 4 – A conjunção coordenativa e tem vários valores semânticos. Leia os períodos a seguir, observando o valor semântico dessa conjunção, e indique, em cada um deles, se ela: - tem valor adversativo; - tem valor de acréscimo, adição; - indica finalidade. a) “[...] pois os contínuos apelos à sensualidade e à sexualidade fartamente explorados pela mídia, fatalmente confundem a cabeça de nossos jovens [...]” b) “Mas para aprender, é preciso que limites lhes sejam dados, e é preciso

também que haja diálogo [...]” c) “Justamente por isso, deve ser feito com amor, e quando há amor.” 5 – Usando conectivos, reúna os pares de orações, a seguir, em um período composto de modo que não se alterem as relações de sentido implícitas. Faça as adequações necessárias. a) A juventude hoje está vivendo uma fase um tanto quanto conturbada. Os contínuos apelos à sensualidade e à sexualidade são fartamente explorados ela mídia. b) Justamente. O sexo deve ser feito com amor. Quando há amor. c) O que pode lhes faltar é uma adequada orientação familiar. Os pais muitas vezes são liberais demais. d) Uma frase curta. De grande significado.

A partir do que foi trabalhado em sala de aula foi possível verificar as

diferenças existentes na produção inicial e final de um mesmo aluno, assim

apresento a seguir a crônica já exposta, agora reescrita pelo aluno após todo o

trabalho realizado:

A arte da vida

Conseguia tocá-lo, mas agira estava mais leve, tinha liberdade, podia voar, conseguia ouvir sua voz de novo, e era uma grande melodia. Brilhava muito, trazia ainda múltiplas flores de cores e perfumes diferentes, mas o tempo era curto e tudo se acabou, um solavanco e pronto.

Acordei diferente, não sei se mais feliz ou coisa parecida, só sei que era diferente... E o sorriso foi o que ficou mais guardado, aquele mesmo sorriso que havia deixado como lembranças, e que tinha se apagado no meio de tanta tristeza.

Aquela data, aquela hora, aquele lugar simplesmente aquele fato, jamais sairá da minha memória, Deus sabia que sua missão havia sido cumprida por isso te chamou afinal, ele queria logo essa estrelinha tão brilhante bem mais pertinho dele. E agora já não há mais tanta dor e sim a saudade. Saudade de uma alegria imensa, saudade de um sorriso encantador, saudade daqueles olhos lindos que brilhavam...

Não posso cessar as lágrimas ao ouvir “aquela música”, chorarei novamente quando ouvir seu nome, e nem todas as melhores palavras do mundo servirão de consolo. Mas saberei que em cada novo sorriso ele estará lá, em cada passo ele estará nos guiando, em cada novo amanhecer ele estará refletindo nos raios de luz e ao anoitecer será a estrelinha mais brilhante do céu...

Contudo, nunca esquecerei daquele que nunca me deixou chorar, que estava ali todo o momento que precisei, que me fazia rir até nos piores momentos...

A todos ele amava na mesma medida, nunca se eixava abater, não precisava se achar superior a ninguém para ser maior que todos, se formou em cima da humildade, e se o magoavam? Sabem quais eram suas palavras? “Estou com dó desta pessoa ela está sofrendo mais do que eu”, e perdoava de coração e não falava mais naquilo. Será realmente uma pena não ter mais uma pessoa dessa ao nosso lado!

Aos amigos, quase irmãos e a família, sem palavras, Deus sabe e nós também que essa dor um dia acabará, ficando somente as boas lembranças e a saudade. Agora na mente de todos ficará somente coisas boas guardadas, daquele que amava seu futebol, daquele brigão que defendia os amigos, das palhaçadas...

Amaremos eternamente aquele que fez nossos dias melhores, aquele que alegrou a vida de muita gente, aquele família, e aquele bagunça com os amigos, jamais esqueceremos daquele que de alguma forma indiretamente ou diretamente participou das nossas vidas, ele foi para um lugar melhor, mas também levou uma parte minha junto com ele.

E de alguma forma ele saberá quantas vezes falaremos seu nome em conversas paralelas, e quantas músicas escutaremos pensando nele. Vai saber, às vezes, em que escrevemos seu nome no caderno, na mesa, na parede. As vezes, em que te ligamos e desligamos em seguida, só para ver se você atendia e poderíamos ouvir sua voz novamente. Porque estávamos com saudades. Vai saber que já ficamos olhando fotos suas por longos minutos, e sorrindo sozinhos, por isso não devemos abaixar a cabeça, pois se pudéssemos nos falar, ficaria muito triste em saber como estamos sofrendo aqui, então vamos recomeçar tudo de novo, mesmo que seja difícil, mesmo que doa, mesmo se chorarmos...

Pois, até então Deus está sorrindo muito, pois recebeu um anjo que alegrará todo o céu, como fazia aqui, sabemos que todos ainda choram, pois pensamos ser um grande pesadelo, mas infelizmente não era, devemos agora sorrir e nos espelharmos pois esse cara não precisou de drogas, cigarros, bebidas, para ser feliz e para fazer os outros felizes...

Através das duas produções do aluno é possível perceber o quão benéfica

foram as aulas do Projeto PDE “O Adolescente e a Sociedade: Interando o Jovem à

Sociedade por meio da leitura e produção de crônicas”, já que por meio da leitura e

discussão acerca das diversas crônicas trabalhadas em sala de aula, os alunos

conseguiram compreender como devem escrever uma crônica, expor uma situação

que permeia suas vidas.

Durante a implementação do projeto, os alunos escreveram cartas para o

autor Marcial Salaverry, com o qual estávamos trabalhando, para que assim,

pudessem sanar dúvidas, como por exemplo o significado de alguns vocábulos, e

além das cartas, os alunos também estabeleceram contato por e-mail, e o autor

culminou por presentear a turma com exemplares de seus livros editados.

Importante ainda expor que o projeto acabou ganhando destaque no Jornal

Semanário do Paraná, que serviu de base para o desenvolvimento das aulas. Na

edição do dia 19, do mês de abril de 2013, na página 09, o jornal traz como

manchete o projeto organizado e aplicado no Colégio Estadual João Marques da

Silveira, como pode ser verificado logo abaixo pela figura de reprodução do jornal

em questão:

Esta menção pode ser considerada como um dos pontos positivos que o

projeto conseguiu estabelecer, já que o jornal culminou por tomar conhecimento dos

estudos e atividades que estavam sendo realizados, e acabou por aderir a ideia,

pois optou por divulgar esta iniciativa, permitindo que o projeto ganhasse mais

destaque e acabasse por ser disseminado de forma mais profícua.

E para finalizar o projeto, possibilitei que os alunos fossem até ao cinema,

assistir ao filme “Crônicas de Nárnia”, já que como o projeto tem como base as

crônicas, e neste caso, o mundo da fantasia, culmina por agradar aos alunos, que se

mostraram muito entusiasmados com esta atividade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a aplicação do Projeto PDE “O Adolescente e a Sociedade: Interando o

Jovem à Sociedade por meio da leitura e produção de crônicas”, pude constatar que

se houver a colaboração entre professor e aluno, bem como, o apoio da instituição

de ensino, é possível trabalhar de uma forma que faça a diferença. E não só a

diferença na vida do aluno, mas da comunidade em geral, e do próprio professor,

que passa a se sentir um profissional mais capacitado, mais motivado a transmitir

seus conhecimentos aos alunos.

Foi possível verificar também que um projeto bem elaborado e com um

cronograma organizado, tende a ser benéfico para ambos os lados, pois o professor

acaba por propiciar ao aluno uma compreensão vasta acerca do conteúdo

trabalhado, e o aluno, por sua vez, consegue assimilar de forma mais profícua os

ensinamentos existentes nas aulas que presencia.

Ao trabalhar com o gênero crônica, consegui alcançar meus objetivos, pois

justamente por se tratar de algo que faz parte do cotidiano do aluno, culmina por não

ser algo que eles tenham repulsa, e sim, uma forma de externarem seus

sentimentos, suas dúvidas, suas revoltas, e tudo que lhes aflige, mas que também

lhes alegra. Além de apresentar este gênero de forma detalhada, propiciei também

aos alunos que apreendessem como colocar suas ideias no papel, ou seja, como

utilizar a gramática a seu favor, e isso é comprovado através do acompanhamento

das produções – inicial e final – já que as diferenças, ou melhor, os avanços, são

visíveis.

Tendo por base a boa receptividade que o projeto alcançou, assim como a

disseminação dos resultados colhidos ao longo das aulas, torna-se claro que é uma

iniciativa que merece ser destacada e reproduzida, pois todos ganham com esta

ação. Pude perceber que os alunos com os quais desenvolvi o projeto,

apresentaram uma melhora gradativa no que se refere à produção de texto, já que

por meio de inúmeros exercícios de leitura e discussão, acabaram por se

identificarem com o gênero crônica. Claro que a ajuda e atenção do escritor Marcial

Salaverry, foram de extrema importância para a concretização deste projeto, pois foi

através dele, mais especificamente, de suas crônicas, que os alunos puderam

realizar seus trabalhos.

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