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Número 2 – FEVEREIRO MMXII NEWSLETTER Na mensagem para a Quaresma de 2012, o Santo Padre alerta-nos para ser este um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Um dos pilares em que assenta a mensagem é o convite para se prestar atenção aos outros. É com esta manifestação de Fé em Nosso Senhor e pela celebração constante da Sua Ressurreição que devemos atravessar os tempos adversos que hoje vivemos em Portugal e no resto da Europa. A propagada crise, tema central em todos os noticiários, com expressão mais dramática na Grécia, encontra também nesse país a origem do seu sentido etimológico, podendo ser traduzida, para além do seu vulgar significado, como um acto ou faculdade de distinguir, de escolher. Uma crise económica é, normalmente, uma experiência dolorosa mas, ao mesmo tempo, desperta, em muitos, uma maior consciência de entreajuda e auxílio a quem mais precisa. É justamente isso que os Cavaleiros e Damas da Lugar- Tenência de Portugal têm vindo a praticar, permitindo realizar, em 2012, a maior contribuição de sempre de apoio aos cristãos da Terra Santa, no valor de 71 mil euros. Este apoio de Portugal vai ser dirigido, pela primeira vez, a uma realização específica, o Convento das Irmãs, em Aboud, cerca de trinta quilómetros a norte de Jerusalém. É neste espírito, sob a liderança do novo Grão-Mestre, Sua Eminência Edwin Frederick O’Brien - que foi elevado a Cardeal no Consistório do passado dia 18 de Fevereiro, onde a Lugar-Tenência esteve representada – que a nossa Ordem continuará cada vez mais a cumprir os seus desígnios. Deus lo vult Gonçalo Figueiredo de Barros Lugar-Tenente Mensagem aos Cavaleiros e Damas: A condução pela Palavra de Deus Aliquam EDITORIAL Director: SE Lugar.Tenente Cav. Gr. Of. Dr. Gonçalo Figueiredo de Barros Redacção: Cav. Com. Dr. Francisco de Mendia ÍNDICE DE CONTEÚDOS Página……………………..2 Grão-Mestre nomeado Cardeal Página……………….....…3 Portugal assegura restauros na Terra Santa Página……………………6 Pedras que falam: Trancozelos Página…………………....8 As perseguições aos Cristãos do Médio Oriente

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Número 2 – FEVEREIRO MMXII

NEWSLETTER

Na mensagem para a Quaresma de 2012, o Santo Padre alerta-nos para ser este um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Um dos pilares em que assenta a mensagem é o convite para se prestar atenção aos outros.

É com esta manifestação de Fé em Nosso Senhor e pela celebração constante da Sua Ressurreição que devemos atravessar os tempos adversos que hoje vivemos em Portugal e no resto da Europa.

A propagada crise, tema central em todos os noticiários, com expressão mais dramática na Grécia, encontra também nesse país a origem do seu sentido etimológico, podendo ser traduzida, para além do seu vulgar significado, como um acto ou faculdade de distinguir, de escolher. Uma crise económica é, normalmente, uma experiência dolorosa mas, ao mesmo tempo, desperta, em muitos, uma maior consciência de entreajuda e auxílio a quem mais precisa.

É justamente isso que os Cavaleiros e Damas da Lugar-Tenência de Portugal têm vindo a

praticar, permitindo realizar, em 2012, a maior contribuição de sempre de apoio aos cristãos da Terra Santa, no valor de 71 mil euros. Este apoio de Portugal vai ser dirigido, pela primeira vez, a uma realização específica, o Convento das Irmãs, em Aboud, cerca de trinta quilómetros a norte de Jerusalém. É neste espírito, sob a liderança do novo Grão-Mestre, Sua Eminência Edwin Frederick O’Brien - que foi elevado a Cardeal no Consistório do passado dia 18 de Fevereiro, onde a Lugar-Tenência esteve representada – que a nossa Ordem continuará cada vez mais a cumprir os seus desígnios. Deus

lo vult

Gonçalo Figueiredo de Barros Lugar-Tenente

Mensagem aos Cavaleiros e Damas: A condução pela Palavra de Deus

Aliquam EDITORIAL

Director: SE Lugar.Tenente Cav. Gr. Of. Dr. Gonçalo Figueiredo de Barros Redacção: Cav. Com. Dr. Francisco de Mendia

ÍNDICE DE CONTEÚDOS

Página……………………..2 Grão-Mestre nomeado Cardeal

Página……………….....…3 Portugal assegura restauros na Terra Santa

Página……………………6 Pedras que falam: Trancozelos

Página…………………....8 As perseguições aos Cristãos do Médio Oriente

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Newsletter da Lugar-Tenência de Portugal da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém

Número 2 – JANEIRO MMXII

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A 6 de Fevereiro de 2012, solenidade da Epifania do Senhor, Sua Santidade o Papa Bento XVI anunciou a criação de 22 Cardeais. Entre eles S. Ex. Reverendíssima Mons. Edwin Frederik O’Brian, Grão-Mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.

Foi durante a oração do Angelus da Solenidade da Epifania que o Santo Padre anunciou a convocação do 4º Consistório ordinário público do seu pontificado, que teve lugar no passado dia 18 de Fevereiro de 2012 no Vaticano. Durante o Angelus, o Santo Padre lembrou que os Cardeais têm a função de secundar o Sucessor do Apóstolo Pedro no cumprimento do seu ministério de confirmar os seus irmãos na fé e de ser princípio e fundamento da unidade e de comunhão na Igreja.

Com os membros da Ordem do Santo Sepulcro, o Patriarca latino de Jerusalém, congratula-se com esta boa notícia. E, a convite do Santo Padre que pediu aos fiéis que rezassem pelos novos eleitos, pedindo a intercessão da Bem- Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, para que eles saibam sempre testemunhar com coragem e dedicação o seu amor por cristo e pela Igreja, o Patriarca pede, especialmente nas suas orações, por aquele que, confirmado Cardeal, passou a ser o Grão-Mestre da Ordem do Santo Sepulcro.

Entre os vinte e dois nomeados, encontra-se Mons. Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos povos, desde Maio de 2011, e Antigo Núncio Apostólico na Jordânia, bem como o Bispo português, D. Manuel Monteiro de Castro, Penitenciário-Mor da Santa Sé.

Grão Mestre da Ordem nomeado Cardeal por Bento XVI

A Lugar-Tenência portuguesa da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém assegurou o financiamento de melhoramentos no Convento de Aboud no valor gobal de 71 mil euros. O compromisso assumido com o Grão-Magistério da Ordem vai realizar-se totalmente durante o ano de 2012. Este apoio directo à Terra Santa vai ser a maior contribuição de sempre realizada por Portugal. Anteriormente, o maior valor havia sido atingido em 2009.

Recordamos ainda que em 2011, a remessa dos cavaleiro e damas portugueses totalizou o valor de 55 mil euros. Este apoio directo da Lugar-Tenência de Portugal é feito pela primeira vez a uma obra específica na Terra Santa, cobrindo a totalidade do orçamento do projecto do convento. O Convento de Aboud vai estar no roteiro da próxima peregrinação da Lugar-Tenência de Portugal à Terra Santa.

Lugar-Tenência portuguesa assegura melhoramentos no Convento de Aboud

Bazar da Ordem

O Bazar da Ordem, que se realizou no passado dia 12 de Novembro no Círculo Eça de Queiroz rendeu uma receita de cinco mil euros. A iniciativa promovida por um grupo de Senhoras contou com uma grande participação dos membros da Ordem.

Novo Bispo auxiliar

O novo Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Nuno Brás, proferiu no passado dia 2 de Fevereiro uma palestra subordinada ao tema “O que é a Fé?”. A palestra integra-se no programa das primeiras quintas-feiras na Igreja da Encarnação.

ACTUALIDADE

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Número 2 – JANEIRO MMXII

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Nasceu em Lisboa a 29 de Janeiro de 1936 e morreu no dia 26 do mesmo mês, três dias antes de completar 76 anos. Casou em 1969 com D. Maria Manuela Sarmento de Magalhães e Menezes, Condessa de Felgueiras, dama da Ordem do Santo Sepulcro, de quem tem três filhos. Investigador, heraldista, exímio desenhador e iluminador, foi funcionário do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Da sua bibliografia destacamos “As empresas dos Príncipes da Casa de Avis” (em co-autoria com Henrique de Avelar), no âmbito da XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura (1983), e as “Notas” à 2.ª edição da obra do Conde de Castro e Solla, “Cerâmica Brasonada” (1992). Foi igualmente autor de inúmeros

trabalhos heráldicos, em desenho e iluminura, nomeadamente vários ex-libris. Era ainda sócio efectivo da Associação dos Arqueólogos Portugueses, do Instituto Português de Heráldica, da Associação Portuguesa de Genealogia, da Academia Portuguesa de Ex-Libris, entre outras instituições académicas e culturais. Admitido como cavaleiro da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém em 1983, foi ainda cavaleiro da Ordem de São Miguel da Ala (Casa de Bragança) e seu Cronista Rei de Armas, comendador de Graça, com placa, da Ordem Constantiniana de São Jorge (Casa de Bourbon Duas-Sicílias, ramo Duque de Castro) e cavaleiro da Ordem de São Maurício e São Lázaro (Casa de Sabóia).

In memorian Luiz António Gaia de Paiva Raposo Ferros, Conde de Felgueiras

A Lugar-Tenência de Portugal vai oferecer um painel de azulejos de Nossa Senhora da Conceição, Rainha de Portugal, ao Santuário da Anunciação, em Nazaré, Terra Santa. A inauguração e bênção do painel vai-se realizar no próximo dia 27 de Setembro, por ocasião da peregrinação e investidura que se vai realizar. A cerimónia vai-se realizar pelas 11h, após a celebração da eucaristia. O cortejo vai seguir em procissão até ao átrio da basílica, sendo o

painel, previamente colocado, benzido “in situ”. A oferta deste painel, assume um particular significado nos tempos que correm, pois representa a comunhão no sofrimento da Igreja em Portugal, Terra de Santa Maria, com a Igreja Mártir da Terra Santa. Preencherá, também, uma lacuna sentida pela generalidade dos peregrinos portugueses que se deslocaram em peregrinação à Terra Santa, em 2010. A representação do painel de azulejos segue em cima.

Ordem do Santo Sepulcro oferece painel ao Santuário da Anunciação

Retiro em Fátima

A Ordem do Santo Sepulcro vai realizar o seu Retiro anual em Fátima nos próximos dias 2 a 4 de Março. Mais uma vez o Retiro é orientado pelo Revmo. Cerimoniário Eclesiástico Cav. Com. Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada.

Novo Cardeal português

D. Manuel Monteiro de Castro foi nomeado Cardeal por S.S. o Papa Bento XVI, tornando-se o terceiro cardeal português. Anteriormente, D. Manuel tinha sido nomeado Penitenciário-Mor da Santa Sé.

ACTUALIDADE

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OPINIÃO João Bernardo Galvão Teles* Cav.

Faleceu no passado dia 11 de Dezembro, aos 76 anos, depois de um longo período de doença, S.E.R. o Cardeal John Patrick Foley, Grão-Mestre Emérito da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém.

As cerimónias fúnebres, presididas por S.E.R. o Arcebispo Edwin Frederic O’Brien, sucessor do Cardeal Foley na mesma Ordem, decorreram na Basílica Catedral de São Pedro e São Paulo, em Filadélfia, onde se reuniram dezenas de bispos e cardeais, centenas de sacerdotes e mais de um milhar de leigos. Estiveram igualmente presentes S.E. o Vice-Governador da Ordem, Eng. Adolfo Rinaldi, e S.E.R. o Núncio Apostólico Giuseppe De Andrea, Assessor do Grão Magistério, tendo este último referido que foi o mais belo e participado funeral de um Cardeal que alguma vez viu. O corpo do Cardeal John Foley foi sepultado numa cripta debaixo do altar-mor da referida Basílica, entre os de dez outros bispos e arcebispos da arquidiocese de Filadélfia.

Natural de Darby, na Pensilvânia, Estados Unidos da América, John Patrick Foley foi ordenado sacerdote em 1962. Professor de filosofia e editor do jornal arquidiocesano de Filadélfia, cobriu o Concílio Vaticano II e coordenou a imprensa de língua inglesa nas visitas do Papa João Paulo II à Irlanda e aos Estados Unidos, em 1979, bem como no Sínodo Mundial dos Bispos, realizado no Vaticano no ano seguinte.

Cardeal John Patrick Foley, Grão-Mestre Emérito da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém

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Em 1984, o ainda sacerdote John Foley seguiu para Roma, como primeiro Presidente da Comissão Pontifícia para a Comunicação Social, organismo incumbido de expor aos media os ensinamentos da Igreja no âmbito da justiça social e moral. A 8 de Maio do mesmo ano, recebeu a ordenação episcopal, mantendo-se como responsável daquela Comissão – que em 1988 ascendeu a Conselho Pontifício – até 2007. No Consistório realizado a 24 de Novembro deste ano, foi elevado ao cardinalato pelo Papa Bento XVI, tendo o Santo Padre procedido também à sua nomeação como Grão-Mestre da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém, de que viria a resignar em 2011 devido à doença entretanto contraída.

Em entrevista concedida em 2009, o Cardeal John Foley recordou a importância, para a consolidação da sua vocação sacerdotal, da experiência que tivera durante a sua juventude no voluntariado e ensino de catequese a crianças com deficiência mental, e revelou ter pensado na altura que “não há nada mais importante na vida que ensinar as pessoas sobre Jesus e levá-las a Jesus”. A sua total e permanente dedicação a Cristo foi amplamente reconhecida, destacando todos aqueles que o conheceram a sua gentileza e espiritualidade, bem como a força e determinação que manteve mesmo quando já se encontrava doente. S.S. o Papa Bento XVI, em mensagem redigida a propósito do falecimento do Cardeal John Foley, evidenciou o distinto serviço por ele prestado à Santa Sé e em particular os seus esforços em prol das comunidades cristãs da Terra Santa.

Sua Eminência o Cardeal John Patrick Foley, Grão-Mestre Emérito da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém

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OPINIÃO D. Nuno Sanches de Baena Ennes, Visconde de Sanches de Baena* Cav.

«Não te afundes Portugal Não te afundes, toma tento; Ñão morre na terra quem Zombou do mar e do vento.»

(Vicente Arnoso, «Cantigas e mais cantigas», 1921)

Vales de rios e encostas de serras, quadros paisagísticos de grande beleza e uma imensa riqueza natural

caracterizam a região, também terra do queijo da Serra da Estrela, do vinho do Dão e de um património

arquitectónico interessantíssimo.

Aliás, em todas as 13 freguesias de Penalva do Castelo, vila portuguesa do distrito de Viseu e sede do

município com o mesmo nome, monumentos como a Casa da Ínsua (ou solar dos Albuquerque), o

pelourinho, pontes romanas, a igreja da Misericórdia, a capela da Senhora do Ó, em Corga, e a anta da

Serra de Esmolfe, certificam autenticamente um passado notável, ainda assinalando e sugerindo pessoas e

feitos que fizeram a Pátria.

Para os Cavaleiros e Damas da Ordem do Santo Sepulcro, uma daquelas 13 freguesias reveste, porém,

um significado especial: Trancozelos. Com os seus 5,16 km2 de área e 332 habitantes, a povoação abriga

o que resta daquele que, possivelmente, foi o primeiro mosteiro a ser edificado pela Ordem do Santo

Sepulcro na Península Ibérica. Daí ter-se chamado, também, simplesmente, Vila Nova do Santo

Sepulcro. E daí, ainda hoje, figurar a pentacruz do Santo Sepulcro nas armas da freguesia!

Pedras que falam: Trancozelos

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Dedicado a São Salvador, a fundação

do mosteiro deveu-se à iniciativa da

Condessa Portucalense D. Teresa,

considerado instrumento do

povoamento e organização das terras de

Penalva reconquistadas aos mouros e

instrumento do fomento da

recristianização da população que

permaneceu naquelas paragens após a

reconquista. E tendo beneficiado

posteriormente da protecção d’El-Rei

D. Afonso Henriques, a Ordem do

Santo Sepulcro adquiriu uma extensa

influência social e cultural nas terras da

Beira.

A um ciclo positivo seguiu-se, porém, um de decadência; que conduziu o mosteiro, primeiro, à dependência

da Comenda de Sezures e, depois, em resultado de uma bula de Inocêncio VIII («Cum Solerti Meditatione»,

1489), à sua incorporação na Ordem de Malta. Por esse facto se acham cruzes do Santo Sepulcro e de Malta

na antiga cerca monástica.

Em 1834, declarados extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer outras casas

das ordens religiosas regulares e tendo os seus bens sido secularizados, incorporados na Fazenda Nacional e

vendidos, a propriedade foi adquirida pelos Albuquerque, da Casa da Ínsua (por sucessão, hoje Olazábal,

Condes de Arbelaiz). E as dependências do mosteiro foram, então, transformadas em habitação.

Contrastando com a Casa da Ínsua – residência verdadeiramente senhorial, com robusto portão, pátio de

honra com capela, jardins formais bem cuidados e caminhos arborizados –, é precário o estado de

conservação do mosteiro e da respectiva igreja. Esta, templo românico de dimensões reduzidas, dedicado a

Santa Maria de Águas Santas de Vila Nova do Mosteiro, é um edifício com fachada principal em empena

truncada pela sineira, com o portal definido por duas arquivoltas de volta perfeita com impostas salientes,

uma das quais apresentando a cruz da Ordem do Santo Sepulcro. E no interior, de nave única, esta articula-

se com a capela-mór através de um arco triunfal quebrado.

Nas proximidades, ligada ao mosteiro e à sua fundação, deve ser assinalada, ainda, uma ponte sobre o rio

Dão.

Proposta, em 1999, a classificação do conjunto, mosteiro e ponte de Trancozelos, pela Câmara Municipal

de Penalva do Castelo, pende ainda o processo no IGESPAR, não beneficiando, entretanto, o conjunto de

protecção adequada, designadamente da classificação da zona como non aedificandi. Até quando?

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OPINIÃO José Veiga de Macedo* Cav.

“ Eles perseguiram- Me e perseguir-vos-ão” preveniu o Senhor aos seus seguidores.

O Santo Padre, na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2011, lembrou ao mundo que os “

cristãos são, actualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições… ” tendo na oportunidade

salientado “… Não se pode aceitar nada disto, porque constitui uma ofensa a Deus e à dignidade humana; além

disso, é uma ameaça à segurança e à paz e impede a realização de um desenvolvimento humano autêntico e integral ”.

No início do novo milénio os cristãos são atormentados em mais de dois terços de todas as nações e a 200

milhões não lhes é permitido viverem livremente a sua fé. Em números absolutos as perseguições

religiosas e os seus mártires - no século XX e no início do actual - ultrapassaram largamente os de

qualquer um dos séculos anteriores, sendo os católicos a sua maior parte.

Este bárbaro espectáculo da história contemporânea, tão orgulhosa da sua modernidade, dos seus

progressos científicos e tecnológicos e do seu empenhamento na causa dos direitos do homem, tem vindo

habilidosamente a ser transmitido à opinião pública de forma ambígua, escamoteando as suas causas,

ocultando parte dos seus responsáveis, menosprezando o seu alcance.

1. No plano das causas, valerá a pena precisar que não é correcta a propagada identificação exclusiva das

opressões anti-cristãs com o Islão. É verdade que o radicalismo islâmico vem incendiando perseguições.

Em levantamento feito por um grupo protestante, para 2011, constata-se que entre os dez mais perigosos

lugares para a cristandade, nove são estados islâmicos, neles se incluindo o Afeganistão, a Arábia

Saudita, a Somália e o Irão.

No entanto em múltiplas partes do mundo há exemplos convincentes de colaboração entre cristãos e

muçulmanos.

As perseguições aos cristãos do Médio Oriente

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OPINIÃO

Numerosas vítimas dos muçulmanos extremistas são, paradoxalmente, outros muçulmanos, como bem o

demonstram os conflitos permanentes, as fratricidas guerras entre sunitas e xiitas.

Acresce que as desumanidades infligidas aos cristãos têm também, como sabemos, outras proveniências,

outros autores: estados totalitários ( China e Coreia do Norte), radicalismos hinduístas ou budistas (União

Indiana e Sri Lanka), crime organizado e redes de narcotráficos (Colômbia e México), ultra-nacionalismos

(Turquia) , discriminações e “apartheids” (Israel).

Na Turquia, onde as acções dos nacionalistas extremistas são ameaçadoras, assiste-se, com o pano de fundo

da indiferença geral da União Europeia, à extinção lenta das comunidades cristãs. O Estado turco

pretensamente laico - mas de facto em regresso acelerado à sua identidade islâmica que vem projectando

como instrumento de um “neo-otomanismo” expansionista - não tem acarinhado os cristãos, fechando-lhes a

porta à administração pública, impedindo-os de conservar as suas escolas, de restaurar ou de construir as suas

igrejas.

Em Israel e apesar da peregrinação do Santo Padre, em Maio de 2009, à Terra Santa, não abrandaram os

actos de opressão cometidos sobre as comunidades cristãs. O Patriarca Latino de Jerusalém, Monsenhor

Fouad Twal, ao mesmo tempo que então recordava que “a discriminação, sempre presente em Israel, ameaça tanto

os cristãos como os muçulmanos”, manifestava, do mesmo passo, a sua inquietação sobre o futuro da cristandade

na Terra Santa que viu, em curto espaço de tempo, a população católica reduzida a quase metade.

2. No plano das responsabilidades pelas violências cometidas sobre os cristãos do Médio Oriente , seria

igualmente enganador circunscrevê-las aos movimentos fundamentalistas islâmicos. Mais relevantes, pela sua

contundência e pela autoridade política dos seus autores, são as acções de vários Estados muçulmanos e as

vontades de outras influentes nações que os apoiam.

As forças e os poderes que vêm, consciente e deliberadamente, promovendo a desestabilização da Região

também não poderão ser isentos da sua quota-parte de culpa pelo turbilhão de violência , aparentemente

irrefreável, que originaram e pelas vítimas que causaram.

A entrevista dada, no passado dia 5 de Janeiro ao semanário suíço “Hebdo”, pelo Monsenhor Béchara Raï,

Patriarca da Igreja Maronita, é a este propósito esclarecedora ao precisar que “ a limpeza étnica” dos cristãos do

Oriente não é um objectivo em si mesmo, mas uma consequência da desestabilização da região”.

Com efeito, a identificação que largas franjas de muçulmanos moderados vêm fazendo entre a religião e o

mundo cristãos e as intervenções e ocupações militares do ocidente - levando-os a considerá-las como novas

cruzadas - tem sido devastadora. Tal assimilação tem instigado as gestas contra os “ infiéis” invasores e

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inflamado a intolerância que, de Teerão a Jerusalém e de Bagdad a Ancara, ameaça a sobrevivência de

importantes comunidades cristãs.

Como exemplo paradigmático de instabilidade no Médio Oriente recordemos o Iraque. Os cristãos até

então protegidos por uma doutrina laicizante passaram - após a queda de Saddam e com a eliminação de

todas as personalidades iraquianas com uma visão nacionalista e não comunitarista - a ser acusados de

“sequazes das cruzadas”; centenas, senão mesmo milhares em cada ano são mortos, vítimas de atentados

contra as igrejas, de raptos, de assassínios.

E esta “ expulsão religiosa “, que altos responsáveis da Igreja receiam se venha a propagar à Síria, não se

afigura como transitória ou passageira. O Islão, segundo a nova Constituição iraquiana, apadrinhada pelas

auto-proclamadas “forças de libertação”, tornou-se a única fonte de direito. E é hoje já conhecido o

destino trágico reservado aos cristãos iraquianos, intimados que estão a fazerem as malas ou a escolherem

o seu caixão.

As anunciadas “primaveras árabes” e as suas auroras “democráticas” vêm-se revelando também elas, no

sectarismo que algumas já patenteiam, como factor adicional de perturbação. Sobre este tema candente o

Patriarca Maronita depois de recordar que toda “a teocracia exclui a democracia ”, foi bem mais longe, ao

incriminar certos Estados do Golfo e influentes países de apoiarem, financiarem e armarem grupos

fundamentalistas.

Será que o advento das “democracias” no Iraque, na Líbia, na Tunísia, no Egipto, se traduzirá, na

realidade dos factos, na intolerância islâmica e no fim dos cristãos no Oriente?

3. Mas qual o significado destas perseguições na história da salvação humana?

Na sua encíclica Tertio Millennio Adveniente João Paulo II fez questão de nos relembrar a velha máxima

segundo a qual “o sangue dos mártires é a semente dos cristãos”, recordatória tão mais actual quando, mesmo

no interior das igrejas cristãs, se sente por vezes alguma resistência à noção de mártir, tida por alguns dos

nossos contemporâneos como uma ideia com o seu quê de bizarro.

É à luz daquele ensinamento que reconheceremos que o valor destas perseguições é grande para todos

nós já que, como bem assinalou Robert Royal, “se é feliz o tempo que não produz uma abundante colheita de

mártires … ainda mais feliz é o tempo em que as pessoas se comprometem a ficar com Cristo, independentemente de isso

significar o martírio, por que dessa disposição de ir até à morte nasce tudo aquilo por que vale a pena viver”.

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Quanto às Igrejas Orientais Católicas - que de modo particular conservam o eco do primeiro anúncio

evangélico e as mais antigas memórias dos sinais do Senhor – elas assumem um singular papel enquanto «

testemunhas vivas das origens» e enquanto detentoras de um património espiritual insubstituível para a Igreja de

Cristo.

"As palavras do Ocidente precisam das palavras do Oriente, para que a Palavra de Deus manifeste cada vez melhor as

suas riquezas insondáveis" (Orientale lumen, 28).

Acresce que, ao longo dos séculos até ao martirológio contemporâneo, os nossos irmãos do Oriente têm-se

distinguido por um amor inquestionável e inseparável pela sua própria fé, em testemunho de fidelidade pago

com o seu sangue . É um testemunho exemplar e o seu valor é grande para todos nós.

Aos que morreram para dar testemunho da verdade e do bem, temos a obrigação de garantir que o seu

testemunho não será esquecido e de, sentida e profundamente, lhes agradecer invocando-os com uma

singela oração “ Requiem eternam dona eis , Domine, et lux perpetua lucea eis ” (“ Dai-lhes, Senhor o eterno descanso,

entre os resplendores da luz perpétua”).

E aos que, resistindo à tentação do exílio, permanecem como anónimos “ soldados desconhecidos” a sofrer em

nome do Senhor ultrajes, atrocidades, opressões e a aceitar, com serena esperança, o risco de uma provável

morte violenta, que poderemos nós fazer? Que esperam eles de nós?

A esta última pergunta a resposta já nos foi dada por Monsenhor Béchara Raï. Ela é embaraçante e faz doer

: à interpelação “ Que esperais do Ocidente?” respondeu “Pouca coisa. Os países ocidentais olham antes de tudo

para os seus interesses económicos e políticos, enquanto a comunidade internacional afasta o seu olhar dos problemas dos

cristãos do Oriente”.

Poderemos nós continuar, por muito mais tempo, a olhar para estas perseguições, executadas longe dos

nossos guardados condomínios, como uma mera aberração histórica, a ignorar a sua dimensão espiritual e

civilizacional e, assim, nos dispensarmos de as ter de reconhecer como realidades malignas deste Mundo?

Não será chegada a hora de denunciar e trazer para o debate público as acções de expulsão e de

aniquilamento contra os nossos irmãos, consentidas ou programadas, por poderes por vezes designados e

empossados com o decisivo apoio de nações europeias e ocidentais? Onde está a apregoada liberdade

religiosa?

Não teremos nós a fraterna obrigação de dizer aos nossos eleitos que é chegado o tempo de pôr fim aos

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Newsletter da Lugar-Tenência de Portugal da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém

Número 2 – JANEIRO MMXII

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hipócritas e ensurdecedores silêncios, em que servilmente muitos se abrigam, quando, como mudos, assistem

a despudoradas absolvições públicas de ideologias e regimes que ferozmente perseguem o cristianismo , num

brutal espectáculo de sofrimento e morticínio que ficará para a história como uma das mais negras épocas de

martírios?

Alimentemo-nos com a palavra do Cristo ressuscitado “ Não tenhais medo” , afirmemos que o cristianismo é

meio de salvação de cada um e caminho de libertação do mundo e , retomando as palavras do Santo Padre,

proclamemos “Não se pode aceitar nada disto”.

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Newsletter da Lugar-Tenência de Portugal da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém

Número 2 – JANEIRO MMXII

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Cerimónias da Paixão do Senhor 6 de Abril: Sé Patriarcal de Lisboa: Cerimónias da Paixão do Senhor presididas pelo Senhor Grão-Prior da Grão-Prior da Lugar-Tenência de Portugal, S.E. o Cardeal D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa (15h). Sé Catedral de Braga: Celebração da Paixão do Senhor. Cerimónia litúrgica do Rito Bracarense presidida por S.E. Revma. o Senhor Arcebispo Primaz de Braga D. Jorge Ortiga (15h). Procissão do Enterro do Senhor, nas ruas de Braga (21h).

DESTAQUE DE AGENDA

AGENDA Eventos e datas

1 de Março: Missa de 7º dia da morte da Senhora Infanta D. Maria Adelaide, Dama Grã-Cruz da Ordem, que se realiza às 20h na Igreja dos Jerónimos. 2 a 4 de Março: Retiro em Fátima (Hotel os Três Pastorinhos), orientado pelo Revmo. Cerimoniário Eclesiástico Cav. Com. Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada. 6 de Abril: Sé Patriarcal de Lisboa: Cerimónias da Paixão do Senhor presididas pelo Senhor Grão-Prior da Grão-Prior da Lugar-Tenência de Portugal, S.E. o Cardeal D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa (15h). Sé Catedral de Braga: Celebração da Paixão do Senhor. Cerimónia litúrgica do Rito Bracarense presidida por S.E. Revma. o Senhor Arcebispo Primaz de Braga D. Jorge Ortiga (15h). Procissão do Enterro do Senhor, nas ruas de Braga (21h). 12 de Abril: Jantar-Conferência que abre o ciclo de três conferências subordinadas ao tema da Nova Evangelização da Europa. O orador convidado é S.A. o Arquiduque Miguel de Habsburgo, com o tema “Constituição da Hungria, uma pedrada no charco” (19,30h). 3 de Maio:

Missa da primeira quinta-feira do mês a celebrar pelo Revmo. Mons. José Rafael Espírito Santo, seguida de palestra subordinada ao tema “O Inferno existe?” (19h). 12 e 13 de Maio: Peregrinação a Fátima. Junho (a confirmar): Jantar-Conferência com o Revmo Pe. Duarte da Cunha, com o tema “Conselho das Conferências Episcopais Europeias – Que caminhos?” (19,30h). 7 de Junho (Corpo de Deus): Missa de primeira quinta-feira do mês a celebrar pelo Revmo. Cerimoniário Eclesiástico. O tema da palestra será “Portugal e a Eucaristia”, tendo por oradora a Dama Dra. D. Aura Miguel.

Notícia de última hora: Morreu no dia 24 de Fevereiro S.A. a Senhora Infanta Dona Maria Adelaide, Dama Grã-Cruz da nossa Ordem. A missa do 7º dia é celebrada no Mosteiro dos Jerónimos, dia 1 de Março às 20h00.