Nu no Cerrado - PerSe · 1 Índice Um sonho que não diz nada!.. O Casal Malu Santos. Walter...
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Dedicatória
Ao meu pai e a minha mãe que mesmo diante das mais
duras adversidades buscavam um resto de energia em si mesmo
e, demonstravam do jeito que deveríamos nos superar tudo
sempre.
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Índice Um sonho que não diz nada!..
O Casal
Malu Santos.
Walter Meneguetti.
O Segundo Dia.
Busca Inútil.
Desencontros.
Fazendo as coisas do meu jeito!
Encontro Singelo!
Indícios – Um dia para relembrar
Uma Tarde para Enamorar-Se!
Reconstruindo os Fatos de Tijolo a Tijolo
Historias Esquecidas.
Futuros Encontros.
Relato.
A Cidade.
Vaidade.
Vestígios.
Festa de Aniversário.
Dia de Folga.
O Cinema.
Uma Noite Inusitada.
Caçada!
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Um sonho que não diz nada, como todos os
nossos sonhos. Segunda-feira, seis de agosto de 2007, madrugada.
Walter Meneguetti sonha enquanto dorme.
Está numa estrada andando, ao lado de Tom Jobim,
o músico. Tom está de fraque e cartola. A manhã é
radiante, clara, iluminada. Sente seus pés na terra dura e
arenosa do caminho.
- Pra onde estamos indo, assim a pé?
- Pra Brasília?
- Brasília? Você já esteve lá na época da
construção.
- Sim, estive. Foi muito bom.
- Por que você está assim de fraque, cartola e eu,
assim, nu, só de sunga?
- Não sei, pergunta a Ele?
- A Ele quem?
Tom Jobim aponta pra cima. Rindo, contínua
andando.
- Vamos! Vamos! Assim nunca chegaremos.
- Por que estamos com pressa, o que vamos fazer
lá?
- Nada, não se faz nada em Brasília. Apenas se
come, bebe e toca música.
Em seguida começou a cantar um samba.
“Tristeza, por favor, vai embora...”
Walter não muito contagiado acompanha a música
sem animo. Estou viajando a pé não sei se gosto disso e,
que companhia inusitada e, insiste com as perguntas?
- Por que estou quase nu?
- Porque você se entregou aos desejos sexuais.
Não era amor. Era desejo!
- Como assim? Que absurdo. Quem disse isso?
- Foi Ele, aponta de novo para o céu.
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Walter olha para o céu enraivecido.
- Deus? Grita
- Não sei de quem você está falando, mas não é
verdade. Não foi desejo. Foi amor. Foi amor. Foi amor.
Debate-se na cama. Acorda com o despertador tocando.
Olha o despertador do celular. São cinco e quarenta e ainda está
a três horas de se levantar.
Lembrou que era segunda-feira. O trabalho, a viagem, o
aeroporto. Voltava a trabalhar em Brasília, depois de um mês de
férias no Rio de Janeiro.
- O sonho? Não entendi nada! ...fala sozinho.
Os sonhos nunca dizem nada. Que bobagem a minha.
Levanta-se e vai tomar uma chuveirada.
O casal – um homem dominador e uma mulher
em conflito. Lago Sul, Brasília, dois de agosto, quinta-feira.
O céu azul de Brasília está se tingindo de laranja e do
laranja ao vermelho. A luz cai no inicio da noite. Penteado
Júnior recebe os amigos pra jogar futebol, baralho e sinuca.
O campo de futebol é bem cuidado. Fica na mansão
construída pelo pai, o desembargador Sampaio Penteado. A
arquitetura neoclássica e jardim bem planejado dão ar de
nobreza à propriedade.
Malu, a namorada de Júnior veio, com a amiga, direto do
trabalho. Jovem de pele clara, cabelos negros; alta. O porte
elegante faz com que a moça não passe despercebida pelos
amigos de Júnior.
Malu está sempre alegre recebendo com cortesia todos os
amigos do namorado.
- Quem não quiser cerveja, tem uísque e vinho tinto
na sala de sinuca, avisa servindo os copos de cerveja.
- Júnior, preciso lhe falar sobre o condomínio,
emenda uma conversa na outra.
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Júnior está na churrasqueira falando com o
churrasqueiro, cobrando picanha mal passada.
- Agora não Malu, depois nos falamos sobre isso.
- É que eu liguei para o administrador hoje.
- Você ligou? Você ligou? Repete Júnior
visivelmente irritado.
- Sim, liguei e ele disse que quer marcar um
encontro comigo para falar sobre o terreno.
- Malu! Garota minha não liga, não encontra com
ninguém. Põe isso na sua cabeça fraca! Fala alto quase
gritando.
Os amigos que jogam baralho na mesa ao lado
param, olham assustados para o casal e entreolharam-se.
- Como? ...vou ficar sem fazer nada? São 46 mil
reais, não são dez. Eu quero o meu terreno ou meu
dinheiro de volta.
- Deixa que sexta-feira resolvo isso. Você está
proibida de ligar para o cara de novo.
- Ei! Júnior. Grita o colega. Deixa a garota cuidar
das coisas dela, comenta Ferrugem.
- Presta atenção no seu jogo, Ferrugem. Não se
meta aqui, véio! Replica Júnior
- Véio, você já ouviu falar daquele ditado que...
Atrás de um homem triste sempre tem uma mulher feliz e
muitos homens gentis?
Levanta a cerveja como se tivesse brindando com os
amigos.
- Cala boca, cara. Não vem com zombaria
comigo, não!
- Não estou zombando não, cara!
- Não ouvi falar e se você repetir isso, eu te
quebro os dentes! Grita furioso.
- Para Ferrugem! Pede Malu
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- Turma! ...vamos sair daqui. Vamos jogar futebol.
Vamos para o campo ao lado.
- É melhor, é melhor mesmo! Repete Júnior.
A turma levanta e sai, deixando o casal sozinho na
churrasqueira.
- Puxa! Júnior. Não precisa disso,...que grosseria!
Comenta Malu.
- Grosseria é você marcar encontro com homem que
gente não conhece, sem falar comigo antes.
- Eu estou falando agora, não estou?
- Malu, não brinca comigo. Já te tranquei naquele
apartamento por um final de semana inteiro. Não me custa te
trancar por um ano. Não brinca comigo! Ameaça.
Malu se intimida, sabe que o namorado é ciumento.
Toma atitudes violentas quando é contrariado. Ela aproxima
com um copo de cerveja gelada. Acaricia lhe buscando
reconciliação.
- Ta bom, amor! Então deixo pra você falar com ele
na sexta-feira, mas, você vem comigo, nem?
- Sim vou. É a primeira e última vez. Já te falei que
não era pra ir comprar o terreno, sozinha. Não podia ter me
esperado?
- Ah, querido você sempre demora tanto. Não vamos
mais brigar por isso, ok?
- Ok minha pitanguinha. É minha hora de entrar no
jogo.
Júnior afasta correndo pra substituir o colega que deixa o
campo de futebol.
- Não sei como você aguenta, comenta Celina.
- Ah, Celina, o dia que você gostar de alguém vai
ver que é assim mesmo.
- Não, existem homens mais civilizados. Júnior é
muito grosso com você. Nossa, chamar você de cabeça fraca na
frente de todo mundo, é demais.
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- Isso é de menos. Ele já fez coisas piores. Você
estava no nosso baile de formatura?
- É claro e eu me lembro, também!
- Ele quase matou o Fernando, só porque
dançamos reggae juntos.
- Isso já está ficando comum no relacionamento
de vocês.
- Celina, por que você não faz psicologia?
- Engraçadinha, não muda de assunto. Vem
vamos mergulhar um pouco.
- É vamos.
As meninas vão para a piscina.
Na piscina Malu compreende que a relação está
desgastada, mas é capaz de fazer de tudo para manter este
amor e começa a pensar em como se compensar desses
dissabores. Quem sabe uma viagem com o noivo?; Quem
sabe ser mais passiva e não tomar mais iniciativas?
- Celina, você acha que se viajo com Junior de
férias ele se melhora?
- Sinceramente, não! Creio que você deveria
gastar este dinheiro indo ao psicólogo.
- Psicólogo, por quê?
- Para melhorar a sua autoestima. Você tem que
ver que não merece esse tratamento e mudar a sua vida.
Você não precisa disso.
-Você disso isso porque não ama ninguém!
Disse isso e mergulhou, afinal não queria brigar com
a sua única amiga de toda a vida. Enquanto mergulhava
pensa em algo para mudar de assunto.
Segunda-feira, seis de agosto, sete horas da manhã.
O sol começa a subir no poente. A Avenida Green Park se
aquece. Regina se aproxima do ponto de ônibus, definido
por ela mesma. Escolhe um lugar em que possa receber a
luz do sol.
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Uma camionete cinza e verde para, uma mulher despede
do motorista com um beijo e desce. Um motoqueiro desce a rua
de mão dupla que liga a Rua Manacá à Estrada Green Park,
audaciosamente, atravessa o canteiro, passa ao lado de Regina.
Ele está tão próximo que ela sente o seu perfume, masculino e
amadeirado.
O motoqueiro está todo de preto. Ele entra no portão da
Igreja Nossa Senhora Desatadora dos Nós, aproxima de um
trabalhador da construção e pergunta alguma coisa.
O motoqueiro saca uma pistola e atira.
Silencio total.
O trabalhador cai.
O motoqueiro acelera.
Regina não consegue ouvir nada. Está atenta nos ônibus
que circulam na avenida. Não quer que o ônibus de sua empresa
lhe deixe no caminho. Será muito complicado ter que voltar e
caminhar 20 minutos para pegar o metro na Estação
Arniqueiras.
Ao passar por Regina o motoqueiro deixa cair um folheto.
Regina está assustada com a cena que viu, não ouviu nenhum
barulho, nem um estampido.
Tem apenas uma reação. Pega o folheto. Volta a olhar o
motoqueiro.
Ele segue acelerado pelo acostamento. Quando pensa em
pegar a placa, os olhos já não definem mais os números.
O ônibus chegou, não dá mais tempo, sobe para no ônibus.
Está estupefata, ofegante. Não consegue se quer dizer bom
dia. Senta, fecha os olhos tentando relembrar a cena. O coração
está acelerado. Tenta focar a atenção na respiração e nos
batimentos cardíacos. Respira lentamente.
Donizete, o motorista lhe observa pelo espelho.
Pensa:
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- Que estranho, costuma ser alegre e educada todos
os dias. Melhor ficar atento ao transito, hoje todo mundo
acordou de m al humor mesmo.
- Calma! Calma! Aconselha a si mesma
Tenta pensar no chek-list de atividades que tem no
dia. Já que não posso fazer nada no momento. Depois eu
desato este nó, pensou. Sabendo-se que sua lista de tarefas
crescia todo dia.
MALU SANTOS
Segunda-feira, seis de agosto, sete horas da manhã,
Malu chega à cabeleira. Havia marcado com Miriam desde
sábado. Estava ansiosa para mudar a cor e o corte de
cabelo.
- Bom dia!, Cheguei cedo?
- Não, acabei de chegar. Já estou preparando a sua
tinta. E como foi o final de semana?
- Complicado, passei chorando.
- Por quê? Pergunta assustada a cabeleira.
- Eu lhe falei que comprei um terreno no
Condomínio Quero-Quero, lá dos padres?
- Sim.
- Pois é, descobri que o administrador me enganou.
O terreno está dentro da área de preservação ambiental.
- Menina e, agora, ele vai te devolver o dinheiro?
- Não, veio com uma conversa que quer encontrar
comigo hoje à tarde para discutir o que fazer.
- Você vai?
- Vou, é o meu dinheiro que está em jogo.
- Você vai sozinha?
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- Falei com o meu namorado sobre o assunto. Ele ficou
furioso, mas, depois não tocou mais no assunto. Acho que
esqueceu ou pelo jeito ele não se importou tanto assim. Era só
media na frente dos amigos. Às vezes penso que se importa mais
com os amigos do que comigo.
- Vai com uma amiga, nessas horas é sempre bom ter
testemunhas. Aconselhou Miriam
-É eu vou seguir o seu conselho.
- Então, pensei que não posso cortar muito. O Junior gosta
de mulheres com cabelo comprido. O que você sugere?
Walter Meneguetti
Vôo TRP 5890, dez horas manhã. Walter chega do Rio de
Janeiro. Antes mesmo de desembarcar vai ao supermercado.
- Tem que ser hoje, segunda-feira. Amanhã tenho
que ir trabalhar.
Walter fez concurso para investigador de policia e acaba
de assumir o cargo em Brasília. A primeira vez que esteve na
cidade, no ano passado, ao chegar de carro teve a impressão de
que a cidade era uma grande fazenda organizada. Agora com um
mês de trabalho, já sabe que a cidade é uma metrópole, com
todos os problemas das grandes cidades.
- Pronto, já cheguei da capital do individualismo, da
violência, do trânsito, da poeira, do carro! Lamenta enquanto
atravessa a rua que liga o saguão do aeroporto ao
estacionamento.
- Que escolha! Será que vou apreender a gostar
dessa cidade?
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Segue para o hipermercado, faz as compras da
semana: chocolate, macarrão integral, mais e mais pacotes
de miojo e sopa instantânea, leite de soja, biscoito
integrais: de gergelim, de castanha do Pará e de castanha
de caju. Olha os produtos sobre a bancada do caixa de
supermercado. Sentiu que já melhorou a alimentação.
Não, precisa melhorar um pouco mais. Mas, o
pensamento? Não, isso ainda tinha muita pena de sim
mesmo. Mas, a mudança de cidade era um bom começo.
- Chega de vida saudável, por hoje! Coloca no
carrinho um maço de cigarros.
Precisa de uma agenda. Deixou a que tinha no
apartamento do Rio de Janeiro. Procura o jornal no
supermercado. Não tem. Aqui em Brasília, os jornais só na
banca ou com assinatura.
Pensa em ligar para o jornal para fazer a assinatura,
mas, se recorda que não tem o número. No apartamento
ainda não tem lista telefônica e nem internet. Tem uma
sensação de abandono.
- Meu Deus! Estou nu no cerrado... Sem jornal,
sem telefone, sem internet.
Ao chegar à banca de jornal pede todos os jornais do
dia. O atendente diz que na cidade tem só dois jornais
diários.
- É, já desconfiava disso!
Leva os jornais sabendo que sua tentativa de se
instruir sobre o perfil da cidade é inútil.
- É melhor ir pra delegacia e ler os boletins de
ocorrência dos últimos seis meses. Dá no mesmo. Crimes
e mais crimes.
Fecha os cadernos do jornal e vai para o chuveiro.
No meio do banho, o telefone toca, é sua mãe. Ela
quer saber se ele chegou bem de viagem.
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-Sim, cheguei depois de pegar um táxi caríssimo. Não sei
quando no Brasil vai cair a ficha que em que ter metro ligado ao
aeroporto.
Sua mãe da risada.
- Meu filho sempre o mesmo. Se estiver reclamando é
porque está bem. Desliga o telefone.
O Segundo Dia. Terça-feira, sete de agosto, manhã. Walter chega
sonolento à delegacia.
Na mesa está o último boletim de ocorrência deixado pelo
delegado.
Assunto: Caso de Morte na Capela Bom Pastor.
O detetive vai até a sala do delegado e escuta do
escriturário que o delgado viajou para um congresso de
segurança pública em Fortaleza.
Pergunta sobre os depoimentos do caso:
- Ainda não fizemos nenhuma averiguação mais seria.
Estamos esperando os dados da pericia.
- Por quê?
- O delegado Salazar não teve tempo, o caso aconteceu
ontem de manhã e a passagem dele era para as nove horas do
mesmo dia.
- E agora?
- Não sei. O caso é seu. Faz do seu jeito. Responde o
escriturário dando-lhe os ombros.
O detetive volta a observar o boletim, o endereço do local
do crime: Avenida Estrada Green Park, Jardim Green Park,
Águas Verdes. Sabe onde é e resolve ir até lá.
No local existe uma grande igreja em construção, com
proporções monumentais. Os trabalhadores da obra estão
finalizando as paredes entre a enorme estrutura de aço.
A placa ao lado indica o nome:
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Igreja Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Ao fundo
tem uma capela, bem mais tímida, Capela Bom Pastor.
Walter aproxima do ajudante de obras que está no
pátio e pergunta pelo responsável do lugar.
-Ah, o padre Gustavo. Ele não está. Chega daqui
pouquinho.
O detetive volta a olhar o boletim de ocorrências, lê
o nome da vítima: Antônio Joaquim Morse de Oliva.
-Você conheceu Antônio Joaquim de Oliva?
- Sim, senhor, era meu chefe, por quê?
- Sabe se ele tinha dívidas, inimigos?
- Não tinha não senhor. Era um homem honesto,
trabalhador, só pagava a vista.
- Como tem tanta certeza?
- Era meu pai. Quem é o senhor?
- Ah, desculpe-me. Meus pêsames, responde
Walter.
Tira a carteira do bolso e mostra ao seu interlocutor.
- Walter Meneguetti, detetive da 19ª delegacia,
responsável pelo caso do seu pai.
- E você como se chama?
- Joaquim Antônio de Oliva.
- Ah, Antônio Joaquim e Joaquim Antônio. Sua
família era bem criativa, não?
Joaquim fecha a cara e melhora a postura, como se
estivesse querendo impor respeito.
-Desculpe-me, preciso fazer algumas perguntas.
Você viu o crime?
- Todo mundo aqui viu e, o pessoal da rua
também.
- Como foi e quem foi?
- Foi um motoqueiro. Ele entrou aqui, assim que
nós chegamos, perguntou alguma coisa e atirou.
- Perguntou o quê?
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- Não sei, não estava perto. Eu vinha da cozinha da
capela. Tinha terminado o lanche. Estava longe.
A essa altura, Walter e Joaquim já estavam cercados de
todo o grupo de pedreiros, ajudantes e marceneiros. Todos
ansiosos pra falar ao mesmo tempo.
- Doutor detetive, era um motoqueiro numa moto
preta, vestido de preto, com luvas e capacete preto. Atravessou o
canteiro da avenida e entrou direto aqui. Perguntou pelo padre
Gustavo pro Antônio Joaquim. Ele respondeu que o Padre não
estava e em seguida foi fuzilado.
- Quem é você?
- Sou mestre de obras, Pedro.
Walter se apressava em anotar pra não perder nada.
Anotava no bloquinho amassado e roto de tanto uso.
- Vamos revisar,... o motoqueiro veio da avenida....
- Não, não. Veio da Rua Manacá, atravessou a avenida por
cima do canteiro.
- Mas, a avenida é movimentada. Como ele cruzou a
avenida na vertical e, os carros?
- Ah, doutor isso é comum. Os motoqueiros fazem isso
todo o dia pra cortar caminho. Eles não vão até o balão, não.
Enfatiza o mestre de obras.
- Você já viu esse motoqueiro antes?
- Não me lembro, não.
- Alguém consegue reconhecê-lo?
- Não, não é fácil não. Estava todo encoberto. Nem tirou o
capacete.
- Vocês sabem quem mais viu o crime?
-A gente toda da rua viu, responde Nivaldo.
- Mas quem? Vocês conhecem as pessoas que estavam na
rua e que viram?
- Sim, a moça que pega o ônibus da VITTI, todo dia de
manhã aí. Disse isso, a apontando para a calçada.
- Ela pega o ônibus sempre no mesmo horário.
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- Sabe o nome dela, onde mora?
- Não senhor!
Todos, em volta, fazem a negativa com a cabeça.
Walter sente que dali não sai mais nada.
- Posso ir à capela?
- Sim pode. Ela já está aberta, responde o Joaquim
O detetive olha para o relógio, são oito horas da
manhã.
- Quem abre a capela?
- O padre Gustavo.
- Mas, você disse que ele não está.
- É que ele chega às seis horas da matina, faz o
café, deixa a merenda no pranchão pra gente e sai pra
caminhar ou andar de bicicleta.
-A que horas ele volta?
- Lá pelas nove.
Walter caminha até a capela.
Ao entrar lembra que não terminou a sua trezena de
Santo Antônio. Parou na 12ª oração. Tira o livreto do
bolso e reza. Ao terminar, sente a mente quieta, a
ansiedade passou. Aproveita pra pensar alto:
- O padre parece bom e generoso.
- O crime parece vingança.
- O quê teria feito o padre, para ter um inimigo
tão implacável.
- Joaquim, estará falando a verdade?
- O pai era mesmo honesto?
- Antônio Joaquim, teria sido vítima de crime
passional?
- Vou ter que investigar a vida dos dois ou até de
todos.
Walter já não conjetura e resolve não esperar o
padre. Vai até a diocese da Paróquia Nossa Senhora
Desatadora dos Nós. Quer levantar a ficha do pároco.