NOVEMBRO 2010

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2010 - ANO XIII - N o 166 O ESTAFETA Reprodução O último dia 31 de outubro será uma data que ficará marcada na memória dos brasileiros. Pela primeira vez na história do país, uma mulher foi eleita Presidente da República. Quando tomar posse, no primeiro dia de 2011, Dilma Roussef se tornará líder do maior país da América Latina: uma nação em pleno desenvol- vimento político e econômico. Em seu aguardado primeiro discurso como presidente eleita, Dilma, após agra- decer a todos os brasileiros e ressaltar o avanço democrático do país, falou sobre a importância da mulher: “Registro aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda a nossa sociedade”. Prometeu que em seu governo não haverá compromisso com o erro, o desvio e o mal feito. Comprometeu-se com uma política econômica responsável, de combate à inflação e seriedade nas contas públicas. O resultado dessa eleição é histórico não só pelo fato de que o Brasil elegeu para o cargo mais importante de nossa demo- cracia uma mulher, mas também porque se trata da maior vitória feminina em um sistema político ainda amplamente domi- nado pelos homens. A expectativa da maioria do eleitorado é que uma mulher à frente do governo seja mais sensível às demandas sociais e se volte mais atentamente às políticas de saúde, educação, às questões da família e à erradicação da pobreza. Outro compromisso registrado por Dilma Roussef em seu pronunciamento foi o de “valorizar a democracia em toda a sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social”. Reafirmou que zelará pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa e que em seu governo será rígida na defesa do interesse público em todos os órgãos de controle e de fiscalização, que trabalharão com seu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos. A eleição da primeira mulher presidente do país abre caminho para ampliar a “onda feminina” na política. Entre os desafios de Dilma Roussef estão o de enfrentar a resistência e o preconceito por parte dos homens e o de conquistar avanços pelos quais as brasileiras vêm lutando ao longo das últimas décadas. A presença de uma mulher na Presidência muda toda a sim- bologia do poder: faz com que meninas possam vislumbrar a possibilidade de se tornar uma presidente algum dia. Num trecho de seu discurso, para- fraseando o presidente Barack Obama, afirmou: “Sim, a mulher pode”. Bem aceito pela sociedade, esse primeiro pronun- ciamento da nova presidente encheu de entusiasmo e expectativa todos que a ouviram. Sim, a mulher pode! Após uma campanha morna, pola- rizada entre dois candidatos, em que se perdeu tempo com discussões áridas que não contribuíram para o amadu- recimento político, nem para o esclare- cimento do eleitor, elegeu-se Dilma Roussef. Ela será a primeira brasileira que conduzirá o governo da nação nos próximos quatro anos. No dia 1º de janeiro, completar-se-á o processo sucessório, quando Dilma Roussef receberá a faixa presidencial. Fechadas as urnas e contados os votos, as paixões causadas pelos embates eleitorais devem ser esquecidas e os ressentimentos precisam ser apagados para que situação e oposição possam olhar para os interesses nacionais com a consciência de que chegou a hora do bom combate, já que temos pela frente uma nação esperançosa quanto ao futuro. O que mobiliza as pessoas não são os compromissos que assumem entre si, mas os objetivos comuns que abraçam. O melhor antídoto para as rivalidades estéreis é o comprometimento com causas amplas que pairem acima das desavenças ou tendências ideológicas de cada um. A causa de todos é o Brasil. Mais especificamente, nossa causa é a construção de um país competitivo internacionalmente e capaz de manter um crescimento que se traduza em melhoria da qualidade de vida da popu- lação, com o fim dos desníveis sociais. Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Para reverter essa humilhante situação, reduzindo as desigualdades sociais, é necessário proporcionar acesso à educação de qualidade a todos os brasileiros. O Brasil é rico, o que nos orgulha, mas não é justo, o que nos envergonha. Precisa- mos unir forças e trabalhar para reverter essa situação. O tamanho de nossos sonhos e de nossas aspirações deve ser a medida de nosso engajamento e de nossa disposição de trilhar o caminho certo. A eleição da primeira mulher presidente do país abre caminho para ampliar a “onda feminina” na política. Entre os desafios de Dilma Roussef estão o de enfrentar a resistência e o preconceito por parte dos homens e conquistar avanços pelos quais as brasileiras vêm lutando.

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ANO XIII - EDIÇÃO 166

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2010 - ANO XIII - No 166

O ESTAFETAReprodução

O último dia 31 de outubro será umadata que ficará marcada na memória dosbrasileiros. Pela primeira vez na história dopaís, uma mulher foi eleita Presidente daRepública. Quando tomar posse, noprimeiro dia de 2011, Dilma Roussef setornará líder do maior país da AméricaLatina: uma nação em pleno desenvol-vimento político e econômico.

Em seu aguardado primeiro discursocomo presidente eleita, Dilma, após agra-decer a todos os brasileiros e ressaltar oavanço democrático do país, falou sobre aimportância da mulher: “Registro aqui meuprimeiro compromisso após a eleição: honraras mulheres brasileiras, para que este fato,até hoje inédito, se transforme num eventonatural. E que ele possa se repetir e se ampliarnas empresas, nas instituições civis, nasentidades representativas de toda a nossasociedade”. Prometeu que em seu governonão haverá compromisso com o erro, odesvio e o mal feito. Comprometeu-se comuma política econômica responsável, decombate à inflação e seriedade nas contaspúblicas.

O resultado dessa eleição é históriconão só pelo fato de que o Brasil elegeu parao cargo mais importante de nossa demo-cracia uma mulher, mas também porque setrata da maior vitória feminina em umsistema político ainda amplamente domi-nado pelos homens.

A expectativa da maioria do eleitorado éque uma mulher à frente do governo sejamais sensível às demandas sociais e se volte

mais atentamente às políticas de saúde,educação, às questões da família e àerradicação da pobreza.

Outro compromisso registrado por DilmaRoussef em seu pronunciamento foi o de“valorizar a democracia em toda a suadimensão, desde o direito de opinião eexpressão até os direitos essenciais daalimentação, do emprego e da renda, damoradia digna e da paz social”. Reafirmouque zelará pela mais ampla e irrestritaliberdade de imprensa e que em seu governoserá rígida na defesa do interesse públicoem todos os órgãos de controle e defiscalização, que trabalharão com seurespaldo, sem jamais perseguir adversáriosou proteger amigos.

A eleição da primeira mulher presidentedo país abre caminho para ampliar a “ondafeminina” na política. Entre os desafios deDilma Roussef estão o de enfrentar aresistência e o preconceito por parte doshomens e o de conquistar avanços pelosquais as brasileiras vêm lutando ao longodas últimas décadas. A presença de umamulher na Presidência muda toda a sim-bologia do poder: faz com que meninaspossam vislumbrar a possibilidade de setornar uma presidente algum dia.

Num trecho de seu discurso, para-fraseando o presidente Barack Obama,afirmou: “Sim, a mulher pode”. Bem aceitopela sociedade, esse primeiro pronun-ciamento da nova presidente encheu deentusiasmo e expectativa todos que aouviram.

Sim, a mulher pode!

Após uma campanha morna, pola-rizada entre dois candidatos, em que seperdeu tempo com discussões áridasque não contribuíram para o amadu-recimento político, nem para o esclare-cimento do eleitor, elegeu-se DilmaRoussef. Ela será a primeira brasileiraque conduzirá o governo da nação nospróximos quatro anos.

No dia 1º de janeiro, completar-se-áo processo sucessório, quando DilmaRoussef receberá a faixa presidencial.Fechadas as urnas e contados os votos,as paixões causadas pelos embateseleitorais devem ser esquecidas e osressentimentos precisam ser apagadospara que situação e oposição possamolhar para os interesses nacionais coma consciência de que chegou a hora dobom combate, já que temos pela frenteuma nação esperançosa quanto aofuturo.

O que mobiliza as pessoas não sãoos compromissos que assumem entre si,mas os objetivos comuns que abraçam.O melhor antídoto para as rivalidadesestéreis é o comprometimento comcausas amplas que pairem acima dasdesavenças ou tendências ideológicasde cada um. A causa de todos é o Brasil.Mais especificamente, nossa causa é aconstrução de um país competitivointernacionalmente e capaz de manterum crescimento que se traduza emmelhoria da qualidade de vida da popu-lação, com o fim dos desníveis sociais.Aqui temos uma das piores distribuiçõesde renda do planeta. Para reverter essahumilhante situação, reduzindo asdesigualdades sociais, é necessárioproporcionar acesso à educação dequalidade a todos os brasileiros. O Brasilé rico, o que nos orgulha, mas não éjusto, o que nos envergonha. Precisa-mos unir forças e trabalhar para reverteressa situação.

O tamanho de nossos sonhos e denossas aspirações deve ser a medidade nosso engajamento e de nossadisposição de trilhar o caminho certo.

A eleição da primeira mulher presidente do país abre caminho para ampliar a “onda feminina” napolítica. Entre os desafios de Dilma Roussef estão o de enfrentar a resistência e o preconceito porparte dos homens e conquistar avanços pelos quais as brasileiras vêm lutando.

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Página 2 Piquete, outubro de 2010

Imagem - Memória Fotos arquivo Pro-Memória

“Governar é abrir estradas”. Atribuídaao ex-presidente Washington Luiz, essafrase visava a expandir a malha rodoviáriacom vistas ao crescimento e interiorizaçãodo país.

No decurso da história, os modos detraçar, construir e conservar estradassofreram transformações expressivasfornecendo provas da engenhosidadehumana. Hoje, com tecnologias modernas,grandes máquinas manobradas por um sóhomem executam tarefas que até há bempouco tempo eram feitas por um batalhãode operários.

Historiando a origem das primitivasestradas que cortavam o Vale do Paraíba –muitas das quais deram origem a modernasrodovias –, constatamos que a maioria foiaberta seguindo antigas trilhas indígenas.Sem nenhum traçado, acompanhavam assinuosidades do terreno procurandosempre os vales e as gargantas. Eramcaminhos simplesmente indicados napaisagem, marcados pela frequência dotrânsito de pessoas e animais. Como nãohavia consolidação do leito do terrenodestinado ao tráfego, nem valetas lateraisou cortes para desviar as águas daschuvas, essas estradas estavam sempre emprecário estado, necessitando de ma-nutenção.

Piquete surgiu e cresceu às margens deum desses antigos caminhos que cortava aMantiqueira. Antes da chegada do asfalto,percorrê-lo era uma aventura perigosa,

principalmente no trecho da serra. As queixase reclamos de tropeiros e transeuntes eramconstantes. Para estes, a viagem era umaaventura, mais ainda nos tempos daschuvas. Desde o século 19, as Câmarasmunicipais de Lorena e Itajubá cobravam dosgovernos provinciais recursos para suamanutenção. Quase toda a produção do Sulde Minas escoava pela Mantiqueira atravésdela, de modo que era crescente o númerode tropas e cargueiros que a percorriam.

Com a chegada dos primeiros auto-móveis no início dos século 20, a estradaficou em estado calamitoso. Nas chuvas, oscarros atolavam no barro ou patinavamdesgovernados, embora com pneus reves-tidos de correntes. Na década de 20, osgovernos de São Paulo e Minas Geraispleiteavam a construção de uma nova emoderna estrada. Em meados de 1929 foramdivulgadas notícias de que, por iniciativade Júlio Prestes, então Presidente de SãoPaulo, e dos deputados mineiros Theo-domiro Carneiro Santiago e José Brás PereiraGomes, estava certa a construção da rodoviaLorena – Itajubá. Os traçados e estudosforam feitos pelo engenheiro Luís Goulartde Azevedo e os trabalhos iniciados em 1931,a partir de Itajubá, pelo 4º Batalhão deEngenharia de Combate. Em 1932, durante aRevolução Constitucionalista, as obrasforam interrompidas e tropas federaisocuparam trechos já preparados. Somenteem 1934 foram reiniciadas. Era na Manti-queira que os operários encontravam

maiores dificuldades. Para o trecho de serraem Piquete foram contratadas centenas dehomens, apelidados “arigós”, de diferentesempreiteiras.

A falta de maquinaria e a dificuldade doterreno exigiram que os trabalhos fossemfeitos com ferramentas simples – enxadas,alviões ou enxadões, picaretas, alavancas,bimbarras. Blocos de pedras foram remo-vidos com cunhas e pólvora. Os grandesauxiliares dos homens foram os muares:centenas de animais trabalhavam retirandoterra e pedras das frentes de trabalho. É fatoconhecido que dois burros bem manejadossão potencialmente capazes de fazer otrabalho de um trator de 50HP. Enquanto esteúltimo tem alto custo, um burro ou mula,mansos, saudáveis e treinados em puxarcarreto, têm preço muito menor. Com melhoradaptação e mais agilidade que o trator emterrenos de topografia montanhosa, o burrodispensa diesel, pneus, oficinas, peças dereposição e mão-de-obra especializada, queé o tratorista. Tudo isso com um pequenoconsumo diário de capim e porções de milhoe durante uma vida útil de vinte anos oumais, se bem tratado. A tração animal naabertura da rodovia Lorena – Itajubá foi bemutilizada. Muitos se recordam de como osanimais eram bem adestrados. Depois depouco tempo de treinamento e com ascarroças cheias, iam até o local onde pedrase terra eram despejadas. Eram, diariamente,centenas de viagens. Assim foi vencido otrecho da Mantiqueira.

O trabalho das mulas na abertura da rodovia Lorena-Itajubá

Os grandes auxiliares dos homens na abertura da rodovia Lorena-Itajubá foram os muares: centenas de animais trabalhavam retirando terra e pedras dasfrentes de trabalho. Com melhor adaptação e mais agilidade que o trator em terrenos de topografia montanhosa, o burro dispensa diesel, pneus, oficinas,peças de reposição e mão-de-obra especializada, que é o tratorista. Na foto, do final da década de 30, grupo de trabalhadores no trecho de serra, em Piquete.

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, novembro de 2010

Cida Loura

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Assim é conhecida esta antiga moradorada Vila Célia, cujo nome no registro civilconsta apenas como Maria Aparecida. CidaLoura é guardiã de muitas estórias e deaventuras e desventuras desse bairro.

Filha de Nourival Nogueira Barbosa eMaria José da Costa, nasceu no Itabaquarade Cima, no sopé do Meia-Lua, em 13 demaio de 1923. Ela e os oito irmãos foramcriados juntos com o avô materno, Lindolfoda Costa Manso, cujos filhos, à medida quese casavam, ganhavam uma porção deterras e passavam a cultivar suas roças.Nas décadas de 20 e 30 do século 20, erammuitas as famílias no Meia-Lua – todosprodutores rurais. Dona Cida se recordados Braga, Machado, Dimas, Lúcio,Guimarães, Pelúcio...

O avô, Lindolfo da Costa Manso, moravaem uma ampla casa, toda assoalhada. Contaque havia engenho, alambique, monjolo ecasa de farinha. Os produtos eram levadospara a cidade em tropas de mulas: rapadura,aguardente, farinha, canjiquinha, fubágrosso, fubá fino... Seu pai plantava café,milho, cana, arroz. Criava, ainda, animais.Todos da casa ajudavam. Recorda-se da mãee da avó areando um imenso tacho de cobrecom cinza e limão rosa, para a torrefação dafarinha. Em 1932, durante o movimentorevolucionário, soldados passavam pelapropriedade da família, cruzando a serra. Poressa época, foi criada a escola da Bela Vista.A classe que ela e os irmãos frequentaramera mista e com 31 alunos. Os professoresvinham de Guaratinguetá e ficavam na “casado tio Zé Costa”. Com boa memória, citaquase todos os colegas da escola: Benedito,Maria e José Costa Manso, Alziro, Luiz eJosé Serafim Machado, Benedito e AnaLúcio, Rosa Custódio... “Os alunos já eramcrescidos... Todos com 10, 12 anos”. Aescola funcionou por apenas 3 anos.

Ainda dos anos 30, fala sobre as obrasde abertura da rodovia Lorena – Itajubá. Citaas diversas companhias construtoras, osacampamentos na Serra em que eram

alojados os operários, chamados “arigós”,vindos de lugares distantes. “Tempos bonsaqueles... Éramos felizes e não sabíamos”.

Com 19 anos, a família mudou-se para acidade. O pai veio trabalhar nas oficinas deéter, na FPV. Em 1945, mudou-se para a VilaCélia. Naquela época, Christiano Rosaestava formando o bairro. Vendia lotes oucasas prontas. Havia um carnê e, a cada mês,à medida que se fazia o pagamento, umafolha era destacada, para alegria do com-prador. “Os moradores da Vila Célia cons-tituíam uma grande família... Todos, em certomomento, tornavam-se compadres...”. DonaCida cita os antigos vizinhos: Dito Veloso,Cantídio Cândido, Benedito Barra, Zé Pires,Dorico, José China, Manoel Romão, ValterRibeiro Mendes... “Era movimentado essebairro operário... Assisti ao seu crescimento.O ribeirão Araçá era limpo; não haviacalçamento e a água era buscada numamina”. Lembra-se do rancho da Maria daSilva, da capelinha, das festas de São José e

de duas festas juninaspromovidas pelos mora-dores: uma próximo àMina e outra no MonteCastelo. Diz Dona Cida:“Nos fins de semana,andava por Piquete in-teiro... Tinha muitosamigos... Íamos ao CineGlória, subíamos detrem até a estação daEstrela, visitávamos oJardim Zoológico... Erabom demais...”

Solteira, DonaCida mora com a irmãmais velha na mesmacasa comprada pelospais, preservando asdoces lembranças do

“Piquete de seus tempos.

Notas da Cidade

Consciência NegraO Legislativo piquetense promoverá, no

dia 26 de novembro, às 19h30min, no Salãode Atividades Prefeito Luiz Vieira Soares,uma Sessão Solene em homenagem ao Diada Consciência Negra. Na oportunidade,serão homenageadas as senhoras ElaineRibeiro de Faria, Lídia Paulino de Castro,Neuza Aparecida da Silva, Vanessa GeorginaMacedo de Oliveira e também os senhoresGetúlio Mariano, José Ribeiro, Marcos SávioVenâncio, Paulo Alexandrino de Barros ePedro Vicente da Silva.

Na ocasião, fará pronunciamento alusivoà data o subtenente PM Luiz Carlos dosSantos. A cerimônia contará, ainda, comapresentação do grupo Jongo de Piquete.

Ponto de Cultura – Jongo de PiqueteNa noite do dia 19 de novembro, véspera

do Dia da Consciência Negra, o Grupo deJongo de Piquete se reuniu no clube Terranacom representantes dos grupos de capoeira– Negro de Sinhá e Senzala, de Piquete, eCordão de Ouro, de Lorena – numa con-corrida Roda de Conversa. Um dos temasdiscutidos pelos participantes foi a impor-tância do Jongo e da Capoeira na atuaçãopreventiva de jovens contra o uso dedrogas. Trazer jovens para participar doGrupo de Jongo, interagindo com os jon-gueiros ou jogar capoeira é uma maneira deocupá-los, bem como trabalhar com açõesafirmativas. Após a Roda de Conversa, osparticipantes dançaram Jongo e jogaramCapoeira; no intervalo, foi servida saborosacanjiquinha.

À meia-noite, nos primeiros minutos doDia da Consciência Negra, saíram em cortejo,cantando, dançando e soltando foguetesaté a Praça Duque de Caxias, atraindo aatenção de muitas pessoas. Na Praça, foiformada uma grande roda de jongo, em quetodos puderam se confraternizar.

Vila Célia na década de 50.

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O ESTAFETA Piquete, novembro de 2010Página 4

O verdadeiro Piquete ali está, da gentesimples que acredita na força da fé.

Devotos convictos do Anjo padroeiroprestam-lhe homenagem cada dia 29 do mêscomparecendo à missa sempre celebrada àtarde, e esperando as bênçãos com aaspersão da água benta. Levam seus“santinhos” (imagens), roupas, chaves edemais objetos de devoção ou culto parabenzimento.

Comportam-se com muito empenhopresentes à cerimônia e dividem os espaçosda nave, já pequenos para a assistência quesempre é numerosa.

Essa manifestação religiosa foi adotadanos anos mais recentes. Antes era apenas anovena e o dia da festa, com missa eprocissão, a quermesse, e pronto. Mas, semdúvida, eventos de destacada aglutinaçãosocial.

Para a missa votiva mensal gente vemde longe, das vilas, dos bairros, dosmorros, às vezes das cidades vizinhas.Houve época em que se rezavam oraçõespróprias dos exorcismos pela invocaçãodos santos anjos, especialmente Miguel,o defensor das hostes celestes contra osanjos decaídos transformados em Satanáse suas coortes.

Afinal, hierarquias angelicais de corosde querubins, serafins, tronos, dominaçõese potestades se postam vigilantes nafunção intermediária entre Deus e oshomens, estando os arcanjos, em suarepresentatividade, liderados por Miguel,o que combateu o arcanjo da Luz, Lúcifer,insidioso na busca do poder. Assim,principalmente, alinham-se nessa defesa.Invoca-se São Miguel e seu lema da espadachamejante: Quem como Deus? O coralinflama as vozes. A missa flui. A homilia édesenvolvida. O final, regozijado pelasbênçãos, e a feliz volta para casa. Não semter tempo de cumprimentar os amigos,trocar ideias e fazer comentários. Assuntosnão faltam.

É o momento dos piquetenses natos. Opovo aproveita para alargar o espaço socialexpandindo-se pelas calçadas lateraisexternas. Afinal, é uma tradição que vemsendo mantida e deve ser alimentada porum empenho valioso, porque pode ser vistacomo força coesiva da comunidade. Maiorainda se aproveitado o momento paradifundir educação de base comunitária,orientação de modo geral e, apesar do horáriovespertino das 15 horas em dias de trabalho,promover orientação de jovens face às suas

A Missa Votiva de São MiguelDóli de Castro Ferreira

famílias, principalmente quando a difusãode costumes perniciosos ganha guaridaentre os carentes de atenção, afeto eprocessos ocupacionais. O semblantesimples e até humilde de muitos não escondealgumas mágoas, carências diversas e oapelo silencioso e disfarçado de busca deajuda. Para tanto, São Miguel é invocado, ea figura triunfante e guerreira do Anjoprotetor pode ser um dos elos finais de umacorrente de sobrevida encadeada de lutas,derrotas e vitórias.

Para isso lá está o povo. E são sempreos mais simples devotos os que lá seencontram. O exercício espiritual é realizadocom dedicação quando é proposto umintervalo nas ocupações domésticas, mo-mento esse principalmente iluminado poruma busca do supremo bem e a promessade um poderoso prêmio. Entretanto, parece-me que, atualmente, escassearam um poucoas pessoas. Escassearão as esperanças?

Não precipitemos conclusões. Um fatoé verdadeiro: os fiéis da missa votiva a SãoMiguel têm posturas diferentes dos quepraticam frequência aos atos das missasdominicais e dos dias comuns. É a fé que osanima acima de tudo. Refletida também noscumprimentos finais, antes da dispersão.

O Censo 2010 contabilizou até 31 deoutubro deste ano 185.712.073 residentesno país, incluindo brasileiros e estran-geiros. A publicação foi divulgada dia 4 denovembro, no Diário Oficial da União. Ototal de moradores do Brasil poderá sofreralterações porque as Prefeituras têm até odia 24 de novembro para eventuais contes-tações que serão analisadas pelo IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística.

A coleta de dados para este Censo foiiniciada em 1º de agosto. De acordo com oIBGE, o Censo é a única pesquisa que visitatodos os domicílios do país para traçar um

perfil abrangente da população. Os resul-tados são repassados ao Tribunal deContas da União (TCU) e servem deparâmetro para repasses de verbas federaisàs cidades. A partir das estimativaspopulacionais, são definidas as cotas doFundo de Participação dos Estados e doFundo de Participação dos Municípios,segundo o Instituto.

Dados preliminares deste Censo apontamcrescimento de 11% na região do Vale doParaíba em comparação com os dados doCenso de 2000. O aumento foi acima dasmédias estadual e nacional.

No Vale Histórico, estão as cidades que

mais encolheram. Em Piquete, a populaçãodiminuiu cerca de 7,2% desde o último Censo,há 10 anos. Em 2000, o município possuía15.200 habitantes; na nova pesquisacontaram-se 14.092, o que significa umaredução de 1.108 habitantes. De acordo comos dados, outras cidades do Vale do Paraíbatambém tiveram redução no número dehabitantes, como é o caso de Arapeí,Lagoinha, Paraibuna, Natividade da Serra eSão Luis do Paraitinga. Os dados indicamque a principal causa disso foi a migraçãopara outras cidades da região. O resultadooficial do Censo 2010 deve ser divulgadono final do mês de novembro.

IBGE divulga dados do Censo 2010

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O ESTAFETA Página 5Piquete, novembro de 2010

O Brasil é um dos países mais ricos domundo. Somos a 9ª economia do planeta.No entanto, somos um país extremamenteinjusto e desigual, com muitos pobres.

A desigualdade encontra-se na origemda pobreza e para combatê-la torna-seimperativo um projeto social que vença odesafio de combinar democracia comeficiência econômica e justiça social. Adesigualdade está presente em todos ossetores da sociedade. Vivemos tão acos-tumados à pobreza, à falta de emprego, deoportunidades, de educação com qualidade,que, muitas vezes, não nos damos conta dasleis que garantem todos esses bens àpopulação. É preciso fazer cumprir as leisdos direitos dos cidadãos. Para isso énecessário acabar com as diferenças sociais,tão marcantes em nosso país. Faz-senecessária a implantação de políticaspúblicas que viabilizem esses direitos, pormeio da educação de qualidade e condiçõesde trabalho a todo brasileiro em idadeprodutiva. A sociedade moderna demandauma ação de permanente diálogo. Devemosbuscar a transformação nas ações deconsenso. Todos somos responsáveis pelaconstrução de um novo mundo. Pararesultados reais, devemos respeitar a vida eas diferenças que marcam os indivíduos. Épreciso que a sociedade lute, para que seusdireitos sejam estabelecidos, e exija maisresponsabilidade social de nossos repre-sentantes políticos. Investir na educação fazcom o país melhore em muitos aspectos.Além de formar pessoas melhores, maiscríticas e que saberão correr atrás de seusdireitos.

A educação é a base de um país. Quantomais profissionais qualificados nas diversasáreas de atuação, mais o país cresce.

Educação para odesenvolvimento

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“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

Está sendo restaurada em Salvador,

Bahia, a Igreja de Nossa Senhora do

Rosário dos Homens Pretos.Construída pelos escravos cristãos, em

suas horas de descanso, para abrigar a sua

Irmandade, a construção revela obras degrande valor artístico. Obedecendo a

todos os cuidados que exige um trabalho

desta natureza, espera-se que chegue aosolhos no público na comemoração de seu

terceiro centenário.

O Padre Antônio Vieira, que váriasvezes dirigiu seus sermões à Irmandade

de Nossa Senhora do Rosário dos Homens

Pretos, dizia não entender a existência detrês irmandades, já que a Virgem do

Rosário era uma só e mãe de todos.

Pronunciou-se Vieira:“Compara-se a Senhora à aurora, à lua

e ao sol. Por quê? Porque igualmente como

Mãe, e como a filhos e irmãos, abraça comseu amor os brancos, os pretos e os

pardos; e alumia com sua luz todas estas

diferenças de cores: como sol aos brancos,que são o dia; como lua aos pretos, que

são a noite; e como aurora aos pardos, que

são os crepúsculos”.Mais estranheza assaltava o pregador:

os pardos – apartaram-se e deram à sua

Irmandade a denominação Guadalupe,lembrando a aparição da Virgem Maria a

um índio no México – “pois os pardos se

quiseram antes distinguir de ambas, e comtanta diferença que até o apelido de Nossa

Senhora trocaram, e deixaram o do Rosário,

contanto que o rezem, como os outrosdevotos dele, a soberana Virgem, que

invocada de qualquer nome é a mesma, se

dará por satisfeita de sua devoção”.Se o artista Vieira não entende a

separação das cores, o cientista Darcy

Ribeiro, antropólogo, vai mais longe. Dizque somos um povo novo, que agrega as

características do branco, do indígena e

do preto.Do branco o povo brasileiro recebeu a

tecnologia européia; do negro, a aguçada

espiritualidade, que carrega na tradiçãooral todos os mistérios dos ancestrais; e

do índio, o modelo da arte de conviver –

pergunte a um xavante quem é (ou quemfoi) o índio mais bonito ou o mais forte da

aldeia e ele responderá: “todos os xavantes

são bonitos; todos os xavantes sãofortes”.

Ciência e Consciência da Cor

Somos um povo mestiço, enriquecido

pelas peculiaridades culturais de povos

que se irmanaram no Novo Continente. Osasiáticos, a cor amarela, que se juntou a

partir do século dezenove, vieram dar os

últimos retoques na feição do povo novo,que, pouco a pouco, vai aprendendo que

o respeito tem mão-dupla – é preciso

respeitar para ser respeitado – e que asleis que vigoram no país podem aparar

quaisquer arestas que venham a dificultar

a convivência dos diferentes.Tem grande alcance a comemoração do

dia da Consciência Negra.

O IBGE, Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística, reservou para os

nativos da América a denominação da cor

que os distingue – a cor indígena (háquem os chame de povos vermelhos).

Os asiáticos (japoneses, chineses,

coreanos) levam a cor que sempre lhes foiatribuída – a amarela.

Os demais brasileiros, mestiços em sua

maioria, se identificam pela tonalidade desua pele – são brancos, pardos ou pretos.

O Brasil é conhecido pela sua natureza

biodiversa. Sua população espelha essabiodiversidade. Aqui, natural é ser di-

ferente. Ninguém pode reclamar de

monotonia na paisagem, nem mesmo napaisagem humana.

Só que é preciso ser diferente sem ser

desigual.Vamos aperfeiçoar nossa democracia.

Vamos buscar no nosso íntimo o desenho

de nossos valores negros, pardos, amare-los, brancos, indígenas ou plurívocos.

Alegremo-nos com nossa condição de

povo novo, sem preconceito, sem vio-lência, sem ambição de poder.

O Brasil não precisa ser potência, não

precisa estar entre os cinco, sete ou oito.Não precisa tomar assento definitivo em

conselhos internacionais.

Precisa estar livre das amarras dasambições para que possa votar com

liberdade e isenção.

Vamos estabelecer uma lista dosdireitos mínimos que não podem ser

negados a nenhum brasileiro. E vamos

acusar e punir os corruptos.A nossa irmandade não pode ficar

dividida.

Zumbi e a Virgem do Rosário dirão:Amém.

Abigayl Lea da Silva

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O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, novembro de 2010

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroSujeira pública...

Pedaços de vida

Dos meus tempos de menino guardoinesquecíveis lembranças do fogão a lenhaque havia na cozinha de casa, à sua volta afigura incansável de mamãe.

Hoje daria um caminhão carregado deouro para voltar àqueles tempos, para queeu pudesse ao menos acender o fogo paraela.

Às vezes, levantava-me cedo e a sur-preendia com a cabeça dentro da boca dofogão soprando um tiquinho de brasa emum dos gravetos... Ao notar minha presença,ela se recompunha, passava as mãos nosolhos para enxugar aquela aguinha que saíadeles devido à fumaça e me falava:

– Filho, acho que a lenha pousou norelento.

Assim que o fogo acendia, a chaleiracom água era a primeira a ser levada para afeitura do café. Aí começava a rotina de umdia que terminaria somente lá pelas 22h.Logo vinha o almoço, o café da tarde, o jantar,e, antes de dormir, sempre havia lanche combiscoitos de polvilho, sonhos, pipoca ouaté mesmo bolinhos de fubá.

Eu gostava de ficar sentado na taipa meaquecendo e apreciando as guloseimasserem fritas ou cozidas. Quando o fogodiminuía, eu era o encarregado de avivá-lochegando-lhe lenha ou revirando as brasasque se encontravam quase apagadas.

Mamãe, de avental branquinho e lim-pinho, gostava de servir a cada um à mesa.Primeiramente servia ao chefe da casa.Depois, um por um dos seis filhos, come-çando pelos mais velhos. Eu nunca aproveieste método por ser o caçula...

No inverno, a cozinha era aquecida pelofogo que permanecia sempre aceso. Asreuniões familiares acaloradas aconteciamà sua volta. Beliscando alguma guloseima,os casos eram discutidos, os pedaços devida de cada um dos filhos eram cobrados:se necessário, havia correções de atitudes.Todos, porém, com direito a resposta.

Quando, pela primeira vez se acendeunaquela cozinha uma boca de um fogão agás, não achei nada moderno. Tinhaacabado de perder meu assento na taipaavermelhada do fogão. A cozinha ficou maisfria, sem graça, vazia. As reuniões não maisse sucederam. Tudo ficou mais diferente.Até a comida empobreceu. A mamãe apro-vou o novo fogão, por ser prático, limpo erápido na feitura das iguarias, e também porterem seus olhos deixado de escorrer aquelaaguinha ao acendê-lo.

Possuo uma capacidade incrível paraabsorver problemas alheios e tentarequacioná-los sem que me exijam isso.Parece ser patológica essa disposição.

Uma distinta senhora, residente em umadistinta casa, num distinto bairro arborizado,cercada por distintos vizinhos, contou-mesobre a situação vulgaríssima em que seencontra. Um dos moradores adjacentes éproprietário de um cachorrão tamanhofamília. Grande cachorro de um alto dono.Pois bem... Diariamente, em hora certa, ele –o dono – sai com seu enorme dinamarquêspara que este se movimente, erga as pernasnos postes para não perder a herançacachorral, e, também, se desfaça na rua, poiso quintal do homem é pequeno e cimentado.O bicho já está condicionado a essasexcursões. O xix da questão é que o danadoachou por bem considerar como seu WCparticular justamente o pé da árvore que ficana calçada da distinta casa da distintasenhora. Saibam que é mais de quilo de cadavez... Todo santo dia lá fica aquele monte deborra cheirando mal, para que ela o lave,com os dedos tampando o nariz. Verdadeiracachorrada!

O conflito ficou em minha cabeça. Elapoderia reclamar para a Prefeitura, pensei...Mandaria um ofício delatando o caso.Imaginei esse escrito formal para maiorênfase... Lembrei-me, porém, de que deleconsta uma sinopse da matéria, no“Assunto:”. Como poderia dizer em duas outrês palavras o resumo do problema, queseria quase um título para a reclamação:“Defecação Canina em Lugar Impróprio”?;“Evacuação Indevida”?; “Canis FamiliarisPorcum”?. Creio que o cara da repartiçãoiria considerar que estavam tirando sarrocom ele e até uma multa poderia pintar pordesrespeito a funcionário cônscio. “SujeiraPública”? Pensaria, evidentemente, em ummonte, mas de outras coisas, menos dodesprendido pelo não tão distinto cão.Ofício, realmente, vai ser uma barra!

Um outra dúvida veio como refletida:que órgão da administração pública cuidadessa problemática? Não faço ideia... Paraque se proibissem cães de se esvaziarem

onde lhes desse vontade, deveriam existirbanheiros públicos para a raça, o que nãoexiste. Decretar alguma lei obstando talnecessidade biológica em via urbana paraos cachorros? Difícil seria fazê-la chegar aoconhecimento dos animais... Para vira-lataou rasga-saco, que multa resolveria? É... Ocaminho seguido não me levou a termoalgum.

Olho por olho, dente por dente: umaopção. A madame que fizesse o mesmo!Calma aí... Ela não... Um cachorro per-tencente a ela. Para isso, teria primeiro quecomprar um, criá-lo, adestrá-lo, condicioná-lo, e ter tempo (o que evidentemente nãotem) para passear com ele em frente à casadaquele que lhe suja a calçada. O grandeentrave é que seu horário de serviço éirregular, o que deixaria seu cachorro numasituação um tanto instável para suasnecessidades. Outro furo em minhas saídasconcludentes...

E cortar a árvore? Tiraria o maiorescárnio com a fuça do cachorrão quandoeste chegasse para sua defecação e nãoencontrasse a árvore... Mas, e se a pre-ferência do animal fosse pelo local e nãopela sombra dele? Restaria a multa daPrefeitura para endoidar ministro... de Deus!Há que se convir, ainda, que livrar a rua deum majestoso flamboyant por tal motivo édose para pôr grupo de ecólogos em vigília!Fora com esse pensamento...

Então, só resta matar o cachorro! Maspara tanto, teria que conseguir uma bazuca,pois o bicho parece um tanque! Qual a reaçãodo dono? E da Sociedade Protetora dosAnimais? Afff!...

Taí... Tô com o raio do programa doproblema sem solução... Se fosse consul-tado o homem e lhe sugerido que variassede árvore a cada dia? Havia tantas nobairro... Os animais pensantes gostam maisdo lugar habitual; precisaria saber se com ocachorro não se daria o mesmo!

Querem saber de uma coisa? Enquantonão encontro uma saída digna, a digníssimamulher que continue limpando cocô decachorro que é melhor que limpar outrassujeiras que abundam por aí! E fim de papo!

... Que a Bandeira Nacional Brasileira foi oficializada em 15/11/1889, e sua autoria éde Raimundo Teixeira Mendes, auxiliado por um astrônomo e um artista plástico.

... Que a posição relativa das estrelas na bandeira obedece ao aspecto do céu, nacidade do Rio de Janeiro, às 8h30min do dia 15/11/1889.

... Que as cores da Bandeira Nacional representam as quatro famílias reais de quedescende D.Pedro I, idealizador da Bandeira do Império. Com o passar do tempo estainformação foi sendo substituída por uma adaptação do povo brasileiro. Neste novocontexto, o verde passou a representar as matas, o amarelo as riquezas do Brasil, oazul o seu céu, e o branco a paz que deve reinar no Brasil.

... Que a versão atual da Bandeira Nacional Brasileira, com 27 estrelas, entrou emvigor em 11 de maio de 1992, com a inclusão de mais quatro estrelas representando osestados do Amapá, Tocantins, Roraima e Rondônia.

Você Sabia...?

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O ESTAFETAPiquete, novembro de 2010 Página 7

Será possível? Assistir a novelas semprefoi considerado “coisa de quem não tem oque fazer”, “perda de tempo”, “coisa demulher”... Nos dias de hoje, em que temosuma mulher na Presidente da República, essaúltima assertiva é, no mínimo, contraditória,não? Quanto às demais, avaliando-se aqualidade fotográfica, por exemplo, chega aser um insulto aos profissionais envolvidos.As novelas são uma diversão como qualqueroutra e, dependendo de como são enca-radas, podem ensinar, sim...

Sem levar em conta as atuações demestres como Fernanda Montenegro, TonyRamos, Cleyde Yaconis e outros, a atualnovela das 20h está chamando a atençãoem função do drama vivido pelo personagemDanilo: um jovem bonito, atleta, rico e...dependente químico... E se ainda pode serpior, dependente do crack.

O grande questionamento é: o que levaàs drogas um jovem que, para os “padrõesnormais”, teria tudo para ser feliz? Essaresposta é difícil demais para ser respondida.São muitas as variáveis e, certamente, umengenheiro não está habilitado para decifrá-las...

O certo é que as cenas apresentadas noteledrama da Globo estão muito próximas darealidade. No Esporte Espetacular de 10 deoutubro, um ciclista – assim como opersonagem Danilo – deu testemunho dodrama vivido quando se envolveu compedras de crack. Segundo o atleta, que serecuperou com a ajuda da família, “asimagens são muito reais”...

Vida real e ficção mostram o poder dedestruição desta nova droga que vemtomando todas as cidades brasileiras emfunção, principalmente, de seu baixo custo.E Piquete parece que não está conseguindomanter-se afastado deste drama: a cidadevem apresentando número crescente deroubos e assaltos, certamente meios deobtenção de financiamento do vício. Anovela mostrou cenas em que o personagem

Aprendendo com as novelas...roubava a própria casa, vendia o carro,mentia para conseguir dinheiro. Na vida real,a família deve se atentar a mudanças decomportamento, sumiço de objetos da casa,agressividade. Ações devem ser tomadas deforma a impedir a obtenção de dinheiro paraa aquisição da droga. Na novela, a mãe,comovida pelo filho, aceitou tratá-lo em casa.Na vida real, esse é um erro: o dependentequímico precisa ser tratado por profis-sionais.

Havia alguns anos, essa realidadeestava muito distante da Cidade Paisagem.Na ficção, já há anos vêm sendo mostradospersonagens na decadente situação dadependência química. A falta de políticaspúblicas unida à força destrutiva das drogasda atualidade, indescritivelmente atrativasaos jovens, não permite uma visão otimistaem curto prazo.

Tomando, como exemplo, as novelas,que já ganharam status até de tema dedoutorado na Universidade de São Paulo(USP), voltamos à família. É nela que estãoas bases da educação e do caráter dohomem. Os exemplos de dentro de casa sãoum grande início. Os limites têm de serimpostos desde cedo. As drogas lícitas,muitas vezes menosprezadas no sentido decausar dependência, devem ser encaradascomo porta de entrada para as demais, asilegais.

Sou “noveleiro”... Gosto de assistir àstramas apresentadas e me divirto, namaioria das vezes. Não dá para encarar asnovelas como exemplo de vida, é claro.Mas algumas lições podem, sim, sertiradas. O tema drogas chocou e me atraiu,pois fico triste ao constatar que ficção erealidade se confundem. Vamos agircontra as drogas, meus amigos. Somenteassim poderemos assistir às novelasapenas para nos divertir e nos emocionarcom o trabalho dos brilhantes profis-sionais que as produzem.

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Rep

rodu

ção

“Caros irmãos brasileiros,De ímpeto, decidi-me por quebrar o

silêncio que se me impuseram há quase119anos. Foram registradas, em 5 dedezembro de 1891, às 0h34min, como sendominhas últimas palavras: ‘Deus que meconceda esses últimos desejos – paz eprosperidade para o Brasil…’. Quanto àpaz, não há dúvidas de que fui plenamenteatendido. O Brasil é belo, alegre, irreve-rente e desfruta da serenidade das jovensnações. Não há por que me alongar sobreeste tema... Sobressalta-me, porém, aquestão da prosperidade. É fato que oslivros sobre os quais repouso não versamsobre Economia e muito se alterou nestaciência desde meus últimos balanços. Paraque o Brasil alcance a prosperidade quelhe é devida, há que rever as condições desuas políticas de Educação, essa sim a basemais sólida para seu desenvolvimento. Emminha última Fala do Trono, em 3 de maiode 1889, propus a criação do Ministério daInstrução e reforçei as diretrizes para oSistema Nacional de Instrução. Vejo que oatual Ministério da Educação esmera-se nacondução das políticas de desenvol-vimento do Ensino Público. Mas julgoinsuficiente o esforço ensejado...Entristeço-me ao avaliar os resultados dasuniversidades brasileiras frente às de-mais. Procuro participar de alguns semi-nários em que seriam tratados assuntosrelevantes para o ensino básico, maspercebo que mais se desfruta das exce-lentes acomodações dos hotéis em quesão realizados do que são avaliadas asquestões inicialmente previstas.

Na República que a mim impuseram eque lhes foi presenteada e tão largamentefestejada, alegro-me com a eleição de umasenhora para conduzir tão brilhante nacão.É um marco. Não creio que comparecerei àcerimônia de posse, visto que os anos mepesam e não me agrada trocar o climaameno de Petropólis pela aridez do Pla-nalto. Também não agendarei reuniões coma sra. Roussef, a fim de não parecerintromissor. Julgo que resultados con-cretos devem ser cobrados pelo povobrasileiro, patrões que são de seus eleitos.Percebo que o espírito pacífico imperantenos trópicos e a influência de gases dodesenvolvimento no atual aquecimentoglobal influenciaram os ânimos dosbrasileiros. Há que se cobrar políticaseficientes de Educação, melhores escolase salários dignos para os docentes, o quedever tornar atraente o Magistério, comojá o fora. Cheguei a afirmar que ‘Se nãofosse imperador do Brasil quisera sermestre-escola’, especialmente se pudesseo ser em meu colégio....

Bem, faz-se tarde. A noite cai sobre osÓrgãos e tenho que me preparar para umareunião com Eça de Queiroz, AlexandreDumas e o Barão do Rio Branco, amigosde longa data. Visitam-me para tratar deassuntos relevantes, podem acreditar.Contem comigo, porém, se precisarem.Estarei sempre a serviço de minha pátria.

D. Pedro II, Imperador do Brasil”.

Carta do Imperador

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O ESTAFETA Piquete, novembro de 2010Página 8

A proteção dos remanescentes de MataAtlântica no município de Piquete tem sidouma das bandeiras levantadas pela Fun-dação Christiano Rosa desde 1997, ano desua instituição.

Ao longo de mais de uma década, a Fun-dação vem trabalhando junto à comunidadebuscando conscientizá-la da importância domeio-ambiente e da recuperação de matasciliares, visando à melhoria de nossas águas.Foram muitas as ações desenvolvidas paraproteger a Mata Atlântica. Uma delas é oprojeto de recuperação de mata ciliar aolongo do Ribeirão Limeira. Este projeto, queestá em andamento, já plantou mais decinquenta mil mudas de espécies nativas.Ainda este ano serão plantadas novas 14milmudas. No entanto, é preciso que mais açõesaconteçam por parte de outros setores dasociedade.

Estamos entrando no período das chu-vas e todos os anos assistimos aos grandesestragos no município decorrentes deenchentes e desmoronamentos, com riscosà comunidade. No entanto, nenhum trabalhoconsistente foi ou está sendo desenvolvidopor nossas autoridades. A erosão nasencostas do município, de grandes propor-ções, vem assoreando o Ribeirão Piquete.Ocupações irregulares de áreas de preser-vação, bem como encostas desprovidas de

vegetação são realidade.Grande parte do município de Piquete

encontra-se em Área de PreservaçãoAmbiental (APA) e a Mata Atlântica quecobre extensas áreas de nosso território éum Patrimônio da Humanidade e, em funçãodisso, Reserva da Biosfera. Muitas vezes,já escrevemos sobre isso. Mas, para os quenão sabem ou se esqueceram, é bom lembrarque Reserva da Biosfera é um instrumentode planejamento que permite, por meio dezoneamento e articulação entre governos einstituições da sociedade civil, o trabalhopermanente para a conservação. São trêssuas funções básicas: proteção da biodi-versidade, desenvolvimento sustentável econhecimento científico.

A principal característica de umaReserva da Biosfera é a busca de seusobjetivos por meio do entendimento, dodiálogo, da soma de forças e, principal-mente, da cooperação internacional.

Recuperando e preservando os rema-nescentes de Mata Atlântica do município,estaremos minimizando os impactos daschuvas de verão no futuro. Sabemos quemuito pode ser feito para a preservaçãodessa Mata em Piquete. Faltam, no entanto,vontade e comprometimento de nossasociedade para que isso aconteça.

Minimizando o impacto das chuvas de verão

A única maneira de enfrentarmos osinúmeros desafios da civilização atual éconstruindo uma nova concepção dedesenvolvimento. Um desenvolvimento quenão crie desigualdades, que não destrua anatureza, que atenda às necessidades dopresente, sem comprometer a vida dasfuturas gerações.

Para garantirmos qualidade de vida e ofuturo do planeta é imperativo que seconserve o meio ambiente. Ao longo dahistória, viemos desmatando e agredindode maneira insensata a natureza. O jor-nalista e escritor Euclydes da Cunha,viajando do Rio de Janeiro para São Paulo,em 1901, escreveu os textos “Fazedores de

Progredir é não destruir a biodiversidadedesertos” e “Entre as ruínas”, em quedescrevia as pilhas de lenha estocadas aolongo das encostas áridas escavadas pelaerosão, que atestavam o esgotamento daterra provocado pelos agricultores do café.

No fim da década de 1920, era comum ocostume de se comprar terra apenas parase retirar sua madeira. Quando acabavamos melhores tipos, os donos vendiam tudoe se mudavam. A criação de gado no Valedo Paraíba também colaborou para oesgotamento do solo e a erosão. Muitasespécies de animais e de plantas desa-pareceram ou estão em vias de. A visãodesoladora e triste de áreas degradadas,de terras ácidas e improdutivas leva àinquietação e questionamentos. Estamosno limite do tolerável. Precisamos unirforças e reverter este cenário.

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Fotos arquivo Pro-Memória