NotiFax de 15 de Abril de 2009

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Caracas, Venezuela * Ano IX – Época II * 15 de Abril de 2009 RIF: J301839838 Soeiro Pereira Gomes, pioneiro do neo-realismo Nascido no seio de uma família de pequenos agricultores durienses, Joaquim Soeiro Pereira Gomes, abriu os olhos a 14 de Abril de 1909, justamente há cem anos. Isto aconteceu em Gestaçô, no concelho nortenho de Baião, distrito do Porto. Passaria parte da infância numa casa de Espinho, que ainda existe mas sem nada assinalando que ali viveu o autor de Esteiros, livro dedicado aos “filhos dos homens que nunca foram meninos”. Terminado o curso de Regente Agrícola na respectiva escola de Coimbra e com o título debaixo do braço, parte para Angola, onde trabalha durante um ano e de onde regressa por razões de saúde. De novo em Portugal e já casado, vai trabalhar para os escritórios da Fábrica do Tejo, Alhandra, onde vive o sogro. O contacto com o mundo do trabalho vai ser decisivo para a sua vida como militante político e como escritor preocupado com a realidade social de Portugal dos anos 30. Na Itália, Mussollini está no auge. Na Alemanha, Hitler prepara-se para engolir meia Europa. Em Portugal, a ditadura faz o país à medida dos seus interesses, fechando sindicatos e criando os famosos “sindicatos nacionais” perfeitamente alinhados com o corporativismo. Esteiros (1931) sai à rua neste contexto com ilustrações de Álvaro Cunhal, seu colega de partido. Aqui, igual que no seu outro romance, Engrenagem, publicado postumamente, Soeiro Pereira Gomes conta com uma linguagem directa e acessível a todos “as deambulações de um grupo de miúdos (...), cuja condição social lhes impõe, em vez da escola, o trabalho numa rudimentar fábrica de tijolos à beira-Tejo.” O livro dá o mote do que será a vida e a obra deste escritor e a orientação das suas preocupações políticas, que o levarão a viver muitos dos seus anos de adulto na clandestinidade. Engrenagem é escrito durante esse período de dificuldades pessoais e colectivas, assim como os Contos Vermelhos, publicados igualmente depois da sua morte. Soeiro Pereira Gomes foi, ao longo da sua curta vida, um dinamizador da actividade cultural. Além de escrever no jornal O Diablo, mal olhado pelo regime de então, conviveu com outros escritores neo-realistas da época, entre eles Alexandre Cabral, o romancista Alves Redol e Sidónio Muralha, poeta que tomou o caminho do exílio e viria a falecer, já depois do 25 de Abril, no Brasil. Para além destes contactos com intelectuais, era um associativista convencido e bateu-se toda a vida pela criação de bibliotecas e centros desportivos, como uma forma de contrariar os

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Boletim Quinzenal do Instituto Português de Cultura de Caracas

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Caracas, Venezuela * Ano IX – Época II * 15 de Abril de 2009 RIF: J301839838

Soeiro Pereira Gomes, pioneiro do neo-realismo

Nascido no seio de uma família de pequenos agricultores durienses, Joaquim Soeiro Pereira Gomes, abriu os olhos a 14 de Abril de 1909, justamente há cem anos. Isto aconteceu em Gestaçô, no concelho nortenho de Baião, distrito do Porto. Passaria parte da infância numa casa de Espinho, que ainda existe mas sem nada assinalando que ali viveu o autor de Esteiros, livro dedicado aos “filhos dos homens que nunca foram meninos”. Terminado o curso de Regente Agrícola na respectiva escola de Coimbra e com o título debaixo do braço, parte para Angola, onde trabalha durante um ano e de onde regressa por razões de saúde. De novo em Portugal e já casado, vai trabalhar para os escritórios da Fábrica do Tejo, Alhandra, onde vive o sogro. O contacto com o mundo do trabalho vai ser decisivo para a sua vida como militante político e como escritor preocupado com a realidade social de Portugal dos anos 30. Na Itália, Mussollini está no auge. Na Alemanha, Hitler prepara-se para engolir meia Europa. Em Portugal, a ditadura faz o país à medida dos seus interesses, fechando sindicatos e criando os famosos “sindicatos nacionais”

perfeitamente alinhados com o corporativismo. Esteiros (1931) sai à rua neste contexto com ilustrações de Álvaro Cunhal, seu colega de partido.

Aqui, igual que no seu outro romance, Engrenagem, publicado postumamente, Soeiro Pereira Gomes conta com uma linguagem directa e acessível a todos “as deambulações de um grupo de miúdos (...), cuja condição social lhes impõe, em vez da escola, o trabalho numa

rudimentar fábrica de tijolos à beira-Tejo.” O livro dá o mote do que será a vida e a obra deste escritor e a orientação das suas preocupações políticas, que o levarão a viver muitos dos seus anos de adulto na clandestinidade. Engrenagem é escrito durante esse período de dificuldades pessoais e colectivas, assim como os Contos Vermelhos, publicados igualmente depois da sua morte.

Soeiro Pereira Gomes foi, ao longo da sua curta vida, um dinamizador da actividade cultural. Além de escrever no jornal O Diablo, mal olhado pelo regime de então, conviveu com outros escritores neo-realistas da época, entre eles Alexandre Cabral, o romancista Alves Redol e Sidónio Muralha, poeta que tomou o caminho do exílio e viria a falecer, já depois do 25 de Abril, no Brasil. Para além destes contactos com intelectuais, era um associativista convencido e bateu-se toda a vida pela criação de bibliotecas e centros desportivos, como uma forma de contrariar os

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efeitos nocivos das nuvens poluentes do pó do cimento que avançavam pelos pulmões adentro dos operários a troco de um salário manifestamente insuficiente. Foi assim que conseguiu a construção de uma piscina – A Charca – onde se formaria, alguns anos depois, o nadador alhandrense Baptista Pereira, o mesmo Gineto que aparece nos Esteiros, e que, em 1953, bateria o recorde de mundial de Travessia do Estreito de Gibraltar e, um ano depois, o da Travessia do Canal da Mancha.

Este escritor, cujo centenário acaba de recordar a RTP ao informar que foi homenageado pela Câmara Municipal de Baião no passado 25 de Abril, faleceu em Dezembro de 1949, vitimado pela tuberculose e impedido de receber tratamento médico devida à sua vida na clandestinidade. Está enterrado em Espinho.

* Ary dos Santos: homenageado no InstitutoFranco-Português

Dezoito canções emblemáticas com letras de José Carlos Ary dos Santos integram o espectáculo "Ary O poeta das canções 25 anos depois", que subiu ao palco do Auditório do Instituto Franco-Português, numa homenagem ao poeta e letrista.

"Desfolhada", "Um Homem na Cidade", "Os putos", "Tourada", "Cavalo à solta" e "Lisboa menina e moça" constam do repertório de canções, com novos arranjos musicais em sonoridades que vão do jazz à world music, a interpretar por QuimZé Lourenço, que será acompanhado por seis músicos e duas bailarinas num espectáculo que integra também multimédia.

"Mostrar um poeta que fez canções como nenhum outro, sem perder o lirismo e a sofisticação das palavras e que conseguiu chegar às massas" foi o objectivo do espectáculo de tributo a Ary dos Santos no ano em que se assinala o 25.º aniversário da sua morte, ocorrida a 18 de Janeiro de 1984, indicou à agência Lusa QuimZé Lourenço.

* Espólio de Antero de Quental on line...

O espólio do poeta açoriano Antero de Quental existente no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional está actualmente on-line em http://purl.pt/14355.

Segundo nota da Biblioteca, ao público em geral passam a estar disponibilizados «todos os manuscritos que integram a colecção, com destaque para as versões autógrafas de sonetos e poemas e para as cartas de Antero a Oliveira Martins e a João Lobo de Moura».

Em 1865, com a publicação do folheto «Bom Senso e Bom Gosto - Carta ao Exmo. Sr. António F. de Castilho», Antero de Quental deu «início à grande polémica literária do século XIX em Portugal - a Questão Coimbrã -, que rompe com o Ultra-Romantismo e prepara o advento da poesia moderna», refere a mesma nota.

www.institutoportuguesdecultura.blogspot.com Visite o nosso blogue!

Informações em português, castelhano, inglês e francês. Actualizações frequentes

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* Morreu o criador da aldeia típica do Sobreiro...

O oleiro José Franco, criador da aldeia típica do Sobreiro, em Mafra, faleceu aos 89 anos no Hospital Santa Maria, em Lisboa, revelou uma fonte familiar.

Segundo Sezete Franco, filha do ceramista e escultor português nascido a 19 de Março de 1920 no Sobreiro, o óbito ocorreu devido a complicações surgidas na sequência de uma queda que levou ao seu internamento hospitalar.

O artista popular celebrizou-se sobretudo pela criação, em miniatura, de uma aldeia saloia do início do século XX, que retrata as profissões e a vida quotidiana das pessoas da época através de bonecos mecanizados.

* Leonel Vieira estreia co-produção luso-espanhola “Conexão” é a nova co-produção luso-espanhola realizada por Leonel

Vieira com estreia marcada para uma sala da Galiza. A série relata o impacto do mundo do narcotráfico nas comunidades piscatórias do Norte de Portugal.

"É um tema que interessa muito ao grande público. Pessoalmente gosto de temas do submundo e gosto de poder abordar estes projectos, procurando construir ficção que tenha consciência social" afirma o realizador, adiantando que não tem "pretensões de fazer análises sociológicas" procurando apenas "permitir às pessoas que olhem de frente para estes problemas".

A série com dois episódios de 85 minutos cada, descreve a história de uma família de pescadores e uma família de narcotraficantes que se envolvem no negócio do narcotráfico, onde se analisa a pirâmide do negócio da droga que envolve famílias de pescadores, numa praia do Minho e uma família de narcotraficantes galegos.

* Cavaco Silva defende português como “língua global”...

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, defendeu hoje o aproveitamento do "capital" que a língua portuguesa oferece, considerando que o português tem de se afirmar como uma "língua global".

"O português tem de afirmar-se como uma língua global, uma língua que se pode ouvir nos quatro cantos do mundo e que, por isso mesmo, justifica que outros se sintam motivados a aprendê-la como língua estrangeira", defendeu hoje o chefe de Estado, numa intervenção na cerimónia de atribuição do Prémio Leya ao escritor Murilo Carvalho.

Sublinhando que actualmente a riqueza das nações não depende unicamente dos seus recursos naturais e da sua capacidade produtiva, existindo outro factores, "tanto ou mais importantes", como a história, a cultura e a língua, que podem contribuir para alargar a sua margem de actuação no plano internacional, Cavaco Silva recordou a "herança" deixada aos portugueses há mais de 700 anos: a língua.

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* Aquele Querido Mês de Agosto... mais prémios!

O filme Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, ganhou o prémio para Melhor Filme do BAFICI - Festival Internacional de Cinema de Buenos Aires, que terminou ontem.

Ao conseguir a distinção máxima deste festival na Argentina, a longa-metragem de Miguel Gomes, que concorria na selecção oficial internacional, tem assegurada a distribuição em cinema no país, assim como e dição em DVD e a exibição na televisão.

Unindo ficção e documentário, Aquele Querido Mês de Agosto é um filme que nos transporta para o ambiente das festas de Verão na Beira Serra. A terceira longa-metragem de Miguel Gomes foi vista por mais de 20 mil espectadores em Portugal e tem vindo a receber prémios em festivais por todo o mundo.

Está ainda seleccionado para os festivais de São Francisco e Los Angeles (nos EUA), Auckland e Wellington (na Nova Zelândia).

* Cinema português triunfa na Itália...

A série de animação Living in the Trees, do realizador Vítor Lopes, foi distinguida em Itália com a Menção Especial do Júri, Melhor Animação para Plataforma Móvel, um dos prémios Pulcinella, informou o Cine-Clube de Avanca.

Living in the Trees e 10 Ways to Eliminate a Buddhist Monk, duas séries de animação produzidas em Avanca e realizadas por Vítor Lopes, integraram este ano a lista dos cinco programas nomeados para os Prémios Pulcinella da secção de séries de animação para o público jovem e adulto de televisão, no festival Cartoon on the Bay, organizado pela RAI - Televisão Italiana.

Os Pulcinella, considerados por especialistas os mais importantes prémios de animação para televisão distinguem, anualmente séries para diferentes públicos de televisão e personalidades marcantes do cinema de animação.

Living in the Trees já foi exibido na competição oficial do 56th Belgrade Documentary and Short Film Festival, que decorreu na Sérvia, e no 4th Athens AnimFest 09, na Grécia, onde, a pedido da organização do certame, um conjunto de filmes produzidos em Avanca foram exibidos numa iniciativa intitulada Tributes 2009.

Vítor Lopes é um dos autores (juntamente com Carlos Silva e Costa Valente) de Até ao tecto do mundo, longa-metragem de animação recentemente premiada nos Estados Unidos da América.

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