Notícias de Israel - março de 2006

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www.Beth-Shalom.com.br MARÇO DE 2006 • Ano 28 • Nº 3 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

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• A Rainha Ester • Coragem: A Marca de Josué • Eliminando Israel com delicadeza • Justiça em Nuremberg • A magia do Golã

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www.Beth-Shalom.com.br MARÇO DE 2006 • Ano 28 • Nº 3 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

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É uma publicação mensal da ““OObbrraaMMiissssiioonnáárriiaa CChhaammaaddaa ddaa MMeeiiaa--NNooiittee”” comlicença da ““VVeerreeiinn ffüürr BBiibbeellssttuuddiiuumm iinn IIssrraaeell,,BBeetthh--SShhaalloomm”” (Associação Beth-Shalom paraEstudo Bíblico em Israel), da Suíça.

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EEddiiççõõeess IInntteerrnnaacciioonnaaiissA revista “Notícias de Israel” é publicadatambém em espanhol, inglês, alemão,holandês e francês.

As opiniões expressas nos artigos assinadossão de responsabilidade dos autores.

INPI nº 040614Registro nº 50 do Cartório Especial

OO oobbjjeettiivvoo ddaa AAssssoocciiaaççããoo BBeetthh--SShhaalloomm ppaarraaEEssttuuddoo BBííbblliiccoo eemm IIssrraaeell éé ddeessppeerrttaarr eeffoommeennttaarr eennttrree ooss ccrriissttããooss oo aammoorr ppeelloo EEssttaaddooddee IIssrraaeell ee ppeellooss jjuuddeeuuss.. Ela demonstra oamor de Jesus pelo Seu povo de maneiraprática, através da realização de projetossociais e de auxílio a Israel. Além disso,promove também CCoonnggrreessssooss ssoobbrree aa PPaallaavvrraaPPrrooffééttiiccaa eemm JJeerruussaalléémm e vviiaaggeennss, com aintenção de levar maior número possível deperegrinos cristãos a Israel, onde mantém aCasa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monteCarmelo, em Haifa).

ISRAELNotícias de

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4 Prezados Amigos de Israel

A Rainha Ester

HHOORRIIZZOONNTTEE

• Eliminando Israel com delicadeza - 12• Justiça em Nuremberg - 14• A magia do Golã - 18

Coragem: A Marca de Josué

índice

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A repentina e grave enfermidade do primeiro-ministro Ariel Sharon abalou a situação políticaem Israel. Foi impressionante como pessoas detodo o país, e até do mundo inteiro, manifestaramsua preocupação e sua compaixão por Sharon.Afinal, ele era um político muito polêmico.Principalmente em nível internacional ele erafreqüentemente criticado com dureza e atémesmo rejeitado. Mas quando sua vida começou acorrer perigo, parece que o mundo passou a verem Sharon a única esperança de alcançar a paz noOriente Médio. Outros, porém, consideraram quesua doença foi um castigo de Deus, porque ele sedispôs a entregar partes da Terra Prometida.Ainda não está certo se Sharon vai sobreviver,mas o retorno às suas funções estácompletamente descartado.

Parecia que seu partido recém-formado, o“Kadima” (“Avante”), desmoronaria devido à faltade Sharon. Mas os resultados das pesquisasmostram que esse não é o caso – muito pelocontrário. Todos os demais partidos em Israelencontram-se atualmente numa grave crise. Noinício parecia que o “Kadima” estava vinculadoexclusivamente à pessoa de Sharon, mas temficado sempre mais claro que não é assim. Pelocontrário, o partido se caracteriza pelo novorumo determinado por Sharon, queaparentemente tem sido bem aceito pelapopulação de Israel. Ariel Sharon ainda tinhadeterminado que qualquer um que aceitasse aorientação do “Kadima” seria bem-vindo a fazerparte dele. Desse modo, aconteceu algopraticamente inacreditável: Shimon Peres, que eraa expressão maior do Partido Trabalhista,associou-se ao partido de Sharon. Apesar de nãopoder mais pensar numa carreira política devido àsua idade, ele declarou que não lhe importava emprimeiro lugar a ideologia, mas o estabelecimentoda paz com os palestinos. Essa é, como parece,também a questão que mais interessa à maioriados israelenses, que desejam que haja, finalmente,uma solução para o conflito. É interessante queSharon e Peres eram particularmente bonsamigos. Eles foram unidos pelo desejo de alcançar,antes da sua saída definitiva da política, a paz comos palestinos, para assegurar um futuro melhor àspróximas gerações. Por isso, para o “Kadima”Peres é principalmente um ponto positivo naestratégia eleitoral.

A direção do novo partido está agora nas mãosde Ehud Olmert, que será o primeiro-ministro atéàs eleições em março. Olmert, de 60 anos, iniciousua carreira política aos 28 anos. No final de 2005ele saiu do bloco Likud e juntou-se ao recém-fundado partido de Sharon, em cuja lista ocupavao segundo lugar. Parece que o “Kadima‘, apesar dagrave enfermidade de Sharon e da sua saída dapolítica, ganhará as eleições e poderá prosseguircom sua orientação para alcançar a paz com ospalestinos. Naturalmente, a vitória do “Hamas” naeleições parlamentares põe em cheque essapossibilidade. Entretanto, o prognóstico de queserá estabelecido algum tipo de acordocorresponde às afirmações da Escritura de queIsrael viverá numa paz relativa antes de serrepentinamente invadido pelos exércitos dediversos povos a partir do Norte.

Com relação aos acontecimentos em Israelpodemos saber, de qualquer maneira, que Deustem em Suas mãos cada detalhe e que Ele mesmorealizará Suas intenções.

Na certeza de que o Guarda de Israel nãodorme, saúdo com um sincero

Shalom!

FFrreeddii WWiinnkklleerr

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O livro de Ester é único entretodos os livros da Bíblia, porque emnenhum dos seus dez capítulos émencionado o nome de Deus. Talfato tem levado alguns estudiosos aconcluírem que ele não possui cará-ter canônico. Certa vez, MartimLutero chegou a dizer que gostariaque ele nem tivesse existido. Masquanto mais você lê esse livro relati-vamente pequeno, mais reconhecea providência divina. Essa provi-dência não é revelada de nenhumaforma miraculosa; antes, podemosobservar que ela acontece de formamuito natural, à medida que con-templamos o desfecho de circuns-tâncias que culminam com a ascen-são dos judeus, contrariando dessaforma a sua tão cuidadosamenteplanejada aniquilação.

“Nos dias de Assuero, o Assueroque reinou desde a Índia até à Etiópia,

sobre cento e vinte e sete províncias,naqueles dias, assentando-se o rei As-suero no trono do seu reino, que estána cidadela de Susã, no terceiro anode seu reinado, deu um banquete a to-dos os seus príncipes e seus servos, noqual se representou o escol da Pérsia eMédia, e os nobres e príncipes das pro-víncias estavam perante ele” (Ester1.1-3).

Antes de iniciarmos nosso estu-do, vamos identificar o rei Assuero.No livro Explore The Book, escritopor J. Sidlow Baxter, lemos:

Os méritos para a primeira identi-ficação de Assuero como Xerxes vãopara Georg Friedrich Grotefend.Quando jovem estudante na Universi-dade de Göttingen, ele se propôs adecifrar pacientemente os persona-gens curiosos e bem delineados queforam encontrados em inscrições nasruínas da antiga cidade persa de Per-

sépolis. O nome do filho de Dario foidecifrado como Khshayarsha, que,ao ser traduzido para o grego, é Xer-xes, e que, traduzido para o hebrai-co, é, praticamente, letra por letra,Akhashverosch, o que corresponde aAssuero em português. Presumindoque o nome era lido na língua persa,a identidade de Assuero estava esta-belecida; e achados mais recentescorroboraram as descobertas de Gro-tefend.

A riqueza de detalhes dos even-tos documentados nas Escriturassempre me impressiona. A histórianão começa com “era uma vez”,mas identifica o nome do rei daépoca: Assuero. A extensão do im-pério também é claramente defini-da: “da Índia... até à Etiópia”. On-de esse homem governava? “...nacidadela de Susã”. Quando issoocorreu? “No terceiro ano do seu

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reinado”. Quem estava envolvido?“...os poderosos da Pérsia e Média,e os nobres e príncipes”. Se algumadúvida surgir, podemos compararesses dados com evidências arqueo-lógicas obtidas de pratos de cobre,tabuinhas de barro, remanescentesde ruínas ou inúmeras outras fontesde documentos históricos.

O evento sobre o qual iremos fa-lar começa quando a rainha se re-cusa a obedecer às ordens do rei. Jáli vários comentários sobre a razãopela qual a rainha Vasti se recusoua atender o convite de seu marido.Um grande número de estudiososda Bíblia concluiu que a rainha erauma pessoa de caráter íntegro quese recusou a participar de uma or-gia de bêbados, promovida pelo seumarido e os demais membros danobreza. Essa conclusão é baseadano estudo da história que identificao rei Xerxes como um indivíduoemocionalmente instável, que eracruel em suas atitudes e imprevisí-vel em suas ações. Isso pode soarum tanto lógico para muitas pes-soas hoje em dia, uma vez que nãoé mais comum atualmente que umaesposa atenda a uma ordem do ma-rido. Esse tipo de comportamentofoi a base para o movimento debusca de direitos iguais para ho-mens e mulheres. Em nossa socie-dade moderna, tornou-se quase im-possível continuar seguindo os cos-tumes antigos. Na maioria dasfamílias, tanto o marido quanto amulher trabalham a fim de susten-tar o lar. Em muitos casos, o salárioda mulher é até mais alto que o domarido; por isso, parece não haversentido em que um dos parceirosdo casamento esteja acima do ou-tro. Em outras palavras, esse é umprocesso evolucionário natural.Quem pode discutir com essa con-clusão lógica: se a sua esposa traba-lha o dia inteiro e volta para casapara encontrar um lar desarruma-

do, por que você não deveria ajudá-la com os afazeres domésticos? Euapoio esse comportamento de todoo coração e acrescento ainda umforte “Amém!”

Podemos nos opor a esse desen-volvimento o quanto quisermos;podemos identificá-lo como uma fi-losofia da Nova Era ou algo antifa-mília. Esse até pode ser o caso enão discordo disso. Mas, fatos sãofatos. Nós não estamos apenas vi-vendo em um tempo onde a igual-dade entre maridos e esposas é umarealidade, mas também em umaépoca em que as crianças tambémsão freqüentemente incluídas nasdecisões familiares.

Contudo, três fatores me fazemdiscordar dos meus colegas a res-peito da reação da rainha Vasti:

1) No versículo 5 lemos: “...deuo rei um banquete a todo o povo que seachava na cidadela de Susã, tanto pa-ra os maiores como para os meno-res...” Tratava-se de um evento ofi-cial e autorizado, baseado em umaordem do rei.

2) “Também a rainha Vasti deuum banquete às mulheres na casa realdo rei Assuero” (v. 9). É enfatizadoo fato de a rainha ter oferecido umafesta para as mulheres na casa quepertencia ao rei Assuero, indicandoque ela lhe era sujeita. Aparente-mente, nenhuma provisão legal foifeita para que a rainha Vasti reali-zasse seu próprio evento; portanto,ela agiu fora da lei.

3) No versículo 8 lemos: “Be-biam sem constrangimento, como esta-va prescrito”. Essa civilização erabem avançada e governada pela lei.Várias evidências de antigos artefa-tos testificam que essa era uma civi-lização bem desenvolvida. Veremosmais tarde que as leis eram tão po-derosas, que nem o próprio rei po-deria passar por cima delas. Por is-so, a interpretação de que a rainhaVasti teria justificadamente se opos-

to ao banquete de bêbados não temfundamentação bíblica.

Arriscando a possibilidade de sermal-entendido, eu me aventuro adizer que a rainha Vasti era uma fe-minista, que estava interessada so-mente em fazer a sua própria vonta-de, mesmo se isso importasse emdesrespeitar a autoridade de seumarido, o que podemos constatarno versículo 12: “Porém a rainhaVasti recusou vir por intermédio doseunucos, segundo a palavra do rei, pe-lo que o rei muito se enfureceu e se in-flamou de ira”.

Embora vejamos que o rei estavade fato irado, ele não agiu como umbêbado irresponsável, ou como umditador insensível que abusava de suaautoridade. O rei Assuero convocoutodos os seus conselheiros oficiais:“...os sábios que entendiam dos tempos(porque assim se tratavam os interessesdo rei na presença de todos os que sabiama lei e o direito” (v. 13). Uma questãofoi levantada: “O que deveria ser feito àrainha Vasti, segundo a lei?” Nova-mente, vemos que o manejo da situa-ção envolvia um procedimento orde-nado, uma questão legal, com conse-qüências nacionais. A rainha haviainfringido a lei! Vasti havia se rebeladocontra a autoridade estabelecida pelacivilização persa. É interessante obser-var que o rei deu uma ordem quaseidêntica ao que é dito no Novo Testa-mento: “...cada homem deve ser senhorde sua própria casa” (Ester 1.22). Em 1Timóteo 3.5 lemos: “pois se alguémnão sabe governar a própria casa, comocuidará da igreja de Deus?” Para umhomem servir a Deus, é necessárioque ele governe sua própria casa. Arainha Vasti estava dando seu ban-quete na casa do rei.

Mordecai, o judeu

O povo judeu, que tinha sidodisperso de Jerusalém e levado cati-

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vo à terra de Babilônia,que mais tarde acabousendo governada pelosmedo-persas, vivia apa-rentemente em paz egozava de prosperidade.Dentre aqueles judeushavia um de nome Mor-decai, que tinha umasobrinha chamada Es-ter. Quando Mordecaidescobriu que a rainhaVasti havia se separadodo rei Assuero, o queresultou em sua dispen-sa, e que o rei procuravauma nova rainha, eleapresentou Ester comocandidata.

Ester logo tornou-sea favorita do rei e le-mos: “Assim foi levadaEster ao rei Assuero, à ca-sa real, no décimo mês,que é o mês de tebete, nosétimo ano do seu reina-do” (Ester 2.16).

O tio Mordecai per-manecia observando tudo de longe.Ele era um servo fiel do rei gentio eaparentemente cumpria tudo o quea lei exigia. Contudo, havia uma ex-ceção: Mordecai, o judeu, recusou-se a curvar-se diante do primeiro-ministro do reino, chamado Hamã,o agagita: “Todos os servos do rei queestavam à porta do rei, se inclinavame se prostravam perante Hamã; porqueassim tinha ordenado o rei a respeitodele. Mordecai, porém, não se inclina-va, nem se prostrava” (Ester 3.2).

Será que Mordecai se recusou ase prostrar diante de Hamã porqueele reconhecia a arrogância dessehomem? Será que ele não o honrouporque estaria sendo hipócrita? Nóssabemos através de outros versícu-los que o ato de se curvar peranteuma autoridade ou um hóspede es-timado era muito comum naquelesdias. Uma coisa é certa, Mordecai

não se curvaria perante Hamã. Atéos servos do rei perguntaram: “porque transgrides as ordens do rei?” (Es-ter 3.3). Mordecai deliberadamenteviolou o mandamento do rei. Ob-viamente Hamã tinha autoridadepara eliminar Mordecai. Aparente-mente, esse homem estava tãocheio de orgulho e ódio, que matarsomente um homem não iria satis-fazer-lhe os desejos. Então, ele pla-nejou a aniquilação de todo o povojudeu existente no reino: “Porém te-ve como pouco, nos seus propósitos, oatentar apenas contra Mordecai, por-que lhe haviam declarado de que povoera Mordecai, por isso, procurou Ha-mã destruir todos os judeus, povo deMordecai, que havia em todo o reinode Assuero” (Ester 3.6).

A fim de cumprir seus intentosmalignos, Hamã tinha que procederde conformidade com a lei. Sendoum confiável oficial do governo, eleapresentou seu caso ao rei: “Entãodisse Hamã ao rei Assuero: Existe es-palhado, disperso entre os povos em to-das as províncias do teu reino, um po-vo cujas leis são diferentes das leis detodos os povos e que não cumpre as dorei, pelo que não convém ao rei tolerá-lo. Se bem parecer ao rei, decrete-seque sejam mortos, e, nas próprias mãosdos que executarem a obra, eu pesareidez mil talentos de prata para que en-trem nos tesouros do rei. Então, o reitirou da mão o seu anel, deu-o a Ha-mã, filho de Hamedata, agagita, ad-versário dos judeus” (Ester 3.8-10).Hamã misturou a verdade commentiras. O fato de que as “leis [dopovo judeu] são diferentes das leis detodos os povos” era verdade, mas eleacrescentou uma mentira óbvia:“...e não cumpre as [leis] do rei...”Mordecai foi quem quebrou a lei,não os demais judeus. De qualquerforma, o destino dos judeus estavaselado! O versículo 13 nos dá os de-talhes: “Enviaram-se as cartas, porintermédio dos correios, a todas as pro-

víncias do rei, para que se destruíssem,matassem e aniquilassem de vez a to-dos os judeus, moços e velhos, criançase mulheres, em um só dia, no dia trezedo duodécimo mês, que é o mês deadar, e que lhes saqueassem os bens”(Ester 3.13). O terceiro capítuloconclui: “o rei e Hamã se assentarama beber, mas a cidade de Susã estavaperplexa”. As pessoas estavam im-pressionadas, o rei não sabia de na-da, e Hamã se regozijava porqueseus planos estavam se realizando.

Sem dúvida os judeus, que ti-nham ganhado riquezas na terra docativeiro, tornaram-se parte integraldesse reino próspero. De repente,essa nova lei foi introduzida e con-sistia em uma sentença de mortepara todo o povo judeu. Que terrí-vel tragédia foi para os judeus sabe-rem que todos iriam ser executadosno dia 13 do mês de adar.

As propriedades e as riquezasque eles haviam acumulado seriamdadas para seus piores inimigos.Como eles devem ter clamado aDeus: “Oh! Senhor, como podesdeixar isso acontecer conosco? Nóssomos o teu povo, a quem o Senhortirou da escravidão do Egito. O Se-nhor nos fez uma grande nação,mas temos pecado contra ti. O Se-nhor nos rejeitou novamente, masprometeu que nos traria de volta, eagora toda a nossa esperança estáperdida e estamos por perecer”. Oque os judeus não sabiam é que to-dos os seus inimigos seriam identifi-cados pela sua sentença de morte.Não havia muita dúvida de queaqueles que odiavam os judeus es-tavam deixando bem claro que vi-riam ao seu encalço. Eles provavel-mente os atormentaram contandoos dias. Os inimigos não podiam to-cá-los enquanto o dia determinadonão chegasse, porque os judeus es-tavam protegidos pela lei como orestante do povo. A lei e a ordemforam implementadas pela autori-

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dade do rei. Osjudeus estavamseguros até o dia13 do mês deadar, quandouma outra lei setornaria efetiva.

Nesse meiotempo, Morde-cai e todos os ju-deus do reinocomeçaram aorar: “...haviaentre os judeusgrande luto, comjejum e choro, elamentação; emuitos se deita-vam em pano desaco e em cinza”(Ester 4.3).

A rainha EsterFoi nessa hora que Ester entrou

em cena. Mordecai a contactoucom uma afirmação profundamenteprofética: “Porque se de todo te cala-res agora, de outra parte se levantarápara os judeus socorro e livramento,mas tu e a casa de teu pai perecereis; equem sabe se para conjuntura como es-ta é que foste elevada a rainha?” (Es-ter 4.14). A profunda fé de Morde-cai no Deus de Israel é evidente.Ele ainda acreditava em um livra-mento mas não sabia como este iriaacontecer.

Ester reconheceu que sua situa-ção era precária porque ela não po-deria se aproximar do rei sem a suapermissão. Contudo, essa mulherdeterminada, que teve um papelfundamental na salvação física dosjudeus, tinha tomado uma decisão.

Se fosse necessário, ela estava pre-parada para dar a vida pelo seu po-vo: “...se perecer, pereci” (Ester4.16).

Ester chegou à conclusão de quea vida do seu povo era mais impor-tante que a dela. Ela infringiu a lei,aproximando-se do rei sem umconvite formal, e encontrou graçaperante o rei Assuero: “Quando orei viu a rainha Ester parada no pá-tio, alcançou ela favor perante ele; es-tendeu o rei para Ester o cetro de ou-ro que tinha na mão; Ester se chegoue tocou a ponta do cetro” (Ester 5.2).Esse gesto foi o primeiro sinal deesperança para a salvação de Israel.O cetro é um símbolo e uma ex-pressão do poder real. Embora es-se cetro estivesse nas mãos do reiAssuero, o verdadeiro poder repou-sa sobre o cetro ao qual Jacó se re-feriu profeticamente quando falou arespeito de Judá: “O cetro não se ar-redará de Judá, nem o bastão de en-tre seus pés, até que venha Siló; e aele obedecerão os povos” (Gênesis49.10).

Mais tarde na história, lemos so-bre Balaão, o profeta gentio quedescreveu o povo do cetro: “Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei,mas não de perto; uma estrela procede-rá de Jacó, de Israel subirá um cetroque ferirá as têmporas de Moabe e des-truirá todos os filhos de Sete” (Núme-ros 24.17).

Por isso, quando lemos que: “orei apontou para Ester o cetro de ouroque estava em sua mão”, devemosperceber que esse era mais do queum ornamento decorado de ourona mão de um rei gentio; era a pro-vidência de Deus para Israel que es-tava naquele cetro.

Como Ester reagiu? Ela falou aorei imediatamente sobre a catástrofeque aconteceria ao seu povo? Elaimplorou por misericórdia? Não.Ester sabia que estava na presençado rei que possuía o poder peloqual poderia decretar uma nova lei.De forma sábia, Ester primeiro pro-curou criar uma amizade não so-mente com o rei, mas também como inimigo: “Respondeu Ester: Se bemte parecer, venha o rei e Hamã, hoje,ao banquete que eu preparei ao rei”(Ester 5.4).

Durante o banquete, o rei per-guntou: “Qual é a tua petição?” (Es-ter 5.6). Ester respondeu: “se acheifavor perante o rei, e se bem parecer aorei conceder-me a petição, e cumprir omeu desejo, venha o rei com Hamã aobanquete que lhes hei de prepararamanhã, e então farei segundo o reime concede” (Ester 5.8). A rainhaEster foi cautelosa. Ela se compor-tou com dignidade real e convidouHamã e o rei para um outro ban-quete no dia seguinte.

Cheio de alegria e completa-mente cego quanto ao seu destino,Hamã proclamou a sua esposa eamigos: “Contou-lhes Hamã a glóriadas suas riquezas e a multidão de seusfilhos, e tudo em que o rei o tinha en-grandecido, e como o tinha exaltadosobre os príncipes e servos do rei” (Es-ter 5.11). A grande honra que lhefora dada não o fez consciente dasua própria desgraça; aliás, o queaconteceu foi exatamente o oposto:ele mergulhou em uma escuridãoainda maior. Hamã disse: “Porémtudo isto não me satisfaz, enquanto viro judeu Mordecai assentado à porta dorei” (Ester 5.13). Aí sua esposa seenvolveu: “Então, lhe disse Zeres, sua

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“O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres... o rei pôs-lhe na cabeça acoroa real e a fez rainha...” (Ester 2.17).

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mulher, e todos os seus ami-gos: Faça-se uma forca decinqüenta côvados de altu-ra, e, pela manhã dize aorei que nela enforquemMordecai; então, entra ale-gre com o rei ao banquete.A sugestão foi bem aceitapor Hamã, que mandou le-vantar a forca” (Ester5.14). A execução deMordecai foi agendadapara o dia seguinte, antesque Hamã comparecesseao banquete.

O rei não conseguia

dormirNo começo do capítu-

lo 6, ficamos sabendoque o rei, a quem o cetrofora concedido, não esta-va conseguindo dormir ànoite. Se o rei tivesseconseguido dormir, Mor-decai provavelmente teriasido executado e Hamãteria conseguido agir comautoridade. Mas Deus não haviaplanejado as coisas assim. Primeiroera necessário que Mordecai fossepoupado, e que o orgulhoso Hamãfosse humilhado e preparado parasua própria execução.

Quando foram lidas as crônicasdiante do rei insone, achou-se escri-to que certa vez Mordecai tinha sal-vado a vida de Assuero. Então o reiperguntou: “Que honras e distinçõesse deram a Mordecai por isso?” (Ester6.3). Semelhantemente aos nossosdias, esse fato havia-se perdido emmeio à burocracia do reino: “Nadalhe foi conferido” (v. 3), foi a respos-ta do servo.

Nesse caso, a insônia fez comque o rei ficasse alerta. Ele não agiuirracional e irresponsavelmente co-mo fez quando deu ouvidos ao ar-

gumento de Hamã a res-peito da aniquilação dopovo judeu.

Uma observação pes-soal: talvez a solução parasua insônia não esteja emremédios, visitas a médi-cos ou terapeutas. Podeser que a hora da sua in-sônia seja um tempo emque Deus deseja falarcom você. Sei que muitossofrem de uma ou maisdas inúmeras causas físi-cas ou emocionais quepodem causar insônia.Mas em certas ocasiõesnão há razão para ela; vo-cê simplesmente nãoconsegue dormir. Essa éuma hora ideal para seocupar com o seu Cria-dor; abra o livro, o Seu li-vro, e perceba que Elesalvou a sua vi-da. Você esca-pou de umaeternidade per-dida e semDeus para a

presença na mansão real.Que honra foi dada a Eleque lhe salvou? Ele fezcom que nossas Bíbliasfossem escritas para quepudéssemos entenderSuas intenções. Em suaspáginas você encontraráuma declaração de amor:“Porque Deus amou aomundo de tal maneira quedeu o seu Filho unigênito,para que todo o que nele crênão pereça, mas tenha a vi-da eterna” (João 3.16).Você já ofereceu uma res-posta a essa oferta? Seainda não, faça-o hoje.

Você já leu a acusaçãoque Jesus fez às pessoasde Jerusalém: “Nunca les-

tes nas Escrituras...?” (Mateus21.42)? Você quer saber sobre o fu-turo? Use a sua insônia para lermais sobre ele e então reaja ao quetiver lido através de uma conversacom Jesus. Ninguém nunca oroutanto como Jesus; Ele passava noi-tes inteiras em oração. DuranteSeus últimos dias, Ele teve que re-preender Seus discípulos: “Então,nem uma hora pudestes vós vigiar co-migo?” (Mateus 26.40). Pode muitobem ser que Deus providenciará es-sa insônia para que você tome umaposição sacerdotal em favor daque-les que estão por perecer. Vidas es-tão em jogo! Conforme Apocalipse1.6, Jesus, “nos constituiu reino, sa-cerdotes para o seu Deus e Pai”. Sejacomo a rainha Ester, que estavapronta a abrir mão de sua vida parair à presença do rei e interceder sa-cerdotalmente pelo seu povo. Vocêfará isso hoje? [continua]

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Talvez a solução para sua insônia não esteja emremédios, visitas a médicos ou terapeutas. Podeser que a hora da sua insônia seja um tempo em

que Deus deseja falar com você.

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No fim de maio de 1967, Israelestava cercado por 250.000 solda-dos inimigos, dois mil tanques e se-tecentos caças a jato. O Egito tinhafechado o Estreito de Tirana paraos navios israelenses. A Síria estavabombardeando a Galiléia com fogode artilharia pesada, como havia fei-to por dezenove anos. E a Jordâniatinha expulsado todos os judeus daJudéia e de Samaria.

O presidente do Egito, GamalAbdel Nasser, disse ao seu Parla-mento: “O problema que se apre-senta agora aos países árabes não ése o porto deve ser bloqueado, oucomo bloqueá-lo – mas como exter-minar totalmente o Estado de Israelpara sempre”.1 Em inferioridadenumérica e de armamento, Israelestava diante da aniquilação.

Porém, apesar da desvantagem,Israel lutou corajosamente. O resul-tado foi de tirar o fôlego. Naquelaque se tornou conhecida como aGuerra dos Seis Dias, Israel esma-

gou completamente os seus inimi-gos. Algumas semanas mais tarde, oentão general Yitzhak Rabin co-mentou: “Nossos soldados, distri-buídos pelos vários ramos das For-ças de Defesa de Israel, que derro-taram nossos inimigos em todaparte, apesar de sua superioridadenumérica e de suas fortificações –todos eles revelaram não só frieza ecoragem na batalha, mas uma ar-dente fé na justiça de sua causa[...]. Este exército [...] prevalece so-bre todos os inimigos em virtude desua moral e força espiritual”.2

Mais de 3.300 anos antes, outrogeneral judeu também teve que en-frentar forças superiores, além degigantes e cidades fortificadas (Nm13.28). Moisés tinha acabado demorrer. Acampada na margemoriental do rio Jordão, a congrega-ção enlutada esperava para ver deque Josué era capaz. Foi então queDeus lembrou àquele general que averdadeira coragem não está firma-

da em alicerces humanos, mas nasSuas promessas.

A Comissão de JosuéJosué, cujo nome original era

Oséias (Nm 13.8), como o do pro-feta, era filho de Num, um efraimi-ta. Moisés mudou seu nome deOséias (“salvação”) para Josué (“Ja-vé é salvação”), um nome que enal-tece a Deus como a única fonte ver-dadeira de salvação (Nm 13.16).

Durante muitos anos, Deus pre-parou Josué para exercer a lideran-ça. Na juventude, ele serviu ao pro-feta Moisés (Êx 33.11). Foi a Josuéque Moisés designou para liderar oataque a Amaleque (Êx 17.9-10,13). Josué também acompanhouMoisés durante parte da subida aomonte, quando ele recebeu as tá-buas de pedra originais, contendoos Dez Mandamentos (Êx 24.13).

Antes da construção do Taber-náculo, Moisés armava uma tenda

1100 Notícias de Israel, março de 2006

Bruce Scott

Soldados israelenses comemorama conquista da parte velha de

Jerusalém das mãos da Jordânia,em 11 de junho de 1967.

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fora do acampamento de Israel e alise encontrava com Deus (Êx 33.7).Josué ficava por perto e não se afas-tava da tenda, nem mesmo depoisque Moisés voltava para o acampa-mento (Êx 33.11). Em outra oca-sião, quando soube que havia ho-mens profetizando no acampamen-to, Josué teve zelo pela reputaçãode Moisés (Nm 11.28).

Mas talvez o jovem Josué sejamais lembrado por sua profunda féem Deus. Ele foi um dos doze is-raelitas enviados de Cades-Barnéiapara espiar a terra de Canaã, e sóele e Calebe voltaram com um rela-tório positivo (Nm 13-14). Por isso,Deus os recompensou, “porque per-severaram em seguir ao SENHOR”(Nm 32.12). Quarenta anos depois,eles eram as únicas pessoas que ti-nham vinte anos ou mais em Ca-des-Barnéia e que viveram para en-trar na Terra Prometida.

Todos esses acontecimentos pre-pararam Josué para o que Deus ti-nha reservado para ele. Pouco antesde sua morte, o próprio Moisés pe-diu a Deus que indicasse um líderpara Israel (Nm 27.15-17). Deusescolheu Josué, “homem em quem háo Espírito” (v. 18).

De fato, Deus comissionou Jo-sué mais de uma vez. Em Números27, Moisés impôs as mãos publica-mente sobre Josué, simbolizandoidentificação, assim como a transfe-rência de autoridade e sabedoria (v.23; Dt 34.9). Depois disso, Moisésexortou Josué publicamente a con-duzir a congregação para a TerraPrometida (Dt 31.7-8). Finalmen-te, na presença de Moisés, o pró-prio Deus comissionou Josué noTabernáculo (Dt 31.14,23).

O chamado de Josué representa-va uma grande responsabilidade.Ele deveria levar o povo para a Ter-ra Prometida (Dt 3.28), repartir aporção situada a oeste do rio Jordãocomo herança entre nove tribos e

meia, e assegurar que as duas tribose meia que ficaram a leste do Jor-dão ajudassem as outras na luta(Nm 32.20-21). Não é de admirarque Josué tenha ouvido nada menosque seis vezes a ordem: “Sê forte ecorajoso” (Dt 31.7,23; Js 1.6-7,9,18).

Porém, uma coisa é ouvir a or-dem de ter coragem; outra coisabem diferente é demonstrá-la. Acoragem de Josué não se baseavanum desejo ou em pensamento po-sitivo. Ela estava firmada nas imu-táveis promessas de Deus.

Coragem Para a JornadaNinguém que lute nas batalhas

de Deus vai sozinho para o comba-te. Moisés apontou a derrota dosdois reis dos amorreus como umademonstração do que Deus poderiafazer com todos os reinos cananeus.Ele advertiu Josué de que não seamedrontasse “porque o SENHOR,vosso Deus, é o que peleja por vós”(Dt 3.22); e prometeu que Deusiria adiante de Josué na conquistada Terra Prometida, estaria comele, e não falharia, nem o abando-naria (Dt 31.8).

O próprio Senhor também ani-mou Josué, prometendo: “Eu sereicontigo” (Dt 31.23). Quando Deusé conosco, não precisamos de maisnada. Josué compreendeu isso, edeve ter-se sentido bastante encora-jado.

Em Josué 1, entretanto, a situa-ção de Josué mudou. Moisés haviamorrido. O período de luto haviaterminado. E o manto da liderançaestava sobre seus ombros. Agoraera hora de agir. Mas, será que eleteria coragem? Foi então que Deuslhe deu o que seria a plataforma deseu sucesso pelo resto da vida.

O Senhor começou ordenando aJosué que se levantasse e marchas-se, ele e todo o Israel. A Terra Pro-

metida já era deles, porque o Se-nhor a tinha dado. Mas sua possedependeria exclusivamente do ta-manho do passo de fé que eles esta-vam dispostos a dar (Js 1.2-4).

Em seguida, Javé tratou com Jo-sué pessoal e diretamente, fazendo-lhe uma série de promessas: (1) Jo-sué seria invencível; (2) como Deustinha sido com Moisés, assim seriacom ele; e (3) Deus não falharianem o abandonaria (v.5). Depois,Deus disse a Josué que fosse forte ecorajoso. Essa coragem estava ali-cerçada na certeza de que Josué se-ria um instrumento nas mãos deDeus para cumprir as promessasque ele havia feito a Abraão, Isaquee Jacó (v. 6).

Josué também recebeu ordem decumprir cuidadosamente a lei deDeus (v. 7). O Senhor chegou até adizer-lhe como deveria exercer essecuidado:

“Não cesses de falar deste Livro daLei*; antes, medita nele dia e noite,para que tenhas cuidado de fazer se-gundo tudo quanto nele está escrito;então, farás prosperar o teu caminho eserás bem-sucedido” (v. 8).

Primeiramente, Josué deveria seencher da Palavra de Deus. Domesmo modo que ele não se aparta-va da tenda da congregação (Êx33.11), a palavra de Deus jamaisdeveria se apartar (mesma palavrahebraica) de todo o seu ser. A pala-vra falar é uma expressão idiomáti-ca que significa internalizar a Pala-vra de Deus a tal ponto que ela co-meça a transbordar pela boca. Emsegundo lugar, Josué deveria medi-tar na Palavra de Deus o dia todo.Ele não deveria simplesmente acu-mular conhecimento, mas sim refle-tir sobre o que estava pondo em suamente e em seu coração, tirar liçõespara sua vida e aplicá-las. Fazendo

1111Notícias de Israel, março de 2006

* A Edição Revista e Corrigida diz: “Não seaparte da tua boca o livro desta Lei [...]”.

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1122 Notícias de Israel, março de 2006

Horizonte

assim, seu sucesso estaria garanti-do.

Finalmente, Deus concluiu Suapalavra de encorajamento com umapergunta retórica: “Não to mandeieu?” (v. 9). A pergunta tinha umaimplicação: com a ordem de Deus,vinha também a capacitação paracumpri-la. Portanto, Deus tinha odireito de ordenar a Josué que fosseforte, intrépido e destemido, pois orecurso que Deus estava provendoera Ele mesmo: “porque o SE-NHOR, teu Deus, é contigo por ondequer que andares” (v. 9).

Coragem Para AgirDepois disso, Josué sentiu-se

cheio de coragem, porque, no con-texto seguinte, ele começou a agir.Ele delegou responsabilidades (v.10). Ele preparou o povo (v. 11). Eele levou adiante sua promessa delembrar as tribos a leste do Jordãopara ajudarem seus irmãos na luta(vv. 12-15).

As tribos declararam lealdade,mas exigiram qualificações. Os is-raelitas queriam um líder forte e au-daz, que evidenciasse a presença deDeus em sua vida: “Tão-somente se-ja o SENHOR, teu Deus, contigo, co-

mo foi com Moisés. [...] Tão-somentesê forte e corajoso” (vv. 17-18). Essasqualificações recomendariam aaprovação de qualquer líder temen-te a Deus, em qualquer época.

Outro motivo que nos permiteafirmar que Josué estava cheio decoragem são os atos que praticou,conforme narra o restante do livro.Ele levou os filhos de Israel a entra-rem na Terra Prometida, derrotouseus inimigos e dividiu a terra entreas tribos.

Realmente, ele tinha coragem; eela estava firmada na fidelidade daPalavra de Deus. Como bem lem-brou Josué, já velho, ao povo de Is-rael: “Eis que, já hoje, sigo pelo cami-nho de todos os da terra; e vós bem sa-beis de todo o vosso coração e de toda avossa alma que nem uma só promessacaiu de todas as boas palavras que fa-lou de vós o SENHOR, vosso Deus;todas vos sobrevieram, nem uma delasfalhou” (Js 23.14).

Princípios de CoragemAssim como Josué, quaisquer

que sejam as lutas que enfrentemose as batalhas que surjam em nossavida, podemos ser fortes e corajosos– não porque somos assim por na-

tureza, mas porque, como crentes,nossa coragem está baseada nasimutáveis promessas de Deus.

Podemos ser fortes e ousadosporque: “Em todas estas coisas, po-rém, somos mais que vencedores, pormeio daquele que nos amou” (Rm8.37). Jesus prometeu: “E eis que es-tou convosco todos os dias até à consu-mação do século” (Mt 28.20). Verda-deiramente, Deus prometeu: “Demaneira alguma te deixarei, nunca ja-mais te abandonarei” (Hb 13.5).

No mundo de hoje, cheio de ter-ror e incertezas, ainda podemos sercomo Josué e firmar nossa coragemno alicerce da Palavra de Deus e nacerteza de que, não importa o queDeus nos chamar para fazer, Eleproverá os recursos para realizá-lo:“Fiel é o que vos chama, o qual tam-bém o fará” (1 Ts 5.24). (Israel MyGlory)Bruce Scott é representante de TheFriends of Israel em New Hope, Minne-sota (EUA).

Notas:1. Howard M. Sachar, A History of Israel:

From the Rise of Zionism to Our Time (No-va York: Alfred A. Knopf, 1982), 633.

2. Yigal Allon, Shield of David: The Story of Is-rael’s Armed Forces (Jerusalem: Weiden-feld and Nicolson, 1970), 268.

É estranho, mas existe um jeito cer-to e um jeito errado de propor a elimi-nação de Israel.

O secretário-geraldas Nações Unidas,Kofi Annan, brindou-nos com um exemplode ambos nas últimassemanas. Quando o

presidente do Irã, Mahmoud Ahmadi-nejad, declarou em 26 de outubro de2005 que “o regime que ocupa Jerusa-

lém deve ser eliminado das páginas daHistória”, Annan respondeu dizendo-se “consternado”. Em 8 de dezembro,quando Ahmadinejad sugeriu que setransferisse Israel para a Europa, areação de Annan foi de “choque”.

Mas a consternação e o choquesentidos pelas declarações de Ahmadi-nejad não impediram que Annan parti-

Eliminando Israel com delicadeza

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cipasse em 29 de novembro, bem naentressafra dos ataques de fúria irania-na, de um “Dia Internacional de Soli-dariedade ao Povo Palestino”, sob osauspícios da ONU. Anne Bayefsky, do“Eye on the UN” (“De Olho na ONU”),conta que Annan presidiu a solenidadesentado a uma mesa perto da qual um“mapa da Palestina” indicava, em ára-be, a Palestina no lugar de Israel. Oque estava ali era a realização carto-gráfica exata dos desejos de Ahmadi-nejad: o fim do Estado judeu.

As atitudes contraditórias de An-nan resultam de que, já em 1993,apelos explícitos pela destruição de Is-rael passaram a ser ofensivos, en-quanto os implícitos se tornaram maisaceitáveis. Fazem parte dos últimos:

– Exigir o reconhecimento de um“direito de retorno” para os palestinos(o que os levaria à superioridade de-mográfica no Estado judeu, pois todoárabe poderia alegar que é um pales-tino);

– Declarar uma “jihad (guerra san-ta) para libertar Jerusalém”;

– Deplorar a criação de Israel co-mo Al-Nakba (“o desastre”);

– Propor a “solução de um Estadoúnico” (ou seja, o desaparecimento deIsrael);

– Homenagear “todos os que de-ram a vida pela causa do povo palesti-no” (inclusive os terroristas suicidas); e

– Excluir Israel dos mapas.O Fatah e o Hamas expõem a mes-

ma dicotomia. Um e outro aspiram àeliminação de Israel, mas escolheramcaminhos diferentes para concretizarseu objetivo.

As táticas do Fatah têm se caracte-rizado pelo oportunismo, pela duplici-dade e pela inconsistência desde1988, quando Yasser Arafat simulouuma condenação do terrorismo e ini-ciou o “processo de paz” com Israel –mesmo enquanto patrocinava atenta-dos suicidas e promovia uma ideolo-gia que nega totalmente a legitimida-de israelense. Essa mistificação cristali-

na permitiu ao Fatah obter grandesvantagens de Israel, inclusive um go-verno autônomo, uma força quase mi-litar, subvenções consideráveis do Oci-dente e o controle quase pleno de umafronteira.

O Hamas, ao contrário, tem recha-çado sistematicamente a existência deIsrael, atitude que lhe conquistou par-celas cada vez maiores da opinião pú-blica árabe palestina (obtendo 45%dos votos nas recentes eleições). Essarejeição declarada também fez deleum anátema para Israel e outros paí-ses, limitando sua eficácia. O Hamas,em conseqüência, passou a se mostrarmais flexível nos últimos meses; no ge-ral, respeitou, por exemplo, o cessar-fogo com Israel e caminha no sentidode fazer parte do processo diplomáti-co. Isso lhe traz certas vantagens; comalgum sucesso, a Conflicts Forum e ou-tras organizações estão apresentandoo Hamas como um interlocutor desdeagora legítimo.

A Jihad Islâmica palestina bem po-de se considerar a única organizaçãoabsolutamente hostil a Israel.

Por que essas diferenças de estilosão importantes? Porque o método es-colhido pelo Fatah seduz os israelen-ses o bastante para convencê-los a co-laborar; os eufemismos, as inconsis-tências, os subterfúgios e as mentirasinspiradas em Arafat os encorajam afazer “concessões dolorosas”. Em opo-sição, o método de Ahmadinejad ouda Jihad Islâmica confronta os israe-lenses com ameaças ostensivas e bru-tais, que não podem ser explicadaspor meio da lógica. Os apelos desca-rados à eliminação de Israel deixamos israelenses apreensivos, levam-nosa buscar novos armamentos e a fecharas saídas diplomáticas.

Esses estratagemas são um teste decredulidade – será que os israelensespercebem que o primeiro método nãoé menos letal que o segundo?

Na verdade, não. Desde 1993 osisraelenses vêm se mostrando, nas pa-

lavras do filósofo Yoram Hazony, “umpovo exaurido, confuso e sem dire-ção”, desejoso e até ansioso por serenganado pelo inimigo. Tudo o queeles querem é alguma promessa, pormais duvidosa, de que ficarão livresda guerra, e mal podem esperar parafazer concessões aos seus inimigosmortais.

Assim, a opinião mundial esclare-cida condena Ahmadinejad, sentindoque ele foi longe demais e que fará osisraelenses recuarem. Se ao menos eleabrandasse o tom de seu discurso egentilmente pedisse a eliminação deIsrael, por exemplo, através da solu-ção do Estado único, tudo estariabem.

Assim, os israelenses definem efeti-vamente qual anti-sionismo é aceitávele qual não é. O fato de Kofi Annan aomesmo tempo condenar e apoiar o fimde Israel é um mero reflexo do cerimo-nial de destruição criado pelos pró-prios israelenses. (Daniel Pipes, extraí-do de www.MidiaSemMascara.com.br)

1133Notícias de Israel, março de 2006

Horizonte

Annan presidiu a so-lenidade sentado auma mesa perto daqual um “mapa daPalestina” indicava,em árabe, a Palesti-na no lugar de Is-rael. O que estavaali era a realiza-ção cartográficaexata dos dese-jos de Ahmadi-nejad: o fim doEstado judeu.

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No dia 20 de novembro de1945, há pouco mais de 60 anos,foi instalado na cidade de Nurem-berg, Alemanha, o tribunal aliadoque, ao fim do conflito mundial,julgou os líderes nazistas por seuscrimes de guerra e contra a huma-nidade, com ênfase no assassinatode milhões de judeus.

É senso comum admitir que a histó-ria é sempre escrita pelos vitoriosos.Mas não foi este o legado do Tribunalde Nuremberg. Antes de tudo, os cri-minosos de guerra nazistas tiveram umdireito que eles próprios jamais conce-deram a suas vítimas: o da defesa. Otribunal não era movido por sentimen-to de vingança. Sua finalidade era fa-zer prevalecer o princípio humanitáriodo ritual da justiça e conferir veracida-de documental aos relatos dos assassi-natos em massa, os quais no final daguerra muita gente julgou inverossí-meis.

De fato, era incrível que seres hu-manos pudessem elaborar um planotão eficiente, tão minucioso, com tantacapacidade para separar e aprisionarseis milhões de judeus dentre as popu-lações de centenas de cidades da Eu-ropa e aniquilá-los da forma mais in-digna e abjeta de que se tem notíciano curso da história. O Tribunal deNuremberg abriu uma chaga na almados homens de bem em todas as par-tes do mundo, chaga que continua – edeve continuar – aberta, mesmo de-corridos 60 anos de sua exposição.

Seguem partes de interrogatórios evereditos referentes a alguns dos prin-cipais acusados no processo. Um dosréus mais visados foi o almirante KarlDoenitz, por ter sucedido oficialmentea Hitler e negociado a rendição incon-dicional da Alemanha nazista. Ele sedefendeu dizendo que toda a culpadeveria recair não sobre os militares,mas sobre os políticos que levaram o

nazismo ao poder einiciaram a guerra. Aacusação, entretanto,mostrou documentosreferentes à chamada“Ordem Lacônia”, de1942, na qual Doenitzproibiu qualquer socor-ro aos náufragos deembarcações aliadasatingidas, argumentan-do que o inimigo nãose importava com asmulheres e criançasalemãs nas cidadesque bombardeava. Aexemplo de quase to-dos os demais réus,Doenitz afirmou queignorava a existênciados campos de exter-mínio. Admitiu que,por volta de 1938,

soube de algumas perseguições contraos judeus, “mas estava muito ocupadocom problemas navais para me preo-cupar com os judeus”. Foi condenadoa dez anos de prisão, vindo a morrerem 1980.

Hans Frank, governador da Polô-nia ocupada, também conhecido comoo “Carrasco de Cracóvia”, chegou aconfessar, em parte, sua culpa. De for-ma surpreendente, declarou à promo-toria que não se deixasse enganar poraqueles que dissessem não saber denada “porque todos percebíamos quehavia algo terrivelmente errado no sis-tema”. Acrescentou que Hitler desgra-çara a Alemanha para sempre e traírao povo alemão que tanto o amava. Notocante aos judeus, afirmou que o pro-grama do partido nazista não previaa eliminação física dos mesmos e queessa medida foi tomada pelo próprioHitler, no decorrer da guerra. Entre-tanto, uma página de seu diário, exi-bida no tribunal, continha os seguintesdizeres: “Os judeus devem ser elimina-dos. Cada vez que pegarmos um de-les, será o seu fim”. E mais adiante: “Éclaro que não vou conseguir eliminartodos os judeus da Polônia em apenasum ano”. Hans Frank teve o vereditode “culpado” e foi enforcado no dia16 de outubro de 1946.

Wilhelm Frick, jurista e ministro doInterior do regime nazista, foi o reda-tor final das leis de Nuremberg, quecomeçaram por privar os judeus deseus direitos civis e acabaram evoluin-do para a concepção e instalação doscampos de extermínio. Frick, porém,teve a desfaçatez de declarar peranteo tribunal que não era anti-semita eque aquelas leis de sua responsabili-dade se deviam a razões científicas,ou seja, à preservação da pureza dosangue alemão. Foi enforcado em 16de outubro de 1946.

A par das transcrições dos interro-gatórios dos réus e dos pronunciamen-tos da defesa e acusação, uma dasfontes mais importantes sobre o tribu-

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Horizonte

Justiça em Nuremberg

No dia 20 de novembro de 1945, há pouco mais de 60anos, foi instalado na cidade de Nuremberg, Alemanha, o tribunal aliado que, ao fim do conflito mundial, julgou os líderes nazistas por seus crimes de guerra e contra a humanidade, com ênfase no assassinato de milhões de judeus. Na foto: o tribunal de Nuremberg.

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nal está no livro, há pouco lançado noBrasil, “As Entrevistas de Nuremberg”,que reproduz as anotações do psi-quiatra americano Leon Goldensohn,falecido em 1961. Competiu-lhe a ta-refa, designado pelo governo dos Es-tados Unidos, de dialogar freqüente-mente com todos os acusados, tendocomo avaliar suas condições psicológi-cas no decorrer do processo.

Apesar de judeu, Goldensohn con-seguiu conter a emoção e realizou umtrabalho estritamente profissional, bus-cando, na infância e juventude dosréus, os motivos que poderiam tê-loslevado a praticar crimes tão hedion-dos. Quando conversou, por exemplo,com o marechal Wilhelm Keitel, que seconsiderava um militar de impecávelestirpe e que também foi condenado àforca, dele ouviu: “Nunca soube dabrutalidade durante a guerra. Nuncase falou uma palavra sobre a perse-guição ou assassinatos de judeus. Hi-tler era um grande psicólogo, nesseparticular. Sabia que não podia exigiressas coisas de um cavalheiro e ofi-cial, nem sequer mencionar taisidéias”. Quanto ao chanceler Ribben-trop, outro condenado à morte, o psi-quiatra anotou: “Ele disse que, a lon-go prazo, historicamente, o extermíniodos judeus sempre seria uma manchana história da Alemanha, mas queera, de certa forma, atribuível ao fatode Hitler ter perdido seu senso de me-dida e, por estar perdendo a guerra,ter perdido totalmente a razão no to-cante aos judeus”.

De todos os réus, o mais controver-tido e polêmico foi, sem dúvida, Her-mann Goering, comandante da forçaaérea alemã e, a rigor, o número doisdo nazismo, depois de Hitler. Ao con-trário dos réus que se sentiram intimi-dados perante os juízes das naçõesaliadas (Estados Unidos, França, In-glaterra e União Soviética), Goeringparecia exercer liderança e autorida-de em relação aos demais acusados.Foi o mais preciso e também o mais

insolente nas respostas aos interroga-tórios, declarando, a certa altura: “Es-te é um julgamento político comanda-do pelos vitoriosos e será uma boacoisa quando a Alemanha se der con-ta disso. Recebíamos ordens e tínha-mos que obedecer ao chefe do Estado.Mas, não éramos um bando de crimi-nosos que se reunia na calada da noi-te para planejar massacres. Os quatroverdadeiros e principais conspiradoresnão estão aqui: Hitler, Himmler, Bor-mann e Goebbels”. Dentre todos osréus, também foi o que mais se abriunas conversas com o psiquiatra e, desuas palavras, é possível perceber queele simplesmente não sabia distinguiro bem do mal.

Justificou com desfaçatez o fato deter pilhado centenas de obras de arte,de grande valor, nos países sob ocu-pação nazista: “Sempre gostei de vi-ver cercado por coisas bonitas”. Esseaspecto de sua personalidade ficouevidente quando disse a Goldensohn:“Tenho pensado acerca de suas per-guntas insistentes sobre o meu tempode menino. Cheguei à conclusão deque não havia diferença entre eu me-nino e eu adulto, mesmo hoje. Acredi-to que o menino tinha todas as marcasque mais tarde apareceriam no adul-to”. Sobre a destruição de inúmerosbens de judeus alemães, repreendeuseus subordinados: “Era melhor termatado duzentos judeus do que per-der patrimônios tão valiosos”.

Procurou isentar-se de quaisquerculpas quando afirmou: “Perdi terrenocom Hitler e, em 1943, já estava emdesgraça. Em 1944, Hitler nem falavamais comigo. Gradualmente a coisa iapiorando. Ele cismou, então, que euestava tentando substituí-lo e ordenouminha prisão e execução. Cheguei aser detido pela SS por uma ordem as-sinada por Bormann. Entretanto, umde meus grupos de pára-quedistas meresgatou”. Sempre que foi confrontadopelo promotor americano Jackson, queexibiu documentos à corte e conduziu

seu interrogatório com paciência eperspicácia, Goering apelou para afalta de memória. Muitas vezes disseignorar o conteúdo das leis anti-semi-tas que assinou e quando Jackson lheexibia sua assinatura nos papéis, res-pondia com uma ponta de cinismo:“Se a minha assinatura está aí, entãofui eu mesmo que assinei”.

No tocante aos campos de extermí-nio, tornou a ser cínico: “Certa vez,soube que uns poucos milhares depessoas haviam sido mortas. Penseique fosse propaganda do inimigo.Quando indaguei a respeito, disse-ram-me que era propaganda mesmo.Ouvi o nome de Eichmann aqui, pelaprimeira vez. Que os judeus deviamser evacuados da Alemanha estavaclaro, mas não exterminados. Depoisda guerra os judeus deviam ser eva-cuados para a Palestina ou outra par-te. Não assumo a responsabilidadepor coisas que ignorava, como asatrocidades e os campos de concen-tração”. Hermann Goering recebeu overedito de “culpado”, foi condenadoà forca, mas se suicidou em sua celacom uma pílula de veneno, provavel-mente fornecida por sua mulher, pou-co antes do horário marcado para aexecução.

Fritz Sauckel, que tinha um peque-no bigode à feição de Hitler, foi o res-ponsável pelo trabalho escravo de cin-co milhões de pessoas durante o regi-me nazista. Durante o processomanteve-se todo o tempo na defensivae enfatizou que mantinha sua admira-ção por Hitler porque os maiores res-ponsáveis pelos crimes de guerra, noseu entender, eram Himmler, Bormanne Goebbels. Ao psiquiatra americanodeclarou que jamais tinha percebidoqualquer atitude anti-semita em suafamília e que era natural que tivesseassimilado as idéias do partido nazis-ta quando a este se filiou.

Ficou convencido de que a questãojudaica deveria ser enfrentada e “quemesmo entre os judeus havia os sionis-

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Horizonte

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tas que concordavam que os judeus sãouma raça e que deviam ter seu própriopaís” (o movimento sionista jamais atri-buiu aos judeus a condição de raça,mas de povo). Sauckel veio a governara província da Turíngia, onde, segundoafirmou, jamais presenciou qualquerperseguição aos judeus. Quando lheexibiram provas de que havia estadono campo de concentração de Buchen-wald, localizado na Turíngia, disse quesua jurisdição não incluía o campo“porque aquele território pertencia aHimmler”. Foi enforcado no dia 16 deoutubro de 1946.

De todos os horrores revelados noTribunal de Nuremberg, o depoimentomais chocante não foi emitido por ne-nhum réu, mas por uma testemunha,Rudolf Hoess, comandante do campode extermínio de Auschwitz.

Segue parte de seu interrogatório.Promotor – De 1940 a 1943 o se-

nhor comandou o campo de Aus-chwitz. É verdade?

Hoess – Sim.Promotor – E, durante esse tempo,

centenas de milhares de seres huma-nos ali foram mortos. Isso é correto?

Hoess – Sim.Promotor – É verdade que o se-

nhor não anotou a quantidade de víti-mas porque estava proibido de fazê-lo?

Hoess – Está correto.Promotor – E também é correto

que somente um homem, chamadoEichmann, tinha esses números? Queesse homem cumpria a tarefa de jun-tar e organizar as vítimas?

Hoess – Sim. Promotor – É verdade que Eich-

mann lhe revelou que mais de dois mi-lhões de judeus foram aniquilados emAuschwitz?

Hoess – É verdade.Promotor – Homens, mulheres e

crianças?Hoess – Sim.Promotor – É verdade que em

1941 o senhor foi chamado a Berlim

para se encontrar com Himmler. Oque foi discutido nessa ocasião?

Hoess – Ele me disse que Hitler ha-via emitido uma ordem para a soluçãofinal do problema judaico e que nós,da SS, deveríamos cumprir essa or-dem. Se isso não fosse feito, os judeusdestruiriam a Alemanha. Eichmannhavia escolhido Auschwitz por estarnuma região isolada e ter fácil acessoferroviário.

Promotor – Essa solução final de-veria ser tratada como um segredo deEstado?

Hoess – Sim. Ele enfatizou esteponto. Eu não poderia dizer nada,nem mesmo ao meu superior. Tudodeveria ficar entre nós dois.

Promotor – O senhor cumpriu essapromessa?

Hoess – Quebrei-a somente comminha mulher, que tinha ouvido rumo-res sobre o que se passava no campo.

Promotor – Quando o senhor co-nheceu Eichmann?

Hoess – Um mês depois de recebera ordem de Himmler. Ele veio a Aus-chwitz para acertar comigo os deta-lhes da operação e somente dele eudeveria receber qualquer ordem.

Promotor – Quando os transportescomeçaram a trazer os judeus, quan-tos vieram ao campo?

Hoess – Os trens eram diários etraziam cerca de duas mil pessoas.Dois médicos da SS avaliavam a ca-pacidade de trabalho dos prisioneiros.

Promotor – Depois da chegada, osprisioneiros eram desprovidos de tudoque possuíam? É verdade que tinhamque se despir e entregar seus valores?

Hoess – É verdade.Promotor – E eram imediatamente

levados para as execuções?Hoess – Eram.Promotor – Essas pessoas sabiam

o que lhes estava aguardando?Hoess – A maioria, não, porque

havia placas em diferentes idiomas in-dicando locais de desinfecção ou chu-veiros.

Promotor – O senhor declarou emdepoimento anterior que as mortes nascâmaras de gás ocorriam num tempode três a quinze minutos. É verdade?

Hoess – Sim.Promotor – Alguma vez o senhor

sentiu pena das vítimas, pensando nasua família e nos seus próprios filhos?

Hoess – Senti.Promotor – E, como apesar disso,

conseguia perpetrar suas ações?Hoess – A despeito do sentimento,

o argumento mais decisivo era a or-dem que eu recebera de Himmler.

Nas entrevistas com o psiquiatra,Hoess confessou que antes de acionaro extermínio em Auschwitz, fez umaprendizado no campo de Treblinka.Revelou que ali foram erguidos dezpequenos compartimentos de cimento,como se fossem cabanas, onde cercade duzentas pessoas eram comprimi-das, a ponto de os militares terem defazer força para fechar as portas.

Ao lado das cabanas instalarammotores de caminhões que, através deum exaustor, expeliam durante umahora gás carbônico para dentro [doscompartimentos]: “Não sei quantotempo as pessoas levavam para mor-rer, mas quando as portas eram aber-tas, não sobrava ninguém”. Os por-menores descritos por Hoess, sobreAuschwitz, são impressionantes porseu conteúdo e pela frieza com que osnarrou: “Era um prédio grande e mo-derno, com quatro câmaras de gássubterrâneas e cinco fornos cremató-rios acima. Queimar duas mil pessoaslevava cerca de 24 horas, em todos osfornos. Mas, ocorriam atrasos na cre-mação porque era mais fácil extermi-nar com gás do que cremar”. Nesseespectro de horror, era chocante queHoess, a mulher e os filhos morassemcom todo o conforto junto a Aus-chwitz, numa ampla residência rodea-da por um jardim, situada antes dogrande portão.

Esse cenário nos remete a uma si-tuação de insuportável surrealismo: na

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vizinhança das câmaras de gás e dosfornos crematórios, uma família alemãcomia e dormia, brincava ou brigava,lia os jornais e ouvia música como senada de anormal estivesse acontecen-do a centenas de metros de sua casa.Das diversas conversas entre o psi-quiatra e o carrasco, é possível com-por o diálogo seguinte. Goldensohn:“O que sua mulher dizia sobre o queali se passava?” Hoess: “Minha mulhersó soube em 1942. Ela me perguntoua respeito e eu disse que era verda-de”. Goldensohn: “Como ela reagiu?”Hoess: “Achou cruel, mas eu lhe conteia conversa mantida com Himmler eela não tocou mais no assunto”. Gol-densohn: “Qual você acha que de-veria ser seu castigo?” Resposta: “Serenforcado”. Rudolf Hoess, mais tarde

julgado por um tribunal polonês, foicondenado à forca e executado – emAuschwitz, no dia 7 de abril de 1947.

Os trabalhos do Tribunal de Nu-remberg se estenderam por 403 ses-sões, de novembro de 1945 a outubrode 1946. Foram ouvidas mais de umacentena de testemunhas e examinadosmilhares de documentos. De todo ocorpo jurídico aliado, a atuação maisdestacada foi a do promotor Robert H.Jackson, então brilhante integrante daSuprema Corte dos Estados Unidos ehomem de confiança do presidenteRoosevelt. Suas alegações finaisecoam até hoje: “Nós acusamos quetodas as atrocidades contra os judeusforam a manifestação e a culminaçãodo plano nazista, no qual, a cada umdos réus cabe sua parte. Embora al-

guns tenham agora reconhecido queesses crimes de fato ocorreram, ne-nhum deles se opôs à política do ex-termínio, nem a tentou revogar ou mo-dificar. Foi a determinação de extin-guir os judeus que cimentou suaconspiração em comum”. (Zevi Ghivel-der, extraído de www.moras-ha.com.br)

Zevi Ghivelder é escritor e jornalista.

Bibliografia:“As Entrevistas de Nuremberg”, Leon Golden-sohn, Companhia das Letras, 2005;“America’s Advocate: Robert H. Jackson”,Bobbs-Merrill, 1958;“The Nurnberg Case”, Robert H. Jackson,Cooper Square Publishers, 1971.

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OS RÉUS DO PROCESSO

Albert Speer – Ministro de arma-mentos e munições. Confidente de Hi-tler. Condenado a vinte anos.

Alfred Jodl – Chefe de operaçõesdo alto comando nazista. Condenadoà forca.

Alfred Rosenberg – Filósofo do an-ti-semitismo e governador-geral doleste europeu. Condenado à forca.

Arthur Seys-Inquart – Chanceler daÁustria e, depois, governador da Ho-landa ocupada. Condenado à forca.

Erich Raeder – Comandante damarinha alemã. Condenado à prisãoperpétua.

Baldur von Schirach – Líder da Ju-ventude Hitlerista. Condenado a vinteanos.

Ernst Kaltenbrunner – Chefe daPolícia de Segurança. Condenado àforca.

Franz von Papen – Vice-chancelere embaixador na Turquia. Absolvido edepois condenado por outro tribunal aoito anos.

Fritz Sauckel – Chefe do recruta-mento do trabalho escravo. Condena-do à forca.

Hans Frank – Governador da Polô-nia ocupada. Condenado à forca.

Hans Fritzche – Diretor do departa-mento de rádio do Ministério da Pro-paganda. Absolvido em Nuremberg,mas condenado a nove anos de prisãopor outro tribunal.

Hermann Goering – Segundo nahierarquia nazista. Suicidou-se antesde ser enforcado.

Joachim von Ribbentrop – Ministrodas relações exteriores. Condenado àforca.

Hjalmar Schacht – Presidente doBanco do Reich. Absolvido.

Julius Streicher – Editor do jornalanti-semita Der Sturmer. Condenado àforca.

Karl Doenitz – Comandante da ar-mada naval alemã. Sucessor oficial deHitler. Condenado a dez anos.

Konstantin von Neurath – Ministrodas relações exteriores e, depois, go-vernador da Boêmia e da Morávia

ocupadas. Condenado a quinze anosde prisão.

Rudolf Hess – Vice de Hitler. Con-denado à prisão perpétua.

Walther Funk – Ministro da Econo-mia. Condenado à prisão perpétua.

Wilhelm Frick – Ministro do Inte-rior. Condenado à forca.

Wilhelm Keitel – Chefe do estado-maior do alto comando do exército.Condenado à forca.

Hermann Goering depondo no tribunal.

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A ligação entre o povo judeu e asColinas do Golã remonta aos tem-pos bíblicos. Diz a tradição judaicaque foi no Monte Havtarim, na re-gião do Monte Hermon, a 1.296metros acima do nível do mar, nosdeclives de Katef Sion, que Deusprometeu a Abraão que lhe daria aterra para seus descendentes. Umantigo túmulo marca o local e umrobusto carvalho ergue-se ao lado.

“Os olhos de Israel”. Assim é cari-nhosamente chamado o Monte Hermon,ponto culminante do país, localizado notopo da cordilheira do mesmo nome, en-tre a fronteira de Israel e a Síria. Assimdenominado por causa de seus picos, éum dos principais centros de prática deesportes de inverno. Com 2.224m, foi olocal escolhido para a implantação deum centro de lazer para turistas e aman-tes do esqui, pois a neve faz parte dapaisagem natural da área de novembroa março, cobrindo de branco os picosdo Hermon. De suas encostas, que dege-lam após o inverno, nasce o rio Jordão.Nos dias claros de verão, do alto dasmontanhas, tem-se uma das vistas maisbelas da Galiléia. A região é apreciadatambém por outro tipo de turistas, alémdos esquiadores: os observadores depássaros. Por sua altura e a existentefauna e flora, é considerada uma dasmelhores áreas da região.

Fundamentalmente estratégicas pa-ra a defesa do país, somente após aGuerra dos Seis Dias, em 1967, as Co-linas do Golã e o Monte Hermon pas-saram do controle sírio para o de Is-rael, inaugurando uma era de tranqüili-dade desconhecida, há décadas, pelapopulação israelense do Norte do país.

Vestígios da antigüidadeDizem os historiadores que a re-

gião sempre foi disputada pelos povos

que lá viveram. Os amoritas a domi-naram do 3º ao 2º milênio antes danossa era, quando foram derrotadospelos arameus. Posteriormente deno-minada Bashan, foi uma área disputa-da pelo reino de Israel e o dos ara-meus, a partir do ano 800 a.C. A par-tir daí, se seguiram constantes trocasde poder: assírios, babilônios, persas.No século V a.C., a região voltou aser povoada pelos judeus que retorna-vam do exílio da Babilônia.

Alexandre, o Grande, conquistouas montanhas no século IV antes destaera, mantendo-as sob controle helenís-tico até sua captura pelos romanos.Foi quando passaram a ser chamadasde Golã. Os gregos costumavam refe-rir-se às redondezas como “Gaulanis-tis”, termo usado pelos romanos, daí onome Golã. A Primeira Revolta Judai-ca contra as forças de Roma aconte-ceu de 66 a 73 d.C., quando um gru-po de judeus ocupou a colina deGamla. Estes foram derrotados e a ci-dade, destruída. O local tornou-se co-nhecido como “A Massada do Golã”.

Durante o reinado dos romanos,chegaram os gassânidas, em 250d.C., e construíram sua capital em Ja-biyah. Dividido o Império Romano, em391 d.C., as Colinas do Golã ficaramsob influência bizantina e controle dosgassânidas. Depois vieram os sassâni-das e mais tarde os árabes muçulma-nos, sob domínio omíada, iniciandoum novo capítulo na história local.

Os drusos começaram a chegar aoNorte do Golã e arredores do MonteHermon a partir do século XV, segui-dos um século depois pelos turcos oto-manos, que lá permaneceram até o fi-nal da I Guerra Mundial. Em 1880, umgrupo de pioneiros sionistas fundou umnúcleo judaico denominado Ramatani-ya, que desapareceria em apenas umano. Finda a I Guerra, em 1920 o des-

tino do Golã foi definido por um acor-do entre a França e a Grã-Bretanha,que concedia à primeira o controle so-bre a maior parte do território. Issoocorreu somente em 1924, um anoapós os ingleses assumirem o mandatosobre a então Palestina. Ainda pelomesmo tratado, uma pequena parcelado território passou da Síria para a Pa-lestina. Assim, a França estendia seumandato sobre a Síria. Ao términodeste, em 1944, esse último país ficoucom o controle da área.

Logo após a independência de Is-rael, em 1948, Damasco aumentou suapresença militar nas colinas, de ondeatacava constantemente a população ci-vil israelense do Norte do país. Depoisde assinado o armistício entre israelen-ses e sírios em 1949, parte da área foidesmilitarizada, mas as violações doacordo por parte dos sírios continuaramaté 1967, quando Israel ocupou a re-gião, pondo fim a dezoito anos debombardeios sobre seus cidadãos.Atualmente, 18 mil pessoas moram naregião do Golã, em 35 povoados.

Trilha das sinagogasUm dos símbolos mais conhecidos

do legado judaico na região é o po-voado de Gamla, destruído durante oano 67 d.C., durante a Primeira Revol-ta Judaica. A escavação da cidade esua identificação só foram possíveisdepois de 1967. Para os visitantes, eletransformou-se em interessante pontoturístico. Para os estudiosos, trata-seda mais importante evidência da vidajudaica no Golã, durante a Antigüida-de, e da política destrutiva dos césarescontra os povoados judaicos.

Tal perspectiva, no entanto, só vol-tou a ser estudada quando o arqueó-logo Haim Ben-David aprofundou suaspesquisas sobre as ruínas das comuni-dades judaicas, no Golã, do períodomishnaico e talmúdico. Como parte desua investigação, analisou artefatosencontrados em mais de 50 sítios, ha-

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A magia do Golã

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bitados entre o século I a.C. e o séculoVI d.C. Ben-David datou cuidadosa-mente cada um dos fragmentos, res-saltando que, diferentemente de outrossítios arqueológicos do período roma-no-bizantino, os mínimos detalhes en-contrados na região do Golã eramcruciais para uma compreensão dahistória local. Após estudar cerca deseis mil fragmentos, chegou a umaconclusão surpreendente: “Gamla foio único povoado destruído durante aPrimeira Revolta Judaica... As evidên-cias indicam que pelo menos 25 conti-nuaram a existir... e suas ruínas estãono que hoje se conhece como Ein Nas-hut, Yehudiya Dir Aziz”. O arqueólo-go concluiu, também, que nessa re-gião central encontra-se um padrãocontínuo de vilarejos judaicos desde operíodo do Segundo Templo até o fi-nal do domínio bizantino; e que al-guns ainda se estenderam pelo iníciodo período islâmico, em meados doséculo VIII. No entanto, Ben-David fazquestão de ressaltar que sua conclusãonão significa que todos os povoadosjudaicos sobreviveram até o domíniobizantino; demonstra apenas queaqueles cujos vestígios foram encon-trados não foram destruídos nos con-frontos. O estudioso encontrou sinaisde 15 assentamentos judaicos aban-donados no século IV, final do período

romano. Segundo suas pesqui-sas, os povoados iam sendoabandonados à medida que osbizantinos ocupavam as terrasmais férteis do Golã. Os judeus,por sua vez, foram-se concen-trando em áreas cada vez maisremotas, distanciando-se, gra-dativamente, do poder central.As análises do arqueólogo tam-bém levaram à conclusão demais uma característica comumentre tais povoados: a presençade edifícios públicos elaborados,incluindo-se sinagogas bem de-coradas, geralmente nos pontosmais altos das montanhas.

Outra forte marca da presença ju-daica nas regiões mais remotas doGolã foi a descoberta de uma sinago-ga nas ruínas do vilarejo sírio de DirAziz, próximo ao moshav Kanaf. Eraparte de um assentamento judaico,datado do século I d.C. Foi justamentenessa área em que começaram a sedelinear as primeiras teorias de Ben-David sobre as antigas comunidadesdo Golã. Antes dele, no entanto, o ex-plorador Laurence Oliphant, em suasandanças pela Terra Santa em 1885,já mencionara a existência de uma si-nagoga no local. Ele descreveu a fa-chada ocidental do edifício, com trêsmetros de altura, então intacta. So-mente após 1970iniciaram-se traba-lhos arqueológicosmais intensos. Masos primeiros pesqui-sadores não encon-traram a sinagoga,provavelmente emvirtude de um terre-moto na área, em1920, que a teriaposto abaixo. ZviIlan foi o primeiro acoordenar as pes-quisas, seguido, dé-cadas depois, porZvi Maoz, do órgão

responsável pelo Patrimônio de Anti-guidades, em Israel. As informaçõesiniciais de Oliphant foram confirma-das: em Dir Aziz realmente existirauma sinagoga. Por insistência de Ben-David e Maoz, as escavações foramretomadas em 1998, quando final-mente se encontrou a estrutura da si-nagoga. Bem conservada, mantinhaquatro colunas ao longo do muro nor-te e o piso de pedras artisticamente ta-lhadas. Além de surpresos pelo bomestado da construção, Ben-David eMaoz entusiasmaram-se com algumasde suas singularidades. Por exemplo,a escada para o saguão principal esua construção, voltada ao Oriente. Amaioria das sinagogas do Golã e daGaliléia aponta para o Sul, em dire-ção a Jerusalém. A bimá, por sua vez,ergue-se ao longo do muro sul do edi-fício. Em artigo publicado no jornalHaaretz, em 2003, Ben-David diziaque a estrutura da sinagoga de DirAziz era muito parecida com as cons-truídas na região sul de Hebron, omesmo acontecendo com o local doAron Hakodesh.

Mas a maior surpresa dos pesqui-sadores foi depararem-se com um pe-queno jarro de barro, sob o piso dasinagoga, contendo catorze moedasde ouro do reinado do imperador Jus-tiniano, de Bizâncio. “Sabíamos que,

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A Primeira Revolta Judaica contra as forças deRoma aconteceu de 66 a 73 d.C., quando umgrupo de judeus ocupou a colina de Gamla. Estes foram derrotados e a cidade, destruída. O local tornou-se conhecido como “A Massadado Golã”.

A sinagoga escavada em Gamla reflete a florescente vida judaica existente no Golã durante o período talmúdico.

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na época, era costume enterrarem-semoedas, mas, quase sempre, as debronze. Os achados de Dir Aziz cons-tituem um verdadeiro tesouro”.

Ao longo das escavações, foram-se sucedendo as surpresas. Quandoos pesquisadores desmontaram ummuro divisório construído no vilarejodurante o período sírio, encontraramuma inscrição em grego em uma pe-dra antiga, reutilizada, do período bi-zantino. Havia apenas uma palavra:“Azizo”. Sobre a palavra, os arqueó-logos observam que havia na regiãode Hebron um povoado chamado KfarAziz. Há, também, outras explicaçõespara a semelhança entre os termosAzizo e Aziz – ambos usados comoprenomes entre os semitas. É possívelque os fundadores da sinagoga te-nham gravado o nome do doador daobra. Apesar das escavações não te-rem sido ainda encerradas, os estu-diosos acreditam que a sinagoga foiutilizada até o início do domínio is-lâmico, durante as dinastias omíadae abássida.

Durante o período romano, a re-gião denominada Golã incluía princi-palmente a parte central do planalto,entre Nahal Jalabun, ao norte, e NahalKanaf, ao sul. Aí floresceram os povoa-dos judaicos. O atual “sul do Golã” eragenericamente descrito como Hippos,provavelmente pela influência gregadominante. Ao redor da cidade foramconstruídos também alguns vilarejos ju-daicos. Na literatura rabínica é tam-bém conhecida como Susita.

Se durante a dominação romanaos judeus se dedicavam quase queexclusivamente ao cultivo de vinhedos,com o domínio bizantino e seu con-tínuo deslocamento para áreas maisdistantes e menos férteis passaram aproduzir azeite de olivas. SegundoBen-David, restos de prensas encon-trados na região comprovam a flo-rescente indústria desenvolvida pelosjudeus, que chegavam a exportar aprodução.

Todo povoado construído no perío-do bizantino possuía sua sinagoga,tendo-se provas da existência de, nomínimo, 25 em comunidades vizinhas.Para o arqueólogo, há uma relaçãoinegável entre o êxito na indústria deazeite do povoado e o porte de sua si-nagoga. Quanto mais bem-sucedida acomunidade, mais monumental aconstrução. Tal pujança, no entanto,desapareceu no início da Idade Mé-dia. Foram abandonados todos os as-sentamentos da região central do Go-lã, inclusive os ishuvim (comunidades)judaicos. A localização exata de lo-cais como Nov, Hispin, Afik e Kfar Ha-ruv – mencionados em fontes históricase na literatura rabínica – se perdeu.

Para Ben-David, no entanto, DirAziz pode-se vangloriar de ser o únicopovoado do Golã onde se encontrouuma evidência de seu nome hebraico,preservada por mais de vinte séculos.

Inúmeras atraçõesPalco de tantos eventos da história

antiga, a região Norte do Golã traz,em sua paisagem, marcas de váriosperíodos. Entre as colinas foi construí-da Ka’alat Namrud, uma das melhorpreservadas fortalezas mamelucas, doperíodo dos cruzados. De suas mura-lhas é possível se ter uma visão pano-râmica das Cachoeiras de Banias, re-canto dos mais procurados pelos is-raelenses que fogem das altastemperaturas que assolam o país noverão. O vilarejo de Ein Kinya, porsua vez, permite aos visitantes apren-der um pouco sobre o estilo de vida ea cultura drusa.

A capital do Golã é Katzrin, cida-de com várias opções turísticas. Commais de 5 mil habitantes, situa-se entreos rios Zavitan e Meshushim. O MuseuArqueológico do Golã é parada obri-gatória para os visitantes. Abriga umacoleção de artefatos que é uma verda-deira retrospectiva da história do ho-mem e da cultura na região, dos tem-

pos pré-históricos até o período talmú-dico. Nesse museu estão expostos, en-tre outros, armas usadas nos embatesentre os habitantes de Gamla e as le-giões romanas.

O próximo passo do roteiro dos vi-sitantes é o antigo Parque de Katzrin,nas proximidades da zona industrialda cidade. Lá se vêem reconstituiçõesde construções do período talmúdico,inclusive a magnífica sinagoga e duasresidências.

Ainda na zona industrial estão asvinícolas, que hoje fazem a fama mun-dial dos vinhos israelenses, com uvascultivadas nos vinhedos locais. Algu-mas horas de visita bastam para pro-var que se está no coração dos famo-sos Vinhos do Golã. Sua região cen-tral se caracteriza pela presença decachoeiras e rios que se estendem porquase toda a área – uma paisagembem diferente do semi-árido que mar-ca o Sul de Israel. O verde é umaconstante mais ao sul do Golã, no in-verno e na primavera. De lá se temuma vista panorâmica do lago Kineret,também chamado de Mar da Galiléia.Em suas águas, é muito refrescante ummergulho, no verão. Na área corre oNahal El-Al, o mais perene dos rios doGolã, com duas famosas quedas d’-água – a Cachoeira Negra, cujaságuas correm sob rochas negras debasalto; e a Cachoeira Branca, quedeságua em um solo de calcário.

Ainda na área, não importa a épo-ca do ano, é sempre bom passear pe-la região termal de Hammat Gader,famosa por suas propriedades luxuo-sas, da primeira fase do período ro-mano. Outro ponto obrigatório é a ci-dade greco-romana de Susita, comigrejas bizantinas e ruas de colunasmonumentais. (extraído de www.mo-rasha.com.br)

Bibliografia:Duby, Tal & Haramati, Moni. Golan Skyline,Ministry of Defense Publishing House, 2001.Ya’acov Shkolnik, “Secrets from the Golan’sAncient Synagogues”, The Book – 1985-2005.Seleção de artigos da revista ERETZ.

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