Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e...

12
Notas de aula: Topologia Geral Prof. R´ egis Var˜ ao - IMECC-UNICAMP www.ime.unicamp.br/regisvarao Contents 1 Bate papo matem´ atico 1 1.1 O que ´ e Topologia? ........................ 1 1.2 O viajante que era destro e n˜ao´ e mais ............. 4 2 Exerc´ ıcios de aquecimento 5 3 Topologia 7 3.1 Base para topologia ........................ 9 3.2 Exerc´ ıcios ............................. 11 1 Bate papo matem´ atico Considere um objeto feito de borracha que pode ser esticado, dobrado, torcido. Vocˆ e faz tudo isso com ele, s´o n˜ao pode rasgar. O resultado ´ e que o novo objeto, depois de esticado, dobrado, torcido, mant´ em certas pro- priedades em comum com o objeto no seu ”estado inicial”. Essas s˜ao pro- priedades topol´ ogica e as estudaremos nesse curso. N˜aoestamos, a priori interessados em medir tamanhos ou ˆangulos, estamos interessados nas pro- priedades essenciais invariantes por homeomorfismos. ´ E por isso que nesse curso beberemos caf´ e em toros: Figure 1: Toro e Caneca 1.1 O que ´ e Topologia? Como responder ao questionamento ”O que ´ e Matem´atica?”? Uma boa resposta ´ e dada no livro What is Mathematics de Courant and Robbins [?]. 1

Transcript of Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e...

Page 1: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

Notas de aula: Topologia GeralProf. Regis Varao - IMECC-UNICAMP

www.ime.unicamp.br/∼regisvarao

Contents

1 Bate papo matematico 11.1 O que e Topologia? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.2 O viajante que era destro e nao e mais . . . . . . . . . . . . . 4

2 Exercıcios de aquecimento 5

3 Topologia 73.1 Base para topologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93.2 Exercıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1 Bate papo matematico

Considere um objeto feito de borracha que pode ser esticado, dobrado,torcido. Voce faz tudo isso com ele, so nao pode rasgar. O resultado eque o novo objeto, depois de esticado, dobrado, torcido, mantem certas pro-priedades em comum com o objeto no seu ”estado inicial”. Essas sao pro-priedades topologica e as estudaremos nesse curso. Nao estamos, a prioriinteressados em medir tamanhos ou angulos, estamos interessados nas pro-priedades essenciais invariantes por homeomorfismos. E por isso que nessecurso beberemos cafe em toros:

Figure 1: Toro e Caneca

1.1 O que e Topologia?

Como responder ao questionamento ”O que e Matematica?”? Uma boaresposta e dada no livro What is Mathematics de Courant and Robbins [?].

1

Page 2: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

A moral e que a resposta para a pergunta e o proprio livro, ou seja elesmostram o que e a matematica fazendo matematica. Como motivacao nestasubsecao eu respondo o que e topologia por meio de uma discussao sobre umteorema que voce com certeza ja ouviu falar: a formula de Euler.

Esse teorema afima que para um poliedro convexo

V − A+ F = 2

onde V e o numero de vertices, A e o numero de arestas e F o numero defaces. Voce provalmente se deparou com a formula de Euler em um contextode Geometria. Mas a verdade e que esse e um teorema de topologia, de fatoos matematicos levaram um tempo para perceber isso. Foi Poincare quemformalizou e deu uma cara matematicamente rigorosa a esse teorema. Oteorema vale mais geral, considere um poliedro “tipo um toro” o numeroV − A + F e zero e todo poliedro que for homeomorfo a esse tambem teraV − A+ F igual a zero.

Ou seja, um poliedro “tipo” toro e um poliedro “tipo” esfera (e.g. con-vexo) possuem V − A+ F diferentes.

Figure 2: Poliedros: “tipo” toro e “tipo” esfera

Na Figura 1.1 podemos facilmente calcular V − A + F para a primeirafigura: 16− 32 + 16 = 0. Para a segunda: 6− 9 + 5 = 2

Esse “tipo” significa que eles carregam as informacoes topologicas dotoro e da esfera respectivamente. E o que ocorre e que o toro e a esfera saotopologicamente diferentes. Mas sera que nos conseguimos distinguir a esferado toro (vide Exercıcio 1.1) nesse curso? A resposta e sim e a ferramenteque usaremos chama-se Grupo Fundamental. Essa ferramenta formaliza oconceito de que a esfera nao tem buracos e o toro tem um buraco. Legal! Onome elegante e matematicamente correto para “buraco” e “genus”, palavracunhada por Bernhard Riemann (1826 - 1866).

Exercıcio 1.1. Prove que o toro e a esfera nao sao homeomorfos (obs: Naoprecisa saber grupo fundamental).

2

Page 3: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

Vou fazer uma prova a la sistemas dinamicos da formula de Euler parapoliedros convexos. Simples, elegante e divertida, voce nao vai esquecer. Naoestou preocupado nessa altura em fazer uma prova extremamente rigorosacom todos os detalhes, voce pode fechar os detalhes. De qualquer maneiraexistem muitas demonstracoes desse teorema e voce pode procurar.

Teorema 1.1. Para um poliedro convexo vale: V − A+ F = 2.

Proof. Dado o poliedro X considere uma subdivisao dele de forma que eleesteja todo subdividido em triangulos. Como o poliedro e convexo seja pum ponto no interior do poliedro e considere uma esfera de raio suficiente-mente grande de forma que o poliedro esteja dentro dessa esfera. Considerea projecao radial do poliedro X na esfera. Para isso considere o ponto p edado um ponto q ∈ X o ponto q sera porjetado na esfera pela intersecao dasemi-reta que comeca em p e tem direcao q − p.

Agora temos um ”poliedro” na esfera que e subdividido por triangulos.Suponha que o polo norte PN e o polo sul PS estejam, cada um, no interior deum triangulo. E considere um fluxo norte sul. Ou seja, apenas um fluxo quesai do polo norte e vai para o polo sul. Vamos supor que o fluxo nunca e tan-gente as arestas dos triangulos, isso podemos fazer so perturbando um poucoo fluxo, ou se quiser pode mexer os triangulos empurrando um pouquinho.

Agora vamos fazer o seguinte vamos colocar carga positiva para os verticese as faces e carga negativa nas arestas. E quando deixamos o fluxo seguirquando a carga positiva encontra a negativa elas se cancelam. Da forma queescolhemos o fluxo para os triangulos que nao contem o PN e o PS temos oseguinte:

Note que quando o fluxo passa o que fica dentro desses triangulos ficacom carga zero. Assim tudo zera exceto o que acontece nos dois triangulosextremos. No que contem o polo norte sobrou a carga positiva do polo nortee o fluxo entrando dentro do triangulo do polo sul fica com carga positiva.Entao ao todo temos duas cargas positiva. E note que a soma de todas ascargas e exatamente V − A+ F que e igual a dois.

3

Page 4: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

1.2 O viajante que era destro e nao e mais

Como vimos a esfera tem numero de euler igual a dois e o toro temo numero de Euler igual a zero. O legal e que se M for uma superfıcieorientavel, compacta sem bordo entao existe um invariante topologico queclassifica todas essas superfıcies. Esse invariante e justamente V − A + F .Ou seja suponha que voce e um habitante desta superfıcie, voce reune todomundo e triangularizam a superfıcie inteira, contam os vertices, as arestas eas faces e descobrem como e o “universo” que voces vivem. Mas lembre-seque nesse exercıcio mental voce precisa ser um vivente dois-dimensional.

No caso de M como acima temos que o genus determina V − A + F(tambem chamado de caracterıstica de Euler χ(M)). Isto e, se g for o genusentao χ(M) = 2 − 2g. O mais fascinante e que esse teorema topologico serelaciona fortemente com a geometria da variedade. O Teorema de Gauss-Bonnet diz que a

∫MKdM = 2πχ(M). Fantastico!

A classificacao e importante levar em conta que a superfıcie seja ori-entavel, pois voce pode morar em uma superfıcie cuja caracterıstica de Eulerseja zero mas ela nao seja o toro. Nesse caso pode ser que voce esteja morandona garrafa de Klein.

Figure 3: Garrafa de klein e um habitante

As setas indicam como estamos colando as pontas. Se voce for da esquerdapara a direita voce aparecera do outro lado de cabeca para baixo. Mas naoe so isso. Caminhe para a esquerda e depois vire-se para cima, voce vai verque deixou de ser destro e virou canhoto. Se voce mora na garrafa de klein(que nao e orientavel) e vai fazer um passeio pode ser que voce saia destro evolte canhoto para casa.

4

Page 5: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

2 Exercıcios de aquecimento

Exercıcio 2.1. Considere duas funcoes f : X → Y e g : Y → Z. SejamA,Ai ⊂ X, B,Bi ⊂ Y com i ∈ I onde I e um conjunto qualquer. Prove que:

1. f(∪

i∈I Ai) =∪

i∈I f(Ai);

2. f(∩

i∈I Ai) ⊂∩

i∈I f(Ai);

3. f−1(∪

i∈I Bi) =∪

i∈I f−1(Bi);

4. f−1(∩

i∈I Bi) =∩

i∈I f−1(Bi);

5. f−1(Bc) = (f−1(B))c;

6. (g ◦ f)−1(A) = f−1(g−1(A));

7. f(f−1(A)) ⊂ A;

8. B ⊂ f−1(f(B)).

9. Onde nao ha igualdade procure contra-exemplos.

Exercıcio 2.2. Seja f : X → Y uma funcao e fA : A → Y a restricao de fao subconjunto A ⊂ X. Prove que f−1

A (B) = A ∩ f−1(B).

Exercıcio 2.3. Se X e Y sao dois conjuntos enumeraveis, entao X × Y eenumeravel.

Exercıcio 2.4. O conjunto Q[X] dos polinomios com coeficientes racionaise um conjunto enumeravel.

Exercıcio 2.5. Se X e enumeravel infinito, entao existem A,B ⊂ X infinitosenumeraveis e disjuntos tais que X = A ∪B.

Exercıcio 2.6. Verdadeiro ou Falso: Se X ⊂ R2 e tal que Xc e enumeravel,entao quaisquer dois pontos de X pode ser ligado por um caminho inteira-mente contido em X.

Exercıcio 2.7. Verdadeiro ou Falso: Se f : R × R → R e tal que f(x, .) ef(., y) sao contınuas, entao f e contınua.

Exercıcio 2.8. V ou F: Existe X ⊂ R2 enumeravel com pelo menos doispontos que e conexo (topologia usal do plano).

Exercıcio 2.9. Prove que R2 nao pode ser escrito como uniao disjunta decırculos (cırculos sao conjuntos da forma {(x, y)|(x−a)2+(y− b)2 = r > 0})

5

Page 6: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

Exercıcio 2.10. Prove que o Toro solido em R3 e uma uniao disjunta decırculos.

Exercıcio 2.11. Pesquise o enunciado do Lema de Zorn. Enuncie correta-mente e entenda o enunciado.

Exercıcio 2.12. Enuncie entendendo o enunciado: O teorema da curva deJordan e (um melhoramento deste) o Teorema de Schoenflies.

Exercıcio 2.13. Prove que R2 nao e a uniao de cırculos topologicos (i.e.curvas sem auto-intersecao, fechadas e nao degenerada, ou seja nao sao pon-tos.)

Exercıcio 2.14. (Desafiador) Prove que R3 e a uniao de cırculos topologicos.

6

Page 7: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

3 Topologia

Definicao 3.1. Uma topologia em X e uma colecao T de subconjuntos deX com as seguinte propriedades:

• ∅, X ∈ T ;

• A uniao qualquer de conjuntos de T esta em T ;

• A intersecao finita de conjuntos de T esta em T .

O conjunto X com uma topologia T e chamado de espaco topologico.

Definicao 3.2. Seja X um espaco topologico, entao os elementos da topolo-gia T sao chamados de conjunto aberto. O complementar de um conjuntoaberto e dito fechado.

Proposicao 3.1. Se X e um espaco topologico, entao

• ∅, X sao fechados;

• A intersecao arbitraria de conjuntos fechados e um conjunto fechado;

• A uniao finita de conjutos fechados e um conjunto fechado.

Proof. Segue direto das propriedades de conjuntos (em particular lei de Mor-gan) e da definicao de topologia.

Um tipo de conjunto que tem uma topologia natural associada sao osespacos metricos. Lembremos a definicao de espaco metrico.

Definicao 3.3. Dizemos que d : X × X → R e uma distancia no conjuntoX se

• d(x, y) ≥ 0 ∀x, y ∈ X;

• d(x, y) = 0 se e somente se x = y;

• d(x, y) = d(y, x) ∀x, y ∈ X;

• d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) ∀x, y, z ∈ X.

Dizemos que o par (X, d) e um espaco metrico. Ou dizemos que X emetrico quando esta claro a metrica considerada.

7

Page 8: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

Exemplo 3.4. Seja (X, d) um espaco metrico. Entao considere a famılia Tde X tal que A ∈ T se e somente se ∀x ∈ A existe uma bola Bd(x, r) centradaem x e raio r inteiramente contida em A. A famılia T e uma topologia paraX.

Temos que checar as condicoes da Definicao 3.1.

• Claro que ∅, X ∈ T .

• Sejam Aα uma famılia qualquer de elementos de T , dado x ∈ ∪αAα,entao x ∈ Aα0 . Por definicao existe uma bola B(x, r) ⊂ Aα0 ⊂ ∪αAα,logo ∪α ∈ T .

• Sejam A1, . . . , An ∈ T . Seja x ∈ ∩iAi, entao existem bola B(x, ri) ⊂Ai. Tome r0 o mınimo dos ri, entao B(x, r) ⊂ ∩iAi, logo ∩n

i=1Ai ∈ T .

Note que dado um conjuntoX se definirmos T como o conjunto das partesde X, entao X e um espaco topologico com a topologia T . Esta topologiae chamada de topologia discreta, isso porque todo ponto e aberto. Nooutro extremo a topologia T = {∅, X} e conhecida como topologia trivialou topologia indiscreta.

Exemplo 3.5. Seja X um conjunto com finito elementos.

• Se (X, d) um espaco metrico, entao a topologia induzida pela metricae a discreta.

• Se X tem mais de um ponto, entao a topologia trivial nao e induzidapor uma metrica.

Definicao 3.6. Um espaco topologico (X, T ) e metrizavel se existe umametrica (distancia) tal que a topologia gerada pela metrica coincide com atopologia T .

Proposicao 3.2. Sejam X e T uma topologia para X. Entao T e a topologiadiscreta se, e somente se, x ∈ X e aberto ∀x ∈ X.

Proof. Se T e a topologia discreta, entao x e aberto ∀x ∈ X pela definicao.Se todo x e aberto, entao dado um conjunto A ⊂ X qualquer, como A =∪x∈A{x} e a uniao de abertos, entao A e aberto.

Definicao 3.7. Sejam T0 e T1 duas topologias para X tais que

T0 ⊂ T1,

entao dizemos que T0 e menor T1 ou que T1 e maior que T0.

8

Page 9: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

3.1 Base para topologia

Definicao 3.8. SejaX um conjunto, dizemos que B e uma base para topolo-gia em X se satisfaz:

• Para cada x ∈ X existe um elemento B ∈ B tal que x ∈ B;

• Se x ∈ B0 ∩ B1 e B0, B1 ∈ B, entao existe B2 ∈ B tal que x ∈ B2 ⊂B0 ∩B1.

Definicao 3.9. Seja B uma famılia base para uma topologia em X, comodefinido acima. Definamos a topologia T gerada por B como: A ∈ T see somente se ∀x ∈ A existe B ∈ B tal que x ∈ B ⊂ A.

Proposicao 3.3. A topologia gerada por B e de fato uma topologia.

Proof. • Note que ∅, X ⊂ T . No caso para X ∈ T estamos usando quecomo base todo ponto esta em algum elemento da base.

• Seja ∪αAα com Aα ∈ T . Entao essa uniao esta em T pois dado x nestauniao x ∈ Aα0 e por definicao existe B ∈ T tal que x ∈ B ⊂ Aα0

• Vamos ver que a intersecao finita esta tambem. Seja ∩n1Ai, dado x na

intersecao entao existe Bi ∈ T que contem x, como B e base existe umB0 ⊂ ∩n

1Bi ⊂ ∩n1Bi.

Proposicao 3.4. Seja B uma base para a topologia T , entao dado U ∈ T ,

U =∪

B∈B,B⊂U

B.

Dada uma topologia queremos encontrar uma base para ela

Proposicao 3.5. Sejam X um espaco topologico e B uma famılia de con-juntos abertos de X tais que: para todo aberto U e todo x ∈ U existe umelemento B de B tal que x ∈ B ⊂ U . Entao B e uma base para a topologiade X.

Proof. A prova tem duas partes.Primeira parte: Vamos checar que B e base para uma topologia. Dado

x ∈ X, como X e aberto entao existe B ∈ B tal que x ∈ B. Seja x ∈ B0∩B1,como B0, B1 sao abertos, entao a intersecao e aberta, logo existe B2 ∈ B talque x ∈ B2 ⊂ B0 ∩B1.

Segunda parte: Precisamos ver que a topologia que B gera e de fato T .Vamos chamar de T0 a topologia gerada por B. Dado U ∈ T , note que U e

9

Page 10: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

uniao de elementos de B, que sao abertos. Logo U ∈ T0. Agora seja V ∈ T0,entao V e uniao de elementos de B, que sao abertos da topologia, logo auniao esta na topologia, assim V ∈ T . Logo T = T0.

Exemplo 3.10. Duas topologias em R maiores que a topologia canonicade R porem nao comparaveis entre si.

A topologia canonica de R e a gerada pelos conjuntos da forma (a, b).Note que essa famılia e base de uma topologia (no caso chamamos da topolo-gia canonica ou usual). Consideremos duas famılias de conjuntos, que tambemformam base de uma topologia (Exercıcio). Considere a famılia dada pelosconjuntos [a, b). Denotamos a topologia gerada por essa famılia de Tl. Agoraconsidere K := {1/n}n∈N, agora consideremos a famılia de conjuntos daforma (a, b) e (a, b) \K. Denotamos a topologia gerada por esses conjuntosde TK .

Agora vejamos que essas topologias sao estritamente maiores que a topolo-gia canonica. Dado (a, b) ∈ T e x ∈ (a, b) entao [x, b) ∈ Tl e [x, b) ⊂ (a, b).Ou seja como os abertos de T sao gerados pelos abertos de Tl. Isto e T ⊂ Tl.Agora vamos ver que Tl e estritamente maior. Dado um elemento [a, b) naotemos um elemento da forma (c, d) que contem a e esteja contido em [a, b].

Claramente T ⊂ TK . Para ver que a topologia e estritamente maior sejaU = (−1, 1) \ K, dado o ponto 0 ∈ U note que nao existe um conjunto daforma (a, b) que contem 0 e esteja contido em U .

Agora queremos ver que Tl e TK nao sao comparaveis. Note que o conjuntoU definido acima nao esta na topologia Tl. E dado [0, 1) ∈ Tl nao temos umgerador de TK que contem 0 e esteja contido em [0, 1), ja que os geradoressao da forma (a, b) ou (a, b) \K.

Em 1955 Furstenberg, enquanto era aluno de graduacao, deu uma provada infinitude dos numeros primos utilizando topologia.

Teorema 3.11 (Furstenberg). Existem infinitos numeros primos

Proof. Para a, b ∈ Z com b > 0 definamos

Na,b = {a+ nb | n ∈ Z}.

Agora definimos uma topologia em N da seguinte forma: U e um abertose U = ∅ ou se para todo a ∈ U existe b > 0 tal que Na,b ⊂ U . E facil checarque uma tal famılia forma uma topologia. A propriedade da intersecao seguepelo fato que se α ∈ U1 ∩ U2 e U1, U2 ∈ T entao existem b1 e b2 tais queα ∈ N0,b1 ∩ N0,b2 . A propriedade da intersecao finita seguira do fato queN0,b1b2 ⊂ N0,b1 ∩N0,b2 . Note que vale o seguinte

10

Page 11: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

• Qualquer conjunto aberto e infinito;

• Todo conjunto Na,b e fechado.

A primeira afirmacao vem porque todo aberto e uniao desses conjuntosbases que sao infinitos. A segunda afirmacao segue diretamente da igualdade

Na,b = Z\b−1∪i=1

Na+i,b.

Seja P o conjunto dos numeros primos. Note quem

Z\{1,−1} =∪p∈P

N0,p.

Se houvessem finitos numeros primos entao∪

p∈P N0,p seria uma uniaofinita de fechados, portanto um conjunto fechado. Portanto Z\{1,−1} seriafechado e {1,−1} um aberto finito, o que e absurdo. Logo existem infinitosnumeros primos.

Conversando 1. Quantas topologias existem num conjuto finito? Um artigoque me parece interessante no tema e o artigo do Parchamann na Amer.Math. Montlhy On the Number of Topologies on A Finite Set. A respostatem a ver com matrizes com entradas zero ou um. Matrizes com entrada zeroou um tem a ver com dinamica simbolica, sera que da para relacionar issode alguma forma com dinamica simbolica? Olha la e se voce se interessarconversamos.

3.2 Exercıcios

Exercıcio 3.1. Seja {Tα} uma famılia de topologias em um espaco X, entao∩Tα e uma topologia para X.

Exercıcio 3.2. De um exemplo em que T1 e T2 sao topologias de X, masT1 ∪ T2 nao e topologia.

Exercıcio 3.3. Mostre que dada uma famılia qualquer {Tα} de topologiasexistem:

• Uma unica topologia que e maior que todas as topologias Tα;

• Uma unica topologia que e maio que qualquer outra com a propriedadede estar contida em Tα para todo α.

11

Page 12: Notas de aula: Topologia Geralregisvarao/out/mm453.1sem.2016.aula.123.pdf · nome elegante e matematicamente correto para \buraco" e \genus", palavra cunhada por Bernhard Riemann

Exercıcio 3.4. Seja X = {0, 1}N, defina a famılia de cilındros C definida porconjuntos da forma

{{αi}i∈N |αi0 = a0, αi1 = a1, . . . αil = al }

onde i0, l ∈ N e α1, . . . , αl ∈ {0, 1}.

• Prove que C e base de uma topologia;

• A topologia gerada por C provem de alguma metrica?

Exercıcio 3.5. Na Definicao 3.3 o primeiro item e redundante dos outrositens.

Exercıcio 3.6. Seja X um conjunto finito, prove que

d(A,B) = #A△B

e uma metrica.

Exercıcio 3.7. Encontre as possıveis topologias para o conjuntoX = {a, b, c}.Quais dessas e induzida por uma metrica e quais nao sao?

Exercıcio 3.8. Sejam B e B′ bases para as topologia T e T ′ respectivamente.Entao sao equivalentes:

• T ′ e maior que T ;

• ∀x ∈ X e para todo B ∈ B que contem x, entao existe um elemento deB′ tal que x ∈ B′ ⊂ B.

Exercıcio 3.9. Dado um conjuntoX a topologica cofinita T emX e definidapelo conjunto vazio e pelos conjuntos tais que o complementar tem umaquantidade finita de elementos. Prove que a topologia cofinita e de fato umatopologia.

Exercıcio 3.10. Seja X e T uma famılia que contem o vazio e conjuntos Utais que U c tem uma quantidade no maximo enumeravel de pontos. Proveque:

• T e uma topologia;

• Descreva as sequencias convergentes deX com respeito a essa topologia;

• Prove que se X for nao enumeravel entao existe um subconjunto Y ⊂X tal que o fecho contem pontos que nao sao limites de sequenciasconvergentes em X.

12