NOME COMPLETO DO ESPECIALISTA (fonte 12) · nascem e envolvem nossos muitos olhos. A maioria ......

31
Universidade de Brasília ALVINA DE BASTOS FUTEBOL REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES Goiânia 2007

Transcript of NOME COMPLETO DO ESPECIALISTA (fonte 12) · nascem e envolvem nossos muitos olhos. A maioria ......

Universidade de Brasília

ALVINA DE BASTOS

FUTEBOL

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES

Goiânia

2007

ii

ALVINA DE BASTOS

FUTEBOL

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profº. Ms. Ari Lazzarotti Filho

Goiânia

2007

iii

BASTOS, Alvina de

Futebol: Representação Social de adolescentes. Goiânia, 2007.

31 p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.

1. Escolares 2. Futebol 3. Representação Social

iv

ALVINA DE BASTOS

FUTEBOL

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente: Professor Mestre ARI LAZZAROTTI FILHO

Universidade Federal de Goiás

Membro: Professor Mestre MARCELO DE BRITO

Universidade de Brasília

Brasília (DF), 14 de maio de 2007.

v

Este trabalho é dedicado aos alunos do Colégio Estadual Santa Luzia.

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Ari Lazzarotti Filho, ao qual dedico grande admiração... Obrigada por

tudo!

Aos meus alunos, em especial, os alunos participantes desta pesquisa.

Ao meu Pai e minha Mãe, pelo apoio constante em minha vida.

Enfim, a todos que de alguma maneira contribuíram para a realização desta pesquisa.

vii

Existimos literalmente em campos de

futebol. Áreas demarcadas por linhas, onde temos espaços sagrados e profanos,

pessoas que nos são adversas e gente nossa, irmãos que desejam o nosso

sucesso e estão conosco porque vestem nossa mesma camisa e companheiros que

jogam contra nós. Temos, ainda, neste enorme campo de futebol da vida, figuras intocáveis a quem devemos obediência e

respeito, pois detêm o poder de fazer cumprir um conjunto de regras impessoais

que se aplicam a todos. É neste campo que jogamos, correndo às vezes

demasiado por uma bola muito fácil; ou perdemos boas jogadas, ou cometendo

faltas que conduzem a um pênalti contra nós mesmos ou – e isso também ocorre –

fazendo gols de placa, jogadas maravilhosas que, por sua classe e estilo,

chegam até a espantar a nós mesmos. (DaMATTA,1982, p.13 e 14)

viii

RESUMO

Trata-se de uma pesquisa que busca entender o que os adolescentes escolares pensam a

respeito do futebol, o que representa para eles, o que sentem ao “jogar bola” e quais são suas

expectativas em relação a esse esporte, tomando como referência, a Teoria das

Representações Sociais. Foi realizado um estudo de campo baseado em pressupostos

qualitativos com adolescentes do Colégio Estadual Santa Luzia, da cidade de Aparecida de

Goiânia-GO. A coleta de dados foi conduzida com entrevistas estruturadas e os dados foram

submetidos a uma análise descritiva. Os resultados mostram que estes adolescentes têm o

futebol como o esporte “preferido”, ou mesmo o único esporte praticado. Colocando nele o

sonho de uma profissão, e que muitas vezes está implícito o sonho que vai além da profissão,

que é de tornar-se rico, famoso e reconhecido.

PALAVRAS CHAVES: Escolares, Futebol, Representação Social.

9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 10

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................. 12

2.1- Representações Sociais............................................................................................. 12

2.2- O Futebol................................................................................................................... 20

3 METODOLOGIA........................................................................................................... 24

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 25

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 28

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 30

10

1 INTRODUÇÃO

Percebemos que nos últimos anos, tem havido uma forte tendência na área educacional

para tentar resgatar os vínculos entre a educação e a “humanização”, no sentido de uma

formação crítica e consciente do cidadão, fortalecendo uma concepção democrática. Na

Educação Física, é a busca da superação do modelo tecnicista, ou seja, por uma educação

física preocupada com o indivíduo, com o ser humano de forma geral, que tem como base as

ciências sociais e humanas, onde procura dar sentido aos conhecimentos da cultura corporal.

Movimento este que se intensificou principalmente a partir da década de 1980, onde

aumentaram os debates e as discussões da área e dos temas nas dimensões sócio-culturais.

Nesse sentido, é que desenvolvemos nossa pesquisa, procurando entender através do

esporte, mais especificamente do futebol, que é tema da cultura corporal e, um dos fenômenos

mais expressivos de nossa sociedade, o que esse esporte representa para esses alunos.

O futebol aparece como a principal expressão de cultura desenvolvida no Brasil, e se

destaca pelos jogadores “fenomenais” cheios de criatividade, habilidade e diversidade. Sendo

o esporte de maior interesse entre os alunos tanto nas aulas de educação física como nas aulas

do Programa Segundo Tempo. Mas o interesse dos alunos não é o de aprender o futebol nos

seus aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais, e sim, “jogar futebol”, “bater bola”,

como eles brincam em casa, na rua ou no campinho.

Percebemos como o futebol está presente e faz parte da vida do brasileiro, sejam pelas

notícias de jornais e programas dedicados somente a ele, os campeonatos que dura o ano todo,

o jogo no campinho ou na rua na hora de lazer, ou em qualquer brincadeira com bola que

sempre acaba em “pelada”. Tal fato por si só, justificaria a importância de continuar a

pesquisar esse esporte, somando à necessidade de compreensão das opiniões e saberes desses

adolescentes sobre esse fenômeno: futebol. E que, num outro momento, possamos estar

aprofundando formas criativas e relevantes de se trabalhar com este conteúdo. Além de estar

contribuindo com as pesquisas nesse campo.

Em síntese, o objetivo geral do trabalho investigativo foi de estudar as representações

sociais do futebol por adolescentes de 11 e 12 anos do Colégio Estadual Santa Luzia, da

cidade de Aparecida de Goiânia, mais especificamente o que pensam a respeito do futebol, o

que representa para eles, o que sentem ao “jogar bola” e quais são suas expectativas em

11

relação a esse esporte. Para tanto, o caminho foi o estudo das Representações Sociais em

futebol.

A metodologia utilizada é de natureza qualitativa, pois se trata de uma pesquisa histórico-

social, tendo como método específico um estudo interpretativo sobre a forma de pensar dos

alunos (atores sociais) através da Teoria das Representações Sociais.

No primeiro capítulo, procuramos falar da Teoria das Representações Sociais, sua origem

e seus conceitos, assim como, das Representações do Futebol.

No segundo capítulo, explicitaremos a metodologia utilizada e os instrumentos de

investigação, tentando situar a escola em seu contexto, para facilitar o entendimento da

própria representação de futebol destes adolescentes e, por fim, apresentar a interpretação da

realidade utilizando-se da técnica da triangulação de dados.

Nas considerações finais apresentamos os traços gerais do nosso estudo, o diálogo com o

nosso objeto de estudo, identificamos o alcance de nossos objetivos e as formas de

contribuições com a educação física escolar no que tange aos aspectos relacionados aos

interesses e prática do futebol nas aulas tanto da Educação Física como do Programa Segundo

Tempo.

12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1- Representações Sociais

O conceito de Representação Social tem sua origem na Europa a partir dos estudos de

Moscovici (1961) La Psychanalyse: Son image et son public, com raízes na fenomenologia,

tendo como ancestral o sociólogo Durkheim, que as caracterizava como Representação

Coletiva.

As Representações Coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa nas suas relações com os objetos que o afetam. Para compreender como a sociedade se representa a si própria e ao mundo que a rodeia, precisamos considerar a natureza da sociedade e não dos indivíduos. (...) Se ela aceita ou condena certos modos de conduta, é porque entram em choque ou não com alguns dos seus sentimentos fundamentais, sentimentos estes que pertencem à sua constituição (DURKHEIM, 1978 apud CASTRO, 2001, p.4).

Este termo refere-se às categorias de pensamento que determinada sociedade elabora e

expressa sua realidade, categorias estas, que estão ligadas aos fatos simbólicos e sociais.

Neste contexto, o autor procura encontrar e explicar aquilo que fornece unidade à vida social,

o elo entre as diversas formas como as sensações individuais são representadas, entendendo o

indivíduo como produto da realidade social. Para ele é a sociedade que pensa. De um lado, ela

conserva a marca da realidade social, mas também, de outro, reproduzem-se e se misturam,

tendo como causas outras representações e não apenas a estrutura social. Acrescenta também,

que algumas representações exerceriam sobre nós maior coerção do que outras, como por

exemplo: a religião e a moral. Para ele, "os primeiros sistemas de representação que o homem

fez para si do mundo e de si mesmo são de origem religiosa" (DURKHEIM, apud GOMES,

2002, p.4).

Moscovici (1961), partindo do conceito de Representações Coletivas de Durkheim, criou a

Teoria das Representações Sociais, com o intuito de especificar um tipo de pensamento que as

“representações” de Durkheim não contemplavam. Farr (1995), ao diferenciar esses dois

13

conceitos, destacou que as “representações coletivas” de Durkheim são mais apropriadas para

as sociedades menos complexas, enquanto que as “representações sociais” de Moscovici,

alcançam a complexidade das sociedades modernas, que...

[...] são caracterizadas por seu pluralismo e pela rapidez com que as mudanças econômicas, políticas e culturais ocorrem. Há, nos dias de hoje, poucas representações que são verdadeiramente coletivas (FARR, 1995, p.44-45).

Então, por ser a sociedade atual plural e dinâmica, Moscovici, tornou a ciência social

mais adequada ao mundo moderno. Assim, segundo Moscovici (1984), quando se observa a

consciência moderna,

[...] nós podemos observar uma proliferação de sistemas originais de conceitos e imagens, os quais nascem e envolvem nossos muitos olhos. A maioria deles é científica em sua origem. Eles enchem nossas mentes e nossas conversações, nossa propaganda de massa, livros populares e discursos políticos. Ao mesmo tempo eles determinam nossa visão de mundo e nossa reação às pessoas e às coisas (MOSCOVICI, 1984).

Nesse sentido, o indivíduo está sujeito a um grande número de informações e, havendo

uma necessidade de lidar com essas informações em muitos momentos contraditórias,

abalando, assim, suas convicções e possibilitando uma transformação mais acelerada das

representações.

Desse modo, o "social" de Moscovici, diferentemente do "coletivo" de Durkheim, designa o aspecto dinâmico e a bilateralidade no processo de constituição das representações sociais, assinalando duas facetas: por um lado, a representação como forma de conhecimento socialmente elaborado e partilhado e por outro, sua realidade psicológica, afetiva e analógica, inserida no comportamento do indivíduo (XAVIER, 2002, p.4).

Desse modo, podemos sintetizar o conceito de representação social definido por Moscovici

(1978),

Representações sociais é definida como um conceito ou entidade que circula, cruza-se e cristaliza-se

14

intensamente através da fala, do gesto, do encontro no universo cotidiano e que está presente na maioria das relações sociais estabelecidas, nos objetos produzidos, consumidos e nas comunicações realizadas entre as pessoas (MOSCOVICI, 1978).

Ao relacionar tal concepção com a educação física, podemos dizer que os conteúdos da

cultura corporal que se apresentam como a dança, a ginástica, as lutas, os esportes, são

representações sociais, pois estão presentes no cotidiano, na fala, no gesto das pessoas e

objetos produzidos e consumidos pela comunidade.

Minayo (1995), que conceitua as representações sociais como sendo categorias de

pensamento, ação e sentimento que expressam dada realidade, na medida em que a explicam,

justificam ou questionam, trata o conceito de representações sociais dentro da Sociologia

Clássica comparando e diferenciando autores como Dukheim, Marx e Weber. Mesmo que

estes não tenham explicitamente trabalhado com este conceito, mas como eles já pensavam o

problema das construções simbólicas sobre o real.

As idéias de Dukheim sobre representações sociais são compartilhadas por uma série de

estudiosos. Como por exemplo, para Bohannam “a consciência coletiva é o idioma cultural

da ação social (...) é a totalidade das representações coletivas de acordo com suas

manifestações nas relações sociais” e Marcel Mauss mostra que

(...) a sociedade se exprime simbolicamente em seus costumes e instituições através da linguagem, da arte, da ciência, da religião, assim como através das regras familiares, das relações econômicas e políticas. Portanto, para ele, é objeto das ciências sociais tanto a coisa, o fato, como a sua representação (MAUSS, 1979 apud MINAYO, 1995, p.92).

Essa visão de objetividade das representações sociais, por parte de Durkheim e de

muitos seguidores de seu pensamento, tem sido criticada por várias outras correntes no

interior das ciências sociais, principalmente quanto ao poder de coerção atribuído à sociedade

sobre os indivíduos. Para os marxistas, "a visão durkheimiana elimina o pluralismo

fundamental da realidade social, em particular as lutas e antagonismos de classe"

(MINAYO, 1995, p.92).

Para melhor explicitar, vejamos que para Weber (1974) apud Minayo (1995, p.93) “as

idéias (ou representações sociais) são juízos de valor que os indivíduos dotados de vontade

possuem”. Para ele, a vida social - que consiste na conduta cotidiana dos indivíduos - é

15

carregada de significação cultural, que é dada tanto pela base material como pelas idéias,

dentro de uma relação adequada em que ambas se condicionam mutuamente.

Apresenta também, as idéias de Shutz (1973) que busca compreender os pressupostos

das estruturas significativas do cotidiano, usando “senso comum” para falar de representações

sociais, ou seja, as “representações” do “senso comum”. Ele acredita que “da mesma forma

que o conhecimento científico, o senso comum envolve conjunto de abstrações, formalizações

e generalizações”. (SHUTZ apud MINAYO, 1995, p.95).

Neste sentido, a compreensão do mundo se dá a partir de um estoque de experiências

pessoais e de outros, que dependem de sua história de vida. Portanto, cada ator social tem um

conhecimento de sua experiência e atribui relevância a determinados temas, aspectos ou

situações, de acordo com sua própria história.

Marx e Engels (1996) em sua obra A Ideologia Alemã, faz uma explanação sobre

representações sociais colocando como princípio básico do pensamento e da consciência

determinado modo de vida dos indivíduos, condicionado pelo modo de produção de sua vida

material. Segundo ele,

“o modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da natureza dos meios de vida já encontrados e que têm de reproduzir” (MARX, 1996, p.27).

Portanto, o que os indivíduos são, dependem das condições materiais de sua produção.

Indivíduos determinados que, como produtores, atuam também de forma determinada estabelecem entre si relações sociais e políticas determinadas. Portanto, “a produção das idéias, das representações, da consciência está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material entre os homens, como a linguagem da vida real. O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens, aparecem aqui como emanação direta de seu comportamento material” (MARX, 1996, p.35-36)

Por isto, as representações, as idéias e os pensamentos são o conteúdo da consciência

que, por sua vez, é determinada pela base material. “Não é a consciência que determina a

vida, mas é a vida que determina a consciência” (idem, p.37). Mas ele vê de uma forma

dialética “as circunstâncias fazem os homens, mas os homens fazem as circunstâncias”. E

acrescenta também...

16

As representações que estes indivíduos elaboram são representações a respeito de sua relação com a natureza, ou sobre suas múltiplas relações, ou a respeito de sua própria natureza. É evidente que, em todos estes casos, estas representações são a expressão consciente – real ou ilusória – de suas verdadeiras relações e atividades, de sua produção, de seu intercâmbio, de sua organização política e social (MARX, 1996, p.36).

Marx faz um paralelo entre consciência e linguagem, entre as representações e o real

invertido, e mostra como as idéias estão comprometidas com as condições de classe,

As idéias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, colocadas como idéias gerais, comuns e universais de todos os membros da sociedade (MARX, 1984 apud MINAYO, 1995, p.99).

Mas por serem ao mesmo tempo ilusórias, contraditórias e “verdadeiras”, as

representações podem ser consideradas matéria-prima para a análise do social e também para

a ação pedagógico-política de transformação, pois mostra a realidade segundo determinado

segmento da sociedade.

Os fenômenos sociais que nos permitem identificar as representações são: as

conversações, os saberes populares e o senso comum. Podem também ser encontradas nas

religiões, ideologias, etc.

Segundo Minayo (1995),

As Representações Sociais se manifestam em palavras, sentimentos e condutas e se institucionalizam, portanto, podem ser analisadas a partir da compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais. (...) Portanto, devem ser analisadas criticamente, já que correspondem às situações reais de vida. Neste sentido, a visão de mundo dos diferentes grupos expressa as contradições e conflitos em que foram criadas (MINAYO, 1995, p.108-109).

Para concluir, utilizaremos em nosso trabalho de pesquisa o conceito de representações

sociais de Jovchelovitch (1995), em que,

A representação social é uma estratégia desenvolvida por atores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de um modo que, embora pertença a todos,

17

transcende a cada um individualmente. (...) elas não apenas surgem através de mediações sociais, mas tornam-se, elas próprias, mediações sociais. E enquanto mediação social, elas expressam por excelência o espaço do sujeito na sua relação com a alteridade, lutando para interpretar, entender e construir o mundo. (JOVCHELOVITCH, 1995, p.81)

Vale dizer que a mediação privilegiada para a compreensão das representações sociais é a

linguagem, tomada como forma de conhecimento e de interação social, pois a palavra é a base

da relação social.

2.1.1- Teoria das Representações Sociais

As Representações Sociais assim como a Linguagem e o Pensamento são categorias

fundamentais da Psicologia Social que têm como objetivo “conhecer o indivíduo no conjunto

de suas relações sociais, tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é

manifestação grupal e social” (LANE, 1995).

A Teoria das Representações Sociais coloca novos questionamentos para a Psicologia

Social, pois deixa de considerar o indivíduo como o único centro possível de referência e

passa a considerar o social enquanto totalidade, apresentando-lhe novas possibilidades.

Em primeiro lugar, como diz Moscovici (1995), porque a Teoria das Representações

Sociais centra seu olhar sobre a relação sujeito-objeto e “ao fazer isso ela recupera um sujeito

que, através de sua atividade e relação com o objeto-mundo, constrói tanto o mundo como a

si próprio”. Em segundo lugar, porque ela estabelece uma síntese entre fenômenos que estão

profundamente ligados.

Segundo Moscovici (1995),

A dimensão cognitiva, afetiva e social estão presentes na própria noção de representações sociais. O fenômeno das representações sociais, e a teoria que se ergue para explica-lo, diz respeito à construção de saberes sociais e, nessa medida, ele envolve a cognição. O caráter simbólico e imaginativo desses saberes traz à tona a dimensão dos afetos, (...). Tanto a cognição como os afetos que estão presentes nas representações sociais encontram sua base na realidade social (MOSCOVICI, 1995, p.20).

18

Portanto, é na realidade social que está contido o conhecimento das representações do

futebol, produzidos pela herança histórico-cultural, pelos meios de comunicação, pelas falas,

pelas instituições, entre outros, envolvidos com emoção e sentimento.

A Teoria das Representações Sociais tem sua base no diálogo e na conversação

exaltando a importância das relações entre “sujeito-outros” e “sujeitos-sociedade” para dar

conta dos possíveis significados tanto da vida individual como da pública.

Segundo Jovchelovich (1995), podemos dizer que,

De um lado, é através de sua atividade e relação com outros que as representações têm origem, permitindo uma mediação entre o sujeito e o mundo que ele ao mesmo tempo descobre e constrói. De outro lado, as representações permitem a existência de símbolos. (...) É sobre e dentro de uma rede de significados que se dão os trabalhos dos sujeitos de re-criar o que já está lá. O sujeito psíquico, portanto, não está nem abstraído da realidade social, nem meramente condenado a reproduzi-la. Sua tarefa é elaborar a permanente tensão entre um mundo que já se encontra constituído e seus próprios esforços para ser um sujeito (JOVCHELOVITCH, 1995, p.78).

É na esfera pública, que as representações sociais encontram as condições para se

desenvolver e se estabelecer. A vida pública, também fornece as condições necessárias para a

permanência e a história, já que ela não pertence apenas a uma geração. Sua imortalidade

envolve sua capacidade para produzir, manter e transformar uma história.

Segundo Jovchelovitch (1995),

(...) é através da ação de sujeitos sociais agindo no espaço que é comum a todos, que a esfera pública aparece como o lugar em que uma comunidade pode desenvolver e sustentar saberes sobre si própria - ou seja, representações sociais (JOVCHELOVITCH, 1995, p. 71).

Mais especificamente, podemos dizer que são nas instituições, nas ruas, nos meios de

comunicação, nos movimentos sociais, nos atos de resistência, e em uma série infindável de

lugares sociais que as representações sociais são formadas. Dessa forma, existe a formação de

representação social do futebol na escola, mas não se restringe somente a ele, pois está

presente na cultura, na mídia, no mito, entre outros. “As representações sociais estão

19

enraizadas na realidade social e histórica, ao mesmo tempo em que contribuem para sua

construção” (ADAM & HERZLICH apud CARDOSO, 2000, p.505,).

Assim, as Representações Sociais, enquanto fenômenos psicossociais estão

necessariamente radicados nos espaços públicos e nos processos através dos quais o ser

humano desenvolve uma identidade, cria símbolos e se abre para a diversidade de um mundo

de Outros (Alteridade).

Quando falamos em Representações Sociais, não centramos no individual, mas nos

fenômenos produzidos pelas construções particulares da realidade social. É necessário

analisar o social enquanto totalidade, isso quer dizer que o social envolve uma dinâmica que é

diferente de um agregado de indivíduos. Assim como as representações sociais não são um

agregado de representações individuais.

Portanto, a análise das representações sociais deve concentrar-se naqueles processos de

comunicação e vida que não somente as produzem como diálogo, discurso, rituais, padrões de

trabalho e produção, arte, rito, mitos, em suma, cultura, mas que também lhe conferem uma

estrutura peculiar.

Segundo VALA citado por XAVIER (2002),

As representações sociais são “uma modalidade de conhecimento particular”, que têm por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos. O estudo das representações sociais, nessa perspectiva, consiste na análise dos processos pelos quais os indivíduos, em interação social, constroem teorias sobre os objetos sociais, que tornam viável a comunicação e organização dos comportamentos. Assim entendidas, as representações "alimentam-se não só das teorias científicas, mas também dos grandes eixos culturais, das ideologias formalizadas, das experiências e das comunicações cotidianas" (p.5,).

Pode-se reafirmar, portanto, que o conceito de representações sociais foi criado para se

compreender as formas de raciocínio e as teorias existentes e elaboradas no cotidiano, sendo

de acordo com PERRUSI citado por XAVIER (2002) “uma forma de conhecimento

particular, relacionado com o senso comum, com a interação social e com a socialização”

(p.4), que é determinado, ainda, por fatores contextuais e sociais. Diferentemente do saber

científico, ou o saber institucionalizado, que possui outra lógica de funcionamento, pois está

incluído no mundo sistematizado.

20

2.2 - O futebol

Consideramos aqui a origem do Futebol enquanto Esporte, ou seja, através da criação de

regras e características de competição, rendimento e record, e não de manifestações culturais

que se assemelham a ele, pois daí, se perderiam no tempo. Sendo assim, foi na Inglaterra e,

mais precisamente nas escolas elitistas “public schools” que tanto o esporte de forma geral,

quanto o futebol, especificamente, surgiram da “necessidade de exercer uma violência sob

controle” (ELIAS apud ASSIS DE OLIVEIRA, 2001, p. 77). E a partir daí, se espalharam por

todo o mundo, tornando-se “a principal expressão da cultura corporal e das ocupações de

lazer” (ASSIS DE OLIVEIRA, 2001, p.76). Agora centrando a atenção no futebol, foi por

volta de 1863, que suas regras começaram a ser organizadas e sistematizadas, e que

permanecem, com pequenas modificações, até os dias de hoje. Logo, este esporte passou a ser

praticado também nos clubes da burguesia da época, e posteriormente por todas as classes

sociais.

No Brasil, há um consenso de que foi Charlles Miller que trouxe o futebol para o Brasil,

entretanto, há alguns críticos que questionam essa versão, como por exemplo, Victor Andrade

de Melo em seu artigo “Futebol: que história é essa?!”

Mas teria sido realmente Miller o introdutor do futebol, no Brasil? Vocês não acham estranho que um homem trouxesse uma bola, e poucos anos mais tarde, grande parte da população brasileira já praticasse o esporte? Não haveria antecedentes que pudessem ajudar-nos a entender melhor tão rápida difusão? (MELO, 2000, p.17)

Nesse sentido, o autor diz que o futebol chegou ao Brasil através dos colégios jesuítas,

que na Itália já ofereciam o futebol a seus alunos, e que foi provavelmente através deles que

chegaram as primeiras bolas de futebol e se realizaram os primeiros jogos (MELO, 2000,

p.19). Mas de forma alguma nega a importância de Charles Miller, porém para organizar

melhor e difundir o futebol entendido como campo esportivo (MELO, 2000, p.17).

Sua popularidade pode ser explicada por quatro motivos: primeiro por poder ser praticado

em qualquer local, segundo por não exigir equipamentos caros, apenas uma bola, terceiro por

possuir regras de fácil entendimento e por último, é a adequação de sua prática ao gosto

popular, fato que discutiremos a seguir.

Encontramos similaridade entre algumas características do futebol com hábitos e estilos

do povo brasileiro, ou seja, com características socioculturais do povo brasileiro. Portanto,

podemos dizer que o futebol representa o nosso país, com todas as suas aspirações, seus

21

desejos e suas contradições sociais. E isso se dá porque o futebol permite a vivência de uma

série de situações e emoções típicas do homem brasileiro. Isso explicaria o alto poder

simbólico que o futebol foi adquirindo ao longo deste século, passando a representar o

homem brasileiro (DAÓLIO, 2000, p.33). Isso explica o fato desse esporte que foi criado na

Inglaterra ter se tornado o principal esporte nacional, a paixão do brasileiro. Portanto, mesmo

sendo o futebol o esporte de preferência mundial, ou seja, um fenômeno universal, de uma

maneira ou de outra, é o Brasil que se destaca no mundo do futebol com jogadores

“fenomenais” cheios de criatividade, habilidade e diversidade. E o brasileiro de forma geral,

vive o futebol, pois ele está presente e faz parte de nossas vidas, sejam pelas notícias de

jornais e programas de televisão, pelas rodas de conversas, principalmente entre os homens,

campeonatos que dura o ano todo, o jogo no campinho ou na rua na hora de lazer, ou em

qualquer brincadeira com bola que sempre acaba em “pelada”, além das músicas, filmes,

teatro e inúmeras propagandas que fazem alusão ao futebol. Assim, o futebol é um símbolo de

identidade nacional e, portanto, é imprescindível o estudo desse esporte para entender a

sociedade brasileira.

(...) o futebol é uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar. É uma maneira do homem nacional extravasar características emocionais profundas, tais como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, fidelidade, resignação, coragem, fraqueza e muitas outras (DAÓLIO, 2000, p.35)

Portanto, o futebol com todas suas contradições, é uma grande representação social, que

se retrata e se revela nos campos, nas torcidas, nos torneios, etc.

É, portanto, dinâmico, por refletir a própria sociedade brasileira. As manifestações dentro de um estádio de futebol quer as da torcida, quer as dos jogadores, ou as dos dirigentes e jornalistas, não podem ser analisadas de forma desvinculada de todas as outras questões nacionais. (DAÓLIO, 2000, p.36)

Sávio Assis de Oliveira em seu livro Reinventando o esporte, fala de forma mais

abrangente, sobre essa representatividade,

O esporte representa o modelo perfeito da sociedade concorrencial, regrada, que valoriza e premia a competência, elemento diferenciador dos homens no reino da escassez. Ele representa todo um processo social de afunilamento e exclusão. No início, todos são iguais, todos têm o direito à

22

vitória, à possibilidade formal de obter sucesso. Depois, no processo, os competentes se estabelecem. Mas, à semelhança do que ocorre “na vida”, os competentes no esporte são quase sempre os “bem-nascidos” e “bem-criados”. Os poucos exemplos de vitoriosos que vêm de baixo, que surgem do nada, servem apenas para ilustrar o discurso que imprime a idéia do esforço recompensado e - ou da prevalência dos dons pessoais. (ASSIS DE OLIVEIRA, 2001, p.195-196).

Desse modo, através dele podemos entender a sociedade brasileira, desde nossa formação

às diferenças e desigualdades encontradas, como nossa cultura corporal.

O futebol, portanto, permite também descobrir a nossa “alma” e o nosso “coração” de modo positivo, como uma coletividade que pode, sabe e faz muito bem as coisas. (DaMATTA,1982, p. 15)

Considerando a teoria de reprodução cultural de Bourdieu, em que “o consumo e prática

do esporte, bem como das atividades corporais em geral, participa enquanto elemento da

cultura do processo de reprodução das diferenças de classe”. (BRACHT, 1997, p.55). Porém,

devemos considerar que existe “resistência”, não aceitando que o esporte é de todo

determinado pelo sistema. Assim, com base no materialismo histórico, que aborda o esporte

enquanto reprodutor da força de trabalho vê que o esporte pode ao mesmo tempo contribuir

para a reprodução da força de trabalho como também para qualificar o trabalhador para a luta

contra a mesma exploração, resistindo-se a ela. Portanto, não podemos chegar a conclusões

simplistas do tipo: “o esporte reforça a hegemonia da classe dominante, pois existem

elementos indicando também no sentido da resistência” (BRACHT, 1997, p.65). E é a escola,

o principal local para a produção de contra-hegemonia, onde encontra força para a

transformação.

“a cultura popular é capaz de conformismo ao resistir e capaz de resistência ao conformar. Esta ambigüidade a determina radicalmente como lógica e prática que se desenvolvem sob a dominação” (CHAUÍ apud BRACHT, 1997, p.66)

23

O futebol está em todos os lugares: em casa, na escola, na rua, na esquina, nos bares, na

universidade, enfim, no cotidiano do brasileiro. Sem dúvida, é um dos elementos de nossa

identidade cultural, uma síntese da vida brasileira.

Quando estudamos o futebol, o que se oferece à análise é o país e suas raízes. Por isso, mais importante do que um jogo de futebol são os jogos do futebol, aquelas realidades econômicas, políticas, simbólicas, que estão à volta dos estádios e neles comparecem, sem comprar ingresso e independente de nossas vontades pessoais. (http://www.topicos.net/fileadmin/pdf/2006/2/futebol_sociedade.pdf)

24

3 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta pesquisa, optamos pelo estudo de caráter qualitativo que

“fundamenta-se em dados coligidos nas interações interpessoais, na co-participação das

situações dos informantes, analisados a partir da significação que estes dão aos seus atos”

(CHIZZOTTI, 2001, p.52).

O tratamento dado no processo de análise das informações foi a busca interpretativa de

compreender as opiniões e saberes dos adolescentes escolares sobre o futebol. Foi realizado

um estudo de caráter qualitativo com dezesseis adolescentes entre 11 e 12 anos, sendo oito do

sexo feminino e oito do masculino, da 5ª série, do Colégio Estadual Santa Luzia da cidade de

Aparecida de Goiânia-GO. Quase todos participaram do Programa Segundo Tempo durante o

período que estava funcionando. Foi utilizado como instrumento de coleta de dados, um

questionário com as seguintes questões: 1- O que é futebol para você? 2- Você gosta de jogar

futebol? Por quê? 3- O que você sente quando está jogando futebol? Por quê? 4- Sua família

gosta que você jogue futebol? 5- Você joga por jogar ou pensa em um dia ser profissional de

futebol? Onde se buscou compreender as concepções e representações do futebol no contexto

escolar e os dados foram submetidos a uma análise descritiva. O questionário foi aplicado

individualmente em uma aula normal de 50 minutos.

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, o presente estudo não estabelece separações

marcadas entre a coleta de informações e a interpretação das mesmas, permitindo a passagem

constante entre informações que são reunidas e que, em seguida, interpretadas, para o

levantamento de novas hipóteses e busca de novos dados.

Quanto às características gerais da população-alvo, pode se afirmar que todos os alunos

pertencem à classe social em vias de exclusão. A maioria vive somente com a mãe, moram

nas imediações da escola que se localiza na região leste da cidade Aparecida de Goiânia, no

Bairro Santa Luzia.

A escola possui uma estrutura física adequada ao desenvolvimento das aulas de

Educação Física, com pouquíssimos materiais didático-pedagógicos, dentre eles, bolas

(futebol e vôlei), jogos (dominó, vareta, e jogo de damas) e bambolês.

25

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para analisar as questões realizadas construímos o movimento de organização dos

resultados através de aproximação, junção e distanciamento de elementos que pudessem

contribuir com o entendimento das representações sociais dos adolescentes sobre o futebol.

Pudemos perceber que entre os meninos, praticamente todos eles gostam de jogar

futebol com exceção de um que respondeu: ¨é uma atividade boba e enjoada¨. E são vários os

motivos que os motivam. A maioria é pelo sonho de um dia ser jogador profissional, ter fama

e dinheiro. Outros simplesmente disseram que gostam por ser um tipo de esporte e ainda os

que responderam que é porque aprendem e se divertem. Já entre as meninas, a maioria

respondeu que não gosta de futebol, uma delas disse: ¨não porque tem meninos que é muito

engraçadinho que joga a bola na cara da gente e também é muito chato¨ e outra: ¨não porque

nunca foi o meu estilo¨. Já as que gostam dizem que é porque é divertido e porque faz bem

para a saúde e entre uma delas, também aparece o sonho de ser jogadora profissional ¨sim eu

gosto, porque ele faz bem a saúde, e eu quero ser a melhor jogadora de futebol feminino¨ .

Interessante que quando perguntamos o que é futebol, nenhum deles apresentou os

conceitos do futebol, como por exemplo, que é um esporte que possui técnicas como: drible,

finta, passe, chute, cabeceio, etc. O que apareceu foi um sentido instrumental do esporte, ou

seja, a maioria dos meninos respondeu que é um esporte de fazer. Outros, contraditoriamente

relacionaram o futebol ao lazer e ao divertimento e somente um aluno disse que é um sonho,

que é uma coisa muito importante para ele. Já a maioria das meninas, disseram que é um

esporte de que muitas pessoas gostam inclusive elas, mas gostam de assistir para ver os

meninos bonitos: eu acho que futebol é um esporte que todo mundo gosta, eu já gosto um

pouco é um esporte bom mais eu não gosto muito então eu gosto só de ver os meninos bonitos

jogando¨. Outras falaram que ele é um esporte-atividade física e que faz bem para a saúde,

além de ser um divertimento. Aparece também entre as meninas o sonho de um dia ser

profissional: ¨é um esporte que eu gosto muito e que ajuda a gente um dia ser profissional. O

futebol é um esporte que eu adoro e pratico¨.

Perguntamos o que eles sentem quando estão jogando futebol. A maioria dos

adolescentes, meninos e meninas disseram que sentem emoção, alegria, uma coisa muito boa.

Entre as respostas temos: ¨uma alegria porque eu esqueço tudo de ruim¨; ¨é muita emoção

porque eu sinto que eu sou um jogador profissional¨ e ainda: ¨eu sinto que eu vou fazer um

gol, e o meu time vai ganhar porque a platéia fica gritando¨. A minoria disse que é normal,

ou simplesmente que é divertido.

26

Quando perguntamos diretamente se quando eles jogam é por lazer, divertimento ou se

pensam em um dia serem jogadores profissionais, a maioria dos meninos disseram que tem o

sonho de serem jogadores profissionais, exemplo: ¨sim eu sonho em um dia ser um jogador de

futebol profissional, e um dia eu vou estar jogando na seleção, ou talvez no Goiás¨. Apenas

uma minoria disse que joga por brincadeira. Essa fase do sonho se justifica pela idade desses

adolescentes, entre 11 e 12 anos, já que na atualidade as coisas acontecem com muita

precocidade, ou seja, para se destacar tem que ser por volta de 10 a 15 anos. Momento em que

segundo GRECO e BENDA (MÓDULO 5, Unidade 1), o adolescente se encontra ainda na

fase de Formação Esportiva que vai dos 3 aos 16 anos, fase em que deveria estar buscando

ampliar as capacidades motoras e somente depois dos 16 anos entraria na fase do Treinamento

Esportivo buscando melhorar maximizando e otimizando essas capacidades motoras. Porém,

a especialização é concretizada precocemente, pois ele tem que se profissionalizar por volta

de 16 anos, visto que a carreira profissional é muito curta, devido à grande pressão sofrida

pelo próprio tempo são obrigados a conseguir rapidamente a ascensão.

Se o futebol, como seus primos mais conspícuos, (o carnaval, a umbanda e o jogo do bicho), permite uma forma de cidadania positiva, posto que transforma um indivíduo sem eira nem beira, em pessoa momentaneamente vitoriosa, é porque ele é uma ponte. Um instrumento que pode ser manipulado para permitir a ascensão social. (DaMATTA, 1982, p. 18)

O sonho começa quando o garoto se destaca e dizem que ele é “bom de bola” ou é

“craque”. O sonho mesmo é de ascensão social e vivendo em uma classe de exclusão, vêem

no futebol essa possibilidade, já que a maioria dos jogadores que são destaques no futebol e

que são bem sucedidos vieram de classe baixa da sociedade e essas histórias são sempre

divulgadas pela mídia, dando credibilidade a esse sonho, mesmo sendo poucos os

privilegiados. Para cada jogador de sucesso, quantos milhares são anônimos? Percebemos que

esse sonho é partilhado também pela família, em especial o pai.

Sonha-se tudo a que se tem direito, isto é, tornar-se um jogador da primeira divisão, num “clube grande”, ter salários elevados, fama e tudo que daí deriva. (GUEDES, 1982, p.64)

Sobre a interferência da família, perguntamos se a família apóia, gosta que eles

pratiquem futebol. Entre os meninos, somente aquele que não gosta disse também que a

família não apóia. Mas todos os outros recebem apoio familiar, como por exemplo: ¨minha

27

família adora que eu jogo futebol, e até de vez em quando o meu pai joga futebol com a

gente¨. Outros também têm o sonho do filho ser jogador profissional, pois talvez esse seja o

único meio de ascensão social, por exemplo: ¨gosta porque eles querem que eu seja um

profissional como os que passa jogando na TV¨. Entre as meninas, é interessante que a

maioria não sabe se os pais apóiam, e tem uns que nem sabem que a filha joga futebol, muito

diferente dos meninos. Aparece também o preconceito de meninas jogarem futebol, uma delas

respondeu: ¨não porque fala que eu sou macho¨. Esse preconceito se deu desde a deliberação

sobre a prática de esportes para as mulheres em 1965, na qual se estabeleceu que “não é

permitida a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia,

pólo, halterofilismo e beisebol”(TAFFAREL e FRANÇA, 1994 apud BRUHNS, 2000, p.74).

Porém, essa colocação de que “futebol é coisa para homem” vem se enfraquecendo à medida

que as mulheres cada vez mais participam, entendem, gostam e trabalham com o futebol. Mas

também aparece pais que incentivam as filhas como por exemplo: ¨eu acho que sim, porque

quando eu ganhei a minha primeira medalha meus pais ficaram felizes¨ e ainda: ¨sim porque

eles que incentivam eu jogar¨.

28

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi de suma importância para nós uma vez que foi possível compreender

melhor o que pensam os alunos sobre o tema “futebol”, o que esse esporte representa para eles

e quais são seus interesses. Nesta mesma direção este estudo também nos possibilitou avaliar

que devido ao interesse demonstrado pela maioria dos alunos pelo conteúdo do futebol, esse

acaba sendo priorizado como trabalho em sala de aula pelos professores de educação física,

deixando os outros conteúdos da cultura corporal, mesmo referentes a outros esportes sem

serem trabalhados, ou trabalhados superficialmente. O que aconteceu até mesmo no Programa

Segundo Tempo. Mas o interessante é que esse interesse dos alunos não é o de aprender o

futebol nos seus aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais, e sim, “jogar futebol”,

“bater bola”, como eles brincam em casa, na rua ou no campinho. Demonstrando a fragilidade

dos processos pedagógicos, dos conteúdos e das ações interdisciplinares no espaço da escola.

O que pudemos perceber como representação central é o interesse e o sonho por parte

dos meninos de se tornar jogador de futebol. Percebemos aqui a busca pela ascensão social,

numa sociedade onde as diferenças sociais aumentam a cada dia e as oportunidades se abrem

somente para os poucos “bem-nascidos” e “bem-criados”, e que os meios de comunicação,

insistem em afirmar que tudo é possível, tendo esforço e determinação, é o discurso do

“esforço recompensado”.

Na pesquisa detectamos que os principais elementos de representação social do futebol

são referenciados pelo futebol profissional, de alto-rendimento, apresentado e massificado

pela mídia. Buscando assim, na medida do possível, “copiar” o que é apresentado e inculcado

pela mídia como padrão a ser seguido.

E é importante lembrar que o futebol é representação da própria sociedade, ou seja,

encontramos nas características do futebol esportivizado, a tradução da sociedade em que

vivemos, ou seja, características do tipo concorrencial, excludente, baseado na eficácia e na

eficiência sempre buscando o rendimento.

Outra questão importante é a diferença entre meninos e meninas, e que ainda há o

preconceito em relação às meninas que praticam futebol, definindo como “machas”, mas esse

preconceito vem diminuindo à medida que as mulheres cada vez mais interessam, aprendem e

praticam o futebol.

29

Este estudo e outros que temos conhecimento acerca do futebol na escola têm reiterado a

denúncia da fragilidade do trabalho realizado na educação física escolar e, de forma especial,

que foi feito no Programa Segundo Tempo.

Diante destas constatações, achamos importante ressaltar a colocação de MELO (2000,

p.13) “A escola não pode menosprezar e-ou deixar de abordar o fenômeno futebol, discutindo

seus significados e reorientando seus sentidos”. E a Educação Física precisa tratar dos

conteúdos da cultura corporal para poder dar aos indivíduos elementos críticos e reflexivos

acerca do mundo e de cidadania, podendo utilizar como processo metodológico a

problematização para poder ampliar esta visão de mundo que é representação da realidade,

mas também é conteúdo modificável.

30

REFERÊNCIAS

ASSIS DE OLIVEIRA, Sávio. A reinvenção do esporte: possibilidade da prática pedagógica. Campinas, SP: Autores Associados, chancela editorial CBCE, 2001. – (Coleção educação física e esportes).

BRACHT, Valter. Sociologia Crítica do esporte: uma introdução. Vitória, ES: UFES, Centro de Educação Física e Desportos, 1997 BRUHNS, Heloísa Turini. Futebol, carnaval e capoeira: entre as gingas do corpo brasileiro. Campinas, SP: Papirus, 2000. CARDOSO, Maria Helena Cabral de Almeida, GOMES, Romeu. Representações sociais e história: referenciais teórico-metodológicos para o campo da saúde coletiva. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 16(2): 499-506 abr. /jun, 2000. CARRANO, Paulo César Rodrigues (org.). Futebol: paixão e política. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5.ed. – São Paulo: Cortez, 2001. – (Biblioteca da educação. Série 1. Escola; v.16). COMISSÃO DE ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA [do Ministério do Esporte]. Manifestações dos Jogos. Brasília – DF. Universidade de Brasília / CEAD, 2004. (Esporte Escolar, Curso de Especialização, 4). COMISSÃO DE ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA [do Ministério do Esporte]. Manifestações dos Esportes. Brasília – DF. Universidade de Brasília / CEAD, 2004. (Esporte Escolar, Curso de Especialização, 5). DaMATTA, Roberto e outros. Universo do Futebol: Esporte e Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro, Pinakotheke, 1982. DAOLIO, Jocimar. Cultura: educação física e futebol. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997. DESLANDES, Suely Ferreira, NETO, Otavio Cruz, GOMES, Romeu, MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. FARR, R. M., 1995. Representações sociais: a teoria e sua história. In: Textos em Representações Sociais. (P.A. GUARESCHI & S. JOVCHELOVITCH, orgs.), pp. 31-59, Petrópolis, RJ: Vozes.

31

FRISSELLI, Ariobaldo. Futebol: teoria e prática. São Paulo: Phorte, 1999. GOMES, R., MENDONÇA, E.A. e PONTES, M.L.. As representações sociais e a experiência da doença. Cad. Saúde Pública, set./out., 2002, vol.18, n°5, p.1207-1214. ISSN 0102-311X. JOVCHELOVITCH, S., GUARESCHI, P.A. (org). Textos em representações sociais; I prefácio Serge Moscovici I. – 2. Ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. JOVCHELOVITCH, S. Vivendo a vida com os outros. In: Textos em representações sociais. (P.A. GUARESCHI & S. JOVCHELOVITCH, orgs.), Petrópolis, RJ: Vozes. KUNZ, Elenor. Didática da educação física 3: Futebol. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003. MARX, K., ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 10ª ed. Ed. Hucitec. São Paulo, 1996. MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. Vol. II, Ed. Pedagógica e Universitária LTDA. USP. Cap. I. As Técnicas Corporais, p. MELO,V. A.. Futebol: que história é essa?. In: Paulo César Rodrigues Carrano. (Org). Futebol: paixão e política. Rio de Janeiro: D P & A Editora, 2000, v.1, p.10-22. MINAYO, M.C.S., 1995. O conceito de Representações Sociais dentro da sociologia clássica. In: Textos em Representações Sociais. (P.A. GUARESCHI & S. JOVCHELOVITCH, orgs.), pp. 89-111, Ed. - Petrópolis, RJ: Vozes. MOSCOVICI, Serge, 1984. Psycologie sociale. Paris: PUF. SEVERINO, Antônio Joaquim, 1941 – Metodologia do trabalho científico. 20 ed. revisão e ampliação – São Paulo: Cortez, 1996. SPINK, M.J., 1995. Desvendando as teorias implícitas: uma metodologia de análise das representações sociais. In: Textos em Representações Sociais. (P.A. GUARESCHI & S. JOVCHELOVITCH, orgs.), Ed. - Petrópolis, RJ: Vozes. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva, 1928 – Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. XAVIER, Roseane. Social representation and ideology: interchangeable concepts? Psicol. Soc., July/Dec. 2002, vol.14, n°. 2, p.18-47. ISSN 0102-7182. WAGNER, W., 1995. Descrição, explicação e método na pesquisa das representações sociais. In: Textos em Representações Sociais. (P.A. GUARESCHI & S. JOVCHELOVITCH, orgs.), Ed. - Petrópolis, RJ: Vozes. WITTER, José Sebastião. O que é futebol. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1990. http://www.topicos.net/fileadmin/pdf/2006/2/futebol_sociedade.pdf