No Entanto

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Jornal dos alunos da Ufes, veiculado em Novembro de 2009.

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Jornal Experimental do curso deComunicação Social da Universidade

Federal do Espirito SantoAv. Fernando Ferrari, s/n, Goiabeiras,

Vitoria-ES CEP: 29.075-910

Site: www.noentanto.com.brTwitter: @jornalnoentanto

Email: [email protected]

Turma 2009/2Ana Elisa Bassi, Angeli dos Anjos,Carlos Scherrer, Cássia Ramos, DrieliVolponi, Edézio Peterle, FabrícioGimenes, Fernanda Batista, FernandaMarchesini, Francine Leite, Igor Chagas,Laio Medeiros, Luana Dalla Bernardina,Lucas Schuina, Luiza Boulanger, MaluDamiani, Marcelle Desteffani, MarianaDornelas, Máyra Novais, MichelliPassmozer, Naiara Gomes, Pedro Monteiro, RicardoDobrovosky, Rochana Bravim, Sabrinados Santos, Sérgio Vitor Rangel, SoraiaCamata, Tamiris Vieira, Tatiana NegrisVictorhugo Amorim, Vinícius Rocha.

EditoresAngeli dos Anjos, Mariana Dornelas, Ri-cardo Dobrovosky e Sabrina dos Santos

Diagramação e ArteFabrício Gimenes, Igor Chagas e Sérgio

Vitor Rangel.Professor Orientador

Victor Gentilli

Gráfica: Gráfica ResplendorTiragem: 1.000 exemplares

No Entanto #42

Apresentação #42

Quem nunca pensou algo do tipo “isso não vai acontecer comigo”, ou então, “confio comple-tamente no meu parceiro”, e mais, “ele (a) não seria capaz de me trair!”.

Pois com a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), ou com qualquer Doença Sexualmente Transmissível (DST), ter esse tipo de pensamento é estar enganando a si próprio.

O Brasil conta com um programa de controle das DSTs que é referência mundial, porém não está imune ao vírus que se alastra pelo mundo. Em 2005, o Sistema Único de Saúde (SUS) en-frentou duas crises no abastecimento de pre-servativos e remédios fundamentais para que o programa funcionasse de maneira efetiva.

Pensar que a aids está sob controle e que não é preciso mais falar sobre o assunto é um equívoco. Segundo o Boletim Epidemiológico Aids/DST 2008 do Ministério da Saúde, a re-alidade é que de 1980 a junho de 2008 foram registrados 506.499 casos de Aids no Brasil. A região Sudeste é a que apresenta maior in-cidência: cerca de 60%. No casamento

O crescimento do número de infectados pelo vírus HIV é alarmante em todo o mundo. Esti-ma-se que cerca de 33 milhões de pessoas são portadoras do vírus. Pesquisas mostram que o número de mulheres casadas que estão con-traindo o vírus da aids também tem aumenta-do. A maioria das pessoas que casam, pensam conhecer bem seu parceiro e não utilizam a camisinha por uma questão de confiança, mas aí contraem o HIV. Em contrapartida, também é crescente o número de mulheres que tra-em. Que fazer então? Se o caso de mulheres casadas com aids está aumentando, o uso do preservativo é dispensável na minha relação? É esse tipo de questionamento que devemos fazer. Porém, não basta só questionar, é pre-ciso usar.

Segundo a terapeuta de casal, Juliana Leal, dependendo de como a mulher foi contami-nada cabe aos cônjuges conversar sobre isso: “A contaminação pode acontecer devido a uma relação extraconjugal de uma das partes ou por outra forma, mas se a relação conjugal permanecer, cabe ao casal conversar aber-tamente. A sexualidade de ambos provavel-mente ficará abalada, mas com uma conversa franca essa situação pode reverter”.

A prevenção ainda continua sendo “o melhor remédio”. Além da prevenção, há necessidade de exames constantes para se diagnosticar a

doença, dar início ao tratamento se o mesmo for indicado e evitar assim que os portadores assintomáticos propaguem a aids.

Esperança

No dia 24 de setembro deste ano pela primeira vez foi anunciada uma vacina que diminuiria o risco de infecções pelo HIV em humanos. O estudo foi realizado pelo Exército ameri-cano com o governo da Tailândia, e durou sete anos. Todos os voluntários – homens e mulheres com idades entre 18 e 30 anos - não eram portadores do HIV e viviam em algumas das regiões mais afetadas do país. Metade dos participantes tomou a vacina e outra metade placebo. Entre os voluntários que receberam a vacina, o risco de infecção pelo HIV foi 31,2% menor do que entre os que tomaram o place-bo. A vacina foi aplicada então em seis doses. Nem todas as pessoas tomaram as doses cor-retamente, sendo contaminadas pelo vírus. No total, 125 pessoas foram infectadas durante o trabalho. Excluindo esses casos, a conclusão foi de 26 % de eficácia. Há indícios de que, mesmo as pessoas que usaram corretamente as doses da vacina não terem sido contami-nadas pelo vírus, isso pode ter ocorrido por razões desconhecidas, e não propriamente por causa da vacina.

Segundo os cientistas, esta é primeira vez que uma vacina consegue diminuir o risco de in-fecção do vírus da aids. O resultado é visto como um avanço científico significativo, mas uma vacina 100% eficaz ainda está distante.

Mente aberta

Em algumas faixas etárias a discussão acerca das DSTs ainda é incipiente. Dificilmente se fala sobre sexo e Doenças Sexualmente Trans-missíveis com as crianças, porém elas iniciam a vida sexual cada vez mais cedo. Informações básicas sobre a aids e o sistema imunológico, o uso correto de preservativos, formas de con-tágio e a importância das medidas preventi-vas são fundamentais para que o percentual de soropositivos seja cada vez menor.

É preciso que as pessoas parem de achar que o vírus nunca chegará a elas. Não é só uma questão de amor próprio, é uma questão de bom senso e de amor pela vida. É necessário que o tema aids esteja sempre presente através de campanhas, projetos, análises de experiências e, principalmente, que as pes-soas se conscientizem da importância de se protegerem.

Nossos ErrosErramos e insistimos no erro. Nossa cole-ga Tamiris Vieira saiu com o nome grafa-do errado em todas as edições. Fica aqui o registro e o pedido de desculpas. O nome dela é Tamiris Vieira. Infelizmente, esse não é nosso único erro. Nossas edi-ções têm sido elogiadas pela apresenta-ção visual, pelas pautas e abordagens, mas não conseguimos nos livrar dos er-ros.

Poderíamos explicar e justificar que er-ramos porque nossos procedimentos ainda precisam ser refinados. Porque re-pórteres, editores, equipe de arte e dia-gramação e professor ainda mantém di-ficuldades de comunicação, o que resulta que terminamos publicando uma versão que não era a revisada. Esta edição vem cheia de bons assuntos. Mas colocamos como desafio produzir uma edição sem erros. Vamos ver.

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O Brasil sempre foi uma “farra” política. Desde os primeiros habitantes europeus que aqui se instalaram até aos engomados magistrados que assinam pelo país, a farra política, amparada pela nebulosidade das prestações de contas, sempre existiu. His-toricamente, dos pampas gaúchos às belas praias do nordeste, o vácuo existente entre a realidade do poder e a opinião pública sempre foi de proporções colossais. Con-tudo, surgem, hoje, sinais de que em alguns lugares algo está mudando. Pequenos sus-piros, quase espasmos, de transparência e honestidade aparecem para escrever um novo capítulo na política. Os responsáveis? A própria sociedade, que deixou de ser um receptor passivo das informações prestadas e assume, neste momento, um papel atu-ante e central na nova cena política brasi-leira.

Uma das provas dessa mudança nos pa-péis é o trabalho desenvolvido pela ONG Transparência Capixaba, que fiscaliza a vida política no Espírito Santo. A entidade é for-mada por cidadãos comuns, que, em suas respectivas profissões, atuam contra a cor-rupção. Advogados, publicitários, jornalis-tas que se uniram na tarefa de fiscalizar, exi-gir e - acima de tudo - estabelecer diálogo com os políticos espírito-santenses. A ONG conta hoje com 110 associados e um históri-co de atuação e respeito dentro de Vitória e de todo o Espírito Santo. Os últimos episó-dios protagonizados pela entidade passam pelo conhecido movimento “Fora Sarney” (nível nacional) e a intervenção nos casos de corrupção na Assembléia Legislativa do Espírito Santo (caso Robson Vaillant) e Câ-mara de Vereadores de Vitória (caso Der-mival Galvão).

Além do trabalho desempenhado pelos profissionais capixabas junto à ONG, tam-bém foi desenvolvido um projeto para am-parar as iniciativas jovens dentro da vida política do estado. Trata-se da Transparência Jovem, que tem suas atividades mantidas por jovens engajados e servem de antessala para as cadeiras centrais da Transparência Capixaba. O apoio ao ingresso do jovem na atuação política é de vital importância para a continuidade do trabalho realizado pela ONG e prepara o terreno para o futuro da instituição.

O Jovem e a vida política

Mas como motivar o jovem a estar presente na vida política? Essa questão pertinente le-vou a muitas outras acerca do tema em um bate-papo repleto de exclamações e opi-niões com Isabela Calmon, 24 anos, recém formada no curso de Ciência Política e que acaba de se filiar à Transparência Jovem. Para Isabela, o desejo de participação, é na verdade, uma necessidade, e não é preciso esperar que os outros ocupem as cadeiras políticas que qualquer jovem pode ocupar.

Começamos falando sobre os atuais casos de corrupção do Espírito Santo, do vereador Dermival Galvão e do deputado Robson Vail-lant. Pergunto sobre a participação dela e da Transparência Jovem nesses casos. A resposta é certeira: “Nós estamos atuando de maneira a exercer pressão sobre os políticos. Muito mais do que carregar faixas e cartazes, nós estamos, de fato, exercendo essa pressão. O caso do Vaillant, por exemplo, unimos forças com o PRP e com o Ipovi (Intervenção Popular de Vitória) em busca de protocolar uma repre-sentação que leve à cassação do mandato. Na última semana realizamos duas sessões públi-cas analisando o caso em busca de, através do PRP, formalizar a representação”, conta Isabela. “Já o Dermival, nós estamos presentes desde a primeira denúncia do MPES. O departamento jurídico da ONG está acompanhando o caso de perto”.

Pergunto a Isabela se o trabalho realizado pela Transparência Capixaba e pela Transpa- rência Jovem não se trata de algo restrito ao imediatismo dos fatos. E se ainda há a “ilusão” de que é possível mudar a cultura política do Espírito Santo e do país como um todo. A resposta surge após uma pequena e pensa-tiva pausa. “Acho que não”, diz a moça, que vai mais longe: “Todos nós sabemos que não vamos mudar a cara da política de uma hora para a outra. Mas quando vemos uma porção de pessoas comuns, cidadãos acima de tudo, reunidos numa sessão discutindo sobre o caso do Vaillant, por exemplo, vemos que há, sim, um desejo comum para que essa mudan-ça ocorra”. Pergunto sobre a raiz do problema, sobre a falta de educação política nas escolas. “Realmente, nós não temos formação política em nossas escolas”, concorda Isabela. Atrevo-me, então, a polemizar: “O que se estuda so-

bre política hoje não é sobre como melhorar a vida das pessoas, mas sim em como vencer eleições, não acha?”. Isabela sorri e emenda: “O problema é que a política começou a se confundir com politicagem, que é o lado ne-gro da história”.

Entre um café e outro vou desvendando as facetas do que parece ser a personificação do desejo jovem por mudanças. Peço a Isa-bela para comentar sobre a visão política dos jovens de hoje. Sempre pensativa e bem hu-morada, ela concorda em fazê-lo: “Acho que a maioria dos jovens vive do que é falado na im-prensa. Acompanham os casos, sabem o que está acontecendo, mas não fazem a diferença que podem fazer. Os jovens sentam sobre as opiniões e reclamações naturais do como- dismo brasileiro, o que não muda nada na re-alidade dos fatos”, diz Isabela. “A maior atuação jovem, na verdade, se concentra na internet - que tem servido como canal de pressão políti-ca e de opinião”, completa. Pergunto se os mo-vimentos online não são mais figurativos do que realmente representativos. “Talvez sejam, mas já é uma forma de ação. O ‘Fora Sarney’ é o maior exemplo disso”, comenta. “Mas o Sarney realmente não saiu do Senado...”, brinco. “Mas vai sair!”, completa Isabela entre risos.

Recém chegada de Pequim, pergunto sobre a atuação dos jovens na política na China. “Eles são fantásticos. Lá eu percebi um equívoco natural dos jovens aqui no Brasil: o de querer mudanças através de revoluções. Não é as-sim. A Revolução Francesa aconteceu, e aí? A Rússia e o comunismo/socialismo também, e aí? Lá na China, os jovens perceberam que a única maneira de fazer a diferença é através do estudo. Lá eles estudam e entram para o partido e fazem uma reforma de dentro para fora. Ao contrário do que se pensa aqui, que é de fora para dentro do poder. É por isso que eu digo e acredito que somos nós, os jovens, que temos que cair na real e fazer alguma coi-sa em vez de apenas reclamar dos problemas do país”, diz Isabela.

A noite aparece e anuncia o desfecho da con-versa. No ar ficam dúvidas e opiniões que merecem reflexão. Despedimos-nos pro-metendo encontro pelas casas políticas de Vitória. Vivendo em meio à desilusão, caminho pela noite despreocupada da capital. Um out-door encerra a dúvida que persegue o imagi- nário coletivo. “Changes. Yes, we really can”.

Por Fabrício Gimenes

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Ingredientes:

Se a fome sempre foi vista como inimi-ga da humanidade hoje é justamente o oposto que tira o sono de especialis-tas em saúde. O número de obesos no mundo assusta e já supera 320 milhões, segundo relatório recente da Organiza-ção Mundial de Saúde (OMS). Em con-seqüência disso, doenças ligadas a esse distúrbio alimentar como hipertensão, diabetes e problemas cardíacos se multi-plicam e aparecem cada vez mais cedo.

Não por acaso, é visível o acréscimo no

consumo de junk food, gíria em inglês para comida pouco saudável, gordurosa, com muito sal, açúcar e baixo valor nutricional como salgadinhos, refrigerantes, fast-food e outros. Para a nutricionista Carmem Lú-cia esses alimentos prejudicam a saúde e “devem ser evitados, principalmente pelas crianças”.

Caso nada seja feito, a conta dessa comilan-ça pode ficar bem salgada e indigesta no futuro. Para se ter uma idéia, no ano de 2007 o Sistema Único de Saúde (SUS) gas-tou 41% do seu orçamento no cuidado de doenças crônicas, que infelizmente andam em par com a obesidade.

Modo de fazer:

O pecado da gula não é o único culpado pelos quilinhos a mais, a preguiça tam-bém é uma grande vilã. Usamos o carro para tudo, ficamos horas em

frente à TV ou o com-putador, mas sempre

encontramos uma desculpa para não ir à academia.

Acrescente a isso a falta de tempo do dia-a-dia para preparar alimentos tradicionais e saudáveis a investimentos milionários em publicidade de junk food e temos a mistura perfeita para uma dieta de risco. É literal-mente juntar a fome com a vontade de comer.

Um dado perigoso é que grande parte dessa avalanche de anúncios, se aproveitando de brechas da lei, estão voltados para o público infantil. Devido a sua ingenuidade e falta de discernimento, as crianças não tem como se defender do discurso persuasivo das propa-

gandas e são facilmente fisgadas pelas promessas oferecidas.

Esse público interessa aos publicitários pelo fato de que têm 80% de influência nas decisões de compra dos pais. As crianças são um filão tão importante que em 2006, no Brasil, foi investida a generosa quantia de R$210 milhões somente em publicidade infantil.

Quando se trata de publicidade de ali-mentos para crianças, esses investimentos são ainda mais prejudiciais. Mensagens promovendo o consumo de junk food em detrimento aos alimentos saudáveis as co-locam no grupo de risco da obesidade, su-jeito a uma série de problemas de saúde, antes considerados exclusivos dos adultos que se agravam no médio e longo prazo.

De olho nisso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela fiscaliza-ção dos alimentos, vem discutindo desde 2006 mudanças nas regras para publicidade infantil de alimentos no intuito de acabar com os abusos praticados pelos anunci-antes e proteger as crianças. Esse esforço resultou na audiência pública realizada no dia 20 de setembro, onde foram discutidas as últimas cláusulas em aberto. O próximo passo é a publicação de uma portaria, para que as novas regras comecem a valer a partir de 2010. (box ao lado)

Os fabricantes de alimentos ainda tem uma última possibilidade de barrar essa restrição apelando a Advocacia Geral da União. Mas por se tratar de uma regula-mentação voltada para crianças, que se-gundo a C onstituição tem prioridade quando há conflito de interesses, é grande a chance dessa regulamentação entrar em vigor. Os grandes meios de comunicação tem negligenciado esse debate, sobretudo por ter interesse em manter o lucro vindo diretamente desse tipo de publicidade.

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Em comparação com outros países, a nova regulamentação chega atrasada. Na Bélgi-ca, Noruega e Estados Unidos, por exemplo, é proibida publicidade na TV voltada para menores de 12 anos. E na Áustria, Portugal e Luxemburgo é proibido qualquer tipo de publicidade em escolas.

Há algum tempo, outro tipo de produ-to, também maléfico a saúde, gastava milhões para estimular seu consumo, prin-cipalmente entre os jovens. Antes da Lei do Fumo aprovada em 2000, que pratica-mente baniu a propaganda de tabaco, o cigarro associava o seu uso a imagens de mulheres bonitas, homens de sucesso, es-portes e paisagens deslumbrantes para vender o prestígio que ele poderia dar. A restrição à publicidade do cigarro foi eficaz. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em 1989 entre os jovens 32% eram fumantes, já em 2007 esse número caiu para 19%.

Na opinião do professor da Ufes, doutor Ed-gard Rebouças, especialista em Legislação em Comunicação e que esteve presente na audiência pública realizada em setembro, o que se espera é “uma mudança de médio e longo prazo na forma como as pessoas se alimentam, da mesma forma como ocorreu com o cigarro”.

Espera-se também que com a queda na de-manda do junk food as empresas se sintam pressionadas a criar alternativas mais sau-dáveis, com menos gordura, sódio e açúcar para agradar a esse novo público que irá surgir. E assim, oferecer a população uma melhor qualidade de vida, além de econo-mizar centenas de milhões que seriam gas-tos com doenças totalmente evitáveis. Variações

Mesmo com a correria e falta de tempo, ter uma alimentação saudável é possível. No coração da cidade, Centro de Vitória, o médico vegetariano Marco Ortiz, tem um restaurante de comida natural, onde defende essa idéia, servindo alimentos naturais, sem origem animal. “O intestino humano é 10 vezes maior que o corpo, portanto não é feito para comer carne, já que esta apodrece antes de ser eliminada. Animais carnívoros têm o intestino quatro

vezes maior que o corpo”, explica.

Segundo Marco, uma boa alimentação deve conter cereais integrais, verduras, le-gumes e frutas, orgânicos de preferência, além de ser feita calmamente, e não se deve ingerir líquido durante as refeições. A soja substitui bem a carne, mas o ideal é comer o queijo de soja, o t ofu, pois este ajuda na digestão.

Para quem quer mudar sua alimenta-ção a dica é fazer aos poucos. “É um pro-cesso gradativo, um dia você começa a parar de comer carne vermelha, depois vem o próximo passo, não da para fazer tudo de uma vez. O mais importante é manter o objetivo em mente”, completa.

Como fica a publicidade para crianças

Em discussão desde 2006, quan-do foi aberta a Consulta Pública nº 71, a regulamentação pro-posta pela Anvisa tem como principais objetivos promover a alimentação saudável e contro-lar a publicidade voltada para o mercado de alimentos.

No que diz respeito à publici-dade infantil, as principais medi-das são:

- É proibida a utilização de figu-ras, desenhos, personalidades e personagens que sejam cativos ou admirados por esse público alvo;

- A propaganda, em rádio e tele-visão, somente poderá ser rea-lizada entre as vinte e uma e às seis horas;

- É proibido qualquer tipo de propaganda ou promoção em instituições de ensino infantil ou fundamental e em outras enti-dades públicas ou privadas;

- É vedada a divulgação, direcio-nada à criança, de brindes, prê-mios, bonificações e apresenta-ções especiais;

- Não é permitida a realização de qualquer tipo de publicidade ou propaganda, direcionada às crianças, em brinquedos, filmes, jogos eletrônicos, páginas de in-ternet, veículo ou mídia.

- É vedada a produção de material educati-vo direcionado às crianças que incluam ou façam qualquer tipo de alusão aos alimen-tos com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e bebidas com baixo teor nutricio-nal;

- É vedada a realização de programas que forneçam incentivos financeiros ou mate-riais condicionados à aquisição de alimen-tos às instituições de ensino de qualquer natureza ou outras entidades públicas ou privadas destinadas a fornecer cuidados às crianças.

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O carnaval capixaba de 2009 deixou saudade e um gostinho de “quero mais” para 2010. Com sucesso de público - estimado em cerca de oito mil pessoas em cada dia de desfile -, este ano destacou-se pela produção de uma festa organizada, com maiores investimentos em estrutura e grande satisfação do público, que lotou as arquibancadas e os camarotes do Sambão do Povo.

Segundo o secretário de Cultura de Vitória, Alcione Pinheiro, esse sucesso está relacionado não somente ao aumento de investimento destinado ao evento, mas, prin-cipalmente, ao envolvimento e comprometimento das esco-las: “Esse ano, as escolas tra-balharam de forma integrada, por muitas vezes, se ajudando, o que aumenta o nível dos des-files e o reconhecimento do fo-lião pelo evento”, conta Alcione.

É notável o desenvolvimento e a profissionalização do car-naval capixaba. Algumas es-colas contratam carnavalescos de outros estados brasileiros para que o desfile se aprimore, fazendo a alegria tanto de quem está desfilando quanto dos espectadores. “De fora do Espírito Santo, este ano, teremos o carnavalesco carioca Flávio Campello e dois profissionais de Parin-tins”, conta a presidente da escola Unidos de Jucutuquara, Bernadete Ladislau.

Preparativos

Enquanto para muitos brasileiros o ano começa depois do carnaval, para as comuni-dades envolvidas com a produção dos desfiles, ele está terminando. E, logo em seguida, tem início outro ano de muito trabalho, busca por patrocínio, preparação de fantasias, samba enredo e ensaios mil. Não dá pra ficar parado.

“Os preparativos de um desfile de escola de samba envolvem, primeiramente, a escolha de um enredo, que é a história que será conta-da e cantada na avenida e é em cima dele que todo o desfile é construído”, diz Bernadete. Em seguida, há a escolha do samba-enredo. Para isso costuma-se abrir “concursos”, em que são propostas várias opções para eleição. No caso da escola Novo Império, “há uma comis-são julgadora formada por pessoas que enten-

dem realmente de carnaval, como carnavales- cos, entre outros”, comenta o vice-presidente e diretor de carnaval da escola, Francisco Spa-la. Em seguida é a hora de preparar fantasias, alegorias e carros alegóricos. Até fevereiro há muito trabalho pela frente.

Por volta do mês de setembro começam os ensaios, que se intensificam com a proximi-dade do carnaval. Além de deixar a escola afi-ada para o “grande dia”, nos últimos anos, eles vêm envolvendo muito mais do que a comu-nidade. Juntam os amantes do carnaval, que procuram nos ensaios diversão para os finais de semana. O resultado dessa aproximação

é um público mais animado e envolvido, que torce e canta o samba enredo durante o des-file, no dia do evento. Além disso, os ensaios possuem grande peso na arrecadação de verbas para as es-colas, que recebem, ainda, apoio do mu-nicípio, do governo e de iniciativas pri-vadas, para a realização do carnaval.

Nem tudo são flores

Apesar de o desfile das escolas de samba capixa-bas estar crescendo a cada ano, ainda existem melho-rias a serem feitas, princi-palmente, na estrutura e na limpeza do local, como o aumento do número de banheiros químicos, recorde de reclamações de quem compareceu ao evento este ano.

Outro grande problema é o destino das alegorias, que, na maioria das vezes, aca-bam virando sucata em um pavilhão próximo ao lo-cal, gerando lixo e foco de doenças para as comuni-

dades próximas. A estudante Natália Pozzato, freqüentadora do carnaval capixaba diz que “esse aspecto também deveria fazer parte da organização do carnaval, não apenas aquilo que acontece na hora e antes do desfile”.

Novo point do carnaval capixaba

A Ilha do Samba é o mais novo espaço para o sambista capixaba cair na folia. Com inau-guração no sábado, 7 de novembro, o espaço foi projetado para que as escolas de samba capixabas possam ensaiar, promover eventos e divulgar seus desfiles.

Segundo a assessoria da Liga Espírito Santense das Escolas de Samba (Lieses), a iniciativa de criação do espaço partiu da própria organiza-ção em parceria com a Prefeitura Municipal de Vitória, com o intuito de divulgar a cultura e o carnaval capixaba, além de ajudar as escolas que não tem quadra a arrecadar verbas.

A Ilha do Samba está localizada na Ilha da Fumaça, Centro de Vitória, e a ideia é que ela funcione todos os finais de semana até janeiro de 2010, aquecendo o folião capixaba para os desfiles.

Em 2010 o carnaval capixaba acontecerá nos dia 05 e 06 de fevereiro, uma semana antes do feriado de carnaval, tradicionalmente no Sambão do Povo, corredor da folia capixaba. Confira abaixo a ordem dos desfiles:

05/02 06/02Chegou o que faltava Rosas de Ouro

Unidos de Barreiro AndaraíIndependentes de São Torquato Tradição Serrana

Imperatriz do Forte Unidos da PiedadeMocidade Unida da Glória Unidos de Jucutuquara

Independentes de Boa Vista Pega no SambaNovo Império

Foto: Divulgação

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Estava deitado na minha cama, em uma quinta-feira qualquer do mês passado. Enquanto esperava o sono vir, comecei a tentar compreender o motivo de ter ido me deitar todos os dias daquela semana com um sentimento de que minha cabeça iria explodir.

Veio em minha mente a palavra “preocupação”. Na minha idade, porém, essa palavra possui um sinônimo (no plural): Dúvidas.

Acredito que todo ser humano, não importa a idade, tem dúvidas. A criança não entende por que os pais não a deixam ver TV até tarde, mas a obrigam a acordar tão cedo para ir à escola. Ou por que, quando quer ir ao brinquedo mais perigoso do parque de di-versões, é chamada de “criança, ainda”, mas, quando faz bagunça, dizem que ela “já é grandinha”.

O adolescente não entende por que querem que ele estude tanto, mas, quando chega a prova do vestibular e ele reprova, questiona por que não estudou mais, quando teve chance.

O jovem não entende por que a maioridade é 18 anos se, com 19, ainda o chamam de “moleque que não sabe nada da vida”, quan-do resolve questionar alguém mais velho. E não compreende por que parece tão difícil ver a vitória profissional “lá na frente”, mesmo tendo adquirido o conhecimento de coisas que, há algum tempo atrás, jamais imaginava conseguir aprender.

O pai de família ( sem querer estereotipar, mas já o fazendo) não consegue entender por que chegou aos 40 e ainda não está rico. E – mais ainda – por que, ao chegar em casa e ver sua mulher e

filhos, percebe que sua riqueza estava ali o tempo todo.

A mãe de família (me perdoem as feministas) não entende por que os filhos não a entendem. E por que, ao mesmo tempo, eles parecem a sua exata cópia em formato A4.

O idoso não entende por que o fato de ele já ter passado por tudo nesta vida não conta, na hora em que os mais jovens ignoram o que ele fala.

As dúvidas fazem parte da vida, é preciso conviver com elas. Quando são saudáveis, até nos ajudam a crescer. Mas, aquela dor de cabeça... eu tive que tomar um Tylenol.

Por Laio Medeiros

Um gato indiscreto e outros contos (Saki)

A obra literária de Hector Hugh Munro (1870-1916) reúne ensaios, romances e peças de teatro. Mas o forte de Mu-nro está mesmo em suas histórias curtas satíricas, assinadas com o pseudônimo Saki. Lançado recente-mente pela Editora Hedra, o livro Um Gato Indiscreto e Outros Contos é um apanhado de 21 desses textos do au-tor.

Filho de um militar inglês, Munro nasceu em Burma, então território

do Império Britânico, em 1870 e foi criado por duas tias no inte-rior da Inglaterra, país onde viveu boa parte de sua vida. Morreu como combatente inglês na Primeira Guerra Mundial durante uma batalha na França, em 1916. Seus contos apresentam enredos per-meados de elementos fantásticos (às vezes bizarros) e comentários irônicos que ridicularizam a sociedade inglesa de sua época – um rígido sistema de classes, mas que convivia com o aparecimento de idéias sociais reformistas. Nada melhor do que um satirista para captar os paradoxos de seu tempo. Um bom exemplo é o conto A Omelete Bizantina (presente em Um Gato indiscreto...). A história se passa com a mulher de um rico aristocrata e que, a despeito de

sua elevada posição social, cultiva elevadíssimos ideais socialistas.

“Sophie Chattel-Monkheim era socialista por convicção e Chattel Monkheim por casamento”, diz o início do texto. Tudo começa a dar errado quando Sophie decide oferecer um jantar a um Duque – e é impedida no meio do processo pela greve de seus criados.

Já o lado fantástico da obra do autor britânico aparece com mais força em histórias como a do conto-título, em que um cientista amador ensina um gato a falar. Na história, o feito extraordinário se torna motivo de pânico quando o felino revela sua aptidão para escancarar detalhes inconfessáveis da vida particular de represen-tantes da elite inglesa.

Um Gato Indiscreto e Outros Contos, de Saki. Tradução: Franscisco Araújo da Costa. Editora Hedra. 141 páginas. R$ 15,00

Acesse o site do No Entanto (www.noentanto.com.br) e leia um trecho exclusivo do livro “Um gato indiscreto e outros contos”. Participe também do fórum de dis-cussão.

Dúvidas. Vai um Tylenol?

Por Lucas Schuina

Para Ler:

Exclusivo:

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