No Entanto #49

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DCE: de quem é a c u l p a ? JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO pag. 4 e 5 Cultura no feriado da capital Parabéns, Vitória! A Virada Cultural trouxe 35 horas de cultura para os capixabas em diversas localidades da cidade. pag. 7 Alunos se mobilizam para encontrar amigo Podemos nos surpreender com a força estudanl quando se trata de solidariedade. pag. 3

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Jornal experimental do curso de jornalismo da Ufes 2010/2

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DCE: de quem é a culpa?

JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

pag. 4 e 5

Cultura no feriado da capital

Parabéns, Vitória! A Virada Cultural trouxe 35 horas de cultura para os capixabas em diversas localidades da cidade.

pag. 7

Alunos se mobilizam para encontrar amigo

Podemos nos surpreender com a força estudantil quando se trata de solidariedade.

pag. 3

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No Entanto 49Jornal Experimental do curso de

Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo

ApresentaçãoGostaríamos de dizer que você irá pre-cisar de fôlego para ler esse jornal – como nós precisamos de muito para fazê-lo. A edição 49 do No Entanto passou por mui-tas tempestades, mas nenhuma calmaria. Os previsíveis atritos e problemas que viri-am à tona não tiveram tempo ainda para passar. Mas talvez seja bom que não passem mesmo. Aqui, nesse espaço de 8 páginas, você verá o reflexo das reuniões tumultua-das, das discussões infinitas e do jornal-ismo. Isso mesmo, aqui foi feito jornalismo.Nesses dias em que a imprensa não res-peita mais ninguém, seria fazer o mes-mo se falássemos da morte de Thiago? Não, os amigos e a família nos apoiaram, e nessa edição você poderá ver a mo-bilização feita em nome do estudante.Também tem Virada Cultural, Vitória, Pro-jeto Contudo e humor na política. Falta de professores? Ninguém segurou a mão na hora de falar o que deve ser falado da univer-sidade. O No Entanto foi atrás das respos-tas e descobriu que talvez a culpa seja sua.Respire fundo e boa leitura.

Turma 2010/2Allan Cancian Marquez, Ayanne Karo-line, Carina Couto, Daniely Borges, Flávio Castro, Honório Filho, João Carlos Fraga, Juliana Borges, Karla Danielle Secatto, Leandro Reis, Lila Nascimento, Lívia Corbellari, Lucas Rocha, Marcelo Lo-bato, Mateus Cordeiro, Patrícia Garcia, Polânia Sôares, Rafael Gonçalves de As-sis, Raquel Malheiros, Raysa Calegari, Re-beca Santos, Reuber Diirr, Savya Alana, Victoria Varejão, Vinícius Eulálio, Vinícius Reis, Wilderson Morais, Yuri Barichivich

EditoresJoão Carlos Fraga, Leandro Reis

Lila Nascimento, Victoria Varejão

DiagramaçãoJoão Carlos Fraga, Lívia Corbellari, Lucas Rocha, Rafael Gonçalves de Assis, Wilder-

son Morais

Professor OrientadorVictor Gentilli

[email protected]

Tiragem: 1000Avenida Fernando Ferrari, s/nº

Goiabeiras - Vitória/ES

O jornal experimental está de cara nova: em cada uma das edições do No Entanto, os leitores poderão conferir também peças publicitárias produzidas pela turma de Publicidade e Propaganda 2009/2.

O que é necessário para se fazer um jornal de verdade? Pensando nisso e a fim de produzir um jor-nal que mais se aproxime do real, a turma de Comunicação Social 2009/2 decidiu unir no jornal No En-tanto a propaganda e o jornalismo. O curso de Publicidade e Propa-ganda na Ufes não possui labo-ratório experimental. A ideia de criá-lo surgiu de uma conversa informal, e depois de muito se estudar a proposta, a turma en-trou em consenso e nasceu o “Projeto Contudo”. Como os próprios alunos sugerem, a proposta vem “com tudo”. “É uma brin-cadeira com o nome do jornal. Nós quería-mos uma conjunção ad-versativa para chamar de nossa”, brinca Ana Clara Bianchi, uma das idealizadoras do projeto. Janaína Leite, publicitária e profes-sora do departamento de Comuni-cação Social da Ufes, é a monitora do “Contudo”. Segundo a professora, os alunos a procuraram, pedindo para orientá-los. “O projeto é genial e tem tudo para dar certo”, afirma Janaína. A professora lembra que no curso exis-tem poucos programas voltados para a área de publicidade, diferentemente do jornalismo. “O mais vital é que a ini-ciativa veio deles (estudantes) e con-

seguiram envolver toda a sala” conclui. O orientador do jornal experimental, Victor Gentilli, conta que nas turmas anteriores também existiu a vontade de integrar as duas habilitações. En-tretanto, a idéia não passou adiante. “Jornalismo e publicidade são duas atividades diferentes na comuni-cação, mas que se relacionam. Este é o grande valor deste projeto. Espero que o Contudo seja uma atividade permanente em todas as edições”. Os dezoito participantes estão dis-tribuídos em três equipes. Cada grupo

é constituído por três núcleos, sendo eles: atendimento ao cliente,

redação publicitária e cri-ação de arte. “Devido ao grande número de pes-

soas envolvidas, decidi-mos nos dividir como se

fôssemos ‘mini-agências’”, con-ta Daniel Costa, membro do projeto. A idéia inicial era lucrar com as peças publicitárias, porém, todos os gastos com o No Entanto são devidamente ressarcidos pela Universidade e, por isso, o jornal não poderá ser comercia-lizado. Dessa forma, todos os serviços prestados pelo “Contudo” não terão fins lucrativos. Espera-se que no futuro a ideia possa se tornar um projeto de extensão e disso surgir o tão necessário laboratório experimental também para o curso de Publicidade e Propaganda. •

“O projeto é genial e tem tudo

para dar certo”

No Entantovem “Contudo”

Por Rebeca Santos e Rafael Gonçalves de AssisFoto por Raysa Calegari

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Alunos da Ufes se mobilizam por causa nobre.

A história do geógrafo licenciado pela UFES, Thiago Felisbino, de 24 anos, fi-cou conhecida no último feriado. O ra-paz cursava o bacharelado em Geogra-fia e desapareceu no dia 3 de setembro. Cientes do ocorrido, muitos amigos e até desconhecidos se reuniram para encontrá-lo.

As buscas foram iniciadas no mesmo dia do desaparecimento. “No dia 03, começamos a avisar por e-mail e nas redes sociais para o pessoal daqui, de Geografia” conta a estudante Luiza Alves. Depois, começaram a divulgar para alunos de outros cursos em busca de qualquer informação.

No dia 9, ainda sem informações, vários universitários se reuniram na UFES para arrecadar fundos. “Muita gente ajudou, alunos, professores e funcionários dos ICs”, relata Ana Pau-la Gonçalves. Foram confeccionados dois mil cartazes, que circularam pela Grande Vitória e chegaram até Aracruz, por meio de uma integrante do grupo. Pela internet, a movimentação era ain-da maior, uma vez que alunos de ou-tros cursos repassaram e-mails com as informações.

A família procurou a polícia e o grupo de amigos avisou a todos os hospitais da região metropolitana sobre o desa-parecimento do geógrafo. A partir daí, saíram às ruas em busca de algo que os levasse até Thiago. Segundo Ana Paula, a procura não foi fácil, pois pou-cos se disponibilizaram. “Na hora de procurar mesmo, só foram cerca de 20 pessoas. O pior é que a gente sofreu precon-ceito. Ninguém dava im-portância, pois achavam que o Thiago era um dro-gado”.

Havia grande esperança de encontrar o rapaz com vida, pois algumas pes-

soas diziam que ele estaria em Vila Velha. Entretanto, no bairro Ulisses Guimarães, na mesma cidade, foi en-contrado o corpo de Thiago Felisbino Fernandes, no dia 14 de setembro.

No mesmo dia, os estudantes se depararam com mentiras

publicadas no site de notí-cias Gazeta Online. “Depois de tudo, ainda tivemos que lutar pelo nosso amigo, pois

esse site divulgou que Thia-go era usuário de droga e

tomava remédios para depressão sem prescrição médica”, afirma o estudante Rubens Peruzzo. Os jovens se mobi-

lizaram mais uma vez e mandaram e-mails até que a matéria fosse corrigida, cerca de duas horas depois de publi-cada. Além disso, o programa Balanço Geral gravou imagens do corpo do ra-paz no local em que foi encontrado, o que causou a revolta de seus amigos.

Dois professores, Claudio Zanotelli e Paulo Scarim, conseguiram junto à Uni-versidade ônibus para transportar os estudantes até o enterro de Thiago.

No dia 15, os amigos de Thiago Felis-bino fizeram uma bela homenagem ao rapaz no Centro de Artes com uma das coisas que ele mais gostava: a música. •

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Todos por umPor Karla Danielle Secatto e Rebeca Santos

“Muita gente ajudou, alunos, professores e funcionários”

SETEMBRO 2010 - #49 NO ENTANTO

Foto cedida por Thalita Covre

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NO ENTANTO #49 - SETEMBRO 2010

O segundo semestre começou de for-ma conturbada na Ufes, com a grande escassez de professores. O fato se deve a uma recomendação da Advocacia Geral da União (AGU), que normatizou a não-contratação de professores sub-stitutos devido ao calendário eleitoral.

A contratação, entretanto, não foi concretizada em decorrência de um novo sistema, adotado desde 2007, de-senvolvido pelo MEC e pelo Ministério

do Planejamento. Esse sistema calcula, de forma complexa, a quantidade de professores e suas respectivas cargas horárias, gerando um coeficiente para cada departamento. A diretora do DRH (Departamento de Recursos Huma-nos), Teresa Cristina Janes Carneiro, explica que “O DRH aguardou a auto-rização do juiz do Superior Tribunal Eleitoral (STE) para iniciar o período de contratação de professores. Essa

autorização sempre fica bem próxima das eleições e, neste ano, ela não ocorreu”. Te-resa explica que houve um número acima do esperado de profes-sores efetivos que ti-raram licença e não tiveram suas vagas preenchidas.

O No Entanto bus-cou alunos que con-firmaram a falta de professores em prati-camente todos os cur-sos, como o estudante de Economia e re-presentante eleito na Chapa 4 para o DCE, “Façamos nós por nossas Mãos”, Vítor César Noronha. Uma das soluções apresen-tadas pelos Departa-mentos foi solicitar ajuda de professores voluntários.

A fim de obter expli-cações, o No Entanto conversou com o prof. Dr. Edebrande Cava-liere, 57, Diretor em exercício do CCHN. “O

nosso centro não apresenta o que se chama de bagunça. Nós tivemos três problemas em decorrência do calen-dário eleitoral”, disse Cavaliere. “Já está tudo encaminhado para ser resolvido com o Departamento de Ciências Soci-ais e com o Departamento de Letras”, continuou. Questionado sobre a neces-sidade de uma universidade federal requisitar tantos professores volun-tários e substitutos, ele afirmou: “Para mim, todos os professores da Ufes de-veriam ser efetivos. Nenhum substituto e nenhum voluntário”.

Segundo Cavaliere, a principal defi-ciência dentro dos conselhos depar-tamentais é a falta de representação estudantil para exigir respostas. “O CCHN cede quatro vagas dentro dos conselhos para os membros dos cen-tros acadêmicos. O problema é que não existe organização para que haja essa representação. Falta força no movi-mento estudantil. A presença dos estu-dantes sempre é benéfica”, concluiu o professor.

Ex-militante do movimento estudan-til durante a redemocratização política, Paulo Fabris afirma que não existe uma bandeira para os estudantes lutarem atualmente. “No passado, nós lutá-vamos pela liberdade e por questões mais fortes. Hoje, nosso país não preci-sa, pois vivemos na democracia. O que falta é uma ação coletiva. Não existe aquela vontade de participar, porque tudo se baseia no individual”, disse.

Fabris não concorda com a acomo-dação das políticas universitárias justificada pelo fim da ditadura. Ele mencionou as filas do Restaurante Uni-versitário (RU): “Se naquela época a fila fosse grande assim, a gente pararia o RU e jogaria as bandejas no chão. Até a imprensa seria chamada!”, argumenta.

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De quem é a culpa?Por Allan Cancian Marquez, Carina Couto, Flávio Soeiro, Lucas Rocha, Vinicius Eulálio e Yuri Barichvich .

A falta de professores e o resultado das eleições para o DCE comprovam que não há somente um culpado pelos problemas estu-dantis na instituição

Foto por Yuri Barichivich

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Reflexo da falta de professores: sala vazia - Foto por Yuri Barichivich

SETEMBRO 2010 - #49 NO ENTANTO

Os representantes da nova gestão do DCE também opinaram sobre o assun-to. Leonel Monteiro (chapa 7) afirma que há um enfraquecimento de todos os movimentos políticos, principalmente os de esquerda. Pedro de Andrade (chapa 5) diz que há uma deslegitima-ção do DCE, uma vez que “meia dúzia de pessoas decidem por 18 mil”. Já Ra-phael Sodré (chapa 6), aponta a falta de inserção das últimas duas gestões.

O cientista político André Pereira acredita que a perda dos ideais é nor-mal, visto que as conjunturas do país estão em constante mudança. “Num certo momento histórico (início e fim da ditadura), os DCEs foram impor-tantes. Foram esvaziados depois. Isso é normal, porque as conjunturas mudam. Neste sentido, desde o governo Collor, várias instituições perderam centrali-dade na política, como os DCEs, os sin-dicatos e as associações de moradores”, afirmou.

Todos sabemos o que é o DCE ?“Serve para tirar xerox mais barata”.

Essa foi a resposta de uma aluna, quan-do perguntada para que serve o DCE. Apesar de parecer absurdo, é esse o pensamento que muitos estudantes da universidade têm sobre o diretório. Isso evidencia a falta de conhecimento acerca de um órgão representativo dos alunos de uma universidade. A des-politização dos estudantes, entretanto, é culpa não só dos alunos, mas também do próprio movimento estudantil.As eleições para escolher a nova dire-toria do DCE aconteceram nos dias 25 e 26 de agosto. Nem pare-cia que havia pleito, pelo clima de calmaria. Quatro chapas concorriam: Faça-mos Nós Por Nossas Mãos, Em Construção, Ciranda e Viramundo.

Na mesma eleição, houve também a votação para eleger a representação es-tudantil nos Conselhos Su-periores - órgãos de formu-lação, regulamentação e administração das políticas institucionais e do func-ionamento adequado da universidade. Apenas 3.106 estudantes votaram, em

um total de 18 mil. Com base nisso, per-cebe-se a falta de interesse e informa-ção acerca do movimento estudantil.

O pleitoO processo de eleição foi bem calmo e

sem maiores conturbações, até mesmo nos debates ocorridos. Algumas chapas optaram por criar pequenos jornais, blogs e cartazes para apresentar ao pú-blico suas ideias e propostas.Dias antes da eleição, de acordo com Carolina Lyra, membro da Comissão

Eleitoral, a Chapa 5 pôs em circulação pela Ufes um fol-heto que continha material ofensivo aos integrantes da Chapa 4. A Comissão Eleito-ral exigiu que a Chapa 5 se retratasse publicamente por meio de uma carta.

Urnas foram espalha-das por todos os campi da Ufes – Goiabeiras, Maruípe, São Mateus e Alegre. Foram também prepara-

dos mesários para fiscalizar o processo eleitoral. No entanto, não havia mesári-os suficientes para fiscalizar as urnas,

o que gerou a impugnação de duas de-las, a de Geografia e de Economia. No primeiro caso, as cédulas não tinham a assinatura do mesário; e no segundo, a urna desapareceu durante duas horas e gerou um sério debate. De um lado, os que defendiam a impugnação; do outro, os que a contestavam, uma vez que seriam anulados os votos de cerca de 150 estudantes. “A urna foi impug-nada, pois sumiu por duas horas e foi encontrada com uma pessoa que não fazia parte do processo eleitoral”, con-tou Carolina Lyra.

Essencialmente, os estudantes perderam o prazer em lutar pelos seus direitos. Junto dos interesses, a per-cepção da realidade muda. Como o professor Paulo Fabris afirma, não adi-anta olhar o passado com olhar atual. A realidade das décadas anteriores era diferente e, a motivação coletiva, vista como primeiro passo rumo às conquis-tas estudantis.

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“Desde o governo Collor, várias insti-tuições perderam centralidade na

política, como os DCEs, os sindicatos

e as associações de moradores.”

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Moradores expõem seu ponto de vista sobre a capital do Espírito Santo

No dia 8 de agosto, Vitória comemorou 459 anos. A cidade se desenvolveu, a população aumentou e, para mostrar como caminha a qualidade de vida e a infraestrutura locais, um grupo de repórteres se dividiu em diferentes regiões para acompanhar a rotina de dois moradores com realidades dis-tintas - Manoel Moura e Fabio Queiroz. Morador do bairro Cruzamento, Fabio Queiroz, 35 anos, é um dos persona-gens dessa diversidade da cidade. Des-empregado, ele se levanta às 7 horas da manhã e utiliza o transporte coletivo da cidade em busca de uma vaga no mer-cado de trabalho. Cozinheiro formado e qualificado em um curso de solda, Fabio lembra uma de suas principais dificuldades em conseguir uma ocupa-ção. “Mesmo com a minha qualificação, minha idade não condiz com o que a maioria das empresas procura”. Quanto à mobilidade urbana, ele reclama da superlotação e insegurança da cidade. “Já fui assaltado na Leitão da Silva e em frente à rodoviária, enquanto esperava o ônibus que, na maioria das vezes, está super cheio”.

À tarde, Fabio exerce o papel de di-retor de bateria da Escola de Samba Unidos de Jucutuquara. À noite, volta para o Cruzamento e se encontra com a família. Sobre seu bairro, orgulha-se da vizinhança. “Gosto daqui, são todos muito humildes. Pena que os gover-nantes não dão a devida atenção à co-munidade”.

Sobre a cidade de Vitória, ele lembra das belezas naturais e das opções de di-

versão pouco aproveita-das pela população. “A cidade possui lugares maravilhosos para la-zer e descanso, como o Parque Moscoso, mas chega o final de semana e todo mundo vai para o shopping”, disse.

A realidade do apo-sentado Manoel Moura é bem diferente. Ele leva uma vida tranqüila na altura de seus 65 anos. Foi o emprego na CST que o tirou da cidade natal, Guaratinguetá, no interior de São Paulo, para viver em Jardim da Penha, Vitória. “Toda mudança tem seus prós e contras, mas nesta os prós foram melhores”, conta o morador. “Aqui posso ir à praia, correr pela orla, as pessoas são mais simpáticas e a tem-peratura é agradável. Vitória é a cidade sol!” Na parte da manhã ele costuma le-vantar cedo para levar os filhos à facul-dade. Na volta, passa no supermercado e faz compras para o almoço.

A tarde é o momento do dia que ele mais gosta. Subsíndico do prédio onde mora, é nessa hora que resolve os pro-blemas do condomínio. Coordena to-das as questões do interior do prédio e orgulha-se de não haver problemas entre os moradores. Por volta das 16 horas, seu Manoel caminha na Praia de Camburi. Corredor amador, queixa-se da precariedade da iluminação na orla e da falta de quiosques. “A falta de

iluminação coloca em risco a vida das pessoas que freqüentam esta área. O policiamento está desfalcado e os as-saltantes se aproveitam desse pro-blema para roubar. Sinto-me inseguro”. Quando questionado acerca das obras na orla, mostra-se otimista. “Acho ne-cessário exatamente por conta desses problemas. Estão fazendo isso para melhorar a estrutura do espaço”. Ao anoitecer, passa o tempo reunido com a família ou na casa de amigos.

Realidades diferentes que compar-tilham um mesmo espaço: a cidade de Vitória. Apesar de tudo, Vitória não para de crescer e conta com mais Fabi-os e Manoeis para escrever, quem sabe, os seus próximos 459 anos de história. •

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A mesma Vitória sob o olhar de distintas facesPor Juliana Borges, Mateus Cordeiro e Rafael Gonçalves de Assis

Manoel Moura na orla de Camburi Foto por Raysa Calegari

NO ENTANTO #49 - SETEMBRO 2010

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Por Polânia Sôares e Wilderson Morais

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Cultura no feriado da capital

Virada Cultural traz 35 horas de cultura para os capixabas

O feriado prolongado, que ocorreu com a comemoração do dia da Inde-pendência (07) e do aniversário de 459 anos de Vitória (08), levou a população às diversas programações que ocorre-ram nos dois dias de Virada Cultural. O evento surgiu há cinco anos, em São Paulo, promovendo 24 horas dos mais variados tipos de atividades culturais. No Espírito Santo, entretanto, a pro-gramação foi de 35 horas ininterruptas. Quem compareceu, pôde acompanhar do pop ao chorinho, além de rock para a criançada e dança do ventre.

“Realizado pela primeira vez, a Vira-da Cultural entra para o calendário de eventos da cidade como um importante mecanismo de democratização no acesso à cultura”, informou a Secretaria de Cultura de Vitória, organizadora do evento. A Virada começou com o desfile cívico na avenida Jerônimo Monteiro.

Rafael Antônio Santos, maestro da es-cola Almerinda Portela Colodett, enfa-tiza: “O desfile é bom para divulgar o trabalho das bandas locais”.

Já na Ilha das Caieiras, ocorreu apre-sentação de música popular, com par-ticipação do grupo H20, Amaral e seus teclados e muitos outros. Cláudio de Azevedo Gomes, morador do local há 20 anos, comenta: “Isso é importante para que aumente o turismo da região”. O evento ainda contou com cinema, li-teratura, artes plásticas, dança, teatro, circo e outras atividades. Também trouxe atrações prestigiadas nacional-mente, como Elba Ramalho e Martinho

da Vila.Quem necessitou do transporte pú-

blico, precisou de paciência. Devido ao feriado, as linhas de ônibus estavam em números reduzidos. Os banheiros químicos distribuídos nos locais dos eventos estavam em condições pre-cárias de higiene. No Parque Moscoso, houve problemas com o equipamento de som, o que prejudicou a apresen-tação de alguns artistas. “A Secretaria de Cultura de Vitória informa que está analisando os fatos ocorridos para que os mesmos não ocorram na edição de 2011”, explica a assessoria da Prefei-tura. •

No entanto...A arte de argumentar: gerenciando loucura e canalhice

Por Leandro Reis

- Eu tava pensando aqui.- Fala.- É muito melhor assaltar do que pedir emprestado...- Tirando a parte de que assaltar é ile-gal e imoral, eu concordo com você.- ... porque quando você assalta, você in-sulta, humilha e agride a pessoa, como se aquilo que você está exigindo que ela te dê, fosse seu. Mas você age como tal. Não acha isso muito estranho?- Acho você estranho.- Porque só o fato de pedir emprestado é humilhante. Em uma sociedade que

valoriza o “ter” muito mais do que o “ser”, o fato de você pedir alguma coisa emprestada é a sua confissão de que o outro é melhor do que você. Se “ter” diz quem você é, o outro que tem é melhor do que você. Só admitir isso já é ver-gonhoso.- Quer mais amendoim?- E tem outra: quando você assalta, consegue aquilo pra você e só se des-faz quando quiser. No empréstimo não, você tem que devolver. Além daquela humilhação toda que eu te falei que acontece.

- Já ouviu falar em escrúpulos?- Isso é uma coisa que inventaram só pra disfarçar o nosso medo de fazer as coisas. Porque se você quer fazer algo, só os seus “escrúpulos” te impedem. Se te dá vontade de fazer mesmo sendo ilegal ou imoral, você tem que fazer. Porque, na verdade, a sua vontade já denuncia a sua falta de escrúpulos. Se você tivesse escrúpulos, nem a vontade você teria.- Depois você reclama que as pessoas te olham daquele jeito. •

Grupo 5 a Sax se apresentando na Virada Cultural - Foto por Raysa Calegari

SETEMBRO 2010 - #49 NO ENTANTO

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NO ENTANTO #49 - SETEMBRO 2010

A PIADA QUE NUNCA FICA VELHAPolítica:

A censura às sátiras e piadas im-posta pela lei eleitoral foi sus-pensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no início deste mês

de setembro. Contudo, isso não quer dizer que não houve humor nestas eleições até então. Antes, a mídia impressa e os própri-os candidatos podiam fazer graça com a cara de todos, incluindo nós, eleitores. Só que agora, felizmente, todo mundo pode rir de todo mundo, sem precisar excluir a TV e o rádio. A piada que já estava pronta será incrementada com o uso de trucagens, montagens e outros recursos de áudio e vídeo. Tudo para presentear à altura os nossos geniais candidatos.

A lei tinha sido criada em 1997 para prote-ger a lisura do processo eleitoral, evitando, entre outras coisas, o favorecimento feito por emissoras a determinados candidatos. Obviamente, a lei foi pensada dessa forma porque é muito difícil escolher entre a liberdade de expressão e o partidarismo. O chargista de A Gazeta, Amarildo, lembrou de um ponto interessante que, de tão claro, provavelmente ninguém deve ter se lemb-rado no momento em que a lei foi escrita. Segundo ele, existe um contra-senso ao censurar na mídia a imagem de uma figura que é pública. Ele acrescenta reclamando que anteriormente somente os candida-tos podiam fazer piadas deles mesmos. A riqueza da cobertura jornalística nas eleições está exatamente na preservação da imagem do político e não no direito do eleitor, não é verdade?

Mas agora nossos humoristas podem rir e fazer rir sem correr o risco de pagar multa, que antes variava entre R$ 21 mil a R$ 106 mil. Ou como diz Amarildo: “Poderemos trabalhar relaxados, sem uma espada no pescoço”. Inclusive, a lei serviu para unir os humoristas em favor da luta contra aquilo que os juntou. O movimento “Humor sem Censura”, que se formou no Rio de Janeiro,

se espalhou por outros Estados do país. Mesmos nos lugares onde quase não há humoristas, como aqui no Espírito Santo, conseguindo reunir alguns poucos repre-sentantes da classe. Figuras como “Tonho dos Couros” e os integrantes do “Comédia à la Carte” se juntaram e fizeram um peque-no protesto em Vitória. O próprio chargista Amarildo participou e disse que quando a causa é justa, todos comparecem.

Falando em minoria, o jornalismo brasileiro vai ter, ainda, vários dias de abundância de piadas. O jornalista de A Gazeta Vitor Vogas comemora dizendo que o humor é uma maneira de se fazer jornalismo e que na piada existe o poder de gerar reflexão. Ele complementa dizendo que uma maté-ria padronizada não chama tanta atenção e que o humor leva o leitor ao detalhe. Agora, os candidatos terão que se preparar para terem os próprios detalhes descobertos e ridicularizados atenciosamente por toda mídia. O deputado estadual Cláudio Vereza ratifica a liberdade do humor, mas ressal-ta que ela deve se feita sem excessos. Já o jornalista Vitor Vogas rebate dizendo que não há como escapar dos excessos e que há meios do candidato acionar a justiça. Na batalha entre o jornalista e o político, quem ganha é a liberdade de expressão.

Sobrou apenas um mês para a TV e o Rádio descarregarem todas as piadas acumuladas sobre os candidatos às eleições deste ano. Por respeito ao direito do eleitor, nós iremos rir ao máximo deles.

por Honório Filho e Reuber Diirr