NMO

6
Novosmeiosobsoletos

description

personal work

Transcript of NMO

Page 1: NMO

Novosmeiosobsoletos

Page 2: NMO

Novosmeiosobsoletos

Aperte a tecla, eu respondo

Conta a história que quando o cientista alemão Joseph Weizenbaum criou o primeiro software de

simulação de diálogos, surpreendeu-se com a quantidade de pessoas que levaram as conversas realmente à sério. O software ELIZA era uma ferramenta que “respondia” aos questionamentos sentimentais de seus usuários: “Sou a psicoterapeuta. Por favor, descreva seus problemas. Cada vez que você terminar de falar, clique duas vezes a tecla RET”. Criado nos anos 1960 no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ELIZA foi o

embrião de uma série de programas conhecidos como Chatbots, que utilizam, a partir da Inteligência Artificial, um número limitado de base de conhecimentos capaz de simular conversas entre seres humanos – sendo a máquina, uma das interlocutoras. A ilusão de humanismo propiciado por este tipo de dispositivo retoma experimentos como o teste de Turing, proposto pelo cientista Alan Turing, uma década antes de ELIZA “vir ao mundo”. Neste experimento, um emissor faz uma pergunta e é desafiado a descobrir, a partir das respostas, qual delas foi emitida por uma máquina e qual por uma pessoa. O objetivo é dimensionar nossa

MAL DE CHAGAS Descoberta há um século, doença que atinge três milhões de brasileiros, segundo Ministério da Saúde, continua

tinge três milhões de brasileiros, segundo Ministério da Saúde,

continua

03

Page 3: NMO

Novosmeiosobsoletos

capacidade - ou não - de discernir se estamos dialogando com uma máquina ou com outro ser humano. “O maior desafio é dar bom senso às máquinas, e bom senso é essencial para passar no teste de Turing”, disse um dos pesquisadores do MIT, Marvin Minsky, crítico ferrenho do experimento que considera “não ajudar em nada ao desenvolvimento da ciência”. Da década de 1960 à um instituto cultural de uma metrópole: conversando ou não com robôs, esse é um dos temas que mais desperta a curiosidade das pessoas –é só lembrar o sucesso de filmes como Star Wars, Blood Runner e Matrix-. Prova disso foi a curiosidade que o trabalho Prosthetic head (cabeça protética) despertou na 5ª edição da Bienal de Arte e Tecnologia, realizada no ano passado pelo Itaú Cultural, em São Paulo. O artista australiano Stelarc projetou sua própria cabeça em 3D, “conversando” com o público a partir de perguntas-comandos feitas em um teclado de computador. O experimento científico estava, enfim, num espaço de arte. Cada vez mais esse tipo de manifestação, sob o nome de arte eletrônica, arte digital, artemídia ou arte computação (como preferir chamar), chega mais perto da nossa realidade. Um dos fatores que possibilita o consumo desse tipo de arte é o rápido crescimento do acesso da população aos novos meios digitais – o Brasil apresenta, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um crescimento de 112% no acesso da população à Internet em quatro anos. Conectados, nossa rotina passou a ser intermediada pela sofisticada lógica de algoritmos (de relógios digitais mais complexos ao iPad), e a produção artística não poderia ficar alheia à essas transformações.

O pesquisador norte-americano Henry Jenkins, considerado o “guru da transmídia” observa que, apesar de vivermosem uma era de convergência midiática, a propriedade dos meios de comunicação está restrita a conglomerados de grande poder, como a Microsoft e a Apple. A crítica ou a ruptura com a propriedade dessa informação em rede e sua democratização são questões discutidas pelo hacktivismo, prática artística da new media art que agrega a subversão dos hackers de computador ao ativismo político. “É como na videoarte. Não se trata apenas de utilizar uma linguagem de massa em comum, enquanto dispositivo. De alguma maneira, o hackitivismo questiona a subversão da linguagem, propondo experiências ideológicas diferenciadas a quem dialoga com a obra de arte”, aponta Priscilla Arantes, pesquisadora e professora de tecnologias e mídias digitais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. A irreverência utilizada em movimentos como Surrealismo, Arte performática e Neodadaísmo é encontrada na new media art dos anos 1990, que passa a discutir

{artistas subversivos

04

Page 4: NMO

Novosmeiosobsoletos

questões caras a seu tempo, como propriedade intelectual, reprodutibilidade da obra de arte, deslocamento de tempo e espaço, vigilância de empresas sobre internautas e até o voyeurismo que permeia a superexposição das vidas em tempo real. “Apesar do sistema de arte contemporânea, de um modo geral, entender que o tipo de produção que trabalha na interface das novas mídias é algo recente, não o é. A produção que dialoga com essas questões data dos anos 1960, quando os artistas procuraram dialogar com outros suportes, colocando em cena as práticas coletivas e os dispositivos eletrônicos digitais”, afirma Arantes, que também é diretora-adjunta do Museu da Imagem e do Som (MIS) e do Paço das Artes, ambos em São Paulo. Projetos como o Life Sharing, da dupla aka 0100101110101101.org (Eva e Franco Mattes) traz à tona a questão da privacidade online. Eles deixaram, durante três anos, arquivos contidos em suas máquinas pessoais abertos ao público, através de um software de código livre - o mesmo utilizado pelo FBI -. Já através do site Meu namorado voltou da guerra, criado em 1996, a artista russa Olia Liálina propõe ao visitante a livre escolha de imagens e textos para criar desfechos diferentes à sua história de amor, supostamente interrompida pelo

incidente da guerra. A dupla jodi.org (do holandês Joan Heemskerk e do belga Dirk Paesmans) cria sites com a estética de códigos de programação, ironizando a simbologia dos erros e vírus dos micros, conhecidos e “odiados” por todo e qualquer usuário em sã consciência. Esses exemplos esboçam as interfaces que a net art utiliza para manifestar leituras políticas -e por vezes, debochadas- do utilitarismo imposto às máquinas. “A interação

>>

tinge três milhões de brasileiros, segundo

Ministério continua

Page 5: NMO

Novosmeiosobsoletos

06 foto: Inna Averchenko

Você já esteve em diversos festivais que envolvem arte, tecnologia e música ao redor do mundo. A tecnologia fornece algum tipo de “linguagem em comum” a essa produção artística, capaz de se sobrepor a influência do local onde essa produção é feita?

Suponho que em vários caminhos a tecnologia nivele o mundo, particularmente hoje em dia, em que as pessoas podem achar recursos online mais rápido. Porém, provavelmente existe uma tendência na videoarte brasileira que seja única de um local específico. Às vezes essas nuances só são percebidas com o tempo. Em certos caminhos há um nivelamento que promove e conecta tudo, mas ao mesmo tempo, deve existir alguma voz original em cada localidade.

Como o espaço e o tempo influenciam na percepção das pessoas em seus trabalhos?

A localidade é realmente importante. Sempre influencia o jeito que você faz um trabalho, como isso será percebido, criado ou terá vida. Faço diferentes trabalhos que acontecem apenas uma vez, como uma performance, e trabalhos que ficam exibidos por dois meses, sete anos. É interessante como está tudo conectado, toda essa idéia do

Cauteloso ao descrever seus trabalhos, o artista conceitual Scanner aparenta ser um contra-senso à lógica veloz das mídias digitais. “Suponho que as novas tecnologias estão sempre alterando nossas percep-ções, mas estamos tão imersos nelas cotidianamente, que não percebemos mais seus efeitos”, afirma. Na performance 52 spaces, que apresentou na abertura da 6ª mostra On_Off – Experiências em Live image, em São Paulo, o artista se baseou nos 52 frames finais do filme O Eclipse (1962) do diretor italiano Michelangelo Antonioni, mesclando sons capturados na capital da Itália às imagens da película. Teve a idéia ao receber a notícia da morte do diretor, em 2007, e o resultado foi uma verdadeira contorção melancólica, em uma

{entrevista com Scanner

tempo. Você tem que pensar sempre para frente, e pensar a tecnologia no tempo. Será que ela funcionará daqui a cinco, dez anos? As técnicas estarão aptas a operar isso?

Como você enxerga o uso dos novos meios tecnológicos na arte?

Desde que você nasceu, a tecnologia está atuando em um papel chave. Primeiro você tem que olhar para a definição de tecnologia, na arte. Mesmo quando se desenvolviam diferentes tipos de tintas a 300 anos antes da impressão, seu desenvolvimento já influenciou o modo como as pessoas atualmente lêem uma imagem, como a luz é apresentada. Suponho que as novas tecnologias estão sempre alterando nossas percepções, mas nós estamos tão imersos nelas cotidianamente, que não percebemos mais seus efeitos.

Você tem medo dessa nova realidade?

Ela é interessante. Como quando as pessoas falam em second life, por exemplo, e me perguntam se estou interessado nisso. Respondo que não tenho tempo nem para minha primeira vida...Então, não me interesso em uma segunda. Isso me lembra àquelas situações espirituais em que deixamos para fazer algo em

uma “outra vida”. Às vezes é isso que sinto com a tecnologia.

Como foi apresentar o 52 spaces na abertura da On_Off? Você mencionou que é uma obra calma, devagar, e que é como uma oposição intuitiva para as noções usuais de velocidade que estão associadas às tecnologias digitais. Simbolicamente, há alguma mensagem que você queira passar com essa performance?

Costumo fazer trabalhos lentos, de forma ponderada. É como em relacionamentos: você prefere que eles sejam passageiros ou prefere construir relações duradouras? Sei que soa trivial dizer assim, mas quero fazer trabalhos que façam você e eu termos algo diferente em que pensar. Mesmo que por apenas 45 minutos do seu dia. É um pouco como na meditação. Para algumas pessoas isso é realmente difícil. Então, por um momento, tento apresentar um lugar onde podemos considerar a idéia de reduzir essa velocidade, e perceber o que pode se seguir a partir disso. Não tenho certeza sobre o que deve ser seguido, estou apenas dando um passo para incentivar essa postura...um pequeno passo.

Page 6: NMO

Novosmeiosobsoletos

JulianAssange

tinge três milhões de brasileiros, segundo

Ministério continua

TEC

Descoberta há um século, doença que atinge três milhões de brasileiros, segundo Ministério da Saúde, continua