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Número 19, Junho de 2004 Vários actos reintegracionis- tas protagonizam Dia das Letras Agudiza-se crise nos estaleiros de Izar Fecham centro social Mil Luas três meses após a reabertura Esquerda europeia denúncia o Jacobeu Entrevista a MaurícioCastro candidato nº 1 de NÓS-UP às eleiçons europeias. Nacionalismo universalista Santiago Alba Rico 19 número Moçons "populares" recuperam para a direita poder municipal perdido nas urnas Novas de Galiza Um ano depois das eleiçons municipais som muitos os con- celhos onde o Partido Popular recuperou os governos munici- pais, e nalguns casos com moçons de censura apresentadas a presidentes do BNG ou do PSOE. O Partido Popular tinha empreendido, no mesmo dia após as eleiçons autonómicas, um trabalho sem descanso para recuperar as cámaras perdidas. Um trabalho que continua pre- sentemente e que fai com que estejam em perigo muitos governos socialistas, nacionalis- tas e independentes. A província de Ponte Vedra é um dos exem- plos mais esclarecedores. Após a moçom de censura em Ponte Areias já se encontram também na berlinda outros municípios. No ano 1999 o Partido Popular governava em 40 dos 62 concel- hos da província e em 2003 ficou com 35, após as eleiçons de Maio de 2003. Um ano depois, o PP volta a ter, após a moçom de censura de Ponte Areias e a promoçom de Corina Porro à pre- sidência da Cá- mara Municipal de Vigo, 43 concelhos em seu poder. O urbanismo e o planeamento do território estám por detrás de cada umha das moçons de censura e de diferentes lutas polo poder nas cámaras munici- pais dos concelhos galegos. De facto, o urbanismo é sempre o pelouro mais negociado nos acordos entres partidos no momento de chegar a pactos locais. Por isso, é com estas palav- ras, "o urbanismo", que muitos e muitas definem a ruptura do pacto de governo entre socialistas e nacionalis- tas em Vigo. Mas o poder na área do planeamento territo- rial foi a questom de fundo em Ponte Areias, na ruptura do acordo em Arçua, e também em Sada. Neste ultimo concel- ho, cinco dias depois de que Ramóm Rodrigues Ares recu- perasse a presidência da Cámara com umha moçom de censura que contou com o apoio de um tránsfuga do PSOE, o deposto regedor municipal, Abel López Soto (BNG) augurava a aprovaçom do projecto de Porto Infanta, umha urbanizaçom cujas obras estavam paralisadas à espera de umha sentença do Tribunal Superior de Justiça da Galiza. López Soto falava inclusivamente "de pequenos especuladores que já andam a pulular polo concelho". No passado mês de Maio, a Coordenadora Nacional da Marcha Mundial das Mulheres demonstrou em Vigo a sua capacidade de organizaçom com o encontro europeu. Dous dias, 22 e 23 de Maio, para a história do femi- nismo galego. Para além da organizaçom, que foi impecável, o encontro de Vigo demonstrou a unidade das mulheres europeias na hora de enfrentar a pobreza, a violência de género, a precariedade laboral , a desigualdade e em definitivo, a injustiça. Fotografia: Natália Gonçalves Texto: Marta Salgueiro

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Número 19, Junho de 2004

Vários actosreintegracionis-tas protagonizamDia das Letras

Agudiza-secrise nos estaleiros de Izar

Fecham centrosocial Mil Luastrês meses apósa reabertura

Esquerda europeiadenúncia oJacobeu

Entrevista aMaurícioCastrocandidato nº 1de NÓS-UP às eleiçons europeias.

NacionalismouniversalistaSantiago Alba Rico

19número Moçons "populares" recuperampara a direita poder municipalperdido nas urnasNovas de Galiza

Um ano depois das eleiçonsmunicipais som muitos os con-celhos onde o Partido Popularrecuperou os governos munici-pais, e nalguns casos commoçons de censura apresentadasa presidentes do BNG ou doPSOE. O Partido Popular tinhaempreendido, no mesmo diaapós as eleiçons autonómicas,um trabalho sem descanso pararecuperar as cámaras perdidas.Um trabalho que continua pre-sentemente e que fai com queestejam em perigo muitosgovernos socialistas, nacionalis-tas e independentes. A provínciade Ponte Vedra é um dos exem-plos mais esclarecedores. Apósa moçom de censura em PonteAreias já se encontram tambémna berlinda outros municípios. No ano 1999 o Partido Populargovernava em 40 dos 62 concel-hos da província e em 2003ficou com 35, após as eleiçonsde Maio de 2003. Um anodepois, o PP volta a ter, após amoçom de censura de PonteAreias e a promoçom de Corina

Porro à pre-sidência da Cá-mara Municipal deVigo, 43 concelhosem seu poder. O urbanismo e o planeamentodo território estám por detrásde cada umha das moçons decensura e de diferentes lutaspolo poder nas cámaras munici-pais dos concelhos galegos. Defacto, o urbanismo é sempre opelouro mais negociado nosacordos entres partidos nomomento de chegar a pactos

locais. Por isso, écom estas palav-

ras, "o urbanismo", quemuitos e muitas definem aruptura do pacto de governoentre socialistas e nacionalis-tas em Vigo. Mas o poder naárea do planeamento territo-rial foi a questom de fundo emPonte Areias, na ruptura doacordo em Arçua, e tambémem Sada. Neste ultimo concel-ho, cinco dias depois de queRamóm Rodrigues Ares recu-perasse a presidência da

Cámara com umha moçom decensura que contou com oapoio de um tránsfuga doPSOE, o deposto regedormunicipal, Abel López Soto(BNG) augurava a aprovaçomdo projecto de Porto Infanta,umha urbanizaçom cujasobras estavam paralisadas àespera de umha sentença doTribunal Superior de Justiçada Galiza. López Soto falavainclusivamente "de pequenosespeculadores que já andam apulular polo concelho".

No passado mês de Maio, a CoordenadoraNacional da Marcha Mundial das Mulheresdemonstrou em Vigo a sua capacidade deorganizaçom com o encontro europeu. Dousdias, 22 e 23 de Maio, para a história do femi-nismo galego. Para além da organizaçom, quefoi impecável, o encontro de Vigo demonstroua unidade das mulheres europeias na hora deenfrentar a pobreza, a violência de género, aprecariedade laboral , a desigualdade e emdefinitivo, a injustiça.

Fotografia: Natália GonçalvesTexto: Marta Salgueiro

Editora: Minho Media S.L.

Director: Ramom Gonçalves

Redactor-chefe: Carlos Barros G.

Conselho de Redacçom: MartaSalgueiro, J.Manuel Lopes, AntónÁlvarez, Ivám Garcia, Alonso Vidal

Colaboraçons: Maurício Castro,Inácio Gomes, Davide Loimil, JoámCarlos Ánsia, Santiago Alba Rico,Kiko Neves, José R. Pichel, RamomPinheiro, Carlos Taibo, IgnacioRamonet, Ramón Chao

Fotografia: Arquivo NGZ

Humor Gráfico: Suso Sanmartin,Pepe Carreiro, Pestinho +1,Xosé Lois Hermo

Publicidade: 639 146 523

Imagem Corporativa: Paulo Rico

Desenho gráfico e maquetaçom:Miguel Garcia e Carlos Barros

Correcçom lingüística: Eduardo Sanches Maragoto

NOVAS DA GALIZAApartado 106927080 Lugo - GalizaTel: 639 146 [email protected]

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Fecho de Ediçom: 15.06.04

Nacionalismo universalista

segunda

Por Santiago Alba Rico

Um dos aparentes paradoxos do discursoabstracto contra os “nacionalismos”,sustentado polos filósofos maisilustrados, os analistas mais subtis e osgovernantes mais humanitários, é a da suaextraordinária toleráncia, ao mesmotempo, com os desmembramentos,divisons e diferenças “nacionais”. Amesma Europa inimiga departicularismos, de cuja estabilidade tinhaficado confiante no que diz respeito àinamovibilidade das fronteiras, viu surgirnos últimos quinze anos, muitocomplacida, umha praga de novas naçonscomo nom se conhecia desde a I GuerraMundial: basta pensar -cito algumhas decor- na Eslovénia, na Croácia, naMacedónia, nas várias Bósnias, naRepública Checa, na República Eslovaca,na Estónia, na Lituánia, na Letónia, naGeórgia, na Ucránia, na Arménia, noUsbequistám, no Turquemenistám, noCazaquistám, e num interminável tantámde ex-repúblicas soviéticas. Algumhasdestas naçons nom tinham existido nuncaou tiveram apenas umha existência fugaze, no entanto, até tal ponto se consideroujusta e inapelável a sua gestaçom quenom se duvidou a ajudá-las a nascer comapoio financeiro, militar e propa-gandístico, ou mesmo bombardeando ascidades, pontes e fábricas do inimigocentralista e jacobino. O antinacionalismonacional dos franceses, alemáns,espanhóis, italianos e, claro, dos estado-unidenses, demonstrou e demonstra umgrande entusiasmo pola ideia de “naçom”e umha grande perspicácia para oslimites. A Chechénia nom, a Palestinanom, o País Basco nom, a Catalunhanom, a Córsega tampouco. A pouco quese pense nas razons desta diferença detrato, entende-se sem demasiadasdificuldades que os grandes discursos de“princípios” contra os “melancolismos” eos “fanatismos primitivos” se constroemumha e outra vez partindo dos própriosinteresses nacionais, que é o mais fácil deesquecer do mundo -inconscienteterritorial e cultural- quando se tem aforça suficiente.Há uns dias o “ímpar” Berluscónijustificava o seu apoio à invasom doIraque com estas palavras: “Os produtositalianos tenhem mais aceitaçom nosEUA que os franceses e os espanhóisgraças à nossa política de aliança comBush”. A tranquilidade com que se realizaesta afirmaçom e a segurança de que vaiser bem recebida por parte dos e dasvotantes, expressa, com a mesmacontundência que um tiro na nuca, essaforma de nacionalismo nada moribunda,em virtude da qual os produtos italianos(nem sequer os próprios italianos e

italianas) som mais importantes, maisvaliosos, mais respeitáveis, do que odireito internacional, a paz mundial e avida de milhons de iraquianos eiraquianas. Por sua vez, José MaríaAznar, enquanto encerrava periódicos,ilegalizava partidos e fechava os olhosperante a tortura, fazia-se fotografar nosAçores gabando-se de ter “tirado aEspanha de um mero cantinho dahistória”. É de todos conhecida a formosafrase em que Montesquieu invoca o bemda família acima do próprio bem, o dapátria acima do da família e o do génerohumano acima do da pátria. Hojedescobrimos que o bem da Humanidadesó pode ser defendido através do exércitoestado-unidense, das multinacionaisestado-unidenses e da cultura estado-unidense. “Mesmo no momento em que aEuropa,” - diz Robert Kagan, inspiradorideológico da administraçom Bush,“libertada das obrigaçons e medos daGuerra Fria, começou a estabelecer-se noseu paraíso pós-moderno e a fazerproselitismo das suas doutrinas do direitoe das instituiçons internacionais, osEEUU começárom a caminhar na outradirecçom, (...) regressando à suatradicional política de independência,caminhando para essa formagenuinamente estado-unidense de nacio-nalismo universalista”. Este “naciona-lismo universalista” tem sido responsávelpor muitos milhons de vítimas nosúltimos sessenta anos e há poucassemanas, mediante a resoluçom 1546,converteu definitivamente a ONU nobrinquedo de umha naçom invasora eexpansionista. Em contrapartida, e estou afalar a sério, o nacionalismo bascoapresenta-se-me como a cousa maissimpática, honrada e inocente da terra.A praga de naçons surgida nos últimosquinze anos –por acaso- foi vomitada dedentro polos que tinham sido os inimigos

de Ocidente durante a Guerra Fria. Nuncase dixo que cumprisse fragmentar aJugoslávia e a Uniom Soviética porquefossem socialistas, mas porque nom erampaíses “democráticos”. Será que se aSérvia tivesse sido “democrática”, nomteria feito falta bombardear Belgrado paralibertar a Bósnia e a Croácia? Ou teriasido preciso bombardear a Bósnia e aCroácia para mantê-las ligadas à Sérvia?Se algo aprendemos ao longo do últimoséculo é que em nome do humanitarismo,da civilizaçom ou da democracia sepodem cometer crimes semelhantes oupiores que os que se cometêrom em nomeda Pátria. Se algo aprendemos ao longodo último século, é que o humanitarismo,a civilizaçom e a democracia som oexcipiente mais moderno, o mais fácil deengolir, do nacionalismo mais doentio: aempresa colonial, o nazismo, omilitarismo globalizador de hoje tecemcom fio vermelho umha sucessom dehegemonias fanaticamente nacionais nocontexto de um capitalismo imperialistamuito menos novidoso do que imagi-namos. À sua frente, o “separatismo”nom só nom é criminoso, polo contrário,constitui um imperativo ético, humanistae democrático; e se chamamos a esseimperativo também às vezesnacionalismo -por umha homonímiaquase aleatória- é só porque, noenquadramento fixado polo “nacio-nalismo universalista”, é preciso arrancar,inevitavelmente, de um território definidoe assediado; e porque, se há umha viapossível -entre outras- da democracia aGuantánamo, também há umha viapossível -entre outras- do nacionalismoao cidadanismo.

Na Península Ibérica poderia haver maisde duas democracias se houvesserealmente duas democracias.

2 segunda Junho 2004 novas da galiza

Xosé Lois Hermo

sumário

SORTEIO DE SUBSCRIÇOM DE NGZ NA FESTA DO 17 DE MAIO

O número premiado é o 869, correspondente aos três últimos dígi-tos do número ganhador no sorteio da ONCE do domingo dia 23 deMaio (72 869). Lamentamos o erro na transcriçom da rifa, ondefigurava o dia 22 como data do sorteio, dia em que na realidade nomhouvo sorteio. Quem possuir o bilhete premiado deve pôr-se emcontacto com NGZ através do nosso número de telefone ou e-mail.

Marcha Mundial das Mulheres

Os passados dias 22 e 23 deMaio tivo lugar em Vigo umacontecimento que marcará

um verdadeiro fito para ahistória do feminismo galego

Independentistas naseleiçons europeias

Mauricio Castro, cabeça da candidatura que NÓS-UPapresentou às eleiçons europeias, valoriza os resultados obtidos.

Música

A nossa secçom habitual demúsica achega-nos nestenúmero umha nova banda deLugo, Safari Orquestra.

Inquérito evidenciaretrocesso do galego

A página do PGL informa sobre o último inquérito

realizado polo IGE, no que secontinua a evidenciar a gravecrise que atravessa o galego.

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As moçons de censura com apoio de tráns-fugas, como as que nos últimos meses aba-lárom as vilas de Sada, Ponte Areias ouSárria, estám a converter-se num paradig-ma bem característico do já de por sicorrupto panorama político galego e for-mam parte de umha tentativa do PartidoPopular e do sistema caciquista para“reconquistar” o poder municipal naGaliza.

Por detrás destas manobras adivinha-seumha íntima relaçom entre o transfuguismoe os interesses espúrios da especulaçomurbanística. Nom é por acaso que, enquan-to a Galiza é despojada dos seus sectoresprodutivos e da sua identidade nacional, osector da construçom é selvaticamentecevado, sem nenhum tipo de parámetrosracionais, sendo permitidos à sua sombratodo o tipo de estruturas paralelas e ilegaisde corrupçom.

O caciquismo como fórmula de governosobrevive na Galiza desde há vários sécu-los, perpetuando a dependência colonial, eembora hoje haja sectores nacionais que lheneguem virtualidade e vitalidade, a verdadeé que qualquer análise rigorosa do nosso

sistema institucional ficaria incompleto senom levasse em conta esses “traidores enegreiros condenados”, como a eles sereferiu Cabanilhas. De facto, como já ten-hem afirmado muitas e muitos analistas,entre os quais o presidente da RealAcademia X. R. Barreiro, é impossívelentender a história política da Galiza con-temporânea sem o fenómeno do caciquis-mo. Muito tem lutado contra esta praga onosso movimento político antecessor:Castelao, Bóveda ou Outeiro Pedraio fizé-rom sempre finca-pé neste fenómeno queaferrolha e gangrena qualquer possibilidadede democratizaçom no nosso país.

Na Galiza nom há democracia, nom existenem sequer a tam louvada democracia for-mal, tal como a podemos entender noutrospaíses europeus. O transfuguismo e asmoçons de censura conculcam grande partedos direitos universais e básicos de umhafracçom maioritária da populaçom galega,sobretudo no âmbito rural, em perpétuoestado de indefensabilidade, onde o votonom é umha decisom mais ou menos livre,mas umha mercadoria, a portagem necessá-ria que deve pagar quem quiger sobreviverem determinados lugares da nossa terra.

Transfuguismo e democracia

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Moçons "populares"restauram poder da direita

Vigo, Ponte Areias, Arçua,Sada... o PP resiste-se a deixar o poder emnumerosas localidades ondeas urnas lho arrebatárom.

editorialJunho 2004novas da galiza 3

editorial

4 notícias Junho 2004 novas da galiza

notíciasMais de duzentas pessoas manifestam-se sob a legenda “Agora é reintegracionismo”

Reintegracionismo protagoniza dia das letras

Redacçom

Talvez o mais salientável dosactos dos passados dias 16 e 17de Maio fosse o abrangente daconvocatória. Em anos anterio-res as dinámicas locais tinhamprevalecido, com a organizaçomdiversas actividades sustidaspolas muitas entidades que naGaliza se situavam nas tesesreintegracionistas, mas destafeita, a festa e a mobilizaçomatingírom praticamente todo oleque organizativo unido.Assim, a decana AssociaçomGalega da Língua somou osseus esforços ao Movimento deDefesa da Língua na organi-zaçom da manifestaçom quepercorreu as ruas de Compostelana véspera do Dia das Letras.Também nom faltárom aquelasentidades culturais caracteriza-das por tanto inovarem no que àreinvidicaçom idiomática diz

respeito, as ligadas aos diferen-tes locais sociais que nos últi-mos anos ocupam parte dascidades do País: a FundaçomArtábria, primeira a protagoni-zar umha iniciativa destascaracterísticas com já seis anosde vida, co-participou da convo-catória com a luguesa AltoMinho, a viguesa Revolta e apontevedresa Reviravolta. Aassociaçom compostelana aGentalha do Pichel, com apenasuns intensos meses de vida nacapital da Galiza, tampoucoficou à margem da convocató-ria, como também nom o nossoperiódico NOVAS da GALIZA.Sob a legenda Agora é reinte-gracionismo, mais de duzentaspessoas saírom da Alameda numanimado acto abarrotado de íco-nes nacionalistas e relativos àunidade da língua, como os játradicionais "enes agás" ou car-tazinhos com a expressom

"Galiza lusófona". Com umhaenorme participaçom de gentenova, nom faltárom à manifes-taçom as organizaçons indepen-dentistas NÓS-UP, AMI eAGIR.A mobilizaçom terminou naPraça de Maçarelos, onde se deuleitura a um comunicado emchave humorística do membroda AGAL Carlos Quiroga. Alimesmo transcorreu durante todaa tarde e boa parte da noite afesta que a associaçom aGentalha do Pichel se prestou aorganizar: jantar popular, mesasde material político e lingüísticoe umha variada oferta musical(da Quenlla a Skárnio, passandopola Matraca Perversa, entreoutros) ocupárom esta praça docentro da cidade com umha con-corrida assistência.Para além disto, na cidade dePonte Vedra, a AssociaçomReintegracionista "Ene Agá"

organizou com o apoio doCámara municipal a sua tradi-cional "Festa da Língua" do dia17 de Maio. Todos estes actos,lembremos, enquadram-se nummais vasto programa de activi-

dades espalhadas entre o dia 17de Maio e o 10 de Junho e cele-brado em diferentes localidadesgalegas como homenagem rein-tegracionista às figuras deRosália de Castro e Camões.

Redacçom

Segundo informa www.galizaliv-re.org, as dúvidas sobre as medi-das que o executivo espanhol, ainstáncias dos tribunais compe-tentes da Uniom Europeia, adop-tará sobre o futuro de Izar, estám-se a despejar progressivamente.Perante a crise induzida que sofrea companhia pública, o governode Zapatero confirmou oficial-mente há semanas que "é impos-sível" manter abertos os dousestaleiros que a empresa navaltem instalados na ria de Ferrol,Izar Fene e Izar Ferrol. Segundoinformaçons publicadas polaagência Colpisa nas passadassemanas, o Secretário Geral deEmprego Valeriano Gómez anun-ciava a "impossibilidade" demanter abertas três fábricas deIzar na Andaluzia e duas no nossopaís. As declaraçons de Gómezratificam outras realizadas ante-riormente por funcionários esta-

tais, inclusivamente subindo otom das mesmas, num clima decrescente aclimataçom da opi-niom pública para a assunçompassiva do encerramento de umhadas duas fábricas galegas de Izar.Assim, no mês passado, o próprioValeriano Gómez tinha advertidoque o Executivo espanhol "sepoderia ver obrigado" a clausurarou concentrar vários estabeleci-mentos fabris da empresa. A 17 deMaio, o vice-presidente segundodo Governo espanhol e titular dapasta da Economia e da Fazenda,Pedro Solbes, ratificava as palav-ras do seu subordinado. Comestas declaraçons, o alto cargo doMinistério do Trabalho pré-anun-ciava que o estaleiro de Izar Fenepoderia acabar desmantelado,deixando na rua os 1.027 operá-rios que desde o encerramento de2003 tinham ficado empregadosna companhia naval. A fábrica dosul da ria de Trás-Ancos acumulajá mais de 9 meses de inactivida-

de, por nom lhe estar a ser conce-dida carga de trabalho.

Izar Fene no ponto de miraA companhia naval pública contacom dous centros de trabalho nonosso país, Izar Fene (1.027 ope-rários) e Izar Ferrol (1.965 operá-rios), e ainda mais 352 que trabal-ham em Carenas (reparos) nosdous estaleiros. Se bem que afábrica a norte da ria conte comcarga de trabalho no campo daconstruçom naval militar e no dofabrico e reparo de turbinas até2010, há já mais de 275 dias queIzar Fene se encontra inactiva e éobjecto de vetos que a impossibi-litam para a construçom de navioscompletos.O ministro espanhol Pedro Solbesdesvendava há semanas que aComissom Europeia estava ainvestigar, aliás, várias medidasaprovadas polo Executivo de JoséMaría Aznar em Fevereiro passa-do destinadas a "reforçar a com-

petitividade do sector da cons-truçom naval". Estas medidasconsistiriam na injecçom de umpacote financeiro por valor de715 milhons de euros. Este é ape-nas um dos quatro "novos proces-sos" que Izar tem abertos emBruxelas por umha alegadainfracçom às regras da concorrên-cia no território da UE, segundodeclaraçons realizadas por Solbesno Congresso espanhol há sema-nas. A posta em andamento desteprograma fijo-se em vésperas daseleiçons gerais do 14-M e setemeses depois de que o comissárioda Concorrência, Mario Monti,tivesse advertido o anterior titularda Fazenda Cristóbal Montoro deque a política espanhola de ajudasao sector naval violava as norma-tivas comunitárias. Segundo estasinformaçons, Monti teria adverti-do Montoro de que a CE obrigariao Grupo Izar a devolver ao Estadosubsídios por valor de 350 mil-hons de euros.

Mais três processos sobre ofuturo dos empregosPara além disto, a UE temabertos mais três processosinformativos sobre as fábricasde Izar. O Governo espanhol jáanunciou que estes processosse resolveriam de modo desfa-vorável à companhia pública,que deverá devolver, segundofontes europeias, 1.500 mil-hons de euros. Porém, o capi-tal social da empresa nomchega a 378. Dous dos trêsprocessos referem ajudas esta-tais concedidas em 1998 emcarácter de créditos fiscais e acapitalizaçom de Bazán préviaà fusom dos estaleiros em2000. O terceiro afecta umhasgarantias dadas pola SociedadeEstatal de ParticipaçonsIndustriais (SEPI) a RepsolYPF em troca de encomendarquatro navios de gás em fábri-cas de Izar situadas fora daGaliza.

Agudiza-se crise nos estaleiros de Izar

No ano em que parecia ter ficado assente adinámica mais oficialista à volta da reivin-dicaçom idiomática, porventura por causada condiçom mais facilmente assumível da

figura reivindicada por parte do poder, oreintegracionismo abriu um pequenoespaço no panorama lingüístico-cultural doPaís ao lançar umha série de iniciativas

que condensam o mais característico destemovimento emergente: mobilizaçons narua, actos lúdicos e marcado protagonismojuvenil.

Zapatero confirmou oficialmente há semanas que "é impossível" manter abertos os dous estaleiros que a empresa naval tem instalados na ria de Ferrol

Redacçom

A Cámara Municipal daCorunha acabou de clausuraro Centro Social AutogeridoMil Luas, três meses depoisde ter aberto novamente asportas. O encerramento dolocal realizou-se sem notifi-caçom prévia nem fundamen-taçom, para além de se terproduzido sem a presença demembros do próprio Centro,o qual impediu que tivessemretirado as pertenças particu-lares.Em Fevereiro de 2003 aCámara tinha fechado o MilLuas, forçando um ano deobras de remodelaçom porparte dos e das activistas. Umano depois, no passado mês deMarço, a actividade voltava aoCentro, mas viu-se logo afec-tada polas denúncias de umvizinho que aduzia transtornospor causa do barulho. Para aspessoas que gerem o Mil Luas,

estas acusaçons "agressivas ecarentes de lógica" déromlicença à Cámara para levar aefeito o fecho, sem que esteorganismo mantivesse nenhumtipo de comunicaçom com oCentro.O CSA Mil Luas nasceu comoprojecto em 1999, tornando-serealidade em 2001, numespaço entre as ruas Beira-mare Xavier Fonte. Ali tenhem-sedesenvolvido centos de activi-dades sociais e culturais comimportante participaçom, "àprocura de um espaço de cria-tividade rebelde, de imagi-naçom e construçom de ummundo diferente."No colectivo denunciam o"autoritarismo" da Cámarapresidida por Paco Vázquez,que, segundo afirmam, é res-ponsável pola "negaçom dasáreas de participaçom socialno enquadramento de ummodelo de privatizaçom detodos os espaços da cidade."

notíciasJunho 2004novas da galiza 5

A esquerda europeia denúncia a turistificaçom da Galiza No colectivo denunciam o "autoritarismo" de Paco Vazquez

Delegaçons galegas emencontros internacionais

Fecham centro socialMil Luas três mesesapós a reaberturaRedacçom

Durante o último fim-de-semanade Maio, umha delegaçom galegaassistiu à ConferênciaInternacional de Presos e PresasPolíticas organizada polo movi-mento anti-repressivo do PaísBasco. O membro do organismopopular anti-repressivo Ceivar,Joám Peres, junto com os ex-pre-sos do EGPGC Antom ÁriasCurto e Antom Garcia Matos par-ticipárom durante duas intensasjornadas nas sessons de debate ereflexom à volta do fenómenorepressivo e dos conflitos políti-cos. Para além de cidadaos e cida-dás galegas e bascas, o encontroserviu para abordar conjuntamen-te fenómenos tam distantes comoo da Sri Lanka, Itália, a Nicaráguaou a Bretanha. As diferentes dele-gaçons internacionais aprovárompara concluir umha "DeclaraçomInternacional sobre Presos ePresas Políticas" em que se vincaa condiçom política dos diferentesconflitos armados que sofre oPlaneta, se reconhece o direito àautodefesa e se fai um chamamen-to à necessidade de soluçonsnegociadas. O facto de aConferência se ter celebrado semexcessivos obstáculos legais,mereceu alguns destaques naimprensa mais conservadora,como o ABC, que denunciou aconferência, apresentando-a comoumha reuniom da "internacionaldo terror".Por outro lado, e também no PaísBasco, umha outra reuniom inter-nacional juntou nos dias 17, 18 e19 de Junho organizaçons de

esquerda galegas, bascas, catala-nas, castelhanas, andaluzas, esco-cesas, italianas, austríacas, norue-guesas, turcas, palestinianas,venezuelanas, bolivianas, suíças eargentinas, coincidindo com aaprovaçom do projecto deConstituiçom para a EU. Com alegenda A esquerda às portas daEuropa, as delegaçons assistentesconsensuárom posiçons contra oprojecto da Europa em curso e

desenhárom alternativas, partindodo debate de quatro teses sobre ocapitalismo, os estados, o sindica-lismo e a questom nacional, que jáestám disponíveis na rede. Desdea Galiza, NÓS-UP e a AMI deslo-cárom delegaçons próprias, poriniciativa das quais o congressoaprovou umha significativa reso-luçom "contra o Jacobeu 2004 e oprocesso de turistificaçom daGaliza".

NGZA Plataforma Sindical de AgentesFlorestais da Galiza denunciou nopassado dia 18 de Junho o "estadode degradaçom que estám a sofrer osnossos ecossistemas por causa dosincêndios", situaçom que leva consi-go a destruiçom de "um sector estra-

tégico para o conjunto do País". Nosdias de hoje, os guardas florestais eos distritos ambientais ainda nomtenhem constáncia do pretensoplano Infoga 2004 para combater olume.Denunciam falta de previsom daJunta, falta de reacçom e ocultaçom

da realidade. Assinalam a escassezde meios e a sua péssima organi-zaçom, como também o facto denom se ter activado o dispositivo deincêndios. E acusam a Conselhariado Ambiente de "desleixo absoluto"por ter pessoas a trabalhar até 28horas sem comida nem bebida.

"A actual Uniom Europeia nomtem sido nem é apenas um projectoantidemocrático e um novo cárcerede povos: também é o quadro ondese vem desenhando e levando acabo umha perversa divisom inter-nacional do trabalho para benefí-cio capitalista e dos interesses dagrande burguesia europeia.Galiza é umha velha naçom cons-truída económica, social e cultu-ralmente sobre o trabalho da terrae do mar, mas sobre a qualEspanha e a U.E. venhem aplican-do um brutal processo de des-truiçom de sectores produtivos fun-damentais. A agricultura, a pescaou o sector lácteo som exemplos desectores danados de morte porestas políticas, que pretendem fazerda Galiza, sem consultar à suapopulaçom e claramente contra osseus interesses, um país especiali-zado na produçom eléctrica, aexploraçom florestal e o trurismo.Neste sentido, cumpre resaltarcomo os fundos europeus estám a

ser directamente destinados a umselvagem processo de turistifi-caçom que supom um atentadodirecto contra a identidade nacio-nal e a soberania económica dopovo galego. Neste contexto, oJacobeu 2004 que se está a cele-brar neste ano nom é mais do queumha ambiciosa campanha demarketing destinada a fazer daGaliza um produto de consumoturístico envolto em papel de celo-fám espanhol.As organizaçons presentes nestesencontros internacionais de Sokoaunimo-nos à esquerda independen-tista galega na sua denúncia desteprocesso e do próprio Jacobeu, aotempo que apostamos por umhaEuropa respeitosa com a estruturae a cultura económica dos povos,que favoreça o seu desenvolvimen-to integral, equilibrado e auto-cen-trado, incorporando valores comoa soberania alimentar das naçons elimitando a divisom internacionaldo trabalho"

Texto íntegro da resoluçom contra o Jacobeu aprovada em Sokoa

Acusam a Junta de "falta de reacçom" perante os incêndios

Redacçom

A comarca da Corunha contarácom um novo espaço aberto para oactivismo de base nos próximosmeses. Um plural e nutrido grupode pessoas continua a trabalharpara torná-lo realidade no Outono,angariando apoios e preparando asua infra-estrutura. De facto, aComissom Promotora terá de con-dicionar umha loja comercial queainda nom está pronta e que ofere-ce 140 metros quadrados nonúmero 12 da rua S. José, a vintemetros do Campo da Lenha.Os e as promotoras apontam comoreferentes os locais sociais já exis-tentes como Artábria, Alto Minho,a Revolta e a Reviravolta e salien-tam que agora é "o momento dedar mais um passo para a cons-truçom nacional na Corunha". OCentro Social 'A Treu!' pretendeser "umha realidade palpável e um

ponto de referência" para o acti-vismo nacional de base, visandoprioritariamente o trabalho polalíngua na cidade da Corunha, sem-pre do ponto de vista do reintegra-cionismo lingüístico e o monolin-güismo social.O local contará com duas partesdiferenciadas, umha com serviçode bar onde se poderám realizarexposiçons, conferências e actosdiversos, e umha sala de activida-des destinada à biblioteca-videote-ca, onde se poderám projectarvídeos e realizar colóquios.Da Promotora fijo-se um chama-mento a apoiar o projecto median-te contributos económicos, mate-rial e mao-de-obra, e apontou-separa a importáncia de se verifica-rem novas adesons para dar formaa um novo "espaço livre". Quemquiger contactar com A Treu! podefazê-lo através do endereço [email protected].

6 notícias Junho 2004 novas da galiza

A iniciativa emgalego.tk supera o meio cento de sabotagens emlaranja contra o espanhol

Redacçom

A Assembleia Geral de Estudantes(A.G.E.) da Universidade deSantiago de Compostela exigiu arectificaçom das notícias que LaVoz de Galicia e El Correo Gallegopublicárom na quinta-feira dia 13de Maio de 2004, em relaçom coma mobilizaçom estudantil do diaanterior em Sam Gerome.Contrariamente ao que afirmavaLa Voz de Galicia, na Assembleiaconsideram que "é rotundamentefalso que o estudantado tentasseboicotar um acto de entrega de pré-mios celebrado na Reitoria."Sustenhem que este acto se desen-volvia no andar superior de SamGerome, e que os e as estudantes,após terem entrado no edifício,"em nenhum momento se deslocá-rom do claustro (piso inferior),onde em todo o momento se man-tivérom na fila para aceder aoescritório do Registo Geral". Poreste motivo, a A.G.E. exige umharectificaçom pública de La Voz de

Galicia, "desmentindo factos quenunca acontecêrom, e que portan-to, nenhum ou nenhuma das suasjornalistas pudo ter presenciado". AA.G.E. exigiu ainda umha rectifi-caçom pública de El CorreoGallego, já que "nenhum gruporeduzido de manifestantes tentouentrar pola força, enfrentando osguardas de segurança", como afir-mava este meio. Asseguram que ose as estudantes só precisárom deopor resistência aos Prosegur paradefenderem um companheiro queestava quase a ser apanhado entreas portas.A A.G.E. declara a seu firme pro-pósito de que "nenhuma agressomao estudantado fique sem respos-ta". Por este motivo, pretendedenunciar perante o Provedor daJustiça a entrada ilícita da políciaespanhola no recinto universitário.Também comunicárom que denun-ciarám os elementos de Prosegurali presentes por atentado contra opatrimónio histórico e agressom aestudantes da A.G.E.

Redacçom

A página web www.emgalego.tkcomunicava com motivo do Diadas Letras que se ultrapassárom as50 testemunhas gráficas de sabo-tagens contra a presença da línguaespanhola no nosso país recebidasno seu correio. Para além de agra-decer todas as pessoas e colecti-vos que enviárom fotografias dasintervençons, emgalego.tk animatodos os galegos e galegas cons-cientizados com a sobrevivênciado nosso idioma "a reivindicaractivamente, na rua, o futuro danossa língua e a denunciar a imer-som lingüística espanhola quesofre o país".A iniciativa popular normalizado-ra tomou forma há alguns mesescom a prática de deitar pinturalaranja sobre todo tipo de sinali-zaçons, anúncios ou mensagensem espanhol ubicados em espaçospúblicos do nosso país. O seusucesso consistiu na progressivaextensom da mesma a cada a maiscomarcas da Galiza. Com estapolítica de sabotagens, emgale-go.tk pretende por de manifesto aalarmante situaçom que vive ogalego, com a rutura da transmis-

som intergeracional e a maciçaespanholizaçom da mocidade,assim como passar a umha atitudeofensiva e combativa frente aodefinem como "etnocídio e lingüi-cídio silenciosos".Os promotores de emgalego.tkassegurárom que "é tempo dechantar-se perante quem desde as

instituiçons, o mito do bilingüís-mo harmónico e a falsa normali-dade democrática trabalham paraeliminar o nosso principal sinal deidentidade". Informam aliás queas fotos de novas sabotagens rece-berám-se em [email protected] para ser publicadasposteriormente no portal.

Redacçom

A associaçom cultural ordense"Obradoiro da História" continuaavante com as iniciativas relaciona-das com a recuperaçom do patrimó-nio da sua comarca e das pegadasmais recentes do passado. Há pou-cas semanas, apresentava-se nolocal social da rua do Campo, emSigüeiro, o livro Concelho deOroso: Guia histórico em imagens.A instituiçom municipal colaborouactivamente com a iniciativa, até oponto de aparecer como entidadeco-editora da obra e de o própriopresidente da Cámara, ManuelMirás, ter assistido à apresentaçom.Se noutras ocasions a associaçomse tinha encarregado de recuperarpara a memória as figuras do gue-rrilheiro Manuel Ponte Pedreira, dopadre nacionalista MonchoValcarce ou do fundador dasIrmandades Porteiro Garea, agora éo momento da história recente deum concelho. Manuel PazosGómez explicou que a base do livrosom ao redor de oitocentas fotogra-fias com que contribuiu a vizin-hança, peneiradas por óbvias razonsde espaço para produzir umha obramanejável.

Estudantes desmentemLa Voz de Galicia eEl Correo Gallego

Novo projecto de localsocial em andamento naCorunhaCentro Social 'A Treu' quer abrir no Outono

Nova iniciativa em prol da recuperaçom da memória histórica

reportagemJunho 2004novas da galiza 7

PP assalta poder municipal em cámaras municipais que tinham formado governos alternativos

Um ano depois das eleiçons municipais sommuitos os concelhos onde o Partido Popularrecuperou os governos municipais, e nalgunscasos com moçons de censura apresentadas apresidentes do BNG ou do PSOE. O PartidoPopular tinha empreendido, no mesmo dia após aseleiçons autonómicas, um trabalho sem descanso

para recuperar as cámaras perdidas. Um trabalhoque continua presentemente e que fai com queestejam em perigo muitos governos socialistas,nacionalistas e independentes. A província de PonteVedra é um dos exemplos mais esclarecedores. Apósa moçom de censura em Ponte Areias já seencontram também na berlinda outros municípios.

No ano 1999 o Partido Popular governava em 40dos 62 concelhos da província e em 2003 ficoucom 35, após as eleiçons de Maio de 2003. Umano depois, o PP volta a ter, após a moçom decensura de Ponte Areias e a promoçom de CorinaPorro à presidência da Cámara Municipal deVigo, 43 concelhos em seu poder.

Moçons ‘populares’ restauram poderda direita em numerosas localidades

Marta Salgueiro

O urbanismo e o planeamento doterritório estám por detrás de cadaumha das moçons de censura e dediferentes lutas polo poder nascámaras municipais dos concelhosgalegos. De facto, o urbanismo ésempre o pelouro mais negociadonos acordos entres partidos nomomento de chegar a pactoslocais. Por isso, é com estas palav-ras, "o urbanismo", que muitos emuitas definem a ruptura do pactode governo entre socialistas enacionalistas em Vigo. Mas opoder na área do planeamentoterritorial foi a questom de fundoem Ponte Areias, na ruptura doacordo em Arçua, e também emSada. Neste ultimo concelho, cincodias depois de que RamómRodrigues Ares recuperasse a pre-sidência da Cámara com umhamoçom de censura que contou como apoio de um tránsfuga do PSOE,o deposto regedor municipal, AbelLópez Soto (BNG) augurava a apro-vaçom do projecto de Porto Infanta,umha urbanizaçom cujas obras esta-vam paralisadas à espera de umhasentença do Tribunal Superior deJustiça da Galiza. López Soto falavainclusivamente "de pequenos espe-culadores que já andam a pulularpolo concelho". Elena Ramalhotambém denunciava, no caso deSada, que o Plano de Urbanismo épara Rodríguez Ares "umha obses-som, a Promotoria deveria decidiranalisar o caso porque levanta sus-peitas que o motivo de umhamoçom de censura seja o urbanis-mo." Ramalho mantém umhadenúncia contra Ares por prevari-caçom e malversaçom e confia emque o presidente da Cámara munici-pal seja inabilitado. Em Betanços,os orçamentos enfrentam o PSOE eo BNG, sócios de governo. O con-trolo das contas parece estar nofundo da crise. Os socialistas recu-sam-se a aprovar uns orçamentos

que permitiriam que os nacionalis-tas fizessem o seu trabalho. Nopacto de governo, o grupo naciona-lista assumiu a chefia de três pelou-ros: urbanismo e dous de novacriaçom, mas estas últimas careciamtanto de consignaçom orçamentalcomo de pessoal, o qual impedia oseu funcionamento durante 2003,enquanto nom fosse aprovado umnovo orçamento. Contra o espera-do, o PSOE nom facilitou aredacçom de um novo orçamento,de maneira que a Cámara está afuncionar com os orçamentos de2003 prorrogados, e em conseqüên-cia os pelouros de nova criaçom doBNG continuam com uns recursosabaixo dos mínimos.O cabeça de lista do grupo naciona-lista e vereador do Urbanismo,Isidro Doporto, receia que isto obe-deça a umha estratégia do PSOEpara limitar a acçom de governo doBNG, já que o grupo socialista nomassumiu que perdeu a maioria abso-luta, e que portanto governa emcoligaçom. A diferença mais grave,para além dos orçamentos, foi oacordo plenário entre nacionalistas

e populares para aprovar unhamoçom que exigia a intervençomde umha auditoria externa daCámara e ainda a redacçom de umplano de acerto de umhas contasmunicipais que desde havia anosgeria com fortes críticas o irmao dopresidente da Cámara, tambémvereador. Ainda que o interventormunicipal informasse que a audito-ria externa nom era legal, o planode acerto de contas foi avante.Por sua vez, em Baiona a crise sal-vou-se por enquanto com um novo

pacto. Os nove vereadores dePSOE, BNG e os independentes doCMN assinárom um acordo degovernabilidade para assegurar aestabilidade política da Cámara atéo fim do mandato.Em Bueu, ficava roto o pacto degoverno entre BNG-IBueu. Ogrupo municipal do PP e os mem-bros da gestora que dirige o ex-pre-sidente da Cámara, Tomás Barreiro,concretizavam a sua estratégia apósa ruptura do pacto. Nom se descartaque o PP venha a apresentar umhamoçom de censura. O vereadorManuel Freire comentava que o par-tido está à "espreita", e que se viriama iniciar os contactos com IBueu ePSOE. Como primeiro passo, e talcomo aconteceu em Arçua, o queagora se solicita é umha moçom deconfiança.Freire admitia que no passado dia 4de Junho, durante a visita de cargospopulares às obras da via rápida doMorraço, falou-se em ruptura dopacto. Entretanto IBueu aguarda aque seja o Partido Popular a dar oprimeiro passo.O vereador Belarmino Barreiro

nega a existência de contactos,"nem formais nem informais", como PP para se negociar umhamoçom de censura. Enquanto oPSOE acordava "dar certa margemde confiança" à equipa de governodo BNG, esperando um "novotalante" e "mais diálogo" com aoposiçom. Neste momento, noPSOE entendem que nom "é con-veniente" umha moçom de censu-ra. Asseguram que "nom empree-derám qualquer tipo de nego-ciaçom nesse sentido"Mais logo encontramos novamentea palabra chave: urbanismo. Ogrupo municipal socialista entendeque será determinante o que acon-teça ao BNG de Bueu na nego-ciaçom do Plano Geral deOrdenaçom Municipal (PXOM) enos orçamentos. O porta-voz socia-lista lembrava, nom sem pouca iro-nia, que o seu grupo apoiou a inves-tidura como presidente da Cámarade Félix Juncal, mas nom entráromno governo "porque aqui todos etodas nos conhecemos".No Porrinho, também se pode per-ceber facilmente a situaçom deinstabilidade. José Manuel Barrosnom confia em ninguém e até opróprio Manuel Fraga lhe dixo:"fai bem". O presidente da Juntadixo-lhe que já está na idade dareforma, politicamente falando,mas Barros nom esquece. Sabebem que o seu fim político estacada dia mais perto, mas quer,antes de ir-se embora, acabar poli-ticamente com o que tinha sido oseu vice-presidente da Cámara eactualmente líder deIndependentes do Porrinho,Gonzalo Ordoñez. O ex-presiden-te começou umha estratégia políti-ca, lançando a ideia de que o pactoseria possível, e com ele também amoçom de censura. "Eu vou-meembora se algum dos outros sevem embora comigo" dixo JoséManuel Barros, em clara referên-cia a Ordoñez.

O urbanismo e oplaneamento do

território estám pordetrás das moçons

de censura e dediferentes luitas polopoder nas cámaras

municipais

reportagem

Pactos secretos e diferentes interesses levárom o PP a recuperar o poder em 5 municípios só na província de Ponte Vedra.Dos 35 que governava após as eleiçons de 2003, passou a presidir 40 cámaras municipais.

8 reportagem Junho 2004 novas da galiza

Hilda Carvalho

Após duras disputas no seio do PP,José Castro foi expulso do partidoem 1999, depois de ter sido inabili-tado para a presidência da Cámarapola Audiência Nacional. Aresistência do ex-falangista evitou asaída cómoda que lhe propunhaManuel Fraga: assessorar umhagrande empresa de Vigo recebendoum salário de 3.000 euros, segundodeclaraçons de quem mais tardefundaria e presidiria a UCPA.No mesmo ano eram celebradaseleiçons municipais, as primeirascom duas candidaturas da direita eas primeiras em que o clam Castroperdia a maioria absoluta. Setevereadores frente a 5 do PP outor-gava-lhe umha maioria simplescom que poderia manter o governoaté o seguinte encontro nas urnas. Acampanha eleitoral tinha sido aba-fante: Castro utilizou mesmo heli-cópteros publicitários, instalou ser-viço de "catering" em todos oscomícios realizados, editou CD'scom a música eleitoral e construiupainéis publicitários, para além dosque alugou. Segundo fontes vincu-ladas ao PSOE local, o construtorRegino Giráldez Boo teria contri-buído para esta campanha com trin-ta milhons das antigas pesetas,situando o seu irmao como segun-do na lista de UCPA.Curiosamente, trinta anos antes, opróprio Regino tinha contribuídocom 50 000 pesetas para a campan-ha municipal da AN-PG, mas na

altura nom exigia compensaçons.Em 2002 começava a etapa maisdura para os construtores locaiscom a intervençom de José Cuinhasobre o urbanismo em localidadesem que o "feísmo" e a especu-laçom eram sangrentos. A Cámarateria recebido um processo conten-cioso que suspendia as normasurbanísticas vigorantes. No entan-to, o desafiante Castro outorgoulicença, no dia anterior à publi-caçom do processo, a três obras deque beneficiariam o presidente daCámara de Tui, Fdez. Rocha, o daGuarda, Alonso Riego (impulsio-nador do frustrado projecto decimenteira em Oliveira) e o já refe-rido Regino Giráldez.A consolidaçom do PP, o desgastede UCPA e a oposiçom nacionalis-ta fôrom assentando os alicerces doresultado eleitoral de 2003 que,embora com maioria da direita, per-mitia um governo em coligaçomentre o BNG e o PSOE, com oapoio táctico do PP, que dizia estara promover a saída dos Castro dapolítica local.A poucas semanas da investidura,centos de militantes e simpatizantesdo 'novo PP' assistiam, na freguesiade Guláns, a um festival em recon-hecimento do apoio 'popular' à pre-sidência de Cámara do PSOE, deso-bedecendo as ordens de um Fragaque já tinha pactuado com JoséCastro a aliança da direita. Naquelaaltura, votantes do PP chegaram aameaçar fisicamente o cabeça delista, caso, como de facto aconteceu,

formasse governo com a UCPA.Nas conversas da vila previa-se cla-ramente que, após a celebraçom daseleiçons estatais, era o momento deconsumar a restauraçom da direitasem prejudicar Mariano Rajoy, per-sonagem apadrinhado por JoséCastro na sua vertiginosa ascensompolítica e a quem este nom podiadecepcionar.No dia 13 de Maio materializava-seo reencontro esperado entre PP eUCPA, ao som de foguetes que res-soaram durante mais de umha hora,pagados, segundo conta a vizin-hança, por Regino Giráldez Boo.Sem clima político prévio que apropiciasse, nem fractura no gover-no, a moçom de censura deixavaficar claro que os poderes reais de

Ponte Areias nom podiam conti-nuar sem a autoridade municipalnas próprias maos. Finalmente, o'novo PP' deixou atrás a máscara eviu-se obrigado a ceder peranteJosé Castro, a pessoa que mantém ocontrolo sobre os recursos de poder,sobre grande parte da rede caciquis-ta e a fidelidade da maior parte dosconstrutores.

Consumaçom do golpeDesde que começou a andar ogoverno BNG-PSOE, os velhospoderes também começárom a darpassos para o liquidar. Forçar a ade-som do PP era questom de tempo,já que com a UCPA coincidiam nosaspectos determinantes da políticada Cámara e juntos somavam vere-

adores suficientes.Quando começou a pedonali-zaçom do centro de Ponte Areiasnos dias de feira, um grupo decomerciantes organizou reunions,constatando a necessidade de adireita se vir a reorganizar. Namesma linha, existírom reunionsentre um sector dos construtores,representantes do PP e da UCPAem que se tecêrom algumhas daslinhas que marcariam o golpe.Em Fevereiro o pacto estava játraçado, mas os 'populares' guarda-vam o ás na manga para nominfluenciar nas eleiçons gerais.Semanas depois, Manuel Fraga dei-xava entrever perante os meios decomunicaçom que a moçom decensura seria umha realidade após omês de Março.Quando ainda havia quem pensas-se que a direita esperaria àseleiçons europeias, a 30 de AbrilPP e UCPA apresentam no registomunicipal a moçom que se debate-ria no seguinte pleno. O motivo depeso que impediu a demora foi aconvocatória de 50 vagas deemprego que punham em perigooutros tantos contratados e contra-tadas a dedo durante os governosde Castro, aspecto que já fora jul-gado e sentenciado. O patrommetia presa e a direcçom do PPseguia o ritmo: os de Solla teriamrecebido a 28 de Abril um ultimá-tum polo qual deviam materializara moçom com a UCPA o maisbreve possível. Se nom fosseassim, os vereadores do PP seriam

Imagem da mobilizaçom que reuniu em Ponte Areias mais de três mil pessoasem denúncia contra a moçom de censura orquestrada pola UCPA e o PP

A filha do padrinho político de Mariano Rajoy volta ao governo

Castro recupera poder em Ponte Areias com o apoio do PPNo passado dia 13 de Maio Ponte Areias assistiu àrestauraçom do poder clientelar e autoritário chefiadopor José Castro Álvarez, sob a máscara do novopresidente da Cámara, o 'popular' Salvador GonzálezSolla. O fascismo no Condado foi consciente de que aqueda de Cuinha e a ascensom de Rajoy abriam asportas da reunificaçom da direita. Os que chamavam

a Castro "Lucifer" na campanha eleitoral de 1999pactuárom umha moçom de censura com o aparenteadversário para impedir possíveis mudanças queameaçassem o seu poder a curto e médio prazo.Nas passadas eleiçons estatais o concelho do Teiaviu pola primeira vez como os votos do PSOE e doBNG superavam a direita, o que acelerou os acordos

entre o PP e a Unión Condado-Paradanta (UCPA)de Castro. Os adeptos de Fraga abraçárom-se aosvereadores ultra-conservadores para devolver opoder político a quem o tinha dirigido durante osúltimos trinta anos: construtores, empreiteiros,empresários e caciques que medrárom ao abrigo dadireita mais reaccionária.

9reportagemJunho 2004novas da galiza

expulsos (ainda estava aberto oprocesso por desobediência nainvestidura) e o clam Castro entra-ria de pleno nas fileiras 'populares'.PSOE e BNG contárom com osprimeiros dias de Maio para apu-rar assuntos como a devoluçomdas instalaçons da RTMP aos seuslegítimos proprietários, a comuni-dade vicinal de Angoares, e aindaa retirada da vidraça com o escudofranquista do edifício da Cámara.Nas ruas, mais de três mil pessoasdavam forma à maior manifes-taçom da história recente de PonteAreias a denunciar a moçomanunciada.Entre os ecos posteriores, SalvadorSolla defendia a nova posiçom aomesmo tempo que assistia à ruptu-ra da sua base militante e apoios.Mediante um folheto distribuídopolas casas da vila explicava a vira-gem com o título "Falemos Claro".Nava Castro mostrava-se satisfeitapor ter deslocado um governo quetinha alterado "a normalidadedemocrática e a estabilidade socialdo município".Na outro lado, Roberto Mera,porta-voz do BNG, denunciou oque considerava umha "fraudedemocrática" que devolvia os"delinqüentes" ao poder ao amparoda "traiçom" do Partido Popular. Eainda, NÓS-UP acusava o anteriorgoverno de facilitar "a recuperaçomda presidência municipal para aextrema-direita", considerando obalanço da gestom do governocomo "ridículo, decepcionante esurrealista."O que sim conseguira o governo,para além das diferentes luitaspopulares empreendidas, foi criarum novo clima de debate políticodantes inexistente ou silenciado emPonte Areias. O futuro próximo e asvindouras eleiçons municipaisdarám conta da evoluçom de umconcelho de dia para dia mais pola-rizado, com um movimento socialainda emergente e umha direitareaccionária que recupera os recur-sos do poder municipal.

Da moçom até hojeApós o dia 13 de Maio, PP e UCPAdeviam demonstrar capacidadecomo gestores da Cámara, polomenos para recuperarem o grossodos votantes que se tinham sentidotraídos. Com a inestimável ajuda dopresidente provincial, RafaelLouzán, o alcatroado das ruas docentro urbano e de caminhos paro-quiais foi iminente. Um grandenúmero de trabalhadores commaquinaria da Deputaçom, da pró-pria Cámara e de Regino Giráldezrealizavam apressados as primeirasobras municipais, verificando-se asintonia entre o poder institucionaldo PP e umha direita que mostravaassim os benefícios de contar comum governo leal a Fraga.Entretanto, a Fundaçom FranciscoFranco denunciava Ponte Areiaspor ter retirado o monumento aoditador da Praça Maior e enquanto

diversas fontes apontavam a per-tença de José Castro à fundaçomneo-fascista como motivo dadenúncia, Nava Castro recusava-senum plenário a responder às per-guntas de Roberto Mera quanto aorequerimento judicial.O novo governo está dividido entreos 'cuinhistas populares' e os leais aRajoy da UCPA. As novas posiçonsno seio do PP semelham favoreceros segundos, aspecto reforçadopola recente decisom de modificara conhecida Lei 9/2002 deOrdenaçom Urbanística eProtecçom do Meio Rural. NunesFeijoo quer 'actualizar' a lei polaqual Cuinha parava timidamente ospés à actividade especulativa nal-guns concelhos.

José Castro, franquista convictoA estrutura de poder de Ponte Areiascompom-se de um complexo puzzleque, se bem que esteja a esmorecer,mantém ainda o controlo sobre umgrande número de pessoas noConcelho. À cabeça da densa redeestá José Castro Álvarez, conhecidofranquista declarado que ainda con-serva um busto do ditador no seugabinete particular. Como já tínha-mos informado no número 4 doNOVAS da GALIZA, integrou-seno aparelho fascista em 1951, comofuncionário do sindicato vertical,chegando a ocupar um cargo emMadrid no ano 1959 em Madrid. Em1963, já estando de volta em PonteAreas, assume o posto de delegadocomarcal do 'Movimento', conse-

guindo a presidência da Cámara em1968. Em plena promoçom, no ano1977 torna-se também em deputadoprovincial e presidente daMancomunidade do Condado, deonde impulsiona um agressivo planode ordenaçom que, entre outros pro-jectos, pretendia instalar cascalhei-ras no Minho, construir umha cen-tral de celulose e assegurar o chama-do 'Salto do Sela'.Na altura militava ao lado deMariano Rajoy na Uniom NacionalEspanhola (UNE), formaçomextremista que acabaria integradana AP. Nos anos seguintes, já emAP, começa a luta contra X.L.Barreiro (1986/87). De facto,Castro reuniu em Ponte Areiastodos os dirigentes desavindos comBarreiro para forçar a demissomque viria a produzir-se em 1987.Desde entom continuaria comforça, embora dentro do PP fosseumha pessoa incómoda, sobretudona segunda metade dos anos noven-ta, em confronto permanente comCuinha e diferentes sectores quepretendiam silenciar o franquismosobrevivente no Partido.Em 1993, chegava ao senado, aolado de Rajoy, ambos como candi-datos eleitos por Ponte Vedra.Também tinha estado com o actuallíder do PP na Deputaçom, quandoeste conseguiu a presidência pro-vincial ajudado polo cacique dePonte Areias. A amizade de ambostornou-se patente quando MarianoRajoy foi padrinho no casamentode umha das filhas de Castro,

segundo contam diversas fontes.Em pouco tempo, Castro entraria naetapa dos tribunais, enfrentando sen-tenças judiciais que o acusavam defalsidade em documento público,desobediência ou prevaricaçom con-tinuada. O perigo chegava comumha pena de prisom de três anos,perante a qual Castro recorreu dasentença perante as mais altas ins-táncias judiciais, que mantivérom overedicto. A sua salvaçom chegariadirectamente do Conselho deMinistros, onde contou com a fieldefesa do entom Ministro da Justiça,Mariano Rajoy, que conseguiu oindulto para o seu mentor político.E nom só. José Castro conta comum homem de confiança noTribunal Supremo, AntonioTroncoso de Castro, com qxuemmantém umha relaçom de amiza-de. De facto, chegou a nomeá-lofilho adoptivo de Ponte Areiaspolo seu "vínculo com o concel-ho" (tem residência em Arvo) epola sua trajectória. Entre os seusméritos está o de ter sido advoga-do do Ministério Público tambémdurante o Franquismo, tendo pro-tagonizado este papel no Processode Burgos, onde ameaçou MarioOnaindia com um sabre.Como já referimos, em 1999Castro era finalmente expulso doPP, facto que o empurrou a fundara UCPA, forçando a reorgani-zaçom da clam "popular". Foi esteo momento em que apareceu emcena Salvador González Solla,actual presidente da Cámara.

Quem é quem no PPO Partido Popular surgido da expul-som de Castro nutriu-se de militan-tes leais a Fraga e a Cuinha, e aindade simpatizantes da anteriorConvergência Nacionalista Galegaque, segundo fontes nacionalistas,vendeu a sua pequena estrutura porum posto de trabalho e o segundoposto de Alberto Novoa nas listaseleitorais. Novoa e Solla som os'profissionais' do PP de Ponte Areias,beneficiados com emprego e bonssalários através do Partido.Salvador Solla foi até o ano 1999 leala Castro, tanto nas "carradas" devotos, como de representante nasmesas e assembleias de voto. Com aajuda de César Mera (presidente daCaniça) e Costa (presidente doCovelo) obtivo o seu posto de trabal-ho na Fundaçom da Paradanta,dependente da Junta, com o qual seintegrava em cheio na estrutura clien-telar do PP sob o controlo de Fraga.Os outros vereadores 'populares'som personagens de "baixo perfilpolítico", segundo fontes próximasao BNG. Vítor Sebastián cedeu asua casa de Guilhade para algum-has reunions entre o PP e UCPA, etambém mantivo fidelidade aCastro até 1999. Outro vereador,Francisco Davila, aproximou-se doPP convidado por Salvador Solla, oseu primo. Davila é filho de umafervorado adepto de Castro, "pre-sente sempre nas convocatóriaseleitorais do exército de represen-tantes partidários nas assembleiasdo voto", indicam fontes locais.

Nos últimos dias do GovernoBNG-PSOE a Interventoramunicipal saiu à palestra mediá-tica após umhas alegadas ame-aças e tentativas de agressom porparte de vereadores do BNG, querespondêrom com umha denún-cia por calúnias. O que nom apa-receu nos jornais daqueles diasfoi o comportamento desta inter-ventora, Ana Llorca, que tinha

bloqueado o abastecimento demateriais por parte dos fornece-dores da Cámara, tinha-se recu-sado a assinar numerosos relató-rios e impedido a entrada no seugabinete a vereadores, entreoutras formas de boicote, atitudeque levantou suspeitas.Após umha investigaçom, verea-dores nacionalistas descubríromque horas antes do incidente que

chegou à imprensa (um duro cru-zamento de palavras), Ana Llorcaestivera reunida com AlbertoNovoa e Isabel González, do PP,formaçom à qual tinham benefi-ciado várias das suas actuaçons.Em poucos dias, novos dadosdescubrírom umha fraude queagora se encontra nos julgados.Ana Llorca, residente em Baionae antes em Vigo, está recenseadaem Crescente, numha casa desa-bitada e muito deteriorada. Juntodela, dúzias de pessoas estámrecenseadas em lugares inabitá-veis e mesmo numha praçapública, como o caso da irmá deAna, Ángeles Llorca, secretáriada Cámara de Crescente recense-ada na praça que fica em frentedo seu trabalho. Todas estas pes-soas exercem o direito a voto.A alegada morada de Ana Llorcacarece de janelas e tem o tecto e asplacas semidesmoronadas. Juntodela residem, segundo o censo,onze pessoas, entre as quais seconta a própria mae. Em casa doPresidente da Cámara, Julio CésarGarcia-Luengo, estám recensea-das mais 25 pessoas.

Garcia-Luengo foi acusado tam-bém de fraude eleitoral em 1999,quando 250 pessoas desconheci-das no concelho exerceram o voto.E também fôrom denunciados osvotos provenientes do Centro deDeficientes Psíquicos e aResidência da Terceira Idade,como informamos no quartonúmero de NOVAS da GALIZA.O talante de Garcia-Luengo ficapatente na sua opiniom acerca dadesignaçom das mesas das assem-bleias de voto nos processos elei-torais: "a vizinhança de Crescentenom tem a capacidade suficientepara fazer parte das mesas de voto,e portanto haviam de ser coloca-dos a dedo, nom por sorteio".Estám por saber os favores recebi-dos polas pessoas que obtivéromo censo irregularmente, e tambémos motivos, questom que bemdaria para escrever outra reporta-gem e que se repete sob diferentesformas ao longo da geografiagalega. Garcia-Luengo e JoséCastro nom som mais do quepequenas peças da complexa redecaciquista que permanece nopoder da Galiza de 2004.

Interventora ao serviço do PP

Residência deteriorada da paróquia de Frieira (Crescente) em que está recenseadaAna Llorca Maneiro, a interventora de Ponte Areias

10 reportagem Junho 2004 novas da galiza

Feminismo galego participa activamente na Carta Mundial das Mulheres à humanidade

Os fóruns, a Feira Feminista, oconcerto e a manifestaçom, quecongregou 30 mil pessoas sob alegenda "diferentes sim, desi-guais nom", fôrom várias daspalestras empregadas polas mul-heres para exprimirem que nomgostam da Europa que está a serconstruída sem elas.Foi a demonstraçom da necessi-dade de criar umha Europa emque nom tenham cabimento nema injustiça, nem os sistemaspatriarcais e capitalistas. Unidassob as mesmas necessidades eprecariedades, mas unidas tam-bém sob a fortaleza da cons-truçom de umha Europa emliberdade, as mulheres do velhocontinente marchárom juntas. Também em Vigo, neste mês deMaio, deu-se a conheçer o pri-meiro esboço do que virá a ser aCarta Mundial das Mulheres paraa Humanidade. Um documentoque está a ser agora enriquecidopolos contributos das mulheresdo mundo através da pagina webda Marcha Mundial e que seráfinalmente apresentado emRuanda, no ano 2005.Brigitte Verdière é a encarregadada redacçom da Carta Mundialdas Mulheres à Humanidade. Foiela a dar, em Vigo, as principaischaves do que significa este docu-mento, salientando que é "umhaferramenta reivindicada polaMarcha a fim de definir o mundoque queremos criar como feminis-tas". "A sua originalidade -acres-centava Verdière- reside no factode ser comum ao movimento dasmulheres na sua globalidade, eainda no facto de fazer um chama-mento aos homens para aderiremaos valores que nela som defendi-dos". A Carta Mundial dasMulheres assenta "em cinco valo-

res, que som, para nós, valoresfeministas: igualdade, liberdade,solidariedade, justiça e paz".O bosquejo deste documento podeser consultado integramente noweb www.feminismo.org .Igualmente, podem consultar-seneste web os textos do Fórum e osálbuns fotográficos do concerto eda manifestaçom.Maio já passou, mais depois deVigo o trabalho continua e asmulheres do mundo continuam amarchar.

Texto: Marta SalgueiroFotografia: Natália Gonçalves

No passado mês de Maio, a CoordenadoraNacional da Marcha Mundial das Mulheresdemonstrou em Vigo a sua capacidadede organizaçom com o encontro europeu.

Dous dias, 22 e 23 de Maio, para ahistória do feminismo galego. Para alémda organizaçom, que foi impecável, oencontro de Vigo demonstrou a unidade

das mulheres europeias na hora de enfrentara pobreza, a violência de género, aprecariedade laboral , a desigualdade eem definitivo, a injustiça.

Vigo, exemplo de solidariedadeeuropeia e acçom feminista

Trinta mil pessoas percorrêrom as principais ruas de Vigo no passado domingo 23 de Maio. A mobilizaçom contou com representaçom das mulheres bascas, andaluzas,francesas, portuguesas, holandesas... e de outras muitas naçons da Europa, unidas polo mesmo berro "diferentes sim, desiguais nom".A organizaçom desviou as faixas dos partidos para o final da mobilizaçom para que assim fossem as mulheres as protagonistas da sua própria marcha.

PATACHIMtaberna boémia

Beira-mar, 16. Corunha

As ruas da cidade olívica aparecê-rom tingidas por umha enormemaré lilás. A manifestaçom dodomingo marchou muito animada.A maré roxa tomou Vigo. O comuni-cado da Coordenadora Europeia daMarcha Mundial das Mulheresdizia: "Queremos que nestes dias,22 e 23 de Maio do ano 2004, asmulheres europeias, juntem as suasraivas, as suas inconformidades eprovoquem, da Galiza, do país maisocidental da Europa, estaca zero damaré negra do ano 2002, umhamaré mais impactante que a doPrestige, que obrigue os governoseuropeus a tornar prioritária a vidae o futuro numha Europa da igual-dade, a justiça e a solidariedade".

reportagemJunho 2004novas da galiza 11

A porta-voz daCoordenadora NacionalGalega Lupe Cês conseguiucom a sua arenga imprimira emoçom nas presentes. Cêscomeçou nomeando asrepresentaçons europeiaspresentes na marcha e fijoum chamamento à partici-paçom na redacçom daCarta das Mulheres àHumanidade. Ainda, a diri-gente feminista nom deixoude reclamar umha lei inte-gral galega contra a violên-cia de género.

O Parque de Castrelos foi ocenário que reuniu Tucanas,Cantareiras de Trás-Ancos,Uxia Senlle, Mercedes Peón eAmparanoia num mesmopalco e com os mesmos objec-tivos de umha Europa detodas. Durante o concerto foilido um comunidado enviadopolo grupo Souad Massi. Avocalista desta banda temnacionalidade argelina e asua presença em Vigo foiimpedida polas autoridadesao estarem fechadas as fron-teiras por causa do casamen-to do herdeiro do tronoespanhol.

Os fóruns que tivérom lugarno sábado dia 22 de Maioreunírom um grande nume-ro de mulheres a reflectiremjuntas sobre a sustentabili-dade ambiental, espirituali-dade, corpo e resistência eainda sobre os contributosfeministas na origem edesenvolvimento de umhaconstituiçom europeia.

A Feira Feminista conseguiuque durante a jornada desábado toda a zona portuáriade Vigo estivesse tomada polaspropostas das mulheres e asua visom sobre temas como oantimilitarismo, a mocidade, aimigraçom, a sexualidade, etc.Cumpre salientarmos asactuaçons de todos os gruposde teatro e música que animá-rom a feira durante todo odia. Umha feira que foi pontode encontro de visons bemdiversas sobre a vida. Foi umencontro onde se tornou visí-vel o trabalho que milhares demulheres de toda a Europaestám a desenvolver noterreno do feminismo.

12 eleiçons Junho 2004 novas da galiza

NGZ

Gostávamos que fizesses umhaavaliaçom pessoal da campanhaeleitoral que levastes a cabo. Osobjectivos fôrom cumpridos?Desde que decidimos apresentarcandidatura às Europeias, deixamosclaro que a nossa máxima aspi-raçom era conseguir as assinaturasnecessárias para participar na cam-panha eleitoral, que enfrentamosprincipalmente como ensaio organi-zativo num campo de trabalho novopara NÓS-UP. Esse objectivo foiconseguido e aí estivo o nosso prin-cipal sucesso, inédito na história daesquerda independentista galega.

Para umha força política poucoconhecida ainda, pode dizer-seque os 1308 votos da Galiza e os2571 do conjunto do Estadoreflectem um bom resultado? O resultado é acorde com o espera-do, e nom era aí que centrávamos osnossos objectivos, mas no própriotrabalho num ámbito inédito. Issonom significa que desprezemos oresultado, até porque nos serve paraestabelecer um patamar a partir doqual enfrentar umha progressom nofuturo. O patamar é baixo, similar aoque costumam atingir outras expres-sons do nosso independentismocalejados em mais 15 anos de con-corrências eleitorais. A matéria pen-dente continua a ser, para a esquerdaindependentista, construir a alterna-tiva política e social, também por-tanto eleitoral, ao esmorecentenacionalismo autonomista. Esse é onosso ponto de partida e assim deveser interpretado este resultado.

Há comarcas galegas onde osresultados de NÓS-UP fôromconsideravelmente melhores aosdo resto da Galiza. A que é devi-da esta disparidade?Nas zonas em que a organizaçomrealiza um trabalho constante aolongo do ano, deu-se um númeroalgo superior de votos, dentro damodéstia dos dados no conjunto doPaís, mas nom devemos enganar-nos. A nossa organizaçom é peque-na e a capacidade que até hoje tive-mos de fazer chegar o nosso discur-so e prática política a sectores con-cretos do nosso povo tem sido tam-bém pequena. Porém, tem havidoavanços e NÓS-UP está sem dúvi-

da no seu melhor momento, comumha base militante e territorialque permite dar novos passos emfrente. Se compararmos o momen-to actual com o de 2001, quandonasceu NÓS-UP, veremos que sedérom passos no caminho certo.Umha perspectiva na participaçomeleitoral que agora começamos irádar-nos daqui a uns anos a dimen-som dos avanços que deverám veri-ficar-se também neste campo.

NÓS-UP nom limitou a campan-ha à CAG e levou o seu progra-ma a toda a Galiza. Isto é umgrande avanço do nacionalismo,embora nas comarcas sob admi-nistraçom asturiano-leonesa osresultados fossem discretos…A campanha que fijo NÓS-UnidadePopular foi muito séria, embora limi-tada polas carências de todo o tipoque enfrentamos. Graças a um imen-so trabalho das pessoas verdadeira-mente identificadas com o projectoque representa NÓS-UP, demosumha boa imagem que fijo com quealgumhas pessoas estivessem à espe-ra de uns resultados irrealistas.Dentro dessa seriedade, podemossituar umha imagem cuidada, umcompromisso lingüístico avançado ea inclusom de todas as comarcasgalegas como objectivo da campan-ha. Mas no nosso actual nível dedesenvolvimento, os apoios depen-dem estritamente da nossa capacida-de de chegar a um número necessa-riamente limitado de pessoas, comode facto aconteceu. Só um maiordesenvolvimento organizativo eumha maior introduçom social emsectores concretos garantirám empróximas citas eleitorais um reflexoproporcional nos votos recebidos.Pensar num crescimento a partir donada é construir castelos no ar queapenas podem provocar frustraçom.

Em certas zonas do resto doEstado fôrom atingidos resulta-dos nada desprezíveis. O PaísBasco ou os Países Catalans somalgumhas delas, mas chama aatençom o caso de Madrid, ondeNÓS-UP atingiu um grandenúmero de sufrágios. Voto emi-grante ou compreensom danossa problemática?Durante a campanha recebemosapoios e pedidos de materiais decampanha para serem distribuídos

entre as comunidades emigrantesgalegas em diversos pontos doEstado. Devemos agradecer muitoespecialmente o apoio desses com-patriotas obrigados a ganhar o pamlonge da Pátria e também, claro, aquem fijo do voto em NÓS-UP umgesto de solidariedade internacio-nalista.

Quanto aos resultados na CAG,NÓS-UP nom conseguiu ultra-passar o limite que se tinha colo-cado durante a campanha: supe-rar o número de sufrágios queoutras forças independentistastinham atingido noutras convo-catórias. Isto já foi avaliado polaorganizaçom?Termos superado a percentagem deoutras forças com muitos anos deexperiência neste ámbito seriamuns grandes resultados. Em lugardisso, só igualamos essa percenta-gem, daí que tenhamos falado emtermos de "moderada satisfaçom".Porém, na análise dos resultadosnom devem esquecer-se as extraor-dinárias dificuldades que enfrenta-mos, que nom se limitárom à opo-siçom mediática e à hostilidadepolítica dos nossos inimigos eadversários. Também um reduzidogrupo de pessoas filiadas a NÓS-UP fijo a sua própria contra-cam-

panha, boicotando as decisonsdemocráticas e abandonando o tra-balho eleitoral mesmo antes decomeçarmos a recolha das assinatu-ras. Som os representantes dessalinha anarquizante que sempreacompanhou os diversos projectosorganizativos da esquerda indepen-dentista galega. Lembremos comojá em 1993 se produziu um factosimilar com o abandono de um sec-tor de militantes da APU, quandoesta decidiu participar nas eleiçonsautonómicas daquele ano. Demaneira lamentável e desleal, estaspessoas que julgávamos seremcompanheiros e companheirasoptárom desta vez por entorpecer otrabalho de NÓS-UP, incluindo autilizaçom dos meios em que exer-cem influência, como é o caso destejornal ou do portal Galizalivre.Quero com isto dizer que a quanti-dade de condicionantes negativosque enfrentamos ajudam a explicaro modesto resultado atingido.

Ainda na CAG, é preocupante ofacto de organizaçons estrangei-ras que se definem como inde-pendentistas e anti-sistema ten-ham atingido um grande núme-ro de votos. Qual terá sido arazom de NÓS-UP nom ter con-seguido aglutinar esses sufrá-

gios?Há que ter em conta, para já, o altoíndice de abstençom, que atingiunom apenas as organizaçons maio-ritárias, como também as extrapar-lamentares. Houvo umha quedageneralizada de apoios, em votos eem percentagens, que pode ser veri-ficada conferindo os dados deeleiçons anteriores. Nesse contexto,NÓS-UP ficou na percentagemhabitual da esquerda independen-tista, por cima da maior parte daspequenas candidaturas, emborasem diferenças significativas. Éclaro que, na nossa primeira partici-paçom eleitoral, nom conseguimosainda converter-nos no referenteeleitoral da maior parte dessesvotos anti-sistema, mas isso res-ponde à lógica que expliquei ante-riormente.

A outra força do nacionalismogalego, o BNG, continua a perdero apoio eleitoral que tinha ganhona década de 90 e o voto galegovoltou a concentrar-se nas duasforças espanholistas… Peranteesta situaçom geral e a vossa pró-pria, como encarará NÓS-UP osnovos reptos eleitorais?Como dixemos durante a campan-ha, as eleiçons som para nós maisum campo de trabalho político.Nem as sobredimensionamos, nemas desprezamos. É curioso comoaquelas pessoas que dim desprezaro valor das convocatórias eleitoraisacabam por fazer girar as suas aná-lises políticas, as suas decisons"principistas" e as suas frustraçonse ataques à volta de resultados per-feitamente previsíveis e explicáveisa partir do actual nível de desenvol-vimento do nosso movimento.Quanto aos resultados atingidos poloBNG, tal como os nossos, embora pormotivos diferentes, eram perfeita-mente previsíveis. Se ao alinhamentoautonomista acrescentarmos a identi-ficaçom com posiçons abertamentedireitistas como as do PNB e sobretu-do CiU, é fácil explicar a perda dedous terços dos apoios por parte doBNG. O mais grave é comprovarmoscomo o BNG está a facilitar a "recon-quista" do território eleitoral galegopor parte dos partidos mais compro-metidos com a desapariçom daGaliza como realidade nacional ecom a perda de direitos por parte damaioria social galega.

Como se adivinhava durante a campanha eleitoral e como acabou por verificar aelevada abstençom, nom eram estas umhas eleiçons que fossem concentrar o inte-resse da maioria da populaçom galega. Porém, apresentavam algumhas caracterís-ticas que despertavam a curiosidade de grande parte do nacionalismo galego. Polaprimeira vez, o Bloco Nacionalista Galego concorria coligado com forças naciona-listas estrangeiras situadas à direita do espectro político, e também pola primeiravez numhas eleiçons europeias, a única candidatura unicamente galega procedia doindependentismo: NÓS-UP. Em geral, os resultados das forças do nacionalismogalego nom fôrom bons, mas, no que diz respeito à organizaçom independentista,

nom era esta a única consulta que NÓS-UP realizava. A apresentaçom à sociedadegalega, o acolhimento que iria ter o seu inovador discurso e umha potente campan-ha de angariaçom de assinaturas para possibilitar a legalizaçom da candidatura,também constam desta aposta de NÓS-UP.Neste número fomos analisar os resultados com o candidato independentistaMaurício Castro, adiando para um próximo número umha entrevista com o candida-to do Bloco Nacionalista Galego Camilo Nogueira, que declinou ser entrevistadoaté a confirmaçom definitiva de realmente ter sido eleito deputado, ainda em risco àespera do voto emigrante.

Maurício Castro foi candidato de NÓS-Unidade Popular às eleiçons europeias

“NÓS-UP está sem dúvida no seu melhor momento”

Maurício Castro, candidato de NÓS-UP às eleiçons europeias

váriosJunho 2004novas da galiza 13

Pitágoras não teriamuito espaço no mundocontemporâneo 100%capitalista. Se qualquerpalerma pudessePatentear o seu teoremalucrando a cada vez queum ou uma de nós ousa-se, o Pitágoras teriapreferido pensar quenada fez para a existên-cia desse teorema.Séculos depois, a UniãoEuropeia, por iniciativada presidência da verdeIrlanda, quer começar aPatentear o Software.Não é o teorema dePitágoras, mas, o que éque seria do Softwaresem Pitágoras e o que éque seria da nossasociedade sem oSoftware? Queremfechar-nos o triângulo.Na União Europeia,unindo votações abotão, estão a discutirsobre a conveniência daPatenteabilidade doSoftware. E até aqui,ficamos com os alarmesacessos, mas façamoshistória partindo dofuturo: primeirocomeçaram poloSoftware mas eu nãoera Software, logoPatentearam o Hardware mas eutão-pouco o era, logoPatentearam o Firmware, e olheipara outro lado, e quando já pare-cia que tudo tinha sido atingido,foi quando Patentearam oHumourware, o humor que leva-mos todos dentro.E cada vez que dava uma boarisada ou apenas desenhava umsorriso, tinha de pagar a alguémque vivia num gabinete cinzento,de fato cinzento, um homem oumulher com título literário. E foiquando deixei de achar graça,desgraça. Comecei por pagar, pri-meiro os sorrisos completos,sorrisos claros, sorrisos alfa boca-fechada e omega ensinodentado,mas quando me chegava a facturaanual a pagar à companhia deadvogados dessa empresa de quenem conhecia o nome por uso edesfrute do meu riso, comecei aimaginar que eu também poderiater vocação Patenteadora, ePatentear Patentearei loguinho declarear. Treinei, diante do espel-

ho, novos sorrisos gratuitos,imPatenteáveis, e mesmo sonheiem alguma vez patentear ummeu, original, e toda a gentepagaria por ele. Achei-o tão bom.Peguei no caderno, e quando, emreuniões familiares, ou em listasda Internet a ler correios, umsorriso vinha à minha boca,modelava com um toque dededos essa nova criança e criava

e baptizava o novosorriso close-up comtítulos e a sua des-crição: sorriso cínico:sem mostrar dentesalargar de todo oslábios; sorriso jogadorde mus: pôr lábios parabeijo apertado e caradireita; sorriso arteris-co: variante daquele domus mas sem virar paraa direita, e por fim aminha grande criaçãopensei: sorriso orien-tal: lábios para trás detodo simulando ver-gonha e paciência.Com eles todos dirigi onovo caderno e osmeus sorrisos demons-tração para a capital,escritório de Patentesera enxergado lá nofundo da rua. Exerciteiesses sorrisos uma eoutra vez, tentandodemonstrar que eu erao pai deles, todosforam patenteadosmenos um. O sorrisooriental tinha sido umdos primeiros a serregistado, China eraum grande mercado. Osorriso mus, patentea-do por qualquer empre-sa da Espanha espan-

hola, o sorriso arterisco, patentea-do por uma estudante contem-porânea.E só ficava com a Patente do meusorriso cínico. Quase no enfarte.No entanto fiquei tranquilo, aopensar nos muitos benefícios quedaria em todo o mundo. Mas nemimaginava um ano depois queeste sorriso cínico, só foi factura-do a aqueles homens e mulheresde gabinete cinzento com títuloliterário, que estavam a ganharmuita massa com outrasPatentes, patenteando risos econhecimento, patenteando osprogramas e aplicações quegeram os cérebros dos humanos,patenteando Pitágoras e seu teo-rema se pudessem, patenteando,em definitivo, o Software Nossode cada dia. O Software livre ouproprietário, que faz com quesejam possíveis tantas coisas dodia-a-dia, como escrever esteartigo, até que qualquer UniãoEuropeia decida engaiolá-lo. Nãovenha a ser perigoso…

Xavier Paz

O Catálogo de Autores da Límia éumha iniciativa do Museu daLímia -sediado no concelho deVilar de Santos- e produzida polaDifusora de Letras, Artes e Ideias,que tenta aproximar do mesmo osautores e autoras da comarcaassim como utilizar o espaço e aprojecçom do museu para a difu-som das suas obras. Também se propom a recupe-raçom da memória no ámbitocomarcal, o reforçamento dosvínculos entre os autores ou auto-ras, a valorizaçom do patrimóniocultural da comarca, a disposiçomde umha publicaçom que sirva deconsulta e trabalho nos centrosescolares e quanto poda contri-buir para a estruturaçom e a coe-som cultural da Límia.O catálogo propom vinte e cincoautores e autoras nos campos lite-rário e das humanidades, quenascêrom no século XX e somnaturais ou tenhem origem oualgumha vinculaçom à Limia. Nogrupo, três mulheres: CarmenAgulló, Chus Pato e MaríaRuído; e vinte e dous homens:Isaac Estravis, Luís ÁlvarezPousa, Rois Brâs, Xosé LuísCarneiro, Cándido Casal, CarlosCasares, Delfín Caseiro, XoséManuel Cid, Federico Cocho,Xosé Manuel Enríquez, ManoelFonte Moura, Luís García Maña,Manuel Mandianes, MiguelMarvoa da Límia, Luís Otero,Claudio Pato, José A. PérezBouza, Elixio Rivas Quintas,Antón Riveiro Coello, FranciscoSalinas Portugal, Avelino Soteloe Antón Tovar.

Para cada autor ou autora pro-pom-se umha breve recenson bio-gráfica, os seus contributos cultu-rais e reconhecimentos, assimcomo a sua produçom bibliográfi-ca e as diferentes revistas e meiosem que o autor ou autora tenhacolaborado. Reproduzem-secapas de algumhas das obras maissignificadas assim como umhafotografia actual.Este Catálogo de Autores daLímia insere-se nas propostas quelança a recentemente apresentadaBiblioteca da Límia, iniciativa dopróprio Museu da Límia. Trata-sede umha biblioteca especializadana temática comarcal que trabalhapara adquirir todos os fundosbibliográficos sobre a Límia emqualquer suporte. O conceito debiblioteca fica ultrapassado,aproximando-se mais do demediateca ou politeca, porquantoa documentaçom que acolhe abiblioteca e a que será acrescen-tada no futuro pode ser qualquertipo de documento e em qualquersuporte. Oferecem-se, assim, liv-ros, fotografias, mapas, cartazes,vídeos, gravaçons sonoras, parti-turas, etc.A incorporaçom das tecnologiasdigitais vai permitir a incorpo-raçom de documentos de difícil ecustoso acesso. Para isto, oMuseu da Límia tem previstoassinar convençons com outroscentros bibliotecários e arquivosque permitam a reproduçom des-tas obras e documentos de difícilaquisiçom.Ainda, neste ano, a Biblioteca daLímia tem previsto publicar noweb do museu o catálogo emlinha desta biblioteca.

Patentear o Teorema de Pitágoras25 autores e autoras

componhem o Catálogo da Límia

vários

J.R. Pichela Umha iniciativa do Museu da Límia produzidapola Difusora de Letras, Artes e Ideias.

Propom a recuperaçom da memória no ámbito comarcal,o reforçamento dos vínculos entre os autores ou autoras e

a valorizaçom do património cultural

Na União Europeia, unindo votações a botão, estão a discutirsobre a conveniência da Patenteabilidade do Software

Não é o teorema dePitágoras, mas, que

seria do Software semPitágoras e que seriada nossa sociedadesem o Software?

Querem fechar-noso triângulo

14 cultura Junho 2004 novas da galiza

portal galego da língua

Novo inquérito mostraretrocesso do galego na Galiza

PGL. O Instituto Galego de Estatística(IGE) publicou um módulo específicode conhecimento e uso do galego quereflecte a existência de um claro pro-cesso de substituiçom lingüística. Omódulo centra-se nas capacidades eusos da língua falada e da língua escri-ta, nom fornecendo dados significati-vos no que diz respeito à capacidadereal de leitura em galego (subordinadaa um ambíguo "compreensom do gale-go escrito") ou à prática habitual daleitura nesta língua.Umha primeira análise poderia convidarao optimismo, pois do ponto de vistasincrónico o galego continua a ser aindalíngua maioritária no País. No entanto,umha análise que leve em conta as dife-renças de uso intergeracionais, mostraum panorama muito mais pessimista.Está a se produzir um decréscimo brutaldo monolingüismo em galego, acom-panhado, nas geraçons mais novas, deum decréscimo significativo do númerode pessoas que afirmam falar habitual-mente mais galego. O número de mono-língües em castelhano e de pessoas queafirmam falar habitualmente mais cas-telhano avança ao mesmo tempo, tripli-cando-se entre as novas geraçons.Vemos que mesmo entre os mais novosse regista um número realmente baixode pessoas com habilidades plenaspara fazer uso do galego escrito. E ape-sar de se ter produzido umha certa evo-luçom positiva a respeito de geraçonsanteriores, esta melhoria parece nomchegar acompanhada de um aumentode usos suficientemente significativo.O inquérito mostra algum aspecto positi-vo, como a tendência que prova que aspessoas mais novas, se nalgum momen-to ao longo da sua vida mudam de lín-gua, o fam preferentemente para ao gale-go, ao contrário das pessoas mais velhas.Mas, como noutros casos, estes peque-nos aspectos positivos carecem deimportáncia, umha vez que só 5,47 dapopulaçom galega afirma ter mudadode língua habitual. Em suma, estamosperante mais outro inquérito a retrataro processo de substituiçom da nossalíngua polo castelhano, com metodolo-gias, resultados e conclusons muitosimilares às de inquéritos anteriores.

A Mesa propom àspessoas candidatadaso uso do galego noParlamento Europeu

PGL. A Mesa dirigiu-se aos prin-cipais candidatos galegos e gale-gas ao Parlamento Europeu pro-pondo que usem neste fórum onosso idioma. “O galego como talnom é oficial dentro deste orga-nismo, mas sugerimos que sejausado, dada a semelhança donosso padrom com o português,que sim é reconhecido plenamen-te”. De facto, nos últimos anos jáficou demonstrado que é totalmen-te inteligível e integrável dentro dotrabalho dos serviços de traduçome taquigrafia existentes.

Projectam PrémioCarvalho Caeirocomo referenteinternacional dacrítica lusófona

PGL. O ensaio de Raquel BelloVázquez intitulado Mulher,nobre, ilustrada, dramaturga.Teresa de Mello Breyner no siste-ma literário português do últimoquartel do século XVIII, ganha-dor do prémio Carvalho Caeirona ediçom deste ano, está a pro-porcionar a esta iniciativa daCámara Municipal de Ferrolumha importante projecçominternacional. Raquel Bello pes-quisa sobre Teresa de MelloBreyner, umha mulher comimportantes realizaçons no sécu-lo XVIII, nom figurando, porém,no cánone português e sendocitada apenas tangencialmentenos trabalhos sobre o seu tempo,em que sempre aparece relacio-nada com a figura da Marquesade Alorna. Participou decisiva-mente na fundaçom da Academiadas Ciências de Lisboa e é autorade Osmia, título de grande relevopara a dramaturgia portuguesa doseu tempo, que Raquel BelloVázquez edita agora como partedo seu interessante contributo.

Pedem resoluçomem prol do galego noBerzo e nas Portelas

Fala Ceive. Fala Ceive está areclamar a execuçom da CartaEuropeia das Línguas Regionaisno respeitante à língua galega noBerzo e nas Portelas da AltaSeabra sob administraçom samo-rana. O colectivo berciano instouas Cortes de Castela e Leom paraaprovarem umha resoluçom dereconhecimento expresso do con-teúdo da Cartas Europeia dasLínguas Regionais ouMinoritárias (Estrasburgo, 5 deNovembro de 1992), que inclua ocompromisso de implementá-laem tudo quanto afectar a pro-tecçom e fomento da língua gale-ga entre os seus falantes nessaComunidade Autónoma.

Portugal Indymedialança editorial

sobre o conflito dalíngua na Galiza

Luis M. O núcleo português doprojecto IMC-Portugaliza (portu-gal.indymedia.org) lançou no pas-sado 6 de Junho um editorial sobrea situação da língua na Galiza. Notexto: ‘Galiza: a resistência lusófo-na a um genocídio linguístico’,fala-se do relatório da UNESCOque apontou a alarmante situaçãoda nossa língua na Galiza. Tambémsão explicadas as razões da domi-nação do castelhano na Galiza,ainda quando o galego-portuguêscontinua a ser maioritário. Fazem-se também referencias explícitas àausência de direitos linguísticos dopovo galego, em referência à escas-sa presença da nossa língua noensino e às barreiras que o Estadoespanhol está a pôr para arecepção dos sinais de TV e rádioportuguesas. Finalmente, no textofaz-se um apelo "à solidariedadedo resto de comunidades lusófo-nas no mundo (nomeadamente emPortugal e no Brasil) com o povogalego e a defesa da Lusofonia anorte do rio Minho".

[email protected]@terra.es

A situaçom que se mostra numha primeira análise revela que, do ponto de vistasincrónico, o galego continua a ser ainda língua maioritária no País

Está a se produzir um decréscimo brutal do monolingüismo em galego. O númerode monolíngües em castelhano avança ao mesmo tempo.

As pessoas mais novas, se nalgum momento ao longo da sua vida mudam de língua,fam-no preferentemente para ao galego, ao contrário das pessoas mais velhas

Mesmo entre os mais novos se regista um número realmente baixo de pessoascom habilidades plenas para fazer uso do galego escrito.

músicaJunho 2004novas da galiza 15

música

Davide Loimil e Inácio Gomes

Safari Orquestra é umha bandalucense que explora com os seussons diversas possibilidades, daelectrónica mais vanguardista eo house-jazz até o downtempo.Composta por alguns dos ele-mentos dos já dissolvidosSkornabois, trata-se de umhaatrevida aposta actual que con-duz a nossa música para terrenosexpressivos que mal foramensaiados ainda. Nesta linha, amaqueta desta Safari Orquestravolta a pôr de manifesto a neces-sidade que tem o galego deultrapassar fronteiras e descom-primir-se, convertendo-se numidioma que empape toda a pro-duçom musical feita no País.Este é aliás o propósito da for-maçom, que avalia positivamen-te a presença do idioma em pro-postas que vaiam para além dogrupo combativo ou do folk.Para além do mais, é especial-mente positivo, quando estamosa falar de Safari Orquestra, cons-tatar como é valorizada, acimade tudo, a qualidade das compo-siçons, com bases carregadas demelodia e suavidade e com letrasinteligentes que vam do íntimoao social, tratadas neste últimocaso de um jeito atípico dentrodo contexto musical galego. Avoz característica do Emilio pre-

enche de originalidade o resulta-do final, já que, se a isto somar-mos o facto de empregar o gale-go como meio para comunicar,fai com que estejamos peranteumha das receitas musicais maisinteressantes de todas as cozin-hadas na Galiza do recém estre-ado século. Um conjunto comumha fascinante proposta quecom certeza surpreenderá muitose muitas. Foi isso o que aconte-ceu no auditório de Compostela,no festival "Em Pé de Letra".Nele pudemos desfrutar de duaspeças de Safari Orquestra. O pri-

meiro que chamou aatençom foi a for-maçom sobre opalco. Um contra-baixo e um compu-tador punham somà voz do Emiliocom um resultadoóptimo. Desde oprimeiro momen-to pudo ser perce-bida a qualidadeda produçom,levada avantepor eles mes-mos, e ainda aoriginalidade doprojecto, umdos factos quesem dúvidamais agradece-mos aqueles eaquelas queestamos inte-ressados nom o v i m e n t omusical galego, sendo tambémàs vezes um dos aspectos de quemais sentimos a falta.Aproveitemos entom para rei-vindicar o trabalho artístico dequem tem desempenhado estatarefa, que demonstra que hojeem dia nom há que investirumha fortuna para se atingiremresultados mais do que dignos,sem ser preciso ter freqüentadoqualquer curso de pós-gra-

duaçom. Problemas? Os de sem-pre. Existe um dramático vazioestrutural para oferecer umhasaída para as criaçons autócto-nes. A falta de auto-organizaçomem que vivemos como Povoreflecte-se com toda a crueza noámbito musical, em que carece-mos das ferramentas necessáriaspara editar trabalhos, organizarturnés, etc, tarefas que na actua-

lidade se estám a gerir de fora doPaís. Nas mentes de SafariOrquestra contempla-se a ideiade um disco com cepticismo (ourealismo?), e por enquanto o tra-balho vai centrar-se na confor-maçom de umha banda coesaque poda tocar durante o Invernoa um bom nível, avaliando-sedepois outras possibilidades.

safari orquestraComposta por alguns dos elementos dos já dissolvidos Skornabois, trata-sse de umha atrevida aposta actual

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Safari Orquestrapom de manifesto anecessidade que tem

o galego deultrapassar fronteirase descomprimir-se,

convertendo-senum idioma queempape toda a

produçom musicalfeita no País

O mais perto que eu estive deumha vaca nunca foi quando aminha mae me dava o leite com"cola-cao" lá polos anos sessentano bairro da Polvoreira emOurense. Até que casei e me viobrigado a ajudar o meu sogro naarranca das batatas nom me inteireido que era um sacho, e com asminhas maos furei colheitas intei-ras do, na actualidade, tubérculonacional. Ainda hoje nom distingoum melro de umha pega. Escuteimuito antes a guitarra de MarkKnopfler do que a arpa de EmilioCao. Dos choupins dixérom-meque se colhiam polos prados àbeira das estradas, e sempre é o diaem que espero topar-me comalgum quando estou a pedir boleia.A mim, é-me o mesmo um carval-ho que um pinheiro e conheci antescompanheiros e companheiras daescola com esses apelidos do queessas árvores com tam poéticossubstantivos.Passei tardes inteiras a rir do meuprimo, Lito de Riba d'Ávia, polasua teima em chamar cadelo aocam de palheiro da estanqueira doterceiro direita. Do transportemedieval estudado polo Xocas econvertido em hino rural na voz doMíni, jamais poderei dizer que otenha visto em activo carregado deerva para o gado. E já das cousasdo mar sou tam ignorante queentendo melhor o Mistério daSantíssima Trindade que isso dequando sobem ou baixam asmarés. Das sardinhas sei que sommuito boas polo Sam Joám, masque ninguém me leve com cana eanzol para apanhá-las porque nomsei que bicho comem, ainda queconheça um de Bascois que asapanha à colherinha.Nem como caldo, nem bebo vinhodo País. Para mim, o porco é umanimal que só tem de bom o pre-sunto, se for fiambre. Com estesantecedentes e tendo como destinomilitar, se fosse recrutado, oRegimento de Infantaria Canárias50, entendo perfeitamente que asminhas actividades nom entremem nenhum dos programas a sub-sidiar polo Jacobeu. No entanto,depois de levar quarenta e tal anosa viver na Galiza, parece-me des-proporcionado nom ter recebidoum desses convites gratuitos queas instituiçons e pessoas com cargopúblico repartem aos montons paraentrar sem pagar a ver o Pavarottiou, como de certeza dirá PérezVarela, os Res Gol Chile e Pepes.Será porque ainda nom uso boina.

Marta Salgueiro

Alexandra de Queirós continuana cadeia de Teixeiro, aondetem de ir dormir todas as noitesantes das 23h00. Recusam-lhequalquer tipo de "benefíciopenitenciário". Recusam-lhe aliberdade condicional, mesmocom dispositivos de locali-zaçom. Umha condenaçom quesignifica um desgaste de energiae económico difícil de suster.Mas a Xandra nom baqueia. Jáo fijo há tempo mas voltou a sicom mais força. Desde que achamárom para participar emSons Delas, Alexandra decidiutentar encontrar a sua inde-pendência económica e pessoalcom o acordeom. E essa é a ima-gem desta mulher que transmi-te fortaleza apesar da sua timi-dez. Polas ruas de Compostelaencontramos a Xandra com aseu acordeom sempre às costas,de um lado para o outro, comumha actividade vertiginosa.

Como é que decidiste fazer damúsica a tua forma de vida?Tudo começou com o espectáculoSons Delas, tive essa oportunida-de e aceitei, cheia de medo masaceitei. E isso foi o começo.Tenho que ganhar a vida mastenho muitas limitaçons. Passeitoda a minha juventude na cadeia,e isso implica que nom tenho nen-huma experiência laboral. Dehotelaria nada sei, de computado-res também nom, porque a infor-mática começou a desenvolver-sequando eu estava na prisom, nompodo passar toda a vida a estu-dar... assim que decidi aprender eaperfeiçoar o que sabia de acorde-om e dedicar-me a isto. Agoratudo corre melhor porque toco emdiferentes associaçons e até douexplicaçons. Comecei a tocar emcriança, com um senhor da minhaaldeia, que nom se dedicava pro-fissionalmente à música massabia tocar acordeom e aprendialgumha cousa. Nom aprendimuitíssimo, é verdade, masadquiri as primeiras noçons.Depois fui melhorando e agoraespero poder aperfeiçoar o que jásei.

Mas se tens que voltar todas asnoites ao cárcere nom poderás

actuar em alguns concertos,polo menos os nocturnos…Evidentemente, há concertos quenom podo programar. Porque eutenho que ir dormir todos os dias àCorunha. Às onze da noite tenhoque estar ali. Assim que a progra-maçom de concertos torna-seincompatível com a cadeia. Masquando podo, tenho actuaçons emmuitas associaçons e locais, que,evidentemente, ham de ser bemcedinho. Na verdade, o ritmo queestou a levar é que bastante activo.Por exemplo, fui ao acto daMarcha Mundial das Mulheres emVigo, onde para além de tocaracordeom, fomos falar eu e a Sefa.Custou-me muito esforço porqueeu no domingo à primeira horatinha de estar a dar aulas emCompostela. Assim que nesteVerao penso manter algumha aula,mas espero poder suspender todosos outros compromissos e dedicar-me à minha formaçom, porqueumha pessoa nom pode estar umano após outro a tocar o mesmo.Acontece que eu, entre os com-promissos e o regime penitenciá-rio, nom tenho tempo para nada,ando todo o dia de aqui para acolá.Por isso, neste Verao, quero ir aaulas para aperfeiçoar o meurepertório e dedicar-me à minhaformaçom musical em geral, man-tendo os ensaios com umha bandaem cuja formaçom andamos a tra-balhar. Ainda nom há nada combi-nado, mas penso que correrá beme tenho muitas esperanças nela.

Como já dixeste, continuas com

a obrigaçom de ir dormir todosos dias a Teixeiro…Continuo, todos os dias. Nomtenho tempo para a minha vidaprivada, tiram-me a oportunidadede ter tempo para a intimidade,para mim própria. Agora levobem esta situaçom, mas já afun-dei animicamente varias vezes,embora sempre conseguisse recu-perar. A situaçom vai minandoforças e acaba com a energia.Mas agora estou melhor e tenhoentusiasmo para continuar adesenvolver-me como pessoa.

Qual é entom a situaçomactual? Quando recuperarás aliberdade?É unha verdadeira incerteza, por-que poderia ter acesso à liberdadecondicional em 2005, mais estoucerta de que ma recusarám, assimque mesmo pode ser que haja deesperar até o ano 2010. Há dezanos também tinha feito estas con-tas e nom me enganei. Assim émuito difícil fazer vida, resolver avida com as limitaçons que teimpom o facto de estar condicio-nada desta maneira. E ainda... asdespesas, que nom som um pro-blema menor. O facto de ter de ir àCorunha e voltar para Compostelatodos os dias supom umha despe-sa muito grande, para a qual afor-tunadamente sempre tive ajuda.Mesmo assim, vivo todo o dia atrabalhar para conseguir o dinhei-ro para voltar à cadeia. Destamaneira, o stresse consegue remo-er o ánimo de umha pessoa, pormais forte que ela seja, porque

ainda é preciso conseguir essoutroeuro para poder voltar. Eu semprecontei com ajuda, nunca estiveabandonada, isso há de ficar muitoclaro, e eu agradeço imenso. Oque se passa é que eu gostava deser totalmente auto-suficiente.

E os métodos de localizaçomfora da prisom?Existem métodos de controlo forada cadeia. Mas fôrom-me recusa-dos. Na verdade, também nom énenhuma maravilha, porque coma pulseira localizadora teria deestar em casa também antes das23h00 da noite, sendo-me impos-sível fazer concertos na mesma.Mas polo menos teria mais liber-dade de movimentos e nom teriaque ir todos os dias à Corunha.Mas o facto é que me foi recusada.Também me foi recusada a locali-zaçom presencial, quer dizer, aapresentaçom cada quinze diasperante um juiz ou juíza. Voltei asolicitá-la, mas nom sei... E istoacontece apesar de, nesta oca-siom, a Junta de Tratamento daCorunha ter dado o seu parecerfavorável a estas medidas. Porém,Madrid denegou-as logo polo meu"carácter delituoso e penal".

E como enfrenta a Xandra ofuturo?O futuro quero vê-lo bem, emboranom acredite muito nestas previ-sons. Estou a ver que vai custarmuito trabalho. Agora estou comforças e com vontade, muita,sobretudo de poder ter autonomiae independência.

“Jamais me senti abandonada, sempre contei comajuda, mas preciso de ser auto-suficiente”

a entrevista Alexandra de Queiros Fora-de-jogoXan Carlos Ánsia