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Redacçom A Costa da Morte tem figurado amiúde como protagonista das crónicas económicas e sociais mais negras do País. Os eleva- dos índices de desemprego e emigraçom e as catástrofes ambientais teimam em fazer honra ao seu nome. Agora, umha operaçom impulsionada por Fraga poderá vir a marcar o futuro de um dos mais valiosos tesouros naturais da Galiza. No início do ano 2000, a Bazán, na actualidade Izar, assinou um contrato multimilionário com o governo norueguês para a cons- truçom de cinco fragatas. Este contrato, especificava a neces- sidade de que existissem con- trapartidas importadoras e outras "compensaçons" espe- ciais. Tratava-se de favorecer a penetraçom de empresas norue- guesas de carácter monopolista na Galiza. Afinal, nom sabemos a magnitude da reconversom que o PSOE prepara para Izar, mas já conhecemos o enorme impacto ambiental e a escassa repercussom laboral da aterra- gem de Stolt-Nielsen na costa ocidental galega. PÁGINA 7 novas da Número 22, Setembro de 2004 Plataforma cívica em defesa do monte galego Dez pessoas serám julgadas pola luita em defesa da Ria da Arouça Solicitam construir superporto na Ria de Ares Manifestam-se na Ulhoa contra a barragem de Frádegas Em perigo mais de 1500 empregos de Izar na Galiza Centro social Aeito despejado em Compostela Constituiçom Europeia e Autodeterminaçom Braulio Amaro 22 número Morreu Manuel Maria, o poeta da Terra Chá Costa da morte, moeda de troca de Fraga Emmet Manuskoske O Fórum de Barcelona acaba com umha corrida espectacular para, com a fórmula "défice zero" nas bocas de quem o organizou, esconder o enorme desembolso que, desde o início, foi tam criticado pola sociedade barcelonesa como louvado polos media oficiais. Nom pare- ce, no entanto, que venha a ser possível ocultar que o pretenso Fórum da "diversidade cultural, do desenvolvimento sustentável e das condiçons para a paz" foi financiado por quem também financia guerras e miséria e aca- bou por assentar os mesmos valores de sempre: fraudes imo- biliárias, desenvolvimento insustentável e unificaçom do pensamento. PÁGINA 10 Redacçom No passado dia oito de Setembro faleceu na Corunha Manuel Maria Fernández Teixeiro, aos 74 anos. Com 47 poemários converteu-se num referente inescusável para a literatura galega, tendo sido o poeta que inaugurou a escrita em galego após o golpe fascis- ta de 1936. Manuel Maria des- tacou-se pola plena identifi- caçom com o nacionalismo e mesmo por ter defendido a ortografia histórica do galego com a publicaçom de algum livro nesta norma. Do NOVAS DA GALIZA, que publica um neste número um artigo de Xosé Estévez sobre a sua figu- ra, dizemos-lhe um afectivo "até sempre!". PÁGINA 13 Fórum, som mais as vozes que as nozes

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Redacçom

A Costa da Morte tem figuradoamiúde como protagonista dascrónicas económicas e sociaismais negras do País. Os eleva-dos índices de desemprego eemigraçom e as catástrofesambientais teimam em fazerhonra ao seu nome. Agora,umha operaçom impulsionadapor Fraga poderá vir a marcar ofuturo de um dos mais valiosostesouros naturais da Galiza. Noinício do ano 2000, a Bazán, naactualidade Izar, assinou umcontrato multimilionário com ogoverno norueguês para a cons-truçom de cinco fragatas. Estecontrato, especificava a neces-sidade de que existissem con-trapartidas importadoras eoutras "compensaçons" espe-ciais. Tratava-se de favorecer a

penetraçom de empresas norue-guesas de carácter monopolistana Galiza. Afinal, nom sabemosa magnitude da reconversom

que o PSOE prepara para Izar,mas já conhecemos o enormeimpacto ambiental e a escassarepercussom laboral da aterra-

gem de Stolt-Nielsen na costaocidental galega.

PÁGINA 7

novas daNúmero 22, Setembro de 2004

Plataformacívica em defesa do monte galego

Dez pessoasserám julgadaspola luita emdefesa da Riada Arouça

Solicitamconstruirsuperporto na Ria de Ares

Manifestam-sena Ulhoa contraa barragem deFrádegas

Em perigomais de 1500empregos deIzar na Galiza

Centro socialAeito despejadoem Compostela

ConstituiçomEuropeia eAutodeterminaçomBraulio Amaro

22número

Morreu Manuel Maria,o poeta da Terra Chá

Costa da morte, moeda detroca de Fraga

Emmet Manuskoske

O Fórum de Barcelona acabacom umha corrida espectacularpara, com a fórmula "déficezero" nas bocas de quem oorganizou, esconder o enormedesembolso que, desde o início,foi tam criticado pola sociedadebarcelonesa como louvadopolos media oficiais. Nom pare-ce, no entanto, que venha a serpossível ocultar que o pretensoFórum da "diversidade cultural,do desenvolvimento sustentávele das condiçons para a paz" foifinanciado por quem tambémfinancia guerras e miséria e aca-bou por assentar os mesmosvalores de sempre: fraudes imo-biliárias, desenvolvimentoinsustentável e unificaçom dopensamento.

PÁGINA 10

Redacçom

No passado dia oito deSetembro faleceu na CorunhaManuel Maria FernándezTeixeiro, aos 74 anos. Com 47poemários converteu-se numreferente inescusável para aliteratura galega, tendo sido opoeta que inaugurou a escritaem galego após o golpe fascis-ta de 1936. Manuel Maria des-tacou-se pola plena identifi-caçom com o nacionalismo emesmo por ter defendido aortografia histórica do galegocom a publicaçom de algumlivro nesta norma. Do NOVASDA GALIZA, que publica umneste número um artigo deXosé Estévez sobre a sua figu-ra, dizemos-lhe um afectivo"até sempre!".

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Fórum, sommais as vozesque as nozes

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segunda

Editora: Minho Media S.L.

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Fecho de Ediçom: 15.09.04

2 segunda Setembro 2004 novas da galiza

Constituiçom Europeia e Autodeterminaçom

Braulio Amaro Caamaño

Quando falamos da ConstituiçomEuropeia, estamos a referir um texto ela-borado de costas à imensa maioria doscidadaos e cidadás (nom súbditos e súbdi-tas) da chamada Europa, um texto quemesmo é totalmente desconhecido para aprática totalidade das pessoas, e que noEstado espanhol, se tivermos sorte e nosmobilizarmos, poderá ser levado a refe-rendo, ainda que o resultado deste nomseja vinculativo; nom esqueçamos o refe-rendo de adesom à NATO de 1986 cele-brado sob o governo do PSOE.Falarmos da Constituiçom Europeia sig-nifica posicionarmo-nos politicamente,evidenciando que é umha constituiçomantidemocrática, permeada por valoresreligiosos, neoliberal e imperialista, umhaconstituiçom xenófoba e contra os direi-tos das mulheres, umha constituiçom quenega os direitos dos povos: a consti-tuiçom da Europa antisocial, da Europado capital e da guerra.Ainda que muito se tenha falado sobre aConstituiçom Europeia, embora nomdifundido e muito menos participado nasua elaboraçom, um aspecto fulcral doponto de vista nacionalista é o referido àsalvaguarda dos direitos colectivos enacionais. Estou a fazer referência aodireito de autodeterminaçom das naçonseuropeias sem estado. A esta questom voudedicar as seguintes linhas, nomeadamen-te ao caso da Galiza, embora muitos dospontos tratados perfeitamente poderiamser transferidos às outras naçons que con-formam, à força, o actual EstadoEspanhol, e mesmo às outras naçons semestado da chamada "velha Europa".A autodeterminaçom é o processo políti-co mediante o qual o conjunto de umpovo decide, com plena potestade e semquaisquer ingerências externas, o seu des-tino: o seu relacionamento com o restodas naçons, o seu modelo político e eco-nómico, o papel da sua língua e cultura. AGaliza é um povo, unha comunidadehumana dotada de acusados traços que asingularizam, é umha naçom, colectivoem permanente construçom e desejoconstatado de ser e de plasmar a suaexistência em instituiçons próprias. Onosso país nom conseguiu ainda, por múl-tiplas razons, chegar a esse mínimo indis-pensável para toda a naçom que é a livredeterminaçom do seu futuro. O mesmoenquadramento institucional que tentou etenta negar a sua existência -ou, emalgum casos, desvirtuá-la até a defor-maçom-, tornando-a um apêndice pecu-liar de Espanha, tem-se recusado e recu-sa-se rotundamente ao reconhecimento deum quadro galego de decisom que podapôr em causa umha suposta pátria única,

fundada e sustida por guerras e conquistase situada acima das pessoas e dos direitos. Por muito que umha insistente campanhamediática nos faga associar a autodeter-minaçom a umha proposta anacrónica efora de lugar no mundo do século XXI,som os seus fanáticos detractores os quese situam fora da história, os que nomlembram os novos estados nascidos noinício do século XX, como a Noruega, aIrlanda ou a Finlándia, as descoloni-zaçons da segunda metade da centúria,como a argelina, ou o novo mapa dasnaçons surgido no início da década denoventa na Europa central e oriental, oumesmo o caso de Timor Leste, por nomfalarmos no Quebeque. Quem quer esma-gar povos e naçons com todas as ferra-mentas ao seu alcance parece esquecerque estas resistem, e que a sua vitalidadedá lugar a novos estados surgidos da von-tade maioritária da sua populaçom. Ofacto é ainda mais grave: dizem estar como mundo de hoje -o injusto e inabitávelmundo de hoje-, mas desconhecem tam-bém aqueles logros que custosamente aspessoas e colectivos oprimidos conseguí-rom ir introduzindo na legislaçom e emdiferentes tratados internacionais. O direi-to de autodeterminaçom é reconhecido,entre outros textos, nos que se seguem:-No artigo 1.2. da Carta Fundacional daOrganizaçom das Naçons Unidas (1945).-Na Declaraçom das Naçons Unidassobre a concessom da independência aospaíses e povos coloniais (Resoluçom1514 (XV) da Assembleia Geral, 1960).-Nos Pactos Internacionais de DireitosCivis e Políticos e de DireitosEconómicos, Sociais e Culturais (1966).-Na resoluçom 2625 (XXV) daAssembleia Geral da Organizaçom dasNaçons Unidas (1970).-Na acta final do Tratado de Helsinki(1975).-Na Carta de Argel (1976).-No Comentário Geral nº 12 do Comitéde Direitos Humanos da Organizaçomdas Naçons Unidas, em referência ao arti-go 1 do Pacto Internacional de DireitosCivis e Políticos (21ª sessom, A/39/40,1984).-Na Carta Africana dos Direitos Humanose dos Direitos dos Povos.-Na Carta da Organizaçom das Naçons eos Povos Nom Representados (1991).-Na Declaraçom Universal dos Direitosdos Povos (2001).Som os defensores até a morte do quadrojurídico-político espanhol que estám forada história, e bem longe dos ares de pro-gresso que ainda correm em algumhaspartes do mundo, graças aos esforçosdenodados de tantos e tantas por nom

cederem direitos essenciais. Som eles, osmesmos que, dos seus potentes altifalan-tes, denigram e ameaçam aqueles e aque-las que, sem outra ambiçom que fazeremvaler o que é justo, dizem alto e claro quea autodeterminaçom é possível e, comotodo o direito básico, irrenunciável. É realmente patético que dirigentes doautonomismo dediquem os seus esforçosginástico-políticos a tentar convencer-nosda bondade da Constituiçom Europeiaproclamando cinicamente: "AConstituiçom Europeia reconhece o direi-to de autodeterminaçom para os estados,o qual, apesar de nom reconhecer aexistência das naçons sem estado, desfai otabu a respeito do tema" (CamiloNogueira, Diálogos na Universidade deVigo: Perspectivas políticas sobre aConstituiçom Europeia, 13 de Maio de2004). Nom sei a quem tenta enganar ocandidato do BNG às Eleiçons Europeias,ou se singelamente tenta rir-se de nós.Ainda bem que, infelizmente para eles,Romano Prodi mete o bedelho no assuntoe sentencia "que é impossível modificar aactual estrutura territorial dos estadosmembros". Parece que os processos deautodeterminaçom na Europa finalizáromquando os interesses imperialistas franco-alemans e ianques fôrom satisfeitos(Jugoslávia, Croácia, Kosovo, Rep.Checa, Eslováquia, ...). Se alguém duvidadisto só há de ler o Artigo E-5: "AConstituiçom europeia garante a unidadeterritorial dos estados", aliás, define-lhescomo funçons essenciais "garantir a inte-gridade territorial do Estado, manter aordem pública e salvaguardar a segurançainterior".Iniciativas como as que estamos a proporas "Bases Democráticas Galegas"(www.basesdemocraticasgalegas.org)som hoje, mais do que nunca, necessáriaspara defendermos decididamente umdireito democrático fundamental, o direi-to de autodeterminaçom.Juntarmos esforços nessa direcçom éimprescindível perante o panorama políti-co que estamos a padecer, criando frentesque defendam, entre outros direitosdemocráticos, o direito de autodetermi-naçom, que acabará por ser fundamentalem tempos vindouros nada longínquos,nomeadamente se finalmente vinher acelebrar-se o referendo sobre aConstituiçom Europeia no próximo mêsde Fevereiro.

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editoriala

Setembro 2004novas da galiza 3

Suso Sanmartim

sumário

Fórum de Barcelona

Dinheiro rápido, especulaçom e turismoexplicam as injecçons milionárias no maior

negcio do ano

Os incêdios florestaiscomo parte de umhapolítica de gestom dosrecursosDepois da vaga de incêndiosque padeceu o nosso país esteverao, reproduzimos nestenúmero um interessante trabalho de Adela Figueroa.

Mais que música,Falcatruada

Falcatruada nom é um selodiscográfico, quer ser plata-forma de serviços de apoiopara músicas ou músicos

Manuel Maria

Como nom podia ser de outrojeito, NOVAS da GALIZA

homenageia neste número opoeta e nacionalista chairego

recentemente finado

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OPrestige, as restriçons de Espanha e Europae a falta de planificaçom em base à realida-

de galega estám a conseguir que a nossa pescaatravesse um dos seus piores momentos. Odecreto 429/2004 do governo espanhol polo qualse estabelecem as medidas de ordenaçom dafrota de 'pesca de cerco' condena a desaparecerum importante sector da frota, e portanto, mil-hares de empregos directos e indirectos, atacan-do gravemente a estrutura e metodologia depesca da frota de cerco e empobrecendo e des-capitalizando um sector económico básico paradúzias de portos do litoral da Galiza.

Este decreto, que restringe a pesca de cerco àsembarcaçons de menos de 18 metros de compri-mento, afecta a estrutura de 85,95% da frota. Omodelo de frota que se está a impor é um mode-lo artificial que nada tem a ver com as necessi-dades específicas e técnicas para as quais estáfocada a pesca de cerco na Galiza. Está a serfavorecida umha frota industrial, fazendo desa-parecer as unidades de frota artesanal, e isto temgrande incidência no emprego na costa galega.Nom se aposta na segurança dos trabalhadores,tal como afirmava o Conselheiro de PescaEnrique López Veiga, já que a frota que se reti-ra é moderna, em muitos casos de menos de 10anos, tecnicamente avançada, social e economi-camente rentável. É pois um duro golpe a umhaparte importante do sector.

É só um exemplo do que parece ser umha recon-versom da actividade. A reconversom da pesca edo marisqueio tradicionais, a deslocalizaçom deconserveiras, a deterioraçom imparável dos

ecossistemas litoral e marinho ou o encerramen-to dos pesqueiros no alto mar para os barcosgalegos.

A isto nom é alheia, polo contrário move-se nomesmo contexto, a crise profunda de reconver-som que vive também o sector naval na Galiza.Desde 1997 perdêrom-se 450 trabalhos em IzarFene. Umha situaçom que se vê agravada entreos operários das empresas auxiliares. Nos últi-mos anos já fôrom deslocados perto de 2.000para outras fábricas.

Em contraposiçom à situaçom que estám a atra-vessar a frota galega de cerco, o marisqueio tradi-cional e o sector de construçom naval, a adminis-traçom aposta na aquicultura. Esta centra agora aactividade científica galega, recebendo os princi-pais recursos de investigaçom do País e centrandoos esforços do pessoal mais qualificado. A estraté-gia adoptada pola Junta só beneficia directamenteum reduzido grupo de grandes empresas, querecebem subsídios e privilégios enquanto promo-vem o desmantelamento da pesca artesanal, exi-gem a venda de valiosos terrenos a preços desaldo e provocam a destruiçom maciça do patri-mónio natural, como explicamos na reportagemcentral deste Novas da Galiza.

A aliança do poder político com o grande empre-sariado continua a fazer-se patente, mesmoquando este atenta contra a própria forma devida do povo e o seu meio. Fraga Iribarne deixa'atada e bem atada' a sucessom, entregando osprincipais recursos e o património natural doPaís em maos amigas com interesses comuns.

editorialS.O.S MAR GALIZA

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Costa da Morte, moeda de trocapara as transnacionais

A Costa da Morte está-se aconverter, após a catástrofedo Prestige, numha nova áreadas "indústrias de enclave" naGaliza.

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4 notícias Setembro 2004 novas da galiza

notíciasMobilizaçons obreiras e cidadás procuram parar os planos da SEPI

Em perigo mais de mil e quinhentosempregos de Izar na GalizaRedacçom

Se nom houver umha oposiçomsindical e popular dura que provo-que mudanças substantivas nosplanos do executivo espanhol, osestaleiros da Ria de Ferrol pagaráma reestruturaçom da companhiaIzar a nível estatal. Do esquema deplano industrial elaborado polaSociedade Estatal de ParticipaçonsIndustriais (SEPI) desprende-seque a companhia pretende liquidar5.034 empregos públicos de umtotal de 10.565 que tem Izar a nívelestatal na actualidade. Os dadosindicam aliás que quase 30%(1.503) destes postos de trabalho aextinguir dentro da reestruturaçomglobal de Izar correspondem aonosso país.A situaçom de absoluta incertezaem que ficam os operários de IzarFene e da fábrica de turbinas deFerrol com os novos planos dogoverno do PSOE recorda a geradadurante a reconversom industrialde 1980, também impulsionadapolo PSOE. O custo social daquelaremodelaçom do sector navalpúblico saldara-se com a perda de5.313 postos de trabalho emAstano e Bazán e um incremento

brutal dos níveis de desemprego eemigraçom na comarca de Trás-Ancos. É particularmente grave ocaso do estaleiro Izar Fene, umhavez que se vê directamente afecta-do, embora nom tivesse recebidonem umha mínima parte das taisajudas declaradas ilegais polaUniom Europeia que nos teriamlevado à situaçom actual. Da SEPI declara-se aliás que nomse descartam reajustamentos dequadros de pessoal nos estaleiroscuja continuidade está garantida,entre os quais som citados o deFerrol, e que seriam realizadosdentro de umha nova companhiapública dedicada fundamentalmen-te à contruçom militar. Por sua vez,o Ministro do Trabalho espanhol,Jesús Caldera, rematava esta decla-raçom afirmando que as fábricasque conservarem o seu carácterpúblico poderiam empreender pro-gramas de pré-reforma (a partir dos52 anos, segundo se tem explicita-do) e de baixas incentivadas.

Mobilizaçom popularCinco milhares de pessoas saíromno passado dia 15 de Setembro àsruas de Ferrol para apoiarem asreivindicaçons dos quadros de pes-

soal das duas fábricas de Izar nacomarca. A recusa frontal ao ence-rramento, à privatizaçom e àsegregaçom dos estaleiros dogrupo em civis e militares centrouas reivindicaçons dos e das mani-festantes. Igualmente, os manifes-tantes também chamárom aatençom para a situaçom dos ope-

rários das companhias auxiliares.A marcha de trabalhadores partiude Izar Fene e atravessou a Pontedas Pias em direcçom a Ferrol,provocando um importante enga-rrafamento de tránsito rodoviário.À entrada da cidade incorporárom-se à caminhada os operários deTurbinas, marchando todos juntos

até os Paços do Concelho onde osdirigentes sindicais se dirigíromaos manifestantes. Nom se produ-zírom incidentes recenseáveis.Após esta primeira mobilizaçom,as centrais sindicais organizáromumha grande manifestaçomcomarcal para o próximo domingo26 de Setembro.

Redacçom

O velho edifício sindical sediadona rua da República do Salvadorfoi abandonado polas centraisCCOO, UGT e CNT durante o pas-sado Verao para se deslocarem aobairro de Sam Lázaro as duas pri-meiras e ao de Conjo a últimadelas. O derrube do que tinha sidoum prédio do Ministério doTrabalho, cedido aos sindicatosdesde a etapa da reforma política,permitirá à Cámara Municipal deCompostela o desenvolvimento,sem maiores contratempos, doplano urbanístico previsto paraumha das zonas mais centrais ecaras da cidade: a construçom deum novo prédio de habitaçons deluxo por umha aliança de seis imo-biliárias, com a abertura nas novasinstalaçons de um centro sócio-cul-tural municipal para toda a Zona deExpansom compostelana. Porém,um contratempo nom esperado

polo governo do PSOE-BNG sur-giu no tranquilo mês de Agosto:um grupo de entidades juvenis uti-lizadoras da antiga sede da CNTrecusárom-se a abandonar o pré-dio, argumentando contra a novaconstruçom, assinalando os espe-culadores como responsáveis ereclamando centros sociais autoge-ridos como alternativa aos centrosde lazer oficial.As oposiçom à destruiçom do pré-dio -de tendências ideológicasdiversas, de libertárias a indepen-dentistas, passando por pessoassem mais adscriçom que a própriaocupaçom- fundírom os seusesforços com a constituiçom ofi-cial de umha nova entidade com onome de Centro Social AlternativoAeito e no desenho de iniciativassócio-culturais para dinamizar oque se pretendia um pólo dereferência na zona nova da cidade.A aberta oposiçom do governomunicipal à iniciativa -que se

explicitou nas declaraçons do pre-sidente da Cámara SánchezBugallo e do vereador BernardinoRama- seguiu-se de umha série demedidas contra as e os "ocupas" naúltima semana de Agosto: ameaçasde Andrés Eguíbar, representanteda imobiliária, derrubamento departe das divisons interiores poroperários da empresa, corte daelectricidade. O assédio culminouno 26 de Agosto, com a detençomem plena manhá de cinco membrosdo CSA no próprio local da rua doSalvador, o qual abortou precipita-damente o programa de conferên-cias planificado para essa jornada.Como denúncia da actuaçom poli-cial -manifestamente irregular, aonom se ter apresentado ordem dedespejo por escrito- fôram celebra-das diversas mobilizaçons, quereunírom por volta de médio cente-nar de pessoas. A conflitividadecontinuou e fijo-se especialmenteintensa na terça-feira 31, quando a

tentativa de reocupaçom do local ea colocaçom de umha faixa que foipendurada de umha janela, seresolveu com confrontos com osguardas de segurança e com umhacarga policial indiscriminada.Cinco pessoas fôrom detidas -nasua maior parte, segundo Aeito e oorganismo popular anti-repressivoCeivar, sem vinculaçom com a ten-tativa de reocupaçom- e passáromtrinta e seis horas na esquadra poli-cial, sendo postas depois em liber-dade, embora sob acusaçom, edepois de o juiz se ter recusado aaceitar o habeas corpus solicitado.As mobilizaçons do núcleo de acti-vistas do CSA continuam, a maisrecente na passada sexta-feira 10de Setembro. Segundo manifestá-rom a este jornal, a sua vontade écontinuar em pé contra a especu-laçom, denunciando o governomunicipal e empresas como Urban,Rode S.A., ou Promoçons Oroso, emesmo se está a discutir a possibi-

lidade de posta em andamento deum outro local para as suas activi-dades. Em qualquer caso, apesardo acontecido, continuarám apublicar um boletim informativo,que já vai no seu quinto número.Sánchez Bugallo, por seu turno,aplaudiu a intervençom policial evinculou o protesto com a sabota-gem sofrida por um carro daempresa Urban na rua RomeiroDonalho, que resultou totalmentecalcinado nos primeiros dias deSetembro. Para o presidente daCámara, os factos enquadram-sena campanha de violência de ruaque desde há uns quantos anos semantém em Compostela. Segundoinformou o portal galizalivre.org,produziu-se umha segunda sabota-gem contra maquinaria da mesmaempresa numha outra obra da cida-de que foi silenciada pola imprensaoficial, embora NOVAS da GALI-ZA nom pudesse verificar estaacçom.

Centro social Aeito despejado em Compostela

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Redacçom

O Comité de Defesa do MonteGalego, foi criado em 2002, masespalhou-se polo resto da Galizaneste Verao. No passado dia 1 deSetembro, em Compostela, asorganizaçons assinantes do mani-festo "Defendamos o monte, apa-guemos o lume. O mundo ruralexiste" decidiam alargar o comi-té, constituindo-se em platafor-ma.No começo do mês de Setembroprotagonizárom várias acçonsreivindicativas e de sensibili-zaçom, que tinham o intuito,aliás, de pressionar os poderespúblicos perante a situaçom que

atravessa a Galiza por causa doslumes florestais. O nosso país,segundo dados do comité, apesarde possuir menos de 8% dasuperfície florestal, sofre 45%dos incêndios do Estado. Esteano padecemos 9000 fogos nanossa terra. Dentro desta cam-panha de denúncia e pressom àsadministraçons, o Comité deDefesa do Monte Galego, fijoumha plantaçom de dous carval-hos no concelho de Ames. Foi láonde também recolhêrom cinzasnum monte próximo que tinhaacabado de padecer um incêndionas ultimas semanas. Membrosdo comité apresentárom-se comas cinzas no Parlamento Galego,

o dia em que o Conselheiro doAmbiente, e Vice-Presidentesegundo, Xosé Manuel Barreirocomparecia para dar os dados dosincêndios deste Verao. No tras-curso da sessom parlamentar, osdefensores do monte mostráromcartazes com o lema "Nom +Incêndios" e colocárom à frenteda tribuna de oradores umha urnacom as cinzas extraídas no monteardido de Ames.O Comité de Defesa do MonteGalego reivindica no seu mani-festo fundacional a existência domundo rural galego. Um mani-festo em que se defendemsoluçons para os incêndios flo-restais, indicando-se que é possí-

vel "acabar com a desfeita perió-dica do lume que converte cadaVerao os nossos montes numterritório catastrófico". Um docu-mento em que se exige toleránciazero: "Reclamamos toleránciazero com os incendiários queprendem lume aos nossos mon-tes, valendo-se do desinteresse ea negligência do Governo na horade preservar o nosso patrimónionatural. Reclamamos toleránciazero com os especuladores dolume, que alimentam os incên-dios com a estupidez e a cobiçaque só a eles e elas corresponde,com a confiança de quem hojeem dia se sabe impune para arre-panhar os benefícios"

notíciasSetembro 2004novas da galiza 5

Nasce plataforma cívica emdefesa do monte galego

Morre ManuelMaria, o poetada Terra Chá

Abrirám novolocal social: A Esmorga

NGZO vereador Xosé Xermán Lastrae a vereadora Marisa Sabio,ambos do BNG na CámaraMunicipal de Ferrol, fizérompública a sua demissom nos últi-mos dias do passado mês deAgosto, adiantando umha medi-da que, segundo eles, tinhampensado tomar há certo tempo.Os organismos de direcçom daformaçom nacionalista restáromimportáncia às demissons e argu-mentárom que se trata tam-só de"questons pessoais" que forçá-rom a passagem a um segundoplano dos dous militantes. Porseu turno, os protagonistas damedida confessárom a existênciade importantes diferenças no seioda frente, especialmente visíveisno ámbito comarcal. Polas suaspróprias palavras, a conside-raçom da Central de Gás queREGANOSA está a levantar emMugardos como "obra chavepara o desenvolvimento daGaliza" foi o último motivo acu-mulado para se demitirem,embora já tivessem reflectido nademissom com anterioridade.

Contradiçons noBNG por causade Reganosa

NGZÀs 23h15 horas da noite do dia oitode Setembro falecia na cidade deCorunha o poeta Manuel MariaFernández Teixeiro, aos 74 anos deidade. Primeiro poeta que escreveuem galego após o massacre de 1936,o literato galego foi autor de mais 47poemários que vam da pulsom exis-tencialista da sua juventude(Muinheiro de Brêtemas, 1950) atéa plena identificaçom afectiva epolítica com o País e a sua causa delibertaçom nacional. Militante daoriginária Uniom do Povo Galego(UPG) durante a noite franquista,Manuel Maria foi também vereadordo Bloco Nacional-Popular Galego(BNPG) entre 1979 e 1983, abando-nando a política activa em 1985.Homem de princípios e trato chaocomo a terra que o viu nascer em1929, participou na reorganizaçomdo nacionalismo nos anos 60 e 70,foi um referente inexcusável nopanorama da literatura galega dasegunda metade do século XX.Manuel Maria tinha sido membronumerário da Real AcademiaGalega, e foi o sócio nº 469 daAGAL. Ingressara na associaçomno dia 28 de Junho de 1986. ManuelMaria é autor de 47 poemários, dosquais salientamos Muiñeiro deBrétemas, Terra Chá e Brétemas doMuiñeiro. O seu poemário A LuzRessuscitada, da ColecçomCriaçom, é umha das primeiraspublicaçons editadas pola AGAL.

NGZA Associaçom Cultural A Esmorga,formada pola rede associativa dacidade de Ourense, abrirá o seulocal social no mês de Outubro paraa dinamizaçom social e cultural dacidade das Burgas. O local ficasituado no Casco Histórico deOurense, no popular bairro de SamFrancisco. Conta com dous andarese umha cave onde se desenvolverámos actos e actividades que se propu-gerem, e ainda com umha bibliote-ca. No primeiro andar vai ser habili-tado um bar para o convívio eencontro entre os diferentes sectoressociais da cidade. Um local que naEsmorga definem como "de liberda-de e encontro", que há de servir parafornecer de espaço físico o tecidoassociativo ourensano.Trata-se de um local autogerido noqual terám cabimento todas as acti-vidades que os diferentes colectivosou pessoas quigerem organizar nele. Ourense une-se, desta forma, àsdiferentes comarcas que ao longodos últimos meses abrírom locaissociais.

Redacçom

Dez pessoas, todas simpatizantesda Plataforma em Defesa da Ria daArouça, serám julgadas polos acon-tecimentos do dia 14 de Janeiro de2000, quando a vizinhança ocupouos Paços do Concelho de VilaGarcia. Três anos antes do afunda-mento do Prestige, umha profundapreocupaçom social percorreu asterras do Salnês e do Barbança: ainstalaçom no Porto de Vila Garciada Arouça, no mesmo fundo da ria,de depósitos com capacidade paraarmazenar 80.000 m3 de hidrocar-bonetos. Cumpre salientar que setrata de umha quantidade equiva-lente à capacidade com que contavao Prestige. Constituiu-se entom aPlataforma em Defesa da Ria daArouça (PDRA), que convocoumobilizaçons reclamando a trans-ferência dos depósitos para se evi-tar qualquer possibilidade de aci-dente. Como protesto pola conces-som da licença de actividade outor-gada pola Cámara Municipal deVila Garcia, a PDRA convocouencerramentos em todos as cámaras

municipais dos concelhos que con-tornam a ria para o dia 14 deJaneiro de 2000, tendo-se desen-volvido todos eles sem inciden-tes. Só no caso de Vila Garcia aspessoas concentradas fôrom vio-lentamente despejadas por ordemdo presidente da Cámara. Ogoverno municipal promoveutambém a acusaçom particularnum julgamento penal contra osmembros do PDRA, gentes do

mar para os quais se pedem oitomeses de prisom por se teremresistido ao despejo. A PDRA inciou umha campanhade solidariedade com as pessoasà espera de julgamento, consis-tente num escrito de auto-incul-paçom e umha moçom a apresen-tar nos diferentes cámaras muni-cipais da comarca. Estám a serrecolhidas também assinaturas desolidariedade.

Dez pessoas serám julgadas porterem ocupado Cámara de VilaGarcia em defesa da Ria da Arouça

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6 notícias Setembro 2004 novas da galiza

Redacçom

Umha sociedade de investimentodenominada "Superpuerto Árta-bros", em que participam compan-hias navais como Elcano, empresasdo sector energético como a argelina"Sonatrach", entidades bancáriascomo Deutsche Bank e três grandesgrupos empresariais, dous delesespanhóis, solicitou ao MinistérioEspanhol do Fomento umha autori-zaçom para construir um porto des-tinado ao tráfico de mercadorias porgrosso na Ria de Ares. O autor doprojecto é o engenheiro e ex-presi-dente da Cámara Municipal deFerrol, Manuel Casal.Os promotores do superporto apre-

sentárom o seu projecto a Portosdo Estado, organismo dependentedo Ministério Espanhol doFomento. Porém, há escassos diasfontes deste ministério assegurá-rom que a documentaçom apresen-tada pola sociedade promotora "éinsuficiente". O Governo espanholassinala, numha resposta ao BNG,que desconhece "tanto a planifi-caçom, como os objectivos concre-tos que persegue a sociedade" e,portanto, requer mais informaçomsobre a procedência e o destino dosnavios que pretende captar, o tráfi-co de mercadorias e a viabilidadeambiental, "para assim poder ava-liar a construçom deste novoporto".

Redacçom

Os projectos de reforma de estatu-to e o de instauraçom de umhaconstituiçom europeia já recebê-rom a contestaçom de NÓS-UP. Aorganizaçom independentistadeclarou que, quanto ao marcoautonómico, apostam na supe-raçom do mesmo mediante a auto-determinaçom, e em relaçom coma Constituiçom europeia fam umchamamento para votar contra,defendendo assim umha outraEuropa: a dos "povos, dos trabal-hadores e das mulheres".A reforma estatutária previstaenquadra-se dentro da "novaEspanha plural" de Zapatero,quem, segundo NÓS-UP, "tam-sóvai aplicar, com outro estilo e outrotalante, idênticas 'soluçons'". Aorganizaçom independentista criti-ca as forças parlamentares da opo-siçom por nom porem em questom"a situaçom de dependência daGaliza" e afirma que sem umEstado próprio "nom podemosconstruir umha naçom ao serviçodas classes trabalhadoras e dos sec-tores populares".

Em referência à próxima convoca-tória do referendo daConstituiçom europeia, NÓS-UPmanifesta a sua "rejeiçom frontalao actual modelo do que eufemis-ticamente chamam 'construçomeuropeia'" e solicitam o voto nega-tivo.Quanto à reclamaçom da oficiali-dade do galego na EU, consideramque é um "despropósito (...) quan-do já pertencemos a um dosespaços lingüísticos que contamcom um grau de oficializaçomcorrespondente ao das línguasestatais", já que, acrescentam, "anossa língua é já oficial na UniomEuropeia e noutros organismosinternacionais sob a denominaçomde 'português'". Em apoio destatese citam os deputados galegos deColigaçom Galega e do BNG, que"tenhem já aproveitado essa ofi-cializaçom para fazerem uso dogalego no Parlamento europeu".NÓS-UP reclama que a chamadaoficializaçom do galego na EUpasse polo "reconhecimento daGaliza como território europeu defala galego-portuguesa, integrantedo espaço lingüístico lusófono".

Solicitam construirsuperporto na Ria de Ares

Independentistas contraa reforma estatutária e aConstituiçom europeia

Manifestam-se na Ulhoacontra a barragem deFrádegas

Redacçom

Os lemas que se podiam ler nasfaixas teimavam numha ideia: "Orio é nosso". Mas o eco daresistência popular contra asultrajes ecológicas cometidascontra o País abrolhava no jásabido e de novo repetido "anossa terra é nossa e nom deFenosa". Atrás dos cartazes, maisde dous mil vizinhos e vizinhasda Ulhoa -habitada por onze milhabitantes repartidos entre osconcelhos de Antas de Ulha,Monte Rosso e Palas de Rei,cerne geográfico da CAG-, orga-nizados na Associaçom dePescadores, nos proprietários eproprietárias de casas de turismorural, nas sociedades culturais,nos opositores a outras barra-

gens, nos grupos municipais doBNG e do PSOE. A sociedadecivil da Ulhoa desfilou em Palasde Rei na, segundo um veteranomilitante da ADEGA, "maiormanifestaçom contra umha mini-central que eu já lembro no País".O actor Carlos Blanco fechou amarcha com a leitura de ummanifesto contra "o projecto parao rio Ulha de Uniom Fenosa e osseus 'sequazes'". O ambíguo posicionamento doPP comarcal a respeito do projec-to de Fenosa impediu comparecerna marcha os presidentes conser-vadores das cámaras afectadas. Opresidente da Cámara de Antasde Ulha, Javier Varela, com umhaatitude habitual nele desde queocupa este cargo, evitou pronun-ciar-se ao respeito. Da mesma

maneira, Fernando Pensado, pre-sidente da Cámara municipal dePalas de Rei e também militantedo Partido Popular, rejeitou assis-tir à manifestaçom, apesar de terapoiado a aprovaçom num plená-rio municipal de umha moçomcontra o projecto de Fenosa. Diasmais tarde tinha recuado até asposiçons do presidente daDeputaçom de Lugo, FranciscoCacharro, e num exercício demalabarismo político explicouque o se está a construir emFrádegas "nom é umha barragem,mas umha minicentral" e oimpacto "é menor". Unicamenteo primeiro edil de Monte Rosso,o socialista Antonio Gato, aderiuao protesto de Palas, mostrando asua oposiçom inequívoca à cons-truçom da represa.

Mais de duas mil pessoas percorrêrom, nopassado dia 22 de Agosto, as ruas de Palas deRei "em defesa do rio Ulha". O projecto deFenosa de construçom de umha minicentralem Frádegas e a sua recente aprovaçom poloConselho da Junta da Galiza reuniu centenasde vizinhos e vizinhas contrárias à barragem,

que proferírom palavras de ordem como "riospara a vida e nom para o negócio" ou"Fraga, atende, a Ulhoa nom se vende". Amanifestaçom, convocada pola Plataformaem Defesa do Alto Ulha, transcorreu semincidentes e contou com o apoio de diferentesgrupos políticos e associaçons cidadás.

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análiseSetembro 2004novas da galiza 7

análise

Pedro Alonso

Lembramos que há pouco mais dequatro anos, na última campanhaeleitoral para optar à presidênciado governo de Espanha, Aznarproclamou perante um apinhadopavilhom das Travessas de Vigo,que já nom estava na altura delamentos e vitimismos, numhaexplícita crítica ao nacionalismogalego. Como prova da conside-raçom especial que Espanha temmostrado com a Galiza, luziu os naaltura recentes contratos da Bazánpara construir nove fragatas, qua-tro para o Ministério da Defesa ecinco para o governo da Noruega.Esta última encomenda supujo omaior contrato de exportaçom doEstado espanhol em toda a sua his-tória e o maior desembolso exte-rior da Noruega. A Bazán tivera deconcorrer com importantes estalei-ros de todo o mundo e contou como "apoio mediador e estrutural" doGoverno espanhol, mas, sobretu-do, com o de Fraga Iribarne. Nocontrato assinado especificava-seque deveria haver contrapartidasimportadoras e outras "compen-saçons" especiais. É nesse contex-to onde podemos entender o cres-cente peso que tenhem na realida-de industrial do nosso país empre-sas norueguesas como Stolt-Nielsen na aquacultura ou Nor-Kvarts nas minas de quartzo.O afundamento do Prestige e odesastre conseguinte foi a descul-pa que precisava o PP de FragaIribarne para desenhar unha ope-raçom de "colonizaçom industrial"de umha comarca que, já antesdessa tragédia, apresentava índicesde desemprego e emigraçom juve-nil dos mais altos do País. Estaindustrializaçom consistirá na pro-liferaçom de mega-indústrias decriaçom de peixe, parques eólicose zonas industriais, a edificaçom

de um "parador" de turismo, umcampo de golfe, várias estradas dealta capacidade, novas instalaçonsportuárias em Cee… Nunca seconcebera um "desenvolvimento"tam maciço deste espaço costeiro,entre outras razons devido àexistência de entraves ambientaise limitaçons orçamentais. Mas jáexistia um programa de fomentoda piscicultura e de instalaçom deparques eólicos neste litoral. Etambém estava prevista umha viade alta capacidade no Plano deEstradas e um parque empresarial.O Prestige foi exactamente o quese precisava para que todo ummagote de vampiros se lançasseem cima da presa, acurralada eimobilizada polo "cartel" de Fragae o PP. Umha voragem de projec-tos que darám trabalho enquantose prolongarem as obras, quatro oucinco anos, mas que a médio elongo prazo, salvo as pequenasempresas que se puderem instalar,nom repercutirá significativamen-te no emprego e arrasarám a natu-

reza de um espaço que é patrimó-nio de todo o País.

Mega-indústrias decriaçom de peixePara explicarmos o "boom" da pis-cicultura é preciso determo-nos nanossa conduta alimentar. As esta-tísticas mostram a crescente procu-ra de peixe para o consumo huma-no. Em todos os mercados se regis-

ta um notável incremento anual daprocura de peixe. Quem estudaestes fenómenos estima que sedeve mormente ao desprestígiosofrido polas carnes entre os con-sumidores, depois de se terem vistoenvolvidas em freqüentes escánda-los alimentares: as dioxinas dasaves, a encefalopatia espongiformebovina (vacas loucas), a carne hor-monada…, etc. Como a pesca con-vencional nom consegue satisfazeresta crescente procura, anualmenteo consumo de peixe de "cultura"incrementa-se em 10%, de maneiraque se espera que em 2015 atinja jáumha quota de mercado de 50% anível mundial. Como exemplo,basta conhecer o dado de que 95%das robaliças, trutas e douradas quese consomem no Estado espanholprocedem de estabelecimentos depiscicultura. É evidente que onegócio da aquacultura é suma-mente rentável.No nosso país a piscicultura depeixes planos em indústrias demédias a grandes dimensons

começou a desenvolver-se no iní-cio dos anos oitenta, mormente nasRias Baixas. Foi umha época emque a tecnologia desta indústriacomeçava a progredir e deviaenfrentar numerosos condicionan-tes de natureza bio-ecológica.Apesar destas eivas, o sector arran-cou e logrou produçons elevadasem finais dos anos oitenta, mas em1992 entrou numha profunda criseque levou várias empresas a se des-fazerem das suas instalaçons.Nessa altura é quando a Stolt SeaFarm começa o seu percurso gale-go-português. A tendência clara-mente ascendente da procura destetipo de peixe fijo com que Stoltdecidisse apostar neste tipo denegócios. Os estabelecimentos deLira e Quilmas iniciam umha sériede novos projectos, caracterizadospolas suas descomunais dimen-sons, que fam com que estaempresa conte já no ano 2000 comcinco estabelecimentos de pisci-cultura e com um processo expan-sivo aberto que nom parece, porenquanto, ter limites.

Os marcos no caminhoO apoio decidido da Junta deFraga ao sector da aquacultura ini-cia-se com o impulso do "cluster"aquícola, que agrupa nom menosde oito grandes empresas, e com acessom a este do CentroTecnológico de Couso, emRibeira. Esta agrupaçom dos inte-resses empresariais favorece a rei-vindicaçom de objectivos comunse supom o pontapé de saída deumha corrida à procura de novaslocalizaçons, com a meta posta ematingir umha produçom de 40.000toneladas de rodovalho em 2010.Porém, com um litoral já bastantesaturado de instalaçons piscícolas,a expansom desta indústria só sepoderia fazer indo contra os inte-resses ambientais e contra a con-

Em andamento umha nova área das "indústrias de enclave" na Galiza

Dous acontecimentos, aparentemente nom rela-cionados, estám a determinar indirectamente ofuturo imediato da Costa da Morte. Em primeirolugar, a assinatura pola Bazán de um contratomultimilionário com o governo da Noruega paraa construçom de cinco fragatas militares. Emsegundo lugar, um trágico acontecimento, o

afundamento do Prestige. Estas duas circunstán-cias assentárom as condiçons definitivas para aencenaçom de um processo premeditado deindustrializaçom desmedida, um processo dese-quilibrado, sustido agora polas extraordináriascondiçons financeiras estabelecidas nesta zonaapós o acidente. Um processo em que o poder

político e o poder empresarial caminham demaos dadas, mostrando o rosto real do neolibe-ralismo selvagem, neste caso personificado emFraga Iribarne, abrigado em transnacionaiscomo Pescanova ou Stolt e visível no facto deque, mais umha vez, nom som atendidas asnecessidades reais do País.

Costa da Morte, moeda de trocapara as transnacionais

O Prestige e odesastre conseguintefoi a desculpa queprecisava o PP de

Fraga Iribarnepara desenhar unha

operaçom de“colonizaçomindustrial” da

Costa da Morte

Um processo em que o poder político e o poder empresarial caminham de maos dadas, mostrando o rosto real do neoliberalismo selvagem,neste caso personificado em Fraga Iribarne, abrigado em transnacionais como Pescanova ou Stolt

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8 análise Setembro 2004 novas da galiza

servaçom do património naturalgalego, especialmente o da Costada Morte, protegida em grandeparte frente a este tipo de infra-estruturas. Um acontecimento teráforçado o governo galego a acelerareste processo, dinamitando a suafraca política conservacionista. Noinício do ano 2000, a Bazán, agorachamada Izar, assinava um contratomultimilionário com o governonorueguês para fazer cinco fraga-tas. Este contrato especificava anecessidade de que existissem con-trapartidas importadoras por ummontante similar ao do contrato,algo do que já se vai ocupando Izar(tem estabelecido já relaçons con-tratuais com umhas 200 empresasnorueguesas), mas também se che-gava a um "acordo de compen-saçons" em virtude do qual osmediadores da Bazán, ou sejaAznar e, principalmente, Fraga, secomprometiam a favorecer e apla-nar o caminho das empresas e inte-

resses noruegueses. Como resulta-do, no ano 2003, segundo reconhe-ce o próprio governo da Noruegano seu portal na Internet, as expor-taçons deste país ao Estado espan-hol cresceram 66%, vendendo-semercadorias por um valor de12.500 milhons de coroas norue-guesas (mais de 1.500 milhons deeuros). E no ano 2000 Stolt SeaFarm começa a tramitaçom admi-nistrativa do que seria a maiorindústria de criaçom de rodovalhodo mundo, a do Cabo Vilám, ocu-pando os terrenos de um espaçonatural que mesmo o Estado espan-hol franquista declarara "Sítio deInteresse Nacional" junto com aEstaca de Vares e o Cume deCurotinha. Esta instalaçom iráacompanhada de mais outra emterrenos anexos, onde serám cria-dos linguados.Atrás da Stolt nom iam ficar outrasempresas que, na actualidade,baseiam o seu negócio na pesca

industrial. Assim, Pescanova, aoabrigo do "Plano Galiza" e dassuculentas ajudas oficiais criadasapós o desastre do Prestige, projec-ta outro estabelecimento de pisci-cultura, três vezes maior ainda doque o de Vilám, numha zona próxi-ma de Tourinhám, onde deverá rea-

lizar um espectacular movimentode terras para aplanar os terrenos epara favorecer o processo de cana-lizaçom de água para os tanques.Para além deste projecto, discutem-se outras localizaçons em Mugia,em zonas de alto valor natural, eoutros concelhos como Camarinhas

e Corcubiom tenhem-se oferecido aacolher instalaçons deste tipo. A"evoluçom imparável" de que falaFraga Iribarne parece ser umha rea-lidade. A sobre-exploraçom dospesqueiros no alto mar tem muito aver com o início desta nova indus-trializaçom. E nesse saco entratudo, do desmantelamento da frotade pesca artesanal até a venda deterrenos a preços de saldo, passan-do pola destruiçom maciça do patri-mónio natural.Quatro anos e meio depois da assi-natura do contrato das fragatas, Izarcontinua a ter trabalho, mas nom sesabe por quanto tempo e desconhe-ce-se a magnitude da reconversomque prepara o governo espanhol doPSOE e como e quanto vai afectaras fábricas galegas. O apoio triunfa-lista de Aznar e Fraga à assinaturadesse contrato pode, porém, signifi-car a destruiçom de um dos maisvaliosos tesouros naturais quetemos no País.

O modelo de estabelecimentos depiscicultura que impulsiona o PPna Costa da Morte é claramentedesproporcionado, ficando fora detoda a dúvida a nula capacidade deintegraçom deste tipo de mega-instalaçons no meio natural ondeestám a ser situadas. A unidaderecentemente inaugurada no CaboVilám tem umha ocupaçom totalde quase 90.000 m2, o equivalentea mais de doze campos de futebol.A que projecta construirPescanova em Tourinhám teráumha ocupaçom total e suporá aalteraçom completa de mais de300.000 m2, quer dizer, uns 42campos de futebol. As áreas ocu-padas formam parte ou estám pró-ximas do Lugar de ImportánciaComunitária da Rede Natura 2000denominado Costa da Morte,espaço natural que está incluído noRegisto de Espaços Naturais emregime de protecçom geral. Esteregisto impede, na teoria, a reali-zaçom de usos e aproveitamentosque suponham umha alteraçomobjectiva do território e dos valo-res naturais que o integram. Nomparece que cobri-lo de cimento ede estanques poda ser compatívelcom a protecçom destes valores.Por outro lado, este tipo de insta-laçom tem um importante impactoambiental indirecto. Os filtros edepuradoras empregados parasanear a água marinha antes da suaevacuaçom retenhem anualmentetoneladas de lodos carregados desubstáncias nocivas procedentesdos pensos, fezes, fármacos eoutros materiais que se geram nostanques de produçom. Na actuali-dade ainda nom se sabe qual o des-

tino mais adequado para estes resí-duos, que normalmente vam parara lixeiras nom especializadas.Recentemente, um estudo contra-tado polo Ministério daAgricultura, Pesca e Alimentaçomdo Estado espanhol a umha empre-sa ambiental, concluiu que as pos-sibilidades de serem utilizados naagricultura eram restringidos earriscados. Semanas atrás afun-dou-se um barco carregado delodos tóxicos de depuradoras àfrente das costas turcas…A nível sanitário, os peixes criadosem mega-instalaçons piscícolas,em condiçons de stresse, elevadadensidade e, muitas vezes, emcondiçons biológicas inadequadas,costumam desenvolver doenças einfecçons que chegam a suporimportantes perdas para as empre-sas. Em concreto, os rodovalhospodem padecer doenças víricascomo encefalopatias, retinopatias,vírus do linfocistis, herpesvirus,etc., doenças bacterianas como avibriose, a pseudomoniase ou asestreptococias e doenças causadaspor ecto e endoparásitos. Os trata-mentos para enfrentar estasdoenças passam polo subministrono penso ou na água de grandesquantidades de fármacos comotetraciclinas, penicilinas, sulfami-das, quinolonas e fluoroquinolo-nas, piretrinas e piretroides e o tra-tamento químico com sulfato decobre e organofosforados. Umhacorrecta gestom destas epizootias,para além destes tratamentos, deveimplicar a retirada e eliminaçomde lotes de animais, a realizaçomde vazios sanitários nos tanquespara reduzir as possibilidades de

retorno epidémico, a reduçom dadensidade de populaçom, a limpe-za e esterilizaçom de instalaçons,etc. Estas operaçons som muitocustosas, pois implicam a reduçomdos rendimentos, com o qual, àsvezes, opta-se por intensificar ostratamentos farmacológicos.Porém, existe um obstáculo legalna Uniom Europeia a estes trata-mentos. A normativa europeiasobre fármacos de uso veterinárioespecificava que a partir do dia umde Janeiro de 2000 os estadosmembros deveriam retirar as auto-rizaçons de comercializaçom detodos aqueles medicamentos vete-rinários antigos que contivessemsubstáncias activas para as quaisnom se tivessem determinado osdenominados "limites máximos deresíduos". Isto vem provocadoporque o proprietário de um ani-mal tratado deve esperar umtempo mínimo antes de ser comer-

cializado como produto alimentarpara o consumo humano. Esteprazo determina-se em funçom davelocidade de eliminaçom dassubstáncias activas administradase prolonga-se até alcançar umnível por baixo do qual se conside-ra que os resíduos presentes nomtenhem riscos para o consumidorou consumidora. Esse é o "limitemáximo de resíduos". Som asempresas farmacêuticas as quedeveriam ter realizado os pertinen-tes estudos para a determinaçomde LMR´s. Como o mercado nal-guns casos é reduzido e essesmedicamentos nom som rentáveis,estas empresas renunciárom aesses estudos e, portanto, nomexistem na actualidade medica-mentos específicos para, porexemplo, atender as necessidadessanitárias dos peixes das indús-trias de criaçom. Perante estasituaçom, algumhas mega-insta-laçons piscícolas, pressionadaspolas mais do que possíveis per-das económicas, decidem utilizarmedicamentos sem as garantiasnecessárias. Isto, para além detransferir as responsabilidadespenais para o colectivo de veteri-nários que atende as exploraçonsao lhes subministrarem medica-mentos nom específicos, implica,em suma, o aumento de práticasnom desejáveis ou ilegais no usode medicamentos veterinários.Isto diminui as possibilidadesreais de controlo da saúde públicapor parte das autoridades compe-tentes, incrementando os riscospara os consumidores. Tudo istonum contexto de absoluta carênciade controlos sanitários oficiais.

Os mega-estabelecimentos piscícolas:um elevado impacto ambiental e um risco para a saúde pública

A sobre-exploraçomdos pesqueiros no

alto mar tem muitoa ver com o início

desta novaindustrializaçom.

E nesse sacoentra tudo, do

desmantelamento dafrota de pescaartesanal até a

venda de terrenos apreços de saldo,passando pola

destruiçom maciça dopatrimónio natural

Os peixes criados em mega-instalaçons piscícolas costumam desenvolver doençase infecçons que chegam a supor importantes perdas para as empresas

Os novos projectos da Stolt, de descomunais dimensons, fam com que conte já em 2000 com cincoestabelecimentos de piscicultura e com um processo expansivo aberto que nom parece ter limites

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‘Loitamar’ é umha cooperativadedicada à engorda de rodovalho,peixe que cria na granja marinhaque possui na paróquia moanhesade Domaio. Embora conte com 45sócios, som 22 as pessoas atrabalhar no dia-a-dia a fim deconsolidar no mercado umproduto ecológico e de qualidade.

I.G.

A ideia de criar 'Loitamar',Sociedade Cooperativa Galega,nasce lá polo mês de Maio de 2001,depois de que a Junta da Galiza e oGoverno espanhol tivessem recon-hecido que a renovaçom do convé-nio com Marrocos que permitia aosbarcos galegos pescarem em águasdo banco canário-sariano ficava ofi-cialmente descartada. Foi entom quando um grupo de pes-cadores cangueses pensárom emmontar umha cooperativa dedicadaà engorda de peixe. A partir dessemomento iniciam os contactosnecessários para pô-la em andamen-to. Reúnem-se com o conselheiro depesca e assistem a diferentes cursospara conhecerem em profundidade oque é umha cooperativa.Os estatutos da mesma fôrom apro-vados em assembleia geral a 14 de

Setembro de 2001 e a 8 de Outubroconstituiu-se no cartório notarial."À partida, tínhamos pensado dedi-car-nos à cultura de mexilhom e àengorda de polvo, ostras e outrasespécies, mas o conselheiro depesca dixo-nos que existia umhanormativa da Junta que proibiaampliar a produçom de mexilhom",explica o presidente de 'Loitamar',Casiano Iglesias Piñeiro.Ao longo do mês de Dezembro de2001 mantivérom várias reunionscom o actual director técnico dacooperativa, que lhes explicou aideia que ele tinha de criar rodoval-ho no mar. "Apresentou-nos o pro-jecto e decidimos levá-lo a cabo.Levamos entom tudo à Junta ondemostrárom absoluta disponibilida-de", comenta Iglesias Piñeiro.Desta maneira, 'Loitamar' dedica asua actividade à cultura de rodoval-ho com a instalaçom no ano 2002de um estabelecimento piscícolaflutuante em águas de Domaio. Estáprevisto que poda produzir umhas450 toneladas anuais de um rodo-valho de alta qualidade em 2006.

Respeito polo ambienteEsta cooperativa converteu o respei-to polo meio ambiente num valoracrescido para o produto, ao empre-gar umha técnica inovadora baseadano emprego de nutrientes prove-nientes directamente da natureza.Ao ser umha unidade piscícola flu-tuante, os peixes apresentam umhatextura compacta e um conteúdomenor em gorduras, porque a mus-culaçom produz-se no próprio mar. Esta alta qualidade do produto émotivada portanto polo facto de osrodovalhos de 'Loitamar' viveremem estado semi-selvagem. Estám asuportar as alteraçons de salinidade,temperatura, correntes marinhas etodos os condicionantes que o peixeteria no seu habitat de origem. Alémdisso, as características de qualida-de do produto estám avalizadaspolo controlo biológico e sanitáriode umha direcçom técnica especia-lizada e com umha ampla experiên-cia no cultivo piscícola na Galiza.A primeira imersom de peixe quefizérom foi em Julho de 2002 e acomercializaçom das primeirasremessas para dar a conhecer o pro-duto no mercado foi em Março. EmAgosto começou a comercializar-sede forma mais séria. Neste sentido, opresidente da cooperativa asseguraque todas as pessoas que provam esterodovalho acabam por reconhecer asua qualidade já que "tem umha tex-tura e um sabor totalmente diferentesaos do rodovalho criado nas unidadespiscícolas de terra". Finalmente, con-vida todas as pessoas "a provarem onosso produto, porque tenho a cer-teza de que gostarám".

Stolt Sea Farm é, na actualidade,a empresa mais importante dasque integram o "cluster" da aqui-cultura na Galiza. Mas estaempresa nom é mais do queumha pequena parte do extensogrupo de empresas propriedadeda família norueguesa Stolt-Nielsen. Jacob Stolt-Nielsen fun-dou no ano 1959 a empresamatriz do grupo, denominadaParcel Tankers Inc., dedicada aotransporte marítimo de mercado-rias como combustíveis, com umúnico barco naquela altura.Quatro anos mais tarde já opera-va por todo o mundo e contavacom um total de 18 navios. Em1973 criam a Stolt-NielsenSeaway para transporte e forne-cimento a plataformas petrolífe-ras no Mar do Norte. Em 1977 acompanhia atravessa dificulda-des financeiras, de maneira que aBritish Petroleum passa a tomarconta de 50% das acçons, quenom deixa até 1987, para aempresa cotar no NASDAQ noano seguinte, atingindo umvalor de bolsa de 51 milhons dedólares. Em todo esse tempovam surgindo pequenas empre-sas ao redor do grupo matriz quevam cobrindo as necessidadeslogísticas e comunicativas donegócio original, mas que tam-bém vam abrindo progressiva-mente o leque mercantil. Nestecontexto interpreta-se a compraem 1991 da empresa Sea Farm,criada em 1972 para a criaçom eproduçom industrial de salmomnos fiordes noruegueses. Estaempresa passa a chamar-sedesde entom Stolt Sea Farm.Stolt Sea Farm inicia desde esse

momento um imparável processode investimentos e compra deinstalaçons, nom só de médias epequenas empresas norueguesasdo sector, mas também de insta-laçons noutras partes do mundo.Assim, adquire companhias emFrança, Espanha, sudeste asiáti-co, Chile, Austrália, Canadá,Escócia, Gales, Hong Kong, etc.Nesse contexto situa-se a compradas primeiras instalaçons piscí-colas de rodovalho na Galiza,que nesse momento sofriam umprofundo período de crise. Nofim de 2003, Stolt Sea Farm con-tava com 23 instalaçons em todoo mundo, com um total de 2.300empregados e umha produçomde mais de 60.000 toneladas desalmom e quase 2.500 de rodo-valho, entre outras. Isto nom evi-tou que a companhia tivesse per-das netas de 14.2, 45.4 e 78.4milhons de dólares nos anos2001, 2002 e 2003 respectiva-

mente. Paralelamente, no ano1999 Stolt Comex Seaway, ogrupo matriz, atingia uns acti-vos de 2 bilions de dólares emais de 10.000 empregados emtodo o mundo.Apesar disso, a própria empresareconhece na sua memória anualde 2003 ter gasto 15,5 milhonsde dólares para enfrentar váriosprocessos legais abertos contraela polo Departamento de Justiçados EUA e pola ComissomEuropeia, que a acusam de práti-cas monopolistas na indústria dotransporte em petroleiros. Numprimeiro momento, e atendendoao seu grau de cooperaçom, osdirectivos e empregados datransnacional fôrom admitidoscom condiçons no Programa deIndulgência Corporativa daDivisom Antimonopólio dosEUA e a Comissom Europeiatambém os admitiu no seuPrograma de Imunidade. Porém,em Março de 2004 a DivisomAntimonopólio anunciou a anu-laçom do acordo de amnistia erevogou a aceitaçom no progra-ma de indulgência. A companhia,na sua memória anual de 2003,reconhece que "é possível quepodamos sofrer perseguiçom cri-minal ou padecer sançons gra-ves, ou condenas civis, incluindoperdas económicas significativascomo resultado destas questons".Também em Fevereiro de 2004 aKorea Fair Trade Commision e aCanadian Competition Bureaunotificárom à Stolt-NielsenTransportation Group a aberturade investigaçons na sua indús-tria de transporte polas mesmascircunstáncias.

9análiseSetembro 2004novas da galiza

No quadro podemos ver algunsdados indicativos dos concelhosda Costa da Morte, aqueles ondeterám maior incidência estes pro-jectos. Como se pode apreciar, oemprego industrial representa só16,6% do emprego total, enquan-to o sector da construçom e o deserviços, conjuntamente, supon-hem mais de 60% do empregodestes concelhos. Por outro lado,a pesca atinge 10,5% do empre-go, sendo um sector que há anosestá a mostrar umha tendência àbaixa na comarca. Actualmente,duas empresas concentram apro-

ximadamente 13% do empregoindustrial na Costa da Morte.Trata-se de Ferroatlántica, comas suas duas centrais de ferroale-açons em Dumbria e Cee, e StoltSea Farm, com as suas quatromacrocentrais de criaçom derodovalho, entre as quais salientaa recentemente inaugurada cen-tral de Vilám, em Camarinhas.Ferroatlántica empregou em2002 um total de 236 pessoasentre efectivos e eventuais, 33%menos dos 353 trabalhadores quetinha em 1993. A Stolt dá trabal-ho a umhas 150 pessoas.

Stolt Sea FarmRadiografia de umha poderosa empresa

norueguesa acusada de práticas monopolistas

Stolt enfrentounumerosos processos

judiciais comsançons milionárias.

O Departamentode Justiça dos

EUA e a ComissomEuropeia acusam-

-na de práticasmonopolistas no

transporte empetroleiros

Indicadores demográficos e laborais da Costa da Morte

DEMOGRAFIAHabits. S.V.* Agr/pec Pesca Indúst. Constr. Servs.

Camarinhas

Carnota

CeeCorcubiom

Dumbria

Fisterra

Maçaricos

Mugia

Vimianço

Total

%

6.597 -19 53 549 361 394 703

76532143027660-675.421

7.308

1.997

4.307

5.141

5.787

6.029

8.653 -50

-51

-42

-15

-44

5

-25

591

337

738

73

246

5

132

29

288

12

579

20

25

92

698

262

232

121

291

81

473

251

424

438

794

442

88

472

1.139

718

641

697

486

502

1.407

---

51.240 --- 2.235 1.870 2.949 3.624 7.058

--- 12,60 10,54 16,62 20,43 39,79

'Loitamar', aalternativa ecológica

A cooperativa do Morraço emprega nutrientesprovenientes directamente da natureza

DISTRIBUIÇOM DO TRABALHO

*S.V.: saldo populacional (nascimentos menos óbitos)

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10 reportagem Setembro 2004 novas da galiza

Dinheiro rápido, especulação e turismo explicam as injecções milionárias no maior negócio do ano

Emmet Manuskoske

A meta do Fórum pretende a manu-tençom destes pilares -dinheirorápido, especulação e turismo-, tãovinculados ao nascente estilo eco-nómico da cidade que já tinha inau-gurado o anterior presidente daCâmara Municipal PasqualMaragall. Dele são as seguintespalavras, toda uma declaração deprincípios que fazia em 1991 noprólogo de um guia gratuito quedifundiu a Câmara: "EstaBarcelona é a que responde a umprojecto de renovação e relança-mento com muitas ambições", econtinuava pedindo o apoio dasvizinhas e vizinhos e um esforço detodos os bairros, mas não deixavade ser um novo "marketing munici-pal" porque nas ideias principais eno desenho, assim como nomeada-mente neste Fórum 2004, foramobviadas por completo as pessoas. Barcelona já almejava no início dadécada de noventa a sede de algumFórum Social, qualquer coisa quelhe desse prestígio e ao mesmotempo sustivesse esse status delocal cosmopolita e liberal. Se nãopudesse ser um Fórum, então umaExposição Universal. Finalmentenem uma coisa nem a outra, já quea cidade condal não era considera-da o cenário ideal para um eventoque aspirava a ser independente.Perante esta rejeição, a CâmaraMunicipal decide inventar umFórum, não social, mas sim cultu-ral, embora com objectivos e moti-vos semelhantes a este. Estacriação integra-se na estratégia deexportar a marca "Barcelona"como destino turístico para umleque de pessoas de certo níveleconómico (médio-alto), além de

atrair congressos e convenções demultinacionais. Dois públicos eli-tistas que sem lugar a dúvidasgerarão dinheiro fácil, dinheirorápido. Mas perante um plano tãoperfeito a sociedade barcelonesacontestou. Criaram-se diferentesassociações de afectados pela"reurbanização" do Besós, o bairroque acolhe o recinto e as insta-lações, (www.poblenou.org,www.forumperjudicats .com,www.milesdeviviendas.net) e pla-taformas que relatam como oFórum Cultural não foi pedidopelos cidadãos, mas imposto pelasinstituições públicas catalãs( w w w. f o r u m b c n 2 0 0 4 . o r g ,www.fotut.org, www.platafor-mabcn.net). Assim, é compreensí-vel que em toda a informação doscanais públicos se tivesse elimina-do a divergência de opiniões e nãohaja cabida para as repetidas quei-xas e numerosos protestos dosvizinhos, dos afectados ou dos gru-pos de intelectuais. A ocultaçãodestas opiniões dissonantes, assimcomo essa pressão para a adesãototal ao Fórum é uma maneira demanipular o perfil do Fórum, umtalante claramente oposto a esseespírito de diálogo repetido cons-tantemente pela organização. Por último, resta apenas desenharas linhas do poder económico queestão a mover essa grande ope-ração urbanística de reordenação erequalificação dos terrenos, pois oFórum não deixa de ser uma "bor-bulha" publicitária que oculta amais vasta operação especulativavivida na capital catalã. O CâmaraMunicipal de Barcelona era a pro-prietária da maior parte dos terre-nos do Fórum e limítrofes. Estesforam requalificados (dantes eram

para emprego industrial) e compra-dos por imobiliárias, construtoras eempresas privadas que, por acaso,são as mesmas que estão envolvi-das na construção e patrocínio doFórum 2004. Endesa, por exemplo,que mediante o grupo AUNA,comprou 12.764m2, ou La Caixa,que mediante Servihabitat se fezcom o controlo de 50.000m2. Aesta injecção monetária que recebea Câmara Municipal há que somaros investimentos recebidos doEstado espanhol, a Generalitat, aDeputação de Barcelona e os fun-dos europeus (1.116 milhões deeuros) e ainda 1.074 milhões deeuros de investimento por parte deempresas privadas para a cons-trução de prédios ou centros

comerciais. 2.190 milhões apenaspara a renovação e as infra-estrutu-ras na área, já que o Fórum -edifí-cios, exposições e organização-levou um financiamento à parte:341,8 milhões de euros, que comcerteza nas contas finais serão bas-tante mais, pois o número de visi-tas ficou bastante abaixo das pioresexpectativas.

Guerra e PazEscrevia Graham Greene no "Thethird man" que "a guerra e a pazdesencadeiam uma grande quanti-dade de negócios sujos". O Fórum,a julgar por como está organizado erevisando a folha de méritos dosseus patrocinadores, aproxima-secom bastante fortuna desta máxi-

Barcelona fecha no próximo 26 de Setembroquase cinco meses de diálogos, exposições,encontros e muitos espectáculos. É o FórumUniversal das culturas 2004. Uma convocatóriaque segundo os seus organizadores misturalazer com uma ampla oferta cultural e que

reuniu importantes peritos de diferentes áreasdo conhecimento para debater sobre osproblemas da actualidade. Assim foi definido oFórum de Barcelona institucionalmente. Porém,outras vozes falam de "um encontro quementirá ao mundo". De facto, atrás da estudada

campanha de promoção escondem-se, comoassinala a plataforma de Resistência, fraudesimobiliárias, desenvolvimento insustentável eunificação do pensamento. Enfim, "capitalismocultural" mal dissimulado por valor de mais de2.500 milhões de euros.

Fórum de Barcelonasão mais as vozes que as nozes

Os terrenos foram requalificados e comprados por imobiliárias, construtoras e empresas privadas que, por acaso,são as mesmas que estão envolvidas na construção e patrocínio do Fórum 2004

[email protected]@terra.es

O Fórum não deixade ser uma"borbulha"

publicitária queoculta a mais vasta

operação especulativavivida na capital

catalã. O CâmaraMunicipal de

Barcelona era aproprietária damaior parte dos

terrenos do Fórume limítrofes

Xavier M. Miró

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reportagemSetembro 2004novas da galiza 11

ma. Assim, o encontro barcelonêsbaseado em três eixos temáticos -diversidade cultural, desenvolvi-mento sustentável e condições paraa paz- pretende, entre outros objec-tivos, promover a educação para apaz, desvendar a situação em quevivem milhões de deslocados erefugiados por causa das guerras einformar sobre o investimento emarmamento ou o custo dos exérci-tos; mas ao mesmo tempo, e parafechar o círculo mantendo todo omundo contente, quem dá parte dodinheiro para o evento é a econo-mia de guerra. Sócios do Fórumcomo Telefónica, El Corte Inglés eLa Caixa, e patrocinadores comoIberia e Indra são empresas quedesenvolvem projectos para a áreade defesa e vendem equipas para aindústria militar, beneficiandoamiúde das guerras. Telefónica émembro da Associação deFabricantes de Armamento eMaterial de Defesa de Espanha,para além do facto de que a multi-nacional, através de TelefónicaSistemas, participe em programasde guerra electrónica. El CorteInglés é proprietário de InformáticaEl Corte Inglés S. A. que trabalhaem sistemas de informação para aárea de defesa; também é membrodo Círculo para a Defesa e aSegurança. La Caixa obteve daAdministração norte-americana ocontrato espanhol mais importantedo Iraque ocupado para fundar econtrolar -com outras 12 financei-ras- o Banco de Comércio doIraque. Iberia participa em progra-mas da Armada Espanhola e doExército do Ar. Indra é a terceiraempresa da indústria militar espan-hola com 381 milhões de euros emvenda de produtos militares em2002, e é também o principal for-necedor não estado-unidense daUS Navy (a Marinha dos EEUU).Se a contradição fica bem patentequanto às "condições para a paz",uma situação semelhante ocorrecom os dois eixos restantes sobreos quais se fundamenta o encontro:diversidade cultural e desenvolvi-mento sustentável. Igual que nocaso anterior, as marcas comerciaisdos sócios e patrocinadores-Toyota, Endesa, Nestlé, Coca-Cola, Randstad ETT, GallinaBlanca e Cola Cao- são acusadasde práticas depredadoras nocomércio, de tornar insustentável omeio ambiente, de fomentar a pre-cariedade laboral e de um impor-

tante impacto social nas suas áreas.Do ponto de vista oficial, estasincoerências são pouco mais doque fricções, inclusive positivas.Por palavras de OleguerSarsanedas, porta-voz oficial: "odinheiro para nos financiarmos émuito importante, e se estas com-panhias cumprem com as nossascondições -assunção da Carta dosDireitos Humanos e ActaFundacional da ONU-, o resto é jácoisa do consumidor, boicotá-lasou não". Mas na realidade custa ajustificar o Fórum. Pois dificilmen-te pode escapar à triste fama deestar a mascarar uma rentável ope-ração urbanística, de ser apenas ovéu que a especulação utiliza nafronteira do barcelonês sector daMina -bairro marginal limítrofecom o Besós, onde se levantou orecinto principal-, e de tentar lavara negativa imagem e a má cons-ciência dos políticos que não aca-bam de resolver os problemassociais autênticos.

Contratação de riscoComo em qualquer evento destascaracterísticas -e em maior medidaneste "entorno multicultural propí-cio para a renovação de atitudes ede ideias" segundo se define nosseus boletins de informação- exis-tem umas margens de contrataçãopara grupos com deficiências físi-cas ou psíquicas ou colectivos comrisco de exclusão social (ciganos,ex-presidiários). O dia-a-dia, pelocontrário, deixa ao descoberto umarealidade bastante triste, pois nemos deficientes são integrados ao

mesmo nível que o resto do quadrode pessoal nem todas as empresasadmitem estas pessoas. SusanaMartínez, empregada numa destasempresas, explica como determi-nados colectivos são empregadoscomo mão-de-obra "pesada", sem-pre em tarefas de limpeza masnunca atendendo os e as clientes."Os deficientes -esclarece Susana-recolhem o lixo e lavam pratos. Éinjusto. A companhia primeiro pre-sume de tê-los contratado paradepois ficarem com a pior parte dastarefas. Haveria que juntá-los àsequipas de cozinha ou de atendi-mento ao público, essa seria asolução. E não afastá-los da gente."O resto do pessoal laboral integra-se com pessoas vindas de diferen-tes lugares do Estado e uma altapercentagem de imigrantes.Algumas delas são alojadas em

albergues nas aforas de Barcelona,mas nem todas contam com esteprivilégio. Por não citar as pressõespara venderem mais por parte dosseus chefes, as mudanças constan-tes nos horários, horas extraordiná-rias ou as irregularidades nomomento de receberem o salário.Este medo fica patente na atitudede alguns empregados que prefe-rem manter-se no anonimato. É ocaso de Ana -nome fictício- sub-contratada do Fórum, que denun-cia como a organização se desen-tende das empresas de serviçosseleccionadas para trabalhar norecinto: "Eu sou cozinheira mas nafolha de pagamento a categorialaboral que se me assigna é a de"pessoal de limpeza". E como esta-mos dois meses à prova, quando oFórum dura quatro!, há que ter aboca fechada". Em semelhantecaso acha-se o pessoal de infor-mação, contratado pela ETTRandstad. Francisco, filho de gale-gos, é um deles: "Mormente sãocontratos de meia jornada -sustém-bastante mal pagos. O pior é quan-do nos situam nalgum dos pontosde orientação, lá passamos cincoou seis horas sem quase nos podermover, e agora, ainda bem quepuseram guarda-sóis, porque dan-tes nem isso. E em pleno Agosto..."Perante estas situações tão irregu-lares que vêm denunciando osempregados, a UGT negociou amelhoria de vários contratos colec-tivos de trabalho, mas o Fórum nãoparece ter-se apercebido, alegandoque não são os seus empregados.Fontes do sindicato denunciam

também que, por exemplo, osempregados externos carecem decertos benefícios, como parque deestacionamento gratuito, bónus derefeições, convites e passes gratui-tos. "No início -especificam no sin-dicato- quando fomos convidados(os sindicatos maioritários) a parti-cipar do evento pensamos que seriaum bom sinal, que haveria uns con-tratos sérios, controlos e facilida-des para os trabalhadores. Umasorte de oásis laboral" A realidade,como indicam na UGT, é antes acontrária: "no Fórum existe empre-go precário".

À segunda é de vezEm Monterrey (México), sede dasegunda edição do Fórum -ano2007- já se fazem sentir as primei-ras vozes que põem em causa oprojecto, e isto apesar dasmudanças que se anunciaram:entrada gratuita para o recinto epagamento das exposições.Contudo, políticos e organizadoresentendem que essa será a sua opor-tunidade, pois em Barcelona nada -ou quase nada- correu segundo oaguardado. Pensava-se numa revo-lução urbana, dos cidadãos, e cul-tural. Pelo contrário, na memóriade todos -aderentes e opositores-fica a grande rede imobiliária, asdívidas... e pouca coisa a acrescen-tar. Porque o Fórum empachou avida quotidiana da cidade, já quenem as mudanças eram tão neces-sárias nem esta "feira do conheci-mento" mudou tanto o comporta-mento dos barceloneses. Sim,houve debates, alguns -se calhar-até interessantes, mas não pensa-dos para todos os públicos, maspara especialistas. Isso por nãofalar nas exposições enquadradasdentro do recinto -bastante fra-quinhas, nada novo- que serviramunicamente para dar um verniz desabedoria à assistência. Resumemuito bem esta desilusão comuni-tária o escritor Narcís Comadira,que escrevia em El Pais deCatalunha, na segunda quinzenadeste mês: "Eu aguardo que acidade não tenha que voltar arecorrer a acontecimentos espe-ciais para poder ordenar o seuterritório, para crescer como temque fazer, para modernizar-se, epara fazer da cultura não apenasuma festa (...) mas a espinha dor-sal do convívio quotidiano".Finalmente, foram mais as vozesque as nozes neste espectáculo.

Sócios do Fórumcomo Telefónica, El

Corte Inglés e LaCaixa, e patrocina-dores como Iberia eIndra são empresas

que desenvolvemprojectos para

‘Defesa’ e vendemequipas para a

indústria militar

o Fórum empachou a vida quotidiana da cidade, já que nem as mudanças eram tão necessáriasnem esta "feira do conhecimento" mudou tanto o comportamento dos barceloneses

Albert Masias

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12 opiniom Setembro 2004 novas da galiza

Chamamos recurso a aquilo quepodemos utilizar para melhorarmosa nossa qualidade de vida. Comosabemos, os recursos podem sernaturais ou elaborados, e os naturaispodem ser renováveis ou nom reno-váveis. Que um recurso seja ou nomrenovável, depende, a maioria dasvezes, da gestom que dele se figer.Evidentemente, um recurso extrac-tivo como umha rocha ou mineral,será sempre nom renovável, mastambém a perda de bio-diversidadepode fazer com que um recursorenovável deixe de sê-lo. Ainda,evidentemente, a sobre-exploraçompode conduzir também à perda deum recurso de maneira irreversível.Galiza é umha terra especialmenterica em recursos naturais quepodem ser considerados como reno-váveis, associados a ecossistemasde particular produtividade, comoos seus rios, os seus montes (bos-ques ou fragas), as suas rias deexcepcional riqueza, etc.Nos últimos tempos, estamos habi-tuados a ver como a política de ges-tom dos recursos parece empenhadaem destruir os tais recursos naturais,ou em fazer com que perdam a suacaracterística de recursos renováveis.O caso dos incêndios florestais é umde tantos exemplos desta políticade esbanjamento de recursos, e nomé o de somenos importáncia.Para tratar o tema dos incêndios,podemos abordá-lo de vários pontosde vista. Eu proponho os seguintes:As causas dos incêndios, as medidasde prevençom e luta contra o lume, aregeneraçom das zonas queimadas ea gestom integral do monte, a partirde umha abordagem global de ges-tom dos recursos que leve em contaa sustentabilidade do monte.

A. As causas dos incêndios fôromexaustivamente tratadas em diferen-tes trabalhos que datam de há maisde vinte anos. Este ano, tendo-seproduzido inúmeros incêndios,muitas vozes (sindicatos, BurlaNegra, associaçons relacionadascom a exploraçom florestal, etc.)alçárom-se para tratar o problema eas suas causas: despovoaçom daszonas rurais, mudança nos usos dosmonte e repovoaçons florestaisdesafortunadas que estám a trans-

formar a nossa paisagem num enor-me e contínuo eucaliptal (o eucalip-to é umha planta "pirofita", quer istodizer que sobrevive ao lume,enquanto as outras espécies somgravemente danificadas polas altastemperaturas, eliminando assim osseus competidores). Neste sentido,Euronatur adverte que a expansomde espécies forasteiras, particular-mente no que diz respeito àPenínsula Ibérica, nom só rompeu oequilíbrio ecológico, mas incremen-tou também enormemente os riscosem caso de incêndio.Em definitivo, trata-se da entrega donosso património florestal unica-mente a compradores de eucaliptoscomo é a Empresa Norfolk, que fixaos preços e determina as condiçonsde compra e de derrube de árvores.

B. As medidas de prevençom.Como diz a sabedoria popular: "Oslumes do Verao apagam-se noInverno". Quer dizer, umha políticaflorestal que procure a sustentabili-dade do recurso, deve manter aatençom sobre o meio durante todoo ano: limpeza, derrubes controla-dos, lumes preventivos controladose investigaçom e implementaçomde um disposistivo de prevençomdo lume permanente. Um disposisti-vo deste tipo deveria incluir ummapa de risco o mais definido pos-sível e a implicaçom da sociedadeafectada de modo organizado.Quanto à determinaçom dos riscosde incêndios, há que ter em contatodos os factores de que depende oseu desencadeamento. O risco, emgeral, determina-se tendo em conta:a) A perigosidade, ou seja, a fre-qüência com que este se produz ou,ainda melhor, a probabilidade de orisco vir a acontecer. Será maior aprobabilidade de incêndio numeucaliptal que numha fraga ('bosquemisto'), num bosque cheio de resí-duos secos (cascas, cortiça, lenhaseca, etc.) ou de mato baixo do quenoutro limpo de ervas daninhas e demateriais combustíveis. Tambémserá mais provável um incêndio emtempo seco do que em temporadahúmida, etc.b) A exposiçom, que é o númerototal de pessoas ou bens afectados.Este factor deve ser estudado de um

ponto de vista social e económico.Este factor está muito relacionadocom a ordenaçom do território, emfunçom das zonas de risco. A expo-siçom pode ser reduzida a partir de"estratégias de emergência", queimpliquem a Protecçom Civil, e asredes de vigiláncia.c) A vulnerabilidade, representa apercentagem de perdas, comrelaçom ao total, humanas ou mate-riais. Por exemplo, no caso que nosocupa, a existência de caminhos-barreira para conter incêndios, devias de acesso à área eventualmenteafectada, e mesmo a proximidadede depósitos de água estrategica-mente localizados, poderám reduzira vulnerabilidade. Também a sepa-raçom das zonas habitadas das gran-des massas florestais é importanteneste sentido. Na distribuiçom tradi-cional do território, isto era o nor-mal, pois a casa estava rodeada dosterrenos de horta e de pasto. Agoraos cultivos tradicionais da horta vamsendo abandonados e substituídospola floresta, chegando o bosque emmuitos casos ao pé das casas, o queaumenta o risco, porque aumenta avulnerabilidade.Estas consideraçons permitiriamelaborar um mapa de riscos deincêndios florestais que facilitasseumha rápida intervençom, caso sevinhesse a produzir o fogo, e tam-bém umha paulatina correcçom dasituaçom, caso a administraçomestivesse realmente interessada nareduçom e mesmo na eliminaçomdestes riscos (o que chegamos a pôrem dúvida, a julgar pola falta deefectividade).Num mapa de riscos nom é precisoquantificar, o que seria praticamenteimpossível, basta com definir zonasde baixo, médio, ou alto risco.Com relaçom ao risco e à sua defi-niçom, referirei um estudo feito poloDepartamento de Sociologia daUSC para a Conselharia do MeioAmbiente segundo o qual o risco deincêndio, no caso dos montes gale-gos, estaria definido por 5 factores: apressom demográfica, a cultura flo-restal, a rendibilidade florestal e aorganizaçom e tensom social(Vieiros, Canal Verde). Isto implicaque a Conselharia tem no seu poderdocumentaçom suficiente para mini-mizar os incêndios florestais, tantoem número como em gravidade.

Implicaçom social organizadaUmha maneira de actuar nestecaso poderia ser aplicando a meto-dologia CDM (ColaborativeDecisión Making), como sugereEmílio Mari (em www.xornal.com). Quer dizer, a planificaçomda acçom como o resultado deumha tomada de decisons que por

sua vez é conseqüência de umhabusca conjunta de soluçons polosdiferentes sectores implicados:Os políticos (1), Os técnicos eexpertos (teórico-científico) (2),Sector social afectado (3).Para isso, o território deveria estardelimitado em unidades deactuaçom que poderiam compreen-der um número de concelhos deter-minado, mais ou menos vintedependendo, por exemplo, do tipode terreno ou da perigosidade defi-nida no mapa anteriormente elabo-rado (risco alto, médio, baixo).Estas unidades de actuaçom seriam"O Conselho de Actuaçom porColaboraçom", de que seria respon-sável um presidente de umha cáma-ra municipal por zona ou conselho.Seguindo a E. Mari, este conselhodeveria ser formado por:1..Presidente de umha cámaramunicipal por zona delimitada terri-torialmente, mesmo que tenha atévinte cámaras municipais. 2. Um Engenheiro de Montes, nomtitulado, chega apenas com que sejaconhecedor de essa parte específicado território. 3. Um ou dous vizinhos ou vizinhaslavradoras (nom funcionários oufuncionárias).4. Um guarda-rios e um guarda civilconhecedores da zona. 5. Umha pessoa experta em meteo-rologia (ventos e chuvas). 6. Um ou dous arqueólogos. 7.Um ou dous expertos emBiologia.8. Dois expertos em fogos florestais. Na Galiza necesitariam-se polomenos 20 conselhos CDM.

C) Regeneraçom das zonas quei-madas. Sabemos que depois doincêndio a recuperaçom depende devários factores, entre os quais nomse pode desprezar o anterior tipo decultivo. Assim, como já foi ditoacima, se o anterior cultivo era deeucaliptos, estes vam regenerar comrelativa facilidade, pois, como ésabido, as sementes desta planta

ficam protegidas por um fruto resis-tente ao lume, sendo elas mesmasaltamente resistentes às altas tempe-raturas, polo que só elas encontra-rám a oportunidade de voltar aengendrar. As pessoas que andamno monte, ou por perto, sabem queas próprias plantas de eucaliptoregeneram com relativa facilidadedepois de um incêndio, mas nomacontece o mesmo com outras espé-cies. Nom me vou estender nestecapítulo, pois existem estudos sufi-cientes e linhas de investigaçomabertas nas escolas de engenhariaflorestal na Galiza acerca do tema.

D) A sustentabilidade do bosque,e a sua gestom integrada. Quantomais rentável é um recurso, maisinteresses haverá para conservá-lo.Sabemos que dos montes nom seaproveita unicamente a madeira,mas também todo um conjunto deseres vivos que dependem dele ,como som os cogumelos. Hoje tam-bém há linhas de investigaçom inte-ressantes acerca da produçom debiogas a partir de restos florestais.Voltamos ao mesmo argumento :A tomada de decisons acerca domonte, como o resultado da cola-boraçom dos sectores implicadosno seu manejo, pode constituir oelemento indispensável e determi-nante para a sua conservaçom ecorrecta exploraçom, e consequen-temente o único meio eficaz paralutar contra os incêndios.Neste sentido recolhemos a opi-niom de José Pereira, da CIG, publi-cada em Vieiros, acerca das causasdos lumes: "Nunca entenderemosporque a Junta se nega a constituiresse fórum conjunto que exigimos".

E) Conclusom. A gestom dos mon-tes é como a gestom de qualquerrecurso: pode ser feita da óptica do"desenvolvimento sustentável"como recomenda a UniomEuropeia, e como aliás é recomen-dado por todos os fóruns internacio-nais, tratanto as massas florestaiscomo recursos renováveis, e diver-sificáveis, ou bem sob a filosofia dopredador de recursos do sistemacapitalista implacável, que apenasprocura o enriquecimento rápidosem criar riqueza de futuro. Esta éumha decisom política.Teremos que ter muito cuidado paraver quem escolhemos como gover-nantes-administradores dos nossosrecursos, se pretendemos mantereste formoso canto do mundo tamprodutivo e viçoso como nos foientregado polos antepassados que ocultivárom durante milhares deanos, para nós e para os nossos fil-hos, ou para aqueles que aqui qui-gessen vir viver.

Os incêdios florestais como partede umha política de gestom dos recursos

Adela Figueroa Panisse

Umha política florestal para a sustentabilidadedeve atender o meio durante todo o ano

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No dia 8 de Setembro finava naCorunha o escritor mais prolíficoda literatura galega contemporá-nea, que cultivou todos os génerose passou por todos os “ismos”.Tinha nascido numha famíliacamponesa em Outeiro de Rei nodia 6 de Outubro de 1929. Morreupara mim o melhor amigo daGaliza, o meu padrinho na baptis-mal aprendizagem da cultura gale-ga e nas fainas patrióticas. Depoisdo passamento do meu pai, nuncatinha sofrido o meu coraçomumha fenda tam espinhenta.Conheci a Saleta e o Manuel lápolo ano 65, quando freqüentava osegundo ano de teologia noSeminário de Lugo. As minhasinquietaçons já se inclinavam paraos ideais nacionalistas e encetavaa leitura de versos em galego. Porcerto, que a minha rodagem nanossa língua começou com“Muiñeiro de Brétemas”, antes deter tido a imensa sorte de desfrutarda amizade do seu autor.Cada vez que de Quiroga, a minhavila natal, me deslocava de taxi aMonforte, nom esquecia fazerumha curta visita à livraria. Umbocado de amigável conversasempre semeava umha ideia nova,o ferrom para a leitura de um livrorecente ou a lembrança de umfeito histórico importante para oentendimento do passado galego.No Verao do ano 1969 um rapazmonfortino, Lis, desejava iniciar asua vida de casado, celebrando acerimónia eclesiástica em línguagalega. Manuel avisou-me e com-pareci na histórica cidade do Cabenum domingo de Agosto, apósumha longa viagem de motocicle-ta desde a Fonsagrada. Reparti aosassistentes (entre os quais seencontravam Saleta, Manuel eLois Diéguez) uns folhetos pararesponder adequadamente à litur-gia em galego. Quando eu e outropadre amigo do Manuel já estáva-mos ritualmente vestidos para sairpara o altar, o pároco apercebeu-sede que a liturgia se ia desenvolverem galego. Irritou-se e proibiu-no-lo. Nós recusamo-nos a empregara língua “cervantina” e o párocoviu-se obrigado a casar os noivospessoalmente e em castelhano.Nessa conjuntura, de simplesescudeiro passei a cavaleiro daslides galeguistas sob a protecçomdo Senhor de Hortas e Vila Nova.Um periódico galego de BuenosAires denunciaria a atitude dopároco e o Manuel escreveria umartigo na mesma linha profética narevista “Chan”. Desde essemomento compreendi o sentido da

verdadeira amizade e apliquei-lheo parafraseio das palavras queenfeitiçam o crismom de Quiroga:“amicitia, sit tibi melior auro”. Oobséquio da vida sem a lumieirado amor e o caiado da amizadeseria insuportável.A nossa amizade nom foi resulta-do de umha labareda estantia, masfruto da contínua quentura acarin-hadora de um forno aceso ou deumha pinga de orvalho que luarapós luar estremece a flor. Estáinçada de fidelidade e lealdade,semeada ao longo de muitos anose mantida, apesar da lonjura físi-ca, por unha íntima comunidadede parelhos ideais e sentimentosafins.Após ter-se ido embora paraMadrid para estudar Filosofia eLetras e mais tarde para o PaísVasco para exercer a profissom deprofessor amorteceu a nossarelaçom “visu a visu”, mas nom osvínculos de amizade, que reflores-ciam durante as férias, nem asconversas telefónicas e a corres-pondência.A pouco e pouco, as vinculaçonsfôrom crescendo em quantidade,qualidade e sinceridade, fruto,sobretudo, de umha semelhanteconcepçom mental, sentimental eespiritual. Explicitávamos os nos-sos mais íntimos anseios, aspi-raçons e problemas numha espé-cie de confessionário aberto pordous lados, sem que jamais advin-hesse entre confessor e confessa-do e, com certeza, sem que nin-guém emitisse nunca as palavrasfinais de absoluçom, mas apenasas derivadas de ouvir e compreen-der, virtudes que atingem os ami-gos, segundo os princípios deAristóteles na sua “ÉticaNicomédia” ou no tratado sobre aamizade de Juan Luis Vives.Após a obrigada visita aos meuspais, nom faltava ao acto ritual deme deslocar até a livraria Xistral,nas monfortinas galeriasFontecha, para saudar efusiva-mente, e emoçom nom contida, aSaleta e o Manuel, conversar coma paciência dos velhos petrúciosde “omni re scibili” e “observar-mo-nos competentemente”.Também aproveitava para inteirar-me das novidades editoriais efazer as correspondentes comprasde livros e cerámica deSargadelos.Nos jantares e ceias, com as suasinescusáveis tertúlias posteriores,nas visitas a familiares, amigos epersonalidades e nas viagens polageografia galega, na companhiade Saleta e Manuel, aprendi mais

do que nas leituras livrescas, nasmonótonas jornadas universitáriase no percurso da minha experiên-cia vital. Nas viagens nom podiamser esquecidos três ritos obriga-dos: acender velinhas nas igrejas esantuários, visitar os amigos edepositar ramos de flores nascampas dos poetas e personagensjá finados da cultura galega, e deoutras, Celso Emílio em CelaNova; Dias Castro em Guitiriz;Pondal, Murguia, Luís Seoane,Curros e Chané, na Corunha;Risco, em Alhariz; DelgadoGurriarám, em Córgomo, GabrielArésti, em Derio, Francis Jamesem Hasparren (Iparralde) eGôngora, em Córdova.As jornadas do Manuel polo PaísBasco fôrom numerosas: recitais,conferências, congressosGaleuzca, pregom do Dia daGaliza no País Basco, visitas àcampa do seu amigo, GabrielArésti, em Derio, e à do seu admi-rado, Francis James, emHasparren. Percorreu o ridentePaís êuscaro de Hasparren atéBerguenda e de Leire atéSanturtzi, recordando os antepas-sados paternos da Saleta e dedi-cando-lhe dous poemas em “Ocamiño é unha nostalxia”.Manuel dignou-se a prologar omeu livro “Impenitências galeuz-canas” e eu tive a imerecidahonra de frontispiciar os adros dedous poemários seus: “Ritual praunha tribo capital de Concello”,dedicado a Outeiro de Rei, e“Sonetos ó Val de Quiroga”. Esteúltimo, é o mais firme símbolo danossa amizade. Enxergou-o em

virtude da minha teimosa birra ededicou-o ao Vale de Quiroga, atribo dos meus amores e dores, eterra originária da sua avó,Consuelo, que também levavaum apelido Neira. Nom seria des-cartável que corresse sangueparental polas nossas veias.À Saleta e ao Manuel devo ospedaços de um bom magote devalores que eles possuem e que eugostava de esforçar-me a imitar: aoferta inquebrável da sua amiza-de, o impagável obséquio da suapoesia, a druídica fidelidade e otenso compromisso social, ético eestético com umha língua, emble-ma substancial da nossa personali-dade diferenciada, um latejo rai-voso contra a sangria emigratória.Um profundo amor polo País,Povo de camponeses, marinheirose trabalhadores. O carinho polasnossas tradiçons, gastronomia,romarias, cruzeiros, castros, petosde ánimas, costumes e idiossin-crasia, o intenso conhecimento danossa literatura e da nossa histó-ria, a visom humana, transcen-dente e aquecedora da paisagem,especialmente em dous lugares,paraísos inexpugnáveis da memó-ria: o regato do Cepelo e a carval-heira da Santa Isabel. O apreçopolo nosso sem desprezo doalheio, a valorizaçom da varieda-de como sinal de riqueza, o rancorque lhe produz a empobrecedorauniformidade, a perfeita coerênciana trajectória existencial, a lealda-de acima de todas as cousas, acapacidade de admirar a formosu-ra ali onde estiver, a sabedoria debeber vinho sem se embebedar, o

facto de saber enfeitiçar, sem gula,o céu da boca com os manjaresterrenais. A magnánima compre-ensom das falhas humanas, a pre-ferência polo trabalho humilde equotidiano, umha digna e austerasobriedade, a inquietaçom polodetalhe de um cravo murcho, deumha fontinha perdida, de umvidoeiro solitário, de umha lagoa-zinha esquecida e do curto regatodo Cepelo, nado e fiando namesma tribo. A nostalgia de ummoinho esborralhado, a raiva poralgumha ermida em desfeita polaincúria vicinal e clerical. A defesados velhos comboios abandona-dos, a saudade dos carros canto-res, do voo dos cavalinhos dodemo ou do assobio dos pintassil-gos, a lembrança dos antepassadossulcadores de colheitas, a fogueirada memória como farol do futuroe sinal de identidade colectiva, oconstante apoio às causas patrióti-cas, as oraçons polos tolos e bêba-dos, o condom da palavra demora-da e rica, a imensidade de um níti-do e aberto olhar como a palma damao, a clara limpeza nas atitudes,a cenreira contra a raposaria, acaroucada e o palafreneirismo, aajuda aos misérrimos e desprote-gidos da sociedade, a desinteres-seira disponibilidade de serviço, oafastamento da soberba vaidade,um esperançado optimismo, ohumor sam e amável, um jovial eatraente vitalismo, um farto ane-dotário, o lostregamento do paifo-co papanatismo cosmopolita, oafastamento de um pragmatismoesterilizador e egoísta, a utopiacomo fornecedora da mudançaestrutural e pessoal, umha genero-sidade sem fronteiras, umha cos-movisom integradora e panteístado mundo, umha religiosidadenatural, priscilianista, repleta defilantropia e franciscanismo, umenxebre conceito da família como“célula básica” de enraizamento ehominizaçom, umha fraternal soli-dariedade com os povos espezin-hados e umha rixa aposta numporvir soberano para a nossa que-rida e magoada naçom.No dia 8 de Setembro nom ente-rramos o corpo do Manuel, massemente de fruto longo. No céu dapátria Manuel Maria sempre seráumha estrela nova. Na memóriada tribo Estévez-Goñi ocupará olugar mais do lar, a lareira docoraçom. Na pátria galega já cinti-lam três faróis acesos: Rosália,Castelao e Manuel Maria.

opiniomSetembro 2004novas da galiza 13

Manuel MariaXosé Estévez

No dia 8 de Setembro nom enterramos o corpo do Manuel, mas sementede fruto longo. No céu da pátria Manuel Maria sempre será umha estrela nova

Xosé Estévez, historiador galegoresidente em Euskadi

A. Cabanas

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PGL. A Subdirecçom Geral doJogo, Associaçons e EspectáculosPúblicos, dependente da Junta daGaliza, acabou de comunicar àSecretaria da Associaçom Galega daLíngua (AGAL) o visto de apro-vaçom desse órgao aos estatutos daassociaçom e, portanto, o cumpri-mento e adaptaçom à nova Lei deAssociaçons vigente naComunidade Autónoma da Galiza.Num primeiro momento, através deum escrito datado em 22 de Junhode 2004, a Subdirecçom Geral nomvalidou a documentaçom apresenta-da pola AGAL (com o objectivo deadaptar os seus estatutos à nova lei),

fundamentando-se em que a normaempregada nom se ajustava à ofi-cial. Mesmo assim, após as ale-gaçons assinadas polo professorEstraviz, o órgao administrativomudou de postura e foi-lhe outorga-da à citada documentaçom o visto deaprovaçom provisório, que se torna-rá definitivo no prazo de 3 meses.O professor Estraviz alegou que aassociaçom nom poderia agir emsentido contrário ao que som erepresentam, precisamente, os seuspróprios objectivos (conforme arti-go 4º dos velhos estatutos, e 2º dosnovos): "A Associaçom Galega daLíngua tem por objectivo funda-

mental conseguir umha substan-cial reintegraçom idiomática e cul-tural do galego (nomeadamentenas suas manifestaçons escritas),na área lingüística e cultural quelhe é própria: a galego-luso-africa-no-brasileira". O famoso lexicó-grafo acompanhou o escrito comuma série de sentenças emanadasdo Superior Tribunal da Justiça,sediado na Corunha e redigidas emnorma AGAL. Numa delas recon-hece-se a coexistência de duasnormas: a do Poder Político daJunta e a da AGAL e especificam-se claramente as razons da existên-cia de umha e outra norma.

14 cultura Setembro 2004 novas da galiza

portal galego da língua

Venhem a lume novosnúmeros da Agália

Agália. Os números 77/78 da pubi-caçom internacional da AGAL, arevista de ciências sociais e huma-nidades Agália, correspondentes ao1º semestre de 2004, já estám narua, com um volume de 282 pági-nas, nas quais, para além das habi-tuais secçons (Estudos, Notas,Recensons, Percurso...), podemosencontrar um memento do profes-sor e investigador literário JoséAugusto Seabra e uma pequenaamostra de poesia italiana.Também salienta a publicaçom naíntegra de uma comprida entrevistaa José David Santos Araújo, escritore presidente do Fórum de AmizadeGaliza-Portugal e autor do livro"Portugal e Galiza: Encantos eencontros", editado pola da AGALem parceria com Laiovento. Ainda, nestes novos números apa-recem trabalhos de novos e novascolaboradoras. Da Itália, AdrianoSartor, Marina Stroili, LudovicaCantarutti e Gianni Cadorin assi-nam nas páginas centrais um espe-cial dedicado à poesia italiana,correspondendo a ilustraçom darevista ao próprio Gianni Cadorin,com fotografias da sua autoria.Anjo Gonçález Vicente assina umestudo acerca dos sistemas eleito-rais e da paridade homens-mulhe-res nos parlarmentos. José AndréPorto fai o próprio a respeito danovela Desafio Venturoso, deAntónio Barbosa Bacelar, e SusanaSánchez Arines assina também um

estudo sobre Barbosa Bacelar, con-cretamente sobre a visom masculi-na da mulher na obra dele. Também colaboram nesta Agáliacom novos estudos CrisantoVeiguela Martins, MariaAuxiliadora de J. Ferreira, PauloRoberto Sodré, Salvador Mourelo

e Wilberth Claython F. Salgueiro.Antonio Allegue Leira aproxima-nos, através de uma crónica pesso-al, da Irlanda e J. Chrys Chrystello,Luis Gonçales Blasco, José-Martinho Montero Santalha eMaurício Castro assinam artigos nasecçom Notas.

Activismonacionalista deJosé Bieito Abrairahomenageado emCompostelaPGL. Durante a segunda semanade Setembro celebrárom-se emdiversos pontos da Galiza váriasactividades culturais para come-morar o centenário do nascimentode José Bieito Abraira, um dosmecenas do galeguismo do exíliobuenairense. As actividades delembrança iniciaram-se com acelebraçom de umha mesa redon-da na Galeria Sargadelos deCompostela em que participáromo presidente da AGAL, BernardoPenabade e o prestigioso endocri-nologista Carlos Abraira, filho dohomenageado.

Jornal ourensano''La Región''publica artigosem reintegradoPGL. O membro da AGAL, pro-fessor na Faculdade das Ciênciasda Educaçom e grande especialistana figura de Tagore, José Paz, pas-sou a fazer parte da equipa de cola-boraradores do jornal "La Región",no qual escreve desde há umhassemanas artigos periódicos de opi-niom sobre a vida e as problemáti-cas da cidade. O interessante dofacto, da óptica linguística, é queos artigos som redigidos em gale-go-português, utilizando a normahistórica e etimológica propostapola AGAL para a nossa língua.

Falece em BuenosAires EngenheiroEduardo Parajuá

PGL

Eduardo Parajuá Rodríguez(Buenos Aires, 1928- 2004) erafilho de galegos com as raízes namontanha luguesa, concretamentenas aldeias de Parajuá (paróquiade Romelhe, no concelho deSamos) e de Farnadeiros e bra-gám (no Corgo). Em 1922 a suafamília emigrou para a Argentina,assentando as suas raízes na cida-de portenha. Discípulo de JoséBieito Abraira, destacou comomecenas da cultura galega nacapital argentina.

Incluem memento de José Augusto Seabra e compilaçom de poesia italiana

Junta valida Estatutos da AGAL Documento apresentado em galego correcto tinha sido rejeitado

www.agal-gz.org

Por primeira vezaulas de portuguêsem Santiago e LugoPGL. A Direcção Geral deFormação Profissional e EnsinoEspecial da Junta da Galiza acaboude confirmar às Escolas Oficiais deLínguas (EOI) de Compostela eLugo que desde este ano ministrarãoaulas de português. A EOI deCompostela tinha aberto no iníciodo ano um prazo de pré-inscrição aefeitos de conhecer a procura a res-peito do português, italiano e espan-hol para emigrantes, com o objectode alargar a sua oferta actual emmais uma língua. Finalmente o ensi-no do português acabou por ser omais procurado. Com estas duasestreias, só restam as cidades deFerrol e Ponferrada, de entre asurbes galegas, por oferecer o portu-guês entre a oferta de línguas.

PSOE de Ferrolpropom apoiargalego oriental

PGL. Conforme publica o jornal"La Voz de Galicia", o grupo socia-lista ferrolano anunciou a apresen-taçom de umha proposta perante aComissom de Cultura da CámaraMunicipal da cidade departamentalatravés da qual propom que Ferrolapoie o galego das comarcas doEu-Návia, do Berzo e de Entre-As-Portelas, administrativamente forada actual Comunidade Autónomada Galiza no Estado Espanhol."Precisamente porque nós estamosnoutra zona estremeira, nom nospodemos esquecer deles", ironizouum membro do PSOE ferrolano.

Anjo Gonçález Vicente assina um estudo acerca dos sistemas eleitorais e da paridade homens--mulheres nos parlarmentos. José André Porto fai o próprio a respeito da novela Desafio Venturoso

Citânia de Sanfinscandidata a

património dahumanidade

Luís Magarinhos. A citânia deSanfins faz parte de um grupo desítios arqueológicos do Norte dePortugal e da Galiza que vai apre-sentar uma candidatura a patrimó-nio da humanidade. O processo seráformalizado à Organização dasNações Unidas para a Educação,Ciência e Cultura (UNESCO) em2010. Localizada em Paços deFerreira a uns 30Km do Porto, acitânia tem cerca de 15 hectares e éa maior escavação arqueológica daGaliza histórica, conformada hojepelo Norte de Portugal e a Galizaespanhola. A sua importância é fun-damental na identificação e conhe-cimento da cultura castreja.

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músicaSetembro 2004novas da galiza 15

música

"Falcatruada nom é um selo disco-gráfico, nem umha promotora,nem umha agência de 'manage-ment' qualquer, pretendemos, polocontrário, ser umha plataforma deserviços de apoio para músicas oumúsicos (amadores ou profissio-nais) e artistas." Com esta decla-raçom de princípios apresenta-se-nos esta empresa galega que, talcomo podemos observar no seucompletíssimo web, pom ao dis-por de qualquer artista ou bandaumha série de serviços imprescin-

díveis para a ediçom de um trabal-ho musical. Nos dias de hoje, nomé complicado gravar num compu-tador temas musicais de umhaqualidade digna para a distri-buiçom. Por outro lado, tambémexistem na Galiza estúdios musi-cais onde é possível fazer gra-vaçons, de certa qualidade, porumha quantidade de euros relati-vamente acessível. Pois aconteceque, logo depois de termos com-pletado a gravaçom, Falcatruadaoferece-nos a possibilidade de a

editar, algo que costuma ser muitocomplicado sem se terem bonscontactos e certa experiência (defacto, a maioria das bandas comque estám a trabalhar carecemprecisamente de experiência ante-rior). Caso a banda ou solista nomtenha nada gravado, tambémpodem recomendar determinadosestúdios com que mantenhemboas relaçons, se eventualmenteoferecerem umha melhor relaçomqualidade / preço. Tramitaçons legais, direitos de

autor, desenho, promoçom (é inte-ressante quanto a isto a relativaaos mp3 através da rede), gestomde concertos, distribuiçom e pro-duçom de CDs, som algumhas dasposibilidades que oferece.Temos que valorizar ainda, polaenorme importáncia deste facto,que Falcatruada nom assina con-tratos de cessom de direitos deautor, conservando os músicos oumúsicas todos os direitos sobre asua própria obra, algo fundamen-tal no processo criativo.Em www.falcatruada.com temos apossibilidade de conhecer esteprojecto com mais profundidade,comprovando as possibilidadesque nos oferere no ámbito damúsica, do teatro, etc. Desta pági-na web podemos aceder ainda àsua própria rádio, a umha agendade concertos e actuaçons ou aosserviços gráficos.

Mais do que música, FalcatruadaFalcatruada nom é um selo discográfico, quer ser plataforma de serviços de apoio para músicas ou músicos

Hoje nom vos vamos apresentar umhabanda ou um festival. Dedicamos asecçom musical deste número àapresentaçom de um projecto que visafornecer o País de umha parteimportante da tam almejada

infra-estrutura fundamental parapossibilitar umha adequadacanalizaçom do potencial artísticoexistente. Falcatruada facilita àsbandas ou solistas todo esse trabalhocompreendido entre a ideia original e a

sua concretizaçom num disco, numconcerto, numha encenaçom de teatro...Um processo bastante mais complexo ecom muitos mais obstáculos e requisitos(especialmente económicos) daquiloque pode parecer à primeira vista.

Falcatruada nom assina contratos de cessom de direitos de autor, conservando os músicos ou músicastodos os direitos sobre a sua própria obra, algo fundamental no processo criativo

Oferece-nos apossibilidade de aeditar, algo quecostuma ser muitocomplicado sem seterem bons contactose certa experiência

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novas da galiza

Lois Pena volta à política emCangas. Príncipe ressuscita emVigo. Antolim aparece naEuropa. Orozco consolida-seem Lugo. Bugallo triunfa emCompostela. Pepinho Blancosaboreia o êxito em Madrid.Paco Vázquez resiste com a suamaioria na Corunha. Touriñoganha os congressos por acla-maçom. Pachi arrasa noCarvalhinho e Moreda diverte-se na Deputaçom.Camilo desaparece de Bru-xelas. Castrillo esconde-se en-re os papéis de um Plano Geralde urbanismo e o acento toleda-no de Mariño. Bello conforma-se com um pedacinho de pol-trona. Paco Rodríguez refugia-se em Izar. Beiras observa océu de Briom, à espera daqueleincêndio que em seis meses iaqueimar o bicho. Quintana faireverências na Moncloa. RafaelMouzo já passou à oposiçom eBautista Álvarez está tramitan-do a reforma. Fede a quinto mandato.Oposiçom cinzenta. Sindi-calismo com horário de escritó-rio e tardes livres no mês deAgosto. Classe política conver-tida em aparelho ou vice-versa.Jornais dedicados por completoao panegírico do poder.Campos de Golfe de Domaio aRóis. Parques Eólicos em todasas direcçons, alturas e superfí-cies. Casas Rurais para "fode-chinchos" e máxima audiênciapara ver a Ana Kiro.Na Galiza cheira a derrota, ser-vilismo e ceias de adesom. Apolo quinto mandato com aajuda de um fisioterapeuta,regeneraçom de células e cortesnos investimentos viários.O licor do Tarasca continua amanter umha aceitável gra-duaçom de álcool, na de Rampaem Coiro a empada de milho ea caldeirada de sapata nuncatenhem queixa, na Feira daGouxa o polvo e a carne ao cal-deiro sabem a soberania ali-mentar. E ficam os calhos deSalzeda, o Mencia, o Festivalda Poesia no Condado, o dicio-nário de Estravis e para algum-has, também a última deAmenábar. Seria vício pedir-mos mais.

NGZ

Fermín Paz Lamigueiro é osecretário nacional daFederaçom de Químicas eEnergia da CIG. Em Agostoviajou à Venezuela para parti-cipar num encontro sindical dosector, e tivo a oportunidade decomprovar in situ as mudançasque a revoluçom bolivarianaestá a implementar no país lati-no-americano. Por ocasiom davisita, também entregou ao pre-sidente Chávez umha carta emnome do secretário nacional daCIG, Suso Seixo.

Nesta visita à Venezuela tivesteoportunidade de manter encon-tros com trabalhadores e tra-balhadoras. Pensas que o con-junto da classe operária vene-zuelana é pola Revoluçom?Falar em geral da classe operáriaem prol ou contra a Revoluçomseria muito afirmar, mas o quesim vimos é que a nova centralsindical -a UMT- que representaneste momento a maioria dos tra-balhadores e trabalhadoras daVenezuela, é, inequivocamente,polo processo bolivariano.

Porque é que a oligarquia vene-zuelana e o imperialismo temema Revoluçom Bolivariana?Por um lado, sempre existe umhaluta polo poder entre as forças emconfronto. No caso da Venezuela,nos últimos anos a social-demo-cracia e a democracia cristá tin-ham mesmo acordado o repartodo poder político. Pretendêrom, ede facto continuam a pretender,tirar do poder político a pessoaque representa a decisom sobera-na e livre do povo. Por outraparte, é fundamental que quemostenta o poder político sejaquem decide como se ham degerir os recursos naturais. Nestesentido, Hugo Chávez tentoudevolver o benefício desta explo-raçom ao próprio povo. Mas háoutros elementos a considerarque som fundamentais, como é ofacto de que a Venezuela é oquarto ou quinto exportador de

petróleo do mundo, e cumprecomparar o que se passa hojecom o que dantes acontecia. Asprincipais companhias eramnorte-americanas, as mesmas quefixavam os preços no mercadointernacional. No ano 2000, tantona Venezuela como nos paísesárabes produz-se umha inversomdesta situaçom: a internacionali-zaçom das companhias petrolífe-ras e a potencializaçom da OPEP.Hugo Chávez dinamiza a OPEP,e o aumento espectacular depreços do petróleo deve-se tam-bém a esse princípio de coesom edinamizaçom que impulsionouChávez. Portanto, toda a oligar-quia se vê finalmente marginali-zada na utilizaçom destes ingen-tes recursos. Existia o propósito,estou a falar por exemplo dogolpe de estado, de deslocar aOPEP. Por último, há-se de terem conta que a oligarquia preten-de conseguir o controlo políticodo Estado. Primeiro tentárom-noatravés das urnas, por métodosdemocráticos. Nom conseguí-rom, e entom continuam a tentá-lo, mas agora sem olharem ameios. Eu convido a reflectirentre a semelhança do golpe deestado de 11 de Abril de 2002 e ogolpe de estado que derrocouAllende no Chile. Em ambos os

casos se nos apresenta evidente amao do Departamento de EstadoNorte-americano, da CIA... Somprocessos quase idênticos.

Quais as conquistas sociaismais salientáveis da RevoluçomBolivariana?Está-se a trabalhar imenso naschamadas "missons", um projec-to muito abrangente que desven-dou como é possível a alfabeti-zaçom de muitos cidadaos e cida-dás venezuelanas que dantes nomtinham direito à instruçom, comoé possível que disponham demorada digna, de manutençomem condiçons mínimas, de direi-to à saúde. Tudo isto era dantesimpensável para umha parteimportante da populaçom. Vê-seagora como as famílias maiscarenciadas estám esperançadascom esta forma de fazer política.

Consideras que o modelo boli-variano se poderia espalhar aoutros estados da AméricaLatina?Penso que as revoluçons e os pro-cessos políticos nom som expor-táveis. Verificam-se em cada paíssob condiçons determinadas eespecíficas. Mas sim se verificaumha esperança compartilhada.Aliás, está a favorecer umha res-

posta que poderá vir a conter, ede facto já contém, a agressivapolítica exterior norte-americana.Por exemplo, o Plano Colômbianom poderá colocar na fronteiravenezuelana os militares à esperada guerrilha colombiana. Quantoaos assuntos económicos, tam-bém está a realizar cousas muitoimportantes, como introduzirvalores de cámbio na zona.

Que mensagem transmitiste aoPresidente Hugo Chávez? Éconhecedor da questom nacio-nal galega?Entreguei-lhe umha carta doSecretário Geral da CIG, mas foiimpossível falar com ele detanta cousa. No escrito sim seexplicava o problema nacional.Também levávamos umha cartado Secretário Geral daFederaçom Sindical Mundial.As duas fôrom lidas num actoem Caracas organizado polaforça bolivariana e a UMT. Nomme atreveria a pronunciar-mesobre que conhecimentos temsobre a nossa questom nacional,mas, isso sim, nom creio que odesconheça absolutamente,tendo em conta, aliás, que osproblemas galego, basco e cata-lám ultrapassam amiúde as fron-teiras do Estado espanhol.

"A revoluçom bolivariana é determinante para quanto acontecer na América Latina"

a entrevista Fermín Paz, secretário nacional da Federaçom de Químicas e Energia da CIG

Nas vésperasXan Carlos Ánsia

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