Serviço Social Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
Neotomismo e serviço social
-
Upload
cleber-eduardo -
Category
Education
-
view
2.741 -
download
15
description
Transcript of Neotomismo e serviço social
NEOTOMISMOUniversidade Católica de Brasília
Pró- Reitoria de Graduação
Disciplina: Fundamentos Históricos, Teóricos e
Metodológicos do Serviço Social I
Professora: Késia Miriam Santos de Araújo
Alun@s: Cleber Eduardo de Andrade – UC13101706
Joelia Nogueira de Lima - UC
Tânia Rodrigues - UC
Vimos que o serviço social nasce no seio do trabalho socialda Igreja católica, que, na virada do século XIX para o XX,busca enfrentar a questão social, agravada pelodesenvolvimento do capital.
Tomás de Aquino (em italiano: Tommaso d’Aquino), foi um frade dominicano e
sacerdote italiano cujas obras tiveram enorme influência na teologia e na filosofia,
principalmente na tradição conhecida como escolasticismo, e que, por isso, é
conhecido como "Doctor Angelicus", "Doctor Communis" e "Doctor Universalis"
"Aquino" é uma referência ao condado de Aquino, uma região que foi propriedade de
sua família até 1137.
Ele foi o mais importante proponente clássico da teologia natural e o pai do tomismo.
Sua influência no pensamento ocidental é considerável e muito da filosofia moderna
foi concebida como desenvolvimento ou oposição de suas ideias, particularmente na
ética, lei natural, metafísica e teoria política. Ao contrário de muitas correntes da Igreja
na época, Tomás abraçou diversas ideias de Aristóteles - a quem ele se referia como
"o Filósofo" - e tentou sintetizar a filosofia aristotélica com os princípios do
cristianismo. As obras mais conhecidas de Tomás são a "Suma Teológica" (em latim:
Summa Theologiae) e a "Suma contra os Gentios" (Summa contra Gentiles). Seus
comentários sobre as Escrituras e sobre Aristóteles também são parte importante de
seu corpus literário.
Introdução
Vimos também que esse
enfrentamento tem como
princípio e objetivo final o
trabalho apostólico dos leigos
fiéis.
Toda a prática assistencial foi,
portanto, no período que vai de
fins do século XIX até 1960 (no
Brasil), um trabalho religioso.
Sendo assim, é evidente que a
noção de caridade deveria estar
no centro dessa prática.
E nós vimos que a noção paulina
de caridade teve importância
crucial na teologia de Tomás de
Aquino.
Introdução
Não por acaso, assim, será o
pensamento de Tomás que estará na
base do trabalho social da Igreja.
Contudo, a maneira como Tomás de
Aquino influencia esse trabalho e, no
bojo deste, o serviço social, é
indireta: ela se faz pelo neotomismo.
Introdução
Duas noções, duas ideias, sãodestacadas, no neoteomismo.
São dois princípios:
o da dignidade da pessoa humana;
o do bem comum.
É esse neotomismo, calcado nessesdois princípios, que será ensinado nasescolas de serviço social a partir de1936.
Nos séculos XVII e XVIII, o ensino do
tomismo está em baixa.
No XIX começa a ser retomado nas
universidades.
Mas quem dá o impulso maior – se
seguirmos as palavras de Aguiar –
será de novo Leão XIII, em sua
encíclica Æterni Patris.
Renascimento do Tomismo
Nesta encíclica aparece claramente a
noção de “ordem e progresso”, transcrita
na expressão “tradição e progresso”.
Fica claro, também, segundo um
historiador citado por Aguiar, que o pano
de fundo desse restabelecimento do
tomismo era uma luta entre formas de
pensar diante da modernidade [p. 57] (ou
p. 40).
Renascimento do Tomismo (Cont.)
A Université Catholique de Louvain será o
epicentro intelectual da restauração do
tomismo, chefiada pelo Cardeal Mercier.
A intenção era formar sob o novo tomismo
não só padres mas também pessoas
influentes ocupando postos de comando.
Renascimento do Tomismo (Cont.)
Aguiar destaca alguns aspectos
do pensamento tomista:
1) a “visão de pessoa humana”;
2) alguns “conceitos de sociedade e bem comum”;
3) “questão ética”.
Destas três noções, a primeira é a mais
importante.
A união entre o corpo e a alma
distingue o humano tanto das
“inteligências separadas” – os anjos –
quanto dos seres naturais orgânicos e
inorgânicos.
Tomás, ademais, fará uma distinção
entre intelligentia (anjos) e intellectus
(humanos).
A união da alma com o corpo torna o corpo
humano o mais perfeito entre todos os
corpos do universo (que é o conjunto das
coisas criadas).
Isso porque, na ordem da criação, a alma
vem logo após os anjos; em seguida, os
corpos; logo...
No homem, a perfeição da “inteligência”
se manifesta na racionalidade.
O homem é um corpo racional, e é isso o
que distingue a pessoa humana. Pela
razão, o homem é consciência de si,
vontade, e liberdade.
Liberdade implica moralidade, pois a
liberdade para escolher isto ou aquilo
implica responsabilidade pela escolha
efetuada.
E isso significa que a pessoa humana
pode não cumprir o seu fim último, que
é conhecer e unir-se a Deus.
Desse desvio de percurso nascerão
todos os problemas de ordem moral
(pecado, mal etc.).
Mas, realizando-o completamente, a
pessoa cumpre o seu fim último e por
isso realiza o progresso social, já que o
homem é um “animal social”.
Quer dizer, o homem só vive entre outros,
na multitudo, em coletividade.
A pessoa do homem é um “ser social”, que como tal deve
buscar antes de tudo a perfeição do coletivo.
O coletivo, aqui, está (e deve estar) acima
do indivíduo.
Isso significa que o bem comum está acima
do bem individual – para realizar este, é
preciso realizar aquele primeiro.
Sociedade, para Tomás, não é outra coisa
senão a união de homem com vistas a
realização de alguma coisa que é comum a
todos.
Essa coisa comum é o “bem-estar da
sociedade”, desde que esse possa ser
partilhado por todos. (Compreendemos,
então, a oposição da Igreja ao liberalismo).
Só há comunidade se há partilha do bem
comum.
Mas o que é que garante e preserva essa
comunidade? Lex aeterna, lex divina, lex
humana, lex naturalis.
A lei eterna é o plano racional de Deus ao
criar o universo e todas as criaturas. Não
podemos conhecê-la completamente, mas
dela participamos.
A lei divina é a lei revelada aos homens, na
Bíblia. A lei natural é aquela presente no
corpo humano e em outros; e como ela é
necessariamente racional (já que feita pelo
Criador inteligente), dela deriva a lei
humana – o “direito positivo” do Estado.
O Estado, portanto, sendo fruto da lei natural
também presente no homem, é algo natural
(e não histórico), como afirmava Aristóteles.
E em todo Estado há autoridade – do
contrário a lei humana não é respeitada e a
desordem se instala.
Ocorre, porém, que lex naturalis e lex
humana se subordinam à sua fonte
primeira, Deus; portanto, subordinam-se
tanto à lex divina como à lex aeterna (a
esta sobretudo).
Logo, a autoridade que há em todo
Estado deriva de Deus. E quem é o
representante direto de Deus na
Terra? A Santa Madre Igreja.
Portanto, o Estado deve subordinar-
se à autoridade da Igreja.
Ora, a Igreja é uma instância que
representa uma “ordem divina” e,
portanto, “eterna”.
Assim, não são os homens que devem
decidir mudar ou transformar a
sociedade, e sim os mandatários de
Deus.
Nessa perspectiva, toda aspiração à
transformação (por exemplo, na
forma da revolução) fica bloqueada.
Eis por que o serviço social, em seus
inícios, foi antes de tudo reformista,
negando-se a si qualquer aspiração à
transformação social (p. 43).
A partir de 1920, haverá uma instituição
católica que buscará fazer uma espécie
de “ciência social” da Igreja: a “União
Internacional de Estudos Sociais”.
Na verdade, essa instituição foi criada
especificamente para oferecer as bases
teóricas da prática assistencial católica.
A União foi fundada em Malinas, na
Bélgica, e será inicialmente presidida
pelo Cardeal Mercier.
Este elaborará um documento,
contendo o “catecismo” da
intervenção social e política da
Igreja. Trata-se do ´”Código de
Malinas”.
O principal neste código, além das
afirmações baseadas em Tomás, é a
afirmação de que economia e moral
não se separam.
Logo, a Igreja deve ser
“fiscalizadora” da economia, já que
é ela a guardiã da moral.
Segundo o autor, o neotomismo irá exercer
sua influência sobre a assistência social
católica também através desse código.
Em seguida, o autor trata do neotomismo
especificamente no Brasil.
Claro que quando falamos da transmissão do
neotomismo estamos falando dos espaços
onde isso era possível: nos centros e núcleo
de estudos, mas sobretudo nas faculdades.
As escolas de serviço social no Rio e
em São Paulo, tendo recebido
influências da mesma fonte – o
catolicismo – seguiram caminhos
muito parecidos.
A diferença é que, em São Paulo,
houve a Faculdade Livre de Filosofia
e Letras do Largo de São Bento.
Dela sairão professores e alunos que
irão para as escolas de Serviço
Social.
Outra diferença é que São Paulo
receberá o neotomismo quase que
de sua fonte “original”: a Bélgica.
No Rio, o neotomismo entra no serviço social mais
ligado a instituições católicas locais, e o autor fala da
presença dos jesuítas nesta história. E o importante é
que lá o movimento da AC estará ligado diretamente ao
nascimento da PUC-RJ.
Na seqüência o autor trata especificamente de alguns
neotomistas no Brasil. É interessante a trajetória e o
papel de Van Acker, que se define como um restaurador
da filosofia aristotélico-tomista.
Ele virá inicialmente para a Faculdade de
Filosofia do Largo de São Bento e
posteriormente irá para a Escola de Serviço
Social. Vocês podem imaginar a influência de
suas palestras, à época (p. ex., a de 1941,
intitulada “As bases do serviço social”).
Outro nome importante, em São Paulo, será o de
Alexandre Correia, primeiro tradutor da Suma
Teológica no Brasil. Formado em São Paulo e na
Bélgica. Note-se que ambos pretendem pôr o
tomismo em diálogo com a
contemporaneidade...
Entre Rio e São Paulo, destaca-se o nome do padreRoberto Sabóia de Medeiros. Era conhecido como o“Apóstolo da Ação Social” católica. Aguiar destaca apresença de Sabóia tanto no universo acadêmico quantono campo prático. Aliás, o depoimento dele é ilustrativo:nele aparece a proposta de Sabóia para acabar com a“briga de classe” (p. 48).
Especificamente no Rio, há o Pe. Leonel Franca.
Segundo o autor e os autores que ele cita, teria sido
Franca o grande divulgador do tomismo no Brasil.
Era considerado uma grande figura intelectual nos meios
universitários católicos.
Há outros dois padres citados entre os neotomistasbrasileiros.
O importante é que em todos eles a recuperaçãodo tomismo se faz sob a sombra daquele quetalvez seja o maior dos neotomistas no século XX:o cristão francês Jacques Maritain (1882-1973).
A maior importância de Maritain foi a de terinfluenciado uma parte da intelectualidade avoltar-se para o campo religioso.
Uma parte da intelectualidade, inspirado nele,tentará conciliar universo intelectual e universoreligioso.
Claro que sempre se pode supor que essa parte dosintelectuais era a que já estava predisposta à“conversão” religiosa.
É essa predisposição que explica que suas obras, atémeados da década de 30, tenham sido aceitaspassivamente, sem discussões.
A principal obra de Maritain, no que concerne à AçãoCatólica e seus atos políticos e sociais, é o Humanismointegral, de 1936.
Aí se oferecem certas fundamentações filosóficaspara o trabalho social e defende-se uma nova relaçãoentre a Igreja e o povo, no lugar das tentativas derelação entre Igreja e Estado.
Maritain será o grande inspirador dos partidos democratas-cristãos (“Ê, Ê, Eimael, o democrata...”) em toda a AméricaLatina.
O humanismo de Maritain, claro, opõe-se ao humanismoburguês dos liberais da época.
Lembremos que o Humanismo integral é uma obra cristãdirigida aos cristãos.
Basicamente, o cerne da obra está em defender um novopapel histórico e político dos cristãos (p. 53-54).
Uma das ideias de o Humanismo integral que irá
influenciar os católicos, sobretudo aqueles desejosos
de um conceito ou teoria que inspirasse sua ação
social, será a noção de Ideal histórico.
Para Maritain, toda época histórica tende a um ideal
realizável, embora não necessariamente realizado na
prática.
Ideal, aqui, não seria simplesmente um modelo ideal
fictício de sociedade que os homens anseiam ou
tendem a desejar.
O Ideal de Maritain se opõe, portanto, às utopias.
Tratar-se-ia de um ideal histórico completo que seria, nãoum “ser de razão”, mas uma essência que, embora sendoideal, seria contudo realizável
aliás, Maritain, aqui, identifica uma noção utópica com um “ser derazão”; p. 54).
O Ideal histórico é uma tendência a um certo grau de
perfeição social, inscrito na ordem social vigente como
uma de suas possibilidades.
Maritain não é tão utópico: ele sabe que o ideal de
cristandade é apenas uma das possibilidades de
perfeição social.
Para ele, porém, era a principal, a que deveria se
concretizar; a melhor, a mais perfeita.
Pois o clima histórico que ele identificava, em sua
época, era o clima cristão.
Portanto, o ideal de uma nova cristandade seria
justamente aquele que se deveria buscar e
concretizar.
O objetivo é claro: no lugar de uma “civilização
ocidental” ou “moderna”, Maritain propõe uma
“nova civilização cristã”.
Essa nova cristandade, é preciso notar, seria
eminentemente leiga: a conversão pregada por
Maritain é cristã, mas não necessariamente
confessional.
É interessante a visão religiosa de Maritain sobre a
relação homem-sociedade.
É uma visão em que transparece a presença de Agostinho
e de Tomás de Aquino.
Isso fica claro na ideia de que a existência – individual e
social – comporta três dimensões: a comunitária, a
personalista e a peregrinal.
A dimensão comunitária enfatiza que o bem
comum – seja ele de ordem material, espiritual
ou moral - está acima do bem do indivíduo.
Mas há algo próprio do indivíduo que está acima
até mesmo do bem comum, do bem coletivo,
social...
Trata-se daquilo que é próprio da pessoa.
Lembremos que a pessoa é um ente metafísico.
Portanto, o fim último da pessoa não se confunde com
bens e valores temporais.
Sabemos qual é esse fim último: a união com Deus etc.
Mas por isso mesmo, a vida na terra e em sociedade não é
mais do que uma peregrinação.
Uma passagem, uma caminhada rumo a algo superior.
No entanto, Maritain afirma que isso não deve impedir os
homens de fazer da terra um lugar viável de se viver.
Pelo contrário: o lócus da via deve ser o melhor
possível, justamente para facilitar a peregrinação.
O que Maritain propõe, portanto, é uma espécie de
“ascetismo intramundano” weberiano, mas de
caráter mais social e coletivo.
O Ideal histórico de uma nova cristandade, em
Maritain, é certamente inspirado no ideal de
cristandade da Idade Média.
Ele sabe e admite isso. Mas como a época é outra, ele
recupera a noção de analogia de Tomás de Aquino,
fazendo um outro uso dela.
Tomás, por sua vez, havia tirado a ideia de analogia
de Aristóteles.
Nos gregos antigos, a analogia tem um sentido
matemático de proporção:
a analogia exprime uma relação proporcional pela qual se pode
igualar desiguais.
Em Tomás, a analogia perde o sentido de proporção
em favor da ideia de semelhança.
E é por isso que Maritain falará de analogia como
“similitude [Tomás] de proporções [Aristóteles e os
gregos].
FIM