Identificação étnica, territorialização e fronteiras: A perenidade das ...
NECESSIDADE DE INOVAÇÕES PARA A PERENIDADE DO ...
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O reúso de água, as membranas ultrafiltrantes e as demandas para um abastecimento responsável, consistente e contínuo, constituem a matéria tema dessa edição.
NECESSIDADE DE INOVAÇÕES PARA A PERENIDADE DO SANEAMENTO
Ano IX . Edição 58 . Abril a Julho de 2016
- VEÍCULO -
- OFICIAL -
FENASAN2016
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Dobro de trabalhos inscritos e de inscrições
Congresso TécnicoA maior Feira da América Latina
Fenasan 2016A AESabesp comemora
30 anos de história
História
Desenvolver produtos químicos inovadores e de alta performance para o tratamento de água e efluentes:
há mais de 50 anos, esse é o nosso foco. Com 12 unidades fabris estrategicamente localizadas e sólidas
relações de parceria, estamos ao lado das principais empresas de saneamento e processos industriais do
Brasil. A segurança e eficácia dos nossos produtos são comprovadas através do uso em mais de 3.500
municípios. Nossa liderança é resultado de uma estrutura única, aliada a diferenciais estratégicos que
garantem a mais completa solução para os clientes:
BAUMINAS Química. Tecnologia e inovação ao seu lado.
• Produção vertical de matérias-primas• Tecnologia de última geração e inovação constante• Logística estruturada e inteligente• Suporte técnico altamente capacitado
www.bauminas.com.br
Prezados associados, amigos e parceiros da AESabesp,
Émuito bom falarmos sobre ações que tiveram comprometimento com
bons resultados. Dessa forma, é uma grande satisfação discorrer so-
bre esta edição da Revista Saneas, que traz, como tema principal, a
necessidade de inovações para a perenidade do saneamento, pois
há muito tempo que o corpo técnico da Sabesp reconhece e busca suprir essa
condição de maneira assertiva e produtiva.
No conteúdo de nossa matéria tema, o leitor irá se deparar com as intervenções
de ponta para a otimização dos nossos recursos hídricos, como as situações de
reúso de água, a utilização de membranas ultrafiltrantes, a aplicação da me-
trologia hidrodinâmica, que consiste em sistema de medições para garantir um
desempenho preciso para a sua funcionalidade, entre outros tópicos, que pros-
pectam uma saneamento ambiental consistente, responsável e adequado a uma
qualidade de vida digna para a nossa sociedade.
Importantes exemplos desenvolvidos pela Sabesp para melhorar a condição de
abastecimento de água e esgotamento sanitário em São Paulo estão evidencia-
dos neste número da Revista Saneas, que traz uma entrevista com a prof.dra.
Adriana Bin (Unicamp), que integrou a equipe que implantou a Superintendência
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Sabesp (TX), um Ponto de Vista da
atual superintendente da TX, eng. Cristina Zuffo e uma visão de mercado anima-
dora, com a aprovação do projeto de lei que cria o Regime Especial de Incentivos
para o Desenvolvimento do Saneamento Básico (Reisb).
Esta edição especial será distribuida durante o nosso 27º Congresso Técnico/ Fe-
nasan 2016,considerado o maior evento da América Latina no setor de sanea-
mento ambiental, que mesmo num ano de recessão econômica como este de
2016, manterá os seus números significativos em termos de inscrição, visitação
de expositores.
Agradecemos a todos que marcam suas presenças neste evento, com a certeza
de sua importância para as esferas técnicas e de mercado do saneamento, resul-
tando em benefícios para a saúde, economia e infraestrutura social do nosso País.
A AESabesp, que em 2016, também celebra os
seus 30 anos de história, continua a se empenhar
pela pujança do setor, que nos acolhe e do qual
nos orgulhamos em integrá-lo.
Grato pela sua atenção!
Eng. Olavo Alberto Prates Sachs
Presidente da AESabesp / Gestão 2016-2018
EDITORIALEXPEDIENTE
Associação dos Engenheiros da SabespRua Treze de Maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SPFone: (11) 3284 6420 - 3263 0484Fax: (11) 3141 [email protected] Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da SabespTiragem: 6.000 exemplares
Diretoria ExecutivaPresidente: Olavo Alberto Prates SachsDiretor Administrativo: Nizar QbarDiretor Financeiro: Evandro Nunes OliveiraDiretora Socioambiental: Márcia de Araújo Barbosa NunesDiretor de Comunicação e Marketing: Paulo Ivan Morelli Franceschi
Diretoria Adjunta Cultural: Maria Aparecida Silva de Paula SantosEsportes e Lazer: Fernandes Hayashi da SilvaPólos Regionais: Antônio Carlos GianottiSocial: Viviana Marli Nogueira de Aquino BorgesTécnica: Gilberto Alves Martins
Conselho DeliberativoPresidente: Ivan Norberto BorghiMembros: Abiatar Castro de Oliveira, Agostinho de Jesus Gonçalves Geraldes, Benemar Movikawa Tarifa, Choji Ohara, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Iara Regina Soares Chao, Ivo Nicolielo Antunes Junior, Luis Américo Magri, Mariza Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Richard Welch, Rodrigo Pereira de Mendonça, Rogélio Costa Chrispim, Sônia Regina Rodrigues
Conselho Fiscal Aurelindo Rosa dos Santos, João Augusto Poeta e Yazid Naked
CoordenadoresConselho Editorial e Fundo Editorial: Luciomar Santos WerneckPólos da RMSP: Antonio Carlos GianottiAssuntos Institucionais: Ester Feche Guimarães
Comissão Organizadora do 27º Encontro Técnico AESabesp - Fenasan 2016Presidente da Comissão: Walter Antonio OrsattiCoordenador do Encontro Técnico AESabesp: Maria Aparecida Silva de PaulaCoordenador da Fenasan: Gilberto Alves MartinsMembros: Alzira Amâncio Garcia, Antonio Carlos Roda Menezes, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Margarido Bonifácio, Iara Regina Soares Chao, Luciano Carlos Lopes, Marisa de Oliveira Guimarães, Mariza Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar Qbar Olavo Alberto Prates Sachs, Patricia Barbosa Taliberti, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Rodrigo Pereira de Mendonça, Rosângela Cássia Martins de Carvalho, Sergio Luiz CaveagnaSonia Maria Nogueira e SilvaEquipe de apoio: Maria Flávia da Silva Baroni, Maria Lúcia da Silva Andrade, Monique Funke, Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro, Vanessa Hasson
Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSPCoordenador dos Polos: Rodrigo Pereira de MendonçaPolo AESabesp Costa Carvalho e Centro: Sérgio Luiz CaveagnaPolo AESabesp Leste: Antonio Carlos Roda MenezesPolo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti MorelliPolo AESabesp Oeste: Claudia Caroline BuffaPolo AESabesp Ponte Pequena: Samuel Francisco de SouzaPolo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti
Polos AESabesp RegionaisDiretor de Polos: Antonio Carlos GianottiPolo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos SantosPolo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar BizelliPolo AESabesp Caraguatatuba: Felipe Noboru Matsuda KondoPolo AESabesp Franca: José Chozem KochiPolo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda SilvaPolo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis RabeloPolo AESabesp Lins: João Luiz de Andrade AreiasPolo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José PeixotoPolo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos FerreiraPolo AESabesp Vale do Ribeira: Jiro Hiroi
Editora e Jornalista ResponsávelMaria Lúcia da Silva Andrade - MTb. 16081Textoscom - [email protected]/textoscomfacebook.com/textoscom
RedaçãoEdnaldo Sandim, Lúcia Andrade e Thiago Nobre
Projeto visual gráfico e diagramaçãoNeopix [email protected]
Desenvolver produtos químicos inovadores e de alta performance para o tratamento de água e efluentes:
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4 SANEAS Abril a Julho de 2016
ÍNDICE
15 Entrevista Para Adriana Bin, novas tecnologias trazem impacto positivo para o saneamento
18 Ponto de vistaCristina Zuffo - Inovação no saneamento
20 Visão de MercadoCâmara aprova projeto que cria regime para incentivar investimentos no saneamento
42 História30 Anos de AESabesp e 27 Anos de Encontro Técnico e Fenasan
46 Fenasan 201627º Encontro Técnico AESabesp
49 Projeto EcoeventusComo são tratados os impactos sociais e ambientais na Fenasan. O evento com práticas sustentáveis
52 Acontece no setor
57 VivênciasA presença e a inconfundível voz de “Douvalor”
Matéria Tema Perenidade do saneamento
06
22 PioneirismoDaniela Intima - Raio X da água
25 Artigo TécnicoEnergia solar fotovoltaica para alimentação de uma estação elevatória de água
30 Artigo TécnicoA importância do saneamento na guerra contra o mosquito Aedes Aegypti
36 Artigo TécnicoRedução de perdas físicas com auxílio de simulação hidráulica e análise de tensões em tubos de redes de distribuição de água
Há muito que temos uma
ideia arraigada: somos um
país rico em recursos natu-
rais e com a abundância de
água. Não há como negar, possuímos
12% da água doce disponível do plane-
ta. Essa concepção, no entanto, come-
çou a mudar nos últimos anos, quando
fomos obrigados a trocar a cultura do
desperdício pela cultura do consumo
racional. A água de beber tornou-se
bem raro e percebemos que não devia
ser utilizada na lavagem de carros e cal-
çadas, uma atitude comum nos tempos
idos da fartura. Não foi só nossa ma-
neira de pensar que mudou, inserimos
em nosso vocabulário, expressões como
“estresse hídrico”, “volume morto” e
“reserva técnica”, que passaram a fazer
parte de nosso dia a dia.
Na busca por soluções, demos o pri-
meiro passo que foi a superação do mito
da abundância. Por sua vez, a população
habituou-se a acompanhar com ansiedade
os níveis dos reservatórios da região Su-
deste. Em 2014, o Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS) chegou a afirmar
que a estiagem no Sudeste era a maior
dos últimos 80 anos. Houve redução nas
captações de rios e riachos e várias indús-
trias foram afetadas em seus sistemas de
utilidade e também em suas linhas de pro-
dução. A população passou a sofrer com
um regime de redução de pressão que,
por vezes, culminou com a falta d’água
por períodos relativamente longos.
Nem sempre percebida, há uma rede
correlacionada, da qual a água é parte
6 SANEAS Abril a Julho de 2016
MATÉRIA TEMA
fundamental. Sua falta influencia a oferta de alimentos, energia,
saúde e mobilidade. Por ser um recurso finito, é necessário que os
modelos de gestão sejam revistos pelo governo, pelas empresas e
pelos próprios cidadãos. Em outras palavras, é preciso aperfeiçoar
o manejo e o uso sustentável dos recursos hídricos em nosso país.
Há, contudo, um ponto em que todos os estudiosos do assunto
concordam: os investimentos na gestão hídrica devem ser per-
manentes. Ter visão de futuro é fundamental para a perenidade
de qualquer negócio. Não é diferente com o saneamento. A dis-
ponibilidade futura de água está diretamente relacionada a duas
importantes metas: planejar e inovar. As ações voltadas para a
redução do consumo devem ser programas contínuos e não mais
medidas emergenciais.
Entre as várias tecnologias que visam otimizar a utilização de
nossos recursos hídricos, duas têm se destacado: o reúso da água
e as membranas ultrafiltrantes. Em alguns casos, estão associadas.
Nos itens abaixo, procuramos apresentar essas tecnologias, bem
como a utilização das mesmas por concessionárias do setor; ino-
vações e demais cenários prospectados para um abastecimento
responsável, consistente e contínuo.
As possibilidades e extensões trazidas pelo Reúso
Adotada pelos mais avançados sistemas mundiais, a tecnologia
de reúso está entre as mais eficientes iniciativas para o consumo
sustentável da água, resultando em grande economia de água
bruta que deixa de ser retirada dos mananciais. Regiões áridas e
semiáridas, como o Oriente Médio, e regiões desérticas dos EUA
(Califórnia, Arizona, Colorado e Nevada) já realizam em larga es-
cala práticas de reúso e reaproveitamento de água. As condições
geoclimáticas destes locais fizeram com que essas ações se tornas-
sem imprescindíveis. Essas iniciativas acabaram servindo de mode-
lo e se espalhando por países com políticas de recursos hídricos
voltadas para o futuro. Entre os países que se preocuparam com a
preservação de suas fontes para abastecimento, estão: Austrália,
Japão, Itália, Grécia e Portugal.
No Brasil, apesar da aparente abundância de recursos hídricos,
o reúso de água vem conquistando espaço, principalmente nos
grandes centros urbanos, nos quais a escassez representa altos
investimentos e custos operacionais para captação e adução de
águas a grandes distâncias.
Um componente determinante para o desenvolvimento de
qualquer atividade humana é a disponibilidade de água (quantida-
de e qualidade). Em situações de escassez, surge a necessidade e a
possibilidade de substituição das fontes para abastecimento, uma
delas, é a utilização de água residuária (qualidade inferior, mas dis-
ponibilidade garantida). O reúso tem aplicações como: irrigação,
refrigeração, lavagem de pisos e descargas de vasos sanitários.
Trata-se de uma alternativa sustentável, ambientalmente correta
e viável economicamente, já que os volumes utilizados pelas con-
cessionárias públicas ou privadas são reduzidos drasticamente nos
pontos de medição e cobrança.
Classificada em dois tipos basicamente, a água de reúso pode
ser: potável ou não potável. Hoje, no Brasil, poucas companhias
de abastecimento, entre elas a Sabesp e a Copasa, produzem
água de reúso não potável, que pode ser empregada na lavagem
de pisos, descarga de banheiros, irrigação de jardins e culturas
agrícolas, caldeiras industriais e sistemas de resfriamento, entre
outras finalidades.
Já a água de reúso potável, aquela destinada ao consumo direto
pela população (para beber, cozinhar e higiene pessoal), precisa
atender a padrões elevados de potabilidade e ainda não está dis-
ponível no país, no entanto, a Sociedade de Abastecimento de
Água e Saneamento, Sanasa em Campinas, no interior de São
Paulo, pretende em breve introduzi-la no cotidiano de seus clien-
tes. Esse tipo de reúso pode ser classificado como direto, quando
o efluente tratado é injetado diretamente na rede de distribuição,
ou indireto, quando o líquido é despejado nos mananciais usa-
dos para captação de água pelas companhias de abastecimento,
sofrendo, em seguida, um novo sistema de processamento nas
estações de tratamento de água.
Copasa: efluente devolvido à naturezaA Companhia de Saneamento de Minas Gerais, Copasa, iniciou
em fevereiro de 2013, no município de Ibirité, obras do sistema
de esgotamento sanitário, envolvendo recursos da ordem de R$
140 milhões para implantação de 65 quilômetros de redes inter-
7SANEASAbril a Julho de 2016
ceptoras e construção de seis estações elevatórias e uma Estação
de Tratamento de Esgoto, a ETE Ibirité.
A primeira etapa da unidade de tratamento foi concluída em
2015 e tem capacidade para tratar até 140 litros de esgoto por
segundo, beneficiando os atuais 160 mil habitantes da cidade. Já
com a implantação da segunda etapa, a unidade terá capacidade
para atender mais de 210 mil pessoas. O projeto da ETE de Ibirité
possui uma inovação: o tratamento terciário, responsável pela re-
dução do fósforo e do nitrogênio contidos no esgoto, o que possi-
bilita que o efluente seja devolvido à natureza mais límpido e livre
dos elementos causadores da eutrofização da Lagoa de Ibirité.
Outro grande benefício proporcionado com o tratamento terci-
ário inclui a desinfecção do esgoto, por meio do sistema ultravio-
leta, que permite a redução de organismos patogênicos presentes
no efluente. Essa etapa configura-se como a prática mais segura
para o controle de agentes transmissores de doenças infecciosas,
além de ser precedida por uma filtração terciária, que irá garantir
a eficiência dessa desinfecção.
Parte do efluente tratado na ETE Ibirité será vendido para a Petro-
brás (indústria), que o utilizará para o resfriamento de máquinas, e par-
te já está sendo reutilizada na própria planta da ETE. Para tal, o esgoto
está sendo tratado a nível terciário, proporcionando sua reabilitação.
Sanasa: água de reúso para consumo humanoA cidade de Campinas, no interior de São Paulo, decidiu usar água
tratada de esgoto para consumo humano e deverá ser a primei-
ra grande cidade do país a utilizá-la para tal fim. A medida foi
anunciada em meio à maior crise hídrica da história do Estado de
São Paulo pela prefeitura e pela Sanasa, empresa responsável pelo
fornecimento de água para a cidade de 1,1 milhão de habitantes.
A medida deverá atingir inicialmente 7% da população.
A água produzida atualmente a partir de esgoto tratado é de
qualidade, mas não é potável. O produto é usado apenas em jar-
dins e para lavar praças da cidade. No entanto, a construção de
um sistema adutor estimado em 12 milhões de reais, em parceria
com o Aeroporto Internacional de Viracopos, que já consome água
de reúso para limpeza e outros serviços, vai possibilitar o consumo
humano. A previsão para a conclusão da obra é de um ano e meio.
O novo sistema adutor, com 19 quilômetros de extensão, levará
a água da Estação Produtora de Água de Reúso (EPAR) para a área
de captação do Rio Capivari. Esse volume poderá elevar em até
290 litros por segundo a vazão do rio e incrementar em até 600 li-
tros por segundo a capacidade de fornecimento do Rio Atibaia. Os
dois rios integram a Bacia do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) e
são abastecidos pelo Sistema Cantareira, que no interior atende
5,5 milhões de pessoas.
A Sanasa já produz água de reúso que é utilizada na limpeza urbana
e também pelos bombeiros da cidade. A meta, agora, é abastecer 7%
dos cerca de 1,1 milhão de habitantes com água de reúso potável.
Projeto ETE no município de Ibirité em Minas Gerais
8 SANEAS Abril a Julho de 2016
MATÉRIA TEMA
Considerado o maior empreendimento para a produção de água de reúso industrial na América do Sul e quinto maior do mundo, o Aquapolo é operado desde o final
de 2012 por meio de uma parceria entre a Sabesp e a Odebrecht Ambiental.
Aquapolo:1 milhão de m³/mês destinados a grandes empresas do pólo Petroquímico de Capuava, na região do ABC Paulista e utilizados na lavagem de máquinas e galpões, esfriamento de caldeiras, geração de energia, entre outros.
Sabesp - Projeto AquapoloNa Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo - Sabesp, o Aquapolo Ambiental, projeto implantado
e operado desde o final de 2012, por meio de uma parceria
entre a Sabesp e a Odebrecht Ambiental, é considerado o
maior empreendimento para a produção de água de reúso
industrial na América do Sul e quinto maior do mundo. O
Aquapolo está capacitado para tratar o efluente gerado na
ETE ABC. São aproximadamente 1 milhão de m³/mês desti-
nados a grandes empresas do Polo Petroquímico de Capu-
ava, na região do ABC Paulista e utilizados na lavagem de
máquinas e galpões, esfriamento de caldeiras, geração de
energia, entre outros. A expectativa é que o Aquapolo al-
cance o pico de sua produção de 1 m³/s nos próximos anos.
Além do Aquapolo, a Sabesp faz o reúso de efluentes nas
ETEs Barueri, Jesus Neto, Parque Novo Mundo e São Miguel
para fornecimento para uso urbano, como na lavagem de
ruas, pátios, monumentos, desobstrução de redes de esgo-
tos, rega de jardins, entre outros. Em 2015, nessas quatro
ETEs, foram produzidos 1,8 milhão de m³ para esses fins.
ETE Jesus NetoA ETE Jesus Neto foi aprimeira insta-
lação da América do Sul a aplicar o
processo de lodos ativados, a digestão
separada, a secagem de lodos mecâ-
nica (a vácuo), o aproveitamento do
biogás em grupo-motor gerador e a
elutriação, processo de separação de
partículas.
Criada em 1935, a estação vem se
modernizando e se adequando às
novas tecnologias. Desde outubro de
1998, a estação é pioneira em reúso
e atualmente fornece 66% do reúso
produzido à 18 clientes, entre eles,
a Coats Corrente, Wash Day, Inova e
Soma. E já há projetos para forneci-
mento, também, ao Metrô. A água de
reúso produzida é utilizada em proces-
sos industriais, rega de áreas verdes,
limpeza de ruas, entre outras aplica-
ções. O índice de satisfação dos clien-
tes em relação à qualidade da água de
reúso da ETE Jesus Netto é de 100%.ETE Jesus Neto: água de reúso produzida é utilizada em processos industriais,
rega de áreas verdes, limpeza de ruas, entre outras aplicações.
9SANEASAbril a Julho de 2016
Indicadores Unidade 2015 2014 2013 2012 2011
Volume de água de reúso fornecida mil m³ 1.851,8 1.214,9 1.679,70 1.645,79 1.572,20
Percentual de água de reúso vendida sobre esgoto tratado em ETEs com reuso % 0,52 0,27 0,35 0,35 0,35
Percentual de água de reúso fornecida sobre capacidade instalada% 35,67 28,50 35,42 34,74 34,74
Os dados acima referem-se às ETEs, Barueri, Jesus Netto, Parque Novo Mundo e São Miguel, que têm instalações para produção de
água de reúso. Água de reúso fornecida corresponde à vendida a empresas públicas e privadas. A capacidade é a nominal das instalações.
Os valores de 2015 não consideram o volume de águas secundárias (esgoto tratado) fornecidos ao Aquapolo Ambiental que é de cerca
[12] milhões de metros cúbicos no ano.
Volume faturado de água e esgoto(1) por região-milhões de m3
Água Esgoto Água + Esgoto
2015 2014 % 2015 2014 % 2015 2014 %
Metropolitana 1.084,3 1.172,4 (7,5) 939,1 1.005,4 (6,6) 2.023,4 2.177,8 (7,1)
Sistemas Regionais(2) 613,9 639,4 (4,0) 517,2 532,6 (2,9) 1.131,1 1.172,0 (3,5)
Totalvarejo 1.698,2 1.811,8 (6,3) 1.456,3 1.538,0 (5,3) 3.154,5 3.349,8 (5,8)
Atacado(3) 215,5 269,1 (19,9) 24,4 24,2 0,8 239,9 293,3 (18,2)
Total 1.913,7 2.080,9 (8,0) 1.480,7 1.562,2 (5,2) 3.394,4 3.643,1 (6,8)
(1)Não auditado(2)Composto pelas regiões do litoral e interior(3)No atacado estão inclusos os volumes de água de reúso e esgotos não domésticos
Vale destacar ainda que, em 2015, a Sabesp assinou um financiamento de cerca de R$ 60 milhões com a Agência Brasileira de Ino-
vação – FINEP, para implantação do “Plano de Inovações Tecnológicas para o Saneamento”. Com prazo de implantação previsto para
30 meses, o plano é composto por quatro projetos direcionados à otimização do tratamento de esgotos: unidades de biofiltração para
controle de odores de estações elevatórias; Secador de Lodo por Meio de Irradiação Solar, sistema de gaseificação por plasma de resíduos
sólidos de estações de tratamento de esgotos e, por fim, a produção de água de reúso para uso urbano e industrial.
Para que servem as membranas ultrafiltrantes?
As membranas ultrafiltrantes são consideradas uma tecnologia
de ponta e já são empregadas em países como Estados Unidos,
Israel e Cingapura. As membranas de ultrafiltração fazem par-
te de uma família mais ampla de membranas, entre as quais
se pode destacar as de microfiltração, nanofiltração e osmose
reversa. Dotadas de poros com 0,01 a 0,1 micrômetro de di-
âmetro, são uma barreira eficiente, capaz de reter partículas
sólidas com diâmetro mil vezes menor do que um fio de cabelo,
inclusive vírus e bactérias.
A eficiência das membranas é amplamente comprovada, sendo
que a qualidade da água ou do efluente tratado é altíssima. Por
isso, as membranas também ajudam as empresas a cumprirem as
exigências para os lançamentos de efluentes em corpos receptores
e sistemas de coleta de esgotos sanitários. Pode-se afirmar que o
Brasil já domina a tecnologia de fabricação de membranas de ul-
trafiltração, componente fundamental dos biorreatores com mem-
brana (ou MBR, sigla para Membrane Bio Reactor), que é o sistema
mais empregado para a produção de água de reúso.
A Sabesp tem ampliado a utilização desta tecnologia em suas
plantas, tanto para tratamento de água, para acelerar produção,
como para tratamento de esgotos, para retenção de sólidos e bac-
térias. A tecnologia já é utilizada nas Estações de Tratamento de
Água Alto da Boa Vista e Rio Grande e tem reduzido o tempo de
tratamento de água de 3 horas para 30 minutos.
Na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Campos do Jor-
dão, as membranas já auxiliam na despoluição de importantes
cursos d’água do município. Ainda, no ABC paulista, auxiliam no
tratamento de uma parcela do esgoto gerado na região pelo Aqua-
polo Ambiental.
10 SANEAS Abril a Julho de 2016
MATÉRIA TEMA
ETA Engenheiro Rodolfo José da Costa e SilvaCom a instalação do segundo módulo de membranas ultrafiltrantes de 1 m³/s de capacidade em julho de 2015, a ETA Alto da Boa Vista
(ABV), que pertence ao Sistema Guarapiranga, teve sua estrutura de tratamento ampliada em 2 m³/s. Dos 14 m³/s no início da crise, em
janeiro de 2014, para os atuais 16 m³/s. Com investimento de R$ 42 milhões, o acréscimo é suficiente para abastecer uma população de
600 a 700 mil habitantes, o equivalente ao porte de cidades como Uberlândia ou Ribeirão Preto. A tecnologia de membranas tem uma
série de vantagens: o tratamento da água, que levaria pelo menos duas horas é realizado num período de 20 a 30 minutos, tem funcio-
namento automatizado e menor adição de produtos químicos. Outra vantagem é a de ocupar espaço físico muito menor.
Utilizada na Estação de Tratamento de Água Alto da Boa Vista na Zona Sul de São Paulo, a membrana ultrafiltrante reduziu o tempo de tratamento de água de 3 horas para 30 minutos.
Inaugurada em março de 2014, a estação é a primeira a utilizar membrana filtrante para tratamento do esgoto doméstico no Brasil.
ETE Campos do JordãoInaugurada em março de 2014, a estação é a primeira a utilizar
membrana filtrante para tratamento do esgoto doméstico no
Brasil. Trata-se da quarta planta no Brasil que utiliza esta tecno-
logia. Além disso, é a primeira ETE nacional totalmente coberta, a
exemplo de países como França, Japão e Principado de Mônaco. A
construção em ambientes fechados permite que os gases oriundos
dos processos sejam confinados e tratados antes serem lançados
no meio ambiente, reduzindo assim o odor exalado dos tanques.
Foram investidos R$ 106 milhões pela Sabesp na construção
dessa Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), com capacidade
para tratar 213 litros por segundo, além de 21 quilômetros de
tubulações, três estações elevatórias e 500 ligações, atendendo à
demanda atual da população fixa de 48 mil pessoas e à população
flutuante, de 30 mil pessoas. As instalações comportam, ainda, o
crescimento populacional (fixo e flutuante) previsto até 2035. O in-
vestimento garante o tratamento de 100% dos esgotos coletados
e amplia a coleta de 66% para 70%, beneficiando diretamente
os bairros Vila Serraria, Vila Fracalanza, Abernéssia, Vila Guarani,
Vila Albertina, Vila Nova Suíça, Vila Maria, Vila Nair, Vila Nova, Vila
Britânia, Vila Paulista, Vila Telma, Vila Nadir, Vila Jaguaribe, Vila
Becker, Vila Isabel e Jardim Alpestre. Nos próximos dois anos serão
implementados mais 100 quilômetros de rede que elevarão o ín-
dice de cobertura com rede de esgoto no município para 100%.
11SANEASAbril a Julho de 2016
Demais cenários para um saneamento consistente e contínuo
Quando se trata da perenidade do saneamento, além das tecnolo-
gias empregadas em reúso e ultrafiltração, existem outros fatores
fundamentais que sustentam a inovação e devem oferecer resul-
tados de longo prazo. Confira abaixo, algumas iniciativas integra-
das a essa finalidade
Metrologia Hidrodinâmica e sua aplicação na SabespA perenidade do saneamento também é garantida pela correta
gestão dos recursos hídricos. É preciso garantir a eficiência dos sis-
temas de abastecimento. Em outras palavras, é necessário que a
operação desses sistemas em todas as suas partes seja feita de
forma a evitar e reduzir as perdas e os desperdícios de água. “É
impossível gerenciar aquilo que não se pode medir”, a frase é de
Peter Druker, segundo muitos, o pai da administração moderna.
No saneamento não é diferente e um importante aliado nessa ta-
refa é o processo de medição que entre outras coisas fornece os
parâmetros hidráulicos e o volume de água veiculado pelo sistema.
Somente na RMSP existem cerca de 300 macromedidores. E é
para garantir que as medições estão sendo feitas de forma correta
que existe a calibração desses equipamentos.Na Sabesp dentro da
Divisão de Planejamento, Gestão e Desenvolvimento Operacional
da Produção - MAGG, há uma equipe de Metrologia Hidrodinâ-
mica, altamente capacitada e que conta com uma completa estru-
tura para garantir o perfeito desempenho dos macromedidores.
Seus profissionais seguem rigorosos procedimentos escritos com
base em metodologia desenvolvida em conjunto com o Institu-
to de Pesquisas Tecnológicas - IPT, a partir da experiência e de
estudos do próprio corpo técnico da empresa que elaboraram a
Norma Técnica Sabesp - NTS 280 a qual se tornou referência em
todo o território nacional.
Segundo o eng. Olavo Alberto Prates Sachs, da MAGG, e pre-
sidente da AESabesp, o processo: “diferencia-se pela precisão
metrológica que se utiliza do cálculo de incerteza para garantir
a qualidade dos resultados.”Mas, há outros diferenciais: o resul-
tado da calibração é obtido na presença do cliente e os técnicos
contam com o auxílio supervisório para verificar, na hora, os re-
sultados adquiridos em campo. Posteriormente, esses dados co-
letados são validados em escritório. E o macromedidor recebe um
certificado de validação. “Todo esse processo segue os requisitos
da ISO 17025 norma internacional criada para reconhecer a com-
petência técnica de laboratórios”, afirma.
A grande maioria dos macromedidores utilizados na Sabesp são
eletromagnéticos e subdividem-se em dois tipos: os de carretel e
os de inserção. Mas há, também, os ultrassônicos que, por sua
vez, dividem-se nos seguintes tipos: os de intrusão e os não in-
trusivos (ou clamp-on).Temos também medidores tipo Vortex e
os tradicionais e cada vez menos utilizados, os medidores depri-
mogênios, também conhecidos como Venturi. Mas, todos, sem
exceção, passam pelo ensaio de calibração e, se necessário, são
ajustados ou até substituídos.
Além desse cuidado a empresa, ainda, realiza constantes treina-
mentos com os profissionais da área, o que é feito nas próprias de-
pendências da Sabesp ou mesmo em campo. Atualmente, um dos
desenvolvimentos práticos diz respeito aos cuidados na perfuração
de tubos de PE (polietileno) para introdução dos instrumentos de
medição ou do Pitot, utilizado na calibração.O rígido controle obe-
dece a um cronograma anual que, é claro, possui flexibilidade para
atendimento a incidentes sem, contudo, interferir na meta de ter
100% dos medidores calibrados no período de um ano.
Automação na precisão dos sistemas de saneamentoA automação no Saneamento agregou muito valor a Empresa prin-
cipalmente para as equipes de operação, manutenção e gestão. O
diagnóstico em tempo real de uma falha determina a tomada de
ação rápida para reestabelecer o sistema de distribuição de água e
coleta de esgoto, tornando eficaz o combate a perdas, garantin-
do a entrega do produto na quantidade certa com o melhor apro-
veitamento da energia elétrica. Antes de 1997 os sistemas eram
eletromecânicos e não tinham meios de transmissão de dados em
Treinamento para uma medição precisa
12 SANEAS Abril a Julho de 2016
MATÉRIA TEMAMATÉRIA TEMA
todas as instalações variavam a velocidade dos motores, levavam
em média três dias para normalizar um problema, a partir deste
mesmo ano, foi iniciado o processo de implantação de automação
utilizando CLP (Controlador Lógico Programável), Conversor de Fre-
quência para variar a velocidade dos motores e linha de comunica-
ção em todos os pontos da Unidade de Negócios Leste, para serem
visualizados e comandados de um único computador, por meio do
Sistema de Controle Operação e Monitoramento (SICOM), atual-
mente a automação faz parte do mapa estratégico da Sabesp, com
a implantação em todos os Municípios do Estado de São Paulo.
Os resultados foram surpreendentes, redução no tempo de nor-
malização do sistema em média de 4 horas, as perdas foram re-
duzidas em 15 % nos setores, redução no consumo de energia
20% e satisfação da força de trabalho em melhoria no ambiente de
trabalho com a possibilidade de enviar um comando para desligar
ou ligar um equipamento que está a 80 KM de distância do centro
de operação, também houve o desenvolvimento das equipes para
manter os sistema eletroeletrônicos funcionais. De acordo o eng.
Erivaldo Lima, da Divisão Eletromecânica Leste, da Sabesp, “ é uma
satisfação repassar esse conhecimento à nova geração para melho-
rar o sistema cada vez mais. Em tempos de crise hídrica, a automa-
ção auxiliou muito as tomadas de decisões da área de operação.”
Plano Diretor da Sabesp: abastecimento até 2045A Sabesp está desenvolvendo ao longo de 2016 seu novo Plano
Diretor de Abastecimento de Água, documento que orienta as
principais obras e ações para levar água a mais de 20 milhões de
pessoas na Grande São Paulo. O documento tem como horizonte
o ano de 2045 e passa por revisões a cada cinco anos, quando
a companhia faz ajustes decorrentes do crescimento da região –
área complexa, mutante e na qual o aumento da população sofre
constantes mudanças.
Com a utilização de um novo software de modelo hidráulico, a
companhia irá projetar cenários. E poderá estimar, por exemplo,
por quanto tempo um reservatório regional ou uma adutora con-
seguirá atender a uma região em expansão. Pode ainda avaliar
qual a melhor posição para instalar uma estação de bombeamen-
to e comparar se não se torna mais eficiente e barato fazer uma
nova interligação de sistemas em vez de gastar com as bombas
e a energia elétrica de sua operação. Calcula também qual será
o efeito de um novo sistema como o São Lourenço no funciona-
mento de todos os outros sistemas.
O aplicativo alia os cálculos às imagens de satélite, permi-
tindo que os engenheiros e projetistas vejam o local por onde
passará uma tubulação ou verificar o melhor ponto alto para
colocar um reservatório.
Sabesp “Melhores Práticas”: a prata da casaA busca por soluções inovadoras revela-se muitas vezes como
uma alavanca que move a criatividade dentro da própria empresa.
É o caso da Sabesp, que, por meio de sua Diretoria Metropolita-
na, criou em 2012 um programa intitulado “Programa Melhores
Práticas”. Seu objetivo é desenvolver a força de trabalho e de
promover a troca de experiências e o “benchmarking” interno.
Ele está vinculado a uma idéia mais ampla, a de desenvolver e im-
plementar o processo de identificação, retenção e disseminação
do conhecimento. Para desenvolver o processo, foi criada uma
equipe técnica com representantes de todas as Unidades de Ne-
gócio e Superintendências da diretoria. Atualmente o “Melhores
Práticas”divide-se em três modalidades:
■ Práticas de Gestão;
■ Projetos e
■ Melhorias de Processos Operacionais.
Laboratório para testes de Sistemas de Automação na Sabesp Unidade de Negócios Leste
“O objetivo do programa é o compartilhamento do
conhecimento que não é só de nossa diretoria ou só da Sabesp,
mas sim, do saneamento” observa a analista de gestão da
Sabesp, Márcia Regina Aires, uma das responsáveis pela
sua execução.
13SANEASAbril a Julho de 2016
Marinha do Brasil, Universidades e CNEN: Dessalinização NuclearA combinação de esforços entre a Marinha do Brasil, Universi-
dades e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) apre-
senta um histórico de projetos de sucesso, como o domínio
do processo de enriquecimento de urânio. Essa parceria deve
agora ser repetida no desenvolvimento de um projeto nacio-
nal em dessalinização nuclear para fazer face à necessidade de
se garantir simultaneamente seguranças energética, hídrica e
alimentar. Para tanto, o projeto conceitual de um reator de pe-
queno porte da geração GIII+ tendo como ponto de partida o
LABGENE, combinado a diferentes sistemas de dessalinização,
foi iniciado com o envolvimento dos institutos de pesquisa da
CNEN, a Marinha e Universidades brasileiras, a partir da cola-
boração em rede de pesquisadores especializados nessa área. O
Termo de Referência foi encaminhado ao Ministério de Ciência,
Tecnologia Inovações e Comunicações, que o enviará para a
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
Uma das alternativas mais viáveis está nos processos de des-
salinização para obtenção de água potável, aplicados atual-
mente em cerca de 150 países. Neste universo, se destacam
Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Catar, Barein
e Omã, que obtêm cerca de 90 % da sua água potável através
de processos de dessalinização. Juntos, estes países produzem
cerca de 45 % de toda a água dessalinizada no mundo. O Bra-
sil possui apenas uma usina de dessalinização, localizada em
Fernando de Noronha. Também há projetos em andamento em
outros estados, como Ceará, Pernambuco e Bahia.
No quadro geral da atividade de dessalinização no mundo,
uma parcela significativa ocorre com utilização de reatores nu-
cleares. O processo já é adotado em países como Canadá, Rús-
sia, Paquistão e Argentina. Para a CNEN, este seria um caminho
viável e econômico de resolver a escassez de água em nível
nacional, já que o Brasil é o país com a sexta maior reserva de
urânio, que serve como combustível para reatores nucleares,
e tem autonomia no seu enriquecimento e na produção dos
elementos combustíveis.
POLI e Unicamp: modelos matemáticosPesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(POLI-USP) e da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Ur-
banismo da Universidade Estadual de Campinas (FEC-Unicamp)
desenvolveram novos modelos matemáticos e computacionais
voltados a otimizar a gestão e a operação de sistemas complexos
de suprimento hídrico e de energia elétrica. Os modelos, que
começaram a ser desenvolvidos no início dos anos 2000, foram
aprimorados por meio do Projeto Temático “HidroRisco: Tecno-
logias de gestão de riscos aplicadas a sistemas de suprimento
hídrico e de energia elétrica”, realizado com apoio da FAPESP.
Muitas das tecnologias utilizadas hoje nos setores hídrico e
energético no Brasil para gerir a oferta e a demanda e os ris-
cos de desabastecimento de água e energia em situações de
eventos climáticos extremos, como estiagem severa, foram de-
senvolvidas na década de 1970, quando as cidades brasileiras
eram menores e o país não dispunha de um sistema hídrico
e hidroenergético tão complexo como o atual. Esses sistemas
de gestão apresentam falhas como não levar em conta a co-
nexão entre as diferentes bacias e não estimar a ocorrência
de eventos climáticos mais extremos do que os que já acon-
teceram no passado ao planejar a operação de um sistema de
reservatórios e distribuição de água. A fim de aprimorar esses
sistemas de gestão de risco existentes hoje, os pesquisadores
desenvolveram novos modelos matemáticos e computacionais
que simulam a operação de um sistema de suprimento hídrico
ou de energia de forma integrada e em diferentes cenários de
aumento de oferta e demanda de água.
14 SANEAS Abril a Julho de 2016
MATÉRIA TEMA
Para Adriana Bin, novas tecnologias trazem impacto positivo para o saneamento
Para discorrer sobre a perspectiva da pere-
nidade do saneamento com a aplicação
de gestões voltadas para as inovações
tecnológicas, entrevistamos a professora
e dra. Adriana Bin, da Faculdade de Ciências Apli-
cadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA/
Unicamp), que junto ao professor e dr. Sergio Salles
Filho (Titular do Departamento de Política Científica e
Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp)
e Coordenador de avaliação de programas da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo), participou da implantação do modelo de ges-
tão na Sabesp, que suscitou a criação, em 2010, da
Superintendência Desenvolvimento Tecnológico e Ino-
vação da Sabesp (TX).
Adriana Bin possui graduação em Engenharia de
Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas
(2000), mestrado (2004) e doutorado (2008) em Polí-
tica Científica e Tecnológica pela mesma Universidade
e pós-doutorado no Manchester Institute of Innova-
tion Research (MIoIRda University of Manchester). É
professora doutora da Faculdade de Ciências Aplica-
das da Universidade Estadual de Campinas (FCA/UNI-
CAMP) na área de administração, professora plena
no Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas (FCA/UNICAMP) e no Programa de
Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica
(DPCT/IG/UNICAMP) e coordenadora associada do
Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e
da Inovação (GEOPI) e do Laboratório de Economia e
Adriana BinFaculdade de Ciências
Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas
15SANEASAbril a Julho de 2016
ENTREVISTA
Gestão (LEG). Atua em projetos de pesquisa e extensão nas áre-
as de planejamento e gestão, avaliação e prospecção em ciência,
tecnologia e inovação.
Saneas: Qual é a base do seu trabalho para desenvolver
projetos de inovação tecnológica no setor de saneamento
ambiental?
Adriana Bin: Tivemos duas experiências de trabalho no setor de
saneamento dentro de nossa área de atuação, que é a do pla-
nejamento e gestão da P&D e da inovação. A primeira foi uma
avaliação, entre 2003 e 2005, do Programa de Pesquisas em Sane-
amento Básico (Prosab), apoiado pela Agência Brasileira de Inova-
ção (Finep). Nesta ocasião, buscou-se mensurar os resultados e os
impactos diretos e indiretos do Programa nos aspectos socioeco-
nômicos e socioambientais, assim como na criação de condições
para a inovação no setor de saneamento. A segunda experiência,
entre 2008 e 2009, foi a concepção, desenvolvimento e implan-
tação do modelo de gestão em tecnologia e inovação na Sabesp.
Este trabalho incorporou, dentre outros aspectos, a elaboração de
um estudo prospectivo, da política de propriedade intelectual da
empresa, da sua estratégia de financiamento e do sistema de ava-
liação de resultados e impactos para P&D e inovação, assim como
um curso de capacitação nos temas do planejamento e gestão de
tecnologia e da inovação.
Saneas: Teria dados comprobatórios de elevação de índices
de qualidade de vida oriundos do funcionamento desses
projetos?
Adriana Bin: Não temos dados sobre isto, justamente porque
não se trataram de projetos de inovação, mas sim de gestão de
tecnologia e de inovação. Ressalta-se, no entanto, que estudos de
avaliação sobre os resultados e impactos da adoção de novas tec-
nologias no setor de saneamento são extremamente pertinentes
para buscar dados desta natureza.
Saneas: Para a perenidade do saneamento, além de fluxo de
recursos em infraestrutura de abastecimento de água, com
obras de captação, reservação, tratamento e distribuição, e
de coleta, transporte e tratamento de esgoto, qual é o com-
ponente que só a tecnologia pode trazer?
Adriana Bin: São muitos os impactos positivos que a adoção
de novas tecnologias podem trazer para o setor de saneamento.
Apenas para citar algumas possibilidades, destaca-se, nos aspec-
tos econômico-financeiros: o aumento de produtividade física dos
processos; redução de custos; diminuição de perdas técnicas; e
melhoria na qualidade dos serviços prestados. Nos aspectos so-
cioeconômicos, ressalta-se: melhoria na qualidade e segurança do
trabalho; aumento da qualificação técnica dos empregos gerados;
e incremento na remuneração dos trabalhadores – salários e be-
nefícios. Sob a ótica socioambiental, pode-se ainda citar: melhoria
na conservação e uso de recursos naturais (atmosfera, solo, água,
energia); redução no consumo de insumos químicos; e reapro-
veitamento e reúso. Ademais, novas tecnologias podem trazer
mudanças significativas para o setor a partir da criação de novos
modelos de negócio e mesmo de novas empresas.
É claro que o tipo de impacto trazido pela tecnologia vai de-
pender de sua natureza, ou seja, nem toda nova tecnologia traz
necessariamente impactos positivos nos aspectos supracitados e
dificilmente o fará em todos eles. Daí a importância de que tal
processo seja gerenciado, buscando ferramentas de apoio à deci-
são a partir de critérios claros, seja para o desenvolvimento, seja
para a aquisição de novas tecnologias.
Saneas: Existe uma política nacional de incentivo à inovação
tecnológica, voltada para o atendimento desse setor no ter-
ritório nacional? Em caso afirmativo, como ter acesso a sua
aplicação?
Adriana Bin: Não se pode afirmar que exista uma política na-
cional de incentivo à inovação tecnológica voltada para o aten-
dimento do setor de saneamento no Brasil. Há, de fato, preocu-
pações recentes mais explícitas com o tema de recursos hídricos,
como se pode verificar no documento que formaliza a Estratégia
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o período 2016
a 2019, no qual o tema figura como uma das prioridades, assim
como pela existência de um Fundo Setorial destinado a financiar
estudos e projetos na área de recursos hídricos, para aperfeiçoar
os diversos usos da água (CT-Hidro). No entanto, tal foco não dá
conta da abrangência do universo do saneamento, assim como
não tem se revertido, de fato, em ações concretas capazes de
alterar o patamar tecnológico do setor. Neste sentido, o incentivo
à inovação tecnológica no saneamento tem se dado de forma
mais fragmentada, contando, mais do que com incentivos go-
vernamentais, com iniciativas dos distintos atores que integram a
cadeia produtiva do setor.
Saneas: Sendo o Brasil um país de dimensões continentais,
com várias diferenças geográficas, climáticas e socioeconô-
micas, seria possível uma administração sistêmica de recur-
sos tecnológicos ou é necessário processos específicos para
cada região?
16 SANEAS Abril a Julho de 2016
ENTREVISTA
Adriana Bin: No caso do saneamento, são de fato necessários
processos específicos para cada região, justamente porque as es-
pecificidades geográficas, climáticas e socioeconômicas importam
– e muito – para se pensar sistemas de saneamento. Ademais, o
saneamento pode ser caracterizado por seu amplo espectro de
atuação – abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpe-
za urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo
de águas pluviais urbanas – assim como pela multiplicidade de
atores envolvidos nos processos de desenvolvimento tecnológico
e inovação no setor – as próprias empresas de prestação de ser-
viços de saneamento, fornecedores de insumos e equipamentos,
empresas de engenharia, instituições de ciência e tecnologia, sem
desconsiderar ainda órgãos reguladores e normativos. Estes três
aspectos tornam difícil conceber uma gestão integrada de recur-
sos tecnológicos, muito embora algum tipo de centralização, no
sentido de determinar prioridades, evitar duplicidades e promover
colaborações, seria desejável tendo em vista o papel do setor de
saneamento na promoção da qualidade de vida da população.
Saneas: No cenário atual marcado por mudanças políticas
e administrativas, a senhora detecta a viabilidade de inves-
timento no desenvolvimento tecnológico dos setores de in-
fraestrutura?
Adriana Bin: O cenário atual é de restrição para investimentos
em ciência, tecnologia e inovação, e isto envolve não apenas seto-
res de infraestrutura, como os mais distintos setores da economia.
Saneas: Na sua concepção, quais foram as principais mu-
danças e exigências no setor de saneamento, desde 2010,
época em que foi integrado o seu projeto de gestão para a
criação da Superintendência de Desenvolvimento Tecnoló-
gico e Inovação da Sabesp (TX)?
Adriana Bin: Do ponto de vista tecnológico, há velhos e novos
campos a serem explorados, tais como reaproveitamento e reú-
so, sistemas de coleta, tratamento e distribuição descentraliza-
dos, automação e uso de sensores, entre outros. Sob uma ótica
mais ampla, seguem as exigências pelo alcance de parâmetros
de universalidade, qualidade, equidade, além da sustentabilida
desassociada ao serviços de saneamento.
Saneas: Hoje, quais são os pontos favoráveis e vulneráveis que
os senhores apontariam para a perenidade do saneamento?
Adriana Bin: Do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico
e da geração de inovações, o setor de saneamento pode ser tra-
dicionalmente compreendido como “dominado pelos fornecedo-
res” e “intensivos em escala”. Muito embora seja uma situação
estimulada pelas próprias condições de competitividade do setor,
cabe enfatizar que a inovação é condição fundamental para alcan-
çar os desafios supracitados, em especial, universalidade, qualida-
de, equidade e sustentabilidade. Neste sentido, entende-se que o
futuro do saneamento passa pela internalização das oportunida-
des associadas ao desenvolvimento tecnológico pelos prestadores
de serviços, de forma que se tornem mais protagonistas do pro-
cesso inovativo, como forma de garantir sua própria competitivi-
dade no longo prazo, mas também a proposição e implantação
de soluções adequadas às demandas da população no que diz
respeito ao saneamento.
17SANEASAbril a Julho de 2016
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A história do homem sempre foi pautada
por mudanças. Desde os mais tímidos
esforços que remontam dos períodos
mais remotos, quando havia apenas
inovações incrementais, as quais paulatinamente
mudavam a vida das pessoas, até hoje, quando são
gradativamente substituídas por uma série de mudan-
ças disruptivas (inovações que mudam a estrutura do
mercado e levam os produtos tradicionais à obsoles-
cência). Nesse sentido temos tecnologias impactantes
que mudaram totalmente a forma de pensar e de agir,
como o advento dos smartphones, internet, redes so-
ciais e armazenamento em nuvem.
Estima-se que as inovações dos últimos duzentos
anos correspondem a 85 % de todos os inventos pro-
duzidos em toda a humanidade. Assim, arrisca-se di-
zer que não estamos em uma era de mudanças, mas
sim em uma mudança de era.
A expressão inovação nos remete de modo prati-
camente automático a pensar em tecnologia. Mas o
conceito de inovação abrange também questões or-
ganizacionais orientadas para melhorar a qualidade
e eficiência do trabalho. A inovação deve se utilizar
de qualquer componente que afete o desempenho da
empresa, de forma a melhorar sua eficiência e quali-
dade de seus serviços, processos e produtos, ou seja,
deve de alguma forma agregar valor ao negócio de
forma sustentável.
Se focarmos nas últimas cinco décadas, constata-
mos um crescimento exponencial das tecnologias,
produzindo uma quebra de paradigmas em relação
à mentalidade da população e a gestão das empre-
sas. No contexto atual, em um mundo globalizado
e dinâmico, com o aumento da competitividade e
Inovação no saneamento
Por Cristina Zuffo
Cristina ZuffoÉ Engenheira Civil pela
Escola Politécnica da USP em 1992. Mestre em Hidráulica
e Saneamento pela Escola Politécnica da USP em 2002. MBA pela Fundação Instituto
de Administração da USP. Profissional com experiência em modelagem matemática
hidráulica, estudos de concepção e otimização no
abastecimento público, eficiência energética em sistemas de
bombeamento, planejamento do abastecimento da RMSP,
recursos de fomento à Inovação, propriedade intelectual, estudos
de prospecção tecnológica, parcerias tecnológicas em PD&I
nacionais e internacionais.Atualmente é Superintendente de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico, Inovação e Novos
Negócios da Sabesp (TX).
18 SANEAS Abril a Julho de 2016
PONTO DE VISTA
clientes muito mais exigentes, inovar significa a garantir a sobre-
vivência da empresa.
Daí surge o conflito, porque quando nos deparamos com a re-
alidade das empresas, vemos como é complexa a implantação de
inovações, que passam muitas vezes por uma questão cultural e
de conflito de gerações.
Para uma empresa ser inovadora é essencial que exista con-
vergência de esforços para prover recursos financeiros, hu-
manos, materiais e conhecimentos para que novos produtos,
processos e serviços sejam desenvolvidos.
Além disso, quando o assunto é inovação precisamos primei-
ro caracterizar a empresa e inseri-la no contexto operacional e
de mercado. A abordagem do tema inovação varia muito depen-
dendo do setor da economia em questão. A velocidade e pre-
disposição às mudanças, grau de investimento, escalabilidade e
demandas dos clientes, são alguns dos fatores que influenciam
sobremaneira o tema.
Assim, o primeiro passo para entender como se comporta
um determinado setor da economia em relação à dinâmica da
inovação é conhecer suas principais características. No caso do
saneamento não é diferente. Como comparar uma empresa de
cunho estritamente tecnológico focada em produto, com uma
empresa de saneamento, cuja principal atribuição é a prestação
de serviços?
Nesse sentido, a Sabesp há algum tempo contratou o Departa-
mento de Políticas Científicas e Tecnológicas da UNICAMP, para
fazer um diagnóstico de como se comporta a inovação no setor
de saneamento. Dentre os principais produtos deste estudo está
a caracterização do setor de saneamento frente à entrada de
novas tecnologias.
Fortemente atrelado ao setor público, o saneamento tem um
grande mote social como, por exemplo, a influência direta nos
índices de mortalidade infantil. É caracterizado por economia de
escala com investimentos intensivos, por isso se utiliza frequente-
mente de financiamentos governamentais.
As tecnologias para o saneamento tem em geral uma trajetória
de longo prazo. No estado de São Paulo, por exemplo, existem
diversas instalações e equipamentos como tubulações, válvulas,
estações de tratamento de água e esgoto, que datam de quase
um século e que ainda estão em boas condições de operação.
Impera o predomínio das inovações incrementais e de baixa com-
plexidade, em detrimento às das inovações disruptivas.
Os pontos levantados acima explicam em parte, o porquê os
trabalhadores do ramo do saneamento são conservadores e em
geral, avessosa mudanças.
As empresas de saneamento precisam desenvolver um poder
de comando, e tomar a frente na elaboração de uma governan-
ça na cadeia do saneamento, criando um ciclo virtuoso, exigindo
serviços e produtos com mais eficiência e qualidade. Caso a em-
presa seja de grande porte, podem e devem exercer seu poder de
barganha junto aos fornecedores, pela escala do negócio. Muito
provavelmente continuaremos a ser dominados tecnologicamente
pelos fornecedores, porém com uma forte governança este domí-
nio será benéfico e ocorrerá de forma salutar.
Ainda dentro desta perspectiva, é necessário aumentar a ar-
ticulação e parcerias com os atores da cadeia do saneamento,
seja com a criação de um canal de comunicação mais eficiente,
seja através de outros instrumentos, tais como, convênios e/ou
acordos de cooperação tecnológica, desta forma, realizando de-
senvolvimentos conjuntos ou ainda introduzindo novos modelos
de negócio.
No caso de empresas públicas, há que se pensar em formas
criativas para entrada de novas tecnologias, já que as amarras da
lei 8.666 engessam sobremaneira as iniciativas inovadoras. Neste
sentido, estão em estudo diversas leis que devem melhorar esta
situação, porém ainda não foram regulamentadas.
Os financiamentos à inovação são outro ponto importante.
Atualmente temos agências de fomento nacionais e internacio-
nais, com diversas linhas voltadas à inovação como a FINEP, BN-
DES, KfW, FAPESP, dentre outras. Assim, recursos disponíveis não
é, a princípio, um entrave à inovação. O maior problema está na
carência de bons projetos. A Sabesp, por exemplo, conseguiu
recursos em duas grandes agências de fomento a FAPESP com
17 projetos em andamento e a FINEP compreendendo quatro
grandes projetos. Isso mostra que se há bons projetos os recur-
sos são acessíveis.
Outro ponto em que as empresas públicas sofrem e, neste caso,
não é um problema restrito ao saneamento, é com relação à qua-
lidade das compras realizadas. É necessário repensar este formato.
Compras por performance podem ser uma alternativa, inclusive
já utilizadas por algumas concessionárias de saneamento. Con-
siderar os valores de CAPEX e OPEX trazendo a valor presente e
aí sim realizar a comparação entre os valores é uma forma mais
inteligente de se utilizar a lei 8.666. Desta forma, é possível extrair
o máximo de eficiência em uma compra levando em consideração
quesitos como, por exemplo, qualidade do material (vida útil) ou
eficiência energética.
Pelo que se pode constatar, ainda temos um longo caminho
a trilhar para atingir a excelência na aquisição de tecnologias no
setor de saneamento.
19SANEASAbril a Julho de 2016
A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
(CCJC) da Câmara dos Deputados aprovou, em
18 de maio, o substitutivo do deputado federal
e associado da AESabesp, João Paulo Papa, ao
projeto de lei do senador José Serra, que cria o Regime Es-
pecial de Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento
Básico (Reisb).
Com a criação deste dispositivo, as empresas prestadoras de
serviços públicos de saneamento poderão aumentar o volume
de investimentos, por meio da concessão de créditos relativos ao
PIS/. Cofins e Pasep. A estimativa é de que até R$ 3 bilhões sejam
incrementados ao setor.
O parlamentar destaca que a aprovação do projeto é uma gran-
de vitória para o Brasil. “Demos um passo fundamental, histórico.
Somos 100 milhões de brasileiros sem coleta de esgoto e 120 mi-
lhões sem acesso a esgoto tratado. Este projeto auxiliará a mudar
a triste realidade vivida no Brasil”, observa.
Todavia, o parlamentar explica que o projeto aprovado pela Câmara
não se trata de desoneração pura e simples do setor, nem da trans-
formação dos investimentos em créditos perante os impostos. “Por
meio do Reisb, apenas projetos que estejam de acordo com o Plano
Nacional de Saneamento Básico (Plansab) e que representem um valor
adicional ao valor médio anual de investimentos da pessoa jurídica po-
dem pleitear créditos”. Ainda de acordo com ele, é preciso, também,
garantir que os investimentos sejam voltados para a sustentabilidade
e a eficiência dos sistemas de saneamento básico, assegurando, por
exemplo, a incorporação de novas tecnologias aos projeto.
Agora o projeto volta ao Senado Federal, onde passará pelas
comissões de Assuntos Sociais, Assuntos Econômicos e Consti-
tuição e Justiça. Se aprovado, seguirá à sanção presidencial.
Câmara aprova projeto que cria regime para incentivar investimentos no saneamento
20 SANEAS Abril a Julho de 2016
VISÃO DE MERCADO
Promovido pela AESabesp, o evento em 2015 deverá receber cerca de 20 mil visitantes de todas as nações.
Ano XIII . Edição 55 . Abril a Julho de 2015
Matéria tema A necessidade de se reduzir perdas Vivências Quando o engenheiro dá a vez ao palhaço
Projetos Socioambientais Troféu AESabesp aos melhores de 2015
26º Congresso TéCniCo AesAbesp FenAsAn 2015:o mAior evenTo do seTornA AmériCAlATinA.
Ano XIII . Edição 55 . Abril a Julho de 2015
Promovida pela AESabesp, essa realização
superou todos os seus índices, em 2015,
consolidando-se como a maior evento
técnico-mercadológico do setor da América
Latina. Saneas traz a cobertura completa.
Ano XIII . Edição 56 . Agosto a Novembro de 2015
Matéria tema O saneamento na América Latina
O sucessO dO 26º cOngressO TécnicO AesAbesp FenAsAn 2015
Artigo técnico Gestão do PURA na penitenciária
Matéria Especial Jerson Kelman na
abertura da Fenasan
- VEÍCULO -
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FENASAN2016
- VEÍCULO -
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FENASAN2016
Ano XIII . Edição 56 . Agosto a Novembro de 2015
-
- OFICIAL
- VEÍCULO -
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FENAFENASAN220116
26º Congresso 26º Congresso
Mesmo em condições melhores do que o ano passado,
o enfrentamento da crise hídrica na RMSP ainda é um desafio.
Conheça as ações e as obras desenvolvidas pelo corpo técnico
da Sabesp para superá-lo.
Ano IX . Edição 57 . Janeiro a Março de 2016
SÃO PAULO APOSTA EM
OBRAS PARA ENFRENTAR
A CRISE HÍDRICA
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FENASAN2016
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- OFICIAL -
FENASAN2016
Campanha da Fraternidade
adota saneamento como tema Secretário
Paulo Ferreiraaborda superação
da crise hídrica Com uma nova
direção e gestão,
AESabesp celebra
os seus 30 anos.
Campanha
Entrevista
Nova gestão
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Revista Saneas: mais que uma Revista, um Projeto Socioambiental.
EDIÇÃO N° 59 – JULHO / AGOSTO / SETEMBRO Tema central: Impacto do uso e conservação de energia no saneamentoCom destaque para as novas formas de geração de energia, como a eólica, solar, fotovoltaica, entre outras alternativas voltadas à minimização de custos e poluentes.Com cobertura do 27º Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2016.Fechamento: setembro 2016 / circulação: outubro 2016
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EDIÇÃO N° 60 – OUTUBRO / NOVEMBRO / DEZEMBRO Tema central: Recuperação de Córrego e Mata CiliaresCom destaque para a necessidade de preservação ambiental, como ferramenta para universalização do saneamento, por meio de despoluição de rios, reflorestamento de barragens, entre outras ações de urgência global.Fechamento: dezembro 2016 / circulação: janeiro 2017
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Os raios X são um tipo de radiação de alta energia, com
capacidade de penetrar em organismos vivos e atravessar
tecidos de menor densidade. Ele é absorvido pelas par-
tes mais densas do corpo, como os ossos e os dentes.
Em razão dessa característica, seu principal uso é em ra-
diografias para diagnóstico médico. Mas ele também é
usado industrialmente para observar a estrutura interna
de objetos, procurando ver se há falhas em sua estrutura
como bolhas e rupturas.
A grande novidade, porém, é a sua utilização no sa-
neamento para a determinação de metais tóxicos como
arsênio, cádmio, cromo, chumbo, prata, mercúrio e até
selênio em águas e em coagulantes. O método está em
fase de experimentação pela Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo - Sabesp, que firmou um
convênio com o Instituto de Química da Universidade de
São Paulo para validação de duas metodologias: a espec-
trometria de fluorescência de raios X por reflexão total
(TXRF) e a espectrometria de emissão óptica com plasma
induzida por laser, LIBS (laser-inducedbreakdownspec-
troscopy). O primeiro voltado às amostras líquidas ou em
suspensão e o segundo, para as amostras sólidas.
A revista Saneas entrevistou, em primeira mão, a dra.
Danielle Polidorio Intima, supervisora no Departamento
de Controle da Qualidade dos Produtos Água e Esgoto
(TOQ) da Sabesp, para discorrer sobre esse pioneirismo
que tudo tem a ver com o temática da edição, voltada à
inovação para a perenidade do saneamento.
Saneas: O que é raio X da água? Isso é possível?
Danielle PI: Os raios X podem ter propriedades de onda,
que é uma característica utilizada na difração de raios X.
E podem ter propriedades de partícula, que é uma ca-
racterística utilizada na fluorescência de raios X. Eles são
originados quando elétrons de alta energia perdem ener-
gia ao interagir com átomos, o comprimento de onda
Sabesp na aplicação do “Raio X da Água”
Dra. DaniellePolidorio IntimaSupervisora no
Departamento de Controleda Qualidade dos
Produtos Água e Esgoto (TOQ) da Sabesp.
PIONEIRISMO
Operacionalização de testes do Raio X da Água no TOQ/ Sabesp.
22 SANEAS Abril a Julho de 2016
do raio X fluorescente emitido pelo átomo, a partir desta interação,
é característico de cada elemento, e sua intensidade é proporcional a
sua concentração na amostra. Diante disso, podemos afirmar que é
possível tirar um raio X da água.
Saneas: Quando se fala em raio X imagina-se emissões eletro-
magnéticas com poder de penetração em objetos opacos, ou
seja, corpos sólidos, como isso é possível no caso da água?
Danielle PI: No caso de amostras líquidas, estas são analisadas na
forma de um filme fino, através da secagem de uma gota de amostras
sobre um disco de quartzo. Já para amostras sólidas, é necessária a
moagem, peneiramento e suspensão deste sólido. A gota da suspen-
são é seca e gera microfragmentos que interagem com a radiação.
Saneas: Então, não só substâncias líquidas podem ser analisadas?
Danielle PI: Podem ser analisadas amostras líquidas e sólidas, estas
devem ser moídas e suspensas em água ou qualquer outro solvente
adequado.
Saneas: Como funciona o equipamento?
Danielle PI: É um equipamento Plug and Play. Para uma análise semi-
quantitativa, liga-se o equipamento, seca-se a gota da amostra sobre
o disco de quartzo e realiza-se a leitura. Para a aquisição de dados
quantitativos, basta inserir um padrão interno na etapa de secagem.
Saneas: O que muda em relação ao controle de qualidade da
água e dos produtos químicos com o raio X?
Danielle PI: A espectroscopia por fluorescência de raios X com re-
flexão total – TXRF tem potencial para substituir técnicas elementa-
res clássicas como espectrometria de absorção e emissão atômica. O
equipamento não requer a utilização de gases especiais ou adequa-
ções elétricas específicas para o seu funcionamento. Por se tratar de
um dispositivo que pode ser levado a campo, uma vez que se trata de
um equipamento plug and play.
Saneas: Como viabilizar para a rotina de produtos químicos?
Danielle PI: A Sabesp monitora a toxicidade dos produtos químicos
utilizados no tratamento de água para consumo humano. A utiliza-
ção da espectroscopia de fluorescência de raios X para este fim é um
desafio, uma vez que temos matrizes diversas com macroelementos
metálicos que afetam as medições dos elementos traços. Diante disso,
faz-se necessário o desenvolvimento de métodos analíticos diferencia-
dos que possibilitem esta medição.
Atualmente, o Laboratório de Material de Tratamento da Sabesp
conta com a rotina de monitoramento da toxicidade por TXRF em
ácido fluossilícico e barrilha. Isso porque nestas matrizes não temos
interferências de macroelementos metálicos detectáveis. Já para a ro-
tina de coagulantes a base de alumínio e ferro, métodos analíticos
precisam ser desenvolvidos. Para atender esta demanda, a Sabesp
acaba de firmar um termo de cooperação técnica com o Instituto de
Química da Universidade de São Paulo, que é referência em pesquisa
na área de química analítica.
Saneas: Quais as vantagens?
Danielle PI: A principal vantagem da aquisição de um espectrômetro
por fluorescência de raios X com reflexão total – TXRF (Total Reflection
X-Ray Fluorescence Spectrometer) é a capacidade de detecção de tra-
ços de contaminantes metálicos, utilizando apenas alguns microlitros
de amostra, em alguns minutos. Para amostras de água final, efluen-
te tratado ou água de reúso, que são amostras homogêneas, não é
necessário nenhum preparo de amostra, o que resulta em uma alta
frequência analítica.
Saneas: A utilização desse equipamento já está liberada pelo
Ministério da Saúde?
Danielle PI: Como se trata de uma tecnologia recente há alguns ar-
tigos europeus que mencionam a utilização deste equipamento para
análise de água de consumo humano. Aqui na Sabesp, já participa-
mos de dois programas de ensaios de proficiência e os resultados
foram excelentes, o que mostra a potencialidade da técnica para o
monitoramento de todos os metais previstos na Portaria 2914/11.
Outro importante exemplo de pioneirismo, está destacado na ETE Barueri onde foi instalada uma Estação Piloto de Sistema de Gaseificação por Tochas de Plasma, para processamento de Resíduos Sólidos Térmico, com capacidade para processar 15 ton/dia de lodo digerido, desaguado e gerado nos processos de tratamento em operação. De acordo com a eng. Iara Chao (TX/Sabesp), “entra lodo de ETE e sai cacos vitrificados inertes. Não existe essa inovação em nenhum lugar do Brasil. A Sabesp está na frente. O projeto foi financiado pela FINEP e o contrato firmado com a Hannover Projetos, num investimento de R$ 9.400.000,00”.
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DN
23SANEASAbril a Julho de 2016
Saneas: Quem já faz uso desse equipamento?
Danielle PI: Na Alemanha, estes equipamentos são utilizados em
Vans, ligados na bateria do veículo, para a realização da análise de
metais em campo.
Saneas: Além da Sabesp, que outras empresas de saneamen-
to no Brasil utilizam esta tecnologia?
Danielle PI: No Brasil, a Sabesp é a primeira empresa de sanea-
mento a adquirir este tipo de equipamento.
Saneas: Em termos de economia de custo analítico, quais as
vantagens?
Danielle PI: A redução do custo analítico se dá na redução brusca
do tempo de análise, da redução exposição do analista e da mini-
mização na utilização de reagentes, uma vez que não é necessário
nenhum tipo de preparo das amostras.
Saneas: Por se tratar de uma aplicação nova dessa tecnolo-
gia, haverá a validação dos resultados? Por qual órgão?
Danielle PI: Os resultados serão validados conforme o DOQ-CG-
CRE-008 – Orientação sobre validação de métodos analíticos do
Inmetro. Esta validação será realizada pela Sabesp.
Saneas: Essa inovação mantém algum tipo de relação com a
disponibilidade de recursos hídricos?
Danielle PI: Com certeza, é uma tecnologia de resposta rápida,
passível de ser utilizada em campo, ideal para a realização de mo-
nitoramento de recursos hídricos.
Saneas: É possível a utilização para análise de esgoto?
Danielle PI: Sim, inclusive em campo.
Saneas: E água de reúso? O que seria analisado?
Danielle PI: Sim. Os parâmetros analisados na água de reúso
seguem a especificação exigida em contrato, cada cliente terá a
necessidade de monitoramento de determinados parâmetros im-
portantes para seu processo.
PIONEIRISMO
24 SANEAS Abril a Julho de 2016
Por Daniel Gonçalves
Energia solar fotovoltaica para alimentação de uma estação elevatória de água
IntroduçãoA SABESP possui em seu patrimônio inúmeros reser-
vatórios de água para abastecimento da população.
Esses reservatórios normalmente são de grandes di-
mensões e a parte superior da laje de cobertura é uti-
lizada, em poucos casos, para instalação de quadras
poliesportivas ou escritórios. Já a propriedade onde a
estrutura desses reservatórios se encontra muitas ve-
zes possui uma Estação Elevatória de Água (EEA), que
tem a função de receber a água armazenada no reser-
vatório e levá-la para altitudes acima da cota máxima
de armazenamento. Para isso, as EEAs são equipadas
com bombas hidráulicas que consomem uma quanti-
dade muito grande de energia elétrica. De acordo com
a SABESP (2014), mesmo com programas de eficiência
energética e contratos de demanda junto às conces-
sionárias, em 2008 a despesa chegou a R$ 460,20 mi-
lhões, correspondente ao consumo de 2.142,30 GWh
ou 1,84% do consumo do Estado de São Paulo. Desse
total, 90% foram utilizados para alimentação de bom-
bas instaladas em estações elevatórias.
Paralelo a isso, o mercado brasileiro vem apresen-
tando um crescimento na utilização de energias reno-
váveis, seja pela diminuição do volume de água nos
rios utilizados por hidrelétricas e aumento no consumo
de energia elétrica devido ao crescimento econômico
da população, seja pela conscientização da escassez
e do impacto ambiental causado pelo uso de com-
bustíveis fósseis. Uma das tecnologias para geração
desse tipo de energia é o sistema fotovoltaico, que
utiliza a luz solar para gerar energia elétrica e no qual
a SABESP poderia se beneficiar utilizando a cobertura
de seus reservatórios. A energia produzida pelo sis-
tema seria uma alternativa parcial ou total ao uso da
energia elétrica distribuída tradicionalmente às EEAs,
resultando na diminuição dos gastos relacionados a
esse tipo de despesa.
Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a viabi-
lidade econômica da instalação de módulos fotovol-
taicos sobre a laje de cobertura de um reservatório de
água da SABESP para captação da luz solar e geração
de energia elétrica para alimentação de uma EEA e/
ou sua injeção na rede elétrica da concessionária.
Materiais e métodosDevido à quantidade de EEAs e reservatórios de água
existentes na área de atuação da Diretoria Metropoli-
tana (M) da SABESP e operados pela Unidade de Ne-
gócio de Produção de Água da Metropolitana (MA),
foi necessário criar alguns critérios para a escolha do
local ideal para realização da análise proposta por este
trabalho. Assim, ficou definido que:
1. A propriedade onde está construído o reservatório
deve possuir uma estação elevatória de água;
2. O reservatório de água deve ser retangular;
3. O reservatório de água deve ser de concreto armado;
4. A face superior da cobertura do reservatório de
água deve ser plana; e
5. A propriedade onde se encontra o reservatório não
deve possuir grandes interferências que causem
sombra sobre a sua cobertura.
Esses critérios foram cruzados com as quarenta
EEAs mais consumidoras de energia elétrica em kWh
na MA, onde foi possível identificar que o local ideal
para a análise seria a propriedade onde se encontram
o Reservatório Mutinga e a EEA Mutinga (Figura 1),
situada no município de Osasco.
Optou-se por não utilizar nesta avaliação o uso de ba-
terias para armazenamento da energia elétrica produzi-
da pelo sistema fotovoltaico, pois as EEAs da MA estão
em locais com acesso à rede pública de eletricidade.
Reservatório MutingaO Reservatório Mutinga está situado no município
Daniel Gonçalves
é gestor do Cadastro Técnico da Produção - MAG11, na Sabesp,
responsável pela documentação cadastral
digital e analógica de 1.200 km de adutoras; 24 represas; 9 Estações de Tratamento de Água
- ETA; 140 Centros de Reservação de Água; 120
Estações Elevatórias de Água - EEA; além de toda
base de dados geográficos da Unidade de Negócio
de Produção de Água da Metropolitana. É Tecnólogo Hidráulico e Tecnólogo em Edificações pela FATEC-SP;
Engenheiro Civil pela UMC; e Pós-Graduado em
Geoprocessamento pelo SENAC-SP. Atualmente
também é Professor de Engenharia Civil na Universidade Mogi das
Cruzes - UMC..
25SANEASAbril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
de Osasco, na Rua Francisco Morato, número 100 e possui uma
capacidade total de 20.000 m³ de armazenamento de água di-
vidida em duas câmaras internas. A sua estrutura é retangular
e possui uma dimensão de 61,80 m de comprimento por 41,30
m de largura, ou seja, 2.552,34 m² de área. O reservatório é
de concreto armado apoiado no terreno, sua cobertura é pla-
na e, internamente, há duas câmaras. Além desse reservatório,
na mesma propriedade há um reservatório elevado (torre), com
capacidade de 500 m³. A laje plana do reservatório apoiado
possui espessura de 0,20 m e, em relação à sobrecarga, a laje
de cobertura de reservatórios da SABESP segue a exigência da
Norma Técnica 6.120 da Associação Brasileira de Normas Téc-
nicas (ABNT), que considera uma carga mínima acidental de 50
Kgf/m².
Estação Elevatória de Água MutingaA EEA Mutinga está instalada na mesma propriedade onde se
encontra o Reservatório Mutinga e tem como dimensão 25,20
m de comprimento por 8,70 m de largura. Nos anos de 2011,
2012 e 2013, a EEA Mutinga teve um consumo médio mensal de
energia elétrica de 196.157 KWh e um gasto médio mensal de R$
48.505,00, conforme apresentado na Tabela 1.
A EEA Mutinga conta com quatro conjuntos motor-bomba in-
terligados à tubulação de sucção de Ø 400 mm, em ferro fundido,
e à tubulação de recalque de Ø 300 mm, também em ferro fundi-
do. Esses conjuntos estão protegidos por válvulas do tipo borbole-
ta na tubulação de sucção e na tubulação de recalque, e válvulas
de retenção na tubulação de recalque, que funcionam como se-
gurança do sistema contra sobrepressão e refluxo da água.
Dimensionamento do Sistema FotovoltaicoO dimensionamento terá como foco principal obter sempre a
maior quantidade de energia elétrica possível do sistema fotovol-
taico a ser instalado com o melhor custo/benefício, baseando-se
em medidas, tamanhos, materiais e equipamentos que o mer-
cado já dispõe atualmente e possam ser adquiridos em mais de
uma fabricante.
As células fotovoltaicas deverão ser poli ou multicristalinas de
alta eficiência, tendo em vista seu custo ser mais baixo que as cé-
lulas monocristalinas e ter uma perda máxima de potência de até
10% nos 10 primeiros anos de utilização e mais 10% nos 15 anos
seguintes, em média. O sistema fotovoltaico não deverá utilizar
um inversor central, evitando assim que a falha de um equipa-
mento coloque todo o sistema em risco. Além disso, os inverso-
res deverão ser certificados pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (INMETRO).
O módulo fotovoltaico deverá ser composto por 60 células po-
licristalinas que forneçam no mínimo 245 Wp de Potência No-
minal, mínimo de 8 A de Máxima Corrente e mínimo de 29,5 V
de Tensão Máxima de Potência, e sua base formada por uma ou
mais lâminas de vidro temperado com baixo teor de ferro. Além
disso, deverão ter o selo Procel Eletrobrás de Eficiência Energética,
a classificação A na Etiqueta Nacional de Conservação de Energia
(ENCE) e a etiqueta do INMETRO. As dimensões de cada módulo
deverão atingir até 1.670 mm de comprimento e até 995 mm de
largura, sendo que cada módulo será posicionado com seu lado
maior na horizontal.
O dimensionamento do sistema fotovoltaico se inicia com o
cálculo do Ângulo de Inclinação (β). Seu valor pode ser deter-
minado através do programa SunData, adotando-se o ângulo
onde ocorre a maior média anual de irradiação solar diária média
mensal. Inserindo as coordenadas da propriedade no programa,
obtém-se a melhor inclinação referente a sua maior média anual
que é de 21º. A orientação dos módulos deverá levar em con-
sideração o norte geográfico, maximizando o aproveitamento
da luz solar durante o dia. De acordo com a planta cadastral do
Figura 1 - Área onde se encontram o Reservatório Mutinga e a EEA Mutinga
Tabela 1 - Consumo e custo médio mensal de energia elétrica da EEA Mutinga, de 2011 a 2013
Ano Consumo (kWh) Custo (R$)
2011 144.664 41.510
2012 216.712 56.393
2013 227.094 47.611
Média Geral 196.157 48.505
26 SANEAS Abril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
Reservatório Mutinga, as “costas” do reservatório estão voltadas
com pequena diferença para o norte, ou seja, os módulos foto-
voltaicos poderão ser posicionados nessa direção, paralelos ao
comprimento do reservatório.
Segundo GREENPRO (2004), o sombreamento dos módulos fo-
tovoltaicos pode ser de três tipos: temporário, devido à localização
ou devido às próprias instalações do imóvel. Na área do Reservató-
rio Mutinga ocorre o sombreamento devido à localização, tendo
em vista a existência de algumas árvores e do reservatório elevado
(torre) que estão a sua direita e acima da laje de cobertura. Assim,
os módulos fotovoltaicos deverão ser protegidos com diodos de
by-pass e/ou diodos de bloqueio, diminuindo os efeitos do som-
breamento (perdas) sobre a energia elétrica produzida pelo siste-
ma fotovoltaico. Além disso, há o sombreamento causado devido
a uma fileira de módulos estar muito próxima à outra, aumentan-
do o tempo de sombreamento sobre as placas. Para se calcular a
distância mínima (d) entre essas fileiras, primeiramente deve-se
determinar três parâmetros: o ângulo de declinação solar, o ângu-
lo da altura solar e o ângulo horário.
O Ângulo de Declinação Solar (δ) é calculado pela equação (1),
onde N é o número do dia do ano contado a partir do dia 01 de
janeiro. O número do dia do ano adotado será o dia 21 de junho
(solstício de inverno), pois apresenta a menor altura solar e o perí-
odo de sol mais curto. Sendo assim, N equivale a 172 e o Ângulo
de Declinação Solar equivale a 23,44978º.
δ = 23,44978º
Para determinação do Ângulo Horário (ώ), utiliza-se o va-
lor adotado pelo mercado fotovoltaico entre as 09:00 hs ou
15:00hs (3 horas a mais da nascente ou a menos do poente),
ou seja 45º.
O Ângulo da Altura Solar (α) é determinado através da equação (3).
α = 25,83º
Com todos os valores determinados, pode-se calcular a distância
(d) entre os módulos fotovoltaicos através da equação (4). A
medida de largura do módulo deverá respeitar o limite máximo
estabelecido que é de 995 mm e o valor do Ângulo de Inclinação
(β) deverá ser utilizado sem sinal. Sendo assim, verifica-se que a
distância entre as bases de cada fileira deverá ser de 1,665 m.
d = 1,665 m
A distância “d” encontrada refere-se à base de cada módu-
lo, e não a distância útil para passagem de pessoas. Para isso,
necessita-se determinar a distância “x” (Figura 2), que desconta a
distância coberta pelo módulo.
Figura 2 - Determinação do espaço útil para passagem de pessoas entre as fileiras
A equação (5) e a equação (6) para determinação dessas incóg-
nitas são apresentadas a seguir:
Com a determinação do espaçamento entre fileiras, conclui-se
que a quantidade mínima possível a ser instalada no Reservatório
Mutinga de forma a aproveitar o máximo possível da área útil de
sua cobertura é de 858 módulos fotovoltaicos (Figura 3).
Figura 3 - Posicionamento dos módulos fotovoltaicos sobre a laje do reservatório
27SANEASAbril a Julho de 2016
A Eficiência de Conversão (η) do módulo fotovoltaico propos-
to deverá ser calculada através da equação (7) e não poderá ser
inferior a 13,5%, tendo em vista esse ser o valor mínimo para o
módulo ser considerado Classe A na tabela de eficiência energéti-
ca do INMETRO. (INMETRO, 2014)
Onde:
• Pm - máxima potência do módulo (pode ser calculada pela mul-
tiplicação da corrente de máxima potência pela tensão de máxi-
ma potência do módulo);
• Ap - área útil do módulo fotovoltaico em m²; e
• 1000 - taxa de radiação solar padronizada de 1000 W/m² em
Standard Test Conditions (STC).
A associação dos módulos fotovoltaicos deverá ser planejada de
forma a se obter a maior potência possível, mantendo o mesmo tipo
de módulo para todas as fileiras. Para isso, será necessário instalá-los
em série para que se aumente a tensão total e a corrente se man-
tenha a mesma, respeitando o limite mínimo e o limite máximo de
tensão e corrente do inversor fotovoltaico. (Villalva, Gazoli, 2012)
Como as características do inversor são limitantes para a associa-
ção dos módulos fotovoltaicos, faz-se necessário calcular a quantida-
de de inversores fotovoltaicos possível para a instalação em questão.
A Potência Nominal de todos os módulos é determinada através da
multiplicação da quantidade de módulos pela Potência Nominal de
cada módulo, resultando em 210.210 Wp. Como o inversor deve
suportar até 20.000 W, deve-se dividir o resultado encontrado pelo
valor suportado, ou seja, 10,51 (11) inversores. Dessa forma, o sis-
tema será dividido em 78 módulos fotovoltaicos para cada inversor.
No sistema fotovoltaico em questão, cada estrutura de fixação
e suporte deverá possuir no máximo 7 kg, o módulo fotovoltaico
25 kg e o inversor fotovoltaico 60 kg. Como a quantidade total de
módulos é de 858 unidades, a estrutura de fixação e suporte tam-
bém será de 858 unidades, totalizando 6.006 kg de estrutura de
suporte e 21.450 kg de módulos. Em relação aos inversores, serão
no máximo 11 unidades, totalizando 660 kg. Assim, a soma de
todo o conjunto de cargas acidentais para o sistema fotovoltaico
proposto é de 28.116 kg. Para determinar se essa estrutura é su-
portada pela laje, ou seja, se é menor do que a reserva mínima (50
kgf/m²), é necessário dividir o valor total da carga acidental pela
área da laje do reservatório (2.552,34 m²), o que resulta em 11,02
kgf/m². Isso significa que a estrutura para o sistema fotovoltaico
proposto é suportada pela laje do Reservatório Mutinga, tendo
em vista que o total de carga acidental (11,02 kgf/m²) é menor
que a reserva mínima na laje de apoio (50 kgf/m²).
A Energia Produzida (Ep) pelos módulos fotovoltaicos deverá ser
calculada através da equação (8), considerando Am = 1,662 m²
(área da superfície do módulo), η = 13.5% (eficiência mínima do
módulo fotovoltaico) e, para o valor de Es (Irradiação solar diária
média mensal), será utilizada a maior média anual informada pelo
programa SunData (4,15 kWh/m²/dia).
Assim, a energia produzida por um módulo será de 931,14 Wh/dia.
Com a obtenção de Ep, será necessário multiplicar esse valor
pela quantidade de módulos fotovoltaicos para se determinar a
energia produzida por todo o sistema (Eps). Esse valor correspon-
derá à energia total sem qualquer perda, o que não acontece na
realidade já que ocorrem perdas por temperatura das células fo-
tovoltaicas, eficiência dos inversores fotovoltaicos, cabeamento,
etc. Assim, será adotada uma eficiência de 80% na produção de
energia em todo sistema fotovoltaico proposto (equação 10).
A energia produzida pelo sistema fotovoltaico será de 639,13
kWh por dia e, em um mês, a produção de energia será de
19.173,90 kWh/mês.
A medição da energia fotovoltaica produzida pelo sistema
deverá ser feita através de dois relógios contadores de kWh,
sendo um direcional entre o ponto de fornecimento e o inver-
sor, e um bidirecional entre o ponto de fornecimento e a rede
elétrica da concessionária.
Orçamento para instalação do sistema fotovoltaicoA partir dos resultados obtidos no dimensionamento, foram conta-
tadas três empresas especializadas em instalações fotovoltaicas para
elaboração de orçamento para instalação de um sistema fotovoltai-
co sobre a cobertura do Reservatório Mutinga, em Osasco, incluin-
do o fornecimento de projeto executivo. A empresa que ofereceu o
melhor orçamento apresentou uma proposta de R$ 1.687.500,00
para instalação de um sistema fotovoltaico com potência instalada
de 225 kW. A energia produzida por esse sistema será de 747,01
kWh por dia e, em um mês, de 22.410,30 kWh/mês.
28 SANEAS Abril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
Adotando-se o consumo médio de 2011 a 2013 da EEA Mutin-
ga (196.157,00 kWh), o sistema fotovoltaico proposto (22.410,30
kWh) atenderá a 11,42% da demanda média necessária, permi-
tindo que se economize em média R$ 5.539,27 por mês ou R$
66.471,24 por ano. A empresa propôs o uso do módulo fotovol-
taico “Yingli YL250P - 29b” que garante eficiência de 91,2% de
conversão da luz de seu módulo fotovoltaico nos primeiros dez
anos de uso e 80,7% nos 15 anos seguintes. Após 25 anos, a
produção de energia não é interrompida, mas a garantia de con-
versão cai para 50%. As empresas fabricantes orientam a substi-
tuição do módulo a partir dos 25 anos de uso.
Levando em consideração a perda na conversão da energia
solar do módulo fotovoltaico informada acima, nos 10 primeiros
anos de utilização haverá uma perda de 0,88% por ano e, nos
15 anos seguintes, 0,7%. Neste trabalho está sendo considerado
uso de mais 10 anos dos módulos fotovoltaicos após os 25 anos
de garantia da empresa, assumindo uma perda de 50% da con-
versão, ou seja, 3,07% de perda a cada ano a mais de utilização.
Quando a energia gerada pelo sistema fotovoltaico é utilizada
completamente pela EEA Mutinga, a economia proporcionada pelo
sistema durante 25 anos de uso é de R$ 1.509.902,84. Porém, o
valor a ser investido na implantação do sistema fotovoltaico - R$
1.687.500,00 - só será recuperado ao se completar entre 28 e 29
anos de uso, quando se alcança uma economia de R$ 1.714.450,04.
Quando ocorre desligamento das bombas, a EEA Mutinga para
de consumir energia elétrica. Neste caso, toda a energia produzi-
da pelo sistema fotovoltaico é injetada na rede da concessionária,
gerando créditos para a SABESP. Esses créditos são tarifados após
seu uso. Os impostos que incidem nos créditos e seus valores são:
Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do
Servidor Público (PIS/PASEP): 0,65%, Contribuição para Financia-
mento da Seguridade Social (COFINS): 3,01% e Imposto sobre
Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Presta-
ções de Serviços de Transporte Interestadual e intermunicipal e de
Comunicação (ICMS): 18%.
Considerando os impostos incididos sobre os créditos de ener-
gia produzida pelo sistema fotovoltaico, a economia proporciona-
da pelo sistema durante 25 anos de uso é de R$ 1.182.857,89.
Porém, o valor a ser investido na implantação do sistema foto-
voltaico - R$ 1.687.500,00 - só será recuperado ao se completar
mais de 35 anos de uso, já que os créditos obtidos nesse período
alcançaram o valor de apenas R$ 1.548.931,34.
ConclusãoOs estudos financeiros apresentados neste trabalho mostram que,
devido à falta de incentivo governamental e à cotação do dólar no
Brasil, a implantação de um sistema fotovoltaico sobre a laje de
cobertura de reservatórios ainda é inviável, seja utilizando toda a
energia elétrica gerada para abastecer uma EEA, seja injetando-a
na rede da concessionária, já que o valor investido só será reverti-
do entre 28 e 29 anos de utilização no primeiro caso e mais de 35
anos no segundo caso.
A produção de módulos fotovoltaicos vem em forte crescimen-
to no mundo nos últimos 10 anos, o que permitiu uma queda
expressiva dos preços e que mais países passassem a incentivar
sua instalação. Porém, o Brasil não está seguindo esse caminho
pois possui um número elevado de rios que permitem a geração
de energia elétrica através de hidrelétricas. Mas essa dependência
pode ser um problema no futuro devido às constantes secas que o
país vem passando. Para mudar esse panorama, o Brasil necessita
dar mais importância às alternativas renováveis provendo incenti-
vos fiscais para importação dos equipamentos num primeiro mo-
mento e, num segundo momento, criando mercado interno para
consolidação da indústria especializada, de forma a não depender
dos valores cobrados no mercado externo.
29SANEASAbril a Julho de 2016
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Por Fátima Valéria de Carvalho
A importância do saneamento na guerra contra o mosquito Aedes aegypti
Considerações iniciaisOriginário do Egito, no continente Africano, o mos-
quito Aedes aegypti vem se espalhando pelo mun-
do desde o período das colonizações, pelas regiões
tropicais e subtropicais do planeta desde o século
16, encontrando as condições ideais em locais com
temperaturas médias mensais de 10ºC nos meses
mais frios (mês de janeiro no hemisfério norte e ju-
lho no hemisfério sul), correspondendo, aproxima-
damente às latitudes de 35ºN e 35ºS.
Considerando-se as alterações climáticas globais
previstas, o mosquito Aedes aegypti terá condições
de expandir a sua presença para outros locais e,
consequentemente, as doenças transmitidas por
este vetor (Dengue, Chikungunya, Zika e Febre
Amarela), uma vez que o mosquito se reproduz mais
rapidamente com o aumento da temperatura. Para
o surgimento de um novo surto, em regiões fora da
área de risco do vetor, basta a presença do agente
(pessoa portadora do vírus).
Em fevereiro de 2016, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS) emitiram um alerta mundial sobre a
epidemia de Zika vírus - um dos vírus mais perigosos
do mundo, que foi identificado pela primeira vez
em 1947 na floresta Zika, com uma área que se es-
tende ao longo do lado do Lago Vitória, situada em
Uganda. No comunicado a organização reconheceu
pela primeira vez oficialmente a relação entre o Zika
vírus e os casos de microcefalia ao mencionar o es-
tudo brasileiro do Instituto Evandro Chagas, que
revelou a presença do vírus em um bebê microcéfa-
lo. O documento divulgou mapas comparativos de
2014 e 2015, que corroboram a explosão de casos
de microcefalia no Nordeste do Brasil, onde os casos
se multiplicaram 20 vezes.
Segundo especialistas existem duas hipóteses
sobre a chegada do Zika vírus ao Brasil: a primei-
ra, afirma que foi em 2014 durante a Copa do
Mundo, e a segunda afirma que o vírus chegou
na Copa das Confederações em 2013, porém não
há como provar estas teses conclusivamente. A se-
gunda hipótese, talvez a mais provável, baseia-se
no fato “da seleção do Taiti, da Polinésia Francesa,
ter jogado no Recife, perto do epicentro da epi-
demia brasileira”. Contudo, médicos e especialis-
tas já suspeitavam da presença de um novo vírus
desde o fim de 2014, quando se multiplicaram em
estados do Nordeste os diagnósticos de uma “Den-
gue atípica”, na qual as manchas vermelhas pelo
corpo apareciam mais cedo, acompanhadas de
coceira e uma febre menos intensa. Entretanto, o
Ministério da Saúde confirmou a circulação do Zika
vírus no Brasil apenas em 15 de maio de 2015. Os
pesquisadores, Silvia Sardi e Gúbio Soares Santos,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foram os
primeiros a identificar o vírus, em abril de 2015.
Em novembro de 2015 o Instituto Evandro Cha-
gas, de Belém, confirmou a relação entre o Zika e
a microcefalia. E também pesquisas tem sido de-
terminante para comprovar a relação entre o zika
vírus e a síndrome de Guillain-Barré. A neurologis-
Fátima Valéria de Carvalho
É Engenheira Civil pela Escola de Engenharia
Mackenzie e Sanitarista, com Pós-graduação em
Engenhraia Hidráulica pela Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo - USP e
especialização em Engenharia Sanitária
pela Faculdade de Saúde Pública da USP.
Nota: esse artigo é um resumo de um vasto
trabalho sobre do tema proposto, que a profissional
se propõe disponibilizar aos interessados, mediante
solicitação pelo e-mail: [email protected] .
30 SANEAS Abril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
ta pernambucana Maria Lucia Brito Ferreira, do Hospital da
Restauração, no Recife, foi uma das primeiras a relacionar o
zika ao aumento de casos de Guillain-Barré e de outras com-
plicações neurológicas.
A presença do Aedes aegypti no Brasil Desde o início do século passado, o Aedes aegypti representa
uma grave ameaça à saúde do Brasil. À época, o mosquito era
o principal responsável pela transmissão da febre amarela, só
controlada após a operação de guerra comandada pelo sani-
tarista Oswaldo Cruz. O vetor foi erradicado em 1955, mas o
relaxamento das medidas de prevenção permitiu o seu retorno
poucos anos depois. Em meados dos anos 1980, ele voltaria
ao protagonismo ao difundir a dengue pelo território nacional.
A evolução do Aedes aegypti no Estado de São Paulo Com a reintrodução do Aedes aegypti na região oeste do Estado
de São Paulo, em 1985, a sua instalação efetiva no Estado se deu
a partir de 1990, quando houve uma rápida propagação do vetor
por todo o território. Em 2012 foram considerados infestados pelo
vetor 581 Municípios (90% do total de Municípios do Estado).
A evolução do Aedes aegypti no Município de São Paulo Em 2015, o Estado de São Paulo registrou 649.562 casos de den-
gue. Na capital foram registrados 100.440 casos confirmados de
moradores residentes no município (99,5% ocorreram no primeiro
semestre). Em dezembro foi regulamentada a Lei 16.273/15, que
autoriza o município a executar medidas preventivas nas situações
de perigo à saúde pública em locais onde haja a presença ou evi-
dência da existência de proliferação do mosquito transmissor de
Dengue, Chikungunya e Zika.
Comparando a situação nas 4 semanas epidemiológicas de ja-
neiro de 2015 e 2016 observa-se que, o nº de casos de dengue
notificados em 2016 foi 67% maior do que em janeiro 2015, en-
tretanto, os casos confirmados foram 55% menor se comparado
com janeiro de 2015.
31SANEASAbril a Julho de 2016
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O Saneamento Básico e as ameaças do mosquito Aedes AegyptiDe acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), Sanea-
mento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem
que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar
físico, mental e social. É o conjunto de medidas adotadas em um
local para melhorar a vida e a saúde dos habitantes, impedindo
que fatores físicos de efeitos nocivos possam prejudicar as pessoas
no seu bem-estar físico, mental e social.
Em termos de legislação e regulação do setor, a Lei Federal nº
11.445/07 de 05 de janeiro de 2007, passou a ter um papel fun-
damental e norteador das diretrizes nacionais para Política Federal
de Saneamento Básico. Esta lei versa sobre todos os setores do
saneamento básico (abastecimento de água, esgotamento sanitá-
rio, manejo dos resíduos sólidos e drenagem urbana). Porém, pas-
sados nove anos da promulgação da Lei Nacional de Saneamento
Básico, existe muito a ser feito até a universalização dos serviços,
cujo caminho será longo e custoso.
Recentemente muitos especialistas têm apontado para a falta
de saneamento como um dos fatores preponderantes para am-
pliação dos focos de criação do mosquito. A afirmação acima, en-
contra embasamento quando se analisa os índices de atendimen-
to dos serviços de saneamento básico nos Estados do Nordeste.
Para se ter idéia da situação atual, bem como das previsões
temporais e financeiras para universalização do Saneamento Bá-
sico no país, lançamos mão das informações do Instituto Trata
Brasil, apresenta em seu site e descritas a seguir:
Água ■ 82,5% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de
água tratada.
■ São mais de 35 milhões de brasileiros sem o acesso a este ser-
viço básico.
■ 37% da água no Brasil é perdida, seja com vazamentos, roubos
e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas
no consumo de água, resultando no prejuízo de R$ 8 bilhões.
■ A soma do volume de água perdida por ano nos sistemas de
distribuição das cidades daria para encher 6 (seis) sistemas Can-
tareira.
■ A região Sudeste apresenta 91,7% de atendimento total de
água; enquanto isso, o Norte apresenta índice de 54,51%.
■ A região Norte é a que mais perde água, com 47,90%; enquan-
to isso, o Sudeste apresenta o menor índice com 32,62%.
■ A média de consumo per capita de água no Brasil em três anos
é de 165,3 litros por habitante ao dia. Em 2014, este valor foi
162 l/hab. dia. Em três anos, a região Sudeste apresentou o
maior índice com 192, l/hab. dia e o menor foi o Nordeste com
125,3 l/hab. dia.
■ Em 2014, o Sudeste continuou como maior índice 187,9 l/hab.
dia e o Nordeste se manteve como o menor com 118,9 l/hab. dia.
■ 110 litros /dia é a quantidades de água suficiente para atender
as necessidades básicas de uma pessoa, segundo a ONU (Orga-
nização das Nações Unidas).
Esgoto ■ 48,6% da população têm acesso à coleta de esgoto.
■ Mais de 100 Milhões de brasileiros não tem acesso a este ser-
viço.
■ Mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maiores cidades
do país, despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes
coletoras disponíveis.
■ Mais da metade das escolas brasileiras não tem acesso à coleta
de esgotos.
■ 47% das obras de esgoto do PAC, monitoradas há 6 anos, es-
tão em situação inadequada. Apenas 39% de lá para cá foram
concluídas e, hoje, 12% se encontram em situação normal.
■ Cerca de 450 mil pessoas nos 15 municípios paulistas têm dis-
poníveis os serviços de coleta dos esgotos, porém não estão
ligados às redes, e, portanto, despejam seus esgotos de forma
inadequada no meio ambiente.
■ 40%dos esgotos do país são tratados.
■ A média das 100 maiores cidades brasileiras em tratamento dos
esgotos foi de 40,93%
■ Apenas 10 delas tratam acima de 80% de seus esgotos.
■ Norte: Apenas 14,36% do esgoto é tratado, e o índice de aten-
dimento total é de 7,88%.
■ Nordeste: Apenas 28,8% do esgoto é tratado.
■ Sudeste: 43,9% do esgoto é tratado. O índice de atendimento
total de esgoto é de 78,33%.
■ Sul 43,9% do esgoto é tratado.
■ Centro-Oeste 46,37% do esgoto é tratado. A região com me-
lhor desempenho, porém a média de esgoto tratado não atinge
nem a metade da população.
■ Em termos de volume, as capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão
de m³ de esgotos na natureza em 2013.
“A previsão do custo para universalização da água e dos esgo-
tos é de R$ 303 bilhões em 20 anos. O Governo Federal, através
32 SANEAS Abril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
do PAC, já destinou recursos da ordem de R$ 70 bilhões em obras
ligadas ao saneamento básico”.
Resíduos Sólidos A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela
Lei nº 12.305/10. A lei é bastante atual e contém instrumen-
tos importantes para permitir o avanço necessário ao País no
enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e
econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos
sólidos. Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos,
tendo como proposta a prática de hábitos de consumo susten-
tável, propõe um conjunto de instrumentos para o aumento da
reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos e a destinação
ambientalmente adequada dos rejeitos. Institui a responsabili-
dade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares
de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logísti-
ca Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo. Cria metas
importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e
institui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, esta-
dual, microregional, intermunicipal e metropolitano e municipal;
além de impor que os particulares elaborem seus Planos de Ge-
renciamento de Resíduos Sólidos.
Apesar de precisa e rica em detalhes, a Lei 12.305/10 não foi
o suficiente para colocar o Brasil em patamar de igualdade aos
principais países desenvolvidos no que concerne ao marco legal.
Hoje a gestão dos resíduos sólidos no país beira ao caos, tal como
nos países subdesenvolvidos.
Em novembro de 2015 o governo federal divulgou dados do Le-
vantamento Rápido do Aedes aegypti. No Nordeste, 82% dos de-
pósitos de larvas de mosquito foram encontrados em reservatórios
de água, boa parte deles improvisada para driblar os problemas de
abastecimento. O lixo é o depósito predominante nas regiões Sul
(49,2%) e Norte (35,8%). Somente no Sudeste, os domicílios cor-
respondem a mais da metade dos focos de reprodução do vetor.
Em dez anos, segundo conclusão de pesquisa da Abrelpe - As-
sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais, houve um aumentou de 29% na geração de resíduos
sólidos no Brasil, percentual cinco vezes superior à taxa de cres-
cimento populacional verificada no período. Segundo o estudo,
20 milhões de brasileiros não dispõem de coleta regular de lixo.
Ainda com base na pesquisa realizada pela Abrelpe, constata-se
que dos 78,6 milhões de toneladas de resíduos gerados no País
em 2014, 41% tiveram como destinação final lixões e aterros con-
trolados, locais considerados inadequados por oferecer riscos à
saúde e ao meio ambiente, adequados para o aumento de cria-
douros do mosquito.
Para se ter idéia do prejuízo causado pela má gestão dos
resíduos sólidos, especialmente nos corpos hídricos, o Depar-
tamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo
(DAEE) e a Empresa Metropolitana de Água e Energia (EMAE)
retiram, todos os anos, 140.000 metros cúbicos de lixo das
águas do Tietê e do Pinheiros.
Saneamento Básico versus a proliferação Aedes aegypti Ao menos 30 milhões de brasileiros permanecem sem acesso à
água tratada e mais da metade da população não tem o esgoto
coletado. O Brasil tem a meta de universalizar esses serviços até
2033, mas com o atual ritmo de expansão, isso só deve ocorrer
a partir de 2050, revela uma recente pesquisa da Confederação
Nacional da Indústria. Quanto aos resíduos sólidos, o problema
inicia pela precária frequência de coleta, fato que impõe ao ci-
dadão manter seus resíduos acumulados em seu domicílio ou na
via pública, criando assim vários focos de proliferação de vetores.
Com relação a disposição final dos 78,6 milhões de toneladas de
resíduos gerados no País em 2014, 41% tiveram como destinação
final lixões e aterros controlados, locais considerados inadequados
por oferecer riscos à saúde e ao meio ambiente, adequados para
o aumento de criadouros do mosquito.
Como já dito anteriormente a falta de saneamento básico tem
sido apontada como um fator potencializador para ampliação dos
focos do mosquito Aedes aegypti, assim como de outros vetores
e suas respectivas patologias (leptospirose, hepatite, dermatites
e outras). A solução lógica de médio e longo prazo, deve ser a
alavancagem de ações estruturais que melhorem as condições
sanitárias do país, sem isso, será impossível o combate efetivo
ao Aedes aegypti. Entretanto a solução é muito mais complexa,
pois é preciso olhar para a geografia urbana, para que possamos
entender, as ameaças que a saúde pública vem sofrendo, com o
crescimento desordenado dos centros urbanos e do processo de
periferização, associado aos fatores socioeconômicos.
A partir da periferização passaram a ocorrer dois movimentos
simultâneos: a intensificação das intervenções estruturais como
obras de retificação e canalização de rios, aterramento das vár-
zeas e sua incorporação à malha urbana, e simultaneamente a
explosão na abertura de loteamentos de periferia. Passaram então
a serem ocupadas as margens de córregos e rios, os fundos de
33SANEASAbril a Julho de 2016
vales, áreas de proteção de mananciais, sendo a maioria áreas de
risco. Desta forma iniciou a dinâmica de expansão de áreas subur-
banas, com ocupações irregulares que gerou consequentemente
áreas segregadas e ambientes altamente degradados, com efeitos
graves sobre a saúde pública. Foi a partir daí que surgiram as de-
nominações “cidade legal” e a “cidade ilegal” ou “cidade for-
mal” e a “cidade informal”, cuja morfologia dividiu a cidade em
áreas centrais, consolidadas, com infraestrutura e bem servidas, e
extensas periferias carentes, com ocupações irregulares em áreas
ambientalmente vulneráveis.
Construiu-se um cenário dicotômico, onde a riqueza tem
como vizinha a pobreza. No município de São Paulo temos vá-
rias situações que confirmam essa realidade, como por exem-
plo o bairro nobre do Morumbi, onde existem residências e
condomínios de alto padrão convivendo lado a lado com a Vila
Andrade, comunidade muito carente e desprovida de infraes-
trutura. A “cidade ilegal” tem todo tipo de carência, normal-
mente com alta densidade demográfica, convive com proble-
mas de toda ordem, como ausência de serviços públicos de
água e esgotos, déficit habitacional, ausência de atendimento
hospitalar e outras macelas. Um exemplo de tal situação são
os bairros de Marsilac, Parelheiros, Cidade Ademar, Socorro,
M’Boi Mirim e Campo Limpo, todos vizinhos sem nenhum lei-
to Hospitalar. As informações são do Mapa da Desigualdade,
divulgado pela Rede Nossa São Paulo. Este cenário é bastante
preocupante quando é necessário pensar em soluções para im-
pedir a proliferação do mosquito Aedes aegypti, assim como
melhorar as condições de assistência médica e hospitalar para
enfrentamento de possíveis epidemias.
Por outro lado, as epidemias ocasionadas pelo vetor estão as-
sociadas a diversos fatores, dentre os quais destacam-se, o rápi-
do crescimento demográfico associado à intensa e desordenada
urbanização, a inadequada infraestrutura urbana, o aumento da
produção de resíduos, e fatores climáticos. Com um agravante, o
vetor desenvolve resistência cada vez mais evidente, vive em am-
bientes habitados, e tem a capacidade de se adaptar às condições
destes locais.
A crise da água e o aumento dos focos do vetor A crise de abastecimento de água enfrentada pelo Estado de
São Paulo e em especial pela Região Metropolitana de SP, em
2014/2015, ocasionou grandes transtornos, mas também trou-
xe grandes aprendizados, tanto para as operadoras do serviço,
como para população. As lições transmitidas à população sobre
a importância da economia e uso racional da água, com certe-
za, ficarão perpetuadas. Contudo, a população buscou formas
para armazenar água, durante os períodos em que era abaste-
cida, improvisando o armazenamento em todo tipo de vasilha-
me disponível. Com as elevadas temperaturas, até mesmo no
inverno de 2014, a grande quantidade de pequenos reservató-
rios domésticos sem a devida proteção gerou a possibilidade de
novos focos do mosquito.
Na Região NORTE do município de São Paulo o número de ca-
sos de dengue confirmados começou a crescer a partir de 2013
e de forma mais acentuada a partir de 2014. Coincidentemente,
durante o período em que houve diminuição drástica na produção
de água no Sistema Cantareira. O caso mais emblemático obser-
vado ocorreu no distrito administrativo de Brasilândia, onde os
casos confirmados de dengue em 2013 eram de 87, em 2014
passou para 1.074, e em 2015 pulou para 9.724.
Na Região LESTE o nº de casos de dengue confirmados apre-
sentou acentuado crescimento no período de 2014/2015. Neste
período o Sistema Produtor do Alto Tietê teve que reforçar o abas-
tecimento de áreas antes atendidas pelo Sistema Cantareira, as-
sim como teve que reduzir a produção, devido à queda do volume
útil de reservação do sistema, reflexo da severa estiagem. Entre os
distritos administrativos da região leste destaca-se Itaquera que,
em 2013 tinha 50 casos de dengue confirmados, em 2014 eram
722 e em 2015 passou para 3.054 casos.
Na Região OESTE, alguns distritos administrativos do Município
de São Paulo, assim como outros municípios da RMSP, que eram
abastecidos pelo Sistema Cantareira, também apresentaram,
coincidentemente, crescimento no número de casos confirmados
de dengue.
Considerações gerais Vários são os levantamentos realizados no país inteiro que levam
à conclusão que a falta de saneamento ambiental contribui para o
aumento dos casos de dengue.
O Mapa da Dengue, do Ministério da Saúde, também mostra
que a ausência de saneamento facilita o surgimento de criadouros
do mosquito Aedes aegypti.
No Norte, 44,4% dos focos de transmissão estão no lixo, no
Nordeste, 72,1% são relacionados ao abastecimento de água.
Diz o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, que
“o pior problema para o combate à dengue é o abastecimento
irregular de água porque leva a população a usar caixas d’água,
34 SANEAS Abril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
potes e barris. Mal tampados, esses pequenos reservatórios são
ideais para o mosquito Aedes aegypti procriar devido à água
parada, limpa e em pouca quantidade”. Apesar de admitir que
o fornecimento irregular de água e a falta de recolhimento
de lixo atrapalham as ações para enfrentamento da dengue,
o secretário defende que nos locais onde há ausência desses
serviços é possível prevenir a doença com hábitos simples. As
pessoas devem ser orientadas, por exemplo, a tampar as caixas
d`água, tirar água dos pratinhos das plantas, limpar os ralos,
recolher folhas das calhas e a manter o lixo fechado. “Não po-
demos esperar que todos os problemas sejam resolvidos para
combater a dengue. Há problemas que podem ser resolvidos
mais facilmente”, justificou o secretário.
Apesar da Lei 11.445/2007, instituir em seu “Art. 9º que o
titular dos serviços formulará a respectiva Política Municipal de
Saneamento Básico e o Plano Municipal de Saneamento Básico
– PMSB”, em Workshop “Planos Municipais de Saneamento
Básico”, realizado pela Fiesp em 28/10 /2015, foi constatado
que apenas 31% dos municípios brasileiros possuem o Plano
Municipal de Saneamento Básico (PMSB). De acordo com a Lei,
o prazo inicial para que todos os municípios do país tivessem
o PMSB era dezembro de 2013. Entretanto em 21 de março
deste ano, um decreto presidencial prorrogou a data para 31
de dezembro de 2017.
Caso o Saneamento Básico não for priorizado no país, com vis-
tas à proteção da saúde pública e do meio ambiente, a situação
pode piorar muito, pois continuaremos vivendo em ambientes
insalubres, onde não há como controlar e combater os vetores
causadores de doenças, como a dengue, febre tifóide, febre ama-
rela e outras.
O perigo e ameaça de novas epidemias provocadas pelo zika
vírus ainda permanecem, conforme alertas emitidos mundial-
mente. E especificamente no Brasil a situação ainda é bem pre-
ocupante, pois segundo dados do Ministério da Saúde, até o
início de maio a região Sudeste tinha 46.318 casos de pessoas
infectadas pelo vírus da zika, o maior número, seguido pela
região Nordeste, com 43 mil. No Centro-Oeste são 20.101; no
Norte, 8.545 e no Sul, 2.197.
Conclusão Diante do temor mundial é indispensável salientar que, o zika só
irá onde o Aedes aegypti estiver. Com o advento das Olimpíadas,
na cidade do Rio de Janeiro, em 2016, os riscos aumentam. Sen-
do assim, não se deve baixar a guarda diante de uma iminente
ameaça de uma nova epidemia provocada pelo zika vírus. Seria
prudente que os órgãos competentes, planejassem uma ação de
curto prazo, que intensificasse o controle das vigilâncias sanitária
e epidemiológica em 2016 (antes, durante e depois) das olimpí-
adas, para identificação de possíveis aumentos significativos dos
casos de dengue e zika.
Ao concluir este texto, quero lembrar o grande Fernando
Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Navegar é
uma arte, com ferramentas de precisão, que torna a viagem
exata. Viver é uma viagem feita de opções, desafios, constân-
cias, transições, e depende exclusivamente, da vontade, cora-
gem e persistências de quem estiver no comando e da tripula-
ção. Portanto, acredito que vencer a Guerra contra o mosquito
Aedes Aegypti é possível, só depende da participação de todos
os brasileiros: Governo, Instituições Governamentais responsá-
veis pela Saúde, Meio Ambiente, Infraestrutura, Inclusão Social
e obviamente a população.
35SANEASAbril a Julho de 2016
Por Everson Gardel de Melo, João Antônio Pinto de Oliveira e Carmen Calcagno
Redução de perdas físicas com auxílio de simulação hidráulica e análise de tensões em tubos de redes de distribuição de água
Resumo do ProjetoA necessidade de reduzir perdas físicas em Compa-
nhias de Saneamento provenientes de vazamentos
em redes de distribuição de água fomenta a elabo-
ração deste estudo. A pesquisa pretende acrescentar
novas ferramentas de gestão que dê suporte a toma-
da de decisão para o controle operacional de sistemas
de abastecimento, bem como para a necessidade de
expansão da malha de distribuição de água. O traba-
lho apresenta uma análise das tensões a que estão
submetidas as tubulações que compõe a rede de dis-
tribuição de água do Setor Novo Esteio, no municí-
pio de Esteio-RS. A análise buscou estimar a vida útil
destas tubulações através de um encadeamento de
informações que incluem simulações hidráulicas, via
software EPANET, e cálculos de tensões em tubos. A
estimativa de vida útil foi realizada com auxílio de um
algoritmo elaborado para esse trabalho que executa
os cálculos de tensão, a contagem de ciclos pelo mé-
todo Rain Flow e finaliza com a Regra de Palmgren-
-Miner, que estima o número de danos necessários
para que ocorra a falha, o resultado é expresso em
anos de vida útil. A coleta de dados para a estimativa
proposta foi obtida sob dois cenários operacionais di-
ferenciados pelo emprego ou ausência de controle de
pressões através de uma válvula reguladora de pres-
são (VRP). A análise apresenta dados conclusivos sob
a importância do controle de pressões para a tomada
de decisão quanto a forma de operação e expansão
do sistema, sob a ótica econômica e da sustentabili-
dade do processo.
IntroduçãoOs sistemas de abastecimento de água de nossas cida-
des possuem índices elevados de perdas físicas decor-
rentes de vazamentos em suas tubulações. Historica-
mente, os investimentos em expansão das redes foram
priorizados no setor de saneamento básico brasileiro.
Pouca atenção foi dada aos investimentos na manuten-
ção e na modernização da gestão dos prestadores dos
serviços, o que resultou em uma série de ineficiências
na provisão, dentre as quais, podem ser destacadas
elevadas perdas de água, tanto físicas como não-físicas
(perdas comerciais). Fatores como a pressão excessiva
das tubulações e a variação de pressão (tensões cíclicas)
contribuem significativamente para a performance das
companhias de saneamento quanto à disponibilidade
do abastecimento de água na atual infraestrutura, pois
está intimamente relacionado com o custo do abaste-
cimento de água, bem como a capacidade de investi-
mentos destes prestadores de serviços, ampliação de
seus sistemas e até mesmo da postergação de obras,
devido à redução das perdas físicas com o consequente
uso racional da água (GOMES,2004).
Tendo por base o contexto apresentado no pará-
grafo anterior, este trabalho propõe um método para
estimar a vida útil das tubulações em redes de dis-
tribuição de água, trazendo subsídios para a tomada
de decisão de Companhias de Saneamento sobre in-
vestimentos na melhoria de seus atuais sistemas, bem
como da ampliação destes. A pesquisa também teve
como objetivo aplicar a Modelagem Hidráulica em sis-
temas reais que estão em operação plena, utilizando
Everson Gardel de Melo
Engenheiro Mecânico/SEMAE São Leopoldo-RS
João Antônio Pinto de Oliveira
Prof. Dr. em Engenharia Química Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-
Grandense.Campus Sapucaia do Sul
Carmen Calcagno
Prof. Dra. Ciência dos Materiais - Polímeros
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-
Grandense.Campus Sapucaia do Sul
36 SANEAS Abril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
o software livre EPANET. A análise de resultados sob a ótica da
redução de perdas físicas de água e também quanto à vida útil das
tubulações constituíram os demais objetivos.
MetodologiaNesse trabalho foram buscadas novas ferramentas de gestão para
auxiliar na tomada de decisão e foi definido como ponto de parti-
da o uso do software EPANET.
A primeira etapa da metodologia consistiu na seleção do sistema
de distribuição e utilizou critérios como o acesso e a confiabilidade
dos dados disponíveis. Esse processo de seleção também levou em
consideração o maior número de características de infraestrutura
encontradas em sistemas de abastecimento, como válvulas de con-
trole e regulagem de pressão, reservatórios, moto bombas, etc. O
perfil de consumo diário, bem como as variações de consumo de-
correntes de características sazonais foram observados, relacionan-
do estes com suas respectivas variações de tensões.
A segunda etapa consistiu no levantamento de grandezas físi-
cas que compuseram o modelo como a potência elétrica consu-
mida, a pressão, a vazão e a velocidade do fluido. Dados sobre
as características da infraestrutura também foram coletados, tais
como os dados técnicos das tubulações (materiais, diâmetros,
comprimentos, coeficiente de rugosidade, tensão admissível, en-
tre outros), o conjunto motobomba e o seu acionamento elétrico,
a perda física estimada do sistema atual, os consumos médios por
ligação e suas variações diárias e sazonais, entre outros.
A inserção das informações obtidas e a posterior modelagem
hidráulica constitui a etapa de execução das simulações hidráuli-
ca propriamente dita. Após a etapa das simulações hidráulicas os
dados obtidos foram compilados no algoritmo desenvolvido nesse
trabalho. A figura 1 representa o algoritmo para estimativa da
vida útil das tubulações, que determina o perfil de tensões através
do método Rain Flow de contagem de eventos causadores de da-
nos por fadiga (ASTM-E1049,1985).
O método inicia com a exportação dos dados obtidos na simula-
ção hidráulica passando pelo cálculo de tensões, seguindo através
da contagem de ciclos até o somatório de danos atingir o valor de
1 (um), conforme Palmgren-Miner, onde obtém-se o número de
anos que o material atinge a fadiga.
Resultados e DiscussãoO setor de abastecimento escolhido foi o Setor Novo Esteio,
localizado no município de Esteio-RS, por reunir componentes
típicos de um sistema de abastecimento (reservatórios, válvu-
las, conjuntos de moto bombas, etc.) e, também apresentar
confiabilidade dos dados que é atestada através do cadastro
atualizado e do Sistema de Supervisão e Controle. Este sistema
possui em torno de 1700 ligações de água. As simulações hi-
dráulicas compuseram a etapa inicial de um conjunto de cálcu-
los encadeados que compõe o método de estimativa proposto,
pois é a partir delas que se obtêm o perfil das tensões aplicadas
nas tubulações analisadas.
Figura 1 - Algoritmo para Estimativa da Vida Útil das Tubulações (Elaborado pelo autor)
37SANEASAbril a Julho de 2016
As simulações executadas no EPANET propiciaram levantamento
de perfis de pressões em vários pontos do sistema, após a inserção
de seus dados operacionais (pressão e vazão de entrada no setor) e
estruturais (diâmetros, materiais, válvulas, etc.). Observou-se que as
variações de consumo sazonais não influenciaram de forma signifi-
cativa na ocorrência de ciclos causadores de fadiga para este setor,
visto que o perfil de pressões não variou de maneira significativa.
Os dados coletados no mesmo intervalo de tempo (amostra)
nos meses de janeiro e julho, verifica-se uma variação percentual
máxima de 0,04%, considerada pequena para os objetivos pro-
postos, permanecendo este comportamento ao longo de toda a
simulação. O perfil diário, por sua vez, verificou-se que influencia
diretamente na formação destes ciclos. A Figura 2 apresenta o
perfil de consumo diário.
Figura 2 - Perfil de Consumo Diário (Simulações Epanet)
Novo Esteio, onde verifica-se grande variação de consumo,
atingindo um valor máximo de 18% acima do consumo médio
diário, durante o intervalo de tempo compreendido entre 11 e
13 horas. Os valores mínimos e máximos de consumo coincidem
com valores de máxima e mínima pressão respectivamente ao
longo de 24 horas.
Figura 3 - Perfil de Pressões ao Longo de 24 horas (Simulações Epanet)
Nesta Figura observa-se que os grandes picos de pressão
ocorrem no período onde o consumo diminui, significativamen-
te, como no intervalo entre 01:00 e 2:00hs, onde verifica-se
apenas 43% do valor médio de consumo. O intervalo de menor
vazão é conhecido como intervalo de vazão mínima noturna
(GOMES, 2004).
Os cálculos para a estimativa da vida útil ocorreram em dois
cenários possíveis dentro do sistema, considerando, aspectos ope-
racionais, perfis de consumo e outros dados mencionados ante-
riormente. Foram verificadas as tensões em tubos nos nós 9 e 117,
compreendendo tubulações de diferentes materiais, ferro fundido
e PVC, respectivamente. A escolha da tubulação referente ao nó
9, embora não pertencente ao setor de distribuição analisado, é
responsável pela sua adução de água. As leituras de tensões ob-
tidas no Nó 9 atingiram Tensões Circunferenciais muito abaixo da
Tensão Limite de Resistência à fadiga para o Ferro Fundido que
fica em torno de 70 MPa.
A escolha do Nó 117 foi devido à sua localização (ponto central)
e por se tratar do ponto médio da principal tubulação deste setor
de abastecimento.
Figura 4 Mapa Setor Novo Esteio (Adaptado GOOGLE EARTH)
38 SANEAS Abril a Julho de 2016
ARTIGO TÉCNICO
A válvula reguladora de pressão (VRP), localizada neste setor,
é parte fundamental para o controle operacional do Setor Novo
Esteio, pois atua na modulação de pressões para todo o setor.
Sendo assim, surgiu a necessidade de simular cenários com e sem
a atuação desta VRP, sob o ponto de vista da disponibilidade do
abastecimento, da redução do uso de recursos hídricos e de cus-
tos envolvidos para a garantia de abastecimento deste setor.
O primeiro cenário não considera o controle operacional do se-
tor de distribuição com o uso de válvula reguladora de pressão. A
tensão elevada a qual está submetida a tubulação no nó 117 gera
um grande número de eventos causadores da fadiga, atingindo a
vida em fadiga em aproximadamente 30 anos.
O Cenário 2 considera o controle operacional do sistema empre-
gando a VRP que está situada na entrada do setor de distribuição e,
nessa situação amplia a vida útil da tubulação para infinita. O resul-
tado obtido com o segundo cenário permite propor a postergação
de investimentos relacionados à substituição de redes de abasteci-
mento. Esse investimento seria na ordem de R$ 2.300.000,00, con-
siderando o custo médio de implantação de redes de PVC (GOMES,
2004) atualmente praticado pelas companhias de saneamento, em
torno de R$ 140,00/m. A sugestão de postergação de investimen-
tos na infraestrutura do sistema deve-se a previsão do aumento da
vida útil das tubulações devido à redução da carga hidráulica, para
32 mca no pico máximo, constituindo o segundo cenário. Conside-
rando o custo de aquisição, implantação de uma válvula reguladora
de pressão, posterga-se a despesa com substituições de redes com
um investimento mínimo em torno de R$ 19.500,00.
O gráfico da Modelagem de Perdas Físicas, preconizada pela
IWA (International Water Association) foi utilizado nesse trabalho.
De acordo com a modelagem de perdas físicas em setores de dis-
tribuição de água, o regime de tensões empregadas no cenário 1,
implica em uma perda física em torno de 105.593 m3/ano, sendo
37.434 m3/ano de perdas inevitáveis.
Figura 5 - Estimativa de perdas Físicas Cenário 1 (Calculadora de balanço Hídrico/ GOMES, 2004).
O regime de tensões empregados no cenário 2 implicou em uma
perda física de 98587 m³/ano, 7% menor que o cenário sem con-
trole inteligente de pressões, com perdas inevitáveis em torno de
15000 m³/ano. A Figura 6 mostra a estimativa de perdas físicas
para o Cenário 2.
Figura 6 - Estimativa de Perdas Físicas Cenário 2 (Calculadora de balanço Hídrico / GOMES, 2004)
ConclusãoO trabalho incorpora a importância cada vez maior de se buscar
alternativas, ferramentas, novos métodos, enfim, soluções para
problemas que afetam o abastecimento de água. O uso do sof-
tware EPANET aplicado em sistemas reais, contribuíram para di-
fusão, entre o corpo funcional que opera sistemas de saneamen-
to, de novos métodos que proporcionem respostas rápidas para
problemas usualmente enfrentados. A análise de resultados sob à
ótica da redução de perdas e, quanto à vida útil das tubulações,
utilizando dados de simulação e estimativas, apresentam-se como
ferramentas adicionais que auxiliam a gestão na sua forma de ge-
rir os recursos econômicos para o saneamento.
Reduzir pressões, mantendo o pleno abastecimento e aumen-
tando a vida útil das redes de distribuição nada mais é que tratar
recursos econômicos com a austeridade necessária. Otimizar o
processo de produção e distribuição de água é aplicar conceitos
de sustentabilidade, pois reduzir perdas físicas, implica obrigato-
riamente, em reduzir o uso de recursos hídricos, recurso este, que
pauta as discussões na agenda de sustentabilidade do país, tendo
em vista a sua escassez na atualidade.
Por fim, a análise de tensões em redes de distribuição de água
como foi realizado por esse trabalho auxilia no planejamento
de ações, com vistas à prestação eficiente dos serviços de abas-
tecimento de água e, que não seja apenas de curto e médio
prazo, mas que esse conhecimento e o aprimoramento no uso
de ferramentas que auxiliem a tomada de decisão possa ser
permanente, fazendo parte da cultura/política institucional das
companhias de abastecimento, buscando a melhoria contínua
em todos os processos.
39SANEASAbril a Julho de 2016
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PRINCIPAIS APLICAÇÕES
ETA ETE POÇOS RECLORAÇÃO
E m 2016, a AESabesp comemora os 30 anos da fun-
dação da AESabesp e os 27 anos da criação do En-
contro Técnico e Fenasan, cujo slogan é “Água ou
Escassez: Qual o futuro que queremos”.
Vale dizer que desde o ano de 1986, quando a a AESabesp foi
criada em 15 de setembro, a exemplo dos dias atuais, o cenário
político-econômico continua complexo. Só para se ter uma idéia,
1986 foi o ano em que se foi lançado o “ Plano Cruzado”, um
plano econômico que estabelecia o congelamento de preços, que
mudou o nome da nossa moeda para “cruzado”, sendo que ape-
nas um equivalia a mil cruzeiros.
Desde aquela época, há 30 anos, a esperança e as aspirações
dos trabalhadores brasileiros na busca de dias melhores vinham
muito mais do propósito de se oferecer condições dignas de vida
à população do que enriquecer em processos ilícitos.
E dentro desse contexto, os integrantes do corpo técnico da Sa-
besp já não encaravam mais o saneamento como uma mera opção
de trabalho, mas como uma opção maior da própria existência,
uma forma de se exercer a plenitude de um ideal de cidadania.
Motivados por esse objetivo maior, os engenheiros da Sabesp
abriram mão de serem apenas planejadores, projetistas e operado-
res de sistemas, para se auto-intitularem como agentes defensores
do setor de saneamento. E dentro desse papel, deixavam claro o
que esperavam da Companhia, com a formalização de uma pauta
de compromissos, cujas reivindicações fundamentais eram:
• Compromisso da Sabesp com a Saúde Pública, com tomadas de
30 Anos de AESabesp e 27 Anos de Encontro Técnico e Fenasan
42 SANEAS Abril a Julho de 2016
HISTÓRIA
decisões e investimentos para esse fim;
• Compromisso dos dirigentes da Sabesp com o corpo de empre-
gados da Companhia, com a contemplação de direitos adqui-
ridos por lei;
• Compromisso com a competência dos trabalhadores e o reco-
nhecimento da mesma, por meio da implantação de um Plano
de Carreira e Salários;
• Compromisso pela busca de soluções técnicas, com base em
dados reais e não os equacionados por manipulações políticas.
Fundar uma associação representativa seria a solução capaz de
defender com afinco os reais interesses dessa categoria. A semen-
te começou a ser plantada na Unidade da Sabesp da Rua Amauri,
em São Paulo, num movimento liderado pelos engenheiros Jesus
Antonio Lizarzaburu Beillard, Minetoshi Horita, Ricardo Ferreira de
Souza, Shigueo Makita e Valdir Ferreira Sindeaux.
O próximo passo foi a concentração de cerca de 80 engenhei-
ros, em 10 de abril de 1986, no Auditório da Costa Carvalho,
para discutir sobre o papel das associações de engenheiros. Esse
encontro foi coordenado pelos engenheiros da Sabesp Júlio Cé-
sar Ferraz Camargo e Ricardo Ferreira de Sousa e mediado pelo
engenheiro José Roberto Guimarães de Almeida. Na oportunida-
de, compareceram os dirigentes da Associação dos Engenheiros
da Cesp, da Comgás e da Eletropaulo, que destacaram a atuação
e a valorização da categoria nas estatais, além da importância
da criação e implantação de um Plano de Sucessão e de Carreira
na Sabesp. Daí, sim, a investida de se criar uma Associação dos
Engenheiros da Sabesp ganhou corpo.
A essa altura, o movimento já estava no seu pico de popularida-
de. Era a hora de se partir para ações mais concretas. E assim, no
dia 04 de setembro de 1986, representantes de todas as áreas re-
ceberam uma carta de convocação para participarem de uma as-
sembléia de engenheiros, que se realizaria no dia 15 de setembro,
na Rua Amauri, 299, 5º andar, com o objetivo de se criar uma As-
sociação dos Engenheiros da Sabesp, a ser dominada AESabesp.
Na data e local marcados, 41 representantes de todas as direto-
ria e de diferentes áreas da Companhia estavam ali, todos a pos-
tos, com a finalidade de dar vida à Associação que representaria,
condignamente, os engenheiros da Sabesp. Constituiu-se, então,
uma diretoria provisória, para registrar, legalizar e organizar essa
nova entidade, formada pelos respectivos pioneiros:
Presidente: Paulo Ferreira
1º Vice-Presidente: José Everaldo Toffano Vanzo
2º Vice-Presidente: Ricardo Ferreira de Sousa
1º Secretário: Milton Kiyoshi Uchima
2º Secretário: Waldir Vianna
1º Tesoureiro: Valdir Ferreira Sindeaux
2º Tesoureiro: Pedro Caetano Sanches Mancuso
O próximo passo foi aprovar a convocação de uma Assem-
bléia Geral Extraordinária, para o dia 15 de outubro de 1986,
na qual as decisões seriam referendadas. Tal evento superlotou
o Auditório da Sabesp, na Costa Carvalho (denominado Eng.
Tauzer Quinderé e conhecido como “Pudim”), com mais de
300 participantes.
Água ou Escassez:
Qual o futuro que queremos”.
43SANEASAbril a Julho de 2016
Em 1990, a criação do Encontro Técnico e da FenasanRealizado nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 1990, o I Encontro
Técnico da AESabesp teve a sua abertura no Auditório “Augusto
Ruschi” da Cetesb , que também disponibilizou suas salas de treina-
mento para o desenvolvimento dos trabalhos técnicos. O estandes
de exposições dos nossos primeiros expositores foram montados
sob a marquise do prédio principal da Sabesp na Costa Carvalho.
A primeira comissão organizadora contou com o então presidente
da AESabesp (gestão 1989 – 1991), Plínio Montoro Filho, como coor-
denador, e com os membros Armando Mitsunobu Yamada, Gilberto
Alves Martins (hoje diretor técnico da AESabesp), José Taniguti, Mau-
rício Soutto Mayor Junior, Maximiniano Bizatto e Nizar Qbar (hoje,
diretor administrativo da AESabesp).
Esse primeiro encontro, que obteve de imediato a aprovação dos
integrantes do setor, se deu numa época em que a evasão do corpo
técnico da Sabesp, motivada pela defasagem salarial e pela própria
falta de incentivo à engenharia nacional, era preocupante.
Mas mesmo assim, ele foi um sucesso, por promover o aprimoramen-
to tecnológico e aumentar o nível de relacionamento entre os profissio-
nais do setor, selando o seu comprometimento com a necessidade de se
estabelecer um futuro que valesse à pena. E a partir dessa esperança, a
AESabesp entendeu que o seu destino seria traçado com o compromis-
so de realizar esse evento religiosamente em todos os anos.
Essa iniciativa, gerada em 1990, tomou um crescente em cada
edição. Após apresentações da Cetesb, o Encontro Técnico rumou
para o Instituto de Engenharia de São Paulo, o Centro de Conven-
ções do Hotel Transamérica, o prédio da Bienal do Ibirapuera e,
em 2003, para o Expo-Center Norte, onde permanece até hoje.
Atualmente, com a finalidade de promover o intercâmbio e as
tecnologias desenvolvidas para o saneamento e de discutir novos
rumos para o setor, no âmbito das políticas públicas, por meio da
apresentação de diversas palestras técnicas, cursos específicos e
formação de mesas redondas, com a participação de conceituadas
personalidades do universo científico, também reúne expositores
de todo o mundo, sagrando-se o maior evento técnico mercado-
lógico em saneamento ambiental da América Latina.
Os 14 trabalhos pioneiros do nosso I Encontro Técnico
■ Modelo matemático para estudo de recebimento de efluentes industriais, contendo metais pesados em ETEs convencionaisAutor: João Jorge da Costa
■ Racionalização dos Serviços de Operação e Manutenção de Redes de Água e EsgotosAutor: João Baptista Comparini
■ Lodo ativado por bateladaAutor: Hissahi Kamiyama
■ Algumas considerações sobre tensão trativa e velocidade crítica, utilizada para o dimensionamento dos Coletores de EsgotosAutores: Joaquim Gabriel de Oliveira Machado Neto, Milton Tomoyuki Tsutiya e Winston Hisasi Kanashiro
■ Segurança do Trabalho em Serviços de Manutenção em Poços de Visita e Galeria de EsgotosAutores: Plínio dos Santos e Orlando Trindade Faria
■ Água Subterrânea - uma opção naturalAutor: João Carlos Simanke de Souza
■ Impermeabilização de fundo de Lagoa com Soda Cáustica e importância na mistura em Lagoas de EstabilizaçãoAutor: José Everaldo Vanzo
■ Estudo particular sobre corrosão em ramais prediaisAutores: Regina Mei Silveira Onofre, Magdalena Hoels, Carlos César de Oliveira e Nizar Qbar.
■ Atividades de informática na Diretoria de Operação RMSP-DOAutores: Luiz Ernesto Suman e Pedro Costa Júnior
■ Parâmetros brasileiros e Engenharia de SegurançaAutor: José Roberto Guimarães de Almeida
■ Ressetorização do sistema de abastecimento de água na RMSP, como atividade estratégica no Programa de Desenvolvimento Operacional e Controle de Perdas.Autores: Paulo Roberto Borges e Edson Almeida Torre
■ Utilização de Ultrion na instalação de Tratamento de Água de Santos Autores: Roberto Ferreira, Mauro dos Reis e Fernando Beraldo Guimarães Júnior
■ Manutenção corretiva e preventiva para Empresas de SaneamentoAutores: Gilberto Berzin, Carlos Alberto da Silva Gomes e Takashi Fujii.
■ Durabilidade de Interceptores de EsgotosAutor: Aldo Takahashi
44 SANEAS Abril a Julho de 2016
HISTÓRIA
Galeria de fotos de importantes momentos e personalidades que abrilhantaram os 30 anos de AESabesp e 27 anos do maior evento em
saneamento ambiental da América Latina.
45SANEASAbril a Julho de 2016
A Fenasan - Feira Nacional de Saneamento Ambiental, promo-
vida anualmente pela Associação dos Engenheiros da Sabesp e
realizada em conjunto com o seu Congresso Técnico, será rea-
lizada nos dias 16,17 e 18 de agosto, no Pavilhão Vermelho do
Expo Center Norte, em São Paulo - SP, sob o tema: “Água ou
escassez: qual o futuro que queremos?”.
Com visitação gratuita, a Feira espera receber mais de 20.000
visitantes e de 220 expositores, índices alcançados na edição de
2015. Seu público geralmente é composto por técnicos, acadê-
micos, universitários, gestores, empresários e membros da co-
munidade científica dos setores de saneamento, energia e meio
ambiente. A Fenasan receberá empresas nacionais e também
vindas de outros países, como EUA, Israel, Alemanha, Itália, Di-
namarca e China que dobrou sua representatividade, em 2016,
com seis estandes.
Para o Congresso Técnico, foram enviados 180 trabalhos (80%
a mais do que em 2015). De acordo com a diretora cultural e res-
ponsável pelo Congresso, Maria Aparecida Silva de Paula, “além
de maior quantidade, neste ano tivemos trabalhos com um nível
de conteúdo mais elevado do que nos anos anteriores. Os auto-
res de trabalhos tem se esmerado e se superaram na transferên-
cia dos conhecimentos adquiridos e na forma de compartilha-
mento destas informações. A Comissão de Avaliação, formada
por profissionais de alta qualificação técnica, analisou todos e
O maior evento técnico-mercadológico em saneamento ambiental da América Latina
46 SANEAS Abril a Julho de 2016
Fotos: Estevão Buzato
qualificou 88 para compor a grade do Encontro Técnico de 2016.
A referida comissão ainda contou com apoio de diversos espe-
cialistas no segmento do Saneamento e Meio Ambiente, além
da participação de professores doutores das Universidades. Esse
engajamento permitiu a cada ano o aumento na qualificação
técnica, imparcialidade na seleção e pontuação dos trabalhos
que serão apresentados no congresso, além da maior integração
entre as Universidades por meio do seu corpo docente”.
O prêmio “Jovem Profissional”, lançado em 2014 dentro das
atividades do Encontro Técnico, também a cada ano tem ficado
mais concorrido. Para 2016, foram inscritos 80 trabalhos (em
2015, foram 32). A diretora Aparecida ressalta o quanto a AE-
Sabesp fica satisfeita com este interesse, que mostra o grau de
comprometimento e seriedade com o futuro do setor. “Foram
selecionados cinco trabalhos para a fase final do prêmio, na qual
os autores apresentarão seus trabalhos em 15 minutos para pro-
fessores e profissionais da área os avaliarem. Essa etapa aconte-
cerá na sala Vila Maria, em 18 de agosto, das 9h00 às 10h40.
Todos os congressistas estão convidados a prestigiarem os fina-
listas que serão informados do resultado no mesmo dia, durante
a cerimônia de encerramento às 17h00. O vencedor receberá
um Troféu da AESabesp e terá direito a uma bolsa de estudo no
valor de até R$ 10.000,00; o 2º colocado - um tablet e inscrição
para a edição de 2017 do Encontro Técnico da AESabesp- e o 3º
colocado - inscrição para o edição de 2017 do Encontro Técnico
da AESabesp”.
Além das inscrições que estão sendo recebidas de congres-
sistas de todo o País, também foram liberadas 800 inscrições
pela Sabesp (100% a mais do que em 2015). Foi fundamental
o empenho da Sabesp, por meio do seu próprio presidente Jer-
son Kelman e sua equipe, em reconhecer a importância, apoiar
e investir nessa realização, que tem como principal objetivo o
compartilhamento de soluções técnicas e científicas nos setores
de saneamento e meio ambiente, fundamentais para o desen-
volvimento sustentável do Planeta.
47SANEASAbril a Julho de 2016
Entre as ações confirmadas, destacamos:
Mais informações e a grade da programação do evento estão disponíveis no site www.fenasan.com.br
1º Dia: 16.08.2016 (Terça-feira) 2º Dia: 17.08.2016 (Quarta-feira) 3º Dia: 18.08.2016 (Quinta-feira)
Palestra magna com
o tema do Congresso:
“Água ou escassez:
qual o futuro que que-
remos?” com o secre-
tário de Saneamento e
Recursos Hídricos do Estado de São Pau-
lo, Benedito Braga.
Palestra especial de encerramento do
2º dia, com o presidente da Sabesp,
Jerson Kelman.
Encerramento do 27º Encontro Técnico/
Fenasan 2016, com a entrega do Troféu
“Prêmio AESabesp 2016” (Melhor Estan-
de, Atendimento Técnico, Inovação Tec-
nológica, Destaque Fenasan, Destaque
Encontro Técnico, Jovem Profissional).
Palestra especial de
encerramento com
Guilherme Arantes (às
17h30). O compositor
e cantor discorrerá so-
bre sua ligação com o
“Planeta Água”, com apresentação de
números musicais.
Início das Mesas Redondas com os mais
discutidos temas do setor.
48 SANEAS Abril a Julho de 2016
Por Maria Aparecida Silva de Paula
Como são tratados os impactos sociais e ambientais na Fenasan: um evento evento com práticas sustentáveis
A AESabesp tem grande preocupação
com os assuntos que dizem respeito
aos impactos ambientais gerados du-
rante a montagem, apresentação dos
produtos e serviços e desmontagem em seus eventos
internos e externos, como forma de minimizá-los.
O Projeto Ecoeventus tem por objetivo despertar e
provocar entre os participantes a conscientização am-
biental de não apenas utilizar a compensação, mas
também de planejar ações que minimizem o desper-
dício, otimizar os recursos naturais por meio de uti-
lização de produtos reciclados ou reciclá-los e, dessa
forma, diminuir a emissão dos gases.
Sua implantação foi iniciada em 2010, quando
começaram a ser propagadas ações voltadas à sen-
sibilização e conscientização, visando contribuir para
a percepção, compreensão e participação efetiva em
seus eventos: Encontro Técnico e Fenasan, além do In-
terpolos, Momentos de Tecnologia, entre outros. Para
cada um dos eventos é realizado um levantamento
das ações possíveis de serem aplicadas em função do
público, perfil dos parceiros e disponibilidade do local.
Maria Aparecida Silva de Paula
É graduada em Química Industrial pelas Faculdades
Oswaldo Cruz, pós Graduada em Gestão
Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública/ USP,
Mestra em Projetos Socioambientais Gestão
Internacional de Negócios pela Universidade
Steinbeis – Berlin na Alemanha e possui
MBA em Administração de Negócios, pelo
Instituto Mauá. Trabalha na Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São
Paulo – Sabesp, como Coordenadora
da Qualidade na diretoria de Tecnologia,
Empreendimentos e Meio Ambiente.
Na AESabesp é idealizadora e gestora do
Projeto Ecoeventus, Prêmio AEsabesp para expositores
da Fenasan e Prêmio Jovem Profissional, além de membro da Comissão
de Encontro Técnico e Fenasan. Na gestão de
2013 a 2015 foi diretora de Projetos Socioambientais e, atualmente, responde
pela diretoria Cultural, responsável pela
estruturação do 27º Congresso Técnico.
49SANEASAbril a Julho de 2016
PROJETO ECOEVENTUS
Das ações mais desenvolvidas no evento podemos destacar:
gestão de resíduos, onde são realizadas a segregação, triagem e
destinação adequada do resíduo, redução do consumo de água
e energia, confecção de sabão ecológico, transporte solidário e
plantio de mudas de árvores.
Nesses seis anos de emprego do projeto Ecoeventus foi possível
plantar 1647 mudas, distribuir cerca de 2800 peças de sabão eco-
lógico, para óleos de graxas de origem vegetal e animal - a legis-
lação federal (Res. CONAMA 357/05 - art. 34) estabelece o limite
de 50 mg/l e a partir deste valor se obtém que o óleo de fritura
polui mais de 25000 litros de água. Segundo dados da Sabesp, no
Programa de Reciclagem de Óleo de Fritura, o óleo de fritura pro-
voca a obstrução nas redes de esgotos e quando atinge os corpos
d´água (rios, lagos e mares) é degradado pelos microorganismos
presentes, bactérias, que consomem o oxigênio dissolvido e a sua
escassez pode ocasionar a morte da fauna aquática, entre outros.
Num outro eixo o projeto possibilita o incremento de renda,
por meio de parceria firmada entre as cooperativas de reciclagem,
para as catadoras de material de reciclagem da cooperativa Fi-
ladelphia, que são devidamente remuneradas pela segregação
do material de montagem, desmontagem e realização da feira
de negócios da AESabesp, além de comercializarem o material
reciclável.
Com relação ao treinamento das catadoras e equipe da limpeza
durante o evento são realizados workshops para o staff da AESa-
besp; quer proporcionando noções de gestão de resíduos numa
feira, onde são exigidos rapidez e gerenciamento de riscos; quer
precavendo quanto aos itens de segurança, ou atendimento às
exigências do contratante, no caso Expo Center Norte e a logística
para escoamento do material, incluindo o deslocamento nos ho-
rários de rodízio na Cidade de São Paulo.
Dentro do escopo do Projeto Ecoeventus, a AESabesp dispo-
nibiliza workshop para a equipe de avaliadores do prêmio volta-
do para os expositores da Fenasan e para a equipe de voluntá-
rios, com inclusão de profissionais com deficiência. No caso dos
avaliadores do prêmio, apesar de serem especialistas no tema,
é feito alinhamento para os mesmos identificarem e pontuarem
as ações desenvolvidas durante os últimos 12 meses, incluindo a
montagem e apresentação dos seus serviços e produtos: melhor
estande, atendimento ao cliente, inovação tecnológica e práticas
de sustentabilidade. Todos esses critérios são disponibilizados em
questionário com dicas e pontuação por critério.
As empresas vencedoras sentem seus esforços valorizados e
comentam que esse prêmio é muito esperado por suas equipes
como forma de recompensa pelas atividades desenvolvidas du-
rante um ano.
50 SANEAS Abril a Julho de 2016
PROJETO ECOEVENTUS
Pegada reduzida em 27% em 2015
Em 2015 a AESabesp conseguiu identificar e quantificar seus
resíduos utilizando como apelo de marketing o tema “qual é o
tamanho de sua pegada organizacional?”. Para quantificar esse
material utilizou-se a supervisão da engenheira Juline Galindo, para
assegurar a pesagem e a gestão do resíduo, além da sua destinação
adequada. Foi retirado do pavilhão 16.949 kg de resíduos reciclá-
veis segregados do total de 61.794 kg de resíduo gerado em 9 dias
de evento considerando as fase de montagem e desmontagem.
É importante destacar que esses resultados só foram obtidos
porque houve entendimento, empenho e conscientização dos
participantes do Encontro Técnico e Fenasan que, por meio da
adesão das ações propostas, tornou possível se chegar a esses
números. Para 2016 a expectativa é de aumentar a quantidade de
resíduos recicláveis.
51 SANEAS Abril a Julho de 2016
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Mais que uma revista,um projeto socioambiental.Conheça as oportunidadesde participação.Anuncie na Saneas!
Promovido pela AESabesp, o evento em 2015 deverá receber cerca de 20 mil visitantes de todas as nações.
Ano XIII . Edição 55 . Abril a Julho de 2015
Matéria tema A necessidade de se reduzir perdas
Vivências Quando o engenheiro dá a vez ao palhaço
Projetos Socioambientais Troféu AESabesp aos melhores de 2015
O maiOr eventO dO setOr da américa latina.
26º Congresso Técnico AESabespFenasan 2015
A expositora da Fenasan, B&F Dias, lançou, em
2016, um sistema de tratamento de esgoto, que
reduz o gasto com energia elétrica e oferece fon-
tes renováveis como alternativas de geração de
energia, com ausência de manutenção e custo
zero de operação. Trata-se do B&F Energy, um
sistema de energia misto, composto pelo forne-
cimento da energia elétrica convencional e solar,
responsáveis pelo acionamento de comportas e
sopradores de ar. De acordo com a empresa: “a
geração de energia é obtida através da irradiação
solar em contato com as placas fotovoltaicas, que
a captam e transformam em energia elétrica. Com
o uso do sistema de energia solar há grande redu-
ção do consumo da eletricidade paga, e conforme
o tamanho da planta geradora instalada, e do pe-
ríodo de insolação é possível suprir integralmente
seu custo”. Recém-lançado, o sistema conta com
um kit especial formado por placas fotovoltaicas,
sistema de controle e suportes para as placas.
“Todo o sistema é desenvolvido e adaptado de
acordo com as especificidades de cada projeto”
atesta a empresa.
Novo sistema de energia economiza gasto com eletricidade A expositora da Fenasan, Tanks BR, representante da holding americana CST
Industries Inc., fabricante de tanques parafusados com volumes de 25 m3 a
32.000 m3, informa sua preocupação com perenidade do saneamento e meio
ambiente, com a adoção dos seguintes processos: controle e limpeza de am-
biente fabril; revestimento vitrificado (Glass Fusedto Steel) que alonga a vida
útil do produto; dispensa de testes de raio X, ultrassom, líquido penetrante,
etc; facilitação de montagem e desmontagem para expansão e recolocação;
100% de estanqueidade e preocupação com estética e funcionalidade.
Grandes tanques parafusados
A expositora da Fenasan, Imbil- Indústria e
Manutenção de Bombas ITA Ltda., é uma
empresa 100% brasileira, de capital fecha-
do que desde 1982 opera no segmento de
Bombas Centrífugas mono e multiestágio.
Seu “Core Business” definido como “So-
luções em Bombeamento” opera com uma
rede de distribuidores no Brasil e em toda
a América Latina, além de parceiros comer-
ciais nos EUA e Europa. Toda sua linha de
produtos é fabricada em ligas de ferro fun-
dido/nodular, em materiais especiais, tais
como: aço inoxidável, aço carbono, superli-
gas e ligas resistentes ao desgaste (abrasão
e corrosão).
Linha de bombas com materiais especiais
52 SANEAS Abril a Julho de 2016
As novidades em produtos, serviços e tecnologias no setor de saneamento e meio ambiente
Acontece no setor
A preocupação com o meio ambiente está cada vez mais presen-
te no panorama atual, demandando soluções em tecnologia que
atendam a essas necessidades. A engenharia com geossintéticos
dá a sua contribuição e, neste contexto, a expositora da Fenasan,
Huesker Brasil expõe o sistema SoilTain DW, geoforma linear para
confinamento e dessecagem de lodo ou lama, durante a edição
2016 da Feira. A tecnologia pode ser utilizada com efluentes in-
dustriais ou domésticos de estações de tratamento de água ou
esgoto (ETAs e ETEs). De acordo com a empresa, “a SoilTain DW
garante o aumento significativo do teor de sólidos do lodo ar-
mazenado, de maneira a possibilitar a remoção mecanizada e o
confinamento dos sólidos com menores demandas de espaço e
em volumes reduzidos. A geoforma é fácil de instalar, de operar
e requer baixa manutenção. E o mais importante, representa uma
alternativa eficiente e ambientalmente correta para a disposição
de resíduos, com vantagens significativas em comparação com os
métodos tradicionais”.
A expositora da Fenasan, Bürkert, levará na Feira a sua mais recente inovação para monitora-
mento de água potável: o compacto e modular sistema de análise ON-LINE tipo 8905, proje-
tado para estações de tratamento e de distribuição de água, para monitoramento contínuo da
água tratada e não tratada, com armazenamento de importantes parâmetros de medição antes
que a água entre na rede de abastecimento. No caso de perturbações ou excessos, o sistema é
capaz de responder com base na sua programação, como por exemplo, interferir no processo
de tratamento ou enviando mensagens de aviso para as pessoas responsáveis. De acordo com
a empresa, sua compactação foi realizada graças à tecnologia MEMS (Micro-Electro-Mechanical
System) ou Sistema Micro-Eletro-Mecânico - componentes miniaturizados que combinam ele-
mentos lógicos ou estruturas micromecânicas em um único microchip. Já a miniaturização pode
chegar até o nível nano. Sensores do tipo microchip são integrados nos chamados cubos de
análise. A versão básica inclui cinco parâmetros de medição estabelecidos como cubos de aná-
lise separados: pH, potencial de redução (ORP), condutividade, cloro livre e turbidez. Cada cubo
se encaixa em uma caixa que mede 7 x 7 x 4 cm e os módulos podem ser substituídos com o
sistema em operação, tecnologia conhecida como ‘’hot-swap‘’ troca a quente.
Nova tecnologia para análise on-line
Geoforma para confinamento e dessecagem de resíduos
A expositora da Fenasan, Mann+Hummel Fluid Brasil, é uma divi-
são da empresa global de filtração em mais de 59 locais em todo
o mundo, Mann+Hummel, com foco em soluções para Tratamen-
to de Água e Efluentes, dispondo de ampla linha de produtos de
tratamento de água e seus componentes; dentre eles: Membranas
de Osmose Reversa, Ultrafiltração, MBR, Válvulas, Tanques, Filtros,
Resinas e Elementos Filtrantes. A multinacional entrou no mercado
de filtração de água em 2009 e adquiriu a Cingapore Ultra-Flo Pte
Ltda., especialista em membrana. Em 2011, adquiriu a Fluid Brasil
Sistemas e Tecnologia Ltda., para fazer parte da Unidade Divisão de
Água. E recentemente adquiriu a empresa alemã Microdyn-Nadir.
tornando-se especializada em micro membranas de filtração, ultra,
nano e módulos.
Expansão do mercado de membranas
53SANEASAbril a Julho de 2016
A marca Hoffman & Lamson anuncia o início da fabricação nacional dos so-
pradores a partir de maio de 2016. A produção, a qual está sendo realizada
na planta da expositora da Fenasan, Denver Nash, em Campinas-SP, segundo a
empresa, “será um marco histórico na indústria pois será a primeira empresa a
fabricar Sopradores Centrífugos de grande porte no Brasil. Temos acompanha-
do um aumento significativo na demanda dos Sopradores para tratamento de
água e efluentes e identificamos uma grande oportunidade nesse momento do
mercado para a fabricação nacional dos equipamentos. A decisão de comparti-
lhar o parque fabril da Nash com toda a estrutura para manufatura e realização
de serviços para fabricar também os Sopradores Centrífugos foi estratégica e
baseada na necessidade de nossos clientes”, comentou Rodrigo Martins, dire-
tor de vendas responsável pela marca na América do Sul.
Fabricação nacional de sopradores
A expositora da Fenasan, Itubombas, empresa especializada na lo-
cação de conjuntos motobomba de alta tecnologia, apresentará seu
portfólio de soluções para drenagem urbana nessa edição da Feira.
Um dos destaques é a motobomba ITUPP44S10, que conta com um
sistema de escova automático a vácuo. Esse dispositivo permite que
o bombeamento seja iniciado a seco com sucção de até sete metros
de altura, tornando o processo de retirada do ar extremamente ágil,
eficaz e produtivo. O modelo conta ainda com potência de 30 cv,
vazão de ate 350 m3/h e passagem de sólidos de até 3. O portfólio
de equipamentos da empresa para o setor de saneamento também
inclui motobombas para esgotamento de enchentes, paradas de
manutenções em bombas de estações de tratamento de água e es-
goto e rebaixamento de lençol freático em construções de elevató-
rias. “As soluções também podem ser utilizadas no sistema by pass,
ou seja, no desvio do fluxo da rede de esgoto para manutenções
ou ampliações, em que é necessário interromper o fluxo no local,
desviando a vazão”, explica Rodrigo Law, diretor da empresa, que
cita também a “oferta de sistema de automação para controle de
vazão, tubulações, mangueiras e acessórios, além de cabines silen-
ciadoras para utilização em pontos urbanos, proporcionando menor
transtorno a população durante a obra”.
Motobombas para a manutenção e ampliação de redes
54 SANEAS Abril a Julho de 2016
ACONTECE NO SETOR
Momentos de Tecnologia AESabespApresente sua empresa aos associados da AESabesp
Os Momentos de Tecnologia são palestras técnicas realizadas nas unidades da Sabesp, promovidas por empresas que desejam apresentar seus produtos e serviços aos nossos associados.
Concorridas, estas apresentações contam com expressivo comparecimento de associados, técnicosda Sabesp e convidados do setor de saneamento ambiental.
O número de palestras realizadas e de pro�ssionais já treinadoscon�rmam o sucesso dos Momentos de Tecnologia AESabesp.
momentos de tecnologiarealizados em 8 anos
6.400média de participantes
por palestra
256participantes
durante 8 anos
25
Garanta a participaçãoda sua empresa!
Visite nosso site www.aesabesp.org.br
Acesse nossas redes sociais
/aesabesp@aesabesp aesabesp
Entre em contato:[email protected]
11 3263 0484 ou 11 3284 6420
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
Anúncio MT Saneas.pdf 1 01/04/2016 15:06:27
55SANEASAbril a Julho de 2016
Momentos de Tecnologia AESabespApresente sua empresa aos associados da AESabesp
Os Momentos de Tecnologia são palestras técnicas realizadas nas unidades da Sabesp, promovidas por empresas que desejam apresentar seus produtos e serviços aos nossos associados.
Concorridas, estas apresentações contam com expressivo comparecimento de associados, técnicosda Sabesp e convidados do setor de saneamento ambiental.
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A expositora da Fenasan, Bauminas Química, inaugurará
unidade fabril de PAC (Policloreto de Alumínio) em seu
complexo fabril de Salvador (BA). Trata-se de um coagu-
lante inorgânico com cadeias polimerizadas de alto rendi-
mento que pertence à nova geração de produtos químicos
da empresa. O investimento total na ampliação será de R$
18,7 milhões e a capacidade instalada para a produção de
PAC será de 34.000 tons/ano, com previsão de inauguração
em janeiro de 2017. Uma das principais matérias-primas
para a produção do PAC, o ácido clorídrico, também será
produzido pela empresa como sub-produto da fabricação
de Sulfato de Sódio e Potássio.
Produção de PAC em Salvador
A Mizumo - integrante do Grupo Jacto, acaba de lançar o “Mizumo MF”, novo
sistema compacto para tratamento de esgoto sanitário, destinado a projetos resi-
denciais - urbano e rural - e pequenos estabelecimentos comerciais e industriais. São
duas versões, que atendem até 10 pessoas e requerem pouca área para implantação
– varia entre 2 m² e 3 m². Todas as versões disponíveis são modulares e possibilitam
expansão, de acordo com o crescimento real da demanda. De acordo com a empresa,
o seu diferencial “é a facilidade de instalação e rapidez para início de funcionamento
– 1 dia em média. A implantação pode ser acima ou abaixo do nível do solo e exige
interligações simples - uma tubulação de entrada (com a rede de coleta de esgoto
do imóvel), outra de saída e, em alguns casos, um soprador de ar. A manutenção é
simples e poderá ser feita pelo próprio usuário”.
Sistema compacto para tratamento de esgoto sanitário
A expositora da Fenasan Pentair X-Flow desenvolve e fornece tec-
nologia de membrana de ultrafiltração para os mercados municipais
e industriais. Dependendo das especificações, o sistema horizontal
Xiga™ ou o vertical Aquaflex™ são as membranas de ultrafiltra-
ção escolhidas para a produção de água potável e de polimento
de efluentes, atendendo altos padrões de turbidez e microbiologia.
Eleva-se a produção e qualidade do permeado enquanto o custo de
ciclo de vida, área ocupada, consumo de energia e produtos químicos
são reduzidos. De acordo com a empresa, entre as suas características
chaves estão: Filtração de alta qualidade; Economia de espaço, custo
e energia; Adequação para construção de sistemas modulares; Inte-
gração com demais processos; Disposição de barreira única e confiá-
vel para bactérias e vírus; Alta performance e integridade”.
Mais tecnologias para uso de membranas
56 SANEAS Abril a Julho de 2016
ACONTECE NO SETOR
Quem foi à cerimônia de abertura do 26º Encontro Técnico AE-
Sabesp/ Fenasan em 2015, teve a oportunidade de viver um mo-
mento raro: o auditório lotado silenciou atento a uma voz grave e
melodiosa, entoada por um associado da AESabesp, que no alto
de seu 1,90m e sorriso sempre estampado nos lábios, teve a co-
ragem de cantar o Hino Nacional Brasileiro, sem qualquer acom-
panhamento instrumental: segurou até a última nota da capela,
arrancando aplausos de todos. É claro que todos os seus recursos
técnicos de músico e de ator do engenheiro aposentado pela Sa-
besp, José Aparecido da Silva, também conhecido na Sabesp e no
meio artístico como “Douvalor”, foram utilizados nessa ocasião.
Em razão de tanto sucesso, a Saneas procurou saber mais de sua
história de vida, para a construção de todos esses talentos.
Saneas: Nos fale um pouco de sua origem e infância.
Douvalor: Nasci na Fazenda Amália, no município de Santa Rosa
de Viterbo. - SP. Minha infância foi a de um menino que nasce
em meio à natureza, com tudo que se possa imaginar: todos os
tipos de animais domésticos e não domésticos; pássaros e aves de
inúmeras espécies; pomares com os mais variados tipos de frutas;
hortas com verduras de vários tipos; vários riachos e o Rio Pardo
que passa por lá onde meu avô me levava para pescar e onde
mais tarde viria a nadar escondido. Para se divertir também tinha
um campo de futebol e um cinema na cidade, onde todos os
domingos passava matinê. Posso dizer que tive uma verdadeira e
completa infância.
Saneas: Como o foi a sua trajetória dentro da Sabesp
Douvalor: Entrei na Sabesp em 1978 e me aposentei em 2010.
Iniciei minhas atividades como estagiário no mesmo dia com o
meu amigo irmão Wady Bon (atualmente assessor da Diretoria de
Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp). Co-
meçamos na antiga SMA (Manutençao), no Guarapiranga. Depois
passei a gerente de manutenção em São Miguel, gerente de Divi-
são em Mauá e na Penha. Implantei o PURA na Leste em Itaquera,
de onde me aposentei como Coodenador.
Saneas: Como o senhor percebeu a sua vocação musical?
Douvalor: Meu pai era músico e tocava em folia de reis,onde co-
nheceu minha mãe (Dona Luiza). Então creio que minha vocação
A presença e a inconfundível voz de “Douvalor”
57SANEASAbril a Julho de 2016
VIVÊNCIAS
veio quando estava sendo gerado. Mas meus tios não permitiam
muito a dedicação à mesma,queriam que eu tivesse uma profissão
que eles achavam melhor. Dai veio a Engenharia.
Saneas: Como o senhor conseguiu unir uma dedicação con-
junta à musica e à engenharia em sua vida?
Douvalor: Quanto à música sou autodidata, então só dava para
me dedicar nas horas vagas e dentro da engenharia da Sabesp
fiz um amigo, o eng. Roberto Norinobo Osaki, que tocava violão
clássico e me incentivou a tocar e cantar. A partir de então co-
mecei a empregar voz e violão na música popular (raiz, canção,
samba, bossa nova, MPB em geral). Aí vieram mais amigos que
começaram a “DARVALOR” ao meu traba-
lho, como Wady, Jaso, Ivan Borghi, Marcos
Klébio, até que chegou o James Shiromoto
com seu cavaquinho, trazendo ainda Mo-
reali, Marco Aurélio, Lino, Mococa, Proen-
za, Aurelino e todos dando VALOR. Moti-
vado por esses incentivos, assumi o nome
“DOUVALOR” e não parei mais!
Saneas: Mesmo quando era funcionário
da Sabesp o senhor já conseguia se de-
dicar à prática de músico profissional?
Douvalor: Não conseguia, porque como
profissional você tem que viajar e estar à
disposição o tempo todo. Acho que nin-
guém consegue se profissionalizar como
músico se tiver um outro emprego fixo,
ainda mais com uma carreira dentro da
Sabesp. Mas, como amador, eu participei do CEM - Sesc Consola-
ção e com a orientação dos professores Bob Sousa, Sheila Ferreira
e Fábio Tagliaferri, tive a oportunidade de me apresentar como
cantor e ator.
Saneas: Quais foram suas participações em eventos culturais?
Douvalor: Dentre as mais expressivas, como cantor fiz partici-
pação nos shows de vários artistas, como Pepeu Gomes, Edgard
Scandurra, Monica Salmaso,Virginia Rosa, Paulo Freire, Fernanda
Porto, Christiane Neves, Nuno Mindélis, Mário Manga e Flávio
Guimarães. E como ator fui dirigido por André Abujamrra, Cacá
Machado e Vadim Nikitin.
Saneas: Qual é a importância pessoal que essas duas esco-
lhas, música e engenharia, tiveram em seu desenvolvimen-
to humano?
Douvalor: A engenharia me complementou o lado profissional,
aprendi muito sobre o racional e me fêz feliz. Já a música me com-
plementou o lado humano, por sentir uma satisfação emocional
não só em mim, mas também nos olhos das pessoas que gostam
de ouvir e cantar uma boa canção.
Saneas: Em sua concepção existem pontos comuns nas tra-
jetórias de um músico e de um engenheiro?
Douvalor: Sim, a música tem pontos comuns com qualquer
profissão. Todo ofício requer atenção, dedicação precisão
para executar um bom serviço; no caso da engenharia, para se
fazer uma boa obra é a mesma coisa. Na música a matéria pri-
ma, formada pelas sete notas musicais,
tem que ser tratada com muita precisão,
muita atenção e dedicação para executar
uma boa obra de arte.
Saneas: Qual foi a sua emoção ao ento-
ar o Hino Nacional, em capela, na aber-
tura da Fenasan 2015.
Douvalor: A emoção foi muito forte. Era
uma responsabilidade muito grande. Tive
uma preocupação e uma tensão presentes
o tempo todo, pois numa interpretação
sem instrumento (capela), você tem que
cantar e se ouvir atento à sua dicção, à en-
tonação, à letra e sem ter nenhum ponto
de referência que sirva de retorno. No início
dá o famoso e temido friozinho. Eu gostei
e fiquei feliz que as pessoas gostaram, mas
minha autocrítica ainda diz que daria para melhorar.
Saneas: Qual é o seu atual propósito profissional?
Douvalor: Atuar e gravar músicas autorais. Atualmente faço
parte do “Grupo Teatral do Alberico” e estamos ensaiando uma
peça que está com estréia marcada para o segundo semestre. E
também estou musicando minhas letras para fazer um trabalho
autoral, com assinatura própria.
Saneas: Onde seus fãs podem acompahar o seu trabalho?
Douvalor: No Espaço Cultural Alberico Rodrigues, situado
na Praça Benedito Calixto 159 - Pinheiros, em São Paulo - SP
(www.albericorodrigues,com.br). E o meu e-mail de contatos é
“...a música me complementou o
lado humano.”
58 SANEAS Abril a Julho de 2016
VIVÊNCIAS