Narada Purana

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NARADA PURANA por Divapavali & Bibek Debroy Tradução de Indumukhi Devi Dasi, Curitiba Julho l998 Introdução Os Puranas são textos sagrados. Junto com os dois épicos Ramayana e Mahabharata, são os repositórios de muitas histórias e crenças que fazem parte do hinduísmo. Segundo a tradição, Vedavyasa compôs os Puranas. Dizem também que compôs o Mahabharata. O Mahabharata é um épico bastante longo. Consiste de um lakh shlokas ou versos. Após compor o Mahabharata, Vedavyasa teria composto dezoito Puranas. Estes são conhecidos como mahapuranas, ou Puranas maiores. Existem diversos Puranas menores ou upapuranas. Os dezoito mahapuranas tem, entre si, quatro lakhs shlokas. Assim, Vedavyasa compôs cinco lakhs shlokas. Sem levar em consideração o que a tradição mantém, os estudiosos insistem que um só indivíduo não poderia e não compôs todos esses textos. De fato, os textos não foram compostos num só ponto no tempo na realidade. Uma vez que houvesse um texto original, vários autores continuavam a adicionar suas próprias composiçöes e histórias ao original, através dos tempos. Estes adendos posteriores são conhecidos como interpolaçöes. Infelizmente, para efeito prático, agora fica impossível de determinar o que fazia parte do texto original e o que foi interpolação posterior. Logo, não se pode determinar precisamente a data da composição dos Puranas. 1

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NARADA PURANA por

Divapavali & Bibek Debroy

Traduo de Indumukhi Devi Dasi, Curitiba

Julho l998

IntroduoOs Puranas so textos sagrados. Junto com os dois picos Ramayana e Mahabharata, so os repositrios de muitas histrias e crenas que fazem parte do hindusmo.

Segundo a tradio, Vedavyasa comps os Puranas. Dizem tambm que comps o Mahabharata. O Mahabharata um pico bastante longo. Consiste de um lakh shlokas ou versos. Aps compor o Mahabharata, Vedavyasa teria composto dezoito Puranas. Estes so conhecidos como mahapuranas, ou Puranas maiores. Existem diversos Puranas menores ou upapuranas. Os dezoito mahapuranas tem, entre si, quatro lakhs shlokas. Assim, Vedavyasa comps cinco lakhs shlokas.

Sem levar em considerao o que a tradio mantm, os estudiosos insistem que um s indivduo no poderia e no comps todos esses textos. De fato, os textos no foram compostos num s ponto no tempo na realidade. Uma vez que houvesse um texto original, vrios autores continuavam a adicionar suas prprias composies e histrias ao original, atravs dos tempos. Estes adendos posteriores so conhecidos como interpolaes. Infelizmente, para efeito prtico, agora fica impossvel de determinar o que fazia parte do texto original e o que foi interpolao posterior. Logo, no se pode determinar precisamente a data da composio dos Puranas. Mas os mahapuranas parecem ter sido compostos entre os anos 300 e 1.000 DC.

Pode no ser apropriado mencionar que o nome Vedavyasa ou Vyasadeva na realidade no um nome prprio. um ttulo, conferido a algum que divide os textos sagrados dos Vedas. A prpria tradio sustenta que at hoje houve vinte e oito indivduos que tiveram o ttulo de Vedavyasa. Na concepo hindu, o tempo se divide em quatro eras - satya ou krita yuga, treta yuga, dvapara yuga e kali yuga. Conforme se passa de satya yuga para kali yuga, o mal comea a levantar sua feia cabea e a justia sofre. A fim de difundir a justia pela terra, as mensagens dos sagrados Vedas precisam ser restabelecidas e disseminadas. Com esta finalidade, tem de haver um Vedavyasa que divida os Vedas em diversas partes de modo que a informao deles possa ser assimilada convenientemente pelos mortais comuns. E assim um Vedavyasa nasce em cada dvapara yuga.

Houveram vinte e oito dvapara yugas at hoje, e portanto vinte e oito indivduos que tiveram o ttulo de Vedavyasa. O Vedavyasa do qual estamos falando, creditado por ter composto os picos e os Puranas, foi o vigsimo oitavo na linhagem. Era filho do sbio Parashara e Satyavati, e seu verdadeiro nome era Krishna Dvaipayana. Era de tez escura e passou a ser conhecido como Krishna, porque a palavra krishna significa escuro. Nasceu numa ilha ou dvipa e assim passou a se chamar Dvaipayana.

Acredita-se que haver um vigsimo nono Vedavyasa no futuro e que seu nome ser Ashvatthama. Depois disso vir a destruio.

O que exatamente constitui um mahapurana? claro que esto cheios de histrias, anedotas, rituais e injunes religiosas. Mas h cinco caractersticas (lakshana) que um mahapurana deve exibir. Isto , o texto deve descrever cinco assuntos diferentes. Estes so: o processo original da criao (sarga), o processo peridico de destruio e re-criao (pratisarga), as diferentes eras (manvantara), as histrias da dinastia solar (surya vamsha) e da lunar (chandra vamsha) e genealogias reais (vamshanucharita). O Narada Purana descreve esses cinco assuntos.

Em listas dos mahapuranas, o Narada Purana o sexto. No um Purana terrivelmente longo, e sim mais ou menos mdio. Seu texto possui vinte e cinco mil versos. Um Purana curto como o Markandeya Purana tem nove mil e um longo como o Skanda Purana possui oitenta e um mil. Os vinte e cinco mil shlokas esto arrumados em duas partes - a primeira (purva bhaga) e a subsequente (uttara bhaga). Tem trinta e oito captulos (adhyaya) no texto.

As vezes, o Narada Purana tambm chamado de vrihat naradiya purana, vrihat significando vasto. conhecido como o Narada Purana porque originalmente foi recitado pelo sbio Narada.

Os dezoito mahapuranas so divididos em trs grupos de seis cada. A Trindade hindu consiste de Brahma, Vishnu e Shiva. Brahma considerado criador, Vishnu preservador, e Shiva destruidor. Como todos trs so deuses importantes, qualquer Purana forosamente deve glorificar todos trs. Por exemplo, um Purana que descreve as encarnaes (avatara) de Vishnu glorifica Vishnu mais que Brahma ou Shiva. Os Puranas que so, nesse sentido, mais associados com Vishnu so conhecidos como sattvika Puranas. O Narada Purana um sattvika Purana. Os outros neste grupo so o Vishnu Purana, Bhagavata Purana, Garuda Purana, Padma Purana e Varaha Purana.

Um texto que descreve a criao em grande detalhe mais associado com Brahma e conhecido como rajasika Purana. E um texto que enfatiza mais rituais identificado com Shiva e conhecido como tamasika Purana.

Agora vamos direto ao que o Narada Purana tem a dizer.

Suta e os Outros Sbiosnarayanam namaskritya naranchaiva narottamam devim sarasvatinchaiva tato jayamudirayet.

Este sempre o primeiro shloka em qualquer Purana. Narayana outro nome para Vishnu. De fato, acredita-se que Vishnu nasceu como dois sbios chamados Nara e Narayana. O verso significa que, antes de ler os textos sagrados, se deve orar a Narayana e Nara, os melhores dentre os seres humanos. Tambm deve-se sempre orar a Sarasvati, a deusa do sabedoria. somente depois de terminar estas oraes que se deve comear a ler os textos sagrados conhecidos como jaya. A palavra jaya inicialmente foi usada para referir-se ao Mahabharata, porm subsequentemente veio a incluir o Ramayana e os dezoito Puranas tambm.

Havia uma floresta conhecida como naimisharanya. Shounaka e diversos outros sbios realizaram meditao (tapasya) ali. Os sbios eram todos honestos e justos. Tinham obtido controle sobre seus sentidos e sobre a fome e sede. No caam vtima do orgulho, inveja ou pena. Naquela floresta, oraram para Vishnu. Alguns sbios realizaram sacrifcios (yajna), outros meditaram na verdadeira natureza de Vishnu, e ainda outros fizeram oferendas ao grande deus.

Os sbios estavam tentando alcanar as quatro metas de dharma (justia), artha (aquilo que d sentido vida), kama (aquilo que se deseja), e moksha (liberao). Convocaram uma enorme assemblia na qual se debateria os meios para alcanar estas metas. Vinte e seis mil rishis (sbios) vieram participar desta assemblia. Quanto a seus discpulos, eram numerosos demais para serem contados.

Quando os sbios estavam ocupados discutindo e debatendo, o sbio Shounaka disse: "Gostaria de submeter algo considerao da assemblia. No longe daqui fica o eremitrio (ashrama) conhecido como siddhashrama. O sbio Suta mora ali. No preciso lembr-los que Suta discpulo de Vedavyasa e filho do grande sbio Lomaharshana. Suta erudito nos Puranas. O melhor meio de obter as quatro metas ouvir o recitar dos sagrados Puranas. Porque no vamos pedir a Suta para recitar para ns estes Puranas?"

Os outros sbios regozijaram-se com esta maravilhosa sugesto. Foram-se todos visitar Suta no siddhashrama.

Suta estava ento ocupado em realizar yajna. Aquele yajna especial era conhecido como agnishtoma e era dedicado a Vishnu.

Os sbios esperaram a cerimnia terminar. Ento falaram para Suta: "Somos teus convidados e seu dever servir-nos como visitas. Tens que nos dar o que desejamos. Estamos sedentos de conhecimento. Por favor recita para ns a sabedoria dos Puranas."

"Farei isso de bom grado" replicou Suta. "Narada recitou para Sanatkumara o maravilhoso Narada Purana. Um pecador que oua o recitar deste Purana tem todos seus pecados perdoados. Este o texto que revelarei. Por ouvir fielmente o recitar de at mesmo um verso apenas deste Purana, o pecado mais severo perdoado. A nica estipulao que o texto jamais dever ser revelado para aqueles que so maus ou que no respeitam religio. Por favor focalizem suas mentes em Vishnu e concentrem-se. Vou comear."

Narada e SanatkumaraBrahma tinha quatro filhos chamados Sanaka, Sanandana, Sanatkumara e Sanatana. Todos quatro se tornaram sbios devotados a Vishnu. Estavam sempre em busca da sabedoria e conhecimento.

Brahma tinha uma cidade no topo do Monte Sumeru. Os quatro irmos certa vez foram fazer uma visita quela cidade. Ao lado da cidade fluia um dos tributrios do sagrado rio Ganga. Este tributrio se chamava Sita. Os irmos estavam tomando banho no rio Sita, quando quem mais apareceu seno o prprio Narada?

Sanatkumara e seus irmo cumprimentaram Narada e este reciprocou.

Sanatkumara disse a Narada: "s onisciente e sabes tudo. Tambm s um devoto famoso de Vishnu. Conta-nos sobre os mistrios de Vishnu. Conta-nos sobre os mtodos pelos quais a meditao bem sucedida."

Narada orou a Vishnu e comeou o recital.

GeografiaAntes da criao, havia a grande divindade (mahavishnu) que estava em todo lugar. No tinha forma e nem expresso, nem sequer podia ser descrita. Quando a poca da criao aproximou-se, a divindade dividiu-se em trs formas. Brahma foi criado do lado direito da divindade e a tarefa designada a ele era a criao. Shiva foi criado do centro da divindade e seu trabalho era a destruio. Vishnu foi criado do lado esquerdo da divindade e a ele coube a tarefa da preservao.

Pessoas s vezes se referem divindade original como Vishnu, Shiva ou Brahma, ou mesmo como o brahman (a essncia divina). O brahman idntico com o universo, pensar de outra forma sofrer de iluso.

A contraparte feminina ou princpio da divindade chamada de Shakti. Shakti se divide em dois, vidya (conhecimento) e avidya (ignorncia). Conhecimento significa uma apreciao da identidade entre brahman e o universo. Ignorncia a ausncia de tal apreciao e a ignorncia que responsvel pelas misrias do mundo. A prpria Shakti chamada por vrios nomes. Quando identificada com Vishnu, conhecida como Lakshmi; associada a Shiva, chamam-na de Uma ou Parvati, e quando em conjuno com Brahma, chamam de Sarasvati. Mas na realidade so uma e mesma coisa s, manifestaes da mesma fora.

Brahma e Sarasvati portanto so responsveis juntos pela criao (srishti). Vishnu e Lakshmi so responsveis pela preservao (sthiti) e Shiva e Parvati so responsveis pela destruio (laya). A Shakti unificada s vezes tambm chamada de Mahamaya ou Prakriti.

O universo feito de cinco elementos (bhutas). Seus nomes so kshiti (terra), apa (gua), teja (energia), marut (vento) e vyoma (o cu).

O universo se divide em quatorze regies (bhuvanas ou lokas). Sete deles formam as regies superiores e so conhecidos como bhuloka, bhuvarloka, svarloka, maharloka, janaloka e satyaloka. H sete regies mais que constituem as regies inferiores ou submundo. Seus nomes so atala, vitala, sutala, talatala, mahatala, rasatala e patala. A palavra patala tambm usada para significar todo aquele submundo como uma regio.

Cada uma das quatorze regies possui seus prprios habitantes, montanhas e rios. A terra bhuloka e esta se divide em sete regies (dvipas). So conhecidas como Jambudvipa, Plakshadvipa, Shalmaladvipa, Kushadvipa, Krounchadvipa, Shakadvipa e Pushkaradvipa. Bhuloka tambm tem sete oceanos chamados Lavana, Ikshu, Sura, Sarpih, Dadhi, Dugdha e Jala.

Bharatavarsha fica em Jambudvipa. parte da terra que faz fronteira com o oceano de Lavana no sul e as montanhas Himalaias ao norte. Bharatavarsha um local maravilhoso de se viver, e mesmo os deuses desejam nascer nesta terra. Bharatavarsha conhecida como karmabhumi. Karma significa ao. Esta terra portanto um local onde se tem de realizar aes. Bhoga significa desfrutar ou aproveitar. Bhogabhumi um local onde os frutos de nossas aes so gozados ou apreciados. Bharatavarsha no um bhogabhumi, meramente um karmabhumi. Os frutos das aes realizadas em Bharatavarsha so desfrutados alhures. Bons atos so recompensados no cu (svarloka ou svarga) e pecados tem que ser pagos no inferno (naraka).

Nascer em Bharatavarsha significa receber a oportunidade de realizar bons atos. Uma pessoa que no aproveita esta oportunidade como algum que deixa um pote de amrita (uma bebida celestial que d vida) por um pote de veneno. Se queremos ser recompensados nos cus, devemos implacavelmente perseguir a senda do bom karma. Mas as aes no devem ser feitas visando os frutos delas. Devemo-nos dissociar dos frutos, que pertencem s a Vishnu. Este tipo de ao desapegada conhecido como nishkama karma e superior a todas outras formas de ao.

MrikanduMas nada pode ser realizado sem f. Vishnu desdenha oraes e oferendas que so feitas pelos sem f. F e devoo so como uma me. Assim como uma me o refgio de todos seres vivos, f e devoo so os refgios daqueles que esto devotados a Vishnu. Isto o que Vishnu disse para Markandeya.

Sanatkumara interrompeu Narada: "Quem era Markandeya?" perguntou, "e o que Vishnu falou para ele?"

Narada relatou as histrias de Mrikandu e Markandeya.

Havia um sbio chamado Mrikanda. Um tirtha um local sagrado de peregrinao e o local chamado shalagrama era o mais maravilhoso de todos tirthas. Mrikandu orou durante muitos anos ali. Recitou os Vedas e realizou tapasya. Considerava todas outras entidades vivas como no sendo diferentes de seu prprio ser.

Indra e os outros deuses ficaram temerosos diante da tapasya de Mrikandu. Eles mesmos foram e comearam a orar a Vishnu nas margens do grande oceano. "Senhor" oravam "por favor salva-nos desta tapasya de Mrikandu. Ele vai agradar-te com sua meditao e s o cu sabe que beno ir ento exigir. Poder expulsar-nos do cu e comear a nos oprimir."

Vishnu foi tocado pelas oraes dos deuses e apareceu diante deles. Segurava uma concha (shakha), um disco com lmina cortante (chakra) e uma maa (gada) em suas mos. Seus olhos eram como ptalas de flores de ltus e seu corpo brilhava com a refulgncia de um milho de sis. Suas vestes eram de matiz amarelo e estava coberto de jias.

Quando os deuses expressaram seus temores, Vishnu os acalmou: "Fiquem em paz" disse. "Conheo Mrikandu. Ele justo e um indivduo bom. Tenho certeza de que no tem nenhuma inteno de oprimir-vos. Somente pecadores realizam meditao a fim de obter benos que podem ser usadas para oprimir outras pessoas. Irei ter com Mrikandu e descobrirei o que ele quer."

Tendo abenoado os deuses, Vishnu foi ver Mrikandu numa visita. O sbio ficou mui contente ao ver Vishnu. Caiu aos ps de Vishnu e prestou reverncias.

"Estou satisfeito com tua tapasya" Vishnu disse para Mrikandu. "Pea a beno que desejas."

"No quero nenhuma beno" replicou Mrikandu. "Apareceste diante de mim, Tu que os prprios deuses tem dificuldade de ver. Que mais poderia querer? No tenho mais desejos."

"Isto no pode ser" redarguiu Vishnu. "Que no seja dito que Vishnu apareceu diante de um devoto e no lhe deu uma beno. Vou te dizer o que podemos fazer. Eu mesmo vou nascer como teu filho. Qualquer linhagem na qual eu naso para sempre ser abenoada. E isso o que ir ocorrer com tua linhagem tambm."

Vishnu ento abenou Mrikandu e partiu.

MarkandeyaMrikandu tinha um filho chamado Markandeya. Como Markandeya nasceu de Vishnu, brilhava com esplendor e tambm era um homem muito santo. Tornou-se bem versado no conhecimento de todos shastras (textos sagrados).

Markandeya comeou a orar para Vishnu. Vishnu ficou to satisfeito com ele que Markandeya recebeu a beno de que comporia um Purana. Este seria o Markandeya Purana.

O mundo inteiro periodicamente destrudo e inundado com gua. Na poca de tal destruio, todos seres vivos na terra foram mortos. Mas Markandeya foi poupado por Vishnu. Boiou n'gua como uma folha seca. Isso continuou por longo, longo tempo. Para entender quanto tempo foi, temos que ter alguma idia da medio do tempo.

A menor unidade de tempo um nimesha, quinze nimeshas constituem um kashtha, trinta kashthas perfazem um kala e trinta kalas so um kshana. H seis kshanas num danda, dois dandas em um muhurta e trinta muhurtas em um dia. Existem trinta dias num ms e cada ms dividido em dois pakshas de quinze dias cada. Dois meses constituem uma estao (ritu) e trs ritus constituem um ayana. Portanto temos seis estaes e dois ayanas num ano.

Os dois ayanas so conhecidos como uttarayana e dakshinayana. Um ano dos seres humanos equivale a um dia dos deuses. Uttarayana corresponde ao dia dos deuses e dakshinayana noite. Doze mil anos dos deuses so conhecidos como uma mahayuga. Cada mahayuga se divide em quatro sub-perodos de satya yuga, treta yuga, dvapara yuga e kali yuga.

Duas mil mahayugas so meramente um dia de Brahma. H quatorze eras (manvantara) em cada um dos dias de Brahma. As noites de Brahma duram o mesmo e durante a noite de Brahma que o mundo destrudo e inundado com gua. Cada um dos dias de Brahma tambm se chama uma kalpa.

Cem anos para Brahma equivalem a um dia de Vishnu.

Isto nos d alguma idia de quanto tempo Markandeya boiou nas guas, durante uma das noites de Brahma. A viso da gua por todo lugar apavorou Markandeya. Porm ele continuou a orar para Vishnu. E graas s benos de Vishnu, nenhum mal tocou Markandeya.

Vishnu at mesmo apareceu diante do sbio e disse: "Vou te salvar. Sempre protejo aqueles que oram a Mim devotadamente. Tambm vou te contar os sinais de Meus devotos fiis. Eles amam todos outros seres vivos e esto livres de inveja e dio. Nunca causam dor aos outros por meio de pensamentos, palavras ou atos. Amam a paz. Meus devotos servem bem aos sbios, convidados e pais. Constroem templos e cavam poos e lagoas. Lem e interpretam os Puranas. Na verdade, demonstras todos traos de um verdadeiro devoto de Vishnu."

Abenoado por Vishnu, Markandeya realizou bastante tapasya no tirtha chamado shalagrama.

Alguns outros Puranas declaram que Markandeya se tornou imortal devido a uma beno recebida de Vishnu. O Padma Purana contudo declara que esta beno foi recebida de Brahma. O Markandeya Purana fornece muitos detalhes mais sobre Markandeya.

GangaO mais sagrado dos tirthas a confluncia dos rios Ganga e Yamuna. Quem se banha ali obtm perptua boa sade, prospera, vive at uma idade avanada e todos seus pecados so perdoados. Mesmo os deuses e os sbios gostam muito das guas desta sagrada confluncia. O rio Ganga emerge dos ps do prprio Senhor Vishnu. (A histria disto relatada no Brahmavaivarta Purana). E o rio Yamuna a filha do deus sol Surya. (Isto relatado em muitos Puranas, tais como o Markandeya Purana. Yamuna era filha de Surya com Samjna). Sendo esta a origem destes dois rios sagrados, apenas natural que a confluncia deles seja to sagrada.

De fato, Ganga to sagrada que apenas por pensar nela, toda dor aliviada e todos pecados so perdoados. Ao longo das margens de Ganga h um notvel tirtha conhecido como Prayaga. O prprio Brahma realizou yajna ali. possvel tomar banho em todos tirthas se assim quiseres. Mas isto ir equivaler apenas dcima-sexta parte do punya que adquiririas por tocar algumas gotas da gua do Ganges. Uma pessoa que unge sua cabea com barro tirado das margens do Ganga se torna como o prprio Shiva. Estes so trs objetos sagrados a Vishnu - Ganga, o arbusto tulsi (tipo de alfavaca) e a poeira dos ps de um devoto de Vishnu.

Existem alguns outros rios nos quais Ganga est sempre presente. Seus nomes so: Godavari, Sarasvati, Kalindi, Kaveri, Krishna, Reva, Vahuda, Tungabhadra, Bhimarathi, Vetravati, Tamraparni e Shatadru.

VahuNa dinastia solar havia um rei chamado Vrika. O filho de Vrika era Vahu e este se tornou rei aps a morte do pai.

Vahu era um bom rei que seguia a senda da justia. Ele governava bem a terra. As quatro classes so: brahmanas, kshatriyas, vaishyas e shudras. desejvel que cada uma das classes siga os deveres que lhe so prescritos, seno ocorre o caos completo. Quais so os deveres prescritos para cada uma das quatro classes? O Narada Purana os detalhar subsequentemente.

Voltando ao ponto, Vahu governou to bem que durante seu reinado, ningum das classes se desviou de seus deveres pr-estabelecidos. Conforme falavamos antes, a terra se divide em sete regies ou dvipas. Em cada uma dessas dvipas, o rei Vahu realizou um ashvamedha yajna (sacrifcio de cavalo). O rei no era s sbio, mas tambm derrotou todos seus inimigos. Seus sditos eram felizes, as chuvas vinham a tempo e havia boas colheitas. Os sbios realizavam suas meditaes livres de todo temor, e o pecado virtualmente desapareceu da terra. Durante noventa mil anos o rei governou feliz.

Mas da em diante, comearam os problemas. Toda esta pompa e glria virou a cabea de Vanhu e ele comeou a pensar: "Governo todo mundo. Sou todo poderoso e realizei muitos yajnas. Porque algum mais deveria ser adorado? No sou eu quem governa at os confins do mundo? E no sou erudito nos shastras? No acho que haja algum superior a mim."

Este ego inflado era uma calamidade e trouxe outros traos maus. A posse de quatro objetos leva infelicidade: juventude, riqueza, poder sobre os outros e falta de previdncia. Infelizmente, todos quatro se combinaram no rei Vahu. Ele comeou a sofrer de inveja e cime e logo fez inimigos. No demora muito para que pessoas invejosas faam inimigos.

Dentre os poderosos inimigos com quem o rei Vahu teve contenda, havia reis conhecidos como os Haihayas e os Talajanghas. E como o rei se desviara da senda da justia, Vishnu e Lakshmi (a deusa da fortuna e prosperidade) tambm o desertaram. Aps uma feroz batalha que durou um ms, os Haihayas e os Talajanghas conseguiram derrotar o rei. Anexaram seu reino e espantaram-no para a floresta.

Yadavi, a esposa de Vahu, estava grvida naquele momento. Os inimigos de Vahu no estavam satisfeitos em apenas espant-lo para a floresta. Temiam que o filho de Vahu pudesse tentar vingar seu pai. Portanto deram a Yadavi um veneno (gara). (Esta parte no confere com o relato feito em outros Puranas, como o Padma Purana. Nesses relatos, Vahu tinha uma segunda esposa. E teria sido esta segunda esposa que deu para Yadavi o veneno.)

Vahu agora se sentia penitente por seus erros passados. Com sua esposa, tencionava buscar a paz e solido no ashrama (eremitrio) do sbio Ourva. Mas o caminho at o eremitrio era longo e o rei sofreu de fome e sede. Descobriu uma lagoa no caminho e pensou que poderia beber um pouco d'gua ali. Vahu e Yadavi saciaram a sede e descansaram sob a sombra de uma rvore que crescia junto margem da lagoa.

Nessa rvore viviam muitos pssaros. Comearam a falar entre si. "Escondam-se" diziam. "O pecador Vahu veio at aqui. melhor no olhar para ele."

O rei Vahu escutou essa conversa e sentiu-se mortificado. Descobriu que as pessoas tambm estavam criticando-o livremente. Mesmo seus sditos no ficaram todos tristes por seu reino ter sido roubado. Isto fez o rei se sentir to miservel que nem tinha mais desejo de viver. Vahu morreu assim que chegou no ashrama de Ourva.

Sua esposa queria imolar-se na pira funerria do marido.

Porm o sbio Ourva deteve-a. "Ests esperando criana e tal ato seria equivalente a assassinato" disse ele. " um crime que no posso permitir que acontea. Por favor abstenha-se do que est para fazer. Prevejo que irs dar a luz um poderoso rei."

Yadavi ouviu o conselho do sbio. Realizou os ritos funerrios de Vahu e acompanhou Ourva a seu eremitrio.

SagaraYadavi viveu no eremitrio e, no devido tempo, deu a luz um menino. Mas lembram que ela tomara veneno? O veneno no prejudicou nem a ela, nem a criana e foi expulso quando Yadavi deu a luz. Como a palavra gara significa veneno e como sa significa junto com, o beb recebeu o nome de Sagara.

Ourva se interessava muito pelo desenvolvimento do menino. Ensinou os shastras a Sagara e os deveres de rei. Quando o menino cresceu, o sbio tambm ensinou a arte da guerra. Sagara se tornou instrudo, honesto e sbio, alm de ser corajoso e poderoso.

Certo dia Sagara perguntou a sua me: "Onde est meu pai? Quem ele e onde est agora? Amaldioada a pessoa que no tem pai. Por favor conta-me onde est meu pai."

Yadavi at aquele momento ainda no contara a seu filho nada sobre o rei Vahu. Mas agora no tinha escolha. Quando Sagara veio a saber como os inimigos de seu pai tinham expulsado seus pais de seu reino, resolveu obter vingana. Pediu as benos de sua me e disse adeus a Ourva.

O rei Vahu tinha o sbio Vashishtha como principal sacerdote e guru (mestre). Assim, Vashishtha deveria ser o sacerdote e mestre de Sagara tambm. Sagara foi visitar Vashishta e recebeu as benos do sbio. O sbio tambm deu a ele diversas armas divinas chamadas aindrastra, varunastra, brahmastra e agneyastra, alm de um maravilhoso arco. Isto tornava Sagara invencvel.

Assim fortificado, Sagara fez a guerra contra os inimigos de seu pai e os derrotou. Alguns deles foram mortos imediatamente. Outros fugiram para refugiar-se em Vashishta e Sagara os seguiu at l.

"Sbio" disse ele, " melhor matar todos estes pecadores. Por favor no lhes conceda refgio. Somente os estpidos permitem que inimigos maus sobrevivam."

"No" respondeu o sbio. "Deixa que fiquem. No tem sentido esta matana insensata. Estes pecadores tero de pagar por seus erros posteriormente. Porque deverias cometer um pecado matando-os quando eles buscaram refgio?"

Sagara poupou os inimigos. Porm distribuiu castigos simblicos aos inimigos. Dentre seus inimigos estavam os Shakas e suas cabeas foram raspadas. Tambm entre os inimigos estavam os Yavanas e estes receberam ordem de a partir dali usarem cabelos longos. Quanto aos outros inimigos, seus cabelos e barbas foram raspados e receberam ordem de que no poderiam mais seguir a sagrada religio estipulada pelos Vedas.

Sagara ento foi coroado rei por Vashishtha. Ele tinha duas esposas. A primeira era Keshini, filha do rei Vidarbha. A segunda esposa se chamava Sumati.

O sbio Ourva soubera do casamento e coroao de Sagara. Veio abeno-lo. "Vou dar benos a tuas esposas" disse ele. "Uma de tuas esposas ter um nico filho e a outra ter sessenta mil. Diga-me quem quer o qu."

Keshini queria um nico filho e Sumati desejou sessenta mil. Tendo dado a beno, Ourva retornou a seu eremitrio.

Aqui temos certa inconsistncia relativa ao relato dado no Mahabharata. No Mahabharata, Sagara no teve quaisquer filhos e orou a Shiva para que pudesse ter descendentes. A beno foi dada por Shiva e no Ourva. E foi Sumati quem teve um nico filho e Keshini que teve sessenta mil.

Retornando ao relato do Narada Purana, Keshini teve um filho. Desde o nascimento, este filho j era mau. A palavra asamanjasa significa desequilibrado ou imprprio. Como este filho era mau, ficou conhecido como Asamanjasa. Enquanto isso, Sumati deu a luz sessenta mil filhos e, seguindo a liderana do irmo mais velho deles, tambm este filhos se tornaram maus.

A princpio, Sagara ignorou as ms aes de seus filhos. Tendia a dar pouca importncia a isso, acreditando serem exuberncia juvenil. Em todo caso, Asamanjasa tinha um filho chamado Amshumana que acabou sendo bem diferente de seu pai e tios. Amshumana era bom e justo.

Porm Asamanjasa e seus irmos continuaram a fazer o que queriam. Desbaratavam a realizao de yajnas e oprimiam pessoas religiosas. Apropriavam-se das oferendas que eram feitas aos deuses nos sacrifcios. Apsaras (danarinas celestiais) eram abduzidas por estes prncipes maus. Tambm roubavam flores da divina rvore parijata. Beber era o passatempo favorito deles, junto com roubalheira e assaltos. At mesmo fizeram guerra contra o prprio pai deles, Sagara. preciso dizer mais?

Indra e os outros deuses comearam a conspirar para inventar maneiras de provocar a destruio de Asamanjasa e seus irmos.

Havia um sbio chamado Kapila que era devotado a Vishnu. Era to poderoso que parecia o prprio grande Vishnu.

Kapila tinha um ashrama no submundo. Os deuses foram at l e comearam a orar para Kapila. "Grande sbio" disseram, "salva o mundo da depredao dos filhos maus de Sagara."

"No se desesperem" respondeu Kapila. "Aqueles que oprimem outros so pecadores e o destino decreta que devem logo ser destrudos. Estes prncipes logo tero de pagar por seus maus atos. Voltem para o cu e descansem em paz."

Os deuses retornaram para o cu.

Enquanto isso, o rei Sagara organizou um ashvamedha yajna. Vashishtha e outros grandes sbios atuavam como sacerdotes nesse sacrifcio. Nesse tipo de sacrifcio, um cavalo uma parte importante da cerimnia e solto para vagar por onde escolher. Indra escolheu um momento oportuno para roubar o cavalo. Depois deixou o cavalo roubado no eremitrio de Kapila no submundo.

Os filhos de Sagara deveriam tomar conta do cavalo. Quando foi dada a falta do cavalo, procuraram pelo mesmo em todos lugares. Porm em vo. O cavalo no podia ser encontrado nas sete regies (lokas) que formam as camadas superiores do universo. Os prncipes portanto concluiram que o cavalo devia estar escondido nalgum lugar no submundo. Foram para a beira do oceano. E ali, cada um comeou a cavar um buraco no cho de modo que pudessem penetrar no submundo.

Assim foi, que todos sessenta mil filhos junto com Asamanjasa entraram no submundo. E nessas regies inferiores acabaram encontrando o eremitrio do sbio Kapila. O cavalo roubado estava amarrado no eremitrio. Alheio a tudo, Kapila estava ocupado meditando.

Os prncipes concluram que era o sbio que devia ter roubado o cavalo. Comearam a amarrar Kapila. "Amarrem o ladro" exclamaram. "Atem-no e matem-no. Vejam como o ladro est meditando. Essa uma das leis do mundo. Aquele que o maior dos pecadores, finge ser os mais santo."

Os filhos de Sagara amarraram o sbio, embora isso no perturbasse a meditao de Kapila. Mas da em diante, os prncipes comearam a chutar Kapila e puxar seus braos. Isto despertou o sbio de sua meditao. Irado pela perturbao, encarou severamente os prncipes. Tal era a fria do olhar de Kapila que os prncipes imediatamente foram incinerados e viraram cinzas. As chamas eram to terrveis que emanavam dos olhos de Kapila, que as cobras que viviam no submundo, fugiram dali e buscaram refgio nas guas do oceano.

O sbio Narada trouxe a notcia desta desgraa para o rei Sagara. Porm o rei no lamentou a morte de seus filhos. Ficou at meio satisfeito por seus filhos maus terem sido destrudos assim.

Mas o cavalo tinha de ser trazido de volta para que o sacrifcio pudesse completar-se. Tambm havia uma injuno de que aquele que no tinha filho no tinha direito a realizar yajnas. Sagara portanto adotou Amshumana como seu prprio filho. Ele tambm instruiu Amshumana para ir pegar o cavalo.

Asmhumana desceu ao submundo e o eremitrio de Kapila. Orou ao sbio: "Por favor perdoa meus tios e meu pai" dizia. "Os santos so por natureza clementes. So como o sndalo. Assim como o sndalo continua a soltar fragrncia mesmo aps ter sido decepado, os santo perdoam aqueles que lhes fazem mal. Por favor perdoe o pecado."

"Estou satisfeito contigo" disse o sbio. "Pea uma beno."

"Por favor revela-me alguma maneira pela qual meu pai e tios podero ascender aos cus" solicitou Amshumana. "No h nada mais que eu deseje."

"Teu neto trar dos cus o sagrado Ganga" respondeu Kapila. "Quando isso acontecer, teu pai e tios sero perdoados de seus pecados e ascendero ao cu. Agora toma o cavalo sacrificial e vai. Minhas benos esto contigo."

Amshumana retornou at Sagara e relatou tudo que ocorrera. Amshumana teve um filho chamado Dilipa, e o filho deste era Bhagiratha. Foi Bhagiratha quem trouxe dos cus o rio Ganga.

Um dos descendentes de Bhagiratha era o rei chamado Sudasa. O filho de Sudasa era Mitrasaha, tambm conhecido como Soudasa. Vashishtha amaldiou Soudasa de que se tornaria um rakshasa (demnio). Mas assim que Soudasa tocou a sagrada gua do Ganga, retornou sua forma humana.

SoudasaOs sbios interromperam Suta. "Ests indo rpido demais" reclamaram. "Quem era esse Soudasa e porque foi amaldioado pelo sbio Vashishtha? Como pode continuar sem nos contar a histria toda?"

Suta aquiesceu.

Soudasa era um rei. E como rei ele era bom e justo. Era bem versado nos shastras. Abenoado com boa fortuna, tinha muitos filhos e netos e era excessivamente rico. Governou feliz por trinta mil anos.

Certa vez o rei Soudasa foi para a floresta caar. Com ele vinham seus soldados e ministros. Mas, ao perseguir um veado negro, Soudasa separou-se de seus companheiros. Sua perseguio levou-o a um local na floresta onde encontrou dois tigres brincando. Com uma flecha, o rei matou um dos tigres. Antes de morrer, o tigre adotou a forma de um rakshasa gigantesco.

"Vou fazer minha vingana" disse o outro tigre e desapareceu.

Soudasa ficou mistificado ante essas duas ocorrncias. Tambm ficou ligeiramente temeroso. Quando novamente reuniu-se a seus companheiros, relatou a todos o que acontecera. Com ligeira dvida, a comitiva retornou capital.

Aps passarem-se alguns dias, o rei decidiu organizar um sacrifcio de cavalo. Vashishtha e outros sbios foram convidados a atuar como sacerdotes principais. Aps o yajna terminar, Vashishtha foi-se, para tomar banho.

Enquanto isso, o rakshasa que estava na forma do tigre apareceu diante de Soudasa. Mas agora estava disfarado de Vashishtha e o rei no percebeu o logro.

"Rei" disse o rakshasa, "v conseguir uma carne cozida para minha refeio. Vou tomar meu banho."

Soudasa instruiu seu cozinheiro para atender o pedido. O rakshasa ento adotou a forma do cozinheiro de Soudasa e trouxe para o rei uma carne humana cozida. Soudasa no percebeu isso e esperou pacientemente que o sbio retornasse.

Quando o verdadeiro Vashishtha voltou aps terminar o banho, Soudasa serviu-lhe a carne humana.

Vashishtha claro, reconheceu a carne como sendo humana e ficou furioso. "Rei audacioso!" exclamou, "como ousa servir-me carne humana? Isso alimento de rakshasa. Por esse pecado, amaldio-te a virar um rakshasa e viver de carne humana."

O rei no entendeu o que estava acontecendo. Mas atravs de seus poderes, Vashishtha acabou descobrindo que o caso todo no fora culpa do rei. Este fora enganado por um demnio. Quando Soudasa percebeu isso, levantou-se sua ira. Achou que seu guru (mestre) Vashishtha o amaldioara injustamente. Soudasa portanto preparou-se para amaldioar o sbio.

Mas a esposa do rei, Madayanti, interveio. "Voc perdeu o bom senso?" disse ela. "Como pode amaldioar teu prprio guru? Controla tua ira. O que estava destinado a te acontecer, ocorreu. Como pode culpar Vashishtha por isso?"

As palavras de Madayanti refrearam a ira de Soudasa. Porm o ato de amaldioar requer pegar um pouco d'gua nas mos. Mantras (encantamentos) ento so cantados por cima dessa gua. O que iria acontecer com essa gua sobre a qual Soudasa havia cantado encantamentos? Ela se tornara santificada e estava energizada.

Soudasa lanou a gua em seus prprios ps. A gua sagrada imediatamente enegreceu os ps do rei. Como a palavra kalmasha significa negro e pada significa ps, Soudasa da em diante ficou conhecido como Kalmashapada.

O rei tocou os ps de Vashistha e implorou por perdo. "Por favor perdoa-me" suplicou.

Vashishtha agora estava consternado ante sua ira. Percebeu que fora apressado e que punira o rei por uma falta que no cometera. "Uma maldio uma vez lanada no pode ser revogada" disse para Soudasa. "Mas tu no permanecers um rakshasa indefinidamente. A durao da maldio ser por um perodo de doze anos. Depois de terminar esse perodo, a gua sagrada do rio Ganges te purificar e poders retornar a tua forma humana."

O infeliz rei retirou-se para a floresta como um rakshasa. Vivia de veados, lagartos, aves e seres humanos. Quando todos seres vivos na floresta tinha sido comidos, mudou-se para outra floresta. Assim continuava e Soudasa o rakshasa mudava-se de floresta em floresta.

Eventualmente o demnio chegou s margens do rio Narmada. Um sbio e sua esposa viviam nas margens do rio. Soudasa agarrou o sbio e preparou-se para devor-lo.

A esposa do sbio suplicou ao demnio que poupasse a vida de seu marido. "No s um rakshasa realmente" disse para o rei. "Nasceste kshatriya (a segunda das quatro classes) e eras um rei. Por favor lembra que pertences grande dinastia solar, e que s o rei Mitrasaha ou Soudasa. Por favor lembra da senda do dharma. Sou como se fosse tua filha. Protege-me e poupa meu marido."

Soudasa nem ligou para essas palavras. Comeu o sbio.

A esposa do sbio ento amaldiou Soudasa. "No escutaste minhas splicas" disse ela. "Por causa disso, vou te amaldioar. Morrers quando encontrares tua esposa. Alm do mais, continuars sendo um rakshasa por muito tempo."

"Cometi apenas um pecado" retrucou Soudasa. "No entanto amaldioaste-me a morrer quando encontrar minha esposa. Essa a primeira maldio. Tambm me amaldioaste a permanecer rakshasa por um tempo muito longo, o que a segunda maldio. Meu nico pecado tem sido o de comer teu marido. Duas maldies para um pecado muito imprprio. Consequentemente eu te amaldio. Tornar-te-s um pishacha (demnio)."

Agora havia dois demnios que perambulando por ali: Soudasa e a esposa do sbio. Esses dois demnios chegaram s margens do rio Narmada. Numa rvore banyan que ficava prxima ao rio, vivia um terceiro rakshasa (demnio). "Quem so vocs dois?" perguntou o demnio.

Soudasa e a esposa do sbio contaram suas histrias. "E quem s?" Soudasa perguntou ao demnio.

O demnio relatou sua histria.

Ele costumava ser um brahmana (a primeira dentre as quatro classes) chamado Somadatta, que vivia no reino de Magadha. Era extremamente religioso e devotado aos Vedas. Mas infelizmente, aconteceu de insultar seu guru e recebeu a maldio de virar um rakshasa.

Tendo trocado dados sobre suas vidas passadas, os trs demnios continuaram a viver ali.

Certo dia, um brahmana do pas de Kalinga acabou chegando at aquele local. O nome do brahmana era Garga. Os trs demnios viram Garga vindo e regozijaram-se. "Chegou a comida, chegou o rango!" exclamaram. Mas Garga estava ocupado cantando os nomes de Shiva e Vishnu, e os demnios nem sequer conseguiam se aproximar do brahmana. Ento dirigiram-se a Garga dizendo: "Deves ser um homem muito santo. Ns comemos diversos brahmanas, mas s o primeiro do qual nem sequer conseguimo-nos aproximar. S tu podes nos salvar. Por favor borrifa um pouco d'gua do sagrado rio Ganga em nossos corpos."

Garga ficou levemente surpreso ao ouvir esses trs demnios louvarem o rio Ganga, mas fez conforme tinham pedido. Pegou um pouco da gua sagrada numa folha de tulasi e a borrifou nos corpos dos demnios. Imediatamente, os demnios obtiveram formas divinas. A esposa do sbio e Somadatta ambos ascenderam ao cu.

Quanto a Soudasa, primeiro ele partiu em peregrinao cidade de Varanasi. Depois, retornou a seu reino e governou ali felizmente.

preciso dizer mais sobre as maravilhosas propriedades do sagrado rio Ganga?

A Tapasya de AditiHavia um brahmana chamado Kashyapa que era pai de Indra e dos outros deuses. Kashyapa casou com duas filhas de Daksha. Elas se chamavam Diti e Aditi. Os deuses (suras ou adityas) eram os filhos de Aditi e os demnios (asuras ou daityas) eram os filhos de Diti.

Os deuses e os demnios no se gostavam e brigavam entre si perpetuamente.

Os demnios tinham um rei extremamente poderoso chamado Vali. Este era filho de Virochana e neto de Prahlada.

Vali era to forte que conquistou o mundo inteiro e depois resolveu conquistar o cu anexo. To prspero era Vali, que suas riquezas so impossveis de descrever. Possua milhes de elefantes, cavalos e quadrigas, e um enorme exrcito. Seus dois ministros principais chamavam-se Kumbhanda e Kupakarna. Vali tambm tinha cem filhos que eram iguais ao pai em termos de valor e sabedoria. O filho mais velho se chamava Vana.

Assim facilmente se imagina o terror provocado por Vali invadir o cu. Ameaados por um cerco, os deuses saram para lutar. Foi terrvel a guerra empreendida. Incontveis flechas escureciam o cu. As rodas das quadrigas troavam, cavalos relinchavam, elefantes trombeteavam, e som dos arcos retezados zunia enchendo o campo de batalha. Todos seres vivos temiam que o universo estivesse prestes a ser destruido. Os demnios lanavam montanhas contra Indra e o rei dos deuses por sua vez destrua-as com suas flechas. Elefantes lutavam com elefantes, cavalos contra cavalos, e quadrigas contra quadrigas. O sangue corria livremente e corpos mortos se amontoavam no campo de batalha.

Por mil anos continuou essa luta. Mas eventualmente, os demnios derrotaram os deuses. Os deuses se viram forados a fugir do cu e comearam a viver na terra em disfarces humanos.

Vali no era m pessoa. Era na verdade bastante devotado a Vishnu. Realizou yajnas e governou as trs regies do cu, da terra e do submundo. Governava bastante bem.

Mas Aditi ficou muito consternada de ver seus filhos sofrendo assim. Ela desejava que os demnios pudessem ser vencidos e que Indra pudesse ser reempossado no cu. Por isso ela se retirou nos Himalaias e ali comeou a orar para Vishnu. Ela meditava sentada e meditava de p. Durante parte de sua tapasya ficou de p numa perna s, e por mais algum tempo equilibrava-se sobre seus dedos do p. Por mais algum tempo comia s frutas, depois s folhas e mais tarde ainda, sustentava-se com gua. Eventualmente, Aditi deixou de comer e de beber completamente. Por mil anos ela orou a Vishnu desta maneira.

Vali acabou sabendo da meditao de Aditi e enviou seus companheiros para distrai-la. Esses demnios apareceram diante de Aditi disfarados de deuses e disseram: "Me, por favor abandona essa meditao to difcil. Teu corpo est sofrendo. Ests tentando fazer tudo isso para ns. Mas como pensas que iremos sobreviver se nossa me morrer? Por favor desista."

Mas Aditi no escutou suas splicas. Continuou a orar e isso irritou os demnios. Dessa ira surgiu fogo e as chamas ameaaram engolir Aditi. Mas tal era o poder da tapasya de Aditi que o fogo no conseguia causar-lhe dano. Em vez disso, as chamas queimaram toda floresta e todos demnios que ali se reuniram para perturbar Aditi.

Vali e a Encarnao AnAfinal, Vishnu apareceu diante de Aditi.

"Estou muito satisfeito com tua tapasya" disse ele. "Qual a beno que desejas?"

"Tu s o senhor de tudo" respondeu Aditi. "Por favor salva meus filhos dos demnios."

"Ser como desejas" disse Vishnu. "Nascerei como teu filho. E nessa forma trarei a salvao a teus filhos."

Aps alguns dias, Aditi deu a luz um menino que era conhecido como vamana (um ano).

Enquanto isso, Vali principiara um yajna e o principal sacerdote nesta cerimnia sacrificial era o guru de Vali, Sukracharya. Diversos sbios vieram participar desta cerimnia e assim tambm o ano.

Sukracharya percebeu que o ano no era outro seno Vishnu e tentou avisar Vali. "Tenha cuidado" disse. "Esse vamana Vishnu. No lhe conceda nenhuma beno ou prometa nada. Tenho certeza de que veio at aqui para enganar-te."

"Isso impossvel" respondeu Vali. " minha boa fortuna que Vishnu tenha vindo at aqui para agraciar minha casa. Como posso recusar-lhe o que deseja?" Ento ele foi at o ano e disse: "Como sou abenoado por teres vindo. Por favor diga-me como posso servir-lhe?"

"Preciso de um pedao de terra para fazer minhas oraes" respondeu o ano. "Por favor conceda-me um pedao de terra do tamanho de trs das minhas passadas."

Esta beno Vali concedeu. Mas assim que fora concedida, o vamana comeou a crescer. Vishnu colocou seu primeiro passo no cu e o segundo sobre a terra. Como no havia mais espao restante, o terceiro passo foi colocado no mundo de Brahma, Brahmaloka. Mas no processo, o universo rasgou-se e muita gua surgiu do centro do universo (brahmanda). Essas guas lavaram os ps de Vishnu e se derramaram sobre o Monte Sumeru. Assim formaram o sagrado rio Ganga.

Que se poderia fazer com Vali? No havia mais lugar para ele morar. Satisfeito com a generosidade de Vali, Vishnu concedeu-lhe a beno de poder morar no submundo com os outros demnios.

Bhagiratha e o GangaNa linha de Sagara, havia um rei chamado Bhagiratha. Era um rei veraz e justo. Regularmente realizava sacrifcios. Tambm era belo, corajoso e sbio. O prprio deus Yama veio ver que tipo de pessoa Bhagiratha era.

O rei adorou Yama com oferendas e disse: "Como sou abenoado por um grande deus como tu vir visitar um mero mortal como eu. Por favor fala-me sobre dharma (justia). Quais so as caractersticas daqueles que so justos? Fala sobre os pecados. O que acontece com os pecadores?"

Yama falou a Bhagiratha sobre os atos que trazem punya (acmulo de mritos).

O maior punya obtido por doar bens aos brahmanas. Ou por fornecer-lhes emprego. Outro ato bondoso providenciar a escavao de uma lagoa. Tambm se obtm punya por construir templos dedicados a Shiva e Vishnu. O melhor templo aquele feito de ouro. De grau progressivamente inferior so aqueles de cobre, cristal, pedra, tijolos e madeira. Quem mantm uma lagoa, um templo ou um vilarejo tambm realiza atos bons. Fazer doaes de gado ou terra tambm traz punya. Outros atos bons so estabelecer jardins e plantar rvores. Qualquer pessoa que plante uma rvorezinha de tulasi ser eternamente abenoada. Os pecados so perdoados se a pessoa usa uma gurilanda de folhas de tulasi ao redor do pescoo. Quem banha a imagem de Vishnu com leite ou manteiga clarificada certamente ser levado para o cu. As imagens tambm podem ser banhadas com leite de cco ou suco de cana-de-acar. As imagens de Shiva tambm devem ser banhadas assim. Um tithi um dia lunar. A quinzena lunar durante a qual a lua aumenta se chama shuklapaksha e a quinzena lunar durante a qual a lua mingua se chama krishnapaksha. Certos tithis especficos so particularmente auspiciosos para banhar imagens de Vishnu e Shiva. Exemplo: panchami (quinto dia da quinzena lunar), ashtami (oitavo dia), ekadashi (dcimo primeiro dia), dvadashi (dcimo segundo dia), e caturdashi (dcimo quarto dia) do shuklapaksha. Purnima (dia de lua cheia) e eclipses solares e lunares tambm so ocasies auspiciosas.

Pode se obter punya por doar alimento aos esfomeados e gua aos sedentos. Uma pessoa que doa esses objetos nunca tem que ir para o inferno (naraka). Outro ato bom massagear os ps de convidados com leo. Qualquer pessoa que ajude os brahmanas ou que doa vacas para eles abenoada. Quem protege os que buscam refgio tambm obtm bastante punya.

A importncia de fazer doaes nunca poder ser enfatizada demais. Alm de vacas, tambm se pode doar bfalos. Outros objetos que podem ser doados so o coalho, leite, manteiga clarificada, mel, cana-de-acar, objetos fragrantes, flores, frutos e melado. Conhecimento (vidya) tambm um objeto que vale a pena doar. Ouro, jias e pedras preciosas tambm qualificam-se para doaes. Imagens de Shiva (linga) e Vishnu (shalagrama) tambm devem ser doadas.

H outros traos que caracterizam aqueles que adquiriram punya. Eles no criticam outros e preferem associar-se com pessoas que so justas. Conseguiram controlar seus sentidos e no so muito viciados em alimento. Servem bem aos convidados, brahmanas e mestres. Vishnu e os outros deuses esto sempre na mente deles.

A seguir Yama falou a Baghiratha sobre pecados, e os vrios infernos (narakas) onde os pecadores tem que sofrer.

Infernos so locais terrveis e existem diversos de tais narakas. Os nomes de alguns destes infernos so Tapana, Valikakumbha, Rourava, Maharourava, Kum-bhipaka, Nirucchvasa, Kalasutra, Pramardana, Bhishana, Asipatravana, Lalabhakshya, Himotkata, Mrishavastha, Vasakupa, Shvabhakshya, Mutrapana, Purishahrada, Taptashula, Taptashila, Shalmali-druma, Shonitakupa e Shonitabhojana.

Em alguns desses infernos os pecadores so forados a comer sua prpria carne. Noutros, so queimados por fogo. Nalguns infernos chovem pedras e armas sobre os pecadores. Narakas podem ser extremamente quentes ou extremamente frios. Pecadores so alimentados com ferro derretido. So dependurados de cabea para baixo. Em alguns infernos, pecadores so arremessados dos cumes das montanhas. Vermes se alimentam dos pecadores e estes so forados a se deitarem sobre brasas. O tempo todo, os servos de Yama batem nos pecadores com clavas. Seus corpos so cortados com espadas e mordidos por cobras. Soltam escorpies em cima dos pecadores. Chacais e tigres se alimentam de sua carne. H tantos tipos de misrias nos infernos que levaria mil anos para catalogar todas elas.

Pecadores so aqueles que matam brahmanas, bebem vinho ou roubam ouro. pecaminoso criticar brahmanas ou ancios. Quem promete fazer doaes mas volta atrs na palavra, tambm comete um crime. Um egosta um pecador. proibido lidar com a medicina ou astrologia sem conhecer os shastras. Quem interpreta os shastras sem conhec-los um pecador. Calnia, vaidade, mentira, fraudulncia e assassinato so crimes. Quem compartilha de alimento oferecido por um shudra (quarta das quatro classes) um pecador. Ladres esto fadados a serem punidos. Quem se associa com um pecador se torna pecador por contaminao.

Pecados podem ser expiados realizando-se penitncias (prayaschitta). Mas h alguns pecados para os quais no existe penitncia. Um pecado assim adorar uma imagem de Shiva ou Vishnu que foi adorada por um shudra ou por uma mulher. Shudras e mulheres no podem tocar em imagens de Shiva e Vishnu. Quem assassina um brahmana pode realizar prayaschitta para seu pecado. Mas no existe penitncia para quem odeia brahmanas. Isso tambm se aplica a quem critica seu mestre ou os sagrados Vedas. Um brahmana que se desvia para o poo do budismo no pode esperar ser salvo atravs da penitncia.

Depois que os pecadores pagam seus pecados no inferno, nascem novamente. Quem comete um pecado severo primeiro nasce como rvore. Em sucessivos nascimentos, depois nascer como verme, cobra, animal e como algum que no acredita nos Vedas. Eventualmente, nascer como um pobre brahmana. Outros pecadores passam sete vidas como burros, dez vidas como cachorros e porcos, cem anos como vermes, cem anos como ratos, e doze vidas como cobras. Mil vidas depois disso so passadas como veados, antes que os pecadores finalmente nasam como vacas. Depois tem que passar sete vidas como chandalas (prias), dezesseis vidas como shudras, duas vidas como kshatriyas e duas vidas como vaishyas (terceira das quatro classes). A seguir, os pecadores nascem como brahmanas, porm apenas como brahmanas pobres e doentes.

Vishnu salva os seres humanos de todo mal. Os frutos de todas aes devem ser oferecidos a Vishnu. Devoo a Vishnu de importncia primordial, porm existem diferentes tipos de devoo a Vishnu. Os trs elementos bsicos (gunas) so sattvika, rajasika e tamasika. Sattvika guna santificada e pura, rajasika guna apaixonada e tamasika guna torpe. Assim sattvika guna superior, rajasika guna mediana, e tamasika guna inferior.

Diferentes tipos de devoo a Vishnu devem sua nomenclatura a estes trs elementos. Uma pessoa que ora a Vishnu pela destruio de outra adhama-tamasa. Um devoto que finge orar a Vishnu madhyama-tamasa. Uma pessoa que pega devoo por Vishnu ao observar outros orando uttama-tamasa. Um devoto adhama-rajasa exige fortuna de Vishnu como recompensa por sua devoo; um devoto madhyama-rajasa exige fama por grandes feitos e um devoto uttama-rajasa deseja libertar-se de todas iluses. Um devoto que ora para expiar seus pecados um adhama-sattvika. Quem ora porque Vishnu ama tais oraes um madhyama-sattvika. E um devoto que ora somente pela devoo um uttama-sattvika. Esta lista portanto tem nove tipos de devoo a Vishnu. Mas ainda existe um outro tipo de devoo a Vishnu, e esta a melhor forma de devoo que poderiamos imaginar. Chama-se devoo uttamottama e ocorre quando o devoto no sente nenhuma diferena entre ele mesmo e Vishnu. H completa unio e identificao.

Concluindo o relato, Yama falou a Bhaghiratha: "Rei, respondi todas tuas questes. Seja justo e prspero. Governa bem e seja devotado a Vishnu. Mas no esquea que no existe diferena entre Vishnu e Shiva, so um s e mesmo ser. Teus antepassados eram maus e agora esto apodrecendo no inferno. Eles sero libertados quando as guas do rio Ganges tocarem suas cinzas. Abeno-te. Agora pode seguir teu caminho."

Yama partiu. Bhagiratha resolveu que faria tapasya a fim de trazer o Ganga do cu. Consequentemente, foi para os Himalaias meditar.

(Aqui o Narada Purana se torna meio confuso. Tendo dito que Bhagiratha foi para os Himalaias meditar, fala que o rei foi para as margens do rio Godavari. Os relatos do Ramayana e do Matsya Purana no so assim ambguos, ao dizerem que Bhagiratha foi para os Himalaias.)

Retornando ao relato do Narada Purana, Bhagiratha foi para as margens do rio Godavari, onde o sbio Bhrigu tinha um lindo eremitrio. Na floresta prxima viviam cervos negros, elefantes e javalis. Aves chilreavam nas rvores, paves danavam em alegre xtase. A floresta era cheia de rvores e flores.

Bhagiratha adorou Bhrigu e disse: "Grande sbio, s bem versado no dharma e versado nos shastras. Por favor diga-me como posso agradar o Senhor Vishnu."

"Rei" respondeu Bhrigu, "de fato s santo. Se no fosse o caso, no terias pensado em tentar salvar teus antepassados. Seja veraz, no minta, e sempre te associa com aqueles que so bons. Abandona todo pensamento de violncia. E mais importante de tudo, sempre medita em Vishnu. Isso te trar punya."

"O que a verdade?" perguntou Bhagiratha. "Que no-violncia? Quem so as pessoas que so boas? Que punya? Como se procede para adorar Vishnu? Grande sbio, s bem versado no conhecimento de todos os shastras. Trata-me como um filho e conta para mim as respostas a todas essas perguntas."

Bhrigu aquiesceu. Falou para Bhagiratha que a verdade consistia em dizer aquilo que estava em consonncia com os ditames da religio e no a contradissesse. Atos no-violentos so aqueles que no causam dano a nenhum ser vivo. Os maus so aqueles que tratam outras pessoas como inimigos, so contra religio e tambm so estpidos. Quem no for mau, bom. E assim faz o que certo, segue os Vedas e realiza atos que so benficos a outros seres vivos. Tudo que pessoas boas fazem constitue punya. No h ritos prescritos para adorar Vishnu. A melhor forma de adorao realizar que Vishnu est em todos lugares no universo, que a causa de tudo, e que todo ser vivo est completamente identificado com Vishnu.

Armado dessa sabedoria, Bhagiratha disse adeus a Bhrigu e foi para a floresta meditar. Aps passar algum tempo na floresta, foi para os Himalaias. O rio Ganga flua ali, num tirtha (local de peregrinao) chamado Nadeshvara.

Foi ali que Bhagiratha decidiu meditar. A tapasya que realizou era extremamente dificil. Vivia de frutas e razes e fazia oferendas de folhas, flores, frutos e gua a Vishnu. Diversos anos se passaram. Bhagiratha a seguir comeou a controlar sua respirao atravs da tcnica do pranayama. Por sessenta mil anos Bhagiratha orou desse modo. To difcil era sua meditao que comeou a sair fumaa das narinas de Bhagiratha.

Os deuses ficaram temerosos ante essas ocorrncias. Ficaram preocupados que Bhagiratha pudesse obter uma beno como recompensa por sua tapasya e tentar despoj-los do cu. Os deuses portanto foram para as margens do norte do oceano conhecido como Kshiroda e comearam a orar para Vishnu. Vishnu apareceu diante deles e assegurou-lhes que Bhagiratha no possua tais ms intenes. Em todo caso, iria verificar o que que Bhagiratha queria.

Vishnu portanto apareceu diante de Bhagiratha e o rei quedou-se diante dos ps de Vishnu em reverncia.

"Bhagiratha" disse Vishnu. "Sei que desejas salvar teus antepassados. Shiva no diferente de mim, realmente somos um s ser. Por favor ora a Shiva. Ele far o que desejas."

Depois de Vishnu partir, Bhagiratha comeou a orar a Shiva. Shiva apareceu diante do rei. Tinha cinco cabeas e dez braos, e portava uma lua crescente em sua testa. Cobras pendiam como guirlandas ao redor de seu pescoo e usava uma pele de elefante como vestimenta.

"Bhagiratha" disse Shiva, "estou satisfeito com tua meditao. Pea uma beno. Concedo-te a beno de que sers prspero e que obters eterno xtase."

"Senhor" retrucou Bhagiratha, "se de fato ests satisfeito comigo, concede-me a beno de que o sagrado rio Ganga possa ser trazido do cu. Desejo salvar meus antepassados."

Shiva concedeu a beno.

Bhagiratha comeou a retornar e o rio Ganga seguiu o rei por onde quer que este fosse. por esta razo que o rio tambm conhecido como o Bhagirathi. Bhagiratha guiou o rio ao local onde ficava o eremitrio de Kapila, isto , o local onde seus antepassados tinham sido cremados at virarem cinzas. Assim que a gua do sagrado rio tocou estas cinzas, os filhos de Sagara foram libertados do inferno e ascenderam aos cus.

(O relato no Narada Purana difere ligeiramente daqueles feitos no Ramayana e no Matsya Purana. Nesses relatos, Bhagiratha primeiro orou a Brahma. Foi Brahma que pediu ao rei que orasse a Shiva e o satisfizesse.)

VratasUm vrata um rito religioso realizado numa ocasio especial. O Narada Purana a seguir descreve diversos de tais importantes vratas.

Um destes ritos conhecido como ekadashi vrata, assim chamado porque realizado no ekadashi tithi (dcimo primeiro dia da quinzena lunar). O rito observado no ms de Agrahayana, durante suklapaksha. Faz-se viglia pela noite toda e pela manh se banha uma imagem shalagrama com leite. Sementes de gergelim tambm devem ser oferecidas a um fogo e oferendas de alimento so feitas para Vishnu e Lakshmi. Brahmanas tem de ser convidados e alimentados e tambm recebem doaes.

Tambm so recomendados ritos semelhantes no dvadasi tithi (dcimo segundo dia da quinzena lunar), durante suklapaksha e nos meses de Pousha e Palguna. De fato, tais ritos podem ser observados em todos meses, no ekadashi tithi e dvadasi tithi. Observar estes vratas traz punya que excede em muito qualquer punya que se obtenha por realizar famosos yajnas.

Existe outro vrata que os brahmanas, kshatriyas, vaishyas, shudras e mesmo mulheres podem observar. Conhecido como pournamasi vrata porque realizado no dia da lua cheia (purnima), pode ser observado em qualquer ms. Observ-lo significa orar a Vishnu e Lakshmi com um corao puro. Deve-se cantar mantras e recitar os Puranas. Devem-se oferecer ao fogo arroz, sementes de gergelim, e manteiga clarificada. Depois que isso termina, brahmanas so convidados e alimentados. melhor se o rito for observado no ms de Kartika. Essa uma ocasio auspiciosa para construir um templo dedicado a Vishnu. Narayana outro nome para Vishnu. Como se ora a Vishnu e Lakshmi, este vrata tambm conhecido como lakshminarayana vrata.

Um vrata chamado dhvajarohana recomendado para todos, independente de ser homem ou mulher, ou classe a que pertence. Uma dhvaja uma bandeira e hastea-se uma bandeira no topo de um templo de Vishnu no decorrer deste vrata. Durante suklapaksha e no ms de Kartika, Vishnu tem que ser adorado primeiro e quatro brahmanas devem ser convidados para atuarem como sacerdotes. O sol, a lua e Garuda tambm tem que ser adorados. Entre as oferendas prescritas temos turmerique, arroz de gro longo e flores cheirosas. Alm disso, cento e oito tigelas de pudim de arroz e manteiga clarificada tem que ser oferecidas ao fogo. A bandeira pode ser erigida no topo do templo ou no porto principal. Enquanto a bandeira esvoaar ao vento, os pecados da pessoa que erigiu a bandeira so perdoados.

SumatiH muitos anos, na satya yuga, havia um rei chamado Sumati. Nascera da dinastia lunar. O rei era belo e justo e governava as dez regies do mundo. Sumati nunca mentia e era to hospitaleiro que nunca recusava nem mesmo um co como convidado.

Sumati era devotado a Vishnu e assim tambm sua esposa Satyamati. O rei e sua esposa tambm eram jatismaras, isto , conseguiam lembrar-se dos incidentes de suas vidas anteriores. Sumati e Satyamati alimentavam os pobres, cavavam poos e fielmente observam o dhvajarohana vrata. Em tais ocasies, Satyamati costumava danar no templo de Vishnu.

Havia um sbio de nome Vibhandaka. Ele e seus discpulos certa vez vieram visitar esse santo casal. O rei e a rainha ficaram encantados e deram as boas vindas ao sbio com oferendas. "Estamos satisfeitos por teres vindo nos visitar" disseram. "Por favor diga-nos que podemos fazer por ti?"

Vibhandaka abenou-os e replicou: "Muito bem dito. No s sois santos, porm tambm modestos. A modstia est na base de todas virtudes. Estou muito contente por ter vos encontrado. No h nada que possais fazer por mim, exceto fornecer a resposta a duas questes. Porque observais to fielmente o dhvajarohana vrata e porque Satyamati dana no templo de Vishnu?"

Sumati recontou a histria do passado deles para benefcio do sbio.

Numa vida anterior, Sumati era um shudra chamado Matuli que era ruim. Matuli prejudicava outras pessoas e roubava oferendas que eram destinadas aos deuses. Como era um pecador, era pobre e perdeu todos seus filhos. Seus amigos tambm desertaram-no. Matuli ento retirou-se para a floresta e sobrevivia de carne de veado.

Numa ocasio em particular, Matuli estava com muita fome e sede e chegou a uma lagoa no meio duma floresta. Havia um templo de Vishnu ao lado da lagoa e cisnes e gansos brincavam na gua. Matuli satisfez sua fome com talos de ltus e tambm mitigou sua sede. Comeou a viver naquele templo dilapidado e reparava partes dele. Construiu uma casa para si prxima ao templo e adotou a profisso de caador.

Vinte anos se passaram.

Havia uma mulher chamada Kokilini que havia nascido como filha de um caador. Kokilini foi abandonada por seus amigos e parentes e chegou na floresta, sofrendo de fome e sede. Matuli ofereceu-lhe frutas e carne e gua. Descobriu que Kokilini provinha da regio conhecida como Vindhyas. Ela era filha de um caador chamado Dambhika e tinha feito toda sorte de coisas ms em sua vida. Mas uma vez que seu marido morrera, seus amigos e parentes a abandonaram e ela no tinha para onde ir.

Matuli casou com Kokilini. viveram ali e frequentemente se embebedavam de vinho. Nessas bebedeiras, tinham o hbito de danar no templo. Durante um desses arroubos, acabaram morrendo e os servos de Yama chegaram para levar Matuli e Kokilini para o inferno.

Mas Vishnu se agradara da dana deles. Os servos de Vishnu tambm chegaram e no queriam permitir que Matuli e Kokilini fossem levados para naraka. Afirmavam que esses dois eram os queridos de Vishnu, e portanto, todos seus pecados tinham sido perdoados.

Kokilini tinha agradado a Vishnu com suas danas. Quanto a Matuli, este erigira uma bandeira no templo durante o decurso das obras de reparos que fizera. Isso implicara na observncia de dhvajarohana vrata. Os dois grupos de servos debateram. Finalmente, os servos de Vishnu levaram Matuli e Kokilini a Vishnuloka, a morada de Vishnu. Aps divertirem-se ali por milhares de anos, Matuli e Kokilini haviam nascido como Sumati e Satyamati.

Eles nasceram como jatismaras e lembravam de tudo que transcorrera dantes. Sumati portanto continuou a observar o dhvajarohana vrata e Satyamati continuou a danar no templo de Vishnu.

Outros VratasH um vrata chamado haripanchaka. Este observado no dvadasi tithi durante suklapaksha e no ms de Margashirsha. A imagem de Vishnu tem de ser banhada e tem que ser feitas oferendas de incenso, flores e folhas de betel. Durante quatro dias sucessivos se ora a Vishnu, comeando pelo dcimo segundo dia da quinzena lunar at o dia de lua cheia. Depois disso, deve-se convidar brahmanas e aliment-los. O rito observado todo ms a comear com Pousha e terminando com Kartika. O punya adquirido por observar este vrata equivalente ao punya obtido por doar milhes de vacas.

Existe outro vrata que observado no dashami tithi (dcimo dia da quinzena lunar) durante suklapaksha e nos meses de Ashada, Shravana, Bhadra e Ashvina. Este vrata superior a realizao de muitos yajnas.

BhadrashilaHavia um sbio chamado Galava que vivia s margens do rio Narmada. O filho de Galava se chamava Bhadrashila e era um jatismara. Bhadrashila era devotado a Vishnu. Mesmo na infncia, tinha o hbito de fazer templos para Vishnu feitos de barro e adorava Vishnu. Contava a todo mundo sobre as virtudes de observar um vrata no ekadashi tithi (dcimo primeiro dia da quinzena lunar).

Galava de fato estava muito feliz por seu filho ser devoto. Mas tambm se sentia ligeiramente mistificado. Disse para Bhadrashila: "Sou afortunado por ter um filho devoto. Teu carter est alm de qualquer censura e s devotado a Vishnu. Observas fielmente todos vratas. Como que chegaste a adquirir estes traos?"

"Isso porque lembrei das experincias de minhas vidas passadas" respondeu Bhadrashila. "Sou um jatismara. Lembro do que Yama me contou."

"Quem eras na outra vida?" perguntou Galava. "E o que foi que Yama te contou?"

Bhadrashila recontou a histria.

Bhadrashila era um rei chamado Dharmakirti, nascido na dinastia lunar. Seu guru era o sbio Dattatreya. Por nove mil anos Dharmakirti governou a terra, realizando bons atos bem como ms aes. Mas perto do fim, atraiu-se pelo mal e cometia apenas pecados. Associava-se com pessoas ms e seu punya acumulado gradualmente se esgotou. Dharmakirti abandonou a realizao de yajnas; desviou-se do caminho prescrito pelos Vedas. Sugestionados por seu rei, os sditos tambm se tornaram maus. Um rei tem direito a um sexto dos proventos de seus sditos. Assim, Dharmakirti tambm recebeu o crdito por um sexto dos pecados de seus sditos.

Certo dia, o rei empreendeu uma caada na floresta. Matou muitos veados e ficou com fome e sede. O rio Reva flua atravs da floresta e Dharmakirti se banhou no rio. Mas no havia nenhum alimento. Enquanto isso, alguns peregrinos tambm chegaram at ali e estes estavam observando um vrata de ekadashi tithi. Os ritos envolviam jejuar e ficar acordado de noite. Junto com os peregrinos, Dharmakirti tambm jejuou e ficou acordado de noite. Porm o rei estava virtualmente morrendo de inanio por falta de alimento. Quando a madrugada raiou ele morreu de fome.

Os servos de Yama chegaram para levar Dharmakirti at Yama. Seus rostos eram terrveis. A jornada at a morada de Yama levou vrios dias, porm eventualmente Dharmakirti chegou at l e foi levado diante de Yama.

Chitragupta mantm um registro de todas boas aes e pecados. Yama chamou Chitragupta e disse: "Dharmakirti foi levado at aqui. Conta-me qual o punya que acumulou e os pecados (papa) que cometeu."

"Este homem tem sido realmente mau" respondeu Chitragupta. "Contudo, acabou jejuando num ekadashi tithi. Seus pecados portanto, foram todos perdoados."

Yama convocou seus servos e comeou a repreend-los: "Que fizeram vocs?" reclamou. "Como ousam trazer uma pessoa to santa diante de mim? Vocs j sabem que no para trazer para punio pessoas que observam ekadashi vrata. Tampouco devem trazer aqueles que oram a Vishnu. Tais pessoas vo direto para o cu. Tragam para c apenas os pecadores."

Yama repetiu para Dharmakirti o que dissera para seus servos e o rei se tornou penitente por seus maus atos anteriores. Tinha, no entanto, acumulado bastante punya devido a observar ekadashi vrata. Portanto comeou a passar boa parte do tempo no cu, antes de nascer novamente como brahmana. porque lembrava de todos esses incidentes que Bhadrashila era to devoto. Compreendeu que como se podia obter tanto _punya por observar inconscientemente o ekadashi vrata, ento realmente seria grande o punya obtido por observar o rito conscientemente.

Galava considerava-se excessivamente afortunado por ser pai de tal filho maravilhoso.

Varnashrama DharmaExistem quatro classes (varna) e estas so os brahmanas, kshatriyas, vaishyas e shudras. A classe brahmana superior s outras trs. Brahmanas, kshatriyas e vaishyas s vezes so chamados de dvija ou trija. A palavra dvija significa uma pessoa que nasceu duas vezes, e trija para quem nasce trs vezes. Quando se usa a palavra dvija, estamos nos referindo a dois nascimentos aos quais estas trs classes se submetem. O primeiro o ato do nascimento fsico e o segundo a cerimnia do cordo sagrado (upanayana). Quando se usa a palavra trija, incluimos um terceiro nascimento. Este o ato da iniciao (diksha). Shudras no recebem upanayana nem diksha.

Dharma significa que cada classe deve realizar os deveres prescritos para ela. Qualquer desvio deste princpio leva a adharma (pecado). Os deveres primrios de um brahmana so fazer doaes, executar yajnas, adorar os deuses e recitar os Vedas. Deve ser devotado a Vishnu e nunca deve usar palavras ferinas. E deve encarar a propriedade de outras pessoas como sendo sem valor, igual a um monte de pedras. Os deveres primrios de um kshatriya so fazer doaes a brahmanas, recitar os Vedas e realizar yajnas. Um kshatriya tambm tem que tomar as armas e proteger o mundo. Ele encarregado da responsabilidade de punir os maus e proteger os bons. Um vaishya deve estudar os Vedas. A parte disso, os deveres do vaishya so criar animais, agricultura e comrcio. Aos shudras permitido fazer doaes, mas o dever primrio deles servir as outras trs classes. Todas quatro classes devem ter fala agradvel e devem tentar fazer o bem para os outros. Nenhum indivduo deve ficar viciado demais no cio ou em prazeres sensuais.

Em tempos de perigo ou calamidade, permitido que um brahmana passe a ter a ocupao de kshatriya ou vaishya. Similarmente, permitido ao kshatriya aceitar a ocupao de vaishya. Mas sob nenhuma circunstncia deve um indivduo pertencente s trs primeiras classes aceitar a ocupao de shudra. Uma pessoa que faz isso deve ser considerada como chandala (pria).

Quando nasce um filho, um pai tem de realizar uma cerimnia chamada nandimukha. somente depois disso que o menino pode receber um nome. Um brahmana deve realizar sua cerimnia de upanayana quando tiver oito anos de idade, um kshatriya quando tiver onze, e um vaishya quando tiver doze. Um brahmana amarra seu cordo sagrado ao redor da cintura, um kshatriya usa o cordo de seu arco para o mesmo propsito, e um vaishya usa pele de carneiro. Brahmanas podem usar peles de antlope ou cora negra, kshatriyas devem usar pele de um tipo de veado chamado ruru, e pele de cabra de bode indicado para vaishyas. Se um brahmana carregar uma vara, poder ter o comprimento at seu cabelo. Mas a vara de um kshatriya no deve se estender alm da testa e a de um vaishya no alm do nariz.

Existem quatro ashramas (estgios de vida). O primeiro chamado brahmacharya (estgio estudantil e de celibato). Durante esse perodo, um indivduo estuda os Vedas na casa de seu guru e o serve bem. Vive do alimento que consegue mendigando. H alguns objetos proibidos para tal indivduo. No pode comer mel, carne, sal e folha de betel. Tampouco lhe permitido dormir durante o dia, usar guirlandas ou chinelos ou portar um guarda-chuva. Deve ficar longe de jogatina, cantoria e dana. Quando tiver estudado bem os Vedas, o estudante est pronto para entrar no prximo estgio de vida. Mas antes disso, deve pagar uma gratificao (dakshina) para seu mestre.

O segundo ashrama o de grhasthya (estgio de chefe-de-famlia). O indivduo tem que se casar antes de entrar no segundo estgio de vida. A noiva e o noivo no devem ter parentesco mtuo at sete geraes por parte de pai e cinco geraes por parte da me. Limpeza traz grande punya para um chefe-de-famlia. Ele tambm tem que servir bem seus convidados. Um convidado que sai insatisfeito deixa sua papa (pecados) com o chefe-de-famlia e leva embora o punya do chefe-de-famlia.

O terceiro ashrama vanaprastha (estgio de morar na floresta). Um chefe-de-famlia embarca nele quando descobre que seu cabelo est ficando grisalho e sua pele enrugada. Deixa sua esposa com seus filhos crescidos ou a leva consigo e se retira para a floresta. No lhe permitido cortar as unhas ou raspar o cabelo, e tem de dormir no cho. Para alimento, permitido frutas e razes. Sob nenhuma circunstncia deve comer de noite. Seu tempo inteiro tomado pela meditao em Vishnu.

O quarto e ltimo ashrama sannyasa (estgio de eremita). Neste se embarca apenas caso a mente j esteja completamente desapegada do mundo. No tem sentido tornar-se eremita caso ainda se esteja viciado em ocupaes materiais. Um eremita deve raspar completamente sua cabea. Ele no possui amigos nem inimigos. Insultos ou louvores no significam nada para ele. Obtm seu alimento mendigando doaes. Um eremita no deve passar mais que uma noite em seguida num vilarejo, ou mais que trs noites seguidas numa cidade.

O Narada Purana a seguir descreve cerimnias funerrias (shraddha).

TithisQualquer rito religioso que envolva jejum deve ser feito num dos seguintes tithis (dias lunares): dvittya (segundo), shashthi (sexto), ashtami (oitavo), ekadashi (dcimo primeiro), chaturdashi (dcimo quarto) amavasya (noite da lua nova) e purnima (noite da lua cheia). Vratas so recomendados no suklapaksha, no no krishnapaksha. Se houver eclipse lunar ou solar, no se deve comer at que se veja o sol ou a lua novamente. Nem se deve comer por quatro horas antes de um eclipse solar e por trs horas antes de um eclipse lunar.

Prayashchitta"Mas" disseram os sbios, "que acontece se cometemos um pecado? Que forma a penitncia (prayashchitta) toma?"

Segue-se o que Suta lhes disse.

O pecado mais severo o de matar um brahmana. Isso pode ocorrer inadvertentemente. Em tais casos, o assassino tem que colocar sua mo na testa do morto e pedir perdo. Ento deve retirar-se para a floresta. Deixa seus cabelos desgrenhados e come apenas uma vez ao dia, apenas frutas e razes. Medita somente em Vishnu. O pecador tambm visita vrios locais famosos de peregrinao. Mas faz questo de contar a quem quer que encontre, que cometeu o pecado de matar um brahmana. O perodo de penitncia continua por doze anos, tempo aps o qual o pecado perdoado.

Podero ocorrer situaes em que o pecador morre antes dos doze anos se passarem. Se o pecador for morto por um veado ou se morre de doena, o pecado automaticamente perdoado. Tambm perdoado se a pessoa morre enquanto salva uma vaca ou brahmana.

A penitncia por matar um kshatriya a mesma por matar um brahmana. Alternativamente, o assassino pode imolar-se num fogo ou matar-se pulando de um local alto.

Mas falando em geral, o pecado de matar um kshatriya tem apenas a metade da severidade de assassinar um brahmana.

Um shudra que mata um brahmana deve ser espancado at a morte com uma clava.

Existem trs tipos de vinho, conhecidos como goudi, madhvi e paishti. Beber vinho proibido. Se a pessoa bebe vinho, a penitncia prescrita beber manteiga clarificada e urina de vacas. Beber vinho, de fato, um pecado to grande como matar um brahmana.

Existem vrias unidades de medida (kanchana). Quando a luz do sol vem filtrada atravs duma janela, pequenas partculas podem ser vistas. Estas so conhecidas como trasarenu. Oito trasarenus perfazem um nishka, trs nishkas so um rajasarshapa, trs rajasarshapas so um gosarshapa, trs gosarshapas so um yava, e trs yavas fazem um krishnala, sendo cinco krishnalas um masha e dezesseis mashas um suvarna. Uma pessoa que rouba ouro no valor de um suvarna de um brahmana, comete um pecado equivalente a matar um brahmana. O mesmo tipo de penitncia indicado, portanto. Alm disso, o pecado tem que passar manteiga clarificada e excremento de vaca em seu corpo. Se um kshatriya rouba ouro de um brahmana, tem de realizar um sacrifcio de cavalo. A alternativa doar para brahmanas trezentas vacas ou ouro equivalente ao peso do prprio corpo. Mas se o ladro demonstra penitncia e devolve o ouro ao brahmana imediatamente aps t-lo roubado, bastam doze dias de jejum.

A penitncia cai pela metade se o objeto roubado no for ouro, mas sim uma jia, terras ou gado.

Naturalmente, a penitncia menos se a quantia de ouro roubada no chegar a um suvarna, mas for menor. Por exemplo, se um trasarenu de ouro for roubado, basta fazer duas rondas de pranayama (um exerccio respiratrio). Se for um nishka de ouro, trs rondas de pranayama; e para um rajasarshapa de ouro, quatro rondas de pranayama. Uma pessoa que rouba um gosasharpa de ouro tem que cantar o gayatri mantra (um encantamento) mil e oito vezes. Se a quantia de ouro roubado aumentar at um yava, o mantra tem que ser cantado durante um dia inteiro. Por roubar ouro no valor de um krishnala, tem de ser observado um vrata especial chamado santapana. E nas situaes em que se roubou um masha de ouro? Ento o pecador tem que comer durante trs meses gros mergulhados em urina de vaca e adorar os deuses por um perodo correspondente. O perodo aumenta para um ano se a quantia de ouro roubado mais que um masha, mas menor que um suvarna.

Vratas separados so prescritos para roubo de prata, bronze, lato, cobre e jias. A severidade do vrata depende do objeto que foi roubado e do valor do roubo.

Uma pessoa que se associa com um pecador tem de submeter-se a penitncia. A penitncia a mesma como se tivesse cometido o pecado.

H um vrata especial chamado prajapatya. Uma pessoa que mata um mongusto, corvo, javali, rato, gato, bode, carneiro, co ou galinha, tem de observar meio prajapatya vrata. Uma pessoa que mata um cavalo tem de observar trs de tais ritos. Outros ritos so prescritos para aqueles que matam elefantes ou vacas inadvertentemente. Se uma vaca for morta conscientemente, nenhuma penitncia bastar a no ser a morte.

Uma pessoa que rouba madeira, grama, rvores, melado, carne ou peles, dever jejuar por trs dias. Uma pessoa que mata aves, tartarugas ou golfinhos jejuar por doze dias.

Yajnas e ritos religiosos so cerimnias sagradas. Se a voz de um chandala for ouvida enquanto tais ritos esto sendo realizados, recomenda-se que se jejue por um dia, purificando-se compartilhando manteiga clarificada no segundo dia. Tambm tem que cantar mil e oito gayatri mantras.

No se prescreve nenhuma penitncia para aqueles que criticam os deuses ou brahmanas. Tais pecadores no tem redeno.

Nenhuma penitncia ser bem sucedida a no ser que venha acompanhada de f em Vishnu. Os pecados so perdoados at mesmo quando se ora a Vishnu inadvertentemente. Orar a Vishnu bem superior a visitar lugares de peregrinao ou realizar rito religiosos.

A Morada de YamaA morada de Yama fica bem longe. Aqueles que acumularam punya no tem nada a temer ali. Mas os pecadores tem toda razo para ter medo. Os justos desfrutam da jornada at a morada de Yama, mas os pecadores sofrem bastante. Os pecadores sofrem de fome e sede e choram durante a viagem. Os servos de Yama continuamente batem neles com chicotes e armas. A estrada guarnecida de lama, fogo e areias quentes, geada, carvo incandescente, e chove pedras e armas. Nalguns lugares h ventos causticantes. Partes da estrada so escuras e abundam espinhos.

preciso escalar montanhas e rastejar por cavernas. Os pecadores portanto sofrem durante a viagem. Os servos de Yama espetam e cutucam os pecadores adiante, puxando-os com laos amarrados em redor do pescoo. Pesos amarrados em seus corpos tornam a viagem ainda mais difcil. As vezes so colocados antolhos para que os pecadores no possam ver. Caem em poos e buracos. durante essa jornada que os pecadores se tornam penitentes por seus erros passados. Mas naquela altura j tarde demais.

Os justos no tem motivo para temer a jornada. Viajam com muito conforto. Quem dou alimento recebe deliciosas refeies pelo caminho. Quem dou gua sacia sua sede com leite condensado. Quem dou roupas recebe belas vestes para usar. Quem dou terras e casas nem tem que caminhar. Viajam de vimanas (veculos espaciais). Isso tambm verdade para quem dou cavalos, quadrigas ou gros alimentcios.

Ao chegar na morada de Yama, as pessoas so trazidas diante de Yama. Este tem quatro mos e em trs delas segura uma shankha (concha), uma chakra (disco de bordas afiadas) e uma gada (maa). Os justos recebem as boas-vindas de Yama e so enviados para desfrutar dos frutos de seu punya.

Mas os pecadores tremem diante da face rigorosa de Yama. Ele os ameaa com seu cetro kaladanda. Sua voz troveja. Os justos enxergam a aparncia agradvel de Yama, enquanto sua aparncia terrvel reservada para os pecadores. Essa manifestao terrvel possui vinte e dois braos, olhos injetados e dentes temveis.

Chitragupta companheiro de Yama e mantm o registro de todos bons e maus atos. Ele fala para os pecadores: "Tu s mau, tens muitos pecados na tua conta. Vai sofrer no inferno, agora no adianta mais se arrepender."

Os pecadores ento so levados para o inferno (naraka). Aps terem cumprido suas sentenas no inferno, nascem novamente.

Primeiro nascem como rvores, ervas, grama e trepadeiras. Depois como vermes, e depois animais. Somente aps muitas vidas conseguem nascer como seres humanos novamente. Mas h diferentes gradaes para os humanos tambm. Os pecadores gradualmente vo nascendo como trabalhadores de curtume, depois prias, caadores, lavadores, oleiros, ferreiros, ourives, teceles e mercadores. Alguns nascem ricos, outros pobres. Alguns nascem inteiros, outros doentes e malformados. Cada nascimento determinado pelas aes das vidas anteriores.

Bem-aventuranaO mundo cheio de misrias. Como poderemos nos alar acima da iluses do mundo, como nos libertar destas misrias? Como se obtm bem-aventurana (moksha)?

Vishnu quem proporciona bem-aventurana. Brahma cria o mundo sob ordens de Vishnu e Shiva o destri tambm por ordem de Vishnu. Vishnu no tem forma, nem tampouco sem forma. Ele a fonte de todo dharma. dele que todos elementos se originam. Seres humanos que o adoram se tornam como deuses.

Verdadeiro conhecimento consiste na realizao de que Vishnu tudo. Nesse sentido, bem-aventurana pode ser obtida atravs de conhecimento (jnana). Conhecimento precisa do embasamento da f (bhakti) para apoi-lo. Boas aes (karma) geram f em Vishnu. De fato, aes so o primeiro passo para se obter conhecimento. H muito poucas pessoas que conseguem embarcar na senda do conhecimento de imediato. No estgio final de conhecimento, se percebe que Vishnu est em todo lugar no universo e que portanto no h diferena entre si prprio e outros seres vivos. Essa sensao de unio com Vishnu chamada de yoga.

Uma pessoa sedenta desse tipo de conhecimento supremo se chama mumukshu. H certos traos que nos permitem identificar um mumukshu. Ele no sente ira ou dio, no est viciado nos sentidos e revela piedade para com todas entidades vivas. Sua mente est perpetuamente ocupada com pensamentos de Vishnu.

Existe outro modo de expressar a idia por trs do yoga. A alma divina conhecida como o paramatman e no possui forma. Em contrapartida temos as jivatmans ou almas humanas. Essas esto ligadas a corpos individuais e egos. O yoga tenta vencer esta iluso e estabelecer a unio entre a jivatman e o paramatman. verdade que a alma humana confinada pelos grilhes do corpo, mas vencer essa iluso que o importante. Essa sensao, esse senso de unio entre almas humanas e a alma divina, o conhecimento verdadeiro ou supremo, chamado de brahma jnana. (A palavra brahman usada de maneira sinnima para o paramatman, embora este ltimo seja traduzido a grosso modo como alma divina e o anterior como essncia divina).

A senda do yoga auxiliada por oito tcnicas. A primeira destas conhecida como yama (auto-controle). Isto requer no-violncia, veracidade, amor, misericrdia e controle dos sentidos. Inveja e cime tambm tem de ser abandonadas. A segunda tcnica niyama (prtica). Isto requer meditao, cantar encantamentos, ler textos sagrados e limpeza. Yama e niyama purificam a mente e o corpo e assim nos permitem meditar na verdadeira natureza de Vishnu. Porm meditao requer boa postura e esta a terceira tcnica de asana, postura. H trinta posturas principais que se recomenda a quem pratica yoga. A quarta tcnica pranayama (controlar a respirao). O controle sobre a respirao auxilia o processo de meditao.

A quinta tcnica conhecida como pratyahara (retrair-se). Isto significa retrair a mente de toda sorte de prazeres sensuais. A sexta tcnica conhecida como dharana (reteno). Visualiza-se a identidade do paramatman e da jivatman, e se retm esta imagem da identidade na mente. Ajuda muito concentrar a mente na imagem de Vishnu sentado numa flor de ltus. Quando se medita continuamente nesta imagem, isso constitui a stima tcnica de dhyana (contemplao). H trs objetos envolvidos no processo de meditao - a pessoa que medita, o objeto da meditao e o ato da meditao. Quando toda sensao de distino entre esses trs objetos se perde, a contemplao ento pode ser considerada completa. Quando se alcana o ponto final de contemplao, se chega oitava e ltima tcnica de samadhi (bem-aventurana intensa). O brahman se fixa na mente de tal pessoa e ela perde todos outros sentidos.

DevamaliUma pessoa que devotada a Vishnu eternamente abenoada.

H muitos anos atrs, um brahmana chamado Devamali vivia na terra de Raivata. Ele era erudito nos Vedas, piedoso para com as entidades vivas, e devotado a Vishnu. Mas infelizmente, tinha muitos filhos, amigos e uma esposa para cuidar. Ganhar a vida era difcil e Devamali foi forado a negociar com objetos que nenhum brahmana deve tocar. Ele tambm interagia com prias. Assim cometeu muitos pecados.

Aps alguns anos, dois filhos chamados Yajnamali e Sumali nasceram de Devamali. Com grande cuidado e perseverana, o pai ensinou aos filhos como ganhar dinheiro.

Naquela altura, o prprio Devamali j tinha ganhado muito dinheiro e acumulara bastante bens. Certo dia, sentou para contar sua fortuna e deescobriu que tinha milhes e milhes de moedas. Pensou consigo mesmo: "Ganhei muito dinheiro: vejam s quantas moedas acumulei! Infelizmente, fiz isso por meios ruins, comerciando com objetos que nem mesmo devia tocar. Mas no estranho que, apesar de toda minha fortuna, minha sede por mais bens permanece insaciada? Isso prova conclusivamente que o desejo pelas riquezas que a raiz de todo mal. A pessoa continua a querer mais fortuna mesmo quando os dentes apodrecem e a pele fica enrugada. Uma pessoa que quer paz deve abandonar todo anelo pelas riquezas. Penso que j tenho suficiente. Agora tenho que comear a pensar na vida que vem depois dessa."

Pensando isso, Devamali resolveu que se devotaria senda do dharma. Dividiu seus bens em quatro partes. Reteve duas partes para si e distribuiu as duas partes restantes aos filhos Yajnamali e Sumali.

Visando adquirir punya, Devamali construiu templos e jardins e fez cavar lagoas. Foi para as margens do Ganga e fez doaes. Desse modo, esgotou toda sua fortuna. Eventualmente, foi-se para realizar tapasya na floresta conhecida como vadrikashrama. No eremitrio ali viviam muitos sbios. Devamali juntou-se a eles em suas meditaes. Contemplava sobre a verdadeira natureza do brahman.

Os sbios deram bastante bons conselhos a Devamali. Um sbio em particular, de nome Jananti, ensinou a Devamali as tcnicas do yoga. Foi atravs da prtica do yoga que Devamali se libertou de todas suas iluses.

Yajnamali e SumaliOra, lembramos que Devamali possua dois filhos chamados Yajnamali e Sumali. Yajnamali era o mais velho dos dois.

Yajnamali dividiu as riquezas que recebera de seu pai em duas partes, e deu uma parte para Sumali. Porm Sumali gastou toda sua fortuna com atividades ociosas e ruins. Quando seu dinheiro acabou, recorreu ao roubo e saque.

Yajnamali tentou conter seu irmo. "Por favor corrije-te" disse para Sumali. "O que ests fazendo ruim. No traga m reputao para nossa famlia."

Estas palavras de conselho apenas serviram para irar Sumali e este pegou uma espada para matar seu irmo. Mas os guardas da cidade vieram e prenderam Sumali antes que pudesse provocar danos ao irmo. Yajnamali usou de sua boa influncia para libertar Sumali. Dividiu o que ainda possua em duas partes e deu uma para Sumali. Como acontecera antes, Sumali novamente gastou esse dinheiro em atividades ms e ociosas.

Os amigos e associados de Sumali eram maus e marginais. Ele foi punido pelo rei e banido para a floresta. Quando isso aconteceu, todos seus assim chamados amigos desertaram-no.

Yajnamali era honrado. Associava-se com pessoas santas, fazia doaes e cavava lagoas. Em breve sua fortuna acabou, tendo sido gasta com estas boas atividades. Yajnamali retirou-se para um templo de Vishnu e ali passava seu tempo adorando Vishnu.

Por um curioso arranjo do destino, Yajnamali e Sumali morreram ao mesmo tempo. Uma vimana chegou para levar Yajnamali para o cu. Enquanto viajava nesse veculo maravilhoso, Yajnamali reparou que seu irmo estava sendo levado para o inferno. Os servos de Yama estavam espancando Sumali e o pobre sujeito e