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A Expansão Madeireirana Amazônia

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Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

1a Edição1996

A Expansão Madeireirana Amazônia

2a Edição

Belém - Pará2002

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Editores:

Ana Cristina Barros*

Adalberto Veríssimo

Participantes, em ordem alfabética:

Adalberto Veríssimo

Ana Cristina Barros

Carlos Souza Jr.

Christopher Uhl

Edson Vidal

Ima Vieira

Marli Mattos

Paulo Amaral

Paulo Barreto

Ricardo Tarifa

Zeni Brandino

Editoração e Capa:

Jânio Oliveira

Ilustrações:

Flávio Figueredo

Revisão:

Hamilton Braga, Lize Barmann, Tatiana Corrêa

Copyright © by Imazon

A Expansão madeireira na Amazônia: Impactos e perspectivas parao desenvolvimento sustentável no Pará/ Editado por Ana Cristina Barros eAdalberto Veríssimo. - Belém: Imazon, 2002.

166 p.ISBN -

1. Exploração madeireira - Amazônia Oriental. 2. Indústria madei-reira � análise econômica, social e ambiental. 3. Manejo florestal susten-tável. 4. Política florestal. I. Barros, A.C. II. Veríssimo, A.

CDD: 634.9098115338.1749

Apoio:

Os estudos apresentados neste livro tiveram o apoio do WWF (Fundo Mundial para

Natureza), Fundação W. Alton Jones e Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento In-

ternacional (Usaid).

* Filiação atual: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

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Sumário

APRESENTAÇÃO vii

AGRADECIMENTOS xii

Capítulo 1Impactos Sociais, Econômicos e Ecológicos da Exploração Seletiva de Madeiras

numa Região de Fronteira na Amazônia Oriental: O Caso de Tailândia 1

Capítulo 2Impactos da Atividade Madeireira e Perspectivas para o Manejo Sustentável da

Floresta numa Velha Fronteira da Amazônia: O Caso de Paragominas 41

Capítulo 3A Exploração de um Recurso Florestal Amazônico de Alto Valor:

O Caso do mogno 75

Capítulo 4Padrões, Problemas e Potencial da Extração Madeireira ao Longo do

Rio Amazonas e do seu Estuário 109

Capítulo 5Uma Abordagem Integrada de Pesquisa sobre o Manejo dos Recursos

Naturais na Amazônia 143

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Apresentação

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A Amazônia Brasileira abriga re-cursos florestais imensos: um terço dasflorestas tropicais do mundo, com vo-lume estimado em 60 bilhões de metroscúbicos de madeira em tora, cujo valoreconômico potencial pode alcançar 4trilhões de reais em madeira serrada;além de abrigar algumas milhares deespécies de árvores, das quais cerca de350 já estão sendo extraídas para finsmadeireiros.

Essa explosão da atividade ma-deireira na Amazônia teve início coma vinda de madeireiros de outras par-tes do Brasil, em busca da nova fron-teira madeireira. Essa migração ocor-reu devido à abertura de estradas pelogoverno, a partir da década de 60, e àexaustão dos recursos madeireiros dasregiões Sul e Sudeste do País.

Em nenhum outro Estado daAmazônia a atividade madeireira atin-giu a importância que tem no Pará. Em1996 mais de duas mil serrarias produ-zindo mais da metade da madeira emtora do Brasil. A maior parte do volu-me explorado vem das florestas de ter-ra firme. Nas regiões mais remotas, osextratores de madeira entram na florestaem busca de espécies valiosas, como omogno. Nas áreas mais próximas, defácil acesso, o baixo custo de transportepermite a exploração de mais de cemespécies. As árvores abatidas são cor-tadas em toras e transportadas ao lon-go das estradas e rios da região até as

indústrias para serem processadas. Amaior parte da produção destina-se aomercado interno, embora as exporta-ções venham crescendo nos últimosanos.

Em termos de área explorada, en-quanto as pequenas empresas precisamde menos de 50 hectares de floresta porano para suprir suas necessidades dematéria-prima, as grandes empresas po-dem utilizar até mil hectares por ano.No Pará, a maior parte da madeira pro-duzida vem de serrarias que exploramanualmente entre 150 e 300 hectares.

Em 1996 o setor madeireiro par-ticipava com cerca de 13% do PIB doPará (1993), valor que continua cres-cendo. As estimativas apontam parauma renda bruta de 0,8 bilhão de dóla-res; valor apenas inferior ao geradopela mineração, cuja renda bruta alcan-çou 1,3 bilhão de dólares. O númerode empregos diretos gerados pelo se-tor madeireiro fica em torno de 50 mil.

Esses números atraentes em ter-mos econômicos não refletem os im-pactos ecológicos da exploração so-bre o recurso florestal. Atualmente, amaioria da exploração madeireira nãoé sustentável. O processo começaquando os madeireiros penetram nafloresta para remover apenas as espé-cies de alto valor. Nesses casos, ape-nas uma ou duas árvores são extraí-das por hectare. Se fossem deixadasem “repouso”, essas florestas explo-

APRESENTAÇÃO

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radas poderiam recuperar a cobertu-ra do dossel e o estoque de madeira.Entretanto, isso não acontece. Os ma-deireiros, geralmente, entram segui-damente nas mesmas áreas em inter-valos curtos de tempo para removerespécies de menor valor econômicoou para retirar indivíduos ainda jo-vens das espécies mais valiosas. Como passar do tempo, essas incursões su-cessivas na floresta reduzem drasti-camente seu estoque madeireiro. Oresultado disso é uma floresta comgrandes clareiras, repleta de resíduose com grande parte das árvores rema-nescentes danificada. Essas condi-ções facilitam a entrada e a propaga-ção do fogo e impedem que as áreasexploradas retornem ao estágio de flo-resta original - produtora de madei-ra. Dessa forma, as florestas explo-radas acabam sendo derrubadas e/ouqueimadas.

Esse uso dos recursos florestaisrepete a história de exploração das ma-tas do Espírito Santo e do sul da Bahia,onde a f loresta deu lugar àagropecuária. Mas, na Amazônia, a si-tuação da exploração madeireira podeter um curso diferente. O manejo flo-restal pode ser adotado, embora mui-tos ajustes políticos e técnicos preci-sem ser feitos.

Além do valor madeireiro, a flo-resta tem riquezas muito mais amplas,como óleos, resinas, frutas, fibras eplantas de valor medicinal. Existe, ain-da, uma grande quantidade de espéci-es animais e vegetais não descobertaspela ciência. Mais do que tudo isso,existem os serviços que a floresta pres-

ta para o equilíbrio do clima regional eglobal, especialmente pela manutençãodos ciclos hidrológicos e de retençãode carbono. Com uma exploração ma-nejada, a floresta pode gerar riquezaeconômica, ao mesmo tempo em querealiza suas outras funções.

Felizmente, há fatos que estãoatuando em favor do uso mais racionaldos recursos madeireiros. Primeiro, omercado consumidor, principalmente oexterno, está exigindo cada vez maisque a madeira tenha origem de áreasefetivamente manejadas. Segundo, opróprio governo está reconhecendo queo sistema atual de monitoramento e fis-calização é deficiente e que o setor flo-restal está fora do controle público. Há,ainda, um número crescente de empre-sários interessados em desenvolver prá-ticas mais racionais de uso dos recur-sos florestais. Esses empresários estãodesenvolvendo parcerias inéditas cominstituições de pesquisas e ONGs. Umexemplo disso é a parceria do Imazoncom o setor madeire i ro deParagominas, no projeto piloto de ma-nejo florestal (ver o capítulo 5 destel ivro). Finalmente, a consciênciaambiental está se consolidando no País.Uma consciência pragmática que reco-nhece a importância econômica e a ne-cessidade da exploração do recurso flo-restal, mas que, em contrapartida, re-quer que isso ocorra de forma susten-tada e que respeite leis ambientais.

As próximas duas décadas vãoser decisivas na história da atividademadeireira na Amazônia. A demandainternacional e nacional de madeiravai se voltar cada vez mais para a re-

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Apresentação

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gião. Se manejada, a floresta pode re-presentar uma fonte de riqueza pere-ne para a Amazônia. Os desafios detodos os envolvidos com o setor flo-restal são imensos, mas as oportuni-dades, como veremos nos trabalhoscontidos neste l ivro, também sãograndes.

O Livro

O objetivo deste livro é reunir osresultados de cinco anos de estudosrealizados por um grupo de pesquisa-dores do Imazon sobre a atividade ma-deireira no Estado do Pará. Os estu-dos de caso publicados em cada capí-tulo formam um diagnóstico da ativi-dade madeireira no Estado, tratando dasua importância econômica e social edos seus impactos ecológicos. Estesartigos foram publicados em revistascientíficas internacionais e, em algunscasos, nacionais, e estão, agora, reu-nidos nesta obra.

O primeiro artigo do livro, um es-tudo de Adalberto Veríssimo e colabo-radores, revela que quando a atividademadeireira inicia em terra firme, são ex-traídas apenas espécies de alto valor(ou seja, cerca de quinze espécies). Osimpactos ecológicos são relativamentepequenos e o potencial de regeneraçãoda floresta é significativo, desde quenão ocorram outras explorações. O es-tudo fo i rea l izado na região deTailândia, nas margens da PA-150.

O segundo artigo, também deVeríssimo e colaboradores, mostraque, com o decorrer do tempo, as em-

presas acumulam capital e a infra-es-trutura local melhora, permitindo quea atividade madeireira torne-se maisintensiva (com extração de mais cemespécies) e mecanizada. Essa dinâmi-ca é estudada com enfoque na regiãode Paragominas, onde se localiza omaior pólo madeireiro do Brasil. Oestudo caracteriza a estrutura e a eco-nomia da indústria madeireira, avaliaos impactos ecológicos da extração ediscute medidas possíveis para esti-mular a adoção de melhores práticasde manejo.

O terceiro artigo de autoria deVeríssimo e colaboradores trata dos im-pactos associados com a exploração demogno no sul do Pará. O mogno é umaespécie emblemática. Depois de trêsdécadas de exploração, a espécie demaior valor econômico da Amazôniapode estar caminhando para a exaustão,apesar de alguns esforços de manejo eplantio. A primeira parte do artigo re-vela, passo a passo, cada etapa da ex-ploração, desde a localização das ár-vores até a comercialização da madei-ra serrada. Em seguida, o estudo mos-t ra que os impactos d i retos noecossistema são reduzidos – similaresaos distúrbios naturais. Entretanto, osefeitos na espécie em si, em termosdemográficos e de estrutura genética,podem ser severos. O estudo conside-ra que os impactos indiretos, incluindoa abertura de estradas e a invasão deterras indígenas, são os mais significa-tivos e podem comprometer irremedia-velmente uma vasta área de floresta ricaem biodiversidade. Os autores conclu-em o estudo com sugestões de como o

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governo e a sociedade civil poderiamdisciplinar a exploração do mogno.

O quarto artigo, de Ana CristinaBarros e Christopher Uhl, encerra a sé-rie dos diagnósticos da indústria ma-deireira no Pará, tratando da explora-ção de madeiras da várzea e de terrafirme, no estuário e no baixo rio Ama-zonas. A característica da região é apossibilidade de transporte fluvial demadeira, com o mais baixo custo detodo o Estado. Os autores analisam oscustos da extração e do transporte damadeira e a lucratividade das indústri-as. Há mais de mil pequenas serrariasfamiliares no estuário, ao lado de ser-rarias de médio porte que exploram avárzea e a terra firme e de grandes fá-bricas de laminados e compensados. Aanálise das opções de investimento dosdiferentes modelos encontrados no cam-po pode explicar o comportamento dosmadeireiros da região, apontando, porexemplo, a possibilidade de expansãoda fronteira madeireira em direção àAmazônia Ocidental, através do trans-porte fluvial. Em seguida, o trabalhomostra o significado social e econômi-co da exploração da madeira nessa re-gião no contexto estadual e, por fim,trata das possibilidades de exploraçãosustentável da floresta. É proposto umesquema de ação participativa, entregoverno e ONGs, trabalhando pelomanejo numa região onde o trabalho deextração não é feito pelas indústrias,mas sim pela população local.

Esses quatro primeiros capítulosrevelam que os impactos ecológicos daexploração da madeira são pequenosquando a exploração é seletiva, porém

eles aumentam consideravelmentequando a exploração se torna mais in-tensiva. Estes estudos mostram, tam-bém, que existem importantes impac-tos secundários associados à extraçãomadeireira em terra firme. Por exem-plo, há uma tendência de as estradasmadeireiras que penetram no interior dafloresta servirem como vias de acessopara os migrantes sem terra epecuaristas. Esses novos ocupantes têmdesmatado completamente áreas de flo-resta explorada seletivamente em vári-as regiões do Estado do Pará. A ativi-dade madeireira também modifica omicroclima da floresta, tornando-o maisquente e seco e aumentando as chancesde incêndios florestais. Por último, osestudos mostram que a atividade é lu-crativa e que tem um potencial enormede gerar riquezas para a região, desdeque sejam adotadas boas práticas demanejo.

Para finalizar o livro, ChristopherUhl e colaboradores apresentam uma vi-são geral dos tipos de estudos necessá-rios para que se planejem e se empre-guem formas mais eficientes de uso dosrecursos florestais. Primeiro, os autoressumarizam os resultados dos estudos decaso que mostram os vários padrões daindústria madeireira na Amazônia Ori-ental. Especificamente, é explicadoquem são os atores do setor madeireiro,onde e como ocorre a exploração e quaisos impactos ambientais, econômicos esociais dessa atividade. Em seguida,combinando essas informações com asestimativas de estoque de madeira, aces-so, disponibilidade de capital e varia-ções de mercado, os autores mostram as

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Apresentação

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tendências de expansão da atividademadeireira na Amazônia. Por último,mostra-se a importância de estudos apli-cados de manejo florestal, política eregulação da exploração florestal (zo-

neamento, monitoramento e fiscaliza-ção) para o emprego de práticas susten-táveis de exploração de madeira naAmazônia.

Adalberto VeríssimoAna Cristina Barros

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AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer a YêdaMartins e Berenice Bacelar, das bibli-otecas da Universidade Federal do Paráe Museu Paraense Emílio Goeldi, pelaorientação da confecção das referênci-as bibliográficas e ficha catalográficado livro.

Agradecemos, também, as inúme-ras pessoas que apoiaram nosso traba-lho nesses últimos treze anos, incluin-do Natalino Silva, Jorge Yared, AlfredoHomma, Adilson Serrão e Jonas Veiga(Embrapa-Cpatu); Daniel Nepstad,David MacGrath, Adriana Moreira(Instituto de Pesquisas da Amazônia -Ipam); Robert Buschbacher e GaroBatmanian (Fundo Mundial da Natu-reza - WWF); Anthony Anderson (Fun-dação Ford); Ricardo Tarifa (BancoMundial); Raimundo Deusdará e An-tônio Carlos Prado (Ministério do Meio

Ambiente); Antônio Carlos Hummel(Ibama/AM); Virgílio Viana (USP);Johan Zweed (Fundação Floresta Tro-pical); Eric Stoner (Usaid-Brasil);Roberto Santos (UFPA); ParaguaçuÉleres (Iterpa); Antônio Cordeiro(FCAP). Agradecimentos aos empresá-rios do setor madeireiro, incluindoNorber to Hubner, Pérc io L ima,Shidney Rosa, Idarci Perachi, AlcioneMalinski, Honorato Babinski, WernerKronbauer, Oswaldo Ferreira Costa,Guilherme Carvalho e Roberto Puppo,pela franqueza e hospitalidade durantea pesquisa de campo. Por último, gos-taríamos de agradecer o apoio da Fun-dação W. Alton Jones (EUA) e do Fun-do Mundial da Natureza (WWF) peloapoio financeiro à realização desses es-tudos.

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Capítulo1

Adalberto VeríssimoChristopher UhlMarli MattosZeni BrandinoIma Vieira*

Impactos Sociais, Econômicos e Ecológicosda Exploração Seletiva de Madeiras numa Região

de Fronteira na Amazônia Oriental:O Caso de Tailândia

* Museu Paraense Emílio Goeldi

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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RESUMO

A exploração seletiva de madei-ras nos arredores da c idade deTailândia, ao longo da rodovia estadu-al PA-150, na Amazônia Oriental, foialvo desta pesquisa no período de 1988a 1989. Setenta por cento das 48 serra-rias existentes nessa região, em 1989,foram instaladas a partir de 1985, quan-do a rodovia PA-150 foi asfaltada. Es-sas serrarias geralmente tinham umaserra de fita e produziam 250 m3-350m3 de madeira serrada por mês.

O aproveitamento da madeiranessas serrarias era relativamente bai-xo, equivalente a 2 m3 - 3 m3 de toranecessários para produzir 1 m3 de ma-deira serrada. Os madeireiros forne-cedores de madeira em tora para asserrarias eram os principais respon-sáveis pela construção de estradasvicinais na região. Dos 272 km de es-tradas atingidos pelo estudo, dois ter-ços foram construídos por madeirei-ros, freqüentemente em troca dos di-reitos de exploração nas terras de co-lonos e fazendeiros.

A maior parte da exploração ma-deireira ocorria em lotes de 50 hecta-res ocupados por colonos. Oitenta eseis por cento das 59 famílias de co-lonos entrevistadas estavam envolvi-das com a atividade madeireira comofornecedores ou extratores. Os colo-nos fornecedores de madeira (61%)apenas vendiam ocasionalmente árvo-res de seu lote de mata. Em contraste,os extratores participavam, de fato, doprocesso de exploração.

As estradas de exploração demadeira e as áreas para o embarque detoras eram feitas manualmente, com ouso de machados e motoserras. Seten-ta minutos de trabalho humano eramgastos para cada metro cúbico de ma-deira preparado na exploração. Aenergia despendida por metro cúbicode madeira extraída era de, aproxima-damente, 3.000 kcal, com 90% dessaenergia sendo proveniente da gasoli-na e do óleo lubrificante usados nofuncionamento da motosserra.

Danos consideráveis ocorreramno processo de exploração seletiva demadeira em Tailândia. Uma média deduas árvores, ou 16 m3 por hectare, foiextraída nas três áreas de estudo, cadaárea com tamanho aproximado de 16hectares.

O número de árvores danificadascom diâmetro na altura do peito maiorou igual a 10 cm foi de 58 por hectaree de 29 para cada árvore extraída. Ex-pressando esses dados em termos devolume, 1,2 m3 de madeira em tora foidanificado para cada metro cúbico demadeira extraído.

A maioria dos danos da explora-ção na floresta (55%) foi concentradanas clareiras abertas no processo deextração. Essas clareiras são locais fa-voráveis à regeneração da área: 15meses após o término da exploração,as clareiras continham, em média, 63plântulas de espécies madeireiras (0,2indivíduo/m2).

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Veríssimo et al.

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Em função do fato de os madei-reiros extraírem apenas um seleto gru-po de espécies, a exploração continuaavançando para novas áreas, deixan-do para trás um grande estoque de ma-deira de valor. Baseado num inventá-rio de todas as árvores com diâmetromaior ou igual a 40 cm (DAP), em 2hectares, em cada uma das três áreasde estudo, estimamos que uma médiade 127 m3/ha (s=37) de madeira quepoderia ser aproveitada permanecianas áreas exploradas. Dividindo essamadeira em grupos de qualidade e

aplicando os preços praticados, o va-lor dessa madeira em tora foi de, apro-ximadamente, US$ 2 mil por hectare.

Devido à ausência de mercadoimediato para árvores remanescentes,as florestas exploradas são freqüente-mente destruídas por colonos para for-mar campos agrícolas e, em menor es-cala, por pecuaristas para a formaçãode pastagens. Porém, a análise econô-mica revela que essa floresta, mesmosem ser manejada, tem igual potencialde gerar riqueza como as pastagens oua agricultura de corte e queima.

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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INTRODUÇÃO

A expansão da fronteira amazô-nica teve início há 25 anos, com a cons-trução de estradas. Em seguida, os co-lonos começaram a chegar. Por váriasrazões, tais como a falta de infra-estru-tura, a ausência de crédi to e ainfertilidade dos solos, o processo decolonização fracassou (Smith, 1982;Moran, 1989). Uma segunda onda deocupação foi realizada pelos fazendei-ros, que também se defrontaram comproblemas de solos pobres, pragas,doenças e espécies de forrageiras pou-co adaptadas e, apesar dos incentivosgovernamentais na forma de créditosubsidiado, a pecuária em geral nãoobteve sucesso econômico (Hecht etal., 1988).

Com o insucesso desses dois gru-pos de pioneiros, poderíamos esperaruma estagnação da fronteira amazôni-ca, mas uma nova atividade econômi-ca surge na região: a atividade madei-reira. A produção de madeira em torana Amazônia, em 1976, era de ordemde 4,5 milhões de metros cúbicos (14%do total da produção de madeira noBrasil) e aumentou, em 1987, para24,6 milhões de metros cúbicos (54%do total do Brasil) (FIBGE, 1987).

O crescimento significativo daatividade madeireira na Amazônia re-sulta, em parte, da exaustão das flores-tas do Sul e Sudeste do Brasil. Alémdisso, o esgotamento progressivo dasflorestas tropicais da Ásia, responsá-veis por 70% do comércio internacio-nal de madeiras (Nectoux e Kuroda,

1989) contribuiu para um aumento naprocura de madeiras da Floresta Ama-zônica. Portanto, é provável que este-jamos apenas no início de uma grandeera de exploração madeireira na Ama-zônia.

O propósito deste trabalho é exa-minar a dinâmica da atividade madei-reira em uma região de fronteira noEstado do Pará, na Amazônia Orien-tal. Inicialmente, consideram-se osagentes envolvidos na atividade e osignificado dessa atividade para eles.Esses agentes estão divididos em doisgrupos: aqueles que têm a posse dorecurso florestal (colonos e fazendei-ros) e os que exploram e processam orecurso madeireiro (madeireiros e pro-prietários de serrarias). Em seguida,os impactos da atividade madeireira nafloresta são analisados, através da des-crição e quantificação do processo deexploração, dos impactos ecológicosda exploração e das características edos usos potenciais da floresta rema-nescente.

A rodovia PA-150 e a regiãode Tailândia

A rodovia PA-150, aberta na dé-cada de 70 e asfaltada em 1986, é aprincipal via de ligação entre a cidadeportuária de Belém com os ricos de-pósitos minerais do sul do Pará. Essarodovia possibilitou o acesso às flo-

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restas da região para agricultores decorte e queima e fazendeiros; facili-tou, também, a instalação de serrari-as. Essas serrarias estão distribuídasnas proximidades dos núcleos urbanosao longo da PA-150. Decidimos foca-lizar nosso estudo nos arredores de umnovo pólo madeireiro, Tailândia, umacidade com cerca de 10 mil habitan-tes, distante 200 km ao sul de Belém.Nessa área, o Instituto de Terras do

Pará (Iterpa) estabeleceu, em 1978, umprojeto de colonização nas terras situ-adas às margens da PA-150 (Figura 1).A área da colônia é de 158.400 hecta-res, suficiente para assentar 3.000famíl ias de pequenos agricultores(Iterpa, 1980). Em Tailândia, campo-neses e madeireiros, combinados compequenas serrarias, exploram a Flores-ta Amazônica, num típico modelo defronteira.

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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METODOLOGIA

Atores que têm o recursomadeireiro: fazendeiros ecolonos

Para identificar as interações en-tre os pecuaristas e a exploração ma-deireira, entrevistamos 16 grandes pro-prietários de terras. O conteúdo das en-trevistas incluía perguntas sobre o ta-manho das propriedades, a área altera-da (pasto, mata explorada, etc.), o nú-mero de cabeças de gado por unidadede área, a área explorada na proprie-dade com fins madeireiros e a forma devender a madeira.

Entrevistamos também os agricul-tores de corte e queima (aqueles quepraticam a agricultura migratória) daárea de colonização do Iterpa. Para se-lecionar as famílias a serem entrevista-das, visitamos cinco comunidades lo-calizadas em intervalos de aproxima-damente 25 km ao longo da PA-150,entre Goianésia e Tailândia (Figura 1).Em cada uma das cinco comunidades,escolhemos quatro estradas vicinaispara o estudo. Em cada uma das estra-das vicinais, com uma extensão médiade 6 km, identificamos se os lotes es-tavam ou não ocupados por colonos.Além disso, procuramos saber se oslotes ainda estavam ocupados por co-lonos pioneiros. Em dez das vicinais(duas em cada comunidade), foram fei-tas entrevistas mais detalhadas com 59famílias, visitando alternadamente oslotes. O questionário aplicado a esses

moradores incluía perguntas sobre ahistória do morador, área total de cadapropr iedade, economia da roça eenvolvimento do morador com a explo-ração madeireira.

Atores que exploram eprocessam a madeira:extratores e serrarias

Aplicamos questionários em 15extratores de madeira em tora na cida-de de Tailândia. O conteúdo das entre-

Figura 1. Região de estudo, nos arredoresde Tailândia, PA - 150, Estado do Pará.

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vistas incluía perguntas sobre os se-guintes temas: origem dos extratores,trabalho anterior, produção média dassuas equipes e ganhos obtidos com aexploração madeireira. Além disso,acompanhamos, durante oito dias, otrabalho de quatro equipes de explo-ração diferentes (32 dias de estudo).O trabalho da exploração envolve, porexemplo, o corte das árvores paraabrir estradas de exploração na flo-resta, utilizando apenas machado emotosserra. Medimos o comprimentoe a largura dessas estradas, a áreaaberta para o embarque das toras e ovolume das toras extraído. Tambémfoi anotado o tempo, em minutos,gasto por pessoa para realizar cadauma das atividades relacionadas como preparo da madeira para extração(i. e., derrubada das árvores, mediçãoe corte das árvores na forma de toraspara facilitar o transporte, abertura deestradas de exploração e manutençãode facões e motosserras, imprevistos,descanso, etc.).

Para calcular o gasto de energiahumana envolvida na exploração ma-deireira, utilizamos os dados de tem-po coletados em Tailândia e os dadosde Rose (1938) para energia humanadespendida em diferentes tipos de tra-balhos (pesado, leve, etc.). Para o cál-culo do gasto de energia fóssil, utili-zamos os dados de consumo de gaso-lina e óleo das motosserras obtidas noestudo de campo, com as equipes deexploração. Por último, estimamos aenergia em quilocalorias contida nes-se combustível (Spiers, 1950).

Após a exploração madeireira,os extratores embarcam a madeira emtora em caminhões com destino às ser-rarias da região. Em janeiro de 1989,percorremos um trecho de 140 km daPA-150, que se estende da junção daPA -150 com a PA-256, no norte deTailândia, até os limites de Goianésia(Figura 2a), mapeando a localizaçãode todas as serrarias. Durante essa vi-agem, fizemos entrevistas em cadaserraria para determinarmos: 1) ori-gem da empresa e do proprietário; 2)ano de instalação; 3) produção men-sal; 4) período de produção de ma-deira serrada durante o ano; 5) nívelde participação na exploração flores-tal; e 6) mercado. Além disso, em al-gumas serrarias foram realizados es-tudos econômicos para avaliar os cus-tos e os ganhos dessas empresas.

Os impactos da exploraçãomadeireira no recursoflorestal

Para avaliar os impactos ecológi-cos da exploração madeireira, estuda-mos três áreas que haviam sido explo-radas recentemente nos arredores deTailândia (Figura 1). Em cada área,mapeamos, aproximadamente, 1.500km de estradas de exploração. Ao lon-go dessas estradas, identificamos asárvores extraídas e o seu volume foiestimado multiplicando-se o compri-mento do fuste pela área basal média(obtida pela medida do diâmetro, semcasca, na base e no topo de cada tora).Estimamos o tamanho médio de cada

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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área de estudo usando o planímetro econsiderando-se que a extensão da áreade exploração foi 50 metros além dasestradas de exploração. Consideramosessa aproximação segura porque foiobservado que: 1) as estradas de explo-ração são geralmente abertas para al-cançar árvores isoladas que foram der-rubadas dentro dos limites de 40 a 50metros da margem da estrada, mas nãoalém dessa distância; e 2) a estimativada área de exploração usando o méto-do “Point Quarter” (Brower e Zar,1984) estava próxima daquelas que fo-ram apresentadas (dentro dos limites de15% de diferença).

Todas as árvores maiores que 10cm de diâmetro na altura do peito

(DAP) que foram danificadas na cons-trução de estradas foram catalogadas.Também foram determinados os danosocasionados no processo de derrubadade uma árvore, anotando-se todas asárvores danificadas em 10 clareiras es-colhidas ao acaso em cada área de es-tudo. Todas as árvores foram classifi-cadas de acordo com o tipo de dano,distinguindo-se entre cortadas, arran-cadas, rasgadas ou quebradas. As ár-vores também foram classificadas deacordo com seu valor comercial poten-cial, como: 1) alto valor: espécies comgrande aceitação no mercado; 2) mé-dio valor: espécies com aceitação re-cente no mercado (i. e., estão sendoserradas em outros lugares, mas não em

Figura 2. Localização das serrarias na região de Tailândia, ao longo da rodoviaPA-150 (esquerda) e alteração da cobertura vegetal do município de Tailândia,Pará (direita).123456123456123456123456123456123456123456

A123456123456123456123456123456123456123456B

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Tailândia); 3) baixo valor: espéciescom uso potencial para construção ci-vil, mas ainda pouco serradas; e 4) semvalor: espécies sem valor comercialdevido à forma e estrutura.

Para estudar a condição da flores-ta após a exploração, estabelecemos 20parcelas em cada uma das três áreas deestudo. As parcelas estavam dispostasem intervalos de 50 metros e localiza-das alternadamente em cada lado da es-trada principal. Cada parcela media 20m x 50 m (área total = 2 ha/área de es-tudo), onde todas as árvores com DAPmaior que 30 cm foram identificadas etiveram seu diâmetro medido. As árvo-res menores (10 cm - 29,9 cm de DAP)também foram inventariadas em sub-parcelas de 10 m x 20 m, localizadas

dentro de cada parcela de 20 m x 50m. Também foi calculado o volume,sem casca, de todas as árvores, usandoequações volumétricas (Silva e Araú-jo, 1984; Silva et al., 1984).

Levantamos a hipótese de queas clareiras criadas no processo deexploração seriam importantes áreasde regeneração de espécies florestais.Para verificar isso, quinze meses apósconcluída a exploração, retornamosao local para estudar as áreas 1 e 2(Figura 1) e foi estabelecida uma par-cela de 5 m x 15 m em cada clareiraaberta (cinco em cada área). Todas asplântulas e brotações de espécies ma-deireiras foram anotadas, identifica-das e medidas em termos de altura emcada uma das parcelas.

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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RESULTADOS EDISCUSSÃO

Colonos

A madeira processada pelas ser-rarias de Tailândia vinha, principal-mente, das terras dos colonos. Issoocorre porque a área de colonizaçãoestá bem próxima da rodovia PA-150,favorecendo o transporte entre a flores-ta e as serrarias (Figuras 1 e 2b).

A maioria dos colonos entrevista-dos (62%, n=59) era originária da Re-gião Nordeste, principalmente dos Es-tados do Ceará e Maranhão; 33% eramprovenientes do próprio Estado do Pará,a maior parte vinda das regiões deBragantina e Guajarina; e os 5% restan-tes eram oriundos das outras regiões doBrasil (Figura 3a). A maior parte des-ses colonos realizou várias migraçõesdentro do Pará, tentando se fixar antesde chegar a Tailândia (Figura 3b). Umasérie de fatores influenciou a migraçãodessas famílias, incluindo a exaustãodos solos cultivados, a invasão de ervasdaninhas, a ausência de assistência téc-nica, a falta de mercado para sua pro-dução e a ocorrência de doenças, comoa malária. De certa maneira, essa histó-ria está se repetindo em Tailândia. Noestudo geral com as famílias residentesem 20 vicinais ao longo da PA-150,constatamos que 68% dos colonos ori-ginais (n=350) já haviam deixado osseus lotes. Além disso, 35% dos lotespesquisados não estavam sendo cultiva-dos, apesar de os proprietários dessasterras ainda residirem na região.

Atores que têm o recursomadeireiro: fazendeiros ecolonos

Fazendeiros

As fazendas começaram a ser im-plantadas em Tailândia na década de 70.Verificamos que apenas 6.760 hectares(10% do total da área de fazendas denossa amostra) foram desmatados paraa implantação de pastagens. O rebanhototal encontrado nessa área foi 3.650cabeças de gado ou 0,54 cabeça/ha, umadensidade que, mesmo para a Amazô-nia, é relativamente baixa. As fazendasvisitadas operavam com pouco capital,geralmente possuíam casas de madeira,curral e algumas áreas de pasto cerca-das. Incentivos governamentais forampouco utilizados pelo setor pecuário emTailândia.

Sessenta por cento dos fazendei-ros entrevistados venderam madeirade suas matas para os madeireiros,mas relativamente pouca madeira es-tava sendo extraída das grandes pro-priedades porque, em geral, esses fa-zendeiros apenas permitiam a explo-ração nas áreas abertas para implan-tação de pastagem. Além disso, osfazendeiros indicaram que preferiamesperar a madeira subir de preço an-tes de vender os direitos de explora-ção de suas florestas.

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Mais da metade (53%) dos ocu-pantes presentes possuíam apenas umlote; 26% tinham dois lotes e os 21%restantes tinham três ou mais lotes.Devido à valorização da madeira, acompra de lotes florestados represen-tava novo tipo de investimento para oscolonos na fronteira.

A economia familiar dos colo-nos: Para compreender a importânciada madeira na vida dos colonos, é ne-cessário entender os ganhos gerais daeconomia familiar. Primeiro, conside-ramos as despesas anuais dos colonos.Essas despesas correspondem à cestabásica e às necessidades sociais, inclu-indo roupas, calçados, saúde, transpor-te, etc. Estimamos, de acordo com as

entrevistas, o custo da cesta básicarequerida para uma família de oitopessoas, com tamanho médio das fa-mílias da região, em US$ 1.140. Essaestimativa não inclui o consumo dearroz e farinha de mandioca, que sãoproduzidos na roça para alimentaçãoda própria família. Consideramos queos gastos sociais correspondem a 40%do valor da cesta básica, ou US$ 528(FGV, 1970). Logo, a despesa anualpara uma família de oito pessoas ficaem torno de US$ 1.660.

Os resultados das entrevistastambém revelaram que um hectare re-cém-desbravado produz, em média,1,4 tonelada de arroz e 3,4 toneladasde farinha de mandioca. Esses são pa-drões razoáveis de rendimento para os

Figura 3. Caracterização dos pequenos agricultores da região de Tailândia,considerando-se: (a) origem; (b) número de migração antes de chegar a Tailândia;(c) área anualmente aberta para cult ivo; e (d) renda da agricultura (arroz emandioca).

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trópicos, mas é preciso considerar queapenas uma safra de arroz e uma demandioca são possíveis antes de esseslotes serem deixados em pousio. Alémdisso, os preços de mercado ofereci-dos para esses produtos são extrema-mente baixos, US$0,12/kg de farinhade mandioca e US$ 0,04/kg de arroz.Dessa forma, um hectare produz US$464 de produtos agrícolas antes de serabandonado. Isso significa que umafamília de agricultores, composta deoito pessoas, precisa derrubar aproxi-madamente quatro hectares de flores-ta por ano para atender suas necessi-dades básicas de subsistência (4 x US$460 = US$ 1.840 - US$ 180 do consu-mo de arroz e farinha pela família =US$ 1.660). Apesar disso, mais dametade dos colonos de nossa pesquisa(n=59) tinha áreas de cultivo menoresque quatro hectares (Figura 3c).

Para explicar melhor, vamos con-siderar, por exemplo, os gastos domés-ticos e a renda da produção de duasfamílias de pequenos agricultores: umaque derruba 2 ha/ano e outra que der-ruba 7,5 ha/ano. No primeiro caso,apenas 50% das necessidades finan-ceiras da família são atendidas pelarenda da roça. Somente derrubandoáreas maiores da floresta (7,5 ha) asnecessidades das famílias são atendi-das com uma boa margem de seguran-ça (Figura 3d).

O papel da atividade madeirei-ra na economia familiar do colono:Os colonos podem se beneficiar damadeira de seus lotes de duas manei-ras. Primeiro, eles podem vender suas

árvores sem se envolverem direta-mente no processo de exploração.Chamamos esse grupo de “colonosfornecedores”, que representa 61%das famílias entrevistadas (n=59). Osegundo grupo é composto de colo-nos que atuam como “extratores”(25% dos entrevistados), cortando asárvores desejáveis e abrindo estradasde exploração na floresta. Os outros14% dos colonos entrevistados aindanão tinham se envolvido com a ativi-dade madeireira. Alguns desses colo-nos moram em áreas sem estradasvicinais, o que impossibilita o trans-porte de toras da floresta para as ser-rarias. Mas há, também, outros colo-nos desse grupo que argumentam queos preços pagos pela madeira sãomuito baixos (US$ 5 por árvore; ja-neiro, 1989). Esses colonos acreditamque o valor do recurso florestal iráaumentar na medida em que a madei-ra for escasseando na região e, poressa razão, preferem esperar condi-ções mais favoráveis para venda.

Os “colonos fornecedores” sãoos principais responsáveis pelo supri-mento de madeiras para as serrarias deTailândia. Eles vendem a madeira naforma de árvores “em pé” para os ma-deireiros. Os valores e as formas depagamento são variáveis. Sessenta eoito por cento dos “colonos fornece-dores” receberam o pagamento em di-nheiro, enquanto os outros 32% tro-caram a madeira por materiais e ser-viços que julgavam necessários, comoferramentas agrícolas, animais de tra-ção ou corte raso da área explorada,para implantação de suas roças.

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A agricultura ainda é uma impor-tante fonte de renda para os pequenosprodutores de Tailândia. Cinqüenta equatro por cento das famílias entrevis-tadas afirmaram que a agricultura foia sua principal fonte de renda em1989. Enquanto isso, cerca de 36%dos moradores declararam que foi aatividade madeireira a principal fontede renda da família. Os 10% restantesindicaram outras atividades, incluin-do o pequeno comércio, como respon-sáveis pela economia familiar. Para os“colonos fornecedores” (aqueles quenão se envolvem com a exploração) arenda obtida com a venda da madeiraé reduzida, servindo apenas para cus-tear os gastos “emergenciais” da fa-mília. Como veremos a seguir, apenasos colonos que fazem, de fato, a ex-ploração e o transporte das toras con-seguem obter ganhos expressivos coma atividade madeireira.

Atores que exploram eprocessam a madeira:extratores e serrarias

Extratores

Os extratores são os responsáveispela exploração madeireira na regiãode Tailândia. Além deles, há também ostransportadores que levam as toras emcaminhões rústicos até as serrarias.

Origem e características: Os ex-tratores e transportadores podem serclassificados em três grupos quanto à

origem. O primeiro grupo, 46% dos en-trevistados (n= 16), é proveniente dasRegiões Sul e Sudeste do Brasil. Maisda metade dos madeireiros desse gru-po (57%) trabalhava na atividade ma-deireira antes de chegar a Tailândia. Osegundo grupo (27%) é composto depessoas oriundas da Região Nordeste(principalmente Maranhão) e o grupofinal é formado de pessoas origináriasdo Estado do Pará (27%).

A maioria dos extratores e trans-portadores entrevistados (73%) pos-suía terras em Tailândia. Devido aobaixo preço da terra, eles têm compra-do áreas de mata tanto para explora-ção madeireira como para agricultu-ra. Oitenta e dois por cento desses ex-tratores e transportadores estavam en-volvidos, direta ou indiretamente, coma agricultura durante a estação chuvo-sa, quando a exploração e o transpor-te da madeira eram interrompidos de-vido às condições precárias das estra-das. O capital adquirido através daexploração madeireira era investidoem agricultura, principalmente no es-tabelecimento de cultivos perenes, eem pecuária.

Os extratores e as estradasvicinais: Para transportar a madeira dafloresta para as serrarias da região foinecessária a construção de estradasvicinais. Das 40 vicinais da PA-150estudadas, 36 eram adequadas ao trá-fego de veículos. As outras quatroeram apenas caminhos na floresta. Nototal, esses 36 ramais representaram272 km. Sessenta e nove por cento des-sas estradas foram abertas por madei-

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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reiros, embora em um terço das es-tradas os madeireiros também tives-sem a colaboração de colonos e fa-zendeiros. Os colonos contribuírampara a construção dessas estradasvicinais, doando madeira de seus lo-tes.

A exploração madeireira emtermos econômicos: A produção deuma equipe típica de exploração ma-deireira em Tailândia é baixa: umamédia mensal de 250 m3 de madeiraem tora (volume Francon, equivalen-te a 77% do volume real). A variaçãode produção entre as equipes é ele-vada (s=78), o que resulta das dife-renças de abundância de madeira en-tre as áreas, condições do equipamen-to, habilidade do operador da motos-serra, condições da estrada, época doano (a produção é praticamente para-lisada durante o período de chuvas),entre outras.

Os ganhos ob t idos por umextrator de madeira numa região defronteira são razoáveis. Para efeito decálculo, consideramos, inicialmente,os custos da exploração. Esses cus-tos incluem mão-de-obra, alimenta-ção, combustível, manutenção e ma-téria-prima (árvore em pé). O gastomensal com a mão-de-obra (dois aju-dantes e um operador de motoserra)foi de US$ 266. Os extratores tam-bém forneciam a alimentação para aequipe de exploração. O valor da ces-ta de alimentos consumida pela equi-pe foi US$ 160 por mês. As despesascom combustível (óleo e gasolina) fo-ram US$ 164. No cálculo dos custos

de manutenção, consideramos a repo-sição das peças da motoserra (quatrocorrentes, oito limatões e uma limachata), num valor total de US$ 360.Os gastos com matéria-prima repre-sentaram US$ 200 (40 árvores x US$5). Assim, a soma dos gastos mensaisdos madeireiros de motosserra foi, emmédia, US$ 1.150 (Tabela 1).

Tabela 1. Valores médios de produção,gastos e renda mensal (US$) de 10extratores de madeira no município deTailândia, Pará, em janeiro de 1989.

1 O preço da madeira vermelha, em tora, no pátiodas serrar ias era de US$ 18/m3, em janeiro de1989 (250 m3 x US$ 18/m3=US$ 4.500).

2 A renda da produção está de acordo com o tipo denegócio feito entre os extratores e os transporta-dores de toras; neste caso, o valor da produção édividido igualmente entre as duas partes.

3 Para produzir 250 m3 de madeira em tora, eramnecessárias 40 árvores, que equivalem, em mé-dia, a 6,2 m3, em volume Francon (40 árvores xUS$ 5/árvore=US$ 200).

4 As equipes de extração eram compostas por umoperador de motoserra, com salár io mensal deUS$ 132 e dois ajudantes, com salário de US$ 67cada um, para 22 dias de trabalho por mês.

5 Os gastos com alimentação, combustível (óleo lu-brificante e gasolina) e manutenção são baseadosno acompanhamento do trabalho de quatro equi-pes, durante oito dias cada.

PRODUÇÃO

Produção mensal (m3) 250 (s=78)Valor da produção (US$)1 $ 4.500Renda da produção (US$)2 $ 2.250

GASTOS (US$)

Matéria-prima3 $ 200Mão-de-obra4 $ 266Al imentação5 $ 160Combust íve l $ 164Manutenção $ 360Gasto total $ 1.150

Renda Líquida (US$) $ 1.100

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Agora é importante considerar arenda líquida obtida pelos extratores.Para uma produção de 250 m3 de ma-deira em tora, estimamos que o extratorrecebe US$ 4.500 (preço médio pormetro cúbico de tora no pátio da ser-raria = US$ 18; janeiro, 1989). Mui-tas vezes, o extrator não possui cami-nhão para transportar a tora e precisaassociar-se a um transportador. Nessecaso, extrator e transportador dividemigualmente o valor que a serraria pagapela madeira (US$ 4.500/2 = US$2.250). Portanto, estimamos que a ren-da líquida mensal obtida, em média,pelos extratores, gira em torno de US$1.100 [(US$ 4.500/2) - US$ 1.150 =US$ 1.100)].

Esse valor merece, ainda, duasobservações. Primeiro, a atividademadeireira acontece, no máximo, emsete meses do ano. Por isso, o extratorprecisa garantir um bom rendimentonesse período para compensar o res-tante do ano, quando as chuvas impe-dem a exploração. Segundo, a receitalíquida varia muito durante os mesesde exploração (junho a janeiro). Osganhos são maiores no final do perío-do de exploração (dezembro a janeiro- época do nosso estudo), quando asserrarias procuram adquirir maior vo-lume de tora para formar o seu esto-que e, assim, manterem a produção noperíodo das chuvas, quando cessa aextração.

Tempo e energia envolvidos naexploração madeireira: Na avaliaçãoda fronteira madeireira, foi estudada,também, a eficiência do processo de

exploração. “Eficiência”, neste contex-to, equivale ao volume de madeira ex-traído por unidade de tempo e/ou ener-gia consumida.

Verificamos que 44% do tempototal da exploração são gastos, real-mente, nas atividades de preparar amadeira. A maioria desse tempo é gas-to na construção de estradas de explo-ração e da área de embarque das toras(zonas de acostamento) próximo acada árvore extraída. As estradas sãoconstruídas seguindo o caminho demenor resistência até a árvore a ser ex-traída e fazendo a retirada das árvoresmenores, dos galhos e dos cipós, como uso de facão e machado. As motos-serras são utilizadas para cortar as ár-vores maiores ao longo do caminho.O simples trabalho de derrubar as ár-vores de valor madeireiro requer, so-mente, 14 minutos por árvore, repre-sentando 2% do tempo total da explo-ração. Por causa disso, os madeirei-ros não hesitam em derrubar todas asárvores de valor comercial encontra-das, ainda que suspeitem de árvorescom defeitos internos.

As atividades secundárias, comomanutenção de equipamento, descan-so e refeições, consomem 23% do tem-po de trabalho. O restante (33%) égasto em imprevistos, como por exem-plo, quando o sabre da motosserra ficapreso na árvore, ou quando uma chu-va forte interrompe o trabalho.

Combinando essa informação dotempo gasto durante a exploração comos valores de produção, podemos es-timar a eficiência no uso do tempo.Essa estimativa está baseada em dados

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de observação do tempo gasto para pre-parar 14 árvores na floresta (Tabela 2).O volume real das toras foi, em média,11 m3. O tempo médio gasto por pes-soa para preparar uma tora na mata (in-cluindo todas as fases de preparação)foi 13 horas, ou 70 minutos de traba-lho humano requeridos para cada metrocúbico. Assim, uma equipe de três pes-soas, trabalhando oito horas por dia,pode produzir 20 m3 por dia, ou 440 m3

por mês.Eficiência também pode ser ava-

liada em termos de produção por uni-dade de energia gasta. Avaliações ba-

seadas em eficiência de energia sãocada vez mais relevantes com a dimi-nuição dos recursos energéticos nomundo. Em Tailândia, aproximadamen-te 3.000 kcal (quilocaloria — unidadede medida de energia) de energia sãogastos para cada metro cúbico de madei-ra em tora preparado na floresta duran-te a exploração (como ponto de referên-cia, um homem adulto precisa consumiresta mesma quantidade de energia, pordia, para se manter). Somente 10% daenergia total gasta (268 kcal) provêm doesforço humano; o resto (2.681 kcal)corresponde ao combustível gasto para

Tabela 2. Tempo médio, em minutos, gasto em cada etapa da exploração de 14árvores no município de Tailândia, Pará.

1 Os números entre parênteses mostram o desvio padrão da média.

2 Em média, 53 m de estrada de exploração madeireira (s=43) foram construídos por árvore extraída.

3 Em média, 126 m2 de florestas (s=29) foram derrubados próximos a cada árvore cortada para permitir oembarque das toras nos caminhões.

4 O volume médio, sem casca, por árvore extraída foi 11,2 m3 (s=6,1).

Atividades e etapas Tempo em minutos

Atividades diretamente relacionadas com a extração

Procura da árvore 9

Limpeza na zona do tronco para facilitar a derruba 5 (9)1

Corte com motoserra 9 (4)

Abertura da estrada de exploração2 180 (167)

Abertura das áreas de embarque das toras3 113 (99)

Medição das toras 7 (5)

Corte das toras para embarque 20 (10)

Tempo total 343

Outras atividades relacionadas com a extração

Movimentação pela área 87

Manutenção do equipamento 47

Descanso e inatividade 302

Tempo total 436

Eficiência do trabalho na exploração seletiva

Tempo total de preparo de cada árvore 779

Tempo de preparo de 1 m3 de tora4 70

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o funcionamento da motosserra (gaso-lina e óleo) (Tabela 3).

Os dados preliminares de um es-tudo semelhante a este, na região deParagominas, 200 km a leste deTailândia, onde a exploração florestalé feita com tratores de esteira, reve-lam que a relação de eficiência de tem-po e energia modifica-se quando a ex-ploração se torna mais mecanizada.Por exemplo, a exploração de madei-ra em Paragominas é, pelo menos, qua-tro vezes mais rápida do que em

Tailândia (uma equipe de três pessoasem Tailândia produz 20 m3 por dia, en-quanto uma equipe em Paragominaspode produzir 80 m3/dia). A energiagasta por metro cúbico de madeira pre-parado é pelo menos quatro vezes mai-or em Paragominas, porque o trator deesteira requer 130 litros - 150 litrosde óleo diesel por dia. Portanto, a ex-ploração mecanizada pode ser maisprodutiva em termos de eficiência douso do tempo, mas não em termos douso de energia.

Tabela 3. Tempo (minutos) e energia (quilocalorias) gastos na exploração de 1m3 de madeira no município de Tailândia, Pará.

ENERGIA HUMANATempo (min/m3) Kcal/min1 Kcal total

Trabalho exigente(derrubar árvores e abrir ramais de arraste) 28,7 6,7 192

Trabalho normal(procurar árvores e medir toras) 9,9 3,0 30

Trabalho leve(manutenção do equipamento) 4,2 2,0 8

Descanso(sentar em repouso) 27,1 1,4 38

Total de tempo e energia humana 70,9 268

ENERGIA FÓSSILLitro/m3 Kcal/litro2 Kcal

Gasolina 0,205 8209 1683Óleo 0,104 9577 996

Total de energia fóssil 2679Total de energia humana e fóssil 2947

1 Consideramos que o trabalhador tem um peso de 60 kg e um metabolismo basal de 1 kcal/kg/hora. Asestimativas da energia gasta em diferentes tipos de trabalho são baseadas no trabalho de Rose (1938).

2 Fonte: Spiers, 1950.

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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Interação entre os extratorese os outros atores

Para explorar e transportar o recur-so florestal na região de Tailândia, háuma variedade de atores envolvidos (Fi-gura 4). Os mais comuns são os extrato-res, que além da exploração florestal re-alizam também o transporte da madeiraaté as serrarias. No entanto, há tambémextratores que realizam apenas a explo-ração, ficando a tarefa de transportar amadeira com o transportador. Muitas ve-zes, as toras de madeira são carregadasda área de exploração, via estradavicinal, apenas até as margens da rodo-via. Por isso, esse transportador é cha-mado, aqui, de “transportador devicinal”. Os pneus usados por essestransportadores são muito precários e têmdificuldade de trafegar na rodovia (ospneus não suportam rodar muito no as-falto). Para a madeira chegar à serraria épreciso que um outro transportador, quetenha caminhão com condições de andarna rodovia, reembarque as toras e as car-regue até as serrarias. Para efeito de ori-entação, vamos chamar esse último atorde “transportador de rodovia”.

Além dos extratores e transpor-tadores de madeira em tora, encontra-se um outro intermediário da ativida-de madeireira na fronteira, o “madei-reiro autônomo”. Ele não possui ne-nhum equipamento, apenas capital.Inicialmente, ele negocia a venda damadeira serrada para um comprador(em geral, depósitos de revenda demadeira serrada). A partir daí, ele pro-cura comprar o volume de madeira emtora necessário para atender a esse con-

trato. A madeira em tora é adquiridatanto na cidade de Tailândia como nasmargens da rodovia PA-150, onde hádepósitos de toras ao ar livre. Após acompra, ele freta um caminhão paralevar as toras até uma serraria e alugao t rabalho dessa serrar ia para oprocessamento das toras. Por último,esse madeireiro embarca a madeirapara o comprador com quem ele haviafeito o contrato. Resumindo, o madei-reiro autônomo, mesmo sem constituiruma empresa e dispondo apenas de ca-

Figura 4. Rede de atores envolvidos naexploração, transporte e processamentoda madeira em tora na região deTailândia, Pará.

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pital, consegue viabilizar todas as ta-refas de uma serraria, como a comprada matéria-prima, processamento e ven-da da madeira.

Serrarias

Origem e características: Atual-mente, as serrarias representam a for-ça central na economia de Tailândia.No entanto, entre 1978 e 1985, antesdo asfaltamento da PA-150, apenas al-gumas serrarias de pequeno porte ha-viam se instalado naquela região.Após o asfaltamento da PA-150, em1986, houve um expressivo aumentono número de serrarias em funciona-mento (Figura 5a).

A maioria dos empresários da in-dústria madeireira de Tailândia (68%)é originária das regiões Sul e Sudestedo País (Figura 5b). Apesar de todosos proprietários de serrarias da regiãode Tailândia (n=48) terem participadoanteriormente de alguma forma do se-tor madeireiro (exploração, donos dedepósitos de madeira, compradores demadeira serrada, etc.), apenas 37% ti-nham sido donos de serrarias. De fato,a maioria das empresas (63%) foi ins-talada pela primeira vez em Tailândiae não transferida de outras regiões.

A produção das serrarias varia de40 m3 a 680 m3 por mês (Figura 5c),com uma produção mensal típica entre250 m3 e 350 m3. Essa grande variaçãona produção resulta, especialmente, dotipo de maquinário utilizado. Das 48empresas madeireiras visitadas, trezeutilizavam maquinário antigo (serra cir-

cular), que limita a produção e a quali-dade do produto serrado; trinta e trêsserrarias possuíam uma serra de fitasimples (em geral, uma por indústria)e duas empresas possuíam máquinasrotativas para produção de lâminas decompensado.

As serrarias de Tailândia apresen-tam um elevado desperdício de matéria-prima na produção de madeira serrada,isso porque a maioria dessas serrariasconcentra sua produção em apenas umtipo de produto: pranchas de madeiraserrada com dimensões padronizadas.Nas regiões madeireiras antigas, comoParagominas, a produção é maisdiversificada, com as serrarias produzin-do portas, assoalhos, forros, janelas, etc.Em Tailândia, poucas serrarias (apenas9%) estavam fazendo esta diversifica-ção em sua produção.

O mercado externo tem aindauma participação modesta na produ-ção total das empresas em Tailândia -geralmente, menos que 25%. O maiorpreço pago pelas madeiras de expor-tação (geralmente o dobro do merca-do interno) estimula esse tipo de co-mércio. Entretanto, o mercado exter-no é rigoroso em termos de qualida-de, exigindo um produto com dimen-sões precisas e livre de defeitos. Issoprovoca uma diminuição no rendimen-to de cada tora de madeira que podeser aproveitada.

O pequeno porte empresarial dasserrarias de Tailândia também está re-fletido na falta de participação das em-presas na exploração florestal (Figura5d). De fato, as toras são adquiridasjunto aos intermediários, extratores e

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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transportadores, nos pátios das serrari-as. Até mesmo as empresas que possu-em equipes de exploração (23%) cos-tumam adquirir matéria-prima dessesintermediários.

Economia das serrarias: Combi-nando os preços de venda da madeiraserrada e os custos envolvidos na pro-dução dessa madeira, é possível ter umentendimento geral do padrão econô-mico das serrarias numa região de fron-teira. A seguir, apresentamos uma esti-mativa financeira para uma serraria tí-

pica em Tailândia, com produção men-sal de 320 m3.

A renda bruta mensal da serrariaseria de US$ 28.800, considerando-seo preço da madeira serrada igual a US$90/m3. Atualmente, metade, ou menosda metade, do volume de madeira emtora é transformado em madeira serra-da. Tem-se, então, diferentes padrõesde rendimento entre as serrarias. Poressa razão, calculamos os custos deprodução baseados em dois modelos:um com rendimento alto (50%) e outrocom rendimento baixo (33%).

Figura 5. Características das serrarias na região de Tailândia, Pará.

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Os custos totais de produção foramestimados em US$ 17.069 e US$ 23.440,respectivamente, para cada modelo deserraria (Tabela 4). Além do preço damadeira em tora, os custos de produçãoincluem mão-de-obra, combustíveis etaxas de manutenção. Fazendo essas con-siderações, estimamos que a receita líqui-da mensal hipotética para essas empre-sas seria US$ 11.731 (50% rendimento)e US$ 5.328 (33% rendimento).

A exploração e o transporte detoras ficam praticamente paralisadosdurante o período das chuvas. As ser-rarias procuram estocar madeira em torapara manter a produção durante esseperíodo (cinco meses). Porém, nem to-das as empresas têm capital suficientepara estocar madeira. Em janeiro de

1989 (início da estação chuvosa), 31%das serrarias de Tailândia não estavamtrabalhando, por falta de estoque demadeira. A análise geral da economiadessas serrarias ajuda a explicar porque nem todas as empresas têm capitalsuficiente para formar o seu estoque demadeira. No exemplo utilizado, apenasas serrarias com 50% de rendimentopoderiam estocar madeira suficientepara trabalhar durante os cinco mesesde chuva. Essas empresas poderiamacumular uma renda líquida de US$82.000 ao longo dos sete meses de ex-ploração, possibilitando a aquisição deum estoque de 3.200 m3 de madeira emtora, que é o volume necessário paramanter a produção durante o inverno(Tabela 4). Porém, para as serrarias

Modelos

Rendimento I) 33% II) 50%

Custos de produção

Matéria-prima $ 17.280 $ 11.520

Processamento $ 6.160 $ 5.635

Custo total de produção $ 23.440 $ 17.155

Rentabilidade

Receita bruta $ 28.800 $ 28.800

Receita líquida (RL) $ 5.326 $ 11.731

Estoque de toras para o inverno

Estoque para 5 meses de inverno 4.800 m3 3.200 m3

RL acumulada em 7 meses de verão $ 37.296 $ 82.117

Nº de meses de trabalho com o estoque 2,2 51

possível de ser feito com a renda do verão

Tabela 4. Estimativa mensal dos custos e da receita líquida (US$) de uma serrariatípica na região de Tailândia, com produto de 320 m3 de madeira serrada pormês, considerando rendimentos de 33% e 50% no processamento das toras.

1 Um total de US$ 57.600 são requeridos para formar o estoque necessário para manter a serraria funcio-nando durante os cinco meses de inverno, quando não há extração.

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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com rendimento de apenas 33%, a re-ceita líquida acumulada no final doverão permite formar um estoque paraapenas 2,2 meses de trabalho.

Os ganhos relativos entre osagentes da atividademadeireira

A maioria das serrarias dependedos extratores como fornecedores dematéria-prima. A madeira passa doproprietário do recurso (colono) parao extrator e, finalmente, para a serra-ria. Usamos os dados apresentadospara determinar a divisão dos ganhosentre esses agentes. Em Tailândia, opreço em geral da árvore na florestaera de US$ 5; o da madeira em torano pátio da serraria, US$ 18/m3; e oda madeira serrada, aproximadamen-te, US$ 90/m3 – em janeiro de 1989.Além disso, consideramos uma produ-ção mensal de 320 m3 e um rendimen-to de 50%. Os cálculos revelam queos proprietários do recurso (os colo-nos) recebem apenas 1% do valor to-tal da madeira serrada, enquanto osmadeireiros recebem 39% e as serra-rias, 60% do total. Admitimos que es-ses cálculos são “crus” e que apenasconsideram a receita bruta dos madei-reiros e das serrarias. Contudo, essescálculos ajudam a explicar por que al-guns colonos tendem a se envolver deforma mais ativa no processo de ex-ploração madeireira, como extratoresou transportadores.

A atividade madeireira emuma região de fronteira naAmazônia Oriental: osimpactos ecológicos

O volume extraído e os danosassociados à exploração

A exploração madeireira emTailândia é altamente seletiva, comcerca de 15 espécies sendo extraídas.As três áreas de floresta estudadas fo-ram similares em termos de tamanhoe intensidade de exploração (Figura 6,Tabela 5), com uma média de duas ár-vores ou 16 m3 extraídos por hectare.Além da madeira coletada, 0,37 árvo-re/ha foi derrubada, mas não aprovei-tada, devido a defeitos (geralmenteocos). A cobertura média de dossel,após a exploração, foi de 8,1% (n=3áreas). Além disso, uma média de 53metros de estradas de exploração foiconstruída para cada árvore extraída.A área de clareira formada com a cons-trução dessas estradas de exploraçãoe com zonas de acostamento foi 5,5%(área 1), 5,3% (área 2) e 6,7% (área3) da área total explorada.

Expressando esses índices emtermos de volume, tem-se que 9,3 m3

de madeira foram danificados paracada árvore extraída (8 m3). Somandoo volume de madeira extraída (16 m3/ha) com a madeira cortada mas nãoextraída (3 m3/ha) e com a madeiradanificada (19 m3/ha), o volume totalde madeira perdida é de quase 40 m3/ha. Expressando esses valores em ter-mos de densidade, a extração de uma

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ração. Aproximadamente, metade dasárvores danificadas era de espéciessem valor econômico, enquanto o res-to pertencia às espécies com valor co-mercial no presente ou em potencial(Figura 7b).

Os danos da exploração tambémpodem ser classificados por tipo. Qua-

Figura 6. Mapas das três áreas utilizadas para o estudo dos impactos ecológicosda exploração seletiva de madeira na região de Tailândia, Pará.

Área Tamanho Área Nº de Nº de Volume Densidade de (ha) basal árvores espécies extraído extraídaestudo (m2/ha) extraídas extraídas (m3) arv/ha m3/ha

(DAP>10 cm)

I 16,23 22,6 26 10 228 1,6 14,0

II 15,53 28,8 27 7 232 1,7 14,9

III 16,66 23,2 44 15 316 2,6 19,0

Média 16,14 24,9 32,3 10,6 258 2,0 16,0

Tabela 5. Características de três áreas de estudo utilizadas para examinar os impactosecológicos da exploração seletiva de madeira na região de Tailândia, Pará.

árvore danificou, em média, 26 outrasárvores com DAP maior ou igual a 10cm (diâmetro na altura do peito) (Fi-gura 7a). Metade desses danos foi con-centrada nas clareiras e zonas de acos-tamento — nas áreas mais próximas daqueda das árvores – e a outra metadeestava associada às estradas de explo-

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renta e seis por cento das árvores dani-ficadas foram cortadas, para aberturada estrada de exploração e zonas deacostamento; 41% foram quebradas;8% foram arrancadas; e 5% foram ras-

gadas. Essas árvores quebradas, arran-cadas e rasgadas estavam localizadas,geralmente, nas clareiras formadas peladerrubada das árvores de valor no pro-cesso de exploração.

Interpretação dos danosassociados à exploração

A floresta de Tailândia contém, emmédia, 495 árvores com DAP maior ouigual a 10 cm por hectare (média dastrês áreas de estudo). Após exploração,as três áreas perderam, em média, 58árvores/ha: 52 árvores foram danifica-das na exploração (2 árvores/ha), e umamédia de 6 árvores/ha foi danificadana derrubada de árvores não aprovei-

tadas (geralmente por estarem ocas).Portanto, a densidade de árvores comDAP ≥ 10 cm após a exploração foireduzida em 11%.

Até o momento, existe poucabase prática para que as agências go-vernamentais possam determinar o queconstitui uma exploração racional emtermos ambientais. Essa pesquisa suge-re que índices objetivos de impactoambiental poderiam ser aplicados poresses órgãos para verificar os impac-tos da exploração madeireira. Os ele-

Figura 7. Número médio de árvores danificadas na extração de uma só árvoreem três áreas de estudo na região de Tailândia, Pará. Os danos são classificadosconforme a localização da árvore (clareira, estrada de exploração eacostamento) (7a) e quanto ao valor da madeira das árvores (7b).

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mentos que poderiam ser usados paratais índices são:

1 — relação entre metro cúbicode estrada de exploração construída emetro cúbico de madeira extraída, as-sumindo que uma grande área de es-trada aberta por unidade de volumeextraído é indesejável;

2 — volume de resíduos de ma-deira deixados na floresta comparadocom o volume de madeira extraído,assumindo que um grande volume deresíduos por unidade de volume demadeira extraída significa uma práti-ca de exploração ineficiente;

3 — relação entre o percentualde abertura de dossel da floresta devi-do à exploração e ao volume explora-do, assumindo que uma elevada por-centagem de dossel aberto por volu-me extraído revela uma prática de ex-ploração incorreta.

Informação detalhada relativa aolocal e tipo de dano da exploração étambém vantajosa no desenvolvimen-to de medidas para reduzir estes im-pactos (Tabela 6). A pesquisa mostraque uma parte significativa dos danosrelacionados à exploração pode serreduz ida. Por exemplo , Marn eJonkers (1981), trabalhando na flores-ta tropical de Sarawak (Malásia), mos-t ra ram que o p lane jamento pré-exploratório da abertura das estradas,combinado com a orientação da dire-ção de queda das árvores, reduziu osdanos na floresta em 33%. Nossasobservações na Amazônia Orientalsugerem que os danos nas árvores po-

deriam ser reduzidos substancialmen-te com o planejamento das estradas deexploração e com a condução de umcorte pré-exploratório dos cipós queenvolvem as árvores de valor.

Regeneração das clareirasexploradas

As clareiras criadas na explora-ção seletiva são locais favoráveis pararegeneração das árvores, devido àabundância de luz e nutrientes (na for-ma de resíduos em decomposição). Emnosso estudo, em dez parcelas de 5 mx 15 m, plotadas em dez clareiras, en-contramos uma média de 14,3 indiví-duos de valor madeireiro por parcela(s=6,7), distribuídos entre 20 espécies.Cinqüenta e nove por cento de todasas plântulas encontradas foram distri-buídos em 5 espécies: Apeibaburchellii Sparague (pente de macaco),Bagassa guianensis Aubl. (tatajuba oubagaceira), Cordia goeldiana Huber(freijó ou freijó jorge), Laetia procera(P. et E. ) E ich l . (pau jacaré oupiriquiteira), e Lecythis sp. (jarana ousapucaia). Dado que o tamanho médiodas clareiras abertas pelas árvores ex-traídas foi de 333 m2 (s= 153), um es-toque natural de 63 plântulas de espé-cies madeireiras por clareira foi alcan-çado após 15 meses da exploração se-letiva. Três quartos dessas mudas esta-beleceram-se após a retirada da madei-ra da área. A maioria das plântulas fi-cou entre 25 cm - 100 cm de altura(77%), com o restante entre 1 m e 3 mde altura. Em geral, esses resultados

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Exploração Seletiva de m

adeiras em T

ailândia27

Tabela 6. Resumo dos danos causados na exploração seletiva de madeira em Tailândia, Pará, e sugestões de como estainformação pode ser utilizada pelos órgãos governamentais de fiscalização da atividade madeireira.

A e B) Elaboração de índices de impacto. Ex.:- Área afetada (%)/volume extraído (m3/ha): 13,9% /16m3=1:1;- m2 de chão aberto / m3 de madeira extraída;- Nº árv. danificadas / m3 de árvore extraída: 26 árv.danif./ 8 m3=3:1;- m3 danif. / m3 extraído: 9,5 m3 / 8m3 =1:1.

C) Mecanismos de fiscalização e controle:- Conhecer a abundância do recurso e a produtividadedas equipes de extração torna possível estabelecerlimites específicos de tamanho para cada espécie explo-rada e determinar o nº de equipes que podem atuarnuma área sem esgotar o recurso florestal.

D e E) Critério para adotar manejo pré-exploratório:Com o objetivo de reduzir danos, de acordo com asua localização e tipo, recomenda-se:- corte de cipós antes da exploração;- derruba direcionada;- planejamento de estradas;- proteção de árvores de valor.

F) Critério para adotar manejo pós-exploratório:De acordo com o valor da madeira, recomenda-se:- remoção da madeira sem valor, com anelamento, paraabrir espaço para árvores desejáveis da floresta rema-nescente.

DADOS APLICAÇÃO DOS DADOS

A) Área afetada pela exploração:- 8,1% de abertura de dossel nas clareiras;- 5,8% de abertura nas estradas e áreas de embarque;- 13,9% de abertura total.

B) Danos causados com a extração de uma árvore:- 25,8 árv. (DAP ≥ 10cm) danificadas/árv. extraída;- 9,5 m3 de madeira danificado/8 m3 extraídos.

C) Riqueza do recurso e tempo de exploração:- 2 árvores de alto valor extraídas/ha;- 70 minutos de trabalho humano/m3 ou 15 m3

extraídos/dia/equipe.

D) Localização dos danos:Clareiras 33%Áreas de embarque 22%Estradas de exploração 45%

E) Classificação de danos nas árvores por tipo:Cortadas 46%Quebradas 41%Arrancadas 8%Rasgadas 5%

F) Classificação dos danos nas árvores por valor:Valor alto 5%Valor médio 29%Valor baixo 16%Sem valor 50%

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ilustram que existe uma ampla regene-ração de espécies de valor madeireironas clareiras, após a exploração seleti-va. Porém, as espécies que são abun-dantes na regeneração não são neces-sariamente as mesmas que estão sendoextraídas pelos madeireiros. Por exem-plo, maçaranduba (Manilkara huberiStandley) foi a espécie mais extraídaem todas as três áreas de estudo (Tabe-la 7), mas a sua ocorrência nas clarei-ras estudadas foi muito rara: apenas umindivíduo encontrado.

O potencial produtivo dorecurso florestal

A f loresta remanescente emTailândia tinha um bom estoque de ár-vore, tanto na classe de diâmetro pe-queno como na de diâmetro maior (Ta-bela 7). Contudo, muitas (45%) dasárvores na classe de DAP entre 10 cme 29 cm são de espécies do sub-bos-que (ex: Rinorea guianensis ou canelade jacamim), sem valor comercial. So-mente 3% de todos os indivíduos nes-sa classe de tamanho possuíam altovalor econômico.

Na classe de diâmetro maior(DAP ≥ 30 cm), as espécies de altovalor representaram 11% de todos osindivíduos, e as espécies de valor mo-derado e baixo representaram 47% e31% de todos os indivíduos, respecti-vamente.

Para avaliar o potencial das espé-cies madeireiras da floresta remanes-cente, calculamos o volume e o valordas árvores restantes em cada uma das

três áreas exploradas (Tabela 8). Paraesses cálculos, consideramos somenteárvores com DAP ≥ 40 cm, com valorcomercial presente ou futuro. Dessaforma, verificamos que a floresta rema-nescente em Tailândia contém, em mé-dia, 127 m3 de madeira por hectare, dosquais 26 m3 são de alto valor (US$ 23/m3); 80 m3 são de valor moderado (US$18/m3); e 21 m3 são de baixo valor (US$8 m3). Esses valores estão de acordocom os preços pagos pelas serrariaspara a madeira em tora - o preço antesdo processamento. Se os preços dasmadeiras de valor aumentarem, essescálculos podem ser conservadores. Poroutro lado, sem excluir as árvores de-feituosas (tortuosas, ocas, etc.) pode-mos estar superestimando o valor do re-curso madeireiro.

Na prática, a madeira restante nafloresta explorada não é extraída por-que as serrarias de Tailândia conside-ram mais rentável processar somente asárvores de maior valor comercial (cer-ca de 15 espécies). Ao mesmo tempo,a madeira de valor deixada na florestapode ser destruída por colonos que, acada ano, derrubam muitos hectares defloresta, cortando e queimando cerca de127 m3/ha de madeira utilizável nesseprocesso. Mas se a floresta remanes-cente fosse simplesmente abandonada,poderia acumular madeira de valor po-tencial para os colonos. Por exemplo,assumindo uma taxa de crescimentodiamétrico de 0,5 cm/ano (baseado emSilva et al., 1988), o volume total demadeira acumulado após 20 anos se-ria de 51 m3/ha, ou o equivalente aUS$ 770 (preços de fevereiro, 1989).

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Exploração Seletiva de madeiras em Tailândia

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Tabela 7. Número de árvores de DAP ≥ 30 cm e entre 10 cm e 29 cm, presentesem vinte parcelas de 0,1 ha (árvores com DAP ≥ 30 cm) e vinte sub-parcelas de0,02 ha (10 cm ≤ DAP ≤ 29,9 cm), em três áreas recém exploradas na região deTailândia, Pará, classificadas pelo valor da sua madeira.

Número de indivíduos

Nome científico DAP ≥ ≥ ≥ ≥ ≥ 30 cm 10 cm ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ DAP ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ 29,9 cm

Área 1 Área 2 Área 3 Nº/ha Área 1 Área 2 Área 3 Nº/ha

Árvores de alto valorAstronium gracile Engl - - - - - 1 - 0,8Cariocar villosum (Aubl.) Pers - 1 - 0,2 1 - - 0,8Cordia goeldiana Huber - 1 2 0,5 - - - -Couratari guianensis Aubl. 1 - 1 0,3 - - - -Dinizia excelsa Ducke - - - - - - 1 0,8Euxylophora paraensis Huber - - 1 0,2 - - - -Hymenaea courbaril/L. 4 - 2 1,0 - - 1 0,8Manilkara huberi Standley 12 6 14 5,3 5 1 - 5,0Parkia sp. 2 2 1 0,8 - - 1 8,0Qualea paraensis Ducke 1 - 1 0,3 1 - - 0 ,8

Árvores de valor médioAnacardium giganteum Hanc. ex. Engl. 1 - 1 0,3 - - - -Apeiba burchelli Sprague. - 1 3 0,7 - 2 1 2,5Brosimum acutifolium Huber subsp. Acutifolium 3 - 1 0,7 - - - -Buchenavia grandis Ducke - - - - 1 - - 0,8Byrsonima aerugo Sagot. - - - - - 1 - 0,8Caryocar glabrum (Aubl.) Pers. - - 1 0,2 - - - -Caupia glabra Rubl. - - 1 0,2 - - - -Hevea brasiliensis (Willd. ex. Juss) Muell. Arg. - - 1 0,2 - - - -Inga alba (SW) Willd. 3 - 1 0,7 - - - -Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don. - 1 - 0,2 - - - -Laetia procera (Poepp) Eichl. - - 5 0,8 - 1 - 0,8Lecythis pisonis Cambess. - 2 - 0,3 - - - -Macrolobium campestre Hub. 3 1 3 1,2 3 3 - 5,0Micropholis egensis (A. DC) Pier. - - - - - - 2 1,7Ocotea sp. - - 1 0,2 1 - - 0,8Parahancornia amapa Hub. 1 - 5 1,0 - 1 3 3,3Newtonia suaveolens (Miq) Brenam. 1 1 2 0,8 - 2 1 2,5Pithecellobium pedicellare (DC) Bth. - 1 1 0,3 1 - 1 1,7Planchonela pachycarpa Pires. 5 2 - 1,2 6 - - 5,0Plantonia insiguia Mart. 1 - - 0,2 - - - -Pauteria guianensis Rubl. 5 8 10 3,8 4 3 13 16,6Radlkoferelia sp. 1 - - 0,2 4 2 1 5,8Richardella macrocarpa (Huber) Aubr. - - - - - - 1 0,8Sclerolobium crysophyllum Poepp & Endl. 2 - - 0,3 - - - -Sclerolobium paraensis Huber - - 1 0,2 1 - - 0,8Sclerolobium sp. - 2 5 1,2 1 - 1 1,7Simaba cedron Pianchl - - - - - - 1 0,8Sterculia pruriens (Aubl.) Schum. 2 2 5 1,5 1 1 2 3,3Syzygiopsis oppositifolia Ducke 6 5 4 2,5 6 1 - 5,8Tachigalia myrmecophilla Ducke 1 - - 0,2 1 1 - 1,7Tetragastris altissima (Aubl.) Sw 17 - 10 4,5 - - - -Vouacapoua americana Aubl. 19 31 25 12,5 2 7 7 13,3Virola michelii Hechel 1 2 1 0,7 2 - - 1,7Xylopia nitida Dun. - - - - 2 - 1 2,5

Outras: 7 2 8 2,6 6 1 4 9,1

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Número de indivíduos

Nome científico DAP ≥ ≥ ≥ ≥ ≥ 30 cm 10 cm ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ DAP ≤ ≤ ≤ ≤ ≤ 29,9 cm

Área 1 Área 2 Área 3 Nº/ha Área 1 Área 2 Área 3 Nº/ha

Árvores de baixo valor:Eschweilera ssp. 3 5 1 1,5 3 2 2 5,8Lecythis idatimon Aubl. 10 18 9 6,2 22 21 21 53,1Lecythis lurida (Miers) Mori 5 5 7 2,8 4 - - 3,3Parinari rodolphii Huber - 2 - 0,3 - - - -Peltogyne venosa subsp. densiflora - - - - - - 1 0,8Tapirira guianensis Aubl. 1 - - 0,2 - - 1 0,8

Outras: 28 25 30 13,8 9 12 7 24,1

Árvores sem valor:Cecropia seyadophyla Mart. - - 1 0,2 - - - -Cecropia sp. - 1 - 0,2 - - - -Chimarrhis turbinata D. C. 1 2 3 1,0 1 - - 0,8Diospyros mellinoni (Hiern) A. C. Sm. 1 - - 0,2 - - 1 0,8Duguetia spp. - 3 2 0,8 5 - 2 5,8Guatteria spp. 2 - - 0,3 1 - 1 1,7Inga heterophyla Willd - - - - - - 1 0,8Inga sp. 3 1 4 1,3 5 7 4 3,2Licania heteromorpha Benth. - - 1 0,2 3 3 4 8,3Licania kunthiana Hook F. 2 9 4 2,5 5 1 7 10,8Licania leptostachya Benth. - 1 - 0,2 - - 1 0,8Micania minutiflora (Bompl.) DC. - - 2 0,3 1 3 3 5,8Meea sp. - - - - 1 1 - 1,7Oenocarpus distinchus Mart. - - - - - 2 - 1,7Poecilanthe effusa (Huber) Ducke - - - - 1 1 - 1,7Pouroma guianensis Rubl. - - - - - - 1 1,7Pouteria spp. - - 4 0,7 3 - 9 10,0Protium sp. 1 - - 0,2 1 1 4 5,0Rinorea guianensis Rubl. 2 2 - 0,7 29 13 16 48,1Rinorea martini (Turez) Black - - - - 3 2 6 9,1Sayotia racemosa Baill. - - - - 5 5 6 13,3Simaba cedron Planchl. 2 - - 0,3 - - 3 2,5Vismia macrophylla H.B.K. - - - - 1 - - 0,8

Outras: - - 2 0,3 1 3 3 5,8

Esse total consiste de 8,9 m3 de ma-deira de alto valor; 32 m3 de médiovalor e 10,2 m3 de baixo valor (Tabela8). Se a taxa de crescimento fossemenor (por exemplo, 0,25 cm/árvore/

ano), a acumulação de madeira seriade 23 m3/ha, avaliada em US$ 350.Essa estimativa não inclui as perdasdevido à mortalidade das árvores.

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O uso da floresta comparadocom outros usos da terra naregião de Tailândia

Os três modelos de uso da terraque predominam em Tailândia - pecu-ária, agricultura de subsistência e ex-ploração de madeira - são marcadamen-te semelhantes em termos de rendimen-to econômico bruto. Como foi discuti-do antes, um hectare cultivado emTailândia produz, aproximadamente,US$ 460 de produtos agrícolas duran-te um ciclo. Para assegurar uma pro-dução sustentável, é necessário garan-tir um período de dez anos entre as sa-

fras (Vasey, 1979). Assim, o capitalanual acumulado de um hectare culti-vado nesse modelo é US$ 46 (US$460/10).

No caso da exploração madeirei-ra, mostramos que o valor da madeira,quando acumulado em 20 anos de cres-cimento razoável, seria de US$ 770, ouuma riqueza anual acumulada de US$39. Se a taxa de crescimento for maislenta, 0,25 cm/árvore/ano, então o va-lor total, após 20 anos de acumulação,seria de US$ 350, ou US$ 18, anual-mente.

As pastagens na região centraldo Estado do Pará rendem, aproxi-

Tabela 8. Volume (m3/ha) e valor (US$) da madeira de árvores de valor econômicocom DAP ≥ 40 cm, restantes na floresta de Tailândia, após exploração seletiva, eprojeções da acumulação de madeira durante uma rotação de corte de 20 anos,com crescimento lento (0,25 cm/ano) e com crescimento razoável (0,5 cm/ano).

Volume (m3/ha) Valor Valor total

Área 1 Área 2 Área 3 Média (US$/m3) (US$)

Imediatamente após a exploração

Valor alto 26 42 10 26 $23 $600

Valor médio 53 102 85 80 $15 $1.200

Valor baixo 22 26 16 21 $8 $168

Total 101 170 111 127 $2.000

20 anos após a exploração, com crescimento lento

Valor alto 30 48 12 30 $23 $690

Valor médio 65 121 97 94 $15 $1.410

Valor baixo 27 32 20 26 $8 $208

Total 122 201 129 150 $2.350

20 anos após a exploração, com crescimento razoável

Valor alto 35 56 14 35 $23 $805

Valor médio 78 141 117 112 $15 $1.680

Valor baixo 32 38 24 31 $8 $248

Total 145 235 155 178 $2.770

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madamente, US$ 50/ha/ano (Mattos eUhl, 1994). Isso considerando-se umadensidade média de 0,75 animal/ha,um ganho médio diário de peso de 0,3kg por animal, baseado em consultasa especialistas do setor de pastagensEmbrapa/Cpatu, em Belém, Pará, e opreço de venda do gado vivo US$0,65/kg (0,75 cabeças/ha x 0,3 kg/ca-beça/dia x 365 dias/ano x 0,65/kg =US$ 53).

Esses cálculos são simplificados,apenas considerando o valor do pro-duto final (carne, madeira, farinha demandioca e arroz), ignorando os cus-tos atuais necessários para produzir,coletar e transportar o produto para omercado, e não mencionando, tam-bém, os imprevistos, tais como quedade árvores provocadas pelo vento an-tes da exploração, pragas, doenças edeterioração dos produtos na agricul-tura e pecuária.

Em geral, os custos de produçãopodem ser mais baixos na exploraçãomadeireira do que na agricultura ou napecuária. Há várias razões para isso:primeiro, o equipamento mais usadoem cada modelo é a motosserra, masno caso da exploração madeireira ouso por hectare é bem menor do quepara agricultura ou pecuária, as quaisse caracterizam por desmatamentoscompletos; segundo, o custo da mão-de-obra para manter a floresta paraexplorações ocasionais é relativamen-te pequeno, comparado aos outrosmodelos do uso da terra. De fato, ape-nas 70 minutos de trabalho são neces-sários para preparar 1 m3 de madeira.No nosso modelo florestal, apenas 25

m3 a 50 m3 de madeira serão extraídosa cada 20 anos, requerendo um tempototal de somente 30 a 60 horas de tra-balho por hectare. Finalmente, os cus-tos de transporte podem ser menores,em geral, para a madeira do que paraos produtos. O boi é, geralmente,transportado por caminhões para ma-tadouros regionais que, freqüentemen-te, ficam distantes. Os produtos agrí-colas apresentam problemas porquesão volumosos e de baixo valor unitá-rio. A madeira, por apresentar maiordensidade, tem um custo de apenasUS$ 0,03/kg, comparado com a fari-nha (US$ 0,12/kg) e o gado (US$0,65/kg). Entretanto, por ser um recur-so concentrado, a madeira pode sertransportada em quantidades maiorese, além disso, as serrarias estão geral-mente localizadas não muito longe dasáreas de exploração, reduzindo o cus-to de transporte.

Igualmente importante, nessasconsiderações, é o valor agregado doproduto. No caso da agricultura e pe-cuária, o valor de venda do produtoprocessado é raramente maior que odobro do valor do produto bruto, en-quanto a madeira, após o processa-mento, tem o seu valor, no mínimo,quadruplicado.

Baseados nas considerações an-teriores, concluímos que apenas dei-xando a floresta em repouso, após aexploração seletiva, teremos um ren-dimento monetário anual, num ciclode 20 anos, que é aproximadamente omesmo que vem sido obtido no pre-sente, pelas atividades de “desenvol-vimento”. Além disso, a implementa-

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ção de medidas básicas de manejo,como a remoção de cipós e/ou de es-pécies sem valor, abrindo espaço paraespécies de valor, permitiriam maioracúmulo de madeira de valor nas áre-as de floresta remanescente, podendoresultar num rendimento monetário

acima do rendimento apresentado naatualidade pela pecuária e pela agri-cultura. O que se ilustra com estas in-formações é o equívoco de se trocar afloresta por pecuária e agricultura,como vem sendo praticado.

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CONCLUSÕES

A atividade madeireira e opequeno produtor numaregião de fronteira naAmazônia

A ocupação de Tailândia come-çou em 1978, com o projeto de colo-nização do Instituto de Terras do Pará(Iterpa), mas até agora a tentativa decolonizar a área teve pouco sucesso.Em 1989, 68% dos colonos pioneiroshaviam vendido ou abandonado seuslotes e migrado para outras regiões e52% dos colonos presentes nesse pe-ríodo não estavam recebendo o sufici-ente da agricultura de corte e queimapara garantir sua subsistência.

A partir da pavimentação da ro-dovia PA-150, em 1986, e a chegadadas serrarias, a vida econômica da re-gião foi significativamente alterada.Os colonos estabeleceram dois mode-los de envolvimento com a indústriamadeireira. O modelo mais comum éa venda de madeira dos lotes sem par-ticipar do processo de exploração. Porcausa do baixo preço pago pela ma-deira, esses colonos ganham apenas1% do valor final da madeira serrada.No segundo modelo, os colonos agemcomo madeireiros, durante parte doano, participando diretamente do pro-cesso de exploração. O rendimento lí-quido mensal para esses agricultorestransformados em madeireiros podeexceder US$ 1.000 no período de mai-or demanda. As roças desse grupo fre-

qüentemente contêm pimenta-do-reinoe pastagens, melhoramentos estes re-sultantes do envolvimento com a ma-deira.

O papel dos madeireirosnuma região de fronteira

Os madeireiros são responsáveispela exploração e transporte de madei-ra. Além disso, tornaram-se os princi-pais construtores de estradas vicinaise pontes na região de Tailândia. Dos272 km das estradas estudadas, doisterços haviam sido construídos pormadeireiros, freqüentemente em tro-ca de direitos de exploração florestalnas terras de colonos e pecuaristas.

As equipes de trabalho de explo-ração são pequenas, compostas por umoperador de motosserras e alguns aju-dantes. A função dessa equipe é cor-tar as árvores e abrir as estradas deexploração. A média de tempo gastonessas operações é 70 min/m3 de ma-deira. Expresso em termos de energia,a preparação de um metro cúbico demadeira requer o gasto de, aproxima-damente, 3.000 kcal de energia - amesma quantidade de energia que umadulto requer para o seu sustento diá-rio. Somente 10% do total da energiagasta provêm do trabalho humano; orestante é gasto na forma de combus-tível - óleo e gasolina para o funcio-namento da motosserra.

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As serrarias comocatalisadores da exploraçãomadeireira

Em regiões de fronteira comoTailândia, as serrarias apresentam as se-guintes características: a) elevado con-sumo de matéria-prima de baixo rendi-mento; b) dependência de intermediá-rio para conseguir madeira; c) utiliza-ção de um número reduzido de espéci-es na serragem - cerca de 15 espécies.

O grande desperdício de madeiracaracterístico das serrarias de fronteirapode ser explicado pela falta de diver-sificação de produtos. A maioria dasserrarias produz somente pranchas semacabamento. A utilização de refugospara produzir caibros, ripas, cabos devassoura, molduras, etc., e o processa-mento secundário da madeira serradapara fabricar portas, pisos, aglomera-dos, etc., raramente são praticados nes-sas regiões.

Pode-se prever a expansão da ati-vidade madeireira em Tailândia com ainstalação de novas empresas de mé-dio e grande porte. Com a provávelverticalização dessas empresas, a ex-ploração mecanizada se tornará maiscomum, o número de espécies explo-radas deverá crescer e aumentar a di-versificação dos produtos serrados.

Impacto ambiental

Nas regiões de fronteira da Ama-zônia a exploração é seletiva, sendopraticada por madeireiros equipados

somente com motosserras e cami-nhões. A abundância de madeira pro-porciona às serrarias, nas áreas defronteira, a extração de apenas os in-divíduos de maior diâmetro e de es-pécies de valor comercial imediato.Em Tailândia, essa prática resultou naremoção de apenas duas árvores ou 16m3 por hectare. Contudo, o volume da-nificado durante a exploração foi mai-or do que o volume aproveitado: paracada duas árvores extraídas/ha, outras58 árvores (DAP ≥ 10 cm) foram da-nificadas. Mesmo que isso representeapenas uma redução de 11% no nú-mero de árvores na área explorada, osdanos foram concentrados nas clarei-ras e zonas de acostamento, que sãoáreas mais favoráveis para o cresci-mento das árvores. No entanto, a re-generação é rápida nessas clareiras: 15meses após a exploração ter sido con-cluída, as clareiras continham, emmédia, 63 plântulas de espécies devalor madeireiro (0,2 muda/m2).

Embora os impactos primários daexploração seletiva de madeiras sejampequenos, a presença da economiamadeireira em regiões de fronteiracontribui para o desmatamento. Defato, sem a segurança que a atividademadeireira proporciona, provavelmen-te Tailândia teria fracassado comocentro de colonização, assim com fra-cassaram os assentamentos da Transa-mazônica, no início da década de 70.Entretanto, com a economia madeirei-ra na região, os colonos são capazesde persistir por um período maior, en-quanto continuam a cortar áreas defloresta a cada ano para produzir ar-

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roz e mandioca para consumo e ven-da. Os baixos preços desses produtoscombinados com a insustentabilidadeda agricultura de corte e queima indi-cam que os colonos precisam derru-bar a floresta (freqüentemente 3 ha/ano) para satisfazer as suas necessi-dades básicas. Nesse processo, cercade 127 m3/ha de madeira de uso po-tencial são perdidos com a derrubadada floresta.

Em regiões de fronteira, portan-to, a atividade madeireira pode agircomo poderoso fator de atração para:1) madeireiros com pouco capital; e 2)agricultores que chegam de outras re-giões em busca de melhores condiçõesde vida. O processo de exploração,embora indisciplinado, não é umaameaça à integridade total da floresta.São os impactos secundários da colo-nização “espontânea” e o desmata-mento total, associado à agricultura decorte e queima e à pecuária, que po-dem comprometer os processos eco-lógicos da região no futuro.

Uma perspectiva regional

A colonização desordenada deTailândia, localizada na região centraldo Estado do Pará, é o resultado dodesequilíbrio estrutural de outras re-giões do Brasil. As serrarias estão ex-plorando as florestas do Pará porqueo governo e a indústria madeireira nãodesenvolveram um modelo sustentávelde exploração florestal no sul do País.Os agricultores continuam migrandopara a Região Norte porque não en-

contraram, em seus locais de origem,no Nordeste do Brasil, as condiçõesbásicas para ter uma vida digna.

Talvez uma parte do problemaesteja no conceito de Amazônia como“válvula de escape” para os problemasde desigualdade social em outras re-giões do Brasil. Essa posição deve serenfrentada e modificada. Os proble-mas fundiários e de manejo da terraprecisam ser resolvidos no lugar e nomomento em que surgem.

Tailândia provavelmente não é oúltimo capítulo dessa história de “fron-teira madeireira”. A abertura de novasestradas ou pavimentação das já exis-tentes continuará estimulando a colo-nização “espontânea” e o estabeleci-mento de novas serrarias. Nesse mo-mento, as serrarias vão atrair migrantesem busca de trabalho e terras. Por essarazão, a atividade madeireira tem queser percebida como um fator-chave,pois a manutenção das atuais práticasde exploração indiscriminada podecomprometer seriamente os recursosflorestais da Amazônia. Então, é fun-damental que o governo reconheçaque a atividade madeireira é, e conti-nuará sendo, o principal fator para arápida expansão da fronteira amazô-nica. Da mesma forma, é fundamentalque as indústrias madeireiras assumama responsabilidade de assegurar umcrescimento “responsável” das regiõesonde utilizam o recurso florestal paraseus negócios. Crescimento “respon-sável” consiste em respeito à terra, oque significa desenvolver práticas deexploração criteriosas, estratégias demanejo sustentável e respeito aos se-

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res humanos, o que significa pagamen-to de salários justos e garantia de ser-viços sociais de educação e saúde.Com o uso disciplinado do capital pelaindústria madeireira, Tailândia pode-ria se tornar uma cidade modelo. Mas,no presente, com o capital utilizado

exclusivamente em atividades de “ex-ploração” e não para apoiar investi-mentos para o uso futuro do recursoflorestal e o bem-estar da comunida-de, as perspectivas de um desenvolvi-mento sustentável para a região sãoremotas.

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EPÍLOGO

Desde 1989, ano em que foi es-crito este trabalho, até 1996, Tailândiasofreu mudanças importantes. As ser-rarias pequenas deram lugar a serrari-as de porte médio e grande. A explo-ração florestal deixou de ser “típica”de fronteiras recentes e se tornou bas-tan te s imi la r à que ocor re emParagominas, uma fronteira madeirei-ra mais antiga. Atualmente, tratoresflorestais penetram na floresta paraexplorar um número superior a 80 es-pécies. A intensidade de exploração éa mesma de Paragominas: 30 m3 - 40m3 por hectare.

A maioria dos colonos, antigosfornecedores de toras, vendeu seus lo-tes e migrou para outras regiões doEstado. Os fazendeiros tornaram-se osprincipais fornecedores de toras, jun-to com os próprios madeireiros queadquiriram terras na região. Em resu-mo, em apenas seis anos, Tailândiapassou da condição de uma fronteira

madeireira para um centro produtor demadeira com características similaresà região de Paragominas. No Estadodo Pará, a nova fronteira madeireiraavançou mais para o oeste, nos muni-cípios de Uruará e Medicilândia (ro-dovia Transamazônica) e região deItaituba (rodovia Santarém-Cuiabá).

Se o manejo florestal não forimplementado, a exploração madeirei-ra em Tailândia vai durar poucas dé-cadas. A utilização sustentável dos re-cursos florestais é possível, apesar dasdificuldades. Um trabalho integradode pesquisa, que comece com diag-nósticos da indústria madeireira -como este de Tailândia - e prossigacom projetos demonstrativos de mane-jo e gestão da exploração tem poten-cial para despertar na sociedade emgeral o conhecimento dos valores dafloresta e das possibilidades da suaexploração sustentável.

AGRADECIMENTOS

Gostar íamos de agradecer aErivan Ferreira, pela ajuda na análisedos dados; Flávio Figueiredo, pelaconfecção das figuras; Paulo Gonçal-ves Barreto, Jurandir Galvão e NonatoGonçalves, pela ajuda nos trabalhosde campo; e, em especial, ao povo de

Tailândia, incluindo o pessoal daEmater e do Iterpa, e nossos informan-tes nas serrarias, áreas de exploraçãoe no trecho da colonização. Este pro-jeto foi realizado com apoio da Fun-dação W. Alton Jones.

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Capítulo2

Impactos da Atividade Madeireirae Perspectivas para o Manejo Sustentável da Floresta

numa Velha Fronteira da Amazônia:O Caso de Paragominas

Adalberto VeríssimoPaulo BarretoMarli MattosRicardo TarifaChristopher Uhl

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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RESUMO

A indústria madeireira no Brasiltem passado por grandes mudanças.Nos últimos 20 anos, a exploraçãomadeireira na Amazônia Oriental pas-sou de um sistema quase artesanal parao principal processador de madeirasduras do País. Isso ocorreu devido aodeclínio dos estoques de madeiras du-ras do sul do Brasil, associado ao de-senvolvimento da rede de estradas,energia e sistemas de comunicação daAmazônia.

Estudamos a estrutura e a eco-nomia da indústria madeireira ao lon-go de 340 km da rodovia Belém-Brasília, a partir de Belém, na Ama-zônia Oriental. Das 238 serrarias pre-sentes nessa região no final de 1989,79% tinham sido instaladas na déca-da de 80, por madeireiros origináriosde outras regiões do Brasil, em 97%dos casos. A maioria dessas indústri-as (63%) era integrada verticalmen-te, trabalhando na extração e no pro-cessamento da madeira.

Em 1992, o negócio com a ma-deira foi substancialmente lucrativo.Uma serraria típica, com uma serrafita, produzia, em média, 4.300 m3 demadeira serrada, a partir de 9.200 m3

de toras, e o valor bruto dessa produ-ção era de US$ 670.800 ou US$ 156/m3 serrado. Com custos de produçãocalculados em US$ 116/m3, o lucroanual dessas serrarias era de US$

170.000. Para as empresas envolvidasna extração e no processamento, oslucros anuais foram estimados emUS$ 217.000, com margem de lucrode 32%, ou US$ 900/ha explorado.

Em média, seis árvores eram ex-traídas por hectare (n=3 áreas de es-tudos), equivalendo a um volume de38 m3. Os danos causados na florestapor essa extração eram significativos.Vinte e sete árvores com diâmetro àaltura do peito (DAP) maior ou iguala 10 cm foram severamente danifica-das para cada árvore extraída. Essesdanos ocorreram na abertura de 40 mde estradas de extração e de 600 m2

da copa da floresta, por árvore extraí-da. Os cipós são favorecidos por es-sas aberturas e incêndios florestais tor-nam-se mais prováveis.

O manejo florestal é uma opçãoviável tecnicamente para diminuir osdanos na floresta e aumentar sua pro-dutividade de madeira. Contudo, omanejo é economicamente pouco atra-tivo. A regeneração natural é abun-dante nas áreas de exploração: 4.300mudas e varas de espécies comerciaisforam encontradas por hectare. O es-toque de árvores adultas de espéciescomerciais com boa forma também eraadequado: 16 árvores/ha (DAP ≥ 30cm). Esse estoque residual poderia serfavorecido pelo corte de cipós e peloanelamento de indivíduos indesejavéisa um custo estimado em US$ 180/ha.

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Embora esses tratamentos resultemnum aumento das taxas de crescimen-to da floresta, o retorno projetado doinvestimento no manejo é baixo. Ain-da assim, com o robusto lucro do se-tor florestal, a margem de lucro dasserrarias se manteria acima de 20% sea lei que exige a adoção do manejofosse implementada.

Atualmente, um grande impedi-mento da adoção do manejo na Ama-zônia Oriental é o baixo valor do re-curso madeireiro. Os fazendeiros, quesão proprietários da maior parte da ter-ra, vendem os direitos de sua explo-ração para os madeireiros a preço bai-xo: de US$ 50 a US$ 150/ha. Depois

da extração, esses mesmos fazendei-ros ficam com porções de florestas for-temente danificadas. Com a extraçãoplanejada e os tratamentos silvicultu-rais que compõem o manejo, a explo-ração poderia se repetir dentro de umperíodo de 30 a 40 anos e a integrida-de da floresta estaria mantida. Fazen-deiros que controlam a floresta têm opoder de garantir que esse recurso sejautilizado de forma prudente. Eles po-deriam fazer isso supervisionando asatividades de extração nas suas terraspara reduzir os danos, aumentando opreço da madeira vendida e investin-do esse lucro adicional em tratamen-tos silviculturais.

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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INTRODUÇÃO

Por mais de três séculos, a ativi-dade madeireira esteve restrita às flo-restas de várzea ao longo dos princi-pais rios da Amazônia (Rankin, 1985).Mas, com a construção de estradas es-tratégicas de acesso na Amazônia e oesgotamento dos estoques madeireirosno sul do Brasil, a exploração madei-reira tornou-se uma atividade de gran-de importância na região. Por exem-plo, no período de 1976 a 1988, a pro-dução total de madeira em tora dos Es-tados do sul do Brasil diminuiu de 15milhões de metros cúbicos para 7,9 mi-lhões de metros cúbicos (ou seja, de47% para 17% da produção total demadeira do Brasil; IBGE, 1988). Du-rante o mesmo período, a produção demadeira em tora na Região Norte au-mentou de 6,7 para 24,6 milhões demetros cúbicos (54% do total do Bra-sil). Além disso, a exaustão antecipa-da dos estoques de madeiras na Ásia,responsável pela oferta da maior par-te da madeira no mercado internacio-nal (Nectoux e Kuroda, 1989; Bee,1990), poderá proporcionar a abertu-ra de novos mercados para as madei-ras da Amazônia. O Brasil, que pos-sui quase um terço das florestas tropi-cais do mundo, está na posição dedominar o comércio de madeiras tro-picais no século XXI.

A maioria (87%) da produção demadeira em tora na Região Norte doBrasi l ocorre no Estado do Pará(IBGE, 1988). O Pará é um local fa-vorável para a explosão da atividade

madeireira, por ter um razoável siste-ma de transportes, comunicações eabrigar um grande contingente demão-de-obra de migrantes.

A expansão da indústria madei-reira na Amazônia Oriental alterou sig-nificativamente a maneira de se avali-ar economicamente a floresta. Duran-te os anos 60 e 70, as áreas de florestanessa região eram consideradas de bai-xo valor. Os especuladores e colonosderrubavam a floresta o mais rapida-mente possível, numa corrida para rei-v ind icar maiores áreas de te r ra(Browder, 1988, Hecht et al., 1988).

Os procedimentos para obtençãolegal da terra especificavam que a úni-ca maneira de se conseguir o título daterra na Amazônia era através dedesmatamentos. Sob essas condições,a floresta era vista como um obstáculopara a limpeza da área e obtenção dotítulo. Atualmente, com o surgimentoda indústria madeireira na Amazônia,a floresta passou a ter um valor econô-mico. Em nenhum outro lugar da Ama-zônia esse senso de valor é mais evi-dente que na região de Paragominas,onde centenas de serrarias trabalhamdia e noite processando as riquezas daregião.

Neste trabalho, serão caracteri-zadas inicialmente a estrutura e a eco-nomia da indústria madeireira da re-gião de Paragominas, na AmazôniaOriental. Iremos avaliar os impactosda indústria madeireira sobre os sereshumanos e a floresta. Além disso,

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combinaremos informações econômi-cas, biológicas e sociais, para entãoavaliar os impedimentos e as perspec-tivas para um manejo sustentável dafloresta para produção de madeira naAmazônia Oriental.

A região de estudo

Na Amazônia Oriental, a distri-buição espacial da indústria madeirei-ra é determinada, em grande parte, pelalocalização das principais rodovias. Foi

estudada uma extensão de 340 km darodovia Belém-Brasília, no leste doEstado do Pará (Figura 1). As empre-sas madeireiras estão localizadas em ci-dades e vilas ao longo dessa rodovia,com uma maior concentração na cida-de de Paragominas.

A vegetação dessa região é de flo-resta perenefólia úmida, com uma alturade copa de 25 m a 40 m e uma biomassaacima da superfície de aproximadamen-te 300 t/ha (Buschbacher, Uhl e Serrão,1988). O relevo é suavemente onduladoe os solos são predominantemente

Figura 1. Região de estudo, entre Santa Maria do Pará e Itinga,mostrando a localização da indústria madeireira a as três áreas deestudo dos impactos ecológicos da exploração madeireira.

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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oxissolos e ultissolos. A pluviosidade ésazonal, totalizando cerca de 2.000 mm/ano. A exploração florestal ocorre nossete meses da estação seca, que vai dejunho a dezembro. Devido ao papel cen-tral de Paragominas na economia da re-gião serão feitas, ao longo deste traba-lho, referências à área de estudo como aregião de Paragominas.

Quando a rodovia Belém-Brasíliafoi planejada, cruzando a região deParagominas, no início dos anos 60, aárea era esparsamente povoada, mas,no final daquela década, um enormeexperimento de uso da terra estavaacontecendo - a floresta estava sendosubstituída por pastagens. Os resulta-dos iniciais desse experimento erampromissores, mas, após seis anos deplantio, a maioria das pastagens estavaem péssimas condições. No final da dé-cada de 70, a pecuária em Paragominasenfrentou diversas restrições econômi-cas e ecológicas. Para agravar a situa-ção, as linhas de crédito atrativas, ini-cialmente disponíveis, foram retiradasà medida que aprofundava a crise eco-nômica no Brasil. Foi ainda nos anos70 que a indústria madeireira começoua se instalar nessa região.

No início dos anos 70, apenasespécies de alto valor econômico eramextraídas e os impactos na floresta eramreduzidos. Atualmente, 20 anos maistarde, em Paragominas, mais de 100 es-pécies de árvores são extraídas: trato-res de esteira abrem largos caminhosatravés da floresta e arrastam as torasaté os pátios, que servem como área dearmazenamento, antes de se carregar etransportar as toras até as serrarias.Essa exploração intensiva de madeiraaltera, de modo significativo, a cober-tura florestal, como pode ser verifica-do pelas recentes imagens de satélite.As áreas exploradas deixam uma mar-ca característica de pontos brancos (ospátios) envoltos em tons cinza-claro(dossel da floresta fragmentado), emcontraste com o cinza uniforme carac-terístico da floresta com o dossel fecha-do. Em duas décadas, as característi-cas da atividade madeireira mudaramdrasticamente: a indústria madeireira éagora uma força econômica dominantena região e a atividade madeireira é in-tensiva e potencialmente destrutiva.

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METODOLOGIA

Características e economia daindústria madeireira

Foi mapeada a localização de to-das as indústrias madeireiras na regiãode estudo, definida pela extensão de340 km da rodovia Belém-Brasília,entre Santa Maria do Pará, ao norte, eItinga, ao sul (Figura 1). Foram entre-vistadas 190 das 238 indústrias exis-tentes na região para determinar: 1) ahistória da empresa (ano de estabeleci-mento, origem da indústria e do pro-prietário, atividade anterior do propri-etário, etc.); 2) a produtividade da in-dústria (metro cúbico de madeira pro-cessada por mês, porcentagem da toratransformada em madeira serrada, pro-cessamento secundário da madeira); 3)fornecimento da matéria-prima (propri-etário da área florestal, envolvimentona atividade de exploração, distânciaentre a indústria e as áreas de explora-ção); 4) tipos de produtos serrados pro-duzidos (pranchas tamanho padrão,molduras, assoalho, etc.); 5) investi-mentos da indústria (maquinário, infra-estrutura, aquisição de terra, etc.).

Foram realizadas, também, en-trevistas mais detalhadas sobre os cus-tos e as receitas obtidas no processode exploração e processamento da ma-deira. As entrevistas foram feitas com5 equipes de exploração autônomas e33 indústrias madeireiras, na cidade deParagominas (21 serrarias com umaserra de fita, 6 serrarias com duas ser-

ras de fita e 6 laminadoras). Nessecaso, a escolha dos madeireiros a se-rem entrevistados foi dirigida para osempresários que se mostraram mais re-ceptivos durante a aplicação do ques-tionário geral.

Impactos sociais da indústriamadeireira

Foram realizadas entrevistas nasresidências de 112 trabalhadores da in-dústria madeireira no bairro operário dacidade de Paragominas. Os entrevista-dos foram escolhidos aleatoriamente eas entrevistas tratavam da: 1) história(idade, escolaridade, origem, trabalhoanterior, número de migrações antes dechegar a Paragominas, motivo para termigrado, etc.); 2) vida familiar (tama-nho da família, força de trabalho fami-liar, gastos familiares); e 3) trabalho(função na indústria, salário, númerode empresas onde já trabalhou, etc.).

Impactos da indústriamadeireira na floresta

O rendimento da exploração eos danos causados

Estudamos a produção da explo-ração florestal, os danos causados pelaexploração e características da floresta

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remanescente em três áreas de explora-ção ao longo da rodovia Belém-Brasília(Figura 1). Após um levantamento ge-ral de cada área, selecionamos uma árearepresentativa e o mapeamento de todasas estradas de exploração. Ao longodessas estradas madeireiras, identifica-mos todas as árvores extraídas; estima-mos seu volume multiplicando o com-primento do tronco pela área basal mé-dia (obtida pela medida do diâmetro semcasca na base e na ponta de cada tora).As árvores cortadas, mas não extraídaspor apresentarem defeitos, foram tam-bém mapeadas e medidas. Os danos cau-sados durante a exploração foram ava-liados através de 60 ou mais parcelasaleatórias de 10 m x 30 m em cada áreade estudo. Todas as árvores existentesnessas parcelas com DAP ≥ 10 cm fo-ram identificadas, os diâmetros forammedidos e foi feita uma classificaçãoconforme o tipo de dano. Também cal-culamos o volume sem casca de todasas árvores, usando equações genéricasde volume (Silva e Araújo, 1984; Silvaet al., 1984).

As aberturas de copa causadaspela exploração madeireira foram ava-liadas em seis e oito transectos, espaça-dos em intervalos regulares nos trechosexplorados e não explorados de cadaárea de estudo. A cobertura da copa foiclassificada como presente ou ausentea intervalos de 2 m ao longo de cadatransecto, olhando para a ponta de umavareta apontada para cima. A diferençada cobertura de copa entre as áreas ex-ploradas e não exploradas foi atribuídaà exploração madeireira.

Estoque de espécies econômicasremanescentes na floresta apósa exploração

Para avaliar o estoque de árvoresde valor econômico existentes nas áre-as de estudo após a exploração, foramidentificados e medidos o diâmetro detodas as árvores ≥ 30 cm DAP em doistransectos de 20 m x 1.000 m em cadauma das três áreas de estudo. As espé-cies encontradas nesses transectos fo-ram classificadas em três grupos quali-tativos: 1) espécies com valor econô-mico atual (aceitas pelas serrarias daregião); 2) espécies com valor poten-cial (madeiras que podem ser usadas naconstrução civil, mas que ainda nãoestão sendo serradas); 3) espécies semuso conhecido e com poucas perspec-tivas de uso futuro. A qualidade de to-dos os indivíduos nos dois primeirosgrupos foi avaliada considerando-se oformato e comprimento do fuste, defei-tos do fuste, formação da copa e pre-sença de cipós.

Características da regeneraçãonas florestas remanescentesapós a exploração

Fizemos um levantamento geraldo estoque de plântulas em dez parce-las de 5 m x 5 m, localizadas a cada200 m ao longo de dois transectos emcada área de estudo. Identificamos aaltura de todos os indivíduos maior ouigual a 10 cm de altura nessas parce-las. Além disso, caracterizamos a rege-neração nos ambientes da floresta mais

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afetados pela exploração — estradas deexploração e clareiras — e compara-mos com as manchas de floresta nãoafetadas pela exploração madeireira.Esse levantamento mais detalhado foirealizado numa parte da área 1, quehavia sido explorada há dois anos.Cinco parcelas, de 6 m x 15 m cada,foram instaladas em intervalos de 100m ao longo de cada uma das duas es-tradas de exploração. Parcelas adici-

onais, também de 6 m x 15 m, foramestabelecidas nas aberturas da explo-ração em trechos de floresta fechada,na proximidade das parcelas da estra-da. Nessas parcelas, identificamos emedimos a altura de todas as árvores≥ 1m de altura, de espécies de valormadeireiro na região. Nas parcelasmenores (1 m x 15 m), levantamos to-das as plantas maiores de 1 m de altu-ra, inclusive arbustos e cipós.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

exploradores, transportadores e em-pregados mais qualificados da indús-tria madeireira em outras partes doBrasil.

A maioria (63%) das empresasmadeireiras está integrada vertical-mente, isto é, realiza a exploração eo processamento da madeira (Figura2c). A distância entre as áreas de ex-ploração e as indústrias madeireirasvariava entre 20 km e 150 km em1990, com uma distância média de 80km (s = 39). A maioria das madeirei-ras (61%) estava processando madei-ra exclusivamente das áreas de flo-resta pertencentes aos fazendeiros,enquanto 15% das indústrias utiliza-vam madeira proveniente de suas pró-pr ias áreas. As demais indústr ias(24%) processavam madeira que che-gava tanto de suas próprias áreasquanto das terras dos fazendeiros.Embora alguns pecuaristas estejamengajados na exploração de madeira,a maioria ainda vende apenas o direi-to de exploração para as indústrias epara os madeireiros autônomos. Opreço médio do direito de exploraçãoem 1990 era US$ 70/ha (s=28) paraáreas de florestas situadas a 80 km deParagominas.

A maioria (73%) dessas indústri-as produz apenas peças simples, prin-cipalmente pranchas de tamanho pa-drão. Produtos mais sofisticados (comoportas, janelas, assoalhos) são feitosem apenas 27% das serrarias (Figura

Estrutura e economia daindústria madeireira

Características da indústriamadeireira

Das 238 indústrias madeireirasem funcionamento na região de estu-do no final de 1989, 79% haviam sidoinstaladas nos anos 80 e o restantedurante os anos 70 (Figura 2a). Du-rante essas duas décadas, apenas 11serrarias haviam encerrado suas ati-vidades. No início dos anos 90, no-vas serrarias continuavam sendo ins-taladas na região.

A maioria (75%) das indústriasmadeireiras não foi transferida de ou-tras regiões, mas, ao contrário, essasindústrias foram instaladas original-mente em Paragominas (Figura 2b).As indústrias restantes que vieramtransferidas, em sua maioria lamina-doras, ainda mantém parte dos negó-cios com madeiras nas regiões de ori-gem — Sul e Sudeste do Brasil.

Somente 3% dos proprietáriosdas indústr ias madeireiras são daAmazônia; a metade é do EspíritoSanto (um grande centro madeireirona década de 60 e 70) e os demais sãode outros Estados do Sul, Sudeste eNordeste do Brasil. A maioria dessesproprietários já havia se envolvidocom o setor madeireiro — 40% comodonos de serrarias e outros 40% como

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2d). Mesmo nessas serrarias, geralmen-te menos da metade do volume serradorecebe um beneficiamento secundário.Aproximadamente 90% da produção

Figura 2. Características da indústria madeireira da região de Paragominas,Pará.

serrada da indústria madeireira deParagominas é vendida para o merca-do nacional, sendo a maior parte paraas regiões Nordeste e Sul.

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Economia da indústriamadeireira

A atividade de exploração madei-reira em Paragominas é lucrativa. Essaatividade está concentrada no período dejunho a dezembro. Os tratores de esteirasão utilizados para abrir uma grande redede estradas e pátios (Figura 3). Então, os

extratores, com motosserra, derrubamas árvores de interesse econômico. Emseguida, os tratores arrastam os tron-cos cortados até o pátio, onde são se-parados em toras de comprimento de 6m a 8 m. Por último, as toras sãoerguidas mecanicamente e colocadasem caminhões madeireiros para seremtransportadas até as serrarias da região.

Rendimento da extração de ma-deira: O número médio de árvores ex-traídas por hectare nas três áreas de es-tudo variou de 2,9 (área 1) a 9,3 (área3), sendo que a média das três ficou em6,4 e o volume extraído variou de 18m3/ha a 60 m3/ha (média = 37, s=18,Tabela 1). Entre as áreas individuais,o número de árvores e o volume extra-ído/ha também foi extremamente vari-ado. Por exemplo, na área 2 (Figura 3),em alguns hectares não foi extraída ne-

nhuma árvore, enquanto em outros, 20árvores foram extraídas. Embora a pro-dução extrativa varie muito, as equipesde exploração entrevistadas confirma-ram que a produção de madeira na re-gião varia entre 20 m3/ha e 50 m3/ha.

As árvores extraídas eram grandes— o diâmetro médio das toras extraídasvariou de 73 cm a 75 cm; o comprimen-to médio das toras extraídas variou de 16m a 20 m, e o volume médio por árvorevariou de 5,2 m3 a 6,4 m3 (Tabela 1).

Figura 3. Mapa da área de estudo dos impactos ecológicos daexploração madeireira, mostrando a localização da estrada deexploração, os pátios de estocagem de toras a as árvores extraídas.

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Custos e receitas da exploraçãoe processamento da madeira: Umaequipe de exploração típica compõe-sede 13 homens equipados com duasmotosserras, um trator de esteira, umapá carregadeira e três caminhões. Aprodução média de uma equipe de ex-ploração, durante os sete meses de tra-balho na floresta, foi estimada em 9.200m3 (s=2.130, n=16) ou 1.314 m3/mês(Tabela 2). O valor total dessa produ-ção foi estimado em US$ 253 mil. Ocusto de exploração fo i de US$114.190 e incluiu a compra dos direi-tos de exploração (15%), salários e be-nefícios (20%), alimentação (5%), com-bustível (9%), taxa florestal (12%),manutenção dos equipamentos (17%)e depreciação (22%) (Tabela 2). O cus-

to para transportar as toras da florestapara a serraria foi estimado em US$75.761 e incluiu salários (15%), com-bustível (24%), manutenção (20%) edepreciação (41%) (Tabela 2). Asomatória dos custos de exploração etransporte revela que aproximadamen-te US$ 22 são gastos para cada metrocúbico extraído (US$ 206.746/9.200m3 = US$ 22/m3). A soma dos lucrosda exploração e transporte é aproxima-damente US$ 47 mil durante o períodode sete meses de exploração.

O processamento de madeira naindústria também é lucrativo. Uma ser-raria com uma serra de fita produz, emmédia, 4.300 m3 de madeira serrada porano (s=858). O aproveitamento fica emtorno de 47% (2,13 m3 madeira bruta /

Tabela 1. Características da exploração intensiva de madeira em três áreas naregião de Paragominas na Amazônia Oriental.

Características gerais Área 1 Área 2 Área 3 Média

Tamanho da área de estudo (ha) 115 37 16 56

Nº de árvores extraída/ha 2,9 6,9 9,3 6,4

Volume (m3) extraído/ha1 18 35 60 38

Nº de espécies extraídas 57 55 43 52

Tamanho das árvores extraídas

Diâmetro (cm DAP) das árvores extraídas(x/s) 75/20 73/18 73/20 74

Comprimento médio do fuste (s) 18,4(5) 16,5(3,9) 20,5(4,3) 18

Volume (m3) das árvores extraídas (x/s) 6,1/3,9 5,2/3,5 6,4/4,7 5,9

Árvore de maior DAP extraída (cm) 16 170 150 160

Árvore de menor DAP extraída (cm) 40 39 40 40

1 O volume usado aqui é o real e não o volume francon usado pelos extratores na região de Paragominas.Em volume francon seria 14 m3, 27 m3, e 48 m3, respectivamente, para as áreas 1, 2 e 3.

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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Tabela 2. Estimativa dos custos de exploração e transporte de 9.200 m3 de madeiraem tora na região de Paragominas, na Amazônia Oriental1.

CATEGORIA CUSTOS (US$)

Custos de exploração:

Direitos de exploração2 16.940

Salários3 14.840

Encargos sociais4 8.607

Alimentação5 6.000

Combustível6 10.262

Taxa florestal7 14.168

Manutenção8 19.000

Depreciação9 24.373

Total dos custos de exploração 114.190

Custos de transportes:

Salários10 7.140

Encargos sociais11 4.140

Combustível12 18.280

Manutenção13 15.000

Depreciação14 31.200

Total dos custos de transportes 75.760

Remuneração do capital15 16.296

Custo final 206.246

Valor da produção16 253.000

Lucro 46.754

Taxa de retorno17 19%

1 Para a conversão dos valores de cruzeiro para o dólar, utilizou-se o câmbio oficial. As estimativas estãobaseadas em entrevistas feitas com 11 indústrias da região que realizam exploração com 5 extratoresindependentes. A produção de 9.200 m3 (s=2.130) está expressa em volume real. A exploração madeirei-ra tem a duração de 7 meses no ano (210 dias), mas devido a constantes interrupções no trabalhoprovocadas por chuvas fortes e ocorrência de quebras no maquinário, etc., o número de dias efetivamen-te trabalhados fica em torno de 140 dias.

2 Os extratores pagavam em média US$ 70/ha (s=28) em 1990 ao dono da floresta pela retirada da madeira.Dado que o volume médio da exploração intensiva é 38 m3 (Tabela 1) e o consumo anual de uma serrariatípica é aproximadamente 9.200 m3, o custo fica em US$ 16.940.

3 O salário para dez pessoas durante sete meses é: um operador de trator de esteira, US$ 2.240; um operadorde carregadeira, US$ 1.960; dois operadores de motoserra, US$ 1.120 cada; quatro ajudantes e umcozinheiro, US$ 840,00 cada; e um gerente, US$ 4.200.

4 Os encargos sociais incluem Previdência Social, Fundo de Garantia, seguro contra acidentes pessoais,Senai e Sesi, Salário Educação, férias e 13o salário. Esses encargos correspondem a 58% do salário e,apesar de serem obrigatórios por lei, nem sempre são integralmente pagos pelas empresas.

5 O custo de alimentação para a equipe de exploração, bem como para os motoristas que carregam as torasaté as serrarias, é estimado em US$ 6.000.

6 O consumo estimado do trator de esteira é 110 litros de diesel/dia (s=31) x 140 dias de trabalho = 15.400litros. A carregadeira de toras consome, em média, 70 litros de diesel/dia (s=17) x 40 dias = 9.800 litros.O custo somado do óleo diesel foi estimado em US$ 7.560 (25.200 litros x 0,3 por litro). O consumo degasolina para as motoserras foi estimado em 8,6 litros/dia (s=0,4) x 140 dias = 1.204 litros x US$ 0,5(preço por litro) = US$ 602. O consumo de óleo lubrificante do trator, da carregadeira e das motosserrasreunidas foi estimado em 750 litros x 2,8 por litro = US$ 2.100. Assim, o custo de combustíveis fica emUS$ 10.262.

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1 m3 madeira serrada). O valor de pro-dução estimado para essa serraria éUS$ 670.800 ou US$ 156/m3 de ma-deira serrada produzida (Tabela 3). Ocusto para produzir essa quantidade demadeira é de US$ 500.800, divididoentre compra de matéria-prima (51%),impostos (20%) e salários e benefícios(29%) (Tabela 3). Os custos de produ-ção por metro cúbico de madeira serra-da são de aproximadamente US$ 116(US$ 500.800/4.300 m3). Subtraindo o

valor da madeira processada (US$670.800), o resultado é um lucro anualde US$ 170 mil. Nos casos em que aindústria madeireira faz também o pro-cessamento da madeira (o que aconte-ce com 63% das madeireiras na regiãode Paragominas), os lucros são estima-dos em US$ 217 mil/ano (ou seja, asoma do lucro da exploração, US$46.753, com o lucro do processamentoUS$ 169.994) e a margem de lucro éde 32%. A área de floresta necessária

7 O Ibama cobra em média US$ 2,0 para cada metro cúbico extraído. O Ibama usa o sistema francon comomedida de volume (francon corresponde a 77% do volume real, que é o volume adotado neste trabalho).

8 Os custos de manutenção foram fornecidos por cinco serrarias que sistematicamente monitoram essescustos para o trator de esteira (US$ 11.200/ano), carregadeira de tora (US$ 8 mil/ano) e motoserras (US$830) .

9 Uma motoserra nova custa US$ 700 e, quando usada por um período de três anos, vale US$ 140. Adepreciação anual é US$ 373 [(US$ 700 - US$ 140)/3 anos) x 2 motoserras]. Um trator com sete anos deuso vale US$ 24 mil. A depreciação anual é [(US$ 13.714 – US$ 120 mil)/7 anos]. Uma nova carregadeirade tora custa US$ 90 mil e é usada por um período médio de sete anos. O valor de uma carregadeira comesse tempo de uso (sete anos) é US$ 18 mil. A depreciação anual é US$ 10.286 [(US$ 90 mil – US$ 18mil)/7 anos].

10 Três motoristas são necessários para transportar toras de madeira durante a safra de sete meses. O saláriofinal por motorista é estimado em US$ 2.380.

11 Os encargos sociais correspondem a aproximadamente 58% do valor dos salários (ver acima), ou US$1.380 por motorista.

12 Considerando-se que 9.200 m3 de madeira em tora são transportados, e que a média de distância entre afloresta e a serraria é de 80 km ou 160 km, considerando-se as viagens de ida e volta. O número deviagens necessárias entre a serraria e a área de exploração é estimado em 708 (9.200 m3/13 m3) para umadistância total de aproximadamente 113.280 km (708 viagens x 160 km). O consumo médio de óleodiesel é de 0,5 l i tro/km x 113.280 km = 56.604 l i tros x US$ 0,3 (preço por l i tro). A cada 5.000 kmrodados é preciso realizar uma troca de óleo lubrificante durante a safra de madeira. O custo de óleo é2,8/litro x 23 trocas x 20 litros por troca = US$ 1.288.

13 Os dados de manutenção foram obtidos com cinco serrarias que acompanham, sistematicamente, osgastos com manutenção de seus veículos e equipamentos.

14 Um caminhão novo custa, aproximadamente, US$ 65 mil. Com cinco anos de uso este caminhão tem umvalor residual de US$ 13 mil. O custo de depreciação anual do caminhão é de US$ 10.400 [(US$ 65 mil– US$ 13mil)/5 anos].

15 Consideramos nesses cálculos o seguinte: a) capital próprio; b) valor do investimento de US$ 406.400(má-quinas e veículos) – ver preços nas notas de rodapé 9 e 14 nesta tabela; c) taxa de remuneração do capitaligual a 6% ao ano; e d) tempo do investimento de acordo com a vida útil de cada uma das máquinas eveículos (ver rodapé 9 e 14.)

16 O volume extraído em sete meses de safra fica em torno de 9.200 m3 (n=16). Dividimos esse volume emquatro categorias de preço: 1) alto valor (US$ 50/m3, s=13) – 10% do total extraído; 2) médio valor (US$32/m3, s=13) 50% do total extraído; 3) baixo valor (US$ 20/m3, s=8) – 10% do total extraído; e 4)baixíssimo valor (US$ 15/m3, s=5) – 30% do total extraído.

17 Para essa estimativa, consideramos: a) o valor do investimento = US$ 406.400 (maquinário da explora-ção e transporte); b) fluxo de caixa anual = lucro + cota de depreciação anual = remuneração anual docapital = US$ 118.123; c) valor residual dos equipamentos e veículos após cinco anos de uso = US$ 129mil (ver notas de rodapé 9 e 14).

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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Tabela 3. Estimativa anual de custos de produção e o lucro de uma serraria típicana região de Paragominas, na Amazônia Oriental.1

CATEGORIA CUSTOS (US$)

Produção (m3)2 4.300

Valor da produção3 670.800

Custos de produção:

Matéria-prima4 253.000

Custos diretos:

Salários5 47.568

Encargos sociais6 27.590

Energia7 9.823

Combustível8 3.000

Manutenção9 13.020

Depreciação10 15.520

Custos indiretos:

Telefone11 3.500

Escritório12 1.700

Salário do empresário13 18.000

Carro14 3.650

Impostos15 98.272

Remuneração do capital16 6.157

Custo final 500.800

Custo/m3 de madeira serrada produzida 116

Lucro 169.994

Margem de lucro 25%

1 A nossa serraria típica tem uma serra de fita (78% das 238 madeireiras visitadas no estudos possuem umaserra de fi ta). A estimativa de custos está baseada nas entrevistas com 33 madeireiros na cidade deParagominas.

2 A produção de uma serra de fita varia de 2.500 m3 a 6.000 m3 (média=4.300, s=858).

3 O valor da produção foi determinado estimando o volume de madeira serrada em quatro categorias depreços: 1)alto valor (US$ 280/m3, s=42) – 430 m3 produzido x US$ 120.400; 2)médio valor (US$ 180/m3, s=29) - 2.150 m3 produzido x US$ 387 mil; 3) baixo valor (US$ 140/m3, s=17) - 430m3 produzido xUS$ 140 = US$ 60.200); 4) valor muito baixo (US$ 80 m3, s=14) -1290 m3 x US$ 80 = US$ 103.200).

4 Para se produzir 1 m3 de madeira serrada são requeridos 2,13 m3 de madeira em tora, necessitando-seconsumir 9.200 m3 de madeira em tora para satisfazer à demanda de toras de uma serraria ao longo de umano. O custo de madeira em tora por tipo de qualidade é dado na nota de rodapé 3.

5 Uma serraria típica tem 22 operários não especializados, cada um recebendo US$1.344/ano, além de 6trabalhadores especializados, incluindo operadores de serra de fita e empregados de escritório, cada umrecebendo US$ 3.000/ano.

6 Previdência Social, Fundo de Garantia, Férias, 13º Salário e outros encargos sociais têm um custo equiva-lente a 58% do valor do salário. Apesar de obrigatório por lei, esses encargos sociais nem sempre sãopagos.

7 A maioria das serrar ias ut i l iza a energia elétr ica como fonte de energia. Os custos de energia foramestimados em US$ 9.823/ano (s=2.200).

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para gerar esse lucro anual é 242 ha,considerando-se uma intensidade médiade exploração de 38 m3/ha (Tabela 2).Portanto, cada hectare de floresta geraum lucro de cerca de US$ 900, dividi-dos entre os lucros da exploração (US$197/ha) e processamento (US$ 702/ha).Inicialmente, os empresários do setormadeireiro utilizaram os lucros obtidoscom a atividade madeireira para com-prar o maquinário e construir as instala-ções da própria indústria, num valor es-timado em US$ 170 mil (Tabela 2, no-tas de rodapé 9 e 14). Mais tarde, os pro-prietários das madeireiras investiram emequipamentos de exploração — tratoresde esteira, caminhões e pás carregadei-ras — num custo total estimado em US$400 mil. Recentemente, os madeireiros

começaram a investir, simultaneamente,na compra de áreas de floresta virgem ena aquisição de equipamento parabeneficiamento da madeira serrada. Atu-almente, estima-se que os madeireirostenham 18% das terras do município deParagominas.

A importância da atividade madei-reira na economia regional: As 238 em-presas madeireiras operando na região deParagominas no ano de 1990 utilizaramestimadamente 2.578.120 m3 de madeiraem tora e produziram 1.225.700 m3 demadeira serrada (Tabela 4). Assumindouma produção média da exploração de38 m3/ha (Tabela 1), estima-se que67.845 ha de floresta foram exploradosem 1990 ou 285 ha/indústria.

8 Uma carregadeira de tora é utilizada para colocar as toras na posição de serragem. O consumo de dieselfica em 40 litros x 250 dias de trabalho/ano x US$ 0,3 (preço de um litro de diesel) = US$ 3 mil.

9 Os gastos de manutenção de uma carregadeira, incluindo reparos, peças de reposição e mão-de-obra, foiestimado em US$ 8 mil. A reposição de serras de fita (US$ 150 mil cada) e 16 serras circulares (US$ 70cada) foi estimada em US$ 5.020.

10 Um conjunto, incluindo serra de fita e destopadeira nova, custa US$ 42 mil e, após quinze anos de uso,o seu valor fica em US$ 4.200. A depreciação é US$ 2.520 [(US$ 42 mil - US$ 4.200)/15). O conjuntode afiação e guincho novo custa US$9.900 e, após sete anos de uso, vale US$ 990. A depreciação anualé US$ 1.273 [(US$ 9.900 -US$ 990)/7]. Uma serra circular nova custa US$ 2.300 e, após 10 anos de uso,f ica valendo US$ 230. A depreciação anual é US$ 207 [(US$ 2.300 – US$230)/10]. Uma máquinaviradora de tora nova custa US$ 3 mil e, usada por 10 anos, tem um valor residual de US$ 600. Adepreciação anual é US$ 240 [(US$ 3 mil - US$ 600)/10]. Uma carregadeira de toras nova custa US$ 90mil e, após sete anos de uso, vale US$ 18 mil. A depreciação anual é US$ 10.286 [(US$ 90 mil - US$ 18mil)/7]. O custo para se construir uma serraria típica, incluindo galpão e escritório, é US$ 25mil e, após20 anos de uso, vale US$ 5.000. A depreciação anual é US$ 1 mil [(US$ 25 mil - US$ 5 mil)/20].

11 Os gastos anuais com telefone são estimados em US$ 3.500 (s=789).

12 Os gastos com material de expediente do escritório são estimados em US$ 1.700 (s=417).

13 A remuneração anual do empresário fica em US$ 24 mil (s=3.450).

14 Os custos do veículo são calculados como: 1) consumo de gasolina - 1.500 litros/ano (s=549) x US$ 0,5por litro = US$ 750; 2) manutenção - US$ 1.700 (s=785); 3) depreciação do valor de um carro novo =US$ 12 mil, período de uso = 6 anos, valor residual = US$ 4.800, depreciação anual = US$ 1.200 [(12mil -US$ 4.800)/6].

15 O valor dos impostos é baseado no valor da produção total, e corresponde a: a) ICMS (12% mercadointerestadual)=US$ 80.496; b) Finsocial (2%) = US$ 13.416; e c) PIS (0,65%) = US$ 4.360. O cálculopara o pagamento dos impostos está baseado nos preços da madeira serrada, determinados pela Sefa doPará. Esses valores geralmente são inferiores aos preços praticados pelo mercado, o que significa que opagamento de impostos na prática pode ser bem menor.

16 Consideramos: a) capital próprio; b) valor do investimento = US$ 172.200 (maquinário da serraria,instalações, incluindo galpão e escritório, e uma pá-carregadeira - ver nota de rodapé nº 10); c) taxa deremuneração de 6% ao ano; e d) tempo do invest imento de acordo com a vida út i l de cada um dosequipamentos (ver nota de rodapé nº 10).

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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A renda bruta gerada pela in-dús t r ia made i re i ra na reg ião deParagominas em 1990 pode ser esti-mada combinando a renda bruta deuma serrar ia t íp ica, produção de4.300 m3 de madeira serrada por anono valor de US$ 670.800 (Tabela 3),com o volume total de madeira serra-da produzida na região (Tabela 4). Oresultado é um valor de cerca US$191 milhões (1.225.700 m3 / 4.300 m3

x US$ 670.800), assumindo uma mar-gem de lucros de 32% (típicos das ser-rarias envolvidas na exploração e pro-cessamento de madeira), os lucros so-mados dessas 238 indústrias seriamde, aproximadamente, 62 milhões dedólares.

Com uma renda bruta anual decerca de 190 milhões de dólares, a in-dústria madeireira domina a economiada região de Paragominas. A pecuária,principal atividade implantada a partirde 1965 e responsável pelo desmata-mento de cerca de 25% da região deParagominas, tem aproximadamenteuma renda bruta anual cinco vezes

menor que a renda estimada para a in-dústria madeireira (Mattos e Uhl,1994).

Relação econômica entre a ati-vidade madeireira e a pecuária: A ren-da gerada pela atividade madeireira temum papel importante no subsídio à pe-cuária regional. Quando os madeirei-ros chegaram em Paragominas, na dé-cada de 80, a maioria das terras, comfloresta ou desmatadas, era controladapelos pecuaristas e especuladores quehaviam se mudado para a região nasduas últimas décadas. À medida quesuas áreas de floresta ganhavam valor,os pecuaristas tornaram-se cada vezmais interessados na exploração ma-deireira. Esse interesse deriva, emgrande parte, do papel crucial que avenda da madeira tem na reforma daspastagens degradadas. O custo da re-forma de pasto em 1990 era de US$200/ha (Mattos e Uhl,1994).

A súbita valorização da madeirada Floresta Amazônica, de fato, estáaumentando o período de vida da pe-

Tabela 4. Estimativa anual de consumo de madeira em tora e produção de madeiraserrada de 238 indústrias madeireiras existentes na região de Paragominas em1989-1990.

Tipo de Número de Consumo de Consumo Produção Produção

indústria indústrias tora/indústria total de serrada/ serrada

m3 tora/ano m3 indústria total

1 serra de fita 196 9.200 1.803.200 4.300 842.800

2 a 3 serras de fita 24 17.450 418.800 8.200 196.800

4 a 7 serras de fita 5 42.130 210.650 19.800 99.000

Fábrica de lâminas

e compensados 13 11.190 145.470 6.700 87.100

TOTAL 238 2.578.120 1.225.700

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cuária na região. Os pecuaristas quedetêm grandes áreas de floresta e queestão interessados em participar no pro-cesso de exploração de madeira têm,agora, uma nova fonte de subsídios.Esta é a terceira vez que a pecuária estásendo subsidiada na Amazônia Orien-tal. O primeiro subsídio veio com aderrubada inicial da floresta quando osnutrientes existentes na biomassa dafloresta foram utilizados para ajudarno estabelecimento das pastagens(Buschbacher, Uhl e Serrão, 1988). Osegundo veio do governo na forma decapital para o estabelecimento dainfra-estrutura da pecuária (Browder,1988). Esse terceiro subsídio para re-formar as pastagens degradadas, assimcomo o primeiro subsídio, vem da na-tureza e, apesar de ser considerado gra-tuito, envolve custos sociais.

Impactos sociais e ecológicosda indústria madeireira

impactos sociais

As 112 indústrias madeireiras si-tuadas nos arredores de Paragominas(isto é, aquelas instaladas nas cidade)geram aproximadamente 5.750 empre-gos distribuídos entre operários de ser-raria, motoristas de caminhão extrato-res na floresta e trabalhadores autôno-mos. Em geral, foi estimado que 56%da população urbana de Paragominasdepende diretamente da indústria ma-deireira para sua subsistência. Consi-derando-se que estas 112 indústrias

reunidas exploram aproximadamente32.000 hectares de floresta por ano,cada trabalhador do setor madeireirodepende de aproximadamente 5 hec-tares de floresta por ano para sua sub-sistência.

Nas entrevistas feitas no bairroindustrial foi identificado que a maio-ria dos trabalhadores da indústria ma-deireira era originária de outros Esta-dos (41% era do Estado do Maranhão),e que 55% dos entrevistados havia che-gado nos últimos cinco anos. A grandemaioria (90%) dos trabalhadores eraformada por migrantes da zona rural.Os salários eram baixos, US$ 112 pormês (n=87, s=43). Três quartos das fa-mílias entrevistadas usavam mais de66% do salário na alimentação. Alémdisso, devido à natureza não especi-alizada do trabalho, não havia relaçãoentre o tempo de trabalho na indústriae o aumento real de salário.

Dada a importância da madeira naeconomia regional, a indústria madei-reira poderia gerar uma arrecadação deimpostos que, se usada diretamente, po-deria aumentar significativamente aqualidade de vida dos habitantes da re-gião. Por exemplo, as 238 indústriasmadeireiras de Paragominas deveriamter gerado, conjuntamente, US$ 28 mi-lhões de dólares em impostos (14,6%da receita bruta, Tabela 3) em 1990. Semetade desse dinheiro ficasse na regiãopara ser aplicado em serviços sociais,haveria disponíveis US$ 200/pessoa/ano ou aproximadamente US$ 1.000/família de cinco pessoas.

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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Impactos da indústriamadeireira no recurso florestal

Danos da exploração: Danosconsideráveis ocorrem na abertura dasestradas de exploração, na derrubadae extração de árvores nas florestas tro-picais (Burgess, 1971; Jonkers, 1988).Enquanto uma média de 6,4 árvoresforam extraídas por hectare em nos-sas três áreas de estudo, quase 150 ár-vores/ha ≥ 10 cm DAP foram severa-mente danificadas (Tabela 5). Isso re-presenta 27%, 35% e 43% de todas asárvores ≥ 10 cm DAP existentes nasáreas 1, 2 e 3, respectivamente. Qua-se a metade (média = 48%, s=5, n=3)

das árvores danificadas estava tomba-das; 41% apresentavam galhos quebra-dos e as demais (11%) sofreram da-nos severos no tronco. O tamanho mé-dio das árvores danificadas era de 20cm de DAP (entre 10 cm e 93 cm).

Os danos nas árvores não eramproporcionais ao volume derrubado.Por exemplo, a extração de 18 m3 da-nificou 5 m2 de área basal na área 1;mas, na área 3, um volume três vezesmaior foi extraído e a área basaldanificada aumentou em apenas 50%.Produções maiores, portanto, causa-ram danos/m3 extraído substancialmen-te menores (vide Jonkers, 1988, parauma estimativa semelhante).

Tabela 5. Danos causados na exploração de madeira em três áreas na região deParagominas, Pará.

Características da exploração

Área da exploração (ha)

Nº de espécies extraídas (nº/ha)

Árvores extraídas (nº/ha)

Árvores cortadas mas não extraídas (nº/ha)

Volume extraído (m3/ha)

Volume cortado mas não extraído (m3/ha)

Danos causados na exploração

Árvores ≥ 10 cm DAP danificadas (nº/ha)

Área basal ≥ 10 cm DAP danificada (m2/ha)

Volume ≥ 10 cm DAP danificado (m3/ha)

Abertura de dossel (m2/ha)1

Índices de danos

Árvores danif icadas/árv.extraída

m3 danif icados/m3 extraído

m2 estrada/árvore extraída

m2 de estrada e pátio/árvore extraída

Abertura dossel/árvore extraída

1 Considerando-se apenas a abertura de dossel causada pela exploração madeireira.

Área 2

3 7

5 5

6,9

0,7

3 5

3,2

130

6,6

6 3

4500

1 9

1,8

3 8

219

652

Área 1

115

5 7

2,9

0,2

1 8

2,2

121

5,0

4 7

2500

4 1

2,6

3 7

186

862

Área 3

1 6

4 3

9,3

0,4

6 2

3,6

193

7,6

7 7

4400

2 0

1,2

4 3

249

473

Média

5 6

5 2

6,4

0,4

3 7

3,0

148

6,4

6 2

3880

2 7

1,9

3 9

218

662

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Muitas das espécies danificadaseram de valor econômico potencial(Figura 4). Por exemplo, 32% dosindivíduos danificados eram de es-péc ies a tua lmen te se r radas emParagominas. Outros 44% dos indi-víduos danificados eram de espéci-es usadas na construção rural, masque ainda não foram aproveitadaspela indústria madeireira. As demaisárvores danif icadas (24%) não ti-nham importância econômica. Emtermos de volume, 85% do volume

total danificado tinha algum uso ma-deireiro (49% como madeira serradae 36% em outras aplicações).

A cobertura de dossel após a ex-ploração nas três áreas de estudo va-riou de 40% a 47% (média = 45, s=8,n=3). Em contraste, a cobertura mé-dia de dossel nas três áreas não explo-radas, associada a cada área explora-da, foi de 82% (s=11). Portanto, a ex-ploração madeireira reduziu a cober-tura de dossel em média 38% nas trêsáreas de estudo.

Figura 4. Estimativa do número e volume das árvores danificadas por hectarenas áreas de exploração estudadas nos arredores de Paragominas, Pará.

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Exploração Intensiva de Madeiras em Paragominas

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Os índices de danos da explora-ção (Tabela 5) revelam que uma trocasubstancial está envolvida na explora-ção madeireira. Quase 2 m3 de madei-ra são destruídos para cada metro cú-bico extraído. Esses danos ocorrem naabertura de aproximadamente 40 m deestrada madeireira para cada árvoreextraída e 663 m2 de abertura dedossel/árvore extraída. Em compara-ção, a queda natural de árvores na flo-resta causa aberturas entre 150 m2 a300 m2 nessa região.

Regeneração na floresta explo-rada: Havia uma abundância deplântulas e brotos nas dez parcelas (5m x 5 m) de regeneração estudadas emcada uma das três áreas de pesquisa.Entretanto, cerca de 85% dessas plan-tas (s=5, n=3) não tinham valor madei-reiro. Por exemplo, considerando-se astrês áreas, havia em média 2,7 plântulase brotos de espécies não madeireiras e1,6 cipó por metro quadrado ou umadensidade total de 4,3 plantas nãolenhosas/m2, comparado com apenas0,43 planta de espécies serráveis/m2 e0,25 planta de outros usos madeireiros/m2. Mesmo assim, a soma das plântulase brotos (0,68) (s=0,13, n=3) de valormadeireiro atual ou potencial é signifi-cativa: 6.800 indivíduos por hectare.

Observamos que a regeneraçãoera vigorosa nas estradas madeireirase nas clareiras de árvores derrubadasna área 1, onde há dois anos ocorreuuma exploração madeireira. Havia umamédia de 4,5 plantas/m2 com altura ≥≥≥≥≥ 1m nas parcelas localizadas nas estradasde exploração abandonadas, 2,4 plan-

tas/m2 nas clareiras resultantes da ex-ploração de madeira, e 1,6 planta/m2

nas faixas de florestas não exploradas(Figura 5). Portanto, a densidade deplantas era quase duas vezes maior nasestradas de exploração abandonadas doque nas clareiras provocadas pela ex-ploração (veja Jonkers, 1988, para umaestimativa similar). As plantas que co-lonizaram as estradas se estabeleceramvia semente (82%) ou via brotamento(18%).

A maioria das plantas avaliadasnesse levantamento, independente dohabitat, era de espécies de valor eco-nômico (isto é, 92% nas estradas, 91%na floresta). Apesar disso, devido à altadensidade de plantas, havia ainda 0,3indivíduo de espécies de valor econô-mico ≥ 1 m de altura/m2 nas estradas e0,2/m2 nas clareiras.

O número de espécies econômi-cas por parcela (6 m x 15 m) era seme-lhante nos três micro-habitats, varian-do de 7,3 nas clareiras (s= 2,8, n=10)até 8,7 na floresta (s=3,7, n=10). Adominância de espécies era mais pro-nunciada nas parcelas das estradas deexploração e das clareiras. Por exem-plo, 48% dos indivíduos de espécies deinteresse econômico nas parcelas dasestradas era Jacaranda copaia. Nas cla-reiras, Jacaranda copaia representava40% de todos os indivíduos. Enquantoisso, nas parcelas da floresta, essa es-pécie representava somente 1% dos in-divíduos em altura.

O crescimento das espécies emaltura foi bom nas parcelas das estra-das e das clareiras (geralmente maiorque 1 m/ano). Ao longo das estradas,

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Figura 5. Densidade de regeneração de árvores, mudas e cipósnas estradas de exploração, pátios de estocagem de madeira e nasáreas não afetadas, após dois anos da exploração florestal ter sidorealizada, nas proximidades da área 1 em Paragominas, Pará.

o melhor índice de crescimento duranteo período de dois anos foi para Ocoteac.f. glandulosa (média = 4,1 m, s=0,7,n=7). Pithellobium pedicellare mostrouo melhor crescimento nas parcelas declareiras (média 4,6, s=1,2, n=5).

Estoque natural de espécies eco-nômicas após a exploração madeirei-ra: Considerando-se que os danos as-sociados com a exploração madeireiraem Paragominas são elevados, qual é opotencial de produção de madeira na

floresta remanescente? No levantamen-to feito com todas as árvores de DAP ≥30 cm em dois transectos de 20 m x1.000 m, em cada uma das três áreas deexploração estudadas foi encontrada, emmédia, 16 árvores por hectare com boaforma e de valor econômico; e 22 indi-víduos/ha sem valor econômico, por te-rem uma forma defeituosa ou por seremmadeiras de valor econômico desprezí-vel. Portanto, de um total de 55 árvoresde DAP ≥ 30 cm por hectare existentesna floresta explorada, 60% têm uso atu-

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al ou uso potencial no futuro. Em ter-mos de volume, foi encontrada umamédia de 27 m3/ha de madeira do valor

econômico atual, 33 m3/ha de madeirapara uso futuro e 40 m3/ha sem perspec-tivas de uso futuro (Tabela 6).

Tabela 6. Intensidade da exploração madeireira e densidade de árvores ≥ 30 cmde DAP, em três áreas de floresta explorada, de acordo com o uso madeireiro naregião de Paragominas, Amazônia Oriental.

CLASSES DE USOS DAS MADEIRAS

Área Volume Número Serrada Outros usos Sem uso Totalextraído árv./ha no presente1 madeireiros madeireiro2

I Nº/ha 3,0 1 3 1 4 1 7 44Vol/ha 18,0 1 9 1 9 2 7 65

II Nº/ha 7,0 1 9 1 6 3 2 67Vol/ha 35,4 3 1 2 7 5 2 110

III Nº/ha 9,5 1 5 2 3 1 9 57Vol/ha 6 2 2 9 5 5 4 0 124

Média Nº/ha 6,5(3,3) 16(3,0) 17(4,7) 22(8,1) 55(desvio) Vol/ha 38(22,1) 27(6,4) 33(18,9) 40(12,5) 100

Viabilidade econômica domanejo florestal emParagominas

Viabilidade do manejo florestalpara a indústria

Os fatores que permitem uma ava-liação da viabilidade econômica do ma-nejo são o lucro da serraria, o custo demanejo e o comportamento da florestaapós o manejo. As medidas de manejofundamentais que poderiam ser adotadasem Paragominas para aumentar a produ-ção de madeira são: 1) levantamento pré-exploratório da área, para determinar alocalização das árvores desejáveis; e o

planejamento da queda das árvores e docaminho do trator, para minimizar os da-nos da exploração; 2) corte dos cipós umano antes da exploração, para diminuiros danos na derrubada e diminuir a com-petição por luz; e 3) anelamento e des-baste das espécies sem valor econômi-co, juntamente com o corte de cipós paraabrir espaço de crescimento para as es-pécies desejáveis após um, dez e vinteanos de exploração. Os custos dessasmedidas de manejo são estimados, emtermos bem gerais, em US$ 180/ha e di-vididos em: 1) inventário pré-exploratório (US$ 20/ha); 2)corte de ci-pós pré-exploratório (US$ 25/ha)e 3)des-bastes pós-exploratórios (US$ 45/ha)(Barreto et al , 1993; veja também Graaf,1986; Jonkers, 1988 e Hendrison, 1990).

1 Inclui apenas os indivíduos que estão sendo serrados no presente e que possuem uma boa copa e um fustelivre de defeitos.

2 Inclui as espécies de árvores que não têm valor no presente e sem perspectiva de valor futuro e osindivíduos das espécies de valor, mas que estão danificados ou com defeitos na forma.

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Uma serraria típica com uma ser-ra de fita e que também atua na explo-ração florestal precisa manejar 242 ha/ano para suprir sua necessidade de ma-téria-prima (Tabela 2, nota de rodapé 2)a um custo total estimado em US$43.560 (242 ha x US$ 180/ha). O custoreal nos primeiros dois anos de manejo(um ano antes da exploração e um anoapós a exploração) seria US$ 90, cominvestimentos adicionais no 10o e 20o

ano do ciclo do manejo. Considerandoo lucro anual de uma serraria típicacomo sendo aproximadamente US$ 216mil (Tabelas 2 e 3), os custos de mane-jo consumiriam 20% dos lucros anuaistotais ou 7% da receita bruta anual to-tal. Ainda que nenhum benefício resul-te do manejo, a margem de lucro das ser-rarias seria diminuída de apenas 32%para 26%, devido ao investimento emmanejo.

Entretanto, a adoção de técnicassimples de manejo florestal resulta nummaior incremento de madeira. Por exem-plo, quando o corte de cipós e oanelamento de espécies sem valor eco-nômico são feitos após operações nãoplanejadas de exploração, as árvorescomerciais ≥ 30 cm de DAP atingemaumento anual no diâmetro de 0,6 cma 1,0 cm, comparados com 0,1 cm a 0,4cm/ano, típicos de lotes sem tratamen-to (Graaf, 1986; Jonkers, 1988). Asprojeções baseadas nas característicaspós-exploratórias de três áreas de es-tudo e, considerando-se uma mortali-dade anual de 2% e um incremento anu-al de 0,8 cm nas parcelas manejadas e0,3 cm nas parcelas não manejadas, re-velam que a diferença em volume de

madeira em tora acumulado entre asespécies comerciais ≥ 30 cm de DAP,será de 22 m3 após 35 anos (Barreto etal., 1993). Além disso, essas simula-ções revelam que haveria um estoqueadequado de madeira para futuras ex-plorações.

Se o inventário pré-exploratório eo corte de cipós forem adicionados aoprograma de manejo, os danos na ex-ploração poderiam ser reduzidos em até50% (Marn e Jonkers, 1982; Appanahe Putz, 1984; Hendrison, 1990). Portan-to, aplicando essas medidas podemosesperar que, no caso das três áreas deestudo, cerca de 24 indivíduos/ha comDAP ≥ 10 cm de espécies com valormadeireiro atual seriam salvas (Barretoet al., 1993). Considerando-se as nos-sas projeções de crescimento (0,8 cm/ano) e mortalidade anual (2%) para par-celas manejadas, esse estoque adicionalpoderia aumentar o volume acumuladopelas árvores comerciais de DAP ≥ 30cm em 10 m3, em média, após 35 anos.

Se adicionarmos aos 10 m3 ganhoscom a exploração planejada os 22 m3 re-sultantes de corte de cipós e anelamentodas árvores, a diferença total do volumeacumulado, entre as parcelas manejadase não manejadas, fica projetada para 32m3. Concomitantemente, as parcelas nãomanejadas em nossas simulações têmaproximadamente o mesmo volume demadeira comercial após 35 anos que oexistente logo depois da exploração. Issodevido à alta mortalidade e ao baixo cres-cimento. As pesquisas nas florestas tro-picais do Suriname (Graaf, 1986;Jonkers, 1988; Hendrison, 1990), duran-te mais de uma década, confirmam tam-

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bém que a acumulação de volume de es-pécies comerciais em lotes exploradosnão manejados é extremamente baixa(0a 0,25 m3/ha/ano). O período de rotaçãopara exploração de madeira em lotes nãomanejados é projetado para bem mais de50 anos.

Não existe uma maneira direta dese calcular o retorno dos investimentosna floresta. Num extremo, o retornopode ser considerado como valor do vo-lume extra de madeira gerado pelo ma-nejo na forma como ela está na floresta.Atualmente, os madeireiros pagam US$1/m3 - US$ 3/m3 pelo direito de extrair amadeira existente na floresta. Conside-rando-se um custo de manejo de cercade US$ 5 para cada metro cúbico de ma-deira acumulada na floresta (US$ 180/32 m3), um retorno de US$ 1 a US$ 3após 35 anos é claramente não atrativo.No outro extremo, pode-se considerar oretorno dos investimentos de manejocomo sendo o valor da madeira resultan-te do manejo após ser serrada. Nessecaso, considerando-se um lucro líquidode US$ 23,60 para cada metro cúbico detora processado (Tabelas 2 e 3), o valorfinal do volume extra de madeira geradopelo manejo seria de US$ 775 (32 m3 xUS$ 23,60). Considerando-se o padrãode tempo dos investimentos de manejo,a taxa de retorno seria de 4,9%. Emboranenhuma dessas abordagens seja inteira-mente satisfatória, esta análise revelaque: 1) técnicas simples de manejo po-deriam levar a um aumento substancialna acumulação de volume de madeira co-mercial e 2) os lucros das empresas ma-deireiras são suficientes para cobrir oscustos de manejo.

Manejo florestal - umaperspectiva regional

Dados desta análise serão utili-zados para avaliar as perspectivas desustentabilidade da atividade madeirei-ra na região de Paragominas. Essa ati-vidade vem acontecendo há 20 anos.Durante esse período, foi estimadoque 19,4 milhões de metros cúbicos demadeira foram extraídos das florestasda região (Tabela 7). A área de flores-ta que foi explorada para produzir essevolume de madeira foi estimada em512.753 hectares (19.484.627/38 m3).

Conhecendo-se a área de florestaintacta e a quantidade de madeira exis-tente nessa floresta, é possível estimaro tempo que ainda resta para que todasas florestas da região sejam exploradas.Para esse exercício, vamos considerarque a floresta disponível para a indús-tria madeireira abrange um comprimen-to de 300 km da rodovia Belém -Brasília, entre Santa Maria e Itinga, poruma largura de 200 km (Figura 1), re-sultando em uma área total de 60.000km2. Aproximadamente 65% dessaárea (39.000 km2) ainda é de florestanão mexida (Sudam, 1988; Watrin eRocha, 1992). Atualmente, as 238 in-dústrias madeireiras que operam na re-gião exploram cerca de 678 km2 de flo-resta por ano (Tabela 7). Portanto, essaregião pode abastecer a indústria ma-deireira no atual nível de consumo pormais 58 anos (39.000 km2/ano). Essesnúmeros têm uma importância adicio-nal quando se considera o manejo flo-restal no nível de cada indústria. A áreamédia de floresta explorada a cada ano

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por uma indústria é de 285 ha, quandoconsideramos todas as indústrias reu-nidas (67.845 ha/238 serrarias; Tabela7). Assumindo um período de rotaçãode 35 anos, cada indústria precisaria dequase 10.000 ha de floresta para garan-tir uma produção sustentável, e as 238indústrias em atividade em 1990 pre-cisariam de 23.740 km2. Isso represen-ta 61% da área estimada de floresta noretângulo do estudo. O número de ser-rarias que poderiam ser teoricamenteimplantadas nessa região, sob manejosustentável, poderia ser de até 400(39.900 km2/100 km2 por serraria),

embora uma quantidade bem menorfosse recomendável, dada a importân-cia de se conservar áreas de altabiodiversidade e porque nem todas asáreas de florestas são capazes de su-portar uma produção sustentável demadeira nesses níveis.

Embora essas projeções e estima-tivas revelem que o manejo da florestapara a produção de madeira possa serbom para a paisagem, para a popula-ção regional e também para a indústriaa longo prazo, existem três impedimen-tos logísticos ao manejo.

Tabela 7. Volume de madeira em tora extraído e madeira serrada produzida pelaindústria madeireira da região de Paragominas (1970-1990).

Nº de indústrias Vol. em tora Vol. serrado Área

funcionando extraído(m3) produzido(m3)1 explorada(ha)2

1970 2 18.300 8.600 4821971 2 18.300 8.600 4821972 2 18.300 8.600 4821973 5 45.750 21.500 1.2041974 9 82.350 38.700 2.1671975 12 109.800 51.600 2.8891976 12 109.800 51.600 2.8891977 21 192.100 90.300 5.0551978 32 292.750 137.600 7.7041979 47 428.495 202.100 11.2761980 67 599.184 283.800 15.7681981 82 751.917 356.900 19.7871982 98 903.940 430.000 23.7881983 110 1.087.120 516.000 28.6081984 136 1.355.910 645.000 35.6821985 154 1.663.176 791.200 43.7681986 189 1.992.900 946.000 52.4451987 215 2.259.390 1.075.000 59.4581988 225 2.398.905 1.140.500 63.1291989 234 2.578.120 1.204.000 67.8451990 238 2.578.120 1.225.900 67.845

TOTAL 19.484.627 9.233.500 512.753

1 Considerando-se que 2,13 m3 de madeira em tora são utilizados para produzir 1 m3 de madeira serrada.

2 Considerando-se que 38 m3 de madeira em tora são extraídos/ha.

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Primeiro, há pouco conhecimen-to ou experiência em manejo e, sem as-sistência técnica, as tentativas de ma-nejo serão mal conduzidas e talvez pos-sam até causar danos. Segundo, os re-tornos nos investimentos em manejonão são atualmente atraentes quandocomparados com outras opções de in-vestimento. Terceiro, a floresta virgemé barata — áreas de floresta virgem naregião de estudo estavam sendo vendi-das por US$ 100/ha - US$ 150/ha, em1991. Ao invés de investir US$ 180 haem manejo durante 35 anos, o madei-reiro que necessitar de madeira em torairá comprar áreas de floresta virgem porUS$ 120 e extrair a madeira imediata-mente.

Para promover, efetivamente, omanejo na Floresta Amazônica, trêsinstrumentos econômicos poderiam serempregados. Primeiro, o manejo pode-ria ser efetivamente obrigatório por lei.Nesse caso, a margem de lucro das ser-rarias poderia diminuir, mas, ainda as-sim, continuaria elevada (25%). Segun-do, os custos de manejo poderiam serrepassados para o consumidor com umaumento de 7% sobre o preço do pro-duto (imposto ecológico). E, terceiro,o Imposto sobre Circulação de Merca-dorias e Serviços (ICMS) poderia serreduzido de 12% para 5% sobre as ven-das. A quantia economizada por umaserraria típica (cerca de US$ 45 mil)

seria suficiente para cobrir os custos demanejo. Essas medidas econômicasdeveriam ser acompanhadas de umgrande esforço de fiscalização.

Apesar de a discussão do manejoter sido centrada na indústria madeireirae no governo, os pecuaristas podemtambém ter um papel importante na pro-moção do manejo da f loresta. Ospecuaristas controlam mais de 80% dasáreas de florestas na região de estudoe têm interesse potencial em usar raci-onalmente esse recurso. Mas, em ge-ral, os pecuaristas têm pouco conheci-mento do valor de suas áreas de flores-tas e dos danos que ocorrem durante aexploração. Eles vendem o direito deexploração barato e raramente avaliamos impactos das operações de extração.Na prática, os pecuaristas poderiam fa-cilmente regular as práticas de explo-ração em suas propriedades. Mais ain-da, considerando-se os altos lucros dasserrarias, os pecuaristas poderiam co-brar mais por seus recursos madeirei-ros e, então, usar essa receita extra parainstituir medidas simples de manejo,como a realização de inventários flo-restais e corte de cipós. Com a redu-ção dos danos e melhores taxas de acu-mulação de madeira resultantes do ma-nejo, os pecuaristas estariam lucrandoe a floresta seria usada de modo pro-dutivo e sustentável.

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EPÍLOGO

Após a publicação deste traba-lho, em 1992, ocorreram algumas mu-danças em Paragominas. Em termoseconômicos, houve uma redução namargem de lucro das madeireiras.Isso aconteceu devido a um aumentono custo de produção, em especial nocusto de transporte. Atualmente, osmadeireiros estão extraindo madeirabem mais distante: 150 km, em 1996,contra os 80 km percorridos em 1992.Além disso, o valor da madeira empé dobrou em apenas cinco anos, pas-sando de US$ 84 por hectare paraUS$ 193. Como resultado, o custo damatéria-prima teve um aumento de10% a 30% nesse período.

Paragominas ainda é o principalcentro madeireiro do Brasil, mas operfil da indústria também mudou. Asmadeireiras mais capitalizadas têmadquirido extensas áreas de florestae, em vários casos, transferido assuas operações de processamento dacidade para a floresta como forma dereduzir os custos de transporte. Emtermos de mercado, ainda que a mai-oria da produção continue sendo ven-dida para o mercado interno, houveum crescimento expressivo do volu-me exportado.

A extração da madeira na flores-ta de Paragominas continua sendofeita de forma não manejada. Alémdisso, os problemas decorrentes des-se tipo de exploração aumentaramnesse período. Por exemplo, em áre-as já exploradas, os madeireiros têmretornado para retirar as árvores res-tantes de valor comercial uma práti-ca que resulta num empobrecimentosevero da floresta.

As perspectivas de utilização ra-cional dos recursos madeireiros emParagominas existem, mas as práticasatuais de caráter predatório indicamque se o manejo florestal não for efe-tivado, as florestas da região serão li-quidadas nas próximas décadas. O le-vantamento feito pela Embrapa/Cpatuem 34 dos 232 projetos de manejoexistentes na região confirma o diag-nóstico de que os projetos não são,de fato, executados no campo.

A sobrevivência do setor madei-reiro e das florestas de Paragominasdepende da adoção do manejo. Asex igênc ias de mercado e a açãodisciplinadora e promotora do gover-no podem acelerar esse processo. Seisso ocorrer, a atividade madeireirapoderá ser mantida a longo prazo naregião de Paragominas.

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AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer aErivam Ferreira pela colaboração naanálise dos dados; a Flávio Figueiredopela confecção dos gráficos; a ZeniBrandino, Nelson Rosa, Manoel Gon-çalves, Carlos Bordalo, AdrianoVenturieri e Jurandir Galvão pela aju-da nos trabalhos de Campo; a Natali-no Silva, Robert Buschbacher, Les

Withmore, David McGrath e RobertWalker pela revisão do manuscrito; ea Noberto Hubner, João Carlos Gui-marães, Sidney Rosa e outros profis-sionais da indústria madeireira deParagominas por sua hospitalidade efranqueza. Esta pesquisa foi realizadacom o apoio da fundação W. AltonJones (E.U.A.).

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Capítulo3

A Exploração de um Recurso FlorestalAmazônico de Alto Valor:

O Caso do mogno

Adalberto VeríssimoPaulo BarretoRicardo TarifaChristopher Uhl

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Exploração do Mogno

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RESUMO

O mogno (Swietenia macrophyllaKing) é a mais valiosa das espécies ma-deireiras da Amazônia Brasileira: ummetro cúbico de mogno tipo exporta-ção valia US$ 800, em 1994. Estuda-mos a economia das empresas explo-radoras de mogno e o impacto sócio-ambiental dessa exploração no sul doPará, o maior centro de produção des-sa madeira no País. Das 86 empresasmadeireiras em operação nessa região,24 processavam cerca de 90% do mog-no extraído. A maioria dessas madei-reiras foi estabelecida nos anos 80(60%) e opera verticalmente (91%), ouseja, extrai, transporta, processa ecomercializa a madeira.

As empresas exploradoras demogno obtiveram lucros elevados noinício dos anos 90. Uma serraria típi-ca com uma serra-fita produziu, emmédia, 4.500 m3 de madeira serradapor ano, a partir de 9.900 m3 de ma-deira em tora. O valor dessa madeiraserrada foi de, aproximadamente, US$3.000.000, o que gerou lucro estima-do em US$ 800.000.

Estudamos três áreas de explo-ração florestal onde foram extraídos,em média, 5 m3 de mogno em tora porhectare, ou o equivalente a uma árvo-re. Entretanto, cortes futuros de mog-no nessas áreas são pouco prováveis.Após a exploração encontramos, emmédia, apenas 0,25 árvore de mognopor hectare com DAP (diâmetro à al-tura do peito) maior ou igual a 30 cm.

Além disso, não achamos nenhuma ár-vore de mogno com DAP entre 10 cme 30 cm. As mudas de mogno tambémeram raras.

Os danos causados pela extraçãosão expressivos em escala local. Paracada árvore de mogno extraída, 31 ár-vores com DAP ≥ 10 cm foram seve-ramente danificadas; e aproximada-mente 1.100 m2 da superfície do soloda floresta foram afetados. Entretan-to, devido às árvores de mogno geral-mente ocorrerem em grupos, muitasvezes distantes até dezenas de quilô-metros um do outro, apenas uma pe-quena parte da região foi diretamentealterada pela exploração. Contudo, oefeito direto sobre a população e di-versidade genética dessa espécie podeser significativo, já que quase toda apopulação adulta é explorada.

A exploração de mogno tem doisimpactos indiretos importantes: odesmatamento e a perturbação cultu-ral dos índios da região. O desmata-mento é catalisado devido à aberturade cerca de 3.000 km de estradas nosul do Pará, pelos madeireiros. Apósa extração do mogno, há uma fortetendência em converter essas áreas defloresta em pastagem. Isso porque afloresta remanescente da retirada domogno tem um valor econômico infe-rior quando comparado à pecuária.Além disso, a exploração dessa espé-cie tem sido documentada em cadauma das 15 reservas indígenas exis-

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tentes na região. Concluímos este tra-balho com uma discussão sobre asiniciativas de manejo florestal, políti-ca florestal e de mercado que poderi-

am ser adotadas para promover a pro-dução sustentável do mogno na Ama-zônia Brasileira.

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INTRODUÇÃO

As madeireiras instaladas na Ama-zônia extraem e processam mais de 300espécies madeireiras (Martini et al.,1994). A maioria dessas madeiras (90%)vale menos de US$ 300 por metro cú-bico serrado. O mogno (Swieteniamacrophylla King) lidera o seleto gru-po de madeiras de alto valor com umpreço médio de US$ 800 por metro cú-bico serrado padrão exportação (1994).A madeira de S. macrophylla (referidacomo “mogno” no restante deste traba-lho) é valorizada por sua cor atrativa,durabilidade, estabilidade dimensionale pela facilidade de ser manuseada emcarpintaria. Por isso, o mogno vem sen-do amplamente utilizado em móveis, pa-inéis, portas, janelas, laminados, etc.(Lamb, 1966).

A área de ocorrência de mogno seestende do México, passando pela Amé-rica Central, até o sul da Amazônia Bra-sileira e Boliviana (Rodan et al., 1992).Na Amazônia Brasileira, o mogno ocor-re em manchas dispersas ao longo dosEstados do Acre, sudoeste do Amazo-nas, Rondônia, norte de Mato Grosso esul do Pará (Barros et al., 1992).

Na Amazônia, o mogno vinhasendo extraído para uso local por mui-tos anos, mas foi só a partir dos anos 60que passou a ser largamente comerci-alizado. Três fatores contribuíram parao “boom” do mogno. Primeiro foi a aber-tura de rodovias no sul da Amazônia(ex. rodovia Belém-Brasília, nos anos60, e rodovia Cuiabá-Porto Velho, nosanos 80). Segundo, os incentivos

creditícios do governo federal para a ex-portação de madeira (Browder, 1987).E terceiro, o declínio dos estoques na-turais de mogno na América Central(Rodan et al., 1992).

No período de 1971 a 1992, o Bra-sil exportou aproximadamente 3,3 mi-lhões de metros cúbicos de mogno ser-rado (Funatura, 1992). A Grã-Bretanhae os Estados Unidos têm sido os princi-pais compradores: de 1978 a 1992, es-ses dois países importaram 40%(E.U.A.) e 35% (G.B.) do total de mog-no brasileiro exportado (Funatura,1992).

O mogno representa apenas umapequena fração (aproximadamente0,3%) do valor das exportações brasi-leiras (Hahn, 1991). Entretanto, no Pará,fornecedor de 64% de todo o mogno ex-portado pelo Brasil, o comércio de mog-no com o exterior representa 5% do va-lor total das exportações (Associaçãodos Exportadores de Madeira do Pará eAmapá -Aimex, dados internos).

Existe a preocupação de que omogno esteja ameaçado pela exploraçãoflorestal desordenada (Rodan et al.,1992). De fato, as outras duas espéciesde mogno que ocorrem apenas na Amé-rica Central e Caribe (S. mahogany e S.humilis) estão listadas no Apêndice IIdo Cites (Convenção sobre o comérciointernacional de espécies silvestres dafauna e flora). É crescente a pressãopara listar também o S. macrophylla noApêndice II do Cites. A inclusão de S.macrophylla nesse tratado não suspen-

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deria a exportação, mas aumentaria oseu controle. Ao mesmo tempo, algunsgrupos ambientalistas têm proposto umboicote ao consumo do mogno. O Bra-sil tem estado no centro desse debateporque é o maior produtor de mogno domundo e ainda detém um estoque con-siderável dessa espécie.

Este trabalho tem três objetivos.Primeiro, apresentamos uma análiseeconômica das atividades de extração eprocessamento do mogno no sul do Es-tado do Pará. Segundo, avaliamos osimpactos ecológicos e sociais da extra-ção do mogno nessa região. E, finalmen-te, consideramos os obstáculos e poten-cial para o manejo sustentável do mog-no na Amazônia Brasileira.

A região de estudo

Até meados do século XIX, o suldo Pará era ocupado predominante-mente por indígenas (Schmink e Wood,1992). Com a descoberta da borracha,os “brancos” começaram a chegar nes-sa região. Após o colapso do mercadoda borracha no início do século, a eco-nomia regional ficou reduzida à vendaocasional de castanha-do-pará, madei-ras exóticas e sementes oleaginosas.Nos anos 60, a região se tornou nova-mente um foco de atenção: estradasforam abertas ligando a região ao Cen-tro-Oeste e Nordeste e subsídios go-vernamentais foram oferecidos paraatrair pecuaristas e agricultores. Aomesmo tempo, em algumas partes daregião houve a descoberta de jazidasde ferro, estanho e ouro e, sobre os so-

los dessa região, crescia o mogno, umaárvore de extraordinário valor.

O mogno é uma árvore de copadominante, atingindo uma altura detrinta a quarenta metros, que crescesobre uma grande variedade de solos(Lamb, 1966; Snook, 1992). A vege-tação na área de ocorrência de mognono Pará é de floresta tropical aberta,perenefólia que gradualmente se mis-tura com a vegetação existente no suldo Estado. De forma geral, os solosdessa região são classificados comopodzólico vermelho-amarelo e a preci-pitação anual varia entre 1.500 mm e2.000 mm, com um período menos fre-qüente de chuvas de junho a outubro.

Quando os primeiros extratoresde mogno chegaram ao Pará, no iníciodos anos 60, as árvores localizadas pró-ximas dos rios eram cortadas e trans-portadas para Belém por via fluvial(Schmink and Wood, 1992). No inícioda década de 70, a extração de mognose deslocou para as proximidades darodovia PA-150, com o estabelecimen-to das serrarias nas cidades de Reden-ção, Rio Maria e Xinguara (Figura 1).No fim dos anos 70, as árvores de mog-no foram se tornando escassas ao lon-go da rodovia PA-150. Os madeireirosmoveram-se, então, em direção ao oes-te em busca das florestas do Xingu (Fi-gura 1). No período de 1970 até o iní-cio dos anos 90, a distância entre áreasde extração e serrarias aumentou deapenas alguns quilômetros para até 500quilômetros. Atualmente, as atividadesde extração estão concentradas cadavez mais na região entre os rios Xingue Iriri (Figura 1).

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Figura 1. Localização das áreas de estudo, reservas indígenas e empresas madeireiras na área de ocorrência de mogno nosul do Pará.

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METODOLOGIA

Análise econômica dasmadeireiras de mogno

Extração e transporte do mogno

Antes que o mogno possa serprocessado, as árvores devem ser lo-calizadas na floresta, derrubadas, ar-ras tadas por t ra tores f lo res ta is(skidders) e transportadas até as ser-rarias. Estudamos essas atividades emuma típica operação de extração. Aequipe de extração usava skidders epás-carregadeiras, comuns entre asmadeireiras, e estavam trabalhandoem uma floresta com uma densidadede mogno típica para a região. Entre-vistamos o chefe e os 25 membros daequipe, incluindo 8 mateiros (respon-sáveis pela localização das árvores demogno e marcação das trilhas), 4 ope-radores de motosserra, 3 assistentes demotosserra, 3 operadores de máquinaspesadas, 4 motoristas de caminhão, 2classificadores de árvores e 1 cozinhei-ro. Os questionários orais usados comos mateiros e operadores de motosser-ra tinham o objetivo de determinar osnúmeros de árvores loca l izadas(mateiros) e cortadas (motosserristas)por unidade de tempo e o custo des-sas atividades. Em nossas entrevistascom operadores de máquinas, coleta-mos informações sobre o t ipo demaquinário usado, a quantidade deárvores extraídas por unidade de tem-po, consumo de combustível, custo de

manutenção das máquinas e salários.Aos motoristas de caminhão pergun-tamos qual era o consumo de combus-tíveis, custo de manutenção, volumede madeira transportada por unidadede tempo e salários. Os classificado-res responderam perguntas sobre o vo-lume de madeira extraído por unidadede tempo. O cozinheiro forneceu in-formações sobre o consumo de comi-da. Finalmente, o chefe de extraçãoforneceu informações sobre a produ-ção e os custos gerais da extração edo transporte.

Avaliamos a qualidade dessas in-formações repetindo algumas pergun-tas para os mesmos entrevistados apósdecorrido uma semana da primeira en-trevista; também comparamos as esti-mativas de tempo e custos obtidosatravés desse processo intensivo deentrevistas com outras duas equipesde exploração para identificar possí-veis distorções nos dados.

Processamento ecomercialização do mogno

Entrevistamos com questionári-os representantes de 66 das 86 ma-deireiras da região de estudo (Figura1). Nas 20 empresas madeireiras ondeentrevistas formais não foram possí-veis, verificamos que o processamen-to de mogno ou era pequeno ou nãoocorria. Questionamos os entrevista-dos sobre o ano de instalação da em-

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presa, o tipo de serra e equipamentousado, produção anual, valor e desti-no da produção (porcentagem domercado interno e porcentagem domercado ex te rno ) e g rau deintegração vertical. Em cinco das em-presas que processavam exclusiva-mente mogno, também obtivemos da-dos sobre os custos de processamen-to, transporte, estocagem e comerci-alização de madeira.

Produção e impactos associadosà extração do mogno

Estudamos a produção e os da-nos da extração em três áreas. As áreas1 e 2 (Figura 1) estavam localizadasao norte da cidade de Tucumã, entãoo principal centro de processamentode mogno na região de estudo. Essasáreas pareciam ser típicas das flores-tas do alto Xingu, em termos de es-trutura da floresta e densidade demogno. A área 3 estava localizadapróxima da rodovia PA-150 (Figura1) e era uma das poucas manchas defloresta intacta que restavam naquelaregião. Os madeireiros consistente-mente reportavam que as florestaslocalizadas às margens da PA-150eram as mais ricas em mogno.

Após um reconhecimento geraldas três áreas de extração, seleciona-mos uma área representativa em cadasítio (em torno de 100 ha) e mapeamostodas as estradas madeireiras, trilhasde arraste e árvores cortadas. Obtive-mos o volume de todas as árvores demogno derrubadas através da multi-

plicação do comprimento da tora pelaárea basal média (obtida pela medidado diâmetro sem casca na base e naponta de cada tora). A área total decada local de extração foi estimadausando uma variação do método de“Po in t Quar te r ” (B rower e Zar,1984) e também através do uso doplanímetro.

Após se obter a área das estra-das, trilhas e pátios e a densidade deárvores antes da extração, foi possí-vel estimar o número de árvores comDAP ≥ 10 cm danificadas. A estima-tiva da área de estradas e pátios in-cluía, também, a área aberta pelos tra-tores para remover terra e usar essematerial no aterro dos trechos baixosda estrada. Para estimar os danos as-sociados com a derrubada das árvo-res de mogno, anotamos todas as ár-vores danificadas em 40 clareiras (10na área 1; 15 na área 2; e 15 na área3). As árvores danificadas foram clas-sificadas por tipo de dano: arranca-das, galhos quebrados ou severamen-te machucadas.

Finalmente, a abertura do dosselcausada pela extração foi avaliada emdois transectos de mil metros, sepa-rados entre si, em cada uma das trêsáreas de estudo. A cobertura de copafoi classificada como presente ou au-sente, olhando-se para o alto a inter-valos regulares ao longo de cadatransecto. A diferença da coberturade copa entre as áreas exploradas enão exploradas foi atribuída à explo-ração madeireira.

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Características da florestaapós a extração

Estoque remanescente após aextração do mogno

Identificamos e medimos o diâme-tro à altura do peito (ou no caso das árvo-res com sapopema, o diâmetro acima dasraízes tabulares) de todas as árvores comDAP ≥ 30cm em dois transectos de 20 mx 1.000 m, em cada uma das três áreas deestudo. As árvores com DAP entre 10 cm- 30 cm foram contadas em sub-parcelas(10 m x l.000 m) das parcelas maiores.Todas as árvores encontradas nessas par-celas foram classificadas em três catego-rias: 1) espécies com valor econômico atu-al; 2) espécies com futuro valor madeirei-ro; e 3) espécies sem uso conhecido e compoucas perspectivas de uso futuro. A qua-lidade de todos os indivíduos nas duas pri-meiras categorias foi avaliada em termosde formato, comprimento e defeitos dofuste e formato da copa.

Perspectivas para as futurasextrações de mogno

Foi feito um levantamento geral detodas as mudas e árvores novas de mog-no (DAP ≥ 1 cm e DAP < 9,9 cm) em 10sub-parcelas de 10 m x 20 m. Essas sub-parcelas foram plotadas em intervalo de100 metros ao longo das duas parcelas de20 m x 1.000 m em cada área de estudo.

Fizemos um segundo levantamen-to sobre a regeneração do mogno em an-tigas clareiras dessa espécie. Para tanto,localizamos 69 aberturas causadas pelaextração do mogno em quatro áreas ex-

ploradas no período de 1979 a 1988 (Fi-gura 1, áreas 4-7). Em cada abertura,plotamos uma parcela de 5 m x 15 m, apartir do toco da árvore de mogno extra-ída em direção à sua queda. Foi medidaa altura de todas as plântulas e brotos demogno com mais de 25 cm de altura.

Conseqüências sociais daexploração do mogno

Baseados em imagens do satéliteLandsat, em entrevistas informais e em ex-tensivas viagens, elaboramos um mapa dasestradas madeireiras construídas na re-gião. As terras ao longo dessas estradasmadeireiras têm sido reivindicadas por pe-quenos agricultores e grandes pecuaristas.Estudamos o processo de colonização porparte dos agricultores ao longo de 70 kmda estrada madeireira Morada do Sol. Essaestrada se estende ao norte da cidade deTucumã (Figura 1). Primeiro, elaboramosum mapa de campo com todas as proprie-dades ao longo da estrada e, depois, sele-cionamos aleatoriamente 62 famílias (20%dos domicílios ao longo da estrada). Per-guntamos aos agricultores sobre a histó-ria familiar, tamanho da propriedade e usosda terra. Para entender o papel dos gran-des proprietários na região, definidos aquicomo possuidores de mais de 1.000 hec-tares, entrevistamos 20 grandes proprie-tários ou os gerentes dessas propriedadeslocalizadas nas proximidades da estradaMorada do Sol.

Avaliamos os impactos da extraçãode mogno nas comunidades indígenasatravés de visitas às reservas onde ocor-re extração de mogno e também consul-tando documentos de pesquisa.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

serrarias. Lá, a madeira era classifica-da e depois embarcada em navios, prin-cipalmente para os Estados Unidos e aGrã-Bretanha. O restante da produçãoera enviado ao centro-sul do Brasil parauso doméstico.

A análise dos custos e do lucrodas exploradoras de mogno foi dividi-da em seis etapas: 1) compra dos direi-tos de extração; 2) localização e derru-bada das árvores; 3) extração e trans-porte das toras dentro da floresta; 4)transporte das toras até as serrarias; 5)processamento; e 6) comercialização.Geralmente, as empresas eram vertica-lizadas, isto é, cada empresa realizavatodas as seis etapas descritas.

Figura 2. Representação esquemática das etapas de exploração, processamento ecomercialização do mogno no sul do Pará.

Análise econômica dasmadeireiras de mogno

Na figura 2, apresentamos umavisão esquematizada das atividades deextração, processamento e comerciali-zação do mogno no início da décadade 90. Inicialmente o mogno era extra-ído da floresta e transportado centenasde quilômetros, em estradas construí-das por madeireiros, até as serrarias lo-calizadas nas cidades de Tucumã e Re-denção. Após o processamento, o mog-no destinado à exportação era transpor-tado por caminhões até o porto deBelém, distante 700 km a 1.000 km das

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Compra do direito de extração

Os exploradores freqüentemen-te compram o direito de extração domogno dos ocupantes da terra. Esti-mamos, com base nas entrevistas aosrepresentantes das serrarias, que 70%do mogno extraído no período de1990-1992 foi adquirido dessa forma.Esse custo, por metro cúbico de tora,

variou entre US$ 15 a US$ 70 em1992 (média=US$ 40 s=12,6 n=9;Tabela 1). O custo total da compra dodireito de extração nas áreas que es-tudamos foi de US$ 220.000 (5.500m3 x US$ 40/m3; Tabela 1). Em áreasindígenas remotas e áreas devolutasesparsamente povoadas, geralmente, omogno era extraído sem pagamento dedireitos de exploração.

Tabela 1. Custos de compra de direito de exploração, localização e derruba de1.200 árvores de mogno em uma exploração típica no sudeste do Pará, em 1992.

Categoria Custo (US$)1

Direito de exploração2 $ 220.000

Localização e derruba das árvoresSalários para mateiros3 $ 6.600Salários para motoserristas4 $ 8.550Alimentação5 $ 3.300Combustível6 $ 1.845Manutenção7 $ 885Depreciação das motoserras8 $ 240Transporte aéreo9 $ 3.300Abertura da pista de pouso10 $ 470Custo de capital11 $ 50

Total da localização e derruba $ 25.240

Total geral $ 245.240

1 Todos os custos foram obtidos em cruzeiros e convertidos em dólares (US$), usando-se a taxa oficial de câmbio.

2 O custo do mogno em pé na floresta foi de US$ 40/m3. Assim, as 1.200 árvores extraídas, que somaram cerca de 5.500m3, representaram um custo de US$ 220.000.

3 Dez mateiros trabalharam 3 meses para localizar 1.200 árvores. O salário mensal era de U$S 100, mais um prêmio de US$3 para cada árvore encontrada.

4 Cinco motosseristas (salário = US$ 150/mês) e cinco assistentes (US$ 100/mês) levaram 3 meses para cortar 1.200árvores. Essas equipes recebiam um prêmio de US$ 4 para cada árvore derrubada.

5 Todo alimento foi comprado em Tucumã (Figura 1), levado de avião até a floresta e jogado em clareiras. A maioria dacarne foi suprida através da caça.

6 Cerca de 225 litros de combustível (US$ 0,44/litro) e 100 litros de óleo (US$ 2,70/litro) eram usados para cada uma dascinco motoserras, durante os 3 meses de corte.

7 A manutenção das motosserras consistiu na compra de 25 correntes (US$ 28 cada), 40 limas redondas (US$ 3,8 cada) e10 limas chatas (US$ 3,3 cada).

8 O preço de compra de uma motosserra foi de US$ 720; o período de depreciação era de 36 meses; e o valor residual apósesse período, US$ 144. Então, a depreciação mensal foi de US$ 16 [(US$ 720 – US$ 144)/36] e a depreciação para cincomotosserras, no período de 3 meses, de US$ 240.

9 Foram necessários 2 vôos para fazer o reconhecimento inicial da área, 6 vôos para transportar os 20 trabalhadores eequipamentos e 3 vôos para transportar alimento e combustível durante os 3 meses de trabalho. O custo total foi de US$3.600 (11 vôos x 1,5 horas/viagem ida e volta x US$ 200/hora vôo).

10 Uma faixa de 30 m x 600 m foi aberta na floreta para servir de pista de pouso. Sete dias foram necessários para essetrabalho. Os custos de abertura são baseados nos valores da Tabela 2 para operação do trator de esteiras.

11 O custo de manter o capital investido em maquinário foi estimado em US$ 50. Isso incluiu: 1) o custo das 5motosserras de US$ 3.600; 2) taxa de 8% de juros ao ano pelo investimento e 3) 36 meses de vida útil para a motosserra.

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Exploração do Mogno

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Reconhecimento da área ederruba das árvores

As árvores de mogno tendem aocorrer com mais freqüência em certasáreas da floresta do que em outras. De-zenas de quilômetros podem separaruma área rica em mogno da outra. Atu-almente, as áreas de floresta contendomogno são geralmente localizadasusando pequenos aviões, cujos pilotosprocuram o mogno em áreas baixas(baixões), distinguindo-o das outras es-pécies por sua copa larga, brilhosa everde-clara. Quando uma área rica emmogno é localizada, os mateiros en-tram na mata para localizar as árvores.Eles abrem trilhas dentro da floresta emarcam a localização das árvores atra-vés de um sistema de orientação queutiliza setas de madeira. Essa orienta-ção serve para que os motosserristaspossam encontrar as árvores seleciona-das. As atividades de exploração e cor-te ocorrem durante os meses chuvosos,de março a maio. As toras são extraí-das e transportadas para as serrariasdurante a estação seca, de junho a no-vembro.

A equipe de extração estudadagastou aproximadamente 3 meses paralocalizar e cortar 1.200 árvores demogno (5.500 m3). O custo dessa ope-ração ficou em torno de US$ 25.000,ou US$ 4,6/m3, dividido entre salári-os (60%), suporte aéreo (13%), ali-mentação (13%), combustível (7%) eoutros (7%) (Tabela 1). O estoque demogno influencia esses custos: em áre-as onde a densidade do mogno é mai-or, os custos por metro cúbico podemdiminuir e vice-versa.

Extração das toras na floresta

Após as árvores serem derruba-das, tratores de esteira abrem estradase pátios de estocagem. Em seguida,skidders são guiados pelos mateirosaté as árvores derrubadas. Então, ostroncos são engatados em cabos deaço e ar ras tados a té o pát io deestocagem. No pátio, os troncos, de 10m a 20 m de comprimento, são dividi-dos em toras de 4 m a 7 m, apropria-das ao transporte.

Foram gastos quase dois mesespara se extrair as 1.200 árvores (5.500m3) na área estudada. O custo total fi-cou em US$ 131.000, ou US$ 23,8/m3,dividido entre salários e benefícios(31%), manutenção das máquinas(21%), depreciação (22%) e outros(26%) (Tabela 2).

Transporte das toras até as serrarias

A distância média das áreas deextração para as serrarias ficou em 245km (n=19; s=130). Na nossa área deestudo, a distância entre a área de ex-tração e a serraria foi de 370 km. Ocusto total para transportar 5.500 m3 demogno em tora foi estimado em US$418.000 ou US$ 76m3 (Tabela 2). Es-ses custos incluíam frete (57%), cons-trução de estradas (26%), salários ebenefícios (5%), combustível (5%),manutenção e depreciação (7%).

Processamento do mogno

Havia 86 serrarias operando naregião de estudo, em 1992, e a maio-ria delas estava situada nas cidades de

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Veríssimo et al.

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Tabela 2. Custo para extrair e transportar 5.500 m3 de mogno em uma exploraçãotípica do sudeste do Pará, em 1992.

Categoria Custo (US$)

Direito de exploração, reconhecimento ederruba das árvores1 $ 245.240Custo/m3 $ 44,6

Extração da madeira da florestaSalários2 $ 25.740Benefícios sociais dos salários3 $ 14.929Alimentação4 $ 6.480Combustível5 $ 19.491Transporte aéreo6 $ 7.600Manutenção de máquinas7 $ 28.000Depreciação de máquinas8 $ 28.831

Total da extração $ 131.071Custo/m3 $ 23,8

Transportes das toras até a serrariaSalários9 $ 12.080Benefícios sociais dos salários10 $ 7.006Combustível11 $ 20.917Manutenção de máquinas12 $ 14.400Depreciação das máquinas13 $ 16.780Frete14 $ 236.500Construção de estrada15 $ 110.000

Total do transporte $ 417.683Custo/m3 $ 76

Taxa florestal16 $ 16.500Custo/m3 $ 3

Custo de capital17 $ 25.185Custo/m3 $ 5,3

CUSTO TOTAL $ 835.679Custo total/m3 $ 152

1 O detalhamento destes custos está na Tabela 1.

2 A equipe de extração tinha 29 pessoas, divididas da seguinte maneira: 1) 7 operadores de trator com US$420 (salário mensal) x 2 meses (tempo total do trabalho) = US$ 5.880; 2) 2 assistentes de tratorista e 3assistentes de motosserrista x US$ 300 x 2 meses = US$ 3.000; 3) 2 procuradores de árvores (explorado-res) e 3 assistentes de motoserrista US$ 260 x 2 meses = US$ 2.600; 4) 1 mecânico x US$ 700 x 2 meses= US$ 1.400; 5) 1 assistente de mecânico x US$ 450 x 2 meses = US$ 900; 6) 1 soldador x US$ 500 x 2meses = US$ 1.000; 7) 2 motoristas x US$ 400 x 2 meses = US$ 1.600; 8) 1 distribuidor de combustívelx US$ 360 x 2 meses = US$ 720; 9) 2 cozinheiros x US$ 400 x 2 meses = US$ 1.600; 10) 1 ajudante decozinheiro x US$ 320 x 2 meses = US$ 640; 11) 1 capataz x US$ 1.200 x 2 meses = US$ 2.400; e 12)2 assistentes de capataz x US$ 1.000 x 2 meses = US$ 4.000.

3 Os benefícios sociais somam 58% dos salários e incluem seguro social, férias e seguro saúde. No entanto,essas obrigações sociais nem sempre são cumpridas.

4 Custos de al imentação para 29 pessoas, bem como para as 14 pessoas envolvidas no transporte e 10motoristas independentes (total de 53 pessoas).

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Exploração do Mogno

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5 O consumo de diesel ao longo dos dois meses de extração foi de 9.200 l i tros para cada um dos doisskidders, 7.800 litros para cada um dos cinco tratores de esteira (Catterpillar D5), 2.800 litros para umaniveladora de estradas, 1.300 litros para cada um dos dois caminhões, 850 litros para cada um dos doiscaminhões t ipo “pick-up”. O consumo total foi de 64.500 l i t ros x US$ 0,28 l i t ro = US$ 18.060. Oconsumo de gasolina estimado foi de 120 litros para cada uma das 3 motoserras x US$ 0,44/l = US$ 158.A estimativa do consumo de óleo lubrificante para todas as máquinas foi de 540 litros x US$ 2,70 = US$1.458.

6 Para transportar trabalhadores, alimento e combustível para o sítio de extração foram gastas 38 horas devôo x US$ 200/hora vôo = US$ 7.600.

7 Os custos de manutenção para todas as máquinas, incluindo os custos de reposição de pneus e peças, foramestimados em US$ 14.000/mês pelo capataz, baseado em sua experiência de trabalho de 4 anos (US$14.000 x 2 meses = US$ 28.000)

8 A estimativa de depreciação foi baseada no preço das máquinas, na vida útil e no preço de venda no finalda vida útil. Preço do trator de esteira (Catterpillar D6) = US$ 100.000; vida útil = 60 meses; valor devenda após vida úti l = US$20.000; depreciação mensal = US$ 1.333 [(US$ 100.000 - US$ 20.000)/60meses]. Depreciação total dos tratores de esteira foi de US$ 1.333 x 5 tratores x 2 meses = US$ 13.330.Patrol (Catterpil lar) preço = US$ 140.000; vida úti l = 60 meses; valor de venda após vida úti l = US$28.000; depreciação mensal = US$ 1.867 x 2 meses = US$ 3.734. Preço do skidder = US$ 120.000; vidaútil = 60 meses; valor de venda após vida útil = US$ 24.000; depreciação mensal = US$ 1.600 x 2 skiddersx 2 meses = US$ 6.400. Preço de caminhão = US$ 68.000; vida útil = 50 meses; valor de venda após vidaútil = US$ 13.600; depreciação mensal = US$ 1.088 x 2 caminhões x 2 meses = US$ 4.352. Preço de“pick-up” Ford= US$ 26.000; vida útil = 80 meses; valor de venda após vida útil = US$ 5.200; depreci-ação mensal = US$ 260 x 2 meses = US$ 520. Preço de “pick-up” tipo Toyota = US$20.000; vida útil =80 meses; valor de venda após vida útil = US$4.000; depreciação mensal = US$200 x 2 meses US$400.Preço de motosserra = US$720; vida útil = 36 meses; valor de venda após vida útil = US$144; depreciaçãomensal = US$16 x 3 motosserras x 2 meses = US$96.

9 Quatorze pessoas trabalharam por um período de dois meses na primeira fase do transporte. A equipe eradividida em: 2 operadores de pás-carregadeiras (US$ 420 = salário mensal de cada um), 2 medidores detoras (US$ 400 de salário mensal), 5 motoristas de caminhão (US$ 420 de salário mensal), 1 operador demotosserra (US$ 300 de salário mensal), 2 mecânicos (US$ 600 de salário mensal) e 2 cozinheiros (US$400 de salário mensal).

10 Veja a nota 3 desta tabela.

11 O consumo estimado de diesel nos dois meses de extração foi de 11.500 litros para cada um dos cincocaminhões e 5.400 l i t ros para cada uma das duas pás-carregadeiras x US$ 0,28 (preço/ l i t ro) = US$19.124. O consumo estimado de gasolina para as motosserras foi de 240 litros x US$ 0,44/litro = US$106. O consumo de óleo lubrificante para todas as máquinas foi 625 litros x US$ 2,7 = US$ 1.687.

12 Os custos de manutenção foram fornecidos pelo capataz.

13 Depreciação é baseada em preço de compra da máquina, vida útil da máquina e preço de venda após vidaúti l . Preço de caminhão para transporte de tora (Mercedes Benz 2.220) = US$ 68.000; vida úti l = 50meses; preço de venda após vida úti l = US$ 13.600; depreciação mensal = US$ 1.088 x 2 meses x 5caminhões = US$ 10.880. Preço de pá-carregadeira = US$ 110.000; vida útil = 60 meses; preço de vendaapós vida útil = US$ 22.000; depreciação mensal = US$ 1.467 x 2 meses x 2 pás-carregadeiras = US$5.868. Preço da motosserra = US$ 720; vida útil = 36 meses; preço de venda após vida útil = US$ 144;depreciação mensal = US$ 16 x 2 meses = US$ 32.

14 Caminhoneiros independentes receberam US$ 43/m3 para transportar as toras em 270 km, da floresta atéTucumã.

15 A companhia construiu 100 km de estrada do sítio de extração até a principal estrada no sentido norte-sul (estrada Morada do Sol). O custo para construir a estrada de 12 m de largura foi cerca de US$ 4.000/km (dados do capataz que supervisionou a construção de 550 km de estrada entre 1987 e 1992). Dadoque os 100 km de estrada deram acesso a uma floresta que continha cerca de 20.000 m3 de mogno, o custode construção desta estrada por metro cúbico de madeira extraído foi cerca de US$ 20 (US$ 400.000/20.000 m3). Daí, o custo atribuído aos 5.500 m3 extraídos em 1991 foi de US$ 110.000.

16 A taxa paga ao Ibama por metro cúbico de tora explorada (Fundo de Reposição Florestal) foi de US$ 3.

17 O custo de ter o capital retido em maquinário foi estimado em US$ 62.962/ano. Esta estimativa assumiu:1) o proprietário da serraria usa seu próprio capital para compra de equipamentos; 2) o investimento totalem equipamentos foi US$ 1.624.880; 3) taxa de juros de 6% ao ano e 4) períodos de investimento deacordo com a vida útil de cada equipamento. Nota: a exploração de mogno é restrita a cinco meses doperíodo seco. Por isso, dado um período de dois meses de operações, o custo do capital é US$ 25.185, ou40% do custo anual.

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Veríssimo et al.

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Figura 3. Característica das madeireiras de mogno no sul do Pará.

Tucumã e Redenção. Desse total de ser-rarias, 24 eram especializadas no pro-cessamento de mogno (Figura 1), pro-duzindo 90% do mogno serrado noPará.

A nossa análise será específicapara os madeireiros exclusivos de mog-no. Quatorze dessas serrarias foramestabelecidas nos anos 80, nove inici-aram as atividades nos anos 90 e ape-nas uma nos anos 60 (Figura 3a). To-das as serrarias eram empresas famili-ares cujos proprietários eram originá-rios do sul do Brasil (Figura 3c). Qua-renta e sete porcento das serrarias pro-duziam entre 2.000 m3 e 6.000 m3 demadeira serrada por ano; 37% produ-ziam de 6.000 m3/ano a 10.000 m3/ano;e 16% produziam mais de 10.000 m3/ano (Figura 3b). Cerca de 88% da pro-dução total eram tábuas serradas e orestante, 12%, eram lâminas destinadas

à fabricação de compensados e móveis.Os equipamentos usados nas ser-

rarias são os mesmos, independente dotamanho da indústria. Contudo, as ser-rarias pequenas têm apenas uma serra-fita, enquanto as serrarias grandes têmduas ou três serras-fita. Estimamos quecerca de US$ 24 eram gastos no pro-cessamento de cada metro cúbico demogno em tora (n=6; s=6,2). Nos cus-tos estão incluídos salários e benefíci-os, energia, combustível, manutenção,depreciação, infra-estrutura, materiaisde escritório e despesas com comunica-ção. Esses resultados são similares aoobtidos por Veríssimo et al. (1992 - ca-pítulo 2 deste livro) sobre os custos deprocessamento nas serrar ias deParagominas, no leste do Pará. Estima-mos o custo para produzir um metro cú-bico de mogno serrado em US$ 53 (2,2m3 em tora x US$ 24).

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Exploração do Mogno

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Comercialização do mogno

Estimamos que 70% do total daprodução de mogno serrado na regiãoera exportado. Havia 65 empresas im-portadoras responsáveis pela compradesse montante de mogno, mas, nova-mente, algumas poucas grandes empre-sas dominavam: cinco importadoresadquiriram 60% do total do mogno ex-portado pelo Pará em 1992.

O custo de comercialização domogno destinado à exportação varioude US$ 67/m3 a US$ 75/m3 de madeiraserrada (Tabela 3). Aproximadamente45% desse custo eram despesas com fre-te, para transportar a madeira serradaaté Belém, e o restante era relativo aotransporte local e despesas de embar-que (Tabela 3).

Rentabilidade da produção demogno serrado

Combinamos as informações doscustos (Tabelas 1, 2 e 3) com as infor-mações do valor da produção (Tabela3) para estimar os lucros das serrariasde mogno. Consideramos uma peque-na serraria típica (com uma serra-fita eprodução de madeira serrada de 4.500m3/ano) e uma grande serraria típica(com três serras-fita e produção de15.000 m3/ano). A maioria das serrari-as especializadas em mogno tinha ape-nas uma serra-fita, porém havia três ser-rarias, cada uma com três serras-fita eprodução anual de 15.000 m3, ou seja,responsáveis por um terço de todo omogno processado no Pará em 1992.

Os custos de exploração de mog-no somam aproximadamente US$ 152/m3, divididos entre compra de direitode extração (US$ 40/m3), localizaçãoe derruba das árvores (US$ 4,6/m3),extração (US$ 23,8/m3), transporte dastoras até as serrarias (US$ 76/m3), im-postos (US$ 3/m3) e custos de capital(US$ 4,6/m3) (Tabelas 1 e 2). O custopara realizar a derruba e o transportede um metro cúbico de mogno foi US$334 (2,2 m3 x US$ 152). Os custos res-tantes incluíam processamento (US$53/m3), comercialização (US$ 75/m3)e impostos (US$ 36/m3). Portanto, ocusto total do mogno serrado para asserrarias pequenas e grandes era, res-pectivamente, de US$ 498/m3 e US$490/m3 (Tabelas 1, 2 e 3).

O valor da produção média dasserrarias de pequeno porte (4.500 m3

serrado por ano) era de cerca de US$3.122.100 ou US$ 694/m3 serrado (Ta-bela 3). No caso das serrarias de gran-de porte, estimamos o retorno brutoem US$ 10.407.000, e os custos emUS$ 7.357.500, resultando em lucroaproximado de US$ 3.050.000 ouUS$ 203/m3 serrado (Tabela 3).

A maioria (88%) dos madeirei-ros das 24 serrarias na região de estu-do havia investido pelo menos partedos lucros em outros negócios na re-gião, como por exemplo: pecuária,plantação de cacau, revendedora deautomóveis e de bebidas e transporta-doras.

As atividades de exploração eprocessamento de madeira têm se re-velado lucrativas em outras áreas daAmazônia Oriental (Veríssimo et al.,

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Veríssimo et al.

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Tabela 3. Estimativas de custos e lucros para pequenas e grandes serrariasprocessadoras de mogno no sudeste do Pará, 1992.

Categorias Serraria Pequena1 Serraria Grande1

(4.500 m3/ano) (15.000 m3/ano)

Valor da produção2 $ 3.122.100 $ 10.407.000Valor do m3 serrado $ 694 $ 694

Custo da matéria-prima3 $ 1.504.800 $ 5.016.000

Processamento4 $ 237.600 $ 792.000

Custos de comercializaçãoTransporte da serraria até Belém5 $ 148.500 $ 495.000Infra-estrutura portuária6 $ 67.000 $ 105.000Transporte para o cais7 $ 13.500 $ 45.000Taxas do cais8 $ 108.000 $ 360.000Total comercialização $ 337.000 $ 1.005.000

Taxas sobre a madeira serrada9 $ 163.350 $ 544.500

Custo total $ 2.242.750 $ 7.357.500Custo total/m3 $ 498 $ 490

Lucro $ 879.350 $ 3.049.500Lucro/m3 serrado $ 195 $ 203Margem de lucro 28,2% 29,3%

1 A produção anual média de madeira serrada de uma serraria pequena foi cerca de 4.500 m3 (média=4.417; n=17;s=1.459), enquanto que a produção média das serrarias grandes (com duas ou mais serras-fita) foi de 15.000 m3

(média=14.958; n=7; s=2.058).

2 Os preços mínimos oficiais para o mogno (seco ao ar) são baseados nas seguintes classes de qualidade: “fas” = US$670/m3 (50% do volume vendido); 2) “select” = US$ 570/m3 (20% do volume vendido); 3) “better & common” = US$505/m3 (20%); e 4) nº 1 e 2 “common and shorts” = US$ 400/m3 (10% do volume). Entrevistas com cinco industriaisexportadores revelam que estes preços são 15% menores que os preços reais. Por isso, nós ajustamos o preço de vendade acordo com esse percentual (“fas” = US$ 788, “select” = US$ 670, “better & common” = US$ 594; nº 1 e 2common and shorts” = US$ 460).

3 Dado que são necessários 2,2 m3 de mogno em tora para produzir 1 m3 de mogno serrado, a serraria pequena necessita de9.900 m3 de toras e a serraria grande, de 33.000 m3. Por isso, o custo de matéria-prima é cerca de US$ 1.504.800 para aserraria pequena[US$ 152/m3 (Tabela 2) x 9.900] e US$ 5.016.000 para a serraria grande (33.000 m3 x US$ 152/m3).

4 O custo para processar 1 m3 de mogno foi de aproximadamente US$ 24/m3 de tora (n=5 serrarias; s=6,2). Esse valorinclui todos os custos de uma serraria e foi similar ao encontrado em um estudo mais intensivo em Paragominas(Veríssimo et al., 1992 – capítulo 2 deste livro). O custo da pequena serraria foi de US$ 237.000 (9.900 m3 x US$24) e da grande, US$ 792.000 (33.000 m3 em tora x US$ 24).

5 O mogno destinado à exportação foi transportado do sudeste do Pará para o porto de Belém (distante cerca de 1.000 km)a um custo de US$ 33/m3 (n=5 indústrias; s=7,5) ou seja, o custo da pequena serraria foi de US$ 148.500 (4.500 m3 xUS$ 33/m3) e da grande, US$ 495.000.

6 As indústrias processadoras de mogno mantém escritórios e depósitos em Belém. O custo para manter essa infra-estruturafoi estimado em US$ 67.000 para as pequenas indústrias e US$ 105.000 para as grandes.

7 O custo para transportar a madeira dos depósitos em Belém para o porto (distante cerca de 10 km) é de aproximadamente US$3/m3 (n=5 madeireiros; s=1,2). Portanto, para a serraria pequena o custo seria US$ 13.500 e, para a grande, US$ 45.000.

8 Houve o pagamento de taxa portuária de US$ 12/m3, e o custo de carregamento também foi de US$ 12,00/m3 exportado(inclui o custo de pesagem, empilhamento e estocagem; n=5; madeireiros s=4,7). Por isso, o custo total seria US$24/m3 ou US$ 108.000 para a serraria pequena e US$ 360.000 para a serraria grande.

9 A madeira exportada foi taxada em 6% sobre o preço mínimo oficial. Para a serraria pequena, produzindo 4.500 m3 demadeira serrada, calculamos a taxa como segue: 1) 450 m3 (10% da produção) x US$ 400/m3 (preço oficial para“shorts” e “common”) x 0,06 = US$ 10.800; 2) 900 m3 (20% da produção) x US$ 505/m3 (preço oficial para “better& common”) x 0,06 = US$ 27.270; 3) 900 m3 (20% da produção) x US$ 570/m3 (preço oficial para “select”) x 0,06= US$ 30.780; 4) 2.250 m3 (50% do volume) x US$ 700/m3 (preço “fas”) x 0,06 = US$ 94.500. A taxa total paraserraria pequena chega a US$ 163.350. O mesmo procedimento de cálculo foi usado para a serraria grande.

Nota: Enquanto escrevíamos este trabalho, havia uma disputa judicial entre o setor madeireiro e o Governo do Estadodo Pará. O Estado estava obrigando o pagamento de uma taxa de 10,5% sobre a madeira serrada. Usamos a taxa de 6%nesta análise porque esta era a taxa usada, de fato, no início dos anos 90. Se a taxa fosse 10,5%, o valor subiria deUS$ 36/m3 para US$ 63/m3.

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Exploração do Mogno

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1990 e 1992 - capítulos 1 e 2 destelivro). Empresas madeireiras localiza-das nessas outras áreas exploram de-zenas de espécies de valor baixo emédio. Mas, o alto valor do mogno fazcom que um grupo de serrarias traba-lhem exclusivamente com essa espé-cie. O lucro por metro cúbico de mog-no serrado era de três a seis vezesmaior do que o lucro obtido exploran-do outras espécies em outras regiõesda Amazônia.

Fatores que causam variaçãonos lucros das serrarias

Três fatores influenciam especi-almente os lucros dos exploradores demogno: custos de transporte, comprado direito de extração e valor do mog-no serrado.

Os custos de transporte nos ca-sos estudados variaram porque a dis-tância entre a floresta e a serraria va-riou até dez vezes (de 50 km até 500km). Ao contrário do custo de trans-porte, o custo de se obter o direito deextração geralmente diminuía com oaumento da distância entre a floresta ea serraria. Portanto, o alto custo dotransporte das áreas mais distantes po-deria ser compensado pelo baixo custodo direito de exploração ou pela suainexistência. O mogno “grátis” era ob-t ido das terras desabitadas (áreasdevolutas) ou das áreas cujos habitan-tes tinham pouco poder para frear aentrada dos madeireiros.

Dois exemplos são úteis aqui.Primeiro, considere uma exploraçãosituada a apenas 50 km de Tucumã

(Figura 1). Nesse caso, o custo detransporte seria de, aproximadamente,US$ 10,5/m3 (50 km x US$ 0,21/um3,custo para transportar 1 m3 por 1 km)ou 14% do exemplo da Tabela 2. Aomesmo tempo, o custo de obtenção dodireito de extração era geralmentemaior que a média (cerca de US$ 70/m3) para essas áreas mais próximas.Portanto, os custos totais de reconhe-cimento de área, corte, extração etransporte ficariam em torno de US$116/m3, incluindo impostos e custosde capital (Tabela 2), ou 24% menosque o nosso cenário básico (US$ 152,Tabela 2). Portanto, nesse exemplo olucro por metro cúbico de mogno ser-rado aumentaria em US$ 36/m3.

Agora, considere o extremo opos-to: uma área de exploração localizada a700 km da serraria. Nesse caso, o custode transporte ficaria em US$ 147/m3

(700 km x US$ 0,21/m3). Entretanto,nessa distância a área seria desabitadae, portanto, não haveria custos de com-pra de direito de extração. Assim, o cus-to final de exploração seria de US$ 183,ou 20% acima do cenário básico. Nessecaso, o lucro por metro cúbico de mog-no serrado seria US$ 31 menos que ocaso típico. Esses exemplos ajudam aexplicar por que as margens de lucropodem variar entre empresas e até namesma empresa, de um ano para outro,e também, por que o mogno pode serextraído a distâncias tão grandes.

Finalmente, a flutuação nos pre-ços de mercado do mogno contribuempara a variação dos lucros das empre-sas. Por exemplo, no período de cincoanos, de 1988 a 1992, o valor médio

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Veríssimo et al.

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ponderado de um metro cúbico de mog-no serrado, considerando-se quatroclasses de valor (“fas” = 50% da produ-ção; “select” = 20%; “better & common”= 20%; e “no 1 e 2 common and shorts”= 10%), variou entre US$ 530 a US$750. Assumindo que o custo total paraproduzir e comercializar um metro cú-bico de mogno serrado foi US$ 498 (Ta-bela 3), o lucro pode ter variado dez ve-zes, de US$ 32 (US$ 530 - US$ 498) aUS$ 252 (US$ 750 - US$ 498) nesseperíodo. Portanto, embora o lucro dasempresas de mogno seja elevado, a suamargem oscila significativamente.

Produção e danos provocadospela exploração de mogno

As árvores de mogno não se dis-tribuem uniformemente na floresta esua densidade também varia bastante.Por exemplo, nas três áreas de extra-ção que estudamos, houve uma diferen-ça de até sete vezes na densidade deárvores de mogno exploradas: de 0,3 a2,1 árvores/ha (Tabela 4).

Em média, uma árvore de mognofoi extraída por hectare. O volume médioextraído por hectare foi de 5 m3, variandoentre 1,3 m3/ha, na área 1, a 11,3 m3/ha,

Características gerais dos sítios de extração

Tamanho da área estudada (ha)

Área basal (m2/ha, árvores com DAP ≥ 10 cm)

Nº árvores extraídas/ha

Volume (m3) extraído/ha

Tamanho das árvores extraídas

Diâmetro médio, DAP em cm (desvio)

Volume (m3)/árvore (desvio)

Maior diâmetro das árvores extraídas (DAP em cm)

Menor diâmetro das árvores extraídas (DAP em cm)

Danos causados durante a extração

Árvores danificadas com DAP ≤ 10 cm (nº/ha)

Volume com DAP ≤ 10 cm danificado (m3/ha)

Índices de danos

Árvores danificadas/árvore extraída

m3 danificado/m3 extraído

m2 de abertura de estrada/árvore extraída

m2 de ramal de arraste/árvore extraída

m2 de abertura do dossel/árvore extraída

Área total afetada (m2)/árvore extraída

Área 1

166,5

17,4

0,3

1,3

72 (21,4)

4,7 (2,7)

111

4 4

12,8

6,3

4 3

4,8

873

777

435

2.085

Área 2

114,0

12,7

0,5

2,5

82 (24,8)

5,9 (4,2)

155

4 5

13,5

5,7

3 2

2,3

605

455

344

1.404

Área 3

74,0

10,3

2,1

11,4

72 (18)

5,7 (4,2)

142

3 6

30,6

17,6

1 5

1,5

270

246

324

840

Média

118

13,5

1,0

5,0

7 6

5,4

136

4 2

1 9

9,9

30,7

2,8

583

493

368

1.443

Tabela 4. Características da floresta e danos da exploração de mogno em trêsáreas de extração no sudeste do Pará.

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Exploração do Mogno

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Figura 4. Mapa das áreas de estudo 2 e 3 no sul do Pará, mostrando as estradas, ospátios e as árvores cortadas.

na área 3 (Tabela 4). O diâmetro mé-dio das árvores extraídas foi de 75 cm(DAP) (variando entre 36 cm a 155cm; n=245; =21,2) e o volume médiopor árvore extraída foi de 5,4 m3

(s=3,7). Essas médias e variações sãotípicas de outras áreas de ocorrênciade mogno na Amazônia Brasileira(Barros et al., 1992).

Os danos na vegetação foramcausados durante a derruba e arraste dasárvores de mogno e durante a aberturade estradas e pátios de estocagem (Fi-gura 4). Para cada árvore de mogno ex-traída, 58 metros lineares de estrada fo-ram abertos, equivalentes a uma áreamédia de 583 m2 de solo e galhos se-cos expostos. Adicionalmente, paracada árvore extraída, o skidder pene-trou 125 m dentro da floresta, afetan-do cerca de 493 m2 de sub-bosque. E,finalmente, 368 m2 do dossel da flores-ta foi aberto para cada árvore extraída.

Os índices de danos causadospela extração do mogno (Tabela 4) re-velam que 31 árvores foram severa-mente danificadas para cada árvore demogno extraída (média das áreas 1, 2e 3). A maioria dessas árvores danifi-cadas (68%) foi tombada; 29% sofreuquebra do tronco ou grande perda decopa; e o restante (3%) teve o troncodanificado. Se expressarmos esses da-nos em volume, em torno de 3 m3 demadeira foram severamente danificadospara cada metro cúbico de mogno ex-traído (Tabela 4). A área com menorintensidade de extração (área 1, com1,5 m3/ha extraído) sofreu a maior pro-porção de danos (4,8 m3 danificadospor metro cúbico extraído). Em con-traste, na área 3, onde 11,4 m3 foramextraídos por hectare, apenas 1,5 m3 foidanificado por metro cúbico extraído.

Dois aspectos devem ser conside-rados ao se interpretar esses índices de

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danos. Primeiro, essas estimativas nãoincluem os danos causados com a cons-trução das estradas de ligação que exis-tiam entre as áreas de extração e as es-tradas principais. Comumente, cerca dedezenas de quilômetros de estradas li-gam as manchas de floresta contendomogno. Não conseguimos est imaracuradamente esse componente de danoda extração. Mas julgamos que a suainclusão na análise aumentaria, prova-velmente de forma expressiva, o núme-ro de árvores e o volume danificado emrelação ao extraído. Segundo, emboraa informação do volume e quantidadede árvores danificadas forneçam impor-tantes indicadores, esses indicadoresdizem pouco sobre como a floresta nototal é afetada pela extração de mogno.Como as árvores de mogno são geral-mente distribuídas em grupos dispersospela floresta, apenas uma pequena fra-ção das florestas da região tem sido di-retamente afetada pela exploração. Poressa razão, acreditamos que os impac-tos diretos da extração de mogno na es-trutura e função do ecossistema da flo-resta são pequenos. Entretanto, os im-pactos específicos sobre a diversidadegenética e sobre a população de mognosão significativos.

Características da florestaexplorada

Estoque madeireiro restante apósa exploração do mogno

Depois da exploração, havia res-tado, em média, 53 árvores/ha com

DAP ≥ 30 cm na floresta (Tabela 5).Desse total, 13,4 indivíduos tinhambom formato e tinham valor madeirei-ro, incluindo, apenas, 0,25 árvore demogno por hectare. Enquanto isso, 4,5indivíduos tinham um bom formato,mas tinham apenas valor madeireiropotencial. As outras 35 árvores restan-tes eram de espécies sem uso madei-reiro por não terem um bom formatoou por serem de espécies de valor co-mercial inferior ou desconhecido. Seexpressarmos esses índices em volume,havia, em média, 31,3 m3/ha de madei-ra com DAP ≥ 30cm na categoria devalor madeireiro (apenas 0,13 m3 des-sa madeira era mogno), 13,1 m3/ha dacategoria de valor potencial e 51,3 m3/ha da categoria sem valor madeireiro(Tabela 5). Esses volumes são baixosse comparados com os volumes rema-nescentes após a exploração seletivade madeiras em outras áreas da Ama-zônia Oriental (Veríssimo et al., 1992- capítulo 2 deste livro).

Nas classes de diâmetros meno-res (DAP entre 10 cm e 29,9 cm), ha-via em média 34 árvores/ha (s=7,4)com valor madeireiro atual ou poten-cial. Nenhuma árvore de mogno foi en-contrada nessas parcelas (área totalamostrada de 3 ha). Havia, também,175 árvores/ha sem valor madeireiro(s=22,2). Em termos volumétricos, ha-via 8m3/ha (s=1,6) com DAP entre 10cm e 29,9 cm com valor atual ou po-tencial e 33 m3/ha da categoria semvalor madeireiro (Tabela 5).

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Exploração do M

ogno

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Tabela 5. Densidade e volume de árvores por classes de valor da madeira nas três áreas de extração estudadas no sudestedo Pará.

Número e volume de árvores com DAP ≥≥≥≥≥ 30 cm presentes após a exploração de mogno

Swietenia Outras espécies Espécies com Espécies Total

macrophylla de valor1 madeira potencialmente sem valor

utilizável2 madeireiro3

Nº/ha Vol/ha Nº/ha Vol/ha Nº/ha Vol/ha Nº/ha Vol/ha Nº/ha Vol/ha

Área 1 0 0 23,6 60,7 3,0 6,5 51,5 78 78,1 145,2

Área 2 0,5 0,5 5,7 10,9 7,2 25,4 31,1 41,2 44,5 78

Área 3 0,25 0,4 11 21,6 3,5 7,4 23 34,8 37,7 64

Média 0,25 0,3 13,4 31 4,5 13,1 35,2 51,3 53,4 95,8

1 Indivíduos de espécies que são serradas atualmente no leste da Amazônia e que tinham boa forma de tronco.

2 Indivíduos de espécies que poderiam ser processadas nas serrarias se existisse mercado.

3 Indivíduos que foram deformados, danificados ou que eram de espécies sem potencial para comércio da madeira.

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Veríssimo et al.

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Perspectivas para futurasextrações de mogno

A perspectiva para uma segun-da extração de mogno num futuro pró-ximo parece escassa nas áreas estuda-das. O volume médio de árvores demogno com DAP ≥ 30 cm nas três áre-as era de apenas 0,8 m3/ha (Tabela 5)ou 6% do volume médio presente an-tes da extração (Tabela 4). A aparenteausência de árvores de mogno comDAP entre 10 cm e 30 cm coloca emdúvida a possibilidade de futuras ex-trações.

Nós também não encontramosnenhuma plântula (DAP entre 1 cm e10 cm) nas 60 parcelas de 10 cm x 20cm plotadas nas áreas 1, 2, e 3. Sur-presos com essa falta de regeneração,decidimos procurar plântulas de mog-no nas clareiras em quatro áreas ondeo mogno havia sido extraído recente-mente (áreas 4, 5, 6 e 7; Figura 1). En-contramos regeneração de mogno emapenas 29% das clareiras (n=69; áreadas parcelas = 75 m2). O número mé-dio de mudas de mogno por clareirafoi de 0,46 (s=0,28) ou 0,006/m2

(Tabela 6). Além disso, a vegetaçãoera densa nessas clareiras e as mudasde mogno presentes tinham o mesmotamanho da regeneração presente.Portanto, temos dúvidas se essas mu-das de mogno conseguirão se tornarárvores adultas.

A fraca regeneração de mognonas classes de brotos e plântulas é decerta forma surpreendente, conside-rando-se que uma árvore adulta demogno produz milhares de sementesa cada ano (Lamb, 1966). A escassaregeneração de mogno nas aberturascausadas pela extração pode estar as-sociada, em parte, com a escassez deárvores maduras presentes após a ex-tração. Em um estudo sobre a rege-neração de mogno no México, Snook(1993) atribuiu a fraca regeneração demogno à ausência de árvores matri-zes e também à falta de clareiras gran-des que pudessem criar condiçõesadequadas de luz para a regeneraçãoda espécie. A pobre regeneração demogno também fo i observada naAmérica Central e em outros paísesda Amazônia (Lamb, 1966; Johnsone Chaffey, 1973).

Tabela 6. Presença de regeneração natural de mogno (Swietenia macrophylla)em 1991, em clareiras abertas durante explorações ocorridas entre os anos de1981 e 1987, no sudeste do Pará.

Área de Ano da Nº de clareiras Nº médio de plantas

estudo extração estudadas de mogno em parcelas

de 75 m2 (desvio)

4 1981 40 0,68 (0,009)

5 1988 15 0,46 (0,006)

6 1987 4 0,0 (0,0)

7 1987 10 0,7 (0,009)

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Exploração do Mogno

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Em resumo, baseado em nossaamostra, o mogno parece raro nas clas-ses pequena (mudas e brotos) e inter-mediária (10 cm - 50 cm de DAP) nasflorestas exploradas do sul do Pará.Portanto, é possível que muitos anos(talvez mais de cem) sejam necessári-os antes que um segundo corte demogno seja possível. A escassez demogno nas classes de tamanho médiosugere que a população de mogno nãoestá se reproduzindo. De fato, é pos-sível que as populações atualmenteexistentes tenham se estabelecido apósdistúrbios em larga escala, tais comofogo, centenas de anos atrás, e quedesde então não têm conseguido sereproduzir de forma eficaz.

Impactos sociais daexploração do mogno

A extração do mogno comocatalisador do desmatamentoregional

Quando se observam os mapasoficiais, a área de ocorrência do mog-no no sul do Pará aparenta ser umaimens idão de f lo res ta in tocada(Sudam, 1988) (Figura 1). Entretan-to, existe uma rede de cerca de 3.000km de estradas madeireiras distribuí-das ao longo da região.

Além de fornecer acesso aos es-toques de mogno, essas estradas per-mitem a entrada para colonos em bus-ca de terra. Por exemplo, de 1985 a1992, colonos avançaram constante-

mente ao norte de Tucumã, ao longoda maior estrada madeireira da região,a Morada do Sol (Figura 5). Pelo me-nos duas empresas madeireiras foramas responsáveis pela construção dessaestrada.

As terras ao longo dos primeiros70 km dessa estrada foram ocupadaspor migrantes, cada um tomando pos-se de 50 a 100 hectares. Sessentaporcento das famílias de colonos queentrevistamos (n=62) eram provenien-tes da Região Centro-Oeste, 34% vie-ram do Nordeste e nenhuma era nativada região amazônica. Esses colonospraticavam agricultura de corte e quei-ma e a maioria (85%) havia formadopastagem. Quarenta porcento da áreadesses colonos foram desmatados noperíodo de sete anos, de 1985 a 1992.

As terras ao longo dessa estrada,do km 70 até o início da Reserva Indí-gena Apyterewa, no km 120 (Figura 5),estavam sendo reivindicadas por duasexploradoras de mogno. Após o km120, a estrada atravessa a Reserva In-dígena Apyretewa e, então, penetra nasreservas Araweté e Trincheira Bacajá.Árvores de mogno foram extraídas des-sas terras de 1987 a 1992 por outrasduas empresas madeireiras, sendo queuma delas se apossou de cerca de70.000 hectares nas proximidades dokm 180.

Existem algumas indicações deque as empresas de mogno, que estãose apossando das terras localizadas até200 km de distância da serraria, este-jam inclinadas a converter as florestasexploradas em pastos para pecuáriabovina. Isso acontece porque as espé-

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Figura 5. Localização da estrada “Morada do Sol” e dos lotes doscolonos ao longo dessa estrada no sul do Pará.

cies madeireiras remanescentes na flo-resta têm um valor relativamente bai-xo quando comparadas ao mogno. Atu-almente, não é economicamente viávelextrair essas espécies de menor valorlocalizadas muito além de 100 km doscentros madeireiros. Além disso, a con-versão de floresta em pasto continua aser um meio efetivo de justificar a pos-se de terras devolutas nessa região. E,

finalmente, a pecuária pode se tornarum uso da terra mais lucrativo, princi-palmente com a introdução de forra-gens adaptadas e melhoria do manejodo rebanho (Mattos e Uhl, 1994).

O destino da floresta além dos200 km (200 km a 600 km) a noroesteaté sudoeste de Tucumã não é tão cla-ro. Em alguns casos, fazendeiros e ma-deireiros têm procurado se apossar des-

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Exploração do Mogno

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sas terras. Em outros casos, as empre-sas madeireiras têm apenas exploradoa área e a abandonado, em seguida. Emresumo, existem indicações de que,num raio de até 200 km da cidade ma-deireira de Tucumã, a atração do mog-no é o primeiro passo de um processode colonização que envolve agricultu-ra de corte e queima e pecuária.

Impacto da extração domogno nas reservas índígenas

Há cerca de l20 grupos indígenas,falando 45 diferentes línguas, ocupan-do uma área estimada em 472.100 km2,dividida em 160 reservas distribuídasao sul da Bacia Amazônica (Heringer,1993). De fato, cerca de um terço daárea de abrangência do mogno na Ama-zônia Brasileira coincide com áreas in-dígenas. Apenas no Estado do Pará,existem 15 reservas indígenas, ocupan-do 162.430 km2 (Figura 1).

O primeiro caso reportado de ex-tração comercial de mogno em terrasindígenas data de 1975, mas foi ape-nas na década de 80 que a extraçãoaumentou significativamente (Cedi,1993). Com a ajuda da Funai, os índi-os Kayapós foram os primeiros a ven-der o direito de extração. A Funai atuoucomo intermediária nas negociações devenda do mogno até 1988, quando aJustiça Federal anulou todos os contra-tos de venda de mogno em terras indí-genas (Cedi, 1993). Segundo o Cedi,dos 257 casos documentados de extra-ção de mogno em terras indígenas na

Amazônia Brasileira, entre 1975 e1992, 26 foram mediados pela Funai e99 foram resultado de negociações di-retas entre índios e madeireiros. Nos132 casos restantes, o mogno foi apa-rentemente extraído sem o consenti-mento dos índios.

Quarenta e cinco por cento dosextratores de mogno que entrevistamosno sul do Pará (n=24) estavam extra-indo mogno de terras indígenas. No fi-nal de 1992, a extração de mogno jáhavia ocorrido em todas as 15 reservasdo sul do Pará (Cedi, 1993; Heringer,1993). O volume total de mogno ex-traído dessas reservas até 1992 foi de,no mínimo, 574.000 m3 (Heringer,1993).

Perspectiva para a produçãosustentável de mogno

Mostramos que o mogno era ex-tremamente escasso nas classes de di-âmetro pequena e média. Isso signi-fica que as perspectivas de futura pro-dução de mogno são pequenas nes-sas áreas, a não ser que se adotemmedidas para estimular a regeneraçãoda espécie. Há três abordagens quepodem ser consideradas para aumen-tar a produção de mogno: 1) aumen-tar a regeneração natural do mogno;2) plantar mogno na floresta explo-rada; e 3) plantar mogno em áreas jádesmatadas.

Existem medidas que podem au-mentar a regeneração natural do mog-no na floresta explorada. Por exemplo,árvores matrizes poderiam ser deixa-

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Veríssimo et al.

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das nas proximidades de grandes cla-reiras e pátios. Adicionalnente, a der-ruba das árvores deveria ser concen-trada no final da estação seca (de se-tembro a novembro) , após afrutificação. Isso permitiria que as se-mentes ficassem disponíveis para co-lonizar as clareiras abertas durante aexploração. No entanto, talvez a me-lhor maneira seria abrir clareiras nasflorestas de mogno alguns anos antesda exploração do mogno. Isso pode-ria ser feito através da extração dasoutras espécies e/ou através da mortede algumas árvores sem valor madei-reiro (feita com a retirada de uma fai-xa das cascas das árvores). Essas me-didas criariam aberturas expressivasna floresta, facilitando a colonizaçãodesses “sítios” pelo mogno. Essas cla-reiras e os vários anos de “chuva desementes” poderiam garantir o estabe-lecimento das plântulas de mogno.

Ainda que essas medidas tenhamêxito, o ciclo de corte seria longo de-vido à ausência de árvores de mognoentre 10 cm e 50 cm de diâmetro. Seassumirmos um incremento de diâme-tro de 0,8 cm/ano (Gullison e Hubbell,1992) levaria pelo menos de 80 a 100anos para que uma segunda explora-ção de mogno fosse possível. Ou seja,a produção de mogno nas florestas na-tivas possivelmente será de baixa pro-dutividade.

Uma maneira mais direta de au-mentar a regeneração é plantar mudasde mogno na floresta (o enriquecimen-to florestal). Quatro grandes empresas

madeireiras no sul do Pará introduzi-ram mudas de mogno em suas áreas deflorestas exploradas. Isso era feitoabrindo linhas de dois a três metros delargura e plantando as mudas a cadadez metros ao longo dessas linhas. Aárea total plantada pelas quatro empre-sas madeireiras até 1992 era de 4.000ha. A efetividade dessa técnica, entre-tanto, ainda não foi comprovada, poiso crescimento tem sido lento nessasplantações em linha (crescimento emaltura inferior a 50 cm/ano), talvez de-vido à pouca luminosidade para asplantas (J. Zweed, com. pes., 1993).Uma terceira opção para encorajar aprodução de mogno é plantar mudasdessa espécie em áreas desmatadas,como por exemplo, em pastagens aban-donadas. Em 1992, uma das empresasmadeireiras que haviam tido resultadosdesapontadores com os plantios de en-riquecimento iniciou o plantio de mog-no junto com milho em áreas abertas,com um espaçamento de 7,5 m x 7,5 mentre as árvores. Após um ano, as mu-das já atingiam uma altura em torno detrês metros. Além disso, o proprietárioreportou que a renda obtida com o mi-lho cobria os custos com o plantio domogno (A. Malinski, com. pes.). A úni-ca ressalva a fazer é que, geralmente,os plantios de mogno sofrem ataque deHypsylta grandela. Esse inseto mata obotão terminal, fazendo com que a ár-vore de mogno perca forma. Portanto,apesar de os resultados iniciais seremencorajadores, é necessário mais tem-po para se avaliar esses plantios.

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Exploração do Mogno

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CONCLUSÃO

O mogno é, de longe, a mais vali-osa espécie madeireira da Amazônia.Conseqüentemente, os lucros das em-presas madeireiras são freqüentementeelevados. Ao mesmo tempo, grande par-te da demanda de mogno vem dos Esta-dos Unidos e Inglaterra (Figura 6).

Há uma forte tendência de que asárvores de mogno remanescentes nasflorestas do sul do Pará sejam removi-das nas próximas décadas. Os impactosdiretos dessa extração no ecossistemaflorestal serão pequenos - similares aosdistúrbios naturais. Entretanto, os im-pactos específicos na população e diver-sidade genética do mogno podem sersignificativos. Além disso, os impactosindiretos da exploração do mogno sãodignos de nota. A abertura de estradasmadeireiras tem favorecido a ocupaçãodesordenada dessa região. Áreas de flo-resta explorada estão sendo convertidasem pastagem sem que antes se faça umestudo para definir qual é a melhor op-ção econômica para a região. Os povosindígenas também vêm sendo afetadospor terem suas terras invadidas ou pelavenda da madeira. Esses fatores podemcontribuir para a desintegração culturaldesses povos (Figura 6, centro). Em to-das essas situações se observa a falta deação ordenada e consistente do gover-no brasileiro. Se o governo não agir deforma adequada, é bem provável que asterras públicas dessa área sejam apro-priadas por grandes proprietários e ma-deireiros nas próximas décadas.

Na ausência de ações governa-mentais consistentes, organizações não

governamentais, nacionais e internaci-onais, têm trabalhado conjuntamentepara promover práticas sustentáveis demanejo florestal na região. O GreenPeace do Brasil, utilizando informaçõesde pesquisas e com a ajuda do Núcleode Direitos Indígenas (NDI), uma orga-nização de apoio jurídico às causas in-dígenas, vem reivindicando práticas sus-tentáveis de exploração de mogno e asaída dos madeireiros das terras indíge-nas (Figura 6). A organização america-na “Natural Resources DefenseCouncil” (NRDC) vem liderando umacampanha internacional para listarSwietenia macrophylla no Apêndice IIdo Cites, uma mudança que poderia me-lhorar o monitoramento do comércio in-ternacional do mogno. E, finalmente, háum interesse crescente em se criar “mer-cados verdes”, também promovidos pororganizações não governamentais, paragarantir aos consumidores que a madei-ra que eles compram provém de flores-tas manejadas. Até o presente momen-to, o governo brasileiro está sendo le-tárgico, comparado com as iniciativasdessas organizações. Espera-se que oIbama, eventualmente, venha a assumirsua função de controlar a exploração demogno ao longo de seu arco de ocor-rência (Figura 6).

Medidas podem ser tomadas, en-tretanto, para garantir um futuro diferen-te para essa região. Organizaçõesambientalistas e consumidores dos paí-ses industrializados podem trabalharjunto com organizações brasileiras parase estabelecer um sistema efetivo de

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Veríssim

o et al.

104 Figura 6. Resumo das causas e conseqüências da exploração de mogno e a resposta da sociedade civil a essa atividade.Esquerda: demanda externa cria mercado para o mogno. Centro: lucros das empresas são expressivos, mas afetam acultura indígena e catalisam o desmatamento na região.Direita: na ausência do governo, organizações nacionais e internacionais atuam para promover manejo sustentável daexploração de mogno.

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Exploração do Mogno

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“mercado verde” que favoreça empre-sas madeireiras que estejam investindode maneira efetiva em manejo florestal.Ao mesmo tempo, o governo brasileiropoderia estabelecer uma presença regu-ladora e monitoradora na região. As flo-restas com potencial para manejo flores-tal poderiam ser designadas como áreascom aptidão madeireira. Empresas ma-

deireiras poderiam explorar essas terrasdesde que procedam de acordo com alegislação florestal. Os grupos indíge-nas também devem ter um papel impor-tante no desenvolvimento de estratégi-as sustentáveis do uso da terra nessaregião, já que eles têm um grande co-nhecimento da Mata e interesse nato naconservação de suas terras.

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Veríssimo et al.

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AGRADECIMENTOS

Gostar íamos de agradecer aNazaré Maciel, pela assistência na aná-lise dos dados; a Flávio Figueiredo, porproduzir os gráficos; a Jurandir Galvão,pela ajuda nos trabalhos de campo; aCampbell Plowden, Francis Putz,Virgílio Viana, Bruce Rodan, PhillipFearnside, Matthew Dickinson, TedGullinson, Michael Collins e Anthony

Anderson, pela revisão e sugestões nomanuscrito. Agradecemos também aosdiversos entrevistados nas serrarias eequipes de extração no sul do Pará,pela hospitalidade e colaboração du-rante os trabalho de campo. Esta pes-quisa foi possível graças à ajuda finan-ceira da Fundação W. Alton Jones.

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Exploração do Mogno

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Capítulo4

Padrões, Problemas e Potencial daExtração Madeireira ao Longo doRio Amazonas e do seu Estuário

Ana Cristina Barros*Christopher Uhl

* Filiação atual: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

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Exploração Madeireira no Estuário

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RESUMO

Durante os últimos séculos, amaior parte da exploração madeireirada Amazônia ocorreu no estuário e aolongo do rio Amazonas. Próximo àsmargens dos rios, a floresta mostrava-se abundante, os custos da exploraçãoe transporte da madeira eram baixos ehavia bom acesso ao mercado. Nestetrabalho, caracterizamos a estrutura dosetor madeireiro dessa região, conside-rando o número, tipos e distribuição es-pacial das serrarias. Em seguida, ana-lisamos as diferentes formas de explo-ração, transporte, processamento e co-mercialização da madeira no que dizrespeito a investimentos e lucrativida-de para as indústrias. Finalmente, des-crevemos o potencial de expansão daindústria madeireira e oferecemos umensaio para o desenvolvimento do se-tor florestal na Amazônia.

Os dados aqui fornecidos foramcoletados a partir de visitas aos muni-cípios do estuário e do baixo rio Ama-zonas durante o período de 1990 a1991. Nessas viagens, entrevistamosformalmente (utilizando questionários)aproximadamente 250 pessoas envol-vidas na exploração madeireira: extra-tores, transportadores de toras, donosde serrarias e atravessadores comerci-ais. Além disso, entrevistamos infor-malmente pessoas da região como an-tigos moradores, comerciantes e líde-res locais.

Registramos 1.295 indústrias ma-deireiras em funcionamento. Dessas,1.191 eram pequenas serrarias (com

serras circulares), com produção médiade 650 m3 de madeira serrada por ano;98 eram serrarias de porte médio (comserras de fita), cuja produção média erade 3.500 m3; e 6 eram grandes fábricasde laminados e compensados, que pro-duziam em média 33.850 m3 por ano.Juntas, essas indústrias geraram pelomenos 28.500 empregos e produziram1,3 milhão de m3 de madeira, ou 31%da produção de todo o Estado do Pará.

Várias estratégias de exploração,transporte, processamento e comercia-lização eram empregadas na região.Cada estratégia possuía suas peculiari-dades, como tamanho do investimentoinicial, custos de produção e lucrativi-dade. A combinação de exploraçãomadeireira na várzea, transporte dastoras em jangadas e processamento empequenas serrarias familiares foi a for-ma mais barata de exploração flores-tal. No entanto, o produto dessas in-dústrias vendido no mercado local apre-sentava baixa qualidade, gerando pou-co lucro. Apesar de a renda anual des-sas pequenas serrarias ser de apenasUS$ 2.800/ano/serraria, esse rendimen-to é alto se analisarmos a taxa internade remuneração do capital investido eas outras opções de trabalho na várzea.Por essa razão, aproximadamente milpequenas serrarias desse tipo, familia-res e com serras circulares, foram ins-taladas no estuário na última década.

Maiores investidores instalaramserrarias com serras de fita (serrarias deporte médio). A renda anual dessas in-

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dústrias variava de US$ 30.000 a US$200.000, em função do tipo de flo-resta (as madeiras da região de terrafirme têm valor mais alto que as ma-deiras da região de várzea), da formade transporte utilizada (por exemplo,o custo de transporte/m3 em balsas éequivalente a um terço do transportecom caminhões) e das estratégias demercado (o preço da madeira no mer-cado externo é maior que no merca-do interno). De todas as formas defuncionamento de serrarias, a opçãoque gerava maior retorno econômicoera a exploração de madeiras de terrafirme, com transporte realizado atra-vés de balsas e comércio internacio-nal. Porém, essa opção também re-queria maior quantidade de capitalinvestido. As laminadoras eram con-sideradas as maiores representantesde grandes investimentos na indústria

madeireira, em compensação, seu re-torno chegava a 1 milhão de dólarespor ano.

O potencial de expansão desse tipode indústria madeireira em direção àAmazônia Ocidental é grande, especi-almente por causa da abundância demadeira e das vantagens do transportefluvial. Este é o momento de desenvol-ver o setor madeireiro de forma susten-tável, sem permitir a expansão da fron-teira de exploração, que deixa a flores-ta sem valor e a população local semopções para subsistência. Os fatores ne-cessários para a organização do setormadeireiro são: 1) conhecimento dastécnicas de manejo; 2) domínio da flo-resta pela população local; e 3) desen-volvimento de um sistema eficiente demonitoramento a ser empregado pelosórgãos controladores da exploração dosrecursos naturais.

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Exploração Madeireira no Estuário

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INTRODUÇÃO

A exploração comercial das ma-deiras da Amazônia existe há mais detrezentos anos. Desde o século XVI,madeiras nobres eram retiradas das flo-restas próximas às margens dos rios eexportadas, em toras, para as metrópo-les européias. Até o século XIX, a ma-deira possuía pouca importância nocomércio amazônico, sendo apenas umdos últimos contribuintes para a rendadas exportações. Os produtos mais im-portantes eram cacau, castanha, borra-cha, sementes e raízes (Santos, 1980;Silva, 1987; Gentil, 1988).

No final do século XIX e iníciodo século XX, a borracha torna-se aforça da economia amazônica, enquan-to a madeira continua sendo exploradaem toras como produto secundário.Durante a primeira metade do séculoXX, também exportaram-se dormentespara estradas de ferro da Europa (Ale-manha e Espanha) e do sul do Brasil.Quando a exploração de dormentesteve fim, na década de 50, além daexportação de toras de madeira nobre,passou-se a comercializar madeira ser-rada. Nesse momento, o setor industri-al madeireiro começou a intensificar-se na Amazônia (Silva, 1987).

O Estado do Pará (Figura 1), es-pecialmente a região das ilhas do estu-ário, foi o grande produtor de madei-ras da Amazônia (FAO, 1976; Silva,1987). No final dos anos 50, instala-ram-se no estuário grandes serrarias,movidas à energia hidráulica ou a va-por, bem como fábricas de laminados

e compensados. Essas empresas eramfruto de investimentos de estrangeirose exploravam seletivamente duas espé-cies das florestas de várzea para o co-mércio internacional, a virola (Virolasurinamensis) e a andiroba (Carapaguianensis).

Até o início dos anos 70, a ex-ploração das florestas de várzea do es-tuário e das várzeas próximas deManaus correspondeu entre 75% a 80%da madeira produzida na Amazônia(FAO, 1976; Palmer, 1977; Browder,1989; Plowden e Kusuda, 1989). Apartir de 1970, com a abertura de es-tradas oficiais, começou a exploraçãode madeira na região de terra firme. NoPará, as rodovias Belém-Brasília (PA-010) , Belém-Marabá (PA-150) eSantarém-Cuiabá (PA-163) asfaltadasforam um convite à instalação de indús-trias madeireiras.

Pesquisas recentes do Imazondescreveram três padrões distintos deexploração madeireira nas florestasde terra firme. O primeiro padrão é oque ocorre nas fronteiras antigas,onde ex is te boa in f ra -es t ru tu raestabelecida e verticalização das in-dústrias (Veríssimo et al., 1993). Es-sas indústrias têm suas próprias equi-pes de exploração e utilizam mais decem espécies, como ocorre ao longoda rodovia Belém-Brasília, na regiãode Paragominas. O segundo padrãoocorre em fronteiras recentes, deinfra-estrutura precária e exploraçãomenos intensiva (15 espécies), como

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ocorre na região de Tailândia, ao lon-go da rodovia PA-150 (Uhl et al.,1991). O terceiro padrão é o das fron-teiras incipientes, onde os madeireirosse encarregam de estabelecer a infra-estrutura, abrindo até 500 km de es-tradas por conta própria em busca demogno, no sul do Pará (Veríssimo etal., 1995) (Figura1).

Neste trabalho, examinamos aexploração madeireira ao longo do rioAmazonas, longe da influência dasestradas e dos planos recentes de co-lonização promovidos pelo governo.Não há um único padrão de funcio-namento das indústrias que caracte-rize essa região. Pequenas, médias egrandes indústrias operam com ma-deiras da várzea ou de terra firme.Contudo, o transporte fluvial é a ca-racterística que define a exploraçãomadeireira ao longo do rio Amazonas,uma vez que todas as operações de-

pendem dos rios para o transporte detoras ou da madeira serrada.

Nosso objetivo é analisar a ex-ploração madeireira na floresta, seutransporte para as serrarias e seu pro-cessamento nos diferentes tipos de in-dústrias. Criamos uma tipologia paracada padrão de funcionamento encon-trado no campo e descrevemos a lógi-ca que existe por trás das opções decada ator do setor madeireiro. Alémdisso, determinamos o significado eco-nômico e social da indústria nessa re-gião, estimando o número de empre-gos gerados e o valor da produção. Porfim, com base no histórico e nas con-dições presentes da região e da indús-tria madeireira na Amazônia, mostra-mos como a exploração pode expan-dir-se rio acima e discutimos como épossível ordenar a indústria madeirei-ra adotando práticas sustentáveis demanejo da floresta.

Figura 1. Distribuição dos padrões da atividade madeireirano Estado do Pará, seguindo a intensidade da exploração,e a região desta pesquisa.

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Exploração Madeireira no Estuário

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METODOLOGIA

As informações apresentadasneste trabalho foram coletadas atra-vés de entrevistas pessoais feitas em1990 e 1991 no estuário e no baixorio Amazonas. O estuário compreen-de as ilhas do arquipélago do Marajóe o baixo r io Tocant ins. O baixoAmazonas foi aqui considerado comoa porção do rio Amazonas que se en-contra no Estado do Pará. Partindo deBelém, atravessando o estuário e per-correndo o baixo Amazonas, tem-se,aproximadamente, 1.200 km de ex-tensão e 29 municípios, os quais vi-sitamos por três a quatro dias cada.Nas cidades de maior importância, ouseja, Breves, Cametá e Santarém, tor-nou-se necessário passar de seis a dezdias, pelo fato de nesses locais haverconcentração de informações sobre aregião e grande número de serrarias.Percorreu-se também o interior domunicípio de Breves, numa viagemde 15 dias de barco, necessários pelogrande número de serrarias e pela den-sidade de rios e furos (Figura 1).

Durante as visitas às cidades,realizamos aproximadamente 250 en-trevistas com pessoas possuidoras deampla visão sobre o local, tal comolíderes políticos, extensionistas ruraise comerciantes. Eles falavam sobrelocalização, idade e tipo de serra dasindústrias madeireiras do lugar, alémdas perspectivas regionais do uso dosrecursos naturais. Para assegurarmosa qualidade das informações obtidassobre a localização de uma serraria e

sua história, as mesmas informaçõeseram solicitadas para, no mínimo,mais de uma pessoa.

A localização de cada indústriafoi plotada em mapas municipais ela-borados pelo IBGE (atualizados em1988). Classificamos as indústrias emtrês tipos diferentes a partir do equi-pamento usado: 1) serrarias que uti-lizam serras do tipo circular (peque-nas serrarias); 2) serrarias que utili-zam serras de fita (geralmente médi-as); e 3) indústrias laminadoras (gran-des indústrias).

Em nossas entrevistas gerais,perguntávamos por indicações de no-mes de pessoas experientes na explo-ração madeireira em cada categoria:extração, transporte, processamentoindustrial e comércio. Preparamos,então, um segundo tipo de entrevis-ta, feito através de questionários paraextratores autônomos (10 entrevis-tas), transportadores de madeira (34entrevistas), donos de serrarias (154entrevistas) e donos de estâncias - co-merciantes de madeira serrada - (34entrevistas).

No caso dos extratores, o ques-tionário continha perguntas a respei-to do número de pessoas envolvidasna exploração, equipamento utiliza-do, produção, posse da terra e custosdo trabalho. As entrevistas com ostransportadores tratavam dos custosde operação das jangadas, balsas ecaminhões utilizados para transportarmadeira. Complementamos as infor-

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mações sobre os custos do transportefluvial através de visitas e entrevis-tas em estaleiros e oficinas mecâni-cas. Finalmente, os questionários dasserrarias tratavam da sua instalação(ano, origem do capital, atividades an-teriores e atuais do proprietário), do nú-mero de funcionários, sazonalidade dofuncionamento, produção de madeira

serrada, matéria-prima utilizada (quan-tidade de toras, ator da exploração, lo-cal de exploração, forma de transportede toras, espécies utilizadas e preços)e comercialização (rota de comércio epreço da madeira). Todos os dados eco-nômicos foram expressos no valor dodólar em 1991.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

de acordo com as marés oceânicas. Noslocais livres da influência do mar, maisou menos 800 km rio acima a partir doestuário, ocorre a enchente na várzeana estação das chuvas.

Nas várzeas amazônicas, a explo-ração madeireira é essencialmente ma-nual desde os tempos coloniais. Mes-mo na década de 90, na maioria doscasos (81%), a derrubada e a divisãodas árvores ainda eram feitas com ma-chado. Somente em 19% dos casos es-tudados foram encontradas toras divi-didas com motosserras, no entanto asárvores haviam sido derrubadas antescom machado (n=63 entrevistas). Apósa derrubada, os extratores empurravamas toras com a própria força física (90%dos casos; n=63 entrevistas). Em ge-ral, as equipes de exploração utiliza-vam as enchentes para retirar, flutuan-do, as toras de madeira do interior dafloresta. Entretanto, quando o nível deágua não era suficiente para fazer astoras boiarem, construíam-se estivasque funcionavam como trilhos de trempor onde as toras eram empurradas poraté 2 km (Figura 2). Em apenas 10%dos casos observamos o uso de técni-cas recentes para puxar as toras, talcomo guinchos (2%) e búfalos (8%).

As equipes de exploração da vár-zea eram tipicamente compostas portrês homens, que em um dia de traba-lho derrubavam e retiravam da floresta4,85 m3 de toras (Tabela 1). Dentre 81entrevistas realizadas em serrarias, emapenas 7 casos a exploração era feita

Havia vários estilos de explora-ção, transporte e processamento de ma-deira evidentes no estuário e no baixoAmazonas. Por exemplo, a madeirapode ser explorada de florestas de vár-zea ou de terra firme, e a forma de ex-ploração é diferente para cada caso. Otransporte das toras pode ser feito emjangadas (quando as madeiras flutuam),em balsas ou em caminhões. O proces-samento acontece nas pequenas serra-rias familiares, que utilizam serras cir-culares, nas que utilizam serras de fitae nas grandes fábricas de laminados ecompensados (Figura 2). Iniciamos adescrição dos resultados dessa pesqui-sa analisando as práticas de exploraçãona floresta. Em seguida, analisamos otransporte e o processamento em cadatipo de indústria.

A Exploração Madeireira nasFlorestas de Várzea e deTerra Firme

Exploração madeireira emflorestas de várzea

As florestas de várzea são a ve-getação típica do estuário amazônico,cobrindo as ilhas e as margens dos rios.Várzeas são matas que sofrem alaga-mentos periódicos, diários ou sazonais.No estuário, a floresta é alagada duasvezes por dia, pois o nível do rio varia

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por indústrias (6 pequenas serrariase 1 serraria de porte médio). No res-tante, os extratores faziam trabalhoautônomo (37%) ou trabalhavam su-bordinados aos donos da terra ou do-nos do capital, que financiavam a ex-ploração e intermediavam as vendasda madeira em tora. As serrarias quecompravam as toras financiavam aexploração pagando antecipadamen-te ao intermediário do comércio detora, e este, por sua vez, repassava ofinanciamento aos extratores na for-

ma de gêneros de primeira necessida-de (83% das serrarias desse estudo fi-nanciava a exploração; n=63).

O principal custo da exploraçãona várzea era o pagamento pelas ár-vores a serem ex t ra ídas , quecorrespondia a 57% do custo total. Orestante (43%) era gasto com saláriose alimentação. Contabilizando essesdois custos - mão-de-obra e compra deárvores - cada metro cúbico explora-do na várzea custava, aproximada-mente, US$ 6,70 (Tabela 1).

Figura 2. Tipos de extração, formas de transporte de toras eindústrias que processam madeira das florestas de várzea ede terra firme, do estuário e do baixo Amazonas.

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Exploração Madeireira no Estuário

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Tabela 1. Comparação de produtividade e custos das equipes de exploraçãomadeireira em florestas de várzea e de terra firme que abastecem serrarias deporte médio do estuário e do baixo Amazonas.

1 A produção de uma equipe de exploração é o volume de madeira em tora retirado do interior da floresta earmazenado na beira de um rio ou estrada. Na várzea, as equipes eram compostas, em média, por 3,3homens (n=19; s=2,4), com produção de 4,85 m3 de tora /dia (n=l9; s=4,1), ou 873 m3/ano (180 dias x 4,85m3/dia). Em terra firme, as equipes de extratores eram compostas, em média, por 4,7 homens (n=6; s=l,4),considerando motosserristas, auxiliares e motoristas de caminhão, que produziam 12,84 m3 de madeira emtora/dia. O l imite da produção era imposto pela capacidade de carga do caminhão e pelo número deviagens realizado: três viagens/dia (n=5; s=1,1 com carga de 4,28m3). Em 180 dias de trabalho, a produçãoanual da equipe foi de 2.311 m3 (12,84 m3 x 180 dias).

2 Na região, o salário pago era de US$ 3,93/homem/dia (n=28; s=1,2) mais a alimentação individual de US$1,69/homem/dia (n=5). Assim, em 180 dias de trabalho, o custo com a mão-de-obra de uma equipe daregião de várzea era de US$ 3.338 (3,3 homens x 180 dias) (US$ 3,93 + US$ 1,69/dia) e, de terra firme,US$ 4.755 (4,7 homens x 180 dias) (US$ 3,93 + US$ 1,69/dia).

3 Em toda a região, as árvores a serem exploradas para as serrarias de porte médio custavam US$ 2,9/m3 e US$5,85/m3 para as madeiras da várzea e de terra firme, respectivamente. Esses valores representavam pratica-mente um terço do valor pago pelas toras na porta da serraria (i.e., US$ 9/m3 para várzea e US$ 18/m3 paraterra firme). Nota: as madeiras destinadas às pequenas serrarias da região de várzea eram vendidas por US$1,95 a US$ 4,40/m3 no porto das serrarias, e o custo da árvore em pé era usualmente menor que um dólar.

4 Na várzea, utilizava-se um machado na exploração, que custava US$ 10, com depreciação anual de US$1,60 (vida útil de 5 anos e 20% de valor residual) [(US$ 10 - US$ 2) / 5 anos ]. O custo do capital investido,calculado à taxa de 6%, valeu US$ 0,3 (investimento inicial 2 x 0,06). O custo total anual do machado foide US$ 1,90. Em terra firme, a derrubada era feita com motosserras que custavam US$ 1.119 ao ano,considerando a depreciação, custo do capital, manutenção e combustível. A depreciação foi calculadaconsiderando vida útil de 3 anos e 20% de valor residual sobre US$ 700, ou seja, a depreciação foi de US$187 [(US$ 700 - US$ 140) /3 anos]. O custo do capital investido foi calculado à taxa de 6% e valeu US$21 (US$ 700/ 2 x 0,06). A manutenção da motosserra custou anualmente US$ 295, onde foram trocadosdois sabres (2 x US$ 100), três correntes (3 x US$ 30,20) e um pinhão (US$ 4,20). O consumo decombustível era de 6 litros de mistura de gasolina com óleo “dois tempos” por dia, que custavam US$ 3,42(6 x US$ 0,57). Durante os 180 dias de trabalho o gasto passou a ser de US$ 616 (US$ 3,42 x 180 dias).

5 Para a várzea, os custos estão incluídos no item mão-de-obra, pois a extração era manual. Na região de terrafirme, o arraste era feito com caminhão, cujo valor inicial era de US$ 33.000 e a depreciação US$ 5.280,considerando tempo útil de 5 anos e 20% de valor residual. O custo do capital investido na compra docaminhão foi US$ 990 por ano, calculado na taxa de 6% (US$ 65.000/2 x 0,06); para manutenção anualgastava-se mais US$ 5.000 (Veríssimo et al., 1993). Para o cálculo de combustível gasto, consideramos adistância de 10 km (n=9; s=6) entre o local de extração e a beira de um rio ou estrada (20 km de ida evolta), um caminhão de 4,28 m³ de capacidade de carga (n=7; s=1,2) e o consumo de 0,86 l de óleo diesel(n=7; s=0,49) e 0,014 l de óleo lubrif icante por quilômetro rodado (n=5; s=0,005). Logo, o custo docombustível para o arraste das toras foi de US$ 2.136 com óleo diesel (2.311 m3 /4,28 m3 x 20 km x 0,86l/km x US$ 0,23/l ) e US$ 283 com lubrificante (2.311 m3 /4,28 m3 x 20 km x 0,014 l/km x US$ 1,87/l).No total, o custo do caminhão ficou em US$ 13.689 (US$ 5.280 + US$ 990 + US$ 5.000 + US$ 2.419).

Várzea Terra firmeProdução

Volume de toras explorado (m3/ano) 1 873 2.311Produção/pessoa (m3/ano) 265 492

Custos (US$)Mão-de-obra 2 3.338 4.755Compra de árvores 3 2.532 13.519Equipamento para derrubada 4 1,90 1.119Equipamento para o arraste 5 0.0 13.689

Custo total da exploração 5.872 33.082Custo/m3 explorado 6,73 14,32Preço/m3 para as serrarias 9,00 18,00

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Exploração de madeira emfloresta de terra firme

As florestas de terra firme são maisricas em espécies do que as de várzea.Além disso, nas florestas de terra firmehá predominância das chamadas madei-ras duras, que são mais valorizadas nomercado. Essas madeiras eram explora-das, retiradas do interior da floresta e le-vadas até a beira de um rio ou de umaestrada, a uma distância média de 10 km,por equipes de cinco homens com mo-tosserras e caminhões (Figura 2).

Tanto na várzea quanto em terrafirme a exploração era feita na proprie-dade de terceiros (60% dos casos) e asequipes eram empregadas pelas serrari-as em apenas 22% dos casos (n=60). Amaioria dos extratores trabalhava porconta própria ou sob o controle de pa-trões, donos da terra e receptores dosfinanciamentos das serrarias. Setentapor cento das serrarias financiavam suaexploração com equipamentos, cami-nhões, motosserras ou com dinheiro.

A mecanização da exploração emterra firme torna o trabalho mais pro-dutivo do que na várzea (492 m3 extra-ídos/pessoa/ano vs. 265 m3 explorados/pessoa/ano na região de várzea)

. Por

outro lado, o uso dos caminhões tornaa exploração mais cara. As árvores aserem exploradas em terra firme tam-bém custavam mais (US$ 5,85/m3 vs.US$ 2,9/m3 na várzea). Por causa des-se maior preço das árvores e do uso doscaminhões, o custo final da exploraçãoem terra firme ficou em US$ 16,95/m3,ou seja, mais do que duas vezes o cus-to na várzea (US$ 6,70) (Tabela 1).

O Transporte da Madeiraem Tora da Mata até aSerraria

Depois da extração, as toras demadeira da região de várzea eram le-vadas para as serrarias. Na região devárzea, o meio de transporte utiliza-do eram as jangadas, enquanto na re-gião de terra firme utilizavam-se bal-sas (via fluvial) ou caminhões (rodo-vias) (Figura 2).

Transporte das madeiras davárzea

As jangadas, construídas comtoras preparadas pelos extratores daregião de várzea, podiam ser forma-das por apenas pequenos grupos deseis a dez toras amarradas ao lado deuma canoa a remo e conduzidas atépequenas serrarias nas redondezas.Entretanto, as jangadas podiam sergrandes, com 960 m3 de madeira, emmédia (o que equivale a 1.000 toras),guiadas por um barco de madeira deapenas 10 a 20 toneladas, capaz depercorrer centenas de quilômetros atéuma serraria. Esses pequenos barcospodiam rebocar jangadas de tal tama-nho pois, quando carregados, só na-vegavam a favor da maré. No estuá-rio, a cada seis horas, a maré mudade direção, assim as jangadas parame esperam a maré conveniente. No rioAmazonas, a exploração aconteciasempre a montante da serraria, por-tanto, a jangada precisava apenas des-cer o rio junto com a correnteza.

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Exploração Madeireira no Estuário

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As jangadas representaram o meiode transporte de madeira mais barato detoda a região amazônica. Com esse tipode transporte foram gastos apenas US$11.034, ou US$ 1,08/m3 (Tabela 2), emvirtude do grande volume transportadoe dos baixos custos de navegação dobarco rebocador para transportar toda amatéria-prima de uma indústria de portemédio (10.200 m3 de toras por ano), auma distância de 100 km. Existia o riscode a jangada romper-se durante tempes-tades ou as fortes marés que ocorrem naregião. Porém, era com essa forma bara-ta de transporte que indústrias, situadasna foz do Amazonas (Belém), percorri-am mais de 2.000 km rio acima para com-prar toras de madeiras brancas da regiãode várzea do alto rio Solimões.

Transporte das madeiras da região deterra firme

As madeiras de terra firme sãogeralmente de alta densidade e, portan-to, não flutuam e não podem ser leva-das em jangadas. A forma mais comumde transporte de madeira em tora naAmazônia Oriental é o rodoviário, po-rém sua operação tem um custo alto.No estuário e no baixo Amazonas, oscaminhões madeireiros eram pequenos,com capacidade para carregar 4,3 m3

de toras, e o custo do transporte era deUS$ 30/m3/100 km, ou 25 a 30 vezesmais caro do que os custos do trans-porte com jangadas (Tabela 2).

No baixo Amazonas, a proximi-dade com os cursos d’água permite quea madeira seja transportada através debalsas. Essas embarcações levavam,em média, 270 m3 de toras (Tabela 2,

nota 2). O valor do investimento inici-al numa balsa era relativamente alto secomparado com qualquer um dos ou-tros meios de transporte: eram neces-sários mais de US$ 220.000 para com-prar a balsa e seu barco rebocador. Paradistâncias maiores que 20 km ou 30 kmentre a mata e a serraria, o custo finaldo uso de balsas era menor que o douso dos caminhões (Figura 3). No en-tanto, para o transporte a grandes dis-tâncias, como 100 km, o uso das bal-sas representava um quarto do custo dotrabalho realizado por caminhões (US$8/m3 vs. US$ 30/m3; Tabela 2).

O transporte fluvial para madei-ras, seja da várzea ou de terra firme, émais barato que o rodoviário. Isso sig-nifica que uma indústria que utilizatransporte fluvial pode abastecer-secom madeira de áreas mais distantes doque as alcançadas pelos caminhões,mantendo o mesmo custo. As indústri-as que utilizam madeiras da várzeatransportadas por jangadas, de custoainda menor, podem ir mais longe.

O Processamento de Madeirapelas Indústrias do Estuário edo Baixo Amazonas

Durante o período de 1990 a 1991havia 1.295 indústrias madeireiras emfuncionamento no estuário e no baixoAmazonas (Figura 4). De acordo como seu equipamento, classificamos essasserrarias em: 1) 1.191 pequenas serrari-as com serras circulares; 2) 98 serrariascom serras de fita, geralmente de médioporte; e 3) 6 grandes indústrias, as fá-bricas de laminados e compensados.

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Tabela 2. Custos comparativos do transporte de toras utilizando jangadas, balsas ecaminhões para uma serraria de porte médio típica, a qual consome 10.200 m3 de toraspor ano, localizada a 100 km da fonte de matéria-prima, no estuário e no baixo Amazonas.

Formas de transporte de torasJangada Balsa Caminhão

Capacidade de carga (m3) 1 960 270 4,28Custos anuais de transporte (US$)

Depreciação 2 1.335 10.009 79.200Manutenção 3 4.417 7.898 75.000Mão-de-obra 4 3.035 49.236 30.348Custo do capital 5 890 6.673 14.850Combustível 6 1.357 7.174 106.757

Custo total anual (US$) 11.034 80.990 306.155Custo/m3/l00 km (US$) 1,08 7,94 30,02

1 Jangada: as jangadas carregavam, em média, 960 m3 de madeira (n=4; s=89) rebocados por barcos de 10 t a 20 t (média = 12

t; n=4; s=3,6). Balsa: o tamanho das balsas variou de 150 t a 550 t (média = 381 t; n=13; s=113) com capacidade de cargade 270 m3 (média = 268 m3; 1 t = 0,67 m3; n=12; s=0,1). De acordo com recomendações técnicas de um estaleiroespecializado (Empresa Técnica Nacional S.A.), consideramos para este exemplo uma balsa de tamanho padrão de 400 tcom barco rebocador de 20 t a 30 t. Caminhão: para transportar 10.200 m3 de toras em um ano, com a distância 100 km,a serraria necessitaria de 15 caminhões com o tamanho típico da região (4,28 m3 de capacidade de carga); assumindo 180dias de trabalho por ano e considerando o tempo gasto em reparos (10%) e nas operações de carga e descarga.

2 Jangada: os rebocadores de jangadas custavam US$ 29.670, enquanto novos, e sua depreciação anual, calculada em 20 anos,com 10% de valor residual, custava US$ 1.335 [(US$ 29.668 US$ 2.966,8)/20 anos]. Balsa: o valor do investimentoinicial em uma balsa de 400 t (sem o rebocador) era de US$ 165.200, assim sua depreciação anual custava US$ 7.434 [(US$165.200 - US$ 16.520) /20 anos]. A depreciação anual do rebocador da balsa (cujo preço de compra era US$ 57.218) foide US$ 2.575. Assim, a depreciação total da embarcação foi de US$ 10.009 (US$ 7.434 + US$ 2.575). Caminhão: o custode um caminhão de 6 t, novo, era de US$ 33.000. Considerando o tempo de uso de cinco anos e 20% de valor residual,a depreciação por caminhão vale US$ 5.280,

ou US$ 79.200 para a frota com 15 caminhões.

3 Jangada: para rebocadores de jangadas de 10 t, a manutenção consistiu em pinturas, calafetagem, troca de peças de madeirae reparos no motor, com custo estimado em US$ 670/ano. Além disso, a cada ano, foram utilizados 1.000 m de cabo deaço para amarrar as toras entre si, com custo de US$ 3.200; 2.000 pinos para prender o cabo às toras, com custo de US$500; e 100 m de corda de nylon para atracar a jangada ao rebocador (US$ 47). Assim, o custo total da manutenção anualda embarcação foi US$ 4.417 (US$ 670 do barco mais US$ 3.747 da jangada). Balsa: para manutenção anual da balsa (semo rebocador), faziam-se revisões e limpeza do casco, com custo estimado em 4% ao ano sobre o valor do investimentoinicial, ou US$ 6.608/ano (informe técnico da Empresa Técnica Nacional S.A.). O barco rebocador de balsa teve osmesmos tipos de custo de manutenção dos rebocadores de jangadas, adequados ao seu maior tamanho (veja nota 1), o quecustou US$ 1.290, somando US$ 7.898 para manutenção anual da balsa com seu rebocador. Caminhão: a manutenção deum caminhão madeireiro custava US$ 5.000 ao ano (Veríssimo et al., 1993), ou US$ 75.000 para os 15 caminhõesutilizados pela serraria neste estudo.

4 Jangada: a tripulação dos rebocadores de jangadas era composta por três homens com salário diário de US$ 3,93 e maisalimentação individual de US$ 1,69/dia, o que em 180 dias de trabalho por ano custava US$ 3.035. Balsa: a tripulaçãooficialmente determinada para balsas de 400 t era composta por seis homens (Capitania dos Portos do Pará), que recebiamna região do estuário e baixo Amazonas, em média, US$ 683,8/homem/mês, com custo de alimentação já considerado(Sindicatos de Trabalhadores de Embarcações do Pará e Amapá). Assim, o custo total da tripulação das balsas ficava emUS$ 49.236. Caminhão: a tripulação de viagens longas de caminhão era composta por dois homens, que recebiam o valorda diária mais alimentação (US$ 3,93 + US$ 1,69/homem/dia) para 180 dias de trabalho. Para 15 caminhões, o custo comsalários e alimentação somava US$ 30.348 ao ano.

5 O custo do capital foi calculado com taxa de 6% ao ano sobre os valores dos investimentos iniciais descritos na nota 2.

6 Jangada: as jangadas navegavam sempre a favor das águas, a 4 km/hora (velocidade estimada das marés, segundo a Capitaniados Portos do Pará), com consumo médio de combustível de 10,7 litros de óleo diesel/hora (n=5; s=3,2) e 0,05 litros deóleo lubrificante/hora (n=3; s=0,01). Os preços desses combustíveis eram: US$ 0,23 por litro e US$ 1,87 por litro,respectivamente. Assim, o transporte de 10.200 m3 de toras nas jangadas de 960 m3 para uma serraria a 100 km de distância(200 km percorridos por viagem para ida e volta) custa US$ 1.307 para o diesel (10.200 m3/960 m3 x 200 km/4 km/h x 10,7l/h x US$ 0,23 por litro) e mais US$ 50 para o lubrificante. Balsa: as balsas navegavam a 9 km/h (n=4; s=4,1) comconsumo de 33,9 litros de óleo diesel (n=13; s=8,5) e 0,4 litros de óleo lubrificante por hora (n=8; s=0,16), com carga de270 m3 de toras. Portanto, para transportar os 10.200 m3 de toras eram gastos US$ 6.546 com diesel e US$ 628 comlubrificante. Caminhão: os caminhões consumiam 0,86 litros de diesel e 0,014 litros de lubrificante por quilômetrorodado, com carga de 428 m3 de toras em cada viagem. Logo, o custo total do combustível para o transporte de 10.200 m3

na distância de 100 km era de US$ 94.279, mais US$ 12.478 para lubrificante.

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Figura 3. Comparação dos custos anuais de transportede madeira em tora com jangadas, balsas e caminhões,em função da distância entre a mata e uma serraria deporte médio típica do estuário e do baixo Amazonas, cujoconsumo é de 10.300 m3 de toras por ano.

Figura 4. Distribuição espacial das indústrias madeireiras no estuário e no baixoAmazonas no período de 1990 a 1991.

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Processamento de madeira naspequenas serrarias

A maioria das indústrias madeirei-ras dispersas na região de estudo erampequenas serrarias (92%), sendo quequase todas (95%) estavam localizadasno estuário (Figura 4). Essas indústriaseram propriedades de pessoas do local(88%; n=60) e caracterizavam-se pelaexploração das florestas de várzea(82%), pelo uso de serras circulares paradesdobrar as toras (94%) e pelo empre-go de mão-de-obra familiar (53%).

A instalação dessas pequenasserrarias foi um fenômeno na décadade 80. No entanto, o maior númerode instalações ocorreu depois de1985 (Figura 5), em resposta à de-manda de madeira para construção decasas populares em Belém e no Nor-deste do País, bem como para cons-trução civil. Além disso, com a pro-dução das pequenas serrarias, as in-dústrias exportadoras aumentavamseu volume de vendas; a virola doestuário era a segunda espécie maisexportada do Pará.

Figura 5. Caracterização das indústrias madeireiras pequenas,médias e grandes do estuário e do baixo Amazonas.

A madeira produzida em peque-nas serrarias custava pouco, pois a ins-talação da indústria era simples e a ex-ploração e transporte na região de vár-zea, baratos. Essas serrarias funciona-vam com um motor marítimo para aci-

onar a serra e com galpão feito de ma-deira improvisada na floresta, o quecustava aproximadamente US$ 3.000para instalação (Figura 4). Observamosem muitos casos que os compradoresde madeira também financiavam a

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montagem de pequenas serrarias comadiantamentos de capital, concessãode equipamentos ou mercadorias emgeral, o que permitiu que a populaçãolocal se envolvesse com a indústriamadeireira, mesmo sem capital (30%das serrarias envolvidas nesta pesqui-sa receberam financiamento; n=76).

As pequenas serrarias produziam,em média, 650 m3 de madeira serradapor ano, utilizando 1.850 m3 de tora. Opreço pago por essa matéria-prima va-riava de US$ 2 m3 a US$ 4,51/m3, nabeira da mata. Esse valor é mais baixodo que o custo de extração de US$6,70/m3 (Tabela 1), quando a mão-de-obra é paga pelas serrarias de portemédio.

A madeira que vai para as pe-quenas serrarias é de qualidade infe-rior (considerando-se espécies e diâ-metros de tora), e parte dos custos ficapor conta das serrarias maiores.

O custo anual de produção daspequenas serrarias era de aproximada-mente US$ 14.800 (ou US$ 22,80/m³de madeira serrada), sendo que a pro-dução era vendida a um preço médiode US$ 27/m³. Os compradores do iní-cio da década de 90 eram os consumi-dores das redondezas (37%), os atra-vessadores comerciais para as grandescidades (33%), as grandes cidades atra-vés da venda direta (17%) e as serrari-as exportadoras de madeiras brancas davárzea (11%) (n=83). Assim, o comér-cio da madeira interior (para consumi-dores locais, atravessadores e grandesserrarias) gerava renda líquida de US$2.755 ao ano para os proprietários depequenas serrarias (Tabela 3).

Essa renda podia atingir aproxima-damente US$ 8.500, nos casos em que amão-de-obra empregada era familiar (Ta-bela 3, sem pagamento de salários e ran-cho para funcionários e transportadoresde toras). Isso significava que a serrariapodia render mais ou menos US$ 1.700para cada membro de uma família comcinco trabalhadores. O salário pago emoutras pequenas serrarias era de aproxi-madamente US$ 707 ao ano (US$ 3,93/homem/dia), enquanto outros empregosda região que ofereciam o salário míni-mo oficial pagavam US$ 1.176 ao ano.O trabalho familiar nas pequenas serra-rias era mais atrativo do que as outrasopções de trabalho do estuário.

Processamento de madeira emserrarias de porte médio

Encontramos 98 serrarias de portemédio, com serras de fita, em operaçãono estuário e no baixo Amazonas (Figura4). Essas serrarias trabalhavam com 30funcionários e, em sua maioria (88%),possuiam apenas um conjunto de serrasde fita. Sua produção média era de 3.500m3 de madeira serrada ao ano (n=41;s=3.456, variando de 180 m3 a 17.000 m3),com o consumo de 10.200 m3 de madeiraem tora, o que significava um rendimentode aproximadamente 35% (Figura 5).

Os proprietários das indústrias deporte médio eram paraenses (48%);migrantes de outros Estados (43%); e,em menor número (10%), estrangeiros.O investimento inicial desses proprietá-rios para instalar suas serrarias com ser-ras de fita foi de aproximadamente US$170.000 (Veríssimo et al., 1993). Vinte

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Tabela 3. Custos de produção e renda das pequenas serrarias no estuário e baixoAmazonas.

1 Uma pequena serraria nova valia US$ 2.959, o que incluiu motor novo (US$ 1.704), serra circular de 40polegadas (US$ 208), bancada para a serra (US$ 368), carrinho para as toras (US$ 177), tri lho para ocarrinho (US$ 204) e galpão (US$ 298). Sua depreciação foi calculada em 20 anos, considerando o valorresidual de 20% sobre o investimento inicial [(US$ 2.959 - US$ 591,8) /20 anos].

2 A manutenção das pequenas serrarias consistia na revisão do motor de dois em dois anos, com troca depeças, troca de serras na freqüência de dez em dez meses, troca de correia de dois em dois anos e limasnovas para amolar a serra a cada semana. O custo anual dessas atividades era de US$ 787.

3 As pequenas serrarias funcionavam por 180 dias ao ano (15 dias/mês n=61; s=7), com consumo diário decombustível de 21 litros de óleo diesel (n=17; s=10,7) e 0,8 litros de lubrificante (n=17; s=0,9). Essescombustíveis custavam US$ 0,23 l i tro e US$ 1,87 l i tro, respectivamente, o que signif icava um gastoanual de US$ 1.139.

4 As serrarias empregavam, em média, cinco homens (n=60; s=2) que recebiam US$ 3,93 por dia (n=28;s=1,2) mais a alimentação, a qual custava ao empregador US$ 1,69/homem/dia. Considerando 180 diasde trabalho por ano, o custo com a mão-de-obra era de US$ 5.058.

5 As pequenas serrar ias do estuário uti l izavam dois t ipos de madeira: brancas e vermelhas, cujas torascustavam US$ 1 ,95/m3 (n=3; s=0,68) e US$ 4,4/m3 (n=5; s=1,4), respectivamente. Em entrevistas em 65serrarias, observamos que 43% uti l izavam apenas madeira vermelha; 26% uti l izavam apenas madeirabranca; e 31% trabalhavam com ambos os tipos. Nesta análise, consideramos o uso dos dois t ipos demadeira em partes iguais, com preço médio de US$ 3,18/m3. Assim, para comprar os 1.850 m3 (n=54;s=1.874) de toras utilizadas por ano, a serraria gastava US$ 5.883.

6 O transporte da matéria-prima era feito por dois homens, com barcos motorizados menores que 5 tonela-das (média = 2,4 t; n=4; 2=2,1) puxando jangadas de 50 m, na distância de 11 km entre o local deextração e a serraria (distancia média de 2,75 horas, na velocidade da maré, 4 km/h, n=16; s=8). Oscustos desse transporte eram: US$ 235 para depreciação do barco em 20 anos com valor residual de 10%;US$ 156,6 para o custo do capital investido na compra do barco e US$ 566 para manutenção anual dobarco e material para confecção da jangada; US$ 674 para pagamento da mão-de-obra, incluindo salário(US$ 3,93/homem/dia) e alimentação (US$ 1,69/homem/dia) em 60 dias de trabalho por ano; e aindaUS$ 89 para combustível, pois o consumo era de 3,4 l i tros de diesel/h (n=4; s=1,86) e 0,05 l i tro delubrif icante/h (n=2; s=0,06).

7 O custo sobre o capital investido na serraria foi calculado à taxa de 6% ao ano sobre o valor do investi-mento inicial (nota 1).

8 As pequenas serrarias produziam anualmente, em média, 650 m³ de madeira serrada (n=61; s=717). Asmadeiras vermelhas valiam US$ 33/m³ (n=12; s=9,1) e as brancas, US$ 21/m³ (n=5; s= 3,1). Portanto, opreço médio por metro cúbico da produção de madeiras brancas e vermelhas era US$ 27 no mercadolocal, para onde 83% das serrarias executavam suas vendas (n=70).

9 Os valores líquidos presentes e a taxa interna de retorno do capital investido nas pequenas serrarias foramcalculados para o período de 20 anos.

Custos de produção (US$)Depreciação¹ 118Manutenção² 787Combustível³ 1.139Mão-de-obra4 5.058Compra de tora5 5.883Transporte de toras6 1.721Custo do capital7 89

Custo total da produção (US$) 14.795

Valor da produção (US$)8 17.550

Renda líquida (US$) 2.755Margem de lucro 17%Valor presente líquido (US$)9

Taxa de 6% 34.044Taxa de 12% 20.754

Taxa interna de retorno 124%

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por cento dos casos investigados (n=48)receberam algum tipo de financiamentode bancos ou compradores de madeiraserrada.

Observamos que do total de ser-rarias de porte médio, 48 trabalhavamcom madeiras da várzea e 50 com ma-deiras de terra firme. Cada um destestrês modelos de funcionamento envol-via diferentes custos de aquisição dematéria-prima (exploração e transpor-

te) e diferentes rentabilidades em vir-tude do preço do produto final: 1) ser-rarias que utilizavam madeiras da vár-zea, transporte fluvial (jangada) e co-mércio interno e externo; 2) serrariasque utilizavam madeiras de terra firme,transporte fluvial (balsa) e comércio in-terno e externo; e 3) serrarias que uti-lizavam madeiras da região de terra fir-me, com transporte rodoviário e comér-cio apenas interno (Tabela 4).

Modelos1 2 3

Tipo de madeira Várzea Terra firme Terra firmeForma de transporte Jangada Balsa CaminhãoMercado Interno/Externo Interno/Externo NacionalDistância 100 100 10(mata/serraria km)

Custos de produção (US$)Compra de toras1 91.800 183.600 83.600Transporte de toras2 11.034 80.990 53.591Processamento3 203.000 203.000 203.000Custo do capital investido4 5.160 5.160 5.160Custo total da produção 310.994 472.750 445.351

Valor da produção (US$)5 371.000 686.000 476.000

Renda líquida (US$) 60.006 213.250 30.649

Margem de lucro 16% 31% 6%

Valor presente líquido (US$)Taxa de 6% 523.016 2.008.305 156.577Taxa de 12% 275.970 1.174.131 25.256

Taxa interna de retorno 37% 62% 14%

1 As serrarias com serras de fita do estuário e do baixo Amazonas consumiam, em média, 10.200 m3 de madeiraem toras por ano, expresso em volume real, pagando, em média, US$ 9/m3 pelas toras de madeiras da várzea(n=4; s=2,5) e US$ 18/m3 pelas toras de terra firme na beira de uma estrada ou de um rio (n=9; s=3,8).

2 As distâncias utilizadas para cada modelo, (100 km, para os modelos 1 e 2, e 10 km, para o modelo 3) foramestabelecidas a partir dos padrões encontrados no campo. Para os custos do transporte veja a Tabela 2.

3 A produção média de madeira serrada nas serrarias era de 3.500 m3. O custo dessa produção foi estimado emUS$ 58/m3 (Veríssimo et al., 1993).

4 O capital inicial para a instalação da serraria foi estimado em US$ 172.000 (Veríssimo et al., 1993). O custodesse investimento foi calculado considerando taxa de 6% ao ano.

5 Modelo 1: as serrarias que exploravam madeiras da região de várzea vendiam um terço de sua produção para omercado externo por US$ 185/m3 (n=5 espécies; s=22); um terço de segunda qualidade por US$103/m3 , tambémpara o exterior (n=7 s=33) e um terço de terceira qualidade ficava nos mercados interno e local por US$ 30/m3.Isso significa que o preço médio para as madeiras da várzea era US$ 106/m3. Modelo 2: as serrarias exportadorasde madeiras da terra firme vendiam um terço da sua madeira para o mercado externo por US$ 300/m3 (n=27;s=53,4); também um terço para o mercado externo por 153/m3, (n=21;s=22); e o restante para o mercado internopor US$136/m3. Assim, o preço médio ficou em US$ 196,3/m3. Modelo 3: para estas serrarias consideramos 100%das vendas no mercado interno, onde o preço médio da madeira da terra firme era US$ 136/m3 (n=4; s=19).

Tabela 4. Efeitos do tipo de madeira utilizado (da região de várzea ou de terrafirme), da forma de transporte das toras empregado e do mercado abastecidonos custos de produção e na renda das serrar ias de porte médio, as quaisproduzem 3.500 m3 de madeira serrada no estuário e no baixo Amazonas.

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Modelo 1: as 48 serrarias que pro-cessavam madeiras da várzea utilizavammais de 50 espécies, cujas principaiseram a virola (Virola surinamensis) e aandiroba (Carapa guianensis). Essamatéria-prima era comprada dos forne-cedores de toras por US$ 9/m3 e chega-va à serraria em jangadas, com custo detransporte de US$ 1,08/m3 (Tabela 2).Assim, em um ano, a serraria que utili-zava 10.200 m3 de toras gastava 29%dos seus custos totais na compra de torase 3% com seu transporte. A maior partedos custos da produção (65%) vinha doprocessamento das toras dentro da in-dústria.

O produto final das serrarias eramtábuas para os mercados nacional e in-ternacional, com preço médio de US$106/m3. Assim, a serraria que trabalha-va com madeiras das florestas de vár-zea tinha renda líquida de US$ 60.000ao ano, ou US$ 17/m3 serrado. A taxade retorno do capital desse investimen-to era de 37%, com valor líquido pre-sente de US$ 523.000, à taxa de des-conto de 6% ao ano (Tabela 4).

Modelo 2: quatorze serrarias tra-balhavam com madeiras de terra firmee utilizavam balsas no transporte flu-vial das toras. Essas eram as serrariasmais capitalizadas; seus custos de pro-dução somavam US$ 473.000 por ano,divididos em: 39% para compra detoras (duas vezes mais do que as serra-rias que utilizavam madeiras da várzea);17% para o transporte de toras; e 43%para o processamento (Tabela 4). Ovalor de sua produção era US$686.000, com parte vendida no merca-

do externo, e sua renda líquida giravaem torno de US$ 215.000 por ano, ouUS$ 60/m3.

Na exploração de terra firme, ape-sar de o preço da madeira em tora, in-vestimento inicial e custos operacionaisdas balsas serem maiores do que emqualquer outro sistema de exploração,a exportação de parte da produção for-necia grande retorno econômico para aserraria. A taxa interna de remuneraçãodo capital deste tipo de investimento erade 62%, com valor presente líquido, àtaxa de 6% de juros, de US$ 2.000.000,no período de 20 anos (Tabela 4).

A renda dessas serrarias exporta-doras podia ser ainda mais alta do quea descrita acima. Em nossos cálculos,utilizamos os valores oficiais das ne-gociações com o mercado externo, es-tipulados pela Carteira de ComércioExterior (Cacex) e informados duranteas entrevistas nas serrarias. Entretan-to, o pagamento realmente efetuadopela madeira serrada podia exceder ovalor oficial em 36% (n=16 espéciesvendidas por três indústrias; s=22).Esta parte extra do dinheiro era depo-sitada em contas bancárias no exterior,evitando a taxação de impostos nacio-nais. Considerando este maior valorpago pela madeira exportada, a rendaanual das serrarias podia ser de US$400.000, quase o dobro da renda comvendas em preços oficiais, e a taxa in-terna de remuneração do capital pas-saria para 111%.

Modelo 3: trinta e seis serrarias queexploravam madeiras de terra firme noestuário e no baixo Amazonas utilizavam

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caminhões para transportar as toras, sen-do que a maioria delas vendia sua pro-dução exclusivamente para o mercadointerno (86%). A combinação de uso decaminhões e comércio interno limita eco-nomicamente a distância entre a serrariae a área de exploração em, mais ou me-nos, 40 km. A essa distância da mata, aserraria em estudo teria lucro zero. Oscaminhões são, portanto, um investimen-to viável apenas quando a distância en-tre a floresta e a indústria é curta. Porexemplo, em fronteiras recentes no bai-xo Amazonas, a serraria podia abastecer-se com madeira de até 10 km de distân-cia, o que lhe conferia renda líquida deUS$ 30.600 e taxa de remuneração decapital de 14%, com valor presente líqui-do de US$ 157.000, à taxa de 6% ao ano(Tabela 4).

Entretanto, se essas serrarias ven-dessem parte de sua madeira para omercado externo (dois terços da pro-dução, como no modelo 2), elas pode-riam ter renda líquida anual de até US$223.000, capital remunerado na taxa de93% e valor presente líquido de US$2.123.000 (taxa de 6% ao ano). Issoporque, mesmo com o transporte dastoras por caminhões, o maior valor damadeira para exportação permite que aserraria esteja a 50 km do local de ex-ploração. Mesmo que precise de umafrota de oito caminhões, ganhe aproxi-madamente US$ 45.000 ao ano, comcapital remunerado à taxa de 30% e va-lor presente líquido de US$ 836.000para 20 anos. Esses exemplos mostramque o preço pago pela madeira serradadetermina os padrões de funcionamen-to da indústria e sua capacidade de ex-pandir a fronteira madeireira.

Processamento de madeira nasfábricas de laminados ecompensados

A primeira laminadora do estu-ário instalou-se no final da década de50 e processava exc lus ivamentevirola para o mercado externo. Em1991, existiam seis indústrias dessetipo, produzindo lâminas e compen-sados de aproximadamente 15 espé-cies (Figura 5). Em nenhum dos ca-sos a indústria pertencia a pessoaslocais: das seis fábricas, três erampropriedade de estrangeiros e três depessoas originárias de outras regiõesdo Brasil.

Essas fábricas de laminados ecompensados produziam, em média,33.850 m3 de madeira beneficiada porano (n=5; s=22.216), o que signifi-cava uma produção quase dez vezesmaior que a das serrarias de portemédio. Possuiam, em média, 656 fun-cionários (n=5; s=312) e consumiam,anualmente, 91.000 m3 de madeira emtora (n=5; s=39.739). Essas indústri-as buscavam sua matéria-prima a lon-gas distâncias, recebendo madeira delugares a mais de 2.000 km de dis-tância, pois a laminação requer torasde maior diâmetro.

Estimamos que o valor do inves-timento inicial de uma laminadora giraem torno de 1 milhão de dólares, ouseja, mais de seis vezes o valor de umaserraria de porte médio. Uma empresaque produzia 23.755 m3 de madeirabeneficiada nos mostrou suas contas;vimos que os custos totais de produ-ção são da ordem de 6 milhões de dó-

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lares. A aquisição de matéria-prima re-presentava 33% desse total, e a mão-de-obra, 34% (9% com pessoal admi-nistrativo e 25% com trabalhadores emgeral) (Tabela 5).

O dest ino da produção delaminados e compensados dessa empre-sa era o Sul do Brasil e o mercado ex-terno, gerando uma renda líquida anu-al de aproximadamente US$ 590.000.

Entretanto, o valor da produção utili-zado nas contas da indústria ficavaabaixo do valor médio obtido neste tra-balho (Tabela 5, nota 3). Utilizando opreço médio de US$ 268/m3 (n=5;s=36,3), o valor da produção passariaa ser US$ 6.366.340 (23.755 m3 x US$268) e a renda líquida anual da empre-sa ultrapassaria 1 milhão de dólares(US$ 1.003.548).

Produção (m³)¹Lâminas 13.305Compensados 10.450

Custos diretos da produção (US$)Lâminas 1.618.155Compensados 1.910.261

Custos indiretos da produção (US$) 1.382.618Custo total (US$) 4.911.034

Custo da comercialização (US$)² 430.359

Valor da produção (US$)³ 5.932.356

Renda líquida (US$) 590.963Margem de lucro 10%

1 Diferentemente das análises econômicas previamente apresentadas (Tabelas 3 e 4), para as laminadorasutilizamos a contabilidade interna do ano de 1992 de uma empresa do estuário. Essa indústria produziue comercializou 13.305 m³ de madeira laminada de 10.450 m³ de madeira em compensados, em um ano,resultando em um total de 23.755 m³ de produção, empregando 618 funcionários.

2 Os custos de comercial ização envolvidos foram as taxas de vendas e exportação (US$ 133.741 para23.755 m³ de madeira) e comissão do agente de vendas, que é de 5% do preço do material comercializado,ou seja, US$ 296.618 (US$ 5.932.356 x 5%).

3 De acordo com o relatório financeiro da empresa, o laminado custava US$ 251,75/m³ e o compensado,US$ 247,16/m³, o que gerava uma despesa de US$ 5.932.356 para a sua produção.

Tabela 5. Custos e renda anual de uma fábrica de laminados e compensados doestuário do rio Amazonas.

As grandes indústrias laminado-ras tinham problemas com o abasteci-mento de madeiras do estuário, pelasazonalidade das enchentes. No ve-rão, quando o alagamento da florestaé menor, tornava-se mais difícil alcan-çar árvores com o diâmetro exigido

para laminação. Por isso, as lamina-doras investiam em transporte, buscan-do madeira longe do estuário. Entre-tanto, as laminadoras também têm in-vestido na mecanização da exploraçãona várzea, financiando o uso de mo-tosserras para derrubada e de guinchos

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e búfalos para arraste de toras. A me-canização da exploração na várzea po-derá tornar o trabalho produtivo, deescala comercial, além de levá-la aáreas mais distantes dos cursos d’água.

Um Modelo Conceitual paraCompreensão do SetorMadeireiro do Estuário e BaixoRio Amazonas

As principais características dosetor madeireiro do estuário e do bai-xo rio Amazonas são a diversidade deatores envolvidos e as várias estratégi-as utilizadas na extração, transporte detoras e processamento. As equipes deextração trabalham em regiões de vár-zea ou de terra firme de onde as torassão transportadas para as serrarias emjangadas, balsas ou caminhões. As ser-rarias podem ser indústrias familiaresrudimentares, serrarias de porte médiocom serras de fita ou até grandes fábri-cas de laminados e compensados.

Nossa análise revela que a dis-ponibilidade de capital para cada atorinfluencia muito seu comportamento.As pequenas serrarias familiares fo-ram instaladas no estuário na décadade 80 por pessoas locais com poucocapital. O sucesso dessas indústriasdeu-se graças ao baixo custo da ex-ploração e do transporte fluvial. En-tretanto, seu retorno econômico tam-bém era pequeno, insuficiente parainvestir na instalação de uma serrariamaior (com serra de fita), cujo capitalnecessário seria US$ 170.000. A op-

ção para os proprietários de pequenasserrarias seria, portanto, investir emuma segunda pequena serraria ou emum pequeno barco a motor, utilizadono transporte das toras para a serrariaou no transporte de madeira serradapara as cidades maiores.

Para as serrarias com serras de fitaque utilizam madeiras da região de vár-zea, as perspectivas de aumento de lu-cratividade são bem maiores. Como vi-mos, sua renda anual líquida é de apro-ximadamente US$ 60.000 (Modelo 1,Tabela 4). Se os donos dessas serrariasinvestissem em balsas e rebocadores(US$ 220.000) e passassem a explorarmadeiras da região de terra firme, suarenda anual poderia triplicar para US$210.000 (Modelo 2, Tabela 4). De fato,oito, dentre as 48 serrarias que trabalha-vam com madeiras da várzea (Modelo1), já haviam feito esse investimento noinício dos anos 90 e passaram a explo-rar florestas de terra firme. Essas serra-rias continuavam a explorar madeiras davárzea durante a estação chuvosa, quan-do não é possível tirar madeira de terrafirme pela intensidade das chuvas e con-seqüente danificação das estradas ma-deireiras. Na estação seca, quando émais difícil conseguir toras da várzea,as serrarias mudam suas atividades e ex-ploram a terra firme. Além do maior va-lor das madeiras de terra firme, as quaisoferecem maior lucro à indústria, o tra-balho com os dois tipos de florestas nasdiferentes estações tem a vantagem degarantir o fornecimento de madeira du-rante todo o ano. Como cada tipo defloresta é melhor explorado em estações

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diferentes, a indústria pode manter seuabastecimento de matéria-prima semprecisar estocar madeira. Em termos eco-nômicos, isso significa que a indústrianão precisa mobilizar capital armaze-nando toras de madeira para serrar du-rante o ano.

Existem outras opções de au-mento de renda para as serrarias demédio porte, tanto da região de vár-zea como da região de terra firme. Aprimeira é beneficiar a madeira atéprodutos mais elaborados, com maiorvalor. A segunda é transformar-se, ouexpandir -se, passando a fabr icarlaminados e compensados. Porém,isso significa um investimento grandede capital, aproximadamente cincovezes maior que o necessário para mu-dar a exploração da várzea para terrafirme, além dos desafios tecnológicosda nova linha de produção. A terceiraopção para essas indústrias aumenta-rem sua lucratividade é o abandono deregiões pobres em madeira e a mudan-ça para outros pontos, rio acima, ondea madeira ainda é abundante. Algumasserrarias iniciaram esse processo demudança de local nos primeiros anosde 90. A diminuição do custo de trans-porte de matéria-prima, pela reduçãoda distância entre a mata e a serraria,é o fator principal dessa realocação.

Em suma, a análise dos investi-mentos e da lucratividade das serrari-as explica, significativamente, as de-cisões de cada um dos proprietários deserraria, as quais, por sua vez, deter-minam os padrões de exploração ma-deireira no rio Amazonas.

O Significado da IndústriaMadeireira no Estuário e noBaixo Amazonas

Geração de empregos

No início dos anos 90, as indús-trias madeireiras do estuário e do bai-xo Amazonas geraram 25.400 empre-gos. Cinqüenta por cento desse totalestava relacionado ao trabalho dentrodas indústrias. A outra metade estavarelacionada à exploração.

Sozinhas, as pequenas serrarias fo-ram responsáveis pela ocupação de13.573 trabalhadores, ou seja, 53% dototal das indústrias da região (Tabela 6).

Considerando que em 1989 as pes-soas empregadas na região do nosso es-tudo representavam 28,5% da populaçãototal residente nos municípios (IBGE,1991), concluímos que a indústria madei-reira gerou 7,4% dos empregos existen-tes nos 29 municípios estudados. Entre-tanto, a indústria da madeira não tinha amesma importância em toda a região. Porexemplo, no baixo Amazonas existiam 29serrarias de porte médio e 59 pequenasserrarias (Figura 2). Por outro lado, a re-gião das florestas de várzea do estuárioque abastecia as laminadoras abrigava82% das pequenas serrarias e 50% das deporte médio, fazendo da atividade madei-reira uma importante fonte geradora deempregos. Dessa forma, ainda no estuá-rio, se tomarmos um município como Bre-ves, onde há maior concentração de in-dústrias (175 pequenas, 30 médias e 1laminadora), podemos observar que a ati-vidade madeireira gera diretamente qua-se 30% do total de empregos.

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Tabela 6. Número de empregos gerados na exploração e no trabalho dentro dasindústrias madeireiras no estuário e no baixo Amazonas

Empregos Funcionários Extratores Total %

Serrarias pequenas 1 5.955 7.618 13.573 53%

Serrarias Médias 2 2.940 2.888 5.828 23%

Laminadoras 3 3.936 2.063 5.999 24%

Total 12.831 12.569 25.400 100%

1 As 1.191 pequenas serrarias no estuário e no baixo Amazonas possuiam, em média, cinco funcionárioscada, gerando 5.955 empregos. Para seu abastecimento de 1.850 m³ de toras por ano, essas serrariasempregavam diferente número de homens, dependendo do tipo de floresta explorado, na várzea ou emterra firme. Na várzea, as 972 pequenas serrarias existentes utilizavam madeiras fornecidas por equipescom 33 homens que produziam 873 m³/ano (Tabela 1). Assim, cada uma dessas serrarias empregava 2,12equipes (1.850 m³ / 873 m³) ou 6,99 homens. As outras 219 serrarias trabalhavam com madeiras de terrafirme, nos quais as equipes de exploração eram compostas por 4,7 homens e produziam 2.311 m³ detoras/ano. Isso gerava emprego para 0,8 equipe (1.850 m³ /2.311 m³ ou para 3,76 homens). No total, aexploração madeireira para as pequenas serrarias empregou 7.618 homens [(972 serrarias x 6,99 ho-mens) + (219 serrarias x 3,76 homens)].

2 Existiam 98 serrarias de porte médio, as quais operavam, em média (n=40; s=24), com 30 funcionários,gerando um total de 2.940 empregos. Cada serraria consumia 10.200 m³ e 38,6 homens abasteciam ademanda de matéria–prima de cada uma das 48 serrarias que utilizavam madeiras da várzea. As outras 50serrar ias, que ut i l izavam madeira de terra fi rme, empregavam 20,7 homens cada. Veja na nota 1 oprocedimento dos cálculos.

3 Existiam seis laminadoras que empregavam, no total, 3.936 funcionários (656 funcionários/ laminadoran=5; s= 312). Cada laminadora consumia, em média, 90.980 m³ de madeira em tora explorada na regiãode várzea, e, portanto, empregava 104,2 equipes de 3,3 homens, ou seja, 343,9 homens.

Geração de capital

A produção das indústrias ma-deireiras na região de estudo foi de 1,3milhão de metros cúbicos de madeiradurante o ano de 1991, dos quais 1,1milhão foram serrados e 0,2 milhão,laminados. A maior parte dessa madei-ra foi produzida pelas pequenas ser-rarias (59%). As serrarias de porte mé-dio produziram 26% desse volume to-tal, o restante coube às laminadoras(15%) (Tabela 7).

A produção de madeira serrada davárzea foi a mais significativa. As 972pequenas serrarias, 48 serrarias de portemédio e as 6 laminadoras que exploraramas florestas de várzea produziram, juntas,1 milhão de metros cúbicos de madeiras

em um ano. Ou seja, em 1991, na regiãodo estuário e do baixo Amazonas, 77%da produção veio das florestas de várzea.

As seis fábricas de laminados ecompensados existentes contribuíramcom 45% do valor total da madeira pro-duzida na região e 9% do valor da pro-dução estadual. Isso por causa do mai-or preço médio do seu produto e da suagrande produção (Tabela 7). As peque-nas serrarias, apesar de responderempelo maior volume de madeira benefi-ciada (59%), contribuíram com apenas18% do valor total da madeira produ-zida na região e 4% do valor da produ-ção estadual, por causa do baixo preçodo seu produto sem beneficiamentos fi-nais e de baixa qualidade, destinado aomercado local.

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Em todo o Estado do Pará, existi-am 1.874 indústrias madeireiras em 1991,com uma produção total estimada em 4,3milhões de metros cúbicos (A. Veríssimo,

comunicação pessoal). As indústrias emnossa área de estudo (Figura 4 ) produzi-ram 31% desse volume e um quinto dovalor dessa produção (Tabela 7).

Tabela 7. Número de indústrias madeireias, produção anual e valor da produçãopor tipo de indústria do estuário e do baixo Amazonas em relação aos númerostotais do Estado do Pará.

Número de Produção anual de Valor da produção

indústrias madeira serrada

N° % m3 % US$ %

Estuário e baixo

Amazonas:

Serrarias pequenas1 1.191 63% 774.150 18% 20.902.050 4%

Serrarias médias2 98 5% 343.000 8% 45.598.00 8%

Laminadoras3 6 0,3% 203.160 5% 54.446.880 9%

Total 1.295 69% 1.320.310 31% 120.946.930 21%

Restante do Pará4 579 31% 2.979.690 69% 457.334.294 79%

Estado do Pará 1.874 100% 4.300.000 100% 578.281.224 100%

1 As 1.191 pequenas serrarias do estuário e do baixo Amazonas produziam 650 m³ de madeira serrada porano, com preço médio de US$ 27m³ (Tabela 3), o que resulta no valor total de US$ 20.902.050.

2 As 98 serrarias de porte médio do estuário e do baixo Amazonas produziam anualmente, em média, 3.500m³ serrados. O valor dessa madeira era de US$ 106/m³ para as 48 indústrias que exploravam florestas devárzea (Modelo 1, Tabela 4, nota número 5); US$ 196,3/m³ para 19 serrarias que utilizavam madeiras deterra firme e vendiam sua produção para os mercados externo e interno (Modelo 2, Tabela 4); e US$ 136/m³ para as 31 indústrias restantes, que exploravam a região de terra firme e vendiam sua madeira apenaspara o mercado interno (Modelo 3, Tabela 4).

3 As seis fábricas de laminados e compensados da região do estuário e do baixo Amazonas produziam, emmédia, 33.860 m3 de lâminas por ano, cujo valor era US$ 268/m³ (n=5; s=36,3).

4 Em 1991, o Estado do Pará possuia 1.874 indústrias que produziram 4,3 milhões de m³ de madeira serrada(Veríssimo et al.,1993). A produção das indústrias fora da região de estudo (PA-150, Belém-Brasília, sul doPará e Transamazônica) foi de 2.979.690 m3. Desse volume, 2.738.807 m³ eram vendidos no mercadointerno; 94.674 m³ eram de mogno exportado; e 146.209 m³ eram madeiras serradas e laminadas, tambémvendidas para o mercado externo (dados de exportação fornecidos pela Aimex – Associação das IndústriasExportadoras de Madeiras do Estado do Pará). Consideramos para o mercado interno o valor de US$ 136/m³; para o mogno, ao preço médio de US$ 433/m³, segundo a Aimex; para a outra porção de madeirasserradas e laminadas para o mercado externo, consideramos o valor de US$ 300/m³. Assim, no total,concluímos que a madeira produzida nas outras regiões do Pará valia US$ 457.334.29 [(2.738.807 m³ xUS$ 136) + (94.674 m³ x US$ 433) + (146.209 m³ x US$ 300)].

Sustentabilidade Ambientaldas Atividades Atuais daIndústria Madeireira

No início dos anos 90, havia maisde mil serrarias funcionando no estuá-rio e no baixo Amazonas. No entanto,

é necessário saber se existe madeira su-ficiente nas florestas para continuar asuprir essas serrarias e, até mesmo,novas serrarias que venham a se insta-lar nessa região.

De posse do número de serrariase do volume de toras consumido emcada uma (Tabela 7), tornou-se possí-

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vel estimar a quantidade de florestaque é explorada a cada ano. Essa áreapode ser comparada com a área totalda região e assim demonstrar umamedida da sustentabilidade potencialda exploração madeireira.

A partir de informações da Sudam(1988) sobre a cobertura florestal dos29 municípios da região de estudo e denossos dados sobre o tipo de madeiraexplorado pelas serrarias em cada mu-nicípio, estimamos que a região possui3,7 milhões de hectares de floresta devárzea e 26,7 milhões de hectares de flo-resta de terra firme (excluindo ReservasIndígenas e Unidades de Conservação).Tomando o volume de 56 m3/ha comoo total de madeira que pode ser extraí-do das matas da várzea (N. Maciel, co-municação pessoal),

cada uma das 972 pequenas ser-rarias, que utilizam 1.850 m3 de ma-deira por ano, precisaria de 33 ha defloresta a cada ano; as serrarias deporte médio (consumo de 10.200 m3

de tora/ano) precisariam de 182 ha/ano e as laminadoras, 1.625 ha/ano.Logo, assumindo a prática intensivade exploração, as indústrias que ex-ploram a várzea utilizam, juntas, nomínimo, 50.604 ha de mata por ano,ou aproximadamente 1,4% do total dasregiões de várzea do estuário. Ou seja,teoricamente, o ciclo de corte paraessas florestas pode ser de 73 anos.

Por outro lado, a área de terra fir-me explorada pelas 219 pequenas ser-rarias e pelas 50 de porte médio queoperam na região deve ser de 24.083ha, também assumindo o modelo deexploração intensiva (38 m3 explora-

dos/ha; Veríssimo et al., 1993). Essaárea representa menos de 0,1% da áreatotal estimada para as florestas de ter-ra firme na região de estudo.

De maneira geral, a quantidadede madeira na região parece ser maisdo que adequada para abastecer as ne-cessidades da indústria. Contudo, emdeterminadas regiões, como a do mu-nicípio de Breves, na região da ilhade Marajó, a densidade de serrarias égrande e a pressão da exploração podeser excessiva. Breves possui 271.503ha de floresta da região de várzea(Sudam, 1988) e abriga 175 pequenasserrarias, 30 serrarias de porte médioe 1 grande laminadora. Assumindo aexploração de 56 m3/ha, as serrariasque existem no município poderiamesgotar toda a sua madeira em 21 anos(veja em Anderson et al., 1994 os im-pactos detalhados da exploração flo-restal intensiva na várzea da região).

Este exercício é uma simplifica-ção por várias razões. Primeiro, nos-sas estimativas de áreas de floresta sãobaseadas em pressupostos e não emmedições de campo. Segundo, lami-nadoras e muitas serrarias processamapenas algumas espécies de madeiradentro do leque de variedades que avárzea apresenta. Logo, o volume ex-plorado por hectare deve ser inferiora 56 m3/ha por nós utilizado. Tercei-ro, os ciclos de corte podem ser redu-zidos drasticamente quando a florestaé manejada (Barreto et al., 1993). As-sim, enquanto o período de 30 anosentre duas explorações (ciclo de cor-te) pode ser pequeno na ausência demanejo, este mesmo intervalo de tem-

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po pode ser suficientemente razoávelse a floresta for devidamente maneja-da. Finalmente, o exercício propostoassume que toda a madeira disponívelna região pode ser explorada. Contu-do, grande área de floresta está longedas rotas de exploração (estradas ourios), tornando-se, portanto, inacessí-vel. Ainda assim, as simulações feitasmostram uma medida da abundânciatotal de madeira relativa à demandadas indústrias, construindo um cená-rio útil para reflexão sobre as atuaispráticas de exploração e suas perspec-tivas futuras.

Expansão da ExploraçãoMadeireira ao Longo do RioAmazonas

Na época da nossa pesquisa, aprodução das indústrias madeireiras doestuário e do baixo Amazonas mostra-va um crescimento potencial. Com ex-ceção das laminadoras, os donos dasserrarias comunicaram que atravessa-vam um período de crise na produção(n=18 entrevistas), na qual as serrari-as de porte médio trabalhavam com44% da produção do passado (n=13;s=14). A partir de 1989, e já nos pri-meiros anos da década de 90, o setormadeireiro passou a sofrer com a cri-se econômica nacional, na qual hou-ve restrição dos investimentos e dopoder de compra.

Sem a crise, as serrarias facilmen-te poderiam dobrar sua produção. Cadaturno de trabalho poderia ser mais pro-dutivo sendo também possível trabalhar

mais de um turno por dia, como jáaconteceu em tempos passados. Assim,as indústrias de porte médio, por exem-plo, passariam a produzir 7.000 m3/anoe as pequenas serrarias, 1.300 m3/ano.Dessa maneira, a produção total da re-gião passaria para 2,3 milhões demetros cúbicos de madeira serrada, oque significaria um aumento de 85%em re lação à produção atual . Areestruturação econômica do País, le-vando a um aumento da demanda in-terna por madeira, ou à alternativa decomércio externo, pode ocasionar essecrescimento expressivo da atividademadeireira.

O aumento da procura internaci-onal pelas madeiras da Amazônia podesignificar o financiamento de novasserrarias na região ou a transferênciade empresas que até então exploravamoutras florestas tropicais. Esse mesmomovimento de migração também podeacontecer dentro da própria AmazôniaOriental: indústrias madeireiras dasvelhas fronteiras de exploração, talcomo a rodovia Belém-Brasília, estãomudando-se das cidades para o interi-or da floresta, o que revela que a in-dústria investe para ficar próxima dafonte de matéria-prima.

Um limite à expansão da fron-teira madeireira pela via fluvial podeser a navegabilidade dos rios. Nasmargens do baixo e médio Amazo-nas, o relevo chega a altitudes de 300m a 600 m e os afluentes do Amazo-nas, especialmente os da margem es-querda, apresentam quedas d’água eisolam a região. Por outro lado, naparte ocidental da Amazônia, o aces-

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so é livre, pois o relevo é plano. Aregião oeste da Amazônia está afas-tada do Estado do Pará, o grandecentro produtor de madeira, apenasaparentemente, pois a atividade ma-deireira tem grande possibilidade deexpansão (Figura 6).

Buscar toras a grandes distânci-as e a baixo custo foi uma das alterna-tivas das indústrias madeireiras paraabastecimento sem adoção de manejoflorestal ou planejamento da explora-ção. Se as florestas próximas à indús-tria não fornecem mais a madeira de-sejada, a reação da indústria é partirpara novas áreas.

Manejo Florestal: umaPossibilidade Atual

O desmatamento associado à des-valorização da floresta pela exploraçãodesordenada vai continuar na Amazô-nia se a floresta não for reconhecidacomo um recurso valioso, ao invés deuma área de terra destinada a outrosusos associados ao desmatamento. Opotencial da floresta amazônica paraproduzir alimentos, fibras e remédios,assim como madeira, é grande, sem fa-lar na influência da floresta no climaregional e global. Deve levar algumtempo para que haja comercializaçãodos Produtos Florestais Não Madeirei-ros (PFNM), contudo, o uso da flores-ta já apresenta uma possibilidade tan-gível para desenvolver uma economiasustentável baseada na exploração e nomanejo florestal com fins madeireiros.

Figura 6. Possibilidade de expansão dafronteira madeireira a partir dos custos detransporte de toras.

A maior parte das discussões so-bre manejo florestal vem associadaaos problemas das florestas de terrafirme, em áreas onde a exploraçãosegue estradas abertas a partir dasrodovias Belém-Brasíl ia e Belém-Marabá e no Sul do Pará (região deexploração de mogno). Nesta seção,daremos mais atenção ao manejo navárzea e no baixo rio Amazonas.

As florestas de várzea do estuá-rio oferecem vantagens para o manejopor uma série de razões. Primeiro, por-que elas são mais simples floristicamen-te (em comparação às florestas de terrafirme) e mantêm um bom estoque demadeira. Segundo, as árvores da vár-zea crescem mais rápido que as de ter-ra firme (talvez duas vezes mais rápi-do, em média). Finalmente, os danos

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causados na copa das árvores, nas ár-vores jovens e no chão da floresta, pelaexploração de madeira na várzea, sãobem menores do que em terra firme.Isso se deve à menor freqüência de ci-pós na várzea, em comparação a terrafirme, e à ausência de máquinas pesa-das durante a exploração - na várzea,o processo de arraste das toras é ma-nual, enquanto na região de terra firmeutilizam-se caminhões e tratores.

A mudança da forma atual de usoda floresta, na qual se faz um tipo degarimpo de madeira, para uma explo-ração manejada e sustentável, exige ba-sicamente três pré-requisitos. O primei-ro é o maior conhecimento sobre comomanejar a floresta. Os outros dois sãoa garantia da posse da terra para os mo-radores e o desenvolvimento de um sis-tema ef ic iente de f isca l ização emonitoramento. Por fim, para incenti-var a adoção desse novo programa deprodução de madeira, recomendamos areabertura da exportação de toras a fimde valorizar esse produto.

A população do estuário e do bai-xo Amazonas vive na região há gera-ções e acumulou saber sobre a florestae sua dinâmica. Os ribeirinhos preci-sam apenas de treinamento em inven-tário, derrubada e arraste orientadospara tornarem-se verdadeiramente ap-tos para o manejo da floresta.

O segundo pré-requisito para va-lorizar a floresta e obter benefícios doseu uso é garantir para as comunida-des de moradores a posse de grandesáreas de floresta. Em regiões de explo-ração mais antiga, tal como a da rodo-via Belém-Brasília, as indústrias têm

suas áreas de exploração e suas própri-as equipes. No estuário e no baixoAmazonas, para a população entrar noramo madeireiro, seguindo as exigên-cias do manejo florestal, será impres-cindível que elas tenham suas áreaspróprias de floresta. Através de contra-tos e concessões acordados com o go-verno, os moradores do interior, orga-nizados, podem empregar o manejo flo-restal e vender madeira para as indús-trias. Através do manejo, a exploraçãomadeireira pode ser contínua, servin-do às comunidades como uma impor-tante fonte de renda e chance de parti-cipação na economia regional. Além depromover a conservação de uma por-ção de floresta e contenção da expan-são da fronteira de desmatamento. OInstituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra) e o Institutode Terras do Pará (Iterpa) têm autori-dade para garantir a posse de terra aosmoradores do interior. Com a seguran-ça da posse da sua terra, esses mora-dores podem investir tempo e dinheirona implementação de técnicas de ma-nejo florestal.

O terceiro passo para implemen-tar um novo hábito de exploração ma-deireira com manejo é fiscalizá-la emonitorá-la. A adoção do manejo flo-restal é prevista em lei e, para reforçá-la, deve haver um sistema de fiscaliza-ção ef ic iente que garanta a suasustentabilidade. Até hoje, os esforçosde fiscalização e monitoramento da ex-ploração de quaisquer recursos naturaistêm sido amplamente beneficiados pelopoder público. Contudo, a existência deum bom sistema de monitoramento é

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essencial para o uso racional da flores-ta. Com a liberação das exportações detoras e a conseqüente concorrência deum maior número de indústrias os pre-ços deverão subir, funcionando comoum estímulo para as práticas sustentá-veis de exploração. Mas isso só deve-rá ser permitido se houver boa fiscali-zação para garantir que as toras expor-tadas sejam realmente oriundas de pro-jetos de manejo. Esse mecanismo deconcorrência internacional valoriza aprodução florestal, dá maior retorno aquem emprega o manejo (pela possibi-lidade de exportação) e deve incenti-var as indústrias locais a melhoraremseu rendimento, uma vez que a maté-ria-prima tornar-se-ía um produto maiscaro. O procedimento político para li-beração das toras é um instrumento ju-rídico simples implementado pela Car-teira de Comércio Exterior (Cacex).Contudo, a combinação das sugestõesaqui propostas exige um trabalho mai-or, envolvendo pesquisa, projetos de-monstrativos e trabalho comunitário.

As organizações não-governa-mentais, tais como as de certificaçãode madeira e aquelas voltadas parapesquisa, devem participar tanto daelaboração dos procedimentos bási-cos para aquisição de terras pelas co-munidades como dos sistemas novosde f iscal ização, monitoramento ecertificação da exportação de toras.

Essas organizações têm um papel im-portante no processo de mudança, de-senvolvendo, por exemplo, sistemasde monitoramento com eficácia com-provada e testada cientificamente empequena escala. Uma ONG com ên-fase em conservação, experiência emtrabalho comunitár io, períc ia emquestões florestais e madeireiras eboas relações com o governo deveassumir um papel-chave. O primeiropasso seria desenvolver protocolospara o estabelecimento das florestascomunitárias, assim como para o de-senvolvimento de um serviço de ex-tensão florestal, monitoramento daexploração e exportação de toras com“selo verde”. Em seguida, esses ele-mentos devem ser reunidos num mo-delo a ser demonstrado no campo.Sem dúvida, a promoção da conser-vação e do bom uso da floresta, emqualquer parte do mundo, deve seguirum modelo testado por uma organi-zação não-governamental capaz dedemonstrar as vantagens e as possi-bilidades de sua implementação. Numterceiro momento, o governo aliadoa essa ONG pode adotar, em escalamaior, a solução encontrada.

Em resumo, os três passos propos-tos contêm elementos que podem con-tribuir para a redução do desmatamentoe melhoria da renda das comunidadeslocais.

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AGRADECIMENTOS

Gostar íamos de agradecer aDavid Edelstein, pela ajuda na coletade dados; Oriana Almeida, pela assis-tência e sugestões de análises econô-micas; Paulo Barreto, John Browder,Johan Zweede e Adalberto Veríssimo,

por comentarem as primeiras versõesdeste artigo; Flávio Figueiredo, pelaconfecção das figuras; e à Fundação W.Alton Jones e ao Fundo Mundial paraNatureza (WWF), por financiarem estapesquisa.

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Uma Abordagem Integrada de Pesquisa sobreo Manejo dos Recursos Naturais na Amazônia

Capítulo5

Christopher UhlPaulo BarretoAdalberto VeríssimoAna Cristina Barros*Paulo AmaralEdson VidalCarlos Souza Jr.

* Filiação atual: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

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Pesquisas Integradas na Amazônia

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RESUMO

A Amazônia Brasileira represen-ta um terço das florestas tropicais domundo e produz 75% da madeira emtora do Brasil. As exportações aindasão modestas, mas devem crescer coma exaustão das florestas tropicais daÁsia. Em poucas décadas, a Amazôniapode se tornar o principal centro mun-dial de produção de madeira tropical.

Essa perspectiva se confrontacom o fato de que a exploração flores-tal na Amazônia é feita de forma nãoplanejada. Neste artigo, mostramos aimportância da informação para orien-tar a tomada de decisão da sociedade edo governo sobre o futuro da florestaAmazônica.

No entanto, biólogos e cientistasambientais, geralmente, restringem aatenção somente aos aspectos técnicosdos problemas do uso dos recursos na-turais. Porém, problemas ambientaissão complexos e multidisciplinares por

natureza. Através deste artigo, mostra-mos que a informação técnica é ape-nas uma parte da informação necessá-ria para desenvolver e implementar prá-ticas sustentáveis de exploração do re-curso florestal. Estudos de caso, análi-ses econômicas, pesquisas sobre polí-ticas e sobre formas de implementar alei são fundamentais.

O modelo de pesquisa desenvol-vido pelo Imazon revela que para en-tender e influenciar a exploração dosrecursos naturais, um grupo de pes-quisadores precisa de dedicação in-tegral ao assunto, por um período su-perior a cinco anos, realizando estu-dos multidisciplinares. Além disso, osresultados de seus trabalhos precisamser divulgados em formato atrativo evariado: manuais, filmes, dias de cam-po, artigos populares e cursos, alémdas publicações científicas.

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Pesquisas Integradas na Amazônia

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INTRODUÇÃO

A Amazônia Brasileira possui bi-lhões de metros cúbicos de madeira dealta qualidade. Depois de serrado, essevolume pode valer trilhões de dólares.Com essa riqueza, é comum considerara atividade florestal como a vocação na-tural da região (Pandolfo, 1974). Defato, mais da metade da madeira em toraconsumida atualmente no Brasil vem daAmazônia. E espera-se que essa deman-da interna cresça ainda mais (Veríssimoet al., 1992). O consumo externo de ma-deira amazônica, apesar de ainda peque-no, também deverá crescer à medida queos estoques de madeira da Ásia entremem declínio. O Brasil, que possui umterço das florestas tropicais do mundo,encontra-se bem posicionado para do-minar o comércio internacional de ma-deira tropical no século XXI. No entan-to, na Amazônia, assim como em qual-quer lugar nos trópicos, a extração demadeira é feita de forma descuidada,causando impactos significativos sobrea floresta, levando a perdas severas nodossel da mata, ao aumento da propen-são a incêndios e à invasão de cipós egramíneas (Uhl e Kauffman, 1990;Veríssimo et al., 1992; Johnson eCabarle, 1993; Pinard et al., 1995). So-mente em raros casos as florestas naAmazônia Brasileira estão sendo mane-jadas de maneira auto-sustentada para aprodução de madeira.

Embora milhões de dólares sejamdirecionados a cada ano para a pesqui-sa florestal na região amazônica por

agências internacionais de desenvolvi-mento, governos e fundações filantró-picas, somente uma fração desses in-vestimentos está produzindo a informa-ção necessária para a compreensão e re-solução do problema do setor florestal.Numa revisão dos estudos relacionadoscom a atividade florestal na Amazôniabrasileira, encontrou-se que somente3% dos trabalhos abordavam o manejoflorestal, que unicamente 1% examina-va as práticas de extração e que estu-dos econômicos e sobre políticas flo-restais eram praticamente inexistentes(Weaver, 1991).

O objetivo deste artigo é apresen-tar os tipos de pesquisa que temos rea-lizado e seus resultados, o que julga-mos essencial para o desenvolvimentode melhores formas de manejar as flo-restas na Amazônia.

Inicialmente, resumiremos os re-sultados dos estudos de caso que mos-tram o que fazem os extratores e as in-dústrias madeireiras, onde se localizamas atividades e quais são seus impac-tos sociais, econômicos e ambientais.Nesta etapa, foram identificados cincopadrões de exploração de acordo como tipo de floresta, presença ou não deespécies de alto valor, opção de trans-porte, mercado, aspectos da sócio-eco-nomia e disponibilidade de capital.Num segundo momento, discutiremoscomo os resultados dos estudos de casopodem ser usados para desenvolver mo-delos de previsão da expansão da ati-vidade madeireira.

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Uhl et al.

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Finalmente, as práticas efetivasde manejo e políticas florestais sãodiscutidas. Os estudos aplicados sobremanejo florestal foram realizados parademonstrar as técnicas, a viabilidadeeconômica e os benefícios ambientaisdo manejo. Através desses estudos,por exemplo, podemos constatar quea drástica diminuição dos desperdíci-os e danos na floresta podem reduziro ciclo de corte da madeira de 70-100anos, sem manejo, para 30-40 anoscom manejo.

Quanto às políticas florestais,conduzimos um estudo de zoneamen-to florestal no Estado do Pará. Mapasde vegetação, de áreas prioritáriaspara a conservação, de terras protegi-das (terras indígenas, terras militarese unidades de conservação), de trans-

porte e de localização dos centros ma-deireiros foram analisados em um Sis-tema de Informação Geográfica (SIG).Dessa maneira, discriminamos as áre-as que deveriam ser protegidas da ex-ploração e as áreas onde a exploraçãopoderia ocorrer.

Outro instrumento de ação polí-tica para o desenvolvimento do setormadeireiro é o seu monitoramento.Atualmente, as leis florestais são malelaboradas e de execução e fiscaliza-ção complexas. O resultado é um se-tor operando praticamente livre de res-trições legais. Para abordar essa ques-tão, sugerimos um projeto piloto demonitoramento florestal a ser inicia-do em parceria com os órgãos públi-cos de gerenciamento ambiental.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

padrões. Detectar esses padrões exigiua combinação de investigações amplase estudos de caso realizados de formaintensiva e multidisciplinar (Uhl et al.,1991, Veríssimo et al., 1992, 1995; eBarros e Uhl, 1995).

Os fatores que influenciam asações da indústria madeireira incluema composição de espécies da florestado local (especialmente a presença deespécies valiosas), as opções de trans-porte (por exemplo, fluvial ou terres-tre), as opções de comercialização (porexemplo, mercado interno ou externo),os sistemas sócio-econômicos locais(sistema de aviamento ou economia demercado moderna) e à disponibilida-de de capital. No Pará, que concentraa maior parte da produção madeireirada Amazônia, o papel desses fatores éevidente, como atestam os cinco pa-drões de exploração descritos a seguir(Figura 1).

Florestas de Várzea

Dois padrões de exploraçãomadeireira ocorrem nas florestas devárzea (Tabela 1). O primeiro, envol-ve a exploração da virola (Virolasurinamensis/Rol./Warb.) e é alta-mente seletivo, com 1-2 indivíduosextraídos por hectare. Os moradoresdo local derrubam e cortam as árvorescom machados e transportam as torasboiando para fora da floresta, duranteo período das cheias. Os impactos

O setor madeireiro tem crescidorapidamente na Amazônia por diver-sas razões. A razão mais evidente sãoas estradas. O governo brasileiro abriuo acesso à Amazônia nos anos 60 e 70através de grandes programas de co-lonização e de construção de estradas.As estradas (por exemplo, Belém-Brasília, Transamazônica e Cuiabá-Santarém) são áreas de concentraçãoda exploração e representam um gran-de subsídio para a indústria madeirei-ra. Segundo, o esgotamento dos esto-ques de madeira dura do sul do Brasile o crescimento da economia nacionalcriaram uma grande demanda por ma-deira na Amazônia (Veríssimo et al.,1992). Terceiro, a madeira na regiãoamazônica é abundante e disponível abaixos custos (às vezes gratuita). Issoporque muitas das terras onde a explo-ração madeireira tem ocorrido são ter-ras devolutas.

A heterogeneidade do setormadeireiro

É comum encontrar descrições dosetor madeireiro da Amazônia que tra-zem informações gerais como númerode indústrias da região e sua produçãototal, fruto de dados oficiais dos órgãosde controle ambiental. Contudo, atra-vés dos nossos trabalhos de campo,descobrimos que não existe um tendên-cia geral na indústria, mas há alguns

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Uhl et al.

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ambientais desse tipo de extração sãopequenos. Os donos das terras ou osagentes das serrarias fornecem alimen-tação, suprimentos e dinheiro em trocadas toras. Essas relações contratuaissão similares às da comercialização daborracha, no final do século XIX.

Esse sistema de exploração se ex-pandiu porque a virola tem sido abun-dante ao longo do rio Amazonas, oscustos do transporte fluvial são baixose o sistema sócio-econômico de avia-mento já existia e, portanto, pôde serfacilmente revitalizado.

Recentemente, uma segunda práti-ca de exploração bastante intensiva temse tornado comum na várzea. Nesse mo-delo, as pessoas do local, normalmentetrabalhando em grupos de dois ou três

indivíduos, cortam as árvores e as levamboiando presas a canoas até as pequenasserrarias familiares da redondeza. Umaserraria típica da várzea do estuário é bas-tante rudimentar, consistindo em umgalpão de madeira coberto com palha euma serra circular de 40 a 50 polegadas.O próprio motor do barco familiar écomumente utilizado para acionar a ser-ra. Barros e Uhl (1995) encontraramaproximadamente 1.000 dessas pequenasserrarias no estuário do Amazonas. Sen-do pequenas, essas serrarias se especi-alizaram em toras entre 20 cm e 45 cmde diâmetro e trabalham com mais oumenos 50 espécies. Assim, depois de al-guns anos, dezenas de árvores são remo-vidas de cada hectare, levando a um em-pobrecimento significativo da floresta.

Figura 1. Padrões da exploração madeireira no Estado do Pará: a exploração davárzea é concentrada no estuário do rio Amazonas; a exploração de terra firmegeralmente acontece ao longo das rodovias governamentais; e a exploração demogno é uma exceção, atingindo áreas distantes das vias de acesso tradicionais,devido ao seu alto valor.

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Esse tipo de extração de alto im-pacto na várzea tem se tornado impor-tante devido à: 1) crescente demandapor madeira descartável para constru-ção civil em cidades grandes e peque-nas da Amazônia Oriental; 2) força detrabalho local capaz de retirar toras dafloresta praticamente sem nenhum in-vestimento de capital; e 3) capacidadede se utilizar os motores dos pequenosbarcos familiares para acionar as ser-

Tabela1. Características dos cinco padrões de exploração madeireira na AmazôniaOriental no início da década de 90.

ras circulares a baixo custo (Tabela 1).Em geral, as florestas de várzea

são particularmente promissoras para aprodução de madeira com manejo flo-restal. Isso ocorre porque elas são sim-ples floristicamente (em comparaçãocom florestas de terra firme) e, mesmoassim, têm um bom estoque de madei-ra. Além disso, as árvores crescem maisrapidamente no solo fértil da várzea doque na maioria das áreas de terra firme.

N°indivíduos

extraídos/ha

1-2

>10

<1

1-3

5-10

Sistemasócio-econômico

Aviamento � População localextrai madeira manualmenteem troca de víveres. Grandesindústrias fazem o processa-mento. Produto final tipo ex-portação.

Pequenas serrarias � Mora-dores loca is extraem e pro-ce s sam made i r a de ba i xovalor em serrar ias fami l ia-res com serra-circular. Produ-to f ina l de ba ixa qual idade,uti l izado para construção re-gional de baixa renda.

Grandes Negócios � Indústri-as diversificadas e bem capi-ta l izadas. Produto f ina l t ipoexportação.

Empresa Familiar � Famíliasde fora da região com préviaexperiência no setor madeirei-ro. Colonos envolvidos na ex-tração e às vezes no transpor-tes das toras. Produto f ina lpara o mercado doméstico.

Empresa � Indústrias verticali-zadas. Maior ia da produçãodestinada ao mercado domés-tico. Exportações crescentes.

N°espéciesextraídas

1-2

50-100

1

5-15

100-200

Seletividadeda

exploração

al tamenteselet iva

intensiva

Altamenteselet iva

selet iva

intensiva

Modelo

1. Várzeatradicional

2. Várzeacontemporâneo

3. Terra FirmeFronteiraincipiente:construção deestradas eextração demadeira devalor.

4. Terra FirmeNova fronteira:Infra-estruturamodesta .

5. Terra FirmeVelhafronteira:bom acesso einfra-estrutura.

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Uhl et al.

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Finalmente, a exploração madeireira navárzea resulta em danos menores à flo-resta do que em terra firme, uma vezque as árvores são retiradas da florestaflutuando, dispensando o uso de má-quinas pesadas.

Florestas de Terra Firme

Embora a exploração tenha tradi-cionalmente se concentrado na várzea,ultimamente a indústria da madeira temse expandido para as zonas interfluviaisde terra firme. Nesse outro ambiente,observamos três padrões distintos de ex-ploração: 1) exploração de baixo impac-to; 2) de impactos moderados; e 3) dealto impacto (Tabela 1).

A forma de exploração de baixoimpacto mais divulgada é a do mogno(Swietenia macrophylla King), uma es-pécie de valor excepcionalmente altoque ocorre no sul do Pará (Figura 1).Nessa região, as companhias madeirei-ras têm aberto estradas que se esten-dem por distâncias de até 500 km parao interior da floresta. Embora máqui-nas pesadas sejam utilizadas na cons-trução dessas estradas e dos ramais dearraste, os danos causados à florestasão pequenos, devido ao padrão de dis-tribuição altamente disperso das árvo-res adultas de mogno. Árvores de mog-no são geralmente restritas às áreasbaixas e, mesmo nessas zonas, fre-qüentemente ocorrem com uma densi-dade de um ou dois indivíduos adultospor hectare (Veríssimo et al., 1995).

Num estudo recente, Veríssimo etal., (1995) descobriram que somentepouco mais de 20 serrarias são respon-

sáveis por 90% do mogno extraído nosul do Pará, com lucros anuais que mui-tas vezes ultrapassam um milhão de dó-lares. Esse padrão de exploração ma-deireira ilustra que quando companhi-as madeireiras têm capital podem es-tender a rede de estradas por centenasde qui lômetros f loresta adentro,contanto que possam encontrar madei-ras de alto valor. Essa infra-estruturarudimentar de estradas e pontes cons-truídas por madeireiros é muitas vezeso primeiro passo para a conversão deflorestas em áreas agrícolas e pasto.

A melhoria da infra-estruturaestá freqüentemente associada a prá-ticas mais agressivas de exploração.Por exemplo, uma exploração de im-pacto moderado ocorre nas áreas decolonização oficial, onde a constru-ção de estradas financiada pelo go-verno é recente, como ao longo darodovia PA-150 (asfaltada nos anos80) e da Transamazônica (Figura 1).Nessas áreas, as condições para o rá-pido crescimento do setor madeireiroestão presentes, mesmo que espéciesde alto valor, como o mogno, estejamausentes. A madeira está disponívelperto das estradas, e os colonos, as-sim que chegam e convertem a flores-ta em áreas para agropecuária, su-prem as serrarias familiares da redon-deza com toras a baixo preço. Fre-qüentemente, são os próprios colonosque fazem a extração e negociam comos caminhoneiros para transportar astoras até as serrarias (Uhl et al. ,1991). Somente algumas árvores sãoremovidas por hectare — aquelas deespécies com maior demanda e com

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o melhor formato. Esse modelo (Ta-bela 1) ilustra que, na ausência deuma espécie de valor realmente alto,a exploração madeireira de terra fir-me começa somente depois que o Es-tado abre estradas. Trata-se então deuma variedade de “atores” (pequenosproprietários, caminhoneiros e donosde serrarias) que reúnem seus talen-tos, capital e força de trabalho neces-sários para criar um setor local deprodutos madeireiros.

Finalmente, mesmo que a indús-tria madeireira de terra firme tenha co-meçado explorando somente uma es-pécie (baixo impacto) ou algumas es-pécies (impacto moderado), isso mudaà medida que a fronteira se estabelecee a infra-estrutura e o acesso ao mer-cado melhoram. Por exemplo, no an-tigo centro de extração madeireira deParagominas, na rodovia Belém-Brasília (construída nos anos 60), ascompanhias madeireiras usam atual-mente tratores de esteira para extrairmais de cem espécies de árvores (5-10 indivíduos por ha) (Figura 1). Osexploradores de madeira com mais su-cesso acumularam capital gradualmen-te e foram verticalizando suas indús-trias, iniciando com a participação nasoperações de extração. Com o tempo,estas companhias passaram a estabe-lecer contato com compradores inter-nacionais e começaram a exportar umaparcela da sua produção.

Os impactos ambientais desse es-tilo agressivo de exploração madeirei-ra são significativos: aproximadamen-te 30 árvores com mais de 10 cm dediâmetro são danificadas para cada ár-

vore extraída, e a cobertura do dosselda floresta é, geralmente, reduzida de80% - 90%, em florestas não explora-das, para 50%, após a exploração (Uhle Vieira, 1989; Veríssimo et al., 1992).

Fatores que afetam aexpansão da exploraçãomadeireira

Vimos que os atores do setor deprodutos madeireiros na Amazônia res-pondem a diferenças no valor da ma-deira, à presença de estradas, à dispo-nibilidade de capital e a fatores histó-ricos-culturais (Tabela 1). O conheci-mento dos vários padrões dentro dosetor madeireiro nos permite predizercomo a indústria deve evoluir e comoela pode responder a uma crescenteescassez de madeira.

Atualmente, 13 milhões de metroscubicos de madeira em tora são extraí-dos anualmente no Pará, atingindo umaárea de 5.200 km2 de florestas (Imazon,base de dados). Enquanto isso, a eco-nomia brasileira tem uma previsão decrescimento de 5% ao ano no períodode 1995-2005. Se o setor madeireiro daAmazônia experimentar esse índice decrescimento, os madeireiros estarão re-movendo mais madeira do Pará (“capi-tal”) do que estaria sendo reposto (atra-vés de crescimento natural), e a madei-ra tornar-se-ía escassa em muitas partesdo Estado.

Uma resposta à diminuição dosestoques de madeira poderia acontecerrapidamente na várzea. Por exemplo,se a madeira se tornar escassa e os pre-

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ços de madeira serrada subirem, peque-nas serrarias (indústrias familiares) po-deriam se estabelecer, em grande nú-mero e com grande rapidez, não so-mente no estuário, mas também em áre-as mais remotas, como ocorreu em pas-sado recente. Em terra firme, à medidaque os custos da exploração madeirei-ra aumentarem, por causa de despesascrescentes associadas ao transporte delonga distância de toras, o atrativo eco-nômico da exploração por via fluvialpode se tornar determinante para as

grandes companhias (Barros e Uhl,1995). As margens do rio Amazonaspodem ser atraentes para indústriasmadeireiras por causa do baixo custoda madeira em tora, da disponibilida-de de mão-de-obra barata, dos baixoscustos com transporte e do fácil aces-so ao mercado internacional. Portan-to, se as forças do mercado operaremsozinhas, é possível que no futuro pró-ximo muitas companhias madeireirasgrandes venham a se estabelecer nes-sa região (Figura 2).

Figura 2. Expansão da exploração madeireira na Amazônia Brasi leira.Esquerda: a exploração da várzea tem condições de seguir o Amazonas acima.Direita: os exploradores mais capitalizados estão aptos para transferir suasoperações para o interior da floresta (mais perto do estoque de madeira).

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Enquanto isso, algumas partes deterra firme já estariam completamenteexploradas. Por exemplo, em passadorecente havia madeira a poucos quilô-metros de cidades como Paragominase Marabá (Figura 1). Com o tempo, osdonos das serrarias tiveram que se des-locar para mais longe, no intuito deconseguir madeira, pagando a mais porisso. À medida que os suprimentos demadeira forem se esgotando perto dasestradas construídas pelo governo, ascompanhias de terra firme mais aptas asobreviver serão aquelas que tiveremcapital para construir estradas, adqui-rir florestas e praticar sua própria ex-ploração. Em meados dos anos 90, ascompanhias de terra firme mais capita-lizadas começaram a comprar seus pró-prios pedaços de floresta virgem e des-locaram suas operações para essas áre-as (Figura 2). Isso mostra o primeirosinal claro de uma crise de suprimentode matéria-prima nas velhas fronteirasde terra firme. Os operadores com me-nos sucesso nessas velhas fronteiras (ouseja, aqueles com capital limitado) po-derão abandonar a exploração da ma-deira ou se estabelecer em áreas de flo-resta virgem, ao longo de novas rodo-vias construídas pelo governo, parapraticar uma exploração mais seletiva(Tabela 1), reiniciando o mesmo ciclo.

Após termos nos dedicado à des-crição dos cenários da indústria madei-reira, estamos desenvolvendo um mode-lo baseado em SIG (Sistema de Infor-mação Geográfica) que permite previ-sões sobre a expansão do setor madei-reiro numa série de cenários econômi-cos e políticos (S. Stone e A. Veríssimo,

não publicado). Portanto, em breve, serápossível predizer, em termos explicita-mente espaciais, de que maneira aspec-tos como preços da madeira, novas ro-dovias, novas fontes de energia (porexemplo, hidrelétricas) ou impostos po-dem influenciar o setor madeireiro naAmazônia.

As melhores formas de manejoe de monitoramento daatividade madeireira

Promover a atividade florestal naAmazônia Oriental requer mais do queuma caracterização acurada do setormadeireiro e modelos que possam an-tecipar possibilidades futuras, face a di-ferentes condições políticas e econômi-cas. Especificamente, há uma clara ne-cessidade de informação empírica so-bre práticas florestais e sobre técnicasde controle e monitoramento da ativi-dade para influenciar as condições decrescimento do setor.

Como manejar a floresta?

Embora as florestas de várzea te-nham um grande potencial madeireiro,limitaremos a nossa discurssão sobre as“melhores” práticas de manejo em ter-ra firme devido à predominância destetipo de floresta.

As práticas atuais de exploraçãoem terra firme podem ser caracterizadasmais corretamente como operações de“garimpo florestal” (Figura 3). Inicial-mente, os madeireiros entram na flores-

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ta para retirar as espécies de alto valor(poucos indivíduos por hectare). Se essafloresta explorada pudesse se recuperar,a cobertura do dossel e o estoque de ma-deira retornariam naturalmente às mes-mas condições de antes da extração (ain-da que, quase certamente, houvesse pe-quenas mudanças na composição das es-pécies). No entanto, os madeireiros nor-malmente voltam a entrar nas áreas ex-ploradas em intervalos curtos para reti-rar indivíduos menores de certas espé-cies de alto valor. Isso resulta na aber-tura de novas estradas e trilhas de ar-raste e, conseqüentemente, na deterio-ração ainda maior da floresta. Além dis-so, os cipós são freqüentemente favore-cidos pelas perturbações ecológicas cau-sa das pela exploração madeireira. Es-ses cipós podem formar uma grossa co-

bertura no dossel, fazendo um densosombreamento no sub-bosque, sobre-carregando as árvores jovens e, ainda,causando deformidades no seu tronco.O fogo é também um impedimento paraa recuperação de florestas exploradas.Essas áreas são ambientes ricos emcombustível (galhos quebrados e dani-ficados). A abertura do dossel e o au-mento da quantidade de radiação queatinge o chão da floresta podem fazeresse material secar, deixando-o prontopara ignição durante os períodos de seca(Uhl e Kauffman, 1990). O resultadofinal é um ecossistema altamente degra-dado que perdeu suas características. Defato, a exploração madeireira na Ama-zônia Oriental, da maneira em que seapresenta atualmente, é um passo em di-reção ao desmatamento.

Figura 3. Alto: exploração tradicional de madeira, que leva à degradação da floresta.Baixo: exploração alternativa de madeira com manejo, a qual inclui inventário,planejamento das atividades de extração e tratamentos silviculturais.

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Não é de se surpreender que fal-te uma abordagem cuidadosa para ex-plorar madeira na Amazônia Oriental.A própria abundância de recursos ma-deireiros significa que a madeira ésubvalorizada e, portanto, utilizada semcuidados. O manejo florestal requer queos usuários da terra adotem uma pers-pectiva de longo prazo e que manejemsuas propriedades para atingir um “flu-xo de caixa” sustentável de abasteci-mento de madeira. No entanto, nasfronteiras econômicas onde ocorremciclos marcantes de desenvolvimento ecrise, freqüentemente, há uma menta-lidade de que o recurso florestal é gra-tuito para todos. Essa mentalidade im-pede que os ocupantes dessas áreas re-sistam à tentação de liquidar rapida-mente seus recursos florestais.

Ainda assim, a informação acu-mulada sobre o manejo florestal mos-tra que é possível manejar essas flores-tas. Em 1990, o Imazon começou a sededicar a fornecer informações sobrea melhor forma de extração e sobre prá-ticas silviculturais pós-extração. O tra-balho foi conduzido em Paragominas,na propriedade de uma serraria local,em duas parcelas vizinhas — uma su-jeita a práticas típicas de exploração ea outra sob regime de manejo florestal.O objetivo desse esforço foi avaliar oscustos econômicos e ecológicos e osbenefícios da exploração de madeiraplanejada em relação à não planejada.

A pesquisa demonstrou que háseis vantagens importantes da explora-ção com manejo florestal (Figura 4).Primeiro, o inventário florestal e omapeamento das árvores a serem ex-

traídas, das estradas, dos ramais e dospátios de estocagem, conduzidos antesda exploração, resultam numa signifi-cativa redução de desperdícios. Emoperações típicas, uma ou duas árvo-res por hectare (chegando a quase 7 m3)são derrubadas mas nunca encontradaspelos operadores do Skidder. Por suavez, nas operações planejadas, todas astrilhas de arraste são marcadas combandeiras e os operadores de Skidderssão guiados por mateiros treinados. As-sim, o desperdício de se cortar mas nãoretirar a madeira é eliminado.

Segundo, o planejamento cuida-doso dos movimentos da máquina re-sulta numa redução de 25% de área dechão afetada, comparado com a explo-ração não manejada.

Terceiro, o corte de cipós, con-duzido dois anos antes da exploração,resulta numa redução de 30% dos da-nos causados às árvores remanescen-tes (com mais de 10 cm de diâmetro)durante as operações de corte (Johnset al., 1996). Sem o corte de cipós, asoperações de extração resultam em da-nos severos nas árvores do sub-bosque(ligadas às copas das árvores maiorespelos cipós) que, em outras situações,poderiam estar disponíveis para umaextração futura.

Observamos também que os ex-tratores experientes são capazes de re-duzir a um terço as perdas relaciona-das à derrubada das árvores e traça-mento das toras nas operações plane-jadas (Figura 4). Isso é possivel atra-vés de cortes mais próximos do chão.No caso de rachaduras, é possível re-duzi-las através de técnicas corretas de

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corte. Além disso, o tempo de operaçãoda máquina foi reduzido em 20% na ope-ração planejada em comparação com anão planejada. Isso porque todas as tri-lhas do Skidder estavam previamentemarcadas com bandeirinhas, permitin-do que seus operadores fossem guiados

rapidamente para as árvores derrubadas.Finalmente, o anelamento para matar ár-vores indesejáveis para a exploraçãomadeireira permitiu um aumento signi-ficativo do espaço de crescimento dosindivíduos escolhidos para futuros cor-tes (Figura 4).

Figura 4. Etapas e benefícios do manejo florestal.

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Obviamente, uma exploraçãomadeireira manejada, com inventárioflorestal, corte de cipós e planejamen-to cuidadoso, tem um custo adicional(por volta de US$ 72/ha). No entan-to, as perdas com a utilização poucoeficiente dos equipamentos e o desper-dício de madeira das operações nãoplanejadas são maiores que os custosadicionais associados à exploraçãomadeireira planejada. Portanto, os cus-tos do manejo florestal podem ser aba-tidos com o aumento da eficiência daexploração. Além disso, existe a pos-sibilidade de que produtos não-madei-reiros, como óleos, frutas e resinas,também se jam comerc ia l i zados,incrementando os retornos do manejoflorestal.

Uma das descobertas mais impor-tantes sobre o manejo está relacionadaaos ciclos de corte. A implementaçãodas técnicas de exploração seletiva demadeira, de baixo impacto e com tra-tos silviculturais, aqui descritas, podemreduzir os ciclos de corte pela metade,de 70-100 anos (sem manejo) para 30-40 anos (com manejo) (Barreto et al.,1993). O manejo florestal pode resul-tar numa duplicação da produção emdiversas situações, e, nesses casos,algumas serrarias precisariam da me-tade da área de floresta que utilizamhoje para suprir suas necessidades dematéria-prima. Contudo, a composi-ção da floresta para os futuros cortespode mudar e alterar sua produtivi-dade. Isso pode ser evitado com a ma-nutenção de populações saudáveis deárvores matrizes das espécies comer-ciais nas áreas de exploração.

Finalmente, os estudos doImazon revelam que um acréscimo naeficiência das serrarias reduziria aindamais a quantidade de floresta necessá-ria para os níveis atuais de produçãode madeira. No momento, somente umterço de cada tora extraída é transfor-mada em produtos serrados. Entretan-to, a eficiência no processamento po-deria aumentar em 50% através demelhorias na manutenção de equipa-mentos e de treinamento de mão-de-obra (J. Gerwing, comunicação pesso-al). Se isso fosse feito juntamente como manejo florestal, conforme descritoacima, as companhias precisariam desomente um terço das áreas de florestaque hoje utilizam para produzir a mes-ma quantidade de madeira serrada.

Os resultados desses estudos so-bre manejo florestal estão sendo publi-cados em periódicos convencionais depesquisa (Barreto et al., 1993; Johnset al., 1996). Contudo, os mais interes-sados receptores dessa informação sãoos atores de setor florestal e os extra-tores. Por isso, os resultados de nossaspesquisas foram compilados num ma-nual florestal especificamente direcio-nado aos madeireiros. Em geral, as pes-soas do setor madeireiro são receptivasàs informações que ajudam a aumentara eficiência do seu negócio. Os madei-reiros estão cada vez mais preocupa-dos com o futuro dos suprimentos demadeira em tora. Uma apreciaçãoacurada do valor dos recursos madei-reiros, tanto nas serrarias como na flo-resta, é um dos primeiros passos impor-tantes para as “melhores” práticas deexploração (Veja o quadro 1).

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Acreditamos que o desenvolvimento auto-sustentado do setor florestal na Ama-zônia evoluirá gradualmente ao longo do tempo e será marcado por cinco passos ouníveis de reconhecimento do valor da floresta, conforme descrito abaixo.

Nível 1: desperdício de madeira nas serrarias. Até recentemente, a madeira eraabundante e barata na Amazônia. Desse modo, havia pouca motivação para reduzir odesperdício no seu processamento. À medida que a madeira foi se tornando mais es-cassa nos velhos centros madeireiros e o seu valor aumentou, os empresários passarama prestar atenção nas sugestões para reduzir o desperdício. A preocupação com o valordo recurso é o primeiro passo em direção a práticas mais sustentáveis de exploraçãoflorestal.

Nível 2: desperdícios nas operações madeireiras na floresta. Cerca de 7 m3 demadeira por hectare são literalmente deixados para trás na floresta. Isso porque osoperadores de máquinas não conseguem localizar as árvores derrubadas. Essa é umaestatística alarmante para muitas companhias madeireiras e pode motivá-las a adotar oinventário florestal e o mapeamento das árvores a serem exploradas para evitar essaperda. Os desperdícios também estão relacionados com técnicas de derrubada, traça-mento e arraste. Muitas árvores jovens de valor comercial são danificadas desnecessa-riamente nessas operações. Levar em consideração essas técnicas é avançar um passona apreciação do valor do recurso.

Nível 3: limites dos ciclos de corte. Há uma década atrás, acreditava-se que umamesma área poderia ser explorada novamente após um período de dez anos. Recente-mente, os madeireiros mais antigos puderam observar, pela primeira vez, que isso nãoaconteceu. Os madeireiros de visão empresarial estarão prontos para adotar o manejoquando estiverem informados de que sem manejo os ciclos de corte serão superiores a70 anos, enquanto que práticas de planejamento da exploração e tratamentos silvicul-turais podem reduzir esses ciclos para 30 ou 40 anos.

Nível 4: valor dos produtos florestais não-madeireiros. Como empresários, osmadeireiros deverão perceber que a floresta tem muito mais a oferecer além da ma-deira. A riqueza florestal inclui produtos não-madeireiros - óleos, resinas, fibras,frutos, entre outros - que também podem ser manejados, aumentando a renda geradacom os investimentos do manejo da floresta.

Nível 5: serviços do ecossistema. O passo final nesta progressão é o reconheci-mento de que as florestas prestam muitos serviços valiosos para a coletividade que, noentanto, não têm valor comercial. Tais como a manutenção da hidrologia (evitando oaumento da incidência de enchentes), a proteção da biodiversidade e a estocagem decarbono (a liberação de carbono contribui para o aquecimento global).

Com a elevação do nível de reconhecimento do valor da floresta (do nível 1ao 5), deverá haver um incremento correspondente na probabilidade de manutençãoda biodiversidade regional e do desenvolvimento de atividades florestais realmenteauto-sustentadas. No caso do Pará, notamos que os madeireiros de visão empresarialcomeçaram no nível 1 e agora se encontram próximos do nível 3.

Quadro 1. Sustentabilidade: passos importantes para alcançar esta meta

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Como monitorar e controlar aexploração madeireira

Saber como manejar as florestas éimportante, mas devemos combinar esseconhecimento com: 1) regulamentosque especifiquem onde a exploração ma-deireira deve ser permitida ou proibida(zoneanento florestal); e 2) legislaçãoflorestal efetiva.

O Imazon recentemente concluiuum projeto para ajudar o governo e asociedade civil a realizarem um zone-amento das atividades florestais. Incor-poramos informações sobre as carac-terísticas da vegetação, biodiversidadee sobre as terras protegidas em um SIG(Sistema de Informação Geográfica)para o Estado do Pará. A superposiçãodesses dados espaciais forneceu argu-mentos concretos para uma discussãosobre onde a exploração madeireiradeve ser promovida ou proibida. Na fi-gura 5 temos um exemplo de zonea-mento florestal para o Pará. A explora-ção madeireira pode ser proibida emáreas com grau de endemismo/biodi-versidade de moderado a alto e em to-das as áreas indígenas e parques. Nes-se cenário, a exploração madeireira se-ria permitida em apenas 32% das ter-ras do Estado (400.000 km2). Certa-mente, outras formas de zoneamentosão possíveis. Uma aplicação do SIGcomo esta (Figura 5) oferece à socie-dade a informação necessária para quese inicie um debate sobre manejo de re-cursos naturais e conservação.

O segundo desafio na esfera decontrole e monitoramento é adotar e fa-zer respeitar uma legislação florestal sen-

sata. Atualmente, há um excesso de re-gulamentos: o corte, o plantio, o trans-porte, o processamento e a comerciali-zação, todos têm regras legais específi-cas. Porém, os objetivos dessas regrassão geralmente mal elaborados e servempara fins conflitantes (R. Kaplin, comu-nicação pessoal). Além disso, a base le-gal de muitos desses regulamentos tam-bém é questionável. Alguns têm, real-mente, status de verdadeiras leis regu-ladoras do uso dos recursos, mas outrossão portarias, instruções normativas oudecretos proclamados pelos órgãos fe-derais e estaduais ligados a questõesambientais, com legitimidade poucocomprovada. Apesar desses problemas,este tipo de debate perde muito signifi-cado por causa da fraca implementaçãode qualquer lei florestal.

No Estado do Pará, alguns órgãosgovernamentais estão dispostos a cola-borar com pesquisadores para tornarsuas ações mais efetivas. Recentemen-te, iniciamos um projeto em parceriacom a Sectam (Secretaria de Estado deCiência, Tecnologia e Meio Ambientedo Pará) e com apoio do Ibama (Institu-to Brasileiro de Meio Ambiente e Re-cursos Renováveis) para desenvolver umprotocolo simples de implementação daschamadas leis florestais estratégicas.Esse estudo inclui considerações legais(classificação das leis existentes com re-lação à sua relevância e quanto às pos-sibilidades de serem cumpridas), análi-se de políticas (por exemplo, dos efei-tos de diferentes leis sobre o comporta-mento do setor madeireiro) e investiga-ções econômicas (avaliação de custos ebenefícios de diferentes abordagens parao cumprimento da lei).

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Nesse projeto, defendemos a idéiade que há uma necessidade de simplifi-car o aparato regulatório para se fazerrespeitar a legislação. Ao invés de umcomplexo conjunto de leis de valorduvidável, largamente ignoradas, podeser mais sensato estabelecer um núme-ro bem limitado de leis de fácil imple-mentação e que, ao mesmo tempo, as-segurem o bom uso da floresta. De fato,cremos que é possível iniciar esse pro-cesso de respeito à legislação a partir deapenas uma lei, em três partes, com gran-des poderes para reduzir os abusos con-tra os recursos da Floresta Amazônica.Por exemplo, essa regra poderia ser cha-

mada de “5/30/5”. O “5” inicial refere-se ao número de árvores que poderiamser extraídas por hectare; o “30”, ao nú-mero mínimo de anos dos ciclos de cor-te; e o último “5” refere-se à largura doaceiro, que propomos que seja mantidoem volta das áreas exploradas, durantea primeira década após a exploração,para evitar incêndios no sub-bosque. Aimplementação de uma lei objetiva comoessa protegeria as áreas florestais dosfatores que são determinantes para a de-gradação da floresta: extração excessi-va (limitar a entrada na área a interva-los de 30 anos) e ocorrência de fogo(aceiros de proteção).

Figura 5. Exercício de utilização do SIG com dados decobertura vegetal, biodiversidade e áreas protegidas paradeterminar onde a exploração florestal deve ser permitidaou proibida no Estado do Pará.

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CONCLUSÃO

Neste artigo, ressaltamos as infor-mações necessárias para a utilizaçãosustentável dos recursos florestais. Em-bora acreditemos que o manejo sejapossível em termos técnicos e econô-micos, gostaríamos de enfatizar que éimprovável que se maneje a Amazôniade maneira auto-sustentada na ausên-cia de uma sociedade civil ativa e comforte representação política.

Até os dias de hoje, o governotem exercido pouca autoridade no pro-cesso de ocupação e regulamentaçãodo uso da terra na Amazônia. Contu-do, há sinais de que a sociedade brasi-leira tem se tornado melhor organiza-da e mais participativa. O crescimentorápido de organizações não-governa-mentais (ONGs) no Brasil é uma ma-nifestação de fortalecimento da socie-dade civil e da democracia. Há, agora,dezenas de ONGs trabalhando com asquestões ambientais da Amazônia emuitas estão assumindo responsabili-dades que o governo não tem preen-chido. Por exemplo, algumas ONGsestão demarcando terras indígenas ereservas extrativistas; algumas estãoidentificando crimes ambientais e pro-cessando os infratores; e ainda outrasestão produzindo informação técnica eserviços de extensão para comunidadesflorestais. Em muitos casos, as ONGsestão mostrando que os problemas po-dem ser trabalhados e resolvidos.

O caso do Imazon é instrutivo.Apreciamos que há três característicasimportantes para instituições que de-

sejam tratar de questões complexas,como as que envolvem a Amazônia.Primeiro, tratar de grandes problemasrequer tempo. No caso do Imazon, te-mos sete anos de pesquisa dedicadosao setor madeireiro e sabemos que ain-da são necessários mais alguns anosde trabalho. No caso de muitos pro-blemas ambientais, parece que são ne-cessárias de três a cinco pessoas bemtreinadas, dedicando toda a sua aten-ção por um período de cinco a dezanos para que haja progressos.

Segundo, os problemas ambientaissão multifacetados e requerem que aequipe de pesquisadores esteja dispostaa cruzar suas linhas disciplinares. Co-meçamos os nossos estudos sobre o se-tor madeireiro esperando limitar nossaatenção a questões ecológicas. Porém,logo nos demos conta de que havia osaspectos econômico, pol í t ico elegislativo a serem considerados em re-lação ao problema. Tais aspectos mere-cem tanta atenção quanto o aspecto eco-lógico. Assim, dedicamo-nos à leitura,ao estabelecimento de contatos e à bus-ca de novos talentos. A disposição parair aonde os problemas estão é essencialpara o sucesso na busca de soluções.

Finalmente, nossa meta de traba-lhar por melhores formas de uso dos re-cursos naturais na Amazônia nos mos-trou a necessidade de produzir infor-mação numa variedade de formas paraum público bem diverso (por exemplo,manuais, filmes, cursos de pequena du-ração, artigos populares e, também, ar-tigos científicos). No mundo acadêmi-co, há poucos incentivos para a comu-nicação dos achados ao público em

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geral (embora isso esteja mudando dis-cretamente). Acreditamos que estas trêscaracterísticas — dedicação de longoprazo para resolver os problemas estu-dados; reconhecimento de que os pro-blemas de utilização dos recursos sãomultifacetados, o que requer uma pers-pectiva multidisciplinar de análise; ecompromisso com a comunicação dosresultados para toda a gama de pesso-as envolvidas — são fundamentais paraa resolução de muitos problemasambientais que agora confrontam a hu-manidade.

Ainda, é importante lembrar queo governo, no Brasil ou em outros pa-íses, geralmente procura manter ostatus quo, ou seja, proteger interes-ses especiais. O governo não advogapela justiça social ou pelo meio am-biente (Zinn, 1991). Sendo assim, éimprovável que algo mude na Ama-zônia Brasileira até que a sociedadecivi l se organize e se torne maisparticipativa. Cientistas estão na po-sição única de acelerar esse proces-so. Podem fazer isso pela relevânciadas questões levantadas, pela quali-dade das investigações e pelo esfor-ço em canalizar os resultados para amídia e para a sociedade.

AGRADECIMENTOS

Gostar íamos de agradecer aJohan Zweede, Jeffrey Gerwing eJennifer Johns por compartilharem seusdados e conhecimentos conosco;Steven Stone, Danie l Nepstad,Campbell Plowden e Andy Holdsworth

pela revisão de uma das primeiras ver-sões deste artigo; Flavio Figueiredopela elaboração das f iguras; PewScholars Program in Conservation andEnvironment pelo apoio durante a pro-dução deste artigo; e ao Fundo Mundi-al para Natureza (WWF) e a W. AltonJones Foundation por apoiarem as pes-quisas aqui resumidas.

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