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RECONEXÃO PERIFERIAS REVISTA Juventude Negra na luta contra o genocídio JUVENTUDE RURAL Os grandes desafios da educação do campo no Brasil ENTREVISTA DANI MONTEIRO “Coloco no meu dia a dia a busca pelo novo” AGENDA DE LUTAS AGOSTO DE 2019 Nº 4 - AGOSTO 2019

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RECONEXÃO PERIFERIAS

REVISTA

Juventude Negra na luta contra o genocídioJUVENTUDE RURAL

Os grandes desafios da educação do campo no Brasil

ENTREVISTA DANI MONTEIRO

“Coloco no meu dia a dia a busca pelo novo”

AGENDA DE LUTAS AGOSTO DE 2019

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PROJETO RECONEXÃO PERIFERIAS DIRETOR RESPONSÁVEL ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOS COORDENADOR PAULO CÉSAR RAMOS EQUIPE JAQUELINE LIMA SANTOS, JULIANA BORGES, LÉA MARQUES, MATHEUS TANCREDO TOLEDO, SOFIA TOLEDO, VICTORIA LUSTOSA BRAGA, VILMA BOKANY COLABORADORES BEATRIZ PEREIRA DOS SANTOS, DANI MONTEIRO, EDJANE RODRIGUES, ELISEU BRAGA, LULA ROCHA, MÔNICA BUFON AUGUSTO, RAMON CHAVES EDITOR ROGÉRIO CHAVES REVISÃO CLAUDIA ANDREOTI PRODUÇÃO EDITORIAL CACO BISOL PRODUÇÃO GRÁFICA FOTO DA CAPA PAULA FRÓES / GOVBA

DIRETORIA EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO MARCIO POCHMANN (PRESIDENTE), ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOS (DIRETOR), ISABEL DOS ANJOS LEANDRO (DIRETORA), JOAQUIM CALHEIROS SORIANO (DIRETOR), ROSANA RAMOS (DIRETORA)

FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO RUA FRANCISCO CRUZ, 234 VILA MARIANA 04117-091 SÃO PAULO/SP WWW.FPABRAMO.ORG.BR

EDITORIAL

As potências renovadas

Nesta edição da revista Reconexão

Periferias, escolhemos tratar dos temas relacionados à educação e à juventude, e isto não poderia acontecer em momento mais oportuno. Em meio ao avanço das políticas de retrocesso de direitos, a educação se converteu no campo de batalhas mais conflagrado, por uma série de fatores. Entre eles, por estar na escola e nas universidades o principal instrumento de aquisição de capital simbólico para a mobilidade social. Sobretudo com as políticas de ampliação das vagas nas universidades públicas e particulares associada à política de acesso diferenciado para estudantes negros e oriundos de escola pública do ensino médio

– Prouni e a chamada política de cotas.

Outro fator importante é o grupo estudantil dos níveis médio e universitário, historicamente muito ativo na defesa da educação e de direitos como um todo, sempre com boa capacidade de mobilização e de atualização de seus repertórios de luta. As ocupações das escolas públicas dos últimos anos é uma prova disso. Assim, se antes as mobilizações estudantis eram sabidamente de classe média, atualmente já não se pode mais dizer isso, e o movimento estudantil

está cada vez mais negro e mais periférico.

Uma nova geração de estudantes formada no final do que se chama de bônus geracional – um acúmulo de pessoas na faixa etária de 15 a 29 anos, cuja proporção não mais se verá na história demográfica do país – se apresenta à cena pública da luta política com uma nova carga cultural, e faz os atores tradicionais da política se reposicionarem.

Entre os tantos desafios que nos impõem os dias que correm, há que se cele-brar os efeitos da inclusão social pela educação, que além de prover a elevação do grau de instrução de negros e pobres, também fornece os recursos simbó-licos e instrumentais para pôr em movimento a luta por emancipação.

Há que se celebrar os efeitos da inclusão social pela educação

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Lançada em 2009 a Campanha Nacional Contra o Extermínio da Juventude Negra realizou uma série de ações que buscavam mobilizar jovens negros e negras, bem como incidir junto ao poder público com vista à garantia de direitos e enfrentamento à violência

JUVENTUDE NEGRA

Na luta contra o extermínio: uma experiência de mobilização e incidência política

LULA ROCHA

LULA ROCHA É COORDENADOR DO FÓRUM NACIONAL DE JUVENTUDE NEGRA (Fonajune) E DO FÓRUM ESTADUAL DE JUVENTUDE NEGRA DO ESPÍRITO SANTO (Fejunes); PRESIDIU OS CONSELHOS ESTADUAIS DE JUVENTUDE E DOS DIREITOS HUMANOS NO ESPÍRITO SANTO. ATUALMENTE É COORDENADOR DO CÍRCULO PALMARINO/ES E DA AFIRMAÇÃO REDE DE CURSINHOS POPULARES, ALÉM DE VICE-PRESIDENTE DO INSTITUTO ELIMU. É FORMADO EM DIREITO.

Negra (Fonajune), também criado no Enjune, coube liderar esse processo e definir as ações a serem executadas pela Campanha, cujo objetivo era “propiciar um diálogo, junto à socieda-de, sobre os efeitos históricos do racismo na qualidade de vida da juventude negra brasileira e a negação dos direitos humanos a essa juventu-de, culminando muitas vezes na morte programa-da de milhares de jovens negros e negras” (Fonajune, 2009).

A luta pela vida sempre esteve na ordem do

dia para o povo negro no Brasil. No processo de organização da juventude negra não poderia ser diferente. Reunido no I Encontro Nacional da Juventude Negra (Enju-ne) – ocorrido nos dias 27 a 29 de julho de 2007, em Lauro de Freitas/BA –, o segmento definiu como tarefa central o lançamento da Campa-nha Nacional Contra o Extermínio da Juventude Negra. Ao Fórum Nacional de Juventude

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Na Campanha, foram realizadas ações locais por meio dos fóruns esta-duais, regionais e nacio-nais. Dentre as locais, des-tacaram-se as realizadas no Espírito Santo, onde o Fórum Estadual produziu vídeos, cartilhas, manifes-tos e realizou seminários, atos públicos e a Marcha Estadual Contra o Exter-mínio da Juventude, que até hoje ocorre sempre no Dia da Consciência Negra, em novembro. No âmbito regional destaca-ram-se as mobilizações chamadas de “Dia D”. Elas ocorreram em esta-dos das cinco regiões do país e mobilizaram jovens com diversas atividades – como debates, ofici-nas, marchas e festivais culturais –, sempre na perspectiva de buscar a visibilidade necessária ao tema e construir/cobrar saídas para enfrentá-lo. Já em nível nacional, a ação de destaque foi a criação do Fundo de Apoio para Pequenos Projetos às Or-ganizações Juvenis Negras “Manuel Faustino dos Santos Lira”, que visava capilarizar a Campanha através do apoio financei-ro às organizações juvenis negras para o desenvolvi-

mento de atividades em seus territórios. O nome do Fundo foi escolhido em homenagem ao jovem negro que foi um dos he-róis da Revolta dos Búzios no século XVIII, executa-do aos 18 anos, em 08 de novembro de 1799, após condenação à morte por enforcamento.

Todas essas ações foram fundamentais para subsidiar o eixo de incidência política da Campanha. Naquele momento, o Fonajune já tinha conseguido eleger como prioridade da I Conferência Nacional de Juventude, promovida pelo governo federal, em 2008, a resolução para: “Reconhecimento e aplicação, pelo poder público, transformando em políticas públicas de

juventude as resoluções do I Encontro Nacional de Juventude Negra (Enjune) sobre os Direitos da Juventude Negra, priorizando as mesmas como diretrizes étnico/raciais de/para/com as juventudes” (SNJ, 2008). Com isso, o processo de incidência buscava efetivar essa conquista arduamente alcançada e o Fórum passou a dialogar com instituições do poder público, sobretudo com as do governo federal, para cobrar o desenvolvimento de políticas que pudessem garantir direitos à juventude negra. Mais para frente, em 2013, e após um longo processo de construção, foi lançado o Plano Nacional Juventude Viva, que objetivava “reduzir e prevenir a violência contra a

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juventude negra, priorizando os territórios com os mais elevados índices de homicídios dessa parcela da população” (Seppir, 2013).

Mesmo com esse rico processo não foi possível curvar a linha da morte. Ela seguiu em ascensão nos gráficos das pesquisas sobre homicídios, ou seja, jovens negros e negras continuavam como alvos preferenciais das mortes violentas. Isso revela que os poucos avanços obtidos no âmbito da garantia de direitos não foram suficientes para tirar a

juventude negra da mira da bala.

Por isso, continua na ordem do dia a luta pela vida do povo negro neste país. Deste modo, qualquer projeto que vise transformar a socie-dade brasileira precisa

necessariamente apontar saídas concretas para a desconstrução do racis-mo e para a afirmação de que não mais os corpos negros serão submetidos à violência estrutural que historicamente garante os lucros e privilégios de uma elite branca neste país. É preciso que as forças democráticas assu-mam este princípio em suas práticas cotidianas e em seus programas. Caso contrário, erros anterio-res serão cometidos e as rupturas necessárias para a construção de um projeto de nação verdadeiramente democrático e popular não serão feitas.

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O Fórum passou a dialogar com instituições do poder público para cobrar o desenvolvimento de políticas que pudessem garantir direitos à juventude negra.

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EDUCAÇÃO

A juventude rural enfrenta os grandes desafios da educação do campo no BrasilMÔNICA BUFON AUGUSTO E EDJANE RODRIGUES

MÔNICA BUFON AUGUSTOÉ SECRETÁRIA DE JOVENS DA

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES

RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES

(Contag). AGRICULTORA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE CASTELO (ES), PRODUTORA

DE CAFÉ, SINDICALIZADA DESDE OS 18 ANOS.

EDJANE RODRIGUESÉ SECRETÁRIA DE

POLÍTICAS SOCIAIS DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL

DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E

AGRICULTORAS FAMILIARES (Contag). AGRICULTORA

FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE OURO BRANCO (AL) E ASSENTADA DO CRÉDITO

FUNDIÁRIO. FOI SECRETÁRIA NACIONAL DE JUVENTUDE

DA CUT ENTRE 2015 E 2018.

Somos oito milhões de jovens rurais no

Brasil, de acordo com o último Censo do IBGE – e esse número pode ser ainda maior, pois há um número significativo de municípios que se declaram urbanos para garantir diversos tipos de verbas e financiamentos, mas possuem caracterís-ticas rurais. Consideran-do os números oficiais, somos, portanto, quase 4% da população brasi-leira vivendo no campo, florestas e águas de nosso país. Somos cidadãos e cidadãs brasileiros(as) que têm direito à educação, conforme o que está de-terminado no Artigo 205

de nossa Constituição Federal.

Mas este dever do Estado não está sendo cumprido há muitas décadas. O campo, florestas e águas brasileiros são histori-camente negligenciados em nome de um projeto político concentrador de renda e poder, no qual a educação pública nunca foi prioridade. A educação pública do campo ainda menos, sobretudo porque desde a década de 1960 se consolida o processo de urbanização do país, fortalecendo o argumento falacioso de que não há número de pessoas sufi-ciente no meio rural para

justificar investimento em escolas, professores, cultura, esporte, lazer, tecnologia.

A cada ano, cerca de qua-tro mil escolas do campo são fechadas pelos gover-nos municipais e esta-duais, obrigando milhares de crianças e adolescentes a pegarem transportes escolares precários, em es-tradas de péssimo estado, para frequentarem as aulas nos municípios próximos, isso quando não precisam ir a pé ou de bicicleta, enfrentando sozinhos(as) dezenas de quilômetros. Esses(as) jovens, muitas vezes, são obrigados(as) a viajar por várias horas

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todos os dias, o que afeta sua saúde e desempenho escolar.

Quando chegam na escola, precisam enfren-tar ainda outro desafio. O conteúdo das escolas das sedes desses municí-pios, em sua maior parte, são voltados para temas urbanos, que em nada dialogam com a realidade que os(as) jovens da zona rural enfrentam. Trata-se de um desrespeito à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996) a qual afirma, em seu Artigo 28, que “na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino pro-moverão as adaptações necessárias à sua ade-quação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I. conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II. organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III. adequação à natureza do trabalho na zona rural”.

Se os desafios já eram grandes, o golpe à demo-cracia de 2016 e a eleição, em 2018, de um governo de ultradireita e autopro-clamado neoliberal tornam a situação da educação brasileira ainda mais difícil, principalmente pelo efeito da Emenda Constitucional 95 que congela os investi-mentos em educação por 20 anos, implementada pelo governo Temer e rea-firmada pelo governo Bol-sonaro. O governo Temer começou cortes de verbas de importantes políticas públicas que fortaleceram as populações rurais – como o Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo); o Progra-ma Nacional de Educa-ção na Reforma Agrária (Pronera); e o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciaturas em Educação do Campo (Procampo) –, assim como enfraqueceu os Institutos Federais e as Universida-des Federais instituídas no interior do Brasil – inicia-tivas dos governos popula-res de Lula e Dilma. Nos primeiros seis meses do governo de Jair Bolsonaro, o Ministério da Educação não apresentou nenhuma proposta construtiva para o

tema, apenas mais desmon-tes e cortes de verbas.

Os movimentos sociais e sindicais iniciaram a luta pela educação do campo em 1998, tendo como lema: “Educação do Cam-po: direito nosso, dever do Estado”, com raízes nos princípios da educação popular. A representação sindical da juventude rural continua organizada para resistir aos retrocessos e para lutar pelo direito à educação no campo, do campo, para o campo, pois sabe que este é um dos principais cami-nhos para uma vida digna, com desenvolvimento rural sustentável e solidário, para garantir a produção de alimentos saudáveis e preservação da cultura e meio ambiente para toda a sociedade brasileira.

Síntese: A juventude rural enfrenta a negligência his-tórica na área da educação, sofrendo com o fechamento de escolas, transportes precá-rios e conteúdos inadequados às suas realidades. O golpe à democracia e a eleição de um governo dito neoliberal aprofundam os prejuízos à educação dos(as) jovens do campo, florestas e águas do Brasil.

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OCUPAÇÕES

A primavera secundarista em retrospectivaSOFIA TOLEDO

SOFIA TOLEDOÉ ESTAGIÁRIA DO PROJETO

RECONEXÃO PERIFERIAS. PARTICIPA DA EQUIPE DA

PESQUISA “CHACINAS E A POLITIZAÇÃO DAS MORTES

NO BRASIL”. ESTUDA CIÊNCIAS SOCIAIS NA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.

No final de 2015, o governo estadual de

São Paulo declarou que iria começar um processo de realocação de estudan-tes e de fechamento de mais de 90 escolas. Na época, eu, mulher negra com 18 anos no 3º ano do ensino médio, morava no Jd. Jaqueline, periferia da zona oeste de São Paulo, e saia de casa todos os dias duas horas antes do horário de início da aula para conseguir me deslocar até a Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, a tempo de assistir a aula. Pessoalmente, essa decisão do governo faria com que eu tivesse que voltar a estudar nas escolas do meu bairro, que se asse-melhavam mais com uma cova onde descansavam as esperanças dos estudantes da periferia de um dia entrarem na faculdade. Perspectiva de continui-dade dos estudos: zero.

Em pouco tempo se iniciaram as manifesta-

ções de rua, houve muita repressão, bombas de gás, prisão de estudantes, cassetetes descontrolados atingindo o corpo daque-les e daquelas que ousa-vam fazer frente ao gover-no Alckmin. A possibilidade de diálogo e renúncia dessa decisão parecia um doce sonho distante. Já não era mais suficiente tomar as ruas e seguir as formas tradicio-nalmente conhecidas dos protestos e manifestações, pois estas não estavam fazendo surgir o efeito desejado. Foi quando a cartilha “Como ocupar seu colégio?” de estudantes

secundaristas da Argenti-na e Chile, e o conheci-mento sobre “A revolta dos pinguins” trouxe à luz outras possibilidades de ação.

O que se sucedeu foi denominado como “primavera secundarista”, com ocupações de escolas por todo o país, que logo passou a se tratar não só de uma oposição às decisões do governo, mas também aos desvios de verbas das merendas das escolas e pela necessidade de investimento nas estruturas, nos salários dos(as) professores(as) e

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de uma maior autonomia estudantil em relação às decisões que envolvem o sistema educacional como um todo. A organização interna nas ocupações seguia uma linha contra lideranças, se prezava muito pela horizontalidade, todas as decisões eram tomadas em assembleia, havia comissões (segurança, limpeza, mídia etc.) para que todos e todas pudessem contribuir igualmente durante todo processo. Além disso, a coragem dos secundaristas que constituíam a linha de frente durante os atos foi outra característica marcante, que acabou por contribuir significativamente para a diferenciação da forma de militância desses estudantes do ensino médio, que se assemelhavam a uma linha de atuação autonomista.

Após tentativas fracassadas de forçar os estudantes a desocuparem as escolas por meio de táticas como corte energia elétrica, água, gás, além das constantes ameaças de reintegração dos prédios pela Polícia Militar, a resistência do então governador acabou por ceder, assim como sua

popularidade. Mesmo com a continuidade das ocupações por motivos que perpassavam a revo-gação das propostas que incitaram o movimento, Alckmin acabou por dar o braço a torcer e voltou atrás com suas propostas. Vitória do movimento secundarista.

Pouco tempo se passou desde o florescer da primavera secundarista e, como saldo, as ocupações acabaram sendo uma escola política de formação dos(as) jovens que dela participaram. É possível afirmar que grande parte destes e destas, no contexto pós-ocupações, continuou a ser influenciada por essa linha autonomista que caracterizou o movimento, se mantendo descrente em relação aos partidos políticos e apostando em outras formas de atuação mais horizontais. Mesmo as

pessoas que adentraram as universidades acabaram por se distanciar da forma de militância do movimento estudantil universitário que é muito vinculado à estrutura política partidária, mas mantiveram a sua atuação mantendo a linha autônoma de luta e não deixaram de se mobilizar.

No contexto atual, os de-safios mudaram em parte. O homem que plantou a semente contra a qual desabrochou uma luta mobilizada e organizada dos estudantes de ensino médio, agora distribui conselhos de saúde e bem-estar ocasionalmen-te em programas da TV aberta. Mas os ataques à educação pública conti-nuam, especialmente vol-tados às universidades e institutos. Em retrospec-tiva, a primavera secunda-rista é o exemplo de uma luta que obteve sucesso no que se propôs e deixa como inspiração a von-tade latente de que mais primaveras, sejam elas secundaristas ou universi-tárias, venham a florescer ao longo desse caminho, por vezes espinhoso, da luta pela educação.

Em retrospectiva, a primavera secundarista é o exemplo de uma luta que obteve sucesso

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ENTREVISTA DANI MONTEIRO

“Coloco no meu dia a dia a busca pelo novo”PALAVRAS DE DANI MONTEIRO, DEPUTADA QUE LUTA CONTRA O FIM DAS COTAS NAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO

Inimigo confesso da educação, da cultura e

da beleza, o bolsonarismo encontra na deputada Dani Monteiro (Psol-RJ) uma adversária que reúne todos os quesitos que o irritam. No momento, a principal luta do manda-to dessa carioca nascida no Morro de São Carlos, Estácio, é barrar projeto de lei que simplesmente quer acabar com a política de cotas para negros e egressos da educação pública nas universidades estaduais do Rio de Janeiro, a despeito dos bons resultados dessa política.

Do outro lado está o autor da proposta, o deputado que se tornou famoso ao quebrar placa que home-nageava Marielle Franco e exibir a foto nas redes sociais. Um dos resultados do gesto dele foi fazer pro-liferar aos milhares placas como aquela que quebrou, exibidas com orgulho em pontos comerciais e em locais de encontro político e debate.

Dani conta um pouco desse momento da vida em entrevista. E conta sua receita para ficar com a cabeça boa nesses tempos ruins: “Acredito que a

esperança vem de forças externas a nós, vem das coletividades, dos que vieram antes de nós e dos que virão depois de nós. Nesse sentido, costumo investir uma parcela do meu tempo no autocui-dado. Procuro reservar parte do meu tempo para atividades religiosas, sou do candomblé e lá apren-di a cultuar minha fé em forma de esperança por dias melhores. Coloco no meu dia a dia a busca pelo novo, sempre busco novos

“Acredito que a esperança vem de forças externas a nós, vem das coletividades, dos que vieram antes de nós e dos que virão depois de nós”.

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artistas de rap, por exem-plo, isso me inspira e me faz crer nas juventudes”. Ao final do dia, sempre que pode, recorre aos video games para relaxar.Acompanhe:

Na edição deste mês da Revista Conexão Periferias, nosso tema é juventude e educação. Por isso, queremos iniciar esta entrevista com a per-gunta sobre a luta de seu mandato contra o projeto do governo estadual do Rio de extinguir as cotas raciais nas universidades públicas. Qual o está-gio de tramitação desse projeto? E a correlação de forças para derrubar esse ataque?

O Projeto de Lei foi apre-sentado por um deputa-do estadual do PSL na casa, Rodrigo Amorim, o mesmo que ficou conhe-cido ao expor o vídeo em que quebrava a placa em homenagem a Marielle Franco, durante a cam-panha, em 2018. Não é uma simbologia apenas, o episódio diz muito. Já distribuído para cinco comissões, o projeto de lei (PL) ainda está trami-tando na primeira delas, a

de Constituição e Justiça, que dará um parecer. Ainda deve passar pelas demais comissões antes de seguir para a discussão em plenário e posterior votação.

É importante ressaltar que no ano passado a Lei Estadual de Cotas teve sua vigência renovada por mais 10 anos após uma série de audiências nas Comissões de Ciência e Tecnologia e Educação. Naquelas audiências, os órgãos responsáveis pela sua implantação apresentaram os resultados alcançados na última década, como em relatório construído pela Procuradoria Geral do Estado e suas avaliações bienais junto às universidades. No caso da pioneira Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(Uerj), por exemplo, cuja implementação comple-tou 15 anos em 2019, a política afirmativa foi e é apontada por especialistas como um importante instrumento para reduzir a desigualdade social no Brasil. Esses resultados positivos se estendem a todas as demais institui-ções. Por isso, é constran-gedor que novos legisla-dores não busquem ter acesso a estes dados e aos seus impactos positivos para justificar sua pro-posição, o que prova que mesmo após mais de uma década, a medida, em vez de ser apoiada e come-morada como um marco que é, segue sendo alvo de preconceito.

Nossa resposta não pode ser outra senão tentar barrar esse tipo de inicia-tiva. Para isso, indo ao encontro da Lei de Cotas Raciais no ensino supe-rior, propusemos uma lei de ampliação das cotas. Nosso PL busca garantir um mínimo de 20% para negros, pardos e indígenas nos conselhos consultivos e fiscalizadores do estado, tão importantes para a nossa democracia.

“Nosso PL busca garantir um mínimo de 20% para negros, pardos e indígenas nos conselhos consultivos e fiscalizadores do estado”.

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Por fim, entendemos que nosso mandato e todos aqueles do campo democrático são um front de resistência essencial nesses tempos tão difíceis que estamos atravessando. Tanto que propusemos uma aliança com os movimentos, órgãos e entidades que, como nós, querem garantir avanços, não retrocessos. Realizamos, inclusive, através da Comissão Especial de Juventude – que presidimos –, junto com as comissões de Educação, Ciência e Tecnologia, Direitos Humanos e Combate à Discriminação, uma audiência pública sobre o tema, de forma que as vozes dos cotistas e profissionais de educação sejam ouvidas também no parlamento.

Quando falo nós, estou me referindo ao fato de que o meu mandado é uma construção coletiva. E quanto mais vozes con-seguirmos ouvir, melhor para a democracia.

A atuação das milícias no Rio de Janeiro é algo que se manifesta com cada vez mais desenvoltura.

Há informações, vindas de moradores, acadêmi-cos e até da imprensa, de que campanhas eleitorais, em áreas dominadas por milícias, só são autori-zadas para candidatos alinhados a elas. Conte um pouco como você conseguiu se eleger a despeito desse domínio criminoso.

O Rio de Janeiro vive um cenário complexo de controle territorial em que diversas organizações criminosas atuam. E quem acaba sofrendo na pele com esta realidade é, principalmente, a juven-tude negra que, por sua vez, é acuada em perife-rias e favelas. O Atlas da Violência publicado este ano mostra que 75,5% das vítimas de homicí-dio no país são negras, a maior proporção da última década.

A realidade desse segmen-to da sociedade, que não é pequeno, é a nossa prin-cipal pauta. Como eu, que nasci e fui criada em uma favela, milhares de jovens negros têm sonhos e enfrenta batalhas diá-rias. Para nos mantermos vivos, precisamos ocu-par a política. É a nossa trincheira. Não à toa, mas emblematicamente, nosso tema de campanha foi “Por Nós Mesmas”, por-que entendemos que se somos os que mais sofrem com a violência que nos mata e intimida, temos de ocupar espaços que nos permitam decidir sobre o nosso próprio futuro.

Nossa campanha foi coletiva, com pessoas que se engajavam por acredi-tarem nas mesmas pautas. Mesmo limitados, encon-tramos meios, pessoal ou virtualmente, de dialogar com a juventude.

No ano que vem haverá eleição para prefeitos e prefeitas. No Rio, qual estratégia você julga necessária e possível para enfrentar esse enorme de-safio, inclusive em virtu-de dessa quase onipotên-cia das milícias? Desafio

ENTREVISTA DANI MONTEIRO

“O Rio de Janeiro vive um cenário complexo de controle territorial em que diversas organizações criminosas atuam”.

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importante porque terá reflexos nacionais.

As estratégias ainda estão sendo construídas, tanto no Psol, partido que construo, quanto em diálogo constante com outros partidos e movi-mentos sociais.

Pensar a disputa da cidade e o enfrentamento ao avanço do conservado-rismo que, em grande medida, se alia com estas organizações criminosas é um grande e necessário desafio.

É no vácuo deixado pela ausência de políticas públicas e de combate à desigualdade que organizações criminosas como as milícias prosperam. Por isso é fundamental que seja construído um programa da esquerda junto aos movimentos sociais. Um programa que reafirme os direitos dos trabalhadores e de setores oprimidos da sociedade.

Você é representante de algumas das causas, ban-deiras e experiências mais visadas pelos ultraconser-vadores que se aninham no governo federal e por

aqueles que, entre a po-pulação, mantêm o apoio a essa agenda. Como você faz, no seu dia a dia, para manter o nível de esperança e disposição para prosseguir? Você tem alguma prática só sua – além daquelas ações de convivência coletiva tão necessárias – que te ajuda nessa difícil tarefa?

De fato, em tempos de ódio e polarização como o que vivemos atualmente, defender o óbvio pode nos custar o que nos resta da saúde mental. Acredito que a esperança vem de forças externas a nós, vem das coletividades, dos que vieram antes de nós e dos que virão depois de nós. Nesse sentido, costumo investir uma parcela do meu tempo no autocui-dado de forma integral (físico, mental e psico-

lógico). Procuro reservar parte do meu tempo para atividades religiosas, sou do candomblé e lá apren-di a cultuar minha fé em forma de esperança por dias melhores. Coloco no meu dia a dia a busca pelo novo, sempre busco novos artistas de rap, por exem-plo, isso me inspira e me faz crer nas juventudes. Se essa galera está nos corres por lá, eu vou tentar por aqui viabilizar também que mais mulheres negras e jovens tenham acesso a direitos e possam expressar seus desejos livremente.

Os debates – e embates – em plenário são exaus-tivos, mas o trabalho coletivo tanto me empolga como me comove e me empurra em direção ao que eu acredito, que é uma cidade e um estado mais vivos na solidarieda-de e na igualdade. E em casa, depois de dias difíceis e de tantas voltas em pro-posições legislativas, tem sempre um jogo de video game à minha espera, da-queles das antigas (risos).

Como encorajar alguém a se mobilizar, a cobrar seus direitos, quando o medo de ser morto é real, como

“De fato, em tempos de ódio e polarização como o que vivemos atualmente, defender o óbvio pode nos custar o que nos resta da saúde mental”.

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no caso das pessoas que moram e trabalham em áreas dominadas pelas milícias?

Obviamente, há muita desconfiança e descrença. Mas o que tentamos mos-trar é que não estamos sozinhos. Nasci no Morro de São Carlos, no Estácio, onde vivi até os 12 anos de idade. E a minha expe-riência mostra que, apesar da pobreza e da precarie-dade, há também alegria e afetos compartilhados, há vizinhança cortês, há solidariedade. É preciso resguardar esses valores para enfrentar a dureza e a violência. Precisamos es-tar atentos a regras básicas

de civilidade e ao neces-sário importar-se com o outro. Em toda a minha trajetória, percebi que não importa o quanto o Estado seja militarizado, o quão forte seja esse Esta-do de exceção constante, sempre existiu e ainda existe muita resistência nos territórios. Ela se reinventa, descobre outras formas e métodos e segue existindo.

Em sua opinião, qual o caminho, ou os caminhos, para vencer as milícias?

Os caminhos certamente não são fáceis e temos muito a refletir e a apren-

der como sociedade. Mas um grande exemplo a que sempre recorro quando penso em caminhos pos-síveis nessa direção veio da atuação do deputado Marcelo Freixo, que pre-sidiu a CPI das Milícias, em 2008, cujo Relatório Final apresentou mais de 50 propostas. Ainda que a maioria delas nunca tenha saído do papel, houve, de certo modo, uma publi-cização do que são as mi-lícias e do quanto elas são perigosas não apenas para as favelas, mas para toda a cidade, o estado, o país.

Uma das sugestões que vieram daquele Relatório previa a criação de uma

ENTREVISTA DANI MONTEIRO

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Câmara de Repressão ao Crime Organizado no Estado, composta por ór-gãos especializados como Polícia Civil, Ministério Público e Judiciário, o que ainda acredito ser algo pelo que se deva lutar para enfrentar esse grave problema. Também a própria reflexão sobre o acesso a preços populares à televisão por assinatura, assim como a modificação no sistema de distribuição de gás, com cadastramen-to dos revendedores de botijões de gás e fiscali-zação dos locais de venda ao consumidor, além da criação de um sistema de identificação nos botijões são iniciativas que podem ajudar a “secar” a fonte econômica desses grupos criminosos.

São medidas, obviamente, que demandam a articulação do poder público em diversos níveis e, portanto, vontade política dos diferentes níveis de governo. No parlamento, cabe a nós mantermos a pressão constante para a efetivação dessas políticas.

A tomada de decisões quando se trabalha na ló-

gica de mandato coletivo é mais difícil, mais lenta?

De forma alguma. Nossa experiência de mandato coletivo mostra justamen-te o oposto. Construir coletivamente, com auto-nomia e responsabilidade é construir um terreno fértil para o surgimento de novas ideias e também para que se tomem deci-sões mais maduras, mais pensadas. Para nós, a ideia de mandato coletivo se es-tende inclusive para além dos assessores. Por isso, temos trabalhado para ampliar a participação popular, seja através do recebimento de sugestões de proposições políticas on-line ou através da par-ticipação de voluntários e voluntárias, que nos aju-dam em pesquisas além de reflexões. É uma turma que nos traz dados e nos

revela o que acontece em todos os cantos do estado. É uma mobilização entu-siasta e também compro-metida. Estarmos à frente da Comissão Especial de Juventude, um pleito nosso e inédito na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), também nos ajuda a fazer mapeamentos de realida-des e a buscar alternativas para essa faixa etária mais especificamente.

Conte-nos um pouco sobre como é o tratamen-to recebido por você por parte dos deputados esta-duais de outros partidos e concepções políticas.

Esses primeiros meses me mostraram que a Casa do Povo não está adaptada para receber o povo em sua diversidade. O parla-mento ainda é um espaço majoritariamente branco e masculino. O rosto de uma mulher jovem e negra é habitualmente, por vício e por preconceito, associado a outros espaços e a outras funções. Com relação aos meus colegas deputados, nos tratamos bem quan-do se trata do cotidiano parlamentar, nossas discor-dâncias se restringem ao campo ideológico.

“Não importa o quanto o Estado seja militarizado, o quão forte seja, sempre existiu e ainda existe muita resistência nos territórios”.

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A face política da violência no BrasilJULIANA BORGES E SOFIA TOLEDO

JULIANA BORGES É CONSULTORA DO PROJETO

RECONEXÃO PERIFERIAS NO EIXO TEMÁTICO VIOLÊNCIA.

ESTUDA SOCIOLOGIA E POLÍTICA NA FESPSP. COMO

ESCRITORA, É AUTORA DE “ENCARCERAMENTO EM

MASSA”, DA COLEÇÃO FEMINISMOS PLURAIS (SELO

SUELI CARNEIRO/PÓLEN LIVROS).

SOFIA TOLEDO É ESTAGIÁRIA DO PROJETO

RECONEXÃO PERIFERIAS. PARTICIPA DA EQUIPE DA

PESQUISA “CHACINAS E A POLITIZAÇÃO DAS MORTES

NO BRASIL”. ESTUDA CIÊNCIAS SOCIAIS NA UNIVERSIDADE

DE SÃO PAULO.

O projeto Reconexão Periferias, da Fun-

dação Perseu Abramo, apresentou há pouco os primeiros dados da pesqui-sa “Chacinas e a politiza-ção das mortes no Brasil”, compreendendo o período de 2016 a 2018. O estudo está sendo desenvolvido por uma equipe de pesqui-sadores e consultores de notório saber na área de estudos da violência, e se apresenta em um impor-tante momento no qual se discute a escalada da violência no Brasil legiti-mada em discurso explícito pelas autoridades máximas do país.

A pesquisa se desenvolve a partir da construção de um banco de dados sobre chacinas, extraído de notícias de veículos de comunicação. Isto decorre do fato de que há poucos estudos realizados até en-tão sobre o tema, além de não haver uma ação tipi-ficada juridicamente para os registros policiais, sendo expressa como “homicí-

dios múltiplos”, o que dificulta sua localização. Ainda, um dos objeti-vos da pesquisa é buscar compreender o fenômeno da violência a partir das chacinas e a politização da violência no Brasil, por ser uma ação de amplo impacto social.

Conforme Dossiê1, homônimo à pesquisa, lançado ainda este ano, “chacina” é um tipo extremo de violência, executado de modo racio-nalizado e que tem uma origem que faz emergir sua intencionalidade: a palavra advém do abate de porcos. Ou seja, a palavra exprime tanto no simbólico e nos contornos de significado que ganhou quanto na realidade ex-pressa, a ideia de massa-

cre, de carnificina. Ainda segundo o mesmo dossiê, chacinas podem, então, “ser interpretadas como mensagens públicas, com o intuito de criar medo e temor a um público mais ampliado, e uma demonstração de poder e autoridade conquistado e/ou garantido por meio de violência letal”2.

A filósofa Marilena Chaui afirma que a violência é um mito fundador da sociedade brasileira, ou seja, um fenômeno que encontra sempre novos formatos de expressão, de ideias, que se remodela incessantemente a ponto de até parecer ser outra coisa, mas que tem seu “DNA” cravado e indis-farçável. Sob esta perspec-tiva, é inegável perceber as chacinas como uma ação partícipe desta dinâmi-ca da reprodução, e até mesmo produção, da violência no país. Uma ação executada cerimo-niosamente e com inten-ções de publicização, com

1. RAMOS, P. C.; SANTOS, J. L.; SILVA, U. V. DOSSIÊ

CHACINAS E POLITIZAÇÃO DAS MORTES NO BRASIL.

SÃO PAULO: EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU

ABRAMO, 2019.

2 . IDEM, P. 13

O exercício do poder pelo medo intenciona desmobilizar, desmotivar e paralisar.

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um claro discurso e força narrativa, impondo uma mensagem pelo medo. Na pesquisa, este traço fica evidente ao constatar-se que apenas 7% dos casos estudados até aqui tive-ram alguma repercussão. Muitos podem ser os motivos para este baixo percentual de reverbera-ção, mas é inegável que, em um primeiro mo-mento, a reação social é de entender a mensagem e buscar se proteger. O corpo, ao ser uma esfera de ressignificado, no qual também são marcadas as ideologias e os discursos, também é esfera do exer-cício do controle. No caso das chacinas, ao serem

exercidas sob imensa bru-talidade e realizadas para, propositalmente, deixar vestígios, o corpo caído no chão espetacularizado é a própria mensagem que intenta o exercício do poder pelo medo.

Em estudo sobre os crimes de maio – como ficaram conhecidos uma série de assassinatos em São Paulo em maio de 2006 –, a socióloga Laura Gonçalves de Lima apresenta o “medo como contrapeso da liberda-de”. Ou seja, o exercício do poder pelo medo intenciona desmobilizar, desmotivar e paralisar. O filósofo Byung-Chul

Han, ao escrever Topolo-gia da violência, livro no qual discute as diversas concepções de violência e as transformações de seu entendimento no decurso histórico, diferen-ciará poder de violência, aproximando o primeiro do exercício da política e o segundo do completo esvaziamento do outro. Ou seja, para o filósofo, não há qualquer alterida-de na violência. Portanto, o poder que se exerce pela violência esvazia total-mente o outro, intentan-do sua completa destrui-ção. A junção do medo com a ideia violenta de apagamento se evidencia na ação das chacinas tanto

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quando analisamos esta ação a partir de disputas do mercado ilegal de drogas quanto ao analisar esta ação tendo como protagonistas grupos de extermínio formados por policiais – segundo dados da pesquisa, dos 242 casos noticiados entre 2016 e 2018: 84 tiveram como provável motivação disputas entre facções criminosas em relação ao mercado ilegal de drogas; e 51 casos possuíram par-ticipação de policiais.

Alguns dados levantados são importantes: entre 2016 e 2018 foram 1.175 vítimas de chacinas no Brasil. Os estados que lideram o ranking de vítimas são: São Paulo e Ceará, ambos com 137 vítimas. Contudo, as pri-meiras análises da pesqui-sa chamam a atenção para as diferentes dinâmicas em torno das chacinas nos estados. Ou seja, uma ação de múltiplas faces, tipos e territórios de execução. Os locais com maior incidência para a ocorrência de chacinas fo-ram: vias públicas, em 94 casos; e residências, em 87 casos. O horário preferen-cial para a execução deste

tipo de ação é o período noturno. De encontro aos dados do perfil etário das vítimas de homicídio no Brasil, 84% dos vitimados em chacinas são homens jovens, entre 16 e 29 anos, sendo que em 94% dos casos houve uso de arma de fogo.

Por fim, mas não menos importante dada a insis-tência no mito da de-mocracia racial pairando o ar brasileiro, a mídia, base dos nossos dados, não noticia o perfil racial das vítimas das chacinas, na maioria das vezes, confirmando os meios de comunicação como ferramentas eficazes para a sustentação de mecanis-mos de controle, opressão e extermínio. A filósofa Angela Davis já apontava em sua obra Estarão as prisões obsoletas?, primeira-mente lançada em inglês em 2003, chegando ao Brasil em 2018, a cen-tralidade dos meios de comunicação na susten-tação da reprodução de mecanismos de controle e da máquina punitiva nas sociedades. Ao não consi-derar raça como um fator central para noticiar um ato violento tão extremo,

que ocorre preferencial-mente em determinados territórios, com perfil tão marcante de suas vítimas e com claras mensagens sociopolíticas, a mídia acaba por aprofundar uma ideia absolutamente equivocada – e já desnu-dada por diversos estudos e pesquisas relevantes – de que viveríamos no país do “racismo cordial”. Deste modo, as consequên-cias são de aumento da mortalidade da população negra, preferencialmen-te entre jovens homens e mulheres negras, da violência como instru-mento cada vez crescente em discursos e ações e da violação de direitos.

As chacinas compõem um tipo de ação que, sem dúvida, nos dão diversos elementos para compreender em profun-didade como se engendra a violência e o racismo na sociedade brasileira. E são estes elementos que que-remos discutir com vocês em uma série de artigos que estarão presentes nas edições dos próximos meses da Revista Recone-xão Periferias. Vamos ao debate!

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Política, trabalho e cidade: a informalidade em perspectivaBEATRIZ PEREIRA DOS SANTOS E RAMÓN CHAVES

BEATRIZ PEREIRA DOS SANTOS É ADVOGADA E ASSESSORA SINDICAL, MESTRANDA EM DIREITO DO TRABALHO E DIREITO PREVIDENCIÁRIO NA UERJRAMÓN CHAVES É SOCIÓLOGO, MESTRANDO EM CIÊNCIAS SOCIAIS DA UFRRJ

como a chamam os mais próximos – abandona a escola e se torna emprega-da doméstica. O episódio marca a sua entrada no mundo do trabalho, arena na qual construirá uma trajetória marcada pelo entrecruzamento entre o informal e o ilícito.

Aos 17 anos, quando trabalhava como ven-dedora ambulante na região central da cidade, Josiane engravida de seu primeiro filho, fruto de um relacionamento casual com outro trabalhador informal. Bernardo, seu filho recém-nascido, passa os primeiros anos

Foi na garagem de um hotel desativado, no

centro do Rio de Janeiro, que realizamos uma das entrevistas da pesquisa “Informalidades”, coor-denada pela Fundação Perseu Abramo. O portão do local carrega os dizeres “o camelô é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. No interior, desenhos e palavras de or-dem em grafite se soma-vam a coloridos pedaços de chita na decoração dos muros. Ali funciona um depósito de equipamentos para trabalhadores ambu-lantes da redondeza.

Josiane, negra, 51 anos, nasceu na periferia do Rio de Janeiro, em Vila Kennedy, zona oeste da capital – uma localidade inicialmente formada por conjuntos habitacionais, cuja origem se relaciona à política de remoção de favelas praticada na cida-de durante a década de 1960. Submetido poste-riormente a processos de favelização, é neste bairro

que nossa interlocutora e seus sete irmãos cresce-ram, sob a criação rígida e cristã do pai, que provia o sustento familiar com o trabalho em um comércio próprio de frutas e ver-duras, anexo à residência. A mãe, dona de casa, se encarregava dos trabalhos de cuidado necessários à reprodução doméstica e do pequeno negócio. Em função de conflitos familiares, relacionados principalmente à moral religiosa do pai, Josiane é posta para fora de casa ainda no início da ado-lescência. Aos 14 anos, sem residência fixa, Josi –

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de vida sob o cuidado da avó materna, enquanto a mãe trabalha longas horas vendendo milho em uma barraca alugada para construir a laje no terreno da família. Pou-cos anos depois, Josiane se apaixona pelo homem com quem terá a segunda filha e “formará família”. Contrariando visões mais simplistas, Josi entra para o “mundo do crime” por meio do matrimônio: “aí minha vida puxou outro rumo, aí ele já não era mais trabalhador, aí eu já ajudava ele, e assim foi indo, assim foi indo”. O marido era um traficante de drogas que atuava no centro da cidade, em ocu-pações e prédios popula-res. Com o trabalho na “vida torta”, ele sustentará a família por aproxima-damente vinte anos, sob um cotidiano de violência doméstica, especialmente contra Josiane, e de uma educação inflexível com os filhos, a quem jamais foi permitido seguir os passos dos pais. Josi diz que não possui muitas memórias desse período, mas reclama das mar-cas das coronhadas que recebeu diversas vezes na

cabeça. Após duas déca-das vivendo neste con-texto, ela é presa, e ele, assassinado.

Novamente em liberdade, Josi reconfigura a vida com apoio da mãe, dos irmãos e de sua própria automobilização para o trabalho, voltando à condição de camelô, mas agora em outra “rua”, em outra “cidade”: o Rio de Janeiro marcado pelas obras de infraestrutura para os megaeventos internacionais entre 2012 e 2016. Depois de um período mais desbravador, em que vendia “qualquer coisa para fazer dinhei-ro”, Josi passa a trabalhar exclusivamente como vendedora de cerveja e de outras bebidas em festas e eventos que acontecem ao ar livre. Com a renda que obtém, ela constrói sua casa no terreno da mãe, onde sua filha passa a viver com seu neto. A retomada da vida como ambulante lhe permitiu também adquirir parte

dos instrumentos neces-sários para o trabalho. Hoje, Josi possui dois triciclos, uma prancha e vários isopores que utiliza para a venda de bebi-das. A condição atual de camelô possibilita que Josi more em um imóvel pequeno na região central do Rio de Janeiro, em uma configuração distinta da que esteve habituada desde que saiu da casa dos pais. Entretanto, em que pesem as “mobilidades laterais”, a dificuldade para manter o aluguel em dia, narrada por Josiane, revela uma das caracte-rísticas mais sensíveis da instabilidade do trabalho por conta própria. Os relatos sobre jornadas que atravessam madrugadas sem ter acesso a banheiros e a um local para refeição também ilustram as con-dições precárias em que a atividade de ambulante transcorre – muitas vezes em espaços contíguos às principais instituições dos poderes republicanos e aos mais tecnológicos nichos do mercado de trabalho.

Por obra do acaso – e o acaso também produz

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“O camelô é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo.”

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desdobramentos socio-lógicos (diria H. Becker) – Josi entra em contato com dinâmicas políticas até então estranhas à sua vida. Em um dia de tra-balho, próximo ao fim da jornada, Josi viu pessoas que conhecia de eventos anteriores caminhando em direção à Cinelândia, uma praça muito movi-mentada no centro do Rio de Janeiro. Suspeitan-do que houvesse algum evento, ela e uma amiga que a acompanhava fica-ram “de olho” e, quando chegaram ao local, encon-traram “aquela festa ma-ravilhosa, primeiro dia da ocupação Ocupa Minc”, a ocupação do Ministério da Cultura1. Dias depois, Josi foi aceita para tra-balhar como camelô na

ocupação, lá permanecen-do até o seu desfecho – segundo ela, graças a sua preocupação em deixar o espaço limpo após o expediente e em função da amizade que mantém com outros camelôs.

Josi atribui o seu recente engajamento político à efervescência daquele am-biente: “gente que vinha e conversava, dava aula e falava, mostrava ‘as coisa’, filme que passava”. Ela começa vendendo cerveja dentro da ocupação e, mais tarde, passa a vender

caldos e outros alimentos. Uma ocupação leva a ou-tra: em breve ela venderia na ocupação do Canecão2 e, em seguida, em grandes manifestações populares. Por meio desse contato, toma conhecimento de processos e conflitos so-ciais que a levam a pensar sobre a política institu-cional do país e, a partir daí, a enquadrar politi-camente o seu cotidiano e as dinâmicas em torno de seu trabalho. Ingressa no Movimento Unido dos Camelôs (Muca), que “mexe na causa ‘dos ca-melô’”: procura organizar e defender os vendedores ambulantes da violência e arbitrariedade da Guarda Municipal fazendo pro-testos e também dialogan-do com setores da política tradicional, dos poderes instituídos e das organi-zações tradicionais dos trabalhadores.

Com o refluxo dos me-gaeventos, Josi passa, ela própria, a organizar festas de camelôs, com o obje-tivo de criar demanda de trabalho para os ambulan-tes e momentos de festa e de lazer, dando outros contornos aos sentidos da luta política, à ideia de

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1. CHAMADO DE “OCUPAMINC”, ESTA FOI UMA OCUPAÇÃO INICIADA EM 2016 NO PRÉDIO DO ANTIGO MINISTÉRIO DA CULTURA NO RIO DE JANEIRO, CONTRA A DECISÃO DO ENTÃO PRESIDENTE MICHEL TEMER DE EXTINGUIR O MINISTÉRIO DA CULTURA. OCUPAÇÕES SEMELHANTES SE ESPALHARAM PELO PAÍS E SE TORNARAM UM DOS PRINCIPAIS MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA AO GOVERNO INTERINO DE MICHEL TEMER.

2. QUANDO UMA DECISÃO JUDICIAL DETERMINOU A DESOCUPAÇÃO DO ESPAÇO DO OCUPAMINC, OS OCUPANTES SE MUDARAM PARA O PRÉDIO DO CANECÃO, UMA IMPORTANTE CASA DE SHOWS DO RIO DE JANEIRO, HOJE DESATIVADA.

“Gente que vinha e conversava, dava aula e falava, mostrava ‘as coisa’, filme que passava”

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mutirão e à conformação de coletividade. Como um dos pontos focais de uma complexa rede de proteção social, Josi cumpre um papel impor-tante junto a vários outros camelôs, atualizando o sentido de liderança po-pular por meio de ações que passam pela solidarie-dade na guarda dos ma-teriais de trabalho, pelos agenciamentos junto aos fiscais da prefeitura, pelo compartilhamento dos sentidos de injustiça e por muitos outros aspectos.

Ao lado das trajetórias de outros tantos trabalhado-res, largamente descritas e analisadas nas últimas dé-cadas por diversos pesqui-sadores, a vida de Josiane joga luz sobre as profun-das e inéditas relações

entre política, trabalho e cidade no Brasil contem-porâneo, em uma miríade de arranjos que desafiam as concepções estanques sobre o centro e a perife-ria, o formal e o informal, o legal e o ilegal, e que também colocam em evidência a maleabilidade e o rendimento da ação política e dos instrumen-tos de luta das camadas populares.

Com efeito, a implosão do trabalho regulamen-

tado, como realidade e como ambição, trans-formou os sentidos do trabalho e seus efeitos estruturantes na vida social. Em um momento histórico caracterizado pelo declínio do padrão universalista de regulação dos conflitos sociais, é ainda mais importante reconhecer que quando observada de perto, com a lupa do cotidiano, a vida do trabalhador está amal-gamada a diversas outras dimensões da experiência social. Nesse sentido, nos parece que as possibili-dades interpretativas em torno do trabalho reme-tem à capacidade de fisgar os nexos que conectam estes aspectos e confor-mam as tramas sociais nas “periferias” do capitalismo financeirizado. Tendo isso em mente, nos parece razoável supor que a “re-conexão com a periferia”, ou entre as “periferias”, passa necessariamente por elevar o nível de abstra-ção, configurando a partir de vidas individuais um novo mosaico da classe trabalhadora, e por dar consequência política-or-ganizativa a estes achados analíticos.

Quando observada de perto, com a lupa do cotidiano, a vida do trabalhador está amalgamada a diversas outras dimensões da experiência social.

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ELIZEU BRAGA

ELIZEU BRAGA NASCEU EM TACOÃ, NA BEIRA DO RIO MADEIRA, RIO QUE PASSA PELA CIDADE DE PORTO VELHO, CAPITAL DE RONDÔNIA, ONDE ELIZEU É ESCUTADOR DE HISTÓRIAS, POETA, ATOR DA BERADERA COMPANHIA DE TEATRO E AGITADOR CULTURAL DA CASA ARIGÓCA, LUGAR ONDE ACONTECEM SARAUS, OFICINAS, LIVROS, HISTÓRIAS E TROCAS DE UTOPIAS. EM 2015 PUBLICOU O LIVRO DE POEMAS CANTIGAS; EM 2016, O LIVRO DE POEMAS MORMAÇO.

a cidade não tem rimamas tem murotem promessa de progressomas nenhuma de futuroa cidade é perna aberta pra quem chega de outros mundosa cidade obedece a moda da roda dos imundosque só faz ela apodreceresconde o que de mais bonito tempotencia no agronegócio arrebentando com a terrae com quem nela se mantémcidade empresarial,corta as arvores nativas, planta palmeira imperialexpulsa os indígenas, trata o pobre como marginalaté ai tudo bem, nada de novo no frontea situação aqui é exemplo pra Belo Monteregião norte, periferia do Brasila Amazônia do teu cartão postal já se destruiufelizmente por aqui ainda existem guerreiros e guerreiras que lutame são tantos quantos os dançarinos de boi bumbábalas lhes perseguem na floresta mas só viram pauta na imprensa popularfoi por isso que fiz essa toada pra poder na base da palavraa força desses guerreiros evocare grita Corumbiara a resistência e a lutaguerra contra os latifundiáriosnotícia que os grandes meios de comunicação e o cacique do PMDB ocultaporque assim como um Marighelauma professora do movimento camponês lutoue assim como Chico Mendes uma bala em seu peito estouroue grita as comunidades na beira do Rio Madeiraque mantiveram sua fé e a tradição da cultura Beradeiraficaram em suas casas quando veio a grande alagaçãoos outros prejuízos trazidos pela destruiçãoda irresponsabilidade de projetos que produzem lucro pra outra regiãoa cidade segue explorada, colonizada, anestesiadamas sonha, sonha, sonha com seus filhos que virãonão aqueles que buscam dela a riquezamas aqueles que por ela lutarão.

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Norte AcreCafé FilosóficoEm homenagem ao Dia do Filósofo, 16 de Agosto Data: 16/08Horário: 16h às 18hLocal: R. Rio Grande do Sul, 182, Centro, Rio Branco

SeSc AcreExposição Rios InvisíveisData: 15 a 26/08Horário: 8h30 às 12h30 e 14h às 18hLocal: Salão de exposição do SeSc CentroRio Branco

AmapáBatalha do MilharalData: toda sexta-feiraHorário: 18hLocal: Praça da UPC - Bairro Brasil Novo

Movimento BN Data: toda quarta-feiraLocal: BR 156, embaixo da passarela em frente ao Brasil Novo

Batalha da Unifap Data: toda quarta-feiraLocal: Universidade federal do Amapá

Batalha do Congós Data: todo sábado Local: Pracinha da primeira avenida do bairro Congos

Batalha do teatroData: toda sexta-feiraLocal: Praça Floriano Peixoto

Batalha de RuaData: toda quinta-feiraLocal: em frente ao superfácil do novo Buritizal

Batalha do MarabaixoData: todo sábadoLocal: pracinha do Marabaixo 3

Amazonas 63º Festival Folclórico do AmazonasData: 09 a 20/08Horário: 19hLocal: Anfiteatro Ponta NegraPonta NegraManaus

Pará Projeto Ecobiblioteca Comunitária - Oficina Sobre Ervas e Plantas Medicinais Data: 24/08Horário: 13h às 17hLocal: Biblioteca Tralhoto LeitorTralhoto Leitor Mestre Apolo Sargento Bastos, 143Ilha de CaratateuaBelém

Visita ao Museu Zoobotânico Emílio Goeldi para Identificação e Reconhecimento de Plantas e Ervas MedicinaisData: 31/08

AGENDA DE AGOSTO DE 2019

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Horário: 9h às 15hLocal: Biblioteca Tralhoto LeitorTralhoto Leitor Mestre Apolo Sargento Bastos, 143Ilha de CaratateuaBelém

II Oficina Sobre Identificação e Catalogação de Obras por Cores - ministrada pela Rede Amazônia de Bibliotecas Data: 21/09Horário: 10h às 16hLocal: Biblioteca Tralhoto LeitorTralhoto Leitor Mestre Apolo Sargento Bastos, 143Ilha de CaratateuaBelém

Cine Debate do Coletivo Sapato Preto - “Rafiki” - Em Alusão ao Dia Nacional da Visibilidade LésbicaData: 29/08Horário: 18hLocal: centur – Av. Gentil Bitencourt, 650Batista CamposBelém

Rondônia Um Dia Conectado: Juventude, Cultura e Periferia - Rodas de Conversa, Oficinas e ApresentaçõesData: 17/08Horário: 9h às 23hLocal: Praça do Bairro Ronaldo AragãoPorto Velho

Roraima Teatro de rua “Retratos de uma Vida”Data: 08/09Horário: 19h30 às 20h30Local: Praça das ÁguasAv. Cap. Ene Garcez - CentroBoa Vista

TocantinsAgulhas Cenas - Tumbeiros Data: 17 e 18/08Horário: 19h às 20h15Local: Teatro SeSc Palmas TO Obs: 20 reais (inteira) e 10 reais (meia)

Nordeste

AlagoasBatucada FeministaMarcha Mundial das Mulheres AlagoasData: 08/09Horário: 18hLocal: ICHCA, Universidade Federal de Alagoas - Campus A.C. Simões(durante o Encontro de História da ufal)

BahiaRoda de CapoeiraData: 18/08Horário: 9h30Local: Praça de São Tomé de ParipeSalvador

1ª Caminhada Tembwa Ngeemba - Tempo de Paz - Povos de Terreiro contra o Racismo, a Intolerância Religiosa e em favor da Preservação Ambiental e TerritorialData: 24/08Horário: 9hLocal: Terreiro São Jorge Filho da Goméia R. Queira Deus, 78 - Portão Lauro de Freitas

Ensaio Banda Meninos da RocinhaData: 16, 23 e 30/08 Horário: 17hLocal: Pelourinho - saída da R. Gregório de MatosSalvador

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Projeto Culturas do Globo - Curso introdutório da língua inglesa - curso livreData: 20/08Horário: 19h30 às 21h30Local: Biblioteca Pública Municipal - Praça Poliesportiva, s/n, Bairro OliveiraCapim Grosso

Projeto Culturas do Globo - Curso introdutório da língua inglesa - curso livreData: 20/09Horário: 9 às 12h (Zona Rural); 14 às 17h (craS); 19:30 às 21:30 (Rede de Educação Básica)Local: Nova Fátima

Projeto Mais Renda - Curso básico de auxiliar administrativo - curso livre Data: 20/08Horário: 19h30 às 21h30Local: Biblioteca Pública Municipal - Praça Poliesportiva, s/n, Bairro Oliveira Capim Grosso

Associação Comunitária de Desenvolvimento do Candeal II - ACDC e Associação Cultural João Miúdo (ACJM) - V Semana da Igualdade Racial do Candeal: novos tempos, antigos problemas, nossas lutas - Direito à terra Quilombola Data: 28/8 a 01/09Horário: 14h às 21hLocal: Praça Nossa Senhora Aparecida, povoado de Candeal II, s/nBairro Distrito de MatinhaFeira de Santana

CearáBacurau Pré-Estreia com debate em FortalezaA sessão será seguida de um debate com a presença dos diretores, do

Secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos, e de parte do elenco do filmeData: 27/08Horário: 19h às 22hLocal: Cineteatro São Luiz Fortaleza R. Major Facundo, 500FortalezaObs: ingressos 10 reais (inteira); 5 reais (meia) - link de compra na página do evento no facebook

Maranhão XXIV Feijoada do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen BascaránData: 18/08Horário: 12hLocal: Girassol EventosR. Bahia, 1018 - LaranjeirasSão Luís

Paraíba Formatura da 16ª Turma do Curso de Formação de Juristas PopularesData: 30/08Horário: 18hLocal: Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Estado da Paraíba (Sinttel-PB)R. Rodrigues de Aquino, 290 - CentroJoão Pessoa

PernambucoColetivo Mulher Vida - Formação teórico-vivencial sobre violência doméstica, sexual e sexista e sua desconstrução Data: 23/08Horário: 16hLocal: Sede do Coletivo Mulher Vida - Av. Ministro Marcos Freire, 4263Casa CaiadaOlinda Obs: Link para inscrições no Instagram: @coletivomulhervida

AGENDA DE AGOSTO DE 2019

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PiauíX Mostra de Teatro Arte ao Alcance de TodosData: 22 a 25/08Horário: a partir das 18h do dia 22.Local: Cidade JardimTeresina

Rio Grande do Norte Batalha do PassinhoData: 17/08Horário: 14h às 20hLocal: Praça Santa Catarina Av. FlorianópolisNatal

II Sábado Literário do Museu Café FilhoData: 17/08Horário: 16h às 18h30Local: Museu Café FilhoR. da ConceiçãoNatal

SergipeAgosto Negro - A Espiritualidade Afrikana como Base da RevoluçãoData: 24/08Horário: 14hLocal: Sede do Grupo Abaô Capoeira AngolaR. Reis Lima, 193 - Bairro IndustrialAracaju

Centro-Oeste

Distrito Federal Workshop o Trabalho em Rede: Um desafio no enfrentamento à violência contra as mulheresData: 29/08 Horário: 9h às 12h

Local: Museu Vivo da Memória Candanga Via Epia Sul, SPMS, Lote DNúcleo Bandeirante Mais informações em: <www.mpdf.mp.br/eventos>

Cine Tijolada para a população em situação de ruaData: 28/08Horário: 18hLocal: Setor Comercial Sul, vizinho do Caps/ADIII na entrada da Crucilândia Central

GoiásFeira Das Minas - 11ª EdiçãoData: 18/08Horário: 16h às 21hLocal: Centro Cultural Martim CererêR. 94 A Q 18Goiânia

Mato GrossoCafé Filosófico: ‘Arquitetura Sagrada: A busca pelo eterno’Data: 14/08Horário: 14h às 17h30Local: Museu de Arte Sacra de Mato GrossoCuiabáObs: Inscrição no link disponível na página do evento no facebook

Mato Grosso do Sul 1º Street Culture - 2 Anos de Slam Campão / Rap ao VivoData: 17/08Horário: 19hLocal: Kafofo - Av. Euler de Azevedo, 370São FranciscoCampo GrandeEntrada simbólica: 2 reais por pessoa

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Sudeste

Espírito SantoGrupo de teatro Arte e Oficina - A Barca do Inferno - Peça teatralData: 31/08Horário: 19hLocal: Grupo de Teatro Arte OficinaAv. Dante Michelini, 501 (térreo)Vitória

Minas Gerais 1ª Mostra MANAData: 18/08Horário: 15h às 20hLocal: Casa de Referência da Mulher Tina Martins R. Paraíba, 641 - FuncionáriosBelo Horizonte

O Levante! Festival Internacional de Mulheres em CenaData: 9/08 a 15/08Horário: 8h às 23hBelo Horizonte

2º Slam Clube da Luta de 2019Data: 29/08Horário: 19h30 às 22h30Local: Teatro Esperança R. Aarão Reis, 542Belo Horizonte

Rio de Janeiro Tradições Afrobrasileiras - Oficinas e Feira de ExpositoresContação de Histórias Dr. Griot com Nara Barcellos e Oficina de Turbantes Afro com a Prof. de História Kiev Medeiros e a Turbanteira Lucimar Dias da SilvaData: 24/08Horário: 10h às 18hLocal: Espaço Terra Mater R. Barão de Guaratiba, 29, 22211-150Rio de Janeiro

Obs: Oficinas: 35 reais (Contação de História Dr. Griot); 20 reais (Oficina de Turbantes Afro);40 reais (pacote com as duas oficinas)Pagamento: no localInscrição: Deixe seu nome no mural da página do evento no facebook

São PauloSarau Nina Leôncio - Em MemóriaData: 24/08Horário: 19hLocal: R. Moé, 438, PenhaSão Paulo

Sarau do Vale - Edição especial na Casa de Cultura São Mateus (Atrações The monkeys THC & Mastho Nazoteles, Poetas Convidados, Luiz Poeta, Midria Silva, Ricardo Salada e Oficina de Turbantes com EllaDany) Data: 29/09Horário: 14hLocal: Casa de Cultura São MateusR. Monte Mandirá, 40São Paulo

Sul

ParanáSlam das GuriasData: 17/08Horário: 18h às 23hLocal: R. Trajano Reis, 147 - São Francisco, Curitiba

Rio Grande do Sul Oficina de Dança de Matriz Africana – Cia. de Dança Afro Daniel AmaroData: 23 e 24/08Horário: às 18h30 no dia 23; às 10h30 no dia 24Local: Sociedade Floresta MontenegrinaR. Flores da Cunha, 287Montenegro

AGENDA DE AGOSTO DE 2019

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1o. Encontro Idena: O Empoderamento da Mulher Negra Através dos Movimentos SociaisDia 14/09Das 8h30 às 17hLocal: Associação Négo Futebol ClubeR. Engenheiro Henrique Vilanova, 1520, Cidade AltaVenâncio Aires

Oficina A lembrança de si e o encontro ancestral com Mestre Paco Gomes - Método Griotlab: dança, ciência, ancestralidade

Data: 19/08Horário: 18h às 21hLocal: Casa de Cultura Mário Quintana Porto AlegreObs: inscrições pelo e-mail [email protected]

Santa Catarina Parada do Orgulho LGBTI+ de Floripa 2019Data: 08/09Horário: 11h às 21hLocal: Av. Beira Mar ContinentalFlorianópolis

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Edital Foco Prazo link

Edital de Culturas Populares - Ministério da Cidadania, Secretaria Especial de Cultura

Reconhecer e premiar iniciativas já realizadas propostas por Mestres(as) e pessoas jurídicas sem fins lucrativos de natureza ou finalidade cultural que envolvam as expressões das culturas populares.

16/08/2019 http://cultura.gov.br/documentos/edital-de-culturas-populares/

Prêmio Palhaço Cascudo de Incentivo às Artes Circenses – 2019 - Secretaria de Cultura do Pernambuco

Premiar, reconhecer e valorizar as práticas artísticas, expressões e preservação da memória circense.

31/10/2019 http://www.cultura.pe.gov.br/editais/

Edital “Agitando os pensamentos” - Fundo Saap

Apoiar grupos, coletivos e organizações com temáticas territoriais de enfrentamento à violação de direitos e outras violências enfrentadas por moradores de favelas e periferias do país.

19/08/2019 https://fase.org.br/pt/informe-se/noticias/fundo-saap-lanca-novo-edital-agitando-os-pensamentos/

8º Edital Biodiversidade do Paraná - Grupo Boticário e Araucária

Destinado a pesquisadores e trabalhos com propostas de conservação da natureza do estado do Paraná.

31/08/2019 http://www.fundacao grupoboticario.org.br/pt/noticias/pages/edital-apoia-projetos-ambientais-e-de-inovacao-no-parana.aspx

Edital do Fundo Estadual de Cultura - Fundação Elias Mansour e Fundo Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura

Seleção de projetos nas áreas de artes, patrimônio cultural e humanidades, que contribuam para o desenvolvimento artístico-cultural dos vinte e dois municípios do Acre.

19/08/2019 https://www.agencia.ac.gov.br/fundacao-elias-mansour-lanca-edital-de-incentivo-a-cultura/

Edital Zona Cultural Praça da Estação - Secretaria Municipal de Cultura

Seleção de projetos culturais com previsão de realização em 2020 no Território da Zona Cultural Praça da Estação

19/08/2019 https://prefeitura.pbh.gov.br/cultura/zona-cultural-edital

OPORTUNIDADES

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Edital de Incentivo ao Desenvolvimento da Economia Criativa no Estado de São Paulo - ProAC

Visa apoiar projetos com foco na economia criativa e território dentro do Estado de São Paulo

19/08/2019 http://www.proac.sp.gov.br/editais_resultados/edital-proac-no-152019-incentivo-ao-desenvolvimento-da-economia-criativa/

Edital de Incentivo ao Desenvolvimento da Cultura Popular, Tradicional, Urbana, Negra, Indígena e Plural - ProAC

Objetiva apoiar projetos que visem a promoção, valorização e/ou fortalecimento da identidade, da imagem, da história, da tradição e/ou das expressões dos diversos grupos e manifestações culturais da cultura popular, tradicional, urbana, negra, indígena e/ou plural

16/08/2019 http://www.proac.sp.gov.br/editais_resultados/edital-proac-no-142019-incentivo-ao-desenvolvimento-da-cultura-popular-tradicional-urbana-negra-indigena-e-plural/

Programa de fomento à Cultura - Fundação Rio das Ostras de Cultura

Apoiar produções, apresentações e formações culturais e artísticas no município de Rio das Ostras

14/08/2019 https://www.riodasostras.rj.gov.br/editaisdacultura/

Chamada Pública para Seleção, Premiação e Disseminação de Boas Práticas - Conselho Nacional de Justiça

Edital que visa ações relacionadas à promoção de direitos e à atenção à Primeira Infância

06/09/2019 http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pacto-nacional-pela-primeira-infancia/selecao-e-disseminacao-de-boas-praticas

Território SESI SP de Arte e Cultura - SeSi

Edital a respeito da programação do SESI em 2020 nas áreas de Artes Cênicas, Música e Literatura

16/08/2019 https://www.sesisp.org.br/cultura/editais

Literatura, Narrações de História, Oficinas e Workshops Literários

Visa projetos que promovem interação dos contadores de história com o público, contemplando elementos da cultura popular e o despertar do interesse pela leitura.

12/05/2020 https://www.sesisp.org.br/cultura/editais

Fundo de Ação Urgente (Urgente Acction Fund) – Por los Derechos de las Mujeres

Fundo feminista para a América Latina e Caribe que procura fortalecer as ativistas e seus movimentos sociais

Contínuo https://fondoaccionurgente.org.co/

Projetos na América Latina – Open Society Foundations

Fundo que visa a justiça, governos democráticos e direitos humanos na América Latina e no mundo.

Contínuo https://www.open societyfoundations.org/