MUDANÇAS SOCIAIS E USO COMUM DA ÁREA DE PLANTA EM ...
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MUDANÇAS SOCIAIS E USO COMUM DA ÁREA DE PLANTA EM UMA COMUNIDADE RURAL DO LITORAL PARANAENSE: REFLEXÕES A PARTIR DA TEORIA DOS BENS COMUNS
Daniela Sant' Ana1*, Bernardo Brandão Niebuhr2, Dimas Floriani3
* e-mail: [email protected] Mestranda em Sociologia (UFPR)
2 Mestrando em Ecologia e Conservação (UFPR)3 Pesquisador/docente pelo MADE e pelo PPGSocio (UFPR)
Resumo
O presente texto busca contribuir com o debate sobre a gestão de espaços e recursos naturais
em escala comunitária, mais especificamente terras de uso comum. Do ponto de vista do debate
teórico, este estudo evidencia, na análise dos comuns, uma abordagem crítica que procura inserir
a relação entre fatores sociais endógenos e exógenos à unidade social de usuários dos recursos,
o que é possível por meio da exploração de alguns pormenores do contexto de cada sistema de
uso, enxergando os arranjos de uso e apropriação dos recursos comuns como produtos de
antagonismos e tensões sociais. Para ilustrar e dar cor a esse posicionamento teórico
metodológico, constituem o recorte empirico as mudanças sociais em curso em uma comunidade
rural denominada Sítio Riozinho (litoral sul do Paraná), que incidem significativamente sobre a
constituição da área de uso comum disposta para o roçado da mandioca, e outros bens de uso
comum.
IntroduçãoO presente texto1 busca contribuir com o debate sobre a gestão de recursos e espaços
naturais em escala comunitária, mais especificamente terras de uso comum. Do ponto de vista do
debate teórico, este estudo lança mão de uma abordagem que procura inserir na análise acerca
dos comuns a relação entre fatores sociais endógenos e exógenos à unidade social de usuários
dos recursos, o que é possível por meio da exploração de alguns pormenores do contexto de
cada sistema de uso, enxergando os arranjos de uso e apropriação dos recursos comuns como
produtos de antagonismos e tensões sociais.
Essa abordagem traz elementos analíticos complementares à perspectiva mais conhecida
dos comuns, a qual procura identificar o grau de sustentabilidade da exploração local dos recursos
focando as variáveis institucionais e as regras formais e informais que orientam a gestão
ambiental. O eixo explicativo da teoria dos comuns prescindiria, entretanto, de um enfoque mais
amplo que privilegiasse as pressões sociais e as interações entre múltiplas territorialidades que se
tensionam. Nesse sentido, este artigo busca articular elementos do debate acerca dos comuns
com a análise de um caso empírico.
Para ilustrar e dar cor a esse posicionamento teórico metodológico, constituem o recorte
empirico as mudanças sociais em curso em uma comunidade rural, denominada Sítio Riozinho
(ou Riozinho), que incidem significativamente sobre a constituição da área de uso comum disposta
para o roçado da mandioca. O Sítio Riozinho se localiza ao sul da baía de Guaratuba, no litoral sul
do Paraná, abrangida pela Área de Proteção Ambiental (APA) Estadual de Guaratuba.
Resumidamente, na realização dessa pesquisa foram combinados os seguintes
procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica e documental (artigos, livros, teses,
dissertações, mapas oficiais, atas de reuniões do Conselho Gestor da APA, relatórios técnicos
etc.), observação participante da rotina da comunidade (produção da sociabilidade e das práticas
materiais, basicamente) e das reuniões do Conselho Gestor da APA de Guaratuba (ordinárias e
extraordinárias) e entrevistas abertas e semi-estruturadas aplicadas somente aos moradores.
A teoria dos comuns e a questão da escala de abordagem: a interação entre variáveis locais e extra locais
Em termos gerais, apenas recentemente as modalidades de uso comum de manejo de
espaços e recursos naturais por segmentos do campesinato, tais quais historicamene ocorrem
nos espaços rurais em todas as regiões do país (ALMEIDA, 2008, 2009; CAMPOS, 2011), têm se
constituído como objeto destacado na elaboração de pesquisas e relatórios técnicos, seja no
âmbito acadêmico ou no âmbito de órgão públicos que se ocupam da questão fundiária e
ambiental (ALMEIDA, 2008; AGRAWAL, 2002).
Como um processo social anterior, têm se verificado o crescimento de políticas que
1 O artigo constitui um fragmento de capítulo presente na minha pesquisa dissertação de mestrado realizada no êmbito do PPGSocio da UFPR, sob orientação do Prof. Dr. Dimas Floriani e financiado pela CAPES/Reuni. O momento de elaboração do mesmo para o VI Enanppas é também a fase de finalização da pesquisa. A parte empírica iniciou em agosto de 2010 e finalizou em dezembro de 2011.
regulamentam o uso e apropriação de florestas, água, pesqueiros e pastagens, estimulado e
orientado principalmente por preocupações globais em torno da degradação ambiental e depleção
de recursos naturais (AGRAWAL, 2002; ALONSO e COSTA, 2002; CREADO et al., 2008
FERREIRA, 2010; ACSELRAD, 2004, 2010; LOBÃO, 2006).
Na literatura especializada que trata da gestão de espaços e recursos naturais, a
observação das falhas atribuídas a mecanismos próprios à administração pública e à
administração privada tem ressaltado a gestão em pequena escala – a escala da comunidade –
como uma alternativa: os próprios usuários dos recursos comuns com seus arranjos institucionais
locais são legitimados como atores eficientes na conservação (OSTROM, 1990; FEENY et al.,
2001; BERKES et al., 1998; MORAN et al., 2009).
A possibilidade – comunidade e posse e gestão comum – que os analistas dos comuns
identificaram, e de certa forma validaram do ponto de vista científico, está enraizada nas práticas
de milhares de unidades sociais ao redor do mundo (OSTROM, 1990; MARTINEZ-ALIER, 2007;
MORAN et al., 2009; DIEGUES, 1998; ALMEIDA, 2008; ADAMS, 2000; LEFF, 2010; GUHA e
MARTINEZ-ALIER, 1997). Ao mesmo tempo, essa alternativa veio ao encontro das encruzilhadas
teóricas com que se deparam pesquisadores que estudam movimentos sociais e diversas formas
de participação social, formação de instituições e sua manutenção, cooperação e conflito. Nessas
situações de gestão comum, os participantes se esforçam para resolver dilemas de ação coletiva
(AGRAWAL, 2002).
Ao focar as condições sob as quais usuários de recursos naturais (renováveis) cooperam
visando alcançar uma gestão eficiente ou mesmo quando falham nesse esforço (tendo suas
práticas diagnosticadas como "ecologicamente sustentáveis" ou não), a literatura sobre recursos
comuns criou as bases para que seus estudos caminhem junto com preocupações mais amplas
que concernem às ciências sociais.
Na investigação do efeito de diferentes estruturas institucionais sobre a gestão de
recursos, os teóricos dos comuns mostraram a importância tanto de instituições formais quanto de
instituições informais como uma influência sobre o comportamento e a ação sociais. As
formulações dessa teoria impactaram criticamente nas políticas públicas para o manejo de
recursos naturais e deram visibilidade ao papel das comunidades rurais, principalmente aquelas
comunidades envolvidas com o manejo e gestão de recursos comuns e, de alguma forma, na
proteção ambiental (ALMEIDA, 2008; DIEGUES, 1995; LITTLE, 2002, CUNHA, ALMEIDA, 1999;
LOBÃO, 2006; SANT' ANA, 2011).
No entanto, as estratégias adotadas pelos órgãos governamentais e pelas organizações
não governamentais, em associação com movimentos de usuários, não deixaram de revelar
algumas contradições, na medida em que enfatizavam as práticas sustentáveis de manejo de
recursos comuns dessas comunidades, ao mesmo tempo em que propunham de forma vertical o
desenvolvimento de novos arranjos institucionais para o manejo destes recursos (CUNHA, 2004;
LOBÃO, 2006; DIEGUES, 1998; ADAMS, 2000; CREADO et al., 2008).
Diante das contradições inerentes à apropriação e distribuição desigual dos espaços e
recursos naturais (GUHA e MARTINES-ALIER, 1997; ACSELRAD, 2010), fica evidente a
possibilidade de múltiplas soluções e desenhos institucionais, conforme a história e o ambiente
social do grupo de usuários dos recursos de propriedade comum, elementos que podem ser
apreendidos somente a partir da ampliação da perspectiva para além da análise das instituições2
(MCCAY e JENTOFT, 1998; AGRAWAL, 2002).
A crítica se dirige portanto à tendência a deixar em segundo plano o fato de que os fatores
locais são criados em conjunto com os fatores exógenos e constituídos em relação a esse
contexto. Agrawal (2002), desde essa análise, afirma a importância de se considerar também
elementos contextuais como o mercado, a demografia e o Estado, que podem ser definidas como
variáveis que apenas aparentemente se mantém constantes, como um pano de fundo em
determinados estudos, mas que ganham um outro papel em uma abordagem propriamente
diacrônica.
A questão que Agrawal coloca aos teóricos dos comuns se refere ao argumento sobre a
extensão, ou o alcance de micropolítica e questões de dominação/resistência. Segundo sua
argumentação, com a preocupação concentrada na gestão sustentável e nas instituições bem
sucedidas corre-se o risco de se negligenciar o fato de as instituições também serem coercitivas e
do fardo da coerção tender a recair desigualmente sobre aqueles que são mais “fracos”. Se
instituições são o produto de decisões conscientes e intencionais de indivíduos e grupos
específicos, como os fundamentos da teoria dos comuns propõem, então pode ser razoável
pensar que as escolhas institucionais por grupos poderosos visam deliberadamente tirar a
vantagem de grupos mais fracos.
O outro lado da moeda da sustentabilidade institucional então passa a ser a alocação
desigual dos benefícios a partir da gestão de recursos geridos de forma comum (AGRAWAL,
2002; GUHA e MARTINES-ALIER, 1997; ACSELRAD, 2004; ALMEIDA, 2008, 2009). Desta forma,
essa leitura crítrica de Agrawal, propondo o exame dos sistemas de uso comum em sentidos
múltiplos e históricos, pode contribuir para a compreensão de uma variedade de formações socio
territoriais no Brasil. Nessa direção, merece ser mencionado o esforço de Almeida de sistematizar,
por meio do projeto Nova Cartografia Social3, antagonismos e tensões sociais que afetam as
territorialidades e os sistemas de uso comum de segmentos camponeses. As cartografias dos
conflitos registrados localmente tem lhe permitido construir um caminho analítico que destaca
alguns traços gerais dos sistemas de uso comum da terra como característica históricas do
campesinato brasileiro. 2 Com efeito, a teoria dos bens comuns, a despeito de sua forte repercussão nas discussões contemporâneas sobre a regulação do
meio ambiente, sofreu algumas críticas quanto ao seu escopo de abordagem. Ao privilegiar sobremaneira a importância de grupos locais, o processo de desenvolvimento institucional, de transformação das normas e regras de acesso e uso de recursos comuns e os fatores que levam ao sucesso neste processo, a teoria dos recursos comuns teria deixado de apreender as dinâmicas mais gerais que incidem sobre estas iniciativas locais de gestão.
3 O Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia e o Projeto Nova Cartografia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, sob sua coordenação e formado por pesquisadores, realiza em conjunto com os próprios movimentos sociais o levantamento cartográfico de conflitos e experiências vividas por diversos segmentos de camponeses em todo o país. Essas iniciativas têm logrado o reconhecimento de direito territorial e étnico de um grande número de comunidades rurais, por meio da criação de leis e decretos que se desdobram em políticas públicas específicas. Para saber mais, cf. SANT' ANA (2011). Cf. Também <http://www.novacartografiasocial.com>.
Sistemas de uso comum na estrutura agrária brasileira: territorialidade e diferenciações étnicas e culturais
A produção do antropólogo brasileiro Almeida (2008, 2009) se tornou um marco referencial
para as pesquisas sobre sistemas de uso comum no Brasil. Seus estudos enfatizam as
denominadas “terras tradicionalmente ocupadas”, que expressam uma diversidade de formas de
existência coletiva de diferentes povos e grupos sociais em suas relações com os recursos da
natureza, tendo como pano de fundo conflitos ambientais e processos de territorialização com
diferentes formações históricas e suas variações regionais que lhes são correspondentes.
Um aspecto muitas vezes ignorado da estrutura agrária brasileira refere-se às modalidades
de uso comum da terra. Analiticamente, estas designam situações em que o controle dos recursos
básicos, ao contrário de ser exercido livre e individualmente por um determinado grupo doméstico
de pequenos produtores diretos ou por um de seus membros, ocorre por meio de normas
específicas instituídas para além do código legal vigente e acatadas, de maneira consensual, nos
meandros das relações sociais estabelecidas entre vários grupos familiares, que compõem uma
unidade social. "A atualização dessas normas ocorre em territórios próprios, cujas delimitações
são socialmente reconhecidas, inclusive pelos circundantes" (ALMEIDA, 2009, p. 39).
Almeida aponta que o significado de terra comum não encontra muita variação empírica.
Contudo, no conhecimento de dados que privilegiem a territorialidade como unidade de recorte,
uma multiplicidade de categorias semelhantes se desdobra, tais como terras de parente, terras de
preto, terras de índio, terras de santo, o que pode permitir uma aproximação aos processos
sociais estreitamente vinculados a estas normas e aos grupos que as instituem e seguem.
Para o antropólogo, a territorialidade funciona como fator de identificação, defesa e força.
Um conjunto de regras firmadas sobre uma base física considerada comum, essencial e
inalienável é informado por laços solidários e de ajuda mútua (exceto quando porventura haja
disposições sucessórias). As regras que disciplinam as formas de posse e uso da terra4 se
orientam por relações de consanguinidade, estreitos laços de vizinhança e afinidade ou rituais de
admissão. Mas não se reduzem à organização familiar:
Por seus desígnios peculiares, o acesso à terra para o exercício das atividades produtivas não se dá apenas por meio das tradicionais estruturas intermediárias da família, dos grupos de parentes, do povoado ou da aldeia, mas também por certo grau de coesão e solidariedade obtido em face de antagonistas e em situações de extrema adversidade, que reforçam politicamente as redes de relações sociais (ALMEIDA, 2009, p. 40).
4 "Fatores étnicos, a lógica da endogamia e do casamento preferencial, as regras de sucessão e demais preceitos em geral favorecem a indivisibilidade do patrimônio dessas unidades sociais. Para tanto, são erigidas normas de caráter consensual e consoantes crenças mágicas e religiosas, mecanismos rituais e reciprocidades econômicas positivas. A sua aceitação como legítimas não pressupõe qualquer tipo de imposição, sem constituir, portanto, resultado de injunções pelo uso da força, da persuasão política, religiosa ou do saber. Tampouco consistem em projetos elaborados para camponeses, fora de seus marcos políticos e sociais intrínsecos, ou com camponeses, de experiências de mobilização apoiadas por organizações formais" (ALMEIDA, 2009, p. 43, grifo do autor).
As modalidades de uso comum da terra podem expressar tanto um acesso estável à terra,
como ocorre em áreas de colonização antiga, como no Sítio Riozinho, quanto evidenciam formas
relativamente transitórias intrínsecas às regiões de ocupação recente. Estes ocorrem sob as mais
variadas formas e com certos aspectos fundamentais comuns, tanto de natureza histórica quanto
relativos ao tipo de agricultura desenvolvida.
As generalizações que Almeida traça acerca dos sistemas de uso comum nas regiões de
colonização antiga em muito podem ser observados no Sítio Riozinho. Essas modalidades de
apropriação da terra emergiram como um artifício de auto-defesa e busca de alternativa de
diferentes segmentos do campesinato, para assegurar suas condições materiais de existência;
desdobraram-se marginal e simultaneamente ao sistema econômico dominante, por vezes
justamente na conjuntura de crise econômicas. Foram compondo corporações territoriais, que se
consolidaram notadamente em regiões periféricas, em meio a múltiplos conflitos, num momento
de transição em que fica enfraquecido e debilitado o poderio do latifúndio sobre populações
historicamente submissas (a exemplo de indígenas, escravos e agregados)5.
Deste modo, seu argumento salienta que os sistemas de uso comum tornaram-se
essenciais para estreitar vínculos e forjar uma coesão capaz, de certo modo, de garantir o livre
acesso à terra diante de outros grupos sociais mais poderosos e circunstancialmente distantes.
Essas formas
se impuseram não somente como necessidade produtiva quando, por exemplo para a abertura de roçados e a dominação de áreas de mata e antigas capoeiras uma só unidade familiar não bastava, mas, sobretudo, por razões políticas e de autopreservação (ALMEIDA, 2009, p. 47, grifo nosso).
Historicamente, tais sistemas tornaram-se meios estáveis de acesso e manutenção da
terra e se distribuíram de maneira desigual e descontínua por inúmeras regiões geográficas,
quase sempre cumprindo função de abastecimento de gêneros alimentícios (farinha, arroz, feijão)
aos aglomerados urbanos regionais, sem necessariamente vincularem-se entre si.
O desenvolvimento de instituições permanentes, operando com regras de aliança e
sucessão sobre o uso comum dos recursos básicos, caminho fundamental para manterem seus
domínios, proporcionou também uma relativa estabilidade do território. Porém, longe de uma
sociabilidade romantizada, a gestão econômica não se dá de maneira necessariamente igualitária,
mas sim em bases de interesses heterogêneos e diferenciações internas.
A noção corrente de terra comum é acionada como elemento de identidade indissociável
do território ocupado e das regras de apropriação, que denotam por meio de denominações
específicas a heterogeneidade das situações correpondentes (terras de preto, terras de santo,
terras de Irmandade, terras de parentes, terras de ausente, terras de herança e/ou de herdeiros e
terras de patrimônio).5 Almeida escreve que, em um sem número de situações, a falta de função da terra explica a tolerância para com as formas de uso comum. Por
outro lado, ocorreram tentativas fortemente repressivas e mesmo seu aniquilamento, em especial quando apoiadas em manifestações messiânicas e de banditismo social. Em síntese, as circunstâncias para a sua constituição se deram na ausência do grande proprietário (nas plantations) ou na debilidade de seu poder, o que conduziu a formas organizativas orientadas por uma cooperação ampliada e por formas de uso comum da terra e dos recursos hídricos e florestais.
Interessa-nos aqui as terras de herança, as quais abrangem
domínios titulados, tornados espólios que permanecem indivisos, há várias gerações, sem que se proceda ao formal de partilha ou que seus títulos tenham sido revalidados por meio de inventários que, consoantes disposições legais, teriam de ser realizados quando da morte do titular de direito, a fim de transmiti-los a seus herdeiros legítimos (ALMEIDA, 2009, p. 53).
Para os camponeses o título só se coloca como uma defesa de seus direitos de cultivo, contra
direitos alegados por outros grupos sociais, que mantêm com a terra uma relação mercantil.
Por gerações, que vão adensando a ocupação desses domínios, além de serem
estabelecidas formas peculiares de utilização da terra que permitem classificá-las como de uso
comum, percebe-se que a apropriação individual gradativamente perde sua força num contexto
em que os recursos são por demais escassos e que reciprocidades econômicas se tornam
imprescindíveis ao grupo familiar. Ao mesmo tempo, estimulam atividades complementares e
adotam medidas para contornar pressões ambientais e demográficas, uma vez que o estoque de
terras se mantém invariável.
Nas terras de herdeiros não é comum a contratação de terceiros, tendo em vista que a
força de trabalho é composta exclusivamente por membros do grupo familiar, tampouco a partilha
formal. Ocorre também expressões semelhantes que se referem a esses espólios, como terra de
parente e terra de ausente. Esta última refere-se a casos em que houve partilha de extensões de
terra sem que herdeiros tenham se apropriado efetivamente das parcelas que lhes cabem
legalmente; estas passam a ser consideradas livres ao cultivo pelos demais componentes do
grupo familiar.
A representação da terra nas regiões em que se observam formas de uso comum remete
às regras de um direito camponês que prescrevem métodos de cultivo em extensões que podem
ser utilizadas de acordo com a vontade dos grupos familiares, sem exigência de áreas contíguas e
permanentes ou de ter o conjunto de suas práticas produtivas restringidas a uma parcela
determinada. Assim, não se registra contiguidade entre as áreas de cultivo de um mesmo grupo
familiar, de modo que seus roçados se distribuem e se dispersam por áreas consensualmente
destinadas aos cultivos. Não há também contiguidade entre essas áreas e aquelas onde se
localizam os demais recursos apropriados.
Delineiam-se, intercaladas entre as áreas de cultivo apropriadas individualmente pelos
grupos familiares, domínios de uso comum que não pertencem a nenhuma família em particular e
que são considerados vitais para a sobrevivência do conjunto das unidades familiares. Nesses
sistemas são articulados domínios de posse e usufruto coletivo, com regras de apropriação
privada. A casa e o quintal composto por jiraus de plantas medicinais, pomares e pequenas
criações avícolas são apropriados individualmente pelos respectivos grupos familiares, do mesmo
modo que o produto das colheitas e os demais frutos dos roçados. O resultado dessa ação de
trabalho pertence individualmente ao grupo doméstico que a realizou ou a um de seus membros
em particular.
Um ponto interessante a se sublinhar na análise de Almeida é que a articulação de
domínios individuais e comuns verificada em seu levantamento empírico confronta-se com
paradigmas (jurídicos e teóricos) que os reduzem à dicotomia geralmente estabelecida entre o
privado e o comunal, entre o individual e o coletivo ou entre o legal e o fundado nos costumes. A
própria noção de posse comunal, cujo significado se encontra fortemente marcado pelas
referências às “comunas primitivas”, soa inadequada para nomear tais domínios. As
interpretações de inspiração evolucionista, para as quais um sistema de apropriação e uso
sucederia o outro, também não dariam conta de apreender a hibridez e a complexidade de tais
domínios.
Ao contrário desses tipos de análise, as noções de propriedade privada e de apossamento
pelo uso comum aparecem imbricadas nas normas camponesas, que as articulam e combinam,
realizando-se indissociadas e conjugadas em diferentes modos de organização social, dentro de
lógicas econômicas específicas: “A noção de propriedade privada existe nesse sistema de
relações sociais sempre marcado por laços de reciprocidade e por uma diversidade de obrigações
para com os demais grupos de parentes e vizinhos”.
As unidades sociais camponesas em que se encontram essas modalidades de uso da terra
não representariam totalidades homogêneas e igualitárias: justamente são atravessadas por um
grau de diferenciação interna acentuado, mas não o suficiente para gerar “antagonismos
insolúveis”.
A desigualdade no acesso aos recursos básicos ocorre no interior dessas unidades socais,
de forma que os aspectos comunais da cooperação não fazem a norma, são relacionais: “Estes
servem como elemento contrastante para fora e diante dos antagonistas que visam usurpar seus
domínios com pretensões de concentração da propriedade fundiária pelas grilagens” (ALMEIDA,
2009, p. 60).
Os domínios de uso comum se constituem numa fonte potencial de recursos essenciais,
sobretudo para os camponeses mais pobres. A consolidação da diferenciação interna leva a
tensões agudas entre os membros de grupos familiares. Pode-se dizer que as famílias abastadas
são as principais beneficiárias do sistema de uso comum. Há aqueles que, esposando um nítido
projeto de descampesinização, se empenham em dispor aquelas terras ao mercado.
As tensões transcendem a disputa familiar e afetam a unidade social como um todo. Uma
maior tecnificação, as possibilidades de comercialização e as relações de intermediação com os
poderes regionais tornam essas famílias, ou pelo menos alguns de seus membros, com maior
probabilidade de adotar um projeto de descampesinização. Por outro lado, a existência deste tipo
de disputa não siginifca que o projeto de descampesinização tenha logrado sobre os domínios
mantidos pelo grupo.
O fato de manterem uma atualidade ilustra com contundência sua “eficácia” diante dos
antagonistas e indica também que são constantes as situações de conflito e tensão que envolvem
essas unidades sociais camponesas. Esses impasses se exprimem pelos índices alarmantes de
violência no campo e a concentração da propriedade fundiária, fatores considerados
imobilizadores6.
Por outro lado, o grau de solidariedade e coesão apresentado pelos camponeses nessas
terras de uso comum parece garantir a manutenção de seus domínios. Os vínculos sólidos que
mantêm e a estabilidade territorial alcançada expressam sua rede de relações sociais construída
numa situação de confronto e que parece ser reativada a cada novo impasse, incidindo na
resistência àquelas múltiplas pressões. Esse cenário de conflitos tornados públicos tem chamado
a atenção para essas modalidades de uso da terra como contradições da estrutura agrária
brasileria.
Almeida, ao levar essas disputas internas e externas às unidades sociais em conta, se
aproxima de uma interpretação preocupada com a existência de controle e gradientes de poder
sobre as terras de uso comum mesmo entre grupos familiares de unidades sociais camponesas, o
que complexifica a trama social desses grupos. Por outro lado, busca olhar além de tendências
analíticas lineares, que apontam tanto para sua desintegração total quanto para a unificação e
homogeneização de seus projetos nesses domínios.
O processo de modernização do litoral e suas implicações para o entendimento dos processos de gestão dos bens comuns em âmbito comunitário
Para fins de contextualização do recorte empírico, nas linhas seguintes busca-se expor
resumidamente por meio de literatura recente o diagnóstico do processo de modernização sobre o
litoral paranaense. O intuito é chamar atenção para estudos de caracterização dos processos
social, econômico e ecológico que conformaram o litoral do Paraná visando fornecer informações
mais gerais sobre a região onde se situa o Sítio Riozinho e tentar identificar os elementos que
favorecem ou dificultam as práticas de controle e de gestão dos recursos naturais disponíveis,
sobretudo as terras de uso comum, destinadas pelos camponeses do Riozinho ao plantio de
mandioca.
A partir de um panorama histórico, é possível observar as transformações na realidade
agrária do Litoral do Paraná, nas últimas cinco décadas. A implementação, por parte do governo
federal, de uma política de incentivos fiscais visando o desenvolvimento de atividades de plantio
florestal que estimulou uma série de empresas a constituírem grandes latifúndios no litoral
paranaense, apropriando-se de terras devolutas ou pertencentes aos agricultores locais para
desenvolverem novas atividades econômicas: extração da madeira e do palmito, cultivo do café,
criação de bovinos e búfalos a instalação das companhias de monocultivos florestais (ZANONI et
al., 2000).
Com vistas à consolidação deste processo, o poder público paranaense criou uma rede de
6 Os mercados informais abarcam as transações de terras e as permissões de plantio entre camponeses, que não são escrituradas e se apoiam em contratos verbais. Contradições resultantes deste cenário fazem que os sistemas de uso comum se sujeitem à pressão constante de programas de titulação que objetivam o parcelamento e a individualização de lotes. Além disso, tentativas de apossamento ilegítimo e de grilagem cartorial têm se tornado comum, acirrando um clima de conflito e tensão.
produtivos.
Com o mosaico de unidades de conservação no litoral do estado, a população residente
passou a enfrentar situações de impasse com o governo e com conservacionistas, que queriam
proteger a paisagem multiplicando o número de unidades de conservação (TEIXEIRA, 2004;
RAYNAUT et al., 2002; ZANONI et al., 2000).
As dinâmicas sociais, econômicas e públicas ou estatais se mostraram diferenciadas no
Litoral Norte do Paraná (Guaraqueçaba) vis-à-vis o Litoral Sul. No Litoral Norte, há ações bastante
modernas e globalizadas em relação à práticas de conservação (vide as políticas de conservação
da ONG SPVS que atua com bônus para o sequestro de Carbono; a Fundação Boticário com suas
estratégias de conservação local, usando o marketing da sustentabilidade e das práticas
ecologicamente corretas, etc.). No plano simbólico, a região converte-se em novo visual (imagem
e discurso), servindo a diversos interesses.
Diante desse cenário bastante diverso, alguns autores (ANDRIGUETTO FILHO e
MARCHIORO, 2002; RAYNAUT et al. 2002, DENARDIN et al., 2008) apontam que o litoral
paranaense é fortemente marcado por um contexto de complexidades e heterogeneidades
ambientais e socioeconômicas, que em resumo se caracteriza por: variedade de ecossistemas,
desde ambientes marinhos, manguezais, aos refúgios vegetacionais de altitude; atividades
agropecuárias ou extrativistas geradoras de renda, bem como atividades de transformação como
agroindústrias caseiras; uma variedade de situações culturais, no meio urbano e rural; diferentes
situações de acesso aos recursos naturais, condicionadas pela posse da terra, pelo capital, pela
complexa legislação ambiental e grau de participação no mercado; e forte polarização industrial e
urbana, com a presença do complexo portuário de Paranaguá e das áreas urbano-turísticas da
orla sul.
Duas contradições emergem desse contexto: de um lado, o valor do litoral como patrimônio
natural e para a proteção da biodiversidade e, de outro, um quadro de subdesenvolvimento
incongruentes com os potenciais da região e com o sucesso de algumas atividades (DENARDIN
et al., 2008).
Neste sentido, o relativo isolamento vivido pelo litoral do Paraná se configura como um dos
motivos que o levou à preservação de seu meio natural que pode ser observado hoje8. Entretanto,
as condições de vida da população litorânea não correspondem às riquezas naturais; ao contrário,
sobreviver na região tem sido um desafio àqueles que dela procuram extrair sua sobrevivência
(IPARDES, 1989 apud DENARDIN et al., 2008).
Pierri et al. (2006) interpreta que a vontade política de conservar foi exercida, em grande
proporção, sob áreas de Floresta Atlântica marginalizadas economicamente, seja por dificuldades
de acesso e/ou por não apresentar − ou ter perdido − interesse econômico e produtivo. Foi
facilitada a decisão formal de criar as UCs por não se estar subtraindo recursos a grupos
8 Sonda (2002) escreve que, de um modo geral, os remanescentes florestais que chamam atenção para sua conservação no Paraná se concentram em regiões de menor desenvolvimento econômico e social, como regiões acidentadas, com solos de baixa fertilidade, marcadas por sistemas de produção familiares de subsistência ou tradicionais, em grande parte produtores pobres sem acesso aos instrumentos de políticas públicas.
econômicos fortes. Ao mesmo tempo, essa circunstância redobrou as dificuldades de conquistar
ou manter as condições de sustentabilidade econômica e social para a população que mora
dentro delas ou em suas áreas de amortecimento.
Os autores acreditam que este fato faz com que a política de conservação e seus agentes
apareçam como responsáveis pela pobreza e falta de oportunidades, pelo atraso e pela
emigração existentes nessas áreas, quando as restrições de uso impostas em geral vieram
apenas reforçar os limites já existentes para o desenvolvimento, e não tanto criá-los, como muitas
vezes se interpreta. Grande parte da insustentabilidade social dessas regiões é criada e
reproduzida pelo mercado (PIERRI et al., 2006).
Algumas características básicas da vida comunitária de Riozinho: seu significado para a adoção de estratégias substitutivas às de co-gestão dos recursos naturais e do território
Internamente o Sítio Riozinho é composto por aproximadamente 70 indivíduos agrupados
em cerca de 24 famílias9. Uma peculiaridade desses camponeses é que se declaram todos de
alguma forma aparentados entre si. Possuem ancestrais comuns que fundaram a comunidade há
pelo menos 150 anos e foram formando, por meio de casamentos endogâmicos, o que o
Riozinho é hoje: basicamente uma comunidade de avós, pais, filhos, tios, primos, irmãos e
compadres.
O Sítio Riozinho se localiza na costa litorânea que rodeia os fundos da Baía de Guaratuba,
no litoral sul do Paraná. Cercada pelo rio São João, um importante afluente da baía, faz limite com
outras comunidades rurais como São Joãozinho e Descoberto a leste e Jundiaquara e Estaleiro a
sudoeste; entre as comunidades citadas, formando um cinturão, estão terras sob o domínio da
empresa de monocultivos florestais Comfloresta (IAP, 2006).
Devido à falta de estradas que ligassem essa região da baía às áreas urbanas até quatro
décadas atrás, acredita-se que a ocupação se deu na direção dos rios para o continente, uma vez
que o meio de transporte principal era por meio de embarcações a remo (ANDRIGUETTO FILHO,
1999). Atualmente o acesso ao Riozinho pode se dar tanto pelo Rio São João quanto pela estrada
de chão (que desemboca na rodovia estadual PR 412) aberta no final da década de 70 pela
empresa Comfloresta no início de suas atividades na região.
Sobre a configuração interna atual do território do Riozinho, existem subdivisões espaciais
que variam entre o que é da família, passando pelo que pertence aos núcleos familiares, à
comunidade como um todo (como as áreas de planta de uso comum) e mesmo as casas que se
fragmentam entre os que são "de fora", nomeadamente os turistas da pesca e veranistas que
adquiriram terrenos na comunidade. Uma outra subdivisão se refere à maior coesão e afinidade
entre os núcleos familiares que se localizam na ponta (ao norte) e entre os núcleos familiares da
vizinhança (ao sul).
Ao contrário de ser um território estável, em que se imprimem interações e práticas sociais
9 Este termo se refere a uma unidade doméstica composta por pai, mãe e filhos. As casas por sua vez se agrupam em núcleos familiares cujo centro é a casa do pai ou sogro.
dinâmicas, pôde-se captar por meio da pesquisa qualitativa mudanças sociais significativas nos
últimos 50 anos que têm afetado a configuração desse território, dentre as quais podemos citar a
expansão dos monocultivos de pinus, a intensificação do turismo da pesca e a venda de terrenos
para pessoas de fora, a reorganização das práticas de ajuda mútua, dinâmicas migratórias
(êxodo/retorno), assalariamento, disputas interfamiliares por terras, entre outras. Essas
transformações que têm reorganizado a vida social têm vínculos diretos com eventos mais amplos
que caracterizam a história recente do litoral do estado do Paraná.
Vivendo em área com solo empobrecido mesmo para as culturas de subsistência, os
habitantes do Riozinho agregam atividades diversas seja para autoconsumo seja como forma de
gerar renda. Suas práticas produtivas se combinam e se distribuem entre os núcleos familiares de
forma heterogênea, em maior ou menor grau, o que denota uma forte diferenciação produtiva
interna ao Riozinho.
Para exemplificar, podemos citar um morador que trabalha como funcionário público
municipal e pesca aos finais de semana para o autoconsumo; além disso, faz artesanato com cipó
para vender uma vez por mês, e ainda sai para o mangue para pegar caranguejo na temporada, e
que realiza ainda a produção da farinha no engenho caseiro da família. Ou seja, as estratégias
materiais das famílias para gerar renda são marcadas pela pluriatividade, agrícola e não agrícola.
O acesso a recursos nem sempre ocorre em áreas sob o domínio da comunidade ou de
forma acordada entre os demais usuários, como é o caso dos manguezais para o lado da
desembocadura da baía, de onde coletam caranguejo na temporada de janeiro junto com usuários
de outras comunidades; o mesmo vale para a tainha, que alguns pescam na direção do Rio
Guanxuma, por exemplo, pesqueiro bastante concorrido por conta da instalação de cevas por
pescadores da comunidade Descoberto. Um outro exemplo é o cipó, cuja extração clandestina se
dá muitas vezes em terrenos particulares acessíveis somente pelos rios, em morros e florestas do
outro lado da baía. Por sua vez, o cultivo agrícola acontece em terras adjacentes às área das
suas casas, sob a gestão comunitária.
As regras de uso e de apropriação desses recursos são implicitamente acordadas
oralmente e com base nos costumes. Essas regras são múltiplas e variam em seus aspectos,
como as formas cooperativas/familiares ou individuais de coleta, beneficiamento e tecido com o
cipó; o ciclo da raiz da mandioca que implica um período de pousio que deve ser respeitado para
as parcelas na forma de rodízio; ou ainda a saída para o mangue, em que de acordo com a
função (se o morador permaneceu na embarcação como barqueiro ou se saiu para pegar
caranguejo, ou se todos fizeram rodízio) determina-se o quanto a quanto se têm direito.
De fato, existem múltiplas condicionantes que interferem na gestão desses recursos; além
dos aspectos propriamente naturais (como época da “andada” do caranguejo, o ciclo do cultivo da
mandioca, a piracema, influência da maré sobre a pesca e da chuva sobre a lavoura etc.), foi
possível identificar a importância de elementos de ordem social e política que orientam as práticas
materiais dos moradores.
Verificou-se que fatores relacionados à formação social da comunidade trazem implicações
diretas sobre a configuração de seu território e sobre as formas de exploração dos recursos
naturais, como a rede de parentesco, formas de trabalho cooperativas e movimentos migratórios.
Da mesma forma, foram identificados atores e instituições externos à comunidade
(empresa Comfloresta, turistas, pesquisadores, polícia ambiental, entre outros) que influenciam
fortemente os processos de gestão comunitária dos recursos comuns.
Devido à inaptidão agrícola do solo (DENARDIN et al., 2009), principalmente para cultivos
de subsistência como o feijão e o milho, não restaram muitas opções para a agricultura,
destacando-se o arroz e a raiz de mandioca. A primeira passou a declinar já nos anos 90 com a
perda de terras de plantio para terceiros e a hegemonia no mercado dos arrozeiros das
comunidades do Norte da baía (mais capitalizadas, tecnificadas e assistidas pelas agências
agrícolas públicas), ao passo que a lavoura de mandioca persiste no Riozinho até hoje atrelada ao
funcionamento dos engenhos caseiros de produção artesanal da farinha, um forte traço cultural da
região.
O ciclo de cultivo da raiz de mandioca para atender a produção de farinha para a venda
chega a alcançar até dois anos e meio e é totalmente manual (desde o plantio, até a capina e a
colheita), somados a mais dois anos mínimos para a recuperação da terra. O período de pousio
tem sido reduzido devido a processos de territorialização envolvendo conflitos fundiários ou
mesmo sua redução por meio da venda a terceiros (não-membros da comundiade), o que os
moradores consideram que comprometeu a produtividade e em consequência a geração de renda
a partir desse cultivo.
Existem especificidades quanto à organização da lavoura: as roças não são cercadas e o
uso da terra não é individualizado, ou seja, funciona em rodízios “aleatórios” entre as famílias do
sítio, cada uma obedecendo os períodos de pousio para poder ocupar uma nova capoeira. Além
disso o plantio é realizado em mutirões que mobilizam toda a comunidade, o que eles chamam de
guajú. Com efeito, historicamente essa lógica tem estado presente direta ou indiretamente em
outras práticas produtivas, sustentando a rede de sociabilidade das famílias aparentadas.
De maneira geral, as atividades se organizam tecnicamente a partir da força de trabalho da
família, muitas vezes sendo permeada pelo endividamento mútuo gerado pela lógica do mutirão,
em que, com a insuficiência de “braços” para o trabalho árduo tanto na mata quanto na água,
surge a demanda de ajuda e assim recorre-se às famílias da mesma comunidade e também das
comunidades vizinhas. No caso da entre ajuda a família que recebe a ajuda não compartilha o
produto do trabalho, mas só retribui ou “paga” na mesma proporção do trabalho recebido, para a
família que a ajudou, reelaborando os laços de reciprocidade e de confiança a cada ciclo
produtivo (OSTROM, 1990, 1998; WOORTMANN, 1998; ALMEIDA, 2008).
O processo histórico de configuração espacial da comunidade inclui êxodos dos filhos
adultos para a cidade e para outras comunidades vizinhas, em busca de emprego e melhores
condições de vida; inclui também a chegada de veranistas e turistas em busca de um terreno para
construir sua casa para visitas esporádicas. Essa dinâmica de mobilidade entre os moradores,
nas áreas individualizadas, aqueceu as iniciativas de compra e venda de casas e terrenos e
também possibilitou a tomada de novas posses de terrenos aparentemente abandonados por ex-
moradores em êxodo.
Algumas famílias que se mudaram abandonavam efetivamente a posse, outras
continuavam pagando impostos e fizeram a documentação das terras e geraram herdeiros.
Destes últimos, alguns voltaram à comunidade pleiteando o direito às terras e exigindo a
desocupação das famílias que passaram a morar nas casas abandonadas. Em outros casos,
algumas famílias que voltaram, como é o caso de uma moradora cuja mãe faleceu e deixou
grande terreno na ponta, ela permitiu que a família de um primo que ocupou seu terreno na sua
ausência permanecesse na terra que fora de sua mãe e da sua família, abrindo mão da briga
juridica. Esses processos dinâmicos de êxodo e de retorno também geram conflitos e
reconfiguram as áreas das casas.
Vale citar a iniciativa particular de uma família de moradores atuais frente às ameaças de
retomada das terras, por parte de herdeiros que não moram lá. Essa família, cujas roças e casa
ficam na ponta, decidiu contratar um advogado particular e um agrimensor para formalizar a
ocupação e a posse, e também a área da roça. No entanto, essa decisão foi isolada e gerou
hostilidade diante dos outros moradores da vizinhança, que não cercam suas roças.
No que se refere à possibilidade de documentação oficial e regularização fundiária das
posses, o que se ouviu dos moradores foi que um advogado de um órgão estadual, o Instituto de
Terras, Cartografia e Geociências, realizou uma reunião ali com o intuito de iniciar o processo de
regularização fundiária. A vinda do advogado era um assunto comum quando se falava de roça e
da expansão do pinus na região.
Nessa conversa com o advogado, os moradores foram chamados para discutir a
demarcação das áreas da comunidade que deverá acontecer em duas etapas: primeiramente
serão demarcadas as áreas de “posse”, ou os quintais onde ficam suas casas, e, depois, farão a
demarcação da área comum onde se planta a roça. Foi para essa etapa relacionada à área
comum, que deve acontecer num segundo momento do processo de regularização, que eles
apresentaram o impasse que dividiu as opiniões dentro da comunidade, uma controvérsia
relacionada às opções apresentadas pelo advogado do estado.
O que sucitou discussão foi a maneira como eles poderiam pensar a repartição das áreas
comuns de roça. Uma opção seria documentar a terra coletivamente, levando em conta o histórico
de uso comum do espaço da roça, a qual é eleita de forma rotativa, de acordo com as
oportunidades. Desta forma, a rotação dada pela escolha “aleatória” da capoura se manteria, mas
filhos e netos estariam impossibilitados de herdarem aquelas áreas pelo fato de que a área
coletiva pertenceria à associação montada.
Como a área da roça é pequena, cerca de 25 hectares a serem fracionados entre 29
famílias que cultivam a mandioca e produzem farinha para venda, surge o problema de se refletir
sobre as vantages e desvantagens seja do espaço individualizado seja do espaço coletivo,
impondo-lhes o dilema de se pensar ora na produção do presente ora no futuro dos filhos e netos,
principalmente aqueles que emigraram para os centros urbanos, que poderão herdar as terras
futuramente.
A despeito da polêmica, o advogado, até o momento da última visita a campo, não tinha
retornado à comunidade, de acordo com o que indicam os depoimentos. Ele ficou de voltar para
dar continuidade ao processo de regularização baseado nas decisões coletivas, depois da reunião
que ele propôs que os moradores realizassem entre eles mesmos. As famílias se reuniram,
contudo não entraram num acordo relacionado à modalidade fundiária formal, possível nos
marcos legais e, ao mesmo tempo, a que melhor se adeque às peculiaridade da territorialidade e
das relações sociais comunitárias.
No Riozinho embora os sistemas de regras informais predominem sobre os formais, devido
à baixa institucionalização das normas escritas e instituídas pelo Estado, talvez esta variável,
juntamente com o sistema de parentesco, que garante uma amálgama na sociabilidade
comunitária, aliados aos sistemas de entre ajuda ou ajuda mútua, possam explicar em alguma
medida determinadas estratégias de reprodução da comunidade; esta, em que pese ser
pressionada pelos agentes externos e em grande medida intercambiando com eles mecanismos
de adoção de renda e emprego, consegue estabelecer mecanismos de intercâmbio e de co-
existência, muito embora eivados por conflitos que se expressam pelo controle do território, dos
usos dos recursos naturais, pela invasão do espaço (reterritorializando/desterritorializando), como
é o caso das práticas do monocultivo e do turismo.
Essas transformações das últimas quatro décadas, como a análise dos dados empíricos
indica, parecem ter sido acarretadas num primeiro momento pela abertura da estrada de chão e
pela chegada da eletricidade, dois eventos que alteraram consideravelmente a vida na
comunidade. De fato, a chegada da empresa Comfloresta é marcante na história das
comunidades do sul da baía, mas possui um caráter ambíguo: se por um lado a chegada do
empreendimento na região trouxe empregos temporários e sazonais para centenas de moradores
pauperizados e resultou na abertura da estrada, diminuindo o isolamento geográfico da área, por
outro lado, sua chegada foi predatória sobre grandes áreas de floresta, devastadas em poucos
anos ao mesmo tempo em que seu perfil de inserção foi impositivo e levou ao êxodo em massa de
famílias que tinham suas terras vendidas por valores abaixo do mercado ou invadidas, reduzindo
o território das populações nativas que permaneceram.
Em seguida, os moradores se depararam com novas mudanças promovidas pela
valorização imobiliária que atrai principalmente turistas da pesca e veranistas “neo-rurais”,
motivadas também pelo fluxo emigratório, pelo envelhecimento da mão-de-obra dos que ficaram,
e também em decorrência de restrições ambientais produto da implementação da APA de
Guaratuba.
É importante considerar que a maior parte das decisões formais que se referem a novas
formas de apropriação dos espaços e recursos naturais vem de fora do litoral, tomadas com base
em orientações do mercado ou do Estado. A legislação ambiental, dos órgãos ambientais e as
dinâmicas administrativas da APA, organizadas via conselho gestor, parecem ser “entidades”
bastante distante da realidade dos moradores. Os relatos dos moradores expressam essa
interferência, permeada por ambiguidades.
Quanto à lavoura e sua relação com as restrições ambientais, a fiscalização recai mais
sobre o período de queimadas. Prevenindo-se da fiscalização e de eventuais multas, os
moradores que fazem sua roça perto do banhado, da estrada e das plantações de pinus, áreas
consideradas críticas em termos da legislação vigente e da ocupação massiva e quase
onipresente do pinus, optam por realizar a queimada para o preparo do terreno durante à noite,
em “bolas” (parcelas) distantes das estradas e casas, clandestinamente.
Em alguns relatos sobre o cultivo do arroz no passado, e hoje da mandioca, surgiu o
assunto das multas. A morosidade para se fornecer a licença para a queimada e os obstáculos da
burocracia, na Emater, foram mencionados como obstáculos para se fazer o processo em
concordância com o que exige a lei. Mesmo com o pagamento da devida taxa, a vistoria leva um
tempo que o cultivo, com vistas à obtenção de renda, não pode esperar.
Os relatos dos que já foram multados evidenciam uma tensão latente entre os órgãos
ambientais de controle e a população. Porém, as restrições não impedem a continuidade das
queimadas. O contexto descrito, que parece não ser apenas local, mostra a inexistência de
diálogo e de busca de soluções para o impasse. O cultivo dentro e fora da comunidade vai se
tornando clandestino para se manter, o que ilustra a falta de reconhecimento e de valorização da
cultura da mandioca, por parte dos agentes ambientais e demais instâncias do poder público.
Pode se dizer que, as interações com agentes e instituições externos não ocorre de forma
simétrica, adquirindo mais um caráter de subordinação e adaptação ou apropriação. Estes são
diversificados, conseguem tirar mais vantagem da relação de poder existente e representam, em
grande parte das situações, uma posição ambígua, ao mesmo tempo de benefício e ameaça
(SCHMITZ et al., 2009), como pode ser observado no caso da Comfloresta e dos turistas, e
mesmo da fiscalização ambiental. Isto reforça o que foi indicado no início sobre situações de
disparidade ou de assimetrias nas formas de distribuição do poder, beneficiando mais alguns
atores do que outros.
Considerações finaisO litoral do estado do Paraná é um cenário repleto de espaços rurais imbricados de forma
contraditória, senão oposta. As dinâmicas do capital vão além do simples capital produtivo, ligado
à formação de uma burguesia agrária ou de produtores capitalizados (tecnificados), como é o
caso da agricultura capitalista no Paraná.
Tratou-se de mostrar aqui que a região do litoral, em que pese suas características
próprias e singulares, “avessas” ao processo de modernização agrícola do Paraná como um todo,
sofreu uma pressão do capital e das políticas de Estado. Os efeitos da modernização no litoral se
fazem ouvir pela expansão dos serviços de turismo na orla marítima, pela introdução de culturas
agropecuárias e florestais e a instalação de empresas modernas no reflorestamento, na expansão
da infra-estrutura de exportação (o porto de Paranaguá), especulação imobiliária e processo de
apropriação violenta do território (terras devolutas, grilagem), mas também com um
reordenamento territorial por parte do Estado, ditado pela nova legislação ambiental, contida na
Constituição Federal de 1988.
Por sua vez, as populações locais do litoral se voltam a um modelo de reprodução
tipicamente mercantil. Trata-se de práticas ou realidades de uma economia de subsistência, que
encontra desafios frente aos processos tecnológicos e de mercado modernos (capital imobiliário,
especulação imobiliária, ação violenta de proprietários e políticos, práticas ilícitas, concentração
fundiária por ilícitos ou por processos econômicos, a exemplo do reflorestamento, etc.).
Algumas variáveis favoráveis a essas transformações irão apresentar um quadro sui
generis e diferente portanto das outras regiões. Neste sentido, variáveis culturais vinculadas às
estratégias de reprodução das comunidades do entorno da Baía de Guaratuba, seus vínculos com
a natureza (extrativismo animal e vegetal, práticas agrícolas e economia mercantil simples), com a
organização do trabalho predominantemente dividida entre a família e entre os vizinhos, estrutura
e laços familiares, uso comum da terra, deram conteúdo à formação típica dessas comunidades.
Constatou-se que a heterogeneidade de práticas materiais que os moradores mobilizam
podem ser entendidas como parte de suas estratégias de resistência para interagir com as novas
adversidades e pressões com que se deparam em seu espaço de vida e trabalho, buscando
assegurar sua sustentabilidade e reprodução social. Contudo, não fica muito explícito o significado
das estratégias conflituosas que derivam das tensões e controles diversos (por agentes estatais e
econômicos privados). Esses conflitos entretanto existem e estão na base das dificuldades de
buscar soluções em que os interesses dos moradores sejam levados em conta quando se adotam
intervenções sobre o território da comunidade.
Verificou-se que fatores relacionados à formação social da comunidade trazem implicações
diretas sobre a configuração do território da comunidade e sobre as formas de exploração dos
recursos naturais, como a rede de parentesco, formas de trabalho cooperativas e movimentos
migratórios. Da mesma forma, foram identificados atores e instituições externos à vida
comunitária (empresa Comfloresta de monocultivos florestais, turistas, pesquisadores, polícia
ambiental etc.) que influenciam fortemente os processos de gestão comunitária dos recursos
comuns. Dentre esses fatores externos podemos citar pressões relacionadas ao avanço de
monocultivos florestais inseridos por empresas extra locais, aos desdobramentos da criação da
APA de Guaratuba como a intensificação da fiscalização e do policiamento ambiental, as
iniciativas recentes de regularização fundiária fruto da ação conjunta da prefeitura e do governo
estadual, outras pressões advindas do mercado imobiliário com a valorização das terras e com o
recente crescimento do turismo, por exemplo.
As alterações na paisagem do território em relação às novas normas para o uso da terra
(restrição para o plantio pela empresas de reflorestamento) e do mar, e em relação à pesca
(fiscalização da polícia ambiental), alteraram as regras sociais das comunidades locais, sem que
houvesse a contrapartida de disponibilização de assistência técnica voltadas para áreas que
passaram a ser protegidas (FERREIRA, 2010).
Neste sentido, a análise de Teixeira (2004) sobre a realidade das comunidades afetadas
pela criação da APA de Guaraqueçaba pode se estender para as comunidades do sul da baía de
Guaratuba, se pensarmos que ambas possuem uma história semelhante. Localizadas no litoral
paranaense, as duas vivenciam simultaneamente as dificuldades comuns no meio rural brasileiro,
especialmente para os pequenos agricultores familiares (precariedade de serviços públicos,
ausência de crédito e políticas agrícolas etc.), e os bloqueios específicos ao manejo e uso dos
recursos naturais impostos pelos órgãos ambientais, estes advindos da legislação ambiental, que
são mais severamente aplicados em Unidades de Conservação.
A despeito das transformações ocorridas nos espaços rurais do litoral, verifica-se a
permanência do sistemas de uso comum, constantemente reelaborada e negociada, no processo
de des-re-territorialização. Desta forma, é possível dizer que os usos e as restrições dos bens
naturais territorializados são determinados pela sobreposição de diversos fatores externos, além
dos fatores propriamente endógenos relacionados às regras e instituições nativas, os quais
mudam e se atualizam ao longo do tempo. Esses resultados apontam para a possibilidade de se
olhar tais relações sociais a partir do que foi proposto pelos autores elencados que
complementam o enfoque institucional da teoria dos comuns.
Do ponto de vista do marco teórico elencado, pode-se dizer que uma vez que as
instituições podem ser apreendidas como uma expressão de alinhamentos políticos, olhar as
relações políticas no interior de comunidades e fora delas pode ajudar a produzir uma
compreensão mais acurada dos elementos que envolvem a criação ou reformulação de
instituições em torno dos recursos comuns. Não se trata, portanto, apenas de fornecer soluções
técnicas a problemas objetivos de desenvolvimento e conservação da natureza: os problemas e
suas soluções são eles mesmos parte de um processo político.
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