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Sacco dos Anjos, Flávio 2 Velleda Caldas, Nádia 3 Griep Hirai, Wanda 4 AGROALIMENTARIA. Vol. 16, Nº 30. Enero-junio 2010 (115-125) MUDANÇAS NAS PRÁTICAS DE AUTOCONSUMO DOS PRODUTORES FAMILIARES: ESTUDO DE CASO NO SUL DO BRASIL 1 Recibido: 06-01-2010 Revisado: 11-03-2010 Aceptado: 14-04-2010 1 Os autores agradecem ao CNPQ pela concessão de bolsa de pesquisa e financiamento do projeto e a CAPES pela concessão de bolsa de doutorado sanduíche (Acordo CAPES-DGU), realizado junto ao Departamento de Antropologia Social da Universidade de Sevilha, Espanha. 2 Doutor em Sociologia (Universidade de Córdoba, Espanha); Mestrado em Sociologia (Universidade Federal de Pelotas, Brasil); Agrônomo (Universidade Federal de Pelotas, Brasil). Professor do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar e do Mestrado em Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas, Pesquisador II do CNPq. Direção postal: Departamento de Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected] 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar (bolsista CAPES -Doutorado-Sanduiche-); Mestre em Ciências (Universidade Federal de Pelotas, Brasil); Socióloga (Universidade Federal de Pelotas, Brasil). Direção postal: Departamento de Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n, CEP 96001-970, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected] 4 Doutora em Serviço Social (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil); Assistente Social (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil). Professora da Faculdade de Serviço Social, Universidade Federal de Alagoas. Direção postal: Avenida Lourival de Melo Mota, s/n. Campus A. C. Simões, Tabuleiro de Martins. CEP 57072-900. Maceió, Alagoas, Brasil. Telefone: +55-82-32141232; e-mail: [email protected] RESUMO O processo de mercantilização da agricultura e a especialização produtiva alteraram as condições de existência social das famílias rurais do extremo sul do Brasil. Nesse contexto, o estudo se dedica a analisar as mudanças sobre as práticas de autoconsumo. O objetivo de incrementar o nível de ingresso econômico e a escassez de mão de obra faz com que as famílias abandonem essas práticas, passando cada vez mais a consumir os produtos adquiridos externamente. Esse fenômeno reveste importância por mostrar que nos encontramos diante da emergência de um processo de erosão de uma cultura tipicamente camponesa que marcou a formação histórica e social no Sul do Brasil. O trabalho se baseia em pesquisa qualitativa realizada entre os anos 2006 e 2008 em localidades rurais da microrregião de Pelotas, estado de Rio Grande do Sul, havendo sido realizadas 36 entrevistas semi-estruturadas realizadas com membros de explorações familiares, agentes da extensão rural oficial e outros atores sociais. Palavras chaves: autoconsumo, agricultura familiar, mercantilização da agricultura, Rio Grande do Sul, Brasil.

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MUDANÇAS NAS PRÁTICAS DEAUTOCONSUMO DOS PRODUTORES

FAMILIARES: ESTUDO DE CASO NO SULDO BRASIL1

Recibido: 06-01-2010 Revisado: 11-03-2010 Aceptado: 14-04-2010

1 Os autores agradecem ao CNPQ pela concessão de bolsa de pesquisa e financiamento do projeto e a CAPES pela concessão debolsa de doutorado sanduíche (Acordo CAPES-DGU), realizado junto ao Departamento de Antropologia Social da Universidadede Sevilha, Espanha.2 Doutor em Sociologia (Universidade de Córdoba, Espanha); Mestrado em Sociologia (Universidade Federal de Pelotas, Brasil);Agrônomo (Universidade Federal de Pelotas, Brasil). Professor do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção AgrícolaFamiliar e do Mestrado em Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas, Pesquisador II do CNPq. Direção postal: Departamentode Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grande do Sul,Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar (bolsista CAPES -Doutorado-Sanduiche-);Mestre em Ciências (Universidade Federal de Pelotas, Brasil); Socióloga (Universidade Federal de Pelotas, Brasil). Direção postal:Departamento de Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n, CEP 96001-970, Pelotas, RioGrande do Sul, Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected] Doutora em Serviço Social (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil); Assistente Social (Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio Grande do Sul, Brasil). Professora da Faculdade de Serviço Social, Universidade Federal de Alagoas. Direção postal:Avenida Lourival de Melo Mota, s/n. Campus A. C. Simões, Tabuleiro de Martins. CEP 57072-900. Maceió, Alagoas, Brasil. Telefone:+55-82-32141232; e-mail: [email protected]

RESUMOO processo de mercantilização da agricultura e a especialização produtiva alteraram as condições de existência social dasfamílias rurais do extremo sul do Brasil. Nesse contexto, o estudo se dedica a analisar as mudanças sobre as práticas deautoconsumo. O objetivo de incrementar o nível de ingresso econômico e a escassez de mão de obra faz com que as famíliasabandonem essas práticas, passando cada vez mais a consumir os produtos adquiridos externamente. Esse fenômeno revesteimportância por mostrar que nos encontramos diante da emergência de um processo de erosão de uma cultura tipicamentecamponesa que marcou a formação histórica e social no Sul do Brasil. O trabalho se baseia em pesquisa qualitativa realizadaentre os anos 2006 e 2008 em localidades rurais da microrregião de Pelotas, estado de Rio Grande do Sul, havendo sidorealizadas 36 entrevistas semi-estruturadas realizadas com membros de explorações familiares, agentes da extensão ruraloficial e outros atores sociais.Palavras chaves: autoconsumo, agricultura familiar, mercantilização da agricultura, Rio Grande do Sul, Brasil.

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RÉSUMÉ

ABSTRACT

RESUMENEl proceso de mercantilización de la agricultura y la especialización productiva cambiaron sensiblemente las condiciones deexistencia social de las familias rurales del extremo sur de Brasil. En este contexto, el presente estudio se dedica a analizar loscambios introducidos en las prácticas de autoconsumo. El objetivo de incrementar el nivel de ingreso económico y la escasadisponibilidad de mano de obra hacen que las familias renuncien al ejercicio de estas prácticas. Dicha tendencia es acompañadade un aumento en el consumo de productos alimenticios adquiridos externamente. El presente fenómeno reviste importanciacomo un indicativo de un proceso más amplio de erosión cultural de la herencia campesina a la que estuvo asociada laformación histórica y social del Brasil meridional. El trabajo se basa en una investigación cualitativa llevada a cabo entre losaños 2006 y 2008 en localidades rurales de la región de Pelotas, estado de Río Grande del Sur, habiendo sido efectuadas 36entrevistas semi-estructuradas con miembros de las explotaciones familiares, agentes de la extensión rural oficial y otrosactores sociales.Palabras clave: autoconsumo, agricultura familiar, mercantilización de la agricultura, Río Grande del Sur, Brasil.

The process of commoditization of agriculture and specialization of production has changed the social conditions of life tothe rural families of southern Brazil. In this context, the study is devoted to analyze the main changes that took place on thepractices of self-consumption. The families abandon these practices due to the objective of to increase the level of incomeand the scarcity of labor in theirs units of production. At the same time, the consumption of products purchased externallyhas been growing. This phenomenon is important to show that we are facing the emergence of a process of erosion of aculture typically peasant, that marked the historical and social formation in southern Brazil. This work is based on a qualitativeresearch carried out between the year 2006 and 2008 on rural localities of the region of Pelotas, State of Rio Grande do Sul.The authors realized 36 interviews with farmers and members of the family farming, as well as to agents of the rural officialextension and other social actors.Key-words: self-consumption, family farming, commoditization of agriculture, Rio Grande do Sul, Brazil.

Le processus de marchandisation de l’agriculture et la spécialisation productive, elles ont sensiblement changé les conditionsd’existence sociale des familles rurales du extrême sud du Brésil. Dans ce contexte, l’étude présente s’occupe d’analyser leséchanges introduits aux pratiques d’autoconsommation. Le but d’augmenter le niveau d’entrée économique et la disponibilitépeu abondante de main-d’œuvre ils font avec que les familles renoncent à l’exercice de ces pratiques. La dite tendance estaccompagnée d’une augmentation dans la consommation de produits alimentaires acquis extérieurement. Le phénomèneprésent revêt une importance comme un indicateur d’un plus ample processus d’érosion culturelle de l’hérédité champêtre, àlaquelle fut associée la formation historique et sociale du Brésil méridional. Le travail est basé sur une investigation qualitativeréalisée entre les années 2006 et 2008 sur des localités rurales de la région de Pelotas, l’État du Rio Grande do Sul, au cours delaquelle ils ont effectué 36 entrevues semi-structurées effectuées avec des membres des exploitations familiales, les agents devulgarisation en milieu rural et d’autres acteurs officiels.Mots-clefs: autoconsommation, agriculture familière, marchandisation de l’agriculture, Rio Grande do Sul, Brésil.

1. INTRODUÇÃOPelas mãos de Antônio Cândido surgia, há pouco maisde quatro décadas, um dos mais emblemáticos estudosetnográficos brasileiros: «Os parceiros do Rio Bonito».Nessa obra seminal encontramos a defesa de uma«sociologia dos meios de subsistência» como caminhoatravés do qual iluminar-se-ia um importante campodo conhecimento, até então visto como de escassarelevância. Neste estudo tem-se a exata dimensão de

que as necessidades alimentares ostentam um duplocaráter: natural e social, mais além de simples expressãode impulsos orgânicos (Cândido, 1987: 23).

Sob esse entendimento, para cada cultura há umatécnica de viver, da qual a alimentação faz parte. Saciara fome e garantir uma dieta satisfatória torna-se o cen-tro de um dos mais vastos complexos sócio-culturais,abrangendo atos, normas, símbolos e representações.A obtenção da comida confunde-se, segundo Cândido,

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com a gênese de quase todas as instituições sociais.O foco do presente artigo toma por base recentes

pesquisas realizadas pelos autores em comunidadesrurais dos estados meridionais do Brasil, precisamenteem localidades marcadas pelos traços da imigraçãogermânica e italiana. A ênfase desses estudos identifi-ca-se com o esforço por compreender os mecanismosde reprodução social adotados no âmbito deexplorações de caráter familiar.

E foi no contato com a realidade concreta que vi-mos fortalecer nossas inquietações acerca de possíveistransformações porque passam as práticas deautoconsumo na dinâmica das famílias rurais. Há, porcerto, um movimento geral que afeta ao conjunto dapopulação mundial, resumido por Mintz (2001: 37),como a separação crescente entre produtores e consu-midores, a disposição cada vez maior em consumir ali-mentos preparados, o declínio da habilidade culináriadas classes médias e outras tendências incidentes tan-to sobre o âmbito urbano quanto rural.

A amplitude do tema é indiscutível e não temos apretensão de abarcar o universo de aspectos atinentesàs mudanças nos padrões de consumo da sociedade emgeral. Nosso objetivo é o de rever a contribuição empí-rica e teórica acerca da questão do autoconsumo nocontexto da agricultura familiar. A hipótese geral deque partimos converge no entendimento de que, sob oimpacto da mercantilização da agricultura, com seusdesdobramentos relativos à intensificação emodernização dos processos de produção, houvemudanças substanciais nas práticas de autoconsumo.Essas mudanças afetam em graus variáveis, mas indis-tintamente, ao conjunto de famílias rurais como resul-tado de uma série de fatores que se buscou resgatar nomarco de uma pesquisa que se desenvolveu entre 2006e 2008 em localidades rurais da microrregião de Pelo-tas, por intermédio de 36 entrevistas semi-estruturadasrealizadas com membros de unidades familiares deprodução, agentes da extensão rural oficial e outrosatores sociais.

Algumas grandes questões exprimem claramente ofoco da pesquisa e de todo o processo de reflexão. Nessecontexto, indagamos: quais as possíveis razões ecircunstâncias que supostamente acarretam a perda deprotagonismo das práticas de autoconsumo das famíliasrurais do extremo sul gaúcho? Em que medida aatividade comercial predominante no estabelecimentofamiliar influencia esse processo? E finalmente, comoas famílias avaliam as mudanças nessas práticas, quedurante muito tempo eram admitidas como expressãosingular de uma cultura tipicamente camponesa do Brasilmeridional?

A identidade do colono sul-brasileiro, expressão vivada condição camponesa, nutre-se umbilicalmente dosuposto mito da autonomia das famílias em relação aomundo externo, no que tange à autoprovisão parcial ouplena de suas necessidades alimentares. Compreenderas forças que agem sobre essa realidade é, portanto, ocentro de nossa reflexão.

2. AGRICULTURA FAMILIAR, AUTOCONSUMO ECAMPESINIDADE NO SUL DO BRASILÉ sobretudo na segunda metade da década de 1990que a noção correspondente à agricultura familiar foiintroduzida, quase que simultaneamente, na cenaacadêmica e política brasileira. Esta pode ser entendi-da como uma forma social de produção que apresentauma lógica peculiar de funcionamento, cujaracionalidade orienta-se na busca por assegurar areprodução social de seus membros.

Para Gasson e Errington (1993) ela pode ser defini-da a partir de alguns traços fundamentais, quais sejam:a) a gestão é feita pelos proprietários; b) os responsáveispelo empreendimento estão ligados entre si por laçosde parentesco; c) o trabalho é fundamentalmente fami-liar; d) o patrimônio pertence à família; e) o patrimônioe os ativos são objeto de transferência intergeracionalno interior da família; e, finalmente, f) os membros dafamília vivem na unidade produtiva.

Mas é importante frisar que quando nos estamosreferindo a agricultores familiares não temos em menteapenas produtores, mas sujeitos históricos quereproduzem valores de uma cultura, que em maior oumenor medida, é preservada no Sul do Brasil, a qualpoder-se-ia denominar como tipicamente camponesa.A carga de subjetividade nesse universo simbólico seexpressa, entre outros aspectos, nas formas detransmissão do patrimônio fundiário (Seyferth, 1985),no sentido atribuído às relações de parentesco(Woortmann, 1995) ou à comida produzida pela famíliana própria terra, em detrimento do alimento adquiridojunto ao comércio local ou regional.

Objetivamente o autoconsumo é definido por Leite(2004: 125) como sendo uma fração da produçãoagropecuária (agrícola, pecuária, extrativista e aquelaque deriva de produtos primários beneficiados) que serealiza no estabelecimento rural e se destina ao consu-mo alimentar dos membros da família; e, inclusive, àalimentação animal e a outros usos na atividadeprodutiva.

Parte-se do entendimento de que parcela expressivada produção científica orientada a investigar osprocessos atinentes à dinâmica da agricultura familiarconcede escassa importância a essa dimensão. A

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tendência economicista, como advertiu Woortmann(1990), vê estritamente o campesinato e, na nossaacepção, a agricultura familiar, como um modo deprodução com sua lógica própria ou como o resultadode determinações impostas pela lógica do capital. Nessecontexto, a ênfase recai sobre a dimensão comercial daexploração familiar e sobre a funcionalidade dessa for-ma de produção à acumulação do capital.

A questão do autoconsumo foi enfocada por GarciaJr. (1990) ao descrever o «princípio da alternatividade»que carregam certos cultivos, especialmente a mandio-ca, a qual pode ser comercializada, consumida in naturapela família, convertida em farinha ou retida para ven-da posterior. Assim, a comercialização da produção nãoé analisada como se fora um simples «excedente» emrelação às necessidades da família, mas como expressãomaterial da complementaridade existente entre oproduzir com objetivos mercantis e o atendimento dasnecessidades alimentares da família.

Parece óbvio que a marca da alternatividade nãopode ser transferida a um amplo leque de atividadesque são atualmente centrais à dinâmica da agriculturafamiliar no Brasil meridional, como é o caso do tabaco,soja, pêssego, uva, avicultura, suinocultura, entre outras,regidas, ao fim e ao cabo, pelo caráter intensivo dosprocessos produtivos. O fato é que a produção de ali-mentos para o consumo familiar representa o símbolomaior acionado pelos colonos para «diferenciá-los dosimples operário» que vive só do salário, como referiuSeyferth (1992: 93).

Há por certo, um expressivo número de trabalhosque evocam o impacto produzido por novos hábitosde consumo alimentar. Tanto na Ásia quanto na Áfri-ca, como alude Mintz (2001: 38) «as dietas ruraisincorporam mais gêneros de primeira necessidade do que as die-tas urbanas» por uma série de fatores que incluem acrescente incorporação de mulheres ao mundo dotrabalho. Essas supostas mudanças também aparecemassociadas ao fato de que o consumo alimentar implicaum processo de distinção e classificação social nos ter-mos propostos por Bourdieu (1979). Com base nesseentendimento, a crescente incorporação de produtosindustrializados poderia ser tomada como expressãodessa suposta tendência de ascensão social por partede famílias rurais acostumadas às vicissitudes doconhecido «déficit de cidadania» em que se encontramimersas.

Há, destarte, um conjunto de vetores que vemimpactando sobre a dimensão do autoconsumo no con-texto das famílias rurais do Brasil, o qual importa des-tacar para o argumento central que sustenta o presenteartigo.

3. MERCANTILIZAÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR NOEXTREMO SUL GAÚCHO5

As então províncias do Rio Grande do Sul e SantaCatarina foram o destino principal de um processo decolonização iniciado com a vinda de imigranteseuropeus não-ibéricos durante o século XIX. Aimigração alemã iniciou-se em 1824, quando chegaramas primeiras famílias à recém fundada Colônia de SãoLeopoldo, no vale do Rio dos Sinos, próxima à capital(Porto Alegre). Mas, como advertiu Seyferth (1974),sob o rótulo de «colonos alemães» englobam-se todosos imigrantes procedentes da Alemanha, Áustria ouPolônia de fala germânica. A imigração italiana ocorresomente a partir de 1875, tendo como destino primor-dial a região serrana gaúcha e os campos de «cima daserra». A conhecida prosperidade dos núcleos coloniaisé atribuída a uma série de fatores, entre os quais o dehaver surgido «longe das regiões de grandes propriedades luso-brasileiras empenhadas na criação de gado» (Seyferth, 1974:29).

Sobre esse aspecto é crucial mencionar que no ex-tremo sul gaúcho o processo de colonização comimigrantes europeus (alemães, pomeranos, italianos efranceses) só irá ocorrer na segunda metade do séculoXIX, numa região marcada pelo peso do latifúndio eda pecuária extensiva. Nessa parte do Brasil o processode colonização, de natureza eminentemente privada,surgiu como negócio promissor que converteu a Serrados Tapes, que se estende pelos municípios de SãoLourenço do Sul, Pelotas e Canguçu, no locus doassentamento dos primeiros colonos nesse território.Por meio de contrato firmado com o Governo Imperialbrasileiro, o empresário alemão Jacob Rheigantzconverteu terras devolutas em objeto do assentamentodas famílias em lotes com aproximadamente 25hectares.

Não nos parece um exagero afirmar que aconstituição desses núcleos coloniais representou osurgimento de um verdadeiro «enclave» da agriculturade base familiar em meio ao império da oligarquia re-gional ligada à pecuária extensiva e à produção do char-que6.

5 Gaúcho é o topônimo de quem nasce no Estado do Rio Grandedo Sul, na região Sul do Brasil, ou de que é produzido ou é oriundodessa unidade federativa que faz fronteira com o Uruguai ao Sul e anoroeste com a Argentina.6 Corresponde à produção de carne salgada em estabelecimentosprodutivos (charqueadas) e que foi, durante os séculos XVIII e XIX,o esteio essencial da economia do extremo sul gaúcho. O charque eraproduzido pela mão-de-obra escrava e exportado para outras regiõesdo Brasil e do mundo.

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O campesinato que emergiu no extremo sul gaúchodedicou-se à policultura e à pecuária de pequena esca-la, sobretudo para atender ao mercado de consumo ur-bano crescente de Pelotas e região. Além do «ourobranco» das colônias7 (banha suína), havia uma gamade produtos que tendem a desaparecer nos anossubseqüentes por conta de transformações a que pos-teriormente abordaremos. Desse rol fazem parte o al-piste, alfafa, piretro, cevada, aveia, marmelo, figo, tri-go, batata inglesa, feijão, milho, cebola, bem como osprodutos derivados da transformação operada nospróprios estabelecimentos (laticínios, doces em pasta,conservas, etc.). O auge das colônias coincidiu com oalto nível de diversificação produtiva das comunida-des rurais, responsáveis por engendrar as bases de umaindústria rural de natureza artesanal, mas bastante im-portante à época. Dela fazem parte os moinhoscoloniais, as primeiras cantinas de vinho e, sobretudo,as primeiras indústrias de conservas de pêssego e deaspargo.

Conforme advertiu Grando (1990: 19) as origensda indústria de conservas vegetais da região de Pelotasestão nas fábricas artesanais rurais, que, «ao saírem dodomínio camponês, se transformaram num parque de unidadesindustriais, o qual veio a ser o maior do gênero no Brasil»8.

Mas esse processo de expansão industrial não se deude forma aleatória ou espontânea, senão como resulta-do direto de uma política deliberada de incentivosfiscais e creditícios concedidos ao grande capital, quese inicia durante a Era Vargas com o monopólio estataldo trigo e o fechamento compulsório dos moinhoscoloniais, ampliando-se nas décadas subseqüentes, viaimplantação do modelo de substituição de importaçõesdurante a ditadura militar. Com efeito, na região dePelotas o período compreendido entre as décadas de1950 a 1970 coincide com o surgimento de grandesindústrias conserveiras (compotas de pêssego, figo,aspargo, abacaxi), essencialmente situadas no períme-tro urbano dessa cidade-pólo do sul gaúcho.

Paradoxalmente esse gênero de atividade industrial,surgido no âmbito das colônias e introduzido porimigrantes franceses, praticamente desapareceu nasáreas rurais, assestando um duro golpe às colônias do

7 A expressão em epígrafe foi utilizada por Roche (1969) ao referir-seà importância comercial assumida pelos derivados de porco, particu-larmente banha e toucinho no âmbito das colônias do Sul do Brasil.8 Grando (1990) descreve a importância da colônia francesa comoresponsável pelo surgimento das primeiras indústrias de pêssegonuma região que, durante os anos 1960, contava com mais de umacentena de empresas, de pequenas a grandes indústrias, sediadas fun-damentalmente no meio urbano de Pelotas.

extremo sul gaúcho e à sobrevivência de muitosestabelecimentos familiares. O fechamento dasagroindústrias rurais familiares responde às crescentesexigências da legislação sanitária e fiscal que, sob aalegação de preservar as condições de higiene dasinstalações e equipamentos, impuseram o fim dessesempreendimentos.

Paulatinamente os colonos vão se convertendo emprodutores especializados de matéria-prima para aindústria de conservas, abandonando, definitivamenteum traço peculiar dessa forma social de produção, mar-cada pela ênfase na policultura, diversificação deat ividades e fontes de ingresso econômico. Asimplificação dos sistemas de culturas é um fatoinquestionável, conjuntamente com a subordinação aum mercado regional oligopsônico9 que se impõe a umnúmero estimado em 3,5 mil famílias rurais que passama depender, em maior ou menor medida, de uma únicafonte de ingresso econômico.

A modernização dos processos produtivos agráriostraduz uma das dimensões em que passa a operar amercantilização da agricultura e da vida social nascolônias do extremo sul gaúcho. É, por certo, umprocesso multifacetado, seguindo a acepção de Van DerPloeg (2006: 16), que assume distintos contornos nocontexto em que operam as formas familiares deprodução, as quais se tornam cada vez mais subordina-das e dependentes do comportamento dos mercados.A externalização da produção decorre da crescentedependência dos insumos e de serviços adquiridos forada exploração.

O aparecimento de novas necessidades materiais, amultiplicação de relações mercantis, ainternacionalização da agricultura, com a crescenteexposição às oscilações dos mercados, figuram em des-taque como uma perversa tendência que conduz asfamílias à especialização produtiva. O pêssego repre-senta um exemplo emblemático de um fenômeno quealcança o Sul gaúcho até meados da década de 1970.

Mas a década de 1980 é marcada pela crise do setorconserveiro, com a falência de muitas das grandesindústrias que processavam o pêssego, aspargo,morango, ervilha e outros produtos de extremaimportância para a sobrevivência de milhares defamílias rurais que, como se disse anteriormente, haviam

9 A expressão destacada refere-se ao fato de que os produtores ruraisencontram-se submetidos a uma relação na qual a venda do queproduzem está limitada a um grupo bastante pequeno decompradores que, conseqüentemente, impõem o preço que lhesconvêm, normalmente pactado previamente pelos comerciantes edonos de fábricas de produtos alimentícios.

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sido convertidas em produtoras especializadas dematérias-primas industriais. Boa parte delas encontrouna horticultura e/ou produção de leite uma alternativaeconômica, ao passo que um grande número destassucumbiu, em meio à crise, e deixou o campo.

Igualmente, a década de 1990 reserva um fatoinusitado na cena rural do extremo sul gaúcho e tem aver com uma impressionante expansão da cultura dofumo. Essa atividade ocupa hoje em torno de 182 milfamílias rurais nos Estados meridionais. O extremo sulgaúcho é uma das mais importantes regiões produtorasdo Brasil e a expansão do tabaco provoca a erradicaçãomassiva de pomares de pêssego, de plantações deaspargo e de morango nas duas últimas décadas.

A partir de dados colhidos junto à Afubra10 (2008)foi possível chegar a uma estimativa que aponta paraum total aproximado de 12 mil famílias envolvidas coma cultura do fumo na área que correspondeu à presenteinvestigação. Essa atividade adquire um protagonismoinquestionável pelo fato de haver sido convertida naprincipal, quando não exclusiva, fonte de ingressoeconômico para milhares de famílias.

O plantio do fumo requer um trabalho intensivo porparte de toda a família, ao longo de todo o ano (Paulilo,1990). A relação das famílias com as empresas é regidapor contratos de integração vertical que, se por um lado,asseguram a compra antecipada da produção, por outro,obrigam as primeiras à adoção de um pacote tecnológi-co, via fornecimento de adubos, agrotóxicos e serviços(assistência técnica), cujo custo é descontado ao finalda safra. Mas os produtores são igualmenteresponsáveis pela secagem do fumo colhido a campo,em estufas (construção de tijolos financiada pelasfumageiras), sendo essa uma etapa das mais complexasface os riscos que envolvem à qualidade da produção,a insalubridade da operação e a extensão das jornadasde trabalho.

Na área correspondente ao contexto do presenteestudo existem atualmente, segundo dados do INCRA-SADE (2007), 16.191 estabelecimentos de caráter fa-miliar (95,7% do total) dedicados a um conjunto bas-tante reduzido de atividades produtivas, se comparadocom os primórdios do processo de colonização.

O período coincidente com a modernização con-servadora (1965-1980) é marcado pelo aprofundamentodo processo de mercantilização da agricultura e da vidarural que, como dito anteriormente, trouxe consigo

10 A Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil) registra umcrescimento de 93% no número de famílias produtoras de fumoentre as safras 1979/80 e 2006/07. Na última safra a área média plan-tada por família é estimada em 2,16 hectares.

inúmeros desdobramentos. A simplificação dos siste-mas de culturas, a especialização e intensificaçãoprodutiva e a quimificação da agricultura são vistoscomo implicações diretas de um fenômeno no qual aperda de autonomia das famílias é incontestável,conferindo-lhes uma posição subordinada e cada vezmais vulnerável em relação aos mercados e às grandesempresas.

Em última análise, as décadas de 1980 e 1990 sãomarcadas pela decadência da indústria de pêssego e pelaespetacular expansão da cultura do fumo, processo queemoldura um novo ciclo de expansão e mercantilizaçãodos espaços rurais do extremo sul gaúcho.

4. A MERCANTILIZAÇÃO DA AGRICULTURA E ASTRANSFORMAÇÕES NAS PRÁTICAS DEAUTOCONSUMOA mercantilização da agricultura e dos espaços ruraisno Brasil meridional se impõe de forma implacável so-bre o universo da agricultura familiar. Como é sabido, arelação com o mercado é um aspecto intrínseco ao modode vida dos descendentes de europeus no Sul do país,os quais desenvolveram um sistema de policultura ar-ticulado à criação de pequenos animais e de gado paraa produção de leite.

Mas o que se quer chamar atenção nesse trabalho éque no curso das transformações operadas a partir damodernização da agricultura houve a eliminação demuitas explorações familiares que se mostravamincapazes de incorporar as inovações tecnológicas e onovo modo de produzir. As que conseguiramsobreviver, sob um ambiente invariavelmentedesfavorável, foram lançadas a uma perversa espiralque lhes conduziu à especialização produtiva. Deixamosisso claro na secção precedente, com base em algunscasos emblemáticos, a exemplo do ciclo do pêssego eda plantação do tabaco que lhe sucedeu em grau deimportância.

Com isso, uma família que no passado contava comum amplo e diversificado conjunto de produções e defontes de ingresso econômico, passa agora a dependerde uma única atividade produtiva, em meio ao cenárioda especialização.

O que aqui se busca evidenciar é que no afã derentabilizarem o espaço produtivo para incrementar onível de ingresso econômico, a produção destinada aatender o autoconsumo vem sendo sistematicamentesacrificada.

Todavia, antes de entrar na discussão dos dadoscolhidos na imersão realizada a propósito dessa pes-quisa, convém reafirmar a importância dessa categoria

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obviamente, ao mito da autonomia alimentar aludidoanteriormente.

A mercantilização não se exprime apenas do pontode vista da dinâmica que orienta a produção do frango,em meio à compra compulsória dos insumos vendidospela empresa, os rigorosos controles da eficiênciaprodutiva e de rentabilidade do negócio, mas inclusivepor força do fato de que o abastecimento de artigosconsiderados essenciais à vida doméstica (carne e ovos)é agora regido pela via da compra, não sendo maisgerado pela família nos limites da própria exploração.

Na atual conjuntura, produzir significa ampliaçãoilimitada do consumo de bens e serviços em relaçãoaos quais os agricultores possuem uma reduzida margemde interferência, como revelam alguns depoimentos, naanalogia que os entrevistados realizam com o «tempodos pais» ou dos antepassados:

«Isso aí totalmente mudou, né, a gente tava lembrandodos pais, era lavrado tudo a cavalo, plantava milhocom matraca... Tinha uma sacola do lado, abria acova e largava a semente e plantava essa terra toda etinha quatro junta de cavalo, mas naquela época davao milho, sobrava um pouco mais, porque hoje oinvestimento é maior, comparando [...] Plantavabatata sem agrotóxico e se colhia batata sem veneno.Hoje se tu vai plantá, sem colocá nada, o bichinhocome, né... Plantava-se muito feijão, se fazia roçanova. A gente tinha criação de porco, mas se tu tinhaum lote de dez porco, fazia dinheiro (...). Hoje tutens 100 porco e não sobrevive (...).Hoje em dia a gente fica com nojo do serviço que tem.Nós plantávamos fumo, milho, feijão, batatinha paracomer e batata doce a gente vendia, animal a gentecriava e vendia também, galinha a gente criava parao consumo e porco pra vender... A gente era umafamília humilde, nem luz elétrica tinha, nemgeladeira, nem freezer, nem nada, a gente fazia todacarne, coisa assim: a gente fritava e botava em umalata de banha tudo assim, bem antigão... Ao passaro tempo a gente foi botando luz, a gente foi compran-do as coisas e foi se adaptando (...)».

A percepção de nossos entrevistados é clara emrelação às melhorias que os novos tempos trouxeramconsigo. O trabalho é mais facilitado em face dasinovações tecnológicas, assim como o nível de confor-to das casas, com tudo o que a vida moderna é capazde oferecer. Mas essa realidade é plagada decontradições na medida em que transforma completa-mente um modo de vida que hoje passa a ser governadopela frenética busca por rentabilizar o uso da terra e daforça de trabalho familiar que, no último caso, torna-se

-o autoconsumo- como elemento idiossincrático da cul-tura camponesa, que no Sul do Brasil, cristaliza-se emtorno do termo colono em todas as acepções correlatas.Com efeito, as práticas de autoprovisão são referidasde diversas formas, mas o que é recorrente é a suacentralidade nas representações do universo socialdessas comunidades. Nesse sentido:

«Plantar para o gasto», em muitos casos, torna-sea característica mais evidente da condição de colo-no, e o define primordialmente como um produtorde alimentos para si e depois, se possível, para ousoutros» (Seyferth, 1992: 82; destaque no ori-ginal).

Mas esse traço de identidade do colono, em tornodo qual sedimentaram-se certas representações, há queser seriamente relativizado nas atuais circunstâncias.Diversos vetores e circunstâncias conspiram para con-formar esse quadro, tanto no plano externo quanto in-terno à própria exploração familiar. Parte-se aqui dapremissa de que estas famílias «adotam estratégias micro(de curto e de longo prazo) como resposta a pressõesmacroeconômicas e políticas (preços, leis)» (Almeida, 1986:67).

Não obstante, no plano externo são flagrantes aspressões emanadas das empresas do complexoagroindustrial com quem as famílias assinam contratosde integração vertical. Exemplo disso pode ser visto apartir do que estabelece a líder mundial11 na produçãode carnes de aves e derivados que atua na região. Comefeito, no curso da presente investigação fomos infor-mados que a referida empresa proíbe as famílias deavicultores integrados de manterem aves de fundo dequintal ou porcos em seus estabelecimentos. A justifi-cativa decorre da preocupação com a sanidade dos lo-tes criados em regime de confinamento, cujo númeromédio varia entre 16 e 21 mil aves por família12.

Se por um lado, a empresa assegura a compraantecipada dos frangos, a assistência técnica e ascondições de produção, por outra parte impõe um rígi-do controle do processo e impede que a família a elavinculada preserve uma atividade fundamental, tantona perspectiva da reprodução material de seus membrosquanto do ponto de vista simbólico. Referimo-nos,

11 Referimo-nos ao grupo francês Doux Frangosul. Trata-se do maiorprodutor europeu de aves e de produtos transformados à base decarne de aves, com um faturamento equivalente a 1,2297 bilhões deEuros em 2006 e que é uma das grandes empresas deste setor queatua no Estado do Rio Grande do Sul. Mais detalhes em:http://br.doux.fr/12 Cada família produz entre 6 e 8 lotes, perfazendoaproximadamente 145 mil aves/ano.

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cada vez mais escassa em função do reduzido númerode filhos.

Nos meios acadêmicos especializados é bastanteconhecida a metáfora do treadmill13 de Cochrane (1979),segundo o qual, os agricultores vêem-se permanente-mente obrigados à incorporação de novos processos etecnologias, sob pena de serem expulsos da atividade.O ritmo é ditado pelas imposições do mercado, sendoeufemisticamente chamado, nos meios acadêmicos esocio-profissionais, de «profissionalização da agricultura».No curso desse processo outras dimensões são afetadas,como revela o depoimento de um dos nossos entrevis-tados:

«Antes era tudo natural, hoje é tudo à base de enla-tado, nós até que procuramos fugir disso. O proble-ma é como eu já dis se antes , nós somosprofissionais do leite, e como falta mão-de-obrapra nós, então nós não produzimos o feijão, a bata-ta, gente vai e compra esses produtos, só que a gentevai ao supermercado, tu compra um produto comprodutos químicos e isso é difícil pra nós, porque sea gente tivesse mão-de-obra poderia plantá a bata-ta, o feijão e seria muito melhor» (o destaque énosso).

As famílias intensificam a produtividade como for-ma de compensar o declínio dos preços dos produtosnos mercados, fenômeno esse já detectado porChayanov (1974) ao estudar o comportamento doscamponeses russos no início do século XX.

Intensificar o ritmo de trabalho, ampliar a escala deprodução e especializar-se em determinado tipo decultivo ou criação é parte de um conjunto detransformações de grande envergadura. A incorporaçãodos bens de consumo duráveis propicia o conforto aosmembros da família. Mas essas comodidades têm seupreço:

«Naquele tempo não existia nem energia, não tinhatelevisão, geladeira, meio de comunicação, mão-de-obra era mais difícil, não tinha tratores, era tudomais manual, as pessoas se judiavam mais o corpodo que hoje. Hoje, o trabalho é mais facilitado, masse torna mais caro, o custo de vida é mais alto, asdespesas são muito mais altas e o retorno é menordevido a tantas despesas, é muita conta pra pagar».

O tempo dos pais era um tempo de restrições mas,por outra parte, o grau de mercantilização da vida ruralnão havia atingido níveis tão elevados quanto os dehoje. Destarte, a grande insatisfação brota do fato deque o produto do trabalho do colono não goza do

13 Espécie de esteira rolante ou «cinta de caminhar»

reconhecimento esperado por parte da sociedade emgeral. O abastecimento das cidades já não é maisatribuição das colônias, mas de uma complexa redeliderada pelos hipermercados e grandes superfícies devarejo. Elevam-se os custos de produção com o usodas inovações, mas o preço dos produtos agrícolas écada vez mais baixo em face de uma concorrência quevem de dentro e de fora do país, além de outrasdificuldades:

«Nós como agricultores, eu acho que sofremos muitocom a conseqüência do tempo, porque quando chovedemais é problema, quando falta chuva é problematambém [...]. Também a gente com todo esforço produze quando tem em abundância, não tem mercado ouentão os preços caem muito. E olhando pra trás pa-rece que a gente recebia mais por esses produtos quetu vende hoje, mas o custo pra tu produzir é umcusto a mais, tu trabalhas mais e ganhas menos,porque o lucro, hoje em dia, é mínimo».

Em nenhuma outra atividade agrícola o grau deimplicações da mercantilização da agricultura é tão in-tenso quanto no caso do fumo, se temos em mente ofato de que muitas famílias estão deixando de produzirpara o autoconsumo em face da escassez de tempo ede mão-de-obra:

«É muita ocupação (...). O fumo não deixa a gentecuidar de mais nada, é uma dedicação total, temgente, como o meu sogro, que é 24 horas, porque elecuida o fogo durante a noite da estufa... A gente nãotá trabalhando 14 ou 15 horas por dia, a gente tátrabalhando 24 horas, tem pouco tempo pradescansar.Eu sei que naquela época se comprava muito poucode fora, quase que se consumia o que se tinha, arroze tudo (...). O que era mais necessário era açúcar,querosene e sal. Hoje se compra tudo, o pessoal vai àcidade e compra um pé de repolho, qualquer coisa esai ali direto, muitas vezes vem de São Paulo, por-que o pessoal compra. Todos têm propriedade, mas ofumo não nos deixa tempo pra nada, trabalha oano inteiro em cima do fumo e quando termina declassificar, já tem canteiro, sementeira, semear de novoe nem terminou a safra passada e depois tem quefazer lenha pra queimar. Eu acho muito erradocomprá essas coisa com veneno que podia ter em casasem veneno».

O sentimento de impotência frente à falta de tempopara dedicar-se ao autoconsumo não é visto como ne-gativo apenas pelo fato de ferir a autonomia camponesaidealizada, mas porque a família passa a consumirprodutos de procedência desconhecida, obtidos com o

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uso de agroquímicos, como revelou o depoimentoacima.

As famílias que ingressaram na senda daespecialização produtiva vivem hoje uma realidadeparadoxal. Se, por um lado, conquistaram um nível dedesenvolvimento tecnológico razoável, vêem-se diantedas incertezas dos mercados, das crescentes imposiçõesdas empresas às quais acham-se integrados e renunciamà possibilidade de produzir, ainda que parcialmente, opróprio alimento. O depoimento a seguir é de um agri-cultor que se especializou na produção de pêssego paraas indústrias de conserva:

Batata eu compro no supermercado, eu não tenhovergonha de dizer isso. O feijão eu compro dorapaz que planta aí na volta. Pra mim é maisvantagem o leite comprado de caixinha [...] Eu voulá no supermercado e pego o leite de caixinha porqueeu entendo que não tenho que me envolvê com essascoisa [...] Só galinha, ovo nós temo o ano todo, masnão quero mais porco, eu já tive porco, vaca e eu nãoquero pra mim, é só incômodo. O tempo que eu vôtratá um boi eu tô fazendo outro trabalho... (odestaque é nosso)

A erosão dos padrões culturais tradicionais dá lugara reelaborações que buscam legitimar a opção, cada vezmais recorrente, de transferir aos mercados e a outrema tarefa de suprir as necessidades alimentares dosmembros da família.

Mas o acesso aos alimentos, para uma parcela signi-ficativa destas famílias, não se dá apenas pela via dosmercados locais, mas inclusive por uma atividade re-gular exercida por donos de camionetas que circulampelas estradas rurais, vendendo tais produtos.

«Eu plantei batata esse ano pro gasto e me arrependi.Mas é muito mais negócio ir ao mercado e compraruns quilos que tu vai consumir (...). O caminhão dafeira passa aí na frente, é muito mais fácil eu com-prar deles dois ou três reais de verdura do que cui-dar uma horta, porque não vale a pena (...). É muitomais fácil comprar do que produzir».

O caminhão da feira, a que nosso entrevistado serefere, corresponde ao trabalho de alguns comercian-tes que residem no interior das comunidades e quevivem dessa venda itinerante nas cidades e no meiorural. O insólito recai no fato de que a clientela ruralcresce a cada dia em face dos aspectos sublinhadosanteriormente.

As práticas de autoconsumo justificar-se-iamquando se anseia consumir um produto seguro em ter-mos da ausência de contaminantes ou em virtude dequalidades intrínsecas que o artigo adquirido fora nãopossui. Essa é a posição de algumas famílias entrevis-

tadas e que atualmente dedicam-se à produçãoecológica de frutas e hortaliças:

«Horta, ovos, carne, leite, tudo isso é daqui de casa,tanto carne bovina, frango, como galinha caipira [avede curral] (...). Eu acho que não se economiza, setem pelo fato de ser mais saudável, mas não que issotraga um retorno econômico, isso não, porque no casoovos e essas galinha, na verdade, comem mais doque a gente fosse ao mercado».

A análise de representações sobre identidadecamponesa consistiu no objeto de estudo de trabalhodesenvolvido por Seyferth no Vale do Itajaí-Mirim, es-tado de Santa Catarina. O estudo evidenciou a oposiçãoexistente, no imaginário de comunidades teuto-brasileiras, entre colonos fortes e colonos fracos. Osprimeiros são tomados como modelo do camponêsideal, ou seja, «aquele que possui a propriedade de terrassuficientes para se reproduzir sem que um dos membros tenhade recorrer a alguma atividade assalariada» (Seyferth, 1992:83). Com efeito, «são, portanto, os «verdadeiros» camponesesporque têm uma só ocupação: a agricultura ou, maisespecificamente, a policultura» (Seyferth, 1992: 83 -desta-cado no original-).

No extremo oposto, são colonos fracos os que sevêem diante da obrigação de buscar um trabalhoassalariado nas fábricas de confecções da região,geralmente detentores de colônias pequenas (menos de10 hectares), submetendo-se à autoridade direta de umpatrão ou de seus imediatos. No entender de Seyferth(1992: 95), «a reafirmação da condição camponesa se faz numuniverso de contradições, não só por causa da natureza própriado campesinato, mas também em face da realidade daproletarização, que atinge a todos - fortes e fracos».

Coincidimos com Seyferth em relação ao peso dasambigüidades que encerra tal noção no plano dasrepresentações e práticas adotadas pelos indivíduos.Entrementes, deixamos claro que há um conjunto deevidências que conspiram para uma crise muito maisprofunda, envolvendo a erosão de certos valores rela-tivos a uma dimensão essencial que identificava todoum estilo de vida, responsável por forjar umasociabilidade singular no Sul do país.

Encontramo-nos, portanto, diante de uma dasdimensões que identificam a crise de expectativas en-gendrada, fundamentalmente, pelos impactos advindosda mercantilização da vida rural, com seus inúmerosdesdobramentos. No limite, nosso estudo buscouestabelecer a conexão existente entre a modernização,em sentido amplo, com a invalidação e deslegitimaçãode um conjunto de saberes e práticas ligadas à produçãodo autoconsumo em toda sua diversidade.

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Claro está que esse fenômeno se descortina de for-ma heterogênea, assumindo contornos e ritmos bastantediferenciados no espaço social mais amplo do Brasilmeridional. Nesse sentido, não cabe dúvida de que essaquestão dá margem a reelaborações bastante complexas.

No contexto dessas transformações, é sabido que odesenvolvimento de atividades turísticas, como advertiuWoortmann (2004), conduziu a uma resignificação doshábitos de comida tradicionais. As festas e restauran-tes ditos «coloniais» correspondem à revalorização dehábitos alimentares étnicos dos teuto-brasileiros. O«sistema antigo» (comidas fortes, à base de manteiga,carne e banha de porco) serve, segundo Woortmann,para satisfazer a «memória gastronômica» de turistas eex-colonos urbanizados, aos quais haveria que incor-porar, segundo nosso entendimento, os membros dasfamílias submetidas aos processos que aqui se buscouelucidar, na aproximação feita sobre o estado de artedas práticas de autoconsumo familiar.

Se comida é identidade, ela se reconstrói sob novasbases que necessariamente apontam para o gradualdistanciamento de um sistema de valores que não sesustenta, a não ser de forma idealizada e diferida, nocotidiano das famílias rurais de comunidades coloniaisdo extremo sul do Rio Grande do Sul.

5. CONSIDERAÇÕES FINAISO foco do presente trabalho esteve orientado ao esforçode evidenciar os contornos de um processo detransformação extremamente complexo incidente so-bre as comunidades rurais do Sul do Brasil, precisa-mente em municípios pertencentes à microrregião dePelotas. Trata-se de um espaço geográfico marcadopelos traços da imigração italo-germânica que sedesenvolveu durante a segunda metade do século XIX.

O processo de assentamento dos colonos apareceassociado a um conjunto de adversidades bastanteamplo, não somente do ponto de vista do enfrentamentodas dificuldades iniciais (demarcação dos lotes, prepa-ro da terra, escassez de equipamentos, enfermidades,etc.), como igualmente desde a perspectiva de assegurara sobrevivência das famílias rurais, no longo prazo, emmeio a umas condições invariavelmente muito precárias.

No curso desse processo a dimensão doautoconsumo assumiu um considerável nível deprotagonismo, algo que em momento algum seapresentava como incompatível com odesenvolvimento de uma agricultura comercial, orien-tada à busca de fontes de ingresso econômico requeri-do para assegurar um nível de consumo socialmenteaceitável para as famílias rurais. Em outras palavras,poder-se-ia dizer que assegurar uma dieta alimentar nos

limites do estabelecimento rural favorecia odesenvolvimento de uma agricultura comercial dirigi-da ao esforço de garantir fontes de renda exigidas paraa aquisição de bens de consumo durável e todos osprodutos e serviços que não poderiam ser gerados den-tro da exploração familiar. Reduzir a dependência ali-mentar era algo estratégico no âmbito dessa forma deorganização sócio-produtiva.

Todavia, com o passo do tempo esse sistema sofreprofundas transformações, sobretudo quando asfamílias rurais vêem-se submetidas às pressõesrecorrentes que emanam dos mercados que, paulatina-mente, forçam os produtores a intensificarem o ritmo eescala de produção por meio das novas tecnologias,marcadas pela quimificação dos processos produtivostanto na produção vegetal quanto animal.

A especialização é um fato inquestionável, tornan-do as famílias cada vez mais tributárias do desempenhode um reduzido número de linhas de produção. Ocaráter policultor do antigo colono é agora substituídopor outras denominações (suinocultor, persicultor, avi-cultor, fumicultor, etc.) que aludem a categorias deagricultores comprometidos com a geração de produtosespecíficos, regidos por uma lógica de operação coman-dada pelos ditames da globalização dos mercados. Essefenômeno abre passo a novas re-elaborações por partedos atores sociais implicados nas grandes cadeiasagroalimentares que lhes governam totalmente.

O fato é que a mercantilização da agricultura e dosespaços rurais no Brasil meridional se impuseram deforma implacável sobre o universo da agricultura fami-liar. Nesse estudo buscou-se demonstrar que há umconjunto de fatores que fazem com que um dos traçossingulares dessa forma social de produção -a produçãode autoconsumo- venha sendo sistematicamenteesvaziado, tanto por força das imposições das empre-sas (medidas fitossanitárias restritivas), da redução daforça de trabalho familiar, desvalorização dos produtosproduzidos na propriedade, quanto como resultado daênfase no consumo de produtos industrializados, dacompra externa e de outras dinâmicas que seguem atendência atual de um consumo alimentar marcado peladistinção e classificação social.

Os depoimentos colhidos na realização da pesquisanão fazem outra coisa senão confirmar um quadro detransformação material e simbólica que alcança as co-munidades históricas do Sul do Brasil. Além disso,permitiu detectar as ambigüidades do discurso dos en-trevistados ao referirem-se à qualidade dos produtosadquiridos externamente (no comércio local ou atravésdos atravessadores) vis a vis com o que é gerado nopróprio estabelecimento. Nesse contexto, há claros

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indícios de que é cada vez mais reduzido o número defamílias que optam por preservar essas práticas, nãosomente no afã de garantir uma dieta alimentarsatisfatória, mas em prol de assegurar a reprodução deuma matriz cultural socialmente reconhecida e clara-mente identificável.

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