Monografia Simão Freitas (2004) - A especificidade que está na concentração táctica....pdf

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    A especificidade que est na concentrao tctica que est na ESPECIFICIDADE...no que deve ser uma operacionalizao da Periodizao Tctica

    Simo de Freitas 2004 1

    1. Introduo

    No se deve subordinar ou reduzir um factor aos outros: o factor central encontra-se

    na organizao destes factores, ao tornarem-se interdependentes. O problema de fundo

    a organizao dinmica constituda, no por elementos mas por interaces, O ncleo

    de explicao est na organizao das interaces que constituem o fenmeno total homo.

    (Edgar Morin, cit. por Frade, 2002)

    No Futebol de Top, dado o grande equilbrio entre as equipas, muitos jogos so

    decididos numa jogada, basta um jogador estar um segundo desconcentrado nas suas funes e

    tarefas implcitas no Modelo de Jogo que toda a estrutura da equipa pode ceder, ditando deste

    modo a derrota da mesma.

    Sabemos que actualmente a dinmica competitiva exige cada vez mais jogadores

    inteligentes, rpidos e fortes, capazes de manter nveis elevados de concentrao durante um

    perodo prolongado de tempo.

    No entanto, se numa periodizao do treino no se interligarem na metodologia as

    dimenses (tctica, tcnica, fsica e psicolgica, ou mental), no se trabalha o todo que o

    jogador..., criativo, intelectual, volitivo e emocional medida da sua prpria dimenso.

    Surge assim o conceito de Periodizao Tctica que face ao entendimento do fenmeno

    antropossocial-total - Futebol - procura dar resposta complexidade do Jogar, entendendo

    este fenmeno como um TODO, dentro da complexidade que o mesmo encerra. Tal como o

    prprio nome indica, a dimenso tctica assume se como a coordenadora de todo o processo

    de treino, tendo em vista a operacionalizao do Modelo de Jogo e respectivos princpios que o

    concretizam. As restantes dimenses surgem por arrastamento e em paralelo com a dimenso

    tctica, sem existir a necessidade de maximizar cada uma delas em separado. Neste

    comprimento de onda, a concentrao (tctica) mais uma (sub)dimenso que surge no

    processo de treino.

    No entanto convm realar que esta concentrao no uma concentrao qualquer,

    pois ela no aparece de uma forma descontextualizada, como algo abstracto, mas como uma

    sub-dimenso integrada e integrante, contextualizada no processo de treino, isto , na sua

    operacionalizao.

    A concentrao (tctica) que se pretende abordar neste trabalho, uma concentrao

    dos jogadores naquilo que a cultura de jogo idealizada pelo treinador, uma concentrao que

    no perde de vista a realidade do jogo de futebol e em particular a realidade do Modelo de Jogo

    perspectivado pelo treinador.

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    A Periodizao Tctica ao pr nfase na assimilao de uma forma de jogar, alicerada

    em princpios, isto , organizao defensiva, organizao ofensiva, e organizao dos princpios

    que so as suas fronteiras, ou seja, o modo como se transita de um momento para o outro, exige

    aos jogadores este tipo de concentrao tctica. Tem tudo a ver com a operacionalizao do

    modelo de jogo, com filosofias de jogo, com aquilo que so as ideias colectivas da equipa e que

    exigem da parte deles mxima concentrao.

    Assim sendo, nesta concepo de treino, ou nesta forma de operacionalizao do treino,

    a concentrao tctica um dos elementos fundamentais que deve estar presente em todos

    os treinos, para que possa haver sucesso nos jogos e nos prprios treinos.

    No basta dizer aos jogadores vocs precisam de estar concentrados, preciso ir

    muito mais alm e integrar esta sub-dimenso na operacionalizao do treino, sendo que issoimplica um trabalho direccionado para a Especificidade. necessrio adoptar uma atitude

    interventiva imbuda de emoo, fazendo sobressair um comportamento especfico que se

    deseja, atravs da orientao emocional, pois esta parece ser a melhor estratgia para se atingir

    a concentrao que interessa Periodizao Tctica.

    Por forma a viabilizar e a fixar uma certa lgica na realizao deste trabalho,

    comeamos por levar a cabo uma reviso da literatura, de modo a esclarecer os conceitos em

    questo. Para alm disso, e com o intuito de enriquecer o contedo deste trabalho realizamosalgumas entrevistas a treinadores de Futebol profissionais, tendo sido utilizada uma investigao

    qualitativa (entrevistas) visando o conhecimento prtico.

    Em suma, foi nosso objectivo identificar a forma como a concentrao tctica est

    integrada na operacionalizao do treino .

    De seguida a esta introduo passamos a uma reviso da literatura subordinada

    problemtica em questo. Terminada esta fase deu-se lugar apresentao e discusso dos

    resultados. Finalmente apresentamos as respectivas concluses.

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    2. Reviso da Literatura

    2.1. Concentrao uma capacidade crucial em rendimento superior

    As melhores performances esto dependentes da aquisio, combinao, ajuste e

    produo de comportamentos. Assim, a concentrao um pr-requisito inevitvel e deve ser

    considerada, segundo Orlick (1986) e Nidefeer (1991), como um factor decisivo na competio

    seja em desportos individuais ou colectivos. Cruz (1996), corrobora esta opinio quando afirma

    que a concentrao um pr-requisito essencial na aprendizagem e no desempenho

    competitivo.

    No Desporto, os feitos extraordinrios requerem concentrao, podendo esta ser

    entendida como a habilidade para cada um dirigir ao mximo a sua ateno para os aspectos

    relevantes da tarefa, ou seja, uma actuao desportiva excelente acontece quando uma intensa

    concentrao est centrada/direccionada para um campo de estmulos limitados (Orlick, 1986).

    Harris e Harris (1987), acrescentam que uma mente que divaga pode criar lapsos

    mentais e dar origem a erros durante uma competio. Segundo Orlick (1986), o skill mental que

    distingue os desportistas de elite a sua capacidade para se adaptarem e alterarem o foco de

    ateno face a distraces que possam surgir.Na prtica desportiva, a ateno inclui processamento imediato de informao que

    captada pelos rgos dos sentidos (Gonzalez, 1992).

    Neste contexto, para melhor entendermos o conceito da concentrao sob o ponto de

    vista psicolgico, parece-nos pertinente esclarecer adicionalmente o conceito de ateno.

    Rutzel (1977), define ateno como um processo de seleco: a percepo e

    imaginao interna so dirigidas, focalizadas, fixadas e concentradas simultaneamente a um

    estmulo especfico, ou seja a contedos do pensamento e imaginao.Nesta definio torna-se claro que a ateno no compreende s o processo de

    recepo de informaes (percepo de estmulos externos) mas pode tambm ser orientada

    por processamento de informaes.

    Konzag (1981), entende a ateno como um processo selectivo e regulado da

    conscincia humana.

    Para Schubert (1981) ateno um estado consciente atravs do qual uma pessoa

    dirige processos psquicos sob um determinado objecto, uma pessoa ou uma aco.

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    Segundo Serenini (1995), a ateno consiste num processo de seleco onde a

    percepo dirigida, focalizada e fixada simultaneamente a estmulos especficos de acordo

    com o objectivo do pensamento e da imaginao. Este autor acrescenta ainda que o processo

    de focalizao da ateno limitado, ou seja, determinados estmulos devem ser localizados

    dentro de um foco de percepo para que o indivduo possa perceb-los e analis-los. Quanto

    mais objectivo for este foco, melhor ser a percepo e anlise da aco.

    Uma vez esclarecidos acerca do conceito de ateno vamos ento tentar entender o que

    concentrao.

    Segundo Silvrio e Srebro (2002) uma boa definio de concentrao inclui dois

    elementos: (1) Capacidade de prestar ateno informao pertinente e ignorar o irrelevante e

    os estmulos perturbadores. (2) Capacidade de manter a ateno durante um longo perodo detempo.

    O primeiro elemento enunciado prende-se com uma questo essencial: o que a

    informao pertinente? Em nossa opinio a informao pertinente ser: (i) as suas tarefas e

    funes no Modelo de Jogo Adoptado; (ii) A posio da bola; (iii) a posio e os movimentos dos

    seus colegas de equipa e dos adversrios. Por sua vez a informao irrelevante/perturbadora

    ser: (i) o rudo da multido; (ii) as coisas que lhe dizem; (iii) os fotgrafos e os indivduos da

    televiso com as respectivas cmaras; (iv) pensamentos negativos, tais como e se eu falhar oue se eu no for capaz, etc. Se o jogador quer cumprir com os princpios e sub princpios de jogo

    inerentes ao Modelo de Jogo idealizado pelo seu treinador, ele tem que se concentrar na

    informao pertinente e tem que ignorar todos os outros factores perturbadores externos e

    internos. Para (Samulski,1995), na aprendizagem de novas tcnicas e conceitos tcticos exige-

    se do desportista a concentrao mxima durante o treino.

    O segundo elemento da definio est relacionado com o tempo. preciso manter a

    mesma quantidade de ateno durante os 90 minutos (Silvrio e Srebro, 2002). relativamentefcil ignorar a informao irrelevante por pequenos perodos de tempo, porm muito difcil

    manter a concentrao desde o apito inicial at ao final do jogo. A necessidade de estar

    concentrado durante 90 minutos, desde o apito inicial do rbitro at ao apito final, a maior

    dificuldade do jogador profissional. Voc no tem nenhuma opo para sair e voltar depois,

    nenhuma hiptese de descansar. Este facto transforma o jogo num dos jogos com bola mais

    difceis (Silvrio e Srebro, 2002).

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    No entendimento destes autores (2002), parte desta dificuldade resulta do facto de no

    existir s um tipo de concentrao mas sim vrios e ao longo do jogo haver necessidade de

    mudar rapidamente de um tipo de concentrao para outro. Para (Orlick, 1986) nos desportos de

    equipa a mudana do tipo de concentrao uma constante.

    Segundo Nideffer (1985), a capacidade de focalizar ou concentrar a ateno

    (concentrao) constituda por duas dimenses bsicas: a direco e a amplitude.

    Quanto direco, a ateno pode ser interna (orientao da ateno para estmulos

    internos) ou externa (orientao da ateno para estmulos do meio) (Cruz,1996).

    Quanto amplitude, a concentrao pode ser estreita ou ampla. Na concentrao

    estreita, a ateno dirigida a um foco limitado, a poucos estmulos e a percepo da situao

    observada mais detalhada (Serenini, 1995). Por exemplo, na marcao de uma grandepenalidade livre directo, a concentrao necessria para executar o pontap estreita na

    medida em que o jogador nesta situao apenas deve processar informaes de uma rea

    restrita do seu campo visual, o jogador s tem que se concentrar no que est a acontecer entre

    ele, a bola e a baliza. Porm, este tipo de concentrao, no adequada para outras situaes

    de jogo. Por exemplo, quando um jogador se est a movimentar com a bola deve decidir o que

    fazer, a sua concentrao deve estar na bola mas tambm deve ver a imagem do campo todo

    com a posio dos colegas de equipa, a posio dos seus colegas de equipa, a posio dosadversrios e tudo o resto. Este o segundo tipo de concentrao, designada de concentrao

    ampla.

    Segundo Silvrio e Srebro (2002), um jogador deve ser capaz de adequar os tipos de

    concentrao s situaes de jogo e s suas funes. Enfatizar demasiado um dos tipos de

    concentrao conduzir a erros e a oportunidades perdidas.

    No quadro 1, poderemos analisar os quatro tipo de concentrao: ampla interna, ampla

    externa, estreita interna e estreita externa:

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    Ampla Interna

    Analisar

    Boa para lidar com muitas coisas ao mesmo tempo. Essencial para

    desenvolver uma estratgia ou plano de aco.

    Erros devidos a sobre-nalise. Demasiados pensamentos acerca de

    coisas erradas.

    Estreita Interna

    Preparar

    Boa para nos centramos num s pensamento ou ideia. Essencial

    para a conscincia corporal, regulao da ansiedade e prtica mental.

    Os erros so devidos ao facto de se ficar distrado com estados

    internos, impedindo assim a concentrao (ex: pensamentos

    negativos).

    Ampla Externa

    Avaliar

    Boa para avaliar rapidamente a situao. Essencial para ter

    conscincia das pistas do meio-ambiente

    Os erros so devidos ao facto de se prestar ateno s pistas

    irrelevantes e/ou distractivas.

    Estreita Externa

    Agir - Executar

    Boa para nos centramos apenas num ou dois alvos primrios.

    Essencial para impedir distraces.

    Os erros so devidos ao facto de limitarmos demasiadamente a

    ateno, esquecendo pistas ou sinais vitais.

    Quadro 1 Tipos de concentrao no desportoAdaptado de Nidfer & Sharpe 1978; Burke 1992

    Uma ateno ampla e externa necessria para avaliar rapidamente determinadas

    condies do meio. O jogador, tem de perceber um conjunto complexo de pistas antes de

    escolher e implementar uma resposta adequada. (Cruz,1996). Por exemplo, um defesa central

    no futebol tem que perceber e analisar constantemente vrios aspectos do ataque do adversrio

    para adaptar o sistema da prpria defesa (Voelp, 1987).

    Um tipo de ateno ampla e interna, necessria para analisar retrospectivamente uma

    situao e planear uma estratgia de resposta. A partir da altura em que o jogador recolheu

    informao suficiente acerca do meio, deve analis-la em funo de situaes anteriores

    semelhantes e do seu estado fsico e psquico do momento (auto confiana, fadiga, motivao,

    etc). A integrao destas informaes deve, por sua vez, possibilitar ao jogador formular

    alternativas possveis de resposta e escolher aquela que considera mais apropriada. A anlisedas situaes de jogo pode ter uma durao varivel. Antes da competio convir analisar

    detalhadamente a tctica a adoptar, enquanto que durante a prova, a leitura e implementao

    das opes tem de se processar muito mais rapidamente. Da mesma maneira, no final de uma

    competio pode ser extremamente til rev-la criticamente e corrigir mentalmente eventuais

    falhas que tenham sido cometidas (Cruz, 1996). A preparao tctica e estratgica para todos os

    jogos exemplo deste tipo de concentrao (Voelp, 1987).

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    Num tipo interno e estreito de concentrao, o jogador prepara mentalmente a estratgia

    escolhida antes de a pr em prtica (Cruz, 1996).

    Finalmente, um tipo de concentrao externa e estreita, serve para o jogador executar a

    estratgia escolhida. A resposta a um servio de tnis ou um remate baliza no andebol ou

    futebol, so dois exemplos tpicos de onde o atleta (jogador) tem que focar a sua ateno num

    pequeno nmero de pistas externas para conseguir executar a tcnica correctamente(Cruz,

    1996).

    A aplicao inadequada de cada forma de ateno pode causar reaces ineficientes,

    como mostra o quadro 2 (Voelp, 1987)

    Externa

    Ampla Externa

    - Distraco geral

    - Interferncias tico-acsticas

    - Incapacidade de concentrar-se num fenmeno especfico

    Ampla

    Ampla - Interna

    - Tendncia a analisar os fenmenos em forma exagerada

    - Fixao a estratgias mentais

    - Falta de flexibilidade no comportamento

    Estreita Externa

    - Incapacidade de perceber e analisar todos os estmulos relevantesde uma situao

    - Incapacidade de analisar uma situao complexa

    - Fixao a um s fenmenoEstreita

    Estreita Interna

    - Fixao a processos internos

    - Perder o contacto com o meio ambiente

    - Sensibilidade aumentada na presena de esforo e dor

    Interna

    Quadro 2 Problemas causados pela inadequao das formas de atenoAdaptado de Voelp, (1987:20)

    O treinador, deve estar consciente de que para que no ocorram desvios de

    concentrao que provoquem erros mentais aquando da competio, tem de, durante os treinos,

    utilizar as tcnicas existentes (exerccios especficos), de forma a preparar os jogadores tctica,

    fsica e psicologicamente, de modo a que sua equipa possa obter elevadas performances.

    Por isso, o treinador deve desenvolver nos seus jogadores alto nvel de flexibilidade de

    concentrao.

    Raumann (1986), recomenda as seguintes directrizes gerais para melhorar a capacidade

    de concentrao: (i) analisar as causas das perturbaes de concentrao (influncias familiares

    e profissionais, doenas, problemas psico-vegetativos, stress, medo, conflitos sociais); (ii) criar

    incentivos e estmulos, evitar monotonia, estabelecer metas novas e desafiantes; (iii) variar a

    amplitude da ateno; (iv) mudana entre a carga (entenda-se desempenho) e a recuperao

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    (iniciar a fase de recuperao antes da queda da concentrao); (v) concentrar-se de forma

    consciente no objecto da concentrao (evitar, ignorar e bloquear estmulos irrelevantes) (vi)

    melhorar a motivao para o rendimento (perceber e analisar as vivncias do sucesso e do

    fracasso, as consequncias respectivas e criar estmulos de rendimento para cada jogador).

    2.2. Evidncia emprica, que demonstra a importncia da capacidade psicolgica

    concentrao, no fenmeno antropossocial em considerao (futebol).

    Podemos constatar opinies de jogadores e pessoas que fazem parte das equipas

    tcnicas, que revelam a importncia da capacidade psicolgica concentrao - no futebol:

    Mora (2003:16) Qualquer lance- canto, livre, jogada individual- merece a nossa

    mxima concentrao;

    Viveros (2004:25) Na luta do meio campo h uma boa possibilidade de se ganhar

    os trs pontos, mas h que ter concentraoem qualquer posio do terreno. A

    equipa que cometer menos erros vai ganhar;

    ...Ser mesmo uma boa oportunidade para conseguirmos ganhar o jogo num lancede bola parada. Mas tambm teremos de estar muito concentradospara no sofrer

    golos nas bolas paradas deles...;

    Mauro (2003:19). Vamos estar preocupados em manter os nveis de

    concentrao e jogar o nosso futebol;

    Camacho (2003a:7) Se o Benfica jogar concentradodurante todo o jogo como

    fez hoje, muito difcil alguma equipa ganhar-nos;

    Manuel Balela (2003:30) Face a esta srie de bons resultados as nossasresponsabilidades aumentaram, mas preciso que os jogadores entendam que

    ainda no ganhmos nada. Tm de continuar humildes e concentrados;

    Paulo Jorge (2003:25) Quanto a Jardel, reconheo nele um cabeceador exmio.

    Para o fragilizar, preciso jogar com muita, muita concentrao;

    Com muita concentrao, repito, ser possvel parar Jardel e toda a linha ofensiva

    leonina;

    Peseiro (2003:35) necessrio jogarmos com muita concentrao,

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    empenhamento e estarmos sempre atentos;

    Boloni (2003:18) A nossa concentraono esteve a cem por cento, mas sim a

    noventa e nove por cento. O Varzim marcou e, como normal, isso foi mau para

    ns;

    Vtor Oliveira (2003:5) Se no estivermos concentradoscontra uma equipa de

    grande potencial ofensivo, como o FC Porto, seremos completamente aniquilados.

    Quaresma (2003:48) Nunca tinha jogado com noventa mil pessoas, mas no ligo

    a isso. Queria jogar e estava concentradonisso;

    R. Soares (2003:18) Augusto Incio exige concentrao mxima aos seus

    jogadores e mostrou-se particularmente aborrecido, no pela grande penalidade

    cometida por Guga, mas sobretudo pela falta que antecedeu o castigo mximo;

    Jesualdo Ferreira (2004a:10) Quando se perde desta forma as explicaes valem

    pouco. Esta noite repetiu-se o cenrio que j tinha acontecido com o FC Porto e com

    o Sporting. Penso que tudo uma questo de concentrao...;

    Jesualdo Ferreira (2004b:25) Sei que vai ser difcil concentrar estes jogadores,

    mas a nossa inteno vencer domingo em Belm. A UEFA est garantida por

    motivos burocrticos que nem me agradam, mas o Sp. Braga ainda pode terminar

    em 4 lugar;

    Casemiro Mior (2004:28) Sabemos que teremos um jogo importante, mas com

    serenidade e concentrao acredito que poderemos conquistar um lugar na Taa

    UEFA;

    Jesualdo Ferreira (2004c:29) No primeiro tempo, atravs de lances de bola

    parada, o adversrio criou algumas situaes de golo, mas estivemos sempre muito

    concentradose conseguimos evit-los;

    Carlos Queiroz (2004:47) Ns temos de fazer o nosso trabalho e esse acabar o

    campeonato com setenta e nove pontos. Vamos concentrar-nos. Agora, mais do

    que nunca, temos de mostrar uma atitude de verdadeiros campees;

    Lus Campos (2004:21) Temos de estar completamente preparados, no s do

    ponto de vista tctico e fsico, mas sobretudo no mental, pois fundamental

    jogarmos nos limites, com total concentrao;

    P.Santos (2004:22) Concentrao prioritria, o pedido do tcnico Couceiro;

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    Otto Rehhagel (1004:21) fundamental estar concentrado para obtermos um

    resultado positivo, como aconteceu nos jogos com Portugal e com Espanha;

    M. Aurlio (2004:27) Algum desalento de Manuel Machado, especialmente face ao

    golo do empate, quase caricato, em reposio de bola, resumiu, alertando para as

    faltas de concentrao.

    Se nos debruarmos sobre o contedo das afirmaes anteriores, podemos constatar

    que a concentrao uma capacidade tida por muito importante no jogo de Futebol.

    No entanto, pensamos que estas afirmaes no passam de simples evidncia

    emprico, pois simplesmente reconhecem a importncia da concentrao (enquanto capacidade

    psicolgica) no fenmeno em questo (Futebol).

    2.3. Comunicaes que demostram a importncia da interaco da sub-dimenso

    concentrao no Jogar (na operacionalizao do treino)... concentrao uma das

    chaves daquilo que a Periodizao Tctica.

    Para Frade (2000), a concentrao uma das chaves do problema, em relao quiloque ele diz deve ser a Periodizao Tctica. Segundo o autor, a Periodizao Tctica pe nfase

    na assimilao de uma forma de jogar, nos seus princpios: organizao da defesa; do ataque; e

    dos princpios que so as suas fronteiras, ou seja, o modo como se transita de um momento

    para o outro, sendo que isto s se faz em concentrao.

    Nesta perspectiva, parece no ser suficiente o simples reconhecimento emprico de

    que a capacidade psicolgica concentrao importante no Futebol, torna-se necessrio ousar

    pensar mais alto e integrar a sub-dimenso concentrao no Jogar, na operacionalizao do

    treino.

    Neste sentido Mourinho (2001a), expe que cada dia de trabalho um dia com um

    contedo tctico importante. So coisas que se trabalham e que exigem concentrao, mas das

    quais se retiram dividendos.

    Segundo Faria (2002), o treinador tem um determinado modelo de jogo, uma filosofia

    de jogo. Se ele quer transmiti-la aos jogadores tem que continuamente, atravs dos exerccios

    que cria, operacionalizar esse modelo. Este mesmo autor (2002), refere ainda que o trabalhar e

    operacionalizar o modelo de jogo implica concentrao, acrescentando ainda que tem tudo a ver

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    com o modelo de jogo, tem tudo a ver com nveis de concentrao, com filosofias de jogo, com

    aquilo que so as ideias colectivas da equipa e que exigem do jogador mxima ateno e

    concentrao. E esta concentrao s se poder treinar num trabalho dirigido para a

    Especificidade.

    Neste ponto do trabalho pretendemos apenas despertar o interesse do leitor,

    relativamente intima relao entre estes dois conceitos, sendo que a mesma (relao) ser

    analisada e discutida em pormenor na parte da anlise e discusso dos resultados deste

    trabalho, onde o leitor j estar mais esclarecido acerca dos dois conceitos em questo

    (concentrao e Periodizao Tctica).

    2.4. O porqu da necessidade de adoptar um conceito menos singular e mais geral de

    interactividade....capaz de entender, perceber e tratar um fenmeno complexo (Jogar)

    O que nos ocupa aqui no tem que ver com a justaposio de factores disciplinarmente

    isolados, mas com a interaco destes no seio de um sistema global homo, constitudo

    precisamente por essas prprias interaces.

    (Edgar Morin, cit. por Frade, 2002)

    A natureza e diversidade das dimenses que concorrem para o rendimento superior, faz

    do Jogar uma estrutura de grande complexidade, obrigando a um enquadramento das

    diversas dimenses de acordo com a sua especificidade.

    No entanto, na pesquisa e investigao do treino, verifica-se que a maioria dos manuais

    do treino referem, de forma repartida, a componente (entenda-se dimenso) tcnica da tctica e

    a contingncia do desenvolvimento das qualidades fsicas. Uma constante decomposio do

    esforo do jogador em competio, num conjunto de parcelas, procurando-se compreender a

    complexidade do todo pela multiplicao de pseudo partes constitutivas (Silva, 1998).

    Neste sentido, as diferentes dimenses que interagem no Jogar (tctica, tcnica,

    psicolgica, fsica e estratgica) so estudadas de forma isolada, na ideia de que quanto melhor

    conhecermos cada parte, melhor conheceremos o todo.

    Embora a metodologia do treino sempre teime em referir que o ser humano o jogador

    no um bocado de cada uma destas dimenses, reina no espirito de muitos treinadores que o

    desenvolvimento dos seus jogadores ou da sua equipa o resultado lgico do somatrio da

    prtica, sistematicamente repetida, de exerccios de treino que potencializam de forma

    compartimentada as referidas dimenses. Ento, para cada sesso de treino ou para cada

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    Simo de Freitas 2004 12

    microciclo de treino, programam-se exerccios de treino de predominncia fsica, depois de

    preparao tcnica e por fim de predominncia tctica, como que por artes mgicas surgisse no

    final de cada semana ou de um certo tempo de treino um praticante ou uma equipa de altssimo

    valor acumulado e acrescentado (Castelo, 2000).

    Em jeito de comparao, era exactamente a mesma coisa que o mdico por exemplo

    ao prescrever para uma determinada doena um antibitico, um anti-inflamatrio, um analgsico

    e um sedativo, determinasse uma posologia compartimentada a qual comearia com a toma de

    todos os antibiticos seguido de todos os anti-inflamatrios e depois os analgsicos e por ltimo

    os sedativos. Nada to ridculo e irneo como isto (Castelo, 2000).

    No Jogar, dada a sua complexidade, este referencial parece j no dar resposta aos

    problemas que a prtica coloca. Tal como refere Le Moigne (1994), quanto mais se pretendeclarificar disjuntando conceitos imbricados mais se empobrece a inteligibilidade do conhecimento

    construda pela interaco deliberada desses conceitos, o todo est na parte que est no

    todo(Morin, cit. por Moigne, 1994). necessrio, um conceito menos singular e mais geral de

    interactividade (interaces todo - parte e parte partes). A esta alternativa reducismo-

    interaccionismo corresponder uma alternativa decomposio articulao.

    O conceito de Periodizao Tctica, surge como uma forma de entender, perceber e

    tratar um fenmeno complexo - Jogar, sem haver a necessidade de o decomporanaliticamente. Esta concepo de treino (Periodizao Tctica), aparece como uma forma de

    interpretao, conhecimento e modelizao do jogo, sem existir a necessidade de isolar as

    diferentes dimenses que nela interagem (tctica, tcnica, fsica ou psicolgica), isto , entende

    o Jogar como uma complexidade irredutvel soma das partes.

    Assim sendo, (Le Moigne, 1994) existe agora um modo de representao dos

    fenmenos (leia-se Periodizao Tctica) que no esgota, e que no mutila, a ambiguidade, a

    imprevisibilidade e por conseguinte a complexidade dos fenmenos: uma complexidade a partirde ento concebvel. preciso, considerando a exposio do paradigma anteriormente referido

    como adquirido, interpret-lo agora em termos de mtodo: O mtodo de complexidade antes

    de mais mtodo de concepo de modelos complexos.

    Por sua vez, conceber organizar, uma concepo uma organizao, organizada e

    organizante, um modelo no se pode reduzir a um esquema organizado, por maior que seja a

    sua qualidade. Necessitamos constru-lo e l-lo na sua potencialidade organizadora: ele tem que

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    ser organizante se pretende dar conta da complexidade apercebida (a essencial

    imprevisibilidade) do fenmeno modelizado (Le Moigne, 1994).

    A abordagem sistmica ao jogo permitiu uma nova abordagem metodolgica ao treino

    de futebol (Grghaigne, 1992).

    2.5. Periodizao Tctica

    A preocupao ter uma equipa a jogar de uma determinada maneira,

    onde o padro, o ncleo duro, as preocupaes so sempre jogar

    (Frade, 1998)

    Cremos numa aproximao sistmica ao jogo que permitir uma nova abordagemmetodolgica ao treino de futebol. O paradigma do treino que privilegia a associao das

    dimenses fundamentais (tctica, tcnica, psicolgica e fsica) treinadas em separado parece

    estar a ser substitudo por aquele que contempla a complexidade do jogo sem a mutilar (Frade,

    1985; Oliveira, 1991; Garganta, 1997; Faria, 1999; Castelo 2000; Mourinho, 2002).

    Segundo Frade (1985), a preocupao, desde o primeiro dia colocar a equipa a jogar

    como o treinador quer, ou seja em funo de um Modelo de Jogo.

    Castelo (1998), citado por Rocha (2000), afirma que o que se deve fazer desde oprimeiro dia treinar a organizao de jogo da equipa, o que implica que, cada exerccio de

    treino, desde o aquecimento at ao ltimo exerccio, deve servir para a organizao de jogo.

    O conceito de Periodizao Tctica, est directamente relacionado com o modelo de

    jogo do treinador (Frade, 1998 cit. por Rocha, 2000). irracional pensar-se em Periodizao

    Tctica sem pensar no modelo de jogo adoptado. Assim, antes de periodizar necessrio definir

    esse mesmo modelo (Faria, 1999). Assumir uma Periodizao Tctica distribuir ao longo do

    tempo a estruturao tctica da equipa, como se quer que a equipa jogue, as regularidades daequipa ao longo do jogo, ou seja, as regularidades na organizao ofensiva, defensiva e nas

    transies entre as duas organizaes. Passa por desenvolver enunciados (princpios)

    ensinveis, susceptveis de restituir a construo das representaes graas s quais dispomos

    de um conhecimento deliberado do fenmeno em causa (Frade, 2001 cit. por Tavares, 2003).

    Segundo Frade (1998), o importante provocar na equipa, e no nos jogadores (de

    uma forma individual), uma determinada alterao ou transformao que implica uma

    organizao colectiva desses jogadores. Uma organizao que promova uma forma de jogar em

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    termos defensivos e ofensivos. Esta dever ser a grande preocupao, ter uma equipa a jogar

    de determinada maneira, onde o padro, o ncleo duro, as preocupaes centrais so sempre

    jogar.

    Para este mesmo autor, citado por Rocha (2000), essa organizao no passa

    necessariamente por ter 11 de cada lado e p-los a jogar. Essa forma de jogar ou essa

    organizao pode ser caracterizada, contendo quer no ataque, quer na defesa determinados

    princpios. O que interessa que ao fraccionar essa equipa, esses 11, diminua o nmero de

    jogadores (por exemplo) e treine em menos espao. A preocupao, prende-se assim com a

    aquisio de um determinado princpio ou a articulao de um princpio com outro. O tctico,

    pode ser o sub-tema do tctico geral ou uma parte do todo, esse sub-tema, esse sub-conjunto,

    tem fsico, tcnico e psicolgico necessariamente.Em suma, a Periodizao Tctica, pe nfase na assimilao e na apropriao de uma

    determinada forma de jogar, exponenciando os princpios do seu modelo de jogo nos quatro

    momentos: organizao ofensiva, defensiva e nas transies entre as duas organizaes.

    Este entendimento do Jogar, pressupe a adopo de uma filosofia por parte de quem

    tem a responsabilidade maior na conduo de uma equipa. Esta filosofia de jogo, e

    consequentemente de treino pressupe, um encadeamento lgico da evoluo de todo o

    processo em que o conceito de Especificidade ter que estar presente. H necessidade de quetudo esteja ligado, formando toda uma realidade muito prpria que j na sua essncia

    complexa Modelo de jogo (Oliveira, 1991).

    Deste modo, consideramos que a Periodizao Tctica o conceito adequado para

    satisfazer a procura de novos modelos de periodizao face essncia do prprio jogo.

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    2.5.1. A dimenso / pensamento tctico ... o guio de todo o processo/periodizao

    A Educao Tctica dos futebolistas, chamemo-lhe assim,

    o elemento mais importante para uma equipa ter sucesso

    (Van Gaal ,1998, citado por Carvalhal, 2000)

    Pode parecer ao menos atento adepto de futebol, que para se jogar ao mais alto nvel o

    mais importante so as dimenses tcnicas ou fsicas. No entanto, quem se preocupa e estuda

    este fenmeno no tem dvidas e, considera que o mais importante a equipa jogar de

    determinada forma consoante o que pretende o seu treinador (Tavares, 2003).

    O futebol (entenda-se o Jogar) dever ter como ncleo director a dimenso tctica do

    jogo porque nela e atravs dela que se consubstanciam os comportamentos que ocorrem

    durante uma partida (Garganta, 1997).Actualmente, o futebol de Top, obriga a uma constante adaptao das equipas e

    jogadores a novas necessidades impostas pelo prprio jogo. A diminuio dos espaos, do

    tempo de percepo, execuo, deciso, assim como o aumento das aces colectivas, exigem

    do jogador uma outra atitude mental, mais pensamento tctico, ou seja uma nova mentalidade

    tctica.

    Naturalmente, assume-se como fundamental os jogadores conhecerem o jogo, terem

    uma ideia de jogo, terem um conhecimento das caractersticas do Jogar, que ser melhorquanto maior for a sua cultura tctica, definida por Frade (1990) como sendo um guia de

    escolhas de aco, referenciado ao conjunto de valores e percepes que decorrem do corpo de

    significaes criado (leia-se princpios do modelo de jogo adoptado). Desta forma, e atendendo a

    que as aces de jogo realizam-se sempre em cooperao directa com os colegas de jogo e em

    oposio dos adversrios, para que esta cooperao seja eficaz, necessrio um conjunto de

    princpios especficos que orientem o desenvolvimento do jogo que se pretende implementar.

    A tctica, solicita de acordo com a especificidade do jogo, dimenses fsicas, tcnicas epsquicas. Tal como refere Frade (2003), o tctico no fsico, no tcnico, no psicolgico,

    mas precisa dos trs para se manifestar. Este autor acrescenta ainda que necessrio ter

    conscincia de que o tctico tem a ver com a proposta de jogo que se pretende, logo no um

    tctico abstracto.

    So as situaes de jogo de acordo com a variabilidade, alternncia e aleatoriedade que

    lhes so caractersticas, que determinam a direco dos comportamentos a adoptar pelos

    jogadores, exigindo-lhes uma atitude tctica permanente (Garganta, 1995).

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    Van Gall (1998), alega que a educao tctica dos futebolistas o elemento mais

    importante para uma equipa ter sucesso. No mesmo comprimento de onda, Mourinho (2002),

    indica que para os jogadores adquirirem os princpios, o fundamental o processo de treino,

    aquilo que se faz semanalmente, onde cada dia de trabalho um dia com um contedo tctico

    importante. O mesmo treinador, refora, defendendo que um jogador deve possuir uma cultura

    tctica assinalvel, onde esteja potenciada uma certa multifuncionalidade causada pelas

    caractersticas do modelo de jogo adoptado, de forma a que se consiga adaptar com maior

    facilidade a diversas filosofias e diversos sistemas.

    De acordo com isto, Teodurescu (1984), refere que a tctica pressupe a existncia

    duma concepo unitria (leia-se modelo de jogo) para o desenrolar do jogo, isto , o

    desenvolvimento e coordenao intencional das aces de jogo (individuais e colectivas).Assim sendo, podemos constatar que a tarefa de um treinador educar os seus

    jogadores a vivenciarem uma determinada forma de jogo, ou seja, a dimenso tctica. Segundo

    Van Gaal (1998), os treinadores tm as suas ideias sobre a forma como os jogadores devem

    evoluir no terreno, mas necessrio que cada um saiba desempenhar a sua tarefa de olhos

    fechados, se for caso disso. A partir da tudo se torna mais fcil. Poderemos ento dizer que

    um treinador cumpriu a sua tarefa quando, com inteligncia, os seus jogadores/equipa

    pensarem a mesma coisa e ao mesmo tempo.(Resende,2002).A aprendizagem da cultura tctica que exigida ao jogador e o desenvolvimento das

    possibilidades de escolha, depende do conhecimento que este tem do jogo e da forma como ele

    lhe apresentado. Para isso, determinante a influncia do modelo de jogo e de preparao

    preconizados pelo treinador.

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    2.6. Os modelos no processo de treino

    Os modelos de preparao e de jogador, aquando da organizao do processo

    de treino, devero ter como ponto de partida o modelo de jogo da equipa.

    (Tschiene,1985, cit. por Garganta, 1997)

    2.6.1. Modelo(s) de Jogo Adoptado(s) ... a(s) formula(s) mgica(s)... o guia de toda a

    fenomenologia

    O Modelo de Jogo nunca est acabado porque o processo ao acontecer vai

    fornecer indicadores de modo a serem interpretados por quem o gere, no sentido

    de o ir gerindo para estimular uma melhor qualidade. Da que no exista apenas

    um Modelo de Jogo evoludo, mas vrios Modelos de Jogo Evoluidos.

    (Frade, cit. por Martins, 2003)

    Depois de compreendermos a lgica do jogo, de entendermos o jogo, e de estarmosconscientes de que existem tantos Jogares quantos treinadores existem, um dos pressupostos

    essenciais para alcanar o sucesso passa, claramente, por sabermos muito bem o que

    pretendemos em todos os momentos do nosso jogo. Este processo que nos permite inteligir,

    ou melhor, entender o nosso fenmeno complexo, passa obrigatoriamente pela definio de

    certas regras ou princpios que orientem os jogadores e a equipa em todos os momentos do

    nosso jogo e que se fundamentam no conceito de Modelo de Jogo Adoptado.

    Esse modelo, constitudo essencialmente por princpios que se articulam entre si e que

    vo possibilitar uma certa forma de jogar, caracterizavl atravs de determinados padres de

    comportamento em diferentes momentos, tanto ofensivos como defensivos, como transio

    defesa-ataque (Oliveira, 2003). No fundo, saber-se aquilo que tem de se fazer

    permanentemente em todas as circunstncias do jogo.

    As relaes de cooperao e de oposio que decorrem durante um jogo de futebol

    exigem dos jogadores comportamentos congruentes com as sucessivas situaes de jogo

    (Garganta & Pinto, 1994), tendo implicaes no que concerne s aces dos seus praticantes.

    Os jogadores devem integrar uma estrutura de acordo com um modelo que obedea a princpios

    e regras (Garganta, 1991).

    Desta forma, o modelo de jogo, decorrendo dos constrangimentos estruturais, funcionais

    e regulamentares colocados pela natureza do prprio jogo, reflecte a nvel ofensivo e defensivo,

    um repertrio de comportamentos tpicos, regras de aco e de gesto do (nosso) jogo

    (Garganta, 1996).

    Segundo Jorge (1989), mais do que tudo, o modelo expressa a concepo de jogo do

    treinador, as ideias acerca da forma de jogar da equipa, tendo o suporte numa preparao

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    tctica que represente o jogo do ponto de vista estrutural-tcnico do ponto de vista energtico-

    funcional fsico e psicolgico.

    O modelo de jogo, deve ser um objectivo final que pode ser sujeito a alteraes, ou

    seja, podemos construi-lo, desconstrui-lo, reconstrui-lo (Castelo,1994), mas que deve estar

    constantemente a ser visualizado, mantendo-se o futuro como elemento causal do

    comportamento (Frade, 1985).

    Os modelos tctico-tcnicos, devem descrever metodicamente e sistematicamente um

    sistema de relaes que se estabelecem entre os diferentes elementos de uma determinada

    situao de jogo, determinando de uma forma concisa as tarefas e os comportamentos tctico-

    tcnicos que o treinador exige aos seus jogadores, de acordo com os seus nveis de aptido e

    capacidade (Queiroz, 1986).Todavia, salientamos que o modelo ser tanto mais rico quanto mais possibilitar aos

    jogadores acrescentar a sua prpria criatividade e talento em jogo, sem no entanto adulterar as

    premissas do prprio modelo, pois como refere Reeves(1991), para l do horizonte preditivo

    estendem-se os espaos da liberdade. Apesar de tudo, consideramos que mais importante do

    que a noo de modelo de jogo so os princpios que lhe do corpo e, num plano superior, a

    articulao desses prprios princpios. Desta forma, o facto de o modelo de jogo contemplar os

    quatro momentos fundamentais do jogo (organizao ofensiva, organizao defensiva, transioataque-defesa e defesa-ataque), requer a formulao de determinados princpios especficos

    que s a esse modelo dizem respeito e que expressam o ncleo, a matriz da forma como o

    treinador pretende jogar. Desta forma, sendo os princpios as partes de um todo especfico

    (Modelo de Jogo), para que cada uma dessas partes seja abordada e operacionalizada, torna-se

    absolutamente imprescindvel decompor o todo atravs de uma articulao de sentido, sem no

    entanto, beliscar o cerne do seu jogo. A necessidade de (de)composio do jogo (todo) em

    jogos requer uma extrema sensibilidade, por parte do treinador, no sentido de noempobrecer essa reduo. Frade (2003), salienta que reduzir sem empobrecimento, implica

    reduzir o tctico sem, contudo, perder a sua identidade relativa ao jogo que se pretende jogar.

    O Modelo de Jogo, surge assim como o guia de todo o fenmeno, ele que define e

    orienta como as diversas dimenses devem ser tratadas. Se esse Modelo de Jogo

    fundamental, diria mesmo exclusivamente constitudo por princpios tctico-tcnicos e de tctica

    individual, a nica forma de conseguirmos chegar totalidade desses princpios criar

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    estratgias onde estes estejam presentes (Oliveira,1991). O Modelo de Jogo ser ento o futuro

    como elemento causal do comportamento (Frade,1985).

    Acreditamos que um Modelo de Jogo deva possuir contornos bem definidos, no entanto,

    como refere (Tavares, 2003), estamos cientes que se trata de uma realidade sujeita a mutaes,

    mais ou menos substanciais e sempre passvel de discusso em ordem ao seu aperfeioamento.

    2.6.2. Modelo de treino... assente na essencialidade da cultura tctica

    O modelo de preparao/treino dever estar orientado por uma preparao

    tctico-tcnica que tenha como objectivo estimular o tipo de solicitaes que

    o modelo e os seus princpios exigem

    (Frade, 1985)

    A cultura tctica no se improvisa colectivamente pelo contrrio, da repetio das

    sequncias tcticas que nasce a espontaneidade da reposta. Apesar disso, no raramente,

    existem limitaes pelo facto de no ocorrer uma relao recproca entre o modelo de jogo

    idealizado pelo treinador e as aces que os jogadores e a equipa desenvolvem quer no treino

    quer na competio.

    Concretizando, habitual ouvir nos balnerios o treinador traar uma estratgia para

    determinado jogo e, dentro do campo, os jogadores fazerem algo de muito diferente do que lhes

    foi indicado.

    O comportamento tctico, treina-se e consolida-se, enfrentando-se progressivamente as

    dificuldades. Ora, em nosso entender, os resultados sero tanto mais satisfatrios quanto mais

    cedo estas preocupaes estiverem presentes na formao dos jogadores. Desde os primeiros

    treinos, conveniente que os jogadores assimilem um conjunto de princpios, que se reportam

    no apenas ao modo como cada um se relaciona com a bola, mas tambm forma de

    comunicar com os colegas e contra-comunicar com os adversrios, passando pela noo de

    ocupao racional do espao de jogo (Vingada,1989;Grhaigne,1992; Garganta, 1995).

    Toda a inteno tctica, se integra no seio de uma organizao mais ou menos

    complexa e constitui o referencial comum linguagem tctica aos jogadores da mesma equipa.

    A aquisio destes comportamentos s possvel atravs da estruturao do processo de treino

    com base na Periodizao Tctica.

    Carvalhal(2001), parece compartilhar destas ideias pois para este autor : o guio de

    todo o processo de treino dever ser o modelo de jogo a perseguir, estando este dependente de

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    um sistema de relaes que vai articular uma determinada forma de jogar, no uma forma de

    jogar qualquer, mas subjacente a uma estrutura especfica.

    Segundo Oliveira (1991), todo o processo de treino deve contemplar exerccios

    especficos do modelo de jogo adoptado pelo treinador. O modelo de jogo e os seus respectivos

    princpios devem ser alvo de uma periodizao e planeamento dinmicos, o que faz com que a

    dimenso fsica surja arrastada pela dimenso tctica, mas sempre em paralelo .

    Nesta linha, entendemos que o processo de treino do Jogar apenas poder ser coerente

    e eficaz se referenciado a um quadro de ideias e princpios (modelos de jogo, de treino e de

    jogador), que expressem os aspectos a que se atribui maior importncia e que orientem a

    interveno de quem ensina (treinadores) e a aco de quem aprende (jogadores/equipa).

    Podemos encontrar nas palavras de Mourinho (2001b) a aplicabilidade prtica do que foidito anteriormente. Expus a minha filosofia, expliquei a minha metodologia de trabalho e disse o

    modelo e os princpios que gostaria de ver postos em prtica.

    Na opinio de Vingada (1989), atravs do treino que as equipas e os jogadores criam

    a sua prpria identidade e nenhum jogador ser completamente eficaz se no aprender os

    fundamentos tctico-tcnicos no que diz respeito defesa e ao ataque, que so inerentes

    modalidade (entenda-se, inerentes ao Jogar).

    Por conseguinte, qualquer treinador face ao modelo de jogo adoptado no clube, deveprocurar operacionalizar um modelo de treino que inclui indicadores quantitativos e qualitativos,

    tais como: caractersticas dos jogadores; local de treino; distribuio dos desempenhos ao longo

    da semana padro; durao do treino; nmero de treinos; nmero de competies; exerccios

    padro; nmero de execues das aces tcticas de ataque e de defesa; tempo para trabalhar

    as aces tcticas colectivas no contexto dos diferentes sistemas de ataque e de defesa; etc.

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    2.7. Perceber as emoes e os sentimentos...para se andar no Futebol com cabea,

    tronco e membros

    As emoes desenrolam-se no teatro do corpo.

    Os sentimentos desenrolam-se no teatro da menteAntnio Damsio (2003a)

    2.7.1. Na aprendizagem/implementao do Modelo de jogo entram em campo os

    sentimentos e as respectivas emoes.

    O conhecimento de um objecto (modelo de jogo) surge atravs da relao

    deste com o organismo (jogadores/equipa )sob a forma de um sentimento

    Damsio (2000b)

    Segundo Damsio (2003a), as emoes so coleces de respostas reflexas cujoconjunto pode atingir nveis de elaborao e coordenao extraordinrios.

    Quando se fala em aprendizagem, todos sabemos que as emoes esto presentes,

    mas muitas vezes so encaradas como um aspecto limitativo para a aprendizagem. (Damsio,

    2000a).

    No entanto, Caldas (2003), refere que associaes entre a amgdala e o hipocampo,

    onde devem ter origem as respostas emocionais, permitem que as emoes influenciem a

    aprendizagem.A aprendizagem tem vindo a associar emoes e pensamentos numa rede que funciona

    em duas direces. Certos pensamentos evocam certas emoes e certas emoes evocam

    certos pensamentos. Os planos cognitivos e emocionais esto constantemente ligados por estas

    interaces (Damsio, 2003a).

    Segundo Damsio (2000b), o conhecimento de um objecto (princpios) surge atravs da

    relao deste com o organismo (jogadores), sob a forma de um sentimento. Este autor, afirma

    que a forma mais simples sob a qual o conhecimento sem palavras surge mentalmente osentir. Na mesma linha de pensamento Jensen (2002), refere que a faceta emocional da

    aprendizagem visvel atravs da interaco vital entre a forma como nos sentimos e a forma

    como agimos e pensamos.

    As emoes e os sentimentos esto intimamente relacionados ao longo de um processo

    contnuo que tendemos a v-los, compreensivelmente, como uma entidade simples. (Damsio,

    2003)

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    Estudos de vrios cientistas do Centro para a Neurobiologia da Aprendizagem e

    Memria sugerem melhores resultados de memorizao em situaes de elevada excitao

    emocional (Jensen 2002).

    De acordo com este mesmo autor (2002), o crebro hiperestimulado quando esto

    presentes emoes fortes, sendo que as emoes recebem um tratamento preferencial no

    sistema de memria do nosso crebro. Ns lembramo-nos, portanto, do que est mais carregado

    emocionalmente porque todos os acontecimentos emocionais esto sujeitos a um

    processamento preferencial (Christianson, 1992; in Jensen, 2002).

    Neste sentido, quanto mais intensa for a estimulao da amgdala, mais fortes sero as

    marcas gravadas (Goleman, 1996). Logo, uma boa aprendizagem no evita as emoes,

    abraa-as. (Jensen, 2002).Segundo Damsio (2000a), as emoes so inseparveis da ideia de recompensa ou

    de castigo, de prazer ou de dor, de aproximao ou afastamento, de vantagem ou desvantagem

    pessoal. Inevitavelmente, as emoes so inseparveis da ideia de bem e do mal.

    Este mesmo autor (2003a), expe que existe uma outra classe de reaces (emoes)

    cuja origem no consciente mas formada pela aprendizagem durante o desenvolvimento

    individual. Estou-me a referir quilo que aprendemos a gostar ou detestar, directamente, ao

    longo de uma boa experincia de percepo e emoo em relao a pessoas, grupos, objectos,actividades e lugares.

    Deste modo, durante a realizao do exerccio, intervir com emoo diferenciada

    (positiva ou negativa) aos comportamentos dos jogadores correctos e menos correctos parece

    ser determinante para transmitir os comportamentos inerentes aos princpios de jogo que se

    pretendem implementar. A forma de aprendizagem conhecida por condicionamento uma forma

    de obter esta associao entre emoes e comportamentos (Damsio, 2000a).

    O castigo, leva os organismos a fecharem-se em si mesmos enquanto que arecompensa leva os organismos a abrirem-se para o exterior, explorando os seus limites

    (Damsio, 2000a). Este aspecto parece particularmente importante para extrair a mxima

    qualidade de desempenho dos jogadores que a Especificidade reclama.

    Segundo Damsio (2003a), os organismos complexos aprendem tambm a modular a

    execuo das emoes de acordo com as circunstncias individuais.

    Neste sentido, na transmisso dos comportamentos inerentes aos princpios de jogo que

    se pretende implementar, parece ser determinante que o treinador intervenha (imbudo de

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    emoo), de forma diferenciada (com incentivo ou rejeio), nos comportamentos dos jogadores,

    coerentes ou no com esse Modelo de Jogo.

    Hopper e Teresi (1986; in Jensen, 2002), referem que as emoes intensas

    desencadeiam a libertao de qumicos que tm a funo de alertar o crebro para a

    importncia de determinados aspectos. O nosso sistema limbco, que funciona como um

    treinador pessoal, normalmente recompensa a aprendizagem cerebral com sensaes

    agradveis (Jensen, 2002).

    Despertar nos jogadores pensamentos positivos, estimula, portanto, a libertao de

    hormonas do prazer (dopamina, opiceos naturais ou endofinas) (Damsio, 2000a).

    Os comportamentos cuja experincia sentida como recompensadora e agradvel,

    parecem depender da libertao da dopamina a partir de uma rea particular (a reaventrotegmental do tronco cerebral) e do seu transporte para uma outra rea (o ncleo

    acumbens do prosencfalo basal) (Damsio, 2003a).

    De acordo com Jensen (2002), esta auto-recompensa, sediada no hipotalamo

    (Nakamura, 1993; in Jensen, 2002), refora o comportamento desejado.

    O sistema de produo de prazer permite avaliar comportamentos. como se o crebro

    dissesse isto foi bom, vamos record-lo e repeti-lo.

    Jensen (2002), salienta tambm, que quando o sistema confrontado com uma situaoque j viveu anteriormente, a mquina do seu crebro d-lhe rapidamente um sinal de emoes

    ligadas quele tipo de situao.

    Assim em vez de tentarmos eliminar, portanto emoes, para podermos passar

    implementao dos nossos princpios de jogo e, consequentemente, aprendizagem cognitiva

    sria por parte dos jogadores, faz mais sentido aproveit-las e integr-las na nossa forma de

    trabalhar.

    O treinador, no pode ignorar nem desperdiar este aspecto emocional naimplementao das suas ideias de jogo, no sentido de potenciar a interiorizao e a empatia do

    jogador com a mensagem que pretende transmitir, j que, na memria dos homens, os

    sentimentos sempre tiveram mais fora que as ideias (Lobo, 2002).

    Damsio (1995), chama contudo a ateno, para a diferena entre sentimento e

    emoo. Assim, o impacto de todas as emoes acima referidas depende dos sentimentos

    gerados por essas emoes. atravs dos sentimentos que (...) as emoes (...) iniciam o seu

    impacto na mente (Damsio, 2000a).

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    Para este autor (2003a), as emoes so aces ou movimentos muitos deles pblicos,

    que ocorrem no rosto, na voz, ou em comportamentos especficos(...) os sentimentos, pelo

    contrrio, so necessariamente invisveis para o pblico, tal como o caso de todas as outras

    imagens mentais, escondidas de quem quer que seja excepto do seu devido proprietrio, a

    propriedade mais privada do organismo em cujo crebro ocorrem.

    Na perspectiva de Damsio (2003b), para se ter uma emoo no preciso ter um

    sentimento, para ter emoo o que preciso ter um objecto (estimulo emocionalmente

    competente) (...) em segundo lugar, se me dissesse bem pode ser que os sentimentos tenham

    lugar sem emoo, eu responderia com uma pergunta: e ento, de que so feitos os

    sentimentos? A resposta uma srie de relaes, justamente as que constituem a emoo

    Deste modo, legtimo colocar a seguinte questo: No seria dispensvel haversentimentos nos treinos? No bastaria apenas despertar emoes nos mesmos?

    Os sentimentos, s seriam dispensveis se fossemos ratos ou esquilos, ou seja, seriam

    dispensveis, se vivssemos num mundo extremamente simples em que a regulao bsica

    fosse perfeitamente adaptada ao habitat. Ora, o habitat em que ns vivemos (Jogar) do

    ponto de vista social e cultural extremamente complexo, e a que os sentimentos tm a sua

    oportunidade. Os sentimentos, fazem a transposio, do mundo da regulao automtica para o

    mundo da regulao deliberada (Damsio, 2003b).Na aprendizagem dos princpios no suficiente ter uma reaco automtica,

    necessrio saber que se tem essa reaco, e poder a partir da construir conhecimentos e

    sintonizar essa reaco com determinados objectivos (princpios). Portanto, os sentimentos so

    indispensveis para se criar um espao de livre-arbtrio, que temos (isso qualquer coisa que

    nos caracteriza humanamente), embora no tenhamos um enorme espao de manobra: so

    indispensveis para se conseguir deliberar. (Damsio 2003b)

    Deste modo, podemos concluir que no Jogar (dada a sua complexidade) no suficiente ter apenas emoes, mais do que isso necessrio ter sentimentos.

    No entanto, no podemos menosprezar as emoes, pois sem elas no haveria

    sentimentos, pois como refere Damsio (2003a), as emoes precedem os sentimentos.

    Segundo este mesmo autor (2003a) a evoluo, parece ter construdo a maquinaria da emoo

    e sentimento s prestaes. Construiu primeiro os mecanismos para a produo de reaces a

    objectos e circunstncias a maquinaria da emoo. Construiu depois os mecanismos para a

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    produo de mapas cerebrais que representam essas reaces e os seus resultados : a

    maquinaria do sentimento.

    Concretamente para este trabalho, importa ressaltar a importncia dos treinadores

    despertarem emoes nos jogadores e faz-los sentir essas emoes. Segundo Damsio

    (2004), uma emoo que nos faz sentir se determinada deciso boa ou no. Para este

    mesmo autor (2003a), o sentimento de emoo uma ideia do corpo quando este perturbado

    pelo processo emocional. Deste modo, parece ser determinante, no momento da

    operacionalizao dos princpios de jogo ( nomeadamente ao nvel da interveno no exerccio

    especfico), faz-lo de forma emotiva e de maneira a despertar no jogador a sensao dessa

    emoo.

    A essncia dos sentimentos de emoo, consiste em pensamentos sobre o corpo,surpreendido no acto de reagir a certos objectos e situaes (Damsio, 2003a).

    Para o referido autor (2003a), no h qualquer dvida de que as regies

    somatossensitivas, esto envolvidas no processo de sentir das emoes e no h qualquer

    dvida de que, nos seres humanos, o crtex da nsulina e do cngulo desempenham papeis

    notveis.

    Segundo Damsio (1995), sentir os estados emocionais oferece-nos a flexibilidade de

    resposta com base na histria especfica das nossas interaces com o meio ambiente.Assim sendo, na aquisio dos princpios de jogo (processo do sentir das emoes)

    parece fazer sentido pragmatizar a fraccionao, ou seja distribuir, organizar e hierarquizar a

    lgica (de aquisio) dos princpios, sub-princpios e sub-princpios dos sub-princpios (e das

    respectivas emoes) ao longo do microciclo padro.

    Este aspecto torna-se ainda mais pertinente para que, depois de associadas emoes

    positivas a comportamentos que o treinador deseja para o seu modelo de jogo, e emoes

    negativas a comportamentos indesejveis , o jogador se aperceba e se sinta bem quando est acomportar-se de acordo com os princpios, sub-princpios e sub-princpios dos sub-principios do

    modelo de jogo. A conscincia permite que os sentimentos sejam conhecidos. Promovendo o

    impacto interno da emoo e permitindo que ela premeie o processo de pensamento atravs do

    sentimento (Damsio, 2000a).

    Quando os jogadores tm a experincia de um sentimento positivo, a mente deles

    representa mais do que bem estar, a mente representa tambm bem pensar (Damsio, 2003).

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    Na opinio de Damsio (2000a) ter conscincia dos sentimentos uma condio sine

    qua non para influenciar o jogador que os tem, para alm do aqui e do agora, de forma a

    produzir efeitos importantes e duradouros.

    2.7.2. A construo de imagens/padres mentais mais esclarecidos do Modelo de Jogo

    que se pretende implementar

    Em organismos complexos como o nosso, as operaes regulatrias do crebro

    dependem da criao e manipulao de imagens mentais (ideias ou pensamentos)

    num processo a que chamamos mente

    (Damsio 2003a)

    Pretendemos evidenciar com este ponto, que em organismos complexos como o nosso,

    a apreenso de qualquer objecto (nomeadamente um conjunto de ideias associadas a um

    padro de jogo, que se denomina Modelo de Jogo), representado no nosso crebro sob a

    forma de imagens.

    Antnio Damsio (2000a), refere que as imagens so a moeda corrente da mente. Este

    autor quando se refere imagem, entende imagem mental ou padro mental. A palavra

    imagem (imagem mental), refere-se a todas as representaes decorrentes das diferentes

    modalidades sensoriais: visual, auditiva, olfactiva, gustativa e somatossensorial (Damsio

    2000a).

    Neste sentido Damsio (2003a), menciona que o crebro produz duas espcies de

    imagens do corpo (de salientar aqui que imagens do corpo no significam imagens mentais): as

    imagens da carne (espcie constituda por imagens do interior do corpo) e imagens provenientes

    de sondas sensoriais especiais.(...) estas ltimas imagens tm base no estado de actividade de

    partes do corpo a que chamamos rgo sensoriais perifricos. As imagens ocorrem quando

    essas partes especializadas do corpo so modificadas por objectos exteriores ao corpo.

    Resultam do contacto fsico desses objectos com o corpo.

    Este mesmo autor (2003a), refere que as imagens (mentais) que constituem a base da

    corrente mental, so imagens de acontecimentos corporais, seja de acontecimentos que tm

    lugar na profundidade do corpo ou numa sonda especializada, prxima da superfcie do corpo. O

    fundamento dessas imagens (do corpo), uma coleco de mapas cerebrais, ou seja, uma

    coleco de padres de actividade ou inactividade neural em certas regies sensoriais. Esses

    mapas neurais representam, da forma mais abrangente possvel, a estrutura e o estado do

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    nosso corpo em todo e qualquer momento. Os mapas neurais, que assim se formam, so

    transformados em imagens mentais.

    Assim sendo, parte daquilo que acaba por ser mapeado nas regies sensorias dos

    crebros dos nossos jogadores (e que emerge na mente deles sob a forma de uma ideia) tem a

    sua origem em estruturas do corpo que se encontram num determinado estado e em

    determinadas circunstncias.

    Segundo Damsio (2003a), em organismos complexos como o nosso, as operaes

    regulatrias do crebro, dependem da criao e da manipulao de imagens mentais (ideias ou

    pensamentos) num processo a que chamamos mente.

    O processo a que chamamos mente, o fluxo contnuo de imagens, quando as mesmas

    se tornam nossas devido conscincia, muitas das quais se revelam logicamente interligadas(Damsio, 1995). O pensamento de um jogador uma palavra aceitvel para traduzir um fluxo

    de imagens.

    Damsio (1995), refere neste sentido, que o corpo e o crebro, sendo indissociveis,

    para alm de darem respostas externas e observveis, geram, tambm respostas internas.

    Os padres neurais e as imagens mentais dos objectos e acontecimentos exteriores ao

    crebro, so criaes do crebro estreitamente relacionadas com a realidade que leva a essa

    criao. (Damsio, 2003a).A construo dos padres neurais, tem como base uma seleco momentnea de

    neurnios e circuitos promovida na interaco organismo - objecto. Por outras palavras, as

    peas necessrias para esta construo, existem dentro do crebro, prontas a ser escolhidas

    seleccionadas e colocadas numa certa configurao. Com base nessas peas, ser possvel

    construir todo e qualquer objecto imaginvel (Damsio, 2003a).

    Neste sentido, Damsio (2003a) menciona que as imagens de que temos experincia

    so construes provocadas por um objecto e no imagens em espelho desse objecto.Deste modo, advindo possveis conflitos de ideias resultantes deste processo, caber ao

    treinador harmonizar o mais possvel, o entendimento acerca do Jogar que pretende que a

    sua equipa pratique. Ou seja, dever causar nos jogadores um entendimento idntico, permitindo

    que eles tenham uma representao mental do contexto global daquilo que pretende do jogo, de

    forma a que eles associem de modo coerente os princpios definidos, isto , que percebam a

    lgica do processo em que esto inseridos e que esto a realizar.

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    Ser ento primordial, o treinador criar atravs da Especificidade, uma cultura

    semelhante para todos os seus jogadores, aproximando as suas ideias sobre o Jogar que

    pretende que desenvolvam.

    Antnio Damsio (2000a), afirma que as imagens mentais so construdas quando nos

    ocupamos com objectos do exterior do crebro ou quando reconstrumos objectos a partir da

    memria, do interior para o exterior do crebro.

    Damsio (2000a) refere que a imagem mental representa para a mente e para o

    crebro e com algum grau de fidelidade, o objecto para o qual a representao remete, como se

    a estrutura do objecto fosse reproduzida na representao. Os padres mentais e as suas

    imagens mentais so tanto criaes da mente como produto da realidade externa que

    desencadeia a sua criao.Compete ao treinador, atravs de um trabalho continuo dirigido para a Especificidade,

    fazer com que os jogadores construam / reconstruam padres mentais que dem origem a

    imagens mentais cada vez mais esclarecidas do modelo de jogo que ele pretende implementar,

    pois como refere Damsio (2003a), quanto mais experincias ou vivncias passamos com coisas

    relativas a um objecto (Modelo de Jogo), mais facilmente percebemos que podemos actuar

    sobre esse objecto, j que h regies do crebro crtices ventromedianos pr-frontais,

    amgdala e tronco cerebral que tm mais facilidade em aceder e responder imagem desseobjecto.

    Relativamente a este ponto, de salientar que se os mapas neurais (padres neurais)

    dos estados de emoo no derem lugar a imagens mentais, ou seja a sentimentos, no so

    suficientes para conduzir o comportamento social a bom porto (Damsio, 2003a).

    Segundo Damsio (2003a), sem a presena de sentimentos, os mapas do corpo podem

    apenas prestar uma assistncia limitada ao processo de governao da vida. Os mapas

    funcionam bem para problemas de certa complexidade, mas quando os problemas se tornamdemasiado complicados, quando requerem uma combinao de respostas automticas e

    raciocnio sobre conhecimentos acumulados, os mapas inconscientes no chegam. a partir

    desse momento que os sentimentos se tornam valiosos. O mesmo dizer que emoes no

    conscientes, sem qualquer sentimento acompanhante no so capazes de conduzir o

    comportamento dos jogadores de acordo com os princpios do modelo de jogo que o treinador

    pretende implementar, pois este requer uma combinao de respostas automticas e raciocnio

    sobre conhecimentos (princpios) acumulados.

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    2.7.2.1. Quando o organismo (jogador) interage com o objecto (modelo/princpios) ...tem

    a palavra a conscincia

    Segundo Damsio (2000a), existe um conjunto de correspondncias entre as

    caractersticas fsicas do objecto (entenda-se princpios) e os modos de reaco do organismo

    (jogador/equipa) segundo os quais uma imagem internamente gerada acaba por ser construda.

    Quando recordamos um objecto, quando permitimos que as disposies explicitem a sua

    informao implcita, no recuperamos apenas dados sensoriais desse objecto mas tambm as

    reaces que o organismo (jogador/equipa) j teve a esse mesmo objecto. Os objectos

    recordados so to capazes de gerar conscincia nuclear como os objectos percebidos agora.

    Quando o organismo (jogador/equipa) interage com o objecto (princpios), constroi-seum relato do que aconteceu, seja o objecto realmente percebido ou recordado, esteja o objecto

    no exterior do organismo ou no interior. Este relato tem duas personagens: o objecto e o

    organismo e desenrola-se no tempo, pois tem um comeo, meio e fim. O comeo corresponde

    ao estado inicial do organismo. O meio a chegada do objecto. O fim o resultado das reaces

    que resultam na modificao do estado do organismo. Tornamo-nos conscientes, quando os

    nossos organismos constrem e manifestam internamente uma forma especfica de sabedoria

    sem palavras (Damsio, 2000a).O que ento a conscincia? A conscincia passou a ser uma construo de

    conhecimento (modelo) acerca de dois factos: o facto de o organismo (jogador) estar envolvido

    numa relao com o objecto (entenda-se princpios) , e o facto de que o objecto nessa relao

    estar a causar uma modificao no organismo (jogador) (Damsio, 2000a).

    Desta forma, podemos afirmar que ser por essa relao, por essa conscincia,

    que o treinador se deve ocupar, permitindo a construo de um conhecimento acerca do Jogar

    que pretende institucionalizar. Apelar conscincia do que se pretende, implicar a apropriaoe o domnio de conhecimentos relativos ao modelo que se objectiva concretizar.

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    2.7.2.2. Outros contributos para a construo de padres mentais mais esclarecidos do

    Modelo de Jogo

    Este entendimento, que tem sido evidenciado acerca do relacionamento entre o

    organismo (jogador) e o objecto (princpios), salienta a importncia do impacto mental das

    referncias espaciais, do momento onde ocorre a apreenso desse objecto.

    Segundo Damsio (2003a), a percepo de objectos e situaes, quer ocorram no

    interior do organismo (imagens do corpo) quer no seu exterior (imagens provenientes de sondas

    sensoriais especiais), requer imagens. Exemplos de imagens relacionadas com o exterior

    incluem as imagens visuais, auditivas, tcteis, olfactivas e gustativas. (Damsio, 2003).

    Segundo Jensen (2002), todas as experincias de vida so contextualizadas, sendo quea aprendizagem associada a vises, sons, odores, localizaes, toques e emoes

    correspondentes.

    Assim sendo, as referncias visuais do local onde estamos a treinar ficam associadas a

    contedos que estamos a implementar. Este aspecto, reala a importncia do aspecto fsico

    onde se treina, desde o incio at ao fim da poca. O treinador dever assim, utilizar espaos

    coerentes com o seu Modelo de Jogo de modo a que os jogadores fiquem com uma percepo

    mais correcta das referncias espaciais inerentes sua forma de jogar. Neste sentido torna-sefundamental exercitar princpios, sub-princpios e sub-princpios dos sub-princpios dos

    diferentes momentos do jogo em zonas diferentes do campo.

    A importncia de utilizar meios audiovisuais de apoio (vdeo, esquemas no quadro,

    power point, etc.) parece de igual modo evidente, pois como refere Guilherme Oliveira (2003)

    com uma apresentao visual do modelo de jogo, o treinador e o jogador dispem de uma

    referncia precisa para haver sintonia na interveno.

    Este treinador, destaca assim a grande eficcia da estimulao particular de umamodalidade sensorial, nomeadamente a visual.

    A prpria comunicao e interveno verbal, dever envolver os jogadores na

    mensagem de tal forma, que estes sejam induzidos a imaginar esquematicamente o contedo

    das ideias, j que de acordo com Damsio (2000b), a melhor forma de transmitir as ideias

    atravs de um dilogo, de um interpelar directo do ouvinte.

    Outro contributo para a construo de padres mentais mais esclarecidos do modelo de

    jogo que se pretende implementar a constatao de Damsio (2000a), de que quanto mais

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    experincias ou vivncias passarmos com coisas relativas a um objecto (Modelo de Jogo), mais

    facilmente percebemos que podemos actuar sobre esse objecto, j que as regies do crebro

    (crtices ventromedianos pr-frontais, amgdala e tronco cerebral) tm mais facilidade em aceder

    e responder imagem desse objecto.

    Relativamente a esta temtica, importa salientar que de acordo com a teoria dos

    psiclogos da Gestalt , ns vemos em primeiro lugar o todo e depois as partes, sendo difcil de

    contrariar a forma holstica como o nosso crebro interpreta as imagens (McCrone, 2002).

    A este respeito, Carvalhal (2003), refere que nos dois primeiros dias o trabalho s

    tctico (...) onze contra zero, um dia ou dois nesse trabalho.

    Tambm Rui Faria (2003), entende que uma primeira apresentao da forma que se

    pretende que a equipa jogue, pode ser feita atravs de uma situao de onze contra zero, porexemplo.

    Neste sentido, parece pertinente, no incio da poca apresentar o modelo de jogo aos

    jogadores, de uma forma global, fazendo transparecer o aspecto geral da proposta de jogo, ou

    seja, explicar aos jogadores os grandes princpios de jogo, o que pretende na defesa, no ataque

    e nas transies, devendo para isso o treinador, criar situaes que permitam o surgimento

    dessa imagem, atravs das vrias modalidades sensoriais.

    2.7.3. O raciocnio e a tomada de deciso ... os benefcios do mecanismo

    O nosso caminho no desenhado por estrelas nem indicado por planetas,

    mas to s pelas decises que tomamos ou deixamos de tomar

    (Gwen-Hael Denigot, 2004)

    Decidir certamente reflectir, comparar, antecipar, escolher, mas muito mais do que

    isso, do que o resultado exclusivo do intelecto, como tantos quiseram provar. Nossas decisesnunca dependem apenas da razo. Pelo simples motivo de que o esprito no est separado de

    corpo (Denigot, 2004).

    A finalidade do raciocnio a deciso , e a essncia da deciso consiste em escolher

    uma opo de respostas, ou seja, escolher uma aco no verbal, ou uma palavra, ou uma

    frase, ou uma combinao destas coisas, de entre as muitas possveis no momento, perante

    uma dada situao. Alm de outros elementos as boas decises necessitam de imagens

    (Damsio, 1995).

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    A especificidade que est na concentrao tctica que est na ESPECIFICIDADE...no que deve ser uma operacionalizao da Periodizao Tctica

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    Raciocinar e decidir, implicam habitualmente que o decisor (jogador) tenha

    conhecimento da situao que requer uma deciso, das diferentes opes de resposta e das

    consequncias de cada uma dessas opes (resultados), imediatamente ou no futuro. Implicam

    tambm, que o decisor disponha de alguma estratgia lgica (leia-se princpios) para produzir

    inferncias vlidas, com base nas quais seleccionada uma opo de resposta adequada, uma

    espcie de plano de jogo escolhido de entre os diversos planos que ensaiamos no passado em

    inmeras situaes e que disponha dos processos de apoio necessrios ao raciocnio. Acerca

    destes ltimos, so normalmente mencionadas a ateno especfica (concentrao tctica) e a

    memria de trabalho (Damsio, 1995).

    Segundo Damsio (2003a), a emoo e o sentimento desempenham um papel no

    raciocnio. Quando o papel benfico, a presena da emoo e do sentimento indispensvel.Quando um jogador confrontado com uma situao que requer uma deciso, tem

    sua disposio duas vias complementares (que podem actuar sozinhas ou de forma

    complementar) para realizar esse processo (Damsio, 2003a): a via da razo, que utiliza os

    conhecimentos e a lgica, e um mecanismo atravs do qual a emoo (...) simplifica o trabalho

    da razo. As memrias de emoes passadas, reactivadas por um circuito neuronal que toma

    em considerao as modificaes corporais ligadas emoo, vai assim influenciar marcar a

    deciso final, desviando a ateno para as consequncias de tal deciso ou influenciando arazo (Damsio, 2004). Este mesmo autor (2003a), acrescenta ainda o seguinte: dado que

    todos estes sinais emocionais tm sempre a ver com o corpo ou soma, designei esta coleco

    de ideiais pela expresso hiptese dos marcadores somticos.

    Estes marcadores, tm origem na nossa memria emocional, que cria pouco a pouco

    categorias (...) ligando imagens de objectos ou de acontecimentos com estados corporais

    (somticos) agradveis ou desagradveis. O relembrar das informaes, contidas nestes

    marcadores, pode ser consciente ou inconsciente, mas sempre eficaz (Damsio, 2004).Segundo este mesmo autor (2003a), sob a influncia das emoes sociais e das

    emoes que so induzidas pelas punies e recompensas, somos capazes de categorizar

    gradualmente as situaes de que temos experincia. Alm disso, este autor (2003a), refere que

    tambm somos capazes de associar as categorias conceptuais que vamos formando (tanto a

    nvel mental como neural) com os dispositivos cerebrais que desencadeiam as emoes. Por

    exemplo, diferentes opes de aco e diferentes resultados futuros acabam por ser associados

    a diferentes emoes e sentimentos.

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    Assim sendo, a categorizao (modelizao) contribui para a tomada de decises ao

    clarificar os tipos de opes, os tipos de resultados e as ligaes entre opes e resultados . A

    categorizao, ordena tambm as opes e os resultados em funo de um determinado valor

    especfico. Quando somos confrontados com uma dada situao, a categorizao prvia

    (modelizao) permite-nos descobrir rapidamente se uma dada opo ou resultado ser

    vantajoso ou de que modo as diversas contingncias podem alterar o grau de vantagem.

    Damsio (1995), faz assim ressaltar a importncia das emoes para a tomada de

    deciso e de forma rpida.

    Privado de emoes, um individuo no pode hierarquizar as suas memrias e tomar

    decises coerentes. (Denigot, 2004).

    Neste sentido, a falta de estmulos emocionais, reduz a capacidade de deciso dojogador e consequentemente a intensidade (mxima relativa que se impe) dos seus

    movimentos. Assim, a periodizao (tctica) do modelo que estamos a implementar, fica limitada

    por no conseguirmos o desempenho mximo na realizao dos exerccios.

    No mesmo sentido, Damsio (1995), refere ainda, que a ausncia de estmulos

    emocionais no retira a possibilidade de um indivduo raciocinar, j que este capaz de

    considerar inmeras opes para a resoluo de um problema. Na hora de decidir, no toma,

    contudo, partido por nenhuma, tornando esse esforo infrutfero, sendo que a finalidade doraciocnio a deciso (Damsio, 1995). Este autor, acrescenta que a emoo permite-nos criar

    um sistema de navegao automtica que nos ajuda a decidir.

    importante notar, que o sinal emocional no um substituto do raciocnio. O sinal

    emocional tem um papel auxiliar (Damsio, 2003a).

    Os sinais emocionais, no so em si mesmo racionais mas acabam por promover

    consequncias que poderiam ter sido deduzidas racionalmente(Damsio, 2003a).

    Logo, a tomada de decises com base nas emoes no uma excepo, a regra(Damsio, 1995).

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    2.8. Especificidade... s se for com letra maiscula

    O que fundamental a Especificidade resultante do Modelo de Jogo

    que se adopta e dos princpios que se conjecturam

    (Frade citado por Vieira, 1993)

    A especificidade que aqui pretendemos dar conta no aquela que deriva da

    caracterizao das exigncias fisiolgicas ou fsicas da modalidade. A especificidade que aqui

    pretendemos demonstrar no , tambm aquela que busca a situacionalidade das aces de

    cada modalidade em geral e neste particular caso, o futebol (Rocha, 2003). Para este mesmo

    autor (2003) a especificidade foi isto, mas queremos uma outra Especificidade.

    Neste sentido Faria (1999), refere que no suficiente uma especificidade-modalidade,

    necessrio uma sub-especificidade-modelo de jogo. No entanto, para Rocha (2003), maisdeterminante o facto de a Especificidade-modelo de jogo constituir, pela importncia que

    desempenha, uma SOBRE-Especificidade-modelo de jogo, j que pela aco desta

    Especifidade ligada ao Modelo de Jogo que se ir conceber padres de comportamentos e

    princpios, de forma a criar um Modelo de Jogo (aquele que concebemos) e que, apesar da

    nossa ambio ser o de melhorar cada vez mais, ele nunca se constitui como um Modelo de

    Jogo final, pois como refere Frade (2002), o modelo de jogo nunca est acabado.

    Segundo Oliveira (1991), a Especificidade tem que ser encarada como forma deestruturao que estabelece uma relao com o modelo de jogo adoptado pelo treinador e com

    os princpios que lhe do corpo, e por consequncia, com as exigncias especficas das suas

    solicitaes. Para este mesmo autor (1991), s se poder chamar especificidade

    Especificidade se houver uma permanente e constante relao entre as dimenses psico-

    cognitivas, tctico-tcnicas, fsicas e coordenativas, em correlao permanente com o modelo de

    jogo adoptado e respectivos princpios que lhe do corpo.

    O conceito de Especificidade, centra-se na procura de adequao dos efeitos do treino,no s modalidade em causa mas fundamentalmente ao modelo de jogo adoptado, sendo

    essencial o objectivo final (base conceptual / modelo de jogo) estar constantemente a ser

    visualizado, isto , mantendo-se o futuro como el