Moedas e burguesias mequetrefes

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1 Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SPCRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA Tel. (11) 92357060 ou (48) 96409331 e-mail: [email protected] EDIÇÃO 1122Ano 27; 1ª semana de Outubro 2012. Moedas e burguesias mequetrefes. JOSÉ MARTINS Em qualquer sentido que se olhe, entesourar volumes crescentes de reservas internacionais é muito ruim para qualquer economia, pois revela uma baixa qualidade da produção interna e, consequentemente, baixa competitividade no comércio internacional. É muito difícil responder no próprio corpo do boletim semanal a todas as mensagens que nos chegam questionando pontos específicos dos diversos boletins. É um problema de espaço e de método; resolveremos esse problema com a implantação do nosso blog, em processo de construção. Mas, antes disso, às vezes vale a pena compartilhar algumas indagações e considerações dos nossos fieis leitores. Esclarecem melhor complexos assuntos tratados. As cartas aumentam quando o assunto é moeda, câmbio, reservas internacionais. Vejam algumas selecionadas (e resumidas), mais ou menos ao acaso. Escreve André: “No boletim 1120 da Crítica (Você viu o Xi Jinping por aí?) encontrei uma frase que me pareceu enigmática. O que significa, em seu contexto: ‘Principalmente para quem não resiste muito tempo sem acumular reservas internacionais.’? Será que é a busca da "estabilidade do mercado de câmbio a partir de um volume de reservas internacionais", mencionada por Heitor em uma de suas brilhantes mensagens? Será que a China não resiste muito tempo sem acumular reservas internacionais, por que precisa formar um volume de reservas internacionais que garanta a estabilidade do mercado de câmbio? O óbice que encontro em pensar assim é que a China já tem um volume tão elevado de reservas internacionais que me parece longe de qualquer limite razoável. Será que a China precisa constantemente enxugar o seu mercado de câmbio enviando ao exterior parcela significativa da sua renda nacional, para manter a sua moeda subvalorizada, e, assim, assegurar os lucros de seus capitalistas? O que significa o emprego do verbo "resistir", na frase por mim pinçada do último boletim da Crítica? Caro André. É exatamente no sentido que você e Heitor estão considerando: é a busca da "estabilidade do mercado de câmbio a partir de um volume de reservas

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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP.

CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA Tel. (11) 92357060 ou (48) 96409331 e-mail: [email protected]

EDIÇÃO 1122– Ano 27; 1ª semana de Outubro 2012.

Moedas e burguesias mequetrefes. JOSÉ MARTINS Em qualquer sentido que se olhe, entesourar volumes crescentes de

reservas internacionais é muito ruim para qualquer economia, pois revela

uma baixa qualidade da produção interna e, consequentemente, baixa

competitividade no comércio internacional.

É muito difícil responder no próprio corpo do boletim semanal a todas as

mensagens que nos chegam questionando pontos específicos dos diversos

boletins. É um problema de espaço e de método; resolveremos esse problema

com a implantação do nosso blog, em processo de construção. Mas, antes disso,

às vezes vale a pena compartilhar algumas indagações e considerações dos

nossos fieis leitores. Esclarecem melhor complexos assuntos tratados. As cartas

aumentam quando o assunto é moeda, câmbio, reservas internacionais. Vejam

algumas selecionadas (e resumidas), mais ou menos ao acaso.

Escreve André: “No boletim 1120 da Crítica (Você viu o Xi Jinping por aí?)

encontrei uma frase que me pareceu enigmática. O que significa, em seu

contexto: ‘Principalmente para quem não resiste muito tempo sem acumular

reservas internacionais.’? Será que é a busca da "estabilidade do mercado de

câmbio a partir de um volume de reservas internacionais", mencionada por

Heitor em uma de suas brilhantes mensagens? Será que a China não resiste muito

tempo sem acumular reservas internacionais, por que precisa formar um volume

de reservas internacionais que garanta a estabilidade do mercado de câmbio?

O óbice que encontro em pensar assim é que a China já tem um volume tão

elevado de reservas internacionais que me parece longe de qualquer limite

razoável. Será que a China precisa constantemente enxugar o seu mercado de

câmbio enviando ao exterior parcela significativa da sua renda nacional, para

manter a sua moeda subvalorizada, e, assim, assegurar os lucros de seus

capitalistas? O que significa o emprego do verbo "resistir", na frase por mim

pinçada do último boletim da Crítica?

Caro André.

É exatamente no sentido que você e Heitor estão considerando: é a busca da

"estabilidade do mercado de câmbio a partir de um volume de reservas

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internacionais", como bem coloca Heitor. Acontece que no mercado mundial a

produtividade relativa dessas economias dominadas (Brics, etc.) é extremamente

baixa; moedas como real e yuan não circulam nos mercados internacionais de

câmbio e de compensações. São moedas inconversíveis. Moedas fracas.

As economias dominadas não poderiam participar do comércio internacional

com suas moedas nacionais geneticamente frágeis. Não possuem credibilidade.

São mequetrefes do sistema monetário internacional. Por isso, precisam sempre

de uma "muleta" de fortes moedas conversíveis para compor suas reservas

internacionais. As potências imperialistas lhes fornecem essa "muleta cambial".

Quando em volumes exageradamente elevados, como na China e Brasil,

atualmente, essas "muletas" podem levar também ao desequilíbrio. Não se pode

exagerar no remédio, senão...

Em resumo: essas economias desprovidas estruturalmente de moedas nacionais

conversíveis não resistiriam muito tempo sem acumular grandes volumes de

reservas internacionais. Seus sistemas monetários internos (real, yuan, rupias,

rublos) entrariam em súbitos colapsos inflacionários, cambiais, fiscais, etc., e

ficariam fora da "grande roda" de que falava Smith, quer dizer, do sistema

comercial mundial. Além de dominados, seriam marginalizados do sistema.

Escreve José Onirio: “Zé, boa noite. Fiquei confuso agora. Ter reserva em dólar

é bom ou ruim para a economia? Para o Brasil isso é bom?”.

Caro Onirio: As economias dominantes como EUA, Alemanha, França,

Inglaterra, com moedas conversíveis (fortes), não dispõem de grandes volumes

de reservas internacionais. Giram na faixa de cinquenta a setenta bilhões de

dólares. Já tratamos disso em vários boletins de nossa longa existência. Essas

economias dominantes, caracterizadas por elevada produtividade sistêmica, não

precisam entesourar divisas, pois em situação normal suas moedas nacionais

gozam de credibilidade internacional, sendo aceitas em qualquer transação de

mercadorias ou de capitais com o exterior. O superávit em transações correntes e

no balanço de pagamentos não é o objetivo dessas economias. Mesmo que sua

corrente de comércio ou de capitais aumente, o que sempre tende a acontecer,

suas reservas internacionais permanecem nos mesmos níveis anteriores.

Em economias dominadas como Brasil, China, Índia, etc., o quadro é

estruturalmente diferente. Como explicamos acima, não resistiriam muito tempo

sem acumular grandes volumes de reservas internacionais. O problema não são

as reservas internacionais em si, mas por que nestas economias dominadas se

busca um volume cada vez maior dessas divisas, quando elas não servem para

nada. Tem sempre que ser entesouradas improdutivamente. Em títulos da dívida

dos EUA, por exemplo. Na economia, o entesouramento de moedas sempre é

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muito ruim. Smith, outra vez, já explicava por quê. Essa demência acontecia nos

regimes mercantilistas antigos, mas no moderno regime capitalista de produção

ela é reservada apenas para as economias dominadas da divisão internacional do

trabalho e suas dementes classes dominantes internas. Em qualquer sentido que

se olhe, entesourar volumes crescentes de reservas internacionais é muito ruim

para qualquer economia, pois revela uma baixa qualidade da produção interna e,

consequentemente, baixa competitividade no comércio internacional.

Escreve Baldino. “Martins. O que o governo deveria explicar é por que as tão

festejadas reservas internacionais passaram a ser um terrível problema,

exatamente a partir do último período de crise da economia mundial. Desculpe a

ignorância: por quê?”

Caro Baldino: no Brasil, como descrito no boletim, o tsunami monetário do

período 2003/2008 era maior que o atual denunciado pelo governo neopelego de

Brasília. Da mesma maneira a elevada apreciação do real frente ao dólar. De

repente, o que era virtude se reverte em problema: acontece que neste atual

período de expansão, iniciado no terceiro trimestre de 2009, a produtividade da

economia brasileira e demais economias dominadas dos Brics não acompanhou

nem de longe o gigantesco aumento deste estratégico elemento endógeno da

acumulação capitalista nas principais economias – EUA, Alemanha e Japão.

Para compensar essa perda básica de produtividade nas economias dominadas,

que ocorre a cada início de um novo período de expansão global, os seus

capitalistas e respectivos governos de plantão dispõem de dois expedientes: ou

diminuem diretamente os salários nominais dos trabalhadores (arrocho, reformas

laborais, inflação, etc.) ou promovem significativa depreciação cambial.

Geralmente procuram aplicar os dois expedientes, aprofundando a miséria da

população trabalhadora. E corrompem a qualidade da produção nacional. É o

modus operandi de uma burguesia mequetrefe da ordem imperialista mundial.

Por isso, a implementação desses expedientes de amortecimento da crise não é

tarefa fácil. Primo, a ação política da burguesia é condicionada por uma série de

restrições econômicas e sociais produzidas e herdadas do ciclo anterior; secondo,

mas não menos importante, é condicionada pela luta de classes e consequente

ameaça à governabilidade burguesa. Se a coisa for mal aplicada, o que se

apresenta agora tanto no Brasil quanto na China como problema econômico e

político pode se transmutar com muita rapidez (no momento do próximo choque

periódico global, a ser iniciado nos EUA) em grave crise social.

É exatamente esses problemas econômicos e o renovado ataque que já se inicia

sobre a classe operária que o governo neopelego brasileiro está escondendo por

trás desta flácida cortina de fumaça de tsunamis monetários e outras ilusões.

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