Módulo I - Introdução
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Curso Ciência e FéMódulo I – Introdução
© Bernardo Motta
http://espectadores.blogspot.com
Curso Ciência e Fé
I – Introdução
II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega
III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval
IV – Inquisição e Ciência
V e VI – O Caso Galileu
VII – A Revolução Científica
VIII – Darwin e a Igreja Católica
IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico
X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial
XI – Milagres e Ciência
XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
3
1. Introdução
2. Obscurantista, a Igreja?
3. A dita guerra entre Igreja e Ciência
4. Cientistas e cristãos
5. Conclusão
Índice
Introdução
4Fé e Razão, Ludwig Seitz (1844–1908), Galeria dos Candelabros, Vaticano 4
Toda a doutrina cristã assenta no conceito cristão de Deus e na existência desse Deus
Do ponto de vista ateísta: a crença na existência de Deus é irracional
Afirma-se que o conceito de Deus é contraditório: é impossível que Deus exista
Mais modestamente, afirma-se que Deus poderia existir, mas não existe
Só se pode dizer que a crença é irracional se se mostrar que é impossível que Deus exista
Do ponto de vista cristão: a crença na inexistência de Deus é irracional
Afirma-se que a razão e a observação levam a que seja impossível que Deus não exista
Mais modestamente, Deus poderia não existir, mas existe (esta posição não é cristã)
Se é impossível que Deus não exista, então o ateísmo é irracional
Introdução
A fé cristã é irracional?
«(…) Deus, a causa primeira (principium) e o fim de todas as coisas, pode, a partir das coisas
criadas, ser conhecido com certeza pelo poder natural da razão humana (…)» - Vaticano I
5
Atenção: dizer que o ateísmo é irracional não é dizer que os ateus são irracionais!5
6
1. Introdução
2. Obscurantista, a Igreja?
3. A dita guerra entre Igreja e Ciência
4. Cientistas e cristãos
5. Conclusão
Índice
«O Deus do Antigo Testamento é a personagem mais desagradável de toda a ficção.
Ciumento e orgulhoso disso. Um mesquinho, injusto e impiedoso fanático do controlo.
Um vingativo “limpador étnico” sedento de sangue. Um misógino, homofóbico, racista,
infanticida, genocida, filicida, pestilento, megalómano, sado-masoquista, caprichoso e
malévolo rufia.»Palestra em Lynchburg, Virginia (E.U.A.), 2006
Richard Dawkins (1941-)Este cientista julga que a Ciência conduz ao ateísmo…
É o mais popular “profeta” moderno do ateísmo!
Introdução
Estará Dawkins a falar como cientista?
7
Ou estará a usar a sua carreira científica como aval para o seu ateísmo?
Introdução
O Deus do Antigo Testamento…
«Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Mas, quanto mais os chamei,
mais eles se afastaram; ofereceram sacrifícios aos ídolos de Baal e queimaram oferendas a estátuas.
Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem
cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam
uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer.
Ele [Israel] voltará para o Egipto, e a Assíria será o seu rei, porque recusaram converter-se. A espada
devastará as suas cidades, destruirá as suas defesas e os devorará, por causa dos seus planos.
O meu povo é inclinado a afastar-se de mim; quando se convida a subir ao que está no alto, ninguém
procura elevar-se. Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Entregar-te, ó Israel? Como poderia Eu
abandonar-te, como a Adma, ou tratar-te como Seboim? O meu coração dá voltas dentro de mim,
comovem-se as minhas entranhas.
Não desafogarei o furor da minha cólera, não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não um homem,
sou o Santo no meio de ti, e não me deixo levar pela ira.» - Oseias, 11, 1-9
8
Dawkins não está a falar como cientista, senão verificaria melhor os factos…
8
Obstáculos…
Incompreensão do conceito de Deus:
“Enquanto eu não vir Deus com os meus olhos não acredito”;
“Mostrem-me Deus” ;
etc.
A Fé cristã seria incompatível
com a Razão...
Cientista Ateu
Logo…
Dúvidas sobre a sinceridade dos cristãos:
“O clero inventou tudo para ter poder”;
“Nem o Papa acredita em Deus”;
etc.
O mito da incompatibilidade entre Fé Cristã e Ciência (sécs. XVIII e XIX)
Lendas anti-cristãs: “A Ressurreição foi falsificada”;
“Jesus foi casado com Maria Madalena”;
“Jesus não queria fundar uma Igreja”;
“Constantino «montou» o Novo Testamento”;
“A Igreja é inimiga da sexualidade”;
“A Inquisição matou milhões de pessoas”;
“O Papa Pio XII apoiou o nazismo”;
etc.
Fé = Superstição: Erro comum, confundir “supra-racional” com “irracional”
A Fé é “supra-racional”, ou seja, actua “acima” da razão
Para ser “irracional”, a Fé teria que estar contra a razão
9
10
1. A Questão de Hoje
2. Introdução e Obstáculos
3. Obscurantista, a Igreja?
4. A dita guerra entre Igreja e Ciência
5. Cientistas e católicos
6. Conclusão
Índice
Igreja Católica: a grande inimiga e rival da Ciência e da Razão?
A religião cristã teria mantido a Europa em atraso civilizacional: “a Idade das Trevas”
O caso excepcional de Galileu é apresentado como a “regra” no conflito com a Ciência
Julgamento de Galileu – Cristiano Banti (1857)
Obscurantista, a Igreja?
11
Obscurantista, a Igreja?
Como se explica que…
… tenham sido dois Cardeais, Schömberg e Tiedemann Giese, a pedir a Copérnico para publicar a sua obra De revolutionibus orbium coelestium (Nuremberga, 1543), em defesa do modelo heliocêntrico?
O caso Galileu: uma história mal contada?
… a obra de Copérnico tenha sido dedicada pelo autor ao Papa Paulo III, que a autorizou?Como se explica que…
… apenas em Fevereiro de 1616, ou seja, 73 anos depois da primeira edição, um grupo de teólogos do Santo Ofício tenha declarado que o heliocentrismo era herético?
Como se explica que…
… essa declaração não tenha sido assinada pelo Papa e formalizada para toda a Igreja, levando apenas a uma proibição do livro de Copérnico?
Como se explica que…
… que a obra que causou a ruína de Galileu, o Diálogo (Florença, 1632), tenha sido impressa com permissão do Inquisidor de Florença?
Como se explica que…
… o Papa Urbano VIII, outrora grande amigo de Galileu, o tenha condenado em 1633, por causa de uma obra aprovada pelas autoridades eclesiásticas?
Como se explica que…
… em Março de 1638, em prisão domiciliária em Florença, Galileu peça ao Santo Ofício permissão para ir à missa em dias festivos?
Como se explica que… 12
“Tenho duas fontes de perpétuo conforto: primeiro, que nos meus
escritos não se pode encontrar a mais ténue sombra de
irreverência em relação à Santa Igreja; e segundo, o testemunho
da minha própria consciência, que apenas eu e Deus no Céu
conhecemos. E Ele sabe que nesta causa pela qual eu sofro,
apesar de que muitos podem ter falado dela com mais erudição,
ninguém, nem mesmo os antigos Padres, falou com mais
piedade ou como maior zelo pela Igreja do que eu”
Carta de Galileu a Nicolò Fabri di Peiresc, de 21 de Fevereiro de 1635.
Obscurantista, a Igreja?
13
O caso Galileu: uma história mal contada?
Obscurantista, a Igreja?
Porque razão estava Giovanni Lembo, amigo de
Galileu, em Lisboa, em 1614, no colégio jesuíta
de Santo Antão, a ensinar na Aula da Esfera a
construção de telescópios galileanos?
Porque razão o Padre Jesuíta Manuel Dias
divulgou na China, em 1614, as descobertas
astronómicas de Galileu Galilei?
Galileu, Sidereus Nuncius, Veneza, 1610 Manuel Dias, Tianwenlüe, Pequim, 1614
14
O caso Galileu: uma história mal contada?
Obscurantista, a Igreja?
Ou o oposto?
«The Roman Catholic Church gave more financial and social support
to the study of astronomy for over six centuries, from the recovery of
ancient learning during the late Middle Ages into the Enlightenment,
than any other, and, probably, all other, institutions (p. 3).»
«During the sixteenth and seventeenth centuries the Catholic Church
supported a great many cultivators of science. A systematic study of
the niches they occupied, the infrastructure they moved through, and
the roles they fulfilled does not exist. The courts and households of the
big ecclesiastical patrons, the popes and cardinals, afforded many
openings for the learned. The great orders, especially the Jesuits,
supported some of their brethren as writers, mathematicians,
architects and engineers” (pp. 21-22).»
J. L. Heilbron,
The Sun in the Church. Cathedrals as Solar Observatories
(Harvard University Press, 1999)
15
Obscurantista, a Igreja?
Ou o oposto?
«The single most important contributor to the
support of the study of physics in the
seventeenth century was the Catholic Church
and, within it, the Society of Jesus» (p. 2)
«O mais importante contribuidor para o apoio do
estudo da física no séc. XVII foi a Igreja Católica
e, nela, a Companhia de Jesus» (p. 2). J. L. Heilbron,
Electricity in the 17th and 18th Centuries
1616
17
1. Introdução
2. Obscurantista, a Igreja?
3. A dita guerra entre Igreja e Ciência
4. Cientistas e católicos
5. Conclusão
Índice
«A Teologia representada em Roma pelos Santos Padres, seus legítimos intérpretes, não só não se encontrou nunca, em tempo algum, de acordo com a ciência e com a razão do homem, mas esteve sempre em conflito, em contradição e em hostilidade com a razão e com a ciência.»
Ramalho Ortigão, “As Farpas” – carta a Monsenhor Pinto de Campos
Ramalho Ortigão (1836-1915)
A dita guerra entre Igreja e Ciência
18
A dita guerra entre Igreja e Ciência
Os pioneiros da tese do conflito
John William Draper (1811-1882)
“History of the Conflict between Religion and Science” (1875)
Cientista, médico e professor universitário (NYU)
Presidente da American Chemical Society
Fundador da NY University School of Medicine
Obra escrita num tom anticatólico
Andrew Dickinson White (1832-1918)
“A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom“ (1896, 2 vols.)
Fundador (com Ezra Cornell) e primeiro Presidente da Universidade Cornell (EUA)
White pretendia combater a “teologia” e não a “religião”: a Ciência vista como purificadora da religião organizada
19
A dita guerra entre Igreja e Ciência
A história quase completa desta “guerra”…
1600 1650 1700 1750 1800 1850 1900 1950 2000
1600: Giordano Bruno queimado em Roma pela Inquisição
… mas por magia: ele não era cientista!
1633: Galileu condenado a prisão domiciliária
Na sequência da publicação da sua obra Diálogo, por desobedecer a uma ordem que (presumidamente) lhe fora dada em 1616 pelo Cardeal Bellarmino
1720: John Toland lança o mito moderno de Hipátia
Filósofa alexandrina do século V, assassinada em 415
1788/89: “History of the Decline and Fall of the Roman Empire”, vol. VIEdward Gibbon culpa os cristãos pela morte de Hipátia (p. 17) e pela destruição da Biblioteca de Alexandria (que já não existia na altura, p. 420)
2009: O mito de Hipátia chega às salas de cinema
“Ágora” do realizador Alejandro Amenábar
«Ao antigo saber científico dos pagãos seguiu-se a Idade das Trevas do cristianismo»
20
1980: “Cosmos”Carl Sagan ecoa Gibbon: culpa os cristãos pela morte de Hipátia e pelo fim da Biblioteca de Alexandria (p.365)
Judeo-cristianismo: Cosmos estável, estruturado e inteligível, obra de um Deus racional e fiel
Investigar a Natureza é “ler” a obra racional de Deus
Criado à imagem e semelhança de Deus, o Homem é capaz de inteligir o Cosmos criado por Deus
Distinção entre Criador e Criação: a Natureza tem as suas próprias “leis” definidas por Deus
Deus valoriza a Criação e o Homem porque Deus Se fez Homem em Jesus Cristo
Desaparece o Cosmos pagão: eterno e necessário (autossuficiente, auto-existente)
Surge o Cosmos cristão: criado “ex nihilo” (do nada) e contingente (dependente de algo para existir)
O Cosmos cristão podia não existir! Se existe… Porque é que existe? O que o fez existir?
Cristianismo: o berço da Ciência
Porque razão a Ciência apenas prosperou no Ocidente cristão?
Tu, porém, regulaste tudo com medida, número e peso.
Livro da Sabedoria, c. 11, v. 20
21
Palestra de Bento XVI na Aula Magna de Regensburg, 12 de Setembro de 2006: "Fé, Razão e Universidade":
"E no entanto a razão moderna, própria das ciências naturais, com a sua dimensão platónica intrínseca traz consigo (...) uma questão que a transcende a ela juntamente com as suas possibilidades metódicas"
"Ela própria tem simplesmente de aceitar a estrutura racional da matéria e a correspondência entre o nosso espírito e as estruturas racionais operativas na natureza como um dado de facto, sobre o qual se baseia o seu percurso metódico"
"Mas a pergunta sobre o porquê deste dado de facto existe e deve ser confiada pelas ciências naturais a outros níveis e modos do pensar – à filosofia e à teologia"
Cristianismo: o berço da Ciência
Quais são os pressupostos filosóficos e teológicos da Ciência moderna?
22
O trabalho do cientista pressupõe um Cosmos racional e inteligível!
A eficácia da Matemática em Ciência: de onde vem?
Eugene Wigner (1902-1995), físico e matemático ateu
Prémio Nobel da Física (1963)
The Unreasonable Effectiveness of Mathematics in the Natural Sciences (1960)
«(…) fundamentalmente, não sabemos porque é que as
nossas teorias funcionam tão bem. Por isso, a sua precisão
pode não provar a sua verdade e consistência. (...)
O milagre da apropriedade da linguagem da matemática à
formulação das leis da física é um dom maravilhoso, que
nós nem entendemos nem merecemos. Deveríamos estar
agradecidos por ele, e esperar que se mantenha válido em
pesquisas futuras (...)»
23
Cristianismo e Ciência: profundamente concordantes
24
1. Introdução
2. Obscurantista, a Igreja?
3. A dita guerra entre Igreja e Ciência
4. Cientistas e cristãos
5. Conclusão
Índice
Cientistas e cristãos
Padre secular e professor na Universidade de Paris
Jean Buridan (c.1295-1358)
Nascido em Béthune, na Picardia, de origem humilde
Desenvolveu a teoria do ímpeto: os corpos em movimento tendem a mantê-lo
Lançou as bases para o trabalho de Newton na dinâmica dos corpos
25
Pioneiro, na Europa medieval, de Física não aristotélica
Bolseiro no Colégio Lemoine em Paris, Mestre em Artes e Professor na Universidade de Paris
«depois de abandonar o braço do lançador, o projéctil move-se graças a um ímpeto que lhe é dado
pelo lançador, e este continuará a mover-se enquanto o ímpeto permanecer mais forte do que a
resistência, e seria de infinita duração se não fosse diminuído ou corrompido por uma força contrária
que lhe resistisse ou por algo inclinado a um movimento contrário» (QM XII.9: 73ra)
Cientistas e cristãos
Matemático, economista, físico, astrónomo, filósofo, musicólogo, teólogo
Nicole Oresme, Bispo de Lisieux (c.1320-1382)
Forte crítico das “manipulações monetárias” por parte do poder temporal
Forte crítico da astrologia, e do seu uso por parte dos governantes
Criador de um grande número de termos científicos em francês
Demonstrou, séculos antes de Galileu, as leis do movimento uniforme
Primeiro método de cálculo para potências irracionais
Primeira teoria da propagação de ondas de som e luz por via energética
“Tratado do aperfeiçoamento das espécies”: pai da Teoria dos Sistemas, propõe evolução biológica pela adaptação do indivíduo ao ambiente, cinco séculos antes de Lamark e Darwin
26
Cientistas e cristãos
Filósofo, matemático e inventor francês, natural de Clermont-Ferrand
Entre 1642 e 1645, Pascal desenvolveu cerca de 50 protótipos de calculadora
A “Pascaline” foi apresentada ao público em 1645:
Pascal construiu cerca de 20 calculadoras, das quais sobreviveram apenas 9
Hidrostática: determinação da relação entre a altitude e a pressão atmosférica (lei de Pascal)
Inventor: prensa hidráulica, seringa, roleta (forma primitiva)
O nome de Pascal foi dado a uma unidade do sistema SI (pressão) e a uma linguagem de programação
Pensées, a obra-prima de Pascal, não foi terminada: o título original: Apologia da religião cristã
Blaise Pascal (1623-1662)
2727
Cientistas e cristãos
Dinamarquês, natural de Copenhaga
Niels Stensen (1638-1686)
Anatomista, investigou o sistema muscular e o sistema nervoso
Pioneiro em Geologia e Estratigrafia (fundou-a em 1669)
Foi o primeiro a afirmar que os fósseis derivam de organismos vivos
Converteu-se do luteranismo ao catolicismo em 1666
Em 1667 dissecou um tubarão
Em 1677 foi ordenado Bispo
Morreu em 1686
- Em 1987, o Papa João Paulo II proclamou-o Beato28
Sacerdote jesuíta, matemático, físico, astrónomo, filósofo, teólogo, poeta
e diplomata, nascido em Dubrovnik (hoje Croácia)
Em Setembro de 1725, abandona Dubrovnik e segue para Roma
Inicia o noviciado jesuíta em 1731, em Sant’Andrea delle Frate, onde estuda
Matemática e Física, revelando-se um aluno brilhante
Em 1740 é nomeado professor de Matemática do colégio
Em 1758 publica em Veneza a sua obra mais importante, Teoria da filosofia natural derivada da
única lei de forças existente na Natureza, que contém as suas importantes teoria atómica (não
rígida) e teoria de forças, ambas baseadas na física newtoniana
É o fundador do Observatório Astronómico de Brera (Milão), em 1764
Em 1773, Clemente XIV extingue a Companhia de Jesus; nesse ano de incertezas, Bošković
aceita a oferta de Luís XV para ir para Paris, como director de óptica militar na Marinha Real
Em 1783 está de volta a Itália; passa dois anos em Bassano, e muda-se para Brera em 1786
Nos últimos anos da sua vida dedica-se por inteiro à óptica e à astronomia
Cientistas e católicos
Ruđer Bošković (1711-1787)
29
Cientistas e católicos
Matemática, linguista e filósofa italiana, nascida em Milão
Maria Gaetana Agnesi (1718-1799)
Aos 5 anos já falava francês
Aos 9 anos, fez um discurso em latim sobre o direito das mulheres à educação
Aos 13 anos era fluente em, Grego, Hebreu, Castelhano, Alemão, Latim
Aos 20 anos, publica os ensaios Propositiones Philosophicae e pede ao pai para entrar num convento
Com a recusa do pai, prossegue os estudos de Matemática e aos 30 anos, publica Instituzioni analitiche ad uso della gioventù italiana, um livro que usou como manual para instruir os irmãos
Em 1750, Bento XIV nomeia-a lente de Matemática, Filosofia Natural e Física em Bolonha
É a primeira mulher nomeada professora numa Universidade (mas não terá exercido o cargo)
Após a morte do pai em 1752, dedica-se ao estudo da Teologia e da Patrística e a obras de caridade; em 1771, é nomeada directora do Pio Instituto Trivulzio, onde fica até morrer em 1799 30
30
Cientistas e cristãos
Ordenado sacerdote, e com estudos em Ciências Naturais
Gregor Mendel (1822-1884)
Mendel é o “pai” da Genética
No mosteiro de Brno (Áustria), faz experiências de cruzamento de espécies usando ervilhas
Formula as Leis da Hereditariedade (1866), sem no entanto usar ainda o termo “gene”
O seu trabalho apenas foi descoberto pela comunidade científica em 1900
O neo-darwinismo é a síntese moderna da evolução darwiniana por selecção natural com a genética mendeliana
31
Cientistas e cristãos
Físico, matemático, filósofo de Ciência e professor de Física
Pierre Duhem (1861-1916)
1872: perde uma irmã e um irmão devido a uma epidemia de difteria
1872-1882: prossegue os seus estudos no Colégio Stanislas, em Paris
1882: entra na École Normale Supérieure (Paris); foi o melhor aluno de Ciências em todos os anos
1884-1885: apresenta a Tese de Doutoramento: “Le potentiel thermodynamique et ses applications à la mécanique chimique et à l'étude des phénomènes électriques”
O painel de tendências anticlericais, Lippmann, Hermite e Picard, rejeita a Tese de um aluno brilhante, mas católico; para mais, Duhem refutara o Princípio do Trabalho Máximo, a “glória” de Marcelin Berthelot, figura eminente do meio científico, e de quem Lippmann era amigo
321890: casa-se com Adèle Chayet de quem tem a filha Hélène (1891)
Berthelot usará a sua influência para lhe fechar as portas a uma carreira docente em Paris; em Outubro de 1887 obtém uma colocação de docente na Faculdade de Ciências de Lille
Outubro de 1888: obtém o Doutoramento numa Tese sobre magnetismo por indução; o painel era composto por Bouty, Darboux e Poincaré
32
Cientistas e cristãos
Físico, matemático, filósofo de Ciência e professor de Física
Pierre Duhem (1861-1916)
1892: a sua mulher morre ao dar à luz o seu segundo filho, que também morre
Outubro de 1893: muda-se de Lille para Rennes; mantém a expectativa de ir para Paris
Outubro de 1894: é recolocado em Bordéus, onde permanecerá até ao fim da sua carreira
1903: Durante as pesquisas para a sua obra sobre as origens da estática, descobre a ciência medieval, e a obra científica de autores como Buridan e Oresme (“doctores parisienses”)
É o pioneiro na demonstração da continuidade entre ciência medieval e ciência moderna
331916: Com a sua morte, deixa a obra interrompida no décimo volume (incompleto)
1906-1913: Trabalha na sua obra em três volumes, “Études sur Léonard de Vinci”; o terceiro volume recebe o título “Les précurseurs parisiens de Galilée”
1914-1916: Trabalha na sua obra-prima (pensada para doze volumes), “Le Système du Monde”
33
Cientistas e cristãos
Georges Lemaître (1894-1966)
Padre belga, astrónomo, físico e professor de Física
Pioneiro na aplicação da Relatividade Geral à Cosmologia
1927: contesta o modelo estático de Einstein
Defende um Universo em expansão e estima a “constante de Hubble”, dois anos antes do próprio
1931: apresenta a “Teoria do Átomo Primordial” e publica-a num artigo na “Nature”
É o verdadeiro “pai” da teoria conhecida como “Big Bang” (expressão de Fred Hoyle - 1949)
Um dos primeiros cientistas a trabalhar com computadores (1958, com o Burroughs E101)
Lemaître distinguia o conceito teológico de Criação do conceito científico de “início dos tempos”
Defensor da autonomia entre Ciência e Teologia (sem admitir contradição entre ambas) 34
Cientistas e cristãos
Padre beneditino húngaro, teólogo, filósofo, físico, professor de Física
Stanley L. Jaki (1924-2009)
Doutorado em Teologia (Instituto Pontifício de Sto. Anselmo, Roma, 1950)
Doutorado em Física (Universidade de Fordham, EUA , 1957)
Estudou com o Prémio Nobel da Física, Victor Hess
Leccionou as Gifford Lectures, em Edimburgo, de 1974 a 1976
35
Prémio Templeton em 1987
Primeiro a tirar as consequências dos Teoremas da Incompletude de Gödel para a “teoria de tudo”
Autor de uma explicação meteorológica para o milagre do Sol, em Fátima
35
Cientistas e cristãos
Donald Knuth (1938–)
36
Norte-americano, matemático e cientista de computadores
1963: Doutoramento em Matemática (Caltech)
Nesse ano, torna-se professor assitente no Caltech e inicia a obra “The Art of Computer Programming”
1968: é editado o primeiro volume (de sete) da obra “The Art of Computer Programming”
Nesse ano, torna-se professor na Universidade de Stanford
1992: abandona o cargo de professor para se dedicar à sua obra-prima
A parte A do volume 4 já foi editada; o volume 5 está estimado para 2020
Knuth é luterano, e nos tempos livres dedica-se à actividade de organista
Cientistas e cristãos
Médico-geneticista norte-americano
Francis Collins (1950–)
Doutorado em Química, na Universidade de Yale (1974)
Doutorado em Medicina, na Universidade da Carolina do Norte (1977)
De 1993-2008, Director do National Center for Human Genome Research
Liderou o Consórcio Internacional de Sequenciamento do Genoma Humano (concluído em 2003)
37
No decorrer da sua carreira médica, passou de ateu a cristão evangélico
A 14 de Outubro de 2009, o Papa Bento XVI fê-lo membro da Pontifícia Academia das Ciências37
Cientistas e cristãos
Matemático francês, natural de Antony
Laurent Lafforgue (1966-)
2000: Director de Investigação no CNRS
2002: Recebe a Medalha Fields em Pequim
2003: Membro da Academia das Ciências de Paris
Católico devoto, tem-se dedicado à causa da Educação Pública em França
38
«Tenho que afirmar publicamente o meu reconhecimento, a minha fidelidade e o meu
amor filial à Igreja Católica, que nunca me fez senão o bem e que me deu em
abundância o tesouro mais precioso, que jamais encontrei noutro lugar»
39
Resumo dos autores abordados(1)
Séc. XIX-XX Pierre Duhem
Séc. XX Stanley L. Jaki
Séc. XIV Nicole Oresme
Séc. XVIII Maria Gaetana Agnesi
Séc. XX- XXI Laurent Lafforgue
Séc. XVII Niels Stensen
Séc. XIX Gregor Mendel
Séc. XX-XXI Francis Collins
Séc. XIII-XIV Jean Buridan
Séc. XIV Nicole Oresme
Séc. XIX-XX Georges Lemaître
Séc. XIX-XX Pierre Duhem
Áreas do saber científico
Medicina,Anatomia,Genética
Física ,Química
MatemáticaHistória da
Ciência
Cientistas e cristãos
Ao longo dos tempos inúmeros cristãos contribuíram para a evolução da Ciência nas diversas áreas do saber científico.
(1) Contribuições mais significativas
40
1. Introdução
2. Obscurantista, a Igreja?
3. A dita guerra entre Igreja e Ciência
4. Cientistas e cristãos
5. Conclusão
Índice
Conclusão
Albert Einstein (1879-1955)
Nunca encontrei uma expressão melhor do que “religiosa” para esta confiança na natureza racional da realidade e da sua peculiar acessibilidade à mente humana. Quando esta confiança falta, a ciência degenera num procedimento sem inspiração. O Diabo que se preocupe se os padres capitalizam isso. Não há remédio para isso [não há outra opção].
Nunca encontrei uma expressão melhor do que “religiosa” para esta confiança na natureza racional da realidade e da sua peculiar acessibilidade à mente humana. Quando esta confiança falta, a ciência degenera num procedimento sem inspiração. O Diabo que se preocupe se os padres capitalizam isso. Não há remédio para isso [não há outra opção].
I have never found a better expression than “religious” for this trust in the rational nature of reality and of its peculiar accessibility to the human mind. Where this trust is lacking science degenerates into an uninspired procedure. Let the devil care if the priests make capital out of this. There is no remedy for that.
I have never found a better expression than “religious” for this trust in the rational nature of reality and of its peculiar accessibility to the human mind. Where this trust is lacking science degenerates into an uninspired procedure. Let the devil care if the priests make capital out of this. There is no remedy for that.
Albert Einstein, Lettres a Maurice Solovine reproduits en facsimile et traduits en français (Paris :Gauthier-Vilars, 1956), pp. 102-103.
4141
Conclusão
Albert Einstein (1879-1955)
É certo que uma convicção, semelhante a um sentimento religioso, acerca da racionalidade ou inteligibilidade do mundo se encontra por detrás de todos os trabalhos científicos de alto nível … Esta crença profunda, uma crença unida a um sentimento profundo, numa mente superior que se revela no mundo da experiência, representa a minha concepção de Deus.
É certo que uma convicção, semelhante a um sentimento religioso, acerca da racionalidade ou inteligibilidade do mundo se encontra por detrás de todos os trabalhos científicos de alto nível … Esta crença profunda, uma crença unida a um sentimento profundo, numa mente superior que se revela no mundo da experiência, representa a minha concepção de Deus.
Certain it is that a conviction, akin to religious feeling, of the rationality or intelligibility of the world lies behind all scientific work of a higher order… This firm belief, a belief bound up with deep feeling, in a superior mind that reveals itself in the world of experience, represents my conception of God.
Certain it is that a conviction, akin to religious feeling, of the rationality or intelligibility of the world lies behind all scientific work of a higher order… This firm belief, a belief bound up with deep feeling, in a superior mind that reveals itself in the world of experience, represents my conception of God.
Albert Einstein, Ideas and Opinions, trad. Sonja Bargmann (New York: Dell, 1973), p. 255.
4242
Conclusão
Albert Einstein (1879-1955)
Todos os que estão seriamente empenhados na busca da ciência ficam convencidos que as leis da natureza manifestam a existência de um espírito muito superior ao dos homens, um [espírito] diante do qual nós com as nossas modestas capacidades nos devemos sentir humildes.
Todos os que estão seriamente empenhados na busca da ciência ficam convencidos que as leis da natureza manifestam a existência de um espírito muito superior ao dos homens, um [espírito] diante do qual nós com as nossas modestas capacidades nos devemos sentir humildes.
Every one who is seriously engaged in the pursuit of science becomes convinced that the laws of nature manifest the existence of a spirit vastly superior to that of men, and one in the face of which we with our modest powers must feel humble.
Every one who is seriously engaged in the pursuit of science becomes convinced that the laws of nature manifest the existence of a spirit vastly superior to that of men, and one in the face of which we with our modest powers must feel humble.
Albert Einstein. In: Max Jammer, Einstein and Religion (Princeton NJ: Princeton University Press, 1999), p. 93.
4343
Conclusão
O Ateu afirma:
• O Universo é racional e
compreensível pelos nossos
intelectos racionais
• Todavia, não foi criado por um
Intelecto racional
O Cristão afirma:
• O Universo é racional e
compreensível porque foi criado
por uma entidade racional e
inteligente
• "Res naturalis inter duos
intellectus constituta est" –
São Tomás, De veritate (I,2).
Paradoxo!
O Ateu diz que o Universo racional provém da
matéria / energia, que não é uma entidade inteligente
O Cristão diz que o Universo racional provém de um ente
racional e inteligente
Explicação mais racional!
44
Conclusão
Para o diálogo entre Fé cristã e Ciência:
• Respeito pelas verdades da Fé
cristã
• Respeito pelas verdades da
Ciência
O que deve ser evitado…
• Falta de rigor científico,
filosófico e teológico
• Falta de confiança no trabalho
dos cientistas
• Falta de confiança no
Magistério doutrinal da Igreja
• A ideia impossível da “dupla
verdade”
Nenhuma verdade da Fé cristã contradiz uma verdade de Ciência (e vice-versa).
45
Conclusão
«A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas
quais o espírito humano se eleva para a contemplação da
verdade.»
Papa João Paulo II (encíclica Fides et Ratio, 1998)
46
Bibliografia recomendada
Thomas E. Woods,O que a Civilização Ocidental deve à Igreja Católica
(Lisboa: Alêtheia, 2009)
47
Francis S. Collins,A linguagem de Deus
(Lisboa: Presença, 2007)
Alister McGrath,O Deus de Dawkins
(Lisboa: Alêtheia, 2008)
Antony Flew,Deus existe
(Lisboa: Alêtheia, 2010)
Títulos em Português
47
Bibliografia recomendada
Edward Feser,The Last Superstition – A refutation of the new atheism
(St. Augustine’s Press, 2010)
48
Edward Feser,Aquinas – A begginner’s guide
(Oneworld, 2009)
David S. Oderberg,Real Essentialsm
(Routledge, 2008)
Alvin PlantingaWhere the conflict really lies – Science, religion and naturalism(Oxford University Press, 2011)
Títulos em Inglês - Filosofia
48
Bibliografia recomendada
James Hannam,God’s Philosophers
(Icon Books, 2010)
49
James Hannam,The Genesis of Science
(Regnery, 2011)
Stanley L. JakiBible and Science
(Christendom Press, 2004)
Stanley L. JakiThe Relevance of Physics
(Scottish Academic Press, 1992)
Títulos em Inglês – História da Ciência
49
Bibliografia recomendadaDuas obras importantes...
Coord. William Lane Craig, J.P. Moreland
Argumentos para a existência de Deus
Argumentos para a imaterialidade da mente
Anthony Rizzi
Físico teórico, trabalha no LIGO
O livro conjuga ciência com São Tomas de Aquino
Bibliografia recomendadaEdward Feser – Scholastic Metaphysics (31 de Maio de 2014)
Bibliografia recomendadaDavid O'Connor – Ancient and Medieval Philosophy (OpenCourseWare)
ocw.nd.edu/philosophy/ancient-and-medieval-philosophy
Peter Kreeft (1937-), filósofo católico norte-americano
"Vinte argumentos para a existência de Deus"
www.peterkreeft.com
Bibliografia recomendada
Filósofos aristotélico-tomistas
• Edward Feser (Pasadena City College): http://edwardfeser.blogspot.pt/
• David Oderberg (Reading): http://www.davidsoderberg.co.uk/
• Gyula Klima (Fordham): http://faculty.fordham.edu/klima/
• Alexander Pruss (Baylor): http://alexanderpruss.blogspot.pt/
• Alfred Freddoso (Notre Dame): http://www3.nd.edu/~afreddos/
• Eleonore Stump (St. Louis): https://sites.google.com/site/stumpep/
• Podcasts: – The Thomistic Institute (católico, tema: filosofia tomista)– Taylor Marshall (católico, temas: doutrina e vida espiritual)– The Catholic Laboratory (Ian Maxfield, católico, tema: cientistas católicos)– Unbelievable (Justin Brierley, evangélico, tema: debates e entrevistas)– Reasonable Faith e Defenders (William Lane Craig, evangélico, tema: apologética)– Veritas Forum (vários autores, tema: palestras e debates)
Bibliografia recomendada