Módulo I - Introdução

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Curso Ciência e Fé Módulo I – Introdução © Bernardo Motta [email protected] http://espectadores.blogspot.com

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Page 1: Módulo I - Introdução

Curso Ciência e FéMódulo I – Introdução

© Bernardo Motta

[email protected]

http://espectadores.blogspot.com

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Curso Ciência e Fé

I – Introdução

II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega

III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval

IV – Inquisição e Ciência

V e VI – O Caso Galileu

VII – A Revolução Científica

VIII – Darwin e a Igreja Católica

IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico

X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial

XI – Milagres e Ciência

XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência

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1. Introdução

2. Obscurantista, a Igreja?

3. A dita guerra entre Igreja e Ciência

4. Cientistas e cristãos

5. Conclusão

Índice

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Introdução

4Fé e Razão, Ludwig Seitz (1844–1908), Galeria dos Candelabros, Vaticano 4

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Toda a doutrina cristã assenta no conceito cristão de Deus e na existência desse Deus

Do ponto de vista ateísta: a crença na existência de Deus é irracional

Afirma-se que o conceito de Deus é contraditório: é impossível que Deus exista

Mais modestamente, afirma-se que Deus poderia existir, mas não existe

Só se pode dizer que a crença é irracional se se mostrar que é impossível que Deus exista

Do ponto de vista cristão: a crença na inexistência de Deus é irracional

Afirma-se que a razão e a observação levam a que seja impossível que Deus não exista

Mais modestamente, Deus poderia não existir, mas existe (esta posição não é cristã)

Se é impossível que Deus não exista, então o ateísmo é irracional

Introdução

A fé cristã é irracional?

«(…) Deus, a causa primeira (principium) e o fim de todas as coisas, pode, a partir das coisas

criadas, ser conhecido com certeza pelo poder natural da razão humana (…)» - Vaticano I

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Atenção: dizer que o ateísmo é irracional não é dizer que os ateus são irracionais!5

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1. Introdução

2. Obscurantista, a Igreja?

3. A dita guerra entre Igreja e Ciência

4. Cientistas e cristãos

5. Conclusão

Índice

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«O Deus do Antigo Testamento é a personagem mais desagradável de toda a ficção.

Ciumento e orgulhoso disso. Um mesquinho, injusto e impiedoso fanático do controlo.

Um vingativo “limpador étnico” sedento de sangue. Um misógino, homofóbico, racista,

infanticida, genocida, filicida, pestilento, megalómano, sado-masoquista, caprichoso e

malévolo rufia.»Palestra em Lynchburg, Virginia (E.U.A.), 2006

Richard Dawkins (1941-)Este cientista julga que a Ciência conduz ao ateísmo…

É o mais popular “profeta” moderno do ateísmo!

Introdução

Estará Dawkins a falar como cientista?

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Ou estará a usar a sua carreira científica como aval para o seu ateísmo?

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Introdução

O Deus do Antigo Testamento…

«Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Mas, quanto mais os chamei,

mais eles se afastaram; ofereceram sacrifícios aos ídolos de Baal e queimaram oferendas a estátuas.

Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem

cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam

uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer.

Ele [Israel] voltará para o Egipto, e a Assíria será o seu rei, porque recusaram converter-se. A espada

devastará as suas cidades, destruirá as suas defesas e os devorará, por causa dos seus planos.

O meu povo é inclinado a afastar-se de mim; quando se convida a subir ao que está no alto, ninguém

procura elevar-se. Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Entregar-te, ó Israel? Como poderia Eu

abandonar-te, como a Adma, ou tratar-te como Seboim? O meu coração dá voltas dentro de mim,

comovem-se as minhas entranhas.

Não desafogarei o furor da minha cólera, não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não um homem,

sou o Santo no meio de ti, e não me deixo levar pela ira.» - Oseias, 11, 1-9

8

Dawkins não está a falar como cientista, senão verificaria melhor os factos…

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Obstáculos…

Incompreensão do conceito de Deus:

“Enquanto eu não vir Deus com os meus olhos não acredito”;

“Mostrem-me Deus” ;

etc.

A Fé cristã seria incompatível

com a Razão...

Cientista Ateu

Logo…

Dúvidas sobre a sinceridade dos cristãos:

“O clero inventou tudo para ter poder”;

“Nem o Papa acredita em Deus”;

etc.

O mito da incompatibilidade entre Fé Cristã e Ciência (sécs. XVIII e XIX)

Lendas anti-cristãs: “A Ressurreição foi falsificada”;

“Jesus foi casado com Maria Madalena”;

“Jesus não queria fundar uma Igreja”;

“Constantino «montou» o Novo Testamento”;

“A Igreja é inimiga da sexualidade”;

“A Inquisição matou milhões de pessoas”;

“O Papa Pio XII apoiou o nazismo”;

etc.

Fé = Superstição: Erro comum, confundir “supra-racional” com “irracional”

A Fé é “supra-racional”, ou seja, actua “acima” da razão

Para ser “irracional”, a Fé teria que estar contra a razão

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1. A Questão de Hoje

2. Introdução e Obstáculos

3. Obscurantista, a Igreja?

4. A dita guerra entre Igreja e Ciência

5. Cientistas e católicos

6. Conclusão

Índice

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Igreja Católica: a grande inimiga e rival da Ciência e da Razão?

A religião cristã teria mantido a Europa em atraso civilizacional: “a Idade das Trevas”

O caso excepcional de Galileu é apresentado como a “regra” no conflito com a Ciência

Julgamento de Galileu – Cristiano Banti (1857)

Obscurantista, a Igreja?

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Page 12: Módulo I - Introdução

Obscurantista, a Igreja?

Como se explica que…

… tenham sido dois Cardeais, Schömberg e Tiedemann Giese, a pedir a Copérnico para publicar a sua obra De revolutionibus orbium coelestium (Nuremberga, 1543), em defesa do modelo heliocêntrico?

O caso Galileu: uma história mal contada?

… a obra de Copérnico tenha sido dedicada pelo autor ao Papa Paulo III, que a autorizou?Como se explica que…

… apenas em Fevereiro de 1616, ou seja, 73 anos depois da primeira edição, um grupo de teólogos do Santo Ofício tenha declarado que o heliocentrismo era herético?

Como se explica que…

… essa declaração não tenha sido assinada pelo Papa e formalizada para toda a Igreja, levando apenas a uma proibição do livro de Copérnico?

Como se explica que…

… que a obra que causou a ruína de Galileu, o Diálogo (Florença, 1632), tenha sido impressa com permissão do Inquisidor de Florença?

Como se explica que…

… o Papa Urbano VIII, outrora grande amigo de Galileu, o tenha condenado em 1633, por causa de uma obra aprovada pelas autoridades eclesiásticas?

Como se explica que…

… em Março de 1638, em prisão domiciliária em Florença, Galileu peça ao Santo Ofício permissão para ir à missa em dias festivos?

Como se explica que… 12

Page 13: Módulo I - Introdução

“Tenho duas fontes de perpétuo conforto: primeiro, que nos meus

escritos não se pode encontrar a mais ténue sombra de

irreverência em relação à Santa Igreja; e segundo, o testemunho

da minha própria consciência, que apenas eu e Deus no Céu

conhecemos. E Ele sabe que nesta causa pela qual eu sofro,

apesar de que muitos podem ter falado dela com mais erudição,

ninguém, nem mesmo os antigos Padres, falou com mais

piedade ou como maior zelo pela Igreja do que eu”

Carta de Galileu a Nicolò Fabri di Peiresc, de 21 de Fevereiro de 1635.

Obscurantista, a Igreja?

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O caso Galileu: uma história mal contada?

Page 14: Módulo I - Introdução

Obscurantista, a Igreja?

Porque razão estava Giovanni Lembo, amigo de

Galileu, em Lisboa, em 1614, no colégio jesuíta

de Santo Antão, a ensinar na Aula da Esfera a

construção de telescópios galileanos?

Porque razão o Padre Jesuíta Manuel Dias

divulgou na China, em 1614, as descobertas

astronómicas de Galileu Galilei?

Galileu, Sidereus Nuncius, Veneza, 1610 Manuel Dias, Tianwenlüe, Pequim, 1614

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O caso Galileu: uma história mal contada?

Page 15: Módulo I - Introdução

Obscurantista, a Igreja?

Ou o oposto?

«The Roman Catholic Church gave more financial and social support

to the study of astronomy for over six centuries, from the recovery of

ancient learning during the late Middle Ages into the Enlightenment,

than any other, and, probably, all other, institutions (p. 3).»

«During the sixteenth and seventeenth centuries the Catholic Church

supported a great many cultivators of science. A systematic study of

the niches they occupied, the infrastructure they moved through, and

the roles they fulfilled does not exist. The courts and households of the

big ecclesiastical patrons, the popes and cardinals, afforded many

openings for the learned. The great orders, especially the Jesuits,

supported some of their brethren as writers, mathematicians,

architects and engineers” (pp. 21-22).»

J. L. Heilbron,

The Sun in the Church. Cathedrals as Solar Observatories

(Harvard University Press, 1999)

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Page 16: Módulo I - Introdução

Obscurantista, a Igreja?

Ou o oposto?

«The single most important contributor to the

support of the study of physics in the

seventeenth century was the Catholic Church

and, within it, the Society of Jesus» (p. 2)

«O mais importante contribuidor para o apoio do

estudo da física no séc. XVII foi a Igreja Católica

e, nela, a Companhia de Jesus» (p. 2). J. L. Heilbron,

Electricity in the 17th and 18th Centuries

1616

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1. Introdução

2. Obscurantista, a Igreja?

3. A dita guerra entre Igreja e Ciência

4. Cientistas e católicos

5. Conclusão

Índice

Page 18: Módulo I - Introdução

«A Teologia representada em Roma pelos Santos Padres, seus legítimos intérpretes, não só não se encontrou nunca, em tempo algum, de acordo com a ciência e com a razão do homem, mas esteve sempre em conflito, em contradição e em hostilidade com a razão e com a ciência.»

Ramalho Ortigão, “As Farpas” – carta a Monsenhor Pinto de Campos

Ramalho Ortigão (1836-1915)

A dita guerra entre Igreja e Ciência

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Page 19: Módulo I - Introdução

A dita guerra entre Igreja e Ciência

Os pioneiros da tese do conflito

John William Draper (1811-1882)

“History of the Conflict between Religion and Science” (1875)

Cientista, médico e professor universitário (NYU)

Presidente da American Chemical Society

Fundador da NY University School of Medicine

Obra escrita num tom anticatólico

Andrew Dickinson White (1832-1918)

“A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom“ (1896, 2 vols.)

Fundador (com Ezra Cornell) e primeiro Presidente da Universidade Cornell (EUA)

White pretendia combater a “teologia” e não a “religião”: a Ciência vista como purificadora da religião organizada

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Page 20: Módulo I - Introdução

A dita guerra entre Igreja e Ciência

A história quase completa desta “guerra”…

1600 1650 1700 1750 1800 1850 1900 1950 2000

1600: Giordano Bruno queimado em Roma pela Inquisição

… mas por magia: ele não era cientista!

1633: Galileu condenado a prisão domiciliária

Na sequência da publicação da sua obra Diálogo, por desobedecer a uma ordem que (presumidamente) lhe fora dada em 1616 pelo Cardeal Bellarmino

1720: John Toland lança o mito moderno de Hipátia

Filósofa alexandrina do século V, assassinada em 415

1788/89: “History of the Decline and Fall of the Roman Empire”, vol. VIEdward Gibbon culpa os cristãos pela morte de Hipátia (p. 17) e pela destruição da Biblioteca de Alexandria (que já não existia na altura, p. 420)

2009: O mito de Hipátia chega às salas de cinema

“Ágora” do realizador Alejandro Amenábar

«Ao antigo saber científico dos pagãos seguiu-se a Idade das Trevas do cristianismo»

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1980: “Cosmos”Carl Sagan ecoa Gibbon: culpa os cristãos pela morte de Hipátia e pelo fim da Biblioteca de Alexandria (p.365)

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Judeo-cristianismo: Cosmos estável, estruturado e inteligível, obra de um Deus racional e fiel

Investigar a Natureza é “ler” a obra racional de Deus

Criado à imagem e semelhança de Deus, o Homem é capaz de inteligir o Cosmos criado por Deus

Distinção entre Criador e Criação: a Natureza tem as suas próprias “leis” definidas por Deus

Deus valoriza a Criação e o Homem porque Deus Se fez Homem em Jesus Cristo

Desaparece o Cosmos pagão: eterno e necessário (autossuficiente, auto-existente)

Surge o Cosmos cristão: criado “ex nihilo” (do nada) e contingente (dependente de algo para existir)

O Cosmos cristão podia não existir! Se existe… Porque é que existe? O que o fez existir?

Cristianismo: o berço da Ciência

Porque razão a Ciência apenas prosperou no Ocidente cristão?

Tu, porém, regulaste tudo com medida, número e peso.

Livro da Sabedoria, c. 11, v. 20

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Page 22: Módulo I - Introdução

Palestra de Bento XVI na Aula Magna de Regensburg, 12 de Setembro de 2006: "Fé, Razão e Universidade":

"E no entanto a razão moderna, própria das ciências naturais, com a sua dimensão platónica intrínseca traz consigo (...) uma questão que a transcende a ela juntamente com as suas possibilidades metódicas"

"Ela própria tem simplesmente de aceitar a estrutura racional da matéria e a correspondência entre o nosso espírito e as estruturas racionais operativas na natureza como um dado de facto, sobre o qual se baseia o seu percurso metódico"

"Mas a pergunta sobre o porquê deste dado de facto existe e deve ser confiada pelas ciências naturais a outros níveis e modos do pensar – à filosofia e à teologia"

Cristianismo: o berço da Ciência

Quais são os pressupostos filosóficos e teológicos da Ciência moderna?

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O trabalho do cientista pressupõe um Cosmos racional e inteligível!

Page 23: Módulo I - Introdução

A eficácia da Matemática em Ciência: de onde vem?

Eugene Wigner (1902-1995), físico e matemático ateu

Prémio Nobel da Física (1963)

The Unreasonable Effectiveness of Mathematics in the Natural Sciences (1960)

«(…) fundamentalmente, não sabemos porque é que as

nossas teorias funcionam tão bem. Por isso, a sua precisão

pode não provar a sua verdade e consistência. (...)

O milagre da apropriedade da linguagem da matemática à

formulação das leis da física é um dom maravilhoso, que

nós nem entendemos nem merecemos. Deveríamos estar

agradecidos por ele, e esperar que se mantenha válido em

pesquisas futuras (...)»

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Cristianismo e Ciência: profundamente concordantes

Page 24: Módulo I - Introdução

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1. Introdução

2. Obscurantista, a Igreja?

3. A dita guerra entre Igreja e Ciência

4. Cientistas e cristãos

5. Conclusão

Índice

Page 25: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Padre secular e professor na Universidade de Paris

Jean Buridan (c.1295-1358)

Nascido em Béthune, na Picardia, de origem humilde

Desenvolveu a teoria do ímpeto: os corpos em movimento tendem a mantê-lo

Lançou as bases para o trabalho de Newton na dinâmica dos corpos

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Pioneiro, na Europa medieval, de Física não aristotélica

Bolseiro no Colégio Lemoine em Paris, Mestre em Artes e Professor na Universidade de Paris

«depois de abandonar o braço do lançador, o projéctil move-se graças a um ímpeto que lhe é dado

pelo lançador, e este continuará a mover-se enquanto o ímpeto permanecer mais forte do que a

resistência, e seria de infinita duração se não fosse diminuído ou corrompido por uma força contrária

que lhe resistisse ou por algo inclinado a um movimento contrário» (QM XII.9: 73ra)

Page 26: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Matemático, economista, físico, astrónomo, filósofo, musicólogo, teólogo

Nicole Oresme, Bispo de Lisieux (c.1320-1382)

Forte crítico das “manipulações monetárias” por parte do poder temporal

Forte crítico da astrologia, e do seu uso por parte dos governantes

Criador de um grande número de termos científicos em francês

Demonstrou, séculos antes de Galileu, as leis do movimento uniforme

Primeiro método de cálculo para potências irracionais

Primeira teoria da propagação de ondas de som e luz por via energética

“Tratado do aperfeiçoamento das espécies”: pai da Teoria dos Sistemas, propõe evolução biológica pela adaptação do indivíduo ao ambiente, cinco séculos antes de Lamark e Darwin

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Page 27: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Filósofo, matemático e inventor francês, natural de Clermont-Ferrand

Entre 1642 e 1645, Pascal desenvolveu cerca de 50 protótipos de calculadora

A “Pascaline” foi apresentada ao público em 1645:

Pascal construiu cerca de 20 calculadoras, das quais sobreviveram apenas 9

Hidrostática: determinação da relação entre a altitude e a pressão atmosférica (lei de Pascal)

Inventor: prensa hidráulica, seringa, roleta (forma primitiva)

O nome de Pascal foi dado a uma unidade do sistema SI (pressão) e a uma linguagem de programação

Pensées, a obra-prima de Pascal, não foi terminada: o título original: Apologia da religião cristã

Blaise Pascal (1623-1662)

2727

Page 28: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Dinamarquês, natural de Copenhaga

Niels Stensen (1638-1686)

Anatomista, investigou o sistema muscular e o sistema nervoso

Pioneiro em Geologia e Estratigrafia (fundou-a em 1669)

Foi o primeiro a afirmar que os fósseis derivam de organismos vivos

Converteu-se do luteranismo ao catolicismo em 1666

Em 1667 dissecou um tubarão

Em 1677 foi ordenado Bispo

Morreu em 1686

- Em 1987, o Papa João Paulo II proclamou-o Beato28

Page 29: Módulo I - Introdução

Sacerdote jesuíta, matemático, físico, astrónomo, filósofo, teólogo, poeta

e diplomata, nascido em Dubrovnik (hoje Croácia)

Em Setembro de 1725, abandona Dubrovnik e segue para Roma

Inicia o noviciado jesuíta em 1731, em Sant’Andrea delle Frate, onde estuda

Matemática e Física, revelando-se um aluno brilhante

Em 1740 é nomeado professor de Matemática do colégio

Em 1758 publica em Veneza a sua obra mais importante, Teoria da filosofia natural derivada da

única lei de forças existente na Natureza, que contém as suas importantes teoria atómica (não

rígida) e teoria de forças, ambas baseadas na física newtoniana

É o fundador do Observatório Astronómico de Brera (Milão), em 1764

Em 1773, Clemente XIV extingue a Companhia de Jesus; nesse ano de incertezas, Bošković

aceita a oferta de Luís XV para ir para Paris, como director de óptica militar na Marinha Real

Em 1783 está de volta a Itália; passa dois anos em Bassano, e muda-se para Brera em 1786

Nos últimos anos da sua vida dedica-se por inteiro à óptica e à astronomia

Cientistas e católicos

Ruđer Bošković (1711-1787)

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Page 30: Módulo I - Introdução

Cientistas e católicos

Matemática, linguista e filósofa italiana, nascida em Milão

Maria Gaetana Agnesi (1718-1799)

Aos 5 anos já falava francês

Aos 9 anos, fez um discurso em latim sobre o direito das mulheres à educação

Aos 13 anos era fluente em, Grego, Hebreu, Castelhano, Alemão, Latim

Aos 20 anos, publica os ensaios Propositiones Philosophicae e pede ao pai para entrar num convento

Com a recusa do pai, prossegue os estudos de Matemática e aos 30 anos, publica Instituzioni analitiche ad uso della gioventù italiana, um livro que usou como manual para instruir os irmãos

Em 1750, Bento XIV nomeia-a lente de Matemática, Filosofia Natural e Física em Bolonha

É a primeira mulher nomeada professora numa Universidade (mas não terá exercido o cargo)

Após a morte do pai em 1752, dedica-se ao estudo da Teologia e da Patrística e a obras de caridade; em 1771, é nomeada directora do Pio Instituto Trivulzio, onde fica até morrer em 1799 30

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Page 31: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Ordenado sacerdote, e com estudos em Ciências Naturais

Gregor Mendel (1822-1884)

Mendel é o “pai” da Genética

No mosteiro de Brno (Áustria), faz experiências de cruzamento de espécies usando ervilhas

Formula as Leis da Hereditariedade (1866), sem no entanto usar ainda o termo “gene”

O seu trabalho apenas foi descoberto pela comunidade científica em 1900

O neo-darwinismo é a síntese moderna da evolução darwiniana por selecção natural com a genética mendeliana

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Page 32: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Físico, matemático, filósofo de Ciência e professor de Física

Pierre Duhem (1861-1916)

1872: perde uma irmã e um irmão devido a uma epidemia de difteria

1872-1882: prossegue os seus estudos no Colégio Stanislas, em Paris

1882: entra na École Normale Supérieure (Paris); foi o melhor aluno de Ciências em todos os anos

1884-1885: apresenta a Tese de Doutoramento: “Le potentiel thermodynamique et ses applications à la mécanique chimique et à l'étude des phénomènes électriques”

O painel de tendências anticlericais, Lippmann, Hermite e Picard, rejeita a Tese de um aluno brilhante, mas católico; para mais, Duhem refutara o Princípio do Trabalho Máximo, a “glória” de Marcelin Berthelot, figura eminente do meio científico, e de quem Lippmann era amigo

321890: casa-se com Adèle Chayet de quem tem a filha Hélène (1891)

Berthelot usará a sua influência para lhe fechar as portas a uma carreira docente em Paris; em Outubro de 1887 obtém uma colocação de docente na Faculdade de Ciências de Lille

Outubro de 1888: obtém o Doutoramento numa Tese sobre magnetismo por indução; o painel era composto por Bouty, Darboux e Poincaré

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Page 33: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Físico, matemático, filósofo de Ciência e professor de Física

Pierre Duhem (1861-1916)

1892: a sua mulher morre ao dar à luz o seu segundo filho, que também morre

Outubro de 1893: muda-se de Lille para Rennes; mantém a expectativa de ir para Paris

Outubro de 1894: é recolocado em Bordéus, onde permanecerá até ao fim da sua carreira

1903: Durante as pesquisas para a sua obra sobre as origens da estática, descobre a ciência medieval, e a obra científica de autores como Buridan e Oresme (“doctores parisienses”)

É o pioneiro na demonstração da continuidade entre ciência medieval e ciência moderna

331916: Com a sua morte, deixa a obra interrompida no décimo volume (incompleto)

1906-1913: Trabalha na sua obra em três volumes, “Études sur Léonard de Vinci”; o terceiro volume recebe o título “Les précurseurs parisiens de Galilée”

1914-1916: Trabalha na sua obra-prima (pensada para doze volumes), “Le Système du Monde”

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Page 34: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Georges Lemaître (1894-1966)

Padre belga, astrónomo, físico e professor de Física

Pioneiro na aplicação da Relatividade Geral à Cosmologia

1927: contesta o modelo estático de Einstein

Defende um Universo em expansão e estima a “constante de Hubble”, dois anos antes do próprio

1931: apresenta a “Teoria do Átomo Primordial” e publica-a num artigo na “Nature”

É o verdadeiro “pai” da teoria conhecida como “Big Bang” (expressão de Fred Hoyle - 1949)

Um dos primeiros cientistas a trabalhar com computadores (1958, com o Burroughs E101)

Lemaître distinguia o conceito teológico de Criação do conceito científico de “início dos tempos”

Defensor da autonomia entre Ciência e Teologia (sem admitir contradição entre ambas) 34

Page 35: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Padre beneditino húngaro, teólogo, filósofo, físico, professor de Física

Stanley L. Jaki (1924-2009)

Doutorado em Teologia (Instituto Pontifício de Sto. Anselmo, Roma, 1950)

Doutorado em Física (Universidade de Fordham, EUA , 1957)

Estudou com o Prémio Nobel da Física, Victor Hess

Leccionou as Gifford Lectures, em Edimburgo, de 1974 a 1976

35

Prémio Templeton em 1987

Primeiro a tirar as consequências dos Teoremas da Incompletude de Gödel para a “teoria de tudo”

Autor de uma explicação meteorológica para o milagre do Sol, em Fátima

35

Page 36: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Donald Knuth (1938–)

36

Norte-americano, matemático e cientista de computadores

1963: Doutoramento em Matemática (Caltech)

Nesse ano, torna-se professor assitente no Caltech e inicia a obra “The Art of Computer Programming”

1968: é editado o primeiro volume (de sete) da obra “The Art of Computer Programming”

Nesse ano, torna-se professor na Universidade de Stanford

1992: abandona o cargo de professor para se dedicar à sua obra-prima

A parte A do volume 4 já foi editada; o volume 5 está estimado para 2020

Knuth é luterano, e nos tempos livres dedica-se à actividade de organista

Page 37: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Médico-geneticista norte-americano

Francis Collins (1950–)

Doutorado em Química, na Universidade de Yale (1974)

Doutorado em Medicina, na Universidade da Carolina do Norte (1977)

De 1993-2008, Director do National Center for Human Genome Research

Liderou o Consórcio Internacional de Sequenciamento do Genoma Humano (concluído em 2003)

37

No decorrer da sua carreira médica, passou de ateu a cristão evangélico

A 14 de Outubro de 2009, o Papa Bento XVI fê-lo membro da Pontifícia Academia das Ciências37

Page 38: Módulo I - Introdução

Cientistas e cristãos

Matemático francês, natural de Antony

Laurent Lafforgue (1966-)

2000: Director de Investigação no CNRS

2002: Recebe a Medalha Fields em Pequim

2003: Membro da Academia das Ciências de Paris

Católico devoto, tem-se dedicado à causa da Educação Pública em França

38

«Tenho que afirmar publicamente o meu reconhecimento, a minha fidelidade e o meu

amor filial à Igreja Católica, que nunca me fez senão o bem e que me deu em

abundância o tesouro mais precioso, que jamais encontrei noutro lugar»

Page 39: Módulo I - Introdução

39

Resumo dos autores abordados(1)

Séc. XIX-XX Pierre Duhem

Séc. XX Stanley L. Jaki

Séc. XIV Nicole Oresme

Séc. XVIII Maria Gaetana Agnesi

Séc. XX- XXI Laurent Lafforgue

Séc. XVII Niels Stensen

Séc. XIX Gregor Mendel

Séc. XX-XXI Francis Collins

Séc. XIII-XIV Jean Buridan

Séc. XIV Nicole Oresme

Séc. XIX-XX Georges Lemaître

Séc. XIX-XX Pierre Duhem

Áreas do saber científico

Medicina,Anatomia,Genética

Física ,Química

MatemáticaHistória da

Ciência

Cientistas e cristãos

Ao longo dos tempos inúmeros cristãos contribuíram para a evolução da Ciência nas diversas áreas do saber científico.

(1) Contribuições mais significativas

Page 40: Módulo I - Introdução

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1. Introdução

2. Obscurantista, a Igreja?

3. A dita guerra entre Igreja e Ciência

4. Cientistas e cristãos

5. Conclusão

Índice

Page 41: Módulo I - Introdução

Conclusão

Albert Einstein (1879-1955)

Nunca encontrei uma expressão melhor do que “religiosa” para esta confiança na natureza racional da realidade e da sua peculiar acessibilidade à mente humana. Quando esta confiança falta, a ciência degenera num procedimento sem inspiração. O Diabo que se preocupe se os padres capitalizam isso. Não há remédio para isso [não há outra opção].

Nunca encontrei uma expressão melhor do que “religiosa” para esta confiança na natureza racional da realidade e da sua peculiar acessibilidade à mente humana. Quando esta confiança falta, a ciência degenera num procedimento sem inspiração. O Diabo que se preocupe se os padres capitalizam isso. Não há remédio para isso [não há outra opção].

I have never found a better expression than “religious” for this trust in the rational nature of reality and of its peculiar accessibility to the human mind. Where this trust is lacking science degenerates into an uninspired procedure. Let the devil care if the priests make capital out of this. There is no remedy for that.

I have never found a better expression than “religious” for this trust in the rational nature of reality and of its peculiar accessibility to the human mind. Where this trust is lacking science degenerates into an uninspired procedure. Let the devil care if the priests make capital out of this. There is no remedy for that.

Albert Einstein, Lettres a Maurice Solovine reproduits en facsimile et traduits en français (Paris :Gauthier-Vilars, 1956), pp. 102-103.

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Page 42: Módulo I - Introdução

Conclusão

Albert Einstein (1879-1955)

É certo que uma convicção, semelhante a um sentimento religioso, acerca da racionalidade ou inteligibilidade do mundo se encontra por detrás de todos os trabalhos científicos de alto nível … Esta crença profunda, uma crença unida a um sentimento profundo, numa mente superior que se revela no mundo da experiência, representa a minha concepção de Deus.

É certo que uma convicção, semelhante a um sentimento religioso, acerca da racionalidade ou inteligibilidade do mundo se encontra por detrás de todos os trabalhos científicos de alto nível … Esta crença profunda, uma crença unida a um sentimento profundo, numa mente superior que se revela no mundo da experiência, representa a minha concepção de Deus.

Certain it is that a conviction, akin to religious feeling, of the rationality or intelligibility of the world lies behind all scientific work of a higher order… This firm belief, a belief bound up with deep feeling, in a superior mind that reveals itself in the world of experience, represents my conception of God.

Certain it is that a conviction, akin to religious feeling, of the rationality or intelligibility of the world lies behind all scientific work of a higher order… This firm belief, a belief bound up with deep feeling, in a superior mind that reveals itself in the world of experience, represents my conception of God.

Albert Einstein, Ideas and Opinions, trad. Sonja Bargmann (New York: Dell, 1973), p. 255.

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Page 43: Módulo I - Introdução

Conclusão

Albert Einstein (1879-1955)

Todos os que estão seriamente empenhados na busca da ciência ficam convencidos que as leis da natureza manifestam a existência de um espírito muito superior ao dos homens, um [espírito] diante do qual nós com as nossas modestas capacidades nos devemos sentir humildes.

Todos os que estão seriamente empenhados na busca da ciência ficam convencidos que as leis da natureza manifestam a existência de um espírito muito superior ao dos homens, um [espírito] diante do qual nós com as nossas modestas capacidades nos devemos sentir humildes.

Every one who is seriously engaged in the pursuit of science becomes convinced that the laws of nature manifest the existence of a spirit vastly superior to that of men, and one in the face of which we with our modest powers must feel humble.

Every one who is seriously engaged in the pursuit of science becomes convinced that the laws of nature manifest the existence of a spirit vastly superior to that of men, and one in the face of which we with our modest powers must feel humble.

Albert Einstein. In: Max Jammer, Einstein and Religion (Princeton NJ: Princeton University Press, 1999), p. 93.

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Page 44: Módulo I - Introdução

Conclusão

O Ateu afirma:

• O Universo é racional e

compreensível pelos nossos

intelectos racionais

• Todavia, não foi criado por um

Intelecto racional

O Cristão afirma:

• O Universo é racional e

compreensível porque foi criado

por uma entidade racional e

inteligente

• "Res naturalis inter duos

intellectus constituta est" –

São Tomás, De veritate (I,2).

Paradoxo!

O Ateu diz que o Universo racional provém da

matéria / energia, que não é uma entidade inteligente

O Cristão diz que o Universo racional provém de um ente

racional e inteligente

Explicação mais racional!

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Page 45: Módulo I - Introdução

Conclusão

Para o diálogo entre Fé cristã e Ciência:

• Respeito pelas verdades da Fé

cristã

• Respeito pelas verdades da

Ciência

O que deve ser evitado…

• Falta de rigor científico,

filosófico e teológico

• Falta de confiança no trabalho

dos cientistas

• Falta de confiança no

Magistério doutrinal da Igreja

• A ideia impossível da “dupla

verdade”

Nenhuma verdade da Fé cristã contradiz uma verdade de Ciência (e vice-versa).

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Page 46: Módulo I - Introdução

Conclusão

«A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas

quais o espírito humano se eleva para a contemplação da

verdade.»

Papa João Paulo II (encíclica Fides et Ratio, 1998)

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Page 47: Módulo I - Introdução

Bibliografia recomendada

Thomas E. Woods,O que a Civilização Ocidental deve à Igreja Católica

(Lisboa: Alêtheia, 2009)

47

Francis S. Collins,A linguagem de Deus

(Lisboa: Presença, 2007)

Alister McGrath,O Deus de Dawkins

(Lisboa: Alêtheia, 2008)

Antony Flew,Deus existe

(Lisboa: Alêtheia, 2010)

Títulos em Português

47

Page 48: Módulo I - Introdução

Bibliografia recomendada

Edward Feser,The Last Superstition – A refutation of the new atheism

(St. Augustine’s Press, 2010)

48

Edward Feser,Aquinas – A begginner’s guide

(Oneworld, 2009)

David S. Oderberg,Real Essentialsm

(Routledge, 2008)

Alvin PlantingaWhere the conflict really lies – Science, religion and naturalism(Oxford University Press, 2011)

Títulos em Inglês - Filosofia

48

Page 49: Módulo I - Introdução

Bibliografia recomendada

James Hannam,God’s Philosophers

(Icon Books, 2010)

49

James Hannam,The Genesis of Science

(Regnery, 2011)

Stanley L. JakiBible and Science

(Christendom Press, 2004)

Stanley L. JakiThe Relevance of Physics

(Scottish Academic Press, 1992)

Títulos em Inglês – História da Ciência

49

Page 50: Módulo I - Introdução

Bibliografia recomendadaDuas obras importantes...

Coord. William Lane Craig, J.P. Moreland

Argumentos para a existência de Deus

Argumentos para a imaterialidade da mente

Anthony Rizzi

Físico teórico, trabalha no LIGO

O livro conjuga ciência com São Tomas de Aquino

Page 51: Módulo I - Introdução

Bibliografia recomendadaEdward Feser – Scholastic Metaphysics (31 de Maio de 2014)

Page 52: Módulo I - Introdução

Bibliografia recomendadaDavid O'Connor – Ancient and Medieval Philosophy (OpenCourseWare)

ocw.nd.edu/philosophy/ancient-and-medieval-philosophy

Page 53: Módulo I - Introdução

Peter Kreeft (1937-), filósofo católico norte-americano

"Vinte argumentos para a existência de Deus"

www.peterkreeft.com

Bibliografia recomendada

Page 54: Módulo I - Introdução

Filósofos aristotélico-tomistas

• Edward Feser (Pasadena City College): http://edwardfeser.blogspot.pt/

• David Oderberg (Reading): http://www.davidsoderberg.co.uk/

• Gyula Klima (Fordham): http://faculty.fordham.edu/klima/

• Alexander Pruss (Baylor): http://alexanderpruss.blogspot.pt/

• Alfred Freddoso (Notre Dame): http://www3.nd.edu/~afreddos/

• Eleonore Stump (St. Louis): https://sites.google.com/site/stumpep/

• Podcasts: – The Thomistic Institute (católico, tema: filosofia tomista)– Taylor Marshall (católico, temas: doutrina e vida espiritual)– The Catholic Laboratory (Ian Maxfield, católico, tema: cientistas católicos)– Unbelievable (Justin Brierley, evangélico, tema: debates e entrevistas)– Reasonable Faith e Defenders (William Lane Craig, evangélico, tema: apologética)– Veritas Forum (vários autores, tema: palestras e debates)

Bibliografia recomendada