Mobilizando Conhecimentos para Desenvolver Arranjos e … · 2014-04-03 · Perfil do Arranjo ......

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Projeto de Pesquisa:

Mobilizando Conhecimentos para DesenvolverMobilizando Conhecimentos para DesenvolverArranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

de Micro e Pequenas Empresas no Brasilde Micro e Pequenas Empresas no Brasil

Atividade 03

Relatório Final

Arranjo Produtivo Local - Turismo de Lagoa e Mar / Alagoas

Maria Cecília Junqueira Lustosa

Coordenação Helena M. M. Lastres e José Eduardo Cassiolato

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Equipe de Coordenação no Rio de Janeiro

Coordenação Geral

Helena M. M. Lastres e José Eduardo Cassiolato

Pesquisadores RedeSist-RJ Cristina Lemos Marina Szapiro Fabio Stalivieri

Marcelo de Matos

Estagiárias Júlia Queiroz

Carolina Garcia

Gerente-Administrativa Fabiane da Costa Morais

Gerente de Tecnologia da Informação

Max Hubert dos Santos

Apoio Técnico-Admistrativo Tatiane da Costa Morais

Secretária Eliane Pires

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MOBILIZANDO CONHECIMENTOS PARA DESENVOLVER ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS LOCAIS DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO

BRASIL

ESTUDOS DE CASO E PROPOSIÇÃO DE AÇÕES PARA O ATENDIMENTO DE PRIORIDADES NACIONAIS: SERVIÇOS EM ÁREAS SOCIAIS E CRIATIVAS

NOTA TÉCNICA

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO TURISMO DE LAGOA E MAR / ALAGOAS

Instituição PRODEMA/IGDEMA/UFAL Equipe Coordenação: Profª Drª Maria Cecília Junqueira Lustosa

Pesquisador: Prof. Dr. André Maia Gomes Lages

Auxiliares de Pesquisa: Gustav Ives Mendes Nicácio Viana Mary Anny Silva Cavalcante Mylena Soares de Araújo Natallya de Almeida Levino

Maceió, setembro 2006

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SUMÁRIO

1. Introdução.................................................................................. 4

2. Perfil do Arranjo .......................................................................... 7

2.1 Configuração do Arranjo ..........................................................11

2.2 Barra de São Miguel................................................................12

2.3 Marechal Deodoro...................................................................14

2.4 Pontal da Barra ......................................................................17

2.5 Diferencial e relevância do arranjo ............................................18

2.6 Origem e desenvolvimento do arranjo .......................................21

2.7 Desempenho recente ..............................................................22

3. Perfil dos Principais Atores e Atividades Realizadas ..........................24

3.1 Agentes econômicos ...............................................................25

3.1.1 Meios de hospedagem ........................................................25

3.1.2 Comércio Turístico .............................................................27

3.1.3 Alimentação......................................................................28

3.1.4 Agenciamento ...................................................................30

3.2 Organismos de ensino .............................................................31

3.3 Organismos culturais...............................................................32

3.4 Organismos de apoio, promoção, regulação e financiamento.........33

4. Capacitação Produtiva e Inovativa.................................................36

4.1 Interação, cooperação e difusão de conhecimento .......................36

4.2 Inovação, preservação e vantagens comparativas .......................39

5. Perspectivas e Proposição de Políticas............................................41

5.1 Diferenciais e perspectivas do arranjo........................................41

5.2 Propostas de políticas..............................................................44

Referências Bibliográficas ................................................................46

ANEXO I........................................................................................47

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1. Introdução O turismo é mundialmente considerado como um setor de grande expressividade econômica, sendo um dos maiores geradores de renda e empregos diretos, pois envolve cerca de 52 setores de atividades como alimentos, bebidas, artesanato, eventos, prestação de serviços, pesca, entre outros, além de ser uma importante fonte de recursos tributários. São várias as definições de turismo. Algumas estabelecem condições rígidas de tempo de estadia no local, porém para o estudo de caso em questão adota-se uma definição que privilegia as interações entre os agentes. De acordo com Mc Intosh e Goeldner (citado por Araújo, 2006, p.8), “o turismo pode ser definido como a soma dos fenômenos e relações que surgem da interação entre turistas, fornecedores, governo e as comunidades receptoras como resultado de se atrair turistas e outros visitantes”.

Em Alagoas, o turismo apresenta grande potencial para a promoção do desenvolvimento local calcado em micro e pequenas empresas, numa economia tradicionalmente baseada nas atividades do pólo agroindustrial canavieiro e da indústria química, que levaram a uma concentração de renda e riqueza nas grandes empresas.

O crescimento do turismo no Estado ocorre devido ao fato de possuir um amplo e diversificado conjunto de atrativos turísticos naturais e culturais, que permite a existência de serviços turísticos a ele associados, porém ainda insuficientes. Entretanto, para que o turismo seja uma alavanca do desenvolvimento local, faz-se necessário um estudo mais ordenado, a fim identificar os obstáculos e as potencialidades para seu desenvolvimento.

O desenvolvimento via fomento da atividade turística está intrinsecamente relacionado com especificidades locais e territoriais, cujos atrativos culturais e naturais possuem forte enraizamento. Além do mais, por ser uma atividade que produz bens intangíveis, difere da produção material, pois o consumidor tem de ir ao produto, alterando a logística de “escoamento da produção”. Desta forma, o turista necessita de serviços complementares – transporte, hospedagem, alimentação, entretenimento, entre outros – ofertados por diferentes agentes econômicos, gerando padrões de concorrência diferenciados, evidenciando a importância das formas cooperação e interação entre eles.

Dada estas características da atividade turística, os conhecimentos locais e o relacionamento com o turista, para obter informações quanto à sua satisfação pessoal, são parte fundamentais do processo de aprendizagem para gerar inovações e aumentar a competitividade, a fim de tornar esta atividade uma via do desenvolvimento. Assim, o território e seus atrativos turísticos assumem um papel central no estudo da dinâmica produtiva que ocorre em função do turismo, bem como as formas de cooperação, de geração e difusão do conhecimento, e os processos inovativos que lá ocorrem. O enfoque dos Arranjos Produtivos Locais é, portanto, um dos mais adequados para a identificação de obstáculos e potencialidades da atividade turística.

A presente nota técnica tem por objetivo estudar a dinâmica produtiva que ocorre em função do Arranjo Produtivo Local do Turismo de Lagoa e Mar, em Alagoas, possibilitando subsidiar formulações de propostas de política públicas que visam o fomento da atividade turística como instrumento de desenvolvimento local, objetivando sua sustentabilidade sócio-ambiental.

Estão presentes no arranjo os seguintes tipos e subtipos de atrativos turísticos naturais e culturais, conforme o quadro 1.

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Quadro 1 – Atrativos Turísticos Naturais e Culturais do Arranjo, segundo a classificação por

tipos e subtipos

Atrativos naturais Atrativos culturais Tipos Subtipos Tipos Subtipos

Litoral Praias, restingas, mangues, enseadas, sacos, pontas e dunas

Monumentos Arquitetura civil e religiosa

Terras insulares Ilhas e recifes Sítio histórico Hidrografia Rios, lagunas e ilha

lacustre Institutos e estabe-lecimentos de pes-quisa e lazer

Museu

Manifestações, usos e tradições popula-res

Festas religiosas, cí-vicas, populares e folclóricas, gastro-nomia típica

Realizações técnicas e científicas con-temporâneas

Exploração agrícola (coqueirais e cana-viais), viveiros de ostras

Acontecimentos programados

Realizações despor-tivas e gastronômi-cas

Fonte: Elaboração própria, segundo a classificação de Ignarra (2003). Este conjunto de atrativos turísticos está distribuído de forma irregular por seis

subsistemas que formam o arranjo e que possuem uma dinâmica própria, mas estão interligados pela complementaridade dos serviços turísticos, de acordo com o quadro 2.

Quadro 2 – Serviços Turísticos dos Subsistemas do Arranjo, segundo a classificação por tipos

e subtipos

Subsistema Tipos de serviço Subtipos de serviços Comércio turístico Artesanato, souvenir e produtos

típicos Pontal da Barra (Maceió) Alimentação Restaurantes Entretenimento Marina Passeios Barco Alimentação Restaurantes e quiosques de praia Barra Nova (Marechal De-odoro) Entretenimento Esportes náuticos, esportes da

natureza e marina Passeios Barco Espaços de eventos

Área de eventos

Massagüeira (Marechal De-odoro) Alimentação Restaurantes e doceiras

Comércio turístico Artesanato, souvenirs e produtos típicos

Alimentação Restaurantes e quiosques de praia Praia do Francês (Marechal Deodoro)

Meios de hospedagem Pousadas, imóveis de alu-guel

Agenciamento Agências emissivas e receptivas Entretenimento Esportes náuticos, esportes da

natureza e passeios de buggy Alimentação Restaurantes Cidade de Marechal Deodoro Comércio turístico Artesanato, souvenirs e produtos

típicos Entretenimento Parque temático

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Comércio turístico Artesanato, souvenirs e produtos

típicos Alimentação Restaurantes e quiosques de praia Barra de São Miguel Meios de hospedagem Pousadas, hotéis e imóveis de

aluguel Agenciamento Agências emissivas e receptivas Entretenimento Esportes náuticos, esportes da

natureza, marina e casas de espetáculo

Passeios Barco Espaços de eventos Área de eventos Fonte: Elaboração própria, segundo a classificação de Ignarra (2003).

A pesquisa foi realizada durante os meses de maio, junho e julho de 2006. A fim de

obter dados primários, foram aplicados questionários1 aos principais agentes econômicos que caracterizam o arranjo. Foram também realizadas entrevistas com representantes das principais instituições que fazem parte de sua governança – organismos de ensino, culturais e de apoio, promoção, regulação e financiamento – a fim de captar a dinâmica do arranjo produtivo local (APL) e a forma de coordenação entre seus agentes.

Para um maior contato com os agentes, os pesquisadores responsáveis por este trabalho foram designados representantes da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) no comitê gestor do Arranjo Produtivo Local Turismo Região das Lagoas, um dos arranjos incentivados pelo Programa de Arranjos Produtivos Locais de Alagoas (PAPL), sob a coordenação da Secretaria Executiva de Planejamento do Governo do Estado e outros parceiros, como o SEBRAE-AL.

A coleta de dados primários foi realizada a partir de um universo de 353 empresas, formais e informais, identificadas no arranjo. Calculou-se a participação de cada serviço turístico neste universo e foi tirada uma amostra de 78 empreendimentos, com erro amostral de 10% (ver anexo I). A amostra foi dividida por serviço turístico com base nos percentuais de participação dos mesmos no universo, como mostra a tabela 1.

Tabela 1 – Cálculo da Amostra dos Serviços Turísticos do Arranjo

*Erro amostral de 10% Além destas informações obtidas nos questionários, dados secundários do IBGE,

Embratur, SEBRAE-AL, Secretárias Estaduais e Municipais de Turismo, além das entrevistas, formam o conjunto de informações essenciais para análise setorial.

1 O questionário aplicado e a planilha de tabulação de dados foram desenvolvidos pela RedeSist para estudo de Arranjos Produtivos Locais (APL) e são aplicados aos estudos de caso da Rede, a fim de possibilitar comparabilidade dos arranjos. Adicionalmente, algumas questões sobre indicadores ambientais primários também foram inseridas no questionário, dada a grande relevância da conservação ambiental para sustentabilidade do arranjo alvo desta nota técnica.

Serviços Turísticos universo % do universo amostra*Agenciamento 10 2,83 2,2Meios de Hospedagem 39 11,05 8,6Alimentação 118 33,43 26,0Imóveis de aluguel 7 1,98 1,5Comércio turístico 180 50,85 39,7Total 353 100 78

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Desta forma, a utilização da base teórica e conceitual sobre APL desenvolvida pela RedeSist é a norteadora de toda a análise. Estudos correlatos desenvolvidos por outros grupos de pesquisa foram também fonte de informações relevante para a elaboração deste trabalho.

Esta nota técnica está dividida em quatro sessões além desta introdução. A segunda sessão apresenta o perfil do arranjo, contextualizando-o em termos de localização geográfica, de população, das atividades econômicas mais relevantes, dos principais atrativos turísticos e atividades, além de seu diferencial e relevância em nível local, regional, nacional e internacional. Serão também abordados a origem e o desenvolvimento do arranjo, bem como seu desempenho recente em termos de produção, emprego, renda, entre outros.

A terceira sessão descreve o perfil dos principais atores e a cadeia de atividades produtivas e culturais do arranjo, identificando a correlação dos atores nela envolvidos, as iniciativas, a infra-estrutura disponível, bem como aqueles que exercem o papel de coordenação. Destaque é dado aos agentes econômicos, aos organismos de ensino, culturais e de apoio, promoção, regulação e financiamento.

A quarta sessão trata da capacitação produtiva e inovativa do arranjo, discutindo questões sobre interação, cooperação e difusão do conhecimento, bem como questões sobre inovação, preservação cultural e ambiental, sendo esta última o principal atrativo do APL, além de suas vantagens comparativas dinâmicas para sua sustentabilidade e competitividade.

Finalmente, na última sessão são colocadas as perspectivas do arranjo, mostrando as principais conclusões do estudo por meio da identificação de seus desafios, potencialidades e oportunidades. Foram também elaboradas algumas proposições de políticas visando a promoção do aprendizado para enraizamento e disseminação de conhecimentos internos e externos relevantes para a maior capacitação produtiva e inovativa e o desenvolvimento sustentável do arranjo.

2. Perfil do Arranjo

O Arranjo Produtivo do Turismo de Lagoa e Mar/Alagoas está localizado nos

municípios de Barra de São Miguel, Marechal Deodoro e Maceió, mais especificamente o bairro do Pontal da Barra. Todos situados na micro região de Maceió e na meso-região do Leste Alagoano, conforme mapa 1. A distância média do centro de Maceió, a capital do Estado, é de 36 km. Também próximos do arranjo estão o Porto de Maceió e o Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares.

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Mapa 1 – Localização do Arranjo Produtivo do Turismo de Lagoa e Mar/Alagoas

O arranjo está inserido no complexo Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba – CELMM –, que “... é um sistema de corpos aquáticos naturais que possui duas lagoas2 costeiras - Mundaú e Manguaba com áreas de 24 km2 e 43 km2 respectivamente, canais de acesso com área total de 12 km2, várias ilhas e uma parte estuarina comum a ambas as lagoas” (ANA, 2004, p. 4). O mapa 2 mostra a Ilha de Santa Rita e a parte estuarina comum a ambas lagunas. À direita está a Mundaú e à esquerda a Manguaba. A linha vermelha paralela à costa representa a estrada AL-101-Sul, que deu grande impulso ao desenvolvimento do APL.

2 Apesar destes corpos d’água serem popularmente chamados de lagoas, na definição de geomorfologia costeira eles seriam lagunas. Uma laguna é um “ ... corpo de águas rasas e calmas, em geral mantendo comunicação restrita com o mar (...) A salinidade das suas águas é variável desde quase doce até hipersalina (...)'' (Suguio, 1992). A lagoa possui águas doces e não tem comunicação com o mar.

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Mapa 2 – Parte Estuarina do CELMM e a Ilha de Santa Rita

O arranjo ocupa uma área de aproximadamente 450 km2, o que representa 1,6 % do

território alagoano. Possui uma população residente de cerca de 54 mil habitantes, correspondente a 1,8% da população do Estado, como mostra a tabela 2.

Tabela 2 – Área (km2) e população residente dos municípios do arranjo e suas respectivas

participações no Estado de Alagoas –2005

Município área % Alagoas população % Alagoas Barra de São Miguel 76,6 0,28 7.276 0,24 Marechal Deodoro 333,5 1,20 42.793 1,42 Maceió* 510,7 1,84 903.464 29,96 Alagoas 27.767,7 100,00 3.015.901 100,00

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE / Coordenadoria Geral de Planejamento – CGPLAN * Somente o bairro de Pontal da Barra faz parte do arranjo, cuja população é de aproximadamente 4 mil residentes.

A pesca extrativista destaca-se como atividade mais tradicional, de onde se origina a

culinária local, o transporte de canoas e jangadas, o artesanato como a renda de filé e outros produtos que utilizam motivos e matérias primas do mar. Desta forma, o enraizamento dessas atividades é grande, fazendo com que a imagem do pescador em seu ambiente natural, realizando a pesca artesanal, seja um patrimônio cultural local.

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A região do arranjo possui sua base econômica alinhada ao perfil econômico do

Estado, baseada na agroindústria canavieira, com uma usina de açúcar localizada em Marechal Deodoro, além da cocoicultura e de lavouras familiares. Encontram-se instalados uma unidade produtora de cloro e soda no Pontal da Barra e um distrito industrial em Marechal Deodoro, onde se localiza o Pólo Cloroquímico de Alagoas, cujas unidades industriais produzem policloreto de vinila (PVC), revestimentos plásticos, revestimentos anticorrosivos, gás liquefeito de petróleo, gases industriais, gás natural, utilidades e serviços às demais empresas lá instaladas, entre outros. Estão em processo de implantação unidades de celulose e papel, granitos e mármores sintéticos, e tintas e vernizes.

Pela tabela 3, verifica-se que o município de maior expressividade econômica do arranjo é Marechal Deodoro, uma vez que da capital Maceió só está sendo considerado o bairro do Pontal da Barra. O expressivo crescimento do PIB de Marechal Deodoro de 1985 para 1990 deve-se à instalação do Pólo Cloroquímico, entretanto sua participação no PIB estadual de 2002 não foi significativa, cerca de 2,5%. O município de Barra de São Miguel não possui indústrias, sua principal atividade é o comércio varejista.

Tabela 3 – Produto Interno Bruto (PIB) (R$ 1.000) dos municípios do arranjo e de Alagoas – 1985, 1990, 1996 e 2002

Município PIB 1985 PIB 1990 PIB 1996 PIB 2002 Barra de São Miguel 6.625 6.190 7.328 23.626 Marechal Deodoro 63.256 147.201 152.765 222.215 Maceió 1.922.883 2.698.236 2.784.165 4.050.592 Alagoas 8.767.270

Fonte: IPEAdata A região do arranjo reflete a condição de pobreza do Estado de Alagoas, um dos piores em indicadores sociais do país. Como evidencia a tabela 4, os índices de desenvolvimento humano municipal (IDH-M) estão situados no último terço do ranking de IDH-M dos municípios brasileiros3, a renda per capita é baixa, a taxa de alfabetização entre adultos é reduzida, mesmo comparando com a capital, e a proporção de pobres na população é alta. Adicionado a estes indicadores, há problemas de falta de saneamento básico e deficiência na coleta e disposição final do lixo urbano, o que revela uma situação de pobreza e precariedade de infra-estrutura urbana na região. 3 Na classificação nacional de melhores IDH-M, Maceió situa-se em 2181o lugar, Marechal Deodoro em 3786o e a Barra de São Miguel em 3959o, num total de 5509 municípios brasileiros. O município de melhor IDH-M no Brasil é São Caetano do Sul (SP), com 0,919.

Foto 1 – Pesca artesanal na lagoa Mundau, uma atividade enraizada e parte do patrimônio cultural local (foto Sebrae, 2002)

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Tabela 4 – Índice de desenvolvimento humano municipal (IDH-M), renda per capita (em R$), taxa de alfabetização de adultos e proporção de pobres dos municípios do arranjo e de

Alagoas – 2000.

Município IDH-M Renda capita alfabetização % pobres % Barra de São Miguel 0,639 108,93 63,83 58,9 Marechal Deodoro 0,649 111,10 66,01 65,0 Maceió 0,739 283,00 83,13 38,8 Alagoas 0,649 139,91 55,92 62,2

Fonte: PNUD e ATLAS do Desenvolvimento Humano Não obstante à situação de pobreza revelada na região, a natureza é privilegiada. Além

do CELMM, considerado um ecossistema único em toda a América Latina, encontram-se no arranjo praias paradisíacas, como a da Barra de São Miguel, do Francês, do Saco da Pedra e Prainha, estas três últimas localizadas em Marechal Deodoro. Neste município encontram-se duas unidades de conservação, que visam proteger manguezais, várzeas, restingas, remanescentes de Mata Atlântica e recifes. São elas: a Área de Proteção Ambiental (APA4) de Santa Rita5, que está dentro da maior ilha lacustre da América Latina – a ilha de Santa Rita, e a Reserva Ecológica (RESEC6) da Praia do Saco da Pedra7, que apresenta uma dupla barreira de recifes de arenito e a sua areia é área de pouso de aves migratórias.

Além de sua exuberante natureza, esta região destaca-se por apresentar uma vocação regional voltada para a diversidade cultural e gastronômica, além de seus atrativos naturais e culturais, que permitem que sejam desenvolvidas atividades como o turismo cultural, o ecoturismo, esportes náuticos e de lazer.

2.1 Configuração do Arranjo

O Arranjo Produtivo Local de Turismo de Lagoa e Mar/Alagoas pode ser descrito de acordo com a configuração abaixo:

4 De acordo com o artigo 15 da lei no 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, “A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”. 5 Criada pela lei no 4.607/84 e regulamentada pelo decreto no 6.274/85, com área de 9.793.885 m2. 6 O artigo 1º da Resolução CONAMA nº 004/85 diz que: "são consideradas reservas ecológicas as formações florísticas e as áreas de florestas de preservação permanente mencionadas no artigo 18 da lei federal nº 6.938/81, bem como as estabelecidas pelo Poder Público" (http://www.ibama.gov.br/siucweb/guiadechefe/guia/z-1corpo.htm). 7 Com área de 1.911.051 m2.

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Atrativos Naturais e Culturais

Serviços Turísticos

Comércio = 180; Alimentação = 118; Hospedagem = 39; Agenciamento = 10; Imobiliárias = 7

Turismo

Capacitação, ensino e pesquisa

Fapeal, Ufal, Cefet, Senai, Inepro, Senac, Setur, Sebrae-al, Faculdades

Associações erepresentaçõesde artesãos, de moradores,de cocadeiras, de bares e restaurantes, de hotéis e pousadas

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OResultadosTipos de turismo

Fonte: Elaboração própria a partir de Campos et al., 2006. No centro do arranjo situam-se os atrativos turísticos naturais e culturais, estando a eles associados os serviços turísticos – comércio turístico, alimentação, meios de hospedagem, agenciamento e imobiliárias. Os ofertantes de tais serviços interagem com os organismos de capacitação, ensino e pesquisa, e também com as associações e representações dos diferentes segmentos sociais que estão envolvidos. A infra-estrutura turística, por um lado, e os organismos de regulação e promoção, por outro, estão na base de todo o arranjo, dando-lhe suporte e sustentação. Toda esta interação gera o Turismo, que resultará nos tipos de turismo do arranjo – de lazer, de negócios, de aventura, etc. – e nos resultados obtidos – número de turistas, dias de permanência, gastos dos turistas, renda auferida pelos atores, etc.. Desta forma, para chegar a resultados desejados, é necessário pensar o arranjo de modo sistêmico e atuar sobre ele como sendo um organismo interativo, onde ações em determinado ponto repercutem no todo. Portanto, ações pontuais não serão eficazes para atingir metas de política pública enquanto não forem planejadas e pensadas dentro da visão sistêmica, que pode ser entendida a partir da metodologia de APL da RedeSist.

2.2 Barra de São Miguel

O município de Barra de São Miguel teve seu território ocupado, no século XVI, pelos índios caetés. Tornou-se, posteriormente, um núcleo de pescadores, onde existia um estaleiro que fabricava navios a vela, barcaças, chatas, alvarengas e botes, reconhecido em todo país. Após 1930, a concorrência de outros estaleiros espalhados pela costa brasileira fez a região entrar em decadência. Foi emancipado do município de São Miguel dos Campos em 1963.

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Atualmente, a cidade de Barra de São Miguel é o principal balneário de Alagoas, com uma população flutuante de 15 mil veranistas (SEBRAE, 2004/2005) e passou a atrair muitos turistas pela beleza de sua praia com águas cristalinas de cor azul turquesa e piscinas naturais formadas pelos bancos de arrecifes. O passeio de barco para a praia do Gunga, localizada no município de Roteiro e dentro de uma fazenda de coco, tornou-se um passeio obrigatório, até porque o mar ganha ali aspectos peculiares, dado o seu encontro com a laguna do Roteiro.

A sua importância enquanto balneário atraiu o setor imobiliário, que lançou diversos

loteamentos, alguns invadindo áreas de frágeis ecossistemas, gerando uma nova ocupação do território, especialmente para casas de veraneio.

A maior festa popular do município é o carnaval de rua, sendo um dos mais importantes do Estado. Além de resquícios da tradição do bumba-meu-boi, são os trios elétricos, blocos carnavalescos e shows musicais os grandes atrativos desta festividade. Outro evento que tinha importância local, realizado em outubro, era o Festival do Maçunim. Este molusco é muito encontrado nas croas do estuário do Rio São Miguel, dando origem a diferentes pratos da culinária típica da região. Porém, há dois anos que não acontece o festival, que era um evento importante para atrair público na baixa temporada.

Dada sua natureza exuberante, com praias, coqueiros, o rio Niquim e a lagoa do Roteiro, a Barra de São Miguel é também um local propício para prática do ecoturismo e dos esportes da natureza, como caminhadas, ecobike, snorkeling, mergulhos, passeios de jangada, canoagem, jetskis, caiaques, passeios de buggy, salto de elástico e cavalgadas. Entretanto, algumas destas potencialidades não estão devidamente exploradas, principalmente por falta de divulgação destes produtos e do destino turístico.

Por caracterizar-se como um balneário, o município abriga 25 lojas de artesanato, 22 bares e restaurantes (incluindo as barracas de praia) e 10 pousadas e hotéis. Este número reduzido de pousada e hotéis deve-se ao fato de haver muitas casas de veraneio alugadas para turistas, e de estar incluído num pacote vendido para aqueles que têm como principal destino turístico a cidade de Maceió.

Outra característica deste balneário é o funcionamento de alguns serviços turísticos somente na alta temporada. É o caso das casas de espetáculo, algumas funcionaram somente uma vez, outros espaços promovem shows todos os verões. Há ainda uma área de eventos que no verão transforma-se numa feira, onde os principais restaurantes, lanchonetes e boutiques de Maceió colocam suas “filiais”, com um palco para apresentação de grupos musicais.

O município ainda dispõe de uma filial de uma agência de turismo com sede em Maceió que oferece passeios, os quais procuram explorar os atrativos do litoral sul alagoano.

Foto 2 – O cais da Barra de São Miguel de onde saem os barcos para a Praia do Gunga, ao fundo (foto 7 Mares Turismo)

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2.3 Marechal Deodoro

O atual município de Marechal Deodoro iniciou seu povoamento na margem direita da lagoa Manguaba no século XVI, ainda pertencente à capitania de Pernambuco, com o nome de Santa Maria Madalena. Elevou-se à categoria de vila em 1636, com o nome de Vila Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul. Quando Alagoas passou a ser capitania, em 1817, a vila passou a ser a capital, com o novo nome de Vila de Alagoas. Atualmente, o município tem o nome de um filho ilustre, o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, proclamador da República e primeiro presidente do Brasil.

Na cidade de Marechal Deodoro encontra-se um importante acervo arquitetônico civil e religioso, nos estilos barroco e colonial dos séculos XVII, XVIII e XIX, tombado como Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Alagoas, desde 1983. A configuração urbana da cidade é de estilo português e está praticamente inalterada, com a com casas de pavimento térreo e rente às calçadas, ruas estreitas e íngremes.

Destacam-se o Museu de Arte Sacra e o “polígono sacro” – um sítio histórico –,

formado pelos Largos de quatro conventos: de São Francisco, da Matriz, do Rosário e do Carmo. São também de grande valor arquitetônico, “a Matriz Nossa Senhora da Conceição, entre as 20 igrejas, conventos e capelas existentes, além de exemplares da arquitetura civil colonial como o antigo Palácio Provincial, a antiga Cadeia e Casa de Câmara ...” (SEBRAE, 2004/2005, p. 158). A casa de Marechal Deodoro é um importante ponto de visitação turística.

Foto 4 – Igreja de Santa Maria Madalena, um dos exemplares do sítio histórico da cidade de Marechal Deodoro (foto 7 Mares Turismo)

Foto 3 – Configuração urbana da cidade de Marechal Deodoro, com a casa rosa do proclamador da república (foto 7 Mares Turismo)

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Este patrimônio, entretanto, encontra-se muito degradado em função da má conservação e de algumas alterações do estilo arquitetônico original, apesar ser tombado como patrimônio histórico estadual. Existem projetos para sua recuperação e alguns deles estão em andamento, porém acredita-se que com o tombamento federal, oficializado em agosto de 2006, este processo de recuperação seja mais rápido. Este rico patrimônio histórico, devidamente conservado e sinalizado, possibilitaria o fortalecimento e diversificação do turismo no arranjo, saindo da linha “sol e mar” e incentivando o turismo cultural.

Além de seu rico patrimônio histórico-arquitetônico e natural, com vista para a lagoa Manguaba cercada por um imenso coqueiral, Marechal Deodoro é também a moradia de cerca de 360 artesãos (Instituto Caetés/Sebrae – AL, 2002), a maioria composta por rendeiras de filé e labirinto, ambos de origem portuguesa. O filé é um tipo de renda que têm por base uma malha quadriculada, igual a uma rede de pesca. Esta malha vai sendo preenchida com linhas coloridas, formando desenhos de flores e outros motivos. O labirinto é elaborado num tecido branco, que é desfiado nos locais onde serão bordados flores, frutas, figuras geométricas e outros motivos que revelam as características da comunidade local. Esta atividade possui um enraizamento muito forte e mesmo não sendo uma atividade que gere lucros elevados, contribui com a renda familiar. A produção das rendeiras é vendida nas feiras de artesanato em Maceió, nas lojas do Pontal da Barra, em outros Estados e no exterior.

Outra atividade tradicional de Marechal Deodoro é a pesca artesanal, predominando o uso de redes8. Os pescadores estão reunidos na Colônia Z-6, que pertence à Federação dos Pescadores de Alagoas. A produção de pescado é variada, composta principalmente de peixes como cavala, arabaiana, carapeba, bagre e tainha, além de siris e camarões. Essas atividades com forte enraizamento apresentam, também, um caráter marcante de gênero. Enquanto o artesanato, mais especificamente a renda, é realizado por mulheres, a pesca é uma atividade tipicamente masculina.

A religiosidade herdada dos tempos coloniais adotou a música como instrumento de ensino e evangelização, fazendo de Marechal Deodoro um centro de formação musical e um pólo musical, o berço de músicos. A pequena cidade conta com três filarmônicas – Santa Cecília, Carlos Gomes e Manoel Alves –, uma banda de pífano e vários músicos, destacando-se Nelson da Rabeca. Este ex-cortador de cana tornou-se famoso na década de 1990, quando agentes culturais e músicos “descobriram” sua dupla habilidade: como músico e como artesão, construtor de seu principal instrumento, a rabeca9.

Também localizado no município está um parque temático, o Ecopark Campestre, com 220 mil m2 de área. Seu principal atrativo é o ambiente natural com vários entretenimentos, como passeios de charrete e cavalo, piscinas, cascatas, campos para prática de esporte, área de piquenique e trilhas ecológicas, além dos serviços de restaurante e lanchonete. Foi inaugurado em 15 de novembro de 2005, sendo muito recente para fornecer dados sobre seu público visitante.

Outras localidades de Marechal Deodoro merecem destaque: a Praia do Francês, a Massagüeira e a Barra Nova. Estas localidades desenvolveram-se junto com o arranjo, devido à construção da AL-101-Sul, como será descrito abaixo.

A Praia do Francês é a mais conhecida de Alagoas, incluída no roteiro de Sol e Mar do Ministério do Turismo. As águas cristalinas, com um mar de cor azul turquesa, compõem um cenário paradisíaco com os coqueirais, as dunas e a vegetação de restinga. Há um trecho da 8 As principais formas de pescaria são: com redes de malha (Redote, Tarrafa e Jereré), com redes de nylon (Redinha, Minjuada ou Espera, Manjubeira, Rede de Mororó, Rede de Tilápia, Candango, Rede de Arrasto, Rede de Batida, Rede de Armação, Trangalho, Rede de Camarão e Rede Grossa ou Caceia) com armadilhas (Covos, Curral e Ratoeira), com Tetéia e Ticuca, com Anzol, com Espingarda e com Mergulho. 9 A rabeca é um instrumento que guarda semelhança com um violino “primitivo”, por sua forma e o modo de tocar com um arco. Entretanto, a rabeca tem sua origem num instrumento árabe denominado “rabab”, que é um precursor do violino, que surgiu por volta do século XVII na Itália (Sebrae, 2004/2005).

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praia que é de mar aberto, propício para prática do surf e palco de campeonatos estaduais, regionais e nacionais. No outro trecho, há uma barreira natural de arrecifes, que formam uma grande piscina de águas calmas, próprio para o banho de mar. Estas características naturais fazem do Francês um ótimo local para prática de esportes náuticos, como mergulhos, caiaques, lanchas e banana boat. Há ainda os passeios de buggy pela praia e dunas, porém menos freqüentes.

Esta praia está na origem do Arranjo, com os Festivais de Verão de Marechal Deodoro

no início da década de 1970. Após a inauguração da AL-101-Sul, o Francês consolidou-se como pólo turístico do Estado. São 25 pousadas, 31 restaurantes e barracas de praia, 25 lojas de comércio turístico, uma empresa de agenciamento e cerca de cinco imobiliárias atuando no local. Muitos donos desses empreendimentos não são alagoanos, mas de outros Estados, que se encantaram ao conhecer a praia e estabeleceram suas bases no local.

Entretanto, a encantadora beleza da Praia do Francês fez surgir uma grande especulação imobiliária, com vários loteamentos e casas de veraneio. A infra-estrutura local, mais especificamente o saneamento básico, não acompanhou seu crescimento, apresentando-se insuficiente, inclusive para a atividade turística. Não há uma agência de correios, casa lotérica, caixas eletrônicos e um terminal de informações turísticas. Além do mais, há um excessivo número de ambulantes na praia, ofertando os mais diversos produtos, sem cadastramento e controle por parte da Prefeitura. Este assédio incomoda os turistas, necessitando de um ordenamento urgente.

Existe um projeto de implantação de um complexo de serviços – informações turísticas, caixas eletrônicos, serviços governamentais – no entroncamento que leva para o Francês, para a cidade de Marechal Deodoro e para a Barra de São Miguel.

A Massagüeira é parte integrante do desenvolvimento do Arranjo, tornando-se conhecida após a construção da ponte Engenheiro Celso Araújo, parte integrante da AL-101-Sul. Esta rodovia divide-a em duas: em direção à praia é denominada de Massagüeira de Baixo, que ainda possui sítios de coqueiros, com alguns restaurantes na rua de terra que vai dar na Praia do Saco da Pedra, localizada na APA de Santa Rita. O outro lado é chamado de Massagüeira de Cima, ou Massagüeira Velha, seguida da Rua Nova, que apresenta uma paisagem bucólica, com uma rua principal que margeia a Lagoa Manguaba, onde estão localizados 24 restaurantes – a maioria com vista para a lagoa – que ofertam pratos de frutos do mar, principalmente, explorando os sabores típicos da culinária nativa, em ambiente rústico.

A beleza cênica do espelho d’água, com canoas e pescadores, rodeado por coqueirais, completam o cenário onde se aprecia as especificidades da culinária local. É também um local onde estão as doceiras, cujos principais produtos são cocadas – as tradicionais e as misturadas com as frutas regionais (jaca, caju, goiaba e banana) –, suspiros, broas de goma e quebra-

Foto 5 – A Praia do Francês com as barracas de praia e a barreira natural de arrecifes ao fundo (foto 7 Mares Turismo)

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queixo. A maioria das doceiras, também chamadas de cocadeiras, está reunida em uma associação – Associação das Cocadeiras da Massagüeira.

A Barra Nova localiza-se também na APA de Santa Rita. Da mesma forma que na Massagüeira, seu crescimento deu-se graças à construção da AL-101-Sul. Desde então, sofreu grande especulação imobiliária com ocupação desordenada do solo em prejuízo do desmatamento e descaracterização da sua paisagem original, fator preponderante para a atração turística. Não obstante, ainda continua sendo conhecida por ser um ponto de esporte náutico, com duas marinas privadas, que abrigam barcos dos moradores de Maceió e arredores.

Os atrativos turísticos são os restaurantes com comida típica local, porém em número reduzido se comparados a outros lugares do Arranjo, os passeios de barco, principalmente para a Prainha, que é uma faixa de areia entre a lagoa e o mar, sem moradores, com nove barracas rústicas na praia, que recebem turistas que fazem o passeio das Nove Ilhas ou fazem a travessia oferecida pelos barqueiros da Barra Nova. Estes barqueiros estão organizados espontaneamente, que controlam a entrada de ambulantes na Prainha e organizam os passeios de barco, apesar de a associação encontrar-se desativada. A Barra Nova, mesmo estando numa Área de Proteção Ambiental (APA), também sofre de uma especulação imobiliária intensa, pela falta de planejamento e de um plano diretor do município. São ocupações irregulares e loteamentos que causaram grande impacto ambiental, apesar de alguns deles estarem licenciados pelo Conselho Estadual de Proteção Ambiental. Há uma evidente fragilidade dos órgãos do meio ambiente quanto ao controle e fiscalização de todo o município, incluindo o uso de instrumentos de política ambiental, dada a importância da manutenção das belezas naturais, uma importante vantagem competitiva do Arranjo.

2.4 Pontal da Barra

O Pontal da Barra é um bairro antigo, anterior à época em que Maceió foi nomeada a nova capital de Alagoas. Nele habitam pescadores, barqueiros e artesãos, mais especificamente as rendeiras de filé e labirinto, que também fizeram das salas das casas, localizadas na única rua asfaltada e principal do bairro, pontos de comércio de artesanato. Este fato caracteriza-o como o centro de artesanato mais típico na área de estudo.

Foto 6 – Ponto de comércio de artesanato típico do Pontal da Barra, expondo das rendas de filé e labirinto (foto 7 Mares Turismo)

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Percebe-se, também, uma divisão de tarefas por gênero, sendo o artesanato uma tarefa desenvolvida em grande parte pelas mulheres e uma importante fonte de renda familiar complementar, enquanto os homens dedicam-se à pesca e aos passeios de barco.

A década de 1970 foi decisiva para a sobrevivência do bairro. A instalação de uma unidade produtiva do setor químico na orla marítima, vizinha a esta comunidade, ameaçou-a de extinção. Mas os protestos foram muitos e hoje muitas ações no bairro são implantadas graças às associações que foram organizadas à época. Além do mais, antes da construção da AL-101-Sul, que deu grande impulso ao desenvolvimento do arranjo, o Pontal era o bairro especializado na culinária tradicional de Alagoas, com pratos à base de coco e frutos do mar – sururu, massunim, peixes, camarões, siris, entre outros. Com o desenvolvimento do APL e a concorrência dos lugarejos até então inexplorados, a culinária não se desenvolveu mais no local, permanecendo os restaurantes tradicionais, porém ainda bastante procurados.

O passeio de barco mais conhecido é o das Nove Ilhas. A partida para esse passeio é realizada no píer de alguns dos restaurantes, que articulam um pacote único que inclui almoço e passeio10. Isso faz o preço mais barato para determinados tipos de prato, complementando dois tipos importantes de serviços turísticos. Em função da aglomeração de lojas comércio de souvenir e artesanato, existe um razoável fluxo de transporte de agências de turismo naquele local, porém os vendedores de artesanato reclamam do pouco tempo de permanência do turista no local.

A construção da ponte que liga o continente a Ilha de Santa Rita, que é vista do Pontal da Barra, provocou mudanças no ecossistema da lagoa Mundau, que se tornou assoreada em alguns pontos. Este fato impediu que outros roteiros de passeio de barco fossem explorados, inclusive com embarcações de maior porte e mais confortáveis para o turista.

O Pontal é, também, um importante local de preservação da cultura popular com as festas de São João, quando se apresentam quadrilhas e o coco de roda, e outros eventos, quando os grupos de pastoril, baiana e outras danças mostram sua animação e tradição. Esses grupos realizam ensaios freqüentes, porém não são considerados importantes para a atração de turistas, como deveriam ser de fato.

Apesar de sua beleza cênica, importância histórica e turística, enquanto centro de artesanato, preservação da culinária local e de esportes náuticos, o bairro carece de infra-estrutura, inclusive para o turista. Apesar da rede coletora de esgoto doméstico estar pronta, ela não está ligada ao emissário submarino, proximamente localizado, direcionando toda carga poluente para a lagoa Mundau. O lixo ainda jogado na lagoa reflete a falta de educação ambiental e conscientização de alguns moradores, apesar do caminhão de coleta passar diariamente. Não há um caixa automático, uma casa lotérica e nem correios, além da escola ter somente o ensino fundamental, carecendo da formação do ensino médio e de um centro profissionalizante.

2.5 Diferencial e relevância do arranjo O arranjo em estudo apresenta características peculiares, que o diferencia dos outros

pólos de atração de turistas de Alagoas. Seu principal diferencial é a diversidade de atrações turísticas naturais e culturais que possui. Em todo APL espalha-se uma gama de atrações que se complementam, mas nem todas estão articuladas na forma de pacotes turísticos com um conjunto de opções.

O fato de o arranjo ser vizinho de Maceió, o principal destino turístico de Alagoas, e ainda conter uma parte limítrofe desse município, leva-o a ficar sob a influência da “tirania da 10 Há pacotes que incluem o passeio de barco e o almoço por R$ 25,00 por pessoa, enquanto os serviços separadamente custariam R$ 40,00, (a preços correntes de junho de 2006).

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proximidade”11 (Salva citado por Araújo, 2006). Esta situação se reflete de maneira distinta sobre os agentes econômicos do arranjo, dado que, por um lado, impede que ele se conduza como um destino turístico em si, dificultando uma estratégia mais eficiente para fazer dele um ofertante significativo de leitos. Por outro, tornou-se um das principais opções de visitação dos turistas cujo destino é a capital alagoana, beneficiando-se do aumento do fluxo turístico para aquele local, além de ser uma das principais áreas de lazer do próprio maceioense, sobretudo nos finais de semana.

O turista, por sua vez, vai perceber aspectos muitas vezes não tão valorizados pelo residente na região ou na sua vizinhança, como: o bairro do Pontal da Barra, de uma beleza paisagística ímpar, com o encontro da lagoa com o mar, que pode ser visualizado de alguns pontos. Grande destaque é o enraizamento do bairro, com sua cultura manifesta nas danças e folguedos típicos, na produção de renda de filé e na pesca artesanal. Essas duas últimas são as principais atividades produtivas dos seus moradores.

A característica artesanal da produção de rendas e a sua singularidade de difícil imitação, combinado a um preço ainda relativamente acessível para o turista, fazem dessa atividade econômica de produção e comercialização seu um ponto forte. Existe a complementaridade de três serviços turísticos: alimentação, comércio turístico e passeios de barco. Os barqueiros também incentivam o turista a comprar o artesanato local e contam curiosidades e histórias do bairro. Ainda assim, existe a carência de certos serviços, mas o Pontal da Barra não perdeu os ares de um vilarejo de interior típico da área litorânea do Nordeste. Isso é valorizado pelos turistas vindos, em grande parte, das metrópoles brasileiras, que vêm ao local buscar também descanso e relaxamento.

A Massagüeira tem uma dinâmica própria, com sua rica gastronomia típica da região, fortemente baseada em produtos locais com os frutos do mar e o coco, mas também com outros pratos à base de carne de cordeiros ou caprinos, popularmente conhecido como bode. Os peixes (cavala, dourada, arabaiana, agulhinha) e camarões são os mais demandados, porém outros pratos típicos são também ofertados, tais como ovas de peixe, siris (de coral, mole e filé) e polvos. Esses exemplos demonstram alguns pratos diferenciados, principalmente pelo tempero local, com acompanhamentos do pirão à base de farinha de mandioca e o uso do leite de coco nos molhos. O turista, ao sair dessa refeição, encontra na saída da Massagüeira doceiras especializadas na venda de cocadas de diversos tipos, suspiros e biscoitos. Grande parte do público visitante é de moradores de Maceió (Araújo, 2006), pois os receptivos raramente levam os turistas para lá. Na Barra Nova, a Prainha é uma atração singular, dada a sua peculiaridade de ter lagoa de um lado e mar de outro. É ponto de parada do passeio das Nove Ilhas, além de ser um local de grande importância para os esportes náuticos, que não é praticado por turistas e sim pelos residentes em Maceió. Existe o singular aspecto de essa localidade estar perto do encontro da lagoa – na verdade laguna, como explicado anteriormente – com o mar, o que é um diferencial de beleza ímpar e muito difícil de ser encontrado em outra parte do litoral brasileiro.

A Praia do Francês tem sua capacidade de atração devido à beleza do mar, calmo em uma parte e com fortes ondas em outra, propícia para prática de surf. O aluguel de caiaques é também prática comum, dada a calma das águas mornas e sua transparência. A formação de arrecifes compõe uma verdadeira piscina natural, com a brisa constante e o sol por quase todo o ano. A cor azul turquesa esverdeada do mar de Alagoas, sobretudo do Francês, é diferente

11 “A proximidade de áreas naturais de grande beleza cênica ou com vastos atrativos turísticos em relação a aglomerados urbanos expressivos se constitui em fator potencializador do processo de turistificação nessas áreas, com conseqüências socioeconômicas, espaciais, culturais e ambientais, a curto, médio e longo prazos” (Araújo, 2006, p. 5).

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de todas as tonalidades de cores de mar no resto do Brasil, imprimindo um diferencial a nível nacional.

Hoje, no entanto, existem problemas sérios. Os atrativos turísticos naturais demandaram uma série de serviços turísticos, mas alguns se instalaram de forma até irregular do ponto de vista da legislação, como, por exemplo, a ocupação de terras de marinha. Alguns bares, além disso, invadem áreas muito próximas ao mar, afetando a beleza cênica do local e sem apresentar um padrão arquitetônico pertinente.

A cidade de Marechal Deodoro é um caso ímpar. Além da história de seus filhos ilustres, o diferencial a nível nacional e internacional está na arquitetura civil e religiosa de estilo barroco e colonial dos séculos XVII ao XIX. São destaques o Museu de Arte Sacra, os conventos e as igrejas que formam um sítio histórico de valor diferenciado, apesar de seu parcial abandono e pouca valorização como elemento aglutinador do turismo para os gestores públicos responsáveis. Os serviços turísticos são deficientes, provavelmente devido à proximidade de outras localidades do arranjo com maior poder monopolizador das atenções dos turistas.

A Barra de São Miguel é o principal balneário da elite alagoana, quando uma população flutuante dos finais de semana e férias se transfere para lá. Paralelamente à expansão urbana, passou também a atrair turistas com serviços turísticos importantes e sua praia de águas mornas e protegidas em toda sua extensão por arrecifes, ideal para a prática de esportes náuticos como o windsurf, jetski e caiaques.

De acordo com a tabela 5, as vantagens da localização do arranjo estão baseadas nos aspectos naturais/ambientais (0,89), seguido da proximidade com clientes/consumidores (0,83) e dos aspectos culturais e históricos (0,80), que apresentaram maiores índices. A proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima, a infra-estrutura física (energia, transporte, comunicações) e o marketing dos atrativos culturais e/ou turísticos apresentaram índices médios – 0,57 para os dois primeiros e 0,56 para o último. Outras externalidades que geram vantagens de localização apresentaram índices baixíssimos, como a disponibilidade de serviços técnicos especializados, a existência de programas de apoio e promoção e a proximidade com universidades e centros de pesquisa.

Tabela 5 – Vantagens da Localização do Arranjo

Grau de importância Externalidades

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Disponibilidade de mão-de-obra qualificada 48,7% 5,3% 22,4% 23,7% 0,392. Baixo custo da mão-de-obra 42,1% 19,7% 23,7% 14,5% 0,353. Proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima 25,0% 10,5% 27,6% 36,8% 0,574. Proximidade com os clientes/consumidores 5,3% 1,3% 26,3% 67,1% 0,835. Infra-estrutura física (energia, transporte, etc.) 13,2% 22,4% 35,5% 28,9% 0,576. Proximidade com produtores de equipamentos 80,3% 13,2% 2,6% 3,9% 0,097. Disponibilidade de serv. técnicos especializados 93,4% 1,3% 2,6% 2,6% 0,058. Existência de programas de apoio e promoção 61,8% 19,7% 7,9% 10,5% 0,219. Proximidade univers. e centros de pesquisa 90,8% 3,9% 2,6% 2,6% 0,0510. Aspectos naturais/ambientais 1,3% 5,3% 15,8% 77,6% 0,8911. Aspectos culturais e históricos 1,3% 11,8% 26,3% 60,5% 0,8012. Segurança Pública 39,5% 30,3% 22,4% 7,9% 0,3013. Marketing atrativos culturais e/ou turísticos 19,7% 17,1% 30,3% 32,9% 0,56

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

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Se por um lado a beleza cênica do arranjo é um dos seus principais diferenciais reconhecido por diversos atores, por outro é um fator de rápida expansão imobiliária com pouco planejamento, ameaçando o próprio ambiente que o diferencia de outras regiões. Adicionalmente, apesar dos atrativos turísticos culturais serem expressivos, são pouco utilizados como fatores de atração turística, não estando atrelados a eles variados serviços turísticos.

As festividades, que eram um dos principais atrativos para turistas e veranistas, foram perdendo importância nos últimos anos com a redução dos investimentos nestas atividades. Os serviços ofertados no arranjo não são considerados com um padrão de qualidade demandado pelo turista nacional das classes mais altas e por aqueles vindos do exterior. Há uma carência de infra-estrutura – estradas de acesso em boas condições, saneamento básico, bancos, informações turísticas – e de qualificação de pessoal.

2.6 Origem e desenvolvimento do arranjo

Segundo Albuquerque (1989), foi no governo de Afrânio Lages (1971-1975) que o

turismo começa a nascer em Alagoas como atividade econômica. No seu governo foi criada a Empresa Alagoana de Turismo (EMATUR), foram restaurados prédios históricos e incentivado o artesanato. Da mesma forma, criou e promoveu diversas festas comemorativas em cidades do interior. Nesse quadro, merece destaque o Festival de Verão de Marechal Deodoro, que fez descobrir as belezas naturais da Praia do Francês e da Barra de São Miguel, assim como as lagoas Manguaba e Mundau, para um público mais amplo, voltado para o turismo.

Conforme destaca Lykouropoulos (2006), foram realizados seis Festivais de Verão na Praia do Francês entre 1971 e 1976, sendo estes fundamentais para a publicidade do turismo em Alagoas a nível nacional. Havia, no entanto, dificuldades de oferta de leitos compatíveis para dar suporte a demanda turística crescente no período. Desta forma, o Arranjo Produtivo de Turismo de Lagoa e Mar/Alagoas começou sua projeção e consolidação na Praia do Francês, na década de 1970. O acesso era difícil, pois não havia pontes e nem estrada pavimentada na Ilha de Santa Rita, sendo que para chegar lá era preciso passar pela cidade de Marechal Deodoro, tornando-se, portanto, muito distante de Maceió.

É fato que os primeiros turistas do Sudeste e Sul, ainda nesta década, destacavam semelhança na tonalidade azul turquesa do mar da Praia do Francês com a do mar do Caribe. Por isso, diziam que com a instabilidade macroeconômica do país, com seus problemas de inflação crônica e mudanças continuas do câmbio, seria mais prudente programar férias para Alagoas, deixando os ares caribenhos para momentos mais oportunos. Em junho de 1971, a revista Turismo em Foco publicou nacionalmente a reportagem “Maceió o Novo Caribe”, iniciando a publicidade do destino turístico com esse diferencial de qualidade. A proximidade da Praia do Francês fazia desse apenas um atrativo daquele destino em progressão (Lykouropoulos, 2006).

O aumento da demanda turística para esta localidade evidenciou a necessidade de abertura de uma rodovia ligando Maceió aos municípios de Marechal Deodoro e de Barra de São Miguel. Isso significou, de fato, a construção de duas pontes sobre as lagoas Mundau e Manguaba para chegar mais rápido à histórica cidade de Marechal Deodoro. Inicialmente, foi construída a Ponte Divaldo Suruagy, em homenagem ao governante (1975-1978) e, posteriormente, foi concluída a Ponte Engenheiro Celso Araújo na Massagüeira, sendo descobertas outras localidades que passaram a ser pontos turísticos, como a própria Massagüeira, a Praia do Saco da Pedra e a Barra Nova, incluindo a Prainha. Em uma segunda etapa, foi construído o acesso para Barra de São Miguel.

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Vale destacar que a EMATUR, ainda na década de 1970, participou acionariamente para viabilizar a instalação em Maceió de unidades hoteleiras importantes: o Luxor Hotel, de uma cadeia nacional, e o Hotel Beira Mar, de iniciativa do empresariado local, inaugurados em 1976 e 1977, respectivamente. A partir de então, inicia a fase de expansão da infra-estrutura turística em Maceió, com a inauguração em 1979 da primeira unidade hoteleira com uma oferta de serviços diferenciada, o Hotel Jatiúca. O Pontal da Barra passou a ter o valor do seu artesanato reconhecido, reunindo diversas lojas e artesãos, atraindo também os turistas para passeios de barco e para os restaurantes de comidas típicas locais.

Infelizmente, aqueles dois primeiros empreendimentos hoteleiros não sobreviveram por conta da sua localização na Praia da Avenida, onde se instalaram a unidade produtora de cloro e soda à beira-mar, um píer de escoamento de produtos químicos e um emissário submarino. Além de tudo isso, tinha toda a poluição por esgoto doméstico e lixo vindo pelo riacho Salgadinho, que passava próximo aos hotéis.

Nos anos de 1980, outros hotéis foram construídos em Maceió, gerando uma infra-estrutura que propiciou o aumento do fluxo turístico nas lagoas e suas praias vizinhas, dando sustentação ao crescimento do arranjo. Digno de registro foi a realização em meados da década de 80 do I Festival do Pato no distrito de Massagüeira (Lykouropoulos, 2006). Esse tipo de evento em períodos de baixa temporada é fundamental para diminuir os problemas causados pela queda da demanda turística. Infelizmente, nem sempre existe a devida continuidade, muitas vezes, causada por mudança administrativa, por exemplo, de um novo governante de partido político diferente ou até da mesma coligação. Essa falta de visão quebra todo um esforço publicitário previamente realizado.

Ainda hoje, Maceió se caracteriza como principal destino turístico, tendo essas praias e lagoas como atrativos a ele associados. Por isso, o que se consolidou com o passar dos anos foi o reconhecimento do arranjo como pólo gastronômico, de artesanato, de passeios nas lagoas e das praias, ou seja, um braço articulado do principal destino turístico de Alagoas, fato que explica o baixo número e freqüência nas pousadas e hotéis localizados no APL.

2.7 Desempenho recente Uma característica importante do arranjo em termos de produção, emprego e renda é a sazonalidade da atividade turística. Os meios de hospedagem ficam mais suscetíveis a este fator, refletindo na geração de emprego. Este serviço turístico emprega 165 pessoas em tempo integral, com um aumento de 70% do número de empregados na alta temporada, totalizando 281 funcionários. Este fato explica-se pela taxa de ocupação, que no mês de janeiro é maior (79%), seguido dos meses de fevereiro (66%) e dezembro (57%), com uma taxa média de ocupação anual de 37%. São também nesses meses que ocorrem mais dias de permanência, aproximadamente quatro dias em fevereiro e cerca de cinco dias em janeiro e dezembro. A média de empregados em tempo integral é de quatro, sendo que na alta temporada este número eleva-se para seis (SEBRAE-AL, 2006).

Os serviços de alimentação também empregam mais na alta temporada, gerando 1.145 postos de trabalho, e 814 na baixa, sendo a média de seis empregados em tempo integral por estabelecimento, elevando este número para oito na alta estação. Isto é conseqüência do maior número de clientes atendidos, que nos meses de dezembro de 2005 foram 187.916, em janeiro de 2006 foram 231.596 e fevereiro deste mesmo ano 192.412. São ao todo 18.064 lugares disponíveis para os serviços de alimentação, com uma média de 134 por estabelecimento, sendo que 72% deles funcionam de segunda a domingo (SEBRAE-AL, 2006). Quanto às características da mão-de-obra empregada no APL, pela tabela 6 verifica-se, por um lado, um baixo índice de escolaridade superior e técnica (0,23) e regular para a

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escolaridade do ensino fundamental e médio (0,59). Por outro, possui características importantes para o desenvolvimento do arranjo, como conhecimento prático e/ou técnico na produção, disciplina, flexibilidade, criatividade e capacidade para aprender novas qualificações – todos com índices superiores a 0,90.

Tabela 6 – Características da Mão-de-obra do Arranjo

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

A produção de artesanato é a atividade mais tradicional do arranjo, onde aproximadamente 45% dos artesãos exercem a profissão há mais de 20 anos. Utilizam, principalmente, mão-de-obra familiar, visto que cerca de 64% deles tem até duas pessoas em casa trabalhando nesta atividade e 65% não contratam pessoas para auxiliá-los. É, na maioria das residências, uma atividade que complementa a renda familiar e, segundo as rendeiras, não é lucrativa, principalmente na baixa temporada (SEBRAE-AL, 2006).

Porém, a produção do artesanato é realizada independentemente da sazonalidade, pois também há vendas externas ao arranjo. De todo o artesanato do APL, o tipo mais produzido é o filé (79%), sendo as artes em madeira, fibra de coco e cerâmica muito pouco realizadas – 1,2% para os dois primeiros e 0,6% para o segundo –, e os demais são outros tipos de bordados e costuras. Os produtos mais elaborados a partir do artesanato são blusas (20%), saias (13%), redes (9%) e cintos (9%), em menor escala xales, saídas de praia e artigos para o lar. O preço dos produtos é calculado pelos artesãos levando-se em consideração os custos da mão-de-obra e das matérias primas (SEBRAE-AL, 2006).

Segundo a tabela 7, os tipos de transações comerciais locais mais importantes são as vendas de produtos e a aquisição de insumos e matérias primas, com índices de 0,79 e 0,64, respectivamente. Outros tipos de transações – aquisição de equipamentos, serviços e componentes e peças – são insignificantes em termos de transações comerciais locais.

Tabela 7 – Tipos de Transações Comerciais do Arranjo

Grau de importância Tipos de Transações

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Aquisição de insumos e matéria prima 15,8% 11,8% 30,3% 42,1% 0,642. Aquisição de equipamentos 88,2% 3,9% 3,9% 3,9% 0,083. Aquisição de componentes e peças 90,8% 5,3% 3,9% 0,0% 0,044. Aquisição de serviços (manutenção, marketing, etc) 89,5% 9,2% 1,3% 0,0% 0,045. Vendas de produtos 9,2% 14,5% 5,3% 71,1% 0,79

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

Grau de importância Características Nula Baixa Média Alta Índice*

1. Escolaridade formal de 1º e 2º graus 17,1% 21,1% 23,7% 38,2% 0,592. Escolaridade em nível superior e técnico 57,9% 14,5% 22,4% 5,3% 0,233. Conhecimento prático e/ou técnico na produção 3,9% 2,6% 6,6% 86,8% 0,924. Disciplina 0,0% 1,3% 13,2% 85,5% 0,945. Flexibilidade 0,0% 2,6% 21,1% 76,3% 0,906. Criatividade 0,0% 2,6% 5,3% 92,1% 0,967. Capacidade para aprender novas qualificações 0,0% 2,6% 11,8% 85,5% 0,93

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3. Perfil dos Principais Atores e Atividades Realizadas

As principais atividades produtivas que se estruturam em torno do arranjo são seus serviços turísticos: meios de hospedagem (pousadas e hotéis), alimentação (restaurantes e barracas – ou quiosques - de praia), comércio turístico, agenciamento (receptivos, incluindo os passeios de barco) e imobiliárias (venda de terrenos e aluguel de imóveis). Os pacotes turísticos que levam o turista ao APL incluem mais de uma atividade, que se tornam, portanto, complementares. Por exemplo, o pacote geralmente inclui uma parada no Pontal da Barra para comprar artesanato e passear de barco, depois seguem para praia, onde ficam numa barraca e, em seguida, almoçam em um restaurante.

Os agentes de transporte não foram considerados como um dos principais agentes econômicos, pois há linhas regulares de ônibus, vans, táxis e aluguel de carro, que são de difícil identificação se é específico para o turismo no arranjo, pois atendem principalmente aos moradores que se deslocam para a capital, Maceió. O transporte de turistas é feito, em sua maioria, pelos ônibus dos receptivos.

No serviço de agenciamento, as agências de viagens e operadoras não têm papel relevante no arranjo, pois o principal destino vendido por elas é Maceió, sendo a região estudada considerada como um atrativo turístico deste destino. Ou seja, é um pacote ou passeio incluído nas opções dos turistas que visitam a capital alagoana, por ser uma opção mais próxima do que outras regiões do Estado, como a foz do Rio São Francisco ou o APL Costa dos Corais, localizado no litoral norte alagoano. Desta forma, os receptivos passam a ter um papel muito importante, pois são eles que levam grande parte dos turistas para o arranjo.

Quanto ao entretenimento, no APL estão localizadas quatro marinas (Motonáutica no Pontal da Barra, Catuçaba e Marina da Ilha na Barra Nova e Marina da Massagüeira). Porém todas são de particulares, que se servem delas para o embarque e guarda de barcos e jetskis, esportes que são praticados nas lagoas. A prática de esportes náuticos é pouco realizada por turistas, começando a ser incentivada pelos receptivos. Os turistas utilizam os serviços dos barqueiros para os passeios.

Este serviço de transporte de barco é muito importante, porque faz os passeios das lagoas e o transporte até a Prainha, na Barra Nova. Sem o transporte de barco, não se teria como chegar ou ver a beleza cênica desses atrativos turísticos. Da mesma forma, a travessia do cais da Barra de São Miguel até a Praia do Gunga é um dos passeios que também guardam uma emoção singular ao turista, pois permite ter uma visão do mar protegido por extensas cadeias de arrecifes ao longo da costa, uma marca típica do litoral alagoano, particularmente do arranjo.

No que tange o serviço de alimentação, as lanchonetes foram excluídas por serem em número e tamanho inexpressivos. Existem, também, muitos pontos de venda de doces caseiros (cocadas, suspiros e biscoitos), porém são barracas muito pequenas na beira da estrada ou estão reunidas numa associação de doceiras. Existem inúmeros ambulantes, tanto na praia do Francês, quanto na Prainha (Barra Nova) e na beira da estrada. Apesar do grande número e de sua estimada importância para sobrevivência de uma população informal significativa, fica muito difícil de quantificá-los, pois a grande maioria não é cadastrada.

Além dos agentes econômicos, a implantação do programa governamental APL Turismo Região das Lagoas fez com que o arranjo tivesse uma coordenação formal abrangente, que é exercida pelo Sebrae-AL. Desta forma, apesar das associações também serem importantes na coordenação, elas atuam no âmbito das atividades de seus associados, não havendo um processo de integração entre elas, incentivado pelos governos municipais ou estadual, por meio de suas secretarias de turismo.

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3.1 Agentes econômicos

3.1.1 Meios de hospedagem Os meios de hospedagem representam 11,1% das empresas que prestam serviços turísticos no arranjo. São constituídos por pousadas e hotéis localizados na região de estudo, que totalizam 39 estabelecimentos, sendo 64% na Praia do Francês, 26% na Barra de São Miguel e os demais na cidade de Marechal Deodoro e na Barra Nova.

Segundo Sebrae-AL (2006)12, 78% desses estabelecimentos estão classificados na categoria familiar, apenas 5% são de luxo e o restante pertencem à categoria econômica. São ao todo 1.742 leitos, distribuídos em 37 quartos de solteiro, 239 quartos duplos e 164 triplos. De acordo com os questionários aplicados na amostra, todos eles são microempresas formalmente constituídas, com aproximadamente dois terços delas fundadas após 1990. São todas independentes e dois terços delas são constituídas com capital local, 22% de capital nacional e 11% estrangeiro, sendo a fonte de recursos 100% dos sócios e a maioria (89%) possui apenas um sócio. Quanto ao perfil do sócio-fundador, dois terços deles têm idade entre 31 e 50 anos, são homens e possuem nível superior completo.

Do pessoal ocupado, 42,9% possuem o ensino médio incompleto, totalizando 56,0% com o ensino fundamental completo. Apenas 15,5% apresentam o ensino médio completo e 14,3% são portadores de diploma de curso superior. Esta situação reflete na identificação da maior dificuldade na operação da empresa como sendo a contratação de empregados qualificados (55,6%). Outra dificuldade revelada foi a de divulgar e vender seus produtos e serviços.

Quanto aos clientes dos meios de hospedagem do arranjo, a tabela 8 mostra que a grande maioria é de outros Estados (70%). Vale observar que vem crescendo a participação de estrangeiros, principalmente italianos e argentinos, em detrimento dos turistas oriundos de Alagoas ao longo dos últimos 15 anos. A indicação de terceiros é o principal critério de escolha do estabelecimento (49%), seguido das homepages (17%), com baixíssima participação das agências de viagens e pacotes como fatores que influenciaram a estadia do turista no arranjo (SEBRAE, 2006).

Tabela 8 - Origem dos clientes das pousadas e hotéis do arranjo

Anos Origem

1990 1995 2000 2005 Local 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Estado 21,4% 21,4% 22,9% 16,7% Brasil 73,2% 73,2% 66,7% 70,0% Exterior 5,4% 5,4% 10,4% 13,3%

Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

Os preços variam de acordo com a temporada. Para os quartos de solteiro a média na alta temporada é de R$ 94,00, sendo o máximo de R$ 198,00 e mínimo R$ de 10,00. Na baixa temporada os preços reduzem cerca de 45%. A diária do quarto duplo custa em média R$ 109,00 na alta temporada, com um mínimo de R$ 15,00 e máximo de R$ 280,00. Na baixa estação também há redução de cerca de 42% no preço médio. Os quartos triplos têm um preço médio de R$ 142,00/dia na alta estação, com máximo de R$ 351,00 e um mínimo de R$ 45,00. Seu valor médio é reduzido em 40 % na baixa temporada (SEBRAE-AL, 2006). 12 Este relatório do SEBRAE-AL abrange os municípios alvo deste estudo mais o município de Pilar, que possui apenas uma pequena pousada. Os dados deste relatório foram considerados, portanto, como válidos para o arranjo com um todo.

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São diversos fatores competitivos do arranjo apontados pelas empresas de meios de hospedagem. A tabela 9 mostra que os principais são: a qualidade do atendimento, dos insumos, do produto ou serviço, da mão-de-obra, a localização do empreendimento, a capacidade de introdução de novos produtos/processos, a capacidade de atendimento e o desenho e estilo dos produtos ofertados.

Tabela 9 – Fatores competitivos apontados pelas empresas de meios de hospedagem

Grau de importância do fator competitivo Fatores competitivos

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Qualidade dos insumos 0,0% 0,0% 22,2% 77,8% 0,91 2. Qualidade do produto ou serviço 0,0% 0,0% 11,1% 88,9% 0,96 3. Qualidade do atendimento 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% 1,00 4. Qualidade de mão-de-obra 0,0% 0,0% 33,3% 66,7% 0,87 5. Localização do empreendimento 0,0% 0,0% 44,4% 55,6% 0,82 6. Custo da mão-de-obra 22,2% 22,2% 44,4% 11,1% 0,44 7. Nível tecnológico dos equipamentos 55,6% 11,1% 22,2% 11,1% 0,28 8. Capacidade de introdução de novos produtos/processos 11,1% 11,1% 22,2% 55,6% 0,72 9. Desenho e estilo nos produtos 22,2% 0,0% 22,2% 55,6% 0,69 10. Estratégias de comercialização 22,2% 11,1% 33,3% 33,3% 0,57 11. Capacidade de atendimento (volume e prazo) 22,2% 0,0% 11,1% 66,7% 0,73 12. Outra 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,00

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

Pela tabela 10 pode-se observar que as principais dificuldades para operar a empresa

estão na contratação de pessoal qualificado, na divulgação e venda dos produtos, e no custo ou falta de capital de giro.

Tabela 10 – Principais dificuldades encontradas pelos meios de hospedagem para operar a

empresa Dificuldade Grau de dificuldade

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Contratar empregados qualificados 22,2% 0,0% 22,2% 55,6% 0,69 2. Custo da mão-de-obra 33,3% 22,2% 22,2% 22,2% 0,42 3. Comprar produtos com qualidade 33,3% 22,2% 11,1% 33,3% 0,47 4. Produzir com qualidade 55,6% 11,1% 0,0% 33,3% 0,37 5. Divulgar e vender seus produtos e serviços 11,1% 11,1% 33,3% 44,4% 0,68 6. Custo ou falta de capital de giro 11,1% 22,2% 33,3% 33,3% 0,60 7. Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos 22,2% 22,2% 22,2% 33,3% 0,53 8. Custo ou falta de capital para aquisição/locação de instalações 44,4% 11,1% 22,2% 22,2% 0,39 9. Pagamento de juros 77,8% 0,0% 0,0% 22,2% 0,22 10. Outras dificuldades 88,9% 0,0% 0,0% 11,1% 0,11

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

A maioria dos meios de hospedagem não apresenta um alto padrão de qualidade, o que

pode ser verificado pelo preço das diárias e explicado, em parte, pela dificuldade de contratação de pessoal qualificado. Aliado a este fato, as inovações não são uma constante

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nesse segmento, em termos da capacidade e freqüência da introdução de inovações, o que leva a crer que há dificuldades na melhoria dos serviços a fim de atrair um público com maior poder aquisitivo e, portanto, mais exigente.

3.1.2 Comércio Turístico

Os produtos vendidos nas lojas de artesanato são de dois tipos: os de grande enraizamento, produzidos no arranjo, destacando as roupas, toalhas, centros de mesa e passadeiras elaboradas com rendas de filé e labirinto, além de enfeites, utensílios de cozinha, bolsas e bijouterias feitas com matéria prima local, como conchas, casca de coco, madeira, barro e sementes.

Uma característica marcante deste artesanato é a presença de elementos do mar, como desenhos de conchas e animais marinhos. O outro tipo é o encontrado em todo o Nordeste, com produção localizada fora do arranjo, como cestas e bolsas de palha de ouricuri – típicas do sul do Estado –, redes, tapetes, biquínis, cangas e camisetas produzidas em Alagoas ou em outras regiões do país.

São ao todo 180 lojas de artesanato, que representam cerca da metade das empresas do arranjo (50,9%), sendo sua maior concentração no Pontal da Barra, 70%, seguido pelo Francês e na Barra de São Miguel, com 13,9% cada um, e com 2,2% na cidade de Marechal Deodoro.

Segundo resultado dos questionários, todas são microempresas, a maioria (83,3%) fundada antes de 1980, sendo 65,8% formais e as demais informais. São majoritariamente independentes (98,7%) e constituídas com capital local (89,7%), caindo para 7,4% e 2,9% a constituição com capital nacional e estrangeiro, respectivamente. A maioria (98,7%) tem os recursos oriundos dos sócios e possui apenas um sócio fundador (78,9%). Quanto ao seu perfil, aproximadamente 70% deles tem até 40 anos, são mulheres (60,5%), não possuem pais empresários (77,6%) e um terço possui ensino médio completo – 23,7% possuem ensino fundamental completo e somente 17,1% o ensino superior.

A qualidade do atendimento, o desenho e estilo nos produtos, a localização do empreendimento, a qualidade do produto ou serviço, a qualidade dos insumos, a qualidade de mão-de-obra e a capacidade de introdução de novos produtos/processos foram apontados como principais fatores competitivos pelas empresas de comércio turístico. São basicamente os mesmos fatores competitivos indicados pelas empresas de meios de hospedagem, porém com pequenas diferenças nos índices dos fatores, como evidencia a tabela 11.

Tabela 11 - Fatores competitivos apontados pelas empresas de comércio turístico Grau de importância do fator competitivo Fatores competitivos

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Qualidade dos insumos 0,0% 10,5% 39,5% 50,0% 0,77 2. Qualidade do produto ou serviço 2,6% 13,2% 15,8% 68,4% 0,82 3. Qualidade do atendimento 2,6% 2,6% 21,1% 73,7% 0,87 4. Qualidade de mão-de-obra 10,5% 7,9% 23,7% 57,9% 0,74 5. Localização do empreendimento 2,6% 2,6% 28,9% 65,8% 0,84 6. Custo da mão-de-obra 28,9% 23,7% 23,7% 23,7% 0,45 7. Nível tecnológico dos equipamentos 73,7% 2,6% 5,3% 18,4% 0,22 8. Capacidade de introdução de novos produtos/processos 18,4% 13,2% 18,4% 50,0% 0,65 9. Desenho e estilo nos produtos 0,0% 7,9% 21,1% 71,1% 0,86 10. Estratégias de comercialização 21,1% 18,4% 26,3% 34,2% 0,56

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11. Capacidade de atendimento (volume e prazo) 15,8% 21,1% 26,3% 36,8% 0,59 12. Outra 97,4% 0,0% 0,0% 2,6% 0,03

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

De acordo com a tabela 12, as empresas de comércio turístico apontaram como as

principais dificuldades para operarem o custo ou falta de capital de giro e para adquirir máquinas e equipamentos, além da dificuldade em divulgar e vender seus produtos e serviços.

Tabela 12 - Principais dificuldades encontradas pelo comércio turístico para operar a

empresa Dificuldade Grau de dificuldade

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Contratar empregados qualificados 68,4% 18,4% 2,6% 10,5% 0,18 2. Custo da mão-de-obra 44,7% 15,8% 15,8% 23,7% 0,38 3. Comprar produtos com qualidade 55,3% 18,4% 15,8% 10,5% 0,26 4. Produzir com qualidade 60,5% 10,5% 10,5% 18,4% 0,28 5. Divulgar e vender seus produtos e serviços 18,4% 13,2% 34,2% 34,2% 0,59 6. Custo ou falta de capital de giro 10,5% 2,6% 47,4% 39,5% 0,69 7. Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos 28,9% 7,9% 23,7% 39,5% 0,56 8. Custo ou falta de capital para aquisição/locação de instalações 44,7% 2,6% 10,5% 42,1% 0,49 9. Pagamento de juros 84,2% 0,0% 2,6% 13,2% 0,15 10. Outras dificuldades 97,4% 0,0% 0,0% 2,6% 0,03

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

3.1.3 Alimentação Os serviços de alimentação são ofertados por bares e restaurantes que representam 33,4% dos estabelecimentos que ofertam serviços turísticos no arranjo. Em sua maioria servem pratos típicos da culinária local, que tem por base os frutos do mar e das lagoas, destacando o siri, camarão, massunim e o sururu – um molusco muito encontrado no CELMM –, que são apreciados. São ao todo 118 estabelecimentos, dos quais cerca de 75% estão localizados no município de Marechal Deodoro (cerca de 26% na Praia do Francês, 20% na Massagüeira, 15% na cidade e 14% na Barra Nova). Os demais estão na Barra de São Miguel (19%) e no Pontal da Barra (6%). Segundo a pesquisa amostral, são todas microempresas, com 80% delas formais. São todas independentes e para 87% delas a origem do capital é local, para as demais é nacional (9%) e estrangeiro (4%). Somente 15% possuem dois sócios, sendo as demais controladas por apenas um sócio. O perfil do sócio fundador é masculino e tem entre 21 e 40 anos (73% para ambos) e não possui pai empresário. A escolaridade é diversa, com 15% analfabetos, contrastando com igual percentual que possui nível superior, com aproximadamente um terço com segundo grau completo. A fonte de recurso é proveniente totalmente do sócio, sem contar com empréstimos ou adiantamentos de fornecedores e clientes. No que tange às relações de trabalho, 61% possui contrato formal, 11% de serviços temporários e aproximadamente 16% são familiares sem contrato formal. Quanto à escolaridade do pessoal ocupado, 30% possuem ensino médio completo e 56% ensino

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fundamental completo. Há a presença de 4% de analfabetos e 2% com diploma de curso superior. Pela tabela 13, observa-se que dentre os principais fatores competitivos apontados, estão: a qualidade no atendimento, a qualidade do produto ou serviço, a qualidade dos insumos, a qualidade da mão-de-obra e a localização do empreendimento. Estes fatores também são apontados pelos outros segmentos dos serviços turísticos, como acima descrito, podendo ser considerados as vantagens competitivas do arranjo como um todo.

Tabela 13 - Fatores competitivos apontados pelas empresas de alimentação Grau de importância do fator competitivo Fatores competitivos

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Qualidade dos insumos 7,7% 0,0% 3,8% 88,5% 0,91 2. Qualidade do produto ou serviço 0,0% 0,0% 7,7% 92,3% 0,97 3. Qualidade do atendimento 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% 1,00 4. Qualidade de mão-de-obra 0,0% 7,7% 19,2% 73,1% 0,87 5. Localização do empreendimento 0,0% 7,7% 19,2% 73,1% 0,87 6. Custo da mão-de-obra 19,2% 15,4% 46,2% 19,2% 0,52 7. Nível tecnológico dos equipamentos 80,8% 7,7% 7,7% 3,8% 0,11 8. Capacidade de introdução de novos produtos/processos 38,5% 7,7% 26,9% 26,9% 0,45 9. Desenho e estilo nos produtos 23,1% 15,4% 23,1% 38,5% 0,57 10. Estratégias de comercialização 42,3% 3,8% 23,1% 30,8% 0,46 11. Capacidade de atendimento (volume e prazo) 19,2% 15,4% 26,9% 38,5% 0,59 12. Outra 96,2% 0,0% 0,0% 3,8% 0,04

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

As maiores dificuldades na operação das empresas que oferecem serviço de

alimentação no arranjo são: a contratação de empregados qualificados, a divulgação e venda de seus produtos, o custo ou falta de capital de giro, como mostra a tabela 14.

Tabela 14 - Principais dificuldades encontradas pelos meios de hospedagem para operar a empresa

Dificuldade Grau de dificuldade Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Contratar empregados qualificados 19,2% 11,5% 23,1% 46,2% 0,63 2. Custo da mão-de-obra 23,1% 30,8% 26,9% 19,2% 0,45 3. Comprar produtos com qualidade 53,8% 11,5% 7,7% 26,9% 0,35 4. Produzir com qualidade 73,1% 3,8% 11,5% 11,5% 0,20 5. Divulgar e vender seus produtos e serviços 23,1% 15,4% 26,9% 34,6% 0,55 6. Custo ou falta de capital de giro 19,2% 26,9% 30,8% 23,1% 0,50 7. Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos 38,5% 15,4% 19,2% 26,9% 0,43 8. Custo ou falta de capital para aquisição/locação de instalações 42,3% 15,4% 26,9% 15,4% 0,36 9. Pagamento de juros 92,3% 3,8% 0,0% 3,8% 0,05 10. Outras dificuldades 92,3% 0,0% 0,0% 7,7% 0,08

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

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De acordo com a pesquisa de campo, os consumidores são majoritariamente de outros Estados ou de Alagoas, verificando-se baixa presença de estrangeiros, o que demonstra a baixa freqüência deste grupo de turistas no arranjo. Tal como ocorre com os outros agentes econômicos que ofertam serviços turísticos no arranjo, este segmento apresenta baixa capacidade inovativa, com baixo nível de introdução de inovações, sendo que os programas de treinamento orientados à introdução de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorado foi a atividade inovativa mais realizada, porém ocasionalmente e por 27% da amostra pesquisada. Uma inovação importante nos serviços de alimentação do arranjo foi o Festival Gastronômico “Sabor das Lagoas”, com sua primeira edição em novembro de 2005, realizado pelo programa do APL Turismo Região das Lagoas. Durante o evento, cerca de cinco mil pessoas freqüentaram os 35 restaurantes participantes, cada um ofertando um prato original elaborado especialmente para o Festival, a partir das competências individuais e utilizando ingredientes locais – frutos do mar, coco e temperos regionais. Foi lançada uma folheteria específica para o evento, dando maior visibilidade ao arranjo.

A partir desta experiência, está sendo montada a segunda edição do Festival, buscando a melhoria de pontos críticos que foram identificados, principalmente no que tange ao Programa de Alimento Seguro. Tais esforços podem contribuir para despertar a capacidade inovativa neste segmento, seja em termos de inovação de produtos e serviços, seja de processo ou na organização da empresa, tornando-as mais profissionais, visando à melhoria da qualidade do serviço.

3.1.4 Agenciamento O subtipo de agenciamento relevante para o arranjo são os receptivos, cuja principal função é levar os turistas que estão hospedados em Maceió para a região. Foram identificados 10 receptivos, sendo três deles localizados no arranjo e exercem também o papel de agência de viagem e operadora. Três deles fazem pacotes que incluem passeios de barco em Barra de São Miguel e um deles é especializado em turismo de aventura e ecoturismo. Os demais vendem pacotes regulares que incluem vários serviços no arranjo – comércio turístico, alimentação e passeios de barco. A pesquisa de campo revelou que são todas microempresas formais e possuem mais de um sócio. O perfil do sócio fundador é de mais de 40 anos, que não possuem pais empresários e tem o ensino médio completo. Todos já eram empresários antes de abrirem sua agência e a fonte de recursos é dos sócios. As fontes de financiamento das atividades inovativas também são oriundas de recursos próprios e nenhuma delas participa de atividades cooperativas. Os fatores competitivos mais importantes foram: a qualidade do produto ou serviço, do atendimento e da mão-de-obra, a localização do empreendimento, as estratégias de comercialização e a capacidade de atendimento. As maiores dificuldades apontadas na operação da empresa foram custo ou falta de capital para aquisição de máquinas, equipamentos e locação de instalações, custo ou falta de capital de giro, divulgar e vender produtos e serviços, e comprar produtos com qualidade. Mesmo não exercendo atividades de agenciamento típicas, os barqueiros possuem um papel importante no arranjo, pois além de estarem vinculados aos receptivos, prestam um importante serviço turístico. Há três pontos de embarque: um na Barra de São Miguel, que é coordenado por uma associação; outro na Barra Nova, que era gerido por uma associação atualmente desativada, porém ainda atuam conjuntamente, principalmente no controle dos ambulantes e no transporte de turistas para o acesso à Prainha; e quatro barqueiros independentes, com escunas, no Pontal da Barra, que quando necessário atuam em conjunto e pretendem fazer uma associação.

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3.2 Organismos de ensino

Alguns dos atores integrantes da infra-estrutura de ensino e pesquisa atuam no arranjo por meio do Programa de Arranjos Produtivos Locais13 (PAPL) do governo do Estado para o desenvolvimento do APL Turismo Região das Lagoas. Apesar de todos eles estarem localizados fora do arranjo, no município de Maceió, eles exercem muita influência por meio das ações deste Programa. São eles:

• Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL): seu papel no APL, integrante do PAPL, é de alocar recursos para os projetos que lhe forem encaminhados, devendo ser aprovados segundo normas e critérios da própria fundação. Além do mais, esta instituição financia pesquisas individuais, com a concessão de auxílio à pesquisa, bolsas de iniciação científica, de mestrado e de doutorado sobre diversos temas nos municípios alvo deste estudo. Mesmo não sendo diretamente relacionadas com os objetivos do plano de governo para o desenvolvimento do arranjo, estes financiamentos resultam na produção de conhecimento que é fundamental para melhor conhecer a região – por exemplo, a pesquisa de Araújo (2006).

• Universidade Federal de Alagoas (UFAL): é a única instituição de ensino superior federal do Estado, que produz cerca de 90% do conhecimento gerado em Alagoas. Sua contribuição é na formação no ensino superior e nas pesquisas, que são realizadas e orientadas pelos professores doutores, gerando uma gama de conhecimentos na mais diferentes áreas de estudo.

• Instituições de formação e treinamento profissionais: foram consideradas a capacitação e a implantação de programas como as ações integrantes da formação e treinamento profissionais. São cinco instituições formalmente encarregadas de executar a profissionalização dos atores – o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/FIEA), o Instituto de Educação Profissional do Estado de Alagoas (INEPRO), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), a Secretaria Executiva do Turismo (SETUR) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Alagoas (SEBRAE-AL). Os quatro últimos mais a Secretaria Executiva de Economia Solidária, Trabalho e Renda (SERT) atuam como financiadores das ações profissionalizantes de acordo com o planejamento do APL. Segundo o Relatório Anual APL-AL Turismo Lagoas, foram implantados o Programa de Alimento Seguro (PAS) e o Programa de Produção Mais Limpa. As capacitações foram em gerência para empresários, para o artesanato e nas áreas operacionais – “Qualidade no Atendimento”, “Monitor de Turismo Local”, informática, telefonista e recepcionista, garçom e camareira, informante de turismo local. Além de palestras sobre turismo e patrimônio histórico e cultural.

Outras instituições atuam sem serem parceiras oficiais no PAPL do Estado para a região das lagoas, não obstante, são de grande importância para a formação e treinamento de recursos humanos. São elas:

• Centro Federal de Ensino Tecnológico (CEFET): é a Escola Técnica localizada em Marechal Deodoro, que oferta cursos profissionalizantes juntamente com o ensino médio. Em 2005, foi criado o curso profissionalizante em Guia de Turismo, buscando atender à necessidade de capacitação profissional para atuar no arranjo. Há também os cursos tecnológicos de nível superior, em Turismo e em Hotelaria, que buscam aliar a necessidade de pessoal capacitado com a vocação turística da região.

• Faculdades que ofertam cursos relacionados ao setor de turismo: são instituições localizadas em Maceió que ofertam cursos de Graduação em Turismo – Centro de Estudos

13 No item 3.4 está a descrição do PAPL.

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Superiores de Maceió (CESMAC), Faculdade Alagoana de Administração (FAA), Faculdade de Alagoas (FAL), Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Maceió (FAMA) –; curso tecnológico em turismo – Faculdade de Tecnologia de Alagoas (FAT) – e curso de Administração Hoteleira – FAL. Não são voltados especificamente para a atuação no arranjo, porém certamente contribuem para a profissionalização do turismo no Estado e, conseqüentemente, no arranjo.

3.3 Organismos culturais Mesmo que as atividades culturais não sejam o principal atrativo turístico do arranjo, é importante ressaltar alguns organismos que podem dar um grande impulso ao turismo local, possibilitando maior visibilidade aos atrativos turísticos culturais. A análise dos documentos oficiais evidencia que não está estabelecida uma relação direta do turismo com a cultura, pois no acordo firmado entre os parceiros para desenvolver o APL Turismo Região das Lagoas, no âmbito do PAPL, não há nenhum organismo cultural.

Isso evidencia uma falha, pois está sendo pouco considerado o enorme valor cultural que o referido APL tem para uma parcela importante de turistas, fato que não parece ser percebido de forma clara pela gestão dos órgãos competentes. O APL de Cultura, por exemplo, está localizado no bairro do Jaraguá, em Maceió, evidenciando a não valorização da cultura pelo poder público como instrumento de impulso ao turismo no arranjo. Um organismo cultural importante é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que em agosto de 2006 realizou o tombamento da cidade de Marechal Deodoro como patrimônio histórico brasileiro. É a primeira cidade dentro do APL que tem essa certificação, e a terceira em Alagoas, pois as cidades de Penedo e Piranhas foram tombadas anteriormente.

A necessidade de cumprimento do estatuto do tombamento e a maior facilidade de captação de recursos para a preservação do rico acervo histórico e cultural da cidade, assim como da beleza arquitetônica, devem levar à maior sustentabilidade do turismo do APL, que depende da preservação desse acervo. Outras cidades ou vilarejos do APL terão mais dificuldades de adquirir esse reconhecimento nacional, pois não apresentam os atrativos históricos e religiosos de igual importância.

O recente tombamento da cidade de Marechal Deodoro agrega valor ao atrativo turístico cultural local e divide a responsabilidade de conservação do seu patrimônio arquitetônico, antes sob a responsabilidade do governo Estadual, que por sua baixa capacidade de financiamento, não vinha realizando os investimentos necessários para conservação e recuperação deste patrimônio. Outras organizações locais de manifestações populares do arranjo são as orquestras filarmônicas e os grupos de dança e folguedos –Reisados, Coco de Roda, Pastoril, Caboclinhos, Bois, Guerreiros e o Fandango –, que estimulam e incentivam a regionalidade, a identidade local e o enraizamento. São cerca de mil pessoas envolvidas diretamente com a cultura na região. Essas danças e folguedos não são mostrados como um atrativo turístico, não havendo ainda uma articulação nesse sentido por quem de fato coordena as ações dentro do arranjo; o que é uma postura bem diferente do que acontece, por exemplo, em Pernambuco e na Bahia.

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3.4 Organismos de apoio, promoção, regulação e financiamento

• Governo do Estado de Alagoas: em agosto de 2004, o governo do Estado instituiu14 o Programa de Mobilização para o Desenvolvimento dos Arranjos e Territórios Produtivos Locais do Estado de Alagoas – PAPL/AL, que elegeu dez arranjos15 prioritários para o fomento ao seu desenvolvimento. Um deles é o APL Turismo Região das Lagoas que abrange, além dos municípios deste estudo, mais dois outros – Pilar, Santa Luzia do Norte e Coqueiro Seco. Dado que estes dois municípios são muito pequenos, sem expressividade turística, as ações concentram-se nos municípios alvo deste estudo.

O acordo de resultados do projeto para o desenvolvimento deste APL data de 31 de março de 2005, celebrando a parceria entre 23 instituições16. Desta forma, o governo do Estado estabeleceu uma política específica para o desenvolvimento do arranjo, cabendo à SEPLAN e ao SEBRAE-AL a coordenação executiva do programa.

Este acordo vigora até dezembro de 2007 e pretende alcançar resultados intermediários – elevar a mão-de-obra envolvida nos meios de hospedagem, bares e restaurantes em 12%; elevar em 30% o padrão de qualidade dos serviços e produtos prestados na região; aumentar em 50% a participação do número de artesãos em suas associações – e finalísticos – elevar a taxa de ocupação média anual para 40%; aumentar a média dos dias de permanência do turista em hotéis e pousadas da região de 1,0 para 2,5 dias; aumentar em 50% renda média dos artesãos da região. Em 2005 foram investidos R$ 797.482,0017 em ações de marketing, tecnologia, capacitação e gestão, ficando ausente o investimento em infra-estrutura. Os resultados obtidos com estes recursos estão descritos no item 2.6. Apesar dos esforços realizados até então para a promoção do arranjo, a existência de programas de apoio e promoção não foi considerada uma vantagem de localização do arranjo. Percebe-se, portanto, que as políticas abrangem os municípios alvo desta pesquisa e são voltadas para geração de emprego e renda, visando secundariamente a melhoria da qualidade dos serviços. Os maiores investimentos foram feitos em marketing e em capacitação, voltada para a profissionalização, a fim de qualificar a mão-de-obra local para maior absorção no arranjo. Entretanto, essas ações ainda não se traduziram em capacitação produtiva e inovativa, como mostra o item 4. Não há uma preocupação explícita com a geração, absorção e disseminação de conhecimentos gerados no arranjo e fora dele, que possibilitem uma maior capacidade inovativa, buscando o seu desenvolvimento sustentável. Não obstante, este programa é fundamental para o desenvolvimento do arranjo.

14 Decreto no 2.077 de 30 de agosto de 2004. 15 São eles: Mandioca no Agreste, Movelaria no Agreste, Turismo na Costa dos Corais, Turismo nas Lagoas, Laticínios no Sertão, Apicultura no Sertão, Ovinocaprinocultura no Sertão, Piscicultura no Delta do São Francisco, Tecnologia da Informação em Maceió e Cultura em Jaraguá em Maceió. 16 Secretaria Coordenadora de Planejamento, Gestão e Finanças, Secretaria Executiva de Planejamento e Orçamento do Estado de Alagoas (SEPLAN), Banco Cidadão, Fundo de Microcrédito do Estado de Alagoas (FUNCRED), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL), Instituto de Educação Profissional do Estado de Alagoas (INEPRO), Secretaria Executiva de Indústria, Comércio e Serviços (SEICS), Secretaria Coordenadora de Infra-Estrutura e Serviços (SEINFRA), Secretaria Executiva de Economia Solidária, Trabalho e Renda (SERT), Secretaria Executiva de Turismo (SETUR), Serviço de Apoio às Micro e Pequena Empresas em Alagoas (SEBRAE-AL), Banco do Brasil (BB), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Caixa Econômica Federal (CEF), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Associação dos Municípios de Alagoas (AMA), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Federação do Comércio de Alagoas (FECOMERCIO), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Federação da Indústria de Alagoas (FIEA), Secretaria Municipal de Turismo de Maceió (SETURMA), Federação das Associações Comerciais de Alagoas (FEDERALAGOAS) e Associação de Hotéis e Pousadas do Litoral Sul de Alagoas (ASSUL). 17 Este montante foi investido nos seguintes eventos: cursos (28,1%), seminários/workshops (62,2%), palestras (0,3%), participação em feiras e exposiçõe0s (6,2%), consultorias tecnológicas (0,6%) e outros eventos (mostras, festivais, etc.) (2,6%) (SEBRAE-AL, 2006).

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• Secretarias Municipais de Turismo: são três secretarias municipais de turismo envolvidas no arranjo, porém somente a do município de Maceió faz parte da parceria para o programa de APL Turismo Região das Lagoas. Entretanto, verifica-se uma participação efetiva nas reuniões do APL das secretarias de Barra de São Miguel e de Marechal Deodoro. Independentemente do APL fomentado pelo governo do Estado, estas secretarias desenvolvem programas próprios de promoção do turismo, como os eventos locais e a folheteria sobre Marechal Deodoro e seus atrativos turísticos, lançada no juntamente com o tombamento federal da cidade.

• Serviço de Apoio às Micro e Pequena Empresas em Alagoas (SEBRAE-AL): é um dos coordenadores executivos do APL Turismo Região da Lagoas e exerce um papel central no arranjo, por ser um agente aglutinador dos demais atores. Esta instituição exerce a coordenação principal do arranjo, pois possui estrutura e capacitação técnica superiores à da SEPLAN, o outro coordenador executivo do APL. Além do mais, há um acompanhamento sistemático das ações, o que possibilita a avaliação dos resultados, e o corpo técnico é receptivo a sugestões e críticas para melhoria das ações atuais e futuras. Não foi analisada a relação custo-benefício dos recursos empregados, uma vez que não é o objeto desta pesquisa.

Dado seu papel central de coordenador do arranjo, deve-se buscar um novo acordo para a continuação de sua participação, visto que o atual acordo de resultados do projeto termina em dezembro de 2007.

• Organismos reguladores do Meio Ambiente: dois órgãos realizam a regulação das questões ambientais no arranjo. Um no âmbito estadual, o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA), cuja atuação cobre todo território alagoano, sendo o executor da política ambiental do Estado, fazendo parte do SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente, na condição de Órgão Seccional. No âmbito do APL, busca a observância do cumprimento da legislação ambiental, assim como a conscientização da comunidade quanto à necessidade de respeito aos recursos naturais.

O outro organismo atua no âmbito federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), realizando o papel de fiscalização do cumprimento da legislação ambiental na esfera federal pertinente ao Meio Ambiente. As principais atividades vinculadas a essa instituição são: a preservação da flora e da fauna dentro das normas legais, o combate ao tráfico de animais silvestres e a gestão dos recursos naturais marinhos.

A eficiência operacional de ambos os organismos reguladores é baixa. Alguns fatores podem ser apontados como responsáveis por este fato, como o reduzido número de fiscais, a qualificação deficiente do pessoal técnico, a falta de equipamentos adequados para controle e fiscalização das ações impactantes do meio ambiente. Por outro lado, o cumprimento da legislação ambiental fica comprometido quando a direção desses órgãos nem sempre é exercida por uma gestão com mais independência técnica e menos influência política, o que seria necessário ao bom desempenho de suas funções. A importância dessas instituições no âmbito do APL é fundamental, pois a preservação ambiental é vital para manter o principal fator competitivo do arranjo, as atividades turísticas atreladas aos seus atrativos naturais.

• Marinha do Brasil: sua importância está na regulação das atividades náuticas, pois expede o licenciamento de embarcações e a habilitação náutica, além de ter poder de polícia para atuar contra infratores, em ação por via marítima e fluvial. A ação da Marinha é considerada muito significativa e eficiente por parte dos barqueiros. Entretanto, existe um vácuo institucional no que tange à necessidade de regular a quantidade de barcos que atuam nos passeios das lagoas, principalmente, pois há embarcações clandestinas que não apresentam segurança ao turista. Este fato tem gerado conflitos entre os barqueiros que estão regulares e estes clandestinos, que podem levar à degeneração da imagem construída pelas associações.

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• Secretaria do Patrimônio da União: este órgão regulariza e restringe o acesso a terras da União, que no caso do arranjo são as áreas de Marinha. A legislação é clara, mas seu cumprimento legal não é realizado integralmente no APL. Isso se deve ao processo de ocupação irregular e desordenada do solo nessas áreas, em função do avanço da atividade turística e, principalmente, por conta da especulação imobiliária local. Provavelmente, os instrumentos de gestão municipal não estavam elaborados o suficiente para enfrentar as demandas requeridas com a abertura da rodovia AL-101-Sul, que originou o arranjo. Os planos diretores dos municípios poderiam atenuar esse problema. O fato é que o índice de cobertura verde nos municípios tem caído, o que pode comprometer a sustentabilidade do desenvolvimento local, tanto por conta da aniquilação de atrativos, como pelo desequilíbrio provocado nos ecossistemas.

• Organismos de apoio e promoção do turismo: estas instituições desempenham papel importante para o desenvolvimento do turismo no Estado, dado que a capacidade administrativa e de investimento deste último é reduzida. Dentre os principais organismos privados de apoio e promoção do turismo estão: o Maceió Convention Bureau, cujo principal objetivo é promover Alagoas como um destino turístico, por meio de eventos culturais, científicos e esportivos, a fim de aumentar o fluxo de turistas nacionais e estrangeiros. Essa instituição tem sido a repassadora de recursos do Ministério do Turismo para Alagoas, dada a impossibilidade do governo estadual, por meio da SETUR, atuar nesse sentido. Além disso, tem feito um trabalho de indução de demanda turística internacional para Alagoas vias operadoras e agências internacionais do setor.

Entretanto, o Maceió Convention Bureau tem muito mais interação e conhecimento das ações do APL Turismo Costa dos Corais, pois sua diretoria não participa e nem está ciente das ações do APL Turismo das Lagoas. Dessa forma, fica evidente uma falha significativa nas ações deste último APL apoiado pelo governo, que se encontra na mesma região alvo deste estudo. Revela-se, desta maneira, uma desarticulação das ações de fomento ao turismo realizadas com verbas federais. Um exemplo é a não inclusão do destino Lagoas como um elemento relevante para atração de turistas nas negociações de vôos charters, ou da demanda turística internacional para Alagoas.

Também fazem parte do Convention Bureau a Associação Brasileira de Agentes de Viagens de Alagoas (ABAV-AL) e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Alagoas (ABIH-AL). Esta última divulga em seu site onze pousadas e hotéis do arranjo, num total de 39 estabelecimentos lá localizados. Estas entidades têm pouca articulação com o arranjo, visto que pelo Convention Bureau não há articulação, e não são parceiros no programa do APL Turismo Região das Lagoas. As entidades nacionais, as quais estão vinculadas estas estaduais, atuam indiretamente no arranjo por meio de programas conjuntos com o Ministério do Turismo e outros parceiros.

A Associação Brasileira de Jornalista de Turismo (ABRAJET) reúne os jornalistas e outros profissionais da imprensa que trabalham com turismo, visando estimulá-los a difundir o turismo no Brasil na mídia nacional e internacional. Na década de 70 e 80, esta entidade teve um papel importante na divulgação na mídia nacional de algumas praias do arranjo, consolidando o turismo como nova atividade econômica para Alagoas. Uma maior aproximação do arranjo, por meio da participação desta entidade em seu Comitê Gestor, seria importante para melhorar sua visibilidade.

• Secretária Executiva de Turismo de Alagoas (SETUR): é a secretaria do Estado responsável pela execução da política estadual para o setor de turismo. Exerce o papel de coordenador do Fórum Estadual de Turismo, que debate as ações mais relevantes para o setor, além de ser um facilitador para formação de parcerias e formas inovativas de ação setorial. A SETUR é um dos parceiros do Programa de APL Turismo Região das Lagoas e está sempre presente nas reuniões com os atores do arranjo.

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• Ministério do Turismo: tem o papel de formular, executar a política para o setor turístico do Brasil, estabelecendo parcerias com os governos estaduais. Em relação ao turismo no Estado, houve uma melhoria na infra-estrutura turística com a inauguração, em 2005, do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares18. Por outro lado, a relação do Ministério com o Estado para repasse de recursos tem sido através do Maceió Convention Bureau. Na divulgação dos destinos turísticos brasileiros no site do Ministério19, estão a Barra de São Miguel e a Praia do Francês como destinos de Sol e Praia, e como destino de Ecoturismo, a Barra de São Miguel. Nenhum município do arranjo é citado nos destinos de Cultura e Esportes, apesar dos atrativos turísticos existentes na região. Outros programas apoiados pelo Ministério, como o VaiBrasil20 e o Portal de Hospedagem21 podem auxiliar na divulgação do destino Lagoas e dos meios de hospedagem na região. Estão presentes neste portal duas pousadas de Barra de São Miguel e três de Marechal Deodoro, mais especificamente na Praia do Francês. Vale ressaltar que o cadastramento para divulgação no site é gratuito e de iniciativa do estabelecimento.

• Organismos de financiamento: participam formalmente do arranjo, por meio do programa APL Turismo Região das Lagoas, três bancos federais, a saber: o Banco do Brasil (BB), o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a Caixa Econômica Federal (CEF), cujo papel é financiar projetos que exijam maiores volumes de investimento, como aqueles relacionados com infra-estrutura e construção de imóveis. Outras instituições financeiras são também parceiros formais no arranjo, porém voltados para o microcrédito – o Banco Cidadão e Fundo de Microcrédito do Estado de Alagoas (FUNCRED).

• Associações: a única associação que faz parte formalmente do arranjo, via programa do governo estadual, é a Associação de Hotéis e Pousadas do Litoral Sul de Alagoas (ASSUL), porém encontra-se praticamente desativada. Outras associações têm um papel importante no arranjo, desenvolvendo ações conjuntas com o Sebrae-AL, o principal coordenador do arranjo. Entre elas estão: Associação dos Artesãos do Pontal da Barra, Associação Artesanal de Marechal Deodoro, Associação do Labirinto de Marechal Deodoro, Núcleo de Artesão da Massagüeira, Associação das Artesãs de Santa Rita e Cooperativa das Artesãs da Barra Nova. Apesar deste número de associações, os atores do arranjo não são muito dispostos à cooperação e associação, como será descrito no item 4. 4. Capacitação Produtiva e Inovativa

4.1 Interação, cooperação e difusão de conhecimento Em relação ao treinamento e capacitação dos recursos humanos, a tabela 15 evidencia que o treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo é o que apresentou maior índice na pesquisa de campo (0,45), sendo que o treinamento na empresa e em cursos técnicos fora do arranjo também são realizados em menor intensidade, 0,36 e 0,27 respectivamente. Certamente, são reflexos dos treinamentos coordenados pelo SEBRAE-AL e seus parceiros no âmbito do programa de APL Turismo Região das Lagoas.

18 Este aeroporto localiza-se no limite dos municípios de Rio Largo e Maceió, vizinho ao antigo aeroporto. Sua construção deste aeroporto, vizinho ao antigo, fez parte da política da INFRAERO de melhoria do padrão dos aeroportos brasileiros, elevando-o à categoria de aeroporto internacional. 19 www.embratur.org.br 20 www.vaibrasil.com.br, em parceria com a ABAV, a Braztoa e o Ministério do Turismo. 21 www.portaldehospedagem.com.br, realizado pelo Sebrae e com parcerias da ABIH, Embratur e Ministério do Turismo.

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Tabela 15 – Treinamento e Capacitação dos Recursos Humanos no Arranjo

Grau de importância Descrição

Nula Baixa Média Alta Índice*1. Treinamento na empresa 53,9% 5,3% 17,1% 23,7% 0,362. Treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo 46,1% 3,9% 15,8% 34,2% 0,453. Treinamento em cursos técnicos fora do arranjo 65,8% 3,9% 10,5% 19,7% 0,274. Estágios em empresas fornecedoras ou clientes 88,2% 2,6% 2,6% 6,6% 0,095. Estágios em empresas do grupo 92,1% 2,6% 0,0% 5,3% 0,066. Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas do arranjo 85,5% 3,9% 2,6% 7,9% 0,117. Contratação de técnicos/engenheiros de empresas fora do arranjo 86,8% 2,6% 3,9% 6,6% 0,108. Absorção de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo 92,1% 1,3% 1,3% 5,3% 0,069. Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo 86,7% 2,7% 1,3% 9,3% 0,11

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo. Por outro lado, a baixa absorção de formandos dos cursos universitários ou técnicos localizados no arranjo ou próximos a ele demonstra a fraca integração entre as empresas locais com as faculdades e os cursos técnicos que formam recursos humanos para a atividade turística. Dada a característica de prestação de serviços das atividades ligadas ao turismo, a contratação de técnicos/engenheiros não é relevante para o arranjo. Quanto ao grau de importância das fontes de informação das empresas do arranjo, a tabela 16 mostra que a mais relevante são as informações de fontes externas, principalmente dos clientes (0,58), seguida das informações dos concorrentes (0,34). As fontes de informação interna, de universidades e institutos de pesquisa, bem como de outras fontes – conferências, seminários, cursos e publicações especializadas; feiras, exibições e lojas; associações empresariais locais e informações de rede baseadas na internet ou computador – foram consideradas praticamente inexistentes.

Tabela 16 – Fontes de Informação das Empresas do Arranjo Grau de importância Descrição

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Fontes Internas 1.1. Departamento de P & D 92,0% 4,0% 1,3% 2,7% 0,051.2. Área de produção 96,0% 1,3% 1,3% 1,3% 0,031.3. Áreas de vendas e marketing, serviços internos de atendimento ao cliente 92,1% 2,6% 2,6% 2,6% 0,052. Fontes Externas 2.1. Outras empresas dentro do grupo 89,5% 6,6% 3,9% 0,0% 0,042.2. Empresas associadas (joint venture) 92,1% 5,3% 2,6% 0,0% 0,032.3. Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais) 86,8% 6,6% 5,3% 1,3% 0,062.4. Clientes 26,3% 10,5% 19,7% 43,4% 0,582.5. Concorrentes 51,3% 9,2% 21,1% 18,4% 0,342.6. Outras empresas do Setor 82,9% 2,6% 10,5% 3,9% 0,112.7. Empresas de consultoria 98,7% 0,0% 0,0% 1,3% 0,013.Univers. e Outros Institutos de Pesquisa

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3.1. Universidades 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,003.2. Institutos de Pesquisa 98,7% 0,0% 1,3% 0,0% 0,013.3. Centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção 92,1% 2,6% 1,3% 3,9% 0,063.4. Instituições de testes, ensaios e certificações 98,7% 0,0% 0,0% 1,3% 0,014. Outras Fontes de Informação 4.1. Licenças, patentes e “know-how” 98,7% 0,0% 1,3% 0,0% 0,014.2. Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas 92,1% 3,9% 1,3% 2,6% 0,054.3. Feiras, Exibições e Lojas 86,8% 3,9% 5,3% 3,9% 0,084.4. Encontros de Lazer (clubes, etc) 93,4% 2,6% 1,3% 2,6% 0,044.5. Associações empresariais locais 94,7% 2,6% 2,6% 0,0% 0,024.6. Informações de rede baseadas na internet ou computador 94,7% 0,0% 1,3% 3,9% 0,05

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

Disto decorre que há uma interação, mesmo que não muito intensa, entre empresas e clientes e entre as próprias empresas. Entretanto, os esforços realizados pelas políticas de desenvolvimento do arranjo no que tange à disseminação das informações por meio de palestras, cursos, feiras e outras atividades não apresentaram resultados, seja pelo pouco tempo de implantação, pelo número de participantes destas atividades e sua capacidade de disseminação para outros atores do arranjo ou pela metodologia utilizada nos cursos e capacitações oferecidas.

Uma grande deficiência do arranjo é o baixo nível de cooperação entre os atores econômicos. Em 2002, nenhuma empresa teve participação em atividades cooperativas. Este fato reflete nas avaliações da contribuição de sindicatos, associações e cooperativas locais para o desenvolvimento do arranjo, que obtiveram índices baixos, como pode ser verificado na tabela 17. As contribuições mais consideradas foram: auxílio na definição de objetivos comuns (0,37), apresentação de reivindicações comuns (0,37), criação de fóruns e ambientes para discussão (0,35), promoção de ações cooperativas (0,31), organização de eventos técnicos e comerciais (0,31). Outras contribuições importantes para a melhoria da dinâmica de interação, cooperação, aprendizagem e de difusão de conhecimentos no arranjo são pouco observadas.

Tabela 17 – Avaliação da Contribuição de Sindicatos, Associações, Cooperativas Locais Grau de importância Tipo de Contribuição

Nula Baixa Média Alta Índice* 1. Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo 43,8% 17,8% 16,4% 21,9 0,372. Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica 56,2% 12,3% 16,4% 15,1% 0,293. Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamento, assistência técnica, consultoria, etc 61,6% 12,3% 12,3% 13,7% 0,254. Identificação de fontes e formas de financiamento 58,9% 13,7% 15,1% 12,3% 0,255. Promoção de ações cooperativas 50,7% 16,4% 16,4% 16,4% 0,316. Apresentação de reivindicações comuns 47,9% 15,1% 12,3% 24,7% 0,377. Criação de fóruns e ambientes para discussão 47,9% 13,7% 17,8% 20,5% 0,358. Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de empresas 67,1% 12,3% 9,6% 11,0% 0,209. Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e 65,8% 11,0% 11,0% 12,3% 0,22

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pesquisa local 10. Organização de eventos técnicos e comerciais 52,1% 13,7% 17,8% 16,4% 0,31

* Índice=(0 x nº nulas+0,3 x nº baixas + 0,6 x nº médias + nº altas)/(nº empresas no segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.

A maioria das empresas pesquisadas não tem conhecimento dos programas ou ações voltadas para as micro e pequenas empresas realizadas pelos governos federal, estadual e municipal e por outras instituições. São as ações do SEBRAE-AL as mais reconhecidas: 35% conhecem e participam dos programas e ações; 25% conhecem, mas não participam; e 40% desconhecem. Este fato demonstra a importância da atuação passada e a atual desta instituição no segmento de MPEs, que a sua principal função, reforçando seu papel de coordenação do arranjo.

Exatamente por isso, talvez caiba a esse órgão o papel de difusão de informações relevantes para as empresas do arranjo sobre as ações e programas de outras esferas de governo. O uso do Portal do Ministério do Turismo22 para divulgação das pousadas e hotéis, sem nenhuma cobrança, é um exemplo. Certamente, a inexistência de um maior número de meios de hospedagem locais nesses meios de divulgação nacional se deva à falta de informação por parte dos proprietários.

Por outro lado, o desconhecimento de programas e ações para as MPEs talvez se justifique pela efetiva ausência dos mesmos, logo os atores não possuem elementos para avaliar. Das ações desenvolvidas pelo Sebrae-AL, 45% da amostra pesquisada faz uma avaliação positiva de suas ações, 10% avaliam negativamente e os demais não possuem elementos para avaliar.

Assim, os mecanismos formais de cooperação e interação não estão muito presentes. Alguns mecanismos de interação foram detectados nas entrevistas, mas sempre nos subsistemas do arranjo e não em sua totalidade. Os barqueiros do Pontal da Barra passaram, em 2006, a fazer pacotes com alguns restaurantes, que inclui passeio de barco com guia, informando as especificidades das lagoas, e também almoço no restaurante. Esta cooperação resultou da percepção do baixo movimento turístico na baixa temporada, fazendo com que a associação propiciasse melhoria para todos, inclusive para o comércio de artesanato local.

Na Praia do Francês, muitas pousadas indicam restaurantes para seus hóspedes, e há também indicação informal de passeios de barcos e buggy. Dado que não há uma central de informações turísticas no arranjo, nem um site informativo e pouca folheteria distribuída em pontos chaves, cada subsistema fica quase que isolado do outro, havendo um nível baixo de associação e cooperação entre eles, refletindo na organização do arranjo e na sua capacidade de alavancar sua competitividade.

4.2 Inovação, preservação e vantagens comparativas

Apesar de a literatura apontar as microempresas como mais propensas à inovação, este fato não é verificado no arranjo. Na tabela 18, pode-se observar que o maior percentual de inovação está no desenho de produtos, com 49% dos entrevistados, sendo que as inovações nas embalagens foram realizadas em 22% das empresas. Somente cerca de 36% delas inovou seu produto, porém com um já existente no mercado. Apenas 10% inovaram o produto para o mercado nacional e 4% para o internacional. As inovações de processo na empresa ocorreram em somente 18% da amostra pesquisada e 4% para as inovações para o setor de atuação. Quanto às mudanças organizacionais, os percentuais foram menores que 8% para todas as perguntas. 22 www.portaldehospedagem.com.br

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Tabela 18 – Inovações no Arranjo entre 2002 e 2005 Introduziu Esforço Descrição

Sim Não Próprio Conjunto 1. Inovações de produto* 38,2% 1.1. Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado? 35,5% 64,5% 96,3% 3,7% 1.2. Produto novo para o mercado nacional? 35,5% 64,5% 96,3% 3,7% 1.3. Produto novo para o mercado internacional? 3,9% 96,1% 100,0% 0,0% 2. Inovações de processo* 18,4% 2.1. Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor? 18,4% 81,6% 100,0% 0,0% 2.2. Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? 3,9% 96,1% 50,0% 50,0% 3. Outros tipos de inovação* 50,0% 3.1. Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)? 22,4% 77,6% 100,0% 0,0% 3.2. Inovações no desenho de produtos? 48,7% 51,3% 100,0% 0,0% 4. Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais)* 13,2% 4.1. Implementação de técnicas avançadas de gestão ? 5,3% 94,7% 75,0% 25,0% 4.2. Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? 3,9% 96,1% 66,7% 33,3% 4.3. Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing ? 7,9% 92,1% 66,7% 33,3% 4.4. Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização ? 7,9% 92,1% 83,3% 16,7% 4.5. Implementação de novos métodos e gerenciamento visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc)? 6,6% 93,4% 80,0% 20,0% *Índice = (Nº Empresas com pelo menos um sim) / (Nº Empresas no Segmento) Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo. Além do mais, o esforço de inovação é praticamente da própria empresa, exceto para as inovações para o setor de atuação, realizada conjuntamente por metade dos entrevistados. Este fato reafirma o baixo grau de cooperação das empresas no arranjo. Dado a reduzida propensão às inovações das empresas, os impactos das mesmas foram nulos para: o aumento da participação no mercado externo da empresa, a abertura de novos mercados, a redução de custos do trabalho, de insumos, de impactos ambientais e do consumo de energia, o enquadramento em regulações e normas padrão relativas ao mercado interno. Mesmo assim, verificou-se baixo impacto das inovações no que tange a ampliação da gama de produtos ofertados, a manutenção da sua participação nos mercados de atuação e o aumento da produtividade, da qualidade dos produtos e da participação no mercado interno da empresa. Conseqüentemente, a maioria das empresas não desenvolve nenhuma atividade inovativa. Daquelas desenvolvidas rotineiramente, apenas 10% das empresas buscaram novas formas de comercialização e distribuição para o mercado de produtos novos ou significativamente melhorados. Das atividades realizadas ocasionalmente, cerca de 16% fizeram programa de treinamento orientado à introdução de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados, 13% desenvolveram Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) na empresa e apenas 12% compraram máquinas e equipamentos que implicaram significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou que estão associados aos novos produtos/processo. Os recursos gastos para realização das atividades inovativas são todos das próprias empresas, sem contar com o financiamento público ou privado.

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Além destes aspectos referentes às inovações das empresas, o programa de desenvolvimento do APL introduziu algumas inovações em termos de divulgação do arranjo, com novos roteiros, ainda não implantados, para serem vendidos pelas agências. A estratégia de divulgação é fundamental para o aumento da freqüência turística, porém os avanços em outros aspectos – infra-estrutura, qualidade e maior diversidade dos serviços – devem caminhar paralelos para que não haja afluxo de turistas sem o respectivo bom acolhimento, o que pode até fazer uma publicidade negativa da região. A pesquisa de campo revelou que as empresas reconhecem as políticas públicas que contribuem para o aumento da eficiência competitiva das micro e pequenas empresas do arranjo. As mais importantes são as melhorias na educação básica, os programas de capacitação profissional e treinamento técnico, e as linhas de crédito e outras formas de financiamento. As políticas mais deficientes foram às relativas ao fundo de aval e os estímulos à oferta de serviços tecnológicos. Há um reconhecimento parcial das políticas públicas voltadas para o apoio de consultorias técnicas, programas de acesso à informação e estímulo ao investimento, provavelmente resultantes da política estadual de promoção ao arranjo. A ação mais relevante para a preservação cultural foi o tombamento do sítio histórico de Marechal Deodoro como patrimônio histórico brasileiro, o que agrega valor ao atrativo turístico e divide a responsabilidade de sua conservação. Este pode ser um fator de preservação de uma importante vantagem comparativa do arranjo, porém até bem pouco tempo desprezada pelos gestores locais. As ações do programa APL Turismo da Região das Lagoas também tem um papel central para o desenvolvimento do arranjo, principalmente na promoção de eventos, como o Festival Gastronômico Sabor das Lagoas, que além de promover o arranjo, detecta gargalos e busca soluções para melhoria da qualidade dos serviços. Os cursos de capacitação também são importantes, porém seus resultados não são sentidos imediatamente. Os roteiros de ecoturismo e turismo de aventura, que foram montados pelo APL, além de um parque temático, dão um diferencial importante, ressaltando seus atrativos naturais. Além do mais, o fato de agregar os atores e fazer com que eles sintam-se co-responsáveis pela melhoria do arranjo é, certamente, um passo importante na direção do aumento de competitividade. 5. Perspectivas e Proposição de Políticas

5.1 Diferenciais e perspectivas do arranjo

Esse arranjo apresenta grandes desafios, pois os serviços turísticos não conseguem ter de forma sistemática, legal e organizada uma qualidade compatível com o turismo de padrão nacional e internacional. Isso pode até inviabilizar a atuação de alguns agentes relevantes que ainda conseguem atuar no APL.

Nos dois tipos de demanda turística, efetiva e potencial (Ignarra, 2003), é evidente que no arranjo ainda existe uma larga demanda potencial, o que significa que o produto turístico ainda não atingiu seu potencial de geração de renda, emprego e impostos. Isso acontece porque o turista tem certos impedimentos ou desconfortos para tornar sua demanda potencial em demanda efetiva pelo produto turístico. Desta forma, identificam-se como desafios:

a) Ser o arranjo um destino turístico em si. De acordo com o exposto anteriormente, o

principal destino turístico é Maceió, que inclui o arranjo como um dos atrativos turísticos deste destino. Isso gera dificuldades de ocupação para as empresas de meios de hospedagem localizados no APL. A “tirania da proximidade”, aliada ao médio padrão de qualidade da maioria das pousadas e à falta de oferta de serviços turísticos noturnos, faz com que a maioria

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dos turistas prefira se instalar em hotéis da capital alagoana, por conta das externalidades de uma melhor infra-estrutura de serviços em seu conjunto, inclusive o entretenimento noturno. Desse modo, alguns segmentos de turistas precisam ser mais estimulados que outros, com uma estratégia de marketing mais agressiva. Isso requer estudos mais específicos sobre quais segmentos seriam mais sensíveis a optar por se hospedar no APL ou em Maceió.

b) Melhoria e implantação de infra-estrutura de apoio ao turismo. Segundo as entrevistas e visitas de campo realizadas, foi constatada a existência uma fraca infra-estrutura de serviços para dar suporte à demanda pelos atrativos turísticos. Por exemplo, a secular atividade de rendeiras e o comércio turístico de artesanato no Pontal da Barra não dispõem de vários tipos de serviços: delegacia, correios, agência bancária (ou caixa eletrônico) e posto de informação turística. Isso em um bairro dentro de Maceió, com mais de quatro mil habitantes e uma população flutuante significativa, formada basicamente de turistas com um poder de compra bem superior à população nativa. Esse fato se repete de em outros locais de grande importância turística do arranjo, como em Massagüeira, Barra Nova e Praia do Francês. Além da infra-estrutura de serviços, a infra-estrutura de acesso é deficiente, com a AL-101-Sul de mão dupla e acostamento precário, com engarrafamentos nos finais de semana. A falta de saneamento básico é uma deficiência que afeta o ambiente, a qualidade dos serviços e a saúde dos turistas. A sinalização turística é pouco efetiva e, em alguns casos, inadequada, sobretudo no que se refere aos monumentos e o sítio histórico da cidade de Marechal Deodoro.

c) Melhoria dos serviços turísticos. Uma das razões que o arranjo não atrai turistas da

classe A e estrangeiros é a baixa qualidade dos serviços turísticos. A qualidade do atendimento é deficiente, pois muitos atendentes não falam uma segunda língua, principalmente o inglês. Há a exploração dos turistas, com barracas de praia que possuem dois cardápios, sendo um deles com preços mais elevados para turistas. A higiene é outro ponto preocupante, principalmente no que tange aos sanitários dos restaurantes e barracas, como também à manipulação dos alimentos. A manutenção dos equipamentos turísticos, como barcos e jangadas, as estruturas de barracas de praia e restaurantes também foram apontadas como deficientes, no que se refere à pintura e conservação.

d) Ordenação da ocupação urbana e especulação imobiliária. Verifica-se uma ocupação urbana desordenada e uma especulação imobiliária crescente no arranjo. Isso significa, entre outras coisas, que a sustentabilidade turística baseada em atrativos naturais fica ameaçada devido à destruição de mangues, coqueirais e áreas de mata atlântica, que alteram o funcionamento dos frágeis ecossistemas da região. A criação de uma APA e uma RESEC não foi suficiente par conter o processo de ocupação desordenada do solo. Além do mais, a regulamentação ambiental está baseada nos instrumentos de Comando e Controle23, exigindo dos órgãos ambientais uma fiscalização que não está sendo realizada a contento, portanto, não está garantindo um estado de preservação e/ou conservação ambiental adequado. A questão da ocupação desordenada do solo alia-se à falta de infra-estrutura de saneamento e pavimentação de ruas, alterando a paisagem de forma negativa. Superar este desafio é condição necessária para a preservação da vantagem competitiva baseada nos

23 Os instrumentos de Comando e Controle “são também chamados de instrumentos de regulação direta... O órgão regulador estabelece uma série de normas, controles, procedimentos, regras e padrões a serem seguidos pelos agentes poluidores e também diversas penalidades (multas, cancelamento de licença, ente outras) caso eles não cumpram o estabelecido. Esse procedimento requer uma fiscalização contínua e efetiva por parte dos órgãos reguladores ...” (Lustosa et al., 2003, p. 142).

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recursos naturais, principalmente a beleza cênica e o prazer de banho de mar em águas mornas, rumo ao turismo sustentável.

e) Melhoria do arranjo institucional. O arranjo institucional é frágil, gerando diversos

problemas nesse campo, sobretudo no que tange ao aspecto de cooperação para seu desenvolvimento. Mesmo sendo parte de um programa de desenvolvimento do governo do Estado – o APL Turismo Região das Lagoas – algumas interações estratégicas se dão por vias secundárias. Existe o Fórum de Turismo do Estado, no qual participam representantes das prefeituras municipais, representantes do setor hoteleiro, de agenciamento, da universidade e do Maceió Convention Bureau. Este último, entretanto, exerce um papel fundamental na coordenação turística do Estado, pois é o grande articulador da vinda de turistas internacionais de elevado padrão de renda e o repassador das verbas do Ministério do Turismo, visto que a Secretaria Estadual de Turismo não dispõe de estrutura e condições legais para administrar tais recursos. O arranjo não tem contato com o Convention, ficando fora das verbas destinadas à venda dos destinos de Alagoas.

Um outro ponto é que, apesar do SEBRAE-AL buscar a aglutinação de esforços cooperativos, não existe consenso em várias questões fundamentais do APL, tais como: como coordenar e ordenar as ações dos ambulantes na praia do Francês, de forma que sua quantidade excessiva não iniba ou constranja o turista. Outro falta de consenso: qual e como deveria funcionar uma associação de prestação de serviços turísticos no APL? Existem experiências interrompidas, apesar da importância disso para instituir alguma forma de governança. Existe uma interferência de transporte ilegal de turistas no trabalho das agências de turismo a preços mais acessíveis. Enfim, existe uma série de problemas que exigem alguma forma de coordenação com legitimidade e peso político para o referido APL, que articule mecanismos de governança eficazes.

f) Fazer com que agentes econômicos participem efetivamente das associações. O

associativismo é um ponto fraco no arranjo. Algumas associações são atuantes e bem estruturadas, mas a maioria carece de estrutura e de maior participação. Uma das razões apontadas para a baixa participação nas associações é o espírito individualista, traduzido no sentimento de que o indivíduo não faz parte de um contexto maior, um sistema onde as ações do entorno influenciam nas suas próprias ações e desempenho. Além do mais, experiências anteriores que não foram bem sucedidas e a briga pelo poder das associações fazem com que seja difícil grande parte dos agentes econômicos vislumbrarem o associativismo como um elemento fundamental, que aglutinaria forças para melhoraria da competitividade de todos. Há uma resistência com as contribuições financeiras e uma desconfiança quanto à gestão dos recursos comuns.

g) Ocupar nichos de mercado relativos ao turista estrangeiro. Todo o trabalho de

atração turística do arranjo é focado para os turistas nacionais, regionais e estaduais, sendo que a ação no primeiro caso é extremamente restrita, em função da escassez de recursos. Alguns tipos de turistas estrangeiros, como grupos de pessoas de idade mais avançada e famílias, possuem uma renda mais elevada e têm interesse nos atrativos culturais e naturais, valorizando, assim, os aspectos locais que os turistas nacionais muitas vezes não o fazem, estimulando o desenvolvimento local. Entretanto, permanece o desafio da melhoria da infra-estrutura turística, qualidade dos serviços, inovações de produtos que possam dar um diferencial competitivo ao arranjo e ressaltar os já existentes.

Apesar destes desafios, as potencialidades são muitas, como foram apontadas acima. O patrimônio cultural e artístico é certamente um elemento fundamental para atração turística, dando um outro perfil ao arranjo, que não somente o “sol e mar”. Além da beleza cênica, a

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natureza propicia diversos entretenimentos pouco ou não explorados em escala que possam atender ao turista, ocupando importantes nichos de mercado. Dada a grande diversidade da fauna e flora aquática, além dos recifes, o mergulho poderia ser um esporte bem desenvolvido na região. A natureza também favorece os esportes da natureza – caminhadas, trilhas, passeios de bicicleta na maré baixa e ecobike – e os esportes náuticos – caiaques, barcos à vela – que se tornariam um atrativo dos ecoturistas.

Em termos de perspectiva do arranjo, vislumbram-se dois caminhos. Um deles é tornar-se um núcleo autônomo do turismo local, visto que o incentivo ao desenvolvimento do arranjo via um programa do governo do Estado – o APL Turismo Região das Lagoas – é uma oportunidade ímpar de seu crescimento. O empenho do principal coordenador, o Sebrae-AL, precisa ser potencializado por outros parceiros do arranjo. Dada a baixa capacidade associativa e inovativa dos atores, a política pública torna-se elemento chave para o desenvolvimento sustentável do APL e, também, uma forma de aglutinar esses atores em ações associativistas.

Além do mais, enveredar por este caminho implica a necessidade dos atores e do poder público de adquirirem uma consciência sistêmica, em vez de se concentrarem em setores específicos, preocupando-se somente com ações pontuais e voltadas para sua atividade. É importante que cada ator tenha a clareza da visão sistêmica e que haja um plano de longo prazo para o arranjo, com ações gerem conhecimento e não apenas divulguem informações.

O outro caminho é continuar como um braço articulado do arranjo produtivo local do turismo de Maceió, uma vez que este último é o principal destino do turista que vem ao Estado de Alagoas, pois possui uma infra-estrutura muito superior ao do APL de Turismo Lagoa e Mar e vem construindo equipamentos turísticos importantes, como o centro de convenções. Esta continuidade deve ocorrer caso o arranjo não apresente um maior grau de cooperação e não adquira um grau de autonomia em face da atual dependência das políticas públicas de fomento ao seu desenvolvimento, ou seja, caso os atores econômicos não assumam efetivamente a governança do arranjo.

5.2 Propostas de políticas

Há uma evidente distância entre o discurso oficial quanto à importância do turismo para o desenvolvimento de Alagoas, seja do Estado ou dos municípios, e as ações efetivamente implantadas, incluindo o empenho do poder público, no que tange à alocação de pessoal e de recursos financeiros para alavancagem do turismo. A dissociação entre turismo, de uma lado, e cultura, esportes e meio ambiente de outro, fica evidente nas parcerias do programa de governo para o desenvolvimento do arranjo.

Constatada esta dificuldade do poder público, cabe aos agentes privados, sobretudo aos atores do arranjo, a união de esforços para que, por meio de proposições inovativas, possam vir a potencializar as ações realizadas para a melhoria da qualidade dos serviços turísticos na região. Desta forma, incentivar a cooperação entre os agentes econômicos, principalmente voltados para as atividades inovativas é central para o crescimento do arranjo. Experiências de outras localidades que apresentavam as mesmas dificuldades e atualmente são importantes pólos turísticos, como Porto de Galinhas (PE), merecem ser estudadas para vislumbrar possibilidades a serem também implantadas na região. É fato que a insistência na realização de reuniões bem organizadas e objetivas, sem fins políticos eleitorais, é fundamental para consolidar uma cultura cooperativista.

Os estudos de caso de outras localidades, que podem ser realizados pelos organismos de ensino e pesquisa, podem trazer propostas para geração e disseminação de inovações que venham diminuir o problema da sazonalidade. Uma experiência interessante é o tipo de

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hospedagem Bed & Breakfast, por ter um preço mais acessível e estar melhor sintonizado com turistas jovens e aqueles que querem fugir das atribulações e o stress das metrópoles, estando próximos do convívio com a população local, gerando um diferencial ao arranjo.

O tombamento do sítio histórico de Marechal Deodoro pelo IPHAN é uma oportunidade que deve ser acompanhada de incentivos ao turismo com base na cultura local, que é um produto único e que agrega valor ao APL, inclui a população local na atividade turística e, ao mesmo tempo, valoriza e resgata as tradições da população. A aproximação do arranjo com o Maceió Convention Bureau, por meio de projetos de valorização e de divulgação do patrimônio histórico-cultural, auxiliado pela UFAL e com recursos da FAPEAL, seria uma proposta para fazer da cultura um ponto forte do arranjo.

Uma forma de mostrar os aspectos culturais do arranjo, promovendo a difusão do conhecimento para o público interno e externo ao APL, é a criação de um Espaço Cultural Mundau-Maguaba, que reuniria exemplos dos mais de 40 apetrechos de pesca, exposição das espécies da fauna e flora do CELMM, mostra da cultura local em termos de artesanato, festas tradicionais e culinária típica, entre outros. Este espaço poderia ser construído a partir do conhecimento já existente sobre as lagoas, documentado em mais de 190 trabalhos das diversas áreas disciplinares. Seria um importante espaço de visitação de turistas, escolas e moradores, misturando cultura com entretenimento.

A fim de melhorar os serviços já existentes, diversificá-los e, posteriormente, sofisticá-los, deve-se aproveitar as características positivas da mão-de-obra identificada na pesquisa de campo – conhecimento prático, disciplina, flexibilidade, criatividade e capacidade de aprendizado. A maior capacitação do pessoal ocupado é condição necessária para a disseminação do conhecimento no arranjo, possibilitando a inovação para imprimir um diferencial competitivo.

Verificou-se, entretanto, que a capacitação nos moldes tradicionais, sob forma de palestras e cursos em salas de aula, não tem surtido muitos efeitos. Seria importante desenvolver novas metodologias de capacitação, provavelmente no próprio local de trabalho, possibilitando maior interação entre os instrutores, o pessoal a ser capacitado e os empresários. Além disso, é fundamental buscar capacitação de pessoal em línguas estrangeiras, como o inglês, espanhol, alemão, italiano e francês.

Complementando a proposta da capacitação de pessoal, é importante lembrar que o programa de APL do governo nas Lagoas promove ações de capacitação – cursos, palestras, workshops –, porém a efetividade destas ações é difícil de ser verificada, utilizando-se para tal o número de participantes, que definitivamente não é um bom critério de avaliação. Talvez uma premiação pelo melhor prato típico dos cardápios dos restaurantes, ou por um novo atrativo implementado no arranjo, poderia ser fator de estímulo a inovações.

Além das capacitações tradicionais – garçom, camareira, guias – também é desejável a inclusão da população local, com o treinamento de guias mirins e a instalação de locais de coleta de lixo seletiva, para posterior utilização na elaboração de artesanato misturando materiais recicláveis com os tradicionais – renda de filé, partes do coco, conchas, sementes. Além de resolver o grande problema do lixo gerado pela atividade turística, seria uma forma de inclusão social ecologicamente correta, gerando trabalho, emprego, renda e um diferencial competitivo para o arranjo. Uma vez que o elemento chave de atratividade do arranjo é a natureza ímpar da região, atenção especial deveria ser dada à divulgação de conhecimento sobre o meio ambiente local, seja em cursos de capacitação para os atores, seja para a população local ou inserida no ensino formal das escolas. Está comprovado que os melhores fiscais ambientais são os moradores da região, quando percebem que seu sustento depende da conservação do meio ambiente.

Aliado à conscientização ambiental, também deve haver mudanças nos instrumentos de política ambiental, saindo do comando e controle para a direção dos instrumentos

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econômicos24, seguindo o princípio do preservador-recebedor25. Esses esforços devem dar resultados bem superiores aos atuais, apesar da pressão antrópica crescente. Entretanto, a influência política, que desconsidera os anseios da população e a legislação vigente, são obstáculos muito difíceis de superar.

Ainda no sentido do incentivo econômico, poderia ser instituída, no âmbito da política pública de fomento aos APLs, a entrega de prêmios em duas classes: uma voltada para ações cooperativas e outra voltada para ações no âmbito ecológico, mas que trouxessem benefícios sociais.

Apesar da promoção de eventos ser uma política adotada em diversos pólos turísticos para amenizar a redução do fluxo turístico na baixa estação, seria importante para o arranjo reativar o Festival de Verão de Marechal Deodoro, mantendo o nome, mas na baixa temporada, uma vez que o arranjo apresenta somente duas estações climáticas: a seca e quente – de outubro a março –e a chuvosa – de abril a setembro. Acoplando ao evento, a prática de um tarifário bem acessível para os turistas que optarem pela região como destino turístico, inclusive incentivando o turismo da “melhor idade” e de lua de mel.

Dado que algumas propostas requerem um prazo mais longo para serem implementadas, o arranjo deveria buscar, inicialmente, os mercados para os quais possui capacidade para atendimento e vantagens competitivas – atrativos naturais e culturais – exploração do ecoturismo, dos esportes da natureza e do patrimônio histórico, visando um público que aceite um padrão menos sofisticado dos serviços. Na medida em que for melhorando a capacitação do pessoal empregado, a administração e a oferta dos serviços turísticos, e a infra-estrutura turística em geral, poder-se-ia buscar mercados mais exigentes em termos de sofisticação dos serviços ofertados.

Estas são apenas algumas propostas elaboradas a partir das entrevistas e da percepção dos pesquisadores, entretanto, para que elas sejam passíveis de implementação, é fundamental a participação dos atores do arranjo e uma governança que permita o bom funcionamento das instituições presentes, uma vez que elas têm papel fundamental nas políticas voltadas para as micro e pequenas empresas do arranjo. Referências Bibliográficas Agência Nacional de Águas. Elaboração do Plano de Ações e Gestão Integrada do Complexo

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24 Os instrumentos econômicos “... visam à internalização das externalidade ou de custos que não seriam normalmente incorridos pelo poluidor ou usuário” (Lustosa et al., 2003, p. 143). 25 Este princípio baseia-se no em premiar o agente que preserva o meio ambiente, seja por meio da redução de impostos ou alguma outra forma de compensação econômica pelo não recebimento da receita advinda de uma atividade impactante do meio ambiente. É o corolário do princípio do poluidor-pagador.

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Lykouropoulos, Milena Beatrice. O Comércio de Tapioca na Orla Marítima de Maceió: Uma Análise sob a Ótica do Desenvolvimento Turístico Local. Dissertação de mestrado, Maceió: PRODEMA/UFAL, 2006.

Medeiros, Celme F. e Menezes, Eduardo F. de. Alagoas: história e geografia. São Paulo:Editora do Brasil, 2005.

SEBRAE. Inventário Piloto de Ofertas e Oportunidades Turísticas de Municípios Alagoanos na Região das Lagoas. Maceió:Sebrae, 2004/205.

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ANEXO I Cálculo Amostral

O universo para a obtenção de dados primários foi de 353 empresas, formais e informais, identificadas no arranjo. A participação de cada serviço turístico neste universo foi calculada e chegou-se uma amostra de 78 empreendimentos, com erro amostral de 10%. A amostra foi dividida por serviço turístico com base nos percentuais de participação dos mesmos no universo, como mostra a tabela 1.

Tabela 19 – Cálculo da Amostra26 dos Serviços Turísticos do Arranjo

26 Cálculo da amostra: n = N x no N +( no – 1) Onde: n = tamanho da amostra N = universo no = 1 , sendo E0 = erro amostral Eo

2 N = 353 E0= 10% = 0,1 => Eo

2 = 0,01

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*Erro amostral de 10% Dado os subsistemas existentes no arranjo, após definida a amostra por serviço turístico, foi feita uma divisão por subsistema de acordo com sua participação percentual nos serviço turístico de hospedagem, alimentação e lojas de artesanato. Tal procedimento justifica-se, pois há uma concentração dos serviços nos subsistemas (tabelas 2, 3 e 4). Por exemplo, a maioria das lojas de artesanato está no Pontal da Barra (70%).

Tabela 20 – Amostra dos Meios de Hospedagem do Arranjo Local quantidade participação amostra Francês 25 64,10 Barra Nova 3 7,69 0,7Cidade de Marechal 1 0,85 0,1Barra de São Miguel 10 25,64 2,3Total 39 100,00 9,0

Fonte: Elaboração própria a partir de cadastro do Sebrae-AL, secretarias municipais de turismo e pesquisa de campo.

Tabela 21 – Amostra dos Estabelecimentos de Alimentação do Arranjo Local quantidade Participação amostra Pontal da Barra 7 5,93 1,5Francês 31 26,27 6,8Cidade de Marechal 18 15,25 4,0Barra Nova 16 13,56 3,5Massagüeira 24 20,34 5,3Barra de São Miguel 22 18,64 4,8Total 118 100,00 26,0

Fonte: Elaboração própria a partir de cadastro do Sebrae-AL, secretarias municipais de turismo e pesquisa de campo.

Tabela 22 – Amostra dos Estabelecimentos de Comércio Turístico do Arranjo Local quantidade participação amostra Pontal da Barra 126 70,00 28,0Francês 25 13,89 5,6Cidade de Marechal 4 2,22 0,9Barra de São Miguel 25 13,89 5,6Total 180 100 40,0

Fonte: Elaboração própria a partir de cadastro do Sebrae-AL, secretarias municipais de turismo e pesquisa de campo. Desta forma, após a definição da amostra de cada segmento de serviços turístico, foram sorteados aleatoriamente os estabelecimentos a serem entrevistados. As entrevistas foram realizadas em junho e julho de 2006. no = 1 / 0,01 => no = 100 n = N x 100 => 353 x 100 => n = 78 N + 99 353 + 99

Serviços Turísticos universo % do universo amostra*Agenciamento 10 2,83 2,2Meios de Hospedagem 39 11,05 8,6Alimentação 118 33,43 26,0Imóveis de aluguel 7 1,98 1,5Comércio turístico 180 50,85 39,7Total 353 100 78