Missão Integral - Apostila
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Missão Integral: A missão de Deus para a Igreja
Por Marcos Aurélio Dos Santos
BUSCANDO UMA DEFINIÇÃO
O tema Missão Integral é por demais amplo, no qual missiólogos e teólogos
encontram várias definições. Numa tentativa de buscar uma resposta sobe este
importante tema, concordo com o pensamento de Ariovaldo Ramos quando cita
Ziel Machado afirmando que missão integral, é uma proposta missiológica
a partir de uma perspectiva do Reino de Deus. Por esta definição,
compreende-se que a proposta da Missão Integral, está profundamente
relacionada à anunciação de um novo Reino que é inaugurado com a chegada
do Messias que por sua vez, nos chama para uma missão em que somos
desafiados a encarnar os valores deste Reino ensinados e praticados por
Jesus. Como veremos mais adiante, a proposta da missão integral não está
limitada apenas a prática de assistência social realizada em algumas das
comunidades evangélicas, também não é uma ideologia com fundamentos
humanistas ou uma variante da teologia da libertação, como também não é
uma bandeira que favorece única e exclusivamente os pobres ou muito menos
uma estratégia evangelística. Mas a missão integral aponta para uma
restauração da criação de forma integral (ver Gn.3). Isso implica em não
apenas pregar o evangelho em palavras, mas deve haver uma disposição da
igreja no exercício de ações comunitárias em benefício da sociedade e
transformações nas estruturas políticas, sociais e econômicas. Portanto,
missão integral é uma proposta missiológica que tem como alvo encarnar os
valores do Reino de Deus. Logo, estes devem ser vivenciados pela Igreja do
Senhor Jesus, a agenciadora deste Reino aqui na terra.
Deus através da Pessoa do Filho encarnado aproxima-se da criação como a
expressão total e completa da missão do Pai. Jesus Cristo em seu ministério
terreno anuncia as boas novas do Reino, prioriza a mensagem do evangelho
aos pobres, cura os enfermos, assiste os necessitados, liberta os cativos,
alimenta os famintos, quebra as barreiras religiosas, geográficas, econômicas e
culturais. Em fim, Jesus em sua missão, é a revelação do grande amor de
Deus pela criação de forma perfeita, total e completa.
AS BOAS NOTÍCIAS DO NOVO REINO
A chegada do novo Reino traz consigo novas e boas notícias. A primeira é que
este Reino tem suas portas abertas para todos que queiram ver e entrar nele.
Todos são chamados para fazer parte do Novo Reino. A experiência do novo
nascimento, (pois quem não nascer da água e do Espírito pode ver e entrar
nele Jo. 3.1-15), abre a porta para uma nova experiência de vida com o criador.
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No Reino, é anunciada a chegada uma nova perspectiva na busca de uma
espiritualidade centrada na pessoa de Jesus de Nazaré. A chamada é para
uma nova maneira de viver, adorar e se relacionar com o Rei.
Neste novo Reino, não há acepção de pessoas. Todos tem livre acesso ao
palácio. No Reino, quem entra não são apenas os da corte, mas os plebeus
são considerados bem vindos, não há subordinados e comandantes pois
aquele que quiser ser o maior, antes seja o menor com disposição para servir
ao outro (Mc.9.33-37; Mt.18.1-5; Lc.9.46-48). O Reino de Deus não prioriza os
religiosos, pois estes querem status, poder para dominar e posição privilegiada
entre o povo. O Reino é de todos e para todos. Para ter acesso a sala do trono
Real não é preciso marcar audiência, pois o Rei Jesus exerce o reinado da
convivência entre os mais desfavorecidos, é o Rei habitando em nós (Ef. 2.22;
3.17; Tg. 4.5;), e os que amam a Deus poderão habitar nele (Jo.14.23). Não é
um reinado transcendente, mas pessoal onde Jesus de Nazaré se faz presente
e agente na história humana.
O Rei dos reis nasceu entre os pobres e viveu entre eles. Em sua entrada
triunfal em Jerusalém encontramos um cenário marcado pela simplicidade. Sua
chegada como Rei acontece de maneira simples. Montado em um jumentinho
emprestado, em meio a esta cena, a multidão o recebe também de maneira
simples, estendendo suas vestes e ramos que haviam cortado dos campos
(Mc.11.1-11; Mt.21.1-17; Lc.19.28-40; Jo.12.12-19). A chegada de Jesus de
Nazaré como Rei de Jerusalém faz um contraste com as cerimônias realizadas
em impérios terrenos que quase sempre são marcadas pela vaidade e
grandeza de suas liturgias.
Em Jesus é chegado o novo Reino. É anunciada a salvação eterna na pessoa
do Cristo, um Reino de paz, justiça, alegria no Espírito Santo, obras de Justiça,
misericórdia, perdão, ausência do eu, caridade, fé, missão, um reino onde não
há superiores, pois todos estão debaixo da soberania do Rei que em sua
humanidade não julgou com usurpação, aceitou a humilhação, esvaziando-se
de si mesmo assumindo a forma de servo, e não quis ser igual a Deus,
expressando em sua maneira de viver a prática da humildade, do perdão, da
misericórdia, do servir, em tudo, sendo submisso fazendo a vontade do pai até
a morte no calvário (Fp. 2.5-11; Jo. 6.38-40). No sacrifício vicário de Cristo,
todos podem por meio do novo nascimento entrar e ver o Reino e assim fazer
parte dele (Jo. 3.1-15).
A segunda boa notícia é que “o Reino de Deus não faz escravos, não faz
prisioneiros, o Reino de Deus só liberta”. (Ariovaldo Ramos). Ao contrário
dos reinados terrenos da época que aprisionavam seus adversários que eram
vencidos na guerra, tornando-os escravos, no Reino de Deus é proclamada a
todos os povos a mensagem de libertação.
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Libertação do sistema religioso. Na proposta do Reino anunciada por Jesus,
todos que entrarem no Reino, são libertos dos grilhões do sistema religioso.
Disse Jesus: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e
eu vos aliviarei. Tomai sobre voz o meu Jugo e apendei de mim, porque sou
manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o
meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. (Mt. 11.28-30).
Em outras palavras, Venham todos vocês que estão acorrentados, pelo
sistema religioso dos Fariseus hipócritas que vos oprime, impondo leis que
nem mesmo eles conseguem cumprir. Venham! Este Reino traz salvação e
liberdade. Esta é mais uma das boas notícias do Reino. Salvação aos cativos e
oprimidos pelo sistema religioso. Jesus chama seus súditos a aprender do Rei
que não escraviza e não tortura os que estão sobre seu domínio, mas traz boas
novas de libertação, de vida, de um relacionamento amoroso e paternal com o
criador.
Todos são chamados a aprender do mestre a prática do exercício da mansidão
e da humildade. No Reino, a obrigatoriedade da lei, e suas minúcias, são
substituídas pelo ensinamento de Jesus de Nazaré focados numa
espiritualidade de relação pessoal com Deus e o interior humano, e não mais
na estética onde no sistema religioso, a espiritualidade é medida pala
aparência. Em Jesus, o discípulo é liberto dos preceitos do legalismo que por
sua vez traz vida, pois a letra mata, mas o Espírito vivifica (Rm. 2.29; 7.6; 2
Co.3.6;).
A suavidade do Jugo e a leveza do Fardo proposto por Jesus revela seu amor
na missão. Como expressão maior do autor da missão (Deus), Jesus acolhe a
todos que estão sufocados, sobrecarregados e oprimidos pelo sistema
religioso. Na missão de Deus, as portas do calabouço religioso são abertas
para trazer liberdade aos cativos e assim desfrutarem das bênçãos do
Evangelho do Reino.
Livres das algemas da religiosidade para serem escravos do amor de Deus em
Cristo Jesus (1Co.7.22). Agora libertos, encontramos verdadeira liberdade, que
por sua vez gera em nosso coração uma atitude de verdadeiro arrependimento
manifestando a presença do Espírito Santo, pois sua atuação é também sinal
de libertação (2.Co.3.17; Gl.5.13). No Reino, a cortina de fumaça criada pelo
sistema religioso que encobre a maravilhosa graça na missão de Deus, é
retirada pela anunciação das boas novas do Evangelho, trazendo assim
visualização para aqueles que têm livre acesso a ele.
Então, o Reino também anuncia a todos a palavra da liberdade em Cristo
Jesus. A liberdade de conhecer Deus, submetendo-se ao seu poder e
autoridade, e com ele cooperar na missão, transpondo os limites e barreiras
que a religião criou no que se refere à relação Deus e criatura, conhecer sua
vontade e seu projeto de restauração para a criação, envolver-se na
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integralidade da missão, amar a criação e o criador, é a Igreja interagindo na
missão integral de Deus.
Libertos dos grilhões do pecado e da morte. O evangelho do Reino traz
também poder libertador para os cativos em prisões de sua própria natureza
pecaminosa. Em Cristo Jesus, encontramos a liberdade por intermédio do
poder transformador do evangelho. Disse Jesus: “Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres” (Jo. 8.36). Eis outra grande notícia. O evangelho
de Cristo que transforma, liberta, cura, acolhe, perdoa, um novo Reino que traz
consigo uma proposta de nova vida para aqueles que entrarem nele. Agora
somos livres para amar, servir, perdoar, compartilhar, acolher, isto é encarnar
os valores do Reino pregado e vivido por Cristo.
Uma vida liberta reflete a imagem e caráter de Jesus. Ser verdadeiramente
livre nos desafia a viver não para nós, mas para o outro, nisto, o discípulo pode
ser chamado de bem aventurado. Feliz é o discípulo que goza da liberdade
para ser humilde de espírito, pacificador, manso, intercessor, faminto por
justiça, misericordioso, limpo de coração e sofredor nas perseguições por
causa do evangelho do Reino. Feliz é aquele que abre mão dos seus próprios
interesses em benefício do próximo, para que possa assim deleitar-se e viver
esta liberdade em Cristo Jesus.
Agora libertos do pecado, no sentido de não ser mais escravo dele, passamos
a servir a Cristo Jesus.
Gill comenta:
“Agora os eleitos de Deus não são liberados voluntariamente por seus antigos
mestres, nem é a sua liberdade obtida por seu próprio poder e vontade, mas é
de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo; e o Evangelho é geralmente o meio dela,
e felizes são as pessoas que são abençoados com ele! São livres de um
mestre ruim; são liberados do pior da servidão; haverá mais servos, como
antes, são entregues a partir do poder, e fora do reino das trevas; são
herdeiros do céu, e beneficiam da liberdade da glória dos filhos de Deus, e
para o presente momento tornar-se servos da justiça; servos de Deus, cujo
Evangelho obedecem; servos de Cristo, cuja justiça se submetem a, e servos
para a lei de justiça, como manifestado por Cristo e dão-se a si mesmos em um
curso e vida de retidão , em que há verdadeira honra, paz e prazer”.(Fonte:
http://biblecommenter.com/romans/6-18.htm).
Esta liberdade nos torna servos do Cristo. Não servimos mais ao pecado que
outrora estávamos encarcerados nele, mas de boa vontade devemos aceitar o
convite do mestre para servir em seu Reino com ações voluntárias, livres de
qualquer opressão, descontentamento, domínio e práticas que exteriorizam em
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extremo nossa maneira de servir, pois servir sem liberdade é sinal de
aprisionamento.
A terceira é que o Reino de Deus é manifesto pela prática da justiça.
“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”. (Mt.
5.6). Bem aventurados os perseguidos por causa da justiça porque deles é o
Reino dos céus. Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos
injuriarem e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra voz.
“Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois
assim perseguiram os profetas que viveram antes de voz”. (Mt.5. 10-12).
A prática da justiça sempre esteve marcada na história do povo Hebreu e da
igreja cristã. Observa-se a impressionante declaração do Salmista denunciando
as autoridades da época quanto à questão das injustiças aos mais
desfavorecidos pedindo justiça por eles.
“Falai verdadeiramente justiça ó juízes? Jugai com retidão os filhos dos
homens? Longe disso; antes no intimo engendrais iniquidades e distribuis na
terra a violência de vossas mãos.” (Sl.58.1-2).
Esta denuncia feita pelo salmista é direcionada não apenas aos juízes, mas
também aos pastores, profetas e sacerdotes que usavam da autoridade para
benefício próprio, desprezando os mais desfavorecidos.
Mais adiante, Salomão faz uma exortação quanto à necessidade de não se
calar diante das injustiças cometidas aos pobres.
“Abre a boca, julga retamente e faz justiça aos pobres e necessitados”
(Pv.31.9).
Silenciar diante das injustiças para com os mais desfavorecidos pode ser uma
maneira de demonstrar nossa timidez ou covardia diante da verdade e justiça
de Deus para com a criação.
Davi e Salomão foram Reis que direcionados por Deus, de alguma maneira se
preocuparam com a questão da justiça aos necessitados.
A prática da justiça foi incansavelmente pronunciada não somente por reis,
mas também pelos profetas do AT, que levaram como uma das marcas
registradas de profetas de Deus, denunciar as injustiças sociais, econômicas e
políticas da época. Vejamos ,este relato do ministério do profeta Elias.
São nos capítulos 18 e 19 do livro de 1Reis que encontramos o relato da
vocação do profeta Elias como denunciador das injustiças. O profeta sem
meias palavras denuncia a falta de fidelidade do povo de Israel. Ele lança um
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desafio ao povo dizendo que eles deveriam tomar uma posição a cerca de
quem eles deveriam seguir. Deus ou baal. Elias se depara com o silencio do
povo (1Rs.18.21). A atitude do profeta em lançar o desafio ao povo para
escolher que deveria seguir, revela a situação do contexto em que o profeta
Elias se encontrava. Certamente não havia discernimento o bastante da parte
do povo para ver o quanto Deus odeia a injustiça. Isto levava o povo a uma
confusão quanto as suas convicções no tocante a quem eles deveriam servir.
Neste contexto, tanto o povo quanto as autoridades não demostravam senso
de justiça.
Percebe-se o grande desafio do profeta diante de um momento crítico do
reinado de Israel. O casamento de Acabe com Jesabel trouxe sérios problemas
para a nação. A matança de profetas, a incredulidade do povo e as injustiças
sociais eram problemas desafiadores para um profeta, que tinha como missão,
ser o porta voz de Deus de maneira direta ao povo. Dentro de sua vocação, o
profeta é desafiado a transmitir uma palavra profética ao povo e lideranças da
época, no qual deveria levá-los ao arrependimento. Desafio semelhante ao do
profeta João Batista no NT, onde o contexto era bastante semelhante ao do
tempo do profeta Elias.
Semelhantemente estas experiências aconteceram com Ageu, Jeremias,
Malaquias, Eliseu e outros Profetas que sofreram e foram perseguidos por
causa da Justiça. Observe as palavras de incentivo de Jesus aos seus
discípulos em Mt. 5.12 sobre a missão da prática da justiça.
Com a chegada do Reino, a anunciação e a prática da justiça é manifesta aos
homens apontando Jesus como a revelação da perfeita justiça no qual desafia
seus seguidores a ter fome e sede por ela. (Mt.5.6). Logo, a justiça de Deus
toma dimensões alargadas trazendo salvação e libertação que por sua vez leva
o discípulo a ter fome e sede de justiça. O discípulo uma vez alcançado pela
justiça divina deverá exercer a pratica desta para com o próximo. É bem
provável que Jesus está estimulando seus discípulos por meio do ensino
teórico e prático, o exercício da justiça para com os mais desfavorecidos visto
que ele mesmo viveu esta prática em seu estilo de vida. Os discípulos
Deveriam praticar o ensino de Jesus sobre economia, prestar solidariedade aos
necessitados, não se conformar com as injustiças praticadas pelas autoridades
da época e se esforçar na prática do bem (At.2.44-45; 6.1-7; Rm.2.7; 15.26;
1Co.16.1-2; Tg.2.14-26;).
O apostolo Paulo escrevendo aos irmãos da igreja de Roma, adverte-os a não
se conformarem com a corrupção deste mundo, mas desafia-os a tomar uma
postura diferente (Rm.12.2). Agora dotados da mente de Cristo (1 Co.2.16),
deveriam denunciar as injustiças que estavam impregnadas nas estruturas
políticas, religiosas, culturais e sociais e econômicas da época. Então,
evidencia-se na vida dos discípulos uma profunda identificação com Cristo ,e
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os profetas do AT. Não é difícil observar que o incentivo de Jesus feito aos
seus discípulos no sermão do monte quanto à questão da perseguição por
causa da justiça, se evidencia na fala e na vida dos apóstolos (Mt.5.11-12;
Rm.12.2;1 Co.2.16;At.2.44-45).
O ministério de Jesus foi marcado também por sua preocupação com os
pobres. A eles, é anunciado as boas novas de salvação (Mt.11.5; Lc.7.22). No
ministério de Jesus ele pregou para ricos, comerciantes, cobradores de
impostos, políticos e religiosos. No entanto, destaca-se a prioridade para com
os pobres. Jesus foi ungido para pregar o evangelho aos pobres (Lc. 4.18),
ensina a disposição de compartilhar bens com os pobres, liberta os indivíduos
do sistema religioso como também ensinou que o compartilhar é um pré-
requisito para ser discípulo (Mt.19.21; Mc.10.21; Lc.18.22). Pela graça se fez
pobre por amor aos discípulos, para que pudessem ser beneficiados com as
riquezas celestiais (2 Co.8.9), aprova a atitude daqueles que se compadecem
dos pobres (Lc.19.8), desafia seus seguidores a renunciar tudo quanto tem e
partilhar para serem seus discípulos (Lc.14.33).
Em seu ministério, Jesus quebra barreiras sociais. O contexto da época foi
marcado pela injustiça para com os pobres e domínio do império romano. Com
a chegada do Reino, nasce uma nova esperança para aqueles que não têm a
ninguém para recorrer se não a Deus.
Vanderlei Gianastacio cita Richard Horsley que diz: “É num contexto social de
imperialismo romano que Jesus apresenta a sua mensagem. Proclamava a
presença ou a iminência do reino de Deus, por meio da sua prática, bem como
fazia curas, exorcismos, alimentação das massas e apresentação de valores
relacionados com a aliança. Não era algo tão simples para Jesus, pois a
Galileia, onde o Senhor vivia e cumpria sua missão, era dominada pelos
exércitos romanos que tinham invadido ali décadas antes. As crianças de
alguns anos anteriores ao nascimento de Cristo ficaram traumatizadas com a
brutalidade da invasão, pois aldeias foram queimadas, regiões foram invadidas,
as pessoas sadias foram escravizadas e os incapazes, eliminados”
(HORSLEY, 2002, p. 21).
Esta é uma forte razão para crermos que a missão de Deus é integral. O
contexto social da época de Jesus aponta para a injustiça cometida por parte
das autoridades, o Reino de Deus surge também como um alívio aos cansados
e massacrados pelo terrorismo escravizador do império romano.
Para eliminar o mal entendido quanto à questão da missão integral, Deus tem
sempre como prioridade a salvação eterna do homem pela sua maravilhosa
graça (Ef.2.8-10), acredito que para que haja transformações na sociedade é
preciso corações transformados, e como sabemos somente a graça de Deus
tem poder para isto. A missão integral no tocante ao homem é salvar o espírito
e cuidar do corpo, estendendo-se em sua abrangência almejando restaurar os
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sistemas políticos, sociais, econômicos e religiosos, restaurar o que foi
prejudicado pela queda no Éden. Os do Reino não podem se conformar com
este mundo, mas tem a missão transformá-lo pela nova consciência que
receberam em Cristo Jesus (Rm. 12.2). Não pode haver dicotomia entre
responsabilidade social e evangelização. Carlos Queiroz faz uma citação de
John Stott em seu artigo evangelização e conflito com a teologia do evangelho
social que diz:
“A ação social e a evangelização são como as duas lâminas de uma tesoura,
ou como as duas asas de um pássaro. (...). Tanto a evangelização pessoal
quanto o serviço pessoal são expressões da nossa compaixão. Ambos são
formas de testemunhar de Jesus Cristo, e ambos deveriam surgir de reações
sensíveis às necessidades humanas” (STOTT; 1983: p. 21 e 39).
Como veremos mais adiante, o proposito da missão para a igreja é amar a
Deus e sua criação, amar a criatura e o criador, proclamar o evangelho, acolher
o necessitado, não se calar diante das injustiças, é cumprir a missão de Deus
tendo como modelo a pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Russel P. Shedd em seu livro a justiça Social e a Interpretação da Bíblia faz
importantes considerações sobre a questão das opressões sobre os Hebreus
pobres e desfavorecidos daquela época. Vejamos:
“Deus é proprietário absoluto e original das terras (Sl 24.1; 50.12; Dt. 10.14),
portanto, o titulo de propriedade para qualquer parte dela não concede direitos
totais de posse aos proprietários humanos. Desde que os Hebreus pertenciam
a uma sociedade agrária, a restauração das terras alienadas dos primeiros
donos eram uma clausula importante na legislação divina. “Também a terra não
se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha...” (Lv.25.23). A tendência
humana natural de adquirir mais e mais terra, criando um monopólio não
deveria ser permitida. Em lugar de fracos e pobres serem forçados à
escravidão, em épocas de dificuldades, seja de fome ou de tragédia pessoal,
(como no caso de Noemi, Rt.1.1; 4.1-11), eles podiam começar de novo. Do
mesmo modo, os escravos israelitas (reduzidos a servidão em tempos de crise
e incapacitados de pagar uma dívida) deveria ser libertado em intervalos de
sete anos pré-estabelecidos (Dt.5.12). As mulheres também tinham seus
direitos protegidos por lei. Os que cometiam assassinatos não-premeditado
podiam encontrar proteção permanente contra o vingador do sangue mudando-
se para uma das cidades de refugio providas em lugares convenientes na
terra”. (SHEDD; 1984, p. 08).
Sobre a questão da prática da justiça Shedd diz:
“Uma vez que Deus odeia a opressão, ele quebrou as algemas da servidão de
Israel (Ex.23.10; Dt.15.15). Por ser o doador da prosperidade, e distribuidor da
riqueza, Deus exige que sua generosidade seja reconhecida com gratidão e
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louvor (Dt.8.11-20), acompanhada de um compromisso com a justiça. Deus é
Deus de misericórdia, portanto exigiu o cancelamento das dívidas e
empréstimos em tempos determinados (Dt.15.1-6), e mostra, então, o modelo
desejado para ser seguido pela nação em que é reconhecido”. (SHEDD; 1984,
P.09).
Para Shedd, Deus em sua rica misericórdia sempre se preocupou com os
desfavorecidos, estabelecendo leis que ajudaram os pobres em momentos de
crise. O texto revela de maneira clara o desejo do coração de Deus quanto à
questão da injustiça social. A justiça de Deus estabelecida pelas leis divinas
tem como prioridade favorecer os pobres, aos que tem por direito, ser gente.
Certamente a igreja como povo específico para ser a agenciadora da missão,
deve ter como modelo de visão missionária a visão de Deus. O autor da missão
deseja que sua igreja cumpra seu papel de Igreja relevante para os pobres. A
anunciação das boas novas do Reino ao povo deve estar acompanhada com
práticas de justiça, é ver as injustiças como Deus vê, pois ele aborrece as
opressões aos pobres, estrangeiros, viúvas e órfãos (Dt.10.18; 24.17;
Ex.23.1,6,7; Lv. 19.15; Ex.22.25). A missão em sua integralidade tem como
alvo salvar o homem em sua totalidade, oferecendo salvação, cura do corpo,
acolhimento, provisão material, libertação e dignidade humana, concedendo ao
indivíduo saúde moradia, alimento digno e qualificação profissional.
A missão é desafiadora, porém não é impossível. A abertura para essa
possibilidade está no simples fato de que Deus é o autor da missão, e nós
como igreja somos apenas cooperadores. É em Deus que a missão se realiza,
ele é o criador, o provedor, o administrador, é nele que as barreiras são
superadas, nele, a igreja sairá vitoriosa na missão. A ideia de confiar em
esforços humanos para fazer a missão está descartada, somente em Cristo
Jesus poderá haver êxito no cumprimento do que nos foi confiado, devemos
confiar em sua fidelidade, em sua promessa para a igreja, convictos de que
Deus haverá de cumprir sua missão por meio daqueles que foram chamados
para serem do Reino.
A MISSÃO INTEGRAL E A IGREJA NO PLANO INTEGRAL DE DEUS
O chamado para Igreja do Senhor Jesus aqui na terra está firmado em um
único propósito, e este é o de fazer a missão. Deus em sua infinita misericórdia
deseja restaurar o que foi danificado pela queda (Gn. 3.1-15). A ordem divina é
reconstruir, restaurar, renovar, onde o alvo aponta para novos céus e nova
terra (2. Pe.3.15; Ap.21.1; 2Co. 5.17). As terríveis consequências do Éden
promovidas pela desobediência do casal adâmico atingiu toda a criação,
gerando total degradação com consequência de morte ao ser humano, e isto
em dois aspectos, a saber: Morte física e espiritual. (Gn.2.7; 20.7; Rm.5. 12-21;
Ez.18.4).
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Em seu projeto restaurador, o Deus da Glória chama a igreja para ser
cooperadora de sua missão aqui na terra. Nós Igreja, recebemos de Deus a
missão de participarmos juntamente com ele neste projeto. Isto implica em
dizer que a igreja deve atuar numa dimensão global no que se refere a
reconstrução integral da criação. Logo, podemos dizer que a missão de Deus é
integral e nós somos chamados para sermos ajudadores nesta missão.
Como agenciadora da missão de Deus na terra, a igreja deve atuar em todas
as áreas danificadas. A ação na missão integral não está limitada apenas em
obra social que de costume fazemos em algumas de nossas igrejas. A missão
integral como diz Ariovaldo Ramos, não está focada apenas em uma junção
(corpo e espírito, material, espiritual). Deus em sua missão deseja transformar
toda a criação. Isto implica em dizer que a igreja como agenciadora, deve
desenvolver um papel de extrema relevância na sociedade. Deve ser porta-voz
de Deus na pregação do Evangelho de Jesus, denunciar as injustiças sociais,
envolver-se nas questões econômicas e políticas lutando pela justiça agrária e
urbana (Isaias 5.8), atuar em questões ecológicas ajudando a preservar o
grande jardim chamado terra (Gn. 2.15), lutar pelo direito dos desfavorecidos,
trazer dignidade aos desprezados. Fazer missão integral é envolver-se com
Deus de forma integralizada nas questões do Reino.
É pregando e fazendo a missão integral que a igreja demonstra seu amor pela
criação. Esta deve ser a verdadeira motivação. Amar a criação como Deus ama
e quem ama edifica, serve, abre mão de si em benefício do outros, a igreja
deve exercer um papel de serviçal do povo.
Pedro Arana diz: “A igreja, assim como o Senhor Jesus, deve ser uma igreja do
caminho e não do balcão. Ela não pode permanecer como espectadora da
história: tem de descer para onde se travam as lutas reais dos homens. Ali se
encontram as necessidades, que são o chamado premente da Igreja para que
possa cumprir sua missão” (Steuernagel, 86).
A igreja cumpre verdadeiramente sua missão quando ela sai para fazer,
traspondo os limites de seu “gueto eclesiástico”. Deve liberta-se do
confinamento, de seu “mosteiro”, e partir para o cumprimento da missão. A
missão torna-se relevante quando a igreja compreende que sua ação deve
transpor as barreiras da inercia, do tradicionalismo, do formalismo, da postura
espectadora da história, do egoísmo, dos preconceitos. Em fim, como igreja
devemos repensar nosso conceito sobre missão. Concordar com a trindade,
sermos cooperadores de Deus em sua missão, agentes que interagem com
Deus e a sociedade.
Como igreja, é preciso compreender a dimensão do Reino e da missão. Ver a
missão com os olhos de Deus, aceitar a condição de serva sabendo que a
missão é de Deus e não nossa. Entender a missão na sua integralidade, Fazer
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a missão de Deus é cooperar, amar, servir, agir, na expectativa de uma
restauração de toda a criação.
A Igreja como serva deve seguir o exemplo da cruz. A prática de justiça
aos desfavorecidos não se restringe apenas aos remidos.
Trilhar no caminho da cruz implica em renunciar a si mesmo em benefício do
próximo. Como diz o teólogo Dietrich Bonhoeffer, “A igreja só é igreja,
quando existe para os outros”. E esta é a árdua tarefa da igreja, prestar
serviços voluntários aos outros, quer por palavras ou em atos de fraternidade.
Nossas ações não devem trazer benefícios apenas para os que fazem parte do
“clã-evangélico”, mas proporcionar justiça para todos os que precisam dela. Na
prática, estas ações devem alcançar os mais desfavorecidos, gente esquecida
pelas autoridades políticas, como sem terra, sem teto, sem habitação, sem
saúde, sem alimento, sem dignidade humana. Como serva, a igreja também
deve pressionar as autoridades governamentais sobre as questões da injustiça
aos desfavorecidos. Deve ser porta-voz dos mais fracos e oprimidos, protestar,
denunciar, clamar. A mesma indignação da parte de Deus quanto às injustiças
sociais deve refletir de forma relevante na missão da igreja. Como sal e luz do
mundo, somos comissionados a sermos diferentes, seguindo o caminho da
cruz.
Shedd diz:
“O estilo de Jesus, que Paulo imita e pede aos seus leitores que sigam seu
exemplo, é o caminho da cruz, uma vida vivida a favor de outros, sacrificando a
si mesmo por um mundo que perece devido à ignorância da verdade salvadora
e pela igreja empenhada em aliviar os membros destituídos da “família”. Mas
essas expressões materiais de compaixão não devem ficar limitadas aos
remidos. Deus fez do seu povo sal e luz (Mt.5.14-16), indicando que a
semelhança do bom samaritano, os cristãos se encontram sob as ordens do
Mestre a fim de estender misericórdia compassiva a todos os “próximos”
necessitados (Lc.10.26s). Além disso, “ele mesmo resplandeceu em nossos
corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de
Cristo” (2 co.4.6)”. (SHEDD; 1984, p. 29-30).
A atitude de um “Bom samaritano” supera de forma alargada qualquer
expectativa do sistema religioso. Esta superação está no fato de que os do
Reino haverão de praticar a justiça não para receber algum tipo de recompensa
ou reconhecimento terreno, mas a faz por amor a Deus e ao próximo. Esta
justiça é expressa em atos de bondade, misericórdia, compaixão e acolhimento
onde no sistema religioso não há espaço para tais práticas.
Nas palavras de Jesus, é revelada a grandeza e dimensão dessa justiça. Ela
deve superar de forma abastarda a dos religiosos.
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Disse Jesus: Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a
dos escribas e fariseus, jamais entrareis no Reino dos Céus. (Mt.5.20).
A justiça dos escribas e fariseus estava forjada em ritos, tradições, formas e
legalidades. Jesus desafia seus discípulos a prática da verdadeira justiça. Esta
deveria evidenciar-se não na aparência, mas em um coração transformado
pelo poder do evangelho, um estilo de vida que reflete o caráter de Deus, uma
maneira de adoração onde o Eteno é glorificado, onde não há necessidade de
manifestações exteriorizadas para que outros vejam nossas práticas de justiça,
uma justiça não egocêntrica, mas cristocêntrica.
A prática da verdadeira justiça vivenciada pelos discípulos de Jesus deve gerar
perseguição, exclusão, descriminação, descontentamento, preconceito, foi
assim que aconteceu com os profetas do AT e consequentemente com os
discípulos de Cristo (Mt.5.10-12).
Então, fazer a missão é servir, concordar com a trindade, é ser do Reino e
encarnar seus valores, é seguir o caminho da cruz, anunciando as boas novas,
praticando ações de justiça até a manifestação do Rei Jesus em glória. Como
já foi dito, a igreja não deve ser apenas uma espectadora dos fatos, mas
desenvolver seu papel de serva, saciar sua fome e sede por justiça,
compreendendo o profundo sentido de sua missão. Ao Deus toda a Glória para
todo o sempre. Amém!
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BIBLIOGRAFIA:
RAMOS, Ariovaldo, Igreja e eu com isso?, São Paulo: ed. Reflexão, 2012,
51pp.
SHEDD, P. Russell, A Justiça Social e a Interpretação da Bíblia, São Paulo: ed.
Vida Nova, 1984, 45pp.
QUEIROZ, Carlos, Ser é o Bastante: Felicidade à luz do sermão do monte,
Viçosa: ed. Ultimato, Reflexão 2003, 229pp.
CONCORDÂNCIA BÍBLICA ABREVIADA: Edição contemporânea, E.U.A.1992.
ed. Vida, 287pp.
BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de estudos Shedd. São Paulo: ed. Vida Nova, 1998.
1786 pp.
BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de estudo de Genebra. São Paulo: ed. Cultura Cristã,
1999. 1710pp.
CARRIKER, TIMÓTEO. Missão Integral: Uma teologia bíblica. São Paulo: ed.
Sepal, 1992. Pg. 72-88.
SITES:
www.teologiabrasileira.com.br
www.teologiaevida.com.br
http://biblecommenter.com/romans/6-18.htm
www.prcarlosqueiroz.blospot.com
www.ariovaldoramos.blogspot.com
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