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C. G R IM A U DProfessor de Filosofia do Externato dos "Enfants-Nantais"
“M I N H A ” M I S S A
T radução de M. M. J. M.
Segunda edição
&
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POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. BISPO DE NITERÓI, D. JOSÉ PEREIRA ALVES. PETRÔPOLIS. 2I-3-I944.
FREI ATICO ETNG, O. F. M.
TODOS OS DIREITOS RE8ERVADOS
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PRÓLOGO
M uitas alm as cristãs se inquietam por trabalhar tão pouco para a glória de D e u s ! Vêem que o tem po passa e temem achar-se transportadas aos um brais da eternidade com as mãos vazias.
E por isso quereriam te r atingido perfeitam ente o fim para o qual foram criadas, que é o de louvar a Deus. M as, inpedidas pelos negócios, ou por moléstias, sobrecarregadas pela família, queixam -se de ver passar os dias, sem glorificar devidam ente a Deus.
Lançando um olhar pelo mundo, estas mesmas alm as escandalizam-se po r ver a D eus tão ofendido, tão esquecido. . . e perguntam como o A ltíssimo pode suportar tan tas in júrias da parte de suas criaturas. E êstes pensam entos perturbam -lhes a fé. D esejosas de expandir o Reino de Deus, querem saber qual meio poderiam em pregar para end ireitar êste m undo, e dar ao A u to r de tôdas as coisas a glória a que tem direito.
O h ! que estas alm as não desanim em ! Sua pena provém da falta de luzes: nem podem im aginar a cópia de louvores que se elevam perpetuam ente desta te rra , em aparência tão ingrata, ao trono da D ivina M a je s ta d e .. . e ainda menos imaginam que talvez elas mesm as podem dar a Deus "a honra perfeita e com pleta” que tão a rdentem ente desejam , contanto que cooperem com Cristo na homenagem infinita que Êle rende à Santíssima Trindade.
Devem unicam ente renovar a oferenda do Calvário: com, em e por Cristo, têm elas o meio de ating ir completamente o fim que Deus lhes determinou, que é dar-L he um a glória perfeita sem som bras nem desfalecimentos. E não haverá um a doutrina consoladora e cheia de pacificação, que
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6 PRÓLOGO
desvende o grande m istério da paciência de Deus para com o m undo pecador?
Ê ste livro destina-se a p rocu rar ab rir às inteligências cristãs, ávidas do desejo de serv ir a Deus, de propagar o seu reino, e de se p reparar para a e ternidade, conhecimentos talvez ignorados acêrca do Sacrifício de nossos altares.
Visa ensinar que não é só Cristo que deve celeb ra r a S. M is s a . . . mas que Êle une a si os seus f ié i s . . . ou antes que Êle e seus fiéis form am "um só Cristo” que apresenta a D eus louvores in finit o s . . . de m aneira que cada um de nós, deixando de lado esta frase, mais fam iliar do que exata: "V ou à M issa” , a substitua por esta ou tra: “Vou celebrar a m inha M issa com Cristo .”
Dêste conhecimento mais nítido de nossa p a rticipação ao ato sacerdotal de Nosso Senhor, resultarão para nossa vida cristã imensas vantagens:
Em prim eiro lugar nos interessarem os pela S. Missa como fazemos pelas coisas que são nossas; desde então procurarem os estudá-la m elhor para nela ter m aior parte ; terem os felicidade em assistir a ela.
Depois nos sentirem os consolados. E xperim entarem os realm ente que não somos mais “sêres inúteis” desde o m omento em que tiverm os consciência de exercer a mais nobre das funções, concorrendo para d a r a D eus um louvor perfeito e completo, prelúdio daquele que Lhe darem os por interm édio de Jesus C risto por tôda a eternidade.
Nossa perfeição espiritual desenvolver-se-á. P a ra estar mais inteiram ente unido a C risto no ato precioso da oblação, não hesitarem os em nos conform ar em tudo à sua santíssim a V ontade, em nos
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PRÓLOGO 7
privar de tudo o que Lhe desagrada, em procura r tudo o que Lhe é agradável, a fim de realizar em nós a perfeita un iform idade de pensam entos e de sentim entos en tre o Sacerdote E terno e os seus humildes colaboradores.
Serem os cristãos intrépidos e irrepreensíveis; pois que podem tem er dos hom ens ou dos acontecimentos aqueles que penetram com Cristo na intim idade de Deus, Senhor dos corações e soberano Senhor de tôdas as coisas?
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D IV IS Ã O DA O BRA
“ M IN H A ” M IS S A com preende três partes:
P R IM E IR A P A R T E
“Minha” parte no Sacerdócio de Cristo
S E G U N D A P A R T E
O ato que realizo celebrando “minha” Missa
T E R C E IR A P A R T E
Meios para eu bem celebrar “minha” Missa
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P R IM E IR A P A R T E
“Minha” parte no Sacerdócio de Cristo
O prim eiro capítulo:
Jesus Cristo Sacerdotelem brará as verdades fundam entais acerca do S a
cerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O segundo capítulo:O cristão, membro de Cristo
cnsinar-nos-á como form am os um a unidade com Jesus Sacerdote.
O terceiro capítulo:O membro se oferece e sacrifica com a cabeçaexplicará a parte que o fiel toma no ato sacerdotal
de Jesus Sacerdote.
O quarto capítulo:A S. Missa, sacrifício visível do Cristo místicom ostrará que as verdades, contidas nos capítulos anteriores, são traduzidas visivelmente na L iturg ia
do santo sacrifício da M issa
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P R I M E I R A P A R T E
C A P ÍT U L O I.
JESUS CRISTO SACERDOTEO ÚNICO SEK CAPAZ DE OFERECER A DEUS UMA HO
MENAGEM INFINITA E REPARADORA Ê CRISTO. HOMEM COMO OS PECADORES. MAS DEUS COMO SEU PAI, E, POR ESTE TITULO DE HOMEM-DEUS, SACERDOTE OFICIAL DA DIVINDADE.
O decreto divino Pelo pecado o homem se perdera.Deus ofendido poderia ter abandonado a hu
m anidade à triste sorte da condenação. E seria m era justiça. M as esta solução não teria sido tão misericordiosa, nem sobretudo tão gloriosa para Deus, pois a criação do homem, a “obra-prim a” das mão divinas, afinal teria como resultado um fiasco.
Deus decidiu, pois, salvar o homem.M as de que modo?O Altíssimo, infinitam ente bom, poderia te r re-
habilitado a hum anidade, perdoando-lhe simplesmente o pecado. M as êste perdão, na verdade, teria sido dem asiado fácil para nós e mui pouco honroso para Deus.
Deus poderia ter exigido dos hom ens atos de reparação por meio dos quais seriam perdoados. M as não tendo os atos dêste “micróbio revoltado” valor algum por si mesmos, Deus teria resolvido conceder o perdão sem condições.
A infinita M ajestade, em sua m aravilhosa sabedoria, decretou um a medida sublime de liberalidade e de bondade, a qual lhe perm itia salvar ao m esmo tempo o homem, salvaguardar os direitos da justiça, e obter, além disso, um a glorificação perfeita da parte da criação, que dêste modo atin giria com pletamente o seu fim.
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Deus decretou que o Filho, a segunda pessoa da Santissim a T rindade, se tornasse Sacerdote, isto c, que o Verbo, Filho de Deus, se abaixasse à condição hum ana, para executar como Homem, representante de tôda a sua raça, em honra da Santíssim a T rindade, um ato sacerdotal, pelo qual Deus seria louvado, glorificado e engrandecido, e a hum anidade pagaria sua dívida e se resgataria.
Êste plano executou-se por decreto do Pai, coad juvado pelo Espírito Santo, “ex voluntate Pa- tris cooperante Sp iritu Sancto”1, como o a firm a a L iturgia.
Assim Deus, em seus eternos desígnios, poderá t ira r da criação a m aior glória possível, graças ao decreto pelo qual constitui a Jesus Cristo, Hom em - Deus, seu Sacerdote oficial.
A noç&o de sacerdóoloM as que c ser sacerdote?É ser encarregado pelo O nipotente de relacio
n ar a c ria tura com o Criador, de estabelecer entre o homem e Deus as relações necessárias.
S er sacerdote é ser "m edianeiro” .O sacerdote é a ponte colocada entre o céu e a
te rra ; é por isso, dizem, que Jesus Sacerdote merece o nome de Pontífice. “Foi constituído a fa vor dos hom ens nas coisas que dizem respeito ao culto divino.” (H eb 5, 1.)
O sacerdote é encarregado de oferecer ao A ltíssimo as hom enagens públicas e solenes que oficialmente lhe deve a sociedade hum ana; esta, constituída por Deus, não pode subsistir sem sacerdote.
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1) Ord. da S. Missa.
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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D OTE 13
Jesus Cristo Sumo SacerdoteU m único homem foi escolhido por Deus para
rea ta r plenamente entre seus sem elhantes e a M ajestade divina as relações interceptadas pelo pecado, rendendo à Santíssim a T rindade tôda a honra que lhe é devida.
Êste sacerdote incomparável é nosso Senhor J e sus Cristo.
Deus podê-Lo-ia te r escolhido e feito sacerdote, ainda no caso em que a raça hum ana tivesse perm anecido inocente, a fim de que êste “chefe” da hum anidade a fizesse render ao seu C riador a homenagem perfeita, e estabelecesse entre o céu e a terra relações íntimas. N este caso, o ato sacerdotal de C risto teria consistido em render a Deus, da parte dos homens, um a glorificação isenta de reparação: seu sacrifício teria sido todo de louvores e de ações de graças, e não de expiação.
M as como o homem havia pecado, Cristo Sacerdote, cuja missão era p rocu rar a m aior glória de Deus, devia, para a ting ir êsse alvo, apagar os pecados e satisfazer pelo mal cometido: por isso é que Deus decretou em sua sabedoria que o ato essencial do sacerdócio de Cristo fôsse um sacrifício cruento. E xigiu do Hom em - Deus, p ronto a obedecer, a m orte cruel de cruz.
Como um só homem foi escolhido por Deus para oferecer êste sacrifício, só há um Sacerdote principal e essencial, Jesus Cristo, capaz como H o- m em-Deus de expiar os pecados, de' g lorificar a M ajestade divina, de oferecer um a homenagem que tenha um valor infinito.
Jesus Cristo, Sum o Sacerdote, é, pois, o Sacerdote dos homens, o nosso Sacerdote, porque é nosso interm ediário, indispensável en tre nós e a Santíssim a Trindade: não temos e não podemos te r outros.
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P o r esta razão lhe dizemos no Glória: “Só vós sois Santo, só vós sois Senhor, só vós sois A ltíssim o.” 2 “Só nÊle há salvação.” (A t 4, 12.)
Por que Jesus Cristo é nosso sacerdote?P ara ser nosso sacerdote, devia Jesus subm eter-
se a várias condições:1. Convinha que se tornasse m embro da raça
hum ana, um dos nossos, sem ó que não podia ser nosso representante. P a ra pu rifica r a hum anidade m aculada pelo pecado, Deus exigia um a reparação tal que, sem deixar de ser hum ana, fôsse suficiente e superabundante, isto é, infinita. E ra , pois, necessário, para executar o decreto divino da restauração da glória de Deus, que “o Verbo se fizesse carne”. “ Como os filhos com partilham da carne e do sangue, também Êle com partilhou . . . devia to rnar-se sem elhante aos seus irm ãos.” (H eb 2, 17.)
2. Convinha que fôsse da “raça” de Deus, sem o que não poderia oferecer um a reparação e uma adoração; as quais, para serem suficientes, deviam ser infinitas.
P o r esta causa é que, para executar o decreto da restauração de sua glória, a M ajestade divina não designou um homem eminente, nem o mais belo dos anjos, mas o H om em -D eus que, sem deix a r de sef homem, fôsse ao mesmo tempo o Filho de Deus, segunda pessoa da Santíssim a T rindade, igual ao Pai e ao Espírito Santo.
Só êste Sacerdote, porque é homem e Deus, é capaz de oferecer a Deus um culto suficiente.
3. Convinha que recebesse do próprio Deus a missão sacerdotal e que tivesse a vocação ao sacerdócio; consiste a vocação essencialmente no cha
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2) Ord. da S. Missa.
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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D O TE 15
mam ento ao fim determ inado pela au toridade competente.
O ra, Deus chamou Nosso Senhor ao sacerdócio suprem o: Jesus C risto — diz São Paulo — não se glorificou a si mesmo para to rnar-se Pon tífice, mas Aquele que Lhe disse: “És meu filho, hoje te gerei." (H eb 5, 5.) A inda que o Filho seja o Filho desde tôda a eternidade, estas palavras só lhe foram dirigidas, segundo o salmista, no momento em que assum iu a natureza hum ana. Fazendo-se homem, foi no mesmo instante consagrado Sacerdote, isto é, M ediador do gênero hum ano jun to de Deus. Seu Pai confirm a-Lhe esta dignidade por ju ra mento: “O Senhor ju rou-o, e não se arrependerá: T u és sacerdote por tôda a eternidade.” (SI 109, S.)
4. E ra preciso que o eleito aceitasse vo luntariam ente esta missão sacerdotal, porque o sacerdote não pode ser obrigado.
O ra, Jesus C risto aceitou com transportes de jú bilo a decisão eterna de ser consagrado Sacerdote. E sta submissão do V erbo Incarnado data do instante em que tomou o corpo. Revela-nos por estas palavras que disse a seu Pai, ao en tra r neste m u n d o : N ão quisestes sacrifícios nem oblações, mas preparastes-m e um corpo” (a fim de que se tornasse evidentem ente a m atéria do sacrifício e da o b lação ). . . “então ou disse: E is que venho, ó Deus, fazer a Vossa vontade.” (H eb 10, 7.)
Quando se realizou a consagração sacerdotal de Cristo?
A "ordenação” de Jesus Cristo, se é que se Lhe possa aplicar êste têrm o, efetuou-se no instante da incarnação. N esse momento sua natureza hu m ana recebeu de sua união à natureza divina, pela pessoa do Verbo, todos os poderes sacerdotais. Essa união à natureza divina dava-Lhe um a missão determ inada, que consistia em apresentar a Deus,
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em nome de todo o gênero hum ano, passado, p resente e futuro, uma homenagem infinitam ente perfeita de adoração, de louvor, de agradecim ento, de reparação e de súplica.
Nesse instante, portanto, Jesus C risto foi “o rdenado sacerdote” porque se tornou Homem-Deus. E como êsse sacerdócio jam ais cessará, sua consagração perm anecerá eternam ente: Êle será “sacerdote por tôda a e ternidade” .
O sacrifício de Jesus sacerdote.Jesus Cristo foi ordenado Sacerdote em vista de
um sacrifício a oferecer à D ivindade em nome dos homens, porque o sacerdócio só tem razão de ser na oblação de um sacrifício.
Jesus Cristo Sum o Sacerdote oferece um sacrifício único, o do Calvário. Im ola-se na Cruz a seu Pai, para que sejam reconhecidos de modo absoluto o soberano domínio e o infinito poder de Deus.
Com efeito, se a cria tura mais perfeita que pôde ser concebida pela Sabedoria divina, foi obrigada a se aniquilar an te seu A utor, c prova evidente que “Deus só” é Senhor absoluto, e que tudo lhe é submisso no céu e na terra .
Este aniquilam ento do H om em -D eus é, pois, um reconhecimento efetivo, sensível e oficial, da suprem acia divina. Constitui uma adoração perfeita de Deus, um a ação de graças infinita, uma reparação completa.
É tal o alcance do Sacrifício da Cruz que, por si só e de um só lance, basta para ating ir plenam ente e sem restrição o fim suprem o da glorificação de Deus pela criatura.
M as se basta, por si mesmo, para acum ular ein um só todos os tesouros de homenagem e reparação, resta aplicar estas riquezas de graças e de redenção no espaço e no tempo.
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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D O TE 17
De que modo cada ser hum ano, cada família, a sociedade inteira poderá tom ar parte nesta hom enagem infinita? Em resumo, por que meios se espalharão no m undo os benefícios do Calvário?
Pela renovação quotidiana do Sacrifício único, pela Missa.
O sacrifício eucarístico de Cristo nos dá a possibilidade e o direito de partic ipar do Sacrifício redentor do Gólgota, perm itindo-nos nêle representar, como veremos, um papel pessoal, como se tivéssemos vivido no dia de sua consumação, entre M aria Santíssim a e S. João, aos pés da Cruz.
O Sacerdote c os sacerdotesJesus Cristo é, pois, o Sacerdote, o Sacerdote
principal, o único Sacerdote por si mesmo, o mais completo e perfeito que jam ais existiu ou existirá, o que oferece o sacrifício único que Deus jam ais tenha exigido, único capaz de satisfazer, pois os ou tros sacrifícios apenas foram aceitos como figuras dêste.
Q ue são, pois, os sacerdotes, êsses homens que celebram a Santa Missa na sociedade cristã e exercem as funções sagradas?
São para nós os representantes de Jesus Cristo. O cupam o lugar de Jesus Cristo. São Jesus C risto visível e agindo entre nós.
Como nosso Senhor não quis prolongar pelo decurso dos séculos sua existência te rrestre para exercer na sociedade hum ana suas funções sacerdotais de um modo sensível, escolheu um certo nú m ero de homens, que assinalou com um cará te r especial e inextinguível e por meio do qual lhes confere o poder de exercer visivelmente sua ação sobrenatural en tre nós.
Com efeito, Jesus Cristo e seu m inistro são um só m oralm ente; ambos executam um mesmo ato:
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o poder de C risto dá-lhe a eficácia, e a presença do sacerdote torna-o visível.
Sendo os sacerdotes instrum entos de que se serve o Sacerdote Suprem o para exercer en tre os hom ens suas funções sacerdotais, é na verdade sublime a sua dignidade, m aravilhosas são as suas prerrogativas, mui vantajosa c a sua missão, porque estão em contacto direto com a Fonte dc todos os bens sobrenaturais, na qual podem hau r ir graças de escol.
O Sacerdote, os sacerdotes, os fléls e a S. Missa
Jesus Cristo é o Sacerdote único, estabelecido por Deus para un ir a terra ao Céu, oferecendo à eterna M ajestade, sôbre o Calvário, o sacrificio infinito de louvor, de adoração e de reparação.
M as Jesus Sacerdote não quis que sua grande imolação fôsse para os cristãos, no futuro, apenas um “ fato histórico” , fadado a desaparecer pouco a pouco da m em ória dos homens, imerso nas brumas de um passado remoto. P o r isso quis que, no decurso dos séculos, se renovasse, tantas vêzes quantas fôsse preciso, o seu sacrifício.
E com o fito de imolar-se de novo em união com seu povo fiel e aplicar-lhe especialmente uma p a rte dos m éritos de sua Paixão, C risto Jesus assinala com o sêlo divino certos hom ens que o reproduzirão sôbre o a lta r em momentos determ inados: são os sacerdotes, verdadeiros com participes de seu sacerdócio eterno. E a renovação do ato sacerdotal de C risto é a S. Missa.
Eis, portanto, um único sacerdote, um único sacrifício, oferecido pelos sacerdotes, homens intim am ente unidos ao Sacerdote Suprem o e dotados de seu poder.
Pelo m inistério de seus sacerdotes, C risto renova êste mesmo sacrifício em cada S. M issa, para
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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D OTE 19
que todos os fiéis do m undo possam dêle partic ip a r e receber seus frutos.
A parte dos fiéis na S. MissaVamos, pois, estudar esta “participação” reser
vada aos simples fiéis na oblação do sacrifício de Jesus Sacerdote.
Verem os que, mesmo não sendo, como os sacerdotes, os sacrificadores oficiais da santa V ítima, os fiéis a oferecem pelas mãos do celebrante e, po r isso mesmo, têm um papel muito im portante na oblação, a qual não se pode e fe tuar sem seu concurso. Êste papel no culto, esta participação dos simples batizados nas funções sacerdotais de Cristo valeu ao povo cristão o título de “sacerdócio real” (1 Ped 2, 9 ) , que lhe dá São Pedro, “sacerdócio santo, encarregado de oferecer hóstias agradáveis a D eus” (1 Ped 2, 5 ), como o provaremos a seguir.
N ão se deverá adm irar o leitor se, no curso do presente volume, o papel adm irável dos sacerdotes e a sua dignidade sublime parecem ficar um pouco de lado. Não será por desprêzo, nem por esquecimento.
Sendo o objetivo dêste livro m ostrar aos fiéis, para sua consolação e devoção, a parte imensa e quiçá desconhecida que, em união com o celebrante, têm no sacrifício, devemo-nos ocupar especialmente dêste assunto.
O s leitores que desejarem conhecer mais especialm ente as grandezas do sacerdócio, encontrarão em m uitas obras sôbre a S. M issa e o sacerdote o suplem ento de edificação que estão no direito de desejar.
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P R IM E IR A PA R T E
C A P ÍT U L O II
O CRISTÃO MEMBRO DE CRISTOSE CRISTO E O SACERDOTE SUPREMO. O CRISTÃO,
PARCELA DE CRISTO, COOPERA POR CONSEQUÊNCIA NOS ATOS SACERDOTAIS DE CRISTO.
Cristo místicoUm único Sacerdote oferece a S. M issa, Je
sus Cristo.M as que en tender aqui por Jesus Cristo?A resposta a esta pergunta vai abrir-nos hori
zonte incomensuráveis.Cristo que oferece a S. M issa não é, como mui
facilmente imaginam os fiéis, C risto aniquilado e hum ilhado como estava 110 Calvário: Jesus Cristo não existe mais sob esta form a, que já é passada para Êle.
Cristo que oferece a S. M issa e está presente no a lta r é C risto atual, glorioso, triun fan te no céu, assentado à direita de seu Pai, e ocupado em term in a r a obra da Redenção.
Mas êste Cristo a tual não se apresenta só. A Jesus Cristo, Cabeça e Chefe, está agregado seu Corpo M ístico que é a Ig reja , sociedade dos fiéis. Jesus C risto e o seu Corpo M ístico form am o “C risto to tal” , como o chama Santo A gostinho, aquele que doravante oferece a Deus, sôbre o altar, a homenagem do Sacrifício infinito: “O Cristo total é cabeça e corpo: a cabeça é o Filho de Deus, o corpo é a Ig re ja .”1
Que quer dizer Cristo MísticoC risto místico, sumo Sacerdote do Altíssimo, é,
pois, Jesus, unido aos fiéis, como nossa cabeça está unida aos membros, para form ar um conjunto perfeito , agindo para um mesmo fim.
1) De unitate Eccleslæ contra donatlstas, n. 7.
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A Santa I g re ja , a sociedade dos fiéis sob o dom ínio de Cristo, é o “ Corpo místico” de C risto; Ê le é a cabeça dêste corpo, e os fiéis são os m emb r o s . . . A Ig re ja é, pois, o “complemento” de Cristo. (E f 1, 23.)
N ão devemos im aginar que a designação “m ístico” possa fazer acred itar que êste corpo seja um a ficção. “Cristo m ístico” não tem nada de im aginário. É Cristo tal como existe atualmente, como Chefe inseparável de seus m embros resgatados, tributando, em união com êles, uma glória perfeita à Santíssim a T rindade.
Como é constituído o “Corpo Místico” de Cristo
O "Corpo M ístico” ou “ Ig re ja de C risto” é a sociedade dos fiéis unidos a Cristo.
M as como se faz a união dos membros com a Cabeça nesta “sociedade dos fiéis” ? De um modo especial e incomparável que precisamos fazer compreender devidamente.
Cada sociedade une seus mem bros en tre si e ao chefe por meio de um laço. P o r exemplo, os soldados estão unidos ao general em uin Corpo de exército pela concordância das vontades e pela aceitação de uma rigorosa disciplina em serviço da P á tria. O laço pelo qual a Ig re ja une seus membros é dum a natureza tôda diversa e m ui superior à de todos os laços que ligam aos seus respectivos chefes os membros das sociedades hum anas.
No “Corpo M ístico” , o cristão é unido ao chefe por um laço real de poder ex traordinário , o graça, princípio de vida sobrenatural.
E sta graça, que une e vivifica e transform a todos os membros, dim ana da Cabeça. Com efeito, Cristo-Cabeça é cheio do Esp írito Santo, que é a alm a do Chefe e de todo o “Corpo M ístico” . Dêste Espírito desce por meio da cabeça até aos mem-
CAP. n. O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 21
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bros um eflúvio vivificador que dá a vida: "vw i- ficantem " .2
E sta graça exerce, em vista da constituição de “C risto mistico” , um a m aravilhosa função, que é a de tran sfo rm ar o “velho hom em ” ( E f 4, 22), como o denomina S. Paulo, isto é, o homem decaído, incapaz de adaptar-se atualm ente ao Corpo M istico, ein homem "novo” ou sobrenatural que, pelo fato de sua transform ação, se acha “enxertado” (R om 6, 5) em Cristo Chefe.
A metamorfose do "velho homem"O “homem velho” , sob a influência da graça,
sofre uma transform ação, que, dando-lhe o estado sobrenatural, o assimila ao Corpo M ístico.
Pode-se fazer com preender esta ação apenas por meio de comparações.
Cristo é um diam ante magnífico que irradia, como um sol, a luz que Lhe comunica o E spírito Santo: essa irradiação é a graça.
O ra, êste diam ante tem a propriedade m aravilhosa de dar o brilho do diam ante a todos os grãos de areia que entram na sua irradiação, isto é, a todos os homens pecadores que se submetem à graça de Cristo. Irrad iando êles, de sua parte , a luz recebida de Cristo, tornam -se resplandecentes.
Se um dêsses brilhantes sai do cam po de irra diação, torna-se im ediatam ente grão de areia: o homem novo volta a ser “na tu ra l”, homem de pecado, não é m ais de Cristo.
O conjunto dos diam antes aglom erados em to rno do diam ante central e no eflúvio de seus raios, form a o Corpo M ístico, cujo brilho se reflete todo para o céu. Todo êsse esplendor está oculto à te rra sob um véu, de m aneira que a vista corporal não faz d iferença en tre o homem natural, separado
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2) Símbolo de Nicéia.
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CAP. II. O CRISTÃO, M EM BRO D E CR ISTO 23
do Corpo de Cristo, e o homem sobrenaturalizado, que só “se revelará a si mesmo" (R om 8, 18), depois da queda do invólucro mortal.
A parte do Corpo Místico que está no céu sempre sc vai aCrescendo de novos eleitos, pois êstes, agrupados na irradiação do centro Jesus Cristo, “sol de justiça” , aum entam rapidam ente: de um Pentecostes a outro, “C risto vai crescendo” até chegar “à plenitude da idade de seu C orpo” M ístico, “até o crescimento perfeito” , in plenitudi- nem aetatis corporis C h r is ti . .. in v irum perfec- tum . (E f 4, 3.)
E ntão os tempos serão consumados: o núm ero dos eleitos estará completo.
A união do membro ao seu chefeE sta com paração auxilia a com preender a m eta
m orfose do m embro sob a influência da graça ; não denota, porém, ainda bastante a união vital que existe en tre Cristo e o fiel sobrenaturalizado. É preciso, para m ostrar até onde vai a intim idade da ligação que une os membros à Cabeça no Corpo M ístico, reco rre r à imagem tão expressiva pela qual nosso Senhor ijiesmo se dignou iniciar-nos neste grande mistério.
N osso Senhor disse aos seus Apóstolos: “E u sou a videira de v e rd a d e .. . meu Pai é o ja rd ine ir o . . . Perm anecei em mim e eu em v ó s . . . Do m esmo modo que os ramos só podem d a r fru tos com a condição de ficarem unidos à videira, assim acontecerá convosco se estiverdes unidos a mim.
“Eu sou a videira, vós sois os ram os; aquêle que perm anece em mim dá m uitos frutos, porque sem mim nada podeis f a z e r . . . Perm anecei no meu a m o r . . . Disse-vos tudo isto, a fim de que vos alegrásseis e para que a vossa alegria fôsse completa.” (Jo 15, 1 e 55.)
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P R IM E IR A PA R T E
"E u sou a videira, vós sois os ram os.” Nosso Senhor não podia escolher imagem mais característica para fazer-nos com preender até que ponto de intimidade, de união, o fiel vive unido a Êle neste todo que é C risto M ístico. O s ram os e a cepa que os sustenta form am um ser vivo: o fiel e Cristo form am um ser participante da vida divina.
Quem sustenta as uvas? O s ram os, certam ente; mas nunca sem o concurso do tronco: o fiel p roduz fru tos de adoração, de louvor, de reparação, porém nunca sem Cristo. “ Sem mim nada podeis fazer.”
O tronco produz seus fru tos por meio dos ra mos: Jesus Cristo faz germ inar nos' fiéis de sua Igreja , unidos a Êle, m aravilhas de santidade. Mas, se o tronco tem necesidade de ram os para produzir frutos, pode dispensar um ou ou tro dêles: tal sarm ento fica im ediatam ente privado da vida da cepa: continua, contudo, ligado ainda ao tronco pela fé e pelo cará te r de cristão. Poderá receber de novo a vida pela graça do perdão.
Impossível exprim ir mais nitidam ente a união do fiel com Cristo, união vital, indispensável. O cristão, para viver, deve “ser um ” com Cristo, neste grande organism o sobrenatural que é o Corpo Místico.
Será fácil com preender desde logo cm que consiste o “C risto to tal” , tronco, ramos, sarm entos, fôlhas e frutos. C risto possui na sua hum anidade e em tôda a plenitude a seiva de que a D ivindade O enriqueceu, e Êle a faz c ircu lar até às extrem idades de seus órgãos, isto é, até à m enor das alm as ligadas a Êle.
Q ue seiva é esta que o Cristo, tronco divino, vai haurindo na Santíssim a T rindade? É a “graça san tifican te” . Nosso Senhor com para-a à seiva que
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CAP. n . O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 25
o Espírito Santo produz, conserva e faz circula r na sua Ig reja , E sp írito que anim ava a Cristo, nosso Chefe, desde o instante de sua conceição, segundo a palavra do A njo a M aria SS.: “O E spírito Santo cobrir-te-á com som bra e conceberás.” (L c 1,35.) Este E spírito de Deus, que S. Paulo cham a indistintam ente o Espírito Santo ou o E spírito de Jesus, faz c ircular em todos os m embros do Corpo Místico a vida do Chefe: é pelo “E spírito que se expande em nossos corações a caridade” (R om 5, 5 ), isto é, o am or que une e v iv ifica: “E u sou a videira, vós sois os r a m o s .. . permanecei no meu am or.”
As consequências práticas da existência do Corpo Místico
Nosso Senhor revelou-nos pela afirm ação: "E u sou a videira, vós sois os ram os”, a existência do C risto M ístico.
J á que existe, êste Corpo M ístico deve exercer suas funções e devemos encontrá-lo em atividade. É justam ente o que acontece. Em várias passagens o texto sagrado nos assinala consequências da união entre o Chefe e os membros.
Falando Nosso Senhor do juizo universal, p ronuncia estas palavras: “Tive fome a destes-m e de com er. . . E stava nu e vestistes-me. doente e visitastes-m e . . . pobre e socorrestes-m e, porque, eu vo-lo digo, o que fizestes ao menor dos meus, a mim é que o fizestes.” (M t 25, 36.)
Impossível a firm ar mais categoricam ente a função do Corpo Místico. O pobre, o doente, o faminto, é membro de Cristo, como a m inha mão é parte de mim m esm o; do mesmo modo que aquê- le que tra ta do meu ôlho, do meu pé ou do meu braço, me tra ta a mim, também o que socorre um membro de Cristo, socorre o próprio Cristo.
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Pelo contrário , aquêle que fizesse so fre r um membro de Cristo, faria so fre r o próprio Cristo. É nosso Senhor quem o afirm a claram ente. Q uando S. Paulo, fulm inado no caminho de Damasco, lhe perguntou: “Senhor, que quereis de m im ?” respondeu: “Eu sou Jesus a quem persegues.” (A t 9, 4 .) S. Paulo com preende logo'o sentido profundo desta palavra: persegue a Cristo, porque ataca seus membros.
Seria não com preender bem o pensam ento do grande A póstolo ver nesta palavra uma simples figura de linguagem em vez da expressão exata da realidade. Santo A gostinho nota que, se não fôssemos seus membros, Jesus C risto não d iria a Sau- lo: “ P o r que me persegues?” , pois Saulo não O perseguia, mas aos seus membros. Jesus Cristo não quis dizer: a meus santos, a meus servos, ou mais honrosam ente: a meus irmãos, mas a mim, isto é, a meus membros, dos quais sou a Cabeça3.
Assim, dependendo desta Cabeça, nós os membros “somos todos um mesmo corpo em C risto” . (Rom 12, 5.)
São Paulo insiste sôbre Cristo místico
N unca será demais insistir sôbre esta existência do C risto Místico e da nossa união com êle.
Êste m istério é, com efeito, o fundam ento de nossa participação no sacrifício do Calvário renovado todos os dias no altar. U m cristão não poderá celebrar “sua” M issa com Jesus Sacerdote, se não tiver idéias exatas de suas relações com Êle.
Por esta razão é necessário conhecer sempre mais o que é o Corpo M ístico, conform e S. P au lo insiste na im portância desta grande verdade.
“D a m esma form a, — diz êle, — que em um só corpo temos muitos m embros que não têm todos
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3) T rac t, in Jo 28.
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a mesma função, assim somos um só corpo cm C risto e membros uns dos ou tros.” (R om 12, 4. 5.)
A diversidade dos órgãos, longe de danificar o corpo hum ano, dá-lhe a ordem e a harm onia; da mesma form a, a variedade do Corpo Mistico dá- lhe a beleza: “O corpo não é um só membro, mas m u ito s . . . se fôsse um só membro, onde estaria o corpo?" (1 Cor 12, 14. 19.) “O corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, seja qual fô r o seu núm ero, form am uin só corpo: o mesmo se dá com C risto.” (1 Cor 12, 12.)
Todos êstes membros, unidos en tre si porque participam da vida do Chefe, estão ligados uns aos outros e não podem dispensar os m útuos serviços: “Q uando um membro sofre, todos tomam parte em sua p e n a ; quando um membro é honrado, todos com partilham da sua alegria.” ( IC o r 12, 26.)
N ão se pode a firm ar mais categoricam ente a união dos fiéis com C risto e de C risto com os fiéis.
O C risto “completo” , total, íntegro, encarregado de oferecer eternam ente a Deus sôbre o a lta r e no céu a homenagem da criação que serve de pedestal à sua hum anidade, é o “Chefe e seus membros” , êste todo imenso que é o C risto Místico: “Vós sois todos jun tos o Corpo de C risto e individualm ente sois seus mem bros.” (1 Cor 12, 25.)
Somos m embros de Jesus Cristo. E sta é a nossa condição. N ão somos apenas seus servos ou “mais honrosam ente seus irm ãos” , somos seus membros, transform ados à sua imagem e unidos intim am ente a Êle. S eria para desejar que todos os fiéis apreciassem no devido valor estas expressões que encerram extraord inárias consequências para suas almas.
CAP. II. O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 27
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A cabeça de Corpo MísticoCristo é a Cabeça dêste Corpo Místico.S. Paulo no-lo afirm a, particularizando a fun
ção de "chefe” exercida por Jesus Cristo. “Deus — disse êle, — deu-o como Cabeça à Ig re ja que é seu Corpo.” (E f 1, 22.) O influxo vital çircula em nós, seus membros, por meio de Cristo, como por interm édio de nossa cabeça circula o sangue em nossos braços, nossas mãos ou nossos pcs.
S. Paulo acrescenta: “A Ig re ja é, pois, o complemento de Cristo.” (E f 1, 23.) E la completa-o, como o corpo completa nossa cabeça, porque nossa cabeça não exerceria suas funções se não houvesse um organism o a ela a n e x o . . .
O Apóstolo term ina seu pensam ento dizendo: “ A Ig re ja é o complemento d A quele que se completa inteiram ente em todos os seus m em bros” (E f 1, 23 ), m ostrando que Cristo ficaria incom
pleto, se os fiéis não estivessem associados como m embros vivos a êste “chefe incom parável” .
Q uando estamos an te o tabernáculo ou em face do ostensório, pensemos que C risto presente é a Cabeça desta assembléia cristã de que fazemos parte, e que Ele e nós, ali presentes, não somos sêres justapostos, mas um só corpo sob “esta admirável Cabeça” . “N ão nos afigurem os que Cristo esteja só na cabeça e ausente dos m em bros; não, Êle está todo inteiro na cabeça e no corpo.” 4
Como Cristo Chefe C9tá ligado ao seu Corpo Místico
Como está ligada esta Cabeça ao corpo? E como se operam entre ambos as relações vitais? S. Paulo en tra em particularidades precisas para mostra r que a união se produz en tre Cristo e seu Cor
4) Aug. T rac t, in Jo 28.
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po M ístico, de um modo comparável em intimidade ao que liga nossa cabeça aos nossos membros.
Falando de um visionário de Colossas, o Apóstolo aponta-o abandonado às suas visões “e não aderindo à Cabeça pela qual o Corpo inteiro, conservado e unido por meio dos nervos e dos m úsculos, recebe o crescimento, segundo a vontade de D eus.” (Col 2, 19.)
A prim eira condição para que o Corpo receba da Cabeça a unidade, o crescimento norm al, todo o influxo vital, é, pois, para êle aderir à Cabeça.
P o r falta de adesão a Cristo, ésse visionário decaiu ; tornou-se como um membro gangrenado que será preciso desligar do tronco, se am eaçar com unicar sua corrupção. Dêste modo, volvemos à a f ir mação de C risto: “O sarm ento separado da cepa será lançado ao fogo, como inútil e sêco.” (Jo 15, 6.)
A adesão a Cristo, nossa Cabeça, é, pois, indispensável à nossa vida sobrenatural. Quão loucos aqueles que pretendem possuir uma v irtude verdadeira e vital sem C risto! Sem esta “adesão” do m embro à Cabeça, isto é, sem a Caridade ou, para m elhor dizer, segundo a linguagem corrente da piedade cristã, sem o estado de graça, não pode haver atos m eritórios, e portan to não há salvação.
Compreende-se que para os fiéis convictos destas verdades não há situação mais horrível para a a lma do que cair em pecado m ortal. "N ada há, — diz Santo A gostinho, — que o cristão tan to deva recear como o viver separado do Corpo de Cristo. Se está separado do Corpo de C risto, não é mais seu membro, não é mais anim ado pelo seu E spírito . E o A póstolo diz que aquele que não
CAP. n . O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 2»
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tem o Espírito de Cristo não faz mais parte de Cristo.”5
Veremos, a seguir, as imensas consequências que resultam desta necessidade de aderir ao Corpo Místico de C risto pela prática da vida espiritual, tôda baseada nos alicerces da caridade, "derramada na alm a pelo Espírito Santo” . (R om 5, 5.)
A função dos membros no Corpo Místico
Como no corpo hum ano há m embros variados que exercem diversas funções, o mesmo se dá com o Corpo Místico de Cristo. “O corpo não é um só membro, mas um conjunto de m u ito s . . . Se o todo fôsse um só membro, onde estaria o corpo?” (1 Cor 12, 27.)
No Corpo Místico de C risto cada m embro possui a im portância relativa que lhe c própria. Cada um, com efeito, tem sua graça, seu “carism a” como disse S. Paulo. U m é apóstolo, ou tro profeta, o terceiro d o u to r; uns são taum aturgos, e outros têm o encargo do govêrno.” (1 Cor 12, 28.) Assim o Corpo Místico de Cristo é dotado de todos os órgãos que lhe são necessários.
Mas todos êstes membros, seja qual fô r o seu papel, só poderão exercê-lo se viverem , isto é, se forem enxertados no Chefe: o ra esta ligação só pode subsistir plenam ente pelo estado de graça. P o r isto é que, depois de te r enum erado os diversos dons gratu itos que Deus pode fazer às almas, o Apóstolo acrescenta: “ M as esforçai-vos por obter melhores “carism as” . . . E m ostro-vos um caminho ainda mais excelente” . (1 Cor 12, 31.) Êste caminho é o da “caridade” , sem a qual seria inútil fa lar até a língua dos an jos (1 Cor 13, 1)
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5) Aug. T rac t. in Jo 27, in m edium .
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e fazer milagres, porque sem ela o membro não poderia mais aderir à Cabeça e m orreria.
Gravemos, portanto, em nosso espirito o conselho de S. Paulo : “Aspirai à caridade. ” (1 Cor 14, 1.) Q ue a vida de união com Cristo pelo estado de graça, solicitam ente conservado e santam ente desenvolvido, seja a aspiração de nossa alma, a preocupação de nosso espírito, o grande ideal de nossa v ida! Q uaisquer que sejam nossos dons espirituais e nossos ofícios neste mundo, é som ente do g rau de nossa caridade que depende nosso papel no Corpo Místico de Cristo, e sua im portância. Sem a caridade o fiel se to rna incapaz de colaborar devidam ente com o sacrifício de Cristo: pode ser assistente ou espectador do S. M issa e pode mesmo recolher alguns frutos, porém cessa de celebrá-la dignamente.
Como nos tornamos membros de Cristo•É pelo Batismo que nos tornam os membros de
Cristo, ou, em falta dp Batismo, pela caridade que o supre provisoriam ente. Pelo Batismo "somos enxertados nêle” (Rom 6, 5) como o ramo na videira.
Sob a influencia dêste enxerto batismal o sa rmento fica unido ao tronco e vive; ou, continuando a mesma comparação do início dêste capítulo, o homem pecador expõe-se, pelo Batismo, aos raios que dardeja o Sol divino, Cristo, e vil grão de •areia que era, tom a-se fulgente como o diam ante, refletindo a luz que recebe.
Quem poderá p in tar a beleza de uma alm a batizada ?
Q ue causa, porém, dá motivo a m etam orfose tão vantajosa? A própria m orte de Cristo, que foi o preço determ inado para restauração da glória de Deus. Aceitando livrem ente pagar no Calvário a
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dívida de reparação devida à M ajestade suprema, Cristo mereceu tornar-se Chefe e Cabeça de seus redimidos: em razão dos direitos adquiridos por sua morte, Cristo tem, pois, o poder de com unicar sua vida e sua graça aos seus membros. E is por que S. Paulo nos diz: “ Ignorais que todos nós, que fomos batizados em Cristo, fomos batizados em sua m orte?” O grande Apóstolo acrescenta, para insistir nesta verdade, aludindo à imersão, rito prim itivo do Batismo, verdadeiro sepultam ento: “Fomos, pois, pelo Batismo sepultados com Êle, na m orte.” (R om 6, 3.)
O novo membro goza, pois, das vantagens que o Chefe conquistou na morte, para todo o seu Corpo Místico.
Mas quais são êstes privilégios?Os mesmos que os da Cabeça, de cuja sorte êste
membro participa doravante, a não ser que tenha a loucura de separar-se de Cristo pelo pecado m ortal: uma vida gloriosa, eterna, sem trevas, o que S. Paulo cham a a “vida nova” e que a linguagem cristã designa correntem ente sob o nome de vida da graça pa ra os m embros que militam neste mundo, a qual se transfo rm ará em vida de glória à sua en trada no paraíso. Êste é o sentido da palavra de S. Paulo: “ Fomos, pois, pelo Batismo sepultados com Êle na morte, a fim de que, do mesmo modo que Cristo ressuscitou dos m ortos para a glória do eterno Pai, assim nós tam bém caminhemos nesta nova v id a ; porque, se estamos enxertados nÊle, pela semelhança de sua m orte, da m esma form a chegaremos por ela à sua ressurreição.” (R om 6, 5.)
E stas expressões de São Paulo compreendem-se perfeitam ente, desde que procurem os saber o que nos querem ensinar, isto é, que nos tornem os, sob
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CAP. I I. O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 33
ç> influxo de um a vida santa, m embros de Jesus Cristo.
A fibra, o osso, a artéria , o nervo, os membros todos do corpo sepultam -se na m orte, quando o Corpo está m orto e o Chefe cerrou os olhos.
M as, se o Chefe ressuscita, cada mem bro também ressuscita: o nervo, o osso, a artéria revigoram - se. E is por que o Batism o nos sepulta, a nós, órgãos do Corpo de Cristo, com Cristo m orrendo por nós; eis por que nos ressuscita com Êle: encerrando-nos nfele, como nossas veias, nossa carne e nossos ossos estão em nós, obrigados a participar do nosso destino, sem se poderem sub trair!
D esde logo, compreende-se que, por um a consequência perfeitam ente lógica, tudo que é de Cristo é nosso. Sua m orte é nossa morte, pois, unindo- nos ao seu Corpo M ístico, Êle comunica-nos todos os frutos de sua m orte; sua ressurreição é nossa ressurreição, pois participam os atualm ente de sua vida ressuscitada; sua ascensão é nossa ascensão, pois, membros que somos, seguiremos autom aticam ente a cabeça para onde ela reside, para o c é u ; seu sacrifício eucarístico, renovação m ística de sua m orte, que é a nossa, é, 'como veremos na continuação desta obra, “nossa” Missa.
Estamos em Jesus CristoAgora nos é fácil com preender a nossa situação
de fiéis batizados e em estado de graça, em relação a Jesus Cristo.
Somos seus membros “enxertados nÊ le” , “sepultados com Êle” , como as vértebras, as fibras, os nervos estão integrados nas profundezas de nossa carne. Assim unidos a Êle, participam os de sua vida própria, porque seu E spírito circula da Cabeça divina para os membros que a ela aderem, como circula em m inha mão, em meu estô
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mago, em meus pulmões e em todos os órgãos enT cerrados em mim o influxo vital, proveniente de m inha alma.
Desde êsse momento, propriam ente falando, nós estamos em Cristo Jesus.
E sta expressão volta a cada passo sob a pena de S. Paulo . Este C risto Jesus de quem fala o Apóstolo, não é simplesmente Jesus Salvador, em sua existência terrestre , mas Cristo Jesus C hefe glorioso da Ig reja , Chefe mistico, que abrange cabeça e membros, cepa e ramos, verdadeiro templo do E spírito Santo que o anima.
E m Cristo Jesus! E is em quem vivemos! “Quem perm anece em m im ”, isto é, um membro que adere ao Chefe, “dá fru to , porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15, 5.)
E m Cristo Jesus! isto é, im ersos 110 in terior do Corpo Místico, como um órgão, minúsculo talvez, m as vivo e operativo, somos infinitam ente honrados em partic ipar da intim idade real do Redento r e G lorificador eterno da Santíssim a Trindade.
Só 110 céu terem os conhecimento da perfeição e da intim idade desta união dos membros com seu Chefe, "em Cristo Jesus” .
A união de meu coração ou de meu dedo à minha pessòa dá apenas um a idéia disto : com efeito, a ligação de m inha mão é natural, física, temporária, e realiza-se sob a dependência de uma alma de poder lim itado; ao passo que a união do fiel com seu Chefe, ao Corpo Místico, é sobrenatural, divina, de um a realidade perfeita como tudo que é divino, operado sob a dependência do Espírito criador e vivificador, destinada a perdura r sem pre no am or, na graça, na v irtude e, em breve, na felicidade in f in i ta .. .
O corpo hum ano, cabeça e membros, do qual S. Paulo se serve para fazer com preender o Cristo
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místico, é um a imagem que, longe de ultrapassar o que explica, fica muito aquém da realidade. Daí se pode deduzir o sentido profundo contido nestas palavras que tantas vêzes, talvez, ouvimos sem grande emoção: “Sois o corpo de Cristo e individualm ente seus mem bros.” (1 Cor 12, 25.)
Conclusões práticasA ntes de falar, no capítulo seguinte, do grande
ato que completa Cristo místico, a celebração do Sacrifício infinito, tirem os logo as conclusões que naturalm ente se deduzem das grandes verdades que acabam de ser enunciadas.
1) Recordemos a célebre palavra de São Leão M agno: “Reconhece, ó cristão, tua dignidade e, tendo-te tornado participante da N atureza divina, evita vo ltar à baixeza de o u tro ra po r um procedim ento degenerado. Recorda-te de que Cabeça e de que Corpo és m embro.” 1
E sta é a razão por que devemos respeitar nossa alma e nosso co rp o ! . . . por que não devemos m anchar nosso espírito por m aus pensam entos, por leitu ras im o ra is! . . . por que não devemos entregar nossos membros a atos culpáveis!
Q uantas pessoas há que, se tivessem sem pre p re sente ao espírito o pensam ento de que são membros de Cristo, fugiriam até da som bra do pecado, segundo o conselho de S. Paulo: “Abstende- vos até da aparência do m al.” (1 T ess 5, 22.)
2) N ada receemos tanto como ser arrancados do Chefe. “O cristão nada deverá recear tanto como ser separado do Corpo de Cristo.” 2 Dá-se, então, verdadeiram ente a m orte, porque, desde o m omento em que o m embro é apartado de Cristo, não está mais em comunicação com o Chefe e não re
CAP. H . O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 35
1) São Leão Magno, Sermão 1. de Nat. Dni.2) Aug. Tract. in Jo 27 p. médium.
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cebe mais o E spírito Santo, que é a fonte da g ra ça e da vida sobrenatural.
Santo A gostinho explica adm iravelm ente esta necessidade de aderir ao Corpo de C risto para dê- le receber a vida e o espírito: “Só vive da alma de C risto o Corpo de C ris to . . . queres tu também viver da alm a de C risto? Perm anece no Corpo de Cristo.”
E mais adiante o grande D outor acrescenta: “O meu corpo vive acaso de tua alma, e teu corpo da m inha? Do mesmo modo o Corpo de C risto só pode viver da alm a de C r is to . . . Assim , pois, ape- ga-te ao Corpo de Cristo, vive de Deus para D e u s . . . eis o que é belo, oportuno, salu tar.”3
Se compreenderm os estas belas palavras de S anto Agostinho, não haverá para nós receio m aior que o de perder o contacto de Cristo. Repitamos hum ildem ente as palavras que a Ig re ja nos faz repetir em cada S. Missa nas orações que precedem à Comunhão: “N ão perm itais, Senhor, que me eu separe jam ais de vós.”
3) Se quiserm os apreciar cada dia mais, no devido valor, nossa qualidade de m embros de Cristo, trabalhem os com tôdas as fôrças para estre itar os laços que nos unem a êste Chefe adorável, procurando nossa perfeição pessoal, e esforcemo- nos por recru tar-L he novos membros, exercendo o apostolado: perfeição pessoal e apostolado! Na medida com a qual tenderm os a êste duplo fim, estim arem os nossa grandeza e dignidade, segundo a palavra de Santo A gostinho: “Os fiéis conhecem o Corpo de C risto, quando não deixam de es- forçar-se para se r o Corpo de Cristo.”4
4 ) O mais precioso resultado do nosso conhecimento do Corpo Místico será nossa colaboração,
3) Aug. Tract, in Jo 26 p. med.4) Aug. ibidem.
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CAP. m . O M EM BRO SE O F E R E C E 37
cada dia mais perfeita, ao santo sacrifício da M issa. O ato essencial da religião, a homenagem que Cristo repete tan tas vêzes à Santíssim a Trindade, em v irtude de nossa “ incorporação” a Cristo, não se pode efe tuar sem nós. As páginas que vão seguir terão justam ente por escopo m ostrar que a S. Missa c “nossa” M issa, porque, com Jesus Sacerdote, somos na S. M issa sacrificadores e vítimas.
C A P ÍT U L O I I I
O MEMBRO SE OFERECE E SACRIFICA COM O CHEFE
É O "CRISTO TOTAL", ISTO É, UNIDO A SEU CORPO MÍSTICO. QUE "OFERECE" O SANTO SACRIFÍCIO.
ÊSTE MESMO CRISTO SE OFERECE TOTALMENTE. ISTO Ê, OFERECE-SE A SI PRÓPRIO A DEUS E OFERECE JUNTAMENTE SEU CORPO MÍSTICO.
POR CONSEQUÊNCIA. O FIEL, MEMBRO DÊSTE CORPO MÍSTICO, "OFERECE" DE SUA PARTE, COM CRISTO O SANTO SACRIFÍCIO A DIVINA MAJESTADE, E É, POIS, "SACERDOTE" COM CRISTO.
DE SUA PARTE. O FIEL TAMBÉM “SE OFERECE” COM CRISTO A MESMA INFINITA TRINDADE E fi “VITIMA" COM ÊLE.
Quem é o sacrificador na Santa Missa?Bem erroneam ente imaginam alguns que Jesus
Cristo, sumo Sacerdote do Altíssimo, não apela para o nosso concurso, a fim de executar a imolação do altar.
Evidentem ente, seu próprio Corpo e verdadeiro Sangue, derram ado no Calvário, estão presentes sóbre a lta r na Santa M issa ; mas Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, não oferece êstes dons infinitos sem n ó s ; e da mesma form a não prescinde de nós, membros de seu Corpo Místico, para p restar o culto de suprem a homenagem à Santíssim a Trindade.
O ra, como vimos no capítulo precedente, Cristo criou para si, pelo Batismo, membros, que a Confirm ação aperfeiçoou. A lguns destes m embros par-
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ticipam de unia m aneira muito íntim a e oficial do seu sacerdócio, pelo sacram ento da O rdem , e o E spirito de caridade, a alm a viva e vivificadora da Ig reja , Corpo M ístico de Cristo, nêles habita, enquanto não se separam do seu Chefe pelo pecado grave.
Êstes membros, unidos à Cabeça como o galho ao tronco, participam inevitavelm ente da vida dês- te C hefe e a Êle estão unidos em tôdas as funções sacerdotais. Assim, pois, no momento em que Cristo exerce seu sublime m inistério, rentJVando a oferenda do Sacrificio cruento do Calvário, e apre- sentando-o de novo à Santíssim a T rindade em uma homenagem infinita, Êle não está nem pode estar separado de nós, dos sacerdotes, em prim eiro lugar, e, em seguida, dos fiéis.
Santo A gostinho di-lo claram ente: “O sacrifício dos cristãos consiste em form ar um só Corpo com Jesus Cristo.” 1 Jesus e seus membros, isto é, o C risto Místico, eis o verdadeiro sacrificador na S anta M issa!
P ortan to , desde o momento em que êste “chefe incom parável” uniu a si outros membros, não lhe é mais possível p restar, sem êles, culto à divina M ajestade, assim como não nos é possível desem penhar qualquer de nossas obrigações, deixando alguns de nossos órgãos em casa.
Como se efetua a oblação pelo Corpo Místico, na Santa Missa
Aqui desperta naturalm ente um a objeção no espírito do le ito r:
Após a consagração, só o Corpo e o Sangue de C risto é que estão no altar, sob as espécies sa^ cram entais. O sacram ento da E ucaristia contém o “Chefe” do Corpo M ístico ; mas é evidente que não
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1) Cidade de Deus, 1. 10, c. 20.
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CAP. I II . O M EM BRO S E O F E R E C E 39
contém nenhum dos seus membros. Como é então possível estar Jesus C risto presente na hóstia e no cálice sem seus fiéis, e os fiéis tom arem parte real e eficaz na celebração da Santa M issa?
A resposta a esta objeção é fácil: Realm ente só C risto está presente no a lta r ; é incontestável. M as esta presença do chefe está ligada à ação de seus m embros, e isto de duas m aneiras:
1) A oblação da S anta M issa é feita pela Ig reja inteira, isto é, pelo Corpo Místico unido ao seu Chefe. A Ig reja declara expressam ente e em várias asserções que esta oblação de Cristo é sua oblação: "N ós oferecem o-Vos, Senhor, êste cálice da s a lv ação .. . ” 2 “Q ue nosso sacrifício Vos seja a g r a d á v e l .. .” 3
Se Jesus Cristo, pois, se sacrifica sôbre o altar, é todo o Corpo M ístico unido a Êle que O imola e oferece a seu Pai. A presença sacram ental que re sultará só para o chefe, é inseparável do sacrifício oferecido pelo Cristo total.
2) Cristo, o único presente no a lta r depois da consagração, a tu a . como “Cristo to tal” unido a tôda a Ig reja , que é seu complemento indispensável e inseparável. P o r isso podemos dizer logo após a elevação: “Nós oferecem os à Vossa divina M ajestade o dom que de Vós recebem os.. . a pão sagrado de v id a . . . e o cálice da salvação eterna.”4 “ Nós todos, participantes neste a l t a r . . . que sejam os repletos de tôda a bênção.”5
Tôda a L iturg ia da S. Missa, como veremos a seguir, vem confirm ar a existência desta ação comum do Chefe e dos membros.
2) Ordinário da S. Missa. Oblação do cálice.3) Ibid. Oração antes da bênção.4) Ibid. Cànon.5) Ibid.
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N a verdade, é o Cristo M ístico que, por intermédio de seus mem bros sacerdotes, oferece o santo Sacrifício do Calvário, em união com todos os seus membros.
Nós, simples fiéis, m embros do Corpo M ístico de Cristo, estamos, pois, intim am ente associados ao sacerdócio de Jesus Cristo, soberano Pontífice, já que pelas mãos dos sacerdotes nós mesmos o ferecemos a oblação s a n ta !
P or isso é que S. Pedro cham a o povo cristão “ raça eleita, sacerdócio real” . (1 Ped 2, 9.) E ainda: “ Sacerdócio santo, encarregado de oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus." (1 Ped 2, 5.)
E is por que S. João, no Apocalipe, exclama: “Cristo fêz-nos sacerdotes de Deus, seu Pai.” (A poc 1, 6.)
Assim a unção sacerdotal que penetra o Cristo total e o torna sumo sacerdote, espalha-se e des- lisa "como um arom a que desce da cabeça para a barba de A arão” (S I 132), espalhando-se com abundância e eficácia po r todos os membros do Corpo Místico, conform e são elevados às funções do culto, como tão vivamente o explica Santo Agostinho: “ Nosso Senhor, nosso Chefe, foi ungido, e tam bém seu Corpo, que som os nós.”°
Q ue doce e consoladora v e rd a d e ! Eu , pobre a lma cristã, tão ignorada e tão fraca, estou intim amente’ associada à m aior ação que se possa realizar neste m u n d o ! . . . eu, de m inha parte, sou causa para êsse a to ! . . . contribuo eficaz e pessoalmente para a glória da Santíssim a T rindade e para a salvação do m u n d o ! . . .
6) In Ps. 26.
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CAP. III . O M EM BRO SE O F E R E C E 41
Qual a medida de nossa parte pessoal no papel de sacrificador?
Evidentem ente, os m embros que, unidos a Cristo, apresentam a oblação, não possuem todos o mesmo papel que o Chefe: Êle naturalm ente exerce a função principal e os sacerdotes têm o poder maravilhoso de consagrar, mas os simples fiéis só cooperam com a oferenda, na m edida de sua im portância no Corpo M ístico; mas, de qualquer modo, cooperamos com ela.
Q uando um réu se lança aos pés de seu juiz para abrandá-lo, os joelhos do suplicante não têm o mesmo poder para im plorar que suas mãos, as mãos o mesmo poder que a bôca, a bôca o mesmo poder que o coração. E , no entanto, o ser inteiro, pés, mãos, cabeça, concorrem para to rnar eloquente a súplica.
O mesmo se dá com o Cristo M ístico g lorificando e im plorando a augusta M ajestade. É "Êle todo” que oferece, isto é, Êle com todos os seus membros, Cristo, Cabeça e Corpo M ístico, que se eleva para render à Santíssim a T rindade a homenagem infinita. O poder de sua súplica recebe alguma coisa de cada um dos membros que imploram com Êle. P o r m ínima que seja a ação de alguns dêsses membros, não deixa, todavia, de conco rrer para o efeito total.
A parte que temos nesta homenagem é, portait- to, v a riáve l; é proporcionada à im portância relativa que cada um de nós ocupa no Corpo M ístico, e esta mesma im portância depende ainda do papel que desempenhamos na Santa Ig re ja e da intensidade de vida sobrenatural que em nós circula.
Como na unidade da Igreja , Corpo M ístico de Cristo, as funções variam indefinidam ente; cada membro, conform e os próprios dons espirituais e o g rau de caridade e de união com a Cabeça, coo
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pera mais ou menos na oblação. M as todo membro vivo de Cristo, seja qual fô r sua ação, “celebra” com Cristo.
Cada fiel pode, pois, com tôda a verdade dizer “m inha” Missa, porque Jesus C risto quis que ela fôsse nossa desde o dia em que associou os fiéis como m embros de seu Corpo M ístico.
Reflitam os nestas m aravilhas, invisíveis aos nossos olhos, porém reais, quando nos aproxim am os do altar, no qual oferecem os com Cristo, em Cristo e por Cristo, o perfeito Sacrifício.
Se tivéssemos consciência de ser, também de nossa parte, sacrificadores, não teríam os sentim entos da mais viva piedade ao assistirm os à Santa Missa ?
N ão teríam os desejo de conhecer m elhor a Santa Missa, seus ritos, suas orações, e tôda a sua significação, a fim de poder oferecer digna e copiosam ente o nosso Sacrifício?
A vítimaO s que têm propensão para acred itar que Cristo
oferece sozinho o sacrifício da S. M issa, pensam logo que Êle se oferece sozinho a seu Pai no altar. É um êrro. Assim como o Sacerdote do sacrifício da S. M issa é C risto M ístico, também a vítima é Cristo Místico.
Cristo, Cabeça e membros, oferece; Cristo, Cabeça e membros, se oferece. Se Êle não pode sep a ra r de si os membros para oferecer, também Lhe é preciso conservá-los para se oferecer. E is como nós, membros de Cristo, temos a honra imensa e desconhecida por tantos fiéis, de ser vítimas com Êle no santo sacrifício da Missa.
S. Paulo explica-nos esta verdade por uma ex pressão adm irável: “ Completo em m inha própria carne o que fa lta aos sofrim entos de C risto quanto ao seu Corpo, que é a Ig re ja .” (Col 1, 24.)
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CAP. m . O M EM BRO S E O F E R E C E 43
E ntão ainda falta a Cristo algum sofrim ento? P a ra o resgate, é certo que não. Como Chefe, sofreu tudo que podia so fre r de dores, ainda que a mínima dentre elas teria sido suficiente para o resgate do m undo . . . M as, se a Cabeça pagou su- perabundantem ente a dívida in finita para com a divina M ajestade, os mem bros de C risto devem ainda sofrer, a fim de que ha ja harm onia entre os membros e a Cabeça. Em todo corpo bem regulado reina en tre os órgãos e a cabeça, e entre os próprios órgãos, um a perfeita correspondência: assim deve dar-se o mesmo en tre a Cabeça do C orpo Místico e seus membros, para que Cristo seja uma vítima "com pleta” .
A Igreja , que c o “com plemento” de Cristo, deve viver da vida de seu Chefe e com partilhar sua sorte. Portan to , se a cabeça sofreu como vítima e cada dia repete sua oblação, a fim de perm itir-nos a com participação, os membros também, para assem elharem-se ao Chefe, devem suportar, em união com Êle, uma certa cópia de sofrim entos, sob pena de se separarem dÊle, recusando-se a colaborar no seu Sacrifício.
N a verdade, quem recua ante as m ortificações indispensáveis, impostas pela p rática sincera da fé cristã, por exemplo, o rar, je juar, san tificar o domingo, g uardar a castidade em seu estado, fu g ir das ocasiões de pecado, etc., não sofre com Cristo, separa-se dÊle, como um ram o destacado do tronco, e cessa de celebrar o Sacrifício com o Corpo Místico, porque, de sua parte, recusa ser também vítima.
Pelo contrário, os m embros que generosam ente harm onizam com a Cabeça, encontram nesta união a m aravilhosa vantagem “de com pletar em sua própria carne o que falta aos sofrim entos de Cristo.” N a realidade, em um corpo norm al, as dores
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de um mem bro afetam todo o organism o: “Q uando um membro sofre , todos participam de sua pena.” (1 Cor 12.) O Chefe sofre, pois, conosco, não na hipótese de que so fra atualm ente nossas dores, mas porque “as toma como próprias” . E is o motivo por que os sofrim entos dos m embros são na verdade os de Jesus Cristo, seu Chefe, pois Jesus vive naqueles que são dêle, e por isso pode- se dizer com S. Leão, “que a paixão do Salvador se prolonga até o fim dos tem pos”7, isto é, enquanto uma parte do Corpo M ístico so fre r neste mundo.
M as como pode Cristo Chefe, atualm ente glorioso, “ to rnar seus” os atuais sofrim entos de seus membros para “com pletar sua Paixão” ?
Porque os sofrim entos, quotidianam ente acrescentados pela Ig re ja ao sacrifício que o Coipo Místico oferece na Santa M issa, form am para a paixão um complemento esperado por Cristo mesmo.
Com efeito, no momento de sua m orte na Cruz, conhecendo o Salvador cada um de seus membros fu turos, oferecia-se com êles e oferecia-os consigo em seu pensam ento como um a homenagem volutariam ente completa à divina M ajestade. Mas eis que cada dia esta homenagem prevista e desejada por Cristo, esta oferenda profética de nossos próprios sofrim entos e m ortificações cristãs se efetuam realm ente: as previsões do Chefe realizam- se no domínio dos fatos pelos sacrifícios atuais de cada um de seus membros. Assim é que, propriamente falando, cada um de nós, oferecendo-se com C risto na S. M issa, "completa o que fa lta à sua Pa ixão” .
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7) D’Allioli, Com. ad Col 1, 24.
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O Corpo Místico é, pois, vítima do sacrifício
E sta noção da “V ítim a M ística" oferecida no a lta r pelo chefe adorável está ho je m uito esquecida pela piedade, que nela teria um alim ento sólido e inesgotável. A atenção dos fiéis, por não se d irig ir bastante para estas verdades fundam entais, dis- trai-se com as m inudências, que são apenas consequências distantes dos grandes princípios teológicos.
Os prim eiros cristãos, na escola dos Padres da Igreja , viviam, mais do que nós, desta grande idéia de união ao Corpo M ístico; ouviam p regar sempre sôbre esta grande verdade e eram levados a tira r as consequências práticas dela decorrentes.
Santo Agostinho não cessava de explicar aos fiéis a vida cm Cristo. Êste Corpo M ístico, — diz êle, — é a vítima oferecida a Deus como homenagem perfeita : “Como a Ig re ja é o corpo dêste Chefe adorável, aprende dÊ le a oferecer-se a si mesma por meio dÊle”8. O Corpo de C risto se oferece, pois, por meio de sua Cabeça. A Cabeça encerra a palavra, o pensamento, a vontade, e todos os membros aprendem dela a se oferecer com ela como uma vítim a única, partícipe de tôdas as grandezas do Chefe.
Em outro capítulo do mesmo livro, o grande D outor diz: “T ôda a cidade resgatada, isto é, a Ig re ja e a sociedade dos santos (o que significa o Corpo Místico in teiro) consiste no sacrifício un iversal, oferecido a Deus pelo Sum o Sacerdote.”9
O Corpo M ístico, pois, é o “ sacrifício universal” . E sta verdade perm ite-nos agora com preender a adm irável palavra de S. Paulo: “Suplico-vos, meus irm ãos, que ofereçais a Deus vossos cor
CAP. I II . O M EM BRO SE O F E R E C E 45
8) Sto. Agost. Cidade de Deus, 1. 10, c. 20.9) Ibid, 1. 10, c. 6.
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pos como um a hóstia viva, santa, agradável a D eus.” (R om 12, 1.)
É esta idéia da co-oblação dos mem bros do Corpo M ístico como vítim as com seu Chefe, que a Ig re ja exprim e em certas orações que lemos na Santa M issa. P o r exemplo, na secreta da M issa do bem -aventurado G rignion de M o nfo rt: "Q ue o bem -aventurado L uís M aria V os faça agradável, ó meu Deus, nossa oferta , já que se imolou sempre como uma hóstia viva e agradável.” E sta ou tra não c menos significativa: “ Senhor, que êstes mistérios de Vossa paixão nos dêem o fervor celeste com o qual S. Paulo, ao oferecê-los, imolava seu corpo, como vítima santa, viva e agradável.” 10 Não se pode a firm ar mais nitidam ente a cooperação dos membros que, como vítimas, celebram o santo sacrifício.
Fazem os parte dêste Sacrifício infinito, oferecido diariam ente por nossa cabeça, mas a título de membros que oferecem e que se oferecem , sacrificadores e vítim as, proporcionalm ente à nossa vida sobrenatural e à nossa união a Cristo. “Je sus Cristo, — diz Santo A gostinho — se oferece à Santíssim a Trindade e neste oferecim ento inclui todos os santos como seus membros, e os santos se oferecem juntam ente com Jesus Cristo, seu Chefe. E é por êste m istério adm irável que Jesus Cristo é, em sua pessoa e em seus m embros ao mesmo tempo, a V ítim a perfeita e o Sacerdote e terno.” 11
U m cristão, ao qual é revelado êste “adm irável segrêdo” , poderá assistir, ind iferen te como um estranho, ao santo sacrifício da M issa?
10) Secreta de S. Paulo da Cruz.11) Sto. Ag. Cidade de Deus, 1. 10, c. 6.
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CAP. m . O MEMBRO SE OFERECE 47
Nossos sacrifícios e o SacrifícioE sta noção que acabamos de expor, acerca da
vítima do santo sacrifício da Missa, deve auxiliar- nos a com preender um a outra noção, a dos nossos sacrifícios.
Q uantas alm as piedosas imaginam erroneam ente que suas mortificações, privações, sofrim entos, têm valor intrínseco, isto é, por si m esmos? Êstes cristãos, pouco instruídos, pensam que Deus se satisfaça e lhes seja reconhecido pelo que se “dignam ” oferecer-Lhe. Ignoram que seus próprios m éritos são menores aos olhos de Deus do que seriam os de um a form iga aos nossos olhos: por si mesmos seus sofrim entos nada valem.
P o r que meio, então, estas penas poderão adquirir algum valor e assum ir aos olhos de Deus cará te r de “sacrifícios” ? Som ente incorporando-se ao Sacrifício único, ao do Salvador Jesus. E stas m ortificações só são agradáveis à Santíssim a T rin d ade, “se completam o que fa lta à Paixão de Cristo" ; C risto c “o Santo único, o único Senhor, o único Altíssim o” , o único Ser que tem “direito de apresentação” ante a soberana M ajestade de Deus. O mínimo dos sofrim entos de Cristo tem valor infinito, os de outrem nada valem sem êle.
É necessário, pois, que nossas penas pessoais scjain por nós sofridas, “enquanto somos membros de C risto” unidos à Cabeça e por êsse meio cooperamos em sua grande oblação. Se são incorporadas ao Sacrifício de Cristo, nossas privações têm o direito de se cham arem sacrifícios, têr- mo que indica abertam ente que tomam parte na homenagem única de louvor e de reparação, e que o seu fim c com pletar no Corpo Místico o que falta à Paixão do Salvador.
O ra, êste Sacrifício de C risto renova-se para nós na S. Missa. O Chefe adorável reproduz ex-
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plicitam ente sua oferenda, que aum enta d iariamente pelos complementos que lhe proporcionam os sofrim entos de seus membros. Coinpreende- se facilm ente que é na S. M issa, e por ela, que nossos sacrifícios podem te r propriam ente o nome e o aspecto de “ sacrifícios” . A vida cristã com suas provas evolui, mesmo sem o percebermos, em tôrno da Santa M issa, tem por causa a S anta M issa, c é coroada de êxito pela oblação que dela faz C risto na Santa Missa. E isto é lógico: o Corpo M ístico de Cristo só existe, como seu Chefe adorável, para p restar pela S. M issa a homenagem de glória suprem a a Deus.
A h ! quantos fiéis desconhecem esta im portância de sua Missa, na própria existência pessoal? Sem o conhecerem, é verdade, gozam dos fru to s do Sacrifício, porque estão unidos a C risto pela g ra ça e pela p rática das virtudes que acarreta mil privações e m ortificações cada d ia : assim, c verdade, honram o eterno Pai e oferecem -Lhe por meio de C risto suas penas. M as quantas vêzes vão buscar Jesus Cristo, onde Êle é apenas representação, num a imagem, num a fórm ula, num gesto piedoso, enquanto, negligentes, esquecem mesmo de ir procurá-Lo, onde atua pessoalmente com seus membros e por êles, no santo sacrifício da M issa!
Por que meio podemos aumentar nossa participação na missa,
# como sacrificadores e vítimas?O meio consiste em aum entar nossa união com
C risto. Q uanto mais um fiel possui o espírito de C risto, pratica suas virtudes, se dedica aos inte- rêsses da glória da Santíssim a Trindade, em suma, quanto mais faz sacrifícios em união com seu Chefe, tan to m aior parte tem na oblação e melhor celebra sua Missa.
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CAP. I II . O M EM BRO SE O FE R E C E 49
De tôdas as alm as unidas a C risto na hom enagem infinita do Calvário, quai foi a que mais colaborou para a oferenda do seu sacrifício? Foi, evidentemente, a que mais sofreu com Êle, a San- tissima Virgem M aria.
M aria Santíssim a tinha tais direitos, po r sua m aternidade divina, para ser a C o-redentora do gênero hum ano que, mesmo sem sacrifícios, teria merecido êsse título ; Nosso Senhor, que teria podido, também Êle, salvar-nos sem sofrim ento, quis que M aria SS. seguisse a mesma lei. P o r isso exigiu que sua participação na "prim eira M issa solene” , no Gólgota, fôsse proporcional à cópia de am arguras que suportaria aos pés da Cruz.
E que am arguras ! "Som os obrigados — exclama S. Bernardo — a proclam ar mais que m ártir Aquela cujo coração terníssim o sofreu dores que excedem a tudo que os sentidos corporais ja mais suportaram .” 12 E is por que M aria, que foi a vítim a mais perfeitam ente unida a C risto V ítima, é ao mesmo tempo A que L he está mais intim am ente unida na oblação de homenagem infinita do Sum o Sacerdote.
O s grandes Santos, por sua vez, tam bém , acum ulando seus sofrim entos, unem-se tão intim amente ao Chefe adorável na oferenda do Calvário renovada em nossos altares, que várias vêzes Deus imprimiu visivelmente na carne de alguns dêles os sagrados estigmas da Paixão, para m ostrar até que ponto eram vítim as com Cristo, e como p articipavam em sua oblação.
O ue vasto horizonte se abre diante de nós! Nós também podemos tornar-nos “sacrificadores” , importantes reparadores dos direitos de Deus, ado
12) S. Bernardo, "Sermo de duodecim stellis”.
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radores perfeitos da Santíssim a T rindade, colaboradores ativos para o resgate de nossos irmãos. E po r que meio? V ivendo unidos ao Corpo M ístico de C risto pela caridade, intensificando sem pre mais em nós seu Espírito pela prática da virtude e da perfeição cristã, aceitando alegrem ente todos os sacrifícios exigidos para a realização do ideal cristão.
D êste modo, progredindo em união de vontades, de sentim entos e de ideal com o Sacerdote Chefe, seremos sem pre mais associados em seu sacerdócio na homenagem infinita que Êle rende à Santíssima T rindade. >
Conclusão: aqueles que são celebrantes da missa, e aqueles que o não são
Todo fiel em estado de graça é concelebrante com Cristo, sendo o Cristo total inseparável de seus membros.
M as o valor dessa concelebração está sujeito a múltiplas condições que o tornam diversam ente apreciável. Êsse valor depende, pois:
1. da intensidade da caridade que anim a o coração de cada um dos membros de Cristo. Q uanto mais se am a ao chefe, mais estreitos são os laços de união com Êle e, portanto, mais perfeita é a cooperação.
2. da assistência ao santo sacrifício. É certo que tôda a Igreja , e, por conseguinte, qualquer membro de Cristo, participa, de modo geral, de tôdas as M issas, mesmo daquelas às quais não assiste. M as a participação pessoal é incom paravelm ente m aior que a cooperação universal, porque a assistência à Santa M issa perm ite uma co-oblação direta, ativa, vo luntária e, daí, muito m eritó ria ;
3. da intenção. Q uanto mais determ inada e atual fô r a intenção, mais ativa se tom a a concelebração. P o r exemplo, o fiel que segue sua Missa,
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unindo suas orações às do sacerdote, identificando a própria vontade com a dêle, celebra sua M issa, mais eficazm ente que o cristão, que, mesmo em estado de graça, assiste ao santo Sacrifício, meio distraído, balbuciando algum as orações vocais para passar o tem po;
4. do desejo de assistir ao santo sacrifício. A ausência, desde que não resulte de negligência, mas de real impossibilidade, pode ser suprida pelo desejo de assistir ao santo Sacrifício. Do mesmo modo os fiéis que amam deveras a Cristo, e cuja piedade não se sente satisfeita com a celebração de sua única M issa de cada manhã, e não podem seguir duas ou três, poderão sup rir esta impossibilidade, unindo-se m entalm ente a tôdas as M issas que se celebram naquele dia. É este o meio eficaz de uma participação perpétua na grande homenagem de C r is to . . .
Ao lado dos fiéis que celebram sua M issa real e intencionalmente, há cristãos infelizes que dela participam só m uito im perfeitam ente! A h ! são os pobres pecadores, separados do Corpo M ístico pelo pecado mortal.
Êstes “ rám os m ortos” não têm mais a graça de Cristo, já não recebem a s e iv a .. .
E por esta razão será a M issa completamente inútil para êles? Pelo con trário ; mas é preciso que a ela assistam como veremos mais ad ian te13. Se o Santo Sacrifício não é sua M issa, ao menos é a grande intercessão de C risto para os pecadores. A assistência à Santa M issa é para êles o mais precioso penhor da sua reabilitação.
CAP. m . O M EM BRO SE O F E R E C E 51
13) 2.* parte: cap. 3.
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C A P ÍT U L O IV
A S. MISSA, OBLAÇÃO DO CRISTO MÍSTICOAS VERDADES CONTIDAS NOS CAPÍTULOS PRECEDEN
TES ESTAO PATENTEADAS NA PRÓPRIA LITURGIA DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA. QUE ASSIM AS VEM CONFIRMAR SOLIDAMENTE.
A S. Missa é a cena vlsivel da oblaçãoT ôda a doutrina exposta desde o princípio dêste
volume tem sua aplicação concreta e sua realização na celebração da Santa M issa. É no a lta r que se renova o Sacrifício do Calvário, é no a lta r que a oblação incruenta, mas real, se reitera por intermédio do Cristo místico.
M as para a S. M issa pôr em cena a oblação mística, deve conter em seus ritos e nas fórm ulas que usa a expressão sensível dos acontecimentos sobrenaturais que renova. J á que realm ente oferecemos a homenagem suprem a, nós os membros, com nosso Chefe, Sum o Sacerdote, como poderíam os exercer nosso papel de sacrificadores e de vítim as, se ês- te não se patenteasse no decurso da santa oblação do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo?
É por isso que a Ig re ja não deixou de nos assinalar em têrm os precisos nosso papel no exercício do sacrifício do altar. U m a leitura aten ta das o ra ções e das cerim ônias da S. M issa m ostrar-no-lo- á. Às provas doutrinais enunciadas nos capítulos precedentes, a san ta L itu rg ia , cuja autoridade está acima de qualquer contestação, deverá acrescentar um a confirm ação prática e, por assim dizer, palpável.
Nosso estudo lltúrg-lco tlmltar-se-á & demonstração desejada
N ão é possível pretender aqui um estudo completo da liturgia da S anta M issa. L ivros adm iráveis têm sido publicados, aos quais os fiéis, desejosos de conhecer a história da S. Missa, a significação
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A MISSA, OBLAÇAO DO CRISTO M ÍSTICO 53
de cada uma de suas orações, o modo de acom- panhá-la, poderão recorrer com vantagem.
O presente volume tende a um fim mais restrito : m ostrar ao m embro do Corpo M ístico, isto é, ao fiel em estado de graça, que a oblação de Cristo é "sua” Missa. Som ente nas partes em que ela faz resplandecer esta verdade será a L iturg ia evocada no curso das linhas que seguem.
Q uando os fiéis tiverem claram ente percebido que a Missa de C risto é “sua” Missa, quando tiverem bem com preendido o valor de sua cooperação pessoal na homenagem infinita, terão a verdadeira noção do Sacrifício do altar, sentir-se-ão mais vivam ente impelidos a ap ro fundar suas m aravilhas, porque possuirão neste caso o verdadeiro fio condu to r para seguir com proveito os au tores que abordam o assunto.
O que nos mostrará a liturgia da missaA s fórm ulas e os ritos da Santa M issa nos fa
rão reconhecer ao vivo quatro verdades:1." que os mem bros de C risto oferecem com Ê le;2.° que êstes membros se oferecem com Êle;3.” que o sacerdote visível e secundário, ao a ltar,
é ao mesmo tempo um membro que por sua vez participa da oblação, e é nosso representante oficial e o de Cristo;
4.° que C risto invisível é o Sacerdote Suprem o e principal.
Os têrmos pelos quais nos oferecemos com Cristo
A liturgia da S anta M issa está cheia de expressões indicando que a M issa é “nossa", e que ela é nosso sacrifício. U m a delas parece resum ir to das as outras. O sacerdote diz, com efeito, voltando-se para os fiéis: “O rai, irmãos, para que o
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meu e vosso sacrifício seja agradável a D eus.”1 A Ig re ja não receia repetir que "nós oferecem os" o sacrifício "que é o nosso” à Santíssim a T rindade.
E sta verdade fundam ental preside a tôda a oblação.
À o ferta do cálice, o texto é expresso do seguinte modo: “N ós Vos oferecemos, Senhor, êste cálice da salvação.”2 .
A L iturg ia insiste neste “nós oferecem os” que o sacerdote repete em várias partes: “ Recebei, ó T rindade Santa, esta oblação que nós Vos oferecem os. . . ”3 “Suplicam o-Vos que aceiteis êste Sacrifício que nós Vos o fe recem o s.. . ”4
Não c esta repetição bem significativa? N ão é perm itido, portanto, duvidar de nossa colaboração com o sacerdote ao altar.
A lguns fiéis poderiam , todavia, im aginar que o sacerdote diga “nós” como se dissesse “eu” , por simples m aneira de falar, servindo-se do "plural de dignidade” que c usado, por exemplo, pelo P a pa quando se dirige ao m undo católico, ou pelo Sr. Bispo, quando diz: “ Nossos Irm ão c a r ís s im o s .. .”
M as a Igreja , que não adm ite o equívoco e que tem interesse de esclarecer com plena luz esta g ran de verdade da cooperação de todo o Corpo M ístico na oblação, tomou suas precauções para mostra r que êste “nós” abrange tôdas as alm as unidas a C risto pela graça.
Ao ofertório , no momento em que o sacerdote faz a oblação do cálice, a L itu rg ia explica logo êste “nós Vos oferecem os” por meio de um gesto que particulariza sua significação. N as M issas solenes o diácono eleva o cálice jun tam ente com o
1) "Orate Fratres.” 2) Oblação do cálice.3) Oferecimento à SS. Trindade.4) Comêço do cânon.
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A MISSA, OBLAÇAO DO CRISTO M ÍSTICO 55
sacerdote e com êle recita, em voz escutável por ambos, a fórm ula da oblação: “ N ós oferecemo- V o s . . . ” E ste “nós” está, pois, bem no plural: representa duas pessoas, das quais uma, que é o d iácono, toma parte na ação san ta em lugar de todos os fiéis.
Além disso, aquele que hesitasse ainda acêrca da pluralidade dêste “nós” encontraria, em alguns outros textos da Santa M issa, os esclarecimentos requeridos. Antes da elevação, m uitas palavras li- túrgicas provam que êste “nós” significa o sacerdote e todo o povo cristão oferecendo o santo Sacrifício com Jesus C risto, Sacerdote principal. N o memento dos vivos, o celebrante d iz : “Lem brai- Vos, Senhor, dos Vossos servos, pelos quais Vos oferecem os ou êles Vos oferecem esta oblação de nossa s u b m is sã o ...”
Pouco depois, 110 m omento em que estende as mãos sôbre o cálice que vai consagrar, o celebrante diz: “Suplicamo-Vos, pois, Senhor, que recebais favoravelm ente esta oferenda de Vosso servo e de tôda a Vossa f a m í l ia . . .” 5
Não está assim claram ente indicado que o sacrifício é a obra de todo o Corpo M ístico designada aqui nestes têrm os: “ tôda a V ossa fam ília” ?
Logo após a consagração, como para novam ente a firm ar em face do próprio Cristo a união de todo o Corpo Místico com seu “chefe incom parável” , ali presente no a ltar, a Ig re ja faz repetir o “nós” , particularizando de propósito o sentido que êle encerra: “ Nós, Vossos servos, e todo o povo s a n to . . . (isto é, todo o Corpo M ís t ic o ) .. . o fe recemos à Vossa divina M ajestade o dom que re cebemos de V ó s . .
5) "Hanc igitur”.6) Cânon: "Unde et memores.”
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56 P R IM E IR A P A R T E
O cânon term ina pelo P a te r noster, nova e solene afirm ação da cooperação dos fiéis e de Cristo na oblação. Com efeito, é com ordem do próprio Deus que ousamos dizer: "P ad re nosso.” P o r que esta desculpa: “ousam os d izer” ? E ntão a fórmula P ad re Nosso é assim audaciosa? Sim, Deus tem um Filho único e êste Filho somos nós unidos a C risto ; c o “Cristo M ístico” . Somos os membros de C risto, portanto, todos nós, unidos à Cabeça, somos o único F ilho de Deus. N ão somos, ao lado de Cristo, ou tros filhos inum eráveis de Deus, mas somos membros do Filho único, o único que tem as “complacências” , e sem o qual “nada podemos fazer” (Jo 15, 5 ), nem mesmo recitar o P ad re Nosso.
Somos, pois, nós, vós e eu, hum ildes fiéis, confundidos nas som bras do templo, mas atentos à oblação, ou ainda os ausentes, que unem a sua intenção ao santo Sacrifício, somos todos nós os sacrificadores mui variáveis, isto é, segundo nossa condição sobrenatural, nossa piedade, e nossa vontade pessoal.
Em suma, a santa L iturg ia nos dem onstra com evidência que o Sacerdote principal da S. Missa, que oferece pelo m inistério do celebrante, é “ Cristo M ístico”, Cabeça e membros, no ponto de crescimento em que está -no conjunto atual de todos os fiéis. Celebramos, pois, com Êle, cada um segundo seu papel, pequeno eni comparação do d Lie, porém grande, glorioso, m aravilhoso e transcendente, em relação à nossa natural pequenez!
As prova9 lltúrglcas que mostram que todo o Corpo Místico é vitima com Cristo
Desde que é C risto M ístico que oferece, é Êle que se oferece, pois, no a lta r como no Calvário, o sacerdote e a vítim a são os mesmos.
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Eis por que a Igreja , po r sua L iturg ia , mostra visivelmente que estam os intim am ente unidos à V ítima do a lta r e com ela somos oferecidos. E , com efeito, o sacerdote m istura uma gota de água com o vinho. E ssa gota de água somos nós. O uçamos sôbre êste assunto a S. C ipriano: “A água simboliza o povo c r is tã o .. . po r isso é que nos é proibido, ao consagrar o cálice, o ferecer só o vinho, ou só a á g u a . . . O ferecer o vinho consagrado serh m isturá-lo com água, seria como se C risto pudesse ser oferecido sem nós; mas, quando o vinho e a água estão m isturados, só então é que se realiza a totalidade do sacram ento espiritual e celeste.”7
Nós, membros do Corpo Místico, somos co-ví- tim as com nosso Chefe. É po r isso que, logo após a oferenda do pão e do vinho m isturado com água, a Ig reja faz o sacerdote, que fala sem pre em nosso nome, recitar:
“Em espírito de hum ildade e com o coração contrito , fazei, Senhor, que sejam os aceitos por Vós, e que assim nosso sacrifício seja agradável aos Vossos o lh o s .. . ” .
Se o Cristo C hefe fôsse Êle só a vítim a, te ría mos acaso necessidade de pedir que “sejam os aceitos” , e que “nosso sacrifício seja agradável?
Assim a “cabeça incom parável” não se o ferece separada de seus membros, mas com todo o Corpo M ístico. Tam bém êle, para que seja “agradável” e por isso mesmo “aceito” , deve apresentar-se e “oferecer-se” com tôda a hum ildade e contrição: com tôda a humildade, isto é, aniquilando- se após C risto ; com tôda a contrição, isto é, elim inando de si as menores causas de desunião com êle. Desta form a, os m embros do Corpo Místico se
A MISSA, OBLAÇAO DO CR ISTO M ÍSTICO 57
7) S. C ipriano, C a rta 63.
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rão certam ente “aceitos” como vitimas, pois são apresentados com seu Chefe, o qual agrada sempre infinitam ente à divina M ajestade.
Foi êste mesmo espírito de hum ildade e de contrição que ditou as adm iráveis fórm ulas litúr- gicas que são recitadas logo após a consagração e nas quais a Ig re ja suplica ao Altissimo que não atenda às fraquezas de seus membros, mas aos m éritos de seu Chefe, para recebê-la como uma vítima agradável no santo sacrifício da Missa.
E mesmo depois que- Cristo acaba de descer sôbre o altar, as orações sacras tomam um tom surpreendente de súplica, quando se poderiam até esperar, talvez, transportes de entusiasm o: “Dignai-vos lançar sôbre estas oferendas, — diz o sacerdote — um olhar propício e favorável, e aceitá-las como aceitastes os presentes de Vosso servo, o ju sto Abel, o sacrifício do nosso patriarca Abraão, e o que Vos ofereceu M elquisedeque.”
Acêrca desta passagem do cânon da S. Missa, ouçamos um dos au tores que m elhor soube exprim ir o pensam ento que ela desperta:
“Ao ofertório , fomos associados como membros do Corpo M ístico de C risto à oblação da hóstia e do c á lic e .. . entram os como um grão de trigo no pão ou como um a baga de uva no cálice: — O ra, tudo isto form a uma única e mesma oblação — diz Bossuet.
Se Nosso Senhor, em quem Deus Pai pôs tô- das as suas complacências, tem sem pre a certeza de ser aceito por Êle, não acontece o mesmo conosco, que nos oferecem os com Êle. Ao lado da hóstia imaculada há ou tras hóstias menos p u r a s . . . E eis a razão pela qual a Ig re ja suplica a Deus que se digne inspirar a seus filhos as mesmas disposições que tinham os santos Pa tria rcas .”8
S) Le Moing.
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E sta prim eira súplica em favor do Corpo Mís- tico, que se oferece como uma vítim a evidentemente im perfeita, não basta para satisfazer à Santa Igreja . A L iturg ia retom a o mesmo pensam ento de hum ildade e de súplica com um a nova insistência: “ Nós Vo-lo suplicamos, Deus onipotente, fazei que esta oblação seja levada nas mãos do Vosso santo A njo ao Vosso a lta r sublime, à p re sença de Vossa divina M ajestade.”
Se Cristo fôsse só Êle a vítima, separada do seu Corpo M ístico, necessitaria, acaso, do favor de ser transportado até Deus pelos A n jo s ? .. . Êle, o Rei da côrte celeste, assentado ò direita, no mesmo trono que o Pai ? ! . . . M as, “para que esta oblação, que encerra sim ultaneam ente o Corpo e Sangue de nosso Senhor e a nós mesmos e nossos votos, seja mais agradável à divina M ajestade, conjuram os a Deus que a faça transpo rta r pelas mãos de seu santo A njo até ao sublime a lta r do céu. Tem emos que a nossa o ferta seja ainda muito im perfeita, e recorrem os aos santos A njos, a fim de que mais segura e prontam ente ela suba até D eus.”9
E stas súplicas da Santa Ig re ja devem ser para nós, cada m anhã, na Santa Missa, uma eloquente lição. Se a L iturg ia insiste tan to para nos to rn a rmos aceitos ao Altíssimo, do mesmo modo nos convida, com a mesma insistência, a trabalhar segundo a medida de nossas fôrças para nos to rnarm os agradáveis a Êle.
Em tôdas as Missas, ela nos prega a necessidade de nossa santificação. Se quiserm os oferecer, e' oferecer-nos com nosso Chefe, tornem o-nos m embros dignos dÊIe.
O s esforços quotidianos, perseverantes e mesmo heróicos que fizermos, não serão demasiados para to rnar-nos mais aptos a partic ipar da obla-
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9) Le Moine.
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ção. A secreta da festa da Santíssim a Trindade exprim e adm iravelm ente esta necessidade de perfeição que se impõe ao Corpo Místico, a fim de que se torne um a vítim a de sacrifício agradável a D eu s : “Santificai, Senhor, esta hóstia que Vos oferecem os, e por ela fazei de nós um dom eterno à Vossa M ajestade."
A liturgia mostra-nos o tríplice papel do sacerdote
A liturgia da Santa M issa nos revela o lugar privilegiado que ocupa o sacerdote ao altar, onde desempenha um tríplice papel:
1.® como representante do Chefe, ocupa o lugar de Cristo, tom ando atual e visível o ato m isterioso.
2.° como nosso representante, a tua em lugar dos fiéis, falando em seu nome e oferecendo o sacrifício “dêles” , que é também o “dêle” .
3.® como membro do Corpo M ístico, tom a sua parte pessoal na oblação, segundo o g rau de sua caridade, de seus m éritos e de sua união com o Chefe. Êstes três aspetos das funções do sacerdote ao a lta r estão adm iravelm ente indicados na L iturgia.
A liturgia c o papel do sacerdote: representante de Jesus Cristo
Ao a lta r o sacerdote é substituto do próprio Chefe, com o título de representante oficial da cabeça, à qual estamos unidos.
Depois de ter oferecido em seu próprio nom e e em nome do povo cristão, na prim eira parte da Santa M issa, o sacerdote, na oração “H anc igi- tu r ”, pronunciada com as mãos estendidas sôbre o pão e o vinho, m uda de expressão.
Êle já não existe, por assim d izer; é um outro Jesus Cristo.
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CAP. IV. A MISSA, OBLAÇÃO DO CRISTO MÍSTICO 61
A companhemos o texto que pronuncia e os atos que execyta: êle exerce as funções do Sacerdote principal e invisível.
“N a vcspera de sua paixão — diz o celebrante — Jesus C risto tomou o pão” . . . e êle toma o pão, fazendo o mesmo gesto que fêz Jesus C r is to . . . "e elevando os olhos ao céu, para Vós, ó D e u s . . . ” e o sacerdote eleva os olhos, im itando a pessoa de C r is to . . . “benzeu êste pão” . . . acrescenta o sacerdote, benzendo-o também ê l e . . . “e deu-o a seus discípulos dizendo: Êste é m eu corpo".
Foi C risto que falou pelos lábios do sacerdote, Cristo que agiu sensivelmente por meio da pessoa do sacerdote. Nesse m omento Cristo e o sacerdote eram apenas um : C risto falava, e o sacerdote em prestava-lhe seus ó rg ã o s .. . E o seu Corpo está presente: sim, o próprio Corpo de Cristo.
Gestos análogos, acom panhando palavras semelhantes, são executados também pelo sacerdote, antes da consagração do vinho. À fórm ula: “ Êste é o cálice de meu Sangue” . . . Jesus Cristo m udou o vinho em seu próprio Sangue.
O sacerdote falou e procedeu como se fôsse pessoalmente Jesus C risto ; os efeitos de sua palavra e de sua ação são os mesmos, como se realmente fôsse Cristo.
Pode-se im aginar um a representação oficial de união mais íntima e mais sólida?
Foi pela v irtude divina que a pessoa do sacerdote, a qual ein si mesmo nada é, concorreu para produzir a transform ação das substâncias — ou a transubstanciação. Como pôde êste sacerdote, que é e que perm anece um homem impotente por si mesmo, a tu a r acertadam ente ? Q ual a medida ju s ta de sua adm irável representação oficial?
O celebrante proporcionou a C risto um representante visível que, com sua vontade de consa
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g rar, mudou o pão no Corpo de Cristo e o vinho em seu Sangue.
O V erbo incarnado quer im o la r-se .. . mas onde e q u a n d o ? .. . como se poderá saber que se imol a ? . . . em que a l t a r ? . . . em que d i a ? . . . a que h o r a ? . . .
No lugar onde o sacerdote quiser aí estará p resente e será sacrificado o Chefe. O sacerdote é como o canal por onde passa a onipotência divina.
Cristo invisível atua visivelmente pelo ministério do sacerdote.
Oh, quanto é sublime a missão dos sacerdotes, que a L iturgia nos m ostra cada manhã, substituindo o Cristo Chefe, que então se to rna visível entre n ó s !
A liturgia e o papel do sacerdote: é nosso representante oficial
Se o sacerdote ocupa no a lta r o lugar de Cristo, ali é também nosso representante oficial. Se o ferecemos com Cristo e se nos oferecem os com Êle, não podemos todavia executar esta oblação por nós mesmos. Nosso Senhor escolheu dentre nós representantes da sociedade cristã, encarregados de realizar em nosso nome o Sacrifício de louvor.
A L iturgia faz sôbre-sair, duran te todo o decurso da Santa Missa, êste papel de representante oficial do povo cristão de que é revestido o sacerdote. E , de fato, desde o comêço da S. M issa êle se apresenta como nosso delegado. Depois de ter pedido perdão em nome de todo o povo, depois de te r cantado o hino triunfal do “Gloria in excelsis,” lê a oração que se denom ina Coleta.
E sta palavra Coleta significa “ reunião” . É assim cham ada porque o sacerdote como m inistro oficial e representante do Corpo Místico, recolhe e "reúne” as orações dos assistentes para apresen-
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tá-las em um a só a Deus, por meio de Jesus Cristo. N ão é, pois, uma oração privada que faz o celebrante ao altar, mas um a oração pública em nome da Ig reja inteira.
E sta associação íntima en tre os fiéis e seu rep resentante ao a lta r obriga o sacerdote a fa lar constantem ente conosco, e de nós a Cristo, nosso Chefe, e ao Pai onipotente. P o r esta razão, como vimos no parág rafo antecedente, c que o sacerdote pronuncia, em nome de todo o povo cristão, estas belas fórm ulas, por meio das quais, falando no plural, traduz os sentim entos e os pedidos do Corpo M ístico, como seu porta-voz.
A liturgia e o papel pessoal do sacerdoteAlém do papel que desempenha ao altar, como
representante de Cristo de um lado, e da Igreja do outro, o sacerdote é ainda, como cada um dos outros fiéis, um membro do Corpo Místico que oferece e que se oferece. P o r êste título, é obrigado, como os outros, a unir-se ao Chefe, com tôda a hum ildade e contrição.
E é por esta causa que, desde o princípio da S. M issa, form ula atos de tem or, de arrependimento, de santa a le g r ia .. . e faz a confissão de seus pecados, à qual os fiéis correspondem , por sua vez, com a própria confissão.
Ao subir ao a ltar, o sacerdote pede perdão por meio de duas orações, das quais a segunda contém um a particularidade bem significativa: “N ós suplicamo-Vos, Senhor — diz o celebrante, — que Vos digneis perdoar-m<? todos os m eus pecados.”
Aqui vemos Iodos os fié is im plorarem : “Nóssu p licam o -V o s ...” para que sejam apagados os pecados do sacerdote, seu representante: “todos os meus pecados” . O s fiéis não devem ter, pois, todo o interesse em que o seu representante o fi
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ciai seja tão perfeito quanto possível ao altar, como membro privado de Cristo? A caridade do sacerdote não é um a condição de validade para a oblação, mas não seria um a verdadeira calam idade, para o povo cristão, ter como seu representante oficial um “ ram o sêco” , ou mesmo um ra mo debilitado e sem vigor?
Esta caridade e perfeição in terior do sacerdote é julgada tão necessária pela Ig reja , que a L itu rgia obriga o celebrante a insistir na purificação de sua alm a no m omento do ofertório .
Enquanto eleva a patena e oferece o pão que vai ser consagrado, êle diz" “Recebei, santo Pai, esta im aculada h ó s t ia .. . que eu, Vosso indigno servo, Vos o fe re ç o .. . por m eus inumeráveis pecados, ofensas e negligencias.. . 11
Este “eu” , êste “m eus”, esta dem onstração da personalidade dêste membro influente do Corpo "Místico, que é o sacerdote ao altar, devem recordar-lhe, que, antes de represen tar a C risto na oblação do santo Sacrifício, antes de oferecer os ou tros fiéis a Cristo, é preciso que se ofereça a si próprio como uma hóstia pura , e que, na sua condição de sacerdote, se deve esforçar para ser o p rim eiro e o mais santo na oblação.
Após o ofertório do pão, a pessoa do sacerdote desaparece para d a r lugar exclusivo ao Corpo Místico. O “eu” extingue-se ante o “nós” du ran te todo o Sacrifício a té o m om ento da s. Comunhão, em que reaparece.
A S. Comunhão é, com efeito, o ato pessoal pelo qual cada membro sela sua união com Cristo: aqui o sacerdote e C risto estão face a face em um íntimo colóquio, que cada fiel, de seu lado, deve considerar como próprio.
11) Ordinário da S. Missa: Oblação da hóstia.
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O sacerdote diz: “Senhor Jesus C r is to . . . li- vrai-m e por êste Vosso santíssim o Corpo e Sangue de todos os meus pecados e de todos os outros males. Fazei que cum pra sem pre os Vossos m andamentos e que jam ais me separe de Vós.” 12
Depois acrescenta: “Q ue êste Vosso Corpo, que eu, ainda que indigno, recebo, não seja p ara meu juízo e condenação: m a s . . . sirva de defesa à m inha alm a e ao meu c o r p o . . . ” 13
O sacerdote nos é, pois, apresentado pela santa L iturg ia como um membro do Corpo M istico, que participa do Sacrifício como nós, fiéis, e obrigado contudo, por um título especial, a um a união perfeita com Cristo.
E sta lição de união, dada ao sacerdote pela Tgreja, na S. Missa, pode cada m anhã ser proveitosa ao simples f ie l ; porque nossa caridade, recordemo-lo sempre, é a medida de nossa participação, como sacrificadores e como vítim as do santo Sacrifício da nossa Missa.
A liturgia mostra-nos que Cristo é sacerdote principal
N ossa participação no sacrifício e a vista do celebrante, representante oficial nosso e de Cristo ao altar, devem-nos lem brar que, sob os ritos exteriores, só um atua de modo principal, só um é essencialmente Sacerdote, só um aplaca a Santíssima T rindade, apresenta-Lhe louvor condigno, cu- m ula-A de ações de graças, e canta-Lhe do modo que Lhe é devido o cântico das criaturas.
Êsse sacerdote é Jesus Cristo.A L iturg ia toma ainda aqui o encargo de com
penetrar-nos dêste grande pensam ento que deve dom inar tôda a nossa participação no santo Sacri
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12) 2.“ oração antes dá S. Comunhão.13) 3.a oração antea da S. Comunhão.
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fício, du ran te o qual não devemos perder de vista a Jesus Cristo.
Tôdas as orações que o sacerdote pronuncia term inam “por Jesus Cristo, nosso Senhor". A Ig re ja indica-nos que só por Êle é que podemos e devemos passar, porque só Êle é o Pontifice, a ponte que dá acesso às alm as que querem presta r a Deus verdadeira homenagem.
E sta fórm ula, repetida cem vêzes, expande em todo o decorrer da celebração de nossa M issa o pensam ento do C hefe sem o qual “nada podemos fazer” . (Jo 15,5.)
M as em duas ocasiões a L iturg ia insiste de modo particu lar nas prerrogativas do Sacerdote principal e invisível da S. M issa; no Glória e no fim do cânon.
N o Gloria, a Igreja , depois de ter louvado, adorado, agradecido ao Pai, canta com entusiasm o seu Chefe, Jesus Sacerdote;
“Ó Senhor, F ilho unigénito de Deus, Jesus C r is to . . . Vós que estais assentado à d ireita do Pai, tende piedade de n ó s . . . porque Vós sois o único Santo, o único Senhor, o único Altíssimo, ó Jesus Cristo .”
O que, evidentemente, equivale à fórm ula seguinte: “porque Vós sois o único Sumo Sacerdote da lei nova, sendo o único da raça hum ana que é Senhor, Santo e A ltíssim o.”
Q uantas vêzes, talvez, tenham os cantado o Glória, sem saborear a doutrina nêle encerrada, mas ignorando-a como um tesouro contido em um cofre, que nunca tivemos o pensam ento de ab rir?
O fim do cânon não nos recorda menos vivamente esta verdade de Cristo, Sacerdote principal.
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Tom ando o sacerdote a hóstia consagrada, e fazendo com elas sinais da cruz, pronuncia estas palavras:
“ P o r Êle, com Êle, e nÊle, a Vós, ó Deus, Pai onipotente, em união com o E spírito Santo, pertence e vos é dada tôda a honra e glória.”
Jesus Cristo é, pois, o Sacerdote de dignidade infinita, de cu ja adoração a Santíssim a T rindade recebe a homenagem completa de glória. Êle, para quem tudo foi criado, Êle que é o Chefe e o Rei de tôdas as cria turas (Col 16, 17), é o único Ser capaz de dar a Deus a satisfação condigna, Êle é a única voz que se eleva do m undo ao trono da divina M ajestade, a única palavra eloquente que penetra os céus. Só Êle ora e intercede em nome de tudo que vive e respira, só Êle é o nossó intérprete, o nosso advogado, o nosso Sacerdote.
A continuação das questões a tra ta r neste volume nos dará ocasião de fa la r novam ente nesta m aravilhosa e significativa passagem da litu rg ia da S. Missa. Contentemo-nos, por enquanto, de tira r a conclusão que procuram os: nosso sacrifício, que oferecem os com C risto, recebe todo o valor e fôrça do Sum o Sacerdote, e não de nós mesmos que somos colaboradores secundários.
Q ue ventura é para nós, m embros do Corpo Místico, serm os cham ados a oferecer com Êle esta oferenda sublime da Ig re ja , serm os associados à sua hom enagem infinita, e serm os ainda com Êle sacrificadores e vítim as pela virtude dos seus méritos, dos quais Êle se digna tom ar-nos participantes.
CAP. IV. A MISSA, OBLAÇÃO DO CR ISTO MÍSTICO 67
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S E G U N D A P A R T E
A obra que faço, celebrando “minha“ Missa.
N o capítulo prim eiro :
O que é “minha” Missa
se explica em que consiste êste ato essencial da religião, que celebro em cooperação com Cristo.
No capítulo segundo:
A glória de Deusse fala em particu lar sôbre a homenagem infinita que a Santíssim a T rindade recebe por meio da celebração da “m inha” Missa.
N o capítulo terceiro:
Meu fruto espiritual
se enum eram as vantagens incalculáveis que me proporciona “m inha” Missa.
No capítulo quarto :
O proveito para o purgatóriose procura provar como "m inha” M issa c um orvalho refrigeran te para aquelas chamas.
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S E G U N D A P A R T E
C A P ÍT U L O I
O QUE É “MINHA" MISSAJESUS CRISTO, TENDO-SE IMOLADO UMA Só VEZ. OFE
RECE EXATAMENTE O MESMO SACRIFÍCIO QUE NO CALVARIO. TEMOS A FELICIDADE. AO CELEBRAR A “NOSSA” MISSA, DE ESTAR PRESENTES NO G6L- GOTA.
“Minha" Missa é o CalvárioA S. Missa, que cada fiel celebra com Cristo,
não é um sacrifício de natureza diversa, representado no altar: é sempre o mesmo Sacrifício, o da Cruz, que Cristo Místico, isto é, Jesus unido a todos os seus membros, oferece e apresenta de novo à Santíssim a Trindade.
Vimos que há um só Sumo Sacerdote e uma só V ítim a; da m esma form a só há um Sacrifício. Compreende-se facilm ente que não pode h a ver dois: o sacrifício do Calvário é completo, porque é in fin ito ; atingiu de um modo perfeito e defin itivo os quatro fins pelos quais Jesus Sacerdote o ofereceu: adoração, ação de graças, petição de graças e satisfação infinita.
S. Paulo insiste nesta verdade fundam ental que o sacrifício de Cristo é único: “C risto ofere- ceu-se um a só vez pelos pecados do m undo.” (H eb 9, 28.)
Em outra parte o Apóstolo repete esta a firm ação: “Tendo oferecido uma única hóstia pelos pecados, assentou-se para sem pre à direita de D e u s . . . Porque, por uma oblação única, .consum ou para sem pre aquêles que estão santificados.” (H eb 10, 14.)
H á, pois, um único Sacrifício: o da Cruz.
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70 SEG U N DA P A R T E
Mas êste sacrifício único pode ser renovado
Se não existe sacrifício algum que esteja em paralelo com o da Cruz, “a oblação do C alvário”, por isso mesmo deve serv ir de apêlo a Deus, deve ser-Lhe repetida pelo Sacerdote V ítim a, e ser- Lhe novam ente apresentada, “ reapresentada” : esta renovação do Sacrifício da Cruz c a Missa.
D em onstrarem os a seguir a identidade perfeita que existe en tre a M issa e a Cruz, mas desde já tirem os do que foi dito um a consoladora conclusão: Nossa M issa é o Calvário. Tom am os parte no próprio sacrifício do Gólgota. Cada manhã estamos, como M aria estava, aos pés da verdadeira Cruz, oferecendo com ela o verdadeiro Filho de Deus. Talvez tenhamos invejado a sorte dos contem porâneos de Cristo, dizendo como aquêle guerreiro : “ Se eu tivesse estado l á ! . . . ”
N ós lá estamos, com Cristo, oferecendo-nos e oferecendo com Êle e por Êle. E êste mesmo C risto suplica-nos ainda e sem pre que O defendamos contra os carrascos perversos de seu Corpo M ístico.
A Missa é a exata renovação do CalvárioNosso Senhor Jesus C risto apresenta novam en
te em cada S. M issa a mesma oferenda e a mesma vítima.
A S. M issa — é preciso insistir bem neste ponto — não é um a imagem do Calvário, um facsímile, não! N ão é um a representação como entendemos serem representações teatrais, as quais figuram e recordam um acontecim ento por meio de personagens fictícios que fazem as vêzes de pessoas ausentes. N ão! a S. M issa é a renovação do sacrifício do Calvário, renovação real, substancialm ente a mesma em sua oferenda e em seus resultados, apresentado pela mesma personagem , Jesus Cristo,
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CAP. I. — O QUE £ “M IN H A ” MISSA 71
Sumo Sacerdote, que reitera a mesma ação, que rende a mesma homenagem ao Altíssimo.
Estas idéias merecem exam inadas cada uma de per si.
Missa e Calvário: mesmo sacerdote, mesma vitima
O sacerdote da S. M issa é exatam ente o mesmo que o do Calvário: Nosso Senhor Jesus C risto. “E já que Êle está sem pre vivo para interceder em nosso favo r” (H eb 7, 2 5 ), está pronto tam bém a repetir a seu Pai a homenagem suprem a pela qual cum priu satisfatoriam ente sua função sacerdotal. Consente em valorizar, para nós, o g ran de ato de religião que salvou o mundo, associando- nos a si.
A vitim a do Calvário é também a vítim a da S. Missa. Se a vítim a fôsse destru ída em cada oblação, seria preciso renová-la. O ra, nossa vítima, logo após a m orte, conquistou o direito à ressurreição em prim eiro lugar, — e à im ortalidade depois: “C risto ressuscitado dos m ortos não m orre mais.” (R om 6, 9 .) A vítima sobrevive, pois, infinitam ente perfeita e gloriosa, sem alteração, através de todas as M issas celebradas: ela mantém pela sua perpetuidade a identidade substancial do sacrifício do a lta r com o do Calvário.
M as como Nosso Senhor pode ser vítim a sem m orrer em cada M issa?
Pode, porque lhe bastou aceitar um a vez sá a m orte para adquirir m érito infinito e d a r louvor perfeito à Santíssim a T rindade. De posse dos direitos adquiridos po r esta única m orte — direitos que não podem ser aum entados, porque são infin itos — reitera todo o produto de adoração, de louvor, de ação de graças, de satisfação, renovando êsses atos a Deus, com o direito de V ítim a perpétua.
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O ato de Jesus Cristo, Sacerdote e V itim a naS. M issa, é idêntico ao ato de Jesus Cristo, Sacerdote e V itim a na Cruz: é a oblação da mesma morte.
H á, pois, identidade completa entre a S. Missa e o Calvário. O s cristãos têm na verdade um só Sacrifício: o sacrifício de C risto, Sacerdote e V ítima.
Jesus Cristo teve a intenção de representar visivelmente na S. Missa a cena do Calvário
P ara m ostrar-nos até à evidência a unidade de sua oblação, Nosso Senhor, ao institu ir o Sacrifício do altar, teve intenção de reproduzir de uma m aneira sensível aos nossos olhos o dram a do Calvário. Sua sabedoria fêz mesmo da instituição da E ucaristia uma cópia da cena do Gólgota, a fim de fazer-nos concluir, por meio da semelhança visível, a identidade perfeita que existe en tre a homenagem da S. M issa e a da Cruz.
N ão foi ao acaso que Nosso Senhor, para institu ir a “M issa” , escolheu dois elementos: o pão que se m udará em seu Corpo, e o vinho que se transfo rm ará em' seu Sangue.
Êste pão e êste vinho, separados no altar, apresentam uma imagem sensível, que qualquer fiel, mesmo o mais simples, deduz da separação real do Corpo e do Sangue, feita no Calvário. A S. Missa foi, pois, instituída por Nosso Senhor sob a form a de uma “ lição de coisas” , cu ja significação está ao alcance de todos. O sentido desta “ lição de coisas” é sublinhado e fixado pelas palavras da consagração. N ão foi sem intenção que Cristo consagrou separadam ente o pão e o vinho. T eria podido dizer sôbre am bos os elementos, ao mesmo tem po: “ Isto é o m eu Corpo e Sangue” e operar num mesmo ato a m udança das duas substâncias.
72 SEG U N DA PA R T E
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M as não fêz assim. Tom ou prim eiro o pão, benzeu-o e partiu-o, dizendo: “Tom ai e comei, êste é o meu Corpo.” (L c 22, 19.)
Depois, elevando a taça de vinho, disse: “ Bebei dêle todos, porque êste é o meu Sangue.” (L c 22, 20.) Nosso Senhor pôs separadam ente seu Corpo sob as espccies de pão, seu Sangue sob as do vinho, para represen tar exatam ente o sacrifício do Calvário, que coloca o Sangue à parte do Corpo, estando todavia presente todo inteiro sob cada uma das espécies.
O sacrifício da S. Missa renova invisivelmente o sacrifício da cruz
Q ue se passa invisivelmente no altar, a través dêstes sinais sensíveis do pão e do vinho, consagrados separadam ente, que nos apresentam Jesus Cristo sob o aspecto de um a m orte violenta na S. M issa?
Cristo realm ente presente sob as espécies sacram entais, renova a seu Pai a homenagem do Calvário. Sua oblação é exatam ente a m esma que no Gólgota, porque o Sacerdote-V ítim a d a S. M issa é o mesmo da Cruz. Sua obediência, sua subm issão a seu Pai, continua a mesma, e sua hom enagem também não sofreu alteração; apresenta sem pre à Santíssim a T rindade a mesma cópia de m éritos infinitos, não susceptíveis de novos acréscimos. Ganhou tudo só por sua m orte sanguinolenta na Cruz, da qual seria inútil renovar os horrores, porque nada poderiam acrescentar ao valor da prim eira imolação, já então completa.
Sacerdote e V ítim a, cu ja oblação é tão perfeitam ente significada no altar, Êle renova à M ajestade divina a mesma homenagem infinita de adoração, de louvor, de ação de graças e reparação; encontram os exatam ente na S. M issa tudo
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o que constituía o Calvário. Podem os proclam ar que C risto só tem um Sacrifício que cada membro do Corpo M ístico pode cham ar “sua” M issa.
Uma nota de passagem: a Eucaristia é sacrifício
e ao mesmo tempo sacramentoO que acabamos de dizer m ostra claram ente quais
eram as intenções de Nosso Senhor, no momento em que instituiu a E ucaristia:
1.° Preocupado com os interesses de seu Pai, seu pensam ento era instituir a 5\ Missa, isto é, p rolongar a través do m undo seu ato sacerdotal, a fim de que os membros fu turos de seu Corpo Místico pudessem, por Êle, com Êle e nÊle, desem penhar o seu principal e prim ordial dever de louvor perfeito à Santíssim a T rindade ;
2.° Impelido pela preocupação de realizar a união de seus m embros consigo mesmo, Chefe adorável, por meio do aum ento da caridade, or- denava-lhes — "tom ai e comei” . . . “ tomai e bebei dêle todos” — que se associassem ao seu Sacrifício, não som ente por um a união de sentim ento e de vontade, mas ainda por um ato oficial de adesão, e de união tanto ex terna como interna: a Santa Comunhão.
3.° Im pelido pelo am or e sabendo, além disso, que não seríam os adoradores fiéis da divina M ajestade, se não fôssemos sem pre alentados, dig- nou-se prolongar sua presença real muito além da duração do Sacrifício e fazer-se hóspede perpétuo dos nossos tabernáculos.
Vemos, pois, que a E ucaristia é um Sacram ento que nos foi dado, mas que tem em vista render a Deus a glória in finita que procede do Sacrifício.
Tal é a ordem estabelecida por Cristo: não a transtornem os. Somos adoradores por meio de “nos
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sa” Missa, a qual só celebramos completamente quando nela comungamos.
O fru to pessoal do Sacram ento deve ser certam ente encarado por nós, porque tem suma importância; não deve, porém , fazer-nos perder de vista a idéia de que nosso progresso individual te rá po r resultado final fazer-nos m embros mais unidos ao Chefe, e por êsse meio mais perfeitos adoradores com Êle da divina M ajestade.
Compreende-se daqui o ê rro em que caem certas pessoas, cegas pelo egoísmo pessoal: imaginam que Cristo está presente na E ucaristia só para e las; rogam -Lhe apenas pelos próprios interesses particulares, esquecendo os de Deus!
Daqui se vê também quanto se enganam aquêles que am am a E ucaristia, mas sem a S. M is s a . . . que procuram com ungar fora da S. M issa "para não perder tem po” , que vêem na S. M issa não o sacrifício do Calvário, autêntico, onipotente, mas só o meio necessário para se obterem hóstias consagradas . . .
A todos êstes erros de uma piedade mal esclarecida oponhamos o verdadeiro e santo conhecimento do M istério do altar, Sacrifício perpétuo da C ruz; e aproveitem os sobretudo do sacram ento da E ucaristia para aum entar nossa união com nosso C hefe a fim de associar-nos cada dia mais perfeitam ente à sua homenagem infinita.
A liturgia frisa a identidade entre a S. Missa e o Calvário
As cerim ônias que a Ig re ja infalível usa no ato, divinam ente instituído, da consagração, têm o escopo de to rnar visível, quanto possível fôr, a realidade oculta, isto é, o verdadeiro Sacrifício de Nosso Sènhor.
A L iturg ia insiste na separação do Corpo e do Sangue no altar, g rifando de propósito as pala-
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vras de Nosso Senhor e sua vontade de ter, no sacrifício da S. M issa, o aspeto que Êle possuía no Calvário quando passava pela m orte mais angustiosa, a “única” que daí em diante e para semp re teria valor.
Com efeito, nas orações do cânon que se seguem à consagração, lemos esta fórm ula: “ . . . a fim de que todos que recebemos o Corpo e o Sangue de Vosso F ilho” . Enquanto o celebrante pro nuncia estas palavras, vai fazendo com a m ão dois sinais significativos: quando diz "o Corpo” faz um sinal da cruz sôbre a hóstia: e ao dizer “o Sangue” fá-lo sôbre o cálice. P o r êstes dois atos especifica o sentido das palavras “o Corpo de Cristo”: é a E ucaristia sob as espécies do pão ; e das palavras " o Sangue de Cristo” : é a Eucaristia sob a espécie do vinho.
A Ig re ja quer, pois, de modo especial m ostra r pela representação ex terior do Sacrifício do Calvário, em que o Corpo foi realmente separado do Sangue, que o sacrifício da S. M issa é idêntico ao da Cruz.
O u tra cerimônia instituída no fim do cânon m anifesta com nova insistência que a Ig re ja nos quer fazer com preender que a S. M issa e o Gól- gota são o mesmo Sacrifício de Cristo.
O sacerdote, im ediatam ente antes do “ P a te r” , pronuncia esta adm irável fórm ula: "P o r Êle, com Êlc e nÊle, a Vós, ó Deus P ai onipotente, em união com o Espírito Santo, seja dada tôda a honra e glória.” E sta fórm ula é acom panhada de gestos que dão a esta frase um sentido bem significativo.
A ntes de p ro fe rir a fórm ula, o sacerdote eleva com a m ão direita a H óstia acima do Cálice, como para colocar Jesus C risto na m esm a posição que tinha no Calvário.
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N o Calvário, estava com os braços em cruz: o sacerdote vai colocá-los da mesma maneira. E n quanto diz “por Êle, com Êle e nÊ le” , faz com a H óstia, acima do precioso Sangue, três cruzes, que m ostram o Corpo crucificado acima do Sangue. Ao mesmo tempo essas três palavras pronunciadas re sumem tôda a economia do Calvário onde por Jesus, com Jesus e em Jesus, se realizou tôda a obra infinita.
E sta homenagem sem limites dirige-se à Santíssima Trindade: ao Pai e ao E spírito Santo pelos m éritos do Filho. P o r um novo gesto do sacerdote, a Ig reja nos faz com preender, de um a parte, que estas três Pessoas divinas são distintas danatureza hum ana que se imola em Cristo, e por ou tra, que a Redenção se estende muito além do Gólgota sôbre todo o universo redimido. E é por isso que, continuando a m anter a H óstia elevada, o celebrante a leva um pouco para frente e forado Cálice, e faz, em cima do altar, en tre o Cálice e seu peito, um prim eiro sinal da cruz, dizend o : “na unidade do E spírito Santo” , m ostrando dêsse modo que a hom enagem de C risto na C ruz se prolonga além do Calvário, onde é derram ado o Sangue por todo o mundo e sobe até às adoráveis Pessoas da Santíssim a Trindade.
E nfim , para resum ir esta reprodução tão viva do dram a do Calvário, a Ig re ja ordena ao celebran te que, continuando a m anter a H óstia en tre os dedos, a sobreponha acim a do Cálice, a fim de se ver de novo o Corpo acima do precioso Sangue; depois prescreve ao sacerdote que eleve ao mesmo tem po o Cálice e a H óstia acima do alta r, ao recitar o final da fórm ula: “Tôda a honra e tôda a glória”. E m certas igrejas o sacristão toca a cam painha para assinalar esta pequena elevação.
CAP. I. — O QUE Ê “M IN HA ” MISSA 77
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“T ôda a honra e tôda a g lória” realm ente foram dadas à Santíssim a T rindade desde o dia em que o Corpo de Cristo foi elevado sôbre a Cruz, como acaba de ser elevado sôbre o a ltar, conform e a palavra do próprio Senhor: “Q uando eu fôr elevado da terra , atra ire i tudo a m im” (Jo 12, 32.) E sta elevação não repete, assim, ao vivo, a que se realizou na C ruz?
O fim do cânon, em inentem ente grandioso e ao mesmo tempo antiquíssim o, pois talvez date mesmo dos tempos apostólicos, é a mais significativa expressão que podia ser dada para m ostrar que o mesmo ato, encerrando a m esm a homenagem, se realiza sôbre o a lta r e sôbre a Cruz.
Quão preciosa é, pois, a “minha” Missa!M embro de C risto posso cada m anhã ficar, co
mo esteve M aria, aos pés da Cruz, jun to a Jesus que se oferece em sacrifício.
Posso recom eçar cada m anhã a oferecer à S antíssim a T rindade a m esma hom enagem do Calvário !!
Posso cada m anhã unir-m e intim am ente à imolação de Cristo, não somente por um a correspondência perfeita de sentim entos e de afetos, mas pelo alto oficial da manducação da V ítim a, ato que encerra ao mesmo tempo um sinal ex terior cie adesão e um a comunicação in terior das mais abundantes graças. A h ! “m inha” M issa é um tesouro que encerra todos êstes b en s. . .
Como eu apreciaria o celebrar a “m inha” M issa com o sacerdote, se a conhecesse como ela o m erece!
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CAP. n . A G LORIA D E D EU S 79
C A P ÍT U L O II
A GLÓRIA DE DEUSA SANTÍSSIMA TRINDADE RECEBE NA S. MISSA "Tô-
DA A HONRA E TODA A GLORIA”, ISTO Ê. UMA HOMENAGEM INFINITA. TAL. QUE A DIVINA MAJESTADE NAO PODE DESEJAR DO MUNDO MAIOR ATO DE
P ara que um a homenagem seja infinita, é p reciso que aquele que a presta seja infinito.
Pois, se aquêle que a oferece é finito, seu ato rle adoração também o é, porque ninguém pode dar o que não tem. É por isso que a homenagem prestada por um homem nunca será capaz de satisfazer plenamente a Deus.
E n tre Deus e Cristo se realizaram as condições requeridas para que a homenagem fôsse infinita. Aquêle que a oferece é Jesus Cristo, finito como homem, e, por êste título, susceptível de hum ilhar-se ante a suprem a M ajestade do O nipotente, mas infinito, porque é o Verbo, segunda Pessoa da T rindade, que se associou à natureza hum ana com o fim especial de fazer esta na tu re za hum ana produzir atos de valor infinito.
O ato de homenagem pelo qual Cristo tem a intenção de trib u ta r a Deus, do modo m ais perfeito possível, os deveres de adoração, de ação de g ra ças, de súplica e de reparação, é seu Sacrifício. O ra, êste Sacrifício é único, tendo sido realizado um a só vez: é o sacrifício do Gólgota que se reproduz na S. Missa.
A S. M issa é, pois, de um valor infinito. Vimos que estamos associados à S. M issa como membros de Jesus Sacerdote, de um modo tão íntimo que a S. M issa de Cristo tom a-se “nossa” Missa.
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SEG U N DA PA K T E
Cada um de nós pode assim dizer, com tôda a verdade, que “ sua” M issa tributa tôdas as manhãs homenagem infinita à Santíssim a T rindade!
Q ue grandeza para cria turas tão pequenas! Que consolação! Q ue h o n ra !
A Liturgia assegura-nos que nossa homenagem é Infinita
A queles que tiverem dificuldade em acred itar em tal ventura encontrarão a confirm ação desta verdade na liturgia da Santa Missa. Seu rito, expressão sensível das ações ocultas que se realizam no a ltar, nos dá bem a conhecer a infinidade da glória que a . oblação eucarística tribu ta à Santíssim a Trindade.
O próprio texto do cânon nos declara expressam ente que o Pai onipotente, em unidade com o E spírito Santo, recebe do Hom em -Deus, V erbo incarnado, “ tôda a honra e tôda a glória” , isto é, uma honra total e uma glória completa.
O ra, a honra de D eus só pode ser completa e total, sendo infinita. U m ser sem limites não se poderia satisfazer por um a oferenda lim itada: essa homenagem, por mais extensa que fôsse, pareceria minúscula em relação ao fim a a t in g ir . . . seria tão insignificante em com paração da glória devida a Deus que dela nem se deveria f a l a r . . . M as a homenagem, assinalada pela liturgia na S an ta Missa, produz de m aneira total o efeito da honra e glória de Deus. É, pois, evidente que a homenagem do Sacrifício do a lta r é in f in ita : de “m inha” M issa resulta para D eus uma glória ilim itada.
Consequência desta verdade: o infinito valor de “minha” Missa
Precisam os deter-nos por um m omento ante um a tal m aravilha!
Eu, um ser de nada, estou unido a Cristo como os membros à Cabeça.
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CAP. H . A G LÓRIA D E D EUS 81
P o r esta Cabeça à qual estou ligado, recebo a vida divina que circula em todo o Corpo Místico. Êste Corpo M ístico, Cabeça e membros, executa um a obra divina, a S. M issa, a sua Missa. E sta obra divina c in fin ita ! G lorifica a Deus sem medida! E nesta glória tenho m inha parte ! E que parte ! Um valor infinito não se pode dividir, po rque não é constituído de partes finitas.
N ão c, pois, apenas um a parcela de louvor, mas “ todo o louvor e tôda a hon ra” que rendo ao Pai onipotente, em unidade com o E spírito Santo, por meio do meu Chefe, o H om em -D eus!
Que pode haver de mais grandioso que êste pensam ento ?
Os quatro aspectos do louvor infinito dado pela “minha” Missa
ftste louvor infinito, dado a Deus pela S anta Missa, atinge os quatro fins distintos, que são “os fins do Sacrifício” :
1." A dorar a Deus.2 ° A gradecer a Deus e render-Lhe ações de
graças.3.° O ra r a Deus, cum prindo o dever de sú
plica.4.° D ar reparação à honra de Deus e satisfazer
à sua M ajestade.P ara bem com preender qual a homenagem in
finita que D eus recebe na Santa M issa que — ó ventura! — é “m inha” M issa, é preciso exam inar bem os quatro aspectos do louvor que Cristo Místico, Cabeça e corpo, rende à divina M ajestade por meio do seu sacrifício.
1.° Pela “minha” Missa Deus recebe uma adoração Infinita.
A dorar a Deus é reconhecer sua grandeza e seu poder suprem o, é a firm ar sua suprem acia absoluta sôbre todo ser existente ou possível; é d i
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82 SEGUNDA P A R T E
zer a Deus que Êle é tudo, que Êle é o único necessário, que Êle é a própria perfeição.
P a ra que pudéssemos exprim ir ao vivo um a tal homenagem, Deus quis que C risto oferecesse seu sacrifício. Sob a lei antiga, as imolações rituais do templo de Jerusalém apenas tributavam a Deus atos de adoração m uito im perfeitos. E êsses ho- locaustos não agradavam ao Altíssimo, porque não recebia por meio dêles glória igual a si próprio: E is por que Nosso Senhor veio ao m undo para o ferecer finalm ente o Sacrifício único e sa tisfa tório que constituiria a adoração perfeita de Deus.S. Paülo diz-nos com efeito que, dirigindo-se Cristo a seu Pai, exclamou: “ Não quisestes nem aceitastes as oblações e os h o locaustos .. . então eu disse: E is que venho, ó Deus, para fazer a V ossa vontade.” (H eb 10, 9.)
O sacrifício de “m inha" M issa, que é o do Calvário, é, pois, a adoração infinita de Deus, perfeitam ente aceitável a Êle.
Como Cristo, por seu sacrifício, adora perfeitamente a Deus
Releva explicar como o Sacrifício da Cruz, perpetuado em “nossa” Missa, dá a Deus esta adoração infinita.
P ara ado rar perfeitam ente, é necessário, de um lado, que o adorador seja igual aO que é adorado: de ou tra form a a homenagem não seria digna dAquele a quem é dirigida, — e por ou tro lado, que seja inferior Àquele que é adorado: porque, senão, o adorador não teria razão algum a para hum ilhar-se. E stas duas condições parecem contrad itórias, e, no entanto, por um a m aravilha da Providência, C risto as realiza ao mesmo tempo: Êle é igual a seu Pai po r sua natureza divina e é in ferior a Êle por sua natureza hum ana. Pode,
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pois, humilhar-se, estando como homem abaixo de D eus; e como V erbo 'e terno , pode igualar em honra à Divindade.
V ejam ós agora como se realiza, de modo sublime, o ato de suprem a adoração pelo Sacrifício de Cristo.
A natureza hum ana de Cristo é a obra-prim a das mãos de Deus. E la é a cria tura ideal, acima da qual a p rópria O nipotência divina nada pode conceber, pois êste homem é Deus ao mesmo tempo. O mundo foi feito em vista desta c ria tu ra excepcional: “Tudo fo i criado por Êle e para Ê le . . Êl e é a Cabeça do Corpo da Ig reja , e é o princípio, o Prim ogênito dentre os m ortos; de m aneira que “ocupa a prim azia em tôdas as coisas” . (Col 1, 16, 18.)
Compreende-se que esta m aravilhosa superioridade de Cristo sôbre tôda cria tura existente ou possível Lhe mereça “as complacências do Pai celeste” . (M t 3, 17.)
N ão é evidente que esta obra prim a das mãos divinas, êste Cristo, Santo e Senhor, se ja digno de tôda a v e n tu ra ? .. .
Não. U m a sentença é pronunciada contra Êle: é preciso que m orra. E por que é preciso que m orra, Êle que é a própria vida?
Porque é preciso que, pelo seu aniquilam ento, m anifeste ante os olhos pasm ados do m undo que cria tura alguma, por mais bela e perfeita que seja, tem o direito de subsistir diante de Deus.
A hum ilhação de Cristo significa, pois, que “só Deus é Deus e que não pode haver ou tro D eus” . (D t 3, 24.)
A m orte de C risto é o reconhecimento oficial, público, solene, do soberano domínio de Deus sôbre a cria tura , é a exaltação suprem a do poder do Altíssim o, an te o qual deve ficar na som bra mes
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mo a mais perfeita de suas obras prim as: a m orte do H om em -D eus constitui o ato de perfeita adoração
A S. M issa, como vimos anteriorm ente, é o renovação do sacrifício da Cruz, e por isso o ato de suprem a submissão de Cristo an te seu P ai se m an ifesta aos nossos olhos no altar. Enquanto o H om em -D eus renova no momento da consagração esta suprem a homenagem, nós, m embros do Corpo M ístico, que com Êle adoram os, estamos sempre bastante impressionados com a m ajestade do ato que fazemos em companhia do nosso Chefe?
2.° Pela “minha” Missa, Deus recebe infinitas ações de graças.
O sacrifício da S. M issa é ao mesmo tempo um ato parfeito de adoração e de ação de graças. Êste pensam ento de reconhecimento é inseparável da adoração. E , com efeito, aquele que se aniquila ante a D ivindade é obrigado, mesmo quando afirm a que E la tem tudo, a agradecer-Lhe tudo.
E is por que C risto, imolando-se diante do seu Pai, Lhe deu ações de graças in fin itas! Todos os evangelistas referem que Nosso Senhor, ao institu ir na ceia o Sacrifício eucarístico, “ rendia g ra ças” no m om ento em que transform ava o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue. E stas suprem as ações de graças, repetidas com tan ta insistência por Nosso Senhor na véspera de sua dolorosa Paixão, dão bem a conhecer que, no pensam ento de Cristo, seu sacrifício na Cruz, p e rpetuado no altar, era um ato de ação de graças para com Deus.
A Ig re ja não podia deixar de re ite ra r o pensam ento do seu Chefe. Conservou cuidadosamente, nas próprias palavras da consagração, a expressão das ações de graças de Cristo. O sacerdote diz: “N a véspera da Paixão, Jesus C risto tom ou o
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CAP. n . A G LORIA D E D EU S 85
p ã o . . . e, levantando os olhos ao céu para Vós, ó D eus Pai onipotente, rendeu-V os graças, benzeu o pão, partiu-o, e tc . . . ”
Em seguida, sôbre o cálice: "D o mesmo modo, depois da ceia, Jesus tom ou en tre as m ã o s .. . êste precioso cálice, benzeu-o, rendeu graças outra v e z . . . "
E por isso não é de adm irar que a tradição cristã tenha denom inado o sacrifício da S. M issa: Eucaristia, que quer dizer “ações de graças” . Nos prim eiros séculos cristãos, "render graças” equivalia à nossa expressão atual “celebrar a M issa” .
A L iturgia, que vemos sem pre tão fiel em tra duzir as verdades dogmáticas, m ostra-nos quão sublime ato de ação de graças é a “nossa” Missa. E ela o faz em têrm os m agistrais e solenes.
N o momento do prefácio, o sacerdote convida os assistentes a m anifestar com êle, por meio de Cristo, a homenagem do reconhecimento: “Retida- mos graças — proclam a — ao Senhor nosso D eus.” Os fiéis respondem : “Devemos com tôda a ju s tiça.”
O sacerdote continua então com autoridade: “ Sim, é verdadeiram ente digno e justo , razoável e sa lu ta r retider-Vos graças, em todos os tempos e em todos os lugares, Senhor santíssim o e onipotente, Deus eterno, por Jesus Cristo, Nosso S e nhor.”
É de notar o acúmulo dos têrmos, em pregados pela L iturg ia: a ação de graças é uma questão de dignidade, de justiça, de equidade, de salvação . . . deve ser dada a Deus, por tôda parte, sem pre. . . O único ser que a dá de um modo “digno, justo , razoável e sa lu ta r” é Cristo, do qual se vai renovar o sacrifício.
A S. M issa é, pois, o ato po r meio do qual, “por Jesus Cristo Nosso Senhor” , isto é, a Cabeça do
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Corpo M ístico, nós seus m embros podemos o fe re cer a Deus uma homenagem de reconhecimento que será suficiente, porque te rá um valor in finito.
Que agradeço a Deus com “minha” Missa?
N ossas ações de graças devem seguir um a certa ordem : é preciso agradecer o que c mais im portante. A inda neste ponto a santa L iturg ia nos vai guiar.
N o versículo do “Gloria in excelsis” os fiéis cantam um a expressão, cujo alcance talvez nem sem pre atinjam , mas que devia ser uma revelação para a piedade. E is a expressão: “Damo-Vos graças por causa de Vossa grande glória ."
E is o que principalm ente devemos agradecer a Deus: a sua g lória! A gradecer-Lhe por ser o infinito em tudo, infinitam ente bom, infinitam ente perfeito , infinitam ente poderoso. É êste o mais forte m otivo do nosso reconhecimento para com Deus.
N a verdade, uma só coisa c im portante, um a só coisa é necessária, a grandeza e a soberania de Deus: daí advém todo o bem das criaturas.
A ntes do mais, agradeçam os-Lhe por Ê le ser o que é, isto é, infinitam ente glorioso.
Ao render graças a Deus, por causa de sua grande glória, o m embro de C risto harm oniza seus agradecim entos com os que exprim e seu Chefe adorável po r meio de seu sacrifício: porque Cristo, que recebeu de D eus a ciência verdadeira, não pode ter um motivo mais imperioso para exprim ir seu reconhecimento à in fin ita M ajestade, que o da sua glória incomensurável, fonte de todos os bens que têm gozado e gozarão Cristo Chefe e seus membros.
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Como nos eleva esta ação de graças de Cristo! E la faz-nos subir muito acima das vistas interesseiras. M uitas alm as cedem à tendência natural de agradecer a Deus som ente os benefícios particulares que receberam. Certam ente cum prem seu dever: devemos ser reconhecidos pelos dons que Deus nos concede; virtude, ciência, saúde, posses . . . M as quantas almas se preocupam de tal form a com o dom que se esquecem do D oador!? P o r exemplo, agradecem a Deus a cura de uma doença, sem pensar que o domínio sôbre aquela m oléstia supõe em Deus um poder, uma bondade, uma compaixão infinitos, de modo que só estas já m erecem louvor, homenagem e ação de graças! E sta “grande g lória” , objeto de todos os sentim entos de agradecim ento de Cristo, m uitas vezes, não ocupa em nós o prim eiro lugar a que tem direito.
É verdade que, sem o saber, nossas ações de graças, passando pela Santa Missa, são aperfeiçoadas pelas de Cristo, de m aneira que, sem o supormos, agradecemos a Deus como devemos pela reta intenção de fazê-lo por meio de nosso Chefe e Sacerdote, Jesus. Mas como seria preferível que aprendêssem os a harm onizar “voluntariam ente” nossas ações de graças com as de Cristo, de modo a se tribu ta r à Santíssim a T rindade a m aior cópia de ações de graças, “pela sua m aior g lória” fonte de todo o b em !
S.° “Minha" Missa apresenta a Deus pedidos que Lhe são infinitamente agradáveis.
Deus deve ser im plorado porque é infinito. A cria tura por si mesma é só indigência; deve ped ir esmola. M as a oração não é só um a necessidade, é um dever que nos vem da obrigação de ador a r a Deus e do reconhecimento de nossa miséria. A dorar é reconhecer que Deus é o Senhor de tudo: é, portanto, necessário pedir-Lhe tudo. E is
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po r que Nosso Senhor censura aos seus Apóstolos de não pedirem coisa algum a: “até agora não pedistes nada.” (Jo 16, 24.)
E é possível a mim rogar a D eus dignam ente? Sim, em "m inha” M issa, porque nela Lhe suplico “por meio de Cristo”.
Dois são os motivos pelos quais as súplicas que dirigim os no santo a lta r agradam perfeitam ente a D eus; prim eiro, em vista da pessoa dAquele que o ra ; e depois por causa dos pedidos que Lhe são feitos.
Aquele que ora é Cristo unido aos seus m em bros. É Cristo Místico, obra-prim a das mãos divinas, de quem sou parcela viva; neste Cristo, cabeça dos redim idos e doravante dêles inseparável, “Deus pôs tôdas as suas complacências” . (M t 3, 17.)
O s pedidos feitos por C risto são os mesmos' que D eus nos ordena: Cristo, como Deus, penetra os segredos da D ivindade. Sabe como quer Deus ser implorado por suas cria turas e quais as súplicas que serão despachadas ou rejeitadas. Portan to , tu do que Jesus pede ao im olar-se c certam ente “ levado à Santíssim a T rindade pelo A njo santo até ao altar sublime, à presença da divina M ajestade”1.
Cristo Místico cum pre, pois, de modo infin itamente perfeito , o grande dever da o ra ç ã o ; e como sou membro dêste Cristo, se uno m inhas intenções às suas, meu pedido, passando pelos seus lábios, toma as proporções de súplica onipotente que será certam ente atendida por Deus, porque Lhe é inteiram ente agradável.
E sta é um a das m aravilhas de “m inha” M issa: rogar a D eus como Êle é digno de ser rogado.
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1) Cânon.
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Que pede o Cristo Místico na Santa Missa?
Quais são êstes pedidos sem pre infalivelm ente despachados que devemos apresen tar a Deus por meio de Cristo Chefe, em “nossa” M issa?
Nosso Senhor mesmo no-lo indicou. "Deveis o ra r assim: — P adre nosso que estais no c é u . . . ” (M t 6, 9.)
Estas súplicas, que são sem pre atendidas e ag radáveis a Deus, por serem apresentadas por Cristo em seu Sacrifício, são as seguintes:
— Santificado seja o Vosso nom e;— Venha a nós o Vosso reino;— Seja feita a V ossa vontade assim na te rra
como no c é u ;— O pão nosso de cada dia nos dai ho je ;— Perdoai as nossas dívidas, assim como nós
perdoam os aos nossos devedores;— Não nos deixeis cair em tentação;— M as livrai-nos do mal.T al é a série de súplicas que C risto Chefe
apresenta e que devo apresen tar com Êle à S antíssim a T rindade no santo sacrifício da Missa.
N ão foi sem um a inspiração divina que a Ig re ja solicitam ente introduziu o P ater noster na L iturg ia da S. M issa, e no instante mais solene. Se Cristo se dignou revelar-nos como Êle ora, foi para que conform em os nossas intenções às suas: “D eveis o ra r assim .” O texto ensinado pelo Chefe do Corpo M ístico é muito próprio na ocasião do santo Sacrifício, a fim de que os fiéis façam suas sú plicas com o espírito com que devem ser pronunciadas.
O ra, qual o sentim ento que anim a tôda a o ração de Cristo? O sentim ento dos interesses de Deus. O s pedidos do P ater têm um característico
CAP. I I. A G LÓRIA D E D EU S 8»
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SEG U N DA P A R T E
bem im pressionante: percebe-se que visam o triun fo da M ajestade divina na criação do universo.
Nosso Senhor pede com efeito ao “N osso” P ai— a ê s te .P a i cujo Filho único é doravante Cristo Mistico, isto é, a Cabeça unida aos seus m embros— a sua glória (san tificado seja o Vosso nom e), o seu reino (venha a nós o Vosso reiiio), a sua vontade (se ja feita a Vossa vontade). A tendidas que sejam estas três súplicas, c sendo Deus perfeitam ente glorificado, aclamado e obedecido no mundo, que fa lta rá então ao universo criado? Deus não é tudo? Só Deus é necessário. Sendo Êlè glorificado, tudo está em ordem e a cria tura imersa na felicidade.
Cristo, portanto, teria podido lim itar a êsses os seus pedidos. Mas, para anim ar-nos, quer expor a nosso Pai as necessidades de seu Corpo Místico “complemento” (E f 1, 23) e acabam ento do F ilho único, e reclam ar explicitam ente para êste Corpo Místico os dons que encerram os três prim eiros pedidos.
Eis por que implora a substância quotidiana, es- . piritual e m aterial, para cada um de seus membros (o pão nosso de cada dia nos dai h o je ) , a fim de que, com o auxilio dêstes socorros, os fiéis possam glorificar a D eus; a caridade recíproca en tre os membros dêste Corpo (com o nós perdoam o s ) ; a persistência dos laços que ligam cada m embro ao Chefe (não nos deixeis c a i r . . . livrai-nos do m al). Penetrem os bem o sentido dêstes três últim os pedidos: se nos obtiverem o am or de Deus c o am or do próxim o e a união ao nosso Chefe, dar-nos-ão também a posse de tôdas as virtudes.
Dêste modo são expostas ao “nosso” Pai tôdas as necessidades dos m embros de seu Filho, necessidades, cu ja satisfação perm itirá ao Corpo Mis-
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tico colaborar fortem ente com a cabeça, a fim de d a r uma glória in fin ita à Santíssim a Trindade.
Assim, pois, quando, du ran te “nossa" Missa, recitam os com Jesus Sacerdote o P ater, procuremos com penetrar-nos dos dois grandes pensam entos que preocupam a C risto duran te a oração: Deus e seu Corpo Místico. Todo fiel que, no espírito de Cristo Jesus, apresenta a “nosso” Pai tais súplicas é certam ente atendido, e logo resulta para C risto “glória e felicidade”2, porque a divina V ítim a realiza, nesse ato mesmo, os fins que se propôs ao oferecer-se: glorificar a Deus, glorificar-se a si mesmo, glorificar seus membros.
A prendam os daí a form ular não somente os pedidos que apresentam os em “nossa” Missa, mas ainda todos os que fazemos no decurso do dia, ein união com nosso Chefe. Procurem os pedir segundo a ordem estabelecida por Cristo, isto é, em prim eiro lugar, os interesses superiores de Deus, su- bordinando-Lhe em tudo nossas vantagens pessoais: c o meio infalível para serm os atendidos.
Q uantas vêzes, talvez, terem os celebrado “nossa” M issa com Cristo, sem atender à form a que deviam te r nossas súplicas! E contudo orávam os com certa eficácia, porque o C hefe supria a falta de intenção de um membro tão preocupado de si mesmo, que sua oração ficava absorvida pelos seus próprios interesses particulares. D oravante, porém, serem os solícitos em rogar a Deus como devemos, por interm édio de Cristo, desapegando-nos de nós mesmos, a fim de nos revestirm os do espírito de Jesus Cristo.
Dêsse modo gozarem os dos fru tos da prom essa divina: “ Procurai em prim eiro lugar o Reino de Deus e tudo o mais será dado por acréscim o.” (M t 6, 33.) Q ue encanto e que suavidade nos
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2) Hino "Pange lingua”.
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SEGUNDA P A R T E
advirá com a abundância de todos os bens, concorrendo nós também para a missão de glorifi- cadores de Deus!
4.° Por meio de “minha” Missa, a honra da Majestade divina fica plenamente satisfeita e o pecado é reparado.
O sacrifício do C alvário consumou-se no Sangue e nos ho rro res do suplício da Cruz, porque era preciso pagar o pecado. Nosso Senhor aceitou em nosso lugar as humilhações extrem as p ara no-las poupar, e assim pagar por nós a dívida que nossas faltas nos tinham feito contrair com a divina M ajestade e a qual éram os incapazes de saldar. “N ossa” Missa, que é o mesmo sacrifício que o da Cruz, nos proporciona o mesmo resgate infinito.
Nosso Senhor, ao instituir a S. Missa, antecipou para nós a remissão dos pecados, operada pelo sacrifício da Cruz e do a ltar, porque em pregamos as mesmas palavras de que se serviu para consagrar: "Ê ste é o Cálice dè m eu sangue que será derram ado pela remissão dos pecados.”
A Ig reja , sempre fiel in térprete do pensam ento do seu Chefe, conservou todos os têrm os da instituição divina da S. Missa, e cada m anhã faz o sacerdote repetir a intenção de Cristo ao imolar- se "pela remissão dos pecados” .
A “nossa” Missa encerra, pois, em si, um poder ilimitado de perdão. Poder infinito, porque a Ví- tim a-Sacerdote é in finita e porque suas reparações têm um valor divino. O que homem algum, por mais excelso que fôsse, podia realizar, o Redentor o realizou além de tôda m edida, conform e a afirm ação de S. Paulo: “O nde abundou o pecado, superabundou a graça.” (R om 5, 20.)
A “m inha” M issa tem, pois, o poder incalculável de restabelecer a honra devida à Santíssim a T rindade, perm itindo à cria tura , devedora indi
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gente, de pagar ao seu C redor infinitam ente ju s to e exigente “até o último centavo” (M t 5, 26 ), de modo que a harm onia e a caridade se acham restabelecidas en tre o mundo culpado e a infinita Santidade. Q uanto mais form os unidos ao nosso Chefe na oblação do santo Sacrifício, mais concorrerem os para a reparação de tôdas as in jú rias, culpas e blasfêm ias da hum anidade. P o r nosso interm édio será vingada a honra de Deus na medida da nossa cooperação à S. M issa, e estabelecido o direito absoluto da M ajestade divina sôbre o mundo. Q ue alegria para nós e que fonte de méritos se assim tiverm os trabalhado para a nossa purificação pessoal, para o resgate de nossos irmãos e para a satisfação da eterna J u s tiç a !
Conclusão dêste capítulo: “minha” Missa é para mim
o ato mais importante e incomparávelAs páginas que precedem tiveram certam ente por
efeito entusiasm ar o coração dos cristãos fiéis.A o lê-las não tiveram por momentos ímpetos de
dizer a si mesmos: “A h! m as é realm ente b e la ! . . . Como posso eu, pobre e insignificante criatura, colaborar em um a obra desta im portânc ia ! . . . Posso ado rar a Deus in fin itam en te! . . . render-Lhe graças in te iram en te! . . . suplicar-Lhe com tôda a p erfe ição ! . . . reparar, sua honra p lenam ente! . . . ”
É verdade: cada m embro de Cristo, ao celebrar o santo Sacrifício com seu chefe, atinge êstes fins, contudo infinitam ente d istantes e fora do alcance de sua fraqueza inata. Q uantas m aravilhas acum uladas: m aravilha da união dos m embros com a Cabeça, m aravilha da prolongação do Sacrifício único sôbre o a ltar, m aravilha da celebração dêste sacrifício pelo Cristo Místico, Cabeça e m em bros: m aravilha da glória que a divina M ajestade recolhe da oblação.
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A “m inha” M issa surge em m inha existência como o grande ato para o qual deveriam converg ir todos os meus pensam entos e e s fo rç o s .. . N a verdade quem celebra a " sua” M issa trabalha mais para a glória de Deus e para o bem da hu m anidade que os generais, industriais, com erciantes e s á b io s . .. O mundo inteiro, que se agita para ating ir fins hum anos, move apenas um pouco de pó, enquanto que o cristão que oferece “ sua” M issa faz uma obra de eternidade.
Cooperando com o Sacrifício do altar, o membro de C risto preenche o fim de sua existência, para o qual foi criado, ganha na realidade o seu dia sobrenatural que lhe será infinitam ente retribuído, pois Deus jam ais deixou de recom pensar os obreiros de sua glória.
A linguagem hum ana não pode exprim ir as grandezas incomparáveis da “m inha” M issa. U m a meditação prolongada, uma reflexão contínua sobre as verdades contidas neste volume e sôbre os textos tão eloqüentes da L iturg ia da S. M issa, e, acima de tudo, uma oração fervorosa em união com Jesus Sacerdote, nosso Chefe, e ainda a Comunhão com o seu Sacrifício pela recepção do Sacram ento do A ltar, poderão pouco a pouco le- var-nos a com preender praticam ente e a verificar “quão suave” é a participação com C risto na celebração do Sacrifício único que dá a Deus glória infinita.
Só quando tiverm os começado a en trever a verdade, é que ficarem os adm irados, não de dizer “nossa” M issa com, em e por C risto, mas de dizê-la com tão pouco fervor, de celebrá-la tão fria mente e ainda mais de tê-la por tan to tempo negligenciado. . . Terem os grande pesar, pensando que poderíam os te r dado à nossa vida um valor sem limites com a celebração quotidiana e que o não
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CAP. I II . M EU FR U TO E S P IR IT U A L 95
f iz e m o s ... que teríam os acum ulado sôbre nossa cabeça as graças de um Deus, infinitam ente satisfeito por nós, e do qual, pelo contrário , só merecemos reprovações. . .
Contudo, ainda é tempo: tudo não está perdido. Em nossa aflição de te r uma vida vazia e inútil, ainda temos o meio de enchê-la: a “nossa” M issa. T anto hoje, como ontem e sempre, com ela rendem os a Deus uma glória in fin ita ; ela está à nossa disposição para que possamos, por seu intermédio, encher a m edida de Deus e a nossa.
C A P ÍT U L O I I I
MEU FRUTO ESPIRITUAL'•MINHA" MISSA É A FONTE DE TODOS OS MEUS BENS
ESPIRITUAIS, A REMISSÃO DE MEUS PECADOS, O AUMENTO DA GRAÇA, O DESPACHO DE MINHAS SÚPLICAS... E, DE TODOS OS ATOS QUE POSSO FAZER NESTE MUNDO PARA A MINHA SALVAÇAO, “MINHA" MISSA É INCOMPARAVELMENTE O QUE ME PROPORCIONA O MAIOR PROVEITO.
O fruto que tiro da “minha” Missa é finito
Do valor infinito da “m inha” M issa só posso t ira r um fru to limitado. Assim como do oceano que se me apresenta sem limites só posso tira r um pouco de água, conform e o tam anho do copo, do balde ou do recipiente que encho, também da “m inha” M issa, cu jas vantagens são infinitas para Deus, só posso receber graças proporcionadas ao recipiente sobrenatural de m inha alma.
Compreende-se m uito bem que um ente pequeno, como sou, não pode encerrar em si um a abundância que o inunde: e c por isso que, ao celeb ra r “m inha” M issa, retiro dela o que posso re tirar, e nada mais. São algum as gotas que bebo em cada oblação, ou mesmo alguns goles, m as só me
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SEG U N DA P A R T E
sacio de Deus, conform e a m inha "receptividad e” .
Eis po r que a “m inha” Missa, infinita em si mesma, em relação a mim tem efeitos finitos.
Consequências que podem resultar para Cristo, apesar de o meu proveito só poder ser finito
A verificação que acabamos de fazer dos lim ites de m eu fru to espiritual esclarece alguns dos motivos principais do plano divino na instituição do sacrifício da S. Missa.
Um lucro finito pode aum entar sem pre mais, se se acrescentam outros lucros. M as, para assegu- rar-nos êsses lucros incessantes, é preciso termos perpetuam ente novas possibilidades de adquirir outros: nosso capital espiritual form a-se com m uitos dêsses acréscimos.
Nosso Chefe, desejoso de enriquecer seus membros com vantagens sobrenaturais, só podia m ultiplicar para os mesmos as ocasiões de hau rir em seus m éritos. É um a das razões que O levaram a perpetuar a cena do Calvário, a renová-la, convidando-nos a celebrar com Êle a mesma oblação tan tas vêzes quantas quiséssemos, para aum entar de cada vez o nosso lucro.
Tal é, em relação aos membros do Corpo M ístico, o papel da Santa M issa: ela perm ite-lhas uma participação sem pre crescente aos m éritos de Jesus Cristo. M as, para que a oblação do a lta r pudesse realizar plenam ente essa distribuição dos m éritos do Chefe aos membros, Deus devia pôr a celebração da S. M issa ao alcance de cada fiel. E ra preciso não um a S. M issa em um só templo, ou no de Jerusalém ou no de Roma, por exemplo, mas muitas S. M issas em tôda parte e sempre.
Se os cursos de água tivessem corrido duran te um certo período de tempo no princípio do mundo, seus benefícios seriam ho je uma vaga lem
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CAP. m . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 97
brança que certam ente não daria de beber aos viventes de tôdas as é p o c a s .. . ou se um só rio corresse sempre, mas em um a única região, como Suciariam a sêde os homens das ou tras regiões?
O grande rio dos m éritos de Cristo teve sua origem no Gólgota. P o r meio da Santa M issa, inunda com suas graças todos os séculos e todos os climas e sacia as almas de tôdas as nações, todos os dias de sua vida.
Vê-se bem agora por que Cristo instituiu a Santa M issa: por um lado, para que seu Sacrifício não fôssc esquecido dos hom ens como um acontecim ento longínquo, do qual apenas teriam vaga lembrança e de que não poderiam tira r fru to tão fa cilm ente; po r ou tro lado, para que fôssem distribuídos a cada um dos membros de seu Corpo M ístico, segundo as necessidades da hora e do m omento, em todos os recantos do m undo, em todos os instantes do tempo, os benefícios da R edenção por meio da Cruz.
T or estas razões, o Sacrifício sanguinolento do Calvário é renovado em “m inha” Missa.
Consequências que podem resultar para mim, apesar de o fruto espiritual
de “minha” Missa só poder ser finitoSe da impossibilidade de nos d a r um lucro in
finito resultou para Cristo a necessidade de perpe tuar entre nós o seu Calvário, desta mesma impossibilidade redundam para nós consequências im portantes:
1.° M inha participação 110 Sacrifício de C risto aum enta a cada nova S. M issa que celebro.
Q uantas forem as vêzes que oferecem os o santo Sacrifício, tan tas vêzes recolheremos fru tos que vão aum entar nosso capital espiritual. Isto é que tinham com preendido os Santos quando m anifestavam um tão ardente am or pela “sua” M issa.
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98 SEGUNDA PA R T E
P o r exemplo, Santo Isidoro, o lavrador, por suas fugidas de m anhã para a S. M issa, incorreu na cólera de seu amo, porém mereceu também a d ita de ser substituído pelos an jos no campo, enquanto estava na ig re ja ; Santa R ita, a cozinheira, tam bém foi substituída por espíritos celestes, que fa ziam seus humildes trabalhos enquanto estava na M issa, arrebatada em êx tase; Santa M aria M adalena Postei, apesar de suas grandes ocupações, assistia a tôdas as M issas celebradas na capela de sua com unidade: o beato Luís M aria Grignon de M ont- fo rt, que caminhou m uitas léguas a pé e a tôda a pressa, a fim de chegar a uma igreja antes do meio dia para celebrar a “sua” Missa, porque o C ura da paróquia onde se ap resen tara pela manhã lhe havia injustam ente recusado a autorização.
2.° M inha participação no Sacrifício de Cristo aum enta na proporção do aum ento de m inha intim idade com Êle pela celebração da “m inha” M issa.
Não nos parece impossível que esta participação de Cristo possa aum entar em nós em cada S. M issa? Pois, se uma única S. M issa pode encher nossa capacidade de receber, como poderá a S. M issa seguinte acrescentar algum a coisa? Q uando enchi meu copo no oceano até ficar repleto, não acrescentarei nem mais um a gota se o im ergir novam ente. E sta observação seria justa , se nossa possibilidade de receber ficasse como a do copo, semp re a mesma. M as, ao encher nossa alma, a “nossa” M issa tem por resultado aum entar-lhe ao mesmo tempo a capacidade espiritual.
E na verdade, como veremos mais adiante, a celebração do santo Sacrifício aum enta em nós a caridade, fortifica nossa virtude, expele nossos pecados, em um a palavra, desenvolve nossa aptidão espiritual e dêsse modo cria em nós um a m aior “ re
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CAP. m . M EU FR U TO E S P IR IT U A L 99
ceptividade” de Deus. Convém, pois, assistir àS. M issa tantas vêzes quantas pudermos.
M as é necessário acrescentar à assiduidade o modo de assisti-la. Se é salu tar oferecer a "nossa” M issa o mais frequentem ente possível, não é menos urgente oferecê-la do m elhor m odo possível, a fim de que ela possa desenvolver em nós m aior capacidade sobrenatural: como a S. M issa é infinita, não a esgotarem os jam ais, por mais p ro fundos que sejam os abismos a preencher em nossas almas.
3.° Minha participação no Sacrifício de Cristo não é dim inuída pelo núm ero daqueles que celebram comigo.
E m bora sejam finitos os lucros que tiro da “m inha” Missa, êsses lucros não são repartidos pelo núm ero de pessoas presentes que com partilham comigo dos m éritos dela; não dim inuem se há grande assistência em volta do altar, nem au mentam se a assistência fôr mínima. Seja eu o único a unir-m e à "m inha” M issa, ou centenas de fiéis me rodeiem, celebrando comigo a mesma S. M issa, não recebo nem mais nem menos, mas sem pre conform e a m inha capacidade.
E , de fato, a S. M issa sendo infinita, é capaz de fazer transbo rdar todos os recipientes que se lhe apresentem a encher. E apesar de cada um dê- les estar repleto, os m éritos de Cristo, sendo inesgotáveis, não ficam dim inuídos: resta ainda com que inundar todo o u n iv e rso .. . Pelo contrário , o grande núm ero dos concelebrantes é um a razão a mais para Cristo obter de seu Pai fru to s mais abundantes para cada um dêles, em v ista do fe rvor de uma porção tão im portante do Corpo M ístico.
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100 SEGUNDA PA R T E
Que se deve entender por "meu fruto espiritual"
Elevando-se a S. M issa até ao céu para glorificar a Deus, recai em lucros vários sôbre a te rra.
Em prim eiro lugar, dá à Ig re ja um fru to geral, porque propriam ente tôda S. M issa é d ita “em nome da Ig re ja” . De tôdas as M issas celebradas no mundo, resulta um imenso bem para todo o Corpo M ístico: a fasta dêle os flagelos, expande sôbre êle graças mais abundantes e aum enta o núm ero dos m embros com a conversão dos infiéis e a volta dos pecadores. A Ig re ja é sobretudo a grande tesoureira da Missa, que é sua obra e que ela celebra pelo m inistério do sacerdote, seu representante.
A S. M issa produz ainda um fru to especial ou “m inisterial” , que corresponde à intenção do celebrante, o qual pode fazer dêle a aplicação que quiser. É o proveito obtido pela pessoa que m anda dizer a M issa, ou para aquela pp r quem se m anda dizê-la. D isto falarem os mais tarde.
E nfim , a S. M issa dá aos membros do Corpo M ístico que a celebram, um fru to que se chama “pessoal”, porque êste fru to é um bem que pertence a cada um dos concelebrantes. Ganham êsse tesouro pelo fa to de sua cooperação na oferenda. D a mesma form a que aquêle que recebe os sacram entos adquire a estrita p ropriedade dos efeitos dos mesmos, como a remissão dos pecados, o aum ento da graça, a im pressão dum caráter, etc., assim é o fru to espiritual de “m inha” Missa. É dêste fru to pessoal que vamos agora tra ta r.
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CAP. m . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 101
Os frutos pessoais da “minha” Missa:1.° aumento da graça santiflcante
O prim eiro fru to que o fiel tira de “sua” M issa é um aum ento da graça santificante, que se chama também “caridade” .
H á duas razões para êste aum ento de vida sob renatural, a colaboração do membro com o Chefe, e o ato que produz esta colaboração.
1.° M inha colaboração com Cristo na celebração da S. M issa comunica-me vitalidade maior. Com efeito, o Corpo Místico tem suas leis que são as mesmas de qualquer ou tro organism o: o trabalho dos órgãos em comum com a cabeça produz a saúde. O m embro que se move, desenvolve-se, porque recebe sangue e in fluxo nervoso em m aior abundância. Da mesma form a o m embro de C risto Místico que realiza com seu Chefe esta obra m aravilhosa da imolação no altar, participa cada vez mais abundantem ente da seiva que dim ana da Cabeça e que é a graça.
Notem os que êste a fluxo de vida não é o mesmo para cada membro que oferece com Cristo: varia de intensidade conform e a atividade do colaborador. Certos fiéis dão ao Chefe um concurso m ais íntimo, mais desinteressado, mais sincero e dedicado que outros. É ju sto que o proveito, semp re generosam ente retribuído, seja portanto na proporção do concurso de cada um. Q ue esta observação sirva aos leitores do presente volume, de lição para incitá-los a aperfeiçoar cada dia sua união de inteligência, de coração e de vontade com seu adorável Chefe.
2.° O ato que produz m inha colaboração com Cristo é causa poderosa de aum ento de graça para m inha alma. N o precedente capítulo foi dem onstrado que “m inha” Missa dá a Deus louvor, ação de graças, reparação; que a M ajestade divina, adorada por Cristo M ístico, é plenam ente satisfeita
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102 SEGUNDA PA R T E
e não pode exigir mais de sua cria tura , pois recebe dela homenagem completa. Como pode acontecer que, tendo assim perfeitam ente glorificado por e em Cristo a um D eus infinitam ente ju sto e bom, eu não Lhe seja agradável? O ra, se r agradável a Deus é, segundo o sentido etimológico da palavra, ser "gracioso” , isto é, dotado de graça.
Ao celebrar a “sua” Missa, o Corpo Místico, do qual somos parcela viva, participa não somente da o ferenda de Cristo, mas também de tôdas as vantagens que da imolação resulta para seu Chefe. N o Calvário, C risto conquistou m éritos incalculáveis que Lhe deram a im ortalidade, a glória e um reino eterno à d ireita de seu Pai. A o utra parte, a que constitui a Ig re ja m ilitante dês- te mundo, recebe o direito de possuir estas mesm as prerrogativas sob a form a de graça santifi- cante, que se transfo rm ará em beatitude gloriosa, apenas tiver entrado no paraíso, onde o Corpo M ístico irrad iará resplendores como um sol único, do qual Cristo é o núcleo luminoso e iluminante.
Daqui se vê que o fiel, ao celebrar a “sua” M issa, vai acum ulando preciosíssimos tesouros. Mas, como não percebe indício algum dêsses tesouros exteriorm ente, é tentado a c rer que saiu da igreja , tão pobre como entrou.
A h ! aqui é preciso desprezar a ilusão da carne que só acredita o que vê e apalpa, e ab rir os olhos da fé, porque só assim reconhecerá quão proveitoso lhe é oferecer “sua” Missa.
Os frutos pessoais da “minha” Missa:2.° o progresso na virtude
D uas pessoas que colaboram com ard o r e a tividade na mesma obra, acabam por adquirir uma com unidade completa de idéias e de vontades. Assim é que, po r exemplo, cônjuges cristãos chegam a
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CAP. I II . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 103
fundir suas alm as em um a só, para realizarem os interesses do lar.
E sta com unidade de idéias e de desejos, que é o ideal dos esposús, Cristo quer realizá-la com seu C orpo Mistico que é a Ig re ja e por êsse meio com cada um de seus membros. E tem isto tão a peito que S. Paulo pôde dizer: "M aridos, amai vossas esposas, como C risto am ou a I g r e j a . . . ja mais houve alguém que odiasse sua própria carne, mas, pelo contrário , todos procuram nutri-la e cercá-la de cuidados, como C risto faz «à sua Ig re ja , porque somos m embros de seu Corpo, somos de sua carne e de seus ossos. É grande êste m istério (da afeição pela espôsa, sua própria ca rne), mas digo em Cristo e na Ig re ja .” (E f 5, 25-33.)
Cristo tem, pois, cuidados particulares com a "carne de seu Corpo M ístico” , isto é, conosco, seus colaboradores, mui especialmente no ato eminente do santo Sacrifício. Q uer fazer conosco "um só coração, um a só alm a” , identificar-nos consigo na mais completa intim idade de pensamentos, de desejos e de vontades. Q uer fazer-nos buscar o que am a, fug ir do que odeia, à custa mesmo dos m aiores sacrifícios. P o r ou tras palavras, inspira- nos a estima de tôdas as virtudes.
É impossível, por consequência, o fiel celebrar digna, a tenta e devotam ente a “ sua” M issa, sem progred ir de um modo rápido e m aravilhoso ha perfeição cristã.
E o mesmo ato da oblação em colaboração com Cristo, não será a ocasião de pra ticar nas diversas c ircunstâncias as virtudes que Cristo quer que germ inem em nós?
A oferenda eucarística põe em prova a fé . Santo T om ás de Aquino no-lo faz no tar: “A vista,
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o gôsto, o ta to enganam-se, só podemos fiar-nos do ouvido: creio no que disse o F ilho de D eus.” 1
O Sacrifício do a lta r é denominado “m istério de fé” . Êste nome é repetido pelo sacerdote duran te a S. M issa no meio da fórm ula que m uda a substância do vinho no Sangue de Cristo, deixando persistir as aparências. E não é ju sto que o Corpo M ístico, ajoelhado em adoração ao seu C hefe imolado no momento da elevação, seja recompensado pela humilde adesão de seu espirito com um notável acréscimo de fé?
A celebração de “sua” M issa é para o membro de C risto um exercício perfeito da virtude da esperança. É como a esperança de todos os bens espirituais e tem porais necessários à salvação que o fiel se une Jesus Sacerdote para oferecer com Ele a homenagem infinita. P o r meio da S. M issa, o fiel sabe que possui todos êsses bens, porque os com partilha com Cristo, o qual os mantém todos em seu poder para os ir comunicando aos seus membros.
E , finalmente, não é supérfluo dem onstrar ainda que a celebração de "sua” M issa constitui para o fiel, que sabe unir-se a Cristo, um ato perfeito de am or de Deus. Êste ato assum e proporções sem limites da parte de Deus c comunica-nos em tro ca um acréscimo incalculável de caridade.
O ra, as virtudes teologais não crescem na alma sem a tra ir a ela tôdas as outras. E assim é que, celebrando o fiel com Cristo, participa logo de seu ho rro r ao pecado, de seu am or pela justiça, de seu espírito de religião, de obediência, dc m ortificação, de p u re z a .. . A “sua” M issa faz do fiel um m embro são, forte, vivo e sempre ativo do Corpo M ístico, isto é, um cristão perfeito.
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1) Hino “Sacris Sollemniis”.
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CAP. III . MEU FR U TO E S P IR IT U A L 105
Os frutos pessoais da “minha” Missa:3.° a remissão dos pecados
A “nossa” M issa perdoa nossos pecados! Q ue alegria para o fiel que celebra com C risto saber que êste Sacrifício que oferece, tem em si o poder de anular tôdas as faltas, m esm o m ortais!
De fato, a S. Missa é a Cruz. N o Calvário o Sacerdote Suprem o ofereceu a seu Pai um resgate infinito por todos os pecados do mundo. A S. Missa, que foi instituída, como já vimos no p rin cípio dêste capítulo, para distribu ir em tôda p a rte e a todos os cristãos os efeitos da Redenção, oferece a cada m embro do Coqio M ístico a rem issão dos pecados.
E ainda Cristo, “ êste divino C ordeiro que se sobrecarregou dos pecados do m undo” , tomou a precaução de nos assegurar disso, e a santa L iturgia de no-lo fazer conhecer. O sacerdote p ro nuncia realm ente cada manhã, na Santa M issa, as mesmas palavras de C risto: "Êste é o cálice de meu S a n g u e .. . que será derram ado pela rem issão dos pecados."
A palavra de C risto não é vã e a insistência da Ig re ja em no-la fazer com preender também não o é. O sacrifício da S. M issa tem por efeito perdoar os pecados todos, sem distinção de im portância, nem de malícia. A "m inha” M issa concede em prim eiro lugar o perdão dos “m eus” pecados. E por isso é que todo o fiel deve dizer cada m anhã com o celebrante 110 momento do o fe r tó r io : “R ecebei, santo Pai, esta hóstia sem mácula que Vos o fe re ç o .. . por “m eus” inum eráveis pecados, o fen sas c negligências. . . a fim de que esta oblação seja proveitosa à m inha salvação para a vida eterna.”
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106 SEGUNDA PA R T E
Como a “minha" Missa apaga meus pecados
Não se deverá pensar que a S. M issa possa substituir-se ao sacram ento da Penitência e supri- mi-lo, apagando de nossa alm a os pecados, sem outra form alidade, isto é, isentando-nos da confissão.
Recordemo-nos que o sacram ento da Penitência, recebido ou ao menos desejado, é de absoluta necessidade para a remissão des pecados m ortais. O pecador que, por um ato de contrição perfeita, se reconcilia fora do Sacram ento, só re cebe a graça se tem a intenção, ao menos implícita, de ir subm eter suas faltas à sanção do santo tribunal. A S. M issa, apesar de perdoar in falivelmente todos os pecados, não pode substitu ir o sacram ento da Penitência e não fa z as suas vezes.
Como obtém, então, o perdão certo de tôdas as nossas fa ltas?
Produzindo maravilhosos efeitos: em prim eiro lugar apazigua a Deus e, em vista da hom enagem infinita que lhe tributa, m uda sua ju sta cólera em m isericórdia; e depois, pelo poder de intercessão do Chefe imolado, que implora por seus membros, a tra i sôbre o pecador copiosas graças de arrependim ento.
É o que afirm a o santo concílio de T rento , quando diz: “Apaziguado pela oblação do santo Sacrifício, o Senhor concede a graça e o dom do a rre pendim ento e perdoa os maiores pecados e crimes.” 2
É necessário, portan to , que o pecador não re je ite o dom da verdadeira contrição que lhe é ou torgado com a assistência ao Sacrifício infinito , mas que, correspondendo a essa graça e certo do per
2) Sesg. 22, c. 2.
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CAP. m . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 107
dão, vá p rocu rar o sacerdote, o qual, após a absolvição, lhe aplicará definitivam ente os frutos de “sua” Missa, isto é, o perdão das penas devidas ao pecado m ortal, em vista das graças de a r rependim ento que lhe foram concedidas pela Santa Missa.
Destas verdades resultam graves consequên-
1.° Devem os conseguir dos pecadores que assistam à S . Missa.
É o melhor meio, o único meio verdadeiram ente in fa lível para a conversão de seu coração.
M as qual a participação que lhes é possível obter no santo Sacrifício?
N a verdade, uma presença puram ente m aterial, consentida, por exemplo, só para “causar prazer” ou “para viver em paz” seria provavelm ente de m ínima eficácia, pois tal assistência não constitui, propriam ente falando, uma com participação da o ferenda. A tendendo-se contudo ao infinito poder de in tercessão que Cristo, imolando-se, possui sôbre o coração de Deus, mesmo esta M issa poderia a tra ir para a alma do pecador alguns toques sobrenaturais e determ inar o comêço de um a m archa para a volta. E sta presença é, pois, o “m inim um ” que se deve procurar para o pecador. Assim, um a esposa cristã deve p rocu rar levar à S. Missa, todos os domingos, o m arido que parece estar perdendo a fé.
O btida esta condescendência de pura am abilidade, procure-se transform á-la em prática piedosa, conseguindo-se do pecador a assistência ao santo Sacrifício, com a intenção de cum prir um ato de religião. Êste consentimento, ainda que vago e confuso, é suficiente para fazê-lo partícipe da oblação. E sta M issa to rna-se para o pecador, já de certo modo, um pouco a " sua” M issa. E m rela-
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108 SEGUNDA PA R T E
ção ao Corpo M istico que a oferece, é como um m embro m orto, mas, assim mesmo, ligado ao tron co pela fé. Se o estado do pecador é ainda insuficiente para atra ir-lhe im ediatam ente a graça de um arrependim ento sincero, a S. M issa assim ouvida dispô-lo-á para um dia receber êsse dom.
Se se tem a felicidade de ob ter que o pecador, embora separado do Corpo M ístico por causa de seus pecados, tenha a vontade fo rm a l de participar dos benefícios da S . M issa tan to quanto pode, o ferecendo-a deliberadam ente com Cristo, então a S. M issa incitará infalivelm ente a alm a culpada a p rocu rar a graça da absolvição. É ao escopo desta “participação” sincera e eficaz, que devem tender os cuidados daqueles que desejam a volta a C risto de seus membros transviados.
2.° D evem os m andar celebrar M issas pela conversão dos pecadores.
Se não se pode conseguir que assistam ao santo Sacrifício, deve-se procurar, por ou tro meio, fazê-los partícipes do poder que tem a imolação de C risto para perdoar todos os pecados. A tin- gir-se-á este resultado, m andando celebrar Missas em sua intenção. Veremos, mais adiante, que é re servado um fru to especial àqueles pelos quais é celebrado o santo Sacrifício. E m percebendo êste fru to , os membros em estado de m orte experimentam os benefícios do poder de perdão que possuem os m éritos de C risto: e não estará longe o dia em que sua obstinação há de ceder ante as solicitações da conversão.
Não hesitemos, pois, em m andar celebrar o santo Sacrifício por nossos pecadores. De tôdas as obras de m isericórdia que podemos exercitar para com êles, esta é a melhor. P o r que, m uitas vêzes, os m embros do Corpo Místico, que pedem para os seus caros a graça da volta a Deus, esquecem
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CAP. I II . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 109
que possuem na oblação de C risto a rem issão de to dos os pecados? Sem om itir os atos de sacrifício e de m ortificação, as orações vocais, a p rática das v irtudes em união com Cristo, estas alm as seriam mais avisadas se, para m ultiplicar a eficácia de seus esforços, m andassem oferecer com frequência, pela intenção de seus pecadores, a imolação do altar.
Os frutos pessoais da "m inha” Missa:4.° a satisfação por minhas faltas
Todos sabemos que, depois de perdoados os pecados, nos resta ainda pagar as suas consequências. Se um pai perdoa a seu filho pródigo e tudo lhe restitui em sua casa, o filho fica assim obrigado a traba lhar para expiar seus erros. Da mesma fo rma, o pecador, depois de absolvido, fica ainda com uma dívida para com Deus. Quem a pagará? A S. M is s a . . . Quem pagará m inha dívida em particular? A “m inha” Missa.
A Cruz apresentou a Deus, e a S. M issa torna a Lhe apresen tar todos os m éritos e satisfações do Sacerdote infinito. Êle depõe nas mãos da divina M ajestade o resgate muito m aior que as dívidas acum uladas por todos os pecados do m undo; constitui um a reparação pe rfe ita e total da honra devida a D eus; refaz o que a malícia do pecador procurara destru ir, o respeito divino.
M as para que a S. M issa, tesouro capaz de saldar tôdas as dívidas, salde também as minhas, é preciso que se torne a “m inha" Missa. E , com efeito, se Jesus C risto depositou no seio de seu Pai o saldo superabundante para am ortizar as dívidas de todos os seus membros, a divina M ajestade exige que o “ transporte” do cabedal comum pá: ra nosso haver pessoal seja feito por cada um de nós.
P a ra tira r proveit© das satisfações de Cristo, o pecador deve te r o empenho de aplicá-las a si.
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N a verdade seria muito fácil para o culpado adormecer sem inquietação, dizendo: “ N ão tenho que me incom odar; o Salvador pagou por mim.” Seria cair na heresia protestante, a qual pretende que, tendo C risto pago mais do que era preciso por todos os pecados possíveis, podemos ofender a Deus tanto quanto quisermos, contanto que ha ja fé inabalável na infinidade da redenção !
Não, temos de ir descontando a dívida que nos resta depois da absolvição, haurindo por nós m esmos, e por “nossa" Missa, da abundância das satisfações de Cristo. Se celebrarm os dignamente, isto é, com sentim entos de união intima e de perfeita caridade com nosso Chefe, as penas do pu rgatório serão apagadas e ficarem os quites perante o suprem o Juiz.
Os frutos pessoais da “minha” Missa: 6.° a consecução dos meus pedidos
Vimos que Cristo com sua imolação faz a Deus súplicas ardentes, que infalivelm ente são ouvidas. E stas súplicas são form uladas no “ P a te r” .
Suplica para a glória, o reino e a vontade de Deus, e em seguida, para tôdas as necessidades do Corpo M ístico: pede a substância espiritual e material, a caridade para com Deus, a caridade dos membros en tre si, a persistência de sua adesão ao Chefe.
E já que os membros e a Cabeça fazem um só todo na oblação da S. M issa, da qual Cristo M ístico é ao mesmo tempo Sacerdote e V ítim a, as súplicas feitas pelos m embros ante o a lta r santo, em união com seu Chefe, são aceitas pela divina m ajestade e certamente atendidas. E sta certeza do êxito de nossos pedidos não é um dos menores privilégios de "nossa” M issa.
A razão dêste poder de "nossa” oblação é evidente. C risto po r seu Sacrifício adquiriu o direito
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de interceder por aqueles que se Lhe unissem como membros, a fim de resgatá-los. Como Chefe, tem o poder de pedir por nós. E além disto, êste mesmo Cristo Chefe, que intercede po r seus membros, é o próprio Deus que ouve o pedido. Se pede é porque está certo de o b te r; pois sabe m uito bem qual é a vontade de Deus a nosso respeito.
E is por que todos os pedidos que um membro de C risto form ula em “sua" M issa, será infalivelm ente atendido, porque passa pela bôca de Cristo.
Mas como formular nossos pedidos?Êste é justam ente o único segredo: para que os
m embros sejam atendidos, devem form ular seus pedidos, segundo o espírito de seu Chefe. Aqui, como em tôda parte, a união dos m embros com a Cabeça é necessária: quando o fiel e C risto oram conjuntam ente, Deus não pode resistir. Q uando o pedido de Cristo e o do fiel diferem , é claro que o de C risto prevalece, porque é sem pre conform e à divina vontade.
A Ig reja , na L iturgia, recorda-nos frequentemente êstes grandes princípios da verdadeira o ração do Corpo Místico, “por, em e com C risto” . Faz-nos dizer, po r exemplo, na coleta do nono domingo depois de Pentecostes: “ Senhor, para que nos concedais o que desejam os, fazei-nos pedir-V os somente o que é de Vosso agrado .”
Como, porém, poderem os saber que pedimos o que agrada a D eus? O bservando ò modo de o ra r do nosso Chefe e imitando-O. "O rare is assim ” , disse Ê le . . . e logo nos m anda pedir o reino, a g lória, a vontade de Deus. P o r consequência, para passar pelos lábios de Cristo, tôda oração em “nossa” Missa deve ter em vista os interêsses divinos. E isto está em ordem : "P rocu ra i prim eiro o R eino de Deus.” (M t 6, 33.) A S. M issa, como
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vimos, tem por prim eiro escopo a “glória de Deus” por meio da adoração perfeita, da ação de g ra ças total e da satisfação completa. A “m inha” M issa só se to rnará,, pois, “m eu” ato de religião perfeito, se eu o oferecer com meu Chefe no desígnio de concorrer antes de tudo para “a glória de D eus” .
A glória de Deus, a reparação de sua honra, a remissão dos pecados são, den tre os nossos desejos, os que certamente agradam a Deus, e os quais, elevando-se dos membros à Cabeça, não deixarão de ser atendidos.
M as só se pode concorrer para êste “ reino” de Deus pelo triun fo de Cristo M ístico, isto é, da santa Ig re ja unida a seu Chefe. E é por isso que, com, em e por Cristo, devemos rogar a D eus pelos m embros de Cristo de que fazemos parte, como no-lo indica a segunda parte do “ P a te r” . . . Nosso pão espiritual e m aterial, nossa caridade para com Deus, nossa união com o Chefe e seus membros, tais são ainda desejos que agradam a Deus, e que não deixarão de ser atendidos por Êle.
Esforcem o-nos, pois, para “o rar assim ", a fim de que nossos pedidos, form ulados segundo o espírito de Cristo, sejam levados ao trono da Santíssima T rindade po r nosso próprio C hefe no decurso de “nossa” Missa.
Em "minha” Missa poderei fazer pedidos particulares,
espirituais ou temporais?A par destas intenções gerais, cada m embro de
Cristo tem as suas próprias e muito particulares, que tom a muito a peito: quem não deseja tal g raça espiritual para si mesmo, por exemplo, liv rar-se dos escrúpulos, a coragem contra certos hábitos, a aquisição de tal virtude ? . . . ou ainda,
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CAP. III . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 113
outros desejam o bom procedim ento para um jo vem transviado, a conversão dos pais ou de am igos, a paz para o l a r . . . porém , o mais das vêzes, dever é confessá-lo, os fiéis se preocupam com favores tem porais, por exemplo, a saúde, um a brilhante posição, um casam ento rico, o êxito em um exame, a prosperidade nos n egóc ios.. .
Poderem os fo rm u lar estes pedidos em “nossa" M issa? . . . apresen tar Cristo a D eus po r todos êstes fins que visamos como necessários? É evidente que o podemos, pois é sempre perm itido pedir a Deus bens legítimos, e é honroso para Deus que sua cria tura , suplicando-Lhe favores, reconheça sua suprem a riqueza e sua infinita bondade!
E stas súplicas serão in falivelm ente atendidas? Sim, se são do núm ero daquelas “que agradam a Deus” . Se não o forem, obterem os então uma outra coisa, m elhor para nós, porque nenhum a oração é desprezada por Deus, o qual, por meio de benefícios sabiam ente repartidos, sabe corrigir os erros dos nossos pedidos.
M as como d a r às nossas súplicas o m aior número de razões possíveis para “agradarem a D eus” ? Procurando, ao apresentá-las, revesti-las daquele “bom modo” , isto é, de um verdadeiro desinterêsse, porque a oração egoísta não encontra jam ais o caminho do coração.
A “m inha” M issa é destinada, acima de tudo o mais, a prom over a glória de Deus e o triunfo de C risto Místico. Eu faria portanto um grande mal se a desviasse de seu fim, para transform á-la em simples instrum ento de meus menores desejos. Posso oferecer "m inha” M issa por m inhas necessidades pessoais: é louvável e até recom endável; mas esta súplica deve vir em segundo lugar. A ssistir à S. M issa unicamente pa ra restabelecer-se de doença, para encontrar m arido, para te r êxito
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114 SEGUNDA P A R T E
em exame, constitui participação m uito im perfeita na homenagem infinita, e, ao mesmo tempo, denota m uito pouca habilidade na a rte de pedir: Deus, na verdade, só pode ficar mediocrem ente honrado, vendo-se am ado e rogado só em vista de interesses tão m esquinhos ao lado dos seus.
É necessário então que o mem bro do Corpo M ístico, sacudindo o egoísmo, procure esquecer-se, e que “sua” Missa, mesmo sendo oferecida com ofim de obter um favor pessoal, seja celebradacom Cristo e pelos f in s que Cristo tem cm vista: glória perfeita, reparação total, ação de graças infinita, aquisição de favores tendentes a aperfeiçoar e a to rnar mais agradáveis a Deus cada um dos m çmbros do Corpo M ístico e nós mesmosem particular. Êstes fins devem preocupar acimade tudo o fiel que coopera com seu C hefe no altar. Im plorado por Êle mesmo, como merece, e em vista dos grandes interesses de Cristo, Deus, infinitam ente compensado pela S. M issa que Lhe é oferecida, fa rá descer sôbre êste membro do F ilho único suas “complacências paternais” , e lhe concederá mais generosam ente o que pede.
D êste modo, o fiel terá m uitos motivos para ser ouvido como deseja, e mesmo mais ainda do que deseja. N a verdade, como poderia Deus recusar a êste membro de Cristo, que Lhe acaba de dar, em união com seu Chefe, um a glória infinita , todos os favores espirituais ou tem porais que deseja, e que tão facilm ente sua Onipotência pode conceder?
E é por isso que a divina bondade empenha-se em cum ular de graças, tanto no espiritual como no tem poral, aquêles que, esquecendo-se de si próprios por Deus, celebram bem a “sua” Missa.
O s fiéis que vivem assim desapegados de si mesmos prom ovendo o louvor à Santíssim a T rin
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CAP. I II . M EU FR U TO E S P IR IT U A L 115
dade, têm tanto mais motivos para serem ouvidos por ela, porque sua solicitude pela “glória de Deus acima de tudo” tem po r resultado re tificar os desejos pessoais e to rnar as próprias súplicas conform es à sua vontade providencial. Q uando se sentem impelidos a pedir com insistência, é porque já sabem sobrenaturalm ente que seu pedido não desagrada à suma Sabedoria. E até pode-se mesmo form ular êste princípio: “Q uanto mais uma alma c de Deus, mais é ilum inada sóbre a retidão de seus pedidos.” Daí se compreende facilmente a certeza da concessão do pedido da V irgem M aria a seu Filho, em Caná, e ainda a de tantos Santos que, por um simples suspiro, obtém favores tão assinalados.
“ Peçam os e receberemos” . É só fazer a experiência. A oração sempre tem êxito. M as para lá chegar, a única dificuldade está em esquecer-se su ficientem ente para preocupar-se com Deus. É verdade que esta disposição só pode ser o resultado dos esforços de um am or p e rsev e ran te .. . M as quantos fiéis há que, se quisessem te r coragem, conseguiriam com presteza oferecer "sua” M issa, e o ra r com devoção desin teressada!? P o r que hão de pensar que, apenas se esqueçam de si mesmos, D eus não mais atenderá ao que nec e s s ita m ? ... "A lm as de pequena fé” (M t 14, 31.) T ransform am “sua” M issa em um a argum entação, insistindo para provar a D eus que os próprios desejos têm mais im portância e que a sua glória depende d ê le s ! . . . e então só depois de te r exposto a Deus as próprias necessidades, pelas quais lhes é bem legítimo orar, é que deveriam abism ar- se na fé para ado rar devidam ente a divina M ajestade no decurso do santo Sacrifício.
A S agrada E scritu ra ensina-nos o verdadeiro meio para tudo alcançarm os de Deus: “D eleita-te
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no Senhor e Êle cum ulará todos os teus desejos.” (SI 26, 4 .) Nosso Senhor repete êste mesmo pensamento: “P rocurai — disse — o Reino de Deus e tudo o mais vos será dado por acréscimo.” (M t 6, 33.)
A s palavras de Deus jam ais poderão enganar: realizemos as condições que impõem e obterem os os efeitos que prom etem . Deus pensará em nós na medida em que nos preocuparm os com Êle. É umaregra de vida espiritual cuja aplicação nos pertence v irificar, se quisermos, pela celebração perfeita da “nossa” Missa.
O fruto pessoal do sacerdoteque celebra “sua” Missa
O fru to pessoal do sacerdote c da m esm a natureza que o dos fié is que celebram com êle. Re- cordemo-nos que é Cristo Místico que oferece. É, pois, Jesus Cristo unido a seus membros e particularm ente unido àqueles que concorrem para a oblação que se realiza naquele momento. É justo que o sacerdote e fiéis, que na mesma ocasião apresentam a divina M ajestade seu sacrifício, compartilhem seus efeitos.
E realm ente oficiante e assistentes gozam de todos os benefícios de "sua” M issa, os quais acabamos de enum erar no decurso do presente capítulo: aum ento da graça, progresso na virtude, rem issão dos pecados, satisfação das penas temporais, deferim ento das súplicas feitas.
M as o sacerdote percebe dêste fru to pessoal uma cópia m uito superior à que é ou torgada aos simples fiéis. E sta m aior comparticipação dos frutos do santo Sacrifício é de justiça, em vista do o fício que exerce o sacerdote na oferenda dos santos M istérios.
Se o sacerdote e os fiéis são concelebrantes, só o sacerdote é oficiante. De um lado é deputado pelo Corpo M ístico, para rep resen tá-lo ; de ou tro lado
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CAP. m . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 117
é deputado pelo próprio Cristo, para ocupar-Lhe o lugar: o sacerdote é um interm ediário, oficialmente constituído en tre Cristo e seus membros, e m arcado com um caráter especial, do qual decorrem seus poderes. A mais im portante de tôdas as suas prerrogativas é a de “consagrar", isto é, poder por um ato de sua decisão livre e no momento que escolhe transfo rm ar o pão no Corpo de Cristo e o vinho no seu Sangue, renovando assim no a lta r a imolação do Calvário. De seu lado, a Santa Ig re ja encarrega o sacerdote de exercer esta função sagrada, segundo as necessidades e os desejos dos m embros que constituem a parte do Corpo M ístico, à qual está unido o seu ministério.
Vê-se bem a parte que tem na oblação “esta mão que distribui a Carne sagrada” .3 Se o sacerdote tem as vantagens dos concelebrantes da S. M issa, seu lucro deve ser mais abundante que o dos ou tros fiéis, já que suas responsabilidades e suas funções têm mais im portância. É assim ra zoável hon rar com uma rem uneração mais copiosa aquêle cujo papel se acha em prim eiro plano.
Q uando se refletiu , como acabamos de fazê-lo, sôbre o imenso fru to pessoal que os simples fiéis retiram de “sua” Missa, qual deve ser o pasmo e o reconhecimento dos m inistros dos altares, pensando que “ sua" M issa m ultiplica para êles tão maravilhosos tesouros!
Contudo, da mesma form a que os simples fiéis, o sacerdote só ganha seu fru to na proporção de seu grau de am or e de união com o Chefe. O s sacerdotes, apesar de tão privilegiados, podem infelizmente interpor obstáculo às generosidades divinas. Se o membro, como se dem onstrou acima,
3) São João Crisóstomo, Hom. 60, ao povo de Antio- quia.
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recebe do Chefe a vida sobrenatural, de acôrdo com a sua im portância no Corpo Místico, — e é por isso que na S. M issa a parte do sacerdote é tão abundante — esta vida só pode ating ir ao m embro se estiver unido à Cabeça. Se, porém , o sacerdote estivesse desligado de Cristo ou total ou parcialmente, não receberia as vantagens preciosas de "sua” Missa, ou só teria uma pequena parte, enquanto o fiel que com êle celebra ao mesmo tempo, e com um ato de caridade perfeita, ficaria inundado das graças divinas. E mesmo assim, essa M issa de um sacerdote menos bem disposto continuaria a te r seu valor intrínseco. A presentam a Deus a homenagem infinita, porque todo o valor do S acrifício depende jo de Cristo. E os mesmos efeitos de graça e de salvação se produziriam na alma dos fiéis.
Os concelebrantes não têm que fazer depender a validade de “sua” M issa das disposições interiores do oficiante. Todavia, mais vale participar da oblação de um Santo que da de um sacerdote tíbio, a fim de não ficar privado do acréscimo suplem entar de favores que pode a tra ir a intercessão de um m inistro grande Amigo de Deus.
O lucro, daqueles por quem é celebrada a S. Missa
P o r um ato de sua livre vontade, o sacerdote, quando celebra, renova não somente o Sacrifício do Calvário, m as ainda, em v irtude de seus poderes oficiais sóbre a oblação, tem o direito de indicar à divina V ítim a a intenção pela qual vai renovar seu sacrifício. Temos, pois, nós, mem bros do Corpo Místico, a faculdade de obter do nosso Chefe adorável por meio do sacerdote, nosso representante, os m éritos infinitos de sua oblação para o f im determinado que mencionamos.
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CAP. III . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 119
A Liturgia, que sem pre nos patenteia fielmente as realidades invisíveis, apresenta-nos êsse poder que tem o sacerdote de dirig ir a intenção de Cristo. P o r duas vêzes — nos dois m ementos — o celebrante pronuncia os nomes das pessoas p rivilegiadas pelas quais é oferecido o santo Sacrifício. “Lem brai-Vos, Senhor, de Vossos servos e s e r v a s . . . ” (aqui o sacerdote pára e recolhe-se, a fim de dizer os seus nom es). Faz o mesmo no m emento dos m ortos, depois da consagração: “Lembrai-V os também, Senhor, de Vossos servos e serv a s . . . que nos precederam com o sinal da fé, e que dormem o sono da paz.”
O s “servos e servas” de Deus assim designados percebem diretam ente as vantagcfis especiais que dimanam da intenção expressa pela V ítim a divina ao imolar-se.
D êste fru to particu lar o sacerdote não pode tira r a m enor parcela para outros: deve a tribu ir a o ferenda completa de C risto à pessoa por quem celebra. Todavia, o sacerdote é livre de recomendar a Deus, sem prejuízo da intenção especial, to das as pessoas pelas quais deve pedir por ju s tiça, reconhecimento e caridade: essas ou tras terão ainda da parte de Cristo uma intenção secundária, preciosa também.
N otem os ainda que a aplicação da Santa M issa a uma determ inada intenção nãt> p rejud ica de modo algum aos concelebrantes: seu lucro, como dissemos no capítulo passado, provém da sua cooperação à oferenda, e é por isso que é pessoal e inalienável; enquanto que o fru to especial, do qual tratam os aqui e de que gozam as pessoas pelas quais a S. M issa é oferecida, lhes provirá da intenção que tiver C risto de aplicar-lhes seus m éritos na m edida que ju lgar oportuna.
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Q ue bondade do nosso C hefe! E nquanto nós, celebrando com Êle, retiram os um imenso fru to pessoal, um ente amado, cujo nome designamos e para quem desejam os esta ou aquela graça, por exemplo: a conversão, a saúde, a santificação, ou a libertação do purgatório , se se tra ta de defunto, experim enta os efeitos da im petração infinita, apresentada por C risto à divina M ajestade.
O fru to que resulta desta intercessão onipotente é incalculável! P a ra te r um a idéia aliás muito fraca dêsse lucro, recordem o-nos quem é o A dvogado que nos d e fe n d e .. . e em que term os o faz “pela apresentação de Sangue mais eloquente que o de A b e l . . . ” (H eb 12, 24) e com que am or intercede por n ó s !
Assim podemos ficar certos que, para obter do Altíssimo as graças espirituais ou tem porais que são necessárias à nossa salvação e à dos outros, não há no mundo meio mais poderoso e que se possa com porar com a oblação da S anta Missa.
O fruto daqueles que mandam celebrar a S. Missa
O m érito de um a obra de caridade depende de três coisas: do valor da obra, do esforço que exige, e, enfim , do am or com que se executa.
N ão há obra algum a de m isericórdia que exceda em valor à dádiva de um a S. Missa. A presen tar um copo dágua é ato que será recom pensado; com quanto m aior razão devemos enriquecer uma alma com os fru tos da oblação infinita de Cristo. N ão há m isericórdia que se lhe aproxim e! Não há dom, nem riqueza que se lhe possa com parar! Se, portanto, socorrer ao próxim o em suas necessidades, prodigalizando-lhe cuidados m ateriais ou espirituais, a tra i sôbre nossa generosidade as bênção celestes, que cúmulo de m éritos advirá sô-
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CAP. I II . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 121
bre nós da oferenda da imolação de Cristo a um membro do Corpo M ístico!
Se o ônus que nos impomos é o segundo elemento do mérito, não é alheio à oblação do santo Sacrifício: pois, para m andar celebrar M issas, não se deve dar ao sacerdote uma "espórtula” ? Certas pessoas não têm dificuldade de encontrá-la em sua bôlsa, mas quantos humildes m embros de C risto têm que economizar, privando-se corajosamente dessa economia para m andar celebrar algumas M issas! Q uantos sacerdotes não têm ficado p rofundam ente edificados quando certos fiéis lhes vêm entregar a espórtula, a fim de celebrarem pela intenção de seus pecadores ou de parentes falecidos !
E nfim , a caridade com que se pratica essa obra de m isericórdia é a terceira fonte de lucro que se pode tirar. A própria idéia de m andar celebrar M issas não indica que se tem no íntimo da alma o am or de D eus? Se êste am or não é muito desenvolvido, o santo Sacrifício, que vai ser oferecido por meio de nossa espórtula, não terá por efeito aum entá-lo, perdoar nossos pecados e alcançar-nos virtudes?
N ão há obra de m isericórdia superior a esta: m andar celebrar M issas segundo as intenções das pessoas que querem os socorrer. Acima das quantias que reservam os para espórtulas coloquemos a prece que por elas dirigimos a D eus: a grande impetração de Cristo na S. M issa, renovando seu Calvário !
A razSo de ser das "espórtulas”Certas pessoas se escandalizam de ver a Ig reja
impor aos fiéis a obrigação de dar "espórtu la” para te r direito à celebração de uma Missa. Chegam mesmo a d izer: “A Ig re ja vende a M issa!”
É necessário p ro testa r contra esta expressão blasfema e antes de tudo rebatê-la devidamente.
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1 ° A espórtula não é um pagamento, m as um a oferta. N ão é do espírito da Ig re ja nem do fiel que a espórtula represente a troca de um valor por outro correspondente. Pois bem sabemos que o valor de algum as moedas não se pode com parar com o da S. Missa. M as a Ig re ja quer que seus sacerdotes vivam condignam ente: como compensá- los do bem que fazem, senão aproveitando o ato principal dentre as funções que exercem a favor dos cris tão s? !
2.° A espórtula encerra apenas uma privação leve, o sacrifício de pequena quantia de dinheiro. A Ig reja quer que a oblação de uma S. M issa imponha alguina m ortificação, pois, de ou tro modo, os fiéis não aquilatariam — é assim a natureza hum ana — bem cabalmente da im portância 'cio santo Sacrifício.
3.° A espórtula constitui um contrato entre o fiel e o sacerdote, de acôrdo com o qual o sacerdote fica obrigado, sob a pena de culpa grave, a celebrar a S anta M issa segundo as intenções determinadas. E sta quantia reclama a própria S. M issa: obriga o sacerdote ao cum prim ento de seu com promisso.
4.“ A espórtula c o único meio que torna possível a obtenção de M issas. Como poderíam os obter, sem espórtula, todo o valor de uma S. M issa para nós? Todos poderiam reclam ar tanto mil M issas como um a; pois não lhes custariam mais. O s sacerdotes ficariam acabrunhados de pedidos que não poderiam satisfazer e nem os fieis teriam direito de exigir: que título de obrigação teriam ? N ão recusariam acaso celebrar por estranhos, querendo orar prim eiro por seus pais ou amigos?
Pelo contrário , o gesto de perceber espórtulas c apenas m anifestação ex terior e solene de um compromisso.
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CAP. i n . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 123
A Igreja , por conseguinte, foi sábia em adotar a p rática das espórtulas para a celebração das S. M issas. Aqueles que desejam M issas podem obtê- las; podem ficar certos que sua M issa será d ita ; e dêste modo todos os abusos serão evitados, e, de parte a parte, sacerdotes e fiéis são satisfeitos.
N ão se deve dizer que as espórtulas dão azo a que só os ricos obtenham M issas e os pobres fiquem privados delas. Pois a quantia exigida não é tal que cause prejuízo às mais m odestas bôlsas.
É verdade que a gente do povo não pode m andar celebrar M issas como as pessoas abastadas. Mas Deus vê tudo: para aquêles que se impõem uma privação m eritória, concorrendo com a espórtula, sua sabedoria não pode com pensar a impossibilidade de ter m uitas M issas com o lucro de uma só?
Se certos indigentes, apesar do desejo, são incapazes de m andar celebrar M issas, os m éritos de Cristo não serão acaso abundantes para que Deus derram e sôbre os membros pobres e abandonados de C risto uma parte do tesouro inesgotável da Igreja , em troca de sua boa vontade?! E ntão, não há M issas sem fim imediato, por exemplo, aquelas que são oferecidas po r almas que já en traram no céu, ou as que são oferecidas sem se fo rm ular intenção particu lar? O lucro dessas M issas cai 110 tesouro espiritual da Ig reja . Deus aplica-o quando e á quem quer, segundo os designios adoráveis da soberana Justiça.
O lucro dos que concorrem de qualquer outro modo
para a celebraçãoA oblação do santo Sacrifício aproveita ainda a
todos aquêles que, de qualquer outro modo, concorrem para a celebração.
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124 SEGUNDA P A R T E
O coroinha, que está tão intim am ente unido ao ritual, percebe, é certo, a recompensa de sua valiosa e tão próxim a colaboração. E aqui é para lastimar-se a leviandade com a qual responde m uitas vêzes à S. Missa. Deve-se p rocu rar cham ar a atenção dos acólitos para a grandeza do seu papel e para os fru tos que podem lucrar.
As pessoas piedosas que contribuíram com o pão, o vinho, as velas; as pessoas que bordaram os param entos, confecionaram as toalhas do a lta r e o mais, também têm um a parte especial na imolação de Cristo. Como isto deve dar coragem a êsses doadores, a êsses operários em sua piedosa atividade !
O s encarregados da Ig reja , aquêles que preparam os param entos na sacristia, aquêles que concorrem para o asseio do santuário , que adornam os a l ta r e s . . . têm também direito ao fru to das S. M issa das quais ajudam a proporcionar a digna celebração.
Cada um dêsses colaboradores, próxim os ou a fastados, deve pensar nas graças que quotidianam ente pode recolher, contanto que saiba d irig ir sua intenção, e un ir-se habitualm ente a todas as S. M issas para as quais oferece seu hum ilde concurso.
C A P ÍT U L O IV
O PROVEITO PARA O PURGATÓRIODE QUALQUER MODO TEREI A "MINHA" MISSA NO
PURGATÓRIO... E ESTA MISSA ME ALIVIARA NA MEDIDA EM QUE EU TIVER APRECIADO A “MINHA" MISSA NESTE MUNDO.
A “minha” Missa, orvalho para o purgatório
O proveito que tiro da celebração da “m inha” M issa não impede de modo algum que as almas do purgatório também recolham o seu. Recebem da
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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TO RIO 125
oblação de Cristo um alívio aos seus sofrim entos, segundo esta palavra da Im itação: “Q uando o sacerdote celebra, contribui para o descanso dos defuntos.” 1
Êste resultado que o purgatório tira da celebração da “m inha” M issa explica-se muito simplesmente: as almas do purgatório são, como nós, membros do Corpo M ístico de Cristo. Estão unidas a seu C hefe por laços indissolúveis para sempre.
A renovação da homenagem infinita do Calvário por intermédio de Cristo tem por fim, como já ficou dem onstrado, to rnar o ato suprem o de religião de Cristo acessível ao seu Corpo M ístico, e aplicar os frutos dêsse mesmo ato aos seus membros. O ra, quando celebramos a “nossa” M issa pelas alm as do purgatório , e, m elhor ainda, por uma tal alma determ inada, por que razão essas almas não deverão te r a parte que lhes toca das satisfações do R e d e n to r? .. .
P o r isso é que o Concílio de T ren to condena form alm ente “aquêles que d is se re m ... que o sacrifício da M issa não aproveita de modo algum às alm as dos m ortos.”2 E é por isso — acrescenta — que se oferece a Santa Missa, segundo a tradição apostólica, não só para alívio de tôdas as necessidades dos vivos, m as também pelos de fu n tos, m ortos em Cristo que ainda não se purificaram suficientem ente.” 3
A “m inha" M issa é, pois, para em pregar um a expressão fam iliar à S anta Ig reja , “um orvalho” esparso sôbre as cham as do purgatório , pois ela abrevia o tempo que falta às alm as padecentes para atingirem “a sede do refrigério” ou ainda a “eterna frescura” .4
1) Imit. 1. 4, c. 5, n. 3. 2) Sessão 22.3) Ibidem. 4) Missal Romano.
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A liturgia recorda que, em " minha” Missa, devo dar a parte dos defuntos
A caridade exige que a parte do Corpo M ístico, que possui em suas mãos a oblação do Cristo, não esqueça a ou tra parte dêste mesmo Corpo M ístico, a qual não a pode mais celebrar. A nós pertence não p rivar a Ig re ja padecente do m aior de seus bens: o Sacrifício que aplica os m éritos de Cristo.
A S anta Ig re ja tem a precaução de recordar-nos, cm cada uma de “nossas” Missas, qual a parte que devemos d a r aos nossos irmãos falecidos, a fim de que não tenham os o perigo de esquecê- los.
Não mencionamos aqui a L iturg ia da “ Missa dos m ortos” , tôda repleta, é claro, de recordações das alm as do purgatório e das mais eloquentes invocações em seu favor, mas referim o-nos aos ritos impostos pela Ig re ja a tôdas as M issas que se celebram.
À oferenda do pão, diz o sacerdote: “Recebei, santo Pai, esta hóstia imaculada que Vos o fereço pelos v iv o s . . . e pelos m o r to s . . .” A Ig re ja completa, m ilitante, padecente e triunfan te , participará, pois, da o ferenda ; a triun fan te receberá honra e glória, a m ilitante, graças de salvação, a padecente, o refrigério .
Após a consagração, no m omento em que Cristo C hefe está presente no a lta r e renova a homenagem do Calvário, o celebrante pronuncia esta fórm ula: "Lem brai-vos também, Senhor, d e Vossos servos e servas que nos precederam com . o sinal da fé e agora descansam no sono da paz.”
Enquanto pronuncia essa oração, o sacerdote ju n ta as mãos e recolhe-se. É neste m omento de profundo silêncio que pronuncia os nomes daqueles e daquelas que recom enda particu larm ente; do m orto ou dos m ortos pelos quais oferece o santo
126 SEGUNDA P A R T E
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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 127
Sacrifício, os noines dos m em bros de sua fam ília, de seus amigos, de seus benfeitores fa lec id o s.. . Depois acrescenta: “A êstes, Senhor, e a todos aquêles que repousam em Cristo, concedei, Vo-lo pedimos, o lugar do refrigério , da luz e da paz. Pelo m esm o-Jesus Cristo, Nosso Senhor.”
Colocando esta intervenção em favor dos fiéis defuntos no momento mais solene da S. Missa, a U tu rg ia m ostra a parte imensa que Cristo, de quem a Ig re ja é a fiel intérprete, dá do Sacrifício do a lta r às alm as do purgatório . Como poderia deixar abandonados êsses pobres membros que amam seu Chefe com am or intenso, pois que então aprenderam a conhecê-Lo m elhor que na terra , porque com preenderam claram ente a espécie do laço vital que os une a Êle!
Deste modo em tôdas as S. M issas, mesmo nas que não são ditas especialmente por elas, as almas dos fiéis defuntos têm a sua memória na Ig re ja e na oração de Cristo. Tôdas as M issas lhes são, pois, proveitosas de algum a maneira.
Terct eu "minha” Missa no purgatório?
D everei contentar-m e com o fru to geral da Santa M issa, quando estiver no purgatório? N ão poderei obter mais algum a c o is a ? .. . O bter M issas, cujo fru to não seja aplicado em geral, mas a mim em p a r tic u la r? .. . M issas que, como o u tro ra na terra , eu possa cham ar “m inhas” M is s a s ? .. . U m a S. M issa na qual eu colabore com Cristo, meu Chefe, em que eu mesmo participe de modo especial dos fru tos do S a c rif íc io ? .. . Parece-m e que, se eu pudesse celebrar a “m inha” M issa no purgatório, as chamas tôdas se extinguiriam em tôrno de mim!
E sta pretensão de te r a “m inha” M issa no pu rgatório parece irrealizável. A s almas padecentes
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128 SEGUNDA PA R T E
não fazem mais parte da assembléia visivel da Igreja, à qual, por ou tra parte, não desejam , de modo algum, ser de novo agregadas. Estarão , pois, em estado de te r uma participação pessoal no Sacrifício do altar que só a Ig re ja m ilitante pode oferecer sob as espccies sensíveis do pão e do vinho? Ser-lhes-á preciso resignar-se a ficar privadas dos frutos que a oblação de C risto faz chover sôbre aqueles que concorrem para a sua realização?
Terei a "minha” Missa no purgatório:1.° se tiver o cuidado de mandar celebrá-la,
em vida, pelo repouso de minha almaÉ certo que a alma, após sua entrada 110 purga
tório, não pode mais operar como os ou tros membros de Cristo na terra , que podem só êles ap resen tar a oferenda. É por isso que ela não pode mais celebrar. M as se, antes de p a rtir dêste mundo, essa alm a quis reservar várias M issas para o tem po que seguir a m orte, e se tomou precauções para êste fim, encarregando, por exemplo, certas pessoas sinceras de m andar celebrar em sua intenção, neste caso, essa alma, ainda que já encerrada no lugar de expiação, concorre realm ente à oblação. O u tro ra economizou, mesmo à custa das mais duras privações, as quantias necessárias para concorrer com espórtulas suficientes, e dêsse modo m anifestou expressam ente a vontade de dar hom enagem infin ita à Santíssim a Trindade: é em vista dessa homenagem, e sob sua ordem, que o sacerdote celebra o Sacrifício redentor e glori- ficador.
Nunca se poderá encarar bastante esta piedosa prática: que os fiéis se assegurem Missas para depois da morte. D êste modo prolongam tanto quanto podem sua participação ativa na oferenda do a lta r e m anifestam seu zêlo pela celebração de sua
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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 129
Missa, m uito além dos limites terrestres. E será possivel que Deus se não compadeça mui especialm ente de tan ta boa vontade da parte destas almas que neste m undo se preocupam de perpetuar, por meio de Cristo, sua homenagem à Santissim a T rin dade? N ão dem onstraram uma veneração p ro fun da pelo Sacrifício divino, procurando assegurar- se um a participação nêle para o tempo em que as necessidades da expiação as privariam de acercar-se do a lta r e de can tar os louvores celestes?
Daí se depreende a gravidade da falta que cometeriam os herdeiros avaros ou negligentes que, não atendendo à vontade expressa do defunto, deixassem de em pregar em M issas o dinheiro que fôra depositado para êste fim. Ésses criminosos privam a alma padecente do mais precioso dos socorros e da consolação suprem a. Se, antes de m orrer, essas cria turas ladras obtiverem o perdão, f icar-lhes-á a pagar no purgatório uma pena tem poral bem pesada. Seu castigo poderia bem consistir em ficarem privados pela divina Justiça dos alívios que a S anta M issa prodigaliza aos pobres to rturados nas chamas.
Terei a “minha” Missa no purgatório:2.° se outras pessoas tiverem a caridade
de mandar celebrar por mimO fiel defunto im previdente que, em vida, não
tivesse tido a precaução de se assegurar algumas Missas, pode ainda assim mesmo partic ipar pessoalm ente das M issas que se tornam suas, se am igos caridosos se preocupam de m andar oferecer por Lie o santo Sacrifício.
Não é mais a título de oferente, mas somente de objeto da intenção da S. M issa, que a alm a aproveita do sacrifício, que, de certo modo, lhe perte n c e . . . "Lem brai-vos, Senhor — diz o sacer
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ISO SEGUNDA P A R T E
dote, — daqueles pelos quais V os o fe r e ç o .. . êste sacrifício de louvor.”
C ompreende-se então por que a Ig re ja tanto recomenda aos mem bros de Cristo vivo, neste m undo, m andar celebrar M issas pelos fiéis defuntos. Comprova que a oferenda do Sacrifício infinito é a m aior caridade que se possa fazer aos nossos caros mortos, o m elhor meio de exprim ir o reconhecimento que lhes devemos.
E é por isso que a Santa Ig re ja instituiu os ritos maravilhosos e as orações incomparáveis, p ró prias das M issas de defun tos; convida-nos a o ra r por meio de orações especiais por nosso pai e nossa mãe, nossos parentes e amigos, nossos benfeitores, os sacerdotes e os Srs. Bispos que tiveram re lação conosco, os fiéis que pertencerem à nossa m esma P a ró q u ia .. . Considera o ofício dos m ortos, cujo ponto culm inante é a M issa de defuntos, como a mais forte expressão de nossas orações: e é por isso também que nos convida, po r meio do Sacrificio do a ltar, a un ir o mais possível as alm as de nossos falecidos à homenagem infin itamente redentora, que Cristo, C hefe do Corpo M ístico, oferece à Santíssim a T rindade.
E se eu não tiver missas “propriamente minhas” no purgatório?
Se o fiel que sofre no purgatório não teve a precaução de m andar celebrar Missas por si, e se de ou tro lado ninguém na te rra pensa em m andar celebrá-las, que será dêle em meio às chamas vingadoras? F icará abandonado sem esperanças de alívio?
Não. Pode-se a firm ar que, mesmo assim, perceberá algum lucro dos Sacrifícios celebrados em nossos altares.
Em prim eiro lugar, tôda S. M issa encerra, como vimos, um a m em ória e prece pelos defuntos:
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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 131
as alm as padecentes têm, pois, sua p arte no pro veito geral da Santa Missa.
M as, além dêste fru to comum, certam ente terão um outro m uito especial. H á m uitas Missas, cu ja riqueza não determ inada fica à disposição de Deus. H á m uitas M issas que não são aplicadas à pessoa à qual se destinavam , ou porque a alma a aliviar não esteja mais no purgatório , tendo já voado ao paraíso, ou — a i ! — porque nunca chegaram a en trar, por terem caído nas “ trevas lá fo ra” .
E no entanto,, o m érito dessas M issas ex iste ; sua eficácia satisfatória é total. E esta eficácia acaso se desvanecerá sem utilização possível? N ão! não há que recear tal desgraça; pois aí rege a lei da caridade. O rico que, na terra , tivesse assegurado para si grande núm ero de M issas em perpétuo não deveria destinar aos pobres as satisfações que lhe fôssem supérfluas? E , ainda mesmo que não tenha pensado em ceder-lhes de sua abundância, a Ig re ja supre seu esquecimento, fa zendo com que o supérfluo dos ricos recaia na tu ralm ente no seio dos indigentes. Todos os m éritos das oblações m últiplas, que na te rra se o ferecem pelos defuntos que não têm mais necessidade, ficam para o proveito das “almas abandonadas” .
E depois, o núm ero dessas “alm as abandonadas” do purgatório não é lá tão grande como se pensa. A delicadeza das alm as boas dêste m undo é sempre levada a auxiliá-las. Q uantas vêzes os sacerdotes recebem espórtulas de M issas com esta in tenção: “para as almas abandonadas” . C ertas comunidades religiosas têm mesmo como finalidade do seu zêlo o alívio das alm as menos sufragadas e mais necessitadas de re frigério ; a m aior parte
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dos Pes. V igários celebram, e m uitas vêzes com intervalos bem próxim os, na intenção "dos m ortos da Paróquia” , cuja espórtula é garan tida por meio das coletas regulares para os mortos, ou por reservas determ inadas feitas aos recursos ordinários.
A própria Ig re ja é solícita em p rocu rar aliviar as alm as de seus membros so fren tes que tenham sido abandonados pelos seus. No dia da "Comemoração dos Fiéis D efuntos” a Ig re ja m anda celebrar por todos o santo Sacrifício, levando mesmo sua solicitude a ponto de pedir aos sacerdotes a cari- dades de repetir três vêzes nessa m anhã a oblação infinita pelo descanso dos mortos.
G raças ao espírito de caridade que anima o Corpo M ístico de Cristo, m embro algum pode queixar-se dos ou tros: há sem pre m útuo auxílio na Igreja . E n tre a Ig re ja da te rra e a do purgatório as relações são' múltiplas. Os fiéis que celebram a “sua” M issa são cada dia advertidos pela L iturgia que devem pensar nos defuntos. E mesmo que não fôssem lem brados por ela a fazer a o ração pelos mortos, sua fé de concelebrantes e sua união ao Chefe do Corpo Místico levá-los-ia naturalm ente a pensar nos m embros da Ig re ja padecente.
"Minha” Missa no purgatório é só “libertadora”
M as qual será o proveito que certam ente me tocará 110 purgatório das M issas que forem "m inhas” , quer das que eu tenha m andado celebrar, quer de ou tras de cujo fru to alguém me tornou partic ipante ?
U m a com paração fa rá com preender como o fru to dessas M issas é somente “ libertador” e depende, portan to , da vontade do m eu C riador que é Deus bondoso.
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U m soldado em atividade ganha os galões de honra e ao mesmo tempo um bom vencimento que lhe perm ite prover a tôdas as necessidades. E i-lo chegado ao pôsto de general, a custo dos próprios méritos. Teve, porém , a infelicidade de contrair dívidas. N o m omento de deixar o exército, encontra-se sem recursos. V endo-o seus credores culpado, m andam julgá-lo e condenar à prisão por certo núm ero de anos. Só poderá sair antes de exp ira r êsse prazo, se pagar, “até ao últim o centavo” . (M t 5, 26.) Evidentem ente continua a ser general, porque seus m éritos não os perdeu ; mas, para libertar-se, entrega-se às mãos dos amigos, cu ja generosidade, somente, poderá apressar sua liberdade, satisfazendo o credor.
Tal é o m embro do Corpo Místico nesta te rra ; em atividade, merece, progride, “ganha seus galões” , torna-se m embro unido ao Chefe, um dos principais do Corpo Místico.
Tem contudo dívidas que não foram pagas: é lançado na prisão do purgatório por tempo determ inado pela Justiça divina, tempo que só poderá ser abreviado por aquêles que quiserem pagar por êle. O ra, o "único” que pode pagar é C risto ; as oferendas do Corpo M ístico na S. Missa, são os m éritos do Salvador. Essa alma, que não pode ganhar mais nada, está, pois, entregue à generosidade de Cristo.
P a ra m embro do Corpo M ístico "em atividade” , concelebrante com seu Chefe no altar, a “ sua” M issa é m eritória; sua colaboração dá-lhe direitos a novos fru tos na intim idade do R edentor: vê-se cumulado de todos os fru tos enum erados no capítulo “ F ru tos espirituais” . P a ra o membro de Cristo, recluso no purgatório , “sua” M issa só é libertadora: não lhe ad ian tará fru tos, m as será apenas um a paga dos "atrasados” , dependendo dos
CAP. TV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 133
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134 SEGUNDA PA R T E
m éritos que Cristo apresen tar à Santíssim a T rin d a de. Jesus Sacerdote tem ganhos infinitos para d istribu ir conosco; mas, enquanto o m embro vivo do Corpo Místico pode hau rir dêsse tesouro para enriquecer-se, a alm a do purgatório só pode espera r o que venha dêsse tesouro para saldar suas dívidas.
Será todo fiel libertado por "sua” Missa no purgatório?
Em que medida o Chefe do Corpo M ístico salda as dívidas dos seus m embros padecentes que p a rticipam das S. M issas em nossos altares?
Se Nosso Senhor quisesse, uma só M issa bastaria de fato para esvaziar todo o purgatório .
M as a prática da Igreja , baseada sôbre as mais graves razões teológicas, faz-nos repetir o m aior núm ero de vêzes possível a o ferenda do santo Sacrifício pelos nossos falecidos. É que a divina V ítim a não distribui geralm ente de um a só vez os m éritos de sua imolação pelas almas, mas lhos prodigaliza mais ou menos abundantem ente, segundo as vistas de sua sabedoria.
A inda que a m edida desta libertação perm aneça para nós um m istério, podemos, todavia, en trever algum as de suas norm as diretrizes. E stas de um lado esclarecerão nossa devoção para com as a lmas do purgatório , e do outro nos d itarão os meios que devemos tom ar desde êste m undo para assegurar-nos as vantagens de um a pronta libertação das chamas, se form os obrigados a passar por lá.
Certos membros do Corpo Místico chegam a êsse lugar de suplício, abrasados de um a ardente caridade, habituados como estavam a te r parte ativa na “ sua” Missa, a qual fazia dêles colaboradores intim am ente unidos ao Chefe na oblação da homenagem infinita. E será possível que êstes não recebam logo na prim eira de “suas” M issas de
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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R G A TÓ RIO 135
defunto, da qual provavelm ente participam , não só por terem concorrido com a espórtula, como porque é por êles que se celebra, um proveito capaz de libertá-los mui rapidam ente e a té im ediatam ente de tôda a dívida?
C risto poderá acaso to lerar que adoradores tão solicitos em p restar ao Altíssimo a m aior glória, fiquem esperando por muito tempo o gôzo da felicidade de contem plar sem véu a Santíssim a T rin dade? Quem sabe até se, em sua bondade infinita para com seus membros, êste Chefe incomparável não lhes aplicará, logo à en trada no purgatório , os lucros da sua “prim eira M issa de defuntos” , que será talvez celebrada só no dia seguinte? O am or não quer delongas. Será tem erário pensar que, tendo Êle poder para isso, não abrevie o tem po do purgatório?
“Minha” Missa neste mnndo abrevia o tempo do purgatório
D esta consideração podemos tira r uma lição muito im portante para nós. N ão se pode, de fato, estabelecer como princípio: “A Santa M issa aliviar- me-á, quando estiver no purgatório , na m edida da perfeição com a qual tiver celebrado a minha M issa” ? Se eu tiver sido um adorador perfeito da Santíssim a T rindade com e por meio de Cristo, meu C hefe; se tiver prestado po r meio dêle satisfações infinitas à divina M ajestade, não terei a tra ído sôbre mim infinitas liberalidades da parte dA - quele que não esquece a esmola de um copo de água ?
P o r isso, dada a homenaguem completa que tribu ta a Deus, a “m inha” M issa é para mim neste m undo a certeza da abreviação do purgatório . P o r meio dela me livro eficazm ente daquelas chamas vingadoras. A “m inha” M issa obtém-me cada m anhã, em troca das homenagens de louvor e de sa
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136 SEGUNDA PA R T E
tisfação que dou a Deus, o aum ento de meus direitos à bem -aventurança e, por consequência, ao perdão de minhas d iv idas; além disso me dispõe a receber, se cair naquelas chamas, o pronto socorro dos “ refrigérios” de Cristo imolado, pois lem brar- se-á de libertar, no momento oportuno, seus colaboradores no santo altar.
M as todos os m embros do Corpo M ístico não estão assim unidos ao C h e fe .. . M uitos deixa- r a m -0 oferecer sozinho os louvores devidos a Deus e preocuparam -se de tudo, exceto de associar-se ao sacrifício de Cristo. U ns ignoravam seu valor, ou tros desprezavam -no. Os prim eiros assistiam à sua M issa paroquial como a um a enfadonha obrigação, apenas de corpo p resen te; os segundos se afastaram quase em tôda a vida do caminho da Igreja . E todavia, no derradeiro momento, a graça da volta para Deus, com os últim os Sacram entos, e a intercessão da Santíssim a Virgem , abriram as portas de salvação a essas alm as pouco fervorosas. E i-las, assim, no p u rg a tó r io .. . N ão merecem essas alm as perm anecer aí por certo tempo, para aprender, ainda que por meio de austera experiência pessoal, que não é em vão que C risto exige nossa colaboração no Sacrifício do a lta r e que a celebração de "nossa” Missa é o mais im portante dos nossos deveres ?
Será preciso que estas almas aguardem o céu no sofrim ento, pois sua en trada no purgatório m arca para elas a prim eira estância para o céu, enquanto que, para as almas que term inaram a longa peregrinação de vida cristã, a chegada às chamas do purgatório é apenas a últim a parada antes do refrigério eterno.
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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 137
Podemos estar certos de que Deus aplica às almas do purgatório,
tanto quanto possível, as satisfações de “sua” Missa
Se Deus quissesse a tu ar sem atender às leis o rd inárias que sua sabedoria se impôs, é evidente que poderia salvar qualquer alma do purgatório com a aplicação de uma só Missa. M as Deus respeita — salvo por motivos excepcionais só dÊle conhecidos — a ordem habitualm ente estabelecida. É por isso que devemos pensar que a distribuição das satisfações de Cristo aos seus m embros sofredores é subordinada aos fins de expiação para os quais foi criado o purgatório .
D eterm inar as condições da expiação e a medida em que é aplicado o fru to de nossas Missas, é um cálculo reservado só a Deus. Podemos en tretanto ter duas certezas sóbre o resultado de nossas oblações no purgatório:
1.° Deus é tão generoso quanto possível para com os m embros de Cristo. Am a decerto mui particularm ente essas alm as salvas pelos m éritos do calvário e a Êle unidas por um a caridade que nada jam ais poderá rom per. T udo o que sua misericórdia pode conceder a essas almas, sem u ltra passar os direitos de sua justiça e as necessidades da expiação, lhes c concedido. Cada alm a lucra, pois, de cada S. M issa, o máximo que pode lucrar.
2.° S e cada alma não recebe mais, é a si própria e não a Deus que deve atribuir as delongas da sua libertação. N a realidade, cada m embro padecente de Cristo só recebe de sua Missa de requiem o que c capaz de possuir. N este inundo, a “sua” M issa, que cm si era de um valor inesgotável, só lhe proporcionava proveito lim itado, segundo sua capacidade espiritual. No purgatório , onde a S. M issa já não tem ação direta, seus m éritos são
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entregues à B ondade divina, para serem d istribuídos; porém essa distribuição, em bora feita pela generosidade divina, não deverá, po r acaso, com raras exceções m ilagrosas, conform ar-se ao g rau de receptividade de cada um ?
H á naquelas cham as m embros do Corpo M ístico tão vazios de v irtudes e, por ou tro lado, tão sobrecarregados de dívidas que só podem receber em suas minúsculas mãos m uito pouco, e no entanto têm tanto que pagar! U m a gota de orvalho refrigeran te já é bastante copiosa para sua bôca, contanto que possam bebê-la tôda. M as, para completar sua satisfação, ser-lhes-ia preciso grande cópia delas. Mesmo apressando-a por M issas repelidas, a hora do livram ento dem orará muito. Foi de uma alma assim que o santo cura de A rs, que tinha visões m iraculosas do purgatório , dizia: “E s tá salva, mas está muito em b a ix o .. . orai muito por êle.”5
Pelo contrário, outros membros do Corpo M ístico são fortes e vigorosos, porque souberam tira r proveito da vida que Cristo lhes infundia.
N o purgatório abrem mãos amplas no momento em que Cristo distribui o fru to libertador das S. Missas.
E poder-se-á por ventura d a r o caso que Cristo, desejoso de possuir essas almas na glória, hesite em lhes dar a medida de satisfações que possam com portar? E porque êstes mem bros do Corpo Místico estão decerto pouco carregados de dívidas, pois neste m undo procuravam não te r déficit na sua vida, em breve suas contas estarão equilibradas.
Foi assim que a piedade cristã sem pre imaginou a distribuição das satisfações de C risto no purgatório . Cada alm a recebe, com tôda a justi-
138 SEGUNDA P A R T E
5) Trochu, Vida do Cura de Ars.
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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 139
ça e sabedoria, de cada S. M issa que se celebra por ela, tudo o que Deus lhe pode dar.
Todavia, como não conhecemos os segredos da Providência, pelos quais é avaliada a medida da repartição do lucro das M issas oferecidas pelos defuntos, devemos repeti-las sem pre e sem descanso.
O que é melhor para nós? mandar em vida celebrar missas por nós
ou delxá-Ias para depois (la morte?Os elementos da resposta a esta questão acham-
se nas páginas precedentes. É bem certo que a “nossa” M issa, celebrada por nós e para nós no alta r de Cristo, é m uito mais preciosa do que vossa M issa de rcquie.
1.° N este mundo colaboramos deveras no Sacrifício divino, oferecendo à Santíssim a T rindade, em união com Cristo, a homenagem infinita. No purgatório não terem os mais esta intim idade com a V ítim a do altar. A oblação de vossas M issas, mesmo a das M issas para as quais deixam os as espórtulas, terá direito apenas um concurso nosso indireto e remoto.
2.° N este mundo a colaboração em vossa M issa é para nós uma fonte de m éritos imensos e de g ra ças abundantes de santificação. No purgatório “nossa” M issa de defunto não nos alcançará nenhum novo mérito, porque não serem os mais capazes de m erecer. Nosso cabedal de lucros ou perdas já esta rá encerrado para sempre.
3.® N este mundo por vossa M issa satisfazem os, com plenos direitos, a pena devida pelos nossos pecados, contanto que não oponhamos obstáculos a isso por nossas más disposições. Pode-se m esmo dizer que a "penitência é suave” , pois só te mos que nos aproveitar dos m éritos do nosso Chefe. N o purgatório nossa M issa de m ortos não nos aplicará mais d iretam ente os fru tos da Paixão,
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140 SEGUNDA P A R T E
mas rem etê-los-á nas mãos de Deus, o qual, como acabamos de ver, no-los aplicará com tôda a liberalidade, mas segundo as necessidades da expiação e de acôrdo com sua justiça.
4." N este mundo, quando solvemos as espórtulas de M issas que mandam os celebrar, nos impomos um a privação e fazemos um ato de abnegação sem pre m eritório. N o purgatório , quando se celebram nossas M issas de defunto, privarem os nosso herdeiros de dinheiro, de que nos g aran timos o u su fru to : serão êles que farão a m ortificação. É por isso que certas pessoas, aliás avaras de M issas duran te a vida, se m ostram tão interessadas em m andar celebrá-las depois da morte.
5.° N este m undo estamos certos de que as 5\ M issas que mandam os celebrar são celebradas. N o purgatório , poderá acontecer que tenham os de esperar m uito tempo até que nossos herdeiros queiram executar nossas últim as vontades.
T ôdas estas razões nos provam cabalmente que é mais vantajoso e mais prudente m andar celebrar as “nossas” Missas em vida.
E todavia grande núm ero de fiéis mesmo piedosos hesitam. M uitas vêzes são levados por um %fentimento de caridade: p referem em pregar em esmolas as espórtulas de que dispõem para seus defuntos, abandonando-se, para quando estiverem no purgatório , à fidelidade de seus herdeiros e à misericórdia de Deus.
N ão deixa de ser louvável êste sentim ento, pois a caridade agrada tanto ao Pai celeste, que certam ente êstes m embros de Cristo nada perderão de sua generosidade, contanto que sejam m uito fe rvorosos na celebração quotidiana de sua Missa, e estejam resolvidos a m andar celebrar o santo Sacrifício tantas vêzes quantas puderem , em sua intenção, após a morte.
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TERCEIRA PARTE
M E IO S P A R A BEM C E L E B R A R “M IN H A ” M ISSA
Prim eiro capítulo
A preparação
A digna celebração de “m inha” Missa supõe minha ascensão quotidiana para a perfeição, sendo a
S. M issa o ponto culm inante da vida cristã.
Segundo capítulo
A assistência
A m aneira de asociar-m e com fru to à celebração do sacerdote no altar.
T erceiro capítulo
A Comunhão
A Santa Comunhão, parte integrante do Sacrificio, é o canal pelo qual se expande em m inha alma a
imensa reserva dos m éritos de Jesus Cristo.
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T E R C E I R A P A R T EC A P ÍT U L O I
A PREPARAÇÃOA "MINHA” MISSA, SENDO O MAIOR ATO QUE POSSO
FAZER NESTE MUNDO. DEVE SER PREPARADA EM TODA A MINHA VIDA... E “MINHA” PARTICIPAÇAO NO SACRIFÍCIO DEPENDE DO ESFORÇO QUE EMPREGAR PARA ME TORNAR DIGNO DE CELEBRA-LA.
A celebração de “minha” Missa não se Improvisa
Como o sacerdote que subisse ao santo a lta r sem a preparação devida não ofereceria dignam ente a oblação, assim o membro do Corpo M ístico que não se dispôs a o ferecer a oblação e a oferecer- se com seu C hefe não está apto a participar do santo Sacrificio, com tôda a eficácia. Sacerdote, fieis e Cristo fazem, como vimos, um único Cristo M ístico, que c o sacrificador e a vítima. Todo membro, quer seja grande ou pequeno, só poderá colaborar, se estiver em contacto com a Cabeça, neste grande e m aravilhoso organism o sobrenatural, que é “o Filho de D eus” integrado e completo.
A “m inha” M issa exige, pois, de mim que me reafirm e, por meio de um a preparação assídua e perseverante, na união intim a com Cristo. Se tenho o desejo de concelebrar com Êle, é preciso que esteja unido a Êle o mais estreitam ente possível, a título de membro.
E por ou tra, meu Chefe divino não m e dá o exemplo da preparação ao Sacrifício? Q ue fêz d u - . ran te os trin ta anos de vida terrestre , senão p reparar-se para o Sacrifício do Gólgota? “Vim, ó meu Pai. — disse Êle — para fazer a V ossa vontade.” (H eb 10, 9 .) E sta vontade era o decreto de imolação. D urante sua peregrinação neste mundo,
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CAP. I. A PR EPA RA ÇA O 143
ora, je jua, adora a seu Pai, celebra a M issa solene que deve term inar sua vida m ortal.
M as, como não devia celebrá-la só, a p reparação de C risto é também a de seu Corpo Místico: por isso é que todo o evangelho no-Lo apresenta form ando a Igreja , com seus d iferentes membros, pastores e fiéis, dispondo-a para a grande oblação e para a glorificação que se seguirá, a qual fêz en trever a Pedro, T iago e João, no Tabor.
O Sacrifício realizado um a só vez no Calvário e renovado sôbre o a lta r é, pois, para nós, membros a tuais do Corpo M ístico sôbre a te rra , o ponto culm inante de nossa existência, o ato supremo de nossa vida cristã, para cu ja preparação nosso Chefe nos ordena tôda a solicitude. Com participes de Cristo, nossa Cabeça, e vivendo dÊle e com Êle para a glória da Santíssim a Trindade, não nos podemos aproxim ar do altar, como convém, sem adap ta r nosso espírito e nosso coração às funções sacerdotais que devemos com partilhar com o Sumo Sacerdote.
Assim, pois, é necessário, para que “m inha” M issa seja uina participação digna e fru tuosa da oblação infinita, que me disponha para ela a tenta e dem oradam ente. M eu C hefe mesmo espera de mim que eu Lhe seja um m embro capaz de a tuar: C risto tem necessidade de sen tir o próprio Corpo revigorado e em plena robustez, quando realiza o ato único de oblação suprem a.
Qual deve ser a preparação & “minha” Missa?
P ara bem celebrar a "m inha” Missa, em primeiro lugar, é necessário que me ap rofunde no conhecimento dos M istérios do a lta r e, por consequência, que seja iniciado nos princípios do Sa- serdócio e da Eucaristia : a preparação, pois, para “m inha” M issa deverá ser, ein prim eiro lugar, doutrinal.
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O dogma católico traduz-se aos nossos olhos de um modo visível pela L iturg ia: nossas cerimônias sacras são, para em pregar um a expressão m oderna, a melhor ilustração de nossa crença. A preparação para “minha ’’M issa deverá ser, portanto, Utúrgica.
M as, para com partilhar eficazm ente do dram a do altar, devo scr membro solidamente unido ao meu Chefe divino, mediante a g ra ç a ; alem disso devo estre itar quotidianam ente m inha união com Êle, tornando m inha vontade sem elhante à dÊle pela prática de t.ôdas as virtudes. A preparação para “m inha” M issa será ainda ascética.
Se eu trabalhar em tôda a minha vida e de todo o coração para esta tríplice preparação, serei cada dia menos indigno de oferecer com meu Chefe a homenagem de glória suprem a à Santíssim a T rin dade.
1.° A preparação doutrinal para "minha" Missa
“N inguém deseja o que não conhece.” P o r isso, a p rim eira necessidade que se impõe ao fiel, para apreciar devidam ente “sua” Missa, é p rocurar conhecer o seu valor. A i ! — todavia é preciso confessar — m uitos cristãos ignoram as verdades concernentes aos M istérios do altar. M uitos têm apenas dêste Sacrifício “que é o seu”1 vagas noções aprendidas, reminiscências apagadas do catecismo de prim eira Comunhão. Compreende-se assim a indiferença que certos católicos m anifestam pela “suá” Missa de domingo, as censuras que fa zem à Ig re ja por obrigá-los a assistir a ela, e a facilidade com que se dispensam sem grande re morsos.
É preciso, portanto, saber o que é a S. Missa. Seu estudo é o mais im portante e o mais fru tuo-
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1) “Orate frates”.
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CAP. I. A PR E PA RA ÇA O 145
so de todos que temos a fazer neste mundo, po rque a S. M issa nos obriga a estudar os m istérios principais de nossa fé : Santíssim a Trindade, In carnação, Redenção, Graça, Salvação.
A leitura, primeiro melo para assegurar a preparação doutrinal de ‘‘minha*’ Missa
U m membro de Cristo, desejoso de conhecer sua M issa, procura em prim eiro lugar livros capazes de instruí-lo.
O s sacerdotes e os fiéis instruídos acharão um a fonte inesgotável de conhecimentos sôbre a doutrina de Cristo Místico e de seu Sacrifício na leitu ra dos Padres da Igreja , especialmente S. João Crisóstomo e Santo A gostinho, que pregaram eloquentem ente em tôdas as ocasiões, e de acôrdo com o Evangelho e as S agradas Escritu ras, sôbre nossa incorporação a Cristo pela obra da glorificação de Deus e de nosso resgate pessoal.
Santo Tom ás de Aquino, cujo pensam ento é o reflexo do ensino dos Santos Padres, recolhe em uma m agnífica obra os dados esparsos nos tra ta dos dos doutores que o precederam , e form ou o mais completo corpo de doutrina que se possa conceber sôbre a vida cristã pela adesão ao Corpo Místico de Cristo. D ir-se-ia que Santo Tom ás de A quino é inacessível à piedade dos simples fiéis. O êxito enorm e e inesperado que tiveram as t ra duções de suas obras parecem provar o contrário.
D entre os au tores franceses que m elhor escreveram sôbre nossa união mística com Cristo, e nossa colaboração aos seus M istérios, devemos citar S. João Eudes, de modo especial na sua obra A Vida e o Reino dc Jesus nas A lm as Cristãs.
A escola francesa de espiritualidade do século X V II foi fiel à tradição doutrinal da Igreja . O s Bérulle, os Ollier, os Condren, os Thom assin,
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souberam deduzir das verdades reveladas po r N osso Senhor e desenvolvidas por S. Paulo, as m agníficas conclusões que encerram acêrca da nossa participação no sacerdócio do Hom em -Deus.
Quais as causas a que devemos atribu ir a espécie de eclipse que, duran te o século X IX , sofreu a doutrina da incorporação do- fiel ao Corpo M ístico e, ao mesmo tempo, o desprezo aparen te dessas grandes verdades? O jansenism o, logo ao princípio, depois o m aterialism o do século X V III , e, afinal, a anarquia originada pela to rm enta revolucionária, parecem explicar êste abandono. É com tristeza que devemos reconhecer êste fato: a piedade cristã não procurou no últim o século, como em outras épocas, o seu alim ento na união, como membro, ao “Chefe incom parável.”
Ainda hoje a grande m assa dos fiéis não cogita desta adm irável doutrina e poucas almas nela acham o alimento para sua vida espiritual. E sta apatia reclam ava um a reação, a qual, graças a Deus, já começa a produzir-se. São principalm ente os trabalhos da O rdem dos Beneditinos e outros, assim como o Clero Secular que já tanto têm concorrido para cham ar a atenção das almas para esta doutrina, da qual nunca se deveriam te r distra ído. É bom notar, — e é êste um triunfo para a sabedoria inspirada da Ig reja , que não descuida os m enores atos do culto devido a Deus — que foi por meio da L iturg ia que se renovou a espiritualidade, após o período de esquecimento, levada novamente à concepção do nosso papel de membros do Corpo Místico.
N a mesma época em que apareceram estudos magistrais sôbre S. Paulo, ilustres professores su rgiram nas cátedras. U m a plêiade de teólogos guiados por m estres eruditos estudaram a doutrina do
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CAP. I. A PR E PA RA ÇA O 147
Corpo M ístico, gode-se dizer que hoje essa doutrina form a a elite da piedade católica.
M as como esta “ substância” tão suave e tão nutrien te descerá a té às almas simples?
A pregação, segundo melo de assegurar a preparação doutrinal da “minha” Missa
O s propagadores das idéias teológicas en tre os fiéis são os pregadores. “A fé en tra pelo ouvid o . . . ” (R om 10, 17) e como se faria isto sem pregadores? Tal é a afirm ação de S. Paulo. É necessário, pois, que, segundo o conselho do mesmo Apóstolo, os pastores de alm as e todos os Padres, encarregados de espalhar a doutrina, retom em ante as multidões a linguagem que usavam os P a dres da Igreja . O u tro ra , em tôrno de seus púlpitos, seus ensinam entos sem pre os m esmos e p ro fundos chegavam a penetrar as alm as de convicções sólidas sóbre “a vida cristã, adesão ao Corpo M ístico” . Todos sabiam que cada alm a era “membro de Cristo” ; referiam tôdas as práticas da re ligião a esta verdade fundam ental da “colaboração com a Cabeça” e consideravam esta com participação ao eterno P ontífice como o móvel de to da a santificação.
Seria para desejar que o ensino catequístico, ho- milético e oratório , m inistrado em nossos dias aos fiéis, tivesse de novo como base êste tem a fundamental. Q ue alim ento para a piedade encontrariam nêle os fiéis, se conhecessem as m aravilhas de sua incorporação a C risto M ístico! Com preenderiam que, pelo Batismo, são enxertados e ligados ao C h e fe ; que, pelo caráter batism al, entram em verdadeira participação no Sacerdócio de C risto ; que por êsse meio ficam "sem elhantes ao Filho de D eus” , como sacerdotes de D eus2 ; que os carac-
2) Sum a Teol., m , p. 63, a . 3.
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teres indeléveis da C onfirm ação e da O rdem são apenas o complemento do Batism o e produzem uma incorporação mais íntim a ao P ontífice suprem o; que, como m em bros de Cristo, o Sacrifício dêste, sua m orte, sua ressurreição, sua ascensão, seu reino, sua graça são bens e propriedades dêles, e que os m éritos de Cristo são também seus; que, por êste fato da própria incorporação a C risto Sacerdote, os cristãos são “a Raça eleita, o Sacerdócio real” (1 Ped 2, 9 ) , com direito de oferecer a Deus po r meio de “sua” M issa o culto autêntico, oficial e público; que, em um a palavra, “se o Corpo de Cristo foi ungido da unção sacerdotal, seu Corpo Místico, que somos nós, tam bém o foi”3.
O auditório , m aravilhado com esta pregação cheia de doutrina, aprenderia assim a detestar praticam ente o pecado, porque sentiria os efeitos imediatos dêle e poderia verificar, com efeito, que o pecado venial p rejud ica ou mesmo paralisa o membro do Corpo Místico e que o pecado grave o aniquila transform ando-o em um órgão que não atua, ainda que esteja, todavia, ligado ao Corpo, pela fé que lhe resta. E ainda esta mesma doutrina recordaria aos fiéis que são capazes de recuperar, por meio da absolvição, o "enxêrto” inalterável e rev igo rado! . . . Q uantos pensam entos m aravilhosos! Q ue assunto inesgotável para a lim entar uma piedade que se tornou concreta e fácil, pois p ro cura ating ir um fim determ inado: to rn ar cada dia mais unido, mais robusto, mais nu trido um membro dêste Chefe, que é Cristo. P o r esta certeza de pertencer ao Corpo M ístico de Cristo, como o Cristão deve sentir-se perto de D e u s ! Jesus Cristo não é mais personagem distante de nós e m ajestosa, que o adorador tím ido e cheio de tem or apercebe oculto sob as espécies eu c a r ís tic a s .. . N ão é
3) S. Agos. in Ps. 26.
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CAP. I. A PR E PA RA ÇÃ O 149
tam bém , como certos espíritos gostam de a figu rar- se, “prisioneiro” algemado po r nós no cárcere do tabernáculo . . . Êle é, ali, mais que A m igo. . . é m ais que um I r m ã o . . . é o “ Chefe incom parável” de quem somos o braço, a mão, os órgãos, vivendo da mesm a seiva, penetrado da mesma alma que é o E spírito Santo.
E quão sublimes são as funções que realiza êste Corpo M ístico, “que somos nós m esm os!” Como seria fácil aos oradores sacros prom over o culto verdadeiro de Deus, ensinando aos fiéis que não podendo Cristo Chefe separar-se de seus membros, como nós não nos podemos separar dos nossos, oferece conosco o Sacrifício do altar, que se to rna a nossa M issa ! O presente compêndio vem p ro curando tira r desta verdade um pouco do suco que ela c o n té m .. . Porque, como fru to de nossa M issa que é nossa imolação com Cristo, haverá nossa ressurreição com Êle, nossa ascensão, nosso reino à d ireita do eterno Pai, pois os m embros de qualquer organism o com partilham em qualquer lugar e sem pre da sorte da Cabeça.
Perguntam os, às vêzes, por que deixam os adormecer verdades como estas, em vez de “pregá- las oportuna e inoportunam ente” (2 T im 4, 2 .), como o pede S. Paulo.
O bjeta-se, às vêzes, como desculpa pelo silêncio, a dificuldade que se teria para fazer com preender aos fiéis esta dourtina. Poucos ouvintes, é certo, são capazes de entendê-las da prim eira vez. E é por isso que os cristãos, que atualm ente ouvem fa la r tão pouco sôbre estas idéias tão belas e anim adoras, m anifestam adm iração, quando, po r acaso, um pregador lhas expõe. N ão estando habituados a essa linguagem, desconfiam dela, e por vêzes, como de um a novidade que não precisam os levar
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em conta. A semente, que aliás era excelente, caiu em um terreno mal preparado.
Mas se, desde a prim eira palavra do catecismo, que começa geralm ente pela definição do "cristão mem bro de C risto” a té à última, que c m uitas vê- zes “a vida eterna” , isto é, o reino do Chefe, partilhado pelos membros, se tem procurado ensinar às crianças suas relações com a C abeça; se habituaram -nas a viver na adesão a Cristo e a conservar-se em perpétua união com Ê le; se de sua parte o sacerdote continua no púlpito o ensino cate- quístico, visando sem pre o dogm a católico, sob o mesmo ponto de vista de nossa incorporação, pelo Batismo, a Cristo, com a qual com partilham os as funções sacerdotais a té celebrar com Êle, por interm édio do m inistério dos sacerdotes, a “nossa” Missa, então os fiéis com preenderão bem depressa sua vida sobrenatural, am arão m ais o seu divino Sacerdote, e começarão a ter um a piedade que até então desconheciam, para preparar-se para a sua oblação.
2.» A preparação lltúrglca de “minha” Missa
O homem é feito assim: só com preende perfeita e praticam ente o que vê. É um dos característicos da divindade da Ig re ja ter traduzido as verdades ocultas em linguagem com preensível: a L itu rgia é a representação viva das mais a ltas doutrinas, as quais, por si mesmas, parece que deveriam escapar inteiram ente ao domínio dos sentidos.
P ara com pletar o conhecimento e am ar os M istérios do altar, temos que acrescentar ao estudo da doutrina o da Liturgia. As cerim ônias da S. Missa, sua h istória, sua significação com pletarão e determ inarão perfeitam ente as noções teológicas.
M as não se pode conhecer em um só dia todos os ritos da Igreja . P a ra serem com preendidos e saboreados, devem ser acom panhados po r muito
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CAP. X. A PR E PA RA ÇÃ O 151
tempo. A preparação litúrgica de “m inha” Missa deverá ser m uito perseverante para que eu possa conhecer os menores gestos, impostos ao P adre, assim como sua origem a qual, m uitas vêzes, explica o que significam ; deverá também ser bastante aprofundada para que eu possa p enetrar o sentido das palavras que o celebrante pronuncia, palavras repletas de suavidade, de unção e de verdade!
Êste estudo liturgico de minha M issa requer, para ser frutuoso, guias experim entados. H á alguns anos apareceram obras perfeitam ente adaptadas às necessidades da piedade do povo e capazes de p ro porcionar a todos os assistentes luzes abundantes sôbre as cerim ônias do a ltar, aliás tão pouco compreendidas dos fiéis. São dignas de menção também certas revistas litúrgicas, cujo fim é espalhar por tôda parte as noções indispensáveis aos cristãos que querem interessar-se pelo serviço do altar. N unca será demais recom endar ao membro de Cristo, desejoso de celebrar a sua Missa, que leia êsses livros e essas revistas, que lhe abrirão novos horizontes sôbre a participação no Sacrifício.
P a ra os fiéis pouco instruídos ou dem asiado absortos nas dificuldades m ateriais, que não dão a si próprios o ensejo de estudar os dados litú r- gicos, a pregação e os cursos orais devem sup rir a impossibilidade dum a instrução pessoal. P o r que não se instituem , por exemplo, em nossas escolas católicas, em nossas congregações de filhas de M aria, em nossos círculos de estudos m asculinos e femininos, em nossas ligas e confrarias, aulas de L iturg ia? Seria um dos meios mais práticos p ara ensinar aos simples fiéis a “celebrar” d ignam ente a sua M issa e inspirar-lhes um atra tivo sobrenatural pelos sublimes m istérios do altar.
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S.* A preparação ascética para “minha” Missa
De tôdas as preparações para a celebração do santo Sacrifício, a mais im portante é a do coração e da vontade. P a ra oferecer sua M issa, o membro deve esta r unido ao Chefe tão perfeita e solidamente quanto possível, pelos laços da virtude e do am or. O g rau da cooperação que o fiel dá ao Pontífice supremo, na oferenda da homenagem infinita, m ede-se pela im portância dêsse mesmo fiel no Corpo de C risto Místico. Concebe-se desde então que tôda a vida não é dem asiada para realizar a obra de desenvolvimento do membro, que somos, e para assegurar a êsse membro um grau superior de vitalidade e de atividade no organism o sobrenatural que é C risto completo e total, em vista do ato suprem o de religião a oferecer à Santíssim a T rin dade.
A preparação para o santo Sacrifício torna-se, pois, para o fiel que compreendeu o que é a sua Missa, o fim único da existência. E na verdade, êste cristão sabe que foi criado unicam ente para servir a Deus, louvá-Lo e adorá-Lo. O ra, a adoração e o louvor são prestados à divina M ajestade só por meio de Cristo Místico, e o lugar onde êste Cristo Místico oferece sua homenagem é sempre o a ltar. O cristão com preende então que todo o seu esforço deve tender para o crescim ento neste Corpo Místico, a fim de colaborar nos atos de religião que tribu ta com seu Chefe, sobretudo no ato de sua Missa.
E sta concepção verdadeira da ‘‘vida em Cristo” transporta-nos para longe das estreitezas de certas espiritualidades com tendências “sobrenaturalmente egoístas", que fazem p rocu rar a virtude por ela mesma, pelas vantagens que nos traz neste m undo e no outro, sem pensar que acima de tudo está
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CAP. I. A PR EPA RA ÇÃ O 153
a glória e o ato de adoração a D eus! O membro de C risto deve te r ou tras preocupações. Incorporar-se mais intim am ente a C risto M ístico, para ser mais “ laborioso” no serviço da divina M ajestade na oblação do altar, é o ideal da perfeição cristã. Sabe que, p rocurando ardentem ente o Reino de Deus po r sua união com o Chefe, todos os ou tros bens espirituais e tem porais lhe advirão com uma profusão inaudita.
A v irtude não é para a alm a cristã um luxo e um ornato, de que se possa orgulhar, é um bem de prim eira necessidade, sem o qual não pode h a ver união possível a C risto M ístico; pelo mesmo motivo, não ha homenagem a Deus, e, portanto, não há S. Missa.
Preparem os nossa M issa cada dia m elhor e com mais solicitude. O esforço da vida in teira não é demasiado longo. E stejam os certos: m orreremos sem te r alcançado celebrar a “nossa” M issa tão perfeitam ente quanto o teríam os ideado.
A preparação ascética da “minha” Missa consiste
em formar em mim a vitima do sacrifícioO fiel, na preparação ascética para sua Missa,
deve pensar que será tanto mais unido à Cabeça, como sacrificador, quanto mais se esforçar por to rnar-se vítima com ela. Celebrarem os tanto m elhor a nossa Missa, quanto mais nosso estado de “vítim as” nos un ir a Cristo V ítim a; serem os tanto mais co-oferentes da homenagem infin ita quanto mais form os “co-oblatos” . É o que São Paulo queria dizer, quando escrevia aos rom anos: “Rogo- vos pois, irmãos, pela m isericórdia de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um a hóstia viva, santa, agradável a Deus, como vosso culto ra cional.” (R om 12, 1.)
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154 T E R C E IR A P A R T E
A preparação espiritual para nossa M issa consistirá, pois, em sacrificar-nos com Cristo, isto é, em p rocu rar e am ar os sofrim entos da vida cristã, os quais merecerão para nós o nome de sacrifícios na medida em que fizerem de nós co-vítimas de Cristo no seu santo Sacrifício.
Q uais são, porém, êstes sofrim entos que farão de nós um “m em bro-vítim a” com o Chefe e tran sform arão cada um de nós nesta "hóstia viva, santa c agradável a D eus” , como pede S. Paulo?
A nossa formação de co-vitima do sacrifício:1.° pela aceitação das penas necessárias
à conservação do estado de graça A prim eira preocupação do fiel, que quer ce
lebrar a “sua” M issa, deve se r a de permanecer membro de Cristo, isto é, de perm anecer unido ao Chefe divino pelos laços da caridade. M as não é sem pre fácil m anter êsses laços bem unidos. Sem extraord inária vigilância e solicitude sem pre em atividade, se afrouxariam bem facilm ente! O conjun to de esforços que fazem os cristãos para perm anecer em sólida união com o Chefe pela conservação do estado de graça, constitui nêles o prim eiro estado de vítima, indispensável para tornarem -se concelebrantes da M issa de Cristo.
N ão se pode dizer que esta prim eira form ação em nós da V ítim a do Sacrifício não seja muito m eritó ria! Quem ignora quanto custa à pobre natureza decaída o m anter-se em estado de G raça? E mesmo as obrigações gerais da vida cristã são um a fonte de privações re iteradas: o ra r com regularidade, p re fe rir a Missa do domingo a qualquer prazer, a joelhar-se an te um sacerdote no confessionário, se r fiel à abstinência e je ju a r nos dias determ inados pela Ig reja , m ostrar-se ca tó lic o .. . eis tan tas ocasiões de “sacrifícios” que preparam para o “Sacrifício” .
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M as, além destes preceitos da vida cristã, comum a todos, quantas ou tras m ortificações são impostas pela observância dos diversos deveres do p ró prio estado! O s esposos sabem qual a coragem e a confiança na Providência que lhes é precisa para nunca ofenderem a Deus no cum prim ento de seus deveres conjugais. O s jovens que prezam a sua pureza têm que fug ir dos teatros, dos romances, dos cam aradas, têm que contrapor às solicitudes viciosas uma resistência perseverante. Q uando um rapaz, por exemplo, ou um a moça passam o cimo dos anos terríveis sem jam ais se “desligarem ” de Cristo, por um pecado m ortal, êstes tenros m embros do Corpo M ístico não apresentam já unia preparação seria para o estado de co-vítima que lhes perm ite oferecer com o Sacerdote ado rável do altar?
U m a moça que atravessa o m undo atual, perm anecendo simplesmente “virgem cristã” , não será acaso a adm iração daqueles que a co n h ecem ? ... É decente no vestuário, m odesta nos olhares, reservada no porte, foge dos bailes onde poderia b rilhar, não faz ostentação da própria mocidade c beleza, mas, pelo contrário , apresenta-se p ru dentem ente piedosa, trabalhadora em casa, pronta a em pregar-se nos mais penosos trabalhos domésticos, caridosa, dedicada aos pobres e aos doen tes. . . Q ual será a opinião da sociedade sobre esta jovem ? U ns adm iram -na, ou tros censuram -na. . . mas de q u e ? . . . De sacrificar seus melhores anos. E todavia foi apenas muito prudente. E sta simples vontade de ficar fielmente unida a C risto pelo cum prim ento dos deveres ord inários é, pois, a causa de "sacrifícios” que deixam o m undo adm irado.
D êste modo, não será verdade dizer que a simples aceitação leal e generosa da vida cristã se-
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ja por si mesma já um a preparação à oblação da nossa M issa? Q ualquer membro de Cristo que se apresente no a lta r de sua M issa, em estado de graça, certam ente sofreu penas e aceitou privações; em uma palavra, é de algum m odo "um a hóstia viva e agradável a D eus” , capaz de oferecer-se com C risto Chefe, e por isto mesmo de oferecer a oblação com Êle.
A nossa formação de co-vítlma do sacrifício:2.° pela aceitação des cruzes
Q uando, porém, N osso Senhor quer d a r aos seus m embros um a im portância m aior na oblação, aperfeiçoa-lhes o estado de co-vítima, enviando-lhes sofrim entos suplem entares. Nosso Senhor mesmo nos adverte que está disposto a nos associar de modo mais íntimo ao seu sacrifício por meio das penas e dos sofrim entos. E é por isso que nos convida a aceitar de boa vontade as provações: “Se alguém quiser v ir após m im . . . que tome sua cruz de cada dia e me siga.” (L c 9, 23.)
A tradição cristã com preendeu o pensam ento do M estre. Designou pelo nome de “cruzes" as tribulações da vida, do m omento que são aceitas pelos membros de C risto como vindas da mão de Deus. Mas, assim como nossos sofrim entos só merecem o nome de sacrifícios à medida que cooperam em fazer de nós co-vítimas do Sacrifício único, também as provações não são dignas de serem cham adas "cruzes” senão quando as recebemos com a intenção de nos identificarm os mais intim am ente à renovação do Sacrifício do Gólgota, que é a nossa Missa.
O m embro de Cristo M ístico, desejoso de celeb rar quotidianam ente a sua M issa, compreende qual meio poderoso seja, para esta colaboração com Cristo, a aceitação livre e “sorridente” das penas, doenças, reveses, separações e ou tras d o re s . . . O
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m embro de C risto faria muito mal em tem er estas terríveis visitas: são as enviadas de Deus. E fa ria ainda p ior em m urm urar contra e las: encerram em si a semelhança mais aproxim ada possível com a V ítim a-Sacerdote; também lhe prodigalizam o mais precioso dos tesouros: porque, de envolta aos m éritos de Cristo, nossos pobres sofrim entos revestem -se de um valor incalculável, como no o fe rtório a gota de água lançada no cálice se dissolve no vinho e se transform a no Sangue do Salvador.
A ssim a nossa Missa, p reparada po r meio do sofrim ento cristão, será verdadeiram ente uma cooperação com C risto que se oferece a seu Pai.
A nossa formação de co-vítima do sacrifício:3.° pelas mortificações que nos impomos
C ertas alm as santas acham que o C hefe divino não form a nelas com bastante presteza a sua imagem.
A rdentem ente sequiosas de se tornarem , sempre mais, vítim as do santo Sacrifício, impõe-se, além das cruzes providenciais, ou tros sofrim entos voluntários. Lêein-sc na vida dos Santos particu laridades aterrorizan tes sôbre as penitências que se impunham , mais adm iráveis que imitáveis. O santo cura de A rs, por exemplo, que po r muitos anos ouvia confissões doze a dezoito horas cada dia, do rm indo apenas no m áximo duas horas cada noite, comendo ao meio dia mui parcam ente, sem jam ais sentar-se à mesa, flagelando-se até co rrer o sangue, e usando cilícios que lhe penetravam as ca rnes. . A
O bom cura de A rs era verdadeiram ente vítim a! M as, também, que ótim o cooperador com Cristo em sua M issa ! E ra verdade sabida em A rs e baseada nos fatos, que êle percebia de modo m aravilho-
4) V ida do Santo por T rochu.
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so a presença de Cristo na sagrada H ó s tia . . . sua atitude no a lta r era de um a eloquência visível: bastava a vista do Pad re V ianney celebrando os santos M istérios para converter os pecadores e inflam ar de am or as alm as piedosas.
Assim, pois, se os Santos foram em sua M issa membros que colaboravam excepcionalmente com o Chefe, foi devido tão somente à sua preparação ao estado de vítima, a qual lhes era particularm ente cara. M as nós, simples fiéis, que aliás somos também desejosos de celebrar perfeitam ente a nossa Missa, podemos acaso acom panhar os Santos nestas vias ex traord inárias da penitência?
O bom cura de A rs responderá a esta pergunta com seu fino e sua retidão de juízo. Em uma ocasião, no comêço da Q uaresm a, a fiel C atarina Lassagne lhe pediu perm issão p ara je juar. O P a dre V ianney recusou-lhe. “ M as V. Revma. je ju a tôda a Q uaresm a” , replicou ela. O santo sacerdote respondeu-lhe: “É verdade; m as para m im o je jum não me impede de exercer o meu ofício, e a senhora não poderia desem penhar o seu.”
Nosso Senhor só exige de nós, pois; como penitência voluntária, tendo em vista a nossa Missa, os atos “que não nos impedem de exercer nosso ofício” , isto é, de cum prir perfeitam ente os deveres de nosso estado. Seria, pois, um ardo r mal entendido o de certas alm as piedosas que negligenciassem, por exemplo, a saúde, dom precioso para a vida da família, a fim de se entregarem à p rática de privações extraord inárias. N ão há no m undo coisa que exija tan ta prudência como o uso das “penitências suplem entares” . E jam ais se poderá recom endar bastante aos m embros de Cristo que, se quiserem evitar os perigos da tem eridade e não ra ro do orgulho, nada empreendam dêste gênero
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de m ortificações, antes de ter recebido a perm issão de um d ire to r esclarecido.
Resta ainda no entanto, para as alm as desejosas de se tornarem “hóstias vivas e agradáveis a D eus” , um campo vasto de privações voluntárias, as quais, sem p rejudicar a saúde, nem as obrigações do p róprio estado, podem realizar-se mesmo sem a licença do confessor. P o r exemplo, quando êstes membros de C risto tiverem sacrificado as palavras inúteis, as conversações frívolas, os olhares distraídos na igreja, o luxo na alimentação, a im oralidade no vestuário ; quando depositarem na mão dos pobres ou na caixa das obras pias esmolas tão abundantes quanto lhes perm ite a própria condição soc ia l; quando souberem privar-se de algum a coisa para p restar serviço ao próxim o, consolando-o, anim ando-o; quando tiverem exercido o apostolado segundo suas aptidões e as circuntâncias pessoais, por meio do ensino do catecismo às crianças, ou da propaganda da boa Im p ren sa . . . terão p raticado grande núm ero de m ortificações suplem entares, escolhidas livrem ente, e, sem sair das sendas bem experim entadas, terão delineado em si mesmos a “hóstia” . Êstes cristãos poderão celeb ra r tôdas as m anhãs dignam ente a “sua” M issa para a qual se terão preparado tão perseverante quão cuidadosam ente em todos os momentos de sua vida.
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C A P ÍT U L O S E G U N D O
A ASSISTÊNCIANOSSA ASSISTÊNCIA A S. MISSA DEVE SER UMA CELE
BRAÇÃO... POR CONSEGUINTE, DEVEMOS PARTICIPAR ATIVAMENTE DA OFERENDA, ASSOCIANDO-NOS A LITURGIA... ESTA COMPARTICIPAÇÃO A LITURGIA REALIZA-SE PERFEITAMENTE QUANDO ACOMPANHAMOS AS MISSAS SOLENES.
Nossa presença deve ser uma celebração
O presente trabalho tem por fim dem onstrar que o Sacrifício do a lta r é a “nossa” M issa porque c Cristo M ístico, Cabeça e Corpo, do qual somos um membro vivo, que oferece e se oferece.
O conhecimento desta grande verdade deve exercer sua influência sôbre nosso m odo de assistir à S. Missa. A Ig re ja não exige de nós que levemos apenas um a presença corporal, passiva e indiferente, mas deseja de nós um a colaboração com Cristo que se im ola; quer uma celebração.
Todos os fieis, reunidos em a nave do templo em volta do celebrante, form am “um só coração e um a só alm a” . Cristo, Chefe de tôda a Igreja , é sacrificado em cada S. M issa, como Cabeça de todo o Corpo Místico, e vem oferecer-se sôbre o altar, mui especialmente com e pelos seus membros, reunidos naquela ocasião em volta dÊle. Com êsses é que mui particularm ente tribu ta à Santíssima T rindade a homenagem infinita, oferece o louvor perfeito , a ação de graças superabundante, a satisfação suprem a; com êsses é que pede o Reino de Deus e as graças espirituais e tem porais que lhes são necessárias. E sta Missa é especialmente o ato com um da parte do Corpo M ístico reunido na Igreja , a resu ltan te dos esforços dêstes membros com seu Chefe.
D aqui se deduz quão longe do bom senso e da verdade estão certos fiéis que vêm à S. M issa sem
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piedade e sem gôsto. Estão neste caso, por exem plo, aqueles que declaram abertam ente que vão às M issas de defuntos ou de casamentos, só para satisfazer às praxes sociais. V ão para a ig reja o mais tarde possível e saem o mais cedo . . . e êsse curto lapso de tempo empregam em olhar para o povo, em pensar nos negócios, em impacientar-se, etc. Nem uma palavra de preces v o c a is .. . essa mera presença à S. M issa não tem valor algum : não é colaboração.
Felizm ente essa a titude é apenas a de um pequeno núm ero de católicos. Aqueles que se esforçam por não fa lta r à S. M issa de domingo têm mais convicções. Se vão à Ig re ja para cum prir um dever, sua intenção é reta e já encerra uma vontade, ainda que inconsciente, de cooperação com Cristo. Provavelm ente êsses fiéis form ularão algum as o rações, e desse modo já terão dem onstrado bastante adesão ao Corpo Místico, para te r parte na oblação: e é por isso que a Santa Ig re ja considera que cum prem o preceito.
M as que maravilhosos fru tos poderiam tira r êsses católicos pouco instruídos, se tivessem sôbre a assistência da S. M issa noções ao menos elem entares! Não seriam mais vistos recitar du ran te a S. M issa quaisquer orações vocais, desfiando, talvez distraidam ente, as contas do rosário, ou lendo as ladainhas, no momento em que o dram a do Calvário, que se representa no altar, reclam a tôda a sua atenção.
O s cristãos que rezando apenas de “bôca ou de coração” , seja qual fôr o objeto de sua oração, já se unem aos m inistros e já tomam parte na oferenda ; mas como sua participação seria maior, sua ação mais fecunda, sua piedade mais profunda, se possuissem o espírito do Chefe, imolando-se, segundo suas intenções, e ratificando, com uma ade-
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são voluntária e re iterada, cada um a das fases da oferenda.
O melhor melo de celebrar: a assistência lltúrglca
Q ual a melhor m aneira de o fiel celebrar a “sua” M issa? Evidentem ente, unindo-se passo a passo à Liturgia.
A L iturg ia venerável da S. M issa é im posta ao sacerdote que oferece o santo Sacrifício. A Ig re ja considera, pois, que não há ou tro meio m ais autêntico e oficial de celebração do que êste. A s expressões do rito, escrupulosam ente determ inadas, traduzem m istérios ocultos, exprim em sentim entos próprios de acôrdo com a realidade, m anifestam como convém a união da Cabeça com os membros na oblação. E não é êste um motivo suficiente para que os fiéis procurem aproveitar-se da assistência Iitúrgica, se querem celebrar do m elhor modo possivel a “sua” M issa?
É evidente que o simples fiel não é obrigado, como o sacerdote, à celebração "autêntica e oficial” da S. M issa. Não tem o papel de representante visível do Chefe, por um lado, e do Corpo Místico, por outro. E é po r isso que a Ig re ja não exige do simples fiel que siga o texto próprio da L itu rgia, para cum prir o preceito da assistência à Missa de preceito.
M as a alma, que com prendeu o que é a “sua”M issa, não atenderá só à obrigação, para obtero m elhor resultado: livrem ente escolherá o método m elhor e o mais eficaz para unir-se ao Sacrifício.
Houve um tempo em que o fiel podia desculpar-se de não acom panhar o tex to próprio da S. M issa, pela dificuldade de se obter, então, ummissal. H á uma dezena de anos a trás, a m aiorparte dos m anuais de M issas, intitulados “Iitúr- gicos” , entretinham apenas o fiel, oferecendo-lhe
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CAP. I I. A ASSISTÊNC IA 163
para acom panhar a S. M issa métodos que possjuiam somente mui ligeiros contactos com as palavras do sacerdote. Daí bem se pode adm itir que o fiel, apesar de assistente devoto, não pudesse te r a trativo por essas considerações piedosas, as quais não lhe davam a verdadeira significação das fórm ulas e dos gestos usados no altar. E é por isso que o aborrecim ento de um a L iturg ia incompreensível invadiu o coração do povo cristão, e com ra ras exceções quase m ais ninguém sabia acom panhar dev idam ente a “sua” Missa.
H ouve depois um esforço extraord inário em prol da L iturgia, de m aneira que ho je pode-se colocar nas mãos dos fiéis missais verdadeiram ente li- túrgicos. A lguns, perfeitam ente completos, são destinados aos membros de Cristo que assistem à M issa quotidiana1, outros, menos completos, são apenas suficientes para a assistência litúrgica à S. M issa dos domingos e das festas principais.
O s autores dêstes pequenos missais não procuraram somente apresen tar textos oficiais: quiseram guiar os fiéis por meio de indicações nítidas e instrutivas. Todavia não é nestes livros, que procuram aliás nada om itir, que se deveria ir buscar um a explicação literal e explícita do texto o ficial. E sta poderá ser encontrada em certas obras dedicadas de um modo especial a êste objetivo, e todo cristão, que deseja celebrar dignam ente a “sua” Missa, deve possuí-las ao lado do missal quotidiano.
Assim instruído, poderá o fiel assistir devidam ente à “sua” Missa. Com preendendo bem os gestos rituais, acom panhá-los-á com interesse, e, pouco a pouco, po r meio dêles, aprofundar-se-á no conhecimento e nos M istérios do altar.
1) Recomendamos o Missal dos Fiéis, por Matos Soares.
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^ As vantagens da assistência lltúrglcaOs fiéis que se dedicarem a celebrar liturgica-
m ente a “sua” M issa não ta rdarão a descobrir os preciosos frutos que irão recolhendo dêste método.
1.° O santo altar ficará mais próxim o dos assistentes. A té nossos dias o sacerdote era um a personagem misteriosa, um tanto parecida com M oisés em colóquio com Deus no cimo da montanha. Suas palavras, seus atos ficavam envoltos no mistério. A gora, porém, a celebração oficial não tem mais segredos. O fiel eleva-se até ao sacerdote para cooperar com tôdas as suas ações. O diálogo que se estabelece entre êle e o sacerdote, ao pé do altar, a confissão dos pecados, o intercâmbio das perguntas e das respostas de espaço a espaço, dão à assistência a impressão de que o fiel é “concelebran- te ”, pois a sua voz, por meio do acólito, é ouvida na cerim ônia oficial.
O fiel que se decide a seguir liturgicam ente a S. Missa, não ta rda a verificar que ocupa na celebração da mesma um lugar im portan te: esta revelação faz-lhe com preender que não somente assiste à S. M issa, mas que celebra a “sua” Missa com o auxílio do m inistério do sacerdote.
2.° Os assistentes instruem -se nos m istérios da fé . A Ig re ja introduziu propositadam ente na L iturgia dos santos M istérios leituras do mais alto interesse. As epístolas e os evangelhos apresentam à piedade dos fiéis um a doutrina inspirada pelo E spírito do próprio Deus. São intercalados por intróitos, graduais, tractos e ofertórios, inspirados nas mais belas passagens da E scritu ra . Êstes tre chos escolhidos em nossos L ivros Santos apresentam um a incomparável riqueza e um a inesgotável variedade de pensamentos, porque a Ig re ja procurou apropriá-los ao “ciclo litúrgico” . O cristão pie
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doso percorre realm ente, no decorrer do ano, todo o dogm a cristão : contem pla cada um dos m istérios da nossa san ta fé, a vida de Cristo, sua m orte, seu reino, seus ensinamentos, as grandes verdades da salvação. O ra alegre com as festas de júbilo, o ra triste com as solenidades que recordam a dor, a L itu rg ia exulta ou chora, inspirando àqueles que a compreendem os sentim entos que, em cada época da vida cristã, anim am os verdadeiros adoradores de Deus.
O s cristãos que aceitarem seguir com atenção e piedade a L itu rg ia de "sua” M issa, tornar-se-ão pouco a pouco bem instruídos e esclarecidos. A lguns objetam , e é verdade, que a m aior parte dos textos sagrados ultrapassam a sua com preensão e que não atingem seu alcance. Certos au tores re solveram, porém, esta dificuldade, dando às epístolas e aos evangelhos de cada dia com entários ao alcance de todos. Com livros bem redigidos, o membro de Cristo, contanto que saiba ler com os olhos do am or, a tingirá facilm ente o delicioso âm ago de verdade oculto nos textos de seu missal quotidiano.
3.“ O s concelcbrantes aprendem a orar. Além dos textos sagrados, ex traídos do A ntigo ou do N ovo Testam ento, o missal contém as mais belas fó rmulas de orações que existem no m undo. O conjun to das orações — coletas, secretas e poscomú- nios — constitui a mais preciosa coleção de súplicas que se possa imaginar. E stas orações, inspiradas na mais alta doutrina, são expressas em um a linguagem adm irável, cu ja harm onia, precisão e elegância causam adm iração aos literatos.
E já que todos os dogm as são rem em orados du ran te o ciclo litúrgico, também tódas as graças espirituais e tem porais são pedidas no mesmo. P ro nunciando cada m anhã com o sacerdote as o ra
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ções do dia, o fiel não deixará de m encionar nenhum a de suas necessidades: o ra pedirá a D eus a fé, a esperança, a caridade e tôdas as v ir tu d e s ; ora pedirá a saúde, a prosperidade, a salvação nos perigos; ou tras vêzes im petrará o descanso eterno de seus mortos, ou reclam ará a sua própria salvação e o prêm io do p a ra ís o . . . E como lhe será doce im plorar a ss im ! . . . P a ra solicitar todos estes dons, possui a linguagem da Igreja , cheia de encanto, de fervor e hum ildade; nesta quotidiana oração te rá a verdadeira a titude de quem obriga a Deus a o lhar a “baixeza de seus servos” .
4.° O s concclebrantes compenetram-se bem de sen papel de sacrificadores e de vítim as. P ronunciando ao mesmo tempo que o sacerdote as orações do ofertório e do cânon, e acom panhando aten tamente os gestos simbólicos do oficiante, os fiéis desempenham de m aneira explícita e positiva seu papel de membros do Corpo Místico, e cooperado- res de C risto Cabeça. Jun tam ente com o sacerdote dizem “nós oferecem os” . . . “nosso sacrifício” . . . e tôdas estas afirm ações no plural, pelas quais, como vimos acima, com participam os intim am ente da ação do Sacrifício.
E assim, compreendendo a S. M issa, o fiel saberá qual é o seu papel: membro do Corpo Místico, colaborando com seu Chefe, oferecendo à Santíssima T rindade com Êle, nÊle, e por Êle, a hom enagem infinita. A S. M issa não é mais, como pensava outrora , antes de ter aprendido a un ir-se a ela liturgicam ente, o privilégio só do oficiante, mas é sua coisa própria, “sua” Missa. E dêste modo, com fervor a celebra!
A assistência lltúrgica às missas solenes
Se são tais as vantagens da “assistência litú r- gica” às M issas rezadas, que o fiel piedoso acompanha particularm ente, que benefícios não são
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prodigalizadas nas M isas solenes, nas quais o membro de C risto é cham ado a tom ar p a r t f exteriorm ente, respondendo por si mesmo ao sacerdote e cantando com o povo os textos sag rados. . .
P a ra acom panhar a M issa solene o piedoso assistente não tem, por assim dizer, ou tro trabalho, que deixar-se levar aonde a L iturg ia o conduz. B asta-lhe entregar-se de olhos e ouvidos, isto é, unir-se aos cânticos que ouve e acom panhar as cerim ônias que se passam an te seus olhos; assim colaborará ativa e fru tuosam ente com a oblação.
O In tro ito com o "G loria P a tri” c um pensamento do céu que se eleva até à Santissim a T rin dade. Logo após se dizem os “K yrie” , três em louvor ao Padre, três ao Verbo, três ao Espírito Santo: três brados de humilde adoração, de pesar, de súplica que comovem tôda a assembléia. N ão será éste cântico, cu ja melodia gregoriana se adapta tão m aravilhosam ente à letra, próprio a inspirar-nos os mesmos sentim entos que o sacerdote exprime, batendo no peito quando começa a S. M issa nos degraus do a lta r?
O oficiante, sem seguida, incensa o a ltar. O fere çamos com êle o incenso, à crUz em prim eiro lugar. Êste incenso represen ta nossa homenagem a Cristo, nossa adoração, nossa alegria de sermos dÊle. Saudam os nosso C hefe e em balsamamo-Lo com p e r fu m e s .. . Em seguida, incensamos com o sacerdote o a ltar, figura ainda de Cristo, “pedra a n g u la r . . . ” (1 Ped 2, 7 .), pois somos dÊle, a Ê le nos dedicamos o mais perfeitam ente possível, nós, seus membros concelebrantes.
Unidos ao sacerdote que canta as orações, suplicamos a Deus — e com eloquência — “por Cristo, Nosso Senhor” . O subdiácono lê em alta voz a epístola: e ouvimos atentam ente as lições que nos dá: são apropriadas para a hora presente
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e serão preciosas para nos gu iar na vida cristã. P o r V ieio do gradual, do tracto ou do aleluia, cantam os nosso am or, nossa aflição, nosso arrependimento ou nossa alegria.
Ao evangelho ouvimos de pé a palavra de Deus: Jesus Cristo ai está oficialm ente representado pelo diácono. Acercam o-nos dÊ le como o u tro ra as multidões na m ontanha. E na verdade essas palavras autênticas são as mesmas que ouviam os felizes habitantes da Palestina, agrupados em redor do M estre. O h! pudéssemos bem compreender que nesse momento não é somente o texto evangélico que ouvimos, mas é um a verdadeira cena da vida de C risto que se reproduz no meio de nós, eni nossa ig reja paro q u ia l!
O oficiante entoa o Credo. U nindo nossas vozes às dêste cântico tão conhecido, proclamamos em voz alta e inteligível a afirm ação v ibrante e resoluta de nossa fé no Pai C riador, no Filho, nossa Cabeça, no E spirito Santo vivificador, na S anta Ig re ja, Corpo Místico de Cristo. Um fiel que sabe saborear o seu Credo encontra nêle de antem ão as alegrias da bem -aventurança.
De que doçura inebriam a alma os cânticos tão simples quão m agníficos da M issa solene! Nas M issas rezadas as palavras deslizam como água rápida e m urm urejan te de regato, rebrilhando em palhetas fug itivas; nas M issas solenes, os textos cantados avançam com a m ajestade de rio caudaloso que refle te nas águas a luz deslum brante do sol e o céu inteiro.
Ao ofertório , o diácono sobe ao a lta r ; aí re presenta o povo: somos nós que, com êle, subimos os mesmos degraus. D erram a o vinho no cálice, e também o fazem os; o subdiácono acrescenta algumas gotas de água. E sta água representa todos
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nós que nos unim os a Cristo para se r oferecidos. •
O sacerdote incensa as oblatas, o crucifixo, o a ltar, que representam C risto. Incensando ju n ta m ente com o sacerdote, assemelhamo-nos àqueles que perfum am as próprias cabeças, porque querem embelezar e h on rar a p arte m ais im portante de si mesmos. Como outrora a M adalena, derram amos sôbre Cristo tudo que temos de mais delicad o . . . Em seguida o incenso é oferecido ao o fic iante, ao Clero, aos assistentes: o perfum e desce da Cabeça para todo o Corpo M ístico, patenteando assim a união dos membros com seu Chefe adorável.
Começa então o prefácio. Com tfm tom de voz solene e grave que acentua, por assim dizer, o sentido de cada palavra, dialogamos com o sacerdote : “Levantai os corações ao a lto !’’ . . . E respondemos: "Assim os temos para o Senhor.” “ Demos graças ao Senhor nosso D eus” , continua o oficiante. Respondemos: “ É verdadeiram ente digno e justo .” P o r que êste colóquio en tre o sacerdote e os fiéis? Santo Agostinho responde-nos: por estas respostas afirm am os pública e oficialm ente que nossos corações estão levantados p ara o alto, para o a ltar, para colaborar com a consagração que vem logo após. E ra necessário que, neste momento solene, se requeresse nossa adesão c nosso consentim ento na celebração do Sacrifício, sendo nós cooperadores de C risto que vai imolar-se.
P o r aí se vê com que poder a L iturg ia da S. M issa cantada nos faz subir “até ao a lta r do Senho r” , e com que m ajestade nos faz desem penhar nosso papel de concelebrantes.
E é por isso que, depois de te r louvado e adorado a Santíssim a T rindade com o tríplice “Sanc- tus,” devemos recolher-nos: é chegado o m omen
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to de un ir intim am ente a nossa vontade à do sa- cerdíJle que pronuncia a fórm ula da consagraç ã o . . . Êle p ro n u n c ia -a .. . E is C risto que acorre ao apêlo do sacerdote, intercessor do seu Corpo M ístico! Nosso C hefe está no meio de n ó s ! . . . Prostrem o-nos em a d o ra ç ã o .. . Q ue sejam dados “ louvores e bênçãos” ao Chefe, presente em nosso a l t a r . . . 2 Q ue “por Êle, nÊle, e com Êle, tôda a honra, tôda a glória subam ao Pai onipotente em unidade com o Espírito S an to !3 O s instantes que vão da elevação ao " P a te r” deveriam perdura r sem pre!
O sacerdote eleva novam ente a voz. Respondemos-lhe po r um “A m en,” que deve ser um a a f ir mação de nossa união com C risto e de nossa fc. Em seguida o celebrante começa a oração ensinada pelo nosso Chefe: Padre nosso que estais no céu . . . Esta oração do Senhor é repetida em nossos altares pelo próprio Cristo, porque, não o duvidemos, sob os véus eucarísticos Jesus está todo inteiro entregue à “sua" M issa, e pronuncia conosco sua oração sublime. Respondem os por esta súplica final: “Livrai-nos do m al” , isto é, do pecado, do demônio, de tudo que poderia, separando-nos do Chefe, nossa Cabeça adorada, ser causa de nossa fatal ruína: tal é o b rado de nossos corações!
É o momento da S. Comunhão. O fiel que vive da L iturg ia sente-se verdadeiram ente unido a Cristo. J á comunga de coração e de sentim entos com Ê le . . . e vai com ungar sacram entalm ente: é o momento de participar da manducação da V ítim a . . . eis que já se encam inha para a sagrada m e s a .. . ou, se perm anece em seu lugar, porque já recebeu o Corpo de Cristo na M issa da manhã, o fiel pro-
2) Hino ‘‘Pange língua”.3) Cânon.
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CAP. I I. A A SSISTÊNC IA 171
cura recebê-Lo espiritualm ente em seu coração, por um ato de am or e de ardente desejo. •
E logo após entoam os o cântico de ação de g ra ças por meio da antífona cham ada comúnio. Como é conso lado r! . . . E por últim o pedimos a graça de em pregar, segundo as vistas de Deus, os benefícios recebidos: é êste o objeto das últim as o ra ções.
“ Ide-vos! Acabou-se a M issa” . — “Demos g ra ças a D eus!” respondem os alegrem ente. E , logo após, inclinando a cabeça, recebemos da Santíssima T rindade a bênção do P adre, do Filho e do E spírito Santo! Somos abençoados, e como não o seríamos, nós, concelebrantes de Cristo?
...F ic a m o s adm irados de certos fiéis p re fe rirem a M issa rezada à M issa can tad a . . . E ainda quando ouvimos certos cristãos a firm arem convencidos: “P re firo as M issas b re v e s .. . as M issas solenes são interm ináveis", só temos que lastimá-los ! Êsses ainda nada com preenderam da “sua” Missa, do seu papel de m embros de Cristo, da homenagem que o Corpo Místico, unido a seu Chefe, rende à Santíssim a T rindade. Êsses necessitam ainda de ser educados doutrinal e li- tu rg icam en te .. . Q ue as alm as já instruídas não hesitem em expandir suas luzes nas mentes desses cristãos infelizm ente ainda im ersos na sombra.
Que pensar dos cânticos populares durante a S. Missa?
Em certos lugares, por ocasião das solenidades, costum a-se cantar, duran te as M issas rezadas, cânticos em língua vulgar ou motetes em latim. Procede-se assim para “a tra ir” os assistentes, to rnando-lhes a S. M issa “mais agradável” . Além disso acom panham -se os cânticos e os solos com m úsi
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ca artística, a fim de mais a tra ir o povo aos atos A .
Q ue devemos pensar dêsses diversos usos? Em prim eiro lugar devemos lastim ar que a educação litúrgica dos fiéis não esteja suficientem ente desenvolvida para fazer-lhes p re fe rir sem pre a M issa cantada a essas ou tras Missas, nas quais o recolhimento é sem pre m e n o r . . . M as, já que o povo cristão aprecia e conta com êsses cânticos, não se pode condenar um uso que a Ig re ja autoriza. E mesmo devemos confessar que êsses cânticos em linguagem popular podem alim entar a oração de muitas alm as pouco litúrgicas, que não saberiam como dirigir-se a D eus se não lhas fizessem balbuciar.
T odavia, devemos apontar duas condições acerca do uso dos cânticos:
1.° É preciso escolhê-los com cuidado. H á cânticos cheios de doutrina e de ensinam entos sôbre a S. M issa, a presença real, a redenção, a incarnação, cuja letra eleva aqueles que os entoam ao pensam ento dos M istérios que se comemoram no altar. Esses são os cânticos que se deve m andar cantar. Os Santos compuseram m uitos desta form a. Os do bem -aventurando P adre de M ontfort to rnaram - se célebres: as populações da B retanha e da Ven- déia devem em grande parte às suas poesias adm iráveis a g raça de conservarem tão pura e firme a doutrina da Eucaristia.
M as, a par dessas “preces cantadas” , que não prejudicam a celebração, há composições insípidas, grosseiras e ôcas que a moda introduziu e que não- são próprias para inspirar aos fiéis sentim entos de união com Cristo que se imola. Deve-se om itir êsses textos, que mais prejudicam a piedade que a auxiliam.
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CAP. II. A A SSISTÊNC IA 173
E sta últim a razão fa rá apreciar no seu ju sto valor as audições musicais du ran te a S. M issa.*Êstes concertos, que se dizem litúrgicos, a traem à igreja um a m ultidão num erosa que enche generosam ente a bandeja do peditório. M as acaso estamos certos que essa m úsica religiosa favoreça a assistência à Santa M issa e a cooperação dos fiéis ao Sacrifício de C risto? M uitos membros do Corpo M ístico presentes em a nave da igreja não estarão m ais preocupados com o órgão do que com o a lta r? N ão estarão mais atentos aos cantores que ao celebrante? A lguns am antes da arte opinam que nunca se ora tão bem como embalados nas ondas dessas harm onias; será isto verdade provavelm ente para êles, mas os desta espécie não serão mínima exceção? N o entanto os fiéis, em geral, não têm pesar de deixar sua atenção desviar-se da imolação de Cristo: ao menos terão essa desculpa, aliás valiosa, que “a a rte é um louvor a D eus” ?
Q uanto essas M issas acom panhadas de cânticos ex tra-litúrgicos estão longe da verdadeira M issa solene c an tad a ! Só esta últim a possui o segrê- do da verdadeira celebração, porque, em vez de subord inar a piedade à arte , coloca a a rte m usical ao serviço respeitoso e incessante da L itu rgia.
2.° ê preciso saber interrompê-los nos m omentos solenes. Se os cânticos bem escolhidos, tolerados duran te as M issas rezadas, são próprios a fazer o rar e refletir, é necessário, contudo, deixar às alm as um intervalo para voltar aos seus pensam entos e meditá-los. H á duran te a S. M issa momentos nos quais convém o silêncio. Do prefácio ao “P a te r” , só a cam painha da elevação deve soar. No instante em que o céu e a terra se unem, coisa algum a deve pertu rbar o recolhimento.
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Como habituar, po r exemplo, as crianças a adora r Voluntária e profundam ente a C risto se, ju s tam ente 110 momento em que o sacerdote se inclina sôbre o a lta r para consagrar, são obrigadas a repetir todos, em côro, as estrofes e os estribilhos?
As explicações para a assistência à “minha” Missa
Em alguns países, o Clero tem o costume, para fazer com preender os santos M istérios aos fiéis, de explicar aos assistentes em ocasiões favoráveis, por exemplo du ran te os retiros e as missões, a L itu rg ia do sacrifício da S. M issa, à medida que ela se desenvolve an te seus olhos. Em m uitas dioceses os exercícios de catecismos preparatórios para as Comunhões solenes requerem um a S. M issa às quintas-feiras, destinada a proporcionar às crianças a educação eucarística prática.
E nquanto o sacerdote celebra, outro sacerdote, do púlpito ou da balaustrada, ensina às crianças e aos adultos a acom panhar e a com preender cada um dos gestos litúrgicos. P rocura também associar as crianças às orações que o celebrante recita, fazendo-as pronunciar com êle o Confiteor, o Ky- rie, o Glória, o C re d o . . . De vez em quando a explicação é interrom pida por algum cântico bem escolhido, que exprim a perfeitam ente os sentim entos que devem encher seus corações.
É fácil depreender o resultado que pode advir desta “assistência explicada” . É um a lição de coisas, dem onstração concreta, acom panhada pelo exemplo e pela oração. Tem a vantagem de g ravar no espírito e na mem ória das crianças que se p reparam para a prim eira Comunhão as cerim ônias do santo Sacrifício e seus ensinamentos. Do emprego dêste m étodo vem provavelm ente o apê- go que, em certos lugares, os cristãos conservam à “sua” M issa e ao sacerdote.
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CAP. II. A A SSISTÊNC IA 176
H á sacerdotes que se tom aram m estres neste gênero de explicação da Santa Missa. Sabeifl dar às suas explicações clareza, sobriedade, simplicidade, variedade, piedade. T an to as criancinhas como os adultos, que acorrem a estas M issas, acompanhadas em comum, m anifestam , pela atenção e p razer que m ostram , um interesse especial. P o r que não im prim ir e espalhar os melhores dêsses m étodos? Contribuiriam para inspirar a ou tros apóstolos a idéia de aproveitarem dêles por sua vez.
Quando devo celebrar a "minha” Missa?
É evidente que aos domingos e em tôdas as festas de preceito. É êste o dever mínimo a que todo fiel está obrigado. Q uem sabe o que é a “sua” Missa, o que vale, qual o papel que realiza no mundo, qual o proveito que D eus e nós dela tiram os, deve reconhecer que a Ig re ja exige muito pouco, obrigando-nos a assistir ao santo S acrifício e a executar o ato suprem o de religião só um a vez por semana, aos domingos.
Êstes mesmos fiéis concluirão que, se querem “pagar am or com am or” , devem te r por regra celebrar a “sua” M issa o mais frequentem ente possível.
Como se deve entender esta expressão: "o mais frequentem ente possível” ?
O m embro de Cristo, desejoso de realizar seu papel no Corpo Místico, com preenderá que tôdas as vêzes que um dever de estado ou um im pedimento razoável não o im peça de ir à igreja, seu lugar é cada m anhã jun to ao santo altar.
U m dever de estado é, por exemplo, o cuidado que uma m ãe de fam ília deve d a r a seus filhos; é a obrigação que tem o operário de sair muito cedo para seu traba lho ; é a necessidade de velar um doente.
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U m im pedim ento razoável é a fadiga, a dis- tâncift, a intem périe das estações; mas não será impedimento a preguiça, a vontade de dorm ir, a indo lênc ia .. .
Cada fiel examine, pois, o que lhe é perm itido, segundo as circunstâncias. U ns dirão que para êles a assistência mais frequente possível é a de cada dom ingo; para outros, porém , a de cada dia. Como não somos nós, mas a Providência ̂ divina que determ ina nosso papel e nossa situação neste mundo, corresponderem os aos planos divinos assistindo à S. M issa com a frequência que D eus nos concede, contanto que sejam os leais e que compensemos nossas ausências m atinais à igreja, com um sincero pesar de sermos obrigados, involuntariamente, a privar-nos dela.
P o r esta razão a mãe de família, obrigada a ficar em casa para atender a muitos filhos, não será menos favorecida sobrenaturalm ente, contanto que tenha um fervor igual, do que a jovem, sem encargos nem cuidados, que frequenta tòdas as m anhãs a Santa Missa. A segunda deve m ultiplicar seus louvores a Deus, substituindo a p rim eira. . . É neste caso que deve haver so lidariedade e comunhão en tre as almas. Deus dar-nos-á a cada um seu quinhão completo de graças, em troca das M issas que tiverm os a possibilidade de celebrar.
Cada um de nós deve penetrar bem esta verdade, na qual é preciso insistir sem pre; a ausência desculpável à igreja não justifica , da parte dos membros de C risto privados por outros deveres, um esquecimento completo de “sua” Missa. Se quiserem aproveitar de um modo perfeito da assistência da S. M issa de domingo, necessitam unir cada dia sua intenção à Santa Missa, e realizar a “sua” celebração ao menos com o desejo. Êste
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pensam ento deve ser expresso todos os dias na oração da m anhã. É para lastim ar que não* §eja. bem expresso nos form ulários de orações já existentes. Êste desejo de “sua” M issa associaria, de modo voluntário e preciso, cada um dos membros do corpo Místico à oblação do C hefe divino, e faria com que participassem mais d iretamente dos fru tos do Sacrifício.
Procurem , portanto, as alm as piedosas e unidas a Cristo, impossibilitadas de ir à igreja, celebrar espiritualm ente tôdas as m anhãs em união com o sacerdote de sua Paróquia, e em geral com todos os sacerdotes que celebrarem M issas du ran te todo o dia em todo o mundo.
Tenham ainda o cuidado de ensinar às crianças desde pequeninas a se unirem ao santo Sacrifício, a fim de que desponte nelas esta piedade essencial a todo membro de C risto: a estima e o am or à S anta Missa.
CAP. I II . A COMUNHÃO 177
C A P ÍT U L O I I I
A COMUNHÃOA COMUNHÃO DEPENDE DE TAL MODO DO SACRIFÍCIO
DA MISSA QUE DELA NAO SE PODE SEPARAR... POR CONSEQUÊNCIA, O MEMBRO DE CRISTO DEVE COMUNGAR SACRAMENTALMENTE EM “SUA” MISSA O MAIS FREQUENTEMENTE POSSÍVEL. AO MENOS ESPIRITUALMENTE.
A S. Comunhão faz parte Integrante do sacrifício
Não raro os fiéis têm o hábito de considerar a S. M issa e a S. Comunhão como dois atos inteiram ente separados. A M issa para m uita gente não é, como se disse acima, senão “o meio de se obterem hóstias consagradas” . D e outro lado os cristãos se têm acostum ado de tal form a a contem plar o benefício m aravilhoso e tão comovedor da “p re
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sença real” , separado do sacrifício da M issa, que m u itfs alm as se tom aram de um a devoção tão vivã ao divino tabernáculo que ofuscou a seus olhos, quase completamente, a devoção à Santa M issa.
Cada um dos mistérios, na piedade cristã, deve ter seu lugar, segundo a ordem e a im portância do m e sm o ... A S. Comunhão, m istério de am or infinito de Cristo, está não som ente ligada ao S acrifício, mas depende dêle, a êle deve seu valor e sua existência, e não se pode dêle separar.
Q ue é a sagrada Com unhão? A recepção de um dos sacram entos por meio do qual se comunica a nós o benefício do Gólgota, isto é, a “nossa” Missa.
O Sacrifício do Calvário apresentou a D eus os m éritos infinitos de Jesus Cristo. Pela sua imolação sanguinolenta, o Salvador depositou nos cumes das “m ontanhas eternas” (SI 75, 5) o insondável reservatório de graças e de perdões. Como poderem os nêle haurir, nós, fracos m ortais que habitam os nesta te rra tão a fastada dos céus? A plicando à nossa bôea os canais que descem dessa “m ontanha do Senhor”, e que nos trazem “a água que jo rra a té à vida eterna” (Jo 4, 14) com infin ita abundância, podemos saciar-nos à vontade, líste canais são os sete Sacram entos. Todos ju n tos, porém , não têm valor senão pelo Sacrifício de Cristo, sem o qual seriam vazios. T êm apenas o fim de com unicar-nos os frutos.
O ra, en tre êstes sete Sacram entos, todos intim amente ligados ao Gólgota, a E ucaristia tem, em relação ao Sacrifício de C risto, um lugar que se pode cham ar “sem igual” . A E ucaristia é de todos os sacram entos o mais ligado à oblação, pois que se origina do próprio ato de imolação de Cristo. É possível ter em vista a Comunhão, isto é, a re
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CAP. m . A COMUNHÃO 179
cepção do Sacram ento eucarístico, sem considerar ao mesmo tem po a suprem a oferta , na qual Êle transfo rm a o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue ?
U m m embro de Cristo não pode, pois, separar do pensam ento e do coração a Comunhão da “ sua” M issa. A Comunhão é, para êle, antes de tudo, a m ais íntim a participação do Sacrifício de Cristo. E sta manducação tem por efeito imediato e direto un ir a alm a do com ungante à do Salvador, perm itindo dêste modo ao pequeno membro de C risto identificar-se intim am ente aos atos de adoração e de homenagem do Sum o Sacerdote e receber uma inundação dos m éritos da Cruz.
A liturgia mostra-nos a mútua dependência da comunhão e do sacrifício
A Ig re ja , que não e rra jam ais em suas in terpretações das verdades ocultas, revela-nos po r meio da sua L iturg ia o laço que une a Comunhão ao sacrifício da Missa.
1.° N ão pode haver presença eucarística sem que o sacrifício da S . M issa seja celebrado. Realmente, é impossível haver E ucaristia sem renovar-se o sacrifício da M issa. N ão há ou tro meio de se obter a Comunhão. E não é êste o sinal da vontade de D eus que fiquem unidas quanto possível sua presença perm anente na E ucaristia e sua imolação na S. M issa?
E is por que a santa L iturg ia une estreitam ente a presença real e a Comunhão à celebração da Santa M issa, e nos recorda que o “Tom ai e comei” é “ realizado cada ypz em m em ória da Paixão de Cristo” .
2.° Tam bém não pode haver sacrifício completo da M issa sem Comunhão. Se C risto não pôde dar-se em alim ento a seus membros fora de seu Sacrifício, também não quis que êste sacrifício
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se pudesse executar sem que Êle se tornasse nosso alimento. O sacerdote que celebra é obrigado a com ungar, sem o que não d iria M issa; o fiel, que cum pre o preceito dominical, não deve sa ir da igreja sem ter assistido à Comunhão do sacerdote, porque faltaria à “ sua” M issa.
P o r que a Ig re ja procede assim ? Porque o sacerdote, sendo o representante oficial de Cristo no a lta r em prim eiro lugar, e do povo logo após, deve p rovar por um a ta ex terior e público a união de Cristo com seus membros, e dos membros com a Cabeça, na oferenda do santo Sacrificio. Êste ato oficial e visível da união dos m embros com a Cabeça é a m anducação da V itim a divina que faz o oficiante. N ão teríam os razão, se víssemos na Comunhão do sacerdote apenas um a prática destinada a satisfazer a piedade pessoal do celebrante. Seria não com preender o alcance da parte que tomamos em “nossa” Missa. O sacerdote com unga em nosso nome, como pouco antes consagrava em nosso nome. É o nosso delegado, o nosso m andatário no altar, du ran te todo o tempo da oblação. Todos os seus gestos interessam aos assistentes: só em segundo lugar é que seus atos se destinam a alim entar seu próprio fervor. A sua Com unhão supõe que-, pela união de nossa vontade com a sua, nós também nos unim os oficial e ex teriorm ente ao Corpo e ao Sangue de Jesus C risto : eis o que significa a nossa presença obrigatória à C omunhão do sacerdote e a atitude respeitosa e recolhida que devemos ter neste momento solene.
Deveríamos comungar sacramentalmente tôdas as vêzes que celebramos “nossa” Missa
A s considerações que acabamos de expor levam- nos a um a conclusão lógica: os m embros do Corpo Místico, presentes à Santa M issa, não deveriam deixar só ao sacerdote o encargo de uni-los ao
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Chefe pela manducação da santa V ítim a, masfc já que lhes é “ordenado” com ungar, devem ser solícitos em fazê-lo logo após o celebrante.
O encargo de consagrar pertence exclusivam ente ao oficiante, ordenado pela Ig re ja para êste fim. Os leigos, ainda que participem do sacerdócio de Cristo, em vista do seu “enxerto batism al” , não tem, entretanto, poder para m udar no Corpo do Sum o Sacerdote a hóstia que está no altar, nem transubstanciar o vinho contido no Cálice. E is por que, no momento em que o sacerdote se inclina para pronunciar a fórm ula onipotente, os fiéis têm apenas a parte da “colaboração das vontades” no ato da oferenda da V ítim a in finita a Deus. M as, chegado o m om ento da Comunhão, a parte do membro do Corpo M ístico é diferente. N esta parte da S. M issa pode agir por si mesmo, e com o mesmo d ireito que o sacerdo te ; pode execu ta r um ato exterior, visível, oficial, de adesão a Cristo, aproxim ando-se da sagrada mesa. Assim participa da divina V ítim a, que, ó felicidade! é o Corpo real de Cristo com sua A lm a e sua D ivindade, tão vivo e tão perfeito como o sacerdote O recebeu na sua própria Comunhão. Q ual o motivo, pois, que pode im pedir os mem bros de Cristo de se disporem a com ungar tôdas as vêzes que, vindo à Ig reja , têm a graça de ouvir a Santa M issa?
Ficando em seus lugares, como fazem certos fiéis, com prejuízo próprio, m ostram -se surdos aos apelos instantes de seu Chefe que os cham a com instância: "E u vos darei a m inha C arne a comer e meu Sangue a b e b e r . . . Aquêle que não comer a m inha Carne não terá em si a vida.” (Jo 6, 54.) “Tom ai e co m e i.. . bebei dêle todos.” (M t 26, 27.) Cristo talvez jam ais tenha dado avisos mais insistentes do que os que se referem à m anducação
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de seu Corpo: reclamava para seus m embros fu turos união a mais completa possível ao ato do Sacrifício que ia renovar cada dia cm nossos altares.
P o r isso o m embro de Cristo, que bem compreende a “sua” M issa e que a Êle se quer un ir devidamente, deve te r sua alm a em estado de com ungar, tòdas as vêzes que oferece o Sacrifício com o sacerdote. O fiel presente ante o a lta r não será, pois, em tôda a fôrça da expressão, co-oblato e concele- bran te senão quando participa de “sua” M issa em tôda a extensão que Cristo lhe perm ite, ou melhor, o convida a partic ipar dela. Só neste caso te rá haurido de “sua” M issa todo o resultado que pode tirar, tanto para a glória de Deus, quanto para seu bem pessoal e para o alívio das alm as do pu rgatório.
Além disso, êste estado de alma, exigido para comer a C arne da V ítim a imolada, não será tam bém uma condição indispensável não somente para com ungar, como para cooperar devidam ente com a oferenda de um fiel que nesse m omento estivesse indigno de receber a Cristo com o sacerdote? P o de-se, pois, enunciar esta verdade: “Só se pode un ir perfeitam ente à S. M issa o fiel que se ache nas disposições de poder com ungar” . O m embro a fastado da sagrada mesa, devido às suas faltas, é membro m orto. M as, se êste m orto fizer reviver, por meio da Confissão sacram ental, o “enxerto” que o liga ao Chefe para que readquira o poder de oferecer com Êle, então nada lhe im pedirá, voltando a tom ar parte no Sacrifício, de transpor o caminho que o separa da sagrada M esa.
P o r que se te rá perdido em nossos tempos a noção do laço íntimo que une a Santa M issa à Comunhão? Q uantos fiéis vêm assistir ao santo Sacrifício, não só sem pensar em comungar, mas
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até sem exam inar-se se estão sobrenaturalm ente aptos a fazê-lo. Como está longe de nossas piá ticas a tuais o espírito que anim ava os fiéis da prim itiva Ig re ja !
Nesses tempos de fé pro funda todos os assistentes se aproxim avam da sagrada mesa: até ascriancinhas recém -batizadas recebiam a E ucaristia!S. Justino escreve: "O s m inistros que chamamos diáconos distribuem a todos os assistentes o pão, o vinho e a água consagrados, e os levam aos au sentes.” 1 Os doentes, os presos, os m ártires não eram esquecidos. Assim a comunidade cristã, isto é, todo o Corpo Místico oferecia e se oferecia deliberadam ente com seu C hefe e evidenciava, por meio da sua solicitude em alim entar-se da V ítim a do Sacrifício, o a rdo r com que se unia a ela na oblação.
Devemos comungar ao menos espiritualmente tôdas as vêzes que celebramos “nossa” Missa
M as êstes belos tempos passaram , e até que m elhor com preensão desta doutrina penetre a m assa dos fiéis, m uitos m embros de Cristo, mesmo os mais dignos de se aproxim arem do a lta r pela pureza de sua consciência, ficarão em seus lugares no momento da Comunhão.
N ão pensem os fiéis, en tretanto, que, ou por não se julgarem dispostos, ou porque ainda não se decidiram a alim entar-se da C arne sagrada, essa abstenção da Comunhão sacram ental os dispensa de tôda colaboração na Comunhão do sacerdote.
D a mesma form a que na elevação, os concele- brantes deviam, em espírito, consagrar o pão e o vinho, unidos à vontade do oficiante, e apresen tar a Deus a V ítim a in fin ita jun tam ente consigo e com os ou tros m embros do Corpo Místico. Assim na Comunhão os mem bros de Cristo devem
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1) 1.» Apol. Crist., 65.
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de algum a form a com ungar com Cristo. Sem esta m andiicação da V ítim a, a “sua” M issa ficará incompleta. E com a S. Comunhão, sua participação com Cristo no seu Sacrifício pode ser considerada um a verdadeira celebração.
E sta união na S. Comunhão realiza-se pelo fiel desde o m omento que tenha a intenção geral de unir-se a tôdas as partes da S. M issa: pelo m esmo ato se une ao sacerdote que comunga, como se tinha unido ao sacerdote oferecendo a oblação e consagrando-a. E sta intenção, ao menos implícita, de unir-se à Comunhão é o mínimo requerido pelo Chefe, dos concelebrantes que em “sua" M issa se não aproxim am do sacram ento da Eucaristia.
A m aior parte dos fiéis, que observam o preceito dominical sem p rocu rar frequentem ente alim entar-se do Pão celeste, não devem esquecer-se que, sem esta união à Comunhão oficial do sacerdote, não satisfazem às exigências da celebração do divino Sacrifício. P o r esta razão, o fiel que sai da igreja antes da Comunhão do sacerdote fa lta ao preceito. P o r esta razão, também, aquele que deixasse de se un ir, ao menos por um a intenção geral piedosa, aos atos do celebrante, dos quais a S. Comunhão é um dos principais, êsse também não ouviria Missa.
Todavia, se é suficiente êste mínim o da Comunhão espirtual, os fiéis devem p rocu rar ir muito além, produzindo atos explícitos e voluntários de desejo da recepção sacram ental. Isto lhes dará um meio de suprir, tan to quanto possível, a falta da manducação da Carne sagrada.
Os membros de C risto deveriam aperfeiçoar-se tan to mais neste exercício da Comunhão espiritual, quanto, em m uitos casos, a té as pessoas mais bem intencionadas não podem realm ente aproxim ar-se da santa mesa em cada M issa que celebram
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CAP. i n . A COMUNHAO 185
com Cristo. P o r exemplo, o cristão piedoso que, tendo no domingo comungado num a primeira» M issa que assistiu pela manhã, volta à ou tra M issa com a intenção de unir-se à celebração solene, não terá de contentar-se com a Comunhão espiritual? Do mesmo modo, as alm as cheias de zêlo que assistem sempre que podem as duas, três e mais M issas . . . só comungam sacram entalm ente em u m a . . . mas é-lhes necessário, se querem partic ipar perfe itam ente das diversas oblações, com ungar espiritualm ente em cada um a delas. Q uantos doentes, m ães de família, pessoas que m oram longe da igreja, achando-se na impossibilidade m aterial de se aproxim arem da sagrada mesa todos os dom ingos, só com a sua Comunhão espiritual é que têm a possibilidade de assegurar sua plena participação 110 Sacrifício, sem a recepção do Sacram ento. P a ra êsses, é evidente que uma união intencionada e fervorosa à Com unhão oficial do sacerdote lhes assegura a colaboração na oferenda do Gól- gota, renovada no altar.
O s membros de Cristo devem, pois, ser muito solícitos em sua Comunhão espiritual, e não se contentar de fazê-la com uma intenção geral bastante vaga “de assistir à M issa” ; devem preparar-se com cuidado, unindo-se verdadeiram ente por seus sentim entos de adesão à C arne e ao Sangue divinos, para realizarem um a fervorosa celebração de “sua” Missa.
Todavia, por m aior que seja a perfeição de sua Comunhão espiritual, devem os fiéis com preender que ela está bem longe de te r para suas almas o valor da união sacram ental, oficial e ex terior, ao Sacrifício que celebram, fonte m aravilhosa dos mais suaves fru tos interiores. P o r isso, deveriam, sem pre que um impedimento m aterial não se lhes oponha, alim entar-se, em união com o sacerdote
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que os representa no altar, da C arne viva e glo- riosa»do Filho de Deus.
Posso comungar fora da “minha” Missa?
O sacram ento da E ucaristia está de tal modo unido ao divino Sacrifício, que bem pode nos vir a dúvida de que o fiel dem onstre uma falta de senso doutrinal e litúrgico, quando comunga fora de “sua” Missa.
A esta questão só se pode responder com a a f ir m ativa. E para isso é óbvio estabelecer o princípio seguinte: “Um fiel não deve, jam ais, se não tiver um a razão suficiente para fazê-lo , separar m aterialm ente a sua Com unhão de sua Missa. Se fôr obrigado a receber a "sua” C imunhão fora de “sua” M issa, não deve, contudo, separar espiritualmente uma da ou tra .”
1.° U m fie l, que não tem razão suficiente, nunca deve separar m aterialm ente a “sua" Comunhão de “sua” Missa. A veracidade desta asserção deduz-se de tudo que foi dito no presente volume. A S. Comunhão é um ato que faz parte da celebração de “nossa” Missa. “A Comunhão não é sobretudo um ato de intim idade mais ou menos afetuoso com Nosso S e n h o r .. . é o meio por excelência de participação do Sacrifício .” E po r que procurar-se então, sem haver sérias razões, separar o que C risto tão intim am ente uniu?
É portan to incompreensível a a titude de certos fiéis que se apressam a com ungar antes da S. Missa, mesmo tendo de assisti-la até ao f im . . . ou a daqueles que, deixando o sacerdote term inar a celebração, só se apresentam à sagrada mesa depois das orações ao pé do a l t a r . . . Estas anom alias caprichosas são, aliás, m uito frequentes. O s pretextos alegados para legitim ar um tal procedim ento não têm o m enor valor: algum as pessoas dizem que rezam m elhor duran te a M issa quando em
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lôda ela fazem a ação de graças; ou que acompanham m elhor a “sua” M issa quando não são«“dis- tra ídas” no meio pela Com unhão!! T ôdas estas expressões dem onstram um a ignorância p rofunda da doutrina do Sacrificio e do sentido das orações litúrgicas que nos revelam nossa colaboração com o Chefe adorável.
É preciso, então, que todos os fiéis tomem um a resolução enérgica: a de com ungar, tôdas as vezes que não tiverem um impedimento sério, logo após o oficiante, no momento determ inado pela santa Liturgia.
2.° P or uma rasão ponderosa um membro de Cristo pode separar materialm ente a “sua’’ Comunhão de “sua” M issa. H á m uitos casos de ordem geral ou de interesse particu lar que obrigam o fiel a separar m aterialm ente a “sua“ Comunhão de “sua” ' Missa. P o r exemplo, para não estender dem asiadam ente a S. M issa de domingo, o Pe. V igário decide que a Comunhão só seja d is tribuída uma vez, ao term inar a M is sa . . . ou, às vezes, as M issas são ditas em altares onde não se conserva o Santíssim o Sacram ento. O u tras vêzes o com ungante tem hora m arcada: vê-se obrigado a sair antes de term inar a S. Missa. H á pessoas que, m orando afastados do centro e chegando ta rde à igreja, pedem para com ungar um pouco an tes da S. M issa principal, por não poderem suporta r um jejum p ro lo n g ad o .. . ou tras não tiveram tempo de ir ao confessionário antes da prim eira Missa, e irão com ungar depois que o P ad re volte a lhes a te n d e r .. . E os doentes, presos em casa, poderão com ungar na M issa?
A Ig re ja compreendeu tão bem tôdas estas ra zões que instituiu um rito próprio com orações para adm inistrar a santa E ucaristia fora da M is s a . . . E ainda não proíbe distribuí-la, mesmo em hora
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bem afastada da M issa, especialmente aos doentes, • não raras vêzes a corajosos fiéis que perm aneceram em jejum até depois do meio-dia para saciar sua fome sobrenatural.
Mas se a Ig reja , como boa e tem a mãe, deu a seus filhos tanta facilidade para receber a E ucaristia, por outro lado encarece com tal insistência a união da Comunhão com o Sacrifício, que seria um certo desprezo de seus desejos o querer separar m aterialm ente um do outro, sem haver para isso razões legítimas. O s fiéis devem recor- dar-se que a perm issão de com ungar fora da S. Missa é apenas tolerância, e não estímulo. Não se devem, pois, aproveitar desta concessão, senão quando se acharem em verdadeira impossibilidade de fazer de ou tro modo.
3.° A inda assim o fie l, que recebe a Comunhão fora da S. M issa, não pode separar espiritualmente uma da outra. Todavia, o m embro de Cristo que por motivos suficientes se aproveita das am plas autorizações dadas pela Igreja , para comungar fora da Missa, deve fazê-lo com o espirito de Nosso Senhor. Jesus C risto uniu intim am ente a S anta Comunhão e os benefícios de sua presença real à oblação de seu Sacrifício: seus membros não devem proceder contra o espírito de seu Chefe, considerando-os separados. O fiel, mesmo quando comunga fora da S. Missa, deve unir-se intim am ente com o pensam ento e com o coração a Cristo que se oferece no a lta r e apresenta a seu Pai a homenagem infinita. E , ainda mais, deve estar intim am ente convencido de que todos os bens que lhe advêm da manducação da C arne sagrada, são nêle produzidos tão som ente pelo Sacrifício da Cruz, renovado na S. M issa, cujos m éritos são aplicados à sua alma pelo precioso canal do san to Sacram ento.
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CAP. m . A COMUNHÃO 189
Êstes pensamentos, baseados no verdadeiro conhecimento da oblação eucarística, terão um » du pla influência na alm a do com ungante: engrandecerão a seus olhos a m ajestade do sacram ento da E ucaristia, e o a tra irão invencivelmente para o Sa- crificio do altar.
O Sacram ento divino terá, realm ente, para o fiel piedoso, proporções que um a piedade menos esclarecida não pode ver: êste Cristo que vem a êle é seu Chefe, do qual é m embro e 'd e cu ja imolação participa como sacrificador e como vítima, e com o qual oferece ao Altíssimo hom enagens que são in fin itas! líste Chefe adorável, revestido da m issão de “louvor à Santíssim a T rindade” , digna-se en tra r em contacto corporal com seu pequeno m embro, para lhe provar até que ponto de intim idade chega a sua u n iã o ! Q ue novas luzes para a piedade que sabe elevar-se a estas a l tu ra s !
Compreendidas estas verdades pelo membro de Cristo, já lhe será penoso separar a Comunhão do Sacrifício. Com ungar fora da S. M issa parecer-lhe- á como que um a diminuição de seu fru to espiritual. N ão há mais necessidade de convidá-lo a escolher o momento litúrgico para se aproxim ar da sagrada mesa. J á se convenceu que o plano lógico da Comunhão é a S. M issa. Torna-se desde então um fervoroso concelebrante, isto é, leva sua colaboração com Cristo, que se imola, a té à co- m anducaçâo litúrgica da soberana Vítima.
Açâo de graças litúrgicaSe a Comunhão é um ato oficial e litúrgico, co
locado muito acim a da satisfação de am or privado e pessoal, a ação de graças que a segue, deve revestir-se do mesmo caráter: exprim irá em p rim eiro lugar o agradecimento oficial da Igreja, p ro vando a Cristo a sua gratidão. Term inada esta
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homenagem pública, a ação de graças poderá to rn a r - « ato de intim idade pessoal do mem bro com seu Chefe, e prolongar-se em deliciosa intimidade.
A ação de graças oficial é a p arte da M issa que vai da Comunhão às últim as orações. Com preende as m aravilhosas fórm ulas da an tífona cham ada comúnio e das orações cham adas poscomúnio. Continua com o " I te missa est” ao qual devemos responder de todo o coração com um “Demos g raças a D eus” . A bênção do Padre, do F ilho e do E spírito Santo desce logo em seguida sôbre nós. E nfim a ação de graças term ina com a le itu ra do sublime comêço do evangelho de S. João, o qual nos faz contem plar com um relance de águia todos os m istérios de Cristo que a “nossa” M issa renovou.
Se a Ig re ja escolheu estas orações para constitu ir a ação de graças oficial e pública que impõe ao celebrante, é que ju lga essas fórm ulas e essas atitudes as melhores para agradecer a Cristo e à Santíssim a T rindade pelo dom inefável que acaba de nos ser outorgado. E sendo assim, por que se vêem os fiéis, que aliás acom panharam atentam ente tôda a L iturg ia de "sua” M issa, sair da igreja apenas acabaram de com ungar? O s textos sagrados, que lhes pareciam tão próprios para orientá-los na sua celebração, tornar-se-ão im profícuos apenas C risto penetra em seu coração? E , 110 entanto, o sacerdote, que por estado é o modê- lo do povo, não se esconde a um canto do san tuário com as mãos no rosto para agradecer. Pelo contrário, can ta! Q ue razão temos para não fazer como êle? V oltando ao nosso lugar, orem os com Cristo como Cristo pede que se ore. Se a d is tribuição da E ucaristia aos assistentes é longa, então façam os um piedoso colóquio com N osso Senhor em in tim idade; mas, apenas recomece a fun
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ção santa, continuemos logo nossa celebração, a qual devemos acabar como principiamos, ío m o sacerdote oficiante e a Ig re ja inteira.
Agindo assim, o m embro de C risto experim enta rá os maiores benefícios. Começará por particip ar das últim as orações e das últim as ações de graças de “sua” M issa; depois p rocurará nas fórm ulas que pronunciar com o sacerdote pensam entos e afetos que alimentem sua piedade e reconhecim ento; fa rá pedidos que serão certam ente atendidos; receberá da mesma m ão do sacerdote que lhe acaba de dar o Corpo de Cristo, a bênção onipotente da Santíssim a T rindade ; dará enfim um vôo com S. João às a ltu ras celestiais. Dêste modo o piedoso com ungante fa rá um a verdadeira ação de graças, evitando as repetições, as distrações, o enfado que quase sem pre vêm pertu rbar um a ação. de graças pessoal, rotineira, revolvendo-se sem pre no mesmo círculo de idéias jam ais renovado.
Term inada esta ação de graças oficial, e saindo o sacerdote para a sacristia, o piedoso fiel continuará seus agradecim entos a Cristo por sua ação de graças pessoal. E ntão poderá en tregar-se a tô- da efusão de seu coração, po r todo tempo que quiser, com um fru to tan to m aior quanto mais seus pensam entos se tiverem alim entado de sólida piedade com o recurso da Liturgia.
A S. Comunhão é “nossa” ressurreição
O contacto da Carne sagrada do Salvador com nossa carne, pela Santa Comunhão, tem um resultado particular, do qual nos fala Nosso Senhor quando diz: "A quêle que come a m inha Carne e bebe o meu Sangue, ressuscitá-lo-ei no últim o d ia.” (Jo 6, 44.)
Sabemos que estamos "enxertados” em Cristo, que com partilham os, como m embros seus, a sor-
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te de nosso Chefe. Sua vida é nossa vida, pois que dele corre .para nós, suas prerrogativas são as .nossas, sua ressurreição, sua ascensão, seu reino, são nossos.
O ra, sua ressurreição foi um a ressurreição de sua Carne: nossa ressurreição te rá o mesmo aspecto. Nosso corpo deverá, pois, ressuscitar para revestir-se da glória do Corpo de Cristo. Quando, entretanto, logo depois da nossa morte, nós, seus m embros, form o-nos reunir ao nosso Chefe no céu, para lá subirem os sem os nossos corpos. N ossa vida de felicidade com eçará sem nossa carne m ortal. M as éste estado não podia d u ra r sempre. P o r isso, elegendo-nos Cristo po r seus membros, associa não somente nossa alma à sua Alm a sagrada, mas tam bém nosso corpo à sua Carne: é a Comunhão
•sacramental. A união do Corpo de C risto com o nosso, po r meio das espécies sacram entais, é o sinal exterior, oficial e certo, de que nosso corpo é partícipe do Chefe, como nossa alma. P o r éste título, o Salvador é obrigado a ressuscitar nosso Corpo, a no-lo restitu ir, e a apresen tar a Deus um Corpo M ístico form ado de membros, exatamente como o C hefe divino, de Corpo e Alm a. E is por que disse: "Aquele que com er a m inha C arne, ressuscitá-lo-ei no último dia.”
P or que, quando se comunga, não se pensa mais neste insigne favor? Pelo fato de m inha carne ser cham ada a tocar a Carne de C risto, ela é, por isso mesmo, consagrada para a im ortalidade! Q ue felicidade e que g ló r ia !
M as, então, pode-se bem perguntar: com que direito ressuscitarão aqueles que nunca com ungaram ?
Os que nunca comungaram , afastaram -se do Corpo de Cristo, ou po r desprezo ou po r impossibilidade. O s prim eiros condenar-se-ão e sua car
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ne servir-lhes-á sem pre de torm ento: m elhor teria sido para êles que nunca tivessem despertadí) do túmulo.
Aqueles, porém, que não com ungaram sem p ró pria culpa, ou porque não conheceram a Comunhão ou porque não puderam recebê-la em sua curta existência, participarão da ressurreição de C risto, porque seu estado de união a C risto como m em bros enxertados nÊle lhes dá o direito à Com unhão corporal e sacram ental, direito êste que não puderam exercer, mas que possuem sem pre e que lhes concede os favores que dêle dimanam.
Assim, em vista do direito da manducação da Carne divina e do contacto desta Carne de Cristo com o nosso Corpo de cristão, êste corpo fica m arcado com um sinal de vida: ressuscitará glorioso.
Compreendemos agora m elhor do que nunca como C risto é nosso em tudo que existe. Todos os seus privilégios são os nossos, sua própria Carne, por assim dizer, é nossa carne, pois a nossa carne m ortal, santificada ao contacto da C arne de Cristo, encerra em si o direito à participação de tôdas as glórias que tiver no céu o maravilhoso Corpo do Chefe dos ressuscitados.
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Prólogo
í n d i c e
Capitulo I. Jesus Cristo Saoerdote ...................................... 11O decreto divino, 11. - A noção do sacerdócio, 12. - Jesus
Cristo, Sumo Sacerdote 13. - Por que Jesus Cristo é nosso Sacerdote, 14. - Quando se realizou a consagração sacerdotal de Cristo?, 15. - O Sacrifício de Jesus, Sacerdote 16. - O Sacerdote e os sacerdotes. 17. - O Sacerdote, os sncerdotes, os fiéis e a S. Missa, 18. - A parte dos fiéis no S. Missa, 19.
Capitulo II. O cristão, membro de Cristo.................... 20Cristo Mistico. 20. - Que quer dizer Cristo Mistlco, 20. -
Como é constituído o Corpo Mistlco de Cristo, 21 - A metamorfose do "velho homem”, 22. - A união do membro ao seu Chefe, 23. - As consequências práticas da existência do Corpo Mistico, 25. - São Paulo insiste sóbre CristoMistlco, 26. - A Cabeça do Corpo Mistlco, 28. - Como CristoChefe está ligado ao seu Corpo Mistico, 28. - A função dos membros no Corpo Mistico, 30. - Como nos tornamos membros de Cristo, 31. - Estamos em Jesus Cristo, 33. - Conclusões práticas. 34.Capitulo III. O membro se oferece e sacrlíloa com o
Chefe ..................................................................................... 37Quem é o sacrificador na Santa Missa?, 37. - Como se
efetua a oblação pelo Corpo Mistico, na Santa Missa, 38. - Qual a medida de nossa parte pessoal no papel de sacrificador?. 41. - A Vitima, 42. - O Corpo Mistlco é, pois, "Vitima do sacrifício", 45. - Nossos sacrifícios e o Sacrifício, 47. - Por que melo podemos aumentar nossa par- clpaçáo à S. Missa, como sacrificadores e vitimas?, 48. - Conclusão: aquêles que são concelebrantcs da S. Missa, e aquêles que o não são, 50.Capitulo IV. A S. Missa, oblação de Cristo M istico.... 52
A S. Missa é a cena vlsivel da oblação, 62. - Nosso estudo lltúrgico limitar-se-á á demonstração desejada, 62. - O que nos mostrará a liturgia da S. Missa, 63. - Os têrmos pelos quais nos oferecemos com Cristo, 53. - As provas lltúr- gicas que mostram que todo o Corpo Mistico é vitima com Cristo, 56. - A Liturgia mostra-nos o tríplice papel do sacerdote, 60. - A Liturgia e o papel do sacerdote como representante de Jesus Cristo, 60. - A Liturgia„ _ ------- ------ J ite, como nosso representante ofi-
o papel pessoal do sacerdote, 65. - que Cristo é o Sacerdote prln-
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IN D IC E 185
Capitulo I. O que 4 “Minha" Mlaaa.............................. 69"Minha” Missa é o Calvário, 69. - Mas êste Sacrifício único
pode ser renovado, 70. - A S. Missa é a exata renovaçáo do Calvário, 70. - Missa e Calvário: mesmo Sacerdote, mesma Vitima, 71. - Jesus Cristo teve intenção de representar visivelmente na S. Missa a cena do Calvário. 72. - O sacrifício da S. Missa renova invisivelmente o Sacrifício da Cruz, 73. - Uma nota de passagem: a Eucaristia é sacrifício e ao mesmo tempo sacramento, 74. - A Liturgia frisa a Identidade entre a S. Missa e o Calvário. 75. - Quão preciosa é, pois, a "minha” Missa!, 78.
Capitulo II. A glória de Deus........................................ 79"Minha” Missa dá a Deus uma glória de valor infinito,
79. - A Liturgia assegura-nos que nossa homenagem é infinita, 80. - Consequência desta verdade: o infinito valor de “Minha” Missa, 80. - Os quatro aspetos do louvor infinito dado pela "minha" Missa, 81. - Como Cristo, por seu sacrifício, adora perfeitamente a Deus, 82. - Queagradego a Deus com “minha” Missa?, 86. - Que pede Cristo Mistico na Santa Missa?, 87. - Conclusão deste capitulo: “Minha" Missa é para mim o ato mais importante e incompnrável, 93.Capitulo III. Meu fruto espiritual.................................. 95
O fruto que tiro de “Minha” Missa é finito, 95. - Consequências que podem resultar para Cristo, apesar de meu proveito só poder ser finito, 96. - Consequências que podem resultar para mim, apesar de o fruto espiritual de "minha" Missa só poder ser finito, 97. - Que se deve entender por "meu fruto espiritual”, 100. - Os frutos pessoais da "minha” Missa: 1° Aumento da graca santlficante, 1Q1. - 2» O progresso na virtude, 102. - 3° A remissão dos pecados, 105. - Como “minha” Missa apaga meus pecados, 106. -4» A satisfação por minhas faltas, 109. - 5« A consecu- Cão dos meus pedidos, 110. - Mas como formular nossos pedidos?, 111. - Em “minha” Missa poderei fazer pedidos particulares, espirituais ou temporais?, 112. - O fruto pessoal do sacerdote que celebra "sua” Missa, 116. - O lucro daqueles por quem d celebrada a S. Missa, 118. - O fruto daqueles que mandam celebrar a S. Missa, 120. - A razão de serdas "espórtulas”, 121. - O lucro dos que concorrem de qualquer outro modo para a celebração, 123.Capitulo IV. O proveito do purgatório............................ 124
A “minha” Missa, orvalho para o purgatório, 124. - ALiturgia recorda que, em “minha” Missa, devo dar a parte dos defuntos, 126. - Terei eu “minha” Missa no purgatório?, 127. - Terei “minha” Missa no purgatório: 1» se tiver o cuidado de mandar celebrá-la, em vida, pelo repouso de minha alma, 128. 2.» se outras pessoas tiverem a caridade de mandar celebrar por mim, 129. - E se não tiver Missas “propriamente minhas" no purgatório?, 130. - "Minha" missa no purgatório é só "libertadora”, 132. - Será todo fiel libertado por "sua" Missa no purgatório, 134. - “Minha" Missa neste mundo abrevia o tempo do purgatório., 135. - Podemos
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estar certos de que Deus aplica às almas do purgatório, tantoa quanto possível, as satisfações de "sua” Missa. 137. - O que é melhor Dara nós: Mandar em vida celebrar Missas por nós ou deixá-ltS para depois- da nossa morte?, 139. '
III PARTE: MEIOS PARA BEM CELEBRAR "MINHA" MISSA
Capitulo I. A preparação...................................................... 142A celebração de "Minha" Missa não se improvisa. 142. -
Qual deve ser a preparação à “minha” Missa?.. 143. - 1° A preparação doutrinal para “minha" Missa, 144. - A leitura, primeiro melo para assegurar a preparação doutrinal de “minha" Missa, 145. - A pregação, segundo melo de assegurar a preparação doutrinal da "minha” Missa, 147. - 2® A preparação litúrglca da “minha” Missa, 150. - 3« A preparação ascética para "minha" Missa, 152. - • A preparação ascética da “minha" Missa consiste em formar em mim a vitima do Sacrifício. 153. - A nossa formação de co-vltima do Sacrificio: 1° pela aceitação das penas necessárias á conservação do estado de graça. 154. - 2® pela- aceitação das cruzes, 156. - 3° pelas mortificações que nos impomos?, 157.Capítulo II. A assistência........................ 160
Nossa presença deve ser uma celebração,' 160. - O melhor melo de celebrar: a assistência litúrglca. 162. - As vantagens da assistência lltúrgica, 164. - A assistência litúrglca às Missas solenes. 166. - Que pensar dos cânticos populares durante a S. Missa, 171. - As explicações para a assistência à- "minha" Missa, 174. - Quando devo celebrar a “minha" Missa, 175.
Capitulo -III. A Comunhão...................................................... 177A S. Comunhão faz parte Integrante do Sacrificio, 177. -
A Liturgia mostra-nos-a mútua dependência da Comunhão e do Sacrificio, 179. - Deveríamos comungar secramentalmente tódas as vêzes que celebramos "nossa" Missa, 180. - Devemos comungar ao menos espiritualmente tódas .as vêzes que celebramos “nossa" Missa, 183. - Posso comungar fora da "minha” Missa?, 168. - Ação de graças litúrglca, 189. - A S. Comunhão é "nossa" ressurreição, 191.
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