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C. G R IM A U DProfessor de Filosofia do Externato dos "Enfants-Nantais"

“M I N H A ” M I S S A

T radução de M. M. J. M.

Segunda edição

&

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POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. BISPO DE NITERÓI, D. JOSÉ PEREIRA ALVES. PETRÔPOLIS. 2I-3-I944.

FREI ATICO ETNG, O. F. M.

TODOS OS DIREITOS RE8ERVADOS

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PRÓLOGO

M uitas alm as cristãs se inquietam por traba­lhar tão pouco para a glória de D e u s ! Vêem que o tem po passa e temem achar-se transportadas aos um brais da eternidade com as mãos vazias.

E por isso quereriam te r atingido perfeitam en­te o fim para o qual foram criadas, que é o de louvar a Deus. M as, inpedidas pelos negócios, ou por moléstias, sobrecarregadas pela família, quei­xam -se de ver passar os dias, sem glorificar devida­m ente a Deus.

Lançando um olhar pelo mundo, estas mesmas alm as escandalizam-se po r ver a D eus tão ofen­dido, tão esquecido. . . e perguntam como o A ltís­simo pode suportar tan tas in júrias da parte de suas criaturas. E êstes pensam entos perturbam -lhes a fé. D esejosas de expandir o Reino de Deus, que­rem saber qual meio poderiam em pregar para en­d ireitar êste m undo, e dar ao A u to r de tôdas as coisas a glória a que tem direito.

O h ! que estas alm as não desanim em ! Sua pena provém da falta de luzes: nem podem im aginar a cópia de louvores que se elevam perpetuam en­te desta te rra , em aparência tão ingrata, ao trono da D ivina M a je s ta d e .. . e ainda menos imagi­nam que talvez elas mesm as podem dar a Deus "a honra perfeita e com pleta” que tão a rdente­m ente desejam , contanto que cooperem com Cristo na homenagem infinita que Êle rende à Santíssi­ma Trindade.

Devem unicam ente renovar a oferenda do Cal­vário: com, em e por Cristo, têm elas o meio de ating ir completamente o fim que Deus lhes deter­minou, que é dar-L he um a glória perfeita sem som bras nem desfalecimentos. E não haverá um a doutrina consoladora e cheia de pacificação, que

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6 PRÓLOGO

desvende o grande m istério da paciência de Deus para com o m undo pecador?

Ê ste livro destina-se a p rocu rar ab rir às inteli­gências cristãs, ávidas do desejo de serv ir a Deus, de propagar o seu reino, e de se p reparar para a e ternidade, conhecimentos talvez ignorados acêrca do Sacrifício de nossos altares.

Visa ensinar que não é só Cristo que deve cele­b ra r a S. M is s a . . . mas que Êle une a si os seus f ié i s . . . ou antes que Êle e seus fiéis form am "um só Cristo” que apresenta a D eus louvores in fini­t o s . . . de m aneira que cada um de nós, deixando de lado esta frase, mais fam iliar do que exata: "V ou à M issa” , a substitua por esta ou tra: “Vou celebrar a m inha M issa com Cristo .”

Dêste conhecimento mais nítido de nossa p a r­ticipação ao ato sacerdotal de Nosso Senhor, re­sultarão para nossa vida cristã imensas vanta­gens:

Em prim eiro lugar nos interessarem os pela S. Missa como fazemos pelas coisas que são nossas; desde então procurarem os estudá-la m elhor para nela ter m aior parte ; terem os felicidade em assis­tir a ela.

Depois nos sentirem os consolados. E xperim en­tarem os realm ente que não somos mais “sêres in­úteis” desde o m omento em que tiverm os cons­ciência de exercer a mais nobre das funções, concor­rendo para d a r a D eus um louvor perfeito e com­pleto, prelúdio daquele que Lhe darem os por in­term édio de Jesus C risto por tôda a eternidade.

Nossa perfeição espiritual desenvolver-se-á. P a ­ra estar mais inteiram ente unido a C risto no ato precioso da oblação, não hesitarem os em nos con­form ar em tudo à sua santíssim a V ontade, em nos

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PRÓLOGO 7

privar de tudo o que Lhe desagrada, em procu­ra r tudo o que Lhe é agradável, a fim de reali­zar em nós a perfeita un iform idade de pensam en­tos e de sentim entos en tre o Sacerdote E terno e os seus humildes colaboradores.

Serem os cristãos intrépidos e irrepreensíveis; pois que podem tem er dos hom ens ou dos aconte­cimentos aqueles que penetram com Cristo na intim idade de Deus, Senhor dos corações e sobera­no Senhor de tôdas as coisas?

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D IV IS Ã O DA O BRA

“ M IN H A ” M IS S A com preende três partes:

P R IM E IR A P A R T E

“Minha” parte no Sacerdócio de Cristo

S E G U N D A P A R T E

O ato que realizo celebrando “minha” Missa

T E R C E IR A P A R T E

Meios para eu bem celebrar “minha” Missa

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P R IM E IR A P A R T E

“Minha” parte no Sacerdócio de Cristo

O prim eiro capítulo:

Jesus Cristo Sacerdotelem brará as verdades fundam entais acerca do S a­

cerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O segundo capítulo:O cristão, membro de Cristo

cnsinar-nos-á como form am os um a unidade com Jesus Sacerdote.

O terceiro capítulo:O membro se oferece e sacrifica com a cabeçaexplicará a parte que o fiel toma no ato sacerdotal

de Jesus Sacerdote.

O quarto capítulo:A S. Missa, sacrifício visível do Cristo místicom ostrará que as verdades, contidas nos capítulos anteriores, são traduzidas visivelmente na L iturg ia

do santo sacrifício da M issa

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P R I M E I R A P A R T E

C A P ÍT U L O I.

JESUS CRISTO SACERDOTEO ÚNICO SEK CAPAZ DE OFERECER A DEUS UMA HO­

MENAGEM INFINITA E REPARADORA Ê CRISTO. HO­MEM COMO OS PECADORES. MAS DEUS COMO SEU PAI, E, POR ESTE TITULO DE HOMEM-DEUS, SACER­DOTE OFICIAL DA DIVINDADE.

O decreto divino Pelo pecado o homem se perdera.Deus ofendido poderia ter abandonado a hu ­

m anidade à triste sorte da condenação. E seria m era justiça. M as esta solução não teria sido tão misericordiosa, nem sobretudo tão gloriosa para Deus, pois a criação do homem, a “obra-prim a” das mão divinas, afinal teria como resultado um fias­co.

Deus decidiu, pois, salvar o homem.M as de que modo?O Altíssimo, infinitam ente bom, poderia te r re-

habilitado a hum anidade, perdoando-lhe simples­mente o pecado. M as êste perdão, na verdade, te­ria sido dem asiado fácil para nós e mui pouco hon­roso para Deus.

Deus poderia ter exigido dos hom ens atos de reparação por meio dos quais seriam perdoados. M as não tendo os atos dêste “micróbio revoltado” valor algum por si mesmos, Deus teria resolvido conceder o perdão sem condições.

A infinita M ajestade, em sua m aravilhosa sabe­doria, decretou um a medida sublime de liberalidade e de bondade, a qual lhe perm itia salvar ao m es­mo tempo o homem, salvaguardar os direitos da justiça, e obter, além disso, um a glorificação per­feita da parte da criação, que dêste modo atin ­giria com pletamente o seu fim.

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Deus decretou que o Filho, a segunda pessoa da Santissim a T rindade, se tornasse Sacerdote, is­to c, que o Verbo, Filho de Deus, se abaixasse à condição hum ana, para executar como Homem, representante de tôda a sua raça, em honra da Santíssim a T rindade, um ato sacerdotal, pelo qual Deus seria louvado, glorificado e engrandecido, e a hum anidade pagaria sua dívida e se resgata­ria.

Êste plano executou-se por decreto do Pai, co­ad juvado pelo Espírito Santo, “ex voluntate Pa- tris cooperante Sp iritu Sancto”1, como o a firm a a L iturgia.

Assim Deus, em seus eternos desígnios, poderá t ira r da criação a m aior glória possível, graças ao decreto pelo qual constitui a Jesus Cristo, Hom em - Deus, seu Sacerdote oficial.

A noç&o de sacerdóoloM as que c ser sacerdote?É ser encarregado pelo O nipotente de relacio­

n ar a c ria tura com o Criador, de estabelecer entre o homem e Deus as relações necessárias.

S er sacerdote é ser "m edianeiro” .O sacerdote é a ponte colocada entre o céu e a

te rra ; é por isso, dizem, que Jesus Sacerdote me­rece o nome de Pontífice. “Foi constituído a fa ­vor dos hom ens nas coisas que dizem respeito ao culto divino.” (H eb 5, 1.)

O sacerdote é encarregado de oferecer ao A ltís­simo as hom enagens públicas e solenes que oficial­mente lhe deve a sociedade hum ana; esta, consti­tuída por Deus, não pode subsistir sem sacerdote.

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1) Ord. da S. Missa.

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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D OTE 13

Jesus Cristo Sumo SacerdoteU m único homem foi escolhido por Deus para

rea ta r plenamente entre seus sem elhantes e a M a­jestade divina as relações interceptadas pelo peca­do, rendendo à Santíssim a T rindade tôda a hon­ra que lhe é devida.

Êste sacerdote incomparável é nosso Senhor J e ­sus Cristo.

Deus podê-Lo-ia te r escolhido e feito sacerdo­te, ainda no caso em que a raça hum ana tivesse perm anecido inocente, a fim de que êste “chefe” da hum anidade a fizesse render ao seu C riador a homenagem perfeita, e estabelecesse entre o céu e a terra relações íntimas. N este caso, o ato sacer­dotal de C risto teria consistido em render a Deus, da parte dos homens, um a glorificação isenta de reparação: seu sacrifício teria sido todo de louvo­res e de ações de graças, e não de expiação.

M as como o homem havia pecado, Cristo Sa­cerdote, cuja missão era p rocu rar a m aior gló­ria de Deus, devia, para a ting ir êsse alvo, apagar os pecados e satisfazer pelo mal come­tido: por isso é que Deus decretou em sua sabe­doria que o ato essencial do sacerdócio de Cristo fôsse um sacrifício cruento. E xigiu do Hom em - Deus, p ronto a obedecer, a m orte cruel de cruz.

Como um só homem foi escolhido por Deus pa­ra oferecer êste sacrifício, só há um Sacerdote principal e essencial, Jesus Cristo, capaz como H o- m em-Deus de expiar os pecados, de' g lorificar a M ajestade divina, de oferecer um a homenagem que tenha um valor infinito.

Jesus Cristo, Sum o Sacerdote, é, pois, o Sacer­dote dos homens, o nosso Sacerdote, porque é nosso interm ediário, indispensável en tre nós e a Santíssim a Trindade: não temos e não podemos te r outros.

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P o r esta razão lhe dizemos no Glória: “Só vós sois Santo, só vós sois Senhor, só vós sois A l­tíssim o.” 2 “Só nÊle há salvação.” (A t 4, 12.)

Por que Jesus Cristo é nosso sacerdote?P ara ser nosso sacerdote, devia Jesus subm eter-

se a várias condições:1. Convinha que se tornasse m embro da raça

hum ana, um dos nossos, sem ó que não podia ser nosso representante. P a ra pu rifica r a hum anida­de m aculada pelo pecado, Deus exigia um a repa­ração tal que, sem deixar de ser hum ana, fôsse suficiente e superabundante, isto é, infinita. E ra , pois, necessário, para executar o decreto divino da restauração da glória de Deus, que “o Verbo se fizesse carne”. “ Como os filhos com partilham da carne e do sangue, também Êle com partilhou . . . devia to rnar-se sem elhante aos seus irm ãos.” (H eb 2, 17.)

2. Convinha que fôsse da “raça” de Deus, sem o que não poderia oferecer um a reparação e uma adoração; as quais, para serem suficientes, deviam ser infinitas.

P o r esta causa é que, para executar o decreto da restauração de sua glória, a M ajestade divina não designou um homem eminente, nem o mais belo dos anjos, mas o H om em -D eus que, sem dei­x a r de sef homem, fôsse ao mesmo tempo o Filho de Deus, segunda pessoa da Santíssim a T rindade, igual ao Pai e ao Espírito Santo.

Só êste Sacerdote, porque é homem e Deus, é capaz de oferecer a Deus um culto suficiente.

3. Convinha que recebesse do próprio Deus a missão sacerdotal e que tivesse a vocação ao sacer­dócio; consiste a vocação essencialmente no cha­

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2) Ord. da S. Missa.

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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D O TE 15

mam ento ao fim determ inado pela au toridade com­petente.

O ra, Deus chamou Nosso Senhor ao sacerdó­cio suprem o: Jesus C risto — diz São Paulo — não se glorificou a si mesmo para to rnar-se Pon tí­fice, mas Aquele que Lhe disse: “És meu filho, hoje te gerei." (H eb 5, 5.) A inda que o Filho seja o Filho desde tôda a eternidade, estas palavras só lhe foram dirigidas, segundo o salmista, no momento em que assum iu a natureza hum ana. Fazendo-se ho­mem, foi no mesmo instante consagrado Sacerdote, isto é, M ediador do gênero hum ano jun to de Deus. Seu Pai confirm a-Lhe esta dignidade por ju ra ­mento: “O Senhor ju rou-o, e não se arrependerá: T u és sacerdote por tôda a eternidade.” (SI 109, S.)

4. E ra preciso que o eleito aceitasse vo luntaria­m ente esta missão sacerdotal, porque o sacerdote não pode ser obrigado.

O ra, Jesus C risto aceitou com transportes de jú ­bilo a decisão eterna de ser consagrado Sacerdote. E sta submissão do V erbo Incarnado data do ins­tante em que tomou o corpo. Revela-nos por estas palavras que disse a seu Pai, ao en tra r neste m u n d o : N ão quisestes sacrifícios nem oblações, mas preparastes-m e um corpo” (a fim de que se tornasse evidentem ente a m atéria do sacrifício e da o b lação ). . . “então ou disse: E is que venho, ó Deus, fazer a Vossa vontade.” (H eb 10, 7.)

Quando se realizou a consagração sacerdotal de Cristo?

A "ordenação” de Jesus Cristo, se é que se Lhe possa aplicar êste têrm o, efetuou-se no instante da incarnação. N esse momento sua natureza hu ­m ana recebeu de sua união à natureza divina, pe­la pessoa do Verbo, todos os poderes sacerdotais. Essa união à natureza divina dava-Lhe um a missão determ inada, que consistia em apresentar a Deus,

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em nome de todo o gênero hum ano, passado, p re­sente e futuro, uma homenagem infinitam ente per­feita de adoração, de louvor, de agradecim ento, de reparação e de súplica.

Nesse instante, portanto, Jesus C risto foi “o r­denado sacerdote” porque se tornou Homem-Deus. E como êsse sacerdócio jam ais cessará, sua con­sagração perm anecerá eternam ente: Êle será “sa­cerdote por tôda a e ternidade” .

O sacrifício de Jesus sacerdote.Jesus Cristo foi ordenado Sacerdote em vista de

um sacrifício a oferecer à D ivindade em nome dos homens, porque o sacerdócio só tem razão de ser na oblação de um sacrifício.

Jesus Cristo Sum o Sacerdote oferece um sacri­fício único, o do Calvário. Im ola-se na Cruz a seu Pai, para que sejam reconhecidos de modo absolu­to o soberano domínio e o infinito poder de Deus.

Com efeito, se a cria tura mais perfeita que pôde ser concebida pela Sabedoria divina, foi obrigada a se aniquilar an te seu A utor, c prova evidente que “Deus só” é Senhor absoluto, e que tudo lhe é submisso no céu e na terra .

Este aniquilam ento do H om em -D eus é, pois, um reconhecimento efetivo, sensível e oficial, da su­prem acia divina. Constitui uma adoração perfeita de Deus, um a ação de graças infinita, uma repa­ração completa.

É tal o alcance do Sacrifício da Cruz que, por si só e de um só lance, basta para ating ir plena­m ente e sem restrição o fim suprem o da glorifi­cação de Deus pela criatura.

M as se basta, por si mesmo, para acum ular ein um só todos os tesouros de homenagem e repara­ção, resta aplicar estas riquezas de graças e de redenção no espaço e no tempo.

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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D O TE 17

De que modo cada ser hum ano, cada família, a sociedade inteira poderá tom ar parte nesta hom e­nagem infinita? Em resumo, por que meios se es­palharão no m undo os benefícios do Calvário?

Pela renovação quotidiana do Sacrifício único, pela Missa.

O sacrifício eucarístico de Cristo nos dá a pos­sibilidade e o direito de partic ipar do Sacrifício redentor do Gólgota, perm itindo-nos nêle repre­sentar, como veremos, um papel pessoal, como se tivéssemos vivido no dia de sua consumação, en­tre M aria Santíssim a e S. João, aos pés da Cruz.

O Sacerdote c os sacerdotesJesus Cristo é, pois, o Sacerdote, o Sacerdote

principal, o único Sacerdote por si mesmo, o mais completo e perfeito que jam ais existiu ou existirá, o que oferece o sacrifício único que Deus jam ais tenha exigido, único capaz de satisfazer, pois os ou tros sacrifícios apenas foram aceitos como fi­guras dêste.

Q ue são, pois, os sacerdotes, êsses homens que celebram a Santa Missa na sociedade cristã e exercem as funções sagradas?

São para nós os representantes de Jesus Cristo. O cupam o lugar de Jesus Cristo. São Jesus C risto visível e agindo entre nós.

Como nosso Senhor não quis prolongar pelo de­curso dos séculos sua existência te rrestre para exercer na sociedade hum ana suas funções sacer­dotais de um modo sensível, escolheu um certo nú ­m ero de homens, que assinalou com um cará te r es­pecial e inextinguível e por meio do qual lhes con­fere o poder de exercer visivelmente sua ação so­brenatural en tre nós.

Com efeito, Jesus Cristo e seu m inistro são um só m oralm ente; ambos executam um mesmo ato:

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o poder de C risto dá-lhe a eficácia, e a presença do sacerdote torna-o visível.

Sendo os sacerdotes instrum entos de que se ser­ve o Sacerdote Suprem o para exercer en tre os hom ens suas funções sacerdotais, é na verdade sublime a sua dignidade, m aravilhosas são as suas prerrogativas, mui vantajosa c a sua missão, porque estão em contacto direto com a Fonte dc todos os bens sobrenaturais, na qual podem hau ­r ir graças de escol.

O Sacerdote, os sacerdotes, os fléls e a S. Missa

Jesus Cristo é o Sacerdote único, estabelecido por Deus para un ir a terra ao Céu, oferecendo à eterna M ajestade, sôbre o Calvário, o sacrificio infinito de louvor, de adoração e de reparação.

M as Jesus Sacerdote não quis que sua grande imolação fôsse para os cristãos, no futuro, apenas um “ fato histórico” , fadado a desaparecer pouco a pouco da m em ória dos homens, imerso nas bru­mas de um passado remoto. P o r isso quis que, no decurso dos séculos, se renovasse, tantas vêzes quantas fôsse preciso, o seu sacrifício.

E com o fito de imolar-se de novo em união com seu povo fiel e aplicar-lhe especialmente uma p a r­te dos m éritos de sua Paixão, C risto Jesus assinala com o sêlo divino certos hom ens que o repro­duzirão sôbre o a lta r em momentos determ inados: são os sacerdotes, verdadeiros com participes de seu sacerdócio eterno. E a renovação do ato sacerdo­tal de C risto é a S. Missa.

Eis, portanto, um único sacerdote, um único sacrifício, oferecido pelos sacerdotes, homens inti­m am ente unidos ao Sacerdote Suprem o e dotados de seu poder.

Pelo m inistério de seus sacerdotes, C risto reno­va êste mesmo sacrifício em cada S. M issa, para

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CAP. I. JE SU S CR ISTO SA C ER D OTE 19

que todos os fiéis do m undo possam dêle partic i­p a r e receber seus frutos.

A parte dos fiéis na S. MissaVamos, pois, estudar esta “participação” reser­

vada aos simples fiéis na oblação do sacrifício de Jesus Sacerdote.

Verem os que, mesmo não sendo, como os sacer­dotes, os sacrificadores oficiais da santa V ítima, os fiéis a oferecem pelas mãos do celebrante e, po r isso mesmo, têm um papel muito im portante na oblação, a qual não se pode e fe tuar sem seu concurso. Êste papel no culto, esta participação dos simples batizados nas funções sacerdotais de Cris­to valeu ao povo cristão o título de “sacerdócio real” (1 Ped 2, 9 ) , que lhe dá São Pedro, “sa­cerdócio santo, encarregado de oferecer hóstias agradáveis a D eus” (1 Ped 2, 5 ), como o prova­remos a seguir.

N ão se deverá adm irar o leitor se, no curso do presente volume, o papel adm irável dos sacerdotes e a sua dignidade sublime parecem ficar um pouco de lado. Não será por desprêzo, nem por esque­cimento.

Sendo o objetivo dêste livro m ostrar aos fiéis, para sua consolação e devoção, a parte imensa e quiçá desconhecida que, em união com o celebrante, têm no sacrifício, devemo-nos ocupar especialmen­te dêste assunto.

O s leitores que desejarem conhecer mais especial­m ente as grandezas do sacerdócio, encontrarão em m uitas obras sôbre a S. M issa e o sacerdote o suplem ento de edificação que estão no direito de desejar.

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P R IM E IR A PA R T E

C A P ÍT U L O II

O CRISTÃO MEMBRO DE CRISTOSE CRISTO E O SACERDOTE SUPREMO. O CRISTÃO,

PARCELA DE CRISTO, COOPERA POR CONSEQUÊNCIA NOS ATOS SACERDOTAIS DE CRISTO.

Cristo místicoUm único Sacerdote oferece a S. M issa, Je ­

sus Cristo.M as que en tender aqui por Jesus Cristo?A resposta a esta pergunta vai abrir-nos hori­

zonte incomensuráveis.Cristo que oferece a S. M issa não é, como mui

facilmente imaginam os fiéis, C risto aniquilado e hum ilhado como estava 110 Calvário: Jesus Cristo não existe mais sob esta form a, que já é passada para Êle.

Cristo que oferece a S. M issa e está presente no a lta r é C risto atual, glorioso, triun fan te no céu, assentado à direita de seu Pai, e ocupado em term i­n a r a obra da Redenção.

Mas êste Cristo a tual não se apresenta só. A Jesus Cristo, Cabeça e Chefe, está agregado seu Corpo M ístico que é a Ig reja , sociedade dos fiéis. Jesus C risto e o seu Corpo M ístico form am o “C risto to tal” , como o chama Santo A gostinho, aquele que doravante oferece a Deus, sôbre o al­tar, a homenagem do Sacrifício infinito: “O Cristo total é cabeça e corpo: a cabeça é o Filho de Deus, o corpo é a Ig re ja .”1

Que quer dizer Cristo MísticoC risto místico, sumo Sacerdote do Altíssimo, é,

pois, Jesus, unido aos fiéis, como nossa cabeça está unida aos membros, para form ar um conjun­to perfeito , agindo para um mesmo fim.

1) De unitate Eccleslæ contra donatlstas, n. 7.

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A Santa I g re ja , a sociedade dos fiéis sob o do­m ínio de Cristo, é o “ Corpo místico” de C risto; Ê le é a cabeça dêste corpo, e os fiéis são os m em­b r o s . . . A Ig re ja é, pois, o “complemento” de Cristo. (E f 1, 23.)

N ão devemos im aginar que a designação “m ís­tico” possa fazer acred itar que êste corpo seja um a ficção. “Cristo m ístico” não tem nada de im aginá­rio. É Cristo tal como existe atualmente, como Chefe inseparável de seus m embros resgatados, tributando, em união com êles, uma glória perfei­ta à Santíssim a T rindade.

Como é constituído o “Corpo Místico” de Cristo

O "Corpo M ístico” ou “ Ig re ja de C risto” é a sociedade dos fiéis unidos a Cristo.

M as como se faz a união dos membros com a Cabeça nesta “sociedade dos fiéis” ? De um modo especial e incomparável que precisamos fazer com­preender devidamente.

Cada sociedade une seus mem bros en tre si e ao chefe por meio de um laço. P o r exemplo, os sol­dados estão unidos ao general em uin Corpo de exército pela concordância das vontades e pela acei­tação de uma rigorosa disciplina em serviço da P á ­tria. O laço pelo qual a Ig re ja une seus membros é dum a natureza tôda diversa e m ui superior à de todos os laços que ligam aos seus respectivos chefes os membros das sociedades hum anas.

No “Corpo M ístico” , o cristão é unido ao chefe por um laço real de poder ex traordinário , o graça, princípio de vida sobrenatural.

E sta graça, que une e vivifica e transform a to­dos os membros, dim ana da Cabeça. Com efeito, Cristo-Cabeça é cheio do Esp írito Santo, que é a alm a do Chefe e de todo o “Corpo M ístico” . Dêste Espírito desce por meio da cabeça até aos mem-

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bros um eflúvio vivificador que dá a vida: "vw i- ficantem " .2

E sta graça exerce, em vista da constituição de “C risto mistico” , um a m aravilhosa função, que é a de tran sfo rm ar o “velho hom em ” ( E f 4, 22), como o denomina S. Paulo, isto é, o homem decaí­do, incapaz de adaptar-se atualm ente ao Corpo M istico, ein homem "novo” ou sobrenatural que, pelo fato de sua transform ação, se acha “enxer­tado” (R om 6, 5) em Cristo Chefe.

A metamorfose do "velho homem"O “homem velho” , sob a influência da graça,

sofre uma transform ação, que, dando-lhe o es­tado sobrenatural, o assimila ao Corpo M ístico.

Pode-se fazer com preender esta ação apenas por meio de comparações.

Cristo é um diam ante magnífico que irradia, como um sol, a luz que Lhe comunica o E spírito Santo: essa irradiação é a graça.

O ra, êste diam ante tem a propriedade m aravi­lhosa de dar o brilho do diam ante a todos os grãos de areia que entram na sua irradiação, isto é, a todos os homens pecadores que se submetem à graça de Cristo. Irrad iando êles, de sua parte , a luz recebida de Cristo, tornam -se resplandecentes.

Se um dêsses brilhantes sai do cam po de irra ­diação, torna-se im ediatam ente grão de areia: o homem novo volta a ser “na tu ra l”, homem de pecado, não é m ais de Cristo.

O conjunto dos diam antes aglom erados em to r­no do diam ante central e no eflúvio de seus raios, form a o Corpo M ístico, cujo brilho se reflete todo para o céu. Todo êsse esplendor está oculto à te r­ra sob um véu, de m aneira que a vista corporal não faz d iferença en tre o homem natural, separado

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2) Símbolo de Nicéia.

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CAP. II. O CRISTÃO, M EM BRO D E CR ISTO 23

do Corpo de Cristo, e o homem sobrenaturalizado, que só “se revelará a si mesmo" (R om 8, 18), de­pois da queda do invólucro mortal.

A parte do Corpo Místico que está no céu sem­pre sc vai aCrescendo de novos eleitos, pois êstes, agrupados na irradiação do centro Jesus Cristo, “sol de justiça” , aum entam rapidam ente: de um Pentecostes a outro, “C risto vai crescendo” até chegar “à plenitude da idade de seu C orpo” M ís­tico, “até o crescimento perfeito” , in plenitudi- nem aetatis corporis C h r is ti . .. in v irum perfec- tum . (E f 4, 3.)

E ntão os tempos serão consumados: o núm e­ro dos eleitos estará completo.

A união do membro ao seu chefeE sta com paração auxilia a com preender a m eta­

m orfose do m embro sob a influência da graça ; não denota, porém, ainda bastante a união vital que existe en tre Cristo e o fiel sobrenaturalizado. É preciso, para m ostrar até onde vai a intim idade da ligação que une os membros à Cabeça no Cor­po M ístico, reco rre r à imagem tão expressiva pe­la qual nosso Senhor ijiesmo se dignou iniciar-nos neste grande mistério.

N osso Senhor disse aos seus Apóstolos: “E u sou a videira de v e rd a d e .. . meu Pai é o ja rd ine i­r o . . . Perm anecei em mim e eu em v ó s . . . Do m es­mo modo que os ramos só podem d a r fru tos com a condição de ficarem unidos à videira, assim acon­tecerá convosco se estiverdes unidos a mim.

“Eu sou a videira, vós sois os ram os; aquêle que perm anece em mim dá m uitos frutos, porque sem mim nada podeis f a z e r . . . Perm anecei no meu a m o r . . . Disse-vos tudo isto, a fim de que vos alegrásseis e para que a vossa alegria fôsse com­pleta.” (Jo 15, 1 e 55.)

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P R IM E IR A PA R T E

"E u sou a videira, vós sois os ram os.” Nosso Senhor não podia escolher imagem mais caracte­rística para fazer-nos com preender até que ponto de intimidade, de união, o fiel vive unido a Êle neste todo que é C risto M ístico. O s ram os e a ce­pa que os sustenta form am um ser vivo: o fiel e Cristo form am um ser participante da vida divi­na.

Quem sustenta as uvas? O s ram os, certam ente; mas nunca sem o concurso do tronco: o fiel p ro­duz fru tos de adoração, de louvor, de reparação, porém nunca sem Cristo. “ Sem mim nada podeis fazer.”

O tronco produz seus fru tos por meio dos ra ­mos: Jesus Cristo faz germ inar nos' fiéis de sua Igreja , unidos a Êle, m aravilhas de santidade. Mas, se o tronco tem necesidade de ram os para pro­duzir frutos, pode dispensar um ou ou tro dêles: tal sarm ento fica im ediatam ente privado da vida da cepa: continua, contudo, ligado ainda ao tron­co pela fé e pelo cará te r de cristão. Poderá re­ceber de novo a vida pela graça do perdão.

Impossível exprim ir mais nitidam ente a união do fiel com Cristo, união vital, indispensável. O cristão, para viver, deve “ser um ” com Cristo, nes­te grande organism o sobrenatural que é o Corpo Místico.

Será fácil com preender desde logo cm que con­siste o “C risto to tal” , tronco, ramos, sarm entos, fôlhas e frutos. C risto possui na sua hum anidade e em tôda a plenitude a seiva de que a D ivindade O enriqueceu, e Êle a faz c ircu lar até às extrem i­dades de seus órgãos, isto é, até à m enor das alm as ligadas a Êle.

Q ue seiva é esta que o Cristo, tronco divino, vai haurindo na Santíssim a T rindade? É a “graça san tifican te” . Nosso Senhor com para-a à seiva que

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CAP. n . O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 25

o Espírito Santo produz, conserva e faz circu­la r na sua Ig reja , E sp írito que anim ava a Cristo, nosso Chefe, desde o instante de sua conceição, se­gundo a palavra do A njo a M aria SS.: “O E spí­rito Santo cobrir-te-á com som bra e conceberás.” (L c 1,35.) Este E spírito de Deus, que S. Paulo cha­m a indistintam ente o Espírito Santo ou o E spírito de Jesus, faz c ircular em todos os m embros do Cor­po Místico a vida do Chefe: é pelo “E spírito que se expande em nossos corações a caridade” (R om 5, 5 ), isto é, o am or que une e v iv ifica: “E u sou a videira, vós sois os r a m o s .. . permanecei no meu am or.”

As consequências práticas da existência do Corpo Místico

Nosso Senhor revelou-nos pela afirm ação: "E u sou a videira, vós sois os ram os”, a existência do C risto M ístico.

J á que existe, êste Corpo M ístico deve exercer suas funções e devemos encontrá-lo em atividade. É justam ente o que acontece. Em várias passagens o texto sagrado nos assinala consequências da união entre o Chefe e os membros.

Falando Nosso Senhor do juizo universal, p ro­nuncia estas palavras: “Tive fome a destes-m e de com er. . . E stava nu e vestistes-me. doente e visi­tastes-m e . . . pobre e socorrestes-m e, porque, eu vo-lo digo, o que fizestes ao menor dos meus, a mim é que o fizestes.” (M t 25, 36.)

Impossível a firm ar mais categoricam ente a fun­ção do Corpo Místico. O pobre, o doente, o fa­minto, é membro de Cristo, como a m inha mão é parte de mim m esm o; do mesmo modo que aquê- le que tra ta do meu ôlho, do meu pé ou do meu braço, me tra ta a mim, também o que socorre um membro de Cristo, socorre o próprio Cristo.

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Pelo contrário , aquêle que fizesse so fre r um mem­bro de Cristo, faria so fre r o próprio Cristo. É nos­so Senhor quem o afirm a claram ente. Q uando S. Paulo, fulm inado no caminho de Damasco, lhe per­guntou: “Senhor, que quereis de m im ?” respondeu: “Eu sou Jesus a quem persegues.” (A t 9, 4 .) S. Paulo com preende logo'o sentido profundo desta pa­lavra: persegue a Cristo, porque ataca seus mem­bros.

Seria não com preender bem o pensam ento do grande A póstolo ver nesta palavra uma simples figura de linguagem em vez da expressão exata da realidade. Santo A gostinho nota que, se não fôsse­mos seus membros, Jesus C risto não d iria a Sau- lo: “ P o r que me persegues?” , pois Saulo não O perseguia, mas aos seus membros. Jesus Cristo não quis dizer: a meus santos, a meus servos, ou mais honrosam ente: a meus irmãos, mas a mim, isto é, a meus membros, dos quais sou a Cabeça3.

Assim, dependendo desta Cabeça, nós os mem­bros “somos todos um mesmo corpo em C risto” . (Rom 12, 5.)

São Paulo insiste sôbre Cristo místico

N unca será demais insistir sôbre esta existên­cia do C risto Místico e da nossa união com êle.

Êste m istério é, com efeito, o fundam ento de nossa participação no sacrifício do Calvário renova­do todos os dias no altar. U m cristão não poderá celebrar “sua” M issa com Jesus Sacerdote, se não tiver idéias exatas de suas relações com Êle.

Por esta razão é necessário conhecer sempre mais o que é o Corpo M ístico, conform e S. P au ­lo insiste na im portância desta grande verdade.

“D a m esma form a, — diz êle, — que em um só corpo temos muitos m embros que não têm todos

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3) T rac t, in Jo 28.

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a mesma função, assim somos um só corpo cm C ris­to e membros uns dos ou tros.” (R om 12, 4. 5.)

A diversidade dos órgãos, longe de danificar o corpo hum ano, dá-lhe a ordem e a harm onia; da mesma form a, a variedade do Corpo Mistico dá- lhe a beleza: “O corpo não é um só membro, mas m u ito s . . . se fôsse um só membro, onde estaria o corpo?" (1 Cor 12, 14. 19.) “O corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, seja qual fô r o seu núm ero, form am uin só corpo: o mesmo se dá com C risto.” (1 Cor 12, 12.)

Todos êstes membros, unidos en tre si porque participam da vida do Chefe, estão ligados uns aos outros e não podem dispensar os m útuos serviços: “Q uando um membro sofre, todos tomam parte em sua p e n a ; quando um membro é honrado, to­dos com partilham da sua alegria.” ( IC o r 12, 26.)

N ão se pode a firm ar mais categoricam ente a união dos fiéis com C risto e de C risto com os fiéis.

O C risto “completo” , total, íntegro, encarregado de oferecer eternam ente a Deus sôbre o a lta r e no céu a homenagem da criação que serve de pe­destal à sua hum anidade, é o “Chefe e seus mem­bros” , êste todo imenso que é o C risto Místico: “Vós sois todos jun tos o Corpo de C risto e indi­vidualm ente sois seus mem bros.” (1 Cor 12, 25.)

Somos m embros de Jesus Cristo. E sta é a nossa condição. N ão somos apenas seus servos ou “mais honrosam ente seus irm ãos” , somos seus membros, transform ados à sua imagem e unidos intim am en­te a Êle. S eria para desejar que todos os fiéis apreciassem no devido valor estas expressões que encerram extraord inárias consequências para suas almas.

CAP. II. O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 27

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P R IM E IR A P A R T E

A cabeça de Corpo MísticoCristo é a Cabeça dêste Corpo Místico.S. Paulo no-lo afirm a, particularizando a fun ­

ção de "chefe” exercida por Jesus Cristo. “Deus — disse êle, — deu-o como Cabeça à Ig re ja que é seu Corpo.” (E f 1, 22.) O influxo vital çircula em nós, seus membros, por meio de Cristo, como por interm édio de nossa cabeça circula o sangue em nossos braços, nossas mãos ou nossos pcs.

S. Paulo acrescenta: “A Ig re ja é, pois, o com­plemento de Cristo.” (E f 1, 23.) E la completa-o, como o corpo completa nossa cabeça, porque nossa cabeça não exerceria suas funções se não houves­se um organism o a ela a n e x o . . .

O Apóstolo term ina seu pensam ento dizendo: “ A Ig re ja é o complemento d A quele que se com­pleta inteiram ente em todos os seus m em bros” (E f 1, 23 ), m ostrando que Cristo ficaria incom­

pleto, se os fiéis não estivessem associados como m embros vivos a êste “chefe incom parável” .

Q uando estamos an te o tabernáculo ou em face do ostensório, pensemos que C risto presente é a Cabeça desta assembléia cristã de que fazemos parte, e que Ele e nós, ali presentes, não somos sêres justapostos, mas um só corpo sob “esta ad­mirável Cabeça” . “N ão nos afigurem os que Cristo esteja só na cabeça e ausente dos m em bros; não, Êle está todo inteiro na cabeça e no corpo.” 4

Como Cristo Chefe C9tá ligado ao seu Corpo Místico

Como está ligada esta Cabeça ao corpo? E co­mo se operam entre ambos as relações vitais? S. Paulo en tra em particularidades precisas para mos­tra r que a união se produz en tre Cristo e seu Cor­

4) Aug. T rac t, in Jo 28.

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po M ístico, de um modo comparável em intimidade ao que liga nossa cabeça aos nossos membros.

Falando de um visionário de Colossas, o Após­tolo aponta-o abandonado às suas visões “e não aderindo à Cabeça pela qual o Corpo inteiro, con­servado e unido por meio dos nervos e dos m ús­culos, recebe o crescimento, segundo a vontade de D eus.” (Col 2, 19.)

A prim eira condição para que o Corpo receba da Cabeça a unidade, o crescimento norm al, todo o influxo vital, é, pois, para êle aderir à Cabeça.

P o r falta de adesão a Cristo, ésse visionário de­caiu ; tornou-se como um membro gangrenado que será preciso desligar do tronco, se am eaçar com u­nicar sua corrupção. Dêste modo, volvemos à a f ir ­mação de C risto: “O sarm ento separado da cepa será lançado ao fogo, como inútil e sêco.” (Jo 15, 6.)

A adesão a Cristo, nossa Cabeça, é, pois, indis­pensável à nossa vida sobrenatural. Quão loucos aqueles que pretendem possuir uma v irtude verda­deira e vital sem C risto! Sem esta “adesão” do m embro à Cabeça, isto é, sem a Caridade ou, para m elhor dizer, segundo a linguagem corrente da piedade cristã, sem o estado de graça, não pode haver atos m eritórios, e portan to não há salva­ção.

Compreende-se que para os fiéis convictos destas verdades não há situação mais horrível para a a l­ma do que cair em pecado m ortal. "N ada há, — diz Santo A gostinho, — que o cristão tan to deva recear como o viver separado do Corpo de Cris­to. Se está separado do Corpo de C risto, não é mais seu membro, não é mais anim ado pelo seu E spírito . E o A póstolo diz que aquele que não

CAP. n . O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 2»

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tem o Espírito de Cristo não faz mais parte de Cristo.”5

Veremos, a seguir, as imensas consequências que resultam desta necessidade de aderir ao Cor­po Místico de C risto pela prática da vida espiritual, tôda baseada nos alicerces da caridade, "derrama­da na alm a pelo Espírito Santo” . (R om 5, 5.)

A função dos membros no Corpo Místico

Como no corpo hum ano há m embros variados que exercem diversas funções, o mesmo se dá com o Corpo Místico de Cristo. “O corpo não é um só membro, mas um conjunto de m u ito s . . . Se o todo fôsse um só membro, onde estaria o corpo?” (1 Cor 12, 27.)

No Corpo Místico de C risto cada m embro possui a im portância relativa que lhe c própria. Cada um, com efeito, tem sua graça, seu “carism a” co­mo disse S. Paulo. U m é apóstolo, ou tro profeta, o terceiro d o u to r; uns são taum aturgos, e outros têm o encargo do govêrno.” (1 Cor 12, 28.) Assim o Corpo Místico de Cristo é dotado de todos os órgãos que lhe são necessários.

Mas todos êstes membros, seja qual fô r o seu papel, só poderão exercê-lo se viverem , isto é, se forem enxertados no Chefe: o ra esta ligação só pode subsistir plenam ente pelo estado de graça. P o r isto é que, depois de te r enum erado os diver­sos dons gratu itos que Deus pode fazer às al­mas, o Apóstolo acrescenta: “ M as esforçai-vos por obter melhores “carism as” . . . E m ostro-vos um caminho ainda mais excelente” . (1 Cor 12, 31.) Êste caminho é o da “caridade” , sem a qual se­ria inútil fa lar até a língua dos an jos (1 Cor 13, 1)

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5) Aug. T rac t. in Jo 27, in m edium .

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e fazer milagres, porque sem ela o membro não poderia mais aderir à Cabeça e m orreria.

Gravemos, portanto, em nosso espirito o conse­lho de S. Paulo : “Aspirai à caridade. ” (1 Cor 14, 1.) Q ue a vida de união com Cristo pelo esta­do de graça, solicitam ente conservado e santam en­te desenvolvido, seja a aspiração de nossa al­ma, a preocupação de nosso espírito, o grande ideal de nossa v ida! Q uaisquer que sejam nossos dons espirituais e nossos ofícios neste mundo, é som ente do g rau de nossa caridade que depende nos­so papel no Corpo Místico de Cristo, e sua im por­tância. Sem a caridade o fiel se to rna incapaz de colaborar devidam ente com o sacrifício de Cristo: pode ser assistente ou espectador do S. M issa e pode mesmo recolher alguns frutos, porém cessa de celebrá-la dignamente.

Como nos tornamos membros de Cristo•É pelo Batismo que nos tornam os membros de

Cristo, ou, em falta dp Batismo, pela caridade que o supre provisoriam ente. Pelo Batismo "somos enxertados nêle” (Rom 6, 5) como o ramo na videira.

Sob a influencia dêste enxerto batismal o sa r­mento fica unido ao tronco e vive; ou, continuan­do a mesma comparação do início dêste capítulo, o homem pecador expõe-se, pelo Batismo, aos raios que dardeja o Sol divino, Cristo, e vil grão de •areia que era, tom a-se fulgente como o diam ante, refletindo a luz que recebe.

Quem poderá p in tar a beleza de uma alm a bati­zada ?

Q ue causa, porém, dá motivo a m etam orfose tão vantajosa? A própria m orte de Cristo, que foi o preço determ inado para restauração da glória de Deus. Aceitando livrem ente pagar no Calvário a

CAP. II. O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 31

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dívida de reparação devida à M ajestade suprema, Cristo mereceu tornar-se Chefe e Cabeça de seus redimidos: em razão dos direitos adquiridos por sua morte, Cristo tem, pois, o poder de com unicar sua vida e sua graça aos seus membros. E is por que S. Paulo nos diz: “ Ignorais que todos nós, que fomos batizados em Cristo, fomos batizados em sua m orte?” O grande Apóstolo acrescenta, pa­ra insistir nesta verdade, aludindo à imersão, rito prim itivo do Batismo, verdadeiro sepultam ento: “Fomos, pois, pelo Batismo sepultados com Êle, na m orte.” (R om 6, 3.)

O novo membro goza, pois, das vantagens que o Chefe conquistou na morte, para todo o seu Corpo Místico.

Mas quais são êstes privilégios?Os mesmos que os da Cabeça, de cuja sorte êste

membro participa doravante, a não ser que te­nha a loucura de separar-se de Cristo pelo peca­do m ortal: uma vida gloriosa, eterna, sem trevas, o que S. Paulo cham a a “vida nova” e que a lin­guagem cristã designa correntem ente sob o nome de vida da graça pa ra os m embros que militam neste mundo, a qual se transfo rm ará em vida de glória à sua en trada no paraíso. Êste é o sentido da palavra de S. Paulo: “ Fomos, pois, pelo Batis­mo sepultados com Êle na morte, a fim de que, do mesmo modo que Cristo ressuscitou dos m or­tos para a glória do eterno Pai, assim nós tam ­bém caminhemos nesta nova v id a ; porque, se esta­mos enxertados nÊle, pela semelhança de sua m or­te, da m esma form a chegaremos por ela à sua ressurreição.” (R om 6, 5.)

E stas expressões de São Paulo compreendem-se perfeitam ente, desde que procurem os saber o que nos querem ensinar, isto é, que nos tornem os, sob

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CAP. I I. O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 33

ç> influxo de um a vida santa, m embros de Jesus Cristo.

A fibra, o osso, a artéria , o nervo, os membros todos do corpo sepultam -se na m orte, quando o Corpo está m orto e o Chefe cerrou os olhos.

M as, se o Chefe ressuscita, cada mem bro também ressuscita: o nervo, o osso, a artéria revigoram - se. E is por que o Batism o nos sepulta, a nós, órgãos do Corpo de Cristo, com Cristo m orren­do por nós; eis por que nos ressuscita com Êle: encerrando-nos nfele, como nossas veias, nossa car­ne e nossos ossos estão em nós, obrigados a parti­cipar do nosso destino, sem se poderem sub trair!

D esde logo, compreende-se que, por um a conse­quência perfeitam ente lógica, tudo que é de Cristo é nosso. Sua m orte é nossa morte, pois, unindo- nos ao seu Corpo M ístico, Êle comunica-nos todos os frutos de sua m orte; sua ressurreição é nossa ressurreição, pois participam os atualm ente de sua vida ressuscitada; sua ascensão é nossa ascensão, pois, membros que somos, seguiremos autom atica­m ente a cabeça para onde ela reside, para o c é u ; seu sacrifício eucarístico, renovação m ística de sua m orte, que é a nossa, é, 'como veremos na conti­nuação desta obra, “nossa” Missa.

Estamos em Jesus CristoAgora nos é fácil com preender a nossa situação

de fiéis batizados e em estado de graça, em rela­ção a Jesus Cristo.

Somos seus membros “enxertados nÊ le” , “se­pultados com Êle” , como as vértebras, as fibras, os nervos estão integrados nas profundezas de nossa carne. Assim unidos a Êle, participam os de sua vida própria, porque seu E spírito circula da Cabeça divina para os membros que a ela ade­rem, como circula em m inha mão, em meu estô­

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mago, em meus pulmões e em todos os órgãos enT cerrados em mim o influxo vital, proveniente de m inha alma.

Desde êsse momento, propriam ente falando, nós estamos em Cristo Jesus.

E sta expressão volta a cada passo sob a pena de S. Paulo . Este C risto Jesus de quem fala o Após­tolo, não é simplesmente Jesus Salvador, em sua existência terrestre , mas Cristo Jesus C hefe glo­rioso da Ig reja , Chefe mistico, que abrange ca­beça e membros, cepa e ramos, verdadeiro templo do E spírito Santo que o anima.

E m Cristo Jesus! E is em quem vivemos! “Quem perm anece em m im ”, isto é, um membro que ade­re ao Chefe, “dá fru to , porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15, 5.)

E m Cristo Jesus! isto é, im ersos 110 in terior do Corpo Místico, como um órgão, minúsculo tal­vez, m as vivo e operativo, somos infinitam ente hon­rados em partic ipar da intim idade real do Reden­to r e G lorificador eterno da Santíssim a Trindade.

Só 110 céu terem os conhecimento da perfeição e da intim idade desta união dos membros com seu Chefe, "em Cristo Jesus” .

A união de meu coração ou de meu dedo à mi­nha pessòa dá apenas um a idéia disto : com efei­to, a ligação de m inha mão é natural, física, tem­porária, e realiza-se sob a dependência de uma alma de poder lim itado; ao passo que a união do fiel com seu Chefe, ao Corpo Místico, é sobre­natural, divina, de um a realidade perfeita como tudo que é divino, operado sob a dependência do Espírito criador e vivificador, destinada a perdu­ra r sem pre no am or, na graça, na v irtude e, em breve, na felicidade in f in i ta .. .

O corpo hum ano, cabeça e membros, do qual S. Paulo se serve para fazer com preender o Cristo

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místico, é um a imagem que, longe de ultrapassar o que explica, fica muito aquém da realidade. Daí se pode deduzir o sentido profundo contido nes­tas palavras que tantas vêzes, talvez, ouvimos sem grande emoção: “Sois o corpo de Cristo e indivi­dualm ente seus mem bros.” (1 Cor 12, 25.)

Conclusões práticasA ntes de falar, no capítulo seguinte, do grande

ato que completa Cristo místico, a celebração do Sacrifício infinito, tirem os logo as conclusões que naturalm ente se deduzem das grandes verdades que acabam de ser enunciadas.

1) Recordemos a célebre palavra de São Leão M agno: “Reconhece, ó cristão, tua dignidade e, tendo-te tornado participante da N atureza divina, evita vo ltar à baixeza de o u tro ra po r um proce­dim ento degenerado. Recorda-te de que Cabeça e de que Corpo és m embro.” 1

E sta é a razão por que devemos respeitar nossa alma e nosso co rp o ! . . . por que não devemos m an­char nosso espírito por m aus pensam entos, por lei­tu ras im o ra is! . . . por que não devemos entregar nossos membros a atos culpáveis!

Q uantas pessoas há que, se tivessem sem pre p re ­sente ao espírito o pensam ento de que são mem­bros de Cristo, fugiriam até da som bra do peca­do, segundo o conselho de S. Paulo: “Abstende- vos até da aparência do m al.” (1 T ess 5, 22.)

2) N ada receemos tanto como ser arrancados do Chefe. “O cristão nada deverá recear tanto co­mo ser separado do Corpo de Cristo.” 2 Dá-se, en­tão, verdadeiram ente a m orte, porque, desde o m o­mento em que o m embro é apartado de Cristo, não está mais em comunicação com o Chefe e não re ­

CAP. H . O CRISTÃO, M EM BRO D E CRISTO 35

1) São Leão Magno, Sermão 1. de Nat. Dni.2) Aug. Tract. in Jo 27 p. médium.

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P R IM E IR A P A R T E

cebe mais o E spírito Santo, que é a fonte da g ra ­ça e da vida sobrenatural.

Santo A gostinho explica adm iravelm ente esta necessidade de aderir ao Corpo de C risto para dê- le receber a vida e o espírito: “Só vive da alma de C risto o Corpo de C ris to . . . queres tu também viver da alm a de C risto? Perm anece no Corpo de Cristo.”

E mais adiante o grande D outor acrescenta: “O meu corpo vive acaso de tua alma, e teu corpo da m inha? Do mesmo modo o Corpo de C risto só pode viver da alm a de C r is to . . . Assim , pois, ape- ga-te ao Corpo de Cristo, vive de Deus para D e u s . . . eis o que é belo, oportuno, salu tar.”3

Se compreenderm os estas belas palavras de S an­to Agostinho, não haverá para nós receio m aior que o de perder o contacto de Cristo. Repitamos hum ildem ente as palavras que a Ig re ja nos faz repetir em cada S. Missa nas orações que prece­dem à Comunhão: “N ão perm itais, Senhor, que me eu separe jam ais de vós.”

3) Se quiserm os apreciar cada dia mais, no devido valor, nossa qualidade de m embros de Cris­to, trabalhem os com tôdas as fôrças para estre itar os laços que nos unem a êste Chefe adorável, procurando nossa perfeição pessoal, e esforcemo- nos por recru tar-L he novos membros, exercendo o apostolado: perfeição pessoal e apostolado! Na medida com a qual tenderm os a êste duplo fim, es­tim arem os nossa grandeza e dignidade, segundo a palavra de Santo A gostinho: “Os fiéis conhe­cem o Corpo de C risto, quando não deixam de es- forçar-se para se r o Corpo de Cristo.”4

4 ) O mais precioso resultado do nosso conheci­mento do Corpo Místico será nossa colaboração,

3) Aug. Tract, in Jo 26 p. med.4) Aug. ibidem.

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CAP. m . O M EM BRO SE O F E R E C E 37

cada dia mais perfeita, ao santo sacrifício da M is­sa. O ato essencial da religião, a homenagem que Cristo repete tan tas vêzes à Santíssim a Trindade, em v irtude de nossa “ incorporação” a Cristo, não se pode efe tuar sem nós. As páginas que vão se­guir terão justam ente por escopo m ostrar que a S. Missa c “nossa” M issa, porque, com Jesus Sa­cerdote, somos na S. M issa sacrificadores e víti­mas.

C A P ÍT U L O I I I

O MEMBRO SE OFERECE E SACRIFICA COM O CHEFE

É O "CRISTO TOTAL", ISTO É, UNIDO A SEU CORPO MÍSTICO. QUE "OFERECE" O SANTO SACRIFÍCIO.

ÊSTE MESMO CRISTO SE OFERECE TOTALMENTE. IS­TO Ê, OFERECE-SE A SI PRÓPRIO A DEUS E OFERE­CE JUNTAMENTE SEU CORPO MÍSTICO.

POR CONSEQUÊNCIA. O FIEL, MEMBRO DÊSTE CORPO MÍSTICO, "OFERECE" DE SUA PARTE, COM CRISTO O SANTO SACRIFÍCIO A DIVINA MAJESTADE, E É, POIS, "SACERDOTE" COM CRISTO.

DE SUA PARTE. O FIEL TAMBÉM “SE OFERECE” COM CRISTO A MESMA INFINITA TRINDADE E fi “VITI­MA" COM ÊLE.

Quem é o sacrificador na Santa Missa?Bem erroneam ente imaginam alguns que Jesus

Cristo, sumo Sacerdote do Altíssimo, não apela pa­ra o nosso concurso, a fim de executar a imolação do altar.

Evidentem ente, seu próprio Corpo e verdadeiro Sangue, derram ado no Calvário, estão presentes sóbre a lta r na Santa M issa ; mas Jesus Cristo, Su­mo Sacerdote, não oferece êstes dons infinitos sem n ó s ; e da mesma form a não prescinde de nós, mem­bros de seu Corpo Místico, para p restar o culto de suprem a homenagem à Santíssim a Trindade.

O ra, como vimos no capítulo precedente, Cristo criou para si, pelo Batismo, membros, que a Con­firm ação aperfeiçoou. A lguns destes m embros par-

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ticipam de unia m aneira muito íntim a e oficial do seu sacerdócio, pelo sacram ento da O rdem , e o E spirito de caridade, a alm a viva e vivificadora da Ig reja , Corpo M ístico de Cristo, nêles habita, enquanto não se separam do seu Chefe pelo peca­do grave.

Êstes membros, unidos à Cabeça como o galho ao tronco, participam inevitavelm ente da vida dês- te C hefe e a Êle estão unidos em tôdas as fun­ções sacerdotais. Assim, pois, no momento em que Cristo exerce seu sublime m inistério, rentJVando a oferenda do Sacrificio cruento do Calvário, e apre- sentando-o de novo à Santíssim a T rindade em uma homenagem infinita, Êle não está nem pode estar separado de nós, dos sacerdotes, em prim ei­ro lugar, e, em seguida, dos fiéis.

Santo A gostinho di-lo claram ente: “O sacrifí­cio dos cristãos consiste em form ar um só Corpo com Jesus Cristo.” 1 Jesus e seus membros, isto é, o C risto Místico, eis o verdadeiro sacrifica­dor na S anta M issa!

P ortan to , desde o momento em que êste “che­fe incom parável” uniu a si outros membros, não lhe é mais possível p restar, sem êles, culto à di­vina M ajestade, assim como não nos é possível desem penhar qualquer de nossas obrigações, dei­xando alguns de nossos órgãos em casa.

Como se efetua a oblação pelo Corpo Místico, na Santa Missa

Aqui desperta naturalm ente um a objeção no es­pírito do le ito r:

Após a consagração, só o Corpo e o Sangue de C risto é que estão no altar, sob as espécies sa^ cram entais. O sacram ento da E ucaristia contém o “Chefe” do Corpo M ístico ; mas é evidente que não

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1) Cidade de Deus, 1. 10, c. 20.

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CAP. I II . O M EM BRO S E O F E R E C E 39

contém nenhum dos seus membros. Como é então possível estar Jesus C risto presente na hóstia e no cálice sem seus fiéis, e os fiéis tom arem parte real e eficaz na celebração da Santa M issa?

A resposta a esta objeção é fácil: Realm ente só C risto está presente no a lta r ; é incontestável. M as esta presença do chefe está ligada à ação de seus m embros, e isto de duas m aneiras:

1) A oblação da S anta M issa é feita pela Ig re­ja inteira, isto é, pelo Corpo Místico unido ao seu Chefe. A Ig reja declara expressam ente e em vá­rias asserções que esta oblação de Cristo é sua oblação: "N ós oferecem o-Vos, Senhor, êste cáli­ce da s a lv ação .. . ” 2 “Q ue nosso sacrifício Vos se­ja a g r a d á v e l .. .” 3

Se Jesus Cristo, pois, se sacrifica sôbre o altar, é todo o Corpo M ístico unido a Êle que O imola e oferece a seu Pai. A presença sacram ental que re ­sultará só para o chefe, é inseparável do sacrifí­cio oferecido pelo Cristo total.

2) Cristo, o único presente no a lta r depois da consagração, a tu a . como “Cristo to tal” unido a tôda a Ig reja , que é seu complemento indispensá­vel e inseparável. P o r isso podemos dizer logo após a elevação: “Nós oferecem os à Vossa divina M ajestade o dom que de Vós recebem os.. . a pão sagrado de v id a . . . e o cálice da salvação eter­na.”4 “ Nós todos, participantes neste a l t a r . . . que sejam os repletos de tôda a bênção.”5

Tôda a L iturg ia da S. Missa, como veremos a seguir, vem confirm ar a existência desta ação co­mum do Chefe e dos membros.

2) Ordinário da S. Missa. Oblação do cálice.3) Ibid. Oração antes da bênção.4) Ibid. Cànon.5) Ibid.

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P R IM E IR A P A R T E

N a verdade, é o Cristo M ístico que, por inter­médio de seus mem bros sacerdotes, oferece o santo Sacrifício do Calvário, em união com todos os seus membros.

Nós, simples fiéis, m embros do Corpo M ístico de Cristo, estamos, pois, intim am ente associados ao sacerdócio de Jesus Cristo, soberano Pontífice, já que pelas mãos dos sacerdotes nós mesmos o fere­cemos a oblação s a n ta !

P or isso é que S. Pedro cham a o povo cristão “ raça eleita, sacerdócio real” . (1 Ped 2, 9.) E ain­da: “ Sacerdócio santo, encarregado de oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus." (1 Ped 2, 5.)

E is por que S. João, no Apocalipe, exclama: “Cristo fêz-nos sacerdotes de Deus, seu Pai.” (A poc 1, 6.)

Assim a unção sacerdotal que penetra o Cristo total e o torna sumo sacerdote, espalha-se e des- lisa "como um arom a que desce da cabeça para a barba de A arão” (S I 132), espalhando-se com abun­dância e eficácia po r todos os membros do Corpo Místico, conform e são elevados às funções do cul­to, como tão vivamente o explica Santo Agostinho: “ Nosso Senhor, nosso Chefe, foi ungido, e tam ­bém seu Corpo, que som os nós.”°

Q ue doce e consoladora v e rd a d e ! Eu , pobre a l­ma cristã, tão ignorada e tão fraca, estou intim a­mente’ associada à m aior ação que se possa realizar neste m u n d o ! . . . eu, de m inha parte, sou cau­sa para êsse a to ! . . . contribuo eficaz e pessoal­mente para a glória da Santíssim a T rindade e pa­ra a salvação do m u n d o ! . . .

6) In Ps. 26.

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CAP. III . O M EM BRO SE O F E R E C E 41

Qual a medida de nossa parte pessoal no papel de sacrificador?

Evidentem ente, os m embros que, unidos a Cris­to, apresentam a oblação, não possuem todos o mesmo papel que o Chefe: Êle naturalm ente exer­ce a função principal e os sacerdotes têm o po­der maravilhoso de consagrar, mas os simples fiéis só cooperam com a oferenda, na m edida de sua im portância no Corpo M ístico; mas, de qualquer modo, cooperamos com ela.

Q uando um réu se lança aos pés de seu juiz para abrandá-lo, os joelhos do suplicante não têm o mesmo poder para im plorar que suas mãos, as mãos o mesmo poder que a bôca, a bôca o mes­mo poder que o coração. E , no entanto, o ser in­teiro, pés, mãos, cabeça, concorrem para to rnar eloquente a súplica.

O mesmo se dá com o Cristo M ístico g lorifican­do e im plorando a augusta M ajestade. É "Êle todo” que oferece, isto é, Êle com todos os seus membros, Cristo, Cabeça e Corpo M ístico, que se eleva para render à Santíssim a T rindade a ho­menagem infinita. O poder de sua súplica recebe alguma coisa de cada um dos membros que implo­ram com Êle. P o r m ínima que seja a ação de al­guns dêsses membros, não deixa, todavia, de con­co rrer para o efeito total.

A parte que temos nesta homenagem é, portait- to, v a riáve l; é proporcionada à im portância rela­tiva que cada um de nós ocupa no Corpo M ístico, e esta mesma im portância depende ainda do pa­pel que desempenhamos na Santa Ig re ja e da in­tensidade de vida sobrenatural que em nós circula.

Como na unidade da Igreja , Corpo M ístico de Cristo, as funções variam indefinidam ente; cada membro, conform e os próprios dons espirituais e o g rau de caridade e de união com a Cabeça, coo­

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pera mais ou menos na oblação. M as todo mem­bro vivo de Cristo, seja qual fô r sua ação, “ce­lebra” com Cristo.

Cada fiel pode, pois, com tôda a verdade di­zer “m inha” Missa, porque Jesus C risto quis que ela fôsse nossa desde o dia em que associou os fiéis como m embros de seu Corpo M ístico.

Reflitam os nestas m aravilhas, invisíveis aos nos­sos olhos, porém reais, quando nos aproxim am os do altar, no qual oferecem os com Cristo, em Cris­to e por Cristo, o perfeito Sacrifício.

Se tivéssemos consciência de ser, também de nos­sa parte, sacrificadores, não teríam os sentim en­tos da mais viva piedade ao assistirm os à Santa Missa ?

N ão teríam os desejo de conhecer m elhor a San­ta Missa, seus ritos, suas orações, e tôda a sua sig­nificação, a fim de poder oferecer digna e copio­sam ente o nosso Sacrifício?

A vítimaO s que têm propensão para acred itar que Cristo

oferece sozinho o sacrifício da S. M issa, pen­sam logo que Êle se oferece sozinho a seu Pai no altar. É um êrro. Assim como o Sacerdote do sacrifício da S. M issa é C risto M ístico, também a vítima é Cristo Místico.

Cristo, Cabeça e membros, oferece; Cristo, Ca­beça e membros, se oferece. Se Êle não pode se­p a ra r de si os membros para oferecer, também Lhe é preciso conservá-los para se oferecer. E is como nós, membros de Cristo, temos a honra imen­sa e desconhecida por tantos fiéis, de ser vítimas com Êle no santo sacrifício da Missa.

S. Paulo explica-nos esta verdade por uma ex ­pressão adm irável: “ Completo em m inha própria carne o que fa lta aos sofrim entos de C risto quanto ao seu Corpo, que é a Ig re ja .” (Col 1, 24.)

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CAP. m . O M EM BRO S E O F E R E C E 43

E ntão ainda falta a Cristo algum sofrim ento? P a ra o resgate, é certo que não. Como Chefe, so­freu tudo que podia so fre r de dores, ainda que a mínima dentre elas teria sido suficiente para o res­gate do m undo . . . M as, se a Cabeça pagou su- perabundantem ente a dívida in finita para com a divina M ajestade, os mem bros de C risto devem ainda sofrer, a fim de que ha ja harm onia entre os membros e a Cabeça. Em todo corpo bem regu­lado reina en tre os órgãos e a cabeça, e entre os próprios órgãos, um a perfeita correspondência: as­sim deve dar-se o mesmo en tre a Cabeça do C or­po Místico e seus membros, para que Cristo seja uma vítima "com pleta” .

A Igreja , que c o “com plemento” de Cristo, de­ve viver da vida de seu Chefe e com partilhar sua sorte. Portan to , se a cabeça sofreu como vítima e cada dia repete sua oblação, a fim de perm itir-nos a com participação, os membros também, para asse­m elharem-se ao Chefe, devem suportar, em união com Êle, uma certa cópia de sofrim entos, sob pe­na de se separarem dÊle, recusando-se a colaborar no seu Sacrifício.

N a verdade, quem recua ante as m ortificações indispensáveis, impostas pela p rática sincera da fé cristã, por exemplo, o rar, je juar, san tificar o domingo, g uardar a castidade em seu estado, fu ­g ir das ocasiões de pecado, etc., não sofre com Cristo, separa-se dÊle, como um ram o destacado do tronco, e cessa de celebrar o Sacrifício com o Corpo Místico, porque, de sua parte, recusa ser também vítima.

Pelo contrário, os m embros que generosam ente harm onizam com a Cabeça, encontram nesta união a m aravilhosa vantagem “de com pletar em sua própria carne o que falta aos sofrim entos de Cris­to.” N a realidade, em um corpo norm al, as dores

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de um mem bro afetam todo o organism o: “Q uan­do um membro sofre , todos participam de sua pe­na.” (1 Cor 12.) O Chefe sofre, pois, conosco, não na hipótese de que so fra atualm ente nossas dores, mas porque “as toma como próprias” . E is o motivo por que os sofrim entos dos m embros são na verdade os de Jesus Cristo, seu Chefe, pois Jesus vive naqueles que são dêle, e por isso pode- se dizer com S. Leão, “que a paixão do Salvador se prolonga até o fim dos tem pos”7, isto é, enquanto uma parte do Corpo M ístico so fre r neste mundo.

M as como pode Cristo Chefe, atualm ente glorio­so, “ to rnar seus” os atuais sofrim entos de seus membros para “com pletar sua Paixão” ?

Porque os sofrim entos, quotidianam ente acres­centados pela Ig re ja ao sacrifício que o Coipo Místico oferece na Santa M issa, form am para a paixão um complemento esperado por Cristo mesmo.

Com efeito, no momento de sua m orte na Cruz, conhecendo o Salvador cada um de seus membros fu turos, oferecia-se com êles e oferecia-os con­sigo em seu pensam ento como um a homenagem volutariam ente completa à divina M ajestade. Mas eis que cada dia esta homenagem prevista e dese­jada por Cristo, esta oferenda profética de nossos próprios sofrim entos e m ortificações cristãs se efe­tuam realm ente: as previsões do Chefe realizam- se no domínio dos fatos pelos sacrifícios atuais de cada um de seus membros. Assim é que, propria­mente falando, cada um de nós, oferecendo-se com C risto na S. M issa, "completa o que fa lta à sua Pa ixão” .

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7) D’Allioli, Com. ad Col 1, 24.

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O Corpo Místico é, pois, vítima do sacrifício

E sta noção da “V ítim a M ística" oferecida no a lta r pelo chefe adorável está ho je m uito esqueci­da pela piedade, que nela teria um alim ento sólido e inesgotável. A atenção dos fiéis, por não se d iri­g ir bastante para estas verdades fundam entais, dis- trai-se com as m inudências, que são apenas conse­quências distantes dos grandes princípios teoló­gicos.

Os prim eiros cristãos, na escola dos Padres da Igreja , viviam, mais do que nós, desta grande idéia de união ao Corpo M ístico; ouviam p regar sem­pre sôbre esta grande verdade e eram levados a ti­ra r as consequências práticas dela decorrentes.

Santo Agostinho não cessava de explicar aos fiéis a vida cm Cristo. Êste Corpo M ístico, — diz êle, — é a vítima oferecida a Deus como homenagem perfeita : “Como a Ig re ja é o corpo dêste Chefe adorável, aprende dÊ le a oferecer-se a si mesma por meio dÊle”8. O Corpo de C risto se oferece, pois, por meio de sua Cabeça. A Cabeça encerra a pa­lavra, o pensamento, a vontade, e todos os mem­bros aprendem dela a se oferecer com ela como uma vítim a única, partícipe de tôdas as grandezas do Chefe.

Em outro capítulo do mesmo livro, o grande D outor diz: “T ôda a cidade resgatada, isto é, a Ig re ja e a sociedade dos santos (o que significa o Corpo Místico in teiro) consiste no sacrifício un i­versal, oferecido a Deus pelo Sum o Sacerdote.”9

O Corpo M ístico, pois, é o “ sacrifício univer­sal” . E sta verdade perm ite-nos agora com preen­der a adm irável palavra de S. Paulo: “Suplico-vos, meus irm ãos, que ofereçais a Deus vossos cor­

CAP. I II . O M EM BRO SE O F E R E C E 45

8) Sto. Agost. Cidade de Deus, 1. 10, c. 20.9) Ibid, 1. 10, c. 6.

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pos como um a hóstia viva, santa, agradável a D eus.” (R om 12, 1.)

É esta idéia da co-oblação dos mem bros do Corpo M ístico como vítim as com seu Chefe, que a Ig re ja exprim e em certas orações que lemos na Santa M issa. P o r exemplo, na secreta da M issa do bem -aventurado G rignion de M o nfo rt: "Q ue o bem -aventurado L uís M aria V os faça agradável, ó meu Deus, nossa oferta , já que se imolou sem­pre como uma hóstia viva e agradável.” E sta ou tra não c menos significativa: “ Senhor, que êstes mis­térios de Vossa paixão nos dêem o fervor celeste com o qual S. Paulo, ao oferecê-los, imolava seu corpo, como vítima santa, viva e agradável.” 10 Não se pode a firm ar mais nitidam ente a cooperação dos membros que, como vítimas, celebram o santo sacri­fício.

Fazem os parte dêste Sacrifício infinito, ofere­cido diariam ente por nossa cabeça, mas a título de membros que oferecem e que se oferecem , sa­crificadores e vítim as, proporcionalm ente à nossa vida sobrenatural e à nossa união a Cristo. “Je ­sus Cristo, — diz Santo A gostinho — se oferece à Santíssim a Trindade e neste oferecim ento inclui todos os santos como seus membros, e os santos se oferecem juntam ente com Jesus Cristo, seu Che­fe. E é por êste m istério adm irável que Jesus Cris­to é, em sua pessoa e em seus m embros ao mes­mo tempo, a V ítim a perfeita e o Sacerdote e ter­no.” 11

U m cristão, ao qual é revelado êste “adm irável segrêdo” , poderá assistir, ind iferen te como um estranho, ao santo sacrifício da M issa?

10) Secreta de S. Paulo da Cruz.11) Sto. Ag. Cidade de Deus, 1. 10, c. 6.

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CAP. m . O MEMBRO SE OFERECE 47

Nossos sacrifícios e o SacrifícioE sta noção que acabamos de expor, acerca da

vítima do santo sacrifício da Missa, deve auxiliar- nos a com preender um a outra noção, a dos nossos sacrifícios.

Q uantas alm as piedosas imaginam erroneam ente que suas mortificações, privações, sofrim entos, têm valor intrínseco, isto é, por si m esmos? Êstes cristãos, pouco instruídos, pensam que Deus se sa­tisfaça e lhes seja reconhecido pelo que se “dig­nam ” oferecer-Lhe. Ignoram que seus próprios m éritos são menores aos olhos de Deus do que se­riam os de um a form iga aos nossos olhos: por si mesmos seus sofrim entos nada valem.

P o r que meio, então, estas penas poderão adqui­rir algum valor e assum ir aos olhos de Deus ca­rá te r de “sacrifícios” ? Som ente incorporando-se ao Sacrifício único, ao do Salvador Jesus. E stas m or­tificações só são agradáveis à Santíssim a T rin d a­de, “se completam o que fa lta à Paixão de Cris­to" ; C risto c “o Santo único, o único Senhor, o único Altíssim o” , o único Ser que tem “direito de apresentação” ante a soberana M ajestade de Deus. O mínimo dos sofrim entos de Cristo tem valor infinito, os de outrem nada valem sem êle.

É necessário, pois, que nossas penas pessoais scjain por nós sofridas, “enquanto somos mem­bros de C risto” unidos à Cabeça e por êsse meio cooperamos em sua grande oblação. Se são incor­poradas ao Sacrifício de Cristo, nossas privações têm o direito de se cham arem sacrifícios, têr- mo que indica abertam ente que tomam parte na homenagem única de louvor e de reparação, e que o seu fim c com pletar no Corpo Místico o que falta à Paixão do Salvador.

O ra, êste Sacrifício de C risto renova-se para nós na S. Missa. O Chefe adorável reproduz ex-

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plicitam ente sua oferenda, que aum enta d iaria­mente pelos complementos que lhe proporcionam os sofrim entos de seus membros. Coinpreende- se facilm ente que é na S. M issa, e por ela, que nossos sacrifícios podem te r propriam ente o nome e o aspecto de “ sacrifícios” . A vida cristã com suas provas evolui, mesmo sem o percebermos, em tôrno da Santa M issa, tem por causa a S anta M is­sa, c é coroada de êxito pela oblação que dela faz C risto na Santa Missa. E isto é lógico: o Corpo M ístico de Cristo só existe, como seu Chefe ado­rável, para p restar pela S. M issa a homenagem de glória suprem a a Deus.

A h ! quantos fiéis desconhecem esta im portân­cia de sua Missa, na própria existência pessoal? Sem o conhecerem, é verdade, gozam dos fru to s do Sacrifício, porque estão unidos a C risto pela g ra ­ça e pela p rática das virtudes que acarreta mil privações e m ortificações cada d ia : assim, c ver­dade, honram o eterno Pai e oferecem -Lhe por meio de C risto suas penas. M as quantas vêzes vão bus­car Jesus Cristo, onde Êle é apenas representação, num a imagem, num a fórm ula, num gesto piedo­so, enquanto, negligentes, esquecem mesmo de ir procurá-Lo, onde atua pessoalmente com seus mem­bros e por êles, no santo sacrifício da M issa!

Por que meio podemos aumentar nossa participação na missa,

# como sacrificadores e vítimas?O meio consiste em aum entar nossa união com

C risto. Q uanto mais um fiel possui o espírito de C risto, pratica suas virtudes, se dedica aos inte- rêsses da glória da Santíssim a Trindade, em su­ma, quanto mais faz sacrifícios em união com seu Chefe, tan to m aior parte tem na oblação e me­lhor celebra sua Missa.

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CAP. I II . O M EM BRO SE O FE R E C E 49

De tôdas as alm as unidas a C risto na hom ena­gem infinita do Calvário, quai foi a que mais co­laborou para a oferenda do seu sacrifício? Foi, evidentemente, a que mais sofreu com Êle, a San- tissima Virgem M aria.

M aria Santíssim a tinha tais direitos, po r sua m a­ternidade divina, para ser a C o-redentora do gê­nero hum ano que, mesmo sem sacrifícios, teria merecido êsse título ; Nosso Senhor, que teria podi­do, também Êle, salvar-nos sem sofrim ento, quis que M aria SS. seguisse a mesma lei. P o r isso exi­giu que sua participação na "prim eira M issa so­lene” , no Gólgota, fôsse proporcional à cópia de am arguras que suportaria aos pés da Cruz.

E que am arguras ! "Som os obrigados — ex­clama S. Bernardo — a proclam ar mais que m ár­tir Aquela cujo coração terníssim o sofreu dores que excedem a tudo que os sentidos corporais ja ­mais suportaram .” 12 E is por que M aria, que foi a vítim a mais perfeitam ente unida a C risto V íti­ma, é ao mesmo tempo A que L he está mais in­tim am ente unida na oblação de homenagem infi­nita do Sum o Sacerdote.

O s grandes Santos, por sua vez, tam bém , acu­m ulando seus sofrim entos, unem-se tão intim a­mente ao Chefe adorável na oferenda do Calvário renovada em nossos altares, que várias vêzes Deus imprimiu visivelmente na carne de alguns dêles os sagrados estigmas da Paixão, para m ostrar até que ponto eram vítim as com Cristo, e como p arti­cipavam em sua oblação.

O ue vasto horizonte se abre diante de nós! Nós também podemos tornar-nos “sacrificadores” , im­portantes reparadores dos direitos de Deus, ado­

12) S. Bernardo, "Sermo de duodecim stellis”.

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radores perfeitos da Santíssim a T rindade, cola­boradores ativos para o resgate de nossos irmãos. E po r que meio? V ivendo unidos ao Corpo M ís­tico de C risto pela caridade, intensificando sem pre mais em nós seu Espírito pela prática da virtude e da perfeição cristã, aceitando alegrem ente todos os sacrifícios exigidos para a realização do ideal cristão.

D êste modo, progredindo em união de vontades, de sentim entos e de ideal com o Sacerdote Chefe, seremos sem pre mais associados em seu sacerdó­cio na homenagem infinita que Êle rende à Santís­sima T rindade. >

Conclusão: aqueles que são celebrantes da missa, e aqueles que o não são

Todo fiel em estado de graça é concelebrante com Cristo, sendo o Cristo total inseparável de seus membros.

M as o valor dessa concelebração está sujei­to a múltiplas condições que o tornam diversam en­te apreciável. Êsse valor depende, pois:

1. da intensidade da caridade que anim a o cora­ção de cada um dos membros de Cristo. Q uan­to mais se am a ao chefe, mais estreitos são os laços de união com Êle e, portanto, mais perfeita é a cooperação.

2. da assistência ao santo sacrifício. É certo que tôda a Igreja , e, por conseguinte, qualquer mem­bro de Cristo, participa, de modo geral, de tôdas as M issas, mesmo daquelas às quais não assiste. M as a participação pessoal é incom paravelm ente m aior que a cooperação universal, porque a assis­tência à Santa M issa perm ite uma co-oblação di­reta, ativa, vo luntária e, daí, muito m eritó ria ;

3. da intenção. Q uanto mais determ inada e atual fô r a intenção, mais ativa se tom a a concelebra­ção. P o r exemplo, o fiel que segue sua Missa,

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unindo suas orações às do sacerdote, identifican­do a própria vontade com a dêle, celebra sua M issa, mais eficazm ente que o cristão, que, mesmo em es­tado de graça, assiste ao santo Sacrifício, meio dis­traído, balbuciando algum as orações vocais para passar o tem po;

4. do desejo de assistir ao santo sacrifício. A ausência, desde que não resulte de negligência, mas de real impossibilidade, pode ser suprida pe­lo desejo de assistir ao santo Sacrifício. Do mesmo modo os fiéis que amam deveras a Cristo, e cuja piedade não se sente satisfeita com a celebração de sua única M issa de cada manhã, e não podem seguir duas ou três, poderão sup rir esta impos­sibilidade, unindo-se m entalm ente a tôdas as M is­sas que se celebram naquele dia. É este o meio eficaz de uma participação perpétua na grande ho­menagem de C r is to . . .

Ao lado dos fiéis que celebram sua M issa real e intencionalmente, há cristãos infelizes que dela participam só m uito im perfeitam ente! A h ! são os pobres pecadores, separados do Corpo M ístico pe­lo pecado mortal.

Êstes “ rám os m ortos” não têm mais a graça de Cristo, já não recebem a s e iv a .. .

E por esta razão será a M issa completamente inútil para êles? Pelo con trário ; mas é preciso que a ela assistam como veremos mais ad ian te13. Se o Santo Sacrifício não é sua M issa, ao menos é a grande intercessão de C risto para os pecadores. A assistência à Santa M issa é para êles o mais precioso penhor da sua reabilitação.

CAP. m . O M EM BRO SE O F E R E C E 51

13) 2.* parte: cap. 3.

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C A P ÍT U L O IV

A S. MISSA, OBLAÇÃO DO CRISTO MÍSTICOAS VERDADES CONTIDAS NOS CAPÍTULOS PRECEDEN­

TES ESTAO PATENTEADAS NA PRÓPRIA LITURGIA DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA. QUE ASSIM AS VEM CONFIRMAR SOLIDAMENTE.

A S. Missa é a cena vlsivel da oblaçãoT ôda a doutrina exposta desde o princípio dêste

volume tem sua aplicação concreta e sua realiza­ção na celebração da Santa M issa. É no a lta r que se renova o Sacrifício do Calvário, é no a lta r que a oblação incruenta, mas real, se reitera por inter­médio do Cristo místico.

M as para a S. M issa pôr em cena a oblação mís­tica, deve conter em seus ritos e nas fórm ulas que usa a expressão sensível dos acontecimentos sobre­naturais que renova. J á que realm ente oferecemos a homenagem suprem a, nós os membros, com nosso Chefe, Sum o Sacerdote, como poderíam os exer­cer nosso papel de sacrificadores e de vítim as, se ês- te não se patenteasse no decurso da santa oblação do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo?

É por isso que a Ig re ja não deixou de nos assi­nalar em têrm os precisos nosso papel no exercício do sacrifício do altar. U m a leitura aten ta das o ra ­ções e das cerim ônias da S. M issa m ostrar-no-lo- á. Às provas doutrinais enunciadas nos capítulos precedentes, a san ta L itu rg ia , cuja autoridade está acima de qualquer contestação, deverá acrescentar um a confirm ação prática e, por assim dizer, palpá­vel.

Nosso estudo lltúrg-lco tlmltar-se-á & demonstração desejada

N ão é possível pretender aqui um estudo com­pleto da liturgia da S anta M issa. L ivros adm iráveis têm sido publicados, aos quais os fiéis, desejosos de conhecer a história da S. Missa, a significação

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de cada uma de suas orações, o modo de acom- panhá-la, poderão recorrer com vantagem.

O presente volume tende a um fim mais restrito : m ostrar ao m embro do Corpo M ístico, isto é, ao fiel em estado de graça, que a oblação de Cristo é "sua” Missa. Som ente nas partes em que ela faz resplandecer esta verdade será a L iturg ia evocada no curso das linhas que seguem.

Q uando os fiéis tiverem claram ente percebido que a Missa de C risto é “sua” Missa, quando ti­verem bem com preendido o valor de sua coopera­ção pessoal na homenagem infinita, terão a verda­deira noção do Sacrifício do altar, sentir-se-ão mais vivam ente impelidos a ap ro fundar suas m aravilhas, porque possuirão neste caso o verdadeiro fio con­du to r para seguir com proveito os au tores que abordam o assunto.

O que nos mostrará a liturgia da missaA s fórm ulas e os ritos da Santa M issa nos fa ­

rão reconhecer ao vivo quatro verdades:1." que os mem bros de C risto oferecem com Ê le;2.° que êstes membros se oferecem com Êle;3.” que o sacerdote visível e secundário, ao a ltar,

é ao mesmo tempo um membro que por sua vez participa da oblação, e é nosso representante oficial e o de Cristo;

4.° que C risto invisível é o Sacerdote Suprem o e principal.

Os têrmos pelos quais nos oferecemos com Cristo

A liturgia da S anta M issa está cheia de expres­sões indicando que a M issa é “nossa", e que ela é nosso sacrifício. U m a delas parece resum ir to ­das as outras. O sacerdote diz, com efeito, vol­tando-se para os fiéis: “O rai, irmãos, para que o

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meu e vosso sacrifício seja agradável a D eus.”1 A Ig re ja não receia repetir que "nós oferecem os" o sacrifício "que é o nosso” à Santíssim a T rinda­de.

E sta verdade fundam ental preside a tôda a oblação.

À o ferta do cálice, o texto é expresso do seguin­te modo: “N ós Vos oferecemos, Senhor, êste cáli­ce da salvação.”2 .

A L iturg ia insiste neste “nós oferecem os” que o sacerdote repete em várias partes: “ Recebei, ó T rindade Santa, esta oblação que nós Vos ofe­recem os. . . ”3 “Suplicam o-Vos que aceiteis êste Sa­crifício que nós Vos o fe recem o s.. . ”4

Não c esta repetição bem significativa? N ão é perm itido, portanto, duvidar de nossa colaboração com o sacerdote ao altar.

A lguns fiéis poderiam , todavia, im aginar que o sacerdote diga “nós” como se dissesse “eu” , por simples m aneira de falar, servindo-se do "plural de dignidade” que c usado, por exemplo, pelo P a ­pa quando se dirige ao m undo católico, ou pelo Sr. Bispo, quando diz: “ Nossos Irm ão c a r ís s im o s .. .”

M as a Igreja , que não adm ite o equívoco e que tem interesse de esclarecer com plena luz esta g ran ­de verdade da cooperação de todo o Corpo M ísti­co na oblação, tomou suas precauções para mos­tra r que êste “nós” abrange tôdas as alm as unidas a C risto pela graça.

Ao ofertório , no momento em que o sacerdote faz a oblação do cálice, a L itu rg ia explica logo êste “nós Vos oferecem os” por meio de um gesto que particulariza sua significação. N as M issas so­lenes o diácono eleva o cálice jun tam ente com o

1) "Orate Fratres.” 2) Oblação do cálice.3) Oferecimento à SS. Trindade.4) Comêço do cânon.

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sacerdote e com êle recita, em voz escutável por ambos, a fórm ula da oblação: “ N ós oferecemo- V o s . . . ” E ste “nós” está, pois, bem no plural: re­presenta duas pessoas, das quais uma, que é o d iá­cono, toma parte na ação san ta em lugar de todos os fiéis.

Além disso, aquele que hesitasse ainda acêrca da pluralidade dêste “nós” encontraria, em alguns outros textos da Santa M issa, os esclarecimentos requeridos. Antes da elevação, m uitas palavras li- túrgicas provam que êste “nós” significa o sacer­dote e todo o povo cristão oferecendo o santo Sacrifício com Jesus C risto, Sacerdote principal. N o memento dos vivos, o celebrante d iz : “Lem brai- Vos, Senhor, dos Vossos servos, pelos quais Vos oferecem os ou êles Vos oferecem esta oblação de nossa s u b m is sã o ...”

Pouco depois, 110 m omento em que estende as mãos sôbre o cálice que vai consagrar, o celebran­te diz: “Suplicamo-Vos, pois, Senhor, que rece­bais favoravelm ente esta oferenda de Vosso ser­vo e de tôda a Vossa f a m í l ia . . .” 5

Não está assim claram ente indicado que o sa­crifício é a obra de todo o Corpo M ístico desig­nada aqui nestes têrm os: “ tôda a V ossa fam ília” ?

Logo após a consagração, como para novam en­te a firm ar em face do próprio Cristo a união de todo o Corpo Místico com seu “chefe incom pará­vel” , ali presente no a ltar, a Ig re ja faz repetir o “nós” , particularizando de propósito o sentido que êle encerra: “ Nós, Vossos servos, e todo o povo s a n to . . . (isto é, todo o Corpo M ís t ic o ) .. . o fe ­recemos à Vossa divina M ajestade o dom que re ­cebemos de V ó s . .

5) "Hanc igitur”.6) Cânon: "Unde et memores.”

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O cânon term ina pelo P a te r noster, nova e so­lene afirm ação da cooperação dos fiéis e de Cristo na oblação. Com efeito, é com ordem do próprio Deus que ousamos dizer: "P ad re nosso.” P o r que esta desculpa: “ousam os d izer” ? E ntão a fór­mula P ad re Nosso é assim audaciosa? Sim, Deus tem um Filho único e êste Filho somos nós unidos a C risto ; c o “Cristo M ístico” . Somos os mem­bros de C risto, portanto, todos nós, unidos à Ca­beça, somos o único F ilho de Deus. N ão somos, ao lado de Cristo, ou tros filhos inum eráveis de Deus, mas somos membros do Filho único, o único que tem as “complacências” , e sem o qual “nada po­demos fazer” (Jo 15, 5 ), nem mesmo recitar o P a­d re Nosso.

Somos, pois, nós, vós e eu, hum ildes fiéis, con­fundidos nas som bras do templo, mas atentos à oblação, ou ainda os ausentes, que unem a sua intenção ao santo Sacrifício, somos todos nós os sacrificadores mui variáveis, isto é, segundo nos­sa condição sobrenatural, nossa piedade, e nossa vontade pessoal.

Em suma, a santa L iturg ia nos dem onstra com evidência que o Sacerdote principal da S. Missa, que oferece pelo m inistério do celebrante, é “ Cris­to M ístico”, Cabeça e membros, no ponto de cres­cimento em que está -no conjunto atual de todos os fiéis. Celebramos, pois, com Êle, cada um se­gundo seu papel, pequeno eni comparação do d Lie, porém grande, glorioso, m aravilhoso e transcen­dente, em relação à nossa natural pequenez!

As prova9 lltúrglcas que mostram que todo o Corpo Místico é vitima com Cristo

Desde que é C risto M ístico que oferece, é Êle que se oferece, pois, no a lta r como no Calvário, o sacerdote e a vítim a são os mesmos.

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Eis por que a Igreja , po r sua L iturg ia , mos­tra visivelmente que estam os intim am ente unidos à V ítima do a lta r e com ela somos oferecidos. E , com efeito, o sacerdote m istura uma gota de água com o vinho. E ssa gota de água somos nós. O u­çamos sôbre êste assunto a S. C ipriano: “A água simboliza o povo c r is tã o .. . po r isso é que nos é proibido, ao consagrar o cálice, o ferecer só o vinho, ou só a á g u a . . . O ferecer o vinho consagrado serh m isturá-lo com água, seria como se C risto pudes­se ser oferecido sem nós; mas, quando o vinho e a água estão m isturados, só então é que se rea­liza a totalidade do sacram ento espiritual e ce­leste.”7

Nós, membros do Corpo Místico, somos co-ví- tim as com nosso Chefe. É po r isso que, logo após a oferenda do pão e do vinho m isturado com água, a Ig reja faz o sacerdote, que fala sem pre em nosso nome, recitar:

“Em espírito de hum ildade e com o coração con­trito , fazei, Senhor, que sejam os aceitos por Vós, e que assim nosso sacrifício seja agradável aos Vossos o lh o s .. . ” .

Se o Cristo C hefe fôsse Êle só a vítim a, te ría ­mos acaso necessidade de pedir que “sejam os aceitos” , e que “nosso sacrifício seja agradável?

Assim a “cabeça incom parável” não se o fere­ce separada de seus membros, mas com todo o Corpo M ístico. Tam bém êle, para que seja “agra­dável” e por isso mesmo “aceito” , deve apresen­tar-se e “oferecer-se” com tôda a hum ildade e con­trição: com tôda a humildade, isto é, aniquilando- se após C risto ; com tôda a contrição, isto é, eli­m inando de si as menores causas de desunião com êle. Desta form a, os m embros do Corpo Místico se­

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7) S. C ipriano, C a rta 63.

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rão certam ente “aceitos” como vitimas, pois são apresentados com seu Chefe, o qual agrada sempre infinitam ente à divina M ajestade.

Foi êste mesmo espírito de hum ildade e de con­trição que ditou as adm iráveis fórm ulas litúr- gicas que são recitadas logo após a consagração e nas quais a Ig re ja suplica ao Altissimo que não atenda às fraquezas de seus membros, mas aos m éritos de seu Chefe, para recebê-la como uma vítima agradável no santo sacrifício da Missa.

E mesmo depois que- Cristo acaba de descer sôbre o altar, as orações sacras tomam um tom surpreendente de súplica, quando se poderiam até esperar, talvez, transportes de entusiasm o: “Dig­nai-vos lançar sôbre estas oferendas, — diz o sa­cerdote — um olhar propício e favorável, e acei­tá-las como aceitastes os presentes de Vosso ser­vo, o ju sto Abel, o sacrifício do nosso patriarca Abraão, e o que Vos ofereceu M elquisedeque.”

Acêrca desta passagem do cânon da S. Missa, ouçamos um dos au tores que m elhor soube expri­m ir o pensam ento que ela desperta:

“Ao ofertório , fomos associados como mem­bros do Corpo M ístico de C risto à oblação da hóstia e do c á lic e .. . entram os como um grão de trigo no pão ou como um a baga de uva no cálice: — O ra, tudo isto form a uma única e mesma obla­ção — diz Bossuet.

Se Nosso Senhor, em quem Deus Pai pôs tô- das as suas complacências, tem sem pre a certeza de ser aceito por Êle, não acontece o mesmo co­nosco, que nos oferecem os com Êle. Ao lado da hóstia imaculada há ou tras hóstias menos p u r a s . . . E eis a razão pela qual a Ig re ja suplica a Deus que se digne inspirar a seus filhos as mesmas disposições que tinham os santos Pa tria rcas .”8

S) Le Moing.

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E sta prim eira súplica em favor do Corpo Mís- tico, que se oferece como uma vítim a evidente­mente im perfeita, não basta para satisfazer à San­ta Igreja . A L iturg ia retom a o mesmo pensam en­to de hum ildade e de súplica com um a nova in­sistência: “ Nós Vo-lo suplicamos, Deus onipoten­te, fazei que esta oblação seja levada nas mãos do Vosso santo A njo ao Vosso a lta r sublime, à p re ­sença de Vossa divina M ajestade.”

Se Cristo fôsse só Êle a vítima, separada do seu Corpo M ístico, necessitaria, acaso, do favor de ser transportado até Deus pelos A n jo s ? .. . Êle, o Rei da côrte celeste, assentado ò direita, no mesmo trono que o Pai ? ! . . . M as, “para que esta oblação, que encerra sim ultaneam ente o Corpo e Sangue de nosso Senhor e a nós mesmos e nossos votos, se­ja mais agradável à divina M ajestade, conjuram os a Deus que a faça transpo rta r pelas mãos de seu santo A njo até ao sublime a lta r do céu. Tem e­mos que a nossa o ferta seja ainda muito im perfei­ta, e recorrem os aos santos A njos, a fim de que mais segura e prontam ente ela suba até D eus.”9

E stas súplicas da Santa Ig re ja devem ser para nós, cada m anhã, na Santa Missa, uma eloquente lição. Se a L iturg ia insiste tan to para nos to rn a r­mos aceitos ao Altíssimo, do mesmo modo nos convida, com a mesma insistência, a trabalhar se­gundo a medida de nossas fôrças para nos to r­narm os agradáveis a Êle.

Em tôdas as Missas, ela nos prega a necessi­dade de nossa santificação. Se quiserm os oferecer, e' oferecer-nos com nosso Chefe, tornem o-nos m em­bros dignos dÊIe.

O s esforços quotidianos, perseverantes e mes­mo heróicos que fizermos, não serão demasiados para to rnar-nos mais aptos a partic ipar da obla-

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9) Le Moine.

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ção. A secreta da festa da Santíssim a Trindade exprim e adm iravelm ente esta necessidade de per­feição que se impõe ao Corpo Místico, a fim de que se torne um a vítim a de sacrifício agradável a D eu s : “Santificai, Senhor, esta hóstia que Vos oferecem os, e por ela fazei de nós um dom eter­no à Vossa M ajestade."

A liturgia mostra-nos o tríplice papel do sacerdote

A liturgia da Santa M issa nos revela o lugar privilegiado que ocupa o sacerdote ao altar, onde desempenha um tríplice papel:

1.® como representante do Chefe, ocupa o lu­gar de Cristo, tom ando atual e visível o ato m iste­rioso.

2.° como nosso representante, a tua em lugar dos fiéis, falando em seu nome e oferecendo o sa­crifício “dêles” , que é também o “dêle” .

3.® como membro do Corpo M ístico, tom a sua parte pessoal na oblação, segundo o g rau de sua caridade, de seus m éritos e de sua união com o Chefe. Êstes três aspetos das funções do sacerdo­te ao a lta r estão adm iravelm ente indicados na L i­turgia.

A liturgia c o papel do sacerdote: representante de Jesus Cristo

Ao a lta r o sacerdote é substituto do próprio Chefe, com o título de representante oficial da ca­beça, à qual estamos unidos.

Depois de ter oferecido em seu próprio nom e e em nome do povo cristão, na prim eira parte da Santa M issa, o sacerdote, na oração “H anc igi- tu r ”, pronunciada com as mãos estendidas sôbre o pão e o vinho, m uda de expressão.

Êle já não existe, por assim d izer; é um outro Jesus Cristo.

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CAP. IV. A MISSA, OBLAÇÃO DO CRISTO MÍSTICO 61

A companhemos o texto que pronuncia e os atos que execyta: êle exerce as funções do Sacerdote principal e invisível.

“N a vcspera de sua paixão — diz o celebrante — Jesus C risto tomou o pão” . . . e êle toma o pão, fazendo o mesmo gesto que fêz Jesus C r is to . . . "e elevando os olhos ao céu, para Vós, ó D e u s . . . ” e o sacerdote eleva os olhos, im itando a pessoa de C r is to . . . “benzeu êste pão” . . . acrescenta o sacerdote, benzendo-o também ê l e . . . “e deu-o a seus discípulos dizendo: Êste é m eu corpo".

Foi C risto que falou pelos lábios do sacerdote, Cristo que agiu sensivelmente por meio da pessoa do sacerdote. Nesse m omento Cristo e o sacerdo­te eram apenas um : C risto falava, e o sacerdote em prestava-lhe seus ó rg ã o s .. . E o seu Corpo es­tá presente: sim, o próprio Corpo de Cristo.

Gestos análogos, acom panhando palavras seme­lhantes, são executados também pelo sacerdote, antes da consagração do vinho. À fórm ula: “ Êste é o cálice de meu Sangue” . . . Jesus Cristo m u­dou o vinho em seu próprio Sangue.

O sacerdote falou e procedeu como se fôsse pessoalmente Jesus C risto ; os efeitos de sua pala­vra e de sua ação são os mesmos, como se real­mente fôsse Cristo.

Pode-se im aginar um a representação oficial de união mais íntima e mais sólida?

Foi pela v irtude divina que a pessoa do sacer­dote, a qual ein si mesmo nada é, concorreu para produzir a transform ação das substâncias — ou a transubstanciação. Como pôde êste sacerdote, que é e que perm anece um homem impotente por si mesmo, a tu a r acertadam ente ? Q ual a medida ju s ­ta de sua adm irável representação oficial?

O celebrante proporcionou a C risto um repre­sentante visível que, com sua vontade de consa­

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g rar, mudou o pão no Corpo de Cristo e o vinho em seu Sangue.

O V erbo incarnado quer im o la r-se .. . mas onde e q u a n d o ? .. . como se poderá saber que se imo­l a ? . . . em que a l t a r ? . . . em que d i a ? . . . a que h o r a ? . . .

No lugar onde o sacerdote quiser aí estará p re­sente e será sacrificado o Chefe. O sacerdote é como o canal por onde passa a onipotência di­vina.

Cristo invisível atua visivelmente pelo minis­tério do sacerdote.

Oh, quanto é sublime a missão dos sacerdotes, que a L iturgia nos m ostra cada manhã, substi­tuindo o Cristo Chefe, que então se to rna visível entre n ó s !

A liturgia e o papel do sacerdote: é nosso representante oficial

Se o sacerdote ocupa no a lta r o lugar de Cristo, ali é também nosso representante oficial. Se o fe­recemos com Cristo e se nos oferecem os com Êle, não podemos todavia executar esta oblação por nós mesmos. Nosso Senhor escolheu dentre nós re­presentantes da sociedade cristã, encarregados de realizar em nosso nome o Sacrifício de louvor.

A L iturgia faz sôbre-sair, duran te todo o de­curso da Santa Missa, êste papel de representante oficial do povo cristão de que é revestido o sa­cerdote. E , de fato, desde o comêço da S. M issa êle se apresenta como nosso delegado. Depois de ter pedido perdão em nome de todo o povo, de­pois de te r cantado o hino triunfal do “Gloria in excelsis,” lê a oração que se denom ina Coleta.

E sta palavra Coleta significa “ reunião” . É as­sim cham ada porque o sacerdote como m inistro oficial e representante do Corpo Místico, recolhe e "reúne” as orações dos assistentes para apresen-

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tá-las em um a só a Deus, por meio de Jesus Cris­to. N ão é, pois, uma oração privada que faz o celebrante ao altar, mas um a oração pública em no­me da Ig reja inteira.

E sta associação íntima en tre os fiéis e seu re­p resentante ao a lta r obriga o sacerdote a fa lar constantem ente conosco, e de nós a Cristo, nosso Chefe, e ao Pai onipotente. P o r esta razão, como vimos no parág rafo antecedente, c que o sacerdo­te pronuncia, em nome de todo o povo cristão, es­tas belas fórm ulas, por meio das quais, falando no plural, traduz os sentim entos e os pedidos do Corpo M ístico, como seu porta-voz.

A liturgia e o papel pessoal do sacerdoteAlém do papel que desempenha ao altar, como

representante de Cristo de um lado, e da Igreja do outro, o sacerdote é ainda, como cada um dos outros fiéis, um membro do Corpo Místico que oferece e que se oferece. P o r êste título, é obriga­do, como os outros, a unir-se ao Chefe, com tôda a hum ildade e contrição.

E é por esta causa que, desde o princípio da S. M issa, form ula atos de tem or, de arrependi­mento, de santa a le g r ia .. . e faz a confissão de seus pecados, à qual os fiéis correspondem , por sua vez, com a própria confissão.

Ao subir ao a ltar, o sacerdote pede perdão por meio de duas orações, das quais a segunda con­tém um a particularidade bem significativa: “N ós suplicamo-Vos, Senhor — diz o celebrante, — que Vos digneis perdoar-m<? todos os m eus peca­dos.”

Aqui vemos Iodos os fié is im plorarem : “Nóssu p licam o -V o s ...” para que sejam apagados os pecados do sacerdote, seu representante: “todos os meus pecados” . O s fiéis não devem ter, pois, todo o interesse em que o seu representante o fi­

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ciai seja tão perfeito quanto possível ao altar, co­mo membro privado de Cristo? A caridade do sa­cerdote não é um a condição de validade para a oblação, mas não seria um a verdadeira calam ida­de, para o povo cristão, ter como seu represen­tante oficial um “ ram o sêco” , ou mesmo um ra ­mo debilitado e sem vigor?

Esta caridade e perfeição in terior do sacerdote é julgada tão necessária pela Ig reja , que a L itu r­gia obriga o celebrante a insistir na purificação de sua alm a no m omento do ofertório .

Enquanto eleva a patena e oferece o pão que vai ser consagrado, êle diz" “Recebei, santo Pai, esta im aculada h ó s t ia .. . que eu, Vosso indigno servo, Vos o fe re ç o .. . por m eus inumeráveis pe­cados, ofensas e negligencias.. . 11

Este “eu” , êste “m eus”, esta dem onstração da personalidade dêste membro influente do Corpo "Místico, que é o sacerdote ao altar, devem recor­dar-lhe, que, antes de represen tar a C risto na oblação do santo Sacrifício, antes de oferecer os ou tros fiéis a Cristo, é preciso que se ofereça a si próprio como uma hóstia pura , e que, na sua con­dição de sacerdote, se deve esforçar para ser o p ri­m eiro e o mais santo na oblação.

Após o ofertório do pão, a pessoa do sacerdo­te desaparece para d a r lugar exclusivo ao Corpo Místico. O “eu” extingue-se ante o “nós” du ran ­te todo o Sacrifício a té o m om ento da s. Comu­nhão, em que reaparece.

A S. Comunhão é, com efeito, o ato pessoal pelo qual cada membro sela sua união com Cristo: aqui o sacerdote e C risto estão face a face em um ín­timo colóquio, que cada fiel, de seu lado, deve con­siderar como próprio.

11) Ordinário da S. Missa: Oblação da hóstia.

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O sacerdote diz: “Senhor Jesus C r is to . . . li- vrai-m e por êste Vosso santíssim o Corpo e San­gue de todos os meus pecados e de todos os outros males. Fazei que cum pra sem pre os Vossos m anda­mentos e que jam ais me separe de Vós.” 12

Depois acrescenta: “Q ue êste Vosso Corpo, que eu, ainda que indigno, recebo, não seja p ara meu juízo e condenação: m a s . . . sirva de defesa à m inha alm a e ao meu c o r p o . . . ” 13

O sacerdote nos é, pois, apresentado pela san­ta L iturg ia como um membro do Corpo M istico, que participa do Sacrifício como nós, fiéis, e obri­gado contudo, por um título especial, a um a união perfeita com Cristo.

E sta lição de união, dada ao sacerdote pela Tgreja, na S. Missa, pode cada m anhã ser provei­tosa ao simples f ie l ; porque nossa caridade, re­cordemo-lo sempre, é a medida de nossa partici­pação, como sacrificadores e como vítim as do san­to Sacrifício da nossa Missa.

A liturgia mostra-nos que Cristo é sacerdote principal

N ossa participação no sacrifício e a vista do celebrante, representante oficial nosso e de Cristo ao altar, devem-nos lem brar que, sob os ritos ex­teriores, só um atua de modo principal, só um é essencialmente Sacerdote, só um aplaca a Santíssi­ma T rindade, apresenta-Lhe louvor condigno, cu- m ula-A de ações de graças, e canta-Lhe do modo que Lhe é devido o cântico das criaturas.

Êsse sacerdote é Jesus Cristo.A L iturg ia toma ainda aqui o encargo de com­

penetrar-nos dêste grande pensam ento que deve dom inar tôda a nossa participação no santo Sacri­

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12) 2.“ oração antes dá S. Comunhão.13) 3.a oração antea da S. Comunhão.

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fício, du ran te o qual não devemos perder de vista a Jesus Cristo.

Tôdas as orações que o sacerdote pronuncia term inam “por Jesus Cristo, nosso Senhor". A Ig re ja indica-nos que só por Êle é que podemos e devemos passar, porque só Êle é o Pontifice, a ponte que dá acesso às alm as que querem pres­ta r a Deus verdadeira homenagem.

E sta fórm ula, repetida cem vêzes, expande em todo o decorrer da celebração de nossa M issa o pensam ento do C hefe sem o qual “nada podemos fazer” . (Jo 15,5.)

M as em duas ocasiões a L iturg ia insiste de modo particu lar nas prerrogativas do Sacerdote principal e invisível da S. M issa; no Glória e no fim do cânon.

N o Gloria, a Igreja , depois de ter louvado, ado­rado, agradecido ao Pai, canta com entusiasm o seu Chefe, Jesus Sacerdote;

“Ó Senhor, F ilho unigénito de Deus, Jesus C r is to . . . Vós que estais assentado à d ireita do Pai, tende piedade de n ó s . . . porque Vós sois o único Santo, o único Senhor, o único Altíssimo, ó Jesus Cristo .”

O que, evidentemente, equivale à fórm ula se­guinte: “porque Vós sois o único Sumo Sacerdote da lei nova, sendo o único da raça hum ana que é Senhor, Santo e A ltíssim o.”

Q uantas vêzes, talvez, tenham os cantado o Gló­ria, sem saborear a doutrina nêle encerrada, mas ignorando-a como um tesouro contido em um co­fre, que nunca tivemos o pensam ento de ab rir?

O fim do cânon não nos recorda menos viva­mente esta verdade de Cristo, Sacerdote prin­cipal.

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Tom ando o sacerdote a hóstia consagrada, e fazendo com elas sinais da cruz, pronuncia estas palavras:

“ P o r Êle, com Êle, e nÊle, a Vós, ó Deus, Pai onipotente, em união com o E spírito Santo, per­tence e vos é dada tôda a honra e glória.”

Jesus Cristo é, pois, o Sacerdote de dignidade infinita, de cu ja adoração a Santíssim a T rindade recebe a homenagem completa de glória. Êle, para quem tudo foi criado, Êle que é o Chefe e o Rei de tôdas as cria turas (Col 16, 17), é o único Ser capaz de dar a Deus a satisfação condigna, Êle é a única voz que se eleva do m undo ao trono da divina M ajestade, a única palavra eloquente que penetra os céus. Só Êle ora e intercede em nome de tudo que vive e respira, só Êle é o nossó intérprete, o nosso advogado, o nosso Sacerdote.

A continuação das questões a tra ta r neste volu­me nos dará ocasião de fa la r novam ente nesta m a­ravilhosa e significativa passagem da litu rg ia da S. Missa. Contentemo-nos, por enquanto, de ti­ra r a conclusão que procuram os: nosso sacrifí­cio, que oferecem os com C risto, recebe todo o va­lor e fôrça do Sum o Sacerdote, e não de nós mesmos que somos colaboradores secundários.

Q ue ventura é para nós, m embros do Corpo Místico, serm os cham ados a oferecer com Êle esta oferenda sublime da Ig re ja , serm os asso­ciados à sua hom enagem infinita, e serm os ainda com Êle sacrificadores e vítim as pela virtude dos seus méritos, dos quais Êle se digna tom ar-nos participantes.

CAP. IV. A MISSA, OBLAÇÃO DO CR ISTO MÍSTICO 67

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S E G U N D A P A R T E

A obra que faço, celebrando “minha“ Missa.

N o capítulo prim eiro :

O que é “minha” Missa

se explica em que consiste êste ato essencial da religião, que celebro em cooperação com Cristo.

No capítulo segundo:

A glória de Deusse fala em particu lar sôbre a homenagem infini­ta que a Santíssim a T rindade recebe por meio da celebração da “m inha” Missa.

N o capítulo terceiro:

Meu fruto espiritual

se enum eram as vantagens incalculáveis que me proporciona “m inha” Missa.

No capítulo quarto :

O proveito para o purgatóriose procura provar como "m inha” M issa c um orvalho refrigeran te para aquelas chamas.

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S E G U N D A P A R T E

C A P ÍT U L O I

O QUE É “MINHA" MISSAJESUS CRISTO, TENDO-SE IMOLADO UMA Só VEZ. OFE­

RECE EXATAMENTE O MESMO SACRIFÍCIO QUE NO CALVARIO. TEMOS A FELICIDADE. AO CELEBRAR A “NOSSA” MISSA, DE ESTAR PRESENTES NO G6L- GOTA.

“Minha" Missa é o CalvárioA S. Missa, que cada fiel celebra com Cristo,

não é um sacrifício de natureza diversa, represen­tado no altar: é sempre o mesmo Sacrifício, o da Cruz, que Cristo Místico, isto é, Jesus unido a todos os seus membros, oferece e apresenta de novo à Santíssim a Trindade.

Vimos que há um só Sumo Sacerdote e uma só V ítim a; da m esma form a só há um Sacrifí­cio. Compreende-se facilm ente que não pode h a ­ver dois: o sacrifício do Calvário é completo, por­que é in fin ito ; atingiu de um modo perfeito e defin itivo os quatro fins pelos quais Jesus Sacer­dote o ofereceu: adoração, ação de graças, petição de graças e satisfação infinita.

S. Paulo insiste nesta verdade fundam ental que o sacrifício de Cristo é único: “C risto ofere- ceu-se um a só vez pelos pecados do m undo.” (H eb 9, 28.)

Em outra parte o Apóstolo repete esta a firm a­ção: “Tendo oferecido uma única hóstia pelos pe­cados, assentou-se para sem pre à direita de D e u s . . . Porque, por uma oblação única, .consum ou para sem pre aquêles que estão santificados.” (H eb 10, 14.)

H á, pois, um único Sacrifício: o da Cruz.

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70 SEG U N DA P A R T E

Mas êste sacrifício único pode ser renovado

Se não existe sacrifício algum que esteja em paralelo com o da Cruz, “a oblação do C alvário”, por isso mesmo deve serv ir de apêlo a Deus, de­ve ser-Lhe repetida pelo Sacerdote V ítim a, e ser- Lhe novam ente apresentada, “ reapresentada” : esta renovação do Sacrifício da Cruz c a Missa.

D em onstrarem os a seguir a identidade perfei­ta que existe en tre a M issa e a Cruz, mas desde já tirem os do que foi dito um a consoladora con­clusão: Nossa M issa é o Calvário. Tom am os par­te no próprio sacrifício do Gólgota. Cada manhã estamos, como M aria estava, aos pés da verda­deira Cruz, oferecendo com ela o verdadeiro Filho de Deus. Talvez tenhamos invejado a sorte dos contem porâneos de Cristo, dizendo como aquêle guerreiro : “ Se eu tivesse estado l á ! . . . ”

N ós lá estamos, com Cristo, oferecendo-nos e oferecendo com Êle e por Êle. E êste mesmo C risto suplica-nos ainda e sem pre que O defen­damos contra os carrascos perversos de seu Cor­po M ístico.

A Missa é a exata renovação do CalvárioNosso Senhor Jesus C risto apresenta novam en­

te em cada S. M issa a mesma oferenda e a mesma vítima.

A S. M issa — é preciso insistir bem neste pon­to — não é um a imagem do Calvário, um facsímile, não! N ão é um a representação como entendemos serem representações teatrais, as quais figuram e recordam um acontecim ento por meio de persona­gens fictícios que fazem as vêzes de pessoas au­sentes. N ão! a S. M issa é a renovação do sacrifí­cio do Calvário, renovação real, substancialm en­te a mesma em sua oferenda e em seus resultados, apresentado pela mesma personagem , Jesus Cristo,

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CAP. I. — O QUE £ “M IN H A ” MISSA 71

Sumo Sacerdote, que reitera a mesma ação, que rende a mesma homenagem ao Altíssimo.

Estas idéias merecem exam inadas cada uma de per si.

Missa e Calvário: mesmo sacerdote, mesma vitima

O sacerdote da S. M issa é exatam ente o mes­mo que o do Calvário: Nosso Senhor Jesus C ris­to. “E já que Êle está sem pre vivo para interce­der em nosso favo r” (H eb 7, 2 5 ), está pronto tam ­bém a repetir a seu Pai a homenagem suprem a pe­la qual cum priu satisfatoriam ente sua função sa­cerdotal. Consente em valorizar, para nós, o g ran ­de ato de religião que salvou o mundo, associando- nos a si.

A vitim a do Calvário é também a vítim a da S. Missa. Se a vítim a fôsse destru ída em cada obla­ção, seria preciso renová-la. O ra, nossa vítima, lo­go após a m orte, conquistou o direito à ressurreição em prim eiro lugar, — e à im ortalidade depois: “C risto ressuscitado dos m ortos não m orre mais.” (R om 6, 9 .) A vítima sobrevive, pois, infinitam en­te perfeita e gloriosa, sem alteração, através de todas as M issas celebradas: ela mantém pela sua perpetuidade a identidade substancial do sacrifí­cio do a lta r com o do Calvário.

M as como Nosso Senhor pode ser vítim a sem m orrer em cada M issa?

Pode, porque lhe bastou aceitar um a vez sá a m orte para adquirir m érito infinito e d a r louvor perfeito à Santíssim a T rindade. De posse dos di­reitos adquiridos po r esta única m orte — direitos que não podem ser aum entados, porque são infin i­tos — reitera todo o produto de adoração, de lou­vor, de ação de graças, de satisfação, renovan­do êsses atos a Deus, com o direito de V ítim a perpétua.

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O ato de Jesus Cristo, Sacerdote e V itim a naS. M issa, é idêntico ao ato de Jesus Cristo, Sa­cerdote e V itim a na Cruz: é a oblação da mesma morte.

H á, pois, identidade completa entre a S. Missa e o Calvário. O s cristãos têm na verdade um só Sacrifício: o sacrifício de C risto, Sacerdote e V ítima.

Jesus Cristo teve a intenção de representar visivelmente na S. Missa a cena do Calvário

P ara m ostrar-nos até à evidência a unidade de sua oblação, Nosso Senhor, ao institu ir o Sacrifí­cio do altar, teve intenção de reproduzir de uma m aneira sensível aos nossos olhos o dram a do Cal­vário. Sua sabedoria fêz mesmo da instituição da E ucaristia uma cópia da cena do Gólgota, a fim de fazer-nos concluir, por meio da semelhança visível, a identidade perfeita que existe en tre a homenagem da S. M issa e a da Cruz.

N ão foi ao acaso que Nosso Senhor, para ins­titu ir a “M issa” , escolheu dois elementos: o pão que se m udará em seu Corpo, e o vinho que se transfo rm ará em' seu Sangue.

Êste pão e êste vinho, separados no altar, apre­sentam uma imagem sensível, que qualquer fiel, mesmo o mais simples, deduz da separação real do Corpo e do Sangue, feita no Calvário. A S. Missa foi, pois, instituída por Nosso Senhor sob a form a de uma “ lição de coisas” , cu ja significa­ção está ao alcance de todos. O sentido desta “ li­ção de coisas” é sublinhado e fixado pelas pala­vras da consagração. N ão foi sem intenção que Cristo consagrou separadam ente o pão e o vinho. T eria podido dizer sôbre am bos os elementos, ao mesmo tem po: “ Isto é o m eu Corpo e Sangue” e operar num mesmo ato a m udança das duas subs­tâncias.

72 SEG U N DA PA R T E

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M as não fêz assim. Tom ou prim eiro o pão, ben­zeu-o e partiu-o, dizendo: “Tom ai e comei, êste é o meu Corpo.” (L c 22, 19.)

Depois, elevando a taça de vinho, disse: “ Be­bei dêle todos, porque êste é o meu Sangue.” (L c 22, 20.) Nosso Senhor pôs separadam ente seu Cor­po sob as espccies de pão, seu Sangue sob as do vinho, para represen tar exatam ente o sacrifício do Calvário, que coloca o Sangue à parte do Cor­po, estando todavia presente todo inteiro sob ca­da uma das espécies.

O sacrifício da S. Missa renova invisivelmente o sacrifício da cruz

Q ue se passa invisivelmente no altar, a través dêstes sinais sensíveis do pão e do vinho, consa­grados separadam ente, que nos apresentam Jesus Cristo sob o aspecto de um a m orte violenta na S. M issa?

Cristo realm ente presente sob as espécies sa­cram entais, renova a seu Pai a homenagem do Calvário. Sua oblação é exatam ente a m esma que no Gólgota, porque o Sacerdote-V ítim a d a S. M is­sa é o mesmo da Cruz. Sua obediência, sua subm is­são a seu Pai, continua a mesma, e sua hom e­nagem também não sofreu alteração; apresenta sem pre à Santíssim a T rindade a mesma cópia de m éritos infinitos, não susceptíveis de novos acréscimos. Ganhou tudo só por sua m orte san­guinolenta na Cruz, da qual seria inútil renovar os horrores, porque nada poderiam acrescentar ao valor da prim eira imolação, já então com­pleta.

Sacerdote e V ítim a, cu ja oblação é tão perfei­tam ente significada no altar, Êle renova à M a­jestade divina a mesma homenagem infinita de adoração, de louvor, de ação de graças e repara­ção; encontram os exatam ente na S. M issa tudo

CAP. I. — O QUE E “ M IN H A ” MISSA 73

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o que constituía o Calvário. Podem os proclam ar que C risto só tem um Sacrifício que cada mem­bro do Corpo M ístico pode cham ar “sua” M is­sa.

Uma nota de passagem: a Eucaristia é sacrifício

e ao mesmo tempo sacramentoO que acabamos de dizer m ostra claram ente quais

eram as intenções de Nosso Senhor, no momen­to em que instituiu a E ucaristia:

1.° Preocupado com os interesses de seu Pai, seu pensam ento era instituir a 5\ Missa, isto é, p rolongar a través do m undo seu ato sacerdotal, a fim de que os membros fu turos de seu Corpo Místico pudessem, por Êle, com Êle e nÊle, de­sem penhar o seu principal e prim ordial dever de louvor perfeito à Santíssim a T rindade ;

2.° Impelido pela preocupação de realizar a união de seus m embros consigo mesmo, Chefe adorável, por meio do aum ento da caridade, or- denava-lhes — "tom ai e comei” . . . “ tomai e be­bei dêle todos” — que se associassem ao seu Sa­crifício, não som ente por um a união de sentim en­to e de vontade, mas ainda por um ato oficial de adesão, e de união tanto ex terna como interna: a Santa Comunhão.

3.° Im pelido pelo am or e sabendo, além disso, que não seríam os adoradores fiéis da divina M a­jestade, se não fôssemos sem pre alentados, dig- nou-se prolongar sua presença real muito além da duração do Sacrifício e fazer-se hóspede per­pétuo dos nossos tabernáculos.

Vemos, pois, que a E ucaristia é um Sacram en­to que nos foi dado, mas que tem em vista render a Deus a glória in finita que procede do Sacrifício.

Tal é a ordem estabelecida por Cristo: não a transtornem os. Somos adoradores por meio de “nos­

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sa” Missa, a qual só celebramos completamente quando nela comungamos.

O fru to pessoal do Sacram ento deve ser cer­tam ente encarado por nós, porque tem suma im­portância; não deve, porém , fazer-nos perder de vista a idéia de que nosso progresso individual te ­rá po r resultado final fazer-nos m embros mais unidos ao Chefe, e por êsse meio mais perfeitos adoradores com Êle da divina M ajestade.

Compreende-se daqui o ê rro em que caem cer­tas pessoas, cegas pelo egoísmo pessoal: imagi­nam que Cristo está presente na E ucaristia só pa­ra e las; rogam -Lhe apenas pelos próprios interes­ses particulares, esquecendo os de Deus!

Daqui se vê também quanto se enganam aquêles que am am a E ucaristia, mas sem a S. M is s a . . . que procuram com ungar fora da S. M issa "para não perder tem po” , que vêem na S. M issa não o sacrifício do Calvário, autêntico, onipotente, mas só o meio necessário para se obterem hóstias con­sagradas . . .

A todos êstes erros de uma piedade mal esclare­cida oponhamos o verdadeiro e santo conhecimen­to do M istério do altar, Sacrifício perpétuo da C ruz; e aproveitem os sobretudo do sacram ento da E ucaristia para aum entar nossa união com nos­so C hefe a fim de associar-nos cada dia mais per­feitam ente à sua homenagem infinita.

A liturgia frisa a identidade entre a S. Missa e o Calvário

As cerim ônias que a Ig re ja infalível usa no ato, divinam ente instituído, da consagração, têm o es­copo de to rnar visível, quanto possível fôr, a rea­lidade oculta, isto é, o verdadeiro Sacrifício de Nosso Sènhor.

A L iturg ia insiste na separação do Corpo e do Sangue no altar, g rifando de propósito as pala-

CAP. I. — O Q UE É “ M IN H A ” MISSA 75

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vras de Nosso Senhor e sua vontade de ter, no sacrifício da S. M issa, o aspeto que Êle possuía no Calvário quando passava pela m orte mais an­gustiosa, a “única” que daí em diante e para sem­p re teria valor.

Com efeito, nas orações do cânon que se se­guem à consagração, lemos esta fórm ula: “ . . . a fim de que todos que recebemos o Corpo e o San­gue de Vosso F ilho” . Enquanto o celebrante pro ­nuncia estas palavras, vai fazendo com a m ão dois sinais significativos: quando diz "o Corpo” faz um sinal da cruz sôbre a hóstia: e ao dizer “o San­gue” fá-lo sôbre o cálice. P o r êstes dois atos es­pecifica o sentido das palavras “o Corpo de Cristo”: é a E ucaristia sob as espécies do pão ; e das pa­lavras " o Sangue de Cristo” : é a Eucaristia sob a espécie do vinho.

A Ig re ja quer, pois, de modo especial m ostra r pela representação ex terior do Sacrifício do Cal­vário, em que o Corpo foi realmente separado do Sangue, que o sacrifício da S. M issa é idên­tico ao da Cruz.

O u tra cerimônia instituída no fim do cânon m anifesta com nova insistência que a Ig re ja nos quer fazer com preender que a S. M issa e o Gól- gota são o mesmo Sacrifício de Cristo.

O sacerdote, im ediatam ente antes do “ P a te r” , pronuncia esta adm irável fórm ula: "P o r Êle, com Êlc e nÊle, a Vós, ó Deus P ai onipotente, em união com o Espírito Santo, seja dada tôda a honra e glória.” E sta fórm ula é acom panhada de gestos que dão a esta frase um sentido bem signifi­cativo.

A ntes de p ro fe rir a fórm ula, o sacerdote eleva com a m ão direita a H óstia acima do Cálice, co­mo para colocar Jesus C risto na m esm a posição que tinha no Calvário.

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N o Calvário, estava com os braços em cruz: o sacerdote vai colocá-los da mesma maneira. E n ­quanto diz “por Êle, com Êle e nÊ le” , faz com a H óstia, acima do precioso Sangue, três cruzes, que m ostram o Corpo crucificado acima do Sangue. Ao mesmo tempo essas três palavras pronunciadas re ­sumem tôda a economia do Calvário onde por Je­sus, com Jesus e em Jesus, se realizou tôda a obra infinita.

E sta homenagem sem limites dirige-se à Santís­sima Trindade: ao Pai e ao E spírito Santo pelos m éritos do Filho. P o r um novo gesto do sacerdo­te, a Ig reja nos faz com preender, de um a par­te, que estas três Pessoas divinas são distintas danatureza hum ana que se imola em Cristo, e por ou tra, que a Redenção se estende muito além do Gólgota sôbre todo o universo redimido. E é por isso que, continuando a m anter a H óstia elevada, o celebrante a leva um pouco para frente e forado Cálice, e faz, em cima do altar, en tre o Cáli­ce e seu peito, um prim eiro sinal da cruz, dizen­d o : “na unidade do E spírito Santo” , m ostrando dêsse modo que a hom enagem de C risto na C ruz se prolonga além do Calvário, onde é derram ado o Sangue por todo o mundo e sobe até às ado­ráveis Pessoas da Santíssim a Trindade.

E nfim , para resum ir esta reprodução tão viva do dram a do Calvário, a Ig re ja ordena ao cele­bran te que, continuando a m anter a H óstia en tre os dedos, a sobreponha acim a do Cálice, a fim de se ver de novo o Corpo acima do precioso Sangue; depois prescreve ao sacerdote que eleve ao mesmo tem po o Cálice e a H óstia acima do al­ta r, ao recitar o final da fórm ula: “Tôda a hon­ra e tôda a glória”. E m certas igrejas o sacris­tão toca a cam painha para assinalar esta pequena elevação.

CAP. I. — O QUE Ê “M IN HA ” MISSA 77

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78 SEGUNDA PA R T E

“T ôda a honra e tôda a g lória” realm ente foram dadas à Santíssim a T rindade desde o dia em que o Corpo de Cristo foi elevado sôbre a Cruz, como acaba de ser elevado sôbre o a ltar, conform e a palavra do próprio Senhor: “Q uando eu fôr ele­vado da terra , atra ire i tudo a m im” (Jo 12, 32.) E sta elevação não repete, assim, ao vivo, a que se realizou na C ruz?

O fim do cânon, em inentem ente grandioso e ao mesmo tempo antiquíssim o, pois talvez date mes­mo dos tempos apostólicos, é a mais significativa expressão que podia ser dada para m ostrar que o mesmo ato, encerrando a m esm a homenagem, se realiza sôbre o a lta r e sôbre a Cruz.

Quão preciosa é, pois, a “minha” Missa!M embro de C risto posso cada m anhã ficar, co­

mo esteve M aria, aos pés da Cruz, jun to a Jesus que se oferece em sacrifício.

Posso recom eçar cada m anhã a oferecer à S an­tíssim a T rindade a m esma hom enagem do Calvá­rio !!

Posso cada m anhã unir-m e intim am ente à imo­lação de Cristo, não somente por um a correspon­dência perfeita de sentim entos e de afetos, mas pelo alto oficial da manducação da V ítim a, ato que encerra ao mesmo tempo um sinal ex terior cie adesão e um a comunicação in terior das mais abundantes graças. A h ! “m inha” M issa é um te­souro que encerra todos êstes b en s. . .

Como eu apreciaria o celebrar a “m inha” M is­sa com o sacerdote, se a conhecesse como ela o m erece!

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CAP. n . A G LORIA D E D EU S 79

C A P ÍT U L O II

A GLÓRIA DE DEUSA SANTÍSSIMA TRINDADE RECEBE NA S. MISSA "Tô-

DA A HONRA E TODA A GLORIA”, ISTO Ê. UMA HO­MENAGEM INFINITA. TAL. QUE A DIVINA MAJESTA­DE NAO PODE DESEJAR DO MUNDO MAIOR ATO DE

P ara que um a homenagem seja infinita, é p re­ciso que aquele que a presta seja infinito.

Pois, se aquêle que a oferece é finito, seu ato rle adoração também o é, porque ninguém pode dar o que não tem. É por isso que a homenagem pres­tada por um homem nunca será capaz de satisfa­zer plenamente a Deus.

E n tre Deus e Cristo se realizaram as condi­ções requeridas para que a homenagem fôsse in­finita. Aquêle que a oferece é Jesus Cristo, fi­nito como homem, e, por êste título, susceptível de hum ilhar-se ante a suprem a M ajestade do O ni­potente, mas infinito, porque é o Verbo, segunda Pessoa da T rindade, que se associou à natureza hum ana com o fim especial de fazer esta na tu re ­za hum ana produzir atos de valor infinito.

O ato de homenagem pelo qual Cristo tem a in­tenção de trib u ta r a Deus, do modo m ais perfeito possível, os deveres de adoração, de ação de g ra ­ças, de súplica e de reparação, é seu Sacrifício. O ra, êste Sacrifício é único, tendo sido realizado um a só vez: é o sacrifício do Gólgota que se re­produz na S. Missa.

A S. M issa é, pois, de um valor infinito. Vimos que estamos associados à S. M issa como mem­bros de Jesus Sacerdote, de um modo tão ínti­mo que a S. M issa de Cristo tom a-se “nossa” Missa.

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SEG U N DA PA K T E

Cada um de nós pode assim dizer, com tôda a verdade, que “ sua” M issa tributa tôdas as manhãs homenagem infinita à Santíssim a T rindade!

Q ue grandeza para cria turas tão pequenas! Que consolação! Q ue h o n ra !

A Liturgia assegura-nos que nossa homenagem é Infinita

A queles que tiverem dificuldade em acred itar em tal ventura encontrarão a confirm ação desta ver­dade na liturgia da Santa Missa. Seu rito, expres­são sensível das ações ocultas que se realizam no a ltar, nos dá bem a conhecer a infinidade da gló­ria que a . oblação eucarística tribu ta à Santíssim a Trindade.

O próprio texto do cânon nos declara expressa­m ente que o Pai onipotente, em unidade com o E spírito Santo, recebe do Hom em -Deus, V erbo in­carnado, “ tôda a honra e tôda a glória” , isto é, uma honra total e uma glória completa.

O ra, a honra de D eus só pode ser completa e total, sendo infinita. U m ser sem limites não se poderia satisfazer por um a oferenda lim itada: es­sa homenagem, por mais extensa que fôsse, pare­ceria minúscula em relação ao fim a a t in g ir . . . seria tão insignificante em com paração da glória devida a Deus que dela nem se deveria f a l a r . . . M as a homenagem, assinalada pela liturgia na S an ­ta Missa, produz de m aneira total o efeito da hon­ra e glória de Deus. É, pois, evidente que a ho­menagem do Sacrifício do a lta r é in f in ita : de “m inha” M issa resulta para D eus uma glória ili­m itada.

Consequência desta verdade: o infinito valor de “minha” Missa

Precisam os deter-nos por um m omento ante um a tal m aravilha!

Eu, um ser de nada, estou unido a Cristo como os membros à Cabeça.

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CAP. H . A G LÓRIA D E D EUS 81

P o r esta Cabeça à qual estou ligado, recebo a vida divina que circula em todo o Corpo Místico. Êste Corpo M ístico, Cabeça e membros, executa um a obra divina, a S. M issa, a sua Missa. E sta obra divina c in fin ita ! G lorifica a Deus sem me­dida! E nesta glória tenho m inha parte ! E que parte ! Um valor infinito não se pode dividir, po r­que não é constituído de partes finitas.

N ão c, pois, apenas um a parcela de louvor, mas “ todo o louvor e tôda a hon ra” que rendo ao Pai onipotente, em unidade com o E spírito Santo, por meio do meu Chefe, o H om em -D eus!

Que pode haver de mais grandioso que êste pensam ento ?

Os quatro aspectos do louvor infinito dado pela “minha” Missa

ftste louvor infinito, dado a Deus pela S anta Missa, atinge os quatro fins distintos, que são “os fins do Sacrifício” :

1." A dorar a Deus.2 ° A gradecer a Deus e render-Lhe ações de

graças.3.° O ra r a Deus, cum prindo o dever de sú ­

plica.4.° D ar reparação à honra de Deus e satisfazer

à sua M ajestade.P ara bem com preender qual a homenagem in­

finita que D eus recebe na Santa M issa que — ó ventura! — é “m inha” M issa, é preciso exam i­nar bem os quatro aspectos do louvor que Cristo Místico, Cabeça e corpo, rende à divina M ajestade por meio do seu sacrifício.

1.° Pela “minha” Missa Deus recebe uma adoração Infinita.

A dorar a Deus é reconhecer sua grandeza e seu poder suprem o, é a firm ar sua suprem acia ab­soluta sôbre todo ser existente ou possível; é d i­

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82 SEGUNDA P A R T E

zer a Deus que Êle é tudo, que Êle é o único ne­cessário, que Êle é a própria perfeição.

P a ra que pudéssemos exprim ir ao vivo um a tal homenagem, Deus quis que C risto oferecesse seu sacrifício. Sob a lei antiga, as imolações rituais do templo de Jerusalém apenas tributavam a Deus atos de adoração m uito im perfeitos. E êsses ho- locaustos não agradavam ao Altíssimo, porque não recebia por meio dêles glória igual a si próprio: E is por que Nosso Senhor veio ao m undo para o ferecer finalm ente o Sacrifício único e sa tisfa ­tório que constituiria a adoração perfeita de Deus.S. Paülo diz-nos com efeito que, dirigindo-se Cris­to a seu Pai, exclamou: “ Não quisestes nem acei­tastes as oblações e os h o locaustos .. . então eu disse: E is que venho, ó Deus, para fazer a V os­sa vontade.” (H eb 10, 9.)

O sacrifício de “m inha" M issa, que é o do Calvário, é, pois, a adoração infinita de Deus, per­feitam ente aceitável a Êle.

Como Cristo, por seu sacrifício, adora perfeitamente a Deus

Releva explicar como o Sacrifício da Cruz, per­petuado em “nossa” Missa, dá a Deus esta adora­ção infinita.

P ara ado rar perfeitam ente, é necessário, de um lado, que o adorador seja igual aO que é adorado: de ou tra form a a homenagem não seria digna dAquele a quem é dirigida, — e por ou tro lado, que seja inferior Àquele que é adorado: porque, senão, o adorador não teria razão algum a para hum ilhar-se. E stas duas condições parecem con­trad itórias, e, no entanto, por um a m aravilha da Providência, C risto as realiza ao mesmo tempo: Êle é igual a seu Pai po r sua natureza divina e é in ferior a Êle por sua natureza hum ana. Pode,

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pois, humilhar-se, estando como homem abaixo de D eus; e como V erbo 'e terno , pode igualar em hon­ra à Divindade.

V ejam ós agora como se realiza, de modo su­blime, o ato de suprem a adoração pelo Sacrifício de Cristo.

A natureza hum ana de Cristo é a obra-prim a das mãos de Deus. E la é a cria tura ideal, acima da qual a p rópria O nipotência divina nada pode con­ceber, pois êste homem é Deus ao mesmo tempo. O mundo foi feito em vista desta c ria tu ra excepcio­nal: “Tudo fo i criado por Êle e para Ê le . . Êl e é a Cabeça do Corpo da Ig reja , e é o princípio, o Prim ogênito dentre os m ortos; de m aneira que “ocupa a prim azia em tôdas as coisas” . (Col 1, 16, 18.)

Compreende-se que esta m aravilhosa superiori­dade de Cristo sôbre tôda cria tura existente ou possível Lhe mereça “as complacências do Pai celeste” . (M t 3, 17.)

N ão é evidente que esta obra prim a das mãos di­vinas, êste Cristo, Santo e Senhor, se ja digno de tôda a v e n tu ra ? .. .

Não. U m a sentença é pronunciada contra Êle: é preciso que m orra. E por que é preciso que m or­ra, Êle que é a própria vida?

Porque é preciso que, pelo seu aniquilam ento, m anifeste ante os olhos pasm ados do m undo que cria tura alguma, por mais bela e perfeita que seja, tem o direito de subsistir diante de Deus.

A hum ilhação de Cristo significa, pois, que “só Deus é Deus e que não pode haver ou tro D eus” . (D t 3, 24.)

A m orte de C risto é o reconhecimento oficial, público, solene, do soberano domínio de Deus sô­bre a cria tura , é a exaltação suprem a do poder do Altíssim o, an te o qual deve ficar na som bra mes­

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84 SEGUNDA PA R T E

mo a mais perfeita de suas obras prim as: a m or­te do H om em -D eus constitui o ato de perfeita adoração

A S. M issa, como vimos anteriorm ente, é o re­novação do sacrifício da Cruz, e por isso o ato de suprem a submissão de Cristo an te seu P ai se m a­n ifesta aos nossos olhos no altar. Enquanto o H om em -D eus renova no momento da consagração esta suprem a homenagem, nós, m embros do Cor­po M ístico, que com Êle adoram os, estamos sem­pre bastante impressionados com a m ajestade do ato que fazemos em companhia do nosso Chefe?

2.° Pela “minha” Missa, Deus recebe infinitas ações de graças.

O sacrifício da S. M issa é ao mesmo tempo um ato parfeito de adoração e de ação de graças. Êste pensam ento de reconhecimento é inseparável da adoração. E , com efeito, aquele que se aniquila ante a D ivindade é obrigado, mesmo quando afirm a que E la tem tudo, a agradecer-Lhe tudo.

E is por que C risto, imolando-se diante do seu Pai, Lhe deu ações de graças in fin itas! Todos os evangelistas referem que Nosso Senhor, ao insti­tu ir na ceia o Sacrifício eucarístico, “ rendia g ra ­ças” no m om ento em que transform ava o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue. E stas suprem as ações de graças, repetidas com tan ta insistência por Nosso Senhor na véspera de sua do­lorosa Paixão, dão bem a conhecer que, no pen­sam ento de Cristo, seu sacrifício na Cruz, p e r­petuado no altar, era um ato de ação de graças para com Deus.

A Ig re ja não podia deixar de re ite ra r o pensa­m ento do seu Chefe. Conservou cuidadosamente, nas próprias palavras da consagração, a expres­são das ações de graças de Cristo. O sacerdote diz: “N a véspera da Paixão, Jesus C risto tom ou o

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CAP. n . A G LORIA D E D EU S 85

p ã o . . . e, levantando os olhos ao céu para Vós, ó D eus Pai onipotente, rendeu-V os graças, ben­zeu o pão, partiu-o, e tc . . . ”

Em seguida, sôbre o cálice: "D o mesmo mo­do, depois da ceia, Jesus tom ou en tre as m ã o s .. . êste precioso cálice, benzeu-o, rendeu graças ou­tra v e z . . . "

E por isso não é de adm irar que a tradição cris­tã tenha denom inado o sacrifício da S. M issa: Eucaristia, que quer dizer “ações de graças” . Nos prim eiros séculos cristãos, "render graças” equi­valia à nossa expressão atual “celebrar a M issa” .

A L iturgia, que vemos sem pre tão fiel em tra ­duzir as verdades dogmáticas, m ostra-nos quão su­blime ato de ação de graças é a “nossa” Missa. E ela o faz em têrm os m agistrais e solenes.

N o momento do prefácio, o sacerdote convida os assistentes a m anifestar com êle, por meio de Cristo, a homenagem do reconhecimento: “Retida- mos graças — proclam a — ao Senhor nosso D eus.” Os fiéis respondem : “Devemos com tôda a ju s ­tiça.”

O sacerdote continua então com autoridade: “ Sim, é verdadeiram ente digno e justo , razoável e sa lu ta r retider-Vos graças, em todos os tempos e em todos os lugares, Senhor santíssim o e onipo­tente, Deus eterno, por Jesus Cristo, Nosso S e ­nhor.”

É de notar o acúmulo dos têrmos, em pregados pela L iturg ia: a ação de graças é uma questão de dignidade, de justiça, de equidade, de salva­ção . . . deve ser dada a Deus, por tôda parte, sem ­pre. . . O único ser que a dá de um modo “digno, justo , razoável e sa lu ta r” é Cristo, do qual se vai renovar o sacrifício.

A S. M issa é, pois, o ato po r meio do qual, “por Jesus Cristo Nosso Senhor” , isto é, a Cabeça do

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86 SEGUNDA PA R T E

Corpo M ístico, nós seus m embros podemos o fe re ­cer a Deus uma homenagem de reconhecimento que será suficiente, porque te rá um valor in fi­nito.

Que agradeço a Deus com “minha” Missa?

N ossas ações de graças devem seguir um a certa ordem : é preciso agradecer o que c mais im por­tante. A inda neste ponto a santa L iturg ia nos vai guiar.

N o versículo do “Gloria in excelsis” os fiéis cantam um a expressão, cujo alcance talvez nem sem pre atinjam , mas que devia ser uma revela­ção para a piedade. E is a expressão: “Damo-Vos graças por causa de Vossa grande glória ."

E is o que principalm ente devemos agradecer a Deus: a sua g lória! A gradecer-Lhe por ser o in­finito em tudo, infinitam ente bom, infinitam ente perfeito , infinitam ente poderoso. É êste o mais forte m otivo do nosso reconhecimento para com Deus.

N a verdade, uma só coisa c im portante, um a só coisa é necessária, a grandeza e a soberania de Deus: daí advém todo o bem das criaturas.

A ntes do mais, agradeçam os-Lhe por Ê le ser o que é, isto é, infinitam ente glorioso.

Ao render graças a Deus, por causa de sua gran­de glória, o m embro de C risto harm oniza seus agradecim entos com os que exprim e seu Chefe adorável po r meio de seu sacrifício: porque Cristo, que recebeu de D eus a ciência verdadeira, não pode ter um motivo mais imperioso para expri­m ir seu reconhecimento à in fin ita M ajestade, que o da sua glória incomensurável, fonte de todos os bens que têm gozado e gozarão Cristo Chefe e seus membros.

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Como nos eleva esta ação de graças de Cristo! E la faz-nos subir muito acima das vistas interes­seiras. M uitas alm as cedem à tendência natural de agradecer a Deus som ente os benefícios particu­lares que receberam. Certam ente cum prem seu de­ver: devemos ser reconhecidos pelos dons que Deus nos concede; virtude, ciência, saúde, pos­ses . . . M as quantas almas se preocupam de tal form a com o dom que se esquecem do D oador!? P o r exemplo, agradecem a Deus a cura de uma doença, sem pensar que o domínio sôbre aquela m o­léstia supõe em Deus um poder, uma bondade, uma compaixão infinitos, de modo que só estas já m e­recem louvor, homenagem e ação de graças! E sta “grande g lória” , objeto de todos os sentim entos de agradecim ento de Cristo, m uitas vezes, não ocupa em nós o prim eiro lugar a que tem direito.

É verdade que, sem o saber, nossas ações de graças, passando pela Santa Missa, são aperfei­çoadas pelas de Cristo, de m aneira que, sem o su­pormos, agradecemos a Deus como devemos pela reta intenção de fazê-lo por meio de nosso Chefe e Sacerdote, Jesus. Mas como seria preferível que aprendêssem os a harm onizar “voluntariam ente” nossas ações de graças com as de Cristo, de mo­do a se tribu ta r à Santíssim a T rindade a m aior cópia de ações de graças, “pela sua m aior g lória” fonte de todo o b em !

S.° “Minha" Missa apresenta a Deus pedidos que Lhe são infinitamente agradáveis.

Deus deve ser im plorado porque é infinito. A cria tura por si mesma é só indigência; deve pe­d ir esmola. M as a oração não é só um a necessida­de, é um dever que nos vem da obrigação de ado­r a r a Deus e do reconhecimento de nossa misé­ria. A dorar é reconhecer que Deus é o Senhor de tudo: é, portanto, necessário pedir-Lhe tudo. E is

CAP. II. A G LÓ R IA D E D EU S 87

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po r que Nosso Senhor censura aos seus Apóstolos de não pedirem coisa algum a: “até agora não pe­distes nada.” (Jo 16, 24.)

E é possível a mim rogar a D eus dignam ente? Sim, em "m inha” M issa, porque nela Lhe su­plico “por meio de Cristo”.

Dois são os motivos pelos quais as súplicas que dirigim os no santo a lta r agradam perfeitam ente a D eus; prim eiro, em vista da pessoa dAquele que o ra ; e depois por causa dos pedidos que Lhe são feitos.

Aquele que ora é Cristo unido aos seus m em ­bros. É Cristo Místico, obra-prim a das mãos di­vinas, de quem sou parcela viva; neste Cristo, ca­beça dos redim idos e doravante dêles inseparável, “Deus pôs tôdas as suas complacências” . (M t 3, 17.)

O s pedidos feitos por C risto são os mesmos' que D eus nos ordena: Cristo, como Deus, penetra os segredos da D ivindade. Sabe como quer Deus ser implorado por suas cria turas e quais as súplicas que serão despachadas ou rejeitadas. Portan to , tu ­do que Jesus pede ao im olar-se c certam ente “ le­vado à Santíssim a T rindade pelo A njo santo até ao altar sublime, à presença da divina M ajes­tade”1.

Cristo Místico cum pre, pois, de modo infin ita­mente perfeito , o grande dever da o ra ç ã o ; e co­mo sou membro dêste Cristo, se uno m inhas in­tenções às suas, meu pedido, passando pelos seus lábios, toma as proporções de súplica onipotente que será certam ente atendida por Deus, porque Lhe é inteiram ente agradável.

E sta é um a das m aravilhas de “m inha” M issa: rogar a D eus como Êle é digno de ser rogado.

88 SEG U N DA P A R T E

1) Cânon.

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Que pede o Cristo Místico na Santa Missa?

Quais são êstes pedidos sem pre infalivelm ente despachados que devemos apresen tar a Deus por meio de Cristo Chefe, em “nossa” M issa?

Nosso Senhor mesmo no-lo indicou. "Deveis o ra r assim: — P adre nosso que estais no c é u . . . ” (M t 6, 9.)

Estas súplicas, que são sem pre atendidas e ag ra­dáveis a Deus, por serem apresentadas por Cris­to em seu Sacrifício, são as seguintes:

— Santificado seja o Vosso nom e;— Venha a nós o Vosso reino;— Seja feita a V ossa vontade assim na te rra

como no c é u ;— O pão nosso de cada dia nos dai ho je ;— Perdoai as nossas dívidas, assim como nós

perdoam os aos nossos devedores;— Não nos deixeis cair em tentação;— M as livrai-nos do mal.T al é a série de súplicas que C risto Chefe

apresenta e que devo apresen tar com Êle à S an­tíssim a T rindade no santo sacrifício da Missa.

N ão foi sem um a inspiração divina que a Ig re ja solicitam ente introduziu o P ater noster na L iturg ia da S. M issa, e no instante mais solene. Se Cris­to se dignou revelar-nos como Êle ora, foi para que conform em os nossas intenções às suas: “D e­veis o ra r assim .” O texto ensinado pelo Chefe do Corpo M ístico é muito próprio na ocasião do san­to Sacrifício, a fim de que os fiéis façam suas sú ­plicas com o espírito com que devem ser pronun­ciadas.

O ra, qual o sentim ento que anim a tôda a o ra­ção de Cristo? O sentim ento dos interesses de Deus. O s pedidos do P ater têm um característico

CAP. I I. A G LÓRIA D E D EU S 8»

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SEG U N DA P A R T E

bem im pressionante: percebe-se que visam o triun ­fo da M ajestade divina na criação do universo.

Nosso Senhor pede com efeito ao “N osso” P ai— a ê s te .P a i cujo Filho único é doravante Cristo Mistico, isto é, a Cabeça unida aos seus m embros— a sua glória (san tificado seja o Vosso nom e), o seu reino (venha a nós o Vosso reiiio), a sua vontade (se ja feita a Vossa vontade). A tendidas que sejam estas três súplicas, c sendo Deus per­feitam ente glorificado, aclamado e obedecido no mundo, que fa lta rá então ao universo criado? Deus não é tudo? Só Deus é necessário. Sendo Êlè glorificado, tudo está em ordem e a cria tura imersa na felicidade.

Cristo, portanto, teria podido lim itar a êsses os seus pedidos. Mas, para anim ar-nos, quer expor a nosso Pai as necessidades de seu Corpo Místico “complemento” (E f 1, 23) e acabam ento do F i­lho único, e reclam ar explicitam ente para êste Cor­po Místico os dons que encerram os três prim ei­ros pedidos.

Eis por que implora a substância quotidiana, es- . piritual e m aterial, para cada um de seus mem­bros (o pão nosso de cada dia nos dai h o je ) , a fim de que, com o auxilio dêstes socorros, os fiéis possam glorificar a D eus; a caridade recíproca en tre os membros dêste Corpo (com o nós perdoa­m o s ) ; a persistência dos laços que ligam cada m embro ao Chefe (não nos deixeis c a i r . . . li­vrai-nos do m al). Penetrem os bem o sentido dês­tes três últim os pedidos: se nos obtiverem o am or de Deus c o am or do próxim o e a união ao nos­so Chefe, dar-nos-ão também a posse de tôdas as virtudes.

Dêste modo são expostas ao “nosso” Pai tôdas as necessidades dos m embros de seu Filho, neces­sidades, cu ja satisfação perm itirá ao Corpo Mis-

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tico colaborar fortem ente com a cabeça, a fim de d a r uma glória in fin ita à Santíssim a Trindade.

Assim, pois, quando, du ran te “nossa" Missa, recitam os com Jesus Sacerdote o P ater, procure­mos com penetrar-nos dos dois grandes pensam en­tos que preocupam a C risto duran te a oração: Deus e seu Corpo Místico. Todo fiel que, no espí­rito de Cristo Jesus, apresenta a “nosso” Pai tais súplicas é certam ente atendido, e logo resulta pa­ra C risto “glória e felicidade”2, porque a divina V ítim a realiza, nesse ato mesmo, os fins que se propôs ao oferecer-se: glorificar a Deus, glorifi­car-se a si mesmo, glorificar seus membros.

A prendam os daí a form ular não somente os pe­didos que apresentam os em “nossa” Missa, mas ainda todos os que fazemos no decurso do dia, ein união com nosso Chefe. Procurem os pedir segundo a ordem estabelecida por Cristo, isto é, em pri­m eiro lugar, os interesses superiores de Deus, su- bordinando-Lhe em tudo nossas vantagens pes­soais: c o meio infalível para serm os atendidos.

Q uantas vêzes, talvez, terem os celebrado “nossa” M issa com Cristo, sem atender à form a que deviam te r nossas súplicas! E contudo orávam os com cer­ta eficácia, porque o C hefe supria a falta de in­tenção de um membro tão preocupado de si mes­mo, que sua oração ficava absorvida pelos seus próprios interesses particulares. D oravante, porém, serem os solícitos em rogar a Deus como devemos, por interm édio de Cristo, desapegando-nos de nós mesmos, a fim de nos revestirm os do espírito de Jesus Cristo.

Dêsse modo gozarem os dos fru tos da prom essa divina: “ Procurai em prim eiro lugar o Reino de Deus e tudo o mais será dado por acréscim o.” (M t 6, 33.) Q ue encanto e que suavidade nos

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2) Hino "Pange lingua”.

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SEGUNDA P A R T E

advirá com a abundância de todos os bens, con­correndo nós também para a missão de glorifi- cadores de Deus!

4.° Por meio de “minha” Missa, a honra da Majesta­de divina fica plenamente satisfeita e o pecado é reparado.

O sacrifício do C alvário consumou-se no Sangue e nos ho rro res do suplício da Cruz, porque era preciso pagar o pecado. Nosso Senhor aceitou em nosso lugar as humilhações extrem as p ara no-las poupar, e assim pagar por nós a dívida que nossas faltas nos tinham feito contrair com a divina M a­jestade e a qual éram os incapazes de saldar. “N os­sa” Missa, que é o mesmo sacrifício que o da Cruz, nos proporciona o mesmo resgate infinito.

Nosso Senhor, ao instituir a S. Missa, anteci­pou para nós a remissão dos pecados, operada pe­lo sacrifício da Cruz e do a ltar, porque em prega­mos as mesmas palavras de que se serviu para consagrar: "Ê ste é o Cálice dè m eu sangue que será derram ado pela remissão dos pecados.”

A Ig reja , sempre fiel in térprete do pensam ento do seu Chefe, conservou todos os têrm os da insti­tuição divina da S. Missa, e cada m anhã faz o sacerdote repetir a intenção de Cristo ao imolar- se "pela remissão dos pecados” .

A “nossa” Missa encerra, pois, em si, um poder ilimitado de perdão. Poder infinito, porque a Ví- tim a-Sacerdote é in finita e porque suas repara­ções têm um valor divino. O que homem algum, por mais excelso que fôsse, podia realizar, o Re­dentor o realizou além de tôda m edida, conform e a afirm ação de S. Paulo: “O nde abundou o pe­cado, superabundou a graça.” (R om 5, 20.)

A “m inha” M issa tem, pois, o poder incalculá­vel de restabelecer a honra devida à Santíssim a T rindade, perm itindo à cria tura , devedora indi­

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gente, de pagar ao seu C redor infinitam ente ju s ­to e exigente “até o último centavo” (M t 5, 26 ), de modo que a harm onia e a caridade se acham restabelecidas en tre o mundo culpado e a infinita Santidade. Q uanto mais form os unidos ao nos­so Chefe na oblação do santo Sacrifício, mais concorrerem os para a reparação de tôdas as in jú ­rias, culpas e blasfêm ias da hum anidade. P o r nosso interm édio será vingada a honra de Deus na medida da nossa cooperação à S. M issa, e esta­belecido o direito absoluto da M ajestade divina sôbre o mundo. Q ue alegria para nós e que fon­te de méritos se assim tiverm os trabalhado para a nossa purificação pessoal, para o resgate de nossos irmãos e para a satisfação da eterna J u s tiç a !

Conclusão dêste capítulo: “minha” Missa é para mim

o ato mais importante e incomparávelAs páginas que precedem tiveram certam ente por

efeito entusiasm ar o coração dos cristãos fiéis.A o lê-las não tiveram por momentos ímpetos de

dizer a si mesmos: “A h! m as é realm ente b e la ! . . . Como posso eu, pobre e insignificante criatura, colaborar em um a obra desta im portânc ia ! . . . Posso ado rar a Deus in fin itam en te! . . . render-Lhe graças in te iram en te! . . . suplicar-Lhe com tôda a p erfe ição ! . . . reparar, sua honra p lenam ente! . . . ”

É verdade: cada m embro de Cristo, ao celebrar o santo Sacrifício com seu chefe, atinge êstes fins, contudo infinitam ente d istantes e fora do alcan­ce de sua fraqueza inata. Q uantas m aravilhas acum uladas: m aravilha da união dos m embros com a Cabeça, m aravilha da prolongação do Sacrifí­cio único sôbre o a ltar, m aravilha da celebração dêste sacrifício pelo Cristo Místico, Cabeça e m em ­bros: m aravilha da glória que a divina M ajestade recolhe da oblação.

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A “m inha” M issa surge em m inha existência como o grande ato para o qual deveriam conver­g ir todos os meus pensam entos e e s fo rç o s .. . N a verdade quem celebra a " sua” M issa trabalha mais para a glória de Deus e para o bem da hu ­m anidade que os generais, industriais, com erciantes e s á b io s . .. O mundo inteiro, que se agita para ating ir fins hum anos, move apenas um pouco de pó, enquanto que o cristão que oferece “ sua” M is­sa faz uma obra de eternidade.

Cooperando com o Sacrifício do altar, o mem­bro de C risto preenche o fim de sua existência, para o qual foi criado, ganha na realidade o seu dia so­brenatural que lhe será infinitam ente retribuído, pois Deus jam ais deixou de recom pensar os obrei­ros de sua glória.

A linguagem hum ana não pode exprim ir as grandezas incomparáveis da “m inha” M issa. U m a meditação prolongada, uma reflexão contínua so­bre as verdades contidas neste volume e sôbre os textos tão eloqüentes da L iturg ia da S. M issa, e, acima de tudo, uma oração fervorosa em união com Jesus Sacerdote, nosso Chefe, e ainda a Co­munhão com o seu Sacrifício pela recepção do Sacram ento do A ltar, poderão pouco a pouco le- var-nos a com preender praticam ente e a verificar “quão suave” é a participação com C risto na ce­lebração do Sacrifício único que dá a Deus glória infinita.

Só quando tiverm os começado a en trever a ver­dade, é que ficarem os adm irados, não de dizer “nossa” M issa com, em e por C risto, mas de di­zê-la com tão pouco fervor, de celebrá-la tão fria ­mente e ainda mais de tê-la por tan to tempo ne­gligenciado. . . Terem os grande pesar, pensando que poderíam os te r dado à nossa vida um valor sem limites com a celebração quotidiana e que o não

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CAP. I II . M EU FR U TO E S P IR IT U A L 95

f iz e m o s ... que teríam os acum ulado sôbre nossa cabeça as graças de um Deus, infinitam ente sa­tisfeito por nós, e do qual, pelo contrário , só me­recemos reprovações. . .

Contudo, ainda é tempo: tudo não está perdido. Em nossa aflição de te r uma vida vazia e inútil, ainda temos o meio de enchê-la: a “nossa” M is­sa. T anto hoje, como ontem e sempre, com ela rendem os a Deus uma glória in fin ita ; ela está à nossa disposição para que possamos, por seu in­termédio, encher a m edida de Deus e a nossa.

C A P ÍT U L O I I I

MEU FRUTO ESPIRITUAL'•MINHA" MISSA É A FONTE DE TODOS OS MEUS BENS

ESPIRITUAIS, A REMISSÃO DE MEUS PECADOS, O AUMENTO DA GRAÇA, O DESPACHO DE MINHAS SÚPLICAS... E, DE TODOS OS ATOS QUE POSSO FA­ZER NESTE MUNDO PARA A MINHA SALVAÇAO, “MI­NHA" MISSA É INCOMPARAVELMENTE O QUE ME PROPORCIONA O MAIOR PROVEITO.

O fruto que tiro da “minha” Missa é finito

Do valor infinito da “m inha” M issa só posso t ira r um fru to limitado. Assim como do oceano que se me apresenta sem limites só posso tira r um pouco de água, conform e o tam anho do copo, do balde ou do recipiente que encho, também da “m inha” M is­sa, cu jas vantagens são infinitas para Deus, só pos­so receber graças proporcionadas ao recipiente so­brenatural de m inha alma.

Compreende-se m uito bem que um ente peque­no, como sou, não pode encerrar em si um a abun­dância que o inunde: e c por isso que, ao cele­b ra r “m inha” M issa, retiro dela o que posso re ­tirar, e nada mais. São algum as gotas que bebo em cada oblação, ou mesmo alguns goles, m as só me

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SEG U N DA P A R T E

sacio de Deus, conform e a m inha "receptivida­d e” .

Eis po r que a “m inha” Missa, infinita em si mesma, em relação a mim tem efeitos finitos.

Consequências que podem resultar para Cristo, apesar de o meu proveito só poder ser finito

A verificação que acabamos de fazer dos lim ites de m eu fru to espiritual esclarece alguns dos mo­tivos principais do plano divino na instituição do sacrifício da S. Missa.

Um lucro finito pode aum entar sem pre mais, se se acrescentam outros lucros. M as, para assegu- rar-nos êsses lucros incessantes, é preciso termos perpetuam ente novas possibilidades de adquirir ou­tros: nosso capital espiritual form a-se com m ui­tos dêsses acréscimos.

Nosso Chefe, desejoso de enriquecer seus mem­bros com vantagens sobrenaturais, só podia m ulti­plicar para os mesmos as ocasiões de hau rir em seus m éritos. É um a das razões que O levaram a perpetuar a cena do Calvário, a renová-la, con­vidando-nos a celebrar com Êle a mesma oblação tan tas vêzes quantas quiséssemos, para aum entar de cada vez o nosso lucro.

Tal é, em relação aos membros do Corpo M ísti­co, o papel da Santa M issa: ela perm ite-lhas uma participação sem pre crescente aos m éritos de Jesus Cristo. M as, para que a oblação do a lta r pudesse realizar plenam ente essa distribuição dos m éritos do Chefe aos membros, Deus devia pôr a celebra­ção da S. M issa ao alcance de cada fiel. E ra pre­ciso não um a S. M issa em um só templo, ou no de Jerusalém ou no de Roma, por exemplo, mas muitas S. M issas em tôda parte e sempre.

Se os cursos de água tivessem corrido duran te um certo período de tempo no princípio do mun­do, seus benefícios seriam ho je uma vaga lem­

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brança que certam ente não daria de beber aos vi­ventes de tôdas as é p o c a s .. . ou se um só rio corresse sempre, mas em um a única região, como Suciariam a sêde os homens das ou tras regiões?

O grande rio dos m éritos de Cristo teve sua ori­gem no Gólgota. P o r meio da Santa M issa, inunda com suas graças todos os séculos e todos os climas e sacia as almas de tôdas as nações, todos os dias de sua vida.

Vê-se bem agora por que Cristo instituiu a San­ta M issa: por um lado, para que seu Sacrifício não fôssc esquecido dos hom ens como um aconteci­m ento longínquo, do qual apenas teriam vaga lem­brança e de que não poderiam tira r fru to tão fa ­cilm ente; po r ou tro lado, para que fôssem dis­tribuídos a cada um dos membros de seu Corpo M ístico, segundo as necessidades da hora e do m omento, em todos os recantos do m undo, em to­dos os instantes do tempo, os benefícios da R e­denção por meio da Cruz.

T or estas razões, o Sacrifício sanguinolento do Calvário é renovado em “m inha” Missa.

Consequências que podem resultar para mim, apesar de o fruto espiritual

de “minha” Missa só poder ser finitoSe da impossibilidade de nos d a r um lucro in­

finito resultou para Cristo a necessidade de per­pe tuar entre nós o seu Calvário, desta mesma impossibilidade redundam para nós consequências im portantes:

1.° M inha participação 110 Sacrifício de C risto aum enta a cada nova S. M issa que celebro.

Q uantas forem as vêzes que oferecem os o santo Sacrifício, tan tas vêzes recolheremos fru tos que vão aum entar nosso capital espiritual. Isto é que tinham com preendido os Santos quando m anifes­tavam um tão ardente am or pela “sua” M issa.

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98 SEGUNDA PA R T E

P o r exemplo, Santo Isidoro, o lavrador, por suas fugidas de m anhã para a S. M issa, incorreu na có­lera de seu amo, porém mereceu também a d ita de ser substituído pelos an jos no campo, enquanto estava na ig re ja ; Santa R ita, a cozinheira, tam ­bém foi substituída por espíritos celestes, que fa ­ziam seus humildes trabalhos enquanto estava na M issa, arrebatada em êx tase; Santa M aria M ada­lena Postei, apesar de suas grandes ocupações, as­sistia a tôdas as M issas celebradas na capela de sua com unidade: o beato Luís M aria Grignon de M ont- fo rt, que caminhou m uitas léguas a pé e a tôda a pressa, a fim de chegar a uma igreja antes do meio dia para celebrar a “sua” Missa, porque o C ura da paróquia onde se ap resen tara pela manhã lhe havia injustam ente recusado a autorização.

2.° M inha participação no Sacrifício de Cristo aum enta na proporção do aum ento de m inha inti­m idade com Êle pela celebração da “m inha” M is­sa.

Não nos parece impossível que esta participação de Cristo possa aum entar em nós em cada S. M is­sa? Pois, se uma única S. M issa pode encher nossa capacidade de receber, como poderá a S. M issa seguinte acrescentar algum a coisa? Q uando enchi meu copo no oceano até ficar repleto, não acres­centarei nem mais um a gota se o im ergir nova­m ente. E sta observação seria justa , se nossa pos­sibilidade de receber ficasse como a do copo, sem­p re a mesma. M as, ao encher nossa alma, a “nos­sa” M issa tem por resultado aum entar-lhe ao mes­mo tempo a capacidade espiritual.

E na verdade, como veremos mais adiante, a celebração do santo Sacrifício aum enta em nós a caridade, fortifica nossa virtude, expele nossos pecados, em um a palavra, desenvolve nossa aptidão espiritual e dêsse modo cria em nós um a m aior “ re­

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CAP. m . M EU FR U TO E S P IR IT U A L 99

ceptividade” de Deus. Convém, pois, assistir àS. M issa tantas vêzes quantas pudermos.

M as é necessário acrescentar à assiduidade o modo de assisti-la. Se é salu tar oferecer a "nossa” M issa o mais frequentem ente possível, não é me­nos urgente oferecê-la do m elhor m odo possível, a fim de que ela possa desenvolver em nós m aior capacidade sobrenatural: como a S. M issa é in­finita, não a esgotarem os jam ais, por mais p ro ­fundos que sejam os abismos a preencher em nossas almas.

3.° Minha participação no Sacrifício de Cristo não é dim inuída pelo núm ero daqueles que cele­bram comigo.

E m bora sejam finitos os lucros que tiro da “m inha” Missa, êsses lucros não são repartidos pelo núm ero de pessoas presentes que com parti­lham comigo dos m éritos dela; não dim inuem se há grande assistência em volta do altar, nem au ­mentam se a assistência fôr mínima. Seja eu o úni­co a unir-m e à "m inha” M issa, ou centenas de fiéis me rodeiem, celebrando comigo a mesma S. M issa, não recebo nem mais nem menos, mas sem pre conform e a m inha capacidade.

E , de fato, a S. M issa sendo infinita, é capaz de fazer transbo rdar todos os recipientes que se lhe apresentem a encher. E apesar de cada um dê- les estar repleto, os m éritos de Cristo, sendo ines­gotáveis, não ficam dim inuídos: resta ainda com que inundar todo o u n iv e rso .. . Pelo contrário , o grande núm ero dos concelebrantes é um a razão a mais para Cristo obter de seu Pai fru to s mais abundantes para cada um dêles, em v ista do fe r­vor de uma porção tão im portante do Corpo M ís­tico.

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100 SEGUNDA PA R T E

Que se deve entender por "meu fruto espiritual"

Elevando-se a S. M issa até ao céu para glori­ficar a Deus, recai em lucros vários sôbre a te r­ra.

Em prim eiro lugar, dá à Ig re ja um fru to geral, porque propriam ente tôda S. M issa é d ita “em no­me da Ig re ja” . De tôdas as M issas celebradas no mundo, resulta um imenso bem para todo o Cor­po M ístico: a fasta dêle os flagelos, expande sô­bre êle graças mais abundantes e aum enta o nú­m ero dos m embros com a conversão dos infiéis e a volta dos pecadores. A Ig re ja é sobretudo a grande tesoureira da Missa, que é sua obra e que ela celebra pelo m inistério do sacerdote, seu re­presentante.

A S. M issa produz ainda um fru to especial ou “m inisterial” , que corresponde à intenção do ce­lebrante, o qual pode fazer dêle a aplicação que quiser. É o proveito obtido pela pessoa que m an­da dizer a M issa, ou para aquela pp r quem se m anda dizê-la. D isto falarem os mais tarde.

E nfim , a S. M issa dá aos membros do Corpo M ístico que a celebram, um fru to que se chama “pessoal”, porque êste fru to é um bem que per­tence a cada um dos concelebrantes. Ganham êsse tesouro pelo fa to de sua cooperação na oferenda. D a mesma form a que aquêle que recebe os sa­cram entos adquire a estrita p ropriedade dos efei­tos dos mesmos, como a remissão dos pecados, o aum ento da graça, a im pressão dum caráter, etc., assim é o fru to espiritual de “m inha” Missa. É dêste fru to pessoal que vamos agora tra ta r.

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CAP. m . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 101

Os frutos pessoais da “minha” Missa:1.° aumento da graça santiflcante

O prim eiro fru to que o fiel tira de “sua” M issa é um aum ento da graça santificante, que se cha­ma também “caridade” .

H á duas razões para êste aum ento de vida so­b renatural, a colaboração do membro com o Chefe, e o ato que produz esta colaboração.

1.° M inha colaboração com Cristo na celebração da S. M issa comunica-me vitalidade maior. Com efeito, o Corpo Místico tem suas leis que são as mesmas de qualquer ou tro organism o: o trabalho dos órgãos em comum com a cabeça produz a saúde. O m embro que se move, desenvolve-se, por­que recebe sangue e in fluxo nervoso em m aior abundância. Da mesma form a o m embro de C ris­to Místico que realiza com seu Chefe esta obra m a­ravilhosa da imolação no altar, participa cada vez mais abundantem ente da seiva que dim ana da Ca­beça e que é a graça.

Notem os que êste a fluxo de vida não é o mes­mo para cada membro que oferece com Cristo: varia de intensidade conform e a atividade do cola­borador. Certos fiéis dão ao Chefe um concurso m ais íntimo, mais desinteressado, mais sincero e dedicado que outros. É ju sto que o proveito, sem­p re generosam ente retribuído, seja portanto na proporção do concurso de cada um. Q ue esta ob­servação sirva aos leitores do presente volume, de lição para incitá-los a aperfeiçoar cada dia sua união de inteligência, de coração e de vontade com seu adorável Chefe.

2.° O ato que produz m inha colaboração com Cristo é causa poderosa de aum ento de graça para m inha alma. N o precedente capítulo foi dem ons­trado que “m inha” Missa dá a Deus louvor, ação de graças, reparação; que a M ajestade divina, ado­rada por Cristo M ístico, é plenam ente satisfeita

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102 SEGUNDA PA R T E

e não pode exigir mais de sua cria tura , pois recebe dela homenagem completa. Como pode acontecer que, tendo assim perfeitam ente glorificado por e em Cristo a um D eus infinitam ente ju sto e bom, eu não Lhe seja agradável? O ra, se r agradável a Deus é, segundo o sentido etimológico da pala­vra, ser "gracioso” , isto é, dotado de graça.

Ao celebrar a “sua” Missa, o Corpo Místico, do qual somos parcela viva, participa não somen­te da o ferenda de Cristo, mas também de tôdas as vantagens que da imolação resulta para seu Chefe. N o Calvário, C risto conquistou m éritos in­calculáveis que Lhe deram a im ortalidade, a gló­ria e um reino eterno à d ireita de seu Pai. A o utra parte, a que constitui a Ig re ja m ilitante dês- te mundo, recebe o direito de possuir estas mes­m as prerrogativas sob a form a de graça santifi- cante, que se transfo rm ará em beatitude gloriosa, apenas tiver entrado no paraíso, onde o Corpo M ístico irrad iará resplendores como um sol úni­co, do qual Cristo é o núcleo luminoso e ilumi­nante.

Daqui se vê que o fiel, ao celebrar a “sua” M is­sa, vai acum ulando preciosíssimos tesouros. Mas, como não percebe indício algum dêsses tesouros exteriorm ente, é tentado a c rer que saiu da igre­ja , tão pobre como entrou.

A h ! aqui é preciso desprezar a ilusão da carne que só acredita o que vê e apalpa, e ab rir os olhos da fé, porque só assim reconhecerá quão proveito­so lhe é oferecer “sua” Missa.

Os frutos pessoais da “minha” Missa:2.° o progresso na virtude

D uas pessoas que colaboram com ard o r e a ti­vidade na mesma obra, acabam por adquirir uma com unidade completa de idéias e de vontades. Assim é que, po r exemplo, cônjuges cristãos chegam a

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CAP. I II . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 103

fundir suas alm as em um a só, para realizarem os interesses do lar.

E sta com unidade de idéias e de desejos, que é o ideal dos esposús, Cristo quer realizá-la com seu C orpo Mistico que é a Ig re ja e por êsse meio com cada um de seus membros. E tem isto tão a pei­to que S. Paulo pôde dizer: "M aridos, amai vos­sas esposas, como C risto am ou a I g r e j a . . . ja ­mais houve alguém que odiasse sua própria car­ne, mas, pelo contrário , todos procuram nutri-la e cercá-la de cuidados, como C risto faz «à sua Ig re ­ja , porque somos m embros de seu Corpo, somos de sua carne e de seus ossos. É grande êste m is­tério (da afeição pela espôsa, sua própria ca rne), mas digo em Cristo e na Ig re ja .” (E f 5, 25-33.)

Cristo tem, pois, cuidados particulares com a "carne de seu Corpo M ístico” , isto é, conosco, seus colaboradores, mui especialmente no ato emi­nente do santo Sacrifício. Q uer fazer conosco "um só coração, um a só alm a” , identificar-nos consigo na mais completa intim idade de pensamentos, de desejos e de vontades. Q uer fazer-nos buscar o que am a, fug ir do que odeia, à custa mesmo dos m aiores sacrifícios. P o r ou tras palavras, inspira- nos a estima de tôdas as virtudes.

É impossível, por consequência, o fiel celebrar digna, a tenta e devotam ente a “ sua” M issa, sem progred ir de um modo rápido e m aravilhoso ha perfeição cristã.

E o mesmo ato da oblação em colaboração com Cristo, não será a ocasião de pra ticar nas diversas c ircunstâncias as virtudes que Cristo quer que germ inem em nós?

A oferenda eucarística põe em prova a fé . San­to T om ás de Aquino no-lo faz no tar: “A vista,

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o gôsto, o ta to enganam-se, só podemos fiar-nos do ouvido: creio no que disse o F ilho de D eus.” 1

O Sacrifício do a lta r é denominado “m istério de fé” . Êste nome é repetido pelo sacerdote duran te a S. M issa no meio da fórm ula que m uda a subs­tância do vinho no Sangue de Cristo, deixando persistir as aparências. E não é ju sto que o Corpo M ístico, ajoelhado em adoração ao seu C hefe imo­lado no momento da elevação, seja recompensa­do pela humilde adesão de seu espirito com um no­tável acréscimo de fé?

A celebração de “sua” M issa é para o membro de C risto um exercício perfeito da virtude da esperança. É como a esperança de todos os bens espirituais e tem porais necessários à salvação que o fiel se une Jesus Sacerdote para oferecer com Ele a homenagem infinita. P o r meio da S. M issa, o fiel sabe que possui todos êsses bens, porque os com partilha com Cristo, o qual os mantém todos em seu poder para os ir comunicando aos seus mem­bros.

E , finalmente, não é supérfluo dem onstrar ain­da que a celebração de "sua” M issa constitui para o fiel, que sabe unir-se a Cristo, um ato perfeito de am or de Deus. Êste ato assum e proporções sem limites da parte de Deus c comunica-nos em tro ­ca um acréscimo incalculável de caridade.

O ra, as virtudes teologais não crescem na alma sem a tra ir a ela tôdas as outras. E assim é que, ce­lebrando o fiel com Cristo, participa logo de seu ho rro r ao pecado, de seu am or pela justiça, de seu espírito de religião, de obediência, dc m or­tificação, de p u re z a .. . A “sua” M issa faz do fiel um m embro são, forte, vivo e sempre ativo do Corpo M ístico, isto é, um cristão perfeito.

104 SEGUNDA PA R T E

1) Hino “Sacris Sollemniis”.

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CAP. III . MEU FR U TO E S P IR IT U A L 105

Os frutos pessoais da “minha” Missa:3.° a remissão dos pecados

A “nossa” M issa perdoa nossos pecados! Q ue alegria para o fiel que celebra com C risto saber que êste Sacrifício que oferece, tem em si o po­der de anular tôdas as faltas, m esm o m ortais!

De fato, a S. Missa é a Cruz. N o Calvário o Sacerdote Suprem o ofereceu a seu Pai um res­gate infinito por todos os pecados do mundo. A S. Missa, que foi instituída, como já vimos no p rin ­cípio dêste capítulo, para distribu ir em tôda p a r­te e a todos os cristãos os efeitos da Redenção, oferece a cada m embro do Coqio M ístico a rem is­são dos pecados.

E ainda Cristo, “ êste divino C ordeiro que se sobrecarregou dos pecados do m undo” , tomou a precaução de nos assegurar disso, e a santa L i­turgia de no-lo fazer conhecer. O sacerdote p ro ­nuncia realm ente cada manhã, na Santa M issa, as mesmas palavras de C risto: "Êste é o cálice de meu S a n g u e .. . que será derram ado pela rem is­são dos pecados."

A palavra de C risto não é vã e a insistência da Ig re ja em no-la fazer com preender também não o é. O sacrifício da S. M issa tem por efeito per­doar os pecados todos, sem distinção de im por­tância, nem de malícia. A "m inha” M issa concede em prim eiro lugar o perdão dos “m eus” pecados. E por isso é que todo o fiel deve dizer cada m anhã com o celebrante 110 momento do o fe r tó r io : “R e­cebei, santo Pai, esta hóstia sem mácula que Vos o fe re ç o .. . por “m eus” inum eráveis pecados, o fen ­sas c negligências. . . a fim de que esta oblação seja proveitosa à m inha salvação para a vida eter­na.”

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106 SEGUNDA PA R T E

Como a “minha" Missa apaga meus pecados

Não se deverá pensar que a S. M issa possa substituir-se ao sacram ento da Penitência e supri- mi-lo, apagando de nossa alm a os pecados, sem outra form alidade, isto é, isentando-nos da con­fissão.

Recordemo-nos que o sacram ento da Penitên­cia, recebido ou ao menos desejado, é de abso­luta necessidade para a remissão des pecados m or­tais. O pecador que, por um ato de contrição per­feita, se reconcilia fora do Sacram ento, só re ­cebe a graça se tem a intenção, ao menos implí­cita, de ir subm eter suas faltas à sanção do san­to tribunal. A S. M issa, apesar de perdoar in fa­livelmente todos os pecados, não pode substitu ir o sacram ento da Penitência e não fa z as suas ve­zes.

Como obtém, então, o perdão certo de tôdas as nossas fa ltas?

Produzindo maravilhosos efeitos: em prim eiro lugar apazigua a Deus e, em vista da hom ena­gem infinita que lhe tributa, m uda sua ju sta có­lera em m isericórdia; e depois, pelo poder de in­tercessão do Chefe imolado, que implora por seus membros, a tra i sôbre o pecador copiosas graças de arrependim ento.

É o que afirm a o santo concílio de T rento , quan­do diz: “Apaziguado pela oblação do santo Sacri­fício, o Senhor concede a graça e o dom do a rre ­pendim ento e perdoa os maiores pecados e cri­mes.” 2

É necessário, portan to , que o pecador não re je i­te o dom da verdadeira contrição que lhe é ou tor­gado com a assistência ao Sacrifício infinito , mas que, correspondendo a essa graça e certo do per­

2) Sesg. 22, c. 2.

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dão, vá p rocu rar o sacerdote, o qual, após a ab­solvição, lhe aplicará definitivam ente os frutos de “sua” Missa, isto é, o perdão das penas devi­das ao pecado m ortal, em vista das graças de a r ­rependim ento que lhe foram concedidas pela San­ta Missa.

Destas verdades resultam graves consequên-

1.° Devem os conseguir dos pecadores que assis­tam à S . Missa.

É o melhor meio, o único meio verdadeiram en­te in fa lível para a conversão de seu coração.

M as qual a participação que lhes é possível obter no santo Sacrifício?

N a verdade, uma presença puram ente m aterial, consentida, por exemplo, só para “causar prazer” ou “para viver em paz” seria provavelm ente de m í­nima eficácia, pois tal assistência não constitui, propriam ente falando, uma com participação da o fe­renda. A tendendo-se contudo ao infinito poder de in tercessão que Cristo, imolando-se, possui sôbre o coração de Deus, mesmo esta M issa poderia a tra ir para a alma do pecador alguns toques sobrenatu­rais e determ inar o comêço de um a m archa para a volta. E sta presença é, pois, o “m inim um ” que se deve procurar para o pecador. Assim, um a es­posa cristã deve p rocu rar levar à S. Missa, todos os domingos, o m arido que parece estar perdendo a fé.

O btida esta condescendência de pura am abilida­de, procure-se transform á-la em prática piedosa, conseguindo-se do pecador a assistência ao santo Sacrifício, com a intenção de cum prir um ato de religião. Êste consentimento, ainda que vago e con­fuso, é suficiente para fazê-lo partícipe da obla­ção. E sta M issa to rna-se para o pecador, já de certo modo, um pouco a " sua” M issa. E m rela-

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108 SEGUNDA PA R T E

ção ao Corpo M istico que a oferece, é como um m embro m orto, mas, assim mesmo, ligado ao tron ­co pela fé. Se o estado do pecador é ainda insu­ficiente para atra ir-lhe im ediatam ente a graça de um arrependim ento sincero, a S. M issa assim ou­vida dispô-lo-á para um dia receber êsse dom.

Se se tem a felicidade de ob ter que o pecador, embora separado do Corpo M ístico por causa de seus pecados, tenha a vontade fo rm a l de partici­par dos benefícios da S . M issa tan to quanto pode, o ferecendo-a deliberadam ente com Cristo, então a S. M issa incitará infalivelm ente a alm a culpada a p rocu rar a graça da absolvição. É ao escopo desta “participação” sincera e eficaz, que devem tender os cuidados daqueles que desejam a volta a C risto de seus membros transviados.

2.° D evem os m andar celebrar M issas pela con­versão dos pecadores.

Se não se pode conseguir que assistam ao san­to Sacrifício, deve-se procurar, por ou tro meio, fazê-los partícipes do poder que tem a imolação de C risto para perdoar todos os pecados. A tin- gir-se-á este resultado, m andando celebrar Missas em sua intenção. Veremos, mais adiante, que é re ­servado um fru to especial àqueles pelos quais é celebrado o santo Sacrifício. E m percebendo êste fru to , os membros em estado de m orte experi­mentam os benefícios do poder de perdão que possuem os m éritos de C risto: e não estará longe o dia em que sua obstinação há de ceder ante as solicitações da conversão.

Não hesitemos, pois, em m andar celebrar o san­to Sacrifício por nossos pecadores. De tôdas as obras de m isericórdia que podemos exercitar para com êles, esta é a melhor. P o r que, m uitas vêzes, os m embros do Corpo Místico, que pedem para os seus caros a graça da volta a Deus, esquecem

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que possuem na oblação de C risto a rem issão de to ­dos os pecados? Sem om itir os atos de sacrifício e de m ortificação, as orações vocais, a p rática das v ir­tudes em união com Cristo, estas alm as seriam mais avisadas se, para m ultiplicar a eficácia de seus esforços, m andassem oferecer com frequência, pe­la intenção de seus pecadores, a imolação do al­tar.

Os frutos pessoais da "m inha” Missa:4.° a satisfação por minhas faltas

Todos sabemos que, depois de perdoados os pe­cados, nos resta ainda pagar as suas consequências. Se um pai perdoa a seu filho pródigo e tudo lhe restitui em sua casa, o filho fica assim obrigado a traba lhar para expiar seus erros. Da mesma fo r­ma, o pecador, depois de absolvido, fica ainda com uma dívida para com Deus. Quem a pagará? A S. M is s a . . . Quem pagará m inha dívida em particu­lar? A “m inha” Missa.

A Cruz apresentou a Deus, e a S. M issa torna a Lhe apresen tar todos os m éritos e satisfações do Sacerdote infinito. Êle depõe nas mãos da divina M ajestade o resgate muito m aior que as dívidas acu­m uladas por todos os pecados do m undo; constitui um a reparação pe rfe ita e total da honra devida a D eus; refaz o que a malícia do pecador procurara destru ir, o respeito divino.

M as para que a S. M issa, tesouro capaz de sal­dar tôdas as dívidas, salde também as minhas, é preciso que se torne a “m inha" Missa. E , com efeito, se Jesus C risto depositou no seio de seu Pai o saldo superabundante para am ortizar as dí­vidas de todos os seus membros, a divina M ajesta­de exige que o “ transporte” do cabedal comum pá: ra nosso haver pessoal seja feito por cada um de nós.

P a ra tira r proveit© das satisfações de Cristo, o pecador deve te r o empenho de aplicá-las a si.

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N a verdade seria muito fácil para o culpado ador­mecer sem inquietação, dizendo: “ N ão tenho que me incom odar; o Salvador pagou por mim.” Se­ria cair na heresia protestante, a qual pretende que, tendo C risto pago mais do que era preciso por todos os pecados possíveis, podemos ofender a Deus tanto quanto quisermos, contanto que ha ja fé in­abalável na infinidade da redenção !

Não, temos de ir descontando a dívida que nos resta depois da absolvição, haurindo por nós m es­mos, e por “nossa" Missa, da abundância das sa­tisfações de Cristo. Se celebrarm os dignamente, isto é, com sentim entos de união intima e de per­feita caridade com nosso Chefe, as penas do pu r­gatório serão apagadas e ficarem os quites peran­te o suprem o Juiz.

Os frutos pessoais da “minha” Missa: 6.° a consecução dos meus pedidos

Vimos que Cristo com sua imolação faz a Deus súplicas ardentes, que infalivelm ente são ouvidas. E stas súplicas são form uladas no “ P a te r” .

Suplica para a glória, o reino e a vontade de Deus, e em seguida, para tôdas as necessidades do Corpo M ístico: pede a substância espiritual e ma­terial, a caridade para com Deus, a caridade dos membros en tre si, a persistência de sua adesão ao Chefe.

E já que os membros e a Cabeça fazem um só todo na oblação da S. M issa, da qual Cristo M ís­tico é ao mesmo tempo Sacerdote e V ítim a, as súplicas feitas pelos m embros ante o a lta r santo, em união com seu Chefe, são aceitas pela divina m ajestade e certamente atendidas. E sta certeza do êxito de nossos pedidos não é um dos meno­res privilégios de "nossa” M issa.

A razão dêste poder de "nossa” oblação é evi­dente. C risto po r seu Sacrifício adquiriu o direito

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de interceder por aqueles que se Lhe unissem como membros, a fim de resgatá-los. Como Chefe, tem o poder de pedir por nós. E além disto, êste mes­mo Cristo Chefe, que intercede po r seus membros, é o próprio Deus que ouve o pedido. Se pede é porque está certo de o b te r; pois sabe m uito bem qual é a vontade de Deus a nosso respeito.

E is por que todos os pedidos que um membro de C risto form ula em “sua" M issa, será infalivel­m ente atendido, porque passa pela bôca de Cris­to.

Mas como formular nossos pedidos?Êste é justam ente o único segredo: para que os

m embros sejam atendidos, devem form ular seus pedidos, segundo o espírito de seu Chefe. Aqui, como em tôda parte, a união dos m embros com a Cabeça é necessária: quando o fiel e C risto oram conjuntam ente, Deus não pode resistir. Q uando o pedido de Cristo e o do fiel diferem , é claro que o de C risto prevalece, porque é sem pre conform e à divina vontade.

A Ig reja , na L iturgia, recorda-nos frequente­mente êstes grandes princípios da verdadeira o ra­ção do Corpo Místico, “por, em e com C risto” . Faz-nos dizer, po r exemplo, na coleta do nono do­mingo depois de Pentecostes: “ Senhor, para que nos concedais o que desejam os, fazei-nos pedir-V os somente o que é de Vosso agrado .”

Como, porém, poderem os saber que pedimos o que agrada a D eus? O bservando ò modo de o ra r do nosso Chefe e imitando-O. "O rare is assim ” , disse Ê le . . . e logo nos m anda pedir o reino, a g lória, a vontade de Deus. P o r consequência, para passar pelos lábios de Cristo, tôda oração em “nossa” Missa deve ter em vista os interêsses divi­nos. E isto está em ordem : "P rocu ra i prim eiro o R eino de Deus.” (M t 6, 33.) A S. M issa, como

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vimos, tem por prim eiro escopo a “glória de Deus” por meio da adoração perfeita, da ação de g ra ­ças total e da satisfação completa. A “m inha” M is­sa só se to rnará,, pois, “m eu” ato de religião per­feito, se eu o oferecer com meu Chefe no desíg­nio de concorrer antes de tudo para “a glória de D eus” .

A glória de Deus, a reparação de sua honra, a remissão dos pecados são, den tre os nossos de­sejos, os que certamente agradam a Deus, e os quais, elevando-se dos membros à Cabeça, não dei­xarão de ser atendidos.

M as só se pode concorrer para êste “ reino” de Deus pelo triun fo de Cristo M ístico, isto é, da san­ta Ig re ja unida a seu Chefe. E é por isso que, com, em e por Cristo, devemos rogar a D eus pe­los m embros de Cristo de que fazemos parte, co­mo no-lo indica a segunda parte do “ P a te r” . . . Nosso pão espiritual e m aterial, nossa caridade pa­ra com Deus, nossa união com o Chefe e seus membros, tais são ainda desejos que agradam a Deus, e que não deixarão de ser atendidos por Êle.

Esforcem o-nos, pois, para “o rar assim ", a fim de que nossos pedidos, form ulados segundo o espí­rito de Cristo, sejam levados ao trono da Santís­sima T rindade po r nosso próprio C hefe no de­curso de “nossa” Missa.

Em "minha” Missa poderei fazer pedidos particulares,

espirituais ou temporais?A par destas intenções gerais, cada m embro de

Cristo tem as suas próprias e muito particulares, que tom a muito a peito: quem não deseja tal g raça espiritual para si mesmo, por exemplo, li­v rar-se dos escrúpulos, a coragem contra cer­tos hábitos, a aquisição de tal virtude ? . . . ou ainda,

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outros desejam o bom procedim ento para um jo ­vem transviado, a conversão dos pais ou de am i­gos, a paz para o l a r . . . porém , o mais das vêzes, dever é confessá-lo, os fiéis se preocupam com favores tem porais, por exemplo, a saúde, um a bri­lhante posição, um casam ento rico, o êxito em um exame, a prosperidade nos n egóc ios.. .

Poderem os fo rm u lar estes pedidos em “nossa" M issa? . . . apresen tar Cristo a D eus po r todos êstes fins que visamos como necessários? É evidente que o podemos, pois é sempre perm itido pedir a Deus bens legítimos, e é honroso para Deus que sua cria tura , suplicando-Lhe favores, reconheça sua suprem a riqueza e sua infinita bondade!

E stas súplicas serão in falivelm ente atendidas? Sim, se são do núm ero daquelas “que agradam a Deus” . Se não o forem, obterem os então uma outra coisa, m elhor para nós, porque nenhum a oração é desprezada por Deus, o qual, por meio de benefícios sabiam ente repartidos, sabe corri­gir os erros dos nossos pedidos.

M as como d a r às nossas súplicas o m aior nú­mero de razões possíveis para “agradarem a D eus” ? Procurando, ao apresentá-las, revesti-las daquele “bom modo” , isto é, de um verdadeiro desinterêsse, porque a oração egoísta não encontra jam ais o caminho do coração.

A “m inha” M issa é destinada, acima de tudo o mais, a prom over a glória de Deus e o triunfo de C risto Místico. Eu faria portanto um grande mal se a desviasse de seu fim, para transform á-la em simples instrum ento de meus menores desejos. Posso oferecer "m inha” M issa por m inhas neces­sidades pessoais: é louvável e até recom endável; mas esta súplica deve vir em segundo lugar. A ssis­tir à S. M issa unicamente pa ra restabelecer-se de doença, para encontrar m arido, para te r êxito

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em exame, constitui participação m uito im perfei­ta na homenagem infinita, e, ao mesmo tempo, de­nota m uito pouca habilidade na a rte de pedir: Deus, na verdade, só pode ficar mediocrem ente honrado, vendo-se am ado e rogado só em vista de interesses tão m esquinhos ao lado dos seus.

É necessário então que o mem bro do Corpo M ís­tico, sacudindo o egoísmo, procure esquecer-se, e que “sua” Missa, mesmo sendo oferecida com ofim de obter um favor pessoal, seja celebradacom Cristo e pelos f in s que Cristo tem cm vista: glória perfeita, reparação total, ação de graças in­finita, aquisição de favores tendentes a aperfei­çoar e a to rnar mais agradáveis a Deus cada um dos m çmbros do Corpo M ístico e nós mesmosem particular. Êstes fins devem preocupar acimade tudo o fiel que coopera com seu C hefe no altar. Im plorado por Êle mesmo, como merece, e em vista dos grandes interesses de Cristo, Deus, infi­nitam ente compensado pela S. M issa que Lhe é oferecida, fa rá descer sôbre êste membro do F i­lho único suas “complacências paternais” , e lhe concederá mais generosam ente o que pede.

D êste modo, o fiel terá m uitos motivos para ser ouvido como deseja, e mesmo mais ainda do que deseja. N a verdade, como poderia Deus recusar a êste membro de Cristo, que Lhe acaba de dar, em união com seu Chefe, um a glória infinita , todos os favores espirituais ou tem porais que deseja, e que tão facilm ente sua Onipotência pode conce­der?

E é por isso que a divina bondade empenha-se em cum ular de graças, tanto no espiritual como no tem poral, aquêles que, esquecendo-se de si pró­prios por Deus, celebram bem a “sua” Missa.

O s fiéis que vivem assim desapegados de si mesmos prom ovendo o louvor à Santíssim a T rin ­

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dade, têm tanto mais motivos para serem ouvidos por ela, porque sua solicitude pela “glória de Deus acima de tudo” tem po r resultado re tificar os desejos pessoais e to rnar as próprias súplicas conform es à sua vontade providencial. Q uando se sentem impelidos a pedir com insistência, é por­que já sabem sobrenaturalm ente que seu pedido não desagrada à suma Sabedoria. E até pode-se mesmo form ular êste princípio: “Q uanto mais uma alma c de Deus, mais é ilum inada sóbre a retidão de seus pedidos.” Daí se compreende facilmente a certeza da concessão do pedido da V irgem M aria a seu Filho, em Caná, e ainda a de tantos Santos que, por um simples suspiro, obtém favores tão assinalados.

“ Peçam os e receberemos” . É só fazer a ex­periência. A oração sempre tem êxito. M as para lá chegar, a única dificuldade está em esquecer-se su ficientem ente para preocupar-se com Deus. É verdade que esta disposição só pode ser o resul­tado dos esforços de um am or p e rsev e ran te .. . M as quantos fiéis há que, se quisessem te r cora­gem, conseguiriam com presteza oferecer "sua” M issa, e o ra r com devoção desin teressada!? P o r que hão de pensar que, apenas se esqueçam de si mesmos, D eus não mais atenderá ao que ne­c e s s ita m ? ... "A lm as de pequena fé” (M t 14, 31.) T ransform am “sua” M issa em um a argum entação, insistindo para provar a D eus que os próprios de­sejos têm mais im portância e que a sua glória de­pende d ê le s ! . . . e então só depois de te r expos­to a Deus as próprias necessidades, pelas quais lhes é bem legítimo orar, é que deveriam abism ar- se na fé para ado rar devidam ente a divina M ajes­tade no decurso do santo Sacrifício.

A S agrada E scritu ra ensina-nos o verdadeiro meio para tudo alcançarm os de Deus: “D eleita-te

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no Senhor e Êle cum ulará todos os teus desejos.” (SI 26, 4 .) Nosso Senhor repete êste mesmo pen­samento: “P rocurai — disse — o Reino de Deus e tudo o mais vos será dado por acréscimo.” (M t 6, 33.)

A s palavras de Deus jam ais poderão enganar: realizemos as condições que impõem e obterem os os efeitos que prom etem . Deus pensará em nós na medida em que nos preocuparm os com Êle. É umaregra de vida espiritual cuja aplicação nos perten­ce v irificar, se quisermos, pela celebração perfeita da “nossa” Missa.

O fruto pessoal do sacerdoteque celebra “sua” Missa

O fru to pessoal do sacerdote c da m esm a na­tureza que o dos fié is que celebram com êle. Re- cordemo-nos que é Cristo Místico que oferece. É, pois, Jesus Cristo unido a seus membros e particu­larm ente unido àqueles que concorrem para a oblação que se realiza naquele momento. É justo que o sacerdote e fiéis, que na mesma ocasião apre­sentam a divina M ajestade seu sacrifício, com­partilhem seus efeitos.

E realm ente oficiante e assistentes gozam de todos os benefícios de "sua” M issa, os quais aca­bamos de enum erar no decurso do presente capítu­lo: aum ento da graça, progresso na virtude, rem is­são dos pecados, satisfação das penas temporais, deferim ento das súplicas feitas.

M as o sacerdote percebe dêste fru to pessoal uma cópia m uito superior à que é ou torgada aos sim­ples fiéis. E sta m aior comparticipação dos frutos do santo Sacrifício é de justiça, em vista do o fí­cio que exerce o sacerdote na oferenda dos san­tos M istérios.

Se o sacerdote e os fiéis são concelebrantes, só o sacerdote é oficiante. De um lado é deputado pe­lo Corpo M ístico, para rep resen tá-lo ; de ou tro lado

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é deputado pelo próprio Cristo, para ocupar-Lhe o lugar: o sacerdote é um interm ediário, oficial­mente constituído en tre Cristo e seus membros, e m arcado com um caráter especial, do qual decor­rem seus poderes. A mais im portante de tôdas as suas prerrogativas é a de “consagrar", isto é, po­der por um ato de sua decisão livre e no momen­to que escolhe transfo rm ar o pão no Corpo de Cristo e o vinho no seu Sangue, renovando assim no a lta r a imolação do Calvário. De seu lado, a Santa Ig re ja encarrega o sacerdote de exercer es­ta função sagrada, segundo as necessidades e os desejos dos m embros que constituem a parte do Corpo M ístico, à qual está unido o seu ministério.

Vê-se bem a parte que tem na oblação “esta mão que distribui a Carne sagrada” .3 Se o sa­cerdote tem as vantagens dos concelebrantes da S. M issa, seu lucro deve ser mais abundante que o dos ou tros fiéis, já que suas responsabilidades e suas funções têm mais im portância. É assim ra ­zoável hon rar com uma rem uneração mais copio­sa aquêle cujo papel se acha em prim eiro pla­no.

Q uando se refletiu , como acabamos de fazê-lo, sôbre o imenso fru to pessoal que os simples fiéis retiram de “sua” Missa, qual deve ser o pasmo e o reconhecimento dos m inistros dos altares, pen­sando que “ sua" M issa m ultiplica para êles tão maravilhosos tesouros!

Contudo, da mesma form a que os simples fiéis, o sacerdote só ganha seu fru to na proporção de seu grau de am or e de união com o Chefe. O s sa­cerdotes, apesar de tão privilegiados, podem infe­lizmente interpor obstáculo às generosidades di­vinas. Se o membro, como se dem onstrou acima,

3) São João Crisóstomo, Hom. 60, ao povo de Antio- quia.

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recebe do Chefe a vida sobrenatural, de acôrdo com a sua im portância no Corpo Místico, — e é por isso que na S. M issa a parte do sacerdote é tão abundante — esta vida só pode ating ir ao m embro se estiver unido à Cabeça. Se, porém , o sacerdote es­tivesse desligado de Cristo ou total ou parcial­mente, não receberia as vantagens preciosas de "sua” Missa, ou só teria uma pequena parte, en­quanto o fiel que com êle celebra ao mesmo tempo, e com um ato de caridade perfeita, ficaria inun­dado das graças divinas. E mesmo assim, essa M is­sa de um sacerdote menos bem disposto continua­ria a te r seu valor intrínseco. A presentam a Deus a homenagem infinita, porque todo o valor do S a­crifício depende jo de Cristo. E os mesmos efeitos de graça e de salvação se produziriam na alma dos fiéis.

Os concelebrantes não têm que fazer depender a validade de “sua” M issa das disposições inte­riores do oficiante. Todavia, mais vale participar da oblação de um Santo que da de um sacerdote tíbio, a fim de não ficar privado do acréscimo su­plem entar de favores que pode a tra ir a interces­são de um m inistro grande Amigo de Deus.

O lucro, daqueles por quem é celebrada a S. Missa

P o r um ato de sua livre vontade, o sacerdote, quando celebra, renova não somente o Sacrifício do Calvário, m as ainda, em v irtude de seus pode­res oficiais sóbre a oblação, tem o direito de indi­car à divina V ítim a a intenção pela qual vai reno­var seu sacrifício. Temos, pois, nós, mem bros do Corpo Místico, a faculdade de obter do nosso Chefe adorável por meio do sacerdote, nosso re­presentante, os m éritos infinitos de sua oblação pa­ra o f im determinado que mencionamos.

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CAP. III . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 119

A Liturgia, que sem pre nos patenteia fielmen­te as realidades invisíveis, apresenta-nos êsse po­der que tem o sacerdote de dirig ir a intenção de Cristo. P o r duas vêzes — nos dois m ementos — o celebrante pronuncia os nomes das pessoas p ri­vilegiadas pelas quais é oferecido o santo Sacrifí­cio. “Lem brai-Vos, Senhor, de Vossos servos e s e r v a s . . . ” (aqui o sacerdote pára e recolhe-se, a fim de dizer os seus nom es). Faz o mesmo no m emento dos m ortos, depois da consagração: “Lem­brai-V os também, Senhor, de Vossos servos e ser­v a s . . . que nos precederam com o sinal da fé, e que dormem o sono da paz.”

O s “servos e servas” de Deus assim designa­dos percebem diretam ente as vantagcfis especiais que dimanam da intenção expressa pela V ítim a divina ao imolar-se.

D êste fru to particu lar o sacerdote não pode ti­ra r a m enor parcela para outros: deve a tribu ir a o ferenda completa de C risto à pessoa por quem celebra. Todavia, o sacerdote é livre de recomen­dar a Deus, sem prejuízo da intenção especial, to ­das as pessoas pelas quais deve pedir por ju s ­tiça, reconhecimento e caridade: essas ou tras te­rão ainda da parte de Cristo uma intenção secun­dária, preciosa também.

N otem os ainda que a aplicação da Santa M issa a uma determ inada intenção nãt> p rejud ica de mo­do algum aos concelebrantes: seu lucro, como dis­semos no capítulo passado, provém da sua coo­peração à oferenda, e é por isso que é pessoal e inalienável; enquanto que o fru to especial, do qual tratam os aqui e de que gozam as pessoas pelas quais a S. M issa é oferecida, lhes provirá da in­tenção que tiver C risto de aplicar-lhes seus m éri­tos na m edida que ju lgar oportuna.

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Q ue bondade do nosso C hefe! E nquanto nós, celebrando com Êle, retiram os um imenso fru to pessoal, um ente amado, cujo nome designamos e para quem desejam os esta ou aquela graça, por exemplo: a conversão, a saúde, a santificação, ou a libertação do purgatório , se se tra ta de defun­to, experim enta os efeitos da im petração infinita, apresentada por C risto à divina M ajestade.

O fru to que resulta desta intercessão onipoten­te é incalculável! P a ra te r um a idéia aliás muito fraca dêsse lucro, recordem o-nos quem é o A d­vogado que nos d e fe n d e .. . e em que term os o faz “pela apresentação de Sangue mais eloquen­te que o de A b e l . . . ” (H eb 12, 24) e com que am or intercede por n ó s !

Assim podemos ficar certos que, para obter do Altíssimo as graças espirituais ou tem porais que são necessárias à nossa salvação e à dos outros, não há no mundo meio mais poderoso e que se possa com porar com a oblação da S anta Missa.

O fruto daqueles que mandam celebrar a S. Missa

O m érito de um a obra de caridade depende de três coisas: do valor da obra, do esforço que exi­ge, e, enfim , do am or com que se executa.

N ão há obra algum a de m isericórdia que ex­ceda em valor à dádiva de um a S. Missa. A pre­sen tar um copo dágua é ato que será recom pensado; com quanto m aior razão devemos enriquecer uma alma com os fru tos da oblação infinita de Cristo. N ão há m isericórdia que se lhe aproxim e! Não há dom, nem riqueza que se lhe possa com parar! Se, portanto, socorrer ao próxim o em suas necessi­dades, prodigalizando-lhe cuidados m ateriais ou es­pirituais, a tra i sôbre nossa generosidade as bên­ção celestes, que cúmulo de m éritos advirá sô-

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CAP. I II . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 121

bre nós da oferenda da imolação de Cristo a um membro do Corpo M ístico!

Se o ônus que nos impomos é o segundo elemen­to do mérito, não é alheio à oblação do santo Sa­crifício: pois, para m andar celebrar M issas, não se deve dar ao sacerdote uma "espórtula” ? Cer­tas pessoas não têm dificuldade de encontrá-la em sua bôlsa, mas quantos humildes m embros de C risto têm que economizar, privando-se corajo­samente dessa economia para m andar celebrar al­gumas M issas! Q uantos sacerdotes não têm ficado p rofundam ente edificados quando certos fiéis lhes vêm entregar a espórtula, a fim de celebrarem pela intenção de seus pecadores ou de parentes fale­cidos !

E nfim , a caridade com que se pratica essa obra de m isericórdia é a terceira fonte de lucro que se pode tirar. A própria idéia de m andar celebrar M issas não indica que se tem no íntimo da alma o am or de D eus? Se êste am or não é muito de­senvolvido, o santo Sacrifício, que vai ser ofereci­do por meio de nossa espórtula, não terá por efeito aum entá-lo, perdoar nossos pecados e alcançar-nos virtudes?

N ão há obra de m isericórdia superior a esta: m andar celebrar M issas segundo as intenções das pessoas que querem os socorrer. Acima das quan­tias que reservam os para espórtulas coloquemos a prece que por elas dirigimos a D eus: a grande im­petração de Cristo na S. M issa, renovando seu Cal­vário !

A razSo de ser das "espórtulas”Certas pessoas se escandalizam de ver a Ig reja

impor aos fiéis a obrigação de dar "espórtu la” pa­ra te r direito à celebração de uma Missa. Che­gam mesmo a d izer: “A Ig re ja vende a M issa!”

É necessário p ro testa r contra esta expressão blas­fema e antes de tudo rebatê-la devidamente.

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1 ° A espórtula não é um pagamento, m as um a oferta. N ão é do espírito da Ig re ja nem do fiel que a espórtula represente a troca de um valor por outro correspondente. Pois bem sabemos que o valor de algum as moedas não se pode com parar com o da S. Missa. M as a Ig re ja quer que seus sacerdotes vivam condignam ente: como compensá- los do bem que fazem, senão aproveitando o ato principal dentre as funções que exercem a favor dos cris tão s? !

2.° A espórtula encerra apenas uma privação leve, o sacrifício de pequena quantia de dinheiro. A Ig reja quer que a oblação de uma S. M issa im­ponha alguina m ortificação, pois, de ou tro modo, os fiéis não aquilatariam — é assim a natureza hum ana — bem cabalmente da im portância 'cio santo Sacrifício.

3.° A espórtula constitui um contrato entre o fiel e o sacerdote, de acôrdo com o qual o sacer­dote fica obrigado, sob a pena de culpa grave, a celebrar a S anta M issa segundo as intenções deter­minadas. E sta quantia reclama a própria S. M issa: obriga o sacerdote ao cum prim ento de seu com pro­misso.

4.“ A espórtula c o único meio que torna possí­vel a obtenção de M issas. Como poderíam os obter, sem espórtula, todo o valor de uma S. M issa para nós? Todos poderiam reclam ar tanto mil M issas co­mo um a; pois não lhes custariam mais. O s sa­cerdotes ficariam acabrunhados de pedidos que não poderiam satisfazer e nem os fieis teriam direito de exigir: que título de obrigação teriam ? N ão re­cusariam acaso celebrar por estranhos, querendo orar prim eiro por seus pais ou amigos?

Pelo contrário , o gesto de perceber espórtulas c apenas m anifestação ex terior e solene de um com­promisso.

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CAP. i n . M EU FR U TO E SP IR IT U A L 123

A Igreja , por conseguinte, foi sábia em adotar a p rática das espórtulas para a celebração das S. M issas. Aqueles que desejam M issas podem obtê- las; podem ficar certos que sua M issa será d ita ; e dêste modo todos os abusos serão evitados, e, de parte a parte, sacerdotes e fiéis são satisfeitos.

N ão se deve dizer que as espórtulas dão azo a que só os ricos obtenham M issas e os pobres fi­quem privados delas. Pois a quantia exigida não é tal que cause prejuízo às mais m odestas bôlsas.

É verdade que a gente do povo não pode m andar celebrar M issas como as pessoas abastadas. Mas Deus vê tudo: para aquêles que se impõem uma pri­vação m eritória, concorrendo com a espórtula, sua sabedoria não pode com pensar a impossibilida­de de ter m uitas M issas com o lucro de uma só?

Se certos indigentes, apesar do desejo, são in­capazes de m andar celebrar M issas, os m éritos de Cristo não serão acaso abundantes para que Deus derram e sôbre os membros pobres e abandonados de C risto uma parte do tesouro inesgotável da Igreja , em troca de sua boa vontade?! E ntão, não há M issas sem fim imediato, por exemplo, aquelas que são oferecidas po r almas que já en tra­ram no céu, ou as que são oferecidas sem se fo r­m ular intenção particu lar? O lucro dessas M issas cai 110 tesouro espiritual da Ig reja . Deus aplica-o quando e á quem quer, segundo os designios ado­ráveis da soberana Justiça.

O lucro dos que concorrem de qualquer outro modo

para a celebraçãoA oblação do santo Sacrifício aproveita ainda a

todos aquêles que, de qualquer outro modo, con­correm para a celebração.

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124 SEGUNDA P A R T E

O coroinha, que está tão intim am ente unido ao ritual, percebe, é certo, a recompensa de sua valiosa e tão próxim a colaboração. E aqui é para lasti­mar-se a leviandade com a qual responde m ui­tas vêzes à S. Missa. Deve-se p rocu rar cham ar a atenção dos acólitos para a grandeza do seu pa­pel e para os fru tos que podem lucrar.

As pessoas piedosas que contribuíram com o pão, o vinho, as velas; as pessoas que bordaram os param entos, confecionaram as toalhas do a lta r e o mais, também têm um a parte especial na imola­ção de Cristo. Como isto deve dar coragem a êsses doadores, a êsses operários em sua piedosa ativi­dade !

O s encarregados da Ig reja , aquêles que prepa­ram os param entos na sacristia, aquêles que concor­rem para o asseio do santuário , que adornam os a l ta r e s . . . têm também direito ao fru to das S. M is­sa das quais ajudam a proporcionar a digna celebra­ção.

Cada um dêsses colaboradores, próxim os ou a fas­tados, deve pensar nas graças que quotidianam en­te pode recolher, contanto que saiba d irig ir sua intenção, e un ir-se habitualm ente a todas as S. M issas para as quais oferece seu hum ilde concur­so.

C A P ÍT U L O IV

O PROVEITO PARA O PURGATÓRIODE QUALQUER MODO TEREI A "MINHA" MISSA NO

PURGATÓRIO... E ESTA MISSA ME ALIVIARA NA ME­DIDA EM QUE EU TIVER APRECIADO A “MINHA" MISSA NESTE MUNDO.

A “minha” Missa, orvalho para o purgatório

O proveito que tiro da celebração da “m inha” M issa não impede de modo algum que as almas do purgatório também recolham o seu. Recebem da

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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TO RIO 125

oblação de Cristo um alívio aos seus sofrim entos, segundo esta palavra da Im itação: “Q uando o sacerdote celebra, contribui para o descanso dos defuntos.” 1

Êste resultado que o purgatório tira da celebra­ção da “m inha” M issa explica-se muito simples­mente: as almas do purgatório são, como nós, mem­bros do Corpo M ístico de Cristo. Estão unidas a seu C hefe por laços indissolúveis para sempre.

A renovação da homenagem infinita do Calvário por intermédio de Cristo tem por fim, como já fi­cou dem onstrado, to rnar o ato suprem o de reli­gião de Cristo acessível ao seu Corpo M ístico, e aplicar os frutos dêsse mesmo ato aos seus mem­bros. O ra, quando celebramos a “nossa” M issa pelas alm as do purgatório , e, m elhor ainda, por uma tal alma determ inada, por que razão essas almas não deverão te r a parte que lhes toca das satisfações do R e d e n to r? .. .

P o r isso é que o Concílio de T ren to condena form alm ente “aquêles que d is se re m ... que o sa­crifício da M issa não aproveita de modo algum às alm as dos m ortos.”2 E é por isso — acres­centa — que se oferece a Santa Missa, segundo a tradição apostólica, não só para alívio de tôdas as necessidades dos vivos, m as também pelos de fu n ­tos, m ortos em Cristo que ainda não se purifica­ram suficientem ente.” 3

A “m inha" M issa é, pois, para em pregar um a expressão fam iliar à S anta Ig reja , “um orvalho” esparso sôbre as cham as do purgatório , pois ela abrevia o tempo que falta às alm as padecentes pa­ra atingirem “a sede do refrigério” ou ainda a “eterna frescura” .4

1) Imit. 1. 4, c. 5, n. 3. 2) Sessão 22.3) Ibidem. 4) Missal Romano.

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A liturgia recorda que, em " minha” Missa, devo dar a parte dos defuntos

A caridade exige que a parte do Corpo M ístico, que possui em suas mãos a oblação do Cristo, não esqueça a ou tra parte dêste mesmo Corpo M ís­tico, a qual não a pode mais celebrar. A nós pertence não p rivar a Ig re ja padecente do m aior de seus bens: o Sacrifício que aplica os m éritos de Cris­to.

A S anta Ig re ja tem a precaução de recordar-nos, cm cada uma de “nossas” Missas, qual a parte que devemos d a r aos nossos irmãos falecidos, a fim de que não tenham os o perigo de esquecê- los.

Não mencionamos aqui a L iturg ia da “ Missa dos m ortos” , tôda repleta, é claro, de recordações das alm as do purgatório e das mais eloquentes invocações em seu favor, mas referim o-nos aos ri­tos impostos pela Ig re ja a tôdas as M issas que se celebram.

À oferenda do pão, diz o sacerdote: “Recebei, santo Pai, esta hóstia imaculada que Vos o fere­ço pelos v iv o s . . . e pelos m o r to s . . .” A Ig re ja completa, m ilitante, padecente e triunfan te , par­ticipará, pois, da o ferenda ; a triun fan te receberá honra e glória, a m ilitante, graças de salvação, a padecente, o refrigério .

Após a consagração, no m omento em que Cris­to C hefe está presente no a lta r e renova a home­nagem do Calvário, o celebrante pronuncia esta fórm ula: "Lem brai-vos também, Senhor, d e Vos­sos servos e servas que nos precederam com . o si­nal da fé e agora descansam no sono da paz.”

Enquanto pronuncia essa oração, o sacerdote ju n ­ta as mãos e recolhe-se. É neste m omento de pro­fundo silêncio que pronuncia os nomes daqueles e daquelas que recom enda particu larm ente; do m or­to ou dos m ortos pelos quais oferece o santo

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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 127

Sacrifício, os noines dos m em bros de sua fam í­lia, de seus amigos, de seus benfeitores fa lec id o s.. . Depois acrescenta: “A êstes, Senhor, e a todos aquêles que repousam em Cristo, concedei, Vo-lo pedimos, o lugar do refrigério , da luz e da paz. Pelo m esm o-Jesus Cristo, Nosso Senhor.”

Colocando esta intervenção em favor dos fiéis defuntos no momento mais solene da S. Missa, a U tu rg ia m ostra a parte imensa que Cristo, de quem a Ig re ja é a fiel intérprete, dá do Sacri­fício do a lta r às alm as do purgatório . Como po­deria deixar abandonados êsses pobres membros que amam seu Chefe com am or intenso, pois que então aprenderam a conhecê-Lo m elhor que na terra , porque com preenderam claram ente a espécie do la­ço vital que os une a Êle!

Deste modo em tôdas as S. M issas, mesmo nas que não são ditas especialmente por elas, as almas dos fiéis defuntos têm a sua memória na Ig re ­ja e na oração de Cristo. Tôdas as M issas lhes são, pois, proveitosas de algum a maneira.

Terct eu "minha” Missa no purgatório?

D everei contentar-m e com o fru to geral da San­ta M issa, quando estiver no purgatório? N ão po­derei obter mais algum a c o is a ? .. . O bter M issas, cujo fru to não seja aplicado em geral, mas a mim em p a r tic u la r? .. . M issas que, como o u tro ra na terra , eu possa cham ar “m inhas” M is s a s ? .. . U m a S. M issa na qual eu colabore com Cristo, meu Che­fe, em que eu mesmo participe de modo especial dos fru tos do S a c rif íc io ? .. . Parece-m e que, se eu pudesse celebrar a “m inha” M issa no purga­tório, as chamas tôdas se extinguiriam em tôrno de mim!

E sta pretensão de te r a “m inha” M issa no pu r­gatório parece irrealizável. A s almas padecentes

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128 SEGUNDA PA R T E

não fazem mais parte da assembléia visivel da Igre­ja, à qual, por ou tra parte, não desejam , de modo algum, ser de novo agregadas. Estarão , pois, em estado de te r uma participação pessoal no Sa­crifício do altar que só a Ig re ja m ilitante pode ofe­recer sob as espccies sensíveis do pão e do vinho? Ser-lhes-á preciso resignar-se a ficar privadas dos frutos que a oblação de C risto faz chover sôbre aqueles que concorrem para a sua realização?

Terei a "minha” Missa no purgatório:1.° se tiver o cuidado de mandar celebrá-la,

em vida, pelo repouso de minha almaÉ certo que a alma, após sua entrada 110 purga­

tório, não pode mais operar como os ou tros mem­bros de Cristo na terra , que podem só êles ap re­sen tar a oferenda. É por isso que ela não pode mais celebrar. M as se, antes de p a rtir dêste mundo, essa alm a quis reservar várias M issas para o tem ­po que seguir a m orte, e se tomou precauções pa­ra êste fim, encarregando, por exemplo, certas pessoas sinceras de m andar celebrar em sua in­tenção, neste caso, essa alma, ainda que já encer­rada no lugar de expiação, concorre realm ente à oblação. O u tro ra economizou, mesmo à custa das mais duras privações, as quantias necessárias pa­ra concorrer com espórtulas suficientes, e dêsse modo m anifestou expressam ente a vontade de dar hom enagem infin ita à Santíssim a Trindade: é em vista dessa homenagem, e sob sua ordem, que o sacerdote celebra o Sacrifício redentor e glori- ficador.

Nunca se poderá encarar bastante esta piedosa prática: que os fiéis se assegurem Missas para de­pois da morte. D êste modo prolongam tanto quan­to podem sua participação ativa na oferenda do a lta r e m anifestam seu zêlo pela celebração de sua

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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 129

Missa, m uito além dos limites terrestres. E será possivel que Deus se não compadeça mui especial­m ente de tan ta boa vontade da parte destas almas que neste m undo se preocupam de perpetuar, por meio de Cristo, sua homenagem à Santissim a T rin ­dade? N ão dem onstraram uma veneração p ro fun ­da pelo Sacrifício divino, procurando assegurar- se um a participação nêle para o tempo em que as necessidades da expiação as privariam de acer­car-se do a lta r e de can tar os louvores celes­tes?

Daí se depreende a gravidade da falta que come­teriam os herdeiros avaros ou negligentes que, não atendendo à vontade expressa do defunto, deixas­sem de em pregar em M issas o dinheiro que fôra depositado para êste fim. Ésses criminosos privam a alma padecente do mais precioso dos socorros e da consolação suprem a. Se, antes de m orrer, essas cria turas ladras obtiverem o perdão, f i­car-lhes-á a pagar no purgatório uma pena tem ­poral bem pesada. Seu castigo poderia bem consis­tir em ficarem privados pela divina Justiça dos alívios que a S anta M issa prodigaliza aos pobres to rturados nas chamas.

Terei a “minha” Missa no purgatório:2.° se outras pessoas tiverem a caridade

de mandar celebrar por mimO fiel defunto im previdente que, em vida, não

tivesse tido a precaução de se assegurar algumas Missas, pode ainda assim mesmo partic ipar pes­soalm ente das M issas que se tornam suas, se am i­gos caridosos se preocupam de m andar oferecer por Lie o santo Sacrifício.

Não é mais a título de oferente, mas somente de objeto da intenção da S. M issa, que a alm a apro­veita do sacrifício, que, de certo modo, lhe per­te n c e . . . "Lem brai-vos, Senhor — diz o sacer­

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ISO SEGUNDA P A R T E

dote, — daqueles pelos quais V os o fe r e ç o .. . êste sacrifício de louvor.”

C ompreende-se então por que a Ig re ja tanto re­comenda aos mem bros de Cristo vivo, neste m un­do, m andar celebrar M issas pelos fiéis defuntos. Comprova que a oferenda do Sacrifício infini­to é a m aior caridade que se possa fazer aos nossos caros mortos, o m elhor meio de exprim ir o reconhecimento que lhes devemos.

E é por isso que a Santa Ig re ja instituiu os ri­tos maravilhosos e as orações incomparáveis, p ró ­prias das M issas de defun tos; convida-nos a o ra r por meio de orações especiais por nosso pai e nos­sa mãe, nossos parentes e amigos, nossos benfei­tores, os sacerdotes e os Srs. Bispos que tiveram re ­lação conosco, os fiéis que pertencerem à nossa m esma P a ró q u ia .. . Considera o ofício dos m or­tos, cujo ponto culm inante é a M issa de defuntos, como a mais forte expressão de nossas orações: e é por isso também que nos convida, po r meio do Sacrificio do a ltar, a un ir o mais possível as al­m as de nossos falecidos à homenagem infin ita­mente redentora, que Cristo, C hefe do Corpo M ís­tico, oferece à Santíssim a T rindade.

E se eu não tiver missas “propriamente minhas” no purgatório?

Se o fiel que sofre no purgatório não teve a precaução de m andar celebrar Missas por si, e se de ou tro lado ninguém na te rra pensa em m an­dar celebrá-las, que será dêle em meio às cha­mas vingadoras? F icará abandonado sem esperan­ças de alívio?

Não. Pode-se a firm ar que, mesmo assim, per­ceberá algum lucro dos Sacrifícios celebrados em nossos altares.

Em prim eiro lugar, tôda S. M issa encerra, co­mo vimos, um a m em ória e prece pelos defuntos:

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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 131

as alm as padecentes têm, pois, sua p arte no pro ­veito geral da Santa Missa.

M as, além dêste fru to comum, certam ente te­rão um outro m uito especial. H á m uitas Missas, cu ja riqueza não determ inada fica à disposição de Deus. H á m uitas M issas que não são aplicadas à pessoa à qual se destinavam , ou porque a alma a aliviar não esteja mais no purgatório , tendo já voado ao paraíso, ou — a i ! — porque nunca che­garam a en trar, por terem caído nas “ trevas lá fo ra” .

E no entanto,, o m érito dessas M issas ex iste ; sua eficácia satisfatória é total. E esta eficácia aca­so se desvanecerá sem utilização possível? N ão! não há que recear tal desgraça; pois aí rege a lei da caridade. O rico que, na terra , tivesse assegu­rado para si grande núm ero de M issas em per­pétuo não deveria destinar aos pobres as satis­fações que lhe fôssem supérfluas? E , ainda mes­mo que não tenha pensado em ceder-lhes de sua abundância, a Ig re ja supre seu esquecimento, fa ­zendo com que o supérfluo dos ricos recaia na tu ­ralm ente no seio dos indigentes. Todos os m éri­tos das oblações m últiplas, que na te rra se o fere­cem pelos defuntos que não têm mais necessida­de, ficam para o proveito das “almas abandona­das” .

E depois, o núm ero dessas “alm as abandonadas” do purgatório não é lá tão grande como se pensa. A delicadeza das alm as boas dêste m undo é sem­pre levada a auxiliá-las. Q uantas vêzes os sa­cerdotes recebem espórtulas de M issas com esta in tenção: “para as almas abandonadas” . C ertas co­munidades religiosas têm mesmo como finalidade do seu zêlo o alívio das alm as menos sufragadas e mais necessitadas de re frigério ; a m aior parte

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132 SEGUNDA PA R T E

dos Pes. V igários celebram, e m uitas vêzes com intervalos bem próxim os, na intenção "dos m or­tos da Paróquia” , cuja espórtula é garan tida por meio das coletas regulares para os mortos, ou por reservas determ inadas feitas aos recursos ordiná­rios.

A própria Ig re ja é solícita em p rocu rar aliviar as alm as de seus membros so fren tes que tenham sido abandonados pelos seus. No dia da "Comemo­ração dos Fiéis D efuntos” a Ig re ja m anda celebrar por todos o santo Sacrifício, levando mesmo sua solicitude a ponto de pedir aos sacerdotes a cari- dades de repetir três vêzes nessa m anhã a obla­ção infinita pelo descanso dos mortos.

G raças ao espírito de caridade que anima o Corpo M ístico de Cristo, m embro algum pode quei­xar-se dos ou tros: há sem pre m útuo auxílio na Igreja . E n tre a Ig re ja da te rra e a do purgatório as relações são' múltiplas. Os fiéis que celebram a “sua” M issa são cada dia advertidos pela L i­turgia que devem pensar nos defuntos. E mesmo que não fôssem lem brados por ela a fazer a o ra­ção pelos mortos, sua fé de concelebrantes e sua união ao Chefe do Corpo Místico levá-los-ia na­turalm ente a pensar nos m embros da Ig re ja pade­cente.

"Minha” Missa no purgatório é só “libertadora”

M as qual será o proveito que certam ente me to­cará 110 purgatório das M issas que forem "m inhas” , quer das que eu tenha m andado celebrar, quer de ou tras de cujo fru to alguém me tornou partic i­pante ?

U m a com paração fa rá com preender como o fru ­to dessas M issas é somente “ libertador” e depen­de, portan to , da vontade do m eu C riador que é Deus bondoso.

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U m soldado em atividade ganha os galões de honra e ao mesmo tempo um bom vencimento que lhe perm ite prover a tôdas as necessidades. E i-lo chegado ao pôsto de general, a custo dos próprios méritos. Teve, porém , a infelicidade de contrair dívidas. N o m omento de deixar o exército, encon­tra-se sem recursos. V endo-o seus credores culpado, m andam julgá-lo e condenar à prisão por certo núm ero de anos. Só poderá sair antes de ex­p ira r êsse prazo, se pagar, “até ao últim o centavo” . (M t 5, 26.) Evidentem ente continua a ser general, porque seus m éritos não os perdeu ; mas, para libertar-se, entrega-se às mãos dos amigos, cu ja ge­nerosidade, somente, poderá apressar sua liberda­de, satisfazendo o credor.

Tal é o m embro do Corpo Místico nesta te rra ; em atividade, merece, progride, “ganha seus ga­lões” , torna-se m embro unido ao Chefe, um dos principais do Corpo Místico.

Tem contudo dívidas que não foram pagas: é lançado na prisão do purgatório por tempo deter­m inado pela Justiça divina, tempo que só poderá ser abreviado por aquêles que quiserem pagar por êle. O ra, o "único” que pode pagar é C risto ; as oferendas do Corpo M ístico na S. Missa, são os m éritos do Salvador. Essa alma, que não pode ga­nhar mais nada, está, pois, entregue à generosidade de Cristo.

P a ra m embro do Corpo M ístico "em atividade” , concelebrante com seu Chefe no altar, a “ sua” M is­sa é m eritória; sua colaboração dá-lhe direitos a novos fru tos na intim idade do R edentor: vê-se cu­mulado de todos os fru tos enum erados no capí­tulo “ F ru tos espirituais” . P a ra o membro de Cris­to, recluso no purgatório , “sua” M issa só é li­bertadora: não lhe ad ian tará fru tos, m as será ape­nas um a paga dos "atrasados” , dependendo dos

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134 SEGUNDA PA R T E

m éritos que Cristo apresen tar à Santíssim a T rin d a ­de. Jesus Sacerdote tem ganhos infinitos para d is­tribu ir conosco; mas, enquanto o m embro vivo do Corpo Místico pode hau rir dêsse tesouro para enriquecer-se, a alm a do purgatório só pode espe­ra r o que venha dêsse tesouro para saldar suas dívidas.

Será todo fiel libertado por "sua” Missa no purgatório?

Em que medida o Chefe do Corpo M ístico salda as dívidas dos seus m embros padecentes que p a r­ticipam das S. M issas em nossos altares?

Se Nosso Senhor quisesse, uma só M issa bas­taria de fato para esvaziar todo o purgatório .

M as a prática da Igreja , baseada sôbre as mais graves razões teológicas, faz-nos repetir o m aior núm ero de vêzes possível a o ferenda do santo Sa­crifício pelos nossos falecidos. É que a divina V í­tim a não distribui geralm ente de um a só vez os m éritos de sua imolação pelas almas, mas lhos prodigaliza mais ou menos abundantem ente, segun­do as vistas de sua sabedoria.

A inda que a m edida desta libertação perm aneça para nós um m istério, podemos, todavia, en tre­ver algum as de suas norm as diretrizes. E stas de um lado esclarecerão nossa devoção para com as a l­mas do purgatório , e do outro nos d itarão os meios que devemos tom ar desde êste m undo para asse­gurar-nos as vantagens de um a pronta libertação das chamas, se form os obrigados a passar por lá.

Certos membros do Corpo Místico chegam a êsse lugar de suplício, abrasados de um a ardente ca­ridade, habituados como estavam a te r parte ativa na “ sua” Missa, a qual fazia dêles colaboradores intim am ente unidos ao Chefe na oblação da ho­menagem infinita. E será possível que êstes não recebam logo na prim eira de “suas” M issas de

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defunto, da qual provavelm ente participam , não só por terem concorrido com a espórtula, como por­que é por êles que se celebra, um proveito capaz de libertá-los mui rapidam ente e a té im ediatam ente de tôda a dívida?

C risto poderá acaso to lerar que adoradores tão solicitos em p restar ao Altíssimo a m aior glória, fiquem esperando por muito tempo o gôzo da fe­licidade de contem plar sem véu a Santíssim a T rin ­dade? Quem sabe até se, em sua bondade infinita para com seus membros, êste Chefe incomparável não lhes aplicará, logo à en trada no purgatório , os lucros da sua “prim eira M issa de defuntos” , que será talvez celebrada só no dia seguinte? O am or não quer delongas. Será tem erário pensar que, tendo Êle poder para isso, não abrevie o tem ­po do purgatório?

“Minha” Missa neste mnndo abrevia o tempo do purgatório

D esta consideração podemos tira r uma lição muito im portante para nós. N ão se pode, de fato, estabelecer como princípio: “A Santa M issa aliviar- me-á, quando estiver no purgatório , na m edida da perfeição com a qual tiver celebrado a minha M issa” ? Se eu tiver sido um adorador perfeito da Santíssim a T rindade com e por meio de Cristo, meu C hefe; se tiver prestado po r meio dêle satis­fações infinitas à divina M ajestade, não terei a tra í­do sôbre mim infinitas liberalidades da parte dA - quele que não esquece a esmola de um copo de água ?

P o r isso, dada a homenaguem completa que tribu ta a Deus, a “m inha” M issa é para mim neste m undo a certeza da abreviação do purgatório . P o r meio dela me livro eficazm ente daquelas chamas vingadoras. A “m inha” M issa obtém-me cada m a­nhã, em troca das homenagens de louvor e de sa­

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tisfação que dou a Deus, o aum ento de meus direi­tos à bem -aventurança e, por consequência, ao per­dão de minhas d iv idas; além disso me dispõe a receber, se cair naquelas chamas, o pronto socorro dos “ refrigérios” de Cristo imolado, pois lem brar- se-á de libertar, no momento oportuno, seus cola­boradores no santo altar.

M as todos os m embros do Corpo M ístico não estão assim unidos ao C h e fe .. . M uitos deixa- r a m -0 oferecer sozinho os louvores devidos a Deus e preocuparam -se de tudo, exceto de associar-se ao sacrifício de Cristo. U ns ignoravam seu valor, ou tros desprezavam -no. Os prim eiros assistiam à sua M issa paroquial como a um a enfadonha obri­gação, apenas de corpo p resen te; os segundos se afastaram quase em tôda a vida do caminho da Igreja . E todavia, no derradeiro momento, a graça da volta para Deus, com os últim os Sacram entos, e a intercessão da Santíssim a Virgem , abriram as portas de salvação a essas alm as pouco fervorosas. E i-las, assim, no p u rg a tó r io .. . N ão merecem essas alm as perm anecer aí por certo tempo, para apren­der, ainda que por meio de austera experiência pes­soal, que não é em vão que C risto exige nossa co­laboração no Sacrifício do a lta r e que a celebração de "nossa” Missa é o mais im portante dos nossos deveres ?

Será preciso que estas almas aguardem o céu no sofrim ento, pois sua en trada no purgatório m ar­ca para elas a prim eira estância para o céu, en­quanto que, para as almas que term inaram a lon­ga peregrinação de vida cristã, a chegada às cha­mas do purgatório é apenas a últim a parada an­tes do refrigério eterno.

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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 137

Podemos estar certos de que Deus aplica às almas do purgatório,

tanto quanto possível, as satisfações de “sua” Missa

Se Deus quissesse a tu ar sem atender às leis o r­d inárias que sua sabedoria se impôs, é evidente que poderia salvar qualquer alma do purgatório com a aplicação de uma só Missa. M as Deus respeita — salvo por motivos excepcionais só dÊle conhecidos — a ordem habitualm ente estabelecida. É por isso que devemos pensar que a distribuição das satis­fações de Cristo aos seus m embros sofredores é subordinada aos fins de expiação para os quais foi criado o purgatório .

D eterm inar as condições da expiação e a medida em que é aplicado o fru to de nossas Missas, é um cálculo reservado só a Deus. Podemos en tre­tanto ter duas certezas sóbre o resultado de nos­sas oblações no purgatório:

1.° Deus é tão generoso quanto possível para com os m embros de Cristo. Am a decerto mui parti­cularm ente essas alm as salvas pelos m éritos do calvário e a Êle unidas por um a caridade que na­da jam ais poderá rom per. T udo o que sua mise­ricórdia pode conceder a essas almas, sem u ltra ­passar os direitos de sua justiça e as necessida­des da expiação, lhes c concedido. Cada alm a lu­cra, pois, de cada S. M issa, o máximo que pode lucrar.

2.° S e cada alma não recebe mais, é a si pró­pria e não a Deus que deve atribuir as delongas da sua libertação. N a realidade, cada m embro pade­cente de Cristo só recebe de sua Missa de requiem o que c capaz de possuir. N este inundo, a “sua” M issa, que cm si era de um valor inesgotável, só lhe proporcionava proveito lim itado, segundo sua capacidade espiritual. No purgatório , onde a S. M issa já não tem ação direta, seus m éritos são

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entregues à B ondade divina, para serem d istribuí­dos; porém essa distribuição, em bora feita pela generosidade divina, não deverá, po r acaso, com raras exceções m ilagrosas, conform ar-se ao g rau de receptividade de cada um ?

H á naquelas cham as m embros do Corpo M ísti­co tão vazios de v irtudes e, por ou tro lado, tão sobrecarregados de dívidas que só podem receber em suas minúsculas mãos m uito pouco, e no en­tanto têm tanto que pagar! U m a gota de orvalho refrigeran te já é bastante copiosa para sua bôca, contanto que possam bebê-la tôda. M as, para com­pletar sua satisfação, ser-lhes-ia preciso grande có­pia delas. Mesmo apressando-a por M issas repe­lidas, a hora do livram ento dem orará muito. Foi de uma alma assim que o santo cura de A rs, que tinha visões m iraculosas do purgatório , dizia: “E s ­tá salva, mas está muito em b a ix o .. . orai muito por êle.”5

Pelo contrário, outros membros do Corpo M ís­tico são fortes e vigorosos, porque souberam tira r proveito da vida que Cristo lhes infundia.

N o purgatório abrem mãos amplas no momen­to em que Cristo distribui o fru to libertador das S. Missas.

E poder-se-á por ventura d a r o caso que Cris­to, desejoso de possuir essas almas na glória, he­site em lhes dar a medida de satisfações que pos­sam com portar? E porque êstes mem bros do Corpo Místico estão decerto pouco carregados de dívi­das, pois neste m undo procuravam não te r dé­ficit na sua vida, em breve suas contas estarão equilibradas.

Foi assim que a piedade cristã sem pre ima­ginou a distribuição das satisfações de C risto no purgatório . Cada alm a recebe, com tôda a justi-

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5) Trochu, Vida do Cura de Ars.

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CAP. IV. O PR O V E IT O DO PU R GA TÓ RIO 139

ça e sabedoria, de cada S. M issa que se celebra por ela, tudo o que Deus lhe pode dar.

Todavia, como não conhecemos os segredos da Providência, pelos quais é avaliada a medida da repartição do lucro das M issas oferecidas pelos defuntos, devemos repeti-las sem pre e sem des­canso.

O que é melhor para nós? mandar em vida celebrar missas por nós

ou delxá-Ias para depois (la morte?Os elementos da resposta a esta questão acham-

se nas páginas precedentes. É bem certo que a “nossa” M issa, celebrada por nós e para nós no al­ta r de Cristo, é m uito mais preciosa do que vossa M issa de rcquie.

1.° N este mundo colaboramos deveras no Sa­crifício divino, oferecendo à Santíssim a T rindade, em união com Cristo, a homenagem infinita. No purgatório não terem os mais esta intim idade com a V ítim a do altar. A oblação de vossas M issas, mesmo a das M issas para as quais deixam os as espórtulas, terá direito apenas um concurso nosso indireto e remoto.

2.° N este mundo a colaboração em vossa M issa é para nós uma fonte de m éritos imensos e de g ra ­ças abundantes de santificação. No purgatório “nos­sa” M issa de defunto não nos alcançará nenhum novo mérito, porque não serem os mais capazes de m erecer. Nosso cabedal de lucros ou perdas já es­ta rá encerrado para sempre.

3.® N este mundo por vossa M issa satisfazem os, com plenos direitos, a pena devida pelos nossos pecados, contanto que não oponhamos obstáculos a isso por nossas más disposições. Pode-se m es­mo dizer que a "penitência é suave” , pois só te ­mos que nos aproveitar dos m éritos do nosso Chefe. N o purgatório nossa M issa de m ortos não nos aplicará mais d iretam ente os fru tos da Paixão,

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140 SEGUNDA P A R T E

mas rem etê-los-á nas mãos de Deus, o qual, como acabamos de ver, no-los aplicará com tôda a libe­ralidade, mas segundo as necessidades da expia­ção e de acôrdo com sua justiça.

4." N este mundo, quando solvemos as espór­tulas de M issas que mandam os celebrar, nos im­pomos um a privação e fazemos um ato de abne­gação sem pre m eritório. N o purgatório , quando se celebram nossas M issas de defunto, privarem os nosso herdeiros de dinheiro, de que nos g aran ti­mos o u su fru to : serão êles que farão a m ortifica­ção. É por isso que certas pessoas, aliás avaras de M issas duran te a vida, se m ostram tão interes­sadas em m andar celebrá-las depois da morte.

5.° N este m undo estamos certos de que as 5\ M issas que mandam os celebrar são celebradas. N o purgatório , poderá acontecer que tenham os de es­perar m uito tempo até que nossos herdeiros quei­ram executar nossas últim as vontades.

T ôdas estas razões nos provam cabalmente que é mais vantajoso e mais prudente m andar celebrar as “nossas” Missas em vida.

E todavia grande núm ero de fiéis mesmo pie­dosos hesitam. M uitas vêzes são levados por um %fentimento de caridade: p referem em pregar em es­molas as espórtulas de que dispõem para seus de­funtos, abandonando-se, para quando estiverem no purgatório , à fidelidade de seus herdeiros e à mi­sericórdia de Deus.

N ão deixa de ser louvável êste sentim ento, pois a caridade agrada tanto ao Pai celeste, que certa­m ente êstes m embros de Cristo nada perderão de sua generosidade, contanto que sejam m uito fe r­vorosos na celebração quotidiana de sua Missa, e estejam resolvidos a m andar celebrar o santo Sacrifício tantas vêzes quantas puderem , em sua intenção, após a morte.

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TERCEIRA PARTE

M E IO S P A R A BEM C E L E B R A R “M IN H A ” M ISSA

Prim eiro capítulo

A preparação

A digna celebração de “m inha” Missa supõe mi­nha ascensão quotidiana para a perfeição, sendo a

S. M issa o ponto culm inante da vida cristã.

Segundo capítulo

A assistência

A m aneira de asociar-m e com fru to à celebração do sacerdote no altar.

T erceiro capítulo

A Comunhão

A Santa Comunhão, parte integrante do Sacrificio, é o canal pelo qual se expande em m inha alma a

imensa reserva dos m éritos de Jesus Cristo.

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T E R C E I R A P A R T EC A P ÍT U L O I

A PREPARAÇÃOA "MINHA” MISSA, SENDO O MAIOR ATO QUE POSSO

FAZER NESTE MUNDO. DEVE SER PREPARADA EM TODA A MINHA VIDA... E “MINHA” PARTICIPAÇAO NO SACRIFÍCIO DEPENDE DO ESFORÇO QUE EMPRE­GAR PARA ME TORNAR DIGNO DE CELEBRA-LA.

A celebração de “minha” Missa não se Improvisa

Como o sacerdote que subisse ao santo a lta r sem a preparação devida não ofereceria dignam ente a oblação, assim o membro do Corpo M ístico que não se dispôs a o ferecer a oblação e a oferecer- se com seu C hefe não está apto a participar do santo Sacrificio, com tôda a eficácia. Sacerdote, fieis e Cristo fazem, como vimos, um único Cris­to M ístico, que c o sacrificador e a vítima. Todo membro, quer seja grande ou pequeno, só pode­rá colaborar, se estiver em contacto com a Cabeça, neste grande e m aravilhoso organism o sobrenatu­ral, que é “o Filho de D eus” integrado e com­pleto.

A “m inha” M issa exige, pois, de mim que me reafirm e, por meio de um a preparação assídua e perseverante, na união intim a com Cristo. Se te­nho o desejo de concelebrar com Êle, é preciso que esteja unido a Êle o mais estreitam ente possível, a título de membro.

E por ou tra, meu Chefe divino não m e dá o exemplo da preparação ao Sacrifício? Q ue fêz d u - . ran te os trin ta anos de vida terrestre , senão p re­parar-se para o Sacrifício do Gólgota? “Vim, ó meu Pai. — disse Êle — para fazer a V ossa vonta­de.” (H eb 10, 9 .) E sta vontade era o decreto de imolação. D urante sua peregrinação neste mundo,

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CAP. I. A PR EPA RA ÇA O 143

ora, je jua, adora a seu Pai, celebra a M issa sole­ne que deve term inar sua vida m ortal.

M as, como não devia celebrá-la só, a p repara­ção de C risto é também a de seu Corpo Místico: por isso é que todo o evangelho no-Lo apresenta form ando a Igreja , com seus d iferentes membros, pastores e fiéis, dispondo-a para a grande oblação e para a glorificação que se seguirá, a qual fêz en trever a Pedro, T iago e João, no Tabor.

O Sacrifício realizado um a só vez no Calvário e renovado sôbre o a lta r é, pois, para nós, mem­bros a tuais do Corpo M ístico sôbre a te rra , o pon­to culm inante de nossa existência, o ato supremo de nossa vida cristã, para cu ja preparação nosso Chefe nos ordena tôda a solicitude. Com partici­pes de Cristo, nossa Cabeça, e vivendo dÊle e com Êle para a glória da Santíssim a Trindade, não nos podemos aproxim ar do altar, como convém, sem adap ta r nosso espírito e nosso coração às funções sacerdotais que devemos com partilhar com o Sumo Sacerdote.

Assim, pois, é necessário, para que “m inha” M issa seja uina participação digna e fru tuosa da oblação infinita, que me disponha para ela a tenta e dem oradam ente. M eu C hefe mesmo espera de mim que eu Lhe seja um m embro capaz de a tuar: C risto tem necessidade de sen tir o próprio Corpo revigorado e em plena robustez, quando realiza o ato único de oblação suprem a.

Qual deve ser a preparação & “minha” Missa?

P ara bem celebrar a "m inha” Missa, em pri­meiro lugar, é necessário que me ap rofunde no conhecimento dos M istérios do a lta r e, por con­sequência, que seja iniciado nos princípios do Sa- serdócio e da Eucaristia : a preparação, pois, para “m inha” M issa deverá ser, ein prim eiro lugar, doutrinal.

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O dogma católico traduz-se aos nossos olhos de um modo visível pela L iturg ia: nossas cerimônias sacras são, para em pregar um a expressão m oder­na, a melhor ilustração de nossa crença. A prepa­ração para “minha ’’M issa deverá ser, portanto, Utúrgica.

M as, para com partilhar eficazm ente do dram a do altar, devo scr membro solidamente unido ao meu Chefe divino, mediante a g ra ç a ; alem disso devo estre itar quotidianam ente m inha união com Êle, tornando m inha vontade sem elhante à dÊle pela prática de t.ôdas as virtudes. A preparação pa­ra “m inha” M issa será ainda ascética.

Se eu trabalhar em tôda a minha vida e de to­do o coração para esta tríplice preparação, serei cada dia menos indigno de oferecer com meu Chefe a homenagem de glória suprem a à Santíssim a T rin ­dade.

1.° A preparação doutrinal para "minha" Missa

“N inguém deseja o que não conhece.” P o r isso, a p rim eira necessidade que se impõe ao fiel, pa­ra apreciar devidam ente “sua” Missa, é p rocurar conhecer o seu valor. A i ! — todavia é preciso confessar — m uitos cristãos ignoram as verdades concernentes aos M istérios do altar. M uitos têm apenas dêste Sacrifício “que é o seu”1 vagas no­ções aprendidas, reminiscências apagadas do ca­tecismo de prim eira Comunhão. Compreende-se as­sim a indiferença que certos católicos m anifestam pela “suá” Missa de domingo, as censuras que fa ­zem à Ig re ja por obrigá-los a assistir a ela, e a facilidade com que se dispensam sem grande re ­morsos.

É preciso, portanto, saber o que é a S. Missa. Seu estudo é o mais im portante e o mais fru tuo-

144 T E R C E IR A PA R T E

1) “Orate frates”.

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CAP. I. A PR E PA RA ÇA O 145

so de todos que temos a fazer neste mundo, po r­que a S. M issa nos obriga a estudar os m istérios principais de nossa fé : Santíssim a Trindade, In ­carnação, Redenção, Graça, Salvação.

A leitura, primeiro melo para assegurar a preparação doutrinal de ‘‘minha*’ Missa

U m membro de Cristo, desejoso de conhecer sua M issa, procura em prim eiro lugar livros capazes de instruí-lo.

O s sacerdotes e os fiéis instruídos acharão um a fonte inesgotável de conhecimentos sôbre a dou­trina de Cristo Místico e de seu Sacrifício na lei­tu ra dos Padres da Igreja , especialmente S. João Crisóstomo e Santo A gostinho, que pregaram elo­quentem ente em tôdas as ocasiões, e de acôrdo com o Evangelho e as S agradas Escritu ras, sô­bre nossa incorporação a Cristo pela obra da glo­rificação de Deus e de nosso resgate pessoal.

Santo Tom ás de Aquino, cujo pensam ento é o reflexo do ensino dos Santos Padres, recolhe em uma m agnífica obra os dados esparsos nos tra ta ­dos dos doutores que o precederam , e form ou o mais completo corpo de doutrina que se possa con­ceber sôbre a vida cristã pela adesão ao Corpo Místico de Cristo. D ir-se-ia que Santo Tom ás de A quino é inacessível à piedade dos simples fiéis. O êxito enorm e e inesperado que tiveram as t ra ­duções de suas obras parecem provar o contrá­rio.

D entre os au tores franceses que m elhor escre­veram sôbre nossa união mística com Cristo, e nos­sa colaboração aos seus M istérios, devemos citar S. João Eudes, de modo especial na sua obra A Vida e o Reino dc Jesus nas A lm as Cristãs.

A escola francesa de espiritualidade do sécu­lo X V II foi fiel à tradição doutrinal da Igreja . O s Bérulle, os Ollier, os Condren, os Thom assin,

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146 T E R C E IR A PA R T E

souberam deduzir das verdades reveladas po r N os­so Senhor e desenvolvidas por S. Paulo, as m ag­níficas conclusões que encerram acêrca da nossa participação no sacerdócio do Hom em -Deus.

Quais as causas a que devemos atribu ir a espé­cie de eclipse que, duran te o século X IX , sofreu a doutrina da incorporação do- fiel ao Corpo M ís­tico e, ao mesmo tempo, o desprezo aparen te des­sas grandes verdades? O jansenism o, logo ao prin­cípio, depois o m aterialism o do século X V III , e, afinal, a anarquia originada pela to rm enta revo­lucionária, parecem explicar êste abandono. É com tristeza que devemos reconhecer êste fato: a pie­dade cristã não procurou no últim o século, como em outras épocas, o seu alim ento na união, como membro, ao “Chefe incom parável.”

Ainda hoje a grande m assa dos fiéis não cogi­ta desta adm irável doutrina e poucas almas nela acham o alimento para sua vida espiritual. E sta apatia reclam ava um a reação, a qual, graças a Deus, já começa a produzir-se. São principalm ente os trabalhos da O rdem dos Beneditinos e outros, as­sim como o Clero Secular que já tanto têm con­corrido para cham ar a atenção das almas para esta doutrina, da qual nunca se deveriam te r distra í­do. É bom notar, — e é êste um triunfo para a sabedoria inspirada da Ig reja , que não descuida os m enores atos do culto devido a Deus — que foi por meio da L iturg ia que se renovou a espiritualida­de, após o período de esquecimento, levada nova­mente à concepção do nosso papel de membros do Corpo Místico.

N a mesma época em que apareceram estudos magistrais sôbre S. Paulo, ilustres professores su r­giram nas cátedras. U m a plêiade de teólogos guia­dos por m estres eruditos estudaram a doutrina do

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CAP. I. A PR E PA RA ÇA O 147

Corpo M ístico, gode-se dizer que hoje essa dou­trina form a a elite da piedade católica.

M as como esta “ substância” tão suave e tão nu­trien te descerá a té às almas simples?

A pregação, segundo melo de assegurar a preparação doutrinal da “minha” Missa

O s propagadores das idéias teológicas en tre os fiéis são os pregadores. “A fé en tra pelo ouvi­d o . . . ” (R om 10, 17) e como se faria isto sem pregadores? Tal é a afirm ação de S. Paulo. É ne­cessário, pois, que, segundo o conselho do mesmo Apóstolo, os pastores de alm as e todos os Padres, encarregados de espalhar a doutrina, retom em an­te as multidões a linguagem que usavam os P a ­dres da Igreja . O u tro ra , em tôrno de seus púlpi­tos, seus ensinam entos sem pre os m esmos e p ro ­fundos chegavam a penetrar as alm as de convic­ções sólidas sóbre “a vida cristã, adesão ao Corpo M ístico” . Todos sabiam que cada alm a era “mem­bro de Cristo” ; referiam tôdas as práticas da re ­ligião a esta verdade fundam ental da “colabora­ção com a Cabeça” e consideravam esta com parti­cipação ao eterno P ontífice como o móvel de to ­da a santificação.

Seria para desejar que o ensino catequístico, ho- milético e oratório , m inistrado em nossos dias aos fiéis, tivesse de novo como base êste tem a funda­mental. Q ue alim ento para a piedade encontrariam nêle os fiéis, se conhecessem as m aravilhas de sua incorporação a C risto M ístico! Com preenderiam que, pelo Batismo, são enxertados e ligados ao C h e fe ; que, pelo caráter batism al, entram em ver­dadeira participação no Sacerdócio de C risto ; que por êsse meio ficam "sem elhantes ao Filho de D eus” , como sacerdotes de D eus2 ; que os carac-

2) Sum a Teol., m , p. 63, a . 3.

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teres indeléveis da C onfirm ação e da O rdem são apenas o complemento do Batism o e produzem uma incorporação mais íntim a ao P ontífice supre­m o; que, como m em bros de Cristo, o Sacrifício dêste, sua m orte, sua ressurreição, sua ascensão, seu reino, sua graça são bens e propriedades dêles, e que os m éritos de Cristo são também seus; que, por êste fato da própria incorporação a C risto Sa­cerdote, os cristãos são “a Raça eleita, o Sacer­dócio real” (1 Ped 2, 9 ) , com direito de oferecer a Deus po r meio de “sua” M issa o culto autêntico, oficial e público; que, em um a palavra, “se o Cor­po de Cristo foi ungido da unção sacerdotal, seu Corpo Místico, que somos nós, tam bém o foi”3.

O auditório , m aravilhado com esta pregação cheia de doutrina, aprenderia assim a detestar pratica­m ente o pecado, porque sentiria os efeitos imedia­tos dêle e poderia verificar, com efeito, que o pe­cado venial p rejud ica ou mesmo paralisa o mem­bro do Corpo Místico e que o pecado grave o aniquila transform ando-o em um órgão que não atua, ainda que esteja, todavia, ligado ao Corpo, pela fé que lhe resta. E ainda esta mesma doutrina recordaria aos fiéis que são capazes de recuperar, por meio da absolvição, o "enxêrto” inalterável e rev igo rado! . . . Q uantos pensam entos m aravilho­sos! Q ue assunto inesgotável para a lim entar uma piedade que se tornou concreta e fácil, pois p ro ­cura ating ir um fim determ inado: to rn ar cada dia mais unido, mais robusto, mais nu trido um mem­bro dêste Chefe, que é Cristo. P o r esta certeza de pertencer ao Corpo M ístico de Cristo, como o Cristão deve sentir-se perto de D e u s ! Jesus Cris­to não é mais personagem distante de nós e m ajes­tosa, que o adorador tím ido e cheio de tem or aper­cebe oculto sob as espécies eu c a r ís tic a s .. . N ão é

3) S. Agos. in Ps. 26.

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tam bém , como certos espíritos gostam de a figu rar- se, “prisioneiro” algemado po r nós no cárcere do tabernáculo . . . Êle é, ali, mais que A m igo. . . é m ais que um I r m ã o . . . é o “ Chefe incom parável” de quem somos o braço, a mão, os órgãos, vivendo da mesm a seiva, penetrado da mesma alma que é o E spírito Santo.

E quão sublimes são as funções que realiza êste Corpo M ístico, “que somos nós m esm os!” Como seria fácil aos oradores sacros prom over o cul­to verdadeiro de Deus, ensinando aos fiéis que não podendo Cristo Chefe separar-se de seus membros, como nós não nos podemos separar dos nossos, oferece conosco o Sacrifício do altar, que se to r­na a nossa M issa ! O presente compêndio vem p ro ­curando tira r desta verdade um pouco do suco que ela c o n té m .. . Porque, como fru to de nossa M is­sa que é nossa imolação com Cristo, haverá nossa ressurreição com Êle, nossa ascensão, nosso reino à d ireita do eterno Pai, pois os m embros de qual­quer organism o com partilham em qualquer lugar e sem pre da sorte da Cabeça.

Perguntam os, às vêzes, por que deixam os ador­mecer verdades como estas, em vez de “pregá- las oportuna e inoportunam ente” (2 T im 4, 2 .), como o pede S. Paulo.

O bjeta-se, às vêzes, como desculpa pelo silên­cio, a dificuldade que se teria para fazer com preen­der aos fiéis esta dourtina. Poucos ouvintes, é cer­to, são capazes de entendê-las da prim eira vez. E é por isso que os cristãos, que atualm ente ouvem fa ­la r tão pouco sôbre estas idéias tão belas e anim a­doras, m anifestam adm iração, quando, po r acaso, um pregador lhas expõe. N ão estando habituados a essa linguagem, desconfiam dela, e por vêzes, como de um a novidade que não precisam os levar

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em conta. A semente, que aliás era excelente, caiu em um terreno mal preparado.

Mas se, desde a prim eira palavra do catecismo, que começa geralm ente pela definição do "cristão mem bro de C risto” a té à última, que c m uitas vê- zes “a vida eterna” , isto é, o reino do Chefe, par­tilhado pelos membros, se tem procurado ensinar às crianças suas relações com a C abeça; se habitua­ram -nas a viver na adesão a Cristo e a conser­var-se em perpétua união com Ê le; se de sua par­te o sacerdote continua no púlpito o ensino cate- quístico, visando sem pre o dogm a católico, sob o mesmo ponto de vista de nossa incorporação, pe­lo Batismo, a Cristo, com a qual com partilham os as funções sacerdotais a té celebrar com Êle, por in­term édio do m inistério dos sacerdotes, a “nossa” Missa, então os fiéis com preenderão bem depressa sua vida sobrenatural, am arão m ais o seu divino Sacerdote, e começarão a ter um a piedade que até então desconheciam, para preparar-se para a sua oblação.

2.» A preparação lltúrglca de “minha” Missa

O homem é feito assim: só com preende perfeita e praticam ente o que vê. É um dos característi­cos da divindade da Ig re ja ter traduzido as verda­des ocultas em linguagem com preensível: a L itu r­gia é a representação viva das mais a ltas doutri­nas, as quais, por si mesmas, parece que deveriam escapar inteiram ente ao domínio dos sentidos.

P ara com pletar o conhecimento e am ar os M is­térios do altar, temos que acrescentar ao estudo da doutrina o da Liturgia. As cerim ônias da S. Missa, sua h istória, sua significação com pletarão e de­term inarão perfeitam ente as noções teológicas.

M as não se pode conhecer em um só dia todos os ritos da Igreja . P a ra serem com preendidos e saboreados, devem ser acom panhados po r muito

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tempo. A preparação litúrgica de “m inha” Missa deverá ser m uito perseverante para que eu possa conhecer os menores gestos, impostos ao P adre, assim como sua origem a qual, m uitas vêzes, ex­plica o que significam ; deverá também ser bas­tante aprofundada para que eu possa p enetrar o sentido das palavras que o celebrante pronuncia, palavras repletas de suavidade, de unção e de ver­dade!

Êste estudo liturgico de minha M issa requer, pa­ra ser frutuoso, guias experim entados. H á alguns anos apareceram obras perfeitam ente adaptadas às necessidades da piedade do povo e capazes de p ro ­porcionar a todos os assistentes luzes abundan­tes sôbre as cerim ônias do a ltar, aliás tão pouco compreendidas dos fiéis. São dignas de menção também certas revistas litúrgicas, cujo fim é es­palhar por tôda parte as noções indispensáveis aos cristãos que querem interessar-se pelo serviço do altar. N unca será demais recom endar ao mem­bro de Cristo, desejoso de celebrar a sua Missa, que leia êsses livros e essas revistas, que lhe abrirão novos horizontes sôbre a participação no Sacrifício.

P a ra os fiéis pouco instruídos ou dem asiado ab­sortos nas dificuldades m ateriais, que não dão a si próprios o ensejo de estudar os dados litú r- gicos, a pregação e os cursos orais devem sup rir a impossibilidade dum a instrução pessoal. P o r que não se instituem , por exemplo, em nossas escolas católicas, em nossas congregações de filhas de M aria, em nossos círculos de estudos m asculinos e femininos, em nossas ligas e confrarias, aulas de L iturg ia? Seria um dos meios mais práticos p ara ensinar aos simples fiéis a “celebrar” d ig­nam ente a sua M issa e inspirar-lhes um atra tivo sobrenatural pelos sublimes m istérios do altar.

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S.* A preparação ascética para “minha” Missa

De tôdas as preparações para a celebração do santo Sacrifício, a mais im portante é a do coração e da vontade. P a ra oferecer sua M issa, o membro deve esta r unido ao Chefe tão perfeita e solida­mente quanto possível, pelos laços da virtude e do am or. O g rau da cooperação que o fiel dá ao Pon­tífice supremo, na oferenda da homenagem infi­nita, m ede-se pela im portância dêsse mesmo fiel no Corpo de C risto Místico. Concebe-se desde então que tôda a vida não é dem asiada para realizar a obra de desenvolvimento do membro, que somos, e para assegurar a êsse membro um grau superior de vitalidade e de atividade no organism o sobrenatu­ral que é C risto completo e total, em vista do ato suprem o de religião a oferecer à Santíssim a T rin ­dade.

A preparação para o santo Sacrifício torna-se, pois, para o fiel que compreendeu o que é a sua Missa, o fim único da existência. E na verdade, êste cristão sabe que foi criado unicam ente para servir a Deus, louvá-Lo e adorá-Lo. O ra, a ado­ração e o louvor são prestados à divina M ajesta­de só por meio de Cristo Místico, e o lugar onde êste Cristo Místico oferece sua homenagem é sem­pre o a ltar. O cristão com preende então que todo o seu esforço deve tender para o crescim ento neste Corpo Místico, a fim de colaborar nos atos de re­ligião que tribu ta com seu Chefe, sobretudo no ato de sua Missa.

E sta concepção verdadeira da ‘‘vida em Cristo” transporta-nos para longe das estreitezas de cer­tas espiritualidades com tendências “sobrenatural­mente egoístas", que fazem p rocu rar a virtude por ela mesma, pelas vantagens que nos traz neste m un­do e no outro, sem pensar que acima de tudo está

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a glória e o ato de adoração a D eus! O membro de C risto deve te r ou tras preocupações. Incorpo­rar-se mais intim am ente a C risto M ístico, para ser mais “ laborioso” no serviço da divina M ajes­tade na oblação do altar, é o ideal da perfeição cristã. Sabe que, p rocurando ardentem ente o Rei­no de Deus po r sua união com o Chefe, todos os ou tros bens espirituais e tem porais lhe advirão com uma profusão inaudita.

A v irtude não é para a alm a cristã um luxo e um ornato, de que se possa orgulhar, é um bem de prim eira necessidade, sem o qual não pode h a ­ver união possível a C risto M ístico; pelo mesmo motivo, não ha homenagem a Deus, e, portanto, não há S. Missa.

Preparem os nossa M issa cada dia m elhor e com mais solicitude. O esforço da vida in teira não é demasiado longo. E stejam os certos: m orrere­mos sem te r alcançado celebrar a “nossa” M issa tão perfeitam ente quanto o teríam os ideado.

A preparação ascética da “minha” Missa consiste

em formar em mim a vitima do sacrifícioO fiel, na preparação ascética para sua Missa,

deve pensar que será tanto mais unido à Cabeça, como sacrificador, quanto mais se esforçar por to rnar-se vítima com ela. Celebrarem os tanto m e­lhor a nossa Missa, quanto mais nosso estado de “vítim as” nos un ir a Cristo V ítim a; serem os tanto mais co-oferentes da homenagem infin ita quanto mais form os “co-oblatos” . É o que São Paulo que­ria dizer, quando escrevia aos rom anos: “Rogo- vos pois, irmãos, pela m isericórdia de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um a hóstia vi­va, santa, agradável a Deus, como vosso culto ra ­cional.” (R om 12, 1.)

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A preparação espiritual para nossa M issa consis­tirá, pois, em sacrificar-nos com Cristo, isto é, em p rocu rar e am ar os sofrim entos da vida cristã, os quais merecerão para nós o nome de sacrifícios na medida em que fizerem de nós co-vítimas de Cris­to no seu santo Sacrifício.

Q uais são, porém, êstes sofrim entos que farão de nós um “m em bro-vítim a” com o Chefe e tran s­form arão cada um de nós nesta "hóstia viva, san­ta c agradável a D eus” , como pede S. Paulo?

A nossa formação de co-vitima do sacrifício:1.° pela aceitação das penas necessárias

à conservação do estado de graça A prim eira preocupação do fiel, que quer ce­

lebrar a “sua” M issa, deve se r a de permanecer membro de Cristo, isto é, de perm anecer unido ao Chefe divino pelos laços da caridade. M as não é sem pre fácil m anter êsses laços bem unidos. Sem extraord inária vigilância e solicitude sem pre em atividade, se afrouxariam bem facilm ente! O con­jun to de esforços que fazem os cristãos para per­m anecer em sólida união com o Chefe pela con­servação do estado de graça, constitui nêles o prim eiro estado de vítima, indispensável para tornarem -se concelebrantes da M issa de Cristo.

N ão se pode dizer que esta prim eira form ação em nós da V ítim a do Sacrifício não seja muito m eritó ria! Quem ignora quanto custa à pobre na­tureza decaída o m anter-se em estado de G raça? E mesmo as obrigações gerais da vida cristã são um a fonte de privações re iteradas: o ra r com regu­laridade, p re fe rir a Missa do domingo a qualquer prazer, a joelhar-se an te um sacerdote no confes­sionário, se r fiel à abstinência e je ju a r nos dias determ inados pela Ig reja , m ostrar-se ca tó lic o .. . eis tan tas ocasiões de “sacrifícios” que preparam para o “Sacrifício” .

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M as, além destes preceitos da vida cristã, comum a todos, quantas ou tras m ortificações são impos­tas pela observância dos diversos deveres do p ró ­prio estado! O s esposos sabem qual a coragem e a confiança na Providência que lhes é precisa para nunca ofenderem a Deus no cum prim ento de seus deveres conjugais. O s jovens que prezam a sua pureza têm que fug ir dos teatros, dos romances, dos cam aradas, têm que contrapor às solicitudes viciosas uma resistência perseverante. Q uando um rapaz, por exemplo, ou um a moça passam o ci­mo dos anos terríveis sem jam ais se “desligarem ” de Cristo, por um pecado m ortal, êstes tenros m embros do Corpo M ístico não apresentam já unia preparação seria para o estado de co-vítima que lhes perm ite oferecer com o Sacerdote ado rá­vel do altar?

U m a moça que atravessa o m undo atual, perm a­necendo simplesmente “virgem cristã” , não será acaso a adm iração daqueles que a co n h ecem ? ... É decente no vestuário, m odesta nos olhares, re­servada no porte, foge dos bailes onde poderia b rilhar, não faz ostentação da própria mocidade c beleza, mas, pelo contrário , apresenta-se p ru ­dentem ente piedosa, trabalhadora em casa, pron­ta a em pregar-se nos mais penosos trabalhos do­mésticos, caridosa, dedicada aos pobres e aos doen tes. . . Q ual será a opinião da sociedade so­bre esta jovem ? U ns adm iram -na, ou tros censu­ram -na. . . mas de q u e ? . . . De sacrificar seus me­lhores anos. E todavia foi apenas muito pruden­te. E sta simples vontade de ficar fielmente unida a C risto pelo cum prim ento dos deveres ord iná­rios é, pois, a causa de "sacrifícios” que deixam o m undo adm irado.

D êste modo, não será verdade dizer que a sim­ples aceitação leal e generosa da vida cristã se-

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ja por si mesma já um a preparação à oblação da nossa M issa? Q ualquer membro de Cristo que se apresente no a lta r de sua M issa, em estado de graça, certam ente sofreu penas e aceitou privações; em uma palavra, é de algum m odo "um a hóstia viva e agradável a D eus” , capaz de oferecer-se com C risto Chefe, e por isto mesmo de oferecer a obla­ção com Êle.

A nossa formação de co-vítlma do sacrifício:2.° pela aceitação des cruzes

Q uando, porém, N osso Senhor quer d a r aos seus m embros um a im portância m aior na oblação, aper­feiçoa-lhes o estado de co-vítima, enviando-lhes sofrim entos suplem entares. Nosso Senhor mesmo nos adverte que está disposto a nos associar de mo­do mais íntimo ao seu sacrifício por meio das pe­nas e dos sofrim entos. E é por isso que nos con­vida a aceitar de boa vontade as provações: “Se alguém quiser v ir após m im . . . que tome sua cruz de cada dia e me siga.” (L c 9, 23.)

A tradição cristã com preendeu o pensam ento do M estre. Designou pelo nome de “cruzes" as tribu­lações da vida, do m omento que são aceitas pe­los membros de C risto como vindas da mão de Deus. Mas, assim como nossos sofrim entos só me­recem o nome de sacrifícios à medida que coope­ram em fazer de nós co-vítimas do Sacrifício úni­co, também as provações não são dignas de se­rem cham adas "cruzes” senão quando as rece­bemos com a intenção de nos identificarm os mais intim am ente à renovação do Sacrifício do Gólgota, que é a nossa Missa.

O m embro de Cristo M ístico, desejoso de cele­b rar quotidianam ente a sua M issa, compreende qual meio poderoso seja, para esta colaboração com Cristo, a aceitação livre e “sorridente” das penas, doenças, reveses, separações e ou tras d o re s . . . O

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m embro de C risto faria muito mal em tem er estas terríveis visitas: são as enviadas de Deus. E fa ria ainda p ior em m urm urar contra e las: encerram em si a semelhança mais aproxim ada possível com a V ítim a-Sacerdote; também lhe prodigalizam o mais precioso dos tesouros: porque, de envolta aos m éritos de Cristo, nossos pobres sofrim entos revestem -se de um valor incalculável, como no o fe r­tório a gota de água lançada no cálice se dissolve no vinho e se transform a no Sangue do Salvador.

A ssim a nossa Missa, p reparada po r meio do sofrim ento cristão, será verdadeiram ente uma co­operação com C risto que se oferece a seu Pai.

A nossa formação de co-vítima do sacrifício:3.° pelas mortificações que nos impomos

C ertas alm as santas acham que o C hefe divino não form a nelas com bastante presteza a sua ima­gem.

A rdentem ente sequiosas de se tornarem , sempre mais, vítim as do santo Sacrifício, impõe-se, além das cruzes providenciais, ou tros sofrim entos vo­luntários. Lêein-sc na vida dos Santos particu lari­dades aterrorizan tes sôbre as penitências que se impunham , mais adm iráveis que imitáveis. O santo cura de A rs, por exemplo, que po r muitos anos ouvia confissões doze a dezoito horas cada dia, do r­m indo apenas no m áximo duas horas cada noite, comendo ao meio dia mui parcam ente, sem jam ais sentar-se à mesa, flagelando-se até co rrer o san­gue, e usando cilícios que lhe penetravam as ca r­nes. . A

O bom cura de A rs era verdadeiram ente vítim a! M as, também, que ótim o cooperador com Cristo em sua M issa ! E ra verdade sabida em A rs e basea­da nos fatos, que êle percebia de modo m aravilho-

4) V ida do Santo por T rochu.

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so a presença de Cristo na sagrada H ó s tia . . . sua atitude no a lta r era de um a eloquência visível: bastava a vista do Pad re V ianney celebrando os santos M istérios para converter os pecadores e in­flam ar de am or as alm as piedosas.

Assim, pois, se os Santos foram em sua M issa membros que colaboravam excepcionalmente com o Chefe, foi devido tão somente à sua preparação ao estado de vítima, a qual lhes era particularm en­te cara. M as nós, simples fiéis, que aliás somos também desejosos de celebrar perfeitam ente a nossa Missa, podemos acaso acom panhar os San­tos nestas vias ex traord inárias da penitência?

O bom cura de A rs responderá a esta pergun­ta com seu fino e sua retidão de juízo. Em uma ocasião, no comêço da Q uaresm a, a fiel C atarina Lassagne lhe pediu perm issão p ara je juar. O P a ­dre V ianney recusou-lhe. “ M as V. Revma. je ju a tôda a Q uaresm a” , replicou ela. O santo sacerdote respondeu-lhe: “É verdade; m as para m im o je ­jum não me impede de exercer o meu ofício, e a senhora não poderia desem penhar o seu.”

Nosso Senhor só exige de nós, pois; como pe­nitência voluntária, tendo em vista a nossa Missa, os atos “que não nos impedem de exercer nosso ofício” , isto é, de cum prir perfeitam ente os deve­res de nosso estado. Seria, pois, um ardo r mal en­tendido o de certas alm as piedosas que negligen­ciassem, por exemplo, a saúde, dom precioso para a vida da família, a fim de se entregarem à p ráti­ca de privações extraord inárias. N ão há no m un­do coisa que exija tan ta prudência como o uso das “penitências suplem entares” . E jam ais se poderá recom endar bastante aos m embros de Cristo que, se quiserem evitar os perigos da tem eridade e não ra ro do orgulho, nada empreendam dêste gênero

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de m ortificações, antes de ter recebido a perm is­são de um d ire to r esclarecido.

Resta ainda no entanto, para as alm as desejosas de se tornarem “hóstias vivas e agradáveis a D eus” , um campo vasto de privações voluntárias, as quais, sem p rejudicar a saúde, nem as obrigações do p róprio estado, podem realizar-se mesmo sem a licença do confessor. P o r exemplo, quando êstes membros de C risto tiverem sacrificado as palavras inúteis, as conversações frívolas, os olhares dis­traídos na igreja, o luxo na alimentação, a im ora­lidade no vestuário ; quando depositarem na mão dos pobres ou na caixa das obras pias esmolas tão abundantes quanto lhes perm ite a própria condição soc ia l; quando souberem privar-se de algum a coi­sa para p restar serviço ao próxim o, consolando-o, anim ando-o; quando tiverem exercido o aposto­lado segundo suas aptidões e as circuntâncias pes­soais, por meio do ensino do catecismo às crian­ças, ou da propaganda da boa Im p ren sa . . . terão p raticado grande núm ero de m ortificações suple­m entares, escolhidas livrem ente, e, sem sair das sendas bem experim entadas, terão delineado em si mesmos a “hóstia” . Êstes cristãos poderão cele­b ra r tôdas as m anhãs dignam ente a “sua” M issa para a qual se terão preparado tão perseverante quão cuidadosam ente em todos os momentos de sua vida.

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C A P ÍT U L O S E G U N D O

A ASSISTÊNCIANOSSA ASSISTÊNCIA A S. MISSA DEVE SER UMA CELE­

BRAÇÃO... POR CONSEGUINTE, DEVEMOS PARTICI­PAR ATIVAMENTE DA OFERENDA, ASSOCIANDO-NOS A LITURGIA... ESTA COMPARTICIPAÇÃO A LITURGIA REALIZA-SE PERFEITAMENTE QUANDO ACOMPANHA­MOS AS MISSAS SOLENES.

Nossa presença deve ser uma celebração

O presente trabalho tem por fim dem onstrar que o Sacrifício do a lta r é a “nossa” M issa porque c Cristo M ístico, Cabeça e Corpo, do qual somos um membro vivo, que oferece e se oferece.

O conhecimento desta grande verdade deve exer­cer sua influência sôbre nosso m odo de assistir à S. Missa. A Ig re ja não exige de nós que leve­mos apenas um a presença corporal, passiva e in­diferente, mas deseja de nós um a colaboração com Cristo que se im ola; quer uma celebração.

Todos os fieis, reunidos em a nave do templo em volta do celebrante, form am “um só coração e um a só alm a” . Cristo, Chefe de tôda a Igreja , é sacrificado em cada S. M issa, como Cabeça de todo o Corpo Místico, e vem oferecer-se sôbre o altar, mui especialmente com e pelos seus mem­bros, reunidos naquela ocasião em volta dÊle. Com êsses é que mui particularm ente tribu ta à Santís­sima T rindade a homenagem infinita, oferece o lou­vor perfeito , a ação de graças superabundante, a satisfação suprem a; com êsses é que pede o Reino de Deus e as graças espirituais e tem porais que lhes são necessárias. E sta Missa é especialmente o ato com um da parte do Corpo M ístico reunido na Igreja , a resu ltan te dos esforços dêstes membros com seu Chefe.

D aqui se deduz quão longe do bom senso e da verdade estão certos fiéis que vêm à S. M issa sem

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CAP. n . A ASSISTÊNCIA 161

piedade e sem gôsto. Estão neste caso, por exem ­plo, aqueles que declaram abertam ente que vão às M issas de defuntos ou de casamentos, só para sa­tisfazer às praxes sociais. V ão para a ig reja o mais tarde possível e saem o mais cedo . . . e êsse curto lapso de tempo empregam em olhar para o povo, em pensar nos negócios, em impacientar-se, etc. Nem uma palavra de preces v o c a is .. . essa me­ra presença à S. M issa não tem valor algum : não é colaboração.

Felizm ente essa a titude é apenas a de um pe­queno núm ero de católicos. Aqueles que se esfor­çam por não fa lta r à S. M issa de domingo têm mais convicções. Se vão à Ig re ja para cum prir um dever, sua intenção é reta e já encerra uma vontade, ain­da que inconsciente, de cooperação com Cristo. Provavelm ente êsses fiéis form ularão algum as o ra­ções, e desse modo já terão dem onstrado bastan­te adesão ao Corpo Místico, para te r parte na obla­ção: e é por isso que a Santa Ig re ja considera que cum prem o preceito.

M as que maravilhosos fru tos poderiam tira r ês­ses católicos pouco instruídos, se tivessem sôbre a assistência da S. M issa noções ao menos ele­m entares! Não seriam mais vistos recitar du ran ­te a S. M issa quaisquer orações vocais, desfiando, talvez distraidam ente, as contas do rosário, ou len­do as ladainhas, no momento em que o dram a do Calvário, que se representa no altar, reclam a tôda a sua atenção.

O s cristãos que rezando apenas de “bôca ou de coração” , seja qual fôr o objeto de sua oração, já se unem aos m inistros e já tomam parte na ofe­renda ; mas como sua participação seria maior, sua ação mais fecunda, sua piedade mais profunda, se possuissem o espírito do Chefe, imolando-se, se­gundo suas intenções, e ratificando, com uma ade-

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são voluntária e re iterada, cada um a das fases da oferenda.

O melhor melo de celebrar: a assistência lltúrglca

Q ual a melhor m aneira de o fiel celebrar a “sua” M issa? Evidentem ente, unindo-se passo a passo à Liturgia.

A L iturg ia venerável da S. M issa é im posta ao sacerdote que oferece o santo Sacrifício. A Ig re ­ja considera, pois, que não há ou tro meio m ais au­têntico e oficial de celebração do que êste. A s ex­pressões do rito, escrupulosam ente determ inadas, traduzem m istérios ocultos, exprim em sentim entos próprios de acôrdo com a realidade, m anifestam como convém a união da Cabeça com os membros na oblação. E não é êste um motivo suficiente para que os fiéis procurem aproveitar-se da assis­tência Iitúrgica, se querem celebrar do m elhor mo­do possivel a “sua” M issa?

É evidente que o simples fiel não é obrigado, como o sacerdote, à celebração "autêntica e oficial” da S. M issa. Não tem o papel de representante vi­sível do Chefe, por um lado, e do Corpo Místico, por outro. E é po r isso que a Ig re ja não exige do simples fiel que siga o texto próprio da L itu r­gia, para cum prir o preceito da assistência à Mis­sa de preceito.

M as a alma, que com prendeu o que é a “sua”M issa, não atenderá só à obrigação, para obtero m elhor resultado: livrem ente escolherá o método m elhor e o mais eficaz para unir-se ao Sacrifí­cio.

Houve um tempo em que o fiel podia descul­par-se de não acom panhar o tex to próprio da S. M issa, pela dificuldade de se obter, então, ummissal. H á uma dezena de anos a trás, a m aiorparte dos m anuais de M issas, intitulados “Iitúr- gicos” , entretinham apenas o fiel, oferecendo-lhe

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para acom panhar a S. M issa métodos que possjuiam somente mui ligeiros contactos com as palavras do sacerdote. Daí bem se pode adm itir que o fiel, ape­sar de assistente devoto, não pudesse te r a trativo por essas considerações piedosas, as quais não lhe davam a verdadeira significação das fórm ulas e dos gestos usados no altar. E é por isso que o aborrecim ento de um a L iturg ia incompreensível invadiu o coração do povo cristão, e com ra ras ex­ceções quase m ais ninguém sabia acom panhar de­v idam ente a “sua” Missa.

H ouve depois um esforço extraord inário em prol da L iturgia, de m aneira que ho je pode-se colocar nas mãos dos fiéis missais verdadeiram ente li- túrgicos. A lguns, perfeitam ente completos, são des­tinados aos membros de Cristo que assistem à M issa quotidiana1, outros, menos completos, são apenas suficientes para a assistência litúrgica à S. M issa dos domingos e das festas principais.

O s autores dêstes pequenos missais não procu­raram somente apresen tar textos oficiais: quise­ram guiar os fiéis por meio de indicações nítidas e instrutivas. Todavia não é nestes livros, que procuram aliás nada om itir, que se deveria ir bus­car um a explicação literal e explícita do texto o fi­cial. E sta poderá ser encontrada em certas obras dedicadas de um modo especial a êste objetivo, e todo cristão, que deseja celebrar dignam ente a “sua” Missa, deve possuí-las ao lado do missal quo­tidiano.

Assim instruído, poderá o fiel assistir devida­m ente à “sua” Missa. Com preendendo bem os gestos rituais, acom panhá-los-á com interesse, e, pouco a pouco, po r meio dêles, aprofundar-se-á no conhecimento e nos M istérios do altar.

1) Recomendamos o Missal dos Fiéis, por Matos Soares.

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^ As vantagens da assistência lltúrglcaOs fiéis que se dedicarem a celebrar liturgica-

m ente a “sua” M issa não ta rdarão a descobrir os preciosos frutos que irão recolhendo dêste mé­todo.

1.° O santo altar ficará mais próxim o dos assis­tentes. A té nossos dias o sacerdote era um a per­sonagem misteriosa, um tanto parecida com M oi­sés em colóquio com Deus no cimo da montanha. Suas palavras, seus atos ficavam envoltos no mis­tério. A gora, porém, a celebração oficial não tem mais segredos. O fiel eleva-se até ao sacerdote para cooperar com tôdas as suas ações. O diálogo que se estabelece entre êle e o sacerdote, ao pé do altar, a confissão dos pecados, o intercâmbio das pergun­tas e das respostas de espaço a espaço, dão à assis­tência a impressão de que o fiel é “concelebran- te ”, pois a sua voz, por meio do acólito, é ouvi­da na cerim ônia oficial.

O fiel que se decide a seguir liturgicam ente a S. Missa, não ta rda a verificar que ocupa na ce­lebração da mesma um lugar im portan te: esta re­velação faz-lhe com preender que não somente as­siste à S. M issa, mas que celebra a “sua” Missa com o auxílio do m inistério do sacerdote.

2.° Os assistentes instruem -se nos m istérios da fé . A Ig re ja introduziu propositadam ente na L i­turgia dos santos M istérios leituras do mais alto in­teresse. As epístolas e os evangelhos apresentam à piedade dos fiéis um a doutrina inspirada pelo E spírito do próprio Deus. São intercalados por intróitos, graduais, tractos e ofertórios, inspirados nas mais belas passagens da E scritu ra . Êstes tre ­chos escolhidos em nossos L ivros Santos apresen­tam um a incomparável riqueza e um a inesgotável variedade de pensamentos, porque a Ig re ja procu­rou apropriá-los ao “ciclo litúrgico” . O cristão pie­

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doso percorre realm ente, no decorrer do ano, todo o dogm a cristão : contem pla cada um dos m istérios da nossa san ta fé, a vida de Cristo, sua m orte, seu reino, seus ensinamentos, as grandes verdades da salvação. O ra alegre com as festas de júbilo, o ra triste com as solenidades que recordam a dor, a L itu rg ia exulta ou chora, inspirando àqueles que a compreendem os sentim entos que, em cada época da vida cristã, anim am os verdadeiros adoradores de Deus.

O s cristãos que aceitarem seguir com atenção e piedade a L itu rg ia de "sua” M issa, tornar-se-ão pouco a pouco bem instruídos e esclarecidos. A l­guns objetam , e é verdade, que a m aior parte dos textos sagrados ultrapassam a sua com preensão e que não atingem seu alcance. Certos au tores re ­solveram, porém, esta dificuldade, dando às epís­tolas e aos evangelhos de cada dia com entários ao alcance de todos. Com livros bem redigidos, o membro de Cristo, contanto que saiba ler com os olhos do am or, a tingirá facilm ente o delicioso âm a­go de verdade oculto nos textos de seu missal quotidiano.

3.“ O s concelcbrantes aprendem a orar. Além dos textos sagrados, ex traídos do A ntigo ou do N o­vo Testam ento, o missal contém as mais belas fó r­mulas de orações que existem no m undo. O con­jun to das orações — coletas, secretas e poscomú- nios — constitui a mais preciosa coleção de súpli­cas que se possa imaginar. E stas orações, inspi­radas na mais alta doutrina, são expressas em um a linguagem adm irável, cu ja harm onia, preci­são e elegância causam adm iração aos literatos.

E já que todos os dogm as são rem em orados du ran te o ciclo litúrgico, também tódas as graças espirituais e tem porais são pedidas no mesmo. P ro ­nunciando cada m anhã com o sacerdote as o ra ­

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ções do dia, o fiel não deixará de m encionar ne­nhum a de suas necessidades: o ra pedirá a D eus a fé, a esperança, a caridade e tôdas as v ir tu d e s ; ora pedirá a saúde, a prosperidade, a salvação nos pe­rigos; ou tras vêzes im petrará o descanso eterno de seus mortos, ou reclam ará a sua própria sal­vação e o prêm io do p a ra ís o . . . E como lhe será doce im plorar a ss im ! . . . P a ra solicitar todos es­tes dons, possui a linguagem da Igreja , cheia de encanto, de fervor e hum ildade; nesta quotidia­na oração te rá a verdadeira a titude de quem obri­ga a Deus a o lhar a “baixeza de seus servos” .

4.° O s concclebrantes compenetram-se bem de sen papel de sacrificadores e de vítim as. P ronuncian­do ao mesmo tempo que o sacerdote as orações do ofertório e do cânon, e acom panhando aten ta­mente os gestos simbólicos do oficiante, os fiéis desempenham de m aneira explícita e positiva seu papel de membros do Corpo Místico, e cooperado- res de C risto Cabeça. Jun tam ente com o sacerdo­te dizem “nós oferecem os” . . . “nosso sacrifício” . . . e tôdas estas afirm ações no plural, pelas quais, co­mo vimos acima, com participam os intim am ente da ação do Sacrifício.

E assim, compreendendo a S. M issa, o fiel sabe­rá qual é o seu papel: membro do Corpo Místico, colaborando com seu Chefe, oferecendo à Santís­sima T rindade com Êle, nÊle, e por Êle, a hom e­nagem infinita. A S. M issa não é mais, como pen­sava outrora , antes de ter aprendido a un ir-se a ela liturgicam ente, o privilégio só do oficiante, mas é sua coisa própria, “sua” Missa. E dêste modo, com fervor a celebra!

A assistência lltúrgica às missas solenes

Se são tais as vantagens da “assistência litú r- gica” às M issas rezadas, que o fiel piedoso acom­panha particularm ente, que benefícios não são

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prodigalizadas nas M isas solenes, nas quais o membro de C risto é cham ado a tom ar p a r t f ex­teriorm ente, respondendo por si mesmo ao sacer­dote e cantando com o povo os textos sag rados. . .

P a ra acom panhar a M issa solene o piedoso as­sistente não tem, por assim dizer, ou tro trabalho, que deixar-se levar aonde a L iturg ia o conduz. B asta-lhe entregar-se de olhos e ouvidos, isto é, unir-se aos cânticos que ouve e acom panhar as ce­rim ônias que se passam an te seus olhos; assim co­laborará ativa e fru tuosam ente com a oblação.

O In tro ito com o "G loria P a tri” c um pensa­mento do céu que se eleva até à Santissim a T rin ­dade. Logo após se dizem os “K yrie” , três em louvor ao Padre, três ao Verbo, três ao Espírito Santo: três brados de humilde adoração, de pesar, de sú­plica que comovem tôda a assembléia. N ão será éste cântico, cu ja melodia gregoriana se adapta tão m aravilhosam ente à letra, próprio a inspirar-nos os mesmos sentim entos que o sacerdote exprime, batendo no peito quando começa a S. M issa nos degraus do a lta r?

O oficiante, sem seguida, incensa o a ltar. O fere ­çamos com êle o incenso, à crUz em prim eiro lu­gar. Êste incenso represen ta nossa homenagem a Cristo, nossa adoração, nossa alegria de sermos dÊle. Saudam os nosso C hefe e em balsamamo-Lo com p e r fu m e s .. . Em seguida, incensamos com o sacerdote o a ltar, figura ainda de Cristo, “pedra a n g u la r . . . ” (1 Ped 2, 7 .), pois somos dÊle, a Ê le nos dedicamos o mais perfeitam ente possível, nós, seus membros concelebrantes.

Unidos ao sacerdote que canta as orações, su­plicamos a Deus — e com eloquência — “por Cristo, Nosso Senhor” . O subdiácono lê em alta voz a epístola: e ouvimos atentam ente as lições que nos dá: são apropriadas para a hora presente

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e serão preciosas para nos gu iar na vida cristã. P o r V ieio do gradual, do tracto ou do aleluia, can­tam os nosso am or, nossa aflição, nosso arrepen­dimento ou nossa alegria.

Ao evangelho ouvimos de pé a palavra de Deus: Jesus Cristo ai está oficialm ente representado pe­lo diácono. Acercam o-nos dÊ le como o u tro ra as multidões na m ontanha. E na verdade essas pala­vras autênticas são as mesmas que ouviam os fe­lizes habitantes da Palestina, agrupados em re­dor do M estre. O h! pudéssemos bem compreen­der que nesse momento não é somente o texto evan­gélico que ouvimos, mas é um a verdadeira cena da vida de C risto que se reproduz no meio de nós, eni nossa ig reja paro q u ia l!

O oficiante entoa o Credo. U nindo nossas vozes às dêste cântico tão conhecido, proclamamos em voz alta e inteligível a afirm ação v ibrante e resolu­ta de nossa fé no Pai C riador, no Filho, nossa Ca­beça, no E spirito Santo vivificador, na S anta Ig re ­ja, Corpo Místico de Cristo. Um fiel que sabe saborear o seu Credo encontra nêle de antem ão as alegrias da bem -aventurança.

De que doçura inebriam a alma os cânticos tão simples quão m agníficos da M issa solene! Nas M issas rezadas as palavras deslizam como água rápida e m urm urejan te de regato, rebrilhando em palhetas fug itivas; nas M issas solenes, os textos cantados avançam com a m ajestade de rio cauda­loso que refle te nas águas a luz deslum brante do sol e o céu inteiro.

Ao ofertório , o diácono sobe ao a lta r ; aí re ­presenta o povo: somos nós que, com êle, subimos os mesmos degraus. D erram a o vinho no cálice, e também o fazem os; o subdiácono acrescenta algu­mas gotas de água. E sta água representa todos

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nós que nos unim os a Cristo para se r ofereci­dos. •

O sacerdote incensa as oblatas, o crucifixo, o a ltar, que representam C risto. Incensando ju n ta ­m ente com o sacerdote, assemelhamo-nos àqueles que perfum am as próprias cabeças, porque que­rem embelezar e h on rar a p arte m ais im portante de si mesmos. Como outrora a M adalena, derram a­mos sôbre Cristo tudo que temos de mais delica­d o . . . Em seguida o incenso é oferecido ao o fi­c iante, ao Clero, aos assistentes: o perfum e desce da Cabeça para todo o Corpo M ístico, patentean­do assim a união dos membros com seu Chefe adorável.

Começa então o prefácio. Com tfm tom de voz solene e grave que acentua, por assim dizer, o sen­tido de cada palavra, dialogamos com o sacerdo­te : “Levantai os corações ao a lto !’’ . . . E respon­demos: "Assim os temos para o Senhor.” “ De­mos graças ao Senhor nosso D eus” , continua o oficiante. Respondemos: “ É verdadeiram ente dig­no e justo .” P o r que êste colóquio en tre o sacerdo­te e os fiéis? Santo Agostinho responde-nos: por estas respostas afirm am os pública e oficialm ente que nossos corações estão levantados p ara o alto, para o a ltar, para colaborar com a consagração que vem logo após. E ra necessário que, neste momento solene, se requeresse nossa adesão c nosso con­sentim ento na celebração do Sacrifício, sendo nós cooperadores de C risto que vai imolar-se.

P o r aí se vê com que poder a L iturg ia da S. M issa cantada nos faz subir “até ao a lta r do Se­nho r” , e com que m ajestade nos faz desem penhar nosso papel de concelebrantes.

E é por isso que, depois de te r louvado e adora­do a Santíssim a T rindade com o tríplice “Sanc- tus,” devemos recolher-nos: é chegado o m omen­

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to de un ir intim am ente a nossa vontade à do sa- cerdíJle que pronuncia a fórm ula da consagra­ç ã o . . . Êle p ro n u n c ia -a .. . E is C risto que acorre ao apêlo do sacerdote, intercessor do seu Corpo M ístico! Nosso C hefe está no meio de n ó s ! . . . Prostrem o-nos em a d o ra ç ã o .. . Q ue sejam dados “ louvores e bênçãos” ao Chefe, presente em nosso a l t a r . . . 2 Q ue “por Êle, nÊle, e com Êle, tôda a honra, tôda a glória subam ao Pai onipotente em unidade com o Espírito S an to !3 O s instantes que vão da elevação ao " P a te r” deveriam perdu­ra r sem pre!

O sacerdote eleva novam ente a voz. Respon­demos-lhe po r um “A m en,” que deve ser um a a f ir ­mação de nossa união com C risto e de nossa fc. Em seguida o celebrante começa a oração ensinada pelo nosso Chefe: Padre nosso que estais no céu . . . Esta oração do Senhor é repetida em nossos alta­res pelo próprio Cristo, porque, não o duvidemos, sob os véus eucarísticos Jesus está todo inteiro entregue à “sua" M issa, e pronuncia conosco sua oração sublime. Respondem os por esta súplica fi­nal: “Livrai-nos do m al” , isto é, do pecado, do de­mônio, de tudo que poderia, separando-nos do Che­fe, nossa Cabeça adorada, ser causa de nossa fatal ruína: tal é o b rado de nossos corações!

É o momento da S. Comunhão. O fiel que vive da L iturg ia sente-se verdadeiram ente unido a Cris­to. J á comunga de coração e de sentim entos com Ê le . . . e vai com ungar sacram entalm ente: é o mo­mento de participar da manducação da V ítim a . . . eis que já se encam inha para a sagrada m e s a .. . ou, se perm anece em seu lugar, porque já recebeu o Corpo de Cristo na M issa da manhã, o fiel pro-

2) Hino ‘‘Pange língua”.3) Cânon.

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CAP. I I. A A SSISTÊNC IA 171

cura recebê-Lo espiritualm ente em seu coração, por um ato de am or e de ardente desejo. •

E logo após entoam os o cântico de ação de g ra ­ças por meio da antífona cham ada comúnio. Como é conso lado r! . . . E por últim o pedimos a graça de em pregar, segundo as vistas de Deus, os bene­fícios recebidos: é êste o objeto das últim as o ra ­ções.

“ Ide-vos! Acabou-se a M issa” . — “Demos g ra ­ças a D eus!” respondem os alegrem ente. E , logo após, inclinando a cabeça, recebemos da Santíssi­ma T rindade a bênção do P adre, do Filho e do E spírito Santo! Somos abençoados, e como não o seríamos, nós, concelebrantes de Cristo?

...F ic a m o s adm irados de certos fiéis p re fe ri­rem a M issa rezada à M issa can tad a . . . E ainda quando ouvimos certos cristãos a firm arem con­vencidos: “P re firo as M issas b re v e s .. . as M is­sas solenes são interm ináveis", só temos que las­timá-los ! Êsses ainda nada com preenderam da “sua” Missa, do seu papel de m embros de Cristo, da homenagem que o Corpo Místico, unido a seu Chefe, rende à Santíssim a T rindade. Êsses ne­cessitam ainda de ser educados doutrinal e li- tu rg icam en te .. . Q ue as alm as já instruídas não hesitem em expandir suas luzes nas mentes desses cristãos infelizm ente ainda im ersos na sombra.

Que pensar dos cânticos populares durante a S. Missa?

Em certos lugares, por ocasião das solenidades, costum a-se cantar, duran te as M issas rezadas, cânticos em língua vulgar ou motetes em latim. Procede-se assim para “a tra ir” os assistentes, to r­nando-lhes a S. M issa “mais agradável” . Além dis­so acom panham -se os cânticos e os solos com m úsi­

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ca artística, a fim de mais a tra ir o povo aos atos A .

Q ue devemos pensar dêsses diversos usos? Em prim eiro lugar devemos lastim ar que a educação litúrgica dos fiéis não esteja suficientem ente des­envolvida para fazer-lhes p re fe rir sem pre a M issa cantada a essas ou tras Missas, nas quais o reco­lhimento é sem pre m e n o r . . . M as, já que o povo cristão aprecia e conta com êsses cânticos, não se pode condenar um uso que a Ig re ja autoriza. E mesmo devemos confessar que êsses cânticos em lin­guagem popular podem alim entar a oração de mui­tas alm as pouco litúrgicas, que não saberiam co­mo dirigir-se a D eus se não lhas fizessem bal­buciar.

T odavia, devemos apontar duas condições acer­ca do uso dos cânticos:

1.° É preciso escolhê-los com cuidado. H á cân­ticos cheios de doutrina e de ensinam entos sôbre a S. M issa, a presença real, a redenção, a incarnação, cuja letra eleva aqueles que os entoam ao pensa­m ento dos M istérios que se comemoram no altar. Esses são os cânticos que se deve m andar cantar. Os Santos compuseram m uitos desta form a. Os do bem -aventurando P adre de M ontfort to rnaram - se célebres: as populações da B retanha e da Ven- déia devem em grande parte às suas poesias ad­m iráveis a g raça de conservarem tão pura e fir­me a doutrina da Eucaristia.

M as, a par dessas “preces cantadas” , que não prejudicam a celebração, há composições insípidas, grosseiras e ôcas que a moda introduziu e que não- são próprias para inspirar aos fiéis sentim entos de união com Cristo que se imola. Deve-se om itir êsses textos, que mais prejudicam a piedade que a auxiliam.

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CAP. II. A A SSISTÊNC IA 173

E sta últim a razão fa rá apreciar no seu ju sto va­lor as audições musicais du ran te a S. M issa.*Êstes concertos, que se dizem litúrgicos, a traem à igre­ja um a m ultidão num erosa que enche generosa­m ente a bandeja do peditório. M as acaso estamos certos que essa m úsica religiosa favoreça a assis­tência à Santa M issa e a cooperação dos fiéis ao Sacrifício de C risto? M uitos membros do Corpo M ístico presentes em a nave da igreja não estarão m ais preocupados com o órgão do que com o a lta r? N ão estarão mais atentos aos cantores que ao ce­lebrante? A lguns am antes da arte opinam que nunca se ora tão bem como embalados nas ondas dessas harm onias; será isto verdade provavelm en­te para êles, mas os desta espécie não serão mí­nima exceção? N o entanto os fiéis, em geral, não têm pesar de deixar sua atenção desviar-se da imolação de Cristo: ao menos terão essa desculpa, aliás valiosa, que “a a rte é um louvor a D eus” ?

Q uanto essas M issas acom panhadas de cânti­cos ex tra-litúrgicos estão longe da verdadeira M is­sa solene c an tad a ! Só esta últim a possui o segrê- do da verdadeira celebração, porque, em vez de subord inar a piedade à arte , coloca a a rte m usi­cal ao serviço respeitoso e incessante da L itu r­gia.

2.° ê preciso saber interrompê-los nos m omentos solenes. Se os cânticos bem escolhidos, tolerados duran te as M issas rezadas, são próprios a fazer o rar e refletir, é necessário, contudo, deixar às alm as um intervalo para voltar aos seus pensam en­tos e meditá-los. H á duran te a S. M issa momen­tos nos quais convém o silêncio. Do prefácio ao “P a te r” , só a cam painha da elevação deve soar. No instante em que o céu e a terra se unem, coisa al­gum a deve pertu rbar o recolhimento.

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174 T E R C E IR A P A R T E

Como habituar, po r exemplo, as crianças a ado­ra r Voluntária e profundam ente a C risto se, ju s ­tam ente 110 momento em que o sacerdote se incli­na sôbre o a lta r para consagrar, são obrigadas a repetir todos, em côro, as estrofes e os estribi­lhos?

As explicações para a assistência à “minha” Missa

Em alguns países, o Clero tem o costume, para fazer com preender os santos M istérios aos fiéis, de explicar aos assistentes em ocasiões favoráveis, por exemplo du ran te os retiros e as missões, a L i­tu rg ia do sacrifício da S. M issa, à medida que ela se desenvolve an te seus olhos. Em m uitas dioce­ses os exercícios de catecismos preparatórios para as Comunhões solenes requerem um a S. M issa às quintas-feiras, destinada a proporcionar às crian­ças a educação eucarística prática.

E nquanto o sacerdote celebra, outro sacerdote, do púlpito ou da balaustrada, ensina às crianças e aos adultos a acom panhar e a com preender cada um dos gestos litúrgicos. P rocura também associar as crianças às orações que o celebrante recita, fazendo-as pronunciar com êle o Confiteor, o Ky- rie, o Glória, o C re d o . . . De vez em quando a ex­plicação é interrom pida por algum cântico bem es­colhido, que exprim a perfeitam ente os sentim en­tos que devem encher seus corações.

É fácil depreender o resultado que pode advir desta “assistência explicada” . É um a lição de coisas, dem onstração concreta, acom panhada pelo exem­plo e pela oração. Tem a vantagem de g ravar no espírito e na mem ória das crianças que se p re­param para a prim eira Comunhão as cerim ô­nias do santo Sacrifício e seus ensinamentos. Do emprego dêste m étodo vem provavelm ente o apê- go que, em certos lugares, os cristãos conservam à “sua” M issa e ao sacerdote.

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CAP. II. A A SSISTÊNC IA 176

H á sacerdotes que se tom aram m estres neste gênero de explicação da Santa Missa. Sabeifl dar às suas explicações clareza, sobriedade, simplici­dade, variedade, piedade. T an to as criancinhas co­mo os adultos, que acorrem a estas M issas, acom­panhadas em comum, m anifestam , pela atenção e p razer que m ostram , um interesse especial. P o r que não im prim ir e espalhar os melhores dêsses m étodos? Contribuiriam para inspirar a ou tros apóstolos a idéia de aproveitarem dêles por sua vez.

Quando devo celebrar a "minha” Missa?

É evidente que aos domingos e em tôdas as festas de preceito. É êste o dever mínimo a que todo fiel está obrigado. Q uem sabe o que é a “sua” Missa, o que vale, qual o papel que reali­za no mundo, qual o proveito que D eus e nós de­la tiram os, deve reconhecer que a Ig re ja exige muito pouco, obrigando-nos a assistir ao santo S a­crifício e a executar o ato suprem o de religião só um a vez por semana, aos domingos.

Êstes mesmos fiéis concluirão que, se querem “pagar am or com am or” , devem te r por regra ce­lebrar a “sua” M issa o mais frequentem ente pos­sível.

Como se deve entender esta expressão: "o mais frequentem ente possível” ?

O m embro de Cristo, desejoso de realizar seu papel no Corpo Místico, com preenderá que tôdas as vêzes que um dever de estado ou um im pe­dimento razoável não o im peça de ir à igreja, seu lugar é cada m anhã jun to ao santo altar.

U m dever de estado é, por exemplo, o cuida­do que uma m ãe de fam ília deve d a r a seus fi­lhos; é a obrigação que tem o operário de sair muito cedo para seu traba lho ; é a necessidade de velar um doente.

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176 T E R C E IR A PA R T E

U m im pedim ento razoável é a fadiga, a dis- tâncift, a intem périe das estações; mas não será impedimento a preguiça, a vontade de dorm ir, a indo lênc ia .. .

Cada fiel examine, pois, o que lhe é perm iti­do, segundo as circunstâncias. U ns dirão que para êles a assistência mais frequente possível é a de cada dom ingo; para outros, porém , a de cada dia. Como não somos nós, mas a Providência ̂ divina que determ ina nosso papel e nossa situação neste mundo, corresponderem os aos planos divinos assis­tindo à S. M issa com a frequência que D eus nos concede, contanto que sejam os leais e que com­pensemos nossas ausências m atinais à igreja, com um sincero pesar de sermos obrigados, involuntaria­mente, a privar-nos dela.

P o r esta razão a mãe de família, obrigada a ficar em casa para atender a muitos filhos, não será menos favorecida sobrenaturalm ente, contan­to que tenha um fervor igual, do que a jovem, sem encargos nem cuidados, que frequenta tòdas as m anhãs a Santa Missa. A segunda deve m ulti­plicar seus louvores a Deus, substituindo a p ri­m eira. . . É neste caso que deve haver so lidarieda­de e comunhão en tre as almas. Deus dar-nos-á a cada um seu quinhão completo de graças, em troca das M issas que tiverm os a possibilidade de cele­brar.

Cada um de nós deve penetrar bem esta verdade, na qual é preciso insistir sem pre; a ausência des­culpável à igreja não justifica , da parte dos mem­bros de C risto privados por outros deveres, um esquecimento completo de “sua” Missa. Se qui­serem aproveitar de um modo perfeito da assis­tência da S. M issa de domingo, necessitam unir cada dia sua intenção à Santa Missa, e realizar a “sua” celebração ao menos com o desejo. Êste

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pensam ento deve ser expresso todos os dias na oração da m anhã. É para lastim ar que não* §eja. bem expresso nos form ulários de orações já exis­tentes. Êste desejo de “sua” M issa associaria, de modo voluntário e preciso, cada um dos mem­bros do corpo Místico à oblação do C hefe divi­no, e faria com que participassem mais d ireta­mente dos fru tos do Sacrifício.

Procurem , portanto, as alm as piedosas e unidas a Cristo, impossibilitadas de ir à igreja, celebrar espiritualm ente tôdas as m anhãs em união com o sacerdote de sua Paróquia, e em geral com todos os sacerdotes que celebrarem M issas du ran te todo o dia em todo o mundo.

Tenham ainda o cuidado de ensinar às crian­ças desde pequeninas a se unirem ao santo Sa­crifício, a fim de que desponte nelas esta pieda­de essencial a todo membro de C risto: a estima e o am or à S anta Missa.

CAP. I II . A COMUNHÃO 177

C A P ÍT U L O I I I

A COMUNHÃOA COMUNHÃO DEPENDE DE TAL MODO DO SACRIFÍCIO

DA MISSA QUE DELA NAO SE PODE SEPARAR... POR CONSEQUÊNCIA, O MEMBRO DE CRISTO DEVE COMUN­GAR SACRAMENTALMENTE EM “SUA” MISSA O MAIS FREQUENTEMENTE POSSÍVEL. AO MENOS ESPIRI­TUALMENTE.

A S. Comunhão faz parte Integrante do sacrifício

Não raro os fiéis têm o hábito de considerar a S. M issa e a S. Comunhão como dois atos intei­ram ente separados. A M issa para m uita gente não é, como se disse acima, senão “o meio de se obte­rem hóstias consagradas” . D e outro lado os cris­tãos se têm acostum ado de tal form a a contem plar o benefício m aravilhoso e tão comovedor da “p re­

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sença real” , separado do sacrifício da M issa, que m u itfs alm as se tom aram de um a devoção tão vivã ao divino tabernáculo que ofuscou a seus olhos, quase completamente, a devoção à Santa M issa.

Cada um dos mistérios, na piedade cristã, deve ter seu lugar, segundo a ordem e a im portância do m e sm o ... A S. Comunhão, m istério de am or infinito de Cristo, está não som ente ligada ao S a­crifício, mas depende dêle, a êle deve seu valor e sua existência, e não se pode dêle separar.

Q ue é a sagrada Com unhão? A recepção de um dos sacram entos por meio do qual se comunica a nós o benefício do Gólgota, isto é, a “nossa” Missa.

O Sacrifício do Calvário apresentou a D eus os m éritos infinitos de Jesus Cristo. Pela sua imola­ção sanguinolenta, o Salvador depositou nos cu­mes das “m ontanhas eternas” (SI 75, 5) o in­sondável reservatório de graças e de perdões. Como poderem os nêle haurir, nós, fracos m ortais que habitam os nesta te rra tão a fastada dos céus? A plicando à nossa bôea os canais que descem dessa “m ontanha do Senhor”, e que nos trazem “a água que jo rra a té à vida eterna” (Jo 4, 14) com infi­n ita abundância, podemos saciar-nos à vontade, líste canais são os sete Sacram entos. Todos ju n ­tos, porém , não têm valor senão pelo Sacrifício de Cristo, sem o qual seriam vazios. T êm apenas o fim de com unicar-nos os frutos.

O ra, en tre êstes sete Sacram entos, todos intim a­mente ligados ao Gólgota, a E ucaristia tem, em relação ao Sacrifício de C risto, um lugar que se pode cham ar “sem igual” . A E ucaristia é de todos os sacram entos o mais ligado à oblação, pois que se origina do próprio ato de imolação de Cristo. É possível ter em vista a Comunhão, isto é, a re­

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CAP. m . A COMUNHÃO 179

cepção do Sacram ento eucarístico, sem considerar ao mesmo tem po a suprem a oferta , na qual Êle transfo rm a o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue ?

U m m embro de Cristo não pode, pois, separar do pensam ento e do coração a Comunhão da “ sua” M issa. A Comunhão é, para êle, antes de tudo, a m ais íntim a participação do Sacrifício de Cristo. E sta manducação tem por efeito imediato e direto un ir a alm a do com ungante à do Salvador, per­m itindo dêste modo ao pequeno membro de C ris­to identificar-se intim am ente aos atos de adora­ção e de homenagem do Sum o Sacerdote e re­ceber uma inundação dos m éritos da Cruz.

A liturgia mostra-nos a mútua dependência da comunhão e do sacrifício

A Ig re ja , que não e rra jam ais em suas in terpre­tações das verdades ocultas, revela-nos po r meio da sua L iturg ia o laço que une a Comunhão ao sacrifício da Missa.

1.° N ão pode haver presença eucarística sem que o sacrifício da S . M issa seja celebrado. Real­mente, é impossível haver E ucaristia sem reno­var-se o sacrifício da M issa. N ão há ou tro meio de se obter a Comunhão. E não é êste o sinal da vontade de D eus que fiquem unidas quanto pos­sível sua presença perm anente na E ucaristia e sua imolação na S. M issa?

E is por que a santa L iturg ia une estreitam ente a presença real e a Comunhão à celebração da San­ta M issa, e nos recorda que o “Tom ai e comei” é “ realizado cada ypz em m em ória da Paixão de Cristo” .

2.° Tam bém não pode haver sacrifício comple­to da M issa sem Comunhão. Se C risto não pôde dar-se em alim ento a seus membros fora de seu Sacrifício, também não quis que êste sacrifício

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se pudesse executar sem que Êle se tornasse nos­so alimento. O sacerdote que celebra é obrigado a com ungar, sem o que não d iria M issa; o fiel, que cum pre o preceito dominical, não deve sa ir da igreja sem ter assistido à Comunhão do sacerdo­te, porque faltaria à “ sua” M issa.

P o r que a Ig re ja procede assim ? Porque o sacerdote, sendo o representante oficial de Cristo no a lta r em prim eiro lugar, e do povo logo após, deve p rovar por um a ta ex terior e público a união de Cristo com seus membros, e dos membros com a Cabeça, na oferenda do santo Sacrificio. Êste ato oficial e visível da união dos m embros com a Cabeça é a m anducação da V itim a divina que faz o oficiante. N ão teríam os razão, se víssemos na Comunhão do sacerdote apenas um a prática des­tinada a satisfazer a piedade pessoal do celebran­te. Seria não com preender o alcance da parte que tomamos em “nossa” Missa. O sacerdote com un­ga em nosso nome, como pouco antes consagra­va em nosso nome. É o nosso delegado, o nosso m andatário no altar, du ran te todo o tempo da obla­ção. Todos os seus gestos interessam aos assisten­tes: só em segundo lugar é que seus atos se des­tinam a alim entar seu próprio fervor. A sua Co­m unhão supõe que-, pela união de nossa vontade com a sua, nós também nos unim os oficial e ex te­riorm ente ao Corpo e ao Sangue de Jesus C risto : eis o que significa a nossa presença obrigatória à C omunhão do sacerdote e a atitude respeitosa e recolhida que devemos ter neste momento solene.

Deveríamos comungar sacramentalmente tôdas as vêzes que celebramos “nossa” Missa

A s considerações que acabamos de expor levam- nos a um a conclusão lógica: os m embros do Cor­po Místico, presentes à Santa M issa, não deveriam deixar só ao sacerdote o encargo de uni-los ao

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Chefe pela manducação da santa V ítim a, masfc já que lhes é “ordenado” com ungar, devem ser so­lícitos em fazê-lo logo após o celebrante.

O encargo de consagrar pertence exclusivam en­te ao oficiante, ordenado pela Ig re ja para êste fim. Os leigos, ainda que participem do sacerdó­cio de Cristo, em vista do seu “enxerto batism al” , não tem, entretanto, poder para m udar no Corpo do Sum o Sacerdote a hóstia que está no altar, nem transubstanciar o vinho contido no Cálice. E is por que, no momento em que o sacerdote se inclina para pronunciar a fórm ula onipotente, os fiéis têm apenas a parte da “colaboração das von­tades” no ato da oferenda da V ítim a in finita a Deus. M as, chegado o m om ento da Comunhão, a parte do membro do Corpo M ístico é diferente. N esta parte da S. M issa pode agir por si mesmo, e com o mesmo d ireito que o sacerdo te ; pode exe­cu ta r um ato exterior, visível, oficial, de adesão a Cristo, aproxim ando-se da sagrada mesa. Assim participa da divina V ítim a, que, ó felicidade! é o Corpo real de Cristo com sua A lm a e sua D ivin­dade, tão vivo e tão perfeito como o sacerdote O recebeu na sua própria Comunhão. Q ual o mo­tivo, pois, que pode im pedir os mem bros de Cristo de se disporem a com ungar tôdas as vêzes que, vindo à Ig reja , têm a graça de ouvir a Santa M issa?

Ficando em seus lugares, como fazem certos fiéis, com prejuízo próprio, m ostram -se surdos aos apelos instantes de seu Chefe que os cham a com instância: "E u vos darei a m inha C arne a comer e meu Sangue a b e b e r . . . Aquêle que não comer a m inha Carne não terá em si a vida.” (Jo 6, 54.) “Tom ai e co m e i.. . bebei dêle todos.” (M t 26, 27.) Cristo talvez jam ais tenha dado avisos mais in­sistentes do que os que se referem à m anducação

CAP. I II . A COMUNHÃO 181

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de seu Corpo: reclamava para seus m embros fu ­turos união a mais completa possível ao ato do Sacrifício que ia renovar cada dia cm nossos alta­res.

P o r isso o m embro de Cristo, que bem compreen­de a “sua” M issa e que a Êle se quer un ir devida­mente, deve te r sua alm a em estado de com ungar, tòdas as vêzes que oferece o Sacrifício com o sa­cerdote. O fiel presente ante o a lta r não será, pois, em tôda a fôrça da expressão, co-oblato e concele- bran te senão quando participa de “sua” M issa em tôda a extensão que Cristo lhe perm ite, ou melhor, o convida a partic ipar dela. Só neste caso te rá haurido de “sua” M issa todo o resultado que po­de tirar, tanto para a glória de Deus, quanto para seu bem pessoal e para o alívio das alm as do pu r­gatório.

Além disso, êste estado de alma, exigido para comer a C arne da V ítim a imolada, não será tam ­bém uma condição indispensável não somente para com ungar, como para cooperar devidam ente com a oferenda de um fiel que nesse m omento estives­se indigno de receber a Cristo com o sacerdote? P o ­de-se, pois, enunciar esta verdade: “Só se pode un ir perfeitam ente à S. M issa o fiel que se ache nas disposições de poder com ungar” . O m embro a fas­tado da sagrada mesa, devido às suas faltas, é membro m orto. M as, se êste m orto fizer reviver, por meio da Confissão sacram ental, o “enxerto” que o liga ao Chefe para que readquira o poder de oferecer com Êle, então nada lhe im pedirá, vol­tando a tom ar parte no Sacrifício, de transpor o caminho que o separa da sagrada M esa.

P o r que se te rá perdido em nossos tempos a noção do laço íntimo que une a Santa M issa à Comunhão? Q uantos fiéis vêm assistir ao santo Sacrifício, não só sem pensar em comungar, mas

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até sem exam inar-se se estão sobrenaturalm ente ap­tos a fazê-lo. Como está longe de nossas piá ticas a tuais o espírito que anim ava os fiéis da prim iti­va Ig re ja !

Nesses tempos de fé pro funda todos os assisten­tes se aproxim avam da sagrada mesa: até ascriancinhas recém -batizadas recebiam a E ucaristia!S. Justino escreve: "O s m inistros que chamamos diáconos distribuem a todos os assistentes o pão, o vinho e a água consagrados, e os levam aos au ­sentes.” 1 Os doentes, os presos, os m ártires não eram esquecidos. Assim a comunidade cristã, isto é, todo o Corpo Místico oferecia e se oferecia de­liberadam ente com seu C hefe e evidenciava, por meio da sua solicitude em alim entar-se da V ítim a do Sacrifício, o a rdo r com que se unia a ela na oblação.

Devemos comungar ao menos espiritualmente tôdas as vêzes que celebramos “nossa” Missa

M as êstes belos tempos passaram , e até que m elhor com preensão desta doutrina penetre a m as­sa dos fiéis, m uitos m embros de Cristo, mesmo os mais dignos de se aproxim arem do a lta r pela pureza de sua consciência, ficarão em seus luga­res no momento da Comunhão.

N ão pensem os fiéis, en tretanto, que, ou por não se julgarem dispostos, ou porque ainda não se decidiram a alim entar-se da C arne sagrada, essa abstenção da Comunhão sacram ental os dispensa de tôda colaboração na Comunhão do sacerdote.

D a mesma form a que na elevação, os concele- brantes deviam, em espírito, consagrar o pão e o vinho, unidos à vontade do oficiante, e apre­sen tar a Deus a V ítim a in fin ita jun tam ente consi­go e com os ou tros m embros do Corpo Místico. Assim na Comunhão os mem bros de Cristo devem

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1) 1.» Apol. Crist., 65.

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de algum a form a com ungar com Cristo. Sem esta m andiicação da V ítim a, a “sua” M issa ficará in­completa. E com a S. Comunhão, sua participação com Cristo no seu Sacrifício pode ser considerada um a verdadeira celebração.

E sta união na S. Comunhão realiza-se pelo fiel desde o m omento que tenha a intenção geral de unir-se a tôdas as partes da S. M issa: pelo m es­mo ato se une ao sacerdote que comunga, como se tinha unido ao sacerdote oferecendo a oblação e consagrando-a. E sta intenção, ao menos implícita, de unir-se à Comunhão é o mínimo requerido pelo Chefe, dos concelebrantes que em “sua" M issa se não aproxim am do sacram ento da Eucaristia.

A m aior parte dos fiéis, que observam o pre­ceito dominical sem p rocu rar frequentem ente ali­m entar-se do Pão celeste, não devem esquecer-se que, sem esta união à Comunhão oficial do sacer­dote, não satisfazem às exigências da celebração do divino Sacrifício. P o r esta razão, o fiel que sai da igreja antes da Comunhão do sacerdote fa lta ao preceito. P o r esta razão, também, aquele que deixasse de se un ir, ao menos por um a intenção geral piedosa, aos atos do celebrante, dos quais a S. Comunhão é um dos principais, êsse também não ouviria Missa.

Todavia, se é suficiente êste mínim o da Comu­nhão espirtual, os fiéis devem p rocu rar ir muito além, produzindo atos explícitos e voluntários de desejo da recepção sacram ental. Isto lhes dará um meio de suprir, tan to quanto possível, a falta da manducação da Carne sagrada.

Os membros de C risto deveriam aperfeiçoar-se tan to mais neste exercício da Comunhão espiritual, quanto, em m uitos casos, a té as pessoas mais bem intencionadas não podem realm ente aproxim ar-se da santa mesa em cada M issa que celebram

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CAP. i n . A COMUNHAO 185

com Cristo. P o r exemplo, o cristão piedoso que, tendo no domingo comungado num a primeira» M is­sa que assistiu pela manhã, volta à ou tra M issa com a intenção de unir-se à celebração solene, não terá de contentar-se com a Comunhão espiritual? Do mesmo modo, as alm as cheias de zêlo que assis­tem sempre que podem as duas, três e mais M is­sas . . . só comungam sacram entalm ente em u m a . . . mas é-lhes necessário, se querem partic ipar perfe i­tam ente das diversas oblações, com ungar espiri­tualm ente em cada um a delas. Q uantos doentes, m ães de família, pessoas que m oram longe da igreja, achando-se na impossibilidade m aterial de se aproxim arem da sagrada mesa todos os dom in­gos, só com a sua Comunhão espiritual é que têm a possibilidade de assegurar sua plena participação 110 Sacrifício, sem a recepção do Sacram ento. P a ra êsses, é evidente que uma união intencio­nada e fervorosa à Com unhão oficial do sacerdote lhes assegura a colaboração na oferenda do Gól- gota, renovada no altar.

O s membros de Cristo devem, pois, ser muito solícitos em sua Comunhão espiritual, e não se contentar de fazê-la com uma intenção geral bas­tante vaga “de assistir à M issa” ; devem prepa­rar-se com cuidado, unindo-se verdadeiram ente por seus sentim entos de adesão à C arne e ao Sangue divinos, para realizarem um a fervorosa celebração de “sua” Missa.

Todavia, por m aior que seja a perfeição de sua Comunhão espiritual, devem os fiéis com preender que ela está bem longe de te r para suas almas o valor da união sacram ental, oficial e ex terior, ao Sacrifício que celebram, fonte m aravilhosa dos mais suaves fru tos interiores. P o r isso, deveriam, sem pre que um impedimento m aterial não se lhes oponha, alim entar-se, em união com o sacerdote

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que os representa no altar, da C arne viva e glo- riosa»do Filho de Deus.

Posso comungar fora da “minha” Missa?

O sacram ento da E ucaristia está de tal modo uni­do ao divino Sacrifício, que bem pode nos vir a dúvida de que o fiel dem onstre uma falta de sen­so doutrinal e litúrgico, quando comunga fora de “sua” Missa.

A esta questão só se pode responder com a a f ir ­m ativa. E para isso é óbvio estabelecer o princí­pio seguinte: “Um fiel não deve, jam ais, se não tiver um a razão suficiente para fazê-lo , separar m aterialm ente a sua Com unhão de sua Missa. Se fôr obrigado a receber a "sua” C imunhão fora de “sua” M issa, não deve, contudo, separar espiritual­mente uma da ou tra .”

1.° U m fie l, que não tem razão suficiente, nun­ca deve separar m aterialm ente a “sua" Comu­nhão de “sua” Missa. A veracidade desta asser­ção deduz-se de tudo que foi dito no presente vo­lume. A S. Comunhão é um ato que faz parte da celebração de “nossa” Missa. “A Comunhão não é sobretudo um ato de intim idade mais ou menos afetuoso com Nosso S e n h o r .. . é o meio por ex­celência de participação do Sacrifício .” E po r que procurar-se então, sem haver sérias razões, separar o que C risto tão intim am ente uniu?

É portan to incompreensível a a titude de certos fiéis que se apressam a com ungar antes da S. Mis­sa, mesmo tendo de assisti-la até ao f im . . . ou a daqueles que, deixando o sacerdote term inar a ce­lebração, só se apresentam à sagrada mesa depois das orações ao pé do a l t a r . . . Estas anom alias caprichosas são, aliás, m uito frequentes. O s pre­textos alegados para legitim ar um tal procedim en­to não têm o m enor valor: algum as pessoas dizem que rezam m elhor duran te a M issa quando em

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CAP. n i . A COMUNHÃO 187

lôda ela fazem a ação de graças; ou que acompa­nham m elhor a “sua” M issa quando não são«“dis- tra ídas” no meio pela Com unhão!! T ôdas estas expressões dem onstram um a ignorância p rofunda da doutrina do Sacrificio e do sentido das orações litúrgicas que nos revelam nossa colaboração com o Chefe adorável.

É preciso, então, que todos os fiéis tomem um a resolução enérgica: a de com ungar, tôdas as ve­zes que não tiverem um impedimento sério, logo após o oficiante, no momento determ inado pela santa Liturgia.

2.° P or uma rasão ponderosa um membro de Cristo pode separar materialm ente a “sua’’ Comu­nhão de “sua” M issa. H á m uitos casos de ordem geral ou de interesse particu lar que obrigam o fiel a separar m aterialm ente a “sua“ Comunhão de “sua” ' Missa. P o r exemplo, para não estender dem asiadam ente a S. M issa de domingo, o Pe. V igário decide que a Comunhão só seja d is tri­buída uma vez, ao term inar a M is sa . . . ou, às ve­zes, as M issas são ditas em altares onde não se conserva o Santíssim o Sacram ento. O u tras vêzes o com ungante tem hora m arcada: vê-se obrigado a sair antes de term inar a S. Missa. H á pessoas que, m orando afastados do centro e chegando ta r­de à igreja, pedem para com ungar um pouco an ­tes da S. M issa principal, por não poderem supor­ta r um jejum p ro lo n g ad o .. . ou tras não tiveram tempo de ir ao confessionário antes da prim eira Missa, e irão com ungar depois que o P ad re volte a lhes a te n d e r .. . E os doentes, presos em casa, poderão com ungar na M issa?

A Ig re ja compreendeu tão bem tôdas estas ra ­zões que instituiu um rito próprio com orações pa­ra adm inistrar a santa E ucaristia fora da M is s a . . . E ainda não proíbe distribuí-la, mesmo em hora

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bem afastada da M issa, especialmente aos doen­tes, • não raras vêzes a corajosos fiéis que perm a­neceram em jejum até depois do meio-dia para saciar sua fome sobrenatural.

Mas se a Ig reja , como boa e tem a mãe, deu a seus filhos tanta facilidade para receber a E uca­ristia, por outro lado encarece com tal insistência a união da Comunhão com o Sacrifício, que se­ria um certo desprezo de seus desejos o querer separar m aterialm ente um do outro, sem haver para isso razões legítimas. O s fiéis devem recor- dar-se que a perm issão de com ungar fora da S. Missa é apenas tolerância, e não estímulo. Não se devem, pois, aproveitar desta concessão, senão quando se acharem em verdadeira impossibilida­de de fazer de ou tro modo.

3.° A inda assim o fie l, que recebe a Comunhão fora da S. M issa, não pode separar espiritualmen­te uma da outra. Todavia, o m embro de Cristo que por motivos suficientes se aproveita das am ­plas autorizações dadas pela Igreja , para comun­gar fora da Missa, deve fazê-lo com o espirito de Nosso Senhor. Jesus C risto uniu intim am ente a S anta Comunhão e os benefícios de sua presença real à oblação de seu Sacrifício: seus membros não devem proceder contra o espírito de seu Chefe, considerando-os separados. O fiel, mesmo quando comunga fora da S. Missa, deve unir-se intim am ente com o pensam ento e com o coração a Cristo que se oferece no a lta r e apresenta a seu Pai a homenagem infinita. E , ainda mais, deve estar intim am ente convencido de que todos os bens que lhe advêm da manducação da C arne sa­grada, são nêle produzidos tão som ente pelo Sacri­fício da Cruz, renovado na S. M issa, cujos m éri­tos são aplicados à sua alma pelo precioso canal do san to Sacram ento.

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Êstes pensamentos, baseados no verdadeiro co­nhecimento da oblação eucarística, terão um » du ­pla influência na alm a do com ungante: engrande­cerão a seus olhos a m ajestade do sacram ento da E ucaristia, e o a tra irão invencivelmente para o Sa- crificio do altar.

O Sacram ento divino terá, realm ente, para o fiel piedoso, proporções que um a piedade menos esclarecida não pode ver: êste Cristo que vem a êle é seu Chefe, do qual é m embro e 'd e cu ja imolação participa como sacrificador e como vítima, e com o qual oferece ao Altíssimo hom enagens que são in fin itas! líste Chefe adorável, revestido da m is­são de “louvor à Santíssim a T rindade” , digna-se en tra r em contacto corporal com seu pequeno m em­bro, para lhe provar até que ponto de intim idade chega a sua u n iã o ! Q ue novas luzes para a piedade que sabe elevar-se a estas a l tu ra s !

Compreendidas estas verdades pelo membro de Cristo, já lhe será penoso separar a Comunhão do Sacrifício. Com ungar fora da S. M issa parecer-lhe- á como que um a diminuição de seu fru to espiri­tual. N ão há mais necessidade de convidá-lo a es­colher o momento litúrgico para se aproxim ar da sagrada mesa. J á se convenceu que o plano lógi­co da Comunhão é a S. M issa. Torna-se desde então um fervoroso concelebrante, isto é, leva sua colaboração com Cristo, que se imola, a té à co- m anducaçâo litúrgica da soberana Vítima.

Açâo de graças litúrgicaSe a Comunhão é um ato oficial e litúrgico, co­

locado muito acim a da satisfação de am or priva­do e pessoal, a ação de graças que a segue, deve revestir-se do mesmo caráter: exprim irá em p ri­m eiro lugar o agradecimento oficial da Igreja, p ro ­vando a Cristo a sua gratidão. Term inada esta

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homenagem pública, a ação de graças poderá to r­n a r - « ato de intim idade pessoal do mem bro com seu Chefe, e prolongar-se em deliciosa intimidade.

A ação de graças oficial é a p arte da M issa que vai da Comunhão às últim as orações. Com preen­de as m aravilhosas fórm ulas da an tífona cham a­da comúnio e das orações cham adas poscomúnio. Continua com o " I te missa est” ao qual devemos responder de todo o coração com um “Demos g ra­ças a D eus” . A bênção do Padre, do F ilho e do E spírito Santo desce logo em seguida sôbre nós. E nfim a ação de graças term ina com a le itu ra do sublime comêço do evangelho de S. João, o qual nos faz contem plar com um relance de águia to­dos os m istérios de Cristo que a “nossa” M issa renovou.

Se a Ig re ja escolheu estas orações para consti­tu ir a ação de graças oficial e pública que impõe ao celebrante, é que ju lga essas fórm ulas e essas atitudes as melhores para agradecer a Cristo e à Santíssim a T rindade pelo dom inefável que aca­ba de nos ser outorgado. E sendo assim, por que se vêem os fiéis, que aliás acom panharam aten­tam ente tôda a L iturg ia de "sua” M issa, sair da igreja apenas acabaram de com ungar? O s tex­tos sagrados, que lhes pareciam tão próprios para orientá-los na sua celebração, tornar-se-ão im pro­fícuos apenas C risto penetra em seu coração? E , 110 entanto, o sacerdote, que por estado é o modê- lo do povo, não se esconde a um canto do san tuá­rio com as mãos no rosto para agradecer. Pelo contrário, can ta! Q ue razão temos para não fazer como êle? V oltando ao nosso lugar, orem os com Cristo como Cristo pede que se ore. Se a d is tri­buição da E ucaristia aos assistentes é longa, en­tão façam os um piedoso colóquio com N osso Se­nhor em in tim idade; mas, apenas recomece a fun ­

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CAP. I II . A COMUNHÃO 191

ção santa, continuemos logo nossa celebração, a qual devemos acabar como principiamos, ío m o sacerdote oficiante e a Ig re ja inteira.

Agindo assim, o m embro de C risto experim en­ta rá os maiores benefícios. Começará por partici­p ar das últim as orações e das últim as ações de graças de “sua” M issa; depois p rocurará nas fór­m ulas que pronunciar com o sacerdote pensam en­tos e afetos que alimentem sua piedade e reconhe­cim ento; fa rá pedidos que serão certam ente aten­didos; receberá da mesma m ão do sacerdote que lhe acaba de dar o Corpo de Cristo, a bênção oni­potente da Santíssim a T rindade ; dará enfim um vôo com S. João às a ltu ras celestiais. Dêste modo o piedoso com ungante fa rá um a verdadeira ação de graças, evitando as repetições, as distrações, o enfado que quase sem pre vêm pertu rbar um a ação. de graças pessoal, rotineira, revolvendo-se sem pre no mesmo círculo de idéias jam ais renovado.

Term inada esta ação de graças oficial, e saindo o sacerdote para a sacristia, o piedoso fiel conti­nuará seus agradecim entos a Cristo por sua ação de graças pessoal. E ntão poderá en tregar-se a tô- da efusão de seu coração, po r todo tempo que quiser, com um fru to tan to m aior quanto mais seus pensam entos se tiverem alim entado de só­lida piedade com o recurso da Liturgia.

A S. Comunhão é “nossa” ressurreição

O contacto da Carne sagrada do Salvador com nossa carne, pela Santa Comunhão, tem um resul­tado particular, do qual nos fala Nosso Senhor quando diz: "A quêle que come a m inha Carne e bebe o meu Sangue, ressuscitá-lo-ei no últim o d ia.” (Jo 6, 44.)

Sabemos que estamos "enxertados” em Cristo, que com partilham os, como m embros seus, a sor-

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te de nosso Chefe. Sua vida é nossa vida, pois que dele corre .para nós, suas prerrogativas são as .nossas, sua ressurreição, sua ascensão, seu reino, são nossos.

O ra, sua ressurreição foi um a ressurreição de sua Carne: nossa ressurreição te rá o mesmo as­pecto. Nosso corpo deverá, pois, ressuscitar para revestir-se da glória do Corpo de Cristo. Quando, entretanto, logo depois da nossa morte, nós, seus m embros, form o-nos reunir ao nosso Chefe no céu, para lá subirem os sem os nossos corpos. N ossa vi­da de felicidade com eçará sem nossa carne m ortal. M as éste estado não podia d u ra r sempre. P o r isso, elegendo-nos Cristo po r seus membros, associa não somente nossa alma à sua Alm a sagrada, mas tam ­bém nosso corpo à sua Carne: é a Comunhão

•sacramental. A união do Corpo de C risto com o nosso, po r meio das espécies sacram entais, é o si­nal exterior, oficial e certo, de que nosso corpo é partícipe do Chefe, como nossa alma. P o r éste título, o Salvador é obrigado a ressuscitar nosso Corpo, a no-lo restitu ir, e a apresen tar a Deus um Corpo M ístico form ado de membros, exata­mente como o C hefe divino, de Corpo e Alm a. E is por que disse: "Aquele que com er a m inha C arne, ressuscitá-lo-ei no último dia.”

P or que, quando se comunga, não se pensa mais neste insigne favor? Pelo fato de m inha carne ser cham ada a tocar a Carne de C risto, ela é, por isso mesmo, consagrada para a im ortalidade! Q ue fe­licidade e que g ló r ia !

M as, então, pode-se bem perguntar: com que direito ressuscitarão aqueles que nunca com un­garam ?

Os que nunca comungaram , afastaram -se do Corpo de Cristo, ou po r desprezo ou po r impos­sibilidade. O s prim eiros condenar-se-ão e sua car­

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ne servir-lhes-á sem pre de torm ento: m elhor teria sido para êles que nunca tivessem despertadí) do túmulo.

Aqueles, porém, que não com ungaram sem p ró ­pria culpa, ou porque não conheceram a Comu­nhão ou porque não puderam recebê-la em sua curta existência, participarão da ressurreição de C risto, porque seu estado de união a C risto como m em bros enxertados nÊle lhes dá o direito à Co­m unhão corporal e sacram ental, direito êste que não puderam exercer, mas que possuem sem pre e que lhes concede os favores que dêle dimanam.

Assim, em vista do direito da manducação da Carne divina e do contacto desta Carne de Cristo com o nosso Corpo de cristão, êste corpo fica m ar­cado com um sinal de vida: ressuscitará glorioso.

Compreendemos agora m elhor do que nunca co­mo C risto é nosso em tudo que existe. Todos os seus privilégios são os nossos, sua própria Carne, por assim dizer, é nossa carne, pois a nossa car­ne m ortal, santificada ao contacto da C arne de Cristo, encerra em si o direito à participação de tôdas as glórias que tiver no céu o maravilhoso Corpo do Chefe dos ressuscitados.

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Prólogo

í n d i c e

Capitulo I. Jesus Cristo Saoerdote ...................................... 11O decreto divino, 11. - A noção do sacerdócio, 12. - Jesus

Cristo, Sumo Sacerdote 13. - Por que Jesus Cristo é nosso Sacerdote, 14. - Quando se realizou a consagração sacerdo­tal de Cristo?, 15. - O Sacrifício de Jesus, Sacerdote 16. - O Sacerdote e os sacerdotes. 17. - O Sacerdote, os sncerdotes, os fiéis e a S. Missa, 18. - A parte dos fiéis no S. Missa, 19.

Capitulo II. O cristão, membro de Cristo.................... 20Cristo Mistico. 20. - Que quer dizer Cristo Mistlco, 20. -

Como é constituído o Corpo Mistlco de Cristo, 21 - A metamorfose do "velho homem”, 22. - A união do membro ao seu Chefe, 23. - As consequências práticas da existên­cia do Corpo Mistico, 25. - São Paulo insiste sóbre CristoMistlco, 26. - A Cabeça do Corpo Mistlco, 28. - Como CristoChefe está ligado ao seu Corpo Mistico, 28. - A função dos membros no Corpo Mistico, 30. - Como nos tornamos mem­bros de Cristo, 31. - Estamos em Jesus Cristo, 33. - Con­clusões práticas. 34.Capitulo III. O membro se oferece e sacrlíloa com o

Chefe ..................................................................................... 37Quem é o sacrificador na Santa Missa?, 37. - Como se

efetua a oblação pelo Corpo Mistico, na Santa Missa, 38. - Qual a medida de nossa parte pessoal no papel de sacri­ficador?. 41. - A Vitima, 42. - O Corpo Mistlco é, pois, "Vitima do sacrifício", 45. - Nossos sacrifícios e o Sacri­fício, 47. - Por que melo podemos aumentar nossa par- clpaçáo à S. Missa, como sacrificadores e vitimas?, 48. - Conclusão: aquêles que são concelebrantcs da S. Missa, e aquêles que o não são, 50.Capitulo IV. A S. Missa, oblação de Cristo M istico.... 52

A S. Missa é a cena vlsivel da oblação, 62. - Nosso estudo lltúrgico limitar-se-á á demonstração desejada, 62. - O que nos mostrará a liturgia da S. Missa, 63. - Os têrmos pelos quais nos oferecemos com Cristo, 53. - As provas lltúr- gicas que mostram que todo o Corpo Mistico é vitima com Cristo, 56. - A Liturgia mostra-nos o tríplice papel do sacerdote, 60. - A Liturgia e o papel do sacerdote como representante de Jesus Cristo, 60. - A Liturgia„ _ ------- ------ J ite, como nosso representante ofi-

o papel pessoal do sacerdote, 65. - que Cristo é o Sacerdote prln-

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IN D IC E 185

Capitulo I. O que 4 “Minha" Mlaaa.............................. 69"Minha” Missa é o Calvário, 69. - Mas êste Sacrifício único

pode ser renovado, 70. - A S. Missa é a exata renovaçáo do Calvário, 70. - Missa e Calvário: mesmo Sacerdote, mesma Vitima, 71. - Jesus Cristo teve intenção de repre­sentar visivelmente na S. Missa a cena do Calvário. 72. - O sacrifício da S. Missa renova invisivelmente o Sacrifí­cio da Cruz, 73. - Uma nota de passagem: a Eucaristia é sacrifício e ao mesmo tempo sacramento, 74. - A Li­turgia frisa a Identidade entre a S. Missa e o Calvá­rio. 75. - Quão preciosa é, pois, a "minha” Missa!, 78.

Capitulo II. A glória de Deus........................................ 79"Minha” Missa dá a Deus uma glória de valor infinito,

79. - A Liturgia assegura-nos que nossa homenagem é infinita, 80. - Consequência desta verdade: o infinito va­lor de “Minha” Missa, 80. - Os quatro aspetos do louvor infinito dado pela "minha" Missa, 81. - Como Cristo, por seu sacrifício, adora perfeitamente a Deus, 82. - Queagradego a Deus com “minha” Missa?, 86. - Que pede Cristo Mistico na Santa Missa?, 87. - Conclusão deste capitulo: “Minha" Missa é para mim o ato mais impor­tante e incompnrável, 93.Capitulo III. Meu fruto espiritual.................................. 95

O fruto que tiro de “Minha” Missa é finito, 95. - Con­sequências que podem resultar para Cristo, apesar de meu proveito só poder ser finito, 96. - Consequências que podem resultar para mim, apesar de o fruto espiritual de "minha" Missa só poder ser finito, 97. - Que se deve enten­der por "meu fruto espiritual”, 100. - Os frutos pessoais da "minha” Missa: 1° Aumento da graca santlficante, 1Q1. - 2» O progresso na virtude, 102. - 3° A remissão dos pecados, 105. - Como “minha” Missa apaga meus pecados, 106. -4» A satisfação por minhas faltas, 109. - 5« A consecu- Cão dos meus pedidos, 110. - Mas como formular nossos pedi­dos?, 111. - Em “minha” Missa poderei fazer pedidos par­ticulares, espirituais ou temporais?, 112. - O fruto pessoal do sacerdote que celebra "sua” Missa, 116. - O lucro daque­les por quem d celebrada a S. Missa, 118. - O fruto daque­les que mandam celebrar a S. Missa, 120. - A razão de serdas "espórtulas”, 121. - O lucro dos que concorrem de qual­quer outro modo para a celebração, 123.Capitulo IV. O proveito do purgatório............................ 124

A “minha” Missa, orvalho para o purgatório, 124. - ALiturgia recorda que, em “minha” Missa, devo dar a parte dos defuntos, 126. - Terei eu “minha” Missa no purgatório?, 127. - Terei “minha” Missa no purgatório: 1» se tiver o cui­dado de mandar celebrá-la, em vida, pelo repouso de minha alma, 128. 2.» se outras pessoas tiverem a caridade de man­dar celebrar por mim, 129. - E se não tiver Missas “pro­priamente minhas" no purgatório?, 130. - "Minha" missa no purgatório é só "libertadora”, 132. - Será todo fiel libertado por "sua" Missa no purgatório, 134. - “Minha" Missa neste mundo abrevia o tempo do purgatório., 135. - Podemos

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estar certos de que Deus aplica às almas do purgatório, tantoa quanto possível, as satisfações de "sua” Missa. 137. - O que é melhor Dara nós: Mandar em vida celebrar Missas por nós ou deixá-ltS para depois- da nossa morte?, 139. '

III PARTE: MEIOS PARA BEM CELEBRAR "MINHA" MISSA

Capitulo I. A preparação...................................................... 142A celebração de "Minha" Missa não se improvisa. 142. -

Qual deve ser a preparação à “minha” Missa?.. 143. - 1° A preparação doutrinal para “minha" Missa, 144. - A lei­tura, primeiro melo para assegurar a preparação doutrinal de “minha" Missa, 145. - A pregação, segundo melo de asse­gurar a preparação doutrinal da "minha” Missa, 147. - 2® A preparação litúrglca da “minha” Missa, 150. - 3« A pre­paração ascética para "minha" Missa, 152. - • A preparação ascética da “minha" Missa consiste em formar em mim a vi­tima do Sacrifício. 153. - A nossa formação de co-vltima do Sacrificio: 1° pela aceitação das penas necessárias á conser­vação do estado de graça. 154. - 2® pela- aceitação das cruzes, 156. - 3° pelas mortificações que nos impomos?, 157.Capítulo II. A assistência........................ 160

Nossa presença deve ser uma celebração,' 160. - O melhor melo de celebrar: a assistência litúrglca. 162. - As vantagens da assistência lltúrgica, 164. - A assistência litúrglca às Missas solenes. 166. - Que pensar dos cânticos populares du­rante a S. Missa, 171. - As explicações para a assistência à- "minha" Missa, 174. - Quando devo celebrar a “minha" Missa, 175.

Capitulo -III. A Comunhão...................................................... 177A S. Comunhão faz parte Integrante do Sacrificio, 177. -

A Liturgia mostra-nos-a mútua dependência da Comunhão e do Sacrificio, 179. - Deveríamos comungar secramentalmente tódas as vêzes que celebramos "nossa" Missa, 180. - De­vemos comungar ao menos espiritualmente tódas .as vêzes que celebramos “nossa" Missa, 183. - Posso comungar fora da "minha” Missa?, 168. - Ação de graças litúrglca, 189. - A S. Comunhão é "nossa" ressurreição, 191.

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