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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental PROAMB THAÍSSA JUCÁ JARDIM OLIVEIRA FOSSA SÉPTICA BIODIGESTORA: LIMITAÇÕES E POTENCIALIDADES DE SUA APLICAÇÃO PARA O TRATAMENTO DE ÁGUAS FECAIS EM COMUNIDADES RURAIS OURO PRETO MG 2018

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Universidade Federal de Ouro Preto

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental – PROAMB

THAÍSSA JUCÁ JARDIM OLIVEIRA

FOSSA SÉPTICA BIODIGESTORA: LIMITAÇÕES E POTENCIALIDADES

DE SUA APLICAÇÃO PARA O TRATAMENTO DE ÁGUAS FECAIS EM

COMUNIDADES RURAIS

OURO PRETO – MG

2018

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THAÍSSA JUCÁ JARDIM OLIVEIRA

FOSSA SÉPTICA BIODIGESTORA: LIMITAÇÕES E POTENCIALIDADES DE SUA

APLICAÇÃO PARA O TRATAMENTO DE ÁGUAS FECAIS EM COMUNIDADES

RURAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Pos-

Graduação em Engenharia Ambiental da

Universidade federal de Ouro Preto como

requisito para a obtenção do grau de Mestre em

Engenharia Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Aníbal da Fonseca

Santiago

Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Célia da Silva

Lanna

OURO PRETO – MG

2018

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Catalogação: www.sisbin.ufop.br

O482f Oliveira, Thaíssa Jucá Jardim. Fossa Séptica Biodigestora [manuscrito]: limitações e potencialidade de suaaplicação para o tratamento de águas fecais em comunidades rurais / ThaíssaJucá Jardim Oliveira. - 2018. 106f.: il.: color; grafs; tabs.

Orientador: Prof. Dr. Aníbal da Fonseca Santiago. Coorientadora: Profª. Drª. Maria Célia da Silva Lanna.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Pró-Reitoria dePesquisa e Pós-Graduação. PROAMB. Programa de Pós-Graduação em EngenhariaAmbiental. Área de Concentração: Tecnologias Ambientais.

1. Tratamento de águas fecais. 2. Saneamento rural. 3. Sistemas locais. I.Santiago, Aníbal da Fonseca. II. Lanna, Maria Célia da Silva. III. UniversidadeFederal de Ouro Preto. IV. Titulo.

CDU: 502:004

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DEDICATÓRIA

Dedico o esforço empreendido na execução

desta pesquisa a todas as comunidades rurais

que ainda não têm acesso a condições

adequadas de saneamento básico.

Na certeza de que não existe ciência, tampouco

tecnologia, que seja neutra.

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“Quem dança com as ideias descobre que

pensar é alegria. Se pensar lhe dá tristeza

é porque você só sabe marchar, como soldados

em ordem unida.

Saltar sobre o vazio, pular de pico em pico.

Não ter medo da queda. Foi assim que se

construiu a ciência: não pela prudência dos

que marcham, mas pela ousadia dos que

sonham.

Todo conhecimento começa com o sonho. ”

Rubem Alves

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a meus pais, meus avós, meu tio Jr. e meu irmão por terem incentivado

desde a minha infância meu gosto pela ciência e pela leitura. Obrigada pelo carinho, pelo apoio

e por entenderem minha ausência em momentos tão delicados quanto os que nós passamos nos

últimos anos.

Ao meu orientador, Aníbal Santiago, por ter confiado no meu trabalho e por ter enfrentado junto

comigo as dificuldades que tivemos na execução desta pesquisa. Todos os seus

questionamentos, indicações e reflexões contribuíram demais, não só para a minha formação

profissional, quanto para a pessoal.

À minha co-orientadora, Prof. Maria Célia, por ter me introduzido no universo da microbiologia

e por ter me ensinado, ainda que sem perceber, sobre o amor à pesquisa e ao ensino.

À Thalita e Natália, pela dedicação e pelas inúmeras horas que passamos no LSA apanhando

dos equipamentos e aprendendo juntas as metodologias de análise. Sem vocês, essa pesquisa

certamente não teria sido possível.

À toda a equipe do Laboratório de Saneamento Ambiental, em especial à Raquel, Grazielle e

Fábio, por terem me ensinado a operar o laboratório e estarem sempre presentes para tirar

minhas dúvidas.

À D. Graça, Sr. Geraldo e Ricardo por disponibilizarem sua residência para a realização desta

pesquisa, pelas conversas maravilhosas e por todo o apoio logístico ao meu trabalho.

À equipe do LIGA (Ludmila, Everton, Thiago, Sara e Lilian) por me acolherem enquanto

“sociopessoa”e pela valorosa troca de experiências. Um agradecimento especial à Ludmila por

ser o anjo da guarda de praticamente toda a turma de mestrado de 2016.

Ao Ricardo e ao Paulo Bernardo, pelo companheirismo e pelos bons momentos que tivemos

juntos durante o mestrado. Foi um privilégio ter construído essa amizade com vocês.

À Andreíza, Andressa, Laís, Grazielle e Ricardo (novamente), pelo apoio prático na reta final

da escrita. A contribuição de vocês foi muito importante para a qualidade deste trabalho.

A todos os meus colegas do ProAmb, pela parceria nos estudos e nos bares da Bauxita. Pois

nem só de trabalho vivem os pós-graduandos!

Ao Vinícius, pela companhia leve em praticamente todas as madrugadas e finais de semana que

eu passei na UFOP. Agradeço por sempre incentivar o meu trabalho, por me dar colo quando

eu precisava descansar e por compreender minhas limitações durante este período. Ter você

perto de mim tornou tudo mais fácil.

Aos companheiros do OcupaUFOP por estarem ao meu lado na pelo direito à uma educação

pública e de qualidade para todos.

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Ao Sr. José Carlos e ao Márcio pelo cuidado que tiveram comigo no nosso dia-a-dia de trabalho.

À equipe de motoristas da UFOP por ter possibilitado a realização dos nossos campos.

À Prof. Silvana de Queiroz e ao Prof. Marcos Von Sperling pelas valorosas contribuições e pelo

incentivo que me deram na banca de defesa desta dissertação.

Feitos todos os agradecimentos, aproveito este espaço para negar a meritocracia e lembrar a

todas as leitoras que fazer pós-graduação no Brasil ainda é um privilégio da classe média/alta e

da população branca, que ocupa a maior parte das vagas, notadamente nos cursos de engenharia.

Nesse sentido, ainda temos um longo caminho a percorrer em busca de um ambiente acadêmico

menos elitizado e mais próximo das causas populares.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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RESUMO

A Fossa Séptica Biodigestora – FSB é uma tecnologia social desenvolvida em 2001 pela

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, com a finalidade de promover o tratamento

anaeróbio de águas fecais no meio rural, produzindo um efluente adequado para o uso agrícola.

Com o objetivo de avaliar o desempenho da Fossa Séptica Biodigestora no tratamento de águas

fecais, o presente trabalho buscou sistematizar e analisar os principais dados produzidos sobre

o desempenho da FSB no período de 2001 a 2018 e complementá-los com um estudo pioneiro

do ciclo de funcionamento do sistema, a partir de uma unidade da FSB instalada em Cachoeira

do Campo, Ouro Preto – MG. Além dos parâmetros físicos e químicos convencionais, foram

avaliados os seguintes indicadores biológicos: E. coli, Enterococcus spp., Salmonella sp. e

adenovírus humanos (HAdV). Na revisão de literatura, constatou-se que existe uma

concentração da produção científica sobre a FSB no eixo Sul-Sudeste e que apenas 16% das

publicações apresentam dados primários sobre o desempenho deste sistema no tratamento de

águas fecais. Dentre as publicações referentes ao desempenho da FSB, foram selecionados 14

estudos, que tiveram suas informações sistematizadas e comparadas com unidade instalada em

Cachoeira do Campo (FBCC) em busca de um padrão de funcionamento do sistema. A FBCC

apresentou resultados próximos daqueles identificados na literatura e seu efluente atingiu

qualidade satisfatória para uso nos seguintes casos: a) fertirrigação no caso de culturas que se

desenvolvem distantes do nível do solo; b) cultivos de alto nível tecnológico e produção

mecanizada; c) por meio de técnicas de irrigação com elevado potencial de minimização de

exposição. O sistema apresentou uma capacidade de remoção de 6,63 unidades logarítmicas

para E.coli; 1,2 unidades para Samonella sp.; 3,06 para Enterococcus spp.; e 2,5 para HAdV.

Ademais, a análise em diferentes dias do ciclo apontou que a inserção do esterco na FBCC

resultou em um salto da eficiência de remoção interna de DBO de 16% para 90%, indicando

que o período no qual é realizado a coleta influencia diretamente nos dados apresentados pelas

pesquisas. Também foram verificadas alterações devido ao inóculo em toda a série de sólidos,

nos parâmetros microbiológicos, no oxigênio dissolvido e na temperatura interna dos três

reatores.

Palavras-chave: “tratamento de águas fecais”; “saneamento rural”; “sistemas locais”

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ABSTRACT

The Biodigester Septic Tank (FSB) is a social technology developed in 2001 by the Brazilian

Agricultural Research Corporation (Embrapa), with the purpose of promoting the anaerobic

blackwater treatment in the rural environment, producing an effluent suitable for agriculture. In

order to evaluate the performance of the Embrapa FSB in blackwater treatment, this research

intended to systematize and analyze the main data produced about the performance of the FSB

in 2001 to 2018 period, complementing them with a pioneer evaluation of the system's operating

cycle using a FSB installed in Cachoeira do Campo, Ouro Preto - MG. In addition to the

conventional physical and chemical wastewater parameters, were analyzed four biological

indicators: Echerichia coli, Enterococcus spp., Salmonella sp. and human adenovírus (HAdV).

In the literature review, it was verified that there is a concentration of scientific production

about the FSB in the Brazil South/ Southeast and that only 16% of the publications present

primary data on the performance of this system in blackwater treatment.Of these, 14 studies

were selected and had their information compared with the unit installed in Cachoeira do

Campo (FBCC) in search of a system operation standard. FBCC presented results close to the

literature, and its effluent reached a satisfactory quality for use in the following cases: a)

fertirrigation in the case of crops that develop far from the soil; b) high technology crops and

mechanized production; c) through irrigation techniques with high potential for minimization

of exposure. The system had a removal capacity of 6.63 log units for E. coli; 1.2 log units for

Samonella sp.; 3.06 for Enterococcus spp.; and 2.5 for HadV. In addition, the analysis on

different days of the cycle indicated an increase in the BOD removal of 16% to 90% in the days

after inoculum insertion, which indicate that the collection’ period has direct influence in the

data presented by the surveys about FSB. Changes due to the inoculum were also observed in

the solids set, microbiological parameters, dissolved oxygen and in the internal temperature of

the three reactors.

Keywords: “blackwater treatment”; “rural sanitation”; “on-site systems”; “EcoSanitation”.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Fossas Sépticas Biodigestoras construídas em diversos materiais: a) amianto; b)polietileno;

c)fibra de vidro; d)manilhas de concreto ............................................................................................19

Figura 2- Esquema de funcionamento da FSB. .................................................................................23

Figura 3 – Diretrizes do Saneamento Ecológico para a elaboração de tecnologias para tratamento de

esgoto em áreas rurais. ......................................................................................................................28

Figura 4 – Fossa Séptica Biodigestora instalada no distrito de Cachoeira do Campo (FBCC). ............43

Figura 5 – Croqui da FBCC e identificação dos pontos de coleta .......................................................44

Figura 6 - Coleta do efluente no Reator 1 e detalhamento da bomba peristáltica ................................46

Figura 7 - Porcentagem de publicações sobre a FSB obtidas em cada base de dados analisada. ..........47

Figura 8 - Tipos de publicações disponíveis sobre a FSB nas bases de dados analisadas ....................48

Figura 9 – a) Distribuição das publicações sobre a FSB nos diversos estados brasileiros – classificação

quanto ao local de aplicação da pesquisa. b) Estados nos quais localizavam-se as instituições que

produziram as publicações que continham informações gerais sobre a FSB (coluna N/A). .................49

Figura 10 – Número de estudos relacionados à FSB publicados no período de 2001 a 2018* .............50

Figura 11 – Abordagem dos estudos publicados sobre a FSB no período de 2002 a 2018. ..................51

Figura 12 – Abordagens principais em cada tipo de publicação .........................................................51

Figura 13 – pH nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC e valores de referência ..54

Figura 14 – Temperatura nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC e valores de

referência. .........................................................................................................................................56

Figura 15 – Série de Sólidos nos reatores da FBCC: efluente coletado a 30 e 120 cm de profundidade.

Concentração expressa em mg.L-1 ....................................................................................................58

Figura 16 - Série de Sólidos nos reatores da FBCC. Amostras coletadas a 30cm de profundidade.

Concentração expressa em mg.L-1. ....................................................................................................59

Figura 17 – DBO e DQO nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: valores de referência dispostos

no Gráfico A e dados da FBCC (profundidade = 30 cm) no Gráfico B ...............................................61

Figura 18- NH4+ nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC....................................66

Figura 19 - Concentração de NTK nos reatores da FSB de acordo com a literatura ............................67

Figura 20- Fósforo total nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: valores de referência e dados da

FBCC ...............................................................................................................................................68

Figura 21 – Concentração de E. coli na Fossa Séptica Biodigestora: dados da literatura. ....................71

Figura 22 – Concentração de E. coli na Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC .........................72

Figura 23 – Concentração de Enterococcus spp. na Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC .......74

Figura 24 - Concentração de HAdV na Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC ........................77

Figura 25 – Variação das concentrações de ST, SST e SSV ao longo do ciclo da FSB* .....................81

Figura 26 - Variação das concentrações de DBO, DQO e OD ao longo do ciclo da FSB* ..................82

Figura 27 - Variação das concentrações de E. coli, Enterococcus spp. e HAdV ao longo do ciclo da

FSB* ................................................................................................................................................83

Figura 28- Variação das concentrações de Salmonella, NH +4 e Fósforo Total ao longo do ciclo da

FSB ..................................................................................................................................................84

Figura 29 - Variação das concentrações de pH e temperatura ao longo do ciclo da FSB ....................85

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - pH médio nos reatores da FSB: amostras da FBCC e valores de referência (da literatura) ..54

Tabela 2 - Concentração de DBO e DQO na FSB: valores de referência e FBCC (amostras coletadas

em p= 30 cm). ...................................................................................................................................63

Tabela 3 - Concentração de DBO e DQO na FSB: FBCC ( p=120 cm) ..............................................64

Tabela 4 – Concentração de Nitrogênio na FSB: valores de referência e da FBCC (p=30cm) .............65

Tabela 5 - Concentração de Fósforo na FSB: valores de referência e FBCC (p=30cm) .......................68

Tabela 6 - Concentração de fósforo no lodo da FBCC .......................................................................69

Tabela 7- Concentração de E. coli nos reatores da FSB: dados da FBCC e valores de referência ........72

Tabela 8 – Concentração de Enterococcus spp nos reatores da FBCC (NMP/100ml) .........................74

Tabela 9 – Concentração de Salmonella sp. nos reatores da FBCC (UFC/ml) ....................................76

Tabela 10 – Concentração de HAdV nos reatores da FBCC (UFP/ml) ...............................................76

Tabela 11 – Características do inóculo de esterco bovino inserido na FBCC no referido ciclo ............78

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Diretrizes da USEPA para o uso agrícola de esgotos sanitários ........................................32

Quadro 2- Diretrizes da OMS para o uso agrícola de esgotos sanitários .............................................32

Quadro 3- Dispositivos legais e infra legais que regulamentam o uso agrícola de esgotos sanitários ...33

Quadro 4 - Diretrizes do PROSAB para o uso agrícola de esgotos sanitários .....................................34

Quadro 5 - Abordagem principal da publicação em relação à Fossa Séptica Biodigestora ..................39

Quadro 6 – Publicações consideradas na análise de dados da literatura ..............................................41

Quadro 7 – Período de realização das coletas ....................................................................................44

Quadro 8 – Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos utilizados para avaliar o desempenho da

FBCC ...............................................................................................................................................45

Quadro 9 – Estudos encontrados na revisão de literatura que contém dados sobre a série de sólidos ..57

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFB Água Fecal Bruta

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO Demanda Química de Oxigênio

EcoSan Saneamento Ecológico

ERG Eficiência de Remoção Global

ERI Eficiência de Remoção Interna

FBB Fundação Banco do Brasil

FBCC Fossa Séptica Biodigestora de Cachoeira do Campo

FSB Fossa Séptica Biodigestora

LOG10 Unidades logarítmicas

OMS Organização Mundial da Saúde

RTS Rede de Tecnologias Sociais

SDT Sólidos Dissolvidos Totais

SSF Sólidos em Suspensão Fixos

SST Sólidos em Suspensão Totais

SSV Sólidos em Suspensão Voláteis

ST Sólidos Totais

USEPA United States Environmental Protection Agency

WHO World Health Organization

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................14

2 OBJETIVOS ................................................................................................................................17

2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................................17

2.2 Objetivos Específicos .........................................................................................................17

3 REVISÃO DE LITERATURA ...........................................................................................................18

3.1 Histórico da Fossa Séptica Biodigestora .............................................................................18

3.2 Princípios de Funcionamento da Fossa Séptica Biodigestora ..............................................22

3.3 Saneamento Ecológico: conceitos e diretrizes para o tratamento de esgoto doméstico na

área rural ......................................................................................................................................26

3.4 Uso agrícola de esgoto doméstico no Brasil .......................................................................30

3.5 O reúso de efluentes domésticos no contexto da agricultura familiar brasileira .................35

4 METODOLOGIA .........................................................................................................................38

4.1 Perfil das produções acadêmicas sobre a FSB.....................................................................38

4.2 Levantamento e análise de dados secundários acerca do desempenho da FSB no

tratamento de águas fecais ...........................................................................................................40

4.3 Análise do desempenho de uma Fossa Séptica Biodigestora instalada no distrito de

Cachoeira do Campo, Ouro Preto – MG .........................................................................................43

4.3.1 Procedimentos de coleta............................................................................................45

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................................47

5.1 Análise do perfil das produções acadêmicas sobre a FSB no período de 2001 a 2018 .........47

5.2 Princípios de funcionamento e desempenho da FSB no tratamento de águas fecais para uso

agrícola .........................................................................................................................................53

5.2.1. Características da Fossa Biodigestora de Cachoeira do Campo (FBCC) ........................53

5.2.2. Potencial Hidrogeniônico (pH) ....................................................................................53

5.2.3. Temperatura ..............................................................................................................55

5.2.4. Oxigênio Dissolvido ....................................................................................................56

5.2.5. Série de Sólidos ..........................................................................................................57

5.2.6. DBO E DQO ................................................................................................................61

5.2.7. Nitrogênio..................................................................................................................64

5.2.8. Fósforo Total ..............................................................................................................67

5.2.9. Indicadores Biológicos................................................................................................70

a) Escherichia coli ..................................................................................................................70

b) Enterococcus spp. ..............................................................................................................74

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c) Salmonella sp. ...................................................................................................................75

d) Adenovírus Humanos (HAdV) .............................................................................................76

5.3. Análise do ciclo de funcionamento da FSB .........................................................................78

5.4. Reflexões sobre a Fossa Séptica Biodigestora.....................................................................86

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................92

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................95

APÊNDICE A – METODOLODIA DE ANÁLISE DE ADENOVÍRUS HUMANOS .........................................104

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1 INTRODUÇÃO

Desde outubro de 2010, o acesso à água potável e ao saneamento são reconhecidos pela

Organização das Nações Unidas como um direito humano, essencial para a saúde, bem-estar e

qualidade de vida da população em geral (ONU, 2010). Tal reconhecimento configura um

avanço no caminho de sua universalização, ao mesmo tempo em que os números levantados

por esta organização indicam um grande déficit de acesso a estes serviços, sobretudo entre as

populações vulneráveis ou de baixa renda, como é o caso das periferias e comunidades rurais.

De acordo com o Relatório de Acompanhamento dos Objetivos do Milênio, em 2015

aproximadamente 106 milhões de pessoas na América Latina ainda utilizavam estruturas de

saneamento inadequadas, sendo a maior parte desta população habitante da área rural ou

pertencente a grupos pobres e marginalizados (PNUD, 2015). No Brasil, os dados oficiais

(quase sempre superestimados) apontam que em 2012 aproximadamente 28% das residências

na área rural dispunham de fossas sépticas e apenas 5,2% estavam conectadas a rede coleta de

esgoto. Na área urbana – onde historicamente se concentram os investimentos em saneamento

básico – este índice era de 65,3% (PNAD, 2013; ZANCUL, 2016).

Os números apresentados apontam a magnitude dos desafios relacionados à

universalização do saneamento básico no Brasil, chamando atenção para a notável desigualdade

entre os índices do campo e da cidade e para a necessidade de se pensar em uma abordagem

própria para o saneamento rural, que dê conta das condições de pobreza, isolamento e

precariedade dos serviços públicos encontradas no interior do país.

Impulsionados pelas diretrizes da ONU e pelos recursos do Banco Mundial, temos visto

nos últimos anos um esforço crescente em prol da ampliação dos serviços de saneamento na

América Latina, notadamente em suas áreas rurais (MEJÍA et al., 2016). Neste caminho, além

de novas formas de gestão – a maioria baseada na participação comunitária – tem-se estudado

diversas tecnologias sociais que proporcionem o acesso à água potável e ao tratamento de

esgoto a estas populações, considerando principalmente a adaptação à realidade

socioeconômica, cultural e ambiental do local (FUNASA, 2011).

No que diz respeito ao tratamento de esgoto, um dos pontos-chave do desenvolvimento

destas tecnologias é a possibilidade de inserção dos subprodutos do tratamento no ciclo de

produção agrícola, seja por meio de biofertilizantes ou da produção de energia. Neste sentido,

Miller (2006) afirma que o reúso agrícola de águas residuárias pode trazer benefícios

econômicos, sociais e ambientais para as comunidades em que se insere, sendo uma alternativa

sustentável para o aumento da oferta de água e importante elemento do sistema de tratamento

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e disposição final de esgotos, diminuindo a carga poluente que chega aos corpos hídrico e

reduzindo os custos relacionados ao saneamento.

Dentre os sistemas de tratamento de esgotos que trabalham com o reúso agrícola deste

efluente, encontra-se a Fossa Séptica Biodigestora – FSB, uma tecnologia social desenvolvida

em 2001 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, no município de São Carlos – SP.

De acordo com Faustino (2007), esta tecnologia promove o tratamento anaeróbio de águas

fecais1, utilizando para isso duas câmaras de fermentação de 1000 L e uma caixa coletora de

efluentes, interligadas por sistema de sifão. O processo inclui a adição mensal de um inóculo

de esterco bovino na entrada do sistema e tem como objetivo produzir um efluente final

adequado para reúso agrícola, rico em nutrientes (fósforo e nitrogênio) e seguro em termos de

concentração de patógenos.

Desde seu lançamento, a Fossa Séptica Biodigestora vem ganhando visibilidade em

projetos de extensão rural e começa a ser inserida também em políticas públicas de âmbito

estadual e nacional, a exemplo do Programa Rio Rural e do Programa Nacional de Habitação

Rural (SILVA et al., 2018). Um estudo realizado pela Embrapa (SILVA; MARMO &

LEONEL, 2017), indica que no início de 2018 a Fossa Séptica Biodigestora já estava presente

em mais de 11.500 residências rurais, espalhadas em todas as regiões do Brasil.

Dezessete anos após seu surgimento, a FSB já foi alvo de diversas pesquisas, que

buscaram investigar diferentes aspectos de seu funcionamento, como: a adaptação das

comunidades ao manejo do sistema e aceitação do uso agrícola do efluente; a qualidade de seu

efluente final; as vantagens e limitações do uso deste efluente na fertirrigação; dentre outras.

Apesar da heterogeneidade desta produção, a maior parte dos trabalhos relacionados à

eficiência do tratamento limita-se a discutir se o sistema atingiu ou não os resultados esperados

em termos de qualidade do efluente e/ou de melhoria das condições de vida das comunidades,

deixando uma lacuna de conhecimento em relação aos processos envolvidos no funcionamento

da Fossa Séptica Biodigestora.

Tal situação mostra-se desfavorável, na medida em que a FSB tem sido disseminada no

país sem que haja uma regulamentação acerca do reúso agrícola de águas residuárias nem

modelos de gestão eficientes na área rural, que permitam o controle da qualidade do efluente

oriundo deste sistema. Dessa forma, o entendimento de questões relacionadas ao manejo e

condições de funcionamento da FSB, além de servir à sua otimização, deve contribuir para a

redução dos riscos à saúde pública decorrentes do reúso agrícola de seu efluente.

1 Destaca-se aqui a substituição do termo “águas negras” por “águas fecais”, conforme recomendado pelos

materiais do Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR) (BRONZATTO, 2018).

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Com o objetivo de avançar no entendimento acerca do funcionamento do sistema, o

presente trabalho buscou sistematizar e analisar os principais dados produzidos sobre o

desempenho da FSB no período de 2001 a 2018 e complementá-los com um estudo pioneiro do

ciclo de funcionamento do sistema, que avaliou o comportamento de parâmetros físicos,

químicos e microbiológicos ao longo dos trinta dias que intercalam a adição do inóculo. Dessa

forma, foram levantadas as principais limitações que têm sido encontradas em seu

funcionamento e elencadas possíveis melhorias no manejo do sistema padrão.

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2 OBJETIVOS

Objetivo Geral

Avaliar o desempenho da Fossa Séptica Biodigestora no tratamento de águas fecais e

identificar as limitações e potencialidades de sua aplicação em comunidades rurais do Brasil.

Objetivos Específicos

• Identificar as principais características da produção científica relacionada à Fossa

Séptica Biodigestora entre os anos de 2001 a 2018 e sistematizar os dados disponíveis nestas

pesquisas sobre o desempenho da FSB no tratamento das águas fecais;

• Avaliar a influência do inóculo de esterco bovino na FSB, por meio do monitoramento

do ciclo mensal de funcionamento de um sistema instalado no distrito de Cachoeira do Campo,

Ouro Preto – MG;

• Avançar no entendimento dos processos de conversão da matéria orgânica carbonácea

e dos nutrientes na FSB;

• Obter dados sobre as concentrações de Enterococcus spp., Salmonela sp.; adenovírus

humanos; e Escherichia coli ao longo da FSB e avaliar o potencial de remoção de patógenos

do sistema a partir destes indicadores;

• Apontar as potencialidades e limitações da FSB para o tratamento de águas fecais em

comunidades rurais do Brasil.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

Histórico da Fossa Séptica Biodigestora

A FSB é uma tecnologia desenvolvida pelo médico veterinário Antônio Pereira de

Novaes, pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária (em São Carlos – SP), no ano

de 2001 (FBB, 2010). Apesar dos primeiros materiais sobre a referida fossa terem sido lançados

no início dos anos 2000, a Embrapa já se interessava pelo uso de biodigestores há, pelo menos,

vinte anos. Um documento da década de oitenta registra o início de uma parceria entre a

Embrapa Milho e Sorgo e a Eletrobrás, colocando em funcionamento um biodigestor de modelo

indiano na cidade de Sete Lagoas – MG (FERRAZ & MARRIEL, 1980)

Segundo Ferraz e Marriel (1980), este projeto visava “cooperar para a solução do

problema energético do país” através da produção de biogás e de biofertilizantes, que poderiam

ser utilizados no cultivo de cana-de-açúcar e sorgo sacarino. O biodigestor descrito neste

primeiro estudo utilizava como matéria-prima a biomassa vegetal. Porém, ao longo do tempo a

instituição realizou estudos com dejetos de diversas espécies animais (KUNZ & OLIVEIRA,

2006), até propor um sistema que trabalhasse diretamente com esgoto doméstico.

Um dos primeiros documentos públicos sobre a Fossa Séptica Biodigestora foi um

Comunicado Técnico com o título “Utilização de uma Fossa Séptica Biodigestora para

Melhoria do Saneamento Rural e Desenvolvimento da Agricultura Orgânica”. Segundo ele, a

concepção deste sistema se baseou nas experiências asiáticas, sobretudo da China2, que na

época possuía 4,5 milhões de biodigestores em funcionamento (NOVAES et al., 2002).

2 Segundo Gregory (2010), a construção dos primeiros biodigestores na China remontam ao início do século XX

e constituem iniciativa de algumas companhias privadas que tiveram acesso à tecnologia produzida na Índia. Estes

projetos foram incentivados durante o período do Grande Salto Adiante (1958-1960), quando o ditador Mao Tsé-

Tung declarou que o uso do biogás deveria ser popularizado em todo o país; porém, o suporte técnico fornecido

pelo Estado não foi suficiente para levar à frente o movimento, que acabou sendo assumido apenas pela província

de Sichuan. Nesta província, o goveno aperfeiçoou a tecnologia existente até então e iniciou um programa para

sua disseminação, fornecendo treinamento técnico para os agricultores locais e de outras províncias. Entre 1975 e 1979, o número de digestores em Sichuan cresceu de 400.000 para 5 milhões e, em todo o país, mais de 7 milhões de digestores domésticos foram construídos entre 1973 e 1978, fazendo com que em 1980 o governo

chinês declarasse o biogás como a "principal alternativa" para lidar com a crise de combustíveis nas comunidades

rurais. Em 2009, o número de biodigestores domésticos na China chegava a 30,5 milhões.

Cabe ressaltar que, além das águas fecais – foco do tratamento realizado pela FSB – os biodigestores chineses e

indianos utilizam como substrato efluentes de suinocultura e/ou resíduos sólidos, produzindo uma quantidade

significativamente maior de biogás e de fertilizante. Em condições ideais, um digestor chinês de 10 m³ pode

fornecer gás suficiente para cozinhar e iluminar uma família de até cinco pessoas. Apesar de também contribuir

com o saneamento em áreas rurais, a experiência chinesa com biodigestores foi alavancada sobretudo pela

necessidade de se criar fontes alternativas de energia em áreas rurais e de de garantir a segurança alimentar destas

populações (HENDERSON, 2009).

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O ‘modelo inicial’ da Fossa Séptica Biodigestora era composto por três caixas de

cimento amianto ou de plástico, de mil litros, sendo as duas primeiras para tratamento do

efluente e a última para a coleta do efluente tratado (NOVAES et al., 2002). Mesmo mantendo

até hoje a proporção de três caixas de mil litros para uma residência de até cinco pessoas, ao

longo do tempo a FSB passou por algumas modificações em seu material principal (Figura 1).

Em 2004, uma cartilha lançada pela Embrapa Instrumentação Agropecuária falava da

utilização de caixas de fibrocimento ou plástico com cloração no efluente da 3ª caixa, caso esta

fosse preenchida em menos de vinte dias. Ou seja, caso o tempo necessário para a biodigestão

não tivesse sido cumprido (EMBRAPA, 2004). Esta recomendação, bem como a possibilidade

de inserção de um filtro de areia no final do tratamento não estão presentes nos últimos materiais

publicados pela instituição (OTENIO et al., 2014; SILVA; MARMO & LEONEL, 2017)

Figura 1 – Fossas Sépticas Biodigestoras construídas em diversos materiais: a) amianto; b)polietileno; c)fibra de

vidro; d)manilhas de concreto

a)

Fonte: Embrapa (2004)

b)

Fonte: Silva et al. (2017)

c)

Fonte: Cordoval (2015)

d)

Fonte: FBB (2010)

Apesar do uso do amianto ter sido proibido no Brasil apenas em 2017, as declarações

da OIT e OMS sobre o potencial cancerígeno deste material contribuíram para a diminuição do

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seu uso no país na última década (CASTRO; GIANNASI & NOVELLO, 2003). Além disso,

nos primeiros anos de uso da FSB foi constatado que as caixas de polietileno sofriam

deformação pela pressão do solo, tornando este material pouco adequado para sua confecção.

Portanto, em 2006 a Embrapa lançou uma nova versão da cartilha de 2004, sugerindo,no lugar

de amianto ou plástico, caixas de fibra de vidro ou fibrocimento – materiais que suportam altas

temperaturas, são de baixo custo e que apresentam grande durabilidade (EMBRAPA, 2006).

As modificações sugeridas são reafirmadas quando, em 2010, a Embrapa lança um

manual intitulado “Perguntas e Respostas sobre a Fossa Séptica Biodigestora”, no qual se indica

novamente estes materiais como os mais propícios para a construção do sistema, abrindo

precedente para o uso de alvenaria, desde que estas sejam impermeabilizadas e muito bem

vedadas. Este manual também explicita que não deve ser utilizado o polietileno, devido sua

deformação pela pressão do solo e contato com temperaturas mais elevadas (GALINDO et al.,

2010)

Nesse mesmo ano, a Fundação Banco do Brasil (2010) publicou uma cartilha onde

informa que as caixas devem ter formato arredondado e ser fabricadas em fibra de vidro ou

manilhas de concreto. Com a queda no mercado do fibrocimento, atualmente o principal

material utilizado pela Embrapa para a construção da FSB são as caixas d’água de fibra de

vidro, por serem leves, resistentes e de fácil manejo na instalação (SILVA, MARMO &

LEONEL, 2017).

Além de diversos materiais, foram testadas também variações do inóculo utilizado na

Fossa Biodigestora. Porém, até 2018 o esterco bovino continua sendo considerado o mais eficaz

para este processo de biodigestão. Um dos trabalhos mais detalhados sobre esta questão foi o

de Faustino (2007), que constatou que o uso de esterco ovino em substituição ao esterco de

bovinos, não apresentou a mesma eficiência, tanto do ponto de vista de aspectos físico-

químicos, quanto de desinfecção do efluente.

Outra variação proposta foi a utilização de inóculos comerciais em pó, no caso de fossas

instaladas em comunidades ribeirinhas do Pará, onde é pouco comum a atividade de pecuária

(OLIVEIRA et al., 2018). Até o presente momento não foram encontrados estudos sobre o

funcionamento deste inóculo no referido sistema, nem dados sobre os parâmetros físicos

químicos ou microbiológicos do efluente resultante deste processo

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Com sua potencialidade de aplicação reconhecida nacionalmente, a FSB é atualmente a

Tecnologia Social3 para tratamento local de efluentes domésticos mais popular no país – ainda

que seu percentual de uso seja insignificante se comparado à fossa séptica tradicional e às fossas

secas (SNIS, 2017). De acordo com Silva, Marmo & Leonel (2017), em 2003 esta experiência

ganhou o prêmio da Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social e em 2011 figurou entre

as três melhores tecnologias submetidas ao Prêmio Mercocidades de Ciência e Tecnologia.

Como é próprio das Tecnologias Sociais, ao longo destes 17 anos a Fossa Séptica

Biodigestora passou por algumas adaptações, havendo hoje relatos de sua utilização em todas

as macrorregiões brasileiras. Dentre estas adaptações, provavelmente a mais significativa diz

respeito ao uso da FSB em comunidades ribeirinhas do bioma amazônico, onde o ecossistema

de várzea dificulta consideravelmente a instalação de sistemas deste tipo.

Neste sentido, destaca-se a experiência da Ilha das Cinzas – PA, realizada pela Embrapa

Amapá, em parceria com a Associação de Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas

e a FINEP. Tal projeto deu origem a um manual recentemente publicado pela instituição, no

qual são apresentadas as principais modificações do sistema necessárias para sua adaptação em

área de várzea. Nestas áreas, a FSB fica suspensa sobre a água em um tablado de madeira; as

caixas podem ser de polietileno ou de fibras de vidro; o declive necessário para o escoamento

do efluente é feito pelos tubos de conexão; e o inóculo, na ausência de esterco bovino, pode ser

substituído por um artificial em pó (OLIVEIRA et al., 2018).

Ainda sobre a difusão da FSB no país, um passo importante foi sua recente inserção

como referência de tecnologia de saneamento no Programa Nacional de Habitação Rural,

integrante do Programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal (BRASIL, 2017). De

acordo com Silva, Marmo e Leonel (2017, p.9):

A Fossa Séptica Biodigestora já está presente em mais de 11.500 residências rurais

em todas as regiões do Brasil, beneficiando diretamente um público estimado de mais

de 57 mil pessoas. Entidades como a CATI/SP, Fundação Banco do Brasil e Programa

Rio Rural - EMATER/RJ já instalaram, juntas, mais de 10.000 unidades da Fossa

Séptica Biodigestora. Trata-se, portanto, de uma tecnologia consolidada para o

saneamento básico rural e de impacto significativo na qualidade de vida no campo.

3 No âmbito deste trabalho, utiliza-se como conceito de Tecnologia social aquele definido pela RTS (2012) que

as classifica como “produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a

comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social”. Segundo Costa (2013) é importante

lembrar que o adjetivo “social” não tem a pretensão de afirmar somente a necessidade de tecnologia para os

pobres ou países subdesenvolvidos, mas de fazer uma crítica ao modelo convencional de desenvolvimento

tecnológico e propor uma lógica mais sustentável e solidária de tecnologia para toda as camadas da sociedade.

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Dentre os projetos que têm contribuído para a disseminação da FSB em Minas Gerais,

destaca-se o Programa Olhos D’água, desenvolvido pelo Instituto Terra em parceira com a Vale

e BHP Billinton, por meio da Fundação Renova. O projeto pretende recuperar, em 10 anos,

5.000 nascentes na área atingida pelo rompimento da barragem de Fundão e implantar uma FSB

em cada propriedade rural atendida. O projeto está em andamento desde dezembro de 2016 e

já atendeu mais de 217 produtores rurais ao longo da bacia (CESAN, 2017).

Como é uma tecnologia de domínio público, a Fossa Séptica Biodigestora tem sido

implantada e estudada por diversas instituições brasileiras que também contribuem para

avanços no seu funcionamento. Porém, a elaboração deste histórico foi centrada na atuação da

Embrapa devido ela ser, atualmente, a maior fonte de dados sobre o tema e principal

articuladora da inserção da FSB em políticas públicas.

Princípios de Funcionamento da Fossa Séptica Biodigestora

A Fossa Séptica Biodigestora é um sistema de tratamento secundário de esgoto

domésticos, composto por dois reatores anaeróbios operando em série, ligados a uma caixa

coletora de mesmo volume (FAUSTINO, 2007). A caraterística deste sistema que o difere dos

tanques sépticos e de outros biorreatores anaeróbios é a configuração de sua tubulação, que

retira o efluente da camada mais baixa do reator e o lança na parte superior do próximo. Assim,

busca-se evitar a formação de zonas mortas e aumentar o contato da biomassa com o líquido ao

longo do tratamento4 (Figura 2). Sua configuração é muito próxima à dos reatores anaeróbios

compartimentados, compostos geralmente por três câmaras anaeróbias que recebem o efluente

em sua porção inferior (BORDA, 2017)

De acordo com Chernicharo (1997), uma das principais vantagens dos processos

anaeróbios é o fato de que a maior parte do material orgânico é convertida em biogás (70 a

90%) e somente 5 a 15% da matéria orgânica é convertida em biomassa bacteriana. Dessa

forma, o tratamento gera um gás com alta aplicabilidade na geração de energia ao mesmo tempo

em que produz menos resíduos do que os tratamentos aeróbios. Contudo, Silva, Marmo e

Leonel (2017) afirmam que, devido a FSB ser um sistema de baixa carga orgânica, o

aproveitamento do seu metano para geração de energia não é viável, já que o volume gerado

4 Segundo Von Sperling (2005) a base de todo o processo biológico é o contato efetivo entre os organismos e o

material orgânico contido nos esgotos, de tal forma que este possa ser utilizado como alimento para os

microrganismos.

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não compensa os investimentos em acessórios para captação, condução, armazenamento e

utilização deste gás.

Figura 2- Esquema de funcionamento da FSB. Fonte: Galindo et al.(2010)

Não sendo aproveitado economicamente, o gás produzido é liberado dos reatores por

meio de um tubo de PVC de 25mm, com um encaixe contendo cinco pequenos furos. Portanto,

ao contrário dos biodigestores utilizados nas comunidades rurais da China e Índia, a FSB tem

como principal objetivo, não a produção de energia, mas a decomposição da matéria orgânica

e a adequação do efluente para o reúso agrícola, mantendo altos níveis de nutrientes.

Assim como o metano, a quantidade de matéria orgânica transformada em biomassa

(lodo) na FSB também é muito baixa, fazendo com que grande parte da literatura existente

sobre este sistema sequer mencione a formação de lodo em seu interior (COSTA &

GUILHOTO, 2014). Além disso, diversos materiais produzidos pela Embrapa afirmam que não

é necessário realizar a limpeza periódica da caixa, na medida em que não há acúmulo de

resíduos sólidos (GALINDO et al, 2010).

Na verdade, a questão do crescimento da biomassa na FSB é um ponto ainda sem

consenso na literatura atual. Enquanto alguns autores enfatizam que não há acúmulo de

biomassa no sistema e que o inóculo deve ser inserido uma vez por mês – o que indica que o

seu tempo de retenção celular depende do tempo de detenção hidráulica e que, portanto, a

biomassa seria descartada junto com o efluente – (FBB, 2010; LEONEL; MARTELLI &

SILVA, 2013) outros evidenciam a formação de lodo nas caixas do sistema e, inclusive,

analisam sua composição (FAUSTINO, 2007; PEREIRA, MIREIA APARECIDA BEZERRA

et al., 2018). Neste contexto, há que se considerar que nenhuma pesquisa utilizou uma

metodologia que coletasse o efluente em diferentes profundidades do reservatório, o que dá

margens para o questionamento sobre a existência ou não desta zona de acúmulo e sobre suas

possíveis características.

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No último manual publicado pela Embrapa, Silva, Marmo e Leonel (2017) afirmam que

“não é necessário que seja efetuada limpeza das caixas, pois o projeto do biodigestor permite

que o efluente concentrado na parte inferior seja transportado para a próxima caixa à medida

que entra mais água no sistema”.

A configuração com dois reatores de 1m³ e vazão de 100L/dia possibilita um TDH

médio de 25 dias, que aumenta caso o número de pessoas na residência seja menor. Em casos

que a fossa necessite atender uma vazão maior do que 100L/dia, recomenda-se a instalação de

novos “modulos de fermentação” (caixas), de forma a manter este TDH e garantir a eficácia do

tratamento (SILVA, MARMO & LEONEL, 2017). Como forma de aumentar a eficiência deste

processo, utiliza-se como catalizador o esterco de ruminantes (sobretudo de bovinos), que deve

ser injetado na entrada do sistema (por meio da válvula de retenção) com uma frequência de 5L

por mês5.

Chernicharo (1997) afirma que os microrganismos envolvidos na digestão anaeróbia são

muito especializados e que cada grupo atua em reações específicas dentro da degradação do

substrato. Considerando que o ideal para estes processos é a utilização de um inóculo oriundo

de um sistema similar ao que se pretende inocular (AMARAL et al., 2008), o esterco de

ruminantes se apresenta como uma boa alternativa para a FSB, devido à presença de

microrganismos essenciais à degradação anaeróbia, além de protozoários, fungos anaeróbios e

micro-organismos metanogênicos do domínio Archaea em abundância (LIN, RASKIN E

STAHL, 1997). Sobre a preferência por esterco bovino, sabe-se que, além da presença de micro-

organismos anaeróbios, estes apresentam alto teor nutritivo; são ricos em macro e

micronutrientes, material lignocelulósicos, carboidratos simples e proteínas. (BARROS et al.,

2009).

De acordo com Campos (1999), os fatores que mais influenciam a operação dos

biodigestores anaeróbios são a temperatura, o pH, a presença de nutrientes e a ausência de

materiais tóxicos no afluente. Considerando que a presença de nutrientes não é um problema

no caso dos efluentes domésticos e que normalmente águas fecais não apresentam materiais

tóxicos, os principais fatores limitantes para o bom funcionamento deste sistema é a temperatura

interna do reator e seu pH.

Chernicharo (1997) afirma que, como os microrganismos não possuem meios de

controlar sua temperatura interna, a temperatura do interior da célula é determinada pela

temperatura externa, sendo este um dos fatores mais importantes na seleção das espécies.

5 A Embrapa recomenda a adição de uma mistura de 10L de esterco fresco + 10L de água no primeiro mês de

funcionamento do sistema e, depois disso, 5L de esterco + 5L de água a cada 30 dias (GALINDO et al., 2010)

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Segundo o autor, apesar da formação microbiana do metano ocorrer em uma faixa bastante

ampla de temperatura (0º a 97ºC), dois níveis ótimos de temperatura têm sido associados a

digestão anaeróbia: um na faixa mesófila (30 a 35ºC) e outro na faixa termófila (50 a 55ºC).

Porém, apesar destas temperaturas serem desejáveis, o mais importante é que esta se mantenha

estável, para não causar desequilíbrio na fauna microbiana.

Galindo et al. (2010) avalia que a temperatura de funcionamento da FSB depende do

local onde está instalada e da estação do ano, variando geralmente de 20 e 30ºC – o que significa

que o sistema não costuma funcionar em nenhuma das faixas ótimas da digestão anaeróbia.

Como forma de garantir esta temperatura e o isolamento térmico do sistema, recomenda-se a

instalação destas fossas em um ambiente subterrâneo, a vedação do sistema e a pintura das

tampas com tinta asfáltica, facilitando a absorção da radiação do sol.

Para Soares et al. (2016a) os baixos coeficientes de variação das temperaturas máxima

e mínima dos efluentes brutos contidos na FSB’s indicam que esta tecnologia propicia certa

estabilidade ao processo de decomposição anaeróbia da matéria orgânica, ainda que as

temperaturas obtidas no interior do sistema não sejam as mais adequadas para tal

(CHERNICHARO, 1997).

Segundo a Embrapa, uma das maiores vantagens da Fossa Séptica Biodigestora é sua

alta eficiência de remoção de patógenos, possibilitando maior segurança no reúso agrícola do

efluente (NOVAES et al., 2002; GALINDO et al., 2010; SILVA, MARMO & LEONEL.,

2017). Por outro lado, Chernicharo (1997) e Campos (1999) afirmam que uma das principais

desvantagens dos sistemas anaeróbios é justamente a remoção insatisfatória de patógenos e

nutrientes, tornando necessária a adição de um tratamento terciário que corrija esta falha.

Assim, são necessárias investigações mais aprofundadas para entender o desempenho da FSB

na remoção de microrganismos patogênicos, bem como os fatores que possibilitam tal remoção.

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Saneamento Ecológico: conceitos e diretrizes para o tratamento de esgoto

doméstico na área rural

De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP

(2011), um dos grandes desafios do saneamento brasileiro é desenvolver um “modelo

sustentável” para levar água de qualidade adequada ao consumo humano e tratamento de esgoto

às comunidades rurais. Para isso, é necessário utilizar estratégias construídas a partir das

especificidades ambientais e humanas do meio rural, compreendendo que o êxito de projetos

de saneamento nestas regiões depende diretamente da proximidade que eles têm com os valores

e concepções dos atores envolvidos (KAMINSKY & JAVERNICK-WILL, 2013).

Isto posto, desde o início do século, diversas organizações e institutos de pesquisa têm

se voltado ao estudo do saneamento em áreas rurais, sugerindo modelos tecnológicos e de

gestão que possibilitem um maior acesso desta população aos serviços de saneamento. Visando

contribuir para as discussões relacionadas à aplicabilidade da Fossa Séptica Biodigestora, este

item visa apresentar o conceito e as diretrizes do saneamento ecológico (EcoSan), bem como

suas implicações no desenvolvimento de tecnologias para tratamento de esgoto em áreas rurais.

Segundo Bregnhoj (2015), o Saneamento Ecológico baseia-se na visão de que os

recursos presentes nos dejetos humanos podem ser melhor aproveitados caso estejam inseridos

em um sistema de gestão de águas residuárias sustentável, que seja, sobretudo, adaptado às

necessidades da comunidade local.

No caso do tratamento de esgoto, existem atualmente duas abordagens básicas: sistemas

centralizados e descentralizados. Sistemas centralizados são aqueles nos quais, por intermédio

de uma extensa rede de coleta, as águas residuárias são encaminhadas para estações de

tratamento de efluentes com grande capacidade, a fim de permitir ganhos de escala, à medida

que se agregam mais usuários a rede. Por outro lado, sistemas de tratamento de esgoto

descentralizados ou locais (“on-site sanitation”6) costumam atender uma ou poucas famílias e

exigem a participação das comunidades usuárias, que assumem a responsabilidade pela

instalação ou operação dos sistemas de tratamento (ORTUSTE, 2012; SANTOS et al., 2014).

Apesar do paradigma técnico do saneamento básico ser tradicionalmente voltado para

sistemas centralizados, estes são considerados pouco indicados para o meio rural, devido sua

6 “On-site sanitation”: sistemas de saneamento onde os meios de armazenamento estão contidos dentro da parcela

ocupada pela habitação ou em seus arredores imediatos. Em alguns destes sistemas (por exemplo, latrinas de poço

duplo ou de abóbada), todo o tratamento da matéria fecal acontece também no local. Em outros sistemas (por

exemplo, fossas sépticas, instalações de poço único ou abóbada), o lodo deve ser coletado e tratado fora do local

(WHO, 2006).

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complexidade em termos de construção, operação e manutenção (RODRÍGUEZ, 2009). Dentre

os principais fatores que corroboram com esta inadequação estão: a distância entre as

residências; os custos relativos à energia elétrica; e as dificuldades de construção de uma rede

de coleta e tratamento robusta que se adéque à densidade demográfica atual e futura de

determinada região (KAMINSKY & JAVERNICK-WILL, 2013).

Massoud, Tarhini e Nasr (2009) afirmam que a aplicação de sistemas de tratamento de

esgoto tradicionais em comunidades rurais não é apenas cara, mas muito difícil de ser

implementada na ausência de assistência técnica e financiamento necessário. Desse modo, a

gestão descentralizada do esgoto é a alternativa mais considerada no meio rural, principalmente

devido sua menor demanda por recursos e maior sustentabilidade.

Como vantagens destes sistemas destacam-se: sua simplicidade, a proximidade com o

ponto de geração do efluente, menor impacto ambiental, maior possibilidade de reúso dos

subprodutos do tratamento e seu baixo custo de implantação e manutenção (LENS et al., 2001;

MOUSSAVI; KAZEMBEIGI & FARZADKIA, 2010; USEPA, 1980). Ainda neste sentido,

Maurer (2009) sugere que o tratamento descentralizado tem um bom potencial de aplicação em

áreas com incerteza de previsão, já que eles respondem às mudanças da demanda flexivelmente

e diminuem os custos relativos à capacidade ociosa do sistema.

Ao lado da utilização de sistemas descentralizados, a separação dos efluentes em sua

fonte de produção (entre águas cinzas e águas fecais7) é um dos pilares do Saneamento

Ecológico para o manejo de esgotos no meio rural. Neste sentido, Fagundes e Scherer (2009)

afirmam que a separação de efluentes permite empregar processos mais específicos,

econômicos e adequados ao nível de contaminação de cada tipo de água residuária. Esta

separação, além de diminuir a quantidade de águas fecais (potencialmente mais poluentes),

permite o reúso de água cinza como uma alternativa para suprir as demandas não potáveis e a

aplicação de tratamentos mais simples para este tipo de efluente (PETERS, 2006).

7 De acordo com o “Guia da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o uso seguro de águas residuárias, excretas

e águas cinzas” (WHO, 2006), a água fecal (blackwater) é definida como uma água residuária separada na fonte, proveniente dos banheiros, contendo fezes, urina e água de descarga; enquanto que a água cinza (greywater) é

aquela proveniente da cozinha, banheiro (chuveiro e pia) e lavanderia, que geralmente não contém concentrações

significativas de excretas.

Friedler et al (2013) afirma que as águas residuárias domésticas são compostas por três principais resíduos: i)

urina, que contém aproximadamente 80% do nitrogênio, 45% do fósforo e 70% das cargas de potássio; (ii) fezes,

que contém a maioria dos metais pesados, quantidades menores nitrogênio, fósforo e potássio, e a maior parte da

carga microbiológica; e (iii) águas cinzas, que apesar de serem altamente diluídas, concentram a maior parte da

carga de DBO, DQO, COT, e enxofre, e são relativamente pobres em macronutrientes como nitrogênio, fósforo e

potássio.

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Ridderstolpe (2004) afirma que o reúso da água cinza é relativamente fácil e pode ser

feito com aplicação direta no solo ou para irrigação de árvores, desde que sejam seguidos alguns

critérios de ordem sanitária. Além disso, este efluente pode ser utilizado para irrigação de

jardins residenciais, lavagem de veículos e de áreas impermeáveis e descarga de vasos sanitários

(ERIKSSON et al., 2002).

Conforme dito anteriormente, a implantação e gestão de sistemas de tratamento de

esgoto costuma ser cara e inacessível à grande parte dos núcleos populacionais. Portanto, faz-

se necessário o desenvolvimento de soluções simplificadas, com baixo custo de implantação,

manutenção e que possibilitem o aproveitamento econômico de seus subprodutos (UNESCO,

2015). Tal reaproveitamento constitui o terceiro pilar do EcoSan e se apresenta atualmente

como uma das principais tendências no tratamento de esgotos, notadamente em áreas rurais

(Figura 3).

Figura 3 – Diretrizes do Saneamento Ecológico para a elaboração de tecnologias para tratamento de esgoto em

áreas rurais.

Dentre os subprodutos do tratamento de esgoto que podem ser aproveitados

economicamente destacam-se: o biogás, água para reúso e os nutrientes contidos nos efluentes

e no lodo de esgotos. Além dos ganhos econômicos, o aproveitamento destes recursos pode

promover a educação ambiental, a mobilização social e a informação para a gestão integrada

dos recursos hídricos, de forma a minimizar os custos de tratamento e evitar a contaminação

ambiental (FLORENCIO; BASTOS; AISSE, 2006).

De acordo com o Clean Air Institute (2015), existe uma clara necessidade de reúso da

água e de integração dos sistemas de tratamento de esgoto com os demais desafios que

permeiam a questão ambiental. Considerando esta necessidade, destaca-se o uso do lodo

Diretrizes do Saneamento

Ecológico

Descentralização("on-site sanitation")

ReúsoSeparação na fonte

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produzido como biofertilizante em culturas agrícolas, diminuindo o consumo de fertilizantes

químicos e os impactos ambientais decorrentes destes produtos (ANDREOLI, 2009). A água

efluente dos sistemas de tratamento também pode ser reutilizada de diversas formas,

dependendo do seu nível de contaminação. Dentre as alternativas para reúso direto destacam-

se a fertirrigação, o uso em descarga de sanitários e lavagem de pátios (FLORENCIO; BASTOS

E AISSE, 2006). Por fim, o biogás produzido nos tratamentos anaeróbios pode ser utilizado

para a geração de energia elétrica, aquecimento de água, ou como combustível, dependendo do

pós-tratamento empregado.

O aproveitamento dos subprodutos do tratamento de esgoto está diretamente

relacionado com a separação do efluente na fonte, possibilitando a inserção de cada tipo de água

em seu ciclo correto de reaproveitamento. Sobre este assunto, Pires (2012, p.8) afirma que:

[...] os sistemas de saneamento sustentáveis, no que diz respeito à dimensão ecológica,

abordam a segregação das correntes de efluentes domésticos em um ciclo das águas e

outro de nutrientes/energia, conforme suas características em termos de volume, teor

de nutrientes e contaminação biológica. Assim, urina e fezes se relacionam

predominantemente com o ciclo dos nutrientes, enquanto as águas cinzas integram-se ao ciclo das águas.

Segundo Roefs et al. (2016), a segregação na fonte possibilita também uma melhoria

da recuperação de energia, nitrogênio e fósforo, uma vez que as águas estão mais concentradas

e seus fluxos são mais homogêneos. Destaca-se que a água fecal contém cerca de 90% do

nitrogênio, 77% do fósforo e 55% da matéria orgânica, enquanto representa apenas cerca de um

terço do volume de águas residuais municipais (KUJAWA-ROELEVELD & ZEEMAN, 2006).

No aspecto tecnológico, constata-se que não existe um conjunto específico de

tecnologias que se encaixe dentro do paradigma do saneamento ecológico; já que as próprias

tecnologias de saneamento não são sustentáveis por si, mas apenas em relação a como elas são

utilizadas em seu ambiente imediato (LANGERGRABER & MUELLEGGER, 2005). Mesmo

não podendo ser utilizadas como um padrão, existem hoje na América Latina alguns sistemas

de tratamento de águas fecais que vêm obtendo resultados positivos em projetos deste tipo,

como os tanques de evapotranspiração (TEvap’s), reatores anaerobios compartimentados

(RAC’s), biodigestores com filtro anaerobio interno e a própria Fossa Séptica Biodigestora.

As diretrizes apresentadas neste item têm sido bastante discutidas, porém ainda pouco

aplicadas no contexto nacional, devido a um conjunto de entraves técnicos e políticos que

permeiam o tema. Dentre estes entraves é importante citar a insuficiência de estudos científicos

acerca de tecnologias alternativas para tratamento de esgoto na área rural e a carência de

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legislações que estabeleçam padrões de qualidade para o reúso dos subprodutos do esgoto em

nosso país.

Uso agrícola de esgoto doméstico no Brasil

De acordo com CALVERT et al.(2004), apesar de ser visto com certo receio por boa

parte da população ocidental, o uso agrícola dos subprodutos do tratamento de esgoto não é

necessariamente uma novidade. O autor afirma que sistemas de saneamento ecológicos têm

sido utilizados há centenas de anos por diversos povos e continuam sendo amplamente

difundidos em algumas partes do leste e sudeste asiático. No ocidente, a cultura de uso destes

subprodutos foi teoricamente esquecida com o advento do sistema de descargas, mas sempre

configurou uma prática inconsciente na maior parte dos países em desenvolvimento, através do

que se chama de “reúso indireto não planejado” da água8 (NATIONAL ACADEMY OF

SCIENCE, 1998).

Esta situação tem sido revertida durante as três últimas décadas, a partir de diversos

fatores de ordem econômica e sociocultural que têm impulsionado o reúso indireto planejado

das águas residuárias domésticas, sobretudo em atividades agrícolas. Segundo Hespanhol

(2006), os principais fatores que têm contribuído para este aumento são:

a) a dificuldade crescente de identificar fontes alternativas de águas para irrigação;

b) o custo elevado de fertilizantes;

c) a segurança de que os riscos de saúde pública e impactos sobre o solo são mínimos, se

as precauções adequadas são efetivamente tomadas;

d) os custos elevados dos sistemas de tratamento necessários para descarga de efluentes

em corpos hídricos receptores;

e) a aceitação sociocultural da prática do reúso agrícola e reconhecimento, pelos órgãos

gestores de recursos hídricos, do valor intrínseco da prática.

Em 2006, a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2006) declarou que mais de 10% da

população mundial consumia alimentos produzidos por irrigação com águas residuárias, sendo

8 a. Reúso indireto não planejado: ocorre quando a água utilizada em alguma atividade humana é descarregada no

meio ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada

(ex: lançamento de esgoto em corpos hídricos que serão utilizados como mananciais de abastecimento de água á

jusante)

b. Reúso indireto planejado: ocorre quando os efluentes, depois de tratados, são descarregados de forma planejada

nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira controlada, no

atendimento de algum uso benéfico. (LAVRADOR-FILHO, 1987).

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esta porcentagem ainda maior em países de clima árido e semiárido. A organização destacou

que, em situações de estresse hídrico, as águas residuárias são consideradas recursos valorosos

e que o uso de fertilizantes para a produção agrícola é ainda mais importante. Dessa forma, as

águas fecais e cinzas podem ajudar a atender a demanda de água na agricultura, ao mesmo

tempo em que permitem a preservação de recursos hídricos de alta qualidade para

abastecimento de água potável.

Além de reduzir os impactos ambientais causados pelo lançamento do esgoto no

ambiente, o uso agrícola das águas fecais e cinzas significa a existência de fontes de água

disponíveis durante todo o ano para a irrigação e possibilita o aumento da produção agrícola

sem que haja mais gastos com fertilizantes (WHO, 2006). A substituição dos fertilizantes

químicos pelo efluente tratado pode significar, assim, redução nos custos da produção e um

ganho em termos de saúde pública, na medida em que atenua os impactos ambientais e as

doenças decorrentes do uso indiscriminado destes produtos (FLORENCIO; BASTOS; AISSE,

2006)

Para Bastos et al. (2008), ao mesmo tempo em que não restam dúvidas sobre a

possibilidade de riscos à saúde ligados a práticas de reúso, ainda há muito o que se discutir

sobre a definição de um padrão de qualidade dos efluentes que garanta segurança sanitária deste

reúso. Neste sentido, o autor afirma que

[...] embora esta seja uma prática bastante antiga, apenas recentemente foram se

consolidando as bases técnicas e científicas para o ‘reúso controlado’, entendido como

seguro do ponto de vista sanitário, sustentável do ponto de vista ambiental e viável do

ponto de vista de financeiro. (Bastos et al., 2008, pg.1)

Nas últimas décadas muitos países definiram seus padrões de qualidade para reúso, com

diferentes graus de exigência. Em países desenvolvidos, as diretrizes de reúso costumam ser

bastante rígidas, baseadas em um baixo risco e utilização de tecnologias de alto custo. Por outro

lado, países em desenvolvimento costumam elaborar suas legislações com base nas diretrizes

da OMS, enfatizando a restrição de cultivos ao invés do estabelecimento de padrões explícitos

de qualidade microbiológica (BAZZARELLA, 2005). Os Quadro 1 e Quadro 2 apresentam os

dois principais padrões utilizados como base para regulamentação do reúso agrícola de

efluentes domésticos no mundo: o da U.S. Environmental Protect Agency (USEPA, 2012) –

mais restritivo – e o da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2006).

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Quadro 1 – Diretrizes da USEPA para o uso agrícola de esgotos sanitários

Tipo de irrigação e cultura Processo de tratamento Qualidade do efluente

Culturas alimentícias não processadas

comercialmente

Irrigação superficial ou por aspersão de

qualquer cultura, incluindo culturas a serem

consumidas cruas.

Secundário + filtração +

desinfecção

pH 6 a 9

DBO ≤ 10 mg/L

Turbidez ≤ 2 UNT (1)

CRT ≥1 mg/L

CTer: ND (3)

Organismos patogênicos: ND

Culturas alimentícias processadas

comercialmente

Irrigação superficial de pomares e vinhedos

Silvicultura e irrigação de áreas com acesso

restrito ao público.

Secundário + desinfecção

pH 6 a 9

DBO ≤ 30 mg/L

SST ≤ 30 mg/L

CRT ≥ 1 mg/L

CTer ≤ 200 por 100ml (4)

Culturas não alimentícias

Pastagens para rebanhos de leite(5),

forrageiras, cereais, fibras e grãos.

Secundário + desinfecção (2)

pH 6 a 9

DBO ≤ 30 mg/L

SST ≤ 30 mg/L

CRT ≥ 1 mg/L

CTer ≤ 200 por 100 ml (4)

(1) Turbidez pré-desinfecção, média diária; nenhuma amostra > 5 uT (ou 5 mgL SST L-1). (2) CRT: cloro residual total após tempo de contato mínimo de trinta minutos; residuais ou tempos de contato mais elevados podem ser necessários para a garantia de inativação de vírus e parasitas. (3) CTer: coliformes termotolerantes; ND: não detectável; média móvel de sete dias; nenhuma amostra > 14 CTer por 100 mL. (4) Média móvel de sete dias; nenhuma amostra > 800 CTer por 100 mL; lagoas de estabilização podem alcançar o critério de qualidade sem a necessidade de des- infecção. (5) O consumo das culturas irrigadas não deve ser permitido antes de 15 apos a irrigação; desinfecção mais rigorosa (≤ 14 CTer por 100 mL) se o período de 15 dias não for observado.

Fonte: Bastos et al. (2008) adaptado de USEPA (2004)

Quadro 2- Diretrizes da OMS para o uso agrícola de esgotos sanitários

Categoria

irrigação Opção (1)

Tratamento de esgotos

e remoção de patógenos

(Log10) (2)

Qualidade do efluente

E. coli/ 100 ml (3) Ovos de

helmintos/ L

Irrestrita

A 4 ≤ 10³

≤ 1 (4) (5)

B 3 ≤ 104

C 2 ≤ 105

D 4 ≤ 10³

E 6 ou 7 ≤10¹ ou 100

Restrita

F 4 104

G 3 105

H <1 106

(1) Combinação de medidas de proteção à saúde. (A): cultivo de raízes e tubérculos; (B): cultivo de folhosas; (C): irrigação localizada de plantas que se desenvolvem distantes do nível do solo; (D): irrigação localizada de plantas que se desenvolvem rentes ao nível do solo; (E): qualidade de efluentes alcançável com o emprego de técnicas de tratamento tais como tratamento secundário + coagulação +filtração + desinfecção; qualidade dos efluentes avaliada ainda com o emprego de indicadores complementares (por exemplo, turbidez , SST, cloro residual ; (F): agricultura de baixo nível tecnológico e mão de obra intensiva; G: agricultura de alto nível tecnológico e altamente mecanizada; (H): técnicas de tratamento com reduzida capacidade de remoção de patógenos (por exemplo, tanques sépticos ou reatores UASB) associada ao emprego de técnicas de irrigação com elevado potencial de minimização da exposição (irrigação subsuperficial). (2) Remoção de vírus que

associada a outras medidas de proteção à saúde corresponderia à uma carga de doenças virais tolerável ≤ 10-6 DALY pppa e riscos menores de infecções bacterianas e por protozoários. (3) Qualidade do efluente (média geométrica durante o período

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de irrigação) correspondente à remoção de patógenos indicada em (2). (4) No caso de exposição de crianças (15 anos)

recomenda-se um padrão e, ou, medidas complementares mais exigentes: ≤ 0,1 ovo por L, utilização de equipamentos de proteção individual, tratamento quimioterápico. No caso da garantia da remoção adicional de 1 Log10 na higiene dos alimentos pode-se admitir ≤ 10 ovos por L. (5) Média aritmética em pelo menos 90 % do tempo, durante o período de irrigação. A remoção requeria de ovos de helmintos (Log10) depende a concentração presente no esgoto bruto. Com o emprego de lagoas de estabilização, o tempo de detenção hidráulica pode ser utilizado como indicador de remoção de helmintos. No caso da utilização de técnicas de tratamento mais complexas (opção E), o emprego de outros indicadores (por exemplo, turbidez ≤ 2 uT ) pode dispensar a verificação do padrão ovos helmintos. No caso de irrigação localizada, em que não haja contato da água com as plantas e na ausência de riscos para os agricultores (por exemplo, opção H) o padrão ovos

de helmintos poderia ser dispensável.

Fonte: Bastos et al. (2008) adaptado de WHO (2006).

Embora não exista no Brasil nenhuma legislação defina os padrões para reúso agrícola

de esgoto doméstico (Quadro 3), esta prática atende perfeitamente aos objetivos da Política

Nacional de Recurso Hídricos e é incentivada pelas resoluções nº 54 e nº 121 do Conselho

Nacional de Recursos Hídrico, que estabelecem modalidades, diretrizes e critérios gerais para

a prática de reúso direto não potável de água (CNRH, 2005; CNRH, 2010). Sobre isso, Bastos

et al. (2008, p.2) afirma que

[...] não somente no Brasil, mas em muitos países, a legislação sobre o reúso é inexistente, muito branda ou muito restritiva, faltando estudos que evidenciem quais

as taxas seguras de aplicação para cada cultura e quais os reais danos cada

contaminante podem ocasionar ao sistema solo-água-planta.

Quadro 3- Dispositivos legais e infra legais que regulamentam o uso agrícola de esgotos sanitários

Tipo de dispositivo Nome Relação com o reúso agrícola de esgoto

Dispositivos legais

Lei n° 9.433/97 –

Política Nacional de

Recursos Hídricos

Oferece fundamentação legal para a racionalização do uso da

água, além de requisitos jurídicos para o reúso como alternativa

para a preservação ambiental (ALMEIDA, 2011).

Lei no 6.938/ 81 –

Política Nacional de

Meio Ambiente

Ressalta a busca de formas de racionalização do uso da água,

portanto, é considerada precedente para a definição de uma

legislação que trate do reúso – incluindo o agrícola – de forma

mais específica.

Dispositivos infra-

legais

Resolução nº 54/

2005, do Conselho

Nacional de

Recursos Hídricos

Estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a

prática de reúso direto não potável de água

Resolução nº 121/

2010, do Conselho

Nacional de

Recursos Hídricos

Estabelece diretrizes e critérios para a prática de reúso direto

não potável de água na modalidade agrícola e florestal, definida

na Resolução CNRH no 54, de 28 de novembro de 2005.

Resolução nº

357/2005, do

Conselho Nacional

de Meio Ambiente

Insere entre os usos previstos nas classes de enquadramento a

irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, culturas arbóreas,

cerealíferas e forrageiras; estabelecendo, portanto, algum

critério de qualidade da água indicada para este uso.

Deliberação

Normativa nº

164/2011, do

Conselho Estadual

estabelece normas complementares para usinas de açúcar e

destilarias de álcool, referentes ao armazenamento e aplicação

de vinhaça e águas residuárias no solo agrícola

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de Política

Ambiental –

COPAM (MG)

NBR 13.969/ 97

Trata sobre providências e cuidados necessário com o esgoto

de origem doméstica, citando que este esgoto pode ser

reutilizado para fins em que não seja exigido o uso de água

potável, desde que este seja sanitariamente seguro (ex:

lavagem de pisos e veículos, descarga de vasos sanitários e

irrigação de jardins)

Deliberação

Normativa Conjunta

COPAM/CERH - MG nº 01

Dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes

ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece

as condições e padrões de lançamento de efluentes para o Estado de Minas Gerais.

Fonte: (ANA, 2015)

Visando subsidiar a regulamentação do reúso da água no Brasil, Florencio, Bastos e

Aisse (2006) sugerem alguns critérios de qualidade para a utilização de esgotos sanitários na

esfera agrícola, que atualmente configuram uma das principais referências para se discutir a

adequação – ou não – de determinado efluente para esta finalidade (Quadro 4).

Tais critérios foram elaborados a partir dos estudos realizados no âmbito do PROSAB

(Programa de Pesquisa em Saneamento Básico) e – assim como aqueles da OMS – restringem-

se a avaliar parâmetros microbiológicos, numa perspectiva de proteção à saúde. Dessa forma,

as concentrações efluentes dos parâmetros físicos e químicos devem ser uma consequência das

técnicas de tratamento compatíveis com a qualidade microbiológica estipulada.

Quadro 4 - Diretrizes do PROSAB para o uso agrícola de esgotos sanitários

Categoria CTer/ 100ml (4) Ovos de

helmintos/L (5) Observações

Irrigação irrestrita (2) ≤ 10³ ≤1

≤ 104 CTer/100ml no caso de irrigação por

gotejamento de culturas que se desenvolvem distantes do nível do solo ou

técnicas hidropônicas em que o contato

com a parte comestível da planta seja

minimizado.

Irrigação restrita (3) 104 ≤ 1

≤ 105 CTer/100ml no caso da existência de

barreiras adicionais de proteção ao

trabalhador (6)

É facultado o uso de efluentes (primários e

secundários) de técnicas de tratamento

com reduzida capacidade de remoção de

patógenos, desde que associado à irrigação subsuperficial (7)

(1) O padrão de qualidade de efluentes expresso apenas em termos de coliformes termotolerantes e ovos de helmintos aplicam-se ao emprego de sistemas de tratamento por lagoas e por disposição no solo. Admite-se que nesses sistemas a remoção de (oo)cistos de protozoários é indicada pela remoção de ovos de helmintos. No caso de filtração terciária a turbidez

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deve ser utilizada como parâmetro indicador da remoção de protozoários. Para a irrigação irrestrita recomenda-se um padrão

de turbidez ≤ 5 uT. Além disso, em sistemas que incluam a desinfecção deve-se recorrer aos parâmetros de controle da desinfecção (residual desinfetante e tempo de contato) necessários ao alcance do padrão estipulado para coliformes termotolerantes e para a remoção efetiva de vírus. (2) Irrigação superficial ou por aspersão de qualquer cultura, ou cultivo hidropônico, inclusive culturas alimentícias consumidas cruas. (3) Irrigação superficial ou por aspersão ou cultivo hidropônico de qualquer cultura não ingerida crua, inclui culturas alimentícias e não alimentícias, forrageiras, pastagens e árvores. (4) Coliformes termotolerantes: média geométrica durante o período de irrigação, alternativa e preferencialmente pode-se determinar E.coli. (5) Nematóides intestinais humanos: média aritmética durante o período de irrigação (6) Barreiras adicionais de proteção encontradas em agricultura de elevado nível tecnológico, incluindo o emprego de irrigação localizada

e equipamentos de proteção individual. Exclui-se desta nota a irrigação de pastagens e forrageiras destinadas à alimentação animal. (7) Neste caso não se aplicam os limites estipulados de coliformes e ovos de helmintos, sendo a qualidade do efluente uma consequência das técnicas de tratamento empregadas

Fonte: Bastos et al., (2008)

O reúso de efluentes domésticos no contexto da agricultura familiar brasileira

Tendo em conta que a Fossa Séptica Biodigestora é uma tecnologia voltada notadamente

para o tratamento de esgoto em residências rurais (NOVAES, 2002); mais do que entender os

riscos e potencialidades gerais do uso agrícola do esgoto doméstico, faz-se necessário deslindar

esta prática à luz da realidade da agricultura familiar no Brasil e do modelo de tratamento

descentralizado. Assim, visando subsidiar uma discussão mais aprofundada neste aspecto, o

presente item sintetiza as informações sobre o reúso de águas residuárias que dialogam com a

cultura e com os problemas enfrentados pelas comunidades rurais em nosso país.

Considerando que os índices de desenvolvimento humano municipais (IDHM) são

significativamente menores nas áreas rurais do que nas áreas urbanas do Brasil, um dos

primeiros pontos nesta discussão é a comprovada relevância política do reúso de efluentes

domésticos em relação à redução da pobreza, segurança alimentar, dependência de energia e à

proteção da saúde pública e do meio ambiente (WHO, 2006)

Além de configurar um destino adequado ao esgoto nas comunidades rurais – que

historicamente apresentam índices baixíssimos de coleta e tratamento – o reúso agrícola deste

efluente contribui com a diminuição dos gastos que o produtor rural terá na compra de

fertilizantes e simboliza mais um passo no caminho da transição agroecológica, já que contribui

para um ciclo de produção autossuficiente e com o mínimo de impactos ambientais negativos

(PERMINIO, 2013).

Para Hespanhol (2006), o aumento da produção de alimentos pode elevar o nível

nutricional, a qualidade de vida e as condições sociais das populações beneficiadas pelo sistema

de reúso, principalmente em países em desenvolvimento. Contudo, isso deve ser feito com a

segurança adequada, maximizando os ganhos em saúde pública e os benefícios ambientais

decorrentes desta prática.

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De acordo com a OMS, o uso agrícola de efluentes domésticos oferece riscos tanto aos

consumidores das culturas irrigadas com este efluente, quanto aos seus produtores e à

comunidade local. Portanto, os projetos de reúso devem priorizar métodos de irrigação que

minimizem o contato destes três atores com o efluente e, consequentemente, os riscos de

contaminação microbiológica inerente a esta prática (WHO, 2006).

Para além da escolha do método de irrigação, esta organização listou alguns cuidados

que podem ser tomados pelos agricultores e consumidores com o objetivo de evitar esta

contaminação:

a. Restrição de culturas/produtos irrigados com o efluente doméstico → limitar o uso apenas

às culturas que não são consumidas e àquelas que são sempre processados ou cozidas antes de

serem consumidas;

b. Utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) nas atividades de manejo do

esgoto;

c. Escolha de técnicas de aplicação de resíduos que permitam tempo suficiente para a

inativação dos patógenos no ambiente antes da colheita.

d. Tratamento adequado dos alimentos: lavar, desinfetar e cozinhar os alimentos (no caso dos

consumidores)

e. Controle de vetores de doenças ocasionadas por microrganismos na comunidade onde é feito

o uso do esgoto;

f. Tratamento adequado dos doentes, visando a redução de entradas de patógenos nas águas

residuais.

Se administrados apropriadamente, os sistemas de tratamento de esgotos

descentralizados podem ter um desempenho efetivo, proteger a saúde humana e o meio

ambiente. No entanto, o tratamento de pequenos volumes de água provenientes de fontes

limitadas é desafiador e abre possibilidade para a existência de sistemas mal projetados ou

operados. Isto porque variações significativas na quantidade e qualidade influente podem

ocorrer em curtos períodos de tempo, dependendo dos estilos de vida, hábitos e atividades

cotidianas da comunidade. Consequentemente, são esperadas variações significativas nas

concentrações de vários parâmetros (ex: matéria orgânica, pH, surfactantes e nutrientes),

podendo afetar adversamente a eficiência dos processos biológicos (FRIEDLER & BUTLER,

1996; ZAPATER; GROSS & SOARES, 2011)

Outro fator a ser considerado em projetos de reúso agrícola de efluentes domésticos é o

“nojo”, definido por Rozin et al. (2008) como a sensação de repulsa associada à ingestão

percebida de contaminantes desagadáveis. De acordo com Rosenquist (2005), a reação natural

à sensação de nojo é o comportamento da evitação, o que inclui tanto o contato físico com o

esgoto quanto com o cheiro e visão dele. Dessa forma, mudanças que resultam na diminuição

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da distancia real ou percebida entre nós e nossos excrementos (ou de outros) pode provocar

uma resistência significativa, comprometendo o sucesso destes projetos (BRANDS, 2014)

Por outro lado, Van Vliet et al. (2011) e Van Vliet & Spaargen (2010) discutem que as

práticas de saneamento em que os excrementos se tornam mais visíveis têm um desafio grande,

mas não intransponível, de adoção. Para eles, fatores como o envolvimento do usuário com o

sistema, funcionalidade e características culturais são variáveis importantes nesta relação.

Sobre a regulamentação do uso agrícola de esgoto no Brasil, Bastos et al.,(2008)

defendem que esta questão cultural deve ser adequadamente dimensionada, porém não deve

servir de argumento para o estabelecimento de padrões excessivamente restritivos ou à mera

proibição de algumas práticas (ex: exemplo do cultivo de produtos comestíveis). Para os

autores, as legislações muito rigorosas podem ser tornar insustentáveis – na medida em que

demandam sistemas de tratamento inacessíveis à população – ao passo que a proibição de

práticas de reúso pode se revelar inócua, já que o reúso (não planejado) indireto ainda é uma

realidade no país, inclusive para a irrigação de produtos comestíveis

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4 METODOLOGIA

Visando uma avaliação mais abrangente do desempenho da Fossa Séptica Biodigestora

no tratamento de águas fecais, bem como o entendimento das potencialidades e desafios deste

sistema, o presente estudo dividiu-se em três etapas.

A primeira corresponde a uma revisão de literatura sobre o tema, com o objetivo de

sistematizar as principais características das produções acadêmicas e técnicas sobre o sistema

em questão. A partir desta revisão, foram selecionadas doze publicações que apresentavam

dados quantitativos sobre o desempenho da FSB no tratamento de águas fecais, utilizadas como

base para a análise do padrão de comportamento desta tecnologia em relação a diversos

parâmetros físicos, químicos e microbiológicos. A sistematização destes dados consistiu na 2ª

etapa do trabalho.

Por fim, a 3ª etapa diz respeito à análise de desempenho de uma Fossa Séptica

Biodigestora implantado no distrito de Cachoeira do Campo (Ouro Preto – MG), visando

fornecer bases para o entendimento do ciclo de funcionamento mensal deste sistema.

Perfil das produções acadêmicas sobre a FSB

A revisão de literatura sobre a Fossa Séptica Biodigestora considerou todos os tipos de

publicações técnicas e acadêmicas referentes a este tema, produzidas entre os anos de 2001 a

2018. As buscas foram conduzidas nas bases de dados: Scopus, Scielo, Technology Research

Database, Directory of Opena Acess Journals (DOAJ), Engineering Research Database, Base

de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e

Dissertações (BDTD), Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo

(USP) e Google Acadêmico.

Devido à tecnologia ser desenvolvida por uma instituição brasileira e sua repercussão

fora do país ainda ser pequena, a busca foi feita utilizando apenas o seu nome em português:

“fossa séptica biodigestora” – disposto entre aspas, sinalizando uma busca pela ocorrência exata

das três palavras, agrupadas obrigatoriamente na mesma ordem.

As publicações foram analisadas em função dos seguintes critérios e categorias:

❖ Ano de publicação: 2001 a 2018;

❖ Localidade: por estado;

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39

❖ Tipo de publicação: a) artigos publicados em periódicos; b) trabalhos de conclusão de curso;

c) dissertações de mestrado; d) teses de doutorado; e) manuais técnicos ou cartilhas; f) capítulo

de livro; g) anais de eventos científicos; h) ‘periodicos publicados pela Embrapa’; i) outros.

❖ Abordagem (análise baseada no objetivo principal e resumo): a) eficiência do tratamento;

b) uso agrícola do efluente; c) eficiência do tratamento & uso agrícola do efluente; d) revisão

de literatura; e) projetos de implantação e/ou apropriação tecnológica da FSB; f) inserção da

FSB em políticas públicas; g) diretrizes para a construção e manutenção do sistema; h)

descrição da tecnologia; e i) fora do tema. As características utilizadas para definir a abordagem

de cada publicação estão descritas no Quadro 5, a seguir.

❖ Dados utilizados9: primários ou secundários.

❖ Vínculo com a Embrapa: sim ou não10.

Quadro 5 - Abordagem principal da publicação em relação à Fossa Séptica Biodigestora

Categoria Descrição

a. Eficiência do tratamento

Publicações que tinham como objetivo descrever o desempenho da fossa

séptica biodigestora no tratamento de efluentes domésticos, trazendo dados

quantitativos sobre parâmetros físicos, químicos e/ou microbiológicos

b. Uso agrícola do efluente

Publicações que tinham como objetivo discutir a adequação do efluente

produzido pela FSB às atividades de reúso de águas residuárias, trazendo

dados quantitativos sobre parâmetros físicos, químicos e/ou microbiológicos.

c. Eficiência do tratamento & uso agrícola do

efluente

Publicações que agrupavam os objetivos das categorias 1 e 2

d. revisão de literatura

Publicações de caráter teórico, cujo objetivo principal era reunir dados

quantitativos ou qualitativos acerca da fossa séptica biodigestora usando como

base estudos de outros autores.

e. projetos de implantação

e/ou apropriação da

tecnologia

Publicações cujo objetivo principal era apresentar projetos de implantação da

FSB em comunidades rurais, discutir a aceitação/apropriação desta tecnologia

ou temas relacionados

9 Critério analisado apenas no caso de publicações referentes às categorias “a”, “b” e “c”.

10 As publicações foram consideradas como vinculadas à Embrapa nos seguintes casos:

a) artigos ou livros em que um ou mais autores mantinham vínculo empregatício com a instituição na época da

publicação;

b) monografias, teses ou dissertações produzidas, orientadas ou co-orientadas por pesquisadores com vínculo

empregatício com a instituição na época da publicação;

c) materiais de qualquer tipo publicados pela editora da Embrapa.

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40

f. políticas públicas

Publicações que discutiam ou relatavam experiências do uso da FSB em

políticas públicas de âmbito municipal, estadual ou federal. Não estão inclusos

relatos de projetos realizados em parceria com órgãos governamentais.

g. diretrizes para a

construção e manutenção do

sistema

Publicações que tinham como objetivo principal apresentar a FSB e fornecer

informações básicas sobre sua construção e manejo.

h. descrição da tecnologia

Publicações que não tinha como objetivo principal analisar a FSB, porém

relatavam de forma detalhada o seu modo de funcionamento, vantagens,

desvantagens ou outros aspectos do sistema.

i. Fora do Tema Publicações que não se encaixavam em nenhuma das categorias acima.

Destaca-se que, nos casos de pesquisas publicadas mais de uma vez, foi analisada apenas

a publicação mais recente. Assim, nos casos de dissertações de mestrado que já se encontravam

publicadas na forma de artigos em periódicos, foi analisada somente a última fonte. O mesmo

aconteceu com pesquisas disponíveis tanto em anais de congresso quanto em periódicos.

Segundo Nascimento (2018) esta estratégia mostra-se necessária para evitar múltiplas

contagens de um mesmo estudo, mas pode alterar os dados sobre os tipos de publicações

disponíveis e omitir outras informações relevantes para a pesquisa.

Levantamento e análise de dados secundários acerca do desempenho da FSB no

tratamento de águas fecais

A partir da revisão de literatura realizada durante a etapa anterior, foram identificadas

17 pesquisas que produziram dados primários sobre a eficiência da FSB no tratamento de águas

fecais. Dentre estas, três encontravam-se indisponíveis para leitura on-line (CORREA, et al.,

2010; ESNARRIAGA, 2010; PEREIRA et al., 2010), uma dizia respeito a uma FSB modificada

com configuração muito diferente das demais (SAVEGNAGO & FERRI, 2014) e outra

abordava apenas as características da matéria orgânica após o tratamento (FAUSTINO, 2006).

Excluindo estes casos, foram analisadas 12 publicações que possuíam informações

sobre a composição do afluente e do efluente da FSB – ou apenas de seu efluente – e permitiram

a obtenção de dados quantitativos acerca do desempenho do sistema.

Os dados apresentados nestes estudos foram tabulados e analisados por meio dos

programas Microsoft Excel 2013 e Origin Pro 2015, produzindo informações sobre as

concentrações médias afluentes e efluentes da FSB em relação aos parâmetros: temperatura,

oxigênio dissolvido, DBO, DQO, sólidos totais, sólidos suspensos totais, sólidos suspensos

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voláteis, nitrogênio amoniacal, nitrogênio total kjeldahl e E. coli. A partir destas análises, foram

feitas comparações entre os diversos modelos e formas de manejo do sistema identificados nos

estudos e destas com o exemplar da FSB instalado no distrito de Cachoeira do Campo (Ouro

Preto – MG).

Para que isso fosse possível, as publicações que apresentaram dados sobre dois ou mais

modelos de FSB foram contabilizados duas ou mais vezes, de forma a evidenciar a diferença

de comportamento do sistema de acordo com suas configurações ou formas de manejo. As

principais características das publicações avaliadas neste estudo estão descritas no Quadro 6 a

seguir:

Quadro 6 – Publicações consideradas na análise de dados da literatura

Trabalho Local Tipo de publicação Especificidades do Sistema e

Metodologia de coleta

Barboni &

Rochetto (2014)

Espírito Santo do

Pinhal – SP. Anais de congresso

• Sistema modificado: entrada pela

parte inferior e saída pela parte superior

dos reatores.

• Esterco inoculado apenas uma vez,

no início do funcionamento.

• Coleta realizada após 2 meses de funcionamento.

• Amostras da água fecal bruta (AFB)

e do efluente final (3º reator).

Faustino (2007) São Carlos – SP Dissertação de

mestrado

• Compara sistemas inoculados com

esterco bovino e ovino11

• 3 coletas de efluentes em diferentes

períodos do ano.

• Amostras do 1º reator e do efluente

final (3º reator).

Pereira et al.

(2013) Gurupi – TO Anais de congresso

• Sistema padrão Embrapa

• 3 coletas, em períodos diferentes do

mesmo ano.

• Amostras do 1º reator e do efluente

final (3º reator).

Freitas et al.,

(2015)

Gurupi – TO Anais de congresso

• Sistema padrão Embrapa

• Apenas uma coleta.

• Amostras da AFB e do efluente final.

Galavotti (2011) São Carlos – SP Tese de doutorado

• Sistema modificado: filtro de areia no

lugar do 3º reator.

• Inoculação interrompida após alguns

meses de funcionamento do sistema.

• 15 campanhas de amostragem ao

longo de 3 anos.

11As publicações de Faustino (2007) e Campos et al. (2015) apresentam dados sobre duas formas de manejo da

FSB, bastante diferentes entre si. Portanto, cada um deles será tratado no âmbito desta revisão como se fossem

dois estudos:

✓ Faustino (2007) “A”: resultados obtidos com esterco bovino

✓ Faustino (2007) “B”: resultados obtidos com esterco ovino

✓ Campos et al. (2015) “A”: sistema com caixas de polietileno e inoculo artificial

✓ Campos et al. (2015) “B”: sistema com caixas de fibrocimento e inoculado com esterco bovino.

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• Amostras do 1º reator e do efluente

final (3º reator).

Leonel, Martelli

e Silva (2013) São Carlos – SP Anais de congresso

• Sistema modificado: 5 caixas de

fibrocimento de 1.000 L

• Inocula-se 5L de esterco+água por

mês.

• 3 coletas, no verão.

• Amostras do 1º reator e do efluente

final (5º reator).

Lotfi (2016) São Carlos – SP Trabalho de Conclusão

de Curso (Graduação)

• Sistema padrão Embrapa

• Análise do efluente de 7 FSB’s

• 1 coleta em cada sistema, realizada

em períodos diferentes do ano.

• Amostras do 1º reator e do efluente

final (3º reator).

Novaes et al.

(2002)

São Carlos –SP

Periódico publicado

pela Embrapa

• Primeira publicação acerca da FSB

• Sistema padrão Embrapa

• Coleta mensal durante tempo não

informado

• Amostra do 3º reator

Peres, Hussar &

Belli (2010)

Espírito Santo do

Pinhal - SP

Artigo publicado em

periódico

• Sistema padrão Embrapa

• 3 coletas, realizadas na mesma semana, após aproximadamente 270 dias de

funcionamento.

• Amostras da AFB e do efluente final (3º

reator)

Soares et al.,

(2016) Corumbá- MS Anais de congresso

• Sistema modificado: 4 reservatórios de

1.000L

• 7 coletas, realizadas de 2 em 2 meses

• Amostras do 1º reator e do efluente final

(3º reator)

• Análise de parâmetros microbiológicos

Soares et al.

(2016b) Corumbá- MS Anais de congresso

• Sistema modificado: 4 reservatórios de

1.000L

• 7 coletas, realizadas de 2 em 2 meses

• Amostras do 1º reator e do efluente final

(3º reator)

• Análise de parâmetros físicos e

químicos.

Campos et al.

(2015) Manhuaçu - MG. Anais de congresso

• Analisa dois sistemas modificados7:

a) Caixas de polietileno com um filtro de

areia após o 3º reator. Inserção de inoculo

artificial (ME’s) a cada 6 meses;

b) Caixas de fibrocimento. Inóculo de

esterco bovino inserido apenas uma vez, há

sete anos.

• Coleta do efluente bruto e do efluente

final

Pereira et al.,

(2018) Gurupi- TO

Artigo publicado em

periódico

• Sistema padrão Embrapa

• Uma coleta, no mês de novembro

• Amostras da AFB e do efluente final (3º

reator).

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Análise do desempenho de uma Fossa Séptica Biodigestora instalada no distrito de

Cachoeira do Campo, Ouro Preto – MG

Visando complementar as informações obtidas a partir da revisão de literatura, a terceira

etapa desta pesquisa consistiu na avaliação do desempenho de uma Fossa Séptica Biodigestora

instalada no distrito de Cachoeira do Campo, no município de Ouro Preto – MG. O sistema em

questão – nomeado de FBCC (Figura 4) – estava ativo há dois anos e meio e foi construído em

anéis de concreto, segundo as especificações do manual elaborado pela Fundação Banco do

Brasil (2010).

Figura 4 – Fossa Séptica Biodigestora instalada no distrito de Cachoeira do Campo (FBCC).

Ao longo de um mês, foram realizadas seis coletas, que permitiram a avaliação do

sistema em diferentes fases do seu ciclo de funcionamento, bem como a identificação de

alterações ocasionadas pela adição do inóculo no decorrer do tratamento. Nestas ocasiões,

foram coletados não só os afluentes e efluentes do sistema, mas amostras do inóculo, da água

fecal bruta e do interior de cada um dos reatores12, em duas profundidades diferentes (30 e 120

12Todos os demais estudos referem-se às unidades da FSB como “caixas” e afirmam que a função da última unidade

seria apenas acondicionar o efluente. Porém, a partir da constatação de que ocorrem reações químicas nas três

unidades, convencionou-se chama-las, neste trabalho, de reatores.

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cm). A localização dos pontos de coleta está indicada na Figura 5 e os detalhes das campanhas

realizadas estão descritos nos Quadro 7 e 8.

Figura 5 – Croqui da FBCC e identificação dos pontos de coleta

É importante ressaltar que a 1ª coleta desta campanha foi realizada 18 dias após a inserção

do inóculo no mês de novembro de 2017. Da mesma forma, a 2ª coleta foi realizada 24 dias

após a inserção do inóculo e assim sucessivamente. Desde que foi instalada, a FBCC recebia

mensalmente uma injeção de 20L de esterco. Portanto, partindo do pressuposto de que o dia de

inserção do inóculo é o 1º dia do ciclo, foram obtidas três amostras referentes ao final de um

ciclo e três amostras referentes ao início de outro. Além de doze parâmetros físicos e químicos,

foram analisados quatro parâmetros microbiológicos, com destaque para o Adenovírus Humano

(HAdV) e Enterococcus spp., que estão sendo estudados pela primeira vez neste tipo de sistema.

Quadro 7 – Período de realização das coletas

Coleta

01

Coleta

02

Coleta

03

Adição do

inóculo

Coleta

04

Coleta

05

Coleta

06

Data 22/11 28/11 04/12 05/12 12/12 15/12 19/12

Dia do

Ciclo 18º*dia 24º dia 30º dia 1º dia 8º dia 11º dia 15º dia

* 18 dias após a inserção de esterco do mês anterior, que ocorreu no dia 05/11.

Obs1: a água fecal bruta foi analisada apenas nas três últimas campanhas

Obs2: na coleta do 22/11 não foram analisados os parâmetros DBO e SST; no dia 28/11 não foram analisados

os ST’s e SSTs; e no dia 04/12 não foram analisados os parâmetros microbiológicos.

Conforme observa-se na figura acima, a FBCC apresentava algumas modificações em relação ao sistema

padrão proposto pela Embrapa (SILVA et al., 2007). Dentre elas, as principais são o fato de que, na 1ª caixa,

a entrada do esgoto acontecia pela parte inferior do reservatório; e que na 3ª caixa não havia uma tubulação de

saída, sendo o efluente retirado a cada 20 dias, por meio de uma bomba de sucção.

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Quadro 8 – Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos utilizados para avaliar o desempenho da FBCC

Parâmetro Método de Análise

Sólidos Totais 2540B (APHA, 2012)

Sólidos totais dissolvidos e em suspensão 2540D (APHA, 2012)

Sólidos em suspensão fixos e voláteis 240E (APHA, 2012)

Sólidos sedimentáveis 2540 A (APHA, 2012)

Temperatura Sonda HACH 40 D HQ com eletrodo LDO101

pH pHmetro Digimed

Oxigênio Dissolvido (OD) Sonda HACH 40 D HQ com eletrodo LBDO101

Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) 5210 B (APHA, 2012)

Demanda Química de Oxigênio (DQO Total*) 522 D (APHA, 2012)

Nitrogênio Amoniacal 4500 NH3 D (APHA, 2012)

Fósforo Total 4500 P B (APHA, 2012)

Escherichia coli Método Colilert 9223 B (APHA, 2012)

Salmonela sp.

Cultivo em Ágar Salmonella-Shighella e

identificação em teste bioquímico para família

Enterobacteriaceae (BECTON DICKINSON, 2013)

Enterococcus faecalis Método Enterolert

Adenovírus (HAdV) Titulação viral (Apêndice 1)

*DQO não filtrada

4.3.1 Procedimentos de coleta

O material era coletado dos reatores por meio de uma bomba peristáltica conectada à

uma mangueira de silicone, que sugava a amostra nas profundidades pré-determinadas e

direcionava-o para os frascos específicos de cada parâmetro (Figura 6). Como forma de

diminuir o risco de contaminação das amostras, foi separada uma mangueira de acesso para

cada reator e a mangueira fixa da bomba passava por um processo de “descontaminação

simplificada” apos amostragem em cada ponto de coleta. Tal processo incluía as seguintes

etapas:

a) Lavagem interna com água proveniente da rede pública de abastecimento durante 2

minutos;

b) Lavagem interna com sabão líquido diluído em água durante 2 minutos;

c) Lavagem interna com água proveniente da rede pública durante 4 minutos

d) Lavagem interna com água destilada durante 2 minutos

e) Ambientação da mangueira com efluente do próximo ponto a ser coletado por 2

minutos.

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Figura 6 - Coleta do efluente no Reator 1 e detalhamento da bomba peristáltica

Devido à dificuldade de coleta na profundidade de 120cm, foi necessário acoplar um

peso de chumbo ao final de cada mangueira, que possibilitou a correta aferição da profundidade

e a obtenção de uma amostra mais homogênea.

Durante os dias de campanha, em cada ponto foram coletadas três amostras de mesmo

volume, de 2 em 2h. As amostras compostas foram homogeneizadas em um único frasco,

preservadas de acordo com as diretrizes do Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras

(CETESB, 2011) e depois analisadas em duplicata no Laboratório de Saneamento Ambiental –

LSA e Laboratório de Microbiologia e Bioprospecção Tecnológica – LMBT do Departamento

de Ciências Biológicas do Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal

de Ouro Preto. As análises de HAdV foram feitas no Laboratório de Virologia Aplicada (LVA)

da Universidade Federal de Santa Catarina.

O pH, OD e temperatura também eram medidos três vezes ao dia, sendo os valores

apresentados neste estudo a média aritmética destas três medições. Para a análise destes

parâmetros, o efluente era retirado dos reservatórios com a mesma bomba peristáltica e

transferido para um béquer, onde eram inseridas as sondas de medição.

Cabe destacar que tanto as amostras coletadas a 30 cm de profundidade quanto aquelas

coletadas a 120 cm foram analisadas a partir das mesmas metodologias, aplicadas a efluentes

líquidos. Portanto, não houve tratamento diferenciado para o que se entende como o lodo destes

reatores.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Análise do perfil das produções acadêmicas sobre a FSB no período de 2001 a

2018

O levantamento bibliográfico sobre a fossa séptica biodigestora resultou em 262

publicações, obtidas a partir de seis bases de dados. Deste total, 136 foram classificadas como

fora do tema – por não abordarem diretamente a FSB – e 19 foram excluídas por repetição de

dados. Portanto, as informações aqui descritas foram produzidas pela análise de 107

publicações.

O primeiro ponto a ser discutido sobre este levantamento é a escassez de artigos

científicos sobre a FSB disponíveis em bases de dados internacionais ou mesmo em bases de

dados brasileiras mais consolidadas. Reunindo os periódicos Scopus, TRD, DOAJ e ERD,

foram encontradas apenas 04 publicações; enquanto que nas bases de dados nacionais (Scielo,

BDPA, BDTD e BDTD/USP) registraram-se 17 publicações, sendo a maior parte proveniente

dos arquivos da Embrapa. O pequeno número de artigos sobre esta tecnologia nas referidas

bases de dados resultou na inclusão do Google Acadêmico como uma fonte de pesquisa,

responsável por 80% das publicações analisadas. A contribuição de cada uma das fontes em

termos percentuais está descrita na Figura 7, a seguir.

Figura 7 - Porcentagem de publicações sobre a FSB obtidas em cada base de dados analisada.

Conforme descrito na Figura 8, a maior parte das pesquisas conduzidas a respeito da

FSB foram publicadas em anais de eventos, sobretudo de âmbito nacional e regional. Ao mesmo

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tempo, percebe-se que ainda é muito baixo o número de estudos sobre a FSB publicados em

periódicos de alto impacto ou com maior reconhecimento no meio acadêmico. Após os anais e

artigos científicos, os tipos de publicações mais abundantes foram os Trabalhos de Conclusão

de Curso (TCC’s) e manuais ou cartilhas que tratam de aspectos construtivos e de manejo do

sistema. Ressalta-se que, em se tratando de uma tecnologia social, este último tipo de

publicação é de importante para a disseminação e incorporação de suas práticas na sociedade.

Figura 8 - Tipos de publicações disponíveis sobre a FSB nas bases de dados analisadas

Outra constatação relevante do ponto de vista da produção científica é a distribuição

desigual destas publicações entre as regiões do país. Conforme exposto na Figura 9 – que

classifica as pesquisas quanto ao seu local de desenvolvimento – das 107 publicações, 38

tratavam de projetos ou pesquisas aplicadas na região sudeste (sobretudo no estado de São

Paulo); 11 foram desenvolvidas no Mato Grosso do Sul; 09 no Paraná; 07 no Tocantins; e 28

publicações continham informações gerais sobre a FSB, sem especificar o estado ou região para

a qual direcionava-se o estudo (N/A13); Também foram identificadas pesquisas voltadas para

aplicação da FSB no Distrito Federal, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Rondônia, Rio Grande do

Sul, Santa Catarina.

A revisão de literatura indica registros de estudos relacionados à FSB em todas as

regiões do país, porém, com uma clara concentração da produção escrita sobre este tema no

eixo Sul-Sudeste. Neste contexto, a predominância absoluta do estado de São Paulo no ranking

de produção é algo bastante previsível, na medida em que nele está localizada a Embrapa

Instrumentação Agropecuária: principal responsável pelo desenvolvimento e disseminação

desta tecnologia no Brasil. Assim como em São Paulo, a maior parte das publicações produzidas

13 No gráfico da Figura 9a este número está identificado na coluna N/A: critério não aplicável.

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no Mato Grosso do Sul (2º colocado no ranking) possuem relação com a Embrapa Pantanal,

que desde 2010 tem impulsionado o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema.

Figura 9 – a) Distribuição das publicações sobre a FSB nos diversos estados brasileiros – classificação quanto ao

local de aplicação da pesquisa. b) Estados nos quais localizavam-se as instituições que produziram as publicações

que continham informações gerais sobre a FSB (coluna N/A).

a) b)

Apesar da FSB ser uma tecnologia social, e, portanto, de domínio público, até hoje a

instituição na qual ela foi desenvolvida continua tomando a frente da maior parte das pesquisas

e projetos de implantação deste sistema. Prova disso é que cerca de 42% de todas as publicações

analisadas neste estudo possuem alguma ligação com a Embrapa.

É possível admitir que a predominância de estudos sobre a FSB no estado de São Paulo

e seus arredores é algo normal, já que a tecnologia foi desenvolvida por pesquisadores desta

região. Porém, esta situação se torna inoportuna na medida em que a FSB tem sido divulgada

como uma das principais alternativas para o tratamento de esgotos domésticos nas áreas rurais

de todo o país, sendo inclusive, citada em políticas públicas de âmbito nacional, como o

Programa Nacional de Habitação Rural (BRASIL, 2017).

Sabendo que um dos principais fatores que influenciam o sucesso de determinada

tecnologia de saneamento rural é sua adequação às características ambientais e socioculturais

do local (AL-SA’ED; MUBARAK, 2006), entende-se como extremamente necessário o

incentivo à formulação de pesquisas voltadas para a aplicabilidade da FSB nas demais regiões

do país.

Partindo para a análise do número de publicações por ano, a Figura 10 demonstra que a

FSB manteve-se numa média de uma a duas publicações por ano, até 2007, quando foram

publicados sete estudos, incluindo a primeira dissertação detalhando as características físicas e

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químicas do efluente deste sistema (FAUSTINO, 2007). Depois disso, verifica-se um pico de

produtividade no ano de 2010, devido a uma maior atividade do grupo de pesquisa da Embrapa

Pantanal (Corumbá -MS). Neste ano também foram lançadas duas importantes cartilhas

explicativas sobre o sistema, publicadas pela Fundação Banco do Brasil e Embrapa

Instrumentação Agropecuária (BANCO DO BRASIL, 2010; GALINDO et al., 2010). Apesar

da literatura relatar que o sistema foi criado em 2001, não foi encontrado nenhuma publicação

sobre a FSB neste ano.

Figura 10 – Número de estudos relacionados à FSB publicados no período de 2001 a 2018*

*Dados coletados no mês de julho/2018.

Até o presente momento, 2014 foi o ano em que mais se produziu estudos sobre a FSB,

com destaque para a publicação do único artigo científico de revisão de literatura encontrado

nesta pesquisa (COSTA & GUILHOTO, 2014) e para o aumento da quantidade de publicações

no estado do Paraná.

Em relação às abordagens das publicações (Figura 11), 36% fazem relatos de projetos

de implantação da FSB, discutindo a apropriação desta tecnologia pelas comunidades, seus

impactos no saneamento básico local, dentro outros aspectos. A segunda abordagem mais

comum é a “descrição da tecnologia”, ou seja, publicações que descrevem o funcionamento da

FSB em seu conteúdo, porém não aplicaram este sistema em nenhum local e apenas reproduzem

dados secundários.

Destaca-se que os estudos relacionados ao desempenho da FSB para o tratamento de

esgoto doméstico e/ou à viabilidade do reúso agrícola de seu efluente somam apenas 29% de

todos os materiais publicados até hoje sobre o assunto (31 publicações no total). Ou seja,

provavelmente existe um maior interesse geral na avaliação de aspectos políticos, econômicos

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e sociais dos projetos de implantação da FSB do que na análise da eficiência deste sistema e

nos riscos relacionados ao uso agrícola de seu efluente.

Figura 11 – Abordagem dos estudos publicados sobre a FSB no período de 2002 a 2018.

Este fato contraria de certa forma aquilo que foi relatado por van Vliet et al. (2011) na

Holanda, onde as pesquisas que abordam o saneamento a partir das ciências sociais são bastante

escassas se comparadas com os vastos materiais produzidos pelas áreas de engenharia e saúde

pública. Por um lado, tal situação é positiva, já que demonstra uma preocupação crescente com

as “formas de gestão” do saneamento e com o impacto das tecnologias na vida das

comunidades. Por outro, demonstra certa negligência das instituições na avaliação dos

resultados práticos do tratamento realizado pela FSB e no esforço de otimização desta

tecnologia.

Figura 12 – Abordagens principais em cada tipo de publicação

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Ao cruzar as informações de sobre os tipos de publicações e suas abordagens (Figura

12), percebe-se que a maior parte dos dados disponíveis sobre o desempenho da FSB e sobre a

qualidade do seu efluente foram publicados sob a forma de anais de eventos. Importantes para

a divulgação das pesquisas e discussão entre pares, este tipo de publicação costuma ter conteúdo

muito limitado e não passa por uma avaliação criteriosa antes de sua publicação. Corroborando

com a linha de raciocínio anterior, a maior parte dos artigos publicados em periódicos está

relacionada à avaliação dos projetos de implantação ou descreve o funcionamento desta

tecnologia a partir de dados secundários.

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Princípios de funcionamento e desempenho da FSB no tratamento de águas fecais

para uso agrícola

A combinação das informações obtidas a partir do tratamento de dados secundários e

das análises realizadas no sistema FBCC permitiu a identificação de alguns padrões de

funcionamento na Fossa Séptica Biodigestora, assim como uma avaliação mais consistente do

desempenho desta tecnologia em relação à remoção de matéria orgânica carbonácea, nutrientes

e indicadores biológicos. Por conseguinte, o presente item tem como propósito apresentar os

principais resultados desta análise conjugada, ora comparando a FSB com outras tecnologias

locais para o tratamento de águas fecais, ora apontando as condições construtivas ou de manejo

que apresentaram as melhores – e piores – respostas em termos de eficiência.

Como uma parte dos estudos sobre a FSB utilizou as concentrações obtidas no Reator 1

como ponto de partida para avaliar o desempenho do sistema e outra parte considerou a água

fecal bruta (AFB), serão avaliados neste trabalho dois índices de eficiência:

a. Eficiência de Remoção Global do sistema (ERG) = [reator3] – [AFB]

b. Eficiência de Remoção Interna do sistema (ERI) = [reator3] – [reator1]

5.2.1. Características da Fossa Biodigestora de Cachoeira do Campo (FBCC)

A FSB analisada estava instalada em uma residência de 03 habitantes, com contribuição

média de 15l/hab.dia. Este valor é menor do que a produção média de 20l/hab.dia estimados

para as águas fecais (SILVA, MARMO & LEONEL, 2017), provavelmente devido à residência

ser equipada com uma válvula de descarga com duplo acionamento.

Considerando as dimensões de 1m³ de volume ocupado pelo esgoto em cada um dos

reatores, o TDH do sistema estudado é de aproximadamente 67 dias. Portanto, três vezes maior

do que o mínimo recomendado pelos manuais de construção da FSB.

5.2.2. Potencial Hidrogeniônico (pH)

Considerado um dos parâmetros mais significativos no processo de digestão anaeróbia

(CHERNICHARO, 1999), o pH foi analisado em 12 dos 15 estudos considerados na revisão de

literatura, sendo que 06 levantaram dados sobre o afluente e efluente do sistema; 04 coletaram

amostras do 1ª reator e do efluente final; e 02 informaram apenas os dados relativos ao efluente

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final da FSB. Os resultados obtidos por estes estudos estão descritos na Figura 13 como “valores

de referência”.

Figura 13 – pH nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC e valores de referência

*Legenda: AFB: água fecal bruta; R1: Reator 1; R2: Reator 2; R3: Reator 3

Estes estudos apontam que a Fossa Séptica Biodigestora apresenta um pH médio de 6.95

na entrada do sistema, passando para 7.74 dentro do 1º reator e 8.08 na saída do 3º reator; o que

indica a alcalinização do efluente ao longo do tratamento. Conforme ilustrado na Figura 13 e

na Tabela 01, tal comportamento também foi verificado nas amostras da FBCC, tanto na porção

superior dos reatores, na porção inferior. Para Silva et al. (2007), a alteração do pH de neutro

para alcalino após o tratamento com a FSB pode ser decorrente da degradação de proteínas e

aminoácidos em meio anaeróbio, gerando uma quantidade substancial de amônia, que, ao reagir

com o ácido carbônico em meio aquoso, passa para a forma de hidróxido de amônio.

Tabela 1 - pH médio nos reatores da FSB: amostras da FBCC e valores de referência (da literatura)

Água Fecal Bruta Reator 1 Reator 2 Reator 3

Valores de

referência 6,95 7,74 Não identificado 8,08

FBCC (p = 30cm) 7,42 7,95 8,1 8,39

FBCC ( p=120cm) 7,42 7,86 7,69 8,01

Além da alcalinização ao longo do tratamento, outro fato notável em relação à FBCC é

que os valores de pH no fundo dos reatores foram ligeiramente menores do que aqueles

identificados na porção superior do sistema. Tal constatação pode significar uma maior

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produção de ácidos orgânicos voláteis na parte inferior destes reservatórios, indicando que esta

é uma zona mais reativa, onde os compostos orgânicos complexos ainda não foram totalmente

convertidos em seus produtos finais (VON SPERLING, 2005).

Sobre a adequação do pH destes reatores ao tratamento anaeróbio, Chernicharo (1999)

informa que as bactérias metanogênicas apresentam um crescimento ótimo na faixa de pH entre

6.6 e 7.4, embora seja possível atingir estabilidade na formação de metano em toda a faixa de

6.0 e 8.0. Este dado é reiterado por Speece (1996), que afirma que os reatores anaeróbios são

operados de maneira satisfatória na faixa de pH de 6,5 a 8,2. Portanto, os valores de pH dentro

das FSB se mostraram, de forma geral, adequados para o processo de decomposição em

questão.

Em relação ao uso agrícola deste efluente, os valores de pH, tanto na revisão de literatura

(7.0 a 8.7) quanto nas amostras da FBCC (8.05 a 8.53), estão dentro da faixa de 6 – 9,

estabelecida pela USEPA (2004) como aceitáveis para esta finalidade.

5.2.3. Temperatura

A temperatura foi mensurada em 06 estudos dentro da revisão de literatura, sendo que

05 deles forneceram informações sobre o afluente e efluente do sistema e 01 forneceu apenas

dados sobre o interior do 2ª reator.

Conforme observa-se na Figura 14, a temperatura no interior da FSB está dentro da faixa

mesófila (20 – 45°C), tanto nos estudos incluídos na revisão de literatura (valores de referência)

quanto nos experimentos realizados na FBCC (LETTINGA et al., 1996). Considerando o

conjunto destes dados, o sistema registra em seu interior valores que vão de 22 a 27ºC, estando,

portanto, dentro da faixa definida por Galindo et al. (2010) em sua cartilha sobre a FSB

publicada pela Embrapa. De acordo com a autora, a temperatura dentro da fossa biodigestora

pode variar de 20 a 30°C, dependendo do local onde o sistema foi instalado e da estação do ano

– ou seja, da temperatura externa.

Quanto às temperaturas identificadas na FBCC, verifica-se que ela tende a se estabilizar

na medida em que adentra o sistema e que as amostras retiradas do 3º reator costumam ter

temperaturas ligeiramente menores do que a das outras duas, o que pode ser explicado por uma

menor atividade microbiológica nesta fase do tratamento (PEREIRA et al., 2018). Além disso,

a temperatura média da FSB estudada (23 a 24°C) está um pouco abaixo da média obtida na

literatura, provavelmente devido ao clima da região de Ouro Preto.

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Figura 14 – Temperatura nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC e valores de referência.

Legenda: AFB: água fecal bruta; R1: Reator 1; R2: Reator 2; R3: Reator 3

Ao contrário do que acontece com a FBCC, os dados secundários apresentam a

temperatura como um fator com pouca variabilidade ao longo do tratamento, com valores

médios de entrada e saída bem próximos (25.9ºC e 26.3ºC, respectivamente). Por outro lado, a

maior parte dos estudos relata que a variação de temperatura se dá ao longo das coletas – a

partir da influência da temperatura externa – e não da passagem pelos reatores. Tal situação

pode ser exemplificada pelo estudo de Soares et al. (2016), que registou variações de até 6ºC

dentro de um mesmo reservatório, de acordo com a estação do ano e horário de coleta. Outro

ponto interessante do estudo de Soares et al. (2016) é a constatação de que a FSB é capaz de

manter o seu interior com temperaturas acima de 20ºC, mesmo quando a temperatura ambiente

é da ordem de 4ºC.

De acordo com Soares et al. (2016b) “as temperaturas encontradas no interior da FSB

propiciam certa estabilidade ao processo de decomposição anaeróbia da matéria orgânica,

favorecendo especialmente o trabalho das bactérias metanogênicas, que se reproduzem mais

lentamente e são mais sensíveis às condições ambientais ou às condições adversas”.

5.2.4. Oxigênio Dissolvido

O oxigênio dissolvido foi monitorado em apenas 3 dos 15 trabalhos analisados e

apesentou valores de 0 a 1mg/L em todas as coletas registradas, conforme o esperado para um

sistema anaeróbio (PEREIRA et al., 2018).

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Na FBCC, os valores de OD nas amostras dos dois primeiros reatores estão quase

sempre na faixa de 0 a 1 mg/L e a amostra coletada na porção superficial do 3º reator apresenta

concentrações de OD mais altas do que todas as outras (0,99 a 2,4 mg/L). Tal situação era

esperada, na medida em que a carga orgânica volumétrica – que garante a situação de

anaerobiose – deve ser sempre menor no efluente do que no afluente do sistema (VON

SPERLING, 1996).

Além disso, verificou-se que a água fecal bruta apresentou concentração de OD muito

superiores àquelas do interior do reator (devido ter passado por turbulência pouco antes de sua

aferição) e que as amostras do fundo dos reatores apresentaram OD menor do que as da porção

superior, o que pode significa uma maior concentração de matéria orgânica nesta primeira

região.

5.2.5. Série de Sólidos

Conforme disposto no Quadro 9, a série de sólidos foi analisada em 07 dos 15 estudos

utilizados na revisão bibliográfica, sendo que apenas um deles (GALAVOTI, 2011) analisou

todos os seus componentes. Ademais, 03 estudos analisaram as variáveis SST, SSV e SSF; 02

estudos forneceram dados relativos apenas aos Sólidos Totais e 01 estudo avaliou as variáveis

ST, STV e STF.

Quadro 9 – Estudos encontrados na revisão de literatura que contém dados sobre a série de sólidos

Estudo ST

(mg L-1)

SST

(mg L-1)

SSV

(mg L-1)

SSF

(mg L-1)

STF

(mg L-1)

STV

(mg L-1)

Faustino (2007)14 ● ● ●

Soares et al. (2016b) ● ● ●

Galavotti (2011) ● ● ● ● ● ●

Campos et al. (2015)¹ ●

Pereira et al. (2018) ● ● ●

Como o número de autores que analisaram cada parâmetro é pouco significativo, a

inferência de padrões de funcionamento das FSB’s por meio dos dados obtidos na literatura foi

prejudicada. Dessa forma, a dinâmica dos sólidos dentro dos reatores será discutida

principalmente com base nos dados obtidos por meio do sistema FBCC (Figura 15), apoiados

nestes estudos quando pertinente.

14 Conforme informado na metodologia, as publicações de Faustino (2007) e Campos (2015) são

entendidas como dois estudos, cada uma.

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Figura 15 – Série de Sólidos nos reatores da FBCC: efluente coletado a 30 e 120 cm de profundidade. Concentração

expressa em mg.L-1

Legenda: AFB: água fecal bruta; R1: Reator 1; R2: Reator 2; R3: Reator 3

Iniciando a discussão sobre o fracionamento dos sólidos no interior dos reatores, o

primeiro ponto a ser notado na Figura 15 é diferença entre a concentração de sólidos totais nas

amostras coletadas nas profundidades de 30 e de 120 cm. Tal informação indica um acúmulo

de material sedimentado no fundo dos reservatórios, ratificado pelas concentrações de sólidos

sedimentáveis, que apresentaram valores médio de 0 a 2.5 ml/L nas amostras superficiais e de

576 a 777 ml/L nas amostras retiradas na parte inferior dos reatores (Figura 16).

Sabendo que o lodo de esgoto é definido por Metcalf & Eddy (2003) como “os solidos

removidos do esgoto durante o processo de tratamento, resultante da sedimentação de sólidos

em suspensão, areia e microrganismos”, pode-se afirmar que os sólidos acumulados nos fundos

do reservatório constituem um tipo de lodo. Tal constatação é apoiada ainda pelas informações

de pH e OD desta região, que dão indícios de que ela é mais reativa do que a porção superficial

do reator e possui maior concentração de matéria orgânica.

Ainda em relação aos sólidos totais, a FBCC registrou uma redução média de 41.26%

dos sólidos entre a AFB e as amostras superficiais do Reator 1, o que confirma que a maior dos

sólidos afluentes tende a ficar retida na porção inferior do reservatório, por onde entra a AFB.

Após esta primeira etapa, a concentração de sólidos totais se mantém relativamente estável nas

amostras superficiais dos reatores, registrando um aumento de apenas 9% entre as médias do

R1 e R3.

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Figura 16 - Série de Sólidos nos reatores da FBCC. Amostras coletadas a 30cm de profundidade. Concentração

expressa em mg.L-1.

Legenda: AFB: água fecal bruta; R1: Reator 1; R2: Reator 2; R3: Reator 3

A FBCC apresentou uma Eficiência de Remoção Global (ERG) média de sólidos totais

de 46%, muito próxima dos 50% e 39% obtidos por Campos (2015) e Galavoti (2011) para este

mesmo sistema; e dos 47,6 % registrados por Dias Postigo et al. (2017) para a fossa séptica

econômica. Cabe ressaltar que a quantificação de sólidos totais no caso de efluentes destinados

à fertirrigação é bastante relevante, já que a irrigação com líquidos contendo altas concentrações

de sólidos pode provocar alteração na capacidade de infiltração de água no solo, devido ao

entupimento dos macroporos e à formação de crostas em sua superfície (OLIVEIRA et al.,

2000).

Quanto ao teor de sólidos em suspensão, a primeira consideração a ser feita é que: ao

comparar os valores descritos na literatura com aqueles das amostras coletadas na FBCC,

percebe-se que apenas as amostras coletadas na profundidade de 30 cm apresentam

correspondência com os valores de sólidos em suspensão de outros estudos (FAUSTINO, 2007;

GALAVOTI, 2011; PEREIRA et al., 2018; SOARES et al., 2016b). Tal situação se repete em

diversos outros parâmetros avaliados e dá indícios de que todos os demais autores coletaram

amostras apenas na porção superior da FSB, ainda que a profundidade de coleta não tenha sido

especificada em nenhuma das pesquisas publicadas. Partindo deste pressuposto, deste momento

em diante serão confrontadas com os valores da literatura somente as amostras da água fecal

bruta e as amostras superficiais.

Diferente do que ocorre com sólidos totais, a concentração de sólidos suspensos na parte

superior da FBCC é maior no 1º reator do que na AFB e diminui ao longo do tratamento,

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registrando um ERG média de 48%. Em termos percentuais, a relação SST/ST passa de 7% na

AFB para 22% no primeiro reator para 6% no efluente final. Do mesmo modo, a porcentagem

média de sólidos em suspensão no lodo é de 81,61%, no 1º reator; 81,07 %, no 2º e 72,3% no

3º reator. O estudo realizado comprova que a FSB (dependendo do TDH) pode atingir uma

ERG de sólidos em suspensão satisfatória se comparada a de outras tecnologias locais para

tratamento de águas fecais, como o sistema fossa-filtro (33± 27%) e o biodigestor pré-fabricado

com filtro anaeróbio interno (83 ± 5%) (IDUPHUV et al., 2014; SHARMA & KAZMI, 2015).

O fato da concentração de SST ser maior dentro do sistema do que no próprio afluente

indica a formação de biomassa, presente tanto no sobrenadante quanto no fundo dos reatores.

Este crescimento foi confirmado pela observação dos sólidos em suspensão voláteis (SSV), que

também foram 22% maiores no sobrenadante do R1 do que na água fecal bruta. Conforme

esperando, os dados da FBCC apontam que esta biomassa diminui de concentração na medida

em que o tratamento se desenvolve, passando de 287 mg/L de SSV no R1 para 71 mg/L no

efluente do sistema.

A questão da existência do lodo na FSB é um tema delicado, na medida em que

publicações oficiais da Embrapa enfatizam que não há acúmulo de resíduos sólidos ao longo

do sistema e que “todos os dejetos são consumidos durante o processo de biodigestão”.

(GALINDO et al., 2010). Avançando um pouco na discussão, o último material divulgado pela

instituição afirma também que “não é necessário que seja efetuada limpeza das caixas, pois o

projeto do biodigestor permite que o efluente concentrado na parte inferior seja transportado

para a proxima caixa à medida que entra mais água no sistema” (SILVA, MARMO &

LEONEL, 2017).

Os estudos realizados na FBCC apontam que, mesmo com o decaimento endógeno, é

possível verificar acúmulo de biomassa ao longo do sistema. Do mesmo modo, a saída da

biomassa junto com o efluente líquido da FSB é uma condição possível, porém que oferece

riscos ainda pouco avaliados. Em meio aos estudos utilizados nesta análise, somente Pereira et

al. (2018) cita que deve haver a retirada periódica do lodo formado ao fim do processo. Além

disso, como evidência deste acúmulo, Faustino (2007) declarou que realizou “coleta do lodo

presente nas três caixas” para análise da matéria orgânica por meio de Espectroscopia de

Ressonância Paramagnética Eletrônica (RPE).

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5.2.6. DBO E DQO

Os processos de conversão da matéria orgânica na Fossa Séptica Biodigestora foram

avaliados por meio dos parâmetros Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda

Química de Oxigênio (DQO), que indicam, respectivamente, a fração de matéria orgânica

biodegradável e a matéria orgânica total contida em determinado efluente. Dentre os estudos

considerados nesta análise, a DBO foi apresentada em 08 pesquisas, sendo que em 03 delas

foram fornecidas as concentrações afluentes e efluentes da FSB; em 03 foram analisadas

amostras do 1º reator e do efluente final; e 02 avaliaram apenas a concentração efluente. Os

mesmos números se aplicam à variável DQO, porém não necessariamente as duas foram

analisadas pelos mesmos autores.

Isso posto, a Figura 17 e a Tabela 2 apresentam as concentrações de DBO e DQO no

sobrenadante de cada um dos reatores, comparando os dados obtidos na FBCC com os dados

descritos na literatura15.

Figura 17 – DBO e DQO nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: valores de referência dispostos no Gráfico

A e dados da FBCC (profundidade = 30 cm) no Gráfico B

Em relação à água fecal bruta, percebe-se que o valores de DBO e DQO na literatura

apresentaram desvio padrão muito amplo, apesar de todos os estudos teoricamente trabalharem

apenas com afluente composto de água, urina e fezes. Nas pesquisas apresentadas, a DBO

média afluente da FSB variou entre 384 mg/L (BARBONI & ROCHETTO, 2014) e 4950 mg/L

(PEREIRA et al., 2018); enquanto que no estudo de Cachoeira do Campo obteve-se uma

15Conforme explicado anteriormente, os dados da literatura serão comparados somente com aqueles das amostras

coletadas na superfície da FSB modelo. Como em nenhum dos estudos de referência foi especificada a

profundidade das amostras coletadas, as concentrações dos diversos tipos de sólidos nos dados apresentados

permitem inferir que todas dizem respeito ao sobrenadante, e não à fração sólida acumulada no fundo dos reatores.

A B

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62

concentração média de 266±16 mg/L. Para a DQO, estes valores ficaram entre 753 e 7936 mg/L

na literatura e 333 a 455 mg/L nos experimentos.

De forma geral, os valores de DBO e DQO afluentes na FBCC estão bem abaixo daquele

descritos na literatura para as águas fecais, tanto nos estudos relacionados à FSB quanto em

outros – como o de Sharma & Kazmi (2015a), que obteve valores de 997 mg/L de DBO e

1352 mg/L de DQO; ou o de Silva et al. (2013), que apresentou DQO de 989 mg/L. Outro

estudo que obteve concentrações de matéria orgânica menores do que as esperadas foi o de

Rebelo (2011), com valor médio de 69 mg/L para DBO e 422 mg/L para DQO. Apesar da autora

ter atribuído estes valores à coleta do afluente em uma zona de menor concentração de matéria

orgânica, no caso da FBCC este argumento não se aplica, haja vista que a água fecal bruta foi

coletada na tubulação de entrada da fossa, em diferentes profundidades.

Quanto à razão DBO/DQO na entrada da FSB, esta apresentou uma média de 57 ± 8 %

na literatura16 e 68 ± 11% nos experimentos da FBCC, valores que comprovam a alta

biodegradabilidade das águas fecais brutas e assemelham-se com aqueles apresentados por

Sharma & Kazmi (2015a). De acordo com Von Sperling (2005), águas residuárias com razão

DBO/DQO > 40% têm porção biodegradável elevada e, portanto, são passíveis de tratamento

por vias biológicas.

Nas amostras da FBCC, a DBO da água fecal bruta diminui cerca de 54% ao adentrar

no Reator 1, enquanto que a relação DBO/DQO passa de 68 para 31%. Percebe-se, portanto,

que a maior parte da matéria orgânica biodegradável foi digerida já na primeira etapa do

tratamento. Até o presente momento, não há nenhum estudo publicado que compare as

concentrações da AFB e do 1º reator. Porém, levanta-se a hipótese de que o alto potencial de

remoção verificado na FBCC tenha relação com a configuração diferenciada de sua tubulação.

Diferente do que ocorre na FSB tradicional (modelo Embrapa), o afluente da FBCC é inserido

a cerca de 15 cm de seu fundo, ou seja, na altura da manta de lodo. De acordo com Chernicharo

(1997), tal configuração possibilita maior contato do afluente com a biomassa e aumenta a

eficiência do tratamento.

16 O estudo de Pereira et al. (2015) apresentou um aumento de 10% na relação DBO/DQO ao longo do tratamento

e eficiência de remoção de DBO de 2%, o que sugere algum desvio no funcionamento do sistema estudado ou erro

de análise laboratorial. Dessa forma, os dados relativos à matéria orgânica de Pereira et al. (2015) foram

desconsiderados no cálculo das médias apresentadas neste item.

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Tabela 2 - Concentração de DBO e DQO na FSB: valores de referência e FBCC (amostras coletadas em p= 30 cm).

Água Fecal

Bruta

Reator 1

(p=30cm)

Reator 2

(p=30cm)

Reator 3

(p=30cm)

ERI

(p=30cm)

ERG

(p=30cm)

DBO

(mg/L)

FBCC 266±16 132±43 67 ±49 34 ±50 54,6±29% 89 ±7%

Valores de

referência 2667±3229 444±260 - 575 ±978 74±13 41 ± 10%

DQO

(mg/L)

FBCC 397 ±61 530 ±220 484 ±145 495 ±219 2,7 ± 37% -36 ± 10

Valores de

referência 2667±5079 1459±612 - 1199±1743 58 ± 11% 33 ±3%

𝐷𝐵𝑂

𝐷𝑄𝑂

(%)

FBCC 68 ± 11% 31 ± 21 16 ±17 14 ±13,5 - -

Valores de

referência 57 ±8 % 37 ±3,5% - 50 ±20 - -

A diminuição da DBO prossegue ao longo dos reatores, com uma ERI de 54,6 ± 29%

nos experimentos da FBCC e 74 ± 13% na literatura. O estudo que apresentou maior ERI (87%)

foi o de Soares et al. (2016b), que utilizava 04 reatores em série e, portanto, tinha um TDH

maior do que os demais. O que obteve menor ERG foi o de Barboni e Rochetto (2014) – cuja

configuração interna dos tubos era invertida em todas as caixas (entrada por baixo e saída por

cima), propiciando acúmulo do lodo nos reatores ao invés de sua movimentação ao longo do

sistema. Quanto às concentrações efluentes de DBO, estas ficaram entre 59 e 2575 mg/L

(SOARES et al., 2016b; PEREIRA et al., 2018) na literatura, dependendo da concentração

afluente; e entre 8,7 e 92 mg/L na FBCC.

De modo geral, percebe-se que a Fossa Biodigestora apresenta uma eficiência de

remoção de DBO média menor do que outras tecnologias utilizadas para o tratamento de águas

fecais, como o Tanque de Evapotranspiração (DBO:80%), a Fossa Séptica Econômica (DBO:

47%) e o biodigestor pré-fabricado com filtro anaeróbio interno (DBO: 78,9%). (DIAS

POSTIGO et al., 2017; GALBIATI, 2009; SHARMA & KAZMI, 2015b). Contudo, em

condições ideais de funcionamento, este sistema pode atingir até 98% de eficiência (SOARES

et al., 2016b).

Levanta-se a hipótese de que ótima eficiência de remoção de matéria orgânica registrada

pela FBCC (89 ±7%) pode estar ligada ao Tempo de Detenção Hidráulica deste sistema que,

conforme dito anteriormente, é três vezes maior do que o mínimo recomendado pela Embrapa.

São necessários mais estudos correlacionando estes dois fatores para que se tenha uma

discussão mais aprofundada sobre a necessidade de adicionar ou não mais módulos de

fermentação ao sistema original da Embrapa.

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Conforme descrito na Tabela 2, mesmo com uma notável redução da fração orgânica

biodegradável, a FBCC registra entre a AFB e o R1 um aumento de 76% na concentração de

DQO, seguido de uma redução de apenas 2,7% até o R3. Como o efluente não foi filtrado antes

de sua análise, infere-se que o acréscimo na concentração de DQO após a passagem pelo

sistema é devido principalmente à produção de biomassa não-biodegradável dentro dos

reatores. De acordo com Faustino (2007) a DQO residual presente no efluente demonstrou

efeitos positivos após aplicação no solo, na medida em que aumenta teor de carbono orgânico

total e favorece o desenvolvimento das culturas agrícolas.

A eficiência de remoção de matéria orgânica da FSB foi bastante variável nos estudos

analisados, o que pode estar associado a diversos fatores como: as diferenças nas datas de coleta

(em relação ao dia da inoculação mensal de esterco bovino); a obtenção de amostras em

diferentes fases do processo de biodigestão; a intensidade de uso do vaso sanitário; e a diferença

de microclima dos locais de estudo, que pode ter favorecido ou não o processo de biodigestão.

(SOARES et al., 2016b)

A Tabela 3 informa as concentrações de DBO e DQO relativas às amostras de lodo

coletadas na FBCC. Conforme descrito, a concentração de matéria orgânica no lodo tende a

diminuir ao longo da FSB, apresentando uma redução maior entre o Reator 2 e o Reator 3.

Tabela 3 - Concentração de DBO e DQO na FSB: FBCC ( p=120 cm)

Reator 1

(p=120cm)

Reator 2

(p=120cm)

Reator 3

(p=120cm)

ERI

(p=120cm)

DBO (mg/L) 1289 ± 332 1052 ±578 731 ± 407 47 ±26%

DQO (mg/L) 15325 ±7062 15091 ±7365 9801±5773 31 ± 38%

𝐷𝐵𝑂

𝐷𝑄𝑂 (%) 10,8 ±8% 8 ±6% 8,5 ±6,2 -

5.2.7. Nitrogênio

Os processos de conversão da matéria nitrogenada na FSB foram avaliados por meio

dos parâmetros Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK) e Nitrogênio Amoniacal (NH4+ e NH3), sendo

que o primeiro será discutido com base apenas em dados secundários. Ao todo, o NTK foi

analisado em 07 estudos, sendo que 02 deles apresentaram dados sobre o afluente e efluente da

FSB; 02 retiraram amostras do 1º reator e do efluente final; e 03 forneceram dados apenas sobre

o efluente do sistema. Do mesmo modo, o NH4+ foi analisado em 04 estudos, sendo que 01

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65

deles apresentou dados do afluente e efluente; 01 retirou amostras do R1 e do efluente final; e

02 forneceram apenas dados relativos ou efluente final.

As análises realizadas na FBCC informam que a concentração média de NH4+ na água

fecal bruta é de 74,4± 32 mg/L; valor próximo do que foi identificado por Sharma et al. (2016)

(88.7 ± 19 mg/L), porém bastante superior à média dos esgotos sanitários brutos (20 a 35 mg/L

de NH4+).

Conforme exposto na Tabela 4, tanto os estudos de referência quanto as análises

realizadas na FBCC indicam que a concentração de NH4+ é maior dentro da FSB do que na

água fecal bruta, o que confirma a ocorrência do processo de amonificação ao longo deste

tratamento anaeróbio. De acordo com Metcalf & Eddy (2003) a amonificação consiste na

decomposição biológica dos compostos orgânicos nitrogenados – encontrados no esgoto bruto

sob a forma de proteínas, aminoácidos e ureia – que levam à formação do nitrogênio amoniacal.

Apesar da relação NH4+ /NTK ter sido abordada em apenas 04 estudos (o que dificulta a

inferência de dados acerca desta relação) os dados obtidos confirmam que este coeficiente é

maior na saída do que na entrada da FSB.

Nas análises realizadas nas amostras superficiais da FBCC, a concentração média de

amônia aumentou 4,5 vezes ao entrar na FSB, subiu 8% entre os reatores R1 e R2 e diminuiu

4% entre os reatores R2 e R3. Portanto, pode-se afirmar que a maior parte da matéria

nitrogenada é convertida em amônia logo no 1º reator, fazendo com a concentração deste íon

se mantenha quase constante ao longo do tratamento. Tal comportamento também foi relatado

por Pereira et al. (2018), que registou um aumento de 997% na concentração de NH4+ do esgoto

após a passagem pela FSB. Quanto à ligeira queda na concentração de amônia entre os reatores

R2 e R3, suspeita-se que esteja ligada ao aumento do oxigênio dissolvido, que poderia

contribuir para a nitrificação de parte dos íons NH4+ presentes no efluente.

Tabela 4 – Concentração de Nitrogênio na FSB: valores de referência e da FBCC (p=30cm)

Água

Fecal

Bruta

Reator 1

(p=30cm)

Reator 2

(p=30cm)

Reator 3

(p=30cm)

ERI

(p=30cm)

ERG

(p=30cm)

NH4+

(mg/L)

FBCC 74,5±33 353,5±23 393±45 372,6±15 0.01% - 446%

Valores de

referência 16,8² 314,5 -- 361,8±158 12% - 997%

NTK

(mg/L) FBCC -- -- -- -- -- --

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Valores de

referência

77,10 ± 6,64

304,33 ±112,43

-- 339,82 ±225

19% 49%17

𝑁𝐻4

𝑁𝑇𝐾 FBCC 21% 96% -- 87% -- --

-- : não se aplica

Observando a Figura 18, percebe-se que as amostras de lodo apresentam concentrações

de NH4+ um pouco superiores às das amostras superficiais, já que neste local existe uma maior

atividade microbiológica, que intensifica a degradação da matéria (orgânica) nitrogenada. Cabe

ressaltar que as concentrações de NH4+ encontradas no lodo da FSB nos três reatores (381 ± 41

mg/L; 403 ± 96 mg/L; e 407 ± 18 mg/L) foram muito acima daquelas registradas nos estudos

do PROSAB sobre lodo de fossa séptica (53 a 138 mg/L) (ANDREOLI, 2009).

Figura 18- NH4+ nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC

Os valores de saída da FSB apresentaram uma média de 372 ± 15 mg/L na FBCC e de

361±158 mg/L na literatura. Portanto, conforme esperado em um tratamento secundário, o

efluente deste sistema é bastante rico em nitrogênio amoniacal e apresenta grande potencial de

reúso em atividades agrícolas; já que a amônia é uma forma de fácil absorção deste nutriente

para os vegetais (CAMPOS, 1999).

Em se tratando do nitrogênio total (NTK), os estudos de Galavoti (2011) e Lotfi (2017)

apresentaram uma ERI média de 22% e 16%, respectivamente; enquanto Freitas et al. (2015)

obteve uma ERG de 49%. Estes números demonstram que, apesar do acúmulo de amônia ao

17 Apenas dois estudos apresentaram dados sobre a eficiência global de remoção do NTK. Como Campos et al.

(2015) apresentou um resultado incoerente em relação a este parâmetro (acúmulo de 135%, passando de 82 mg/L

na AFB para 192 mg/L no efluente), o valor de referência é baseado nos dados de Freitas et al. (2015)

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longo do tratamento, a FSB é capaz de remover do efluente quantidades consideráveis de

nitrogênio, provavelmente devido à sedimentação do nitrogênio orgânico na forma de sólidos

em suspensão (CAMPOS, 1999). Na contramão dos outros estudos, Pereira (2018) registrou

um acúmulo de 135% na concentração de NTK ao longo da FSB. Este aumento não foi

justificado, podendo ser atribuído a falhas no processo de amostragem ou análise do efluente.

Figura 19 - Concentração de NTK nos reatores da FSB de acordo com a literatura

Legenda: AFB: água fecal bruta; C1: reator 1; C3: reator 3

Sobre as concentrações de NTK na saída da FSB, percebe-se que estas oscilaram

bastante nos estudos analisados, com uma média de 340 ± 225 mg/L. Os maiores valores foram

apresentados por Faustino (2007b), quando a autora utilizou inóculo de esterco ovino ao invés

do bovino. No geral, a eficiência de remoção de NTK na FSB é bem maior do que aquelas

registradas por outros sistemas locais de tratamento de efluentes, como o biodigestor pré-

fabricado com filtro anaeróbio interno (ERG: 20%) (SHARMA & KAZMI, 2015).

5.2.8. Fósforo Total

O Fósforo Total foi avaliado em 08 estudos, sendo que 03 apresentaram dados do

afluente e efluente da FSB; 02 retiraram amostras do R1 e do efluente final; e 03 forneceram

apenas dados relativos ao efluente final.

Na FBCC a concentração de fósforo na AFB variou de 12,5 mg/L – em um dia no qual

coletou-se exclusivamente urina – a 36 mg/L. Enquanto isso, nos estudos de referência, a

concentração média de fósforo na água fecal bruta foi de 10.5 ± 8.6 mg/L. Tais concentrações

estão bem acima da média dos esgotos sanitários brutos (7 mg/L) e próximas do resultado

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apresentado por Gonçalves et al. (2014), de 20± 10mg/L de fósforo em águas fecais contendo

fezes, urina, água e papel higiênico.

Figura 20- Fósforo total nos reatores da Fossa Séptica Biodigestora: valores de referência e dados da FBCC

Analisando a Figura 20 percebe-se que a concentração de fósforo tende a ser maior no

interior do Reator 1 do que na AFB, o que pode ser explicado tanto pela influência do inóculo

no sistema – já que a concentração de fósforo no inóculo é seis vezes maior do que na AFB

quanto pela variabilidade na composição da água fecal bruta, típica de sistemas

descentralizados (ZAPATER; GROSS & SOARES, 2011). Neste caso, é importante lembrar

que a composição do esgoto no R1 (e nos demais) é resultado não do afluente do último dia,

mas de todo o último mês; o que pode significar que, em algum momento, os valores afluentes

foram maiores ou iguais ao do R1.

Tabela 5 - Concentração de Fósforo na FSB: valores de referência e FBCC (p=30cm)

AFB Reator 1

(p=30cm)

Reator 2

(p=30cm)

Reator 3

(p=30cm) ERI ERG

Ptotal

(mg/L)

FBCC 27,2±13 38,3±2 34,9±4 34,6±2 9 ± 6 % - 62 ± 100%

Valores de

referência 10 ± 8,5 72,1 ± 22 - 35 ±18 34 ± 29 % -121 ± 147%

Conforme exposto na Tabela 5, a concentração média de fósforo no sobrenadante do R1

da FBCC é de 38,3 mg/L, ou seja, 84% a mais do que a concentração afluente. Apesar deste

pico no início do tratamento, a quantidade de fósforo no esgoto diminui gradativamente ao

longo da FSB, atingindo uma eficiência de remoção (ERI) de 9%±6%. Tal comportamento

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também foi identificado por Galavoti (2011), Lotfi (2017) e Pereira et al. (2018), que

registraram ERI de 3; 37%; e 61% respectivamente.

Quanto à Eficiência de Remoção Global (ERG) deste nutriente, tanto os dados primários

quanto os secundários configuram valores negativos (expressando acúmulo) e com desvio

padrão muito alto. Este coeficiente depende diretamente da concentração de fósforo na AFB,

que, conforme exposto na Figura 20, é bastante instável.

De acordo com Lotfi (2017), a remoção de fósforo entre o 1º e o 3º reator da FSB está

associada com a capacidade das bactérias incorporaram o fósforo à massa de lodo. Tal hipótese

pôde ser confirmada pelos experimentos realizados na FBCC, que comprovam que a

concentração aumenta nas amostras inferiores na medida em que diminuem nas superiores. Isso

porque, no caminho que os flocos de biomassa percorrem no sistema (passando do R1 para o

R2 e R3) eles incorporam cada vez mais fósforo do sobrenadante, atingindo sua concentração

máxima no último reator.

Segundo Von Sperling (2007), a remoção eficiente de fósforo no tratamento biológico

de esgotos ocorre por meio da desfosfatação seguida da retenção da biomassa; o que ocorreria

somente a partir da alternância entre tratamentos aeróbios e anaeróbio. Considerando tais

condições, não é esperado de um tratamento anaeróbio uma remoção significativa de fósforo.

Porém, nos estudos de Lofti (2017) e Pereira et al. (2018) foi possível observar ERI’s de 30 e

67%, respectivamente, indicando que, por vezes, a FSB pode fugir à esta regra. Cabe ressaltar

que a eficiência de remoção de fósforo no sistema fossa-filtro é menor do que 35% (VON

SPERLING, 2007).

A concentração média de fósforo no efluente da FSB foi 34,7 mg/L ±1,7 nos dados

primários e 35,05 ±18 mg/L nos dados secundários. Tais valores são muito próximos um do

outro e assemelham-se aos 32,3 mg/L encontrados por Sharma et al.(2016) em seu estudo sobre

biodigestores pré-fabricados. Conforme explicitado no item 3.4, a concentração de nitrogênio

e fósforo no efluente não são fatores limitantes para o seu reúso agrícola, sendo inclusive,

desejadas grandes concentrações destes nutrientes.

Tabela 6 - Concentração de fósforo no lodo da FBCC

Reator 1

(p=120cm)

Reator 2

(p=120cm)

Reator 3

(p=120cm) ERI

Ptotal

(mg/L) FBCC 64,6±30.65 67,9 ±32 76,1 ± 37

- 25 ±

32%

Os valores expostos na Tabela 6 evidenciam um aumento progressivo da concentração

de fósforo no lodo dos reatores, com um acúmulo de 25 ± 32% após a passagem pelo tratamento

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e valor final de 76,1 ± 37 mg/L no R3. Tais valores estão bem abaixo daqueles descritos por

Sharma et al. (2016), que obteve 296 ± 83 mg/L de fósforo no lodo de seu biodigestor anaeróbio

e dos 250 mg/L considerados como usuais para os lodos de tanques sépticos (METCALF &

EDDY, 2003). Cabe ressaltar que, se a incorporação do fósforo na biomassa ativa é uma forma

de remoção deste nutriente ao longo do tratamento, a concentração de fósforo no lodo é

proporcional à idade do lodo.

5.2.9. Indicadores Biológicos

Sabendo que a FSB tem como finalidade o tratamento de águas fecais visando sua

adequação aos padrões de reúso agrícola, os microrganismos patogênicos e os indicadores de

contaminação fecal devem ser o cerne da discussão sobre o desempenho desta tecnologia. A

despeito da importância de tais parâmetros, apenas 10 estudos inclusos na revisão de literatura

produziram dados quantitativos acerca deles. Ainda assim, a única a realizar análise de

patógenos foi Soares et al. (2016a), que apresentou as concentrações de Escherichia coli, ovos

de helmintos, Ballantidium coli e Salmonela sp. no afluente e efluente final do sistema. Todos

os outros se ativeram apenas à quantificação do indicador de contaminação fecal mais comum,

isto é, a E. coli.

a) Escherichia coli

Em relação a este indicador, 05 estudos apresentaram dados do afluente e efluente do

sistema; 04 apresentaram dados sobre o Reator 1 e o efluente final; e 01 informou apenas a

concentração de E. coli no efluente final. Dentre eles, os estudos de Novaes (2002)18, Freitas et

al. (2015) e Campos et al. (2015) apresentam a FSB como um sistema de altíssima capacidade

de desinfecção, atingindo até 0 NMP/100 ml em seu efluente final. Devido tais valores serem

muito discrepantes em relação às demais pesquisas sobre a FSB e aos valores típicos de

efluentes de sistemas de tratamento de esgoto em geral (VON SPERLING, 2005), tais

publicações não foram utilizadas como referência nesta discussão. Os dados apresentados em

cada um dos estudos estão dispostos na Figura 21.

18 O comunicado técnico publicado por Novaes et al. (2002) afirma que a concentração de coliformes totais no

efluente da FSB foi de 1100 NMP/100ml em todas as análises realizadas. Para os coliformes fecais, esta foi de

3NMP/100ml nos dois primeiros meses e ausente nos subsequentes. Vale ressaltar que, por ter sido uma das

primeiras publicações sobre a FSB, o estudo de Novaes et al. (2002) tem sido citado em diversos materiais de

divulgação da FSB e em trabalhos científicos, ainda que estes valores pareçam pouco confiáveis se comparados

com os demais estudos que se tem até hoje sobre este sistema.

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Figura 21 – Concentração de E. coli na Fossa Séptica Biodigestora: dados da literatura.

*Legenda: AFB: água fecal bruta; R1: Reator 1; R3: Reator 3

Excetuando-se as três referidas pesquisas, a água fecal bruta apresentou uma média

geométrica de 4,9.108 NMP de E.coli/100ml nos experimentos da FBCC e 4,6.109 NMP de

E.coli/100ml na revisão de literatura. Tais concentrações estão dentro da faixa esperada pera

esgotos domésticos tradicionais (VON SPERLING, 2005) e acima daquelas amostradas em

diversos outros estudos, que registraram valores na ordem de 106 a 107 NMP de E.coli/100ml

na água fecal bruta (REBELO, 2011; SILVA et al.; 2013; SHARMA & KAZMI, 2015). Por

outro lado, as concentrações de E. coli identificadas no afluente FBCC estão muito próximas

daquelas registradas por Lanna (2018) na área rural de Ouro Preto, também na ordem de 108 a

1010 NMP/ 100ml. Esta semelhança apenas reforça a hipótese de que a composição da água

fecal varia de acordo com as características culturais e ambientais de cada localidade.

Todos os estudos encontrados na literatura declaram uma remoção de E. coli ao longo do

tratamento, que ocorre em maior ou menor grau, de acordo com a configuração da FSB ou sua

forma de manejo. Dentro do universo analisado, a ERG mínima (0,34 unidades logarítmicas)

foi registrada por Pereira et al. (2018) e a ERI máxima (3,04 Log10) foi registrada por Galavoti

(2011). O primeiro estudo analisou uma FSB padrão, construída e operada de acordo com as

instruções da Embrapa, enquanto que a FSB de Galavoti (2011) já não recebia inóculo e

continha um filtro de areia no lugar do 3º reator; o que auxiliou na remoção de sólidos suspensos

e, consequentemente, dos microrganismos.

Na FBCC, o ERI e o ERG médio foram respectivamente a 0,87 Log10 e 3,63 Log10. Um

fator a ser considerado ao comparar a eficiência FBCC frente a de outros sistemas é seu tempo

de detenção hidráulica (67 dias), quase três vezes maior do que aquele recomendado pela

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Embrapa (25 dias). Apesar de não haverem estudos correlacionando o TDH da FSB e a

eficiência de remoção de E. coli, entende-se que este TDH atípico favorece os processos de

remoção de patógenos do efluente.

Figura 22 – Concentração de E. coli na Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC

Quanto às concentrações de E. coli no 1º reator, os quatro autores que analisaram estas

amostras encontraram valores entre 106 e 107 NMP/100 ml, enquanto que a FBCC registrou

uma média de 5,8.105 NMP/100ml. Por meio das análises na FBCC, foi possível comprovar a

informação descrita na cartilha da Fundação Banco do Brasil (2010) de que a maior parte dos

microrganismos de origem fecal são removidos do efluente no 1º reator do sistema, já que a

concentração média passou da ordem de 109 NMP de E.coli/100ml na AFB para 105 NMP de

E. coli /100ml no R1.

Tabela 7- Concentração de E. coli nos reatores da FSB: dados da FBCC e valores de referência

Água Fecal

Bruta Reator 1 Reator 2 Reator 3

Estudos de

referência 4,69E+09 3,74E+06 - 5,67E+05

FBCC (30cm) 3,58E+09 2,18E+05 1,47E+05 2,88E+04

FBCC (120cm) - 1,06E+06 2,95E+05 2,16E+05

Conforme descrito na Tabela 7, as concentrações de E. coli nos lodos dos reatores é cerca

de 0,5 unidades logarítmicas maior do que no sobrenadante, o que sugere que parte dos

microrganismos removidos do efluente na verdade foram sedimentados nesta fração. De toda

forma, ainda que as concentrações de E. coli sejam maiores no fundo dos reatores, estas são

sempre menores do que na AFB e tendem a decair também ao longo do tratamento, atingindo

uma ERI média de 0,81 Log10. Este fato comprova a eficiência da FSB na remoção de

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patógenos, combinando os mecanismos de sedimentação com a redução devido a condições

ambientais adversas, como falta de alimento, variações no pH e competição/predação por outras

espécies (VON SPERLING, 2005).

Em relação ao efluente final, as concentrações de E. coli apresentadas pela FBCC

estiveram entre 3.103 e 1,5.105 NMP/100ml. Tais valores são muito próximos daqueles

apresentados nos demais estudos analisados (também na ordem de 103 a 105 NMP/100ml),

indicando que existe certo padrão de funcionamento desta tecnologia19. De forma geral, os

valores afluentes de E.coli registrados pela Fossa Séptica Biodigestora estão dentro da média

daqueles identificados em outros sistema locais para tratamento de águas fecais, como o reator

anaeróbio com chicanas (105 NMP/100ml), o sistema fossa-filtro (10³ NMP/100ml) e o

biodigestor pré-fabricado com filtro anaeróbio interno (105 NMP/100ml) (SILVA et al., 2013;

REBELO, 2011; SHARMA & KAZMI, 2015).

Estes resultados apontam que as concentrações efluentes da FSB estariam próximas do

limite sugerido por Bastos et al. (2008) para a irrigação restrita20, que deve ser ≤ 104

NMP/100ml no caso de contato do produtor rural com o fertilizante e ≤ 105 NMP/100ml caso

existam barreiras adicionais de proteção ao trabalhador. Segundo as diretrizes da OMS (WHO,

2006), considerando apenas a concentração de E. coli, este efluente poderia ser utilizado para:

fertirrigação no caso de culturas que se desenvolvem distantes do nível do solo (ex: frutíferas);

em cultivos de alto nível tecnológico e produção mecanizada; ou por meio de técnicas de

irrigação com elevado potencial de minimização da exposição (ex: irrigação subsuperficial)21.

Mesmo com as divergências relacionadas ao destino do lodo na FSB, sabe-se que, seja

em conjunto com o efluente, seja em um processo de remoção específico, o excesso de biomassa

depositado no fundo dos reatores deve ser retirado do sistema de tempos em tempos. Dessa

forma, torna-se oportuno avaliar também o potencial de uso agrícola deste resíduo, que

inclusive possui valor nutricional maior do que o próprio efluente.

19 O único estudo que apresentou desempenho insatisfatório em relação a este parâmetro foi o de Barbonni &

Rochetto (2014), no qual os locais de entrada e saída do efluente estavam invertidos. Neste caso, a concentração

de E. coli variou de 2,8.1013 NMP/100ml na AFB a 4,9.1012 NMP/100ml no efluente do sistema.

20 Irrigação superficial ou por aspersão ou cultivo hidropônico de qualquer cultura não ingerida crua, incluindo

culturas alimentícias e não alimentícias, forrageiras, pastagens e árvores.

21 Observar o Quadro 4 na revisão de literatura (pag. 28).

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b) Enterococcus spp.

Avançando na discussão sobre os riscos de contaminação microbiológica associados ao

efluente da FSB, o estudo realizado na FBCC inclui também os parâmetros “Enterococcus sp.”;

“Salmonella sp” e Adenovírus Humano (HAdV).

Conforme descrito na Figura 23, os Enterococcus apresentaram comportamento próximo

ao que foi observado para a E. coli, com maiores concentrações nas amostras de lodo e remoção

ao longo do tratamento, em ambas as fases dos reatores. A água fecal bruta apresentou

concentração média de 2,1.106 NMP de Enterococcus/100ml, valor ligeiramente mais altos do

que os 104 a 105 NMP/100ml apontados por Von Sperling (2005) como comuns no esgoto

doméstico.

Figura 23 – Concentração de Enterococcus spp. na Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC

Tabela 8 – Concentração de Enterococcus spp nos reatores da FBCC (NMP/100ml)

AFB Reator 1

(p=30cm)

Reator 2

(p=30cm)

Reator 3

(p=30cm)

ERI

(Log10)

ERG

(Log10)

FBCC (30cm) 2,12E+06 1,38E+05 3,43E+03 1,26E+03 1,87 3,06

FBCC (120cm) -- 8,69E+05 8,83E+04 7,22E+04 1,16 --

-- : Não se aplica

A principal diferença observada entre os Enterococcus spp. e a E. coli. foi a menor

redução entre a AFB e o R1, tanto no sobrenadante quanto no lodo. Percebe-se que, ao entrar

no sistema, o afluente sofre uma redução de apenas 1,2 Log10 de Enterococcus, apresentando

concentrações na ordem de 105 tanto no lodo quanto no sobrenadante. Por outro lado, a maior

remoção destas bactérias acontece entre os reatores 1 e 2, quando o sobrenadante passa

apresentar concentrações na ordem de 10³ e o lodo na ordem de 104 NMP/100ml.

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Tal comportamento pode ser explicado por uma maior resistência dos Enterococcus às

condições adversas existentes dentro do reator (METCALF & EDDY, 2003), fazendo com que

o TDH necessário para sua inativação seja maior do que para a E. coli; o que resulta também

em um maior acúmulo destes microrganismos no lodo dos reatores.

A legislação francesa para reúso agrícola de águas residuárias (JORF, 2016), também

baseada nas diretrizes da OMS (WHO, 2006), apresenta a concentração de Enterococccus spp.

como um dos critérios utilizados para a definição de suas classes de uso. Isolando este

parâmetro dos demais critérios utilizados, os valores efluentes obtidos pela FBCC permitiram

o uso do seu efluente para irrigação de: hortaliças, frutíferas e leguminosas transformadas por

um tratamento térmico industrial adaptado; pastagem (desde que os animais estejam distantes

no momento da aplicação); flores vendidas individualmente; viveiros, arbustos e outras culturas

ornamentais; forragem fresca; cereais e outras culturas forrageiras; e culturas frutíferas22.

A diferença de comportamento entre os indicadores E. coli e Enterococcus spp. alerta

para as limitações deste primeiro indicador, que ainda é o mais utilizado no Brasil, mas

apresenta-se como menos resistente do que outros grupos de microorganismos.

c) Salmonella sp.

A análise das amostras da FBCC em relação à Salmonella sp. demonstrou certa

irregularidade de sua presença ao longo das coletas. Contudo, também foi possível perceber a

redução tanto de sua frequência quanto de suas concentrações ao longo dos três reatores.

A Salmonella sp. esteve presente em todas as amostras de AFB coletadas, com

concentração entre 102 e 104 UFC/ml, exatamente na faixa esperada para os esgotos domésticos

segundo Von Sperling (2005).

Também foi identificada a presença deste patógeno em 60% das amostras coletadas no

Reator 01; 40% das amostras do R2; e 20% do R3. Estes valores, em conjunto com as

concentrações apresentadas na Tabela 9, evidenciam a remoção de Salmonella sp. ao longo do

tratamento na FSB, de modo que ela apresentou ausência em 80% das amostras do efluente

final. Tal frequência foi exatamente a mesma do que a encontrada por Soares et al. (2016b) em

seu estudo sobre este sistema.

22 Proibido durante o período de floração até a colheita de frutos não processados, exceto no caso de

irrigação por gotejamento.

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Tabela 9 – Concentração de Salmonella sp. nos reatores da FBCC (UFC/ml)

Coletas AFB Reator 1

(p=30cm)

Reator 2

(p=30cm)

Reator 3

(p=30cm)

Reator 1

(p=120cm)

Reator 2

(p=120cm)

Reator 3

(p=120cm)

A * 1** 1 2,0E+03 1 1,0E+02 1

B * 1,0E+02 1 1 1 8,0E+02 1

C 2,0E+04 1,5E+02 2,0E+02 1 2,0E+03 1,0E+02 1

D 1,0E+03 1 2,0E+01 1 1 3,0E+01 5,0E+01

E 1,0E+02 4,0E+03 1 1 2,5E+03 1,0E+03 1,0E+02

Média G. 7,25E+01 3,59E+01 5,25E+00 4,57E+00 2,19E+01 1,89E+02 5,49E+00

*Amostras não coletadas

** Nas ocasiões em que houve ausência de Salmonella sp. utilizou-se o número 1 para tornar possível o cálculo

da média geométrica.

Assim como para os demais indicadores biológicos analisados, verificou-se que parte

das salmonellas também sedimentam no fundo do reator, sofrendo um decaimento natural ao

longo do tratamento. Destaca-se a maior concentração desta patógeno no lodo do Reator 2, no

qual as Salmonellas estiveram presentes em todas as amostras coletadas.

d) Adenovírus Humanos (HAdV)

Assim como para os Enterococcus, a concentração de adenovírus identificada na água

fecal bruta (1,8.107 UFP/ml) foi bem acima do padrão encontrado em esgotos domésticos brutos

(102 a 104 vírus entéricos/ml) segundo Von Sperling (2005); o que indica uma maior

periculosidade da água fecal se comparada com o esgoto doméstico. Porém, se os Enterococcus

(bactérias) se apresentaram em concentrações próximas no lodo e no sobrenadante do Reator

01, o extremo contrário aconteceu com os HAdV (indicadores virais).

Devido a maior parte dos vírus ficar retida na camada de lodo presente na entrada da

FBCC, este sistema apresentou grande diferença entre as concentrações de vírus na AFB e

amostra superficial do R1, o que não significa necessariamente que houve uma redução na

concentração destes microrganismos dentro do reator.

Tabela 10 – Concentração de HAdV nos reatores da FBCC (UFP/ml)

AFB Reator 1

(p=30cm)

Reator 2

(p=30cm)

Reator 3

(p=30cm)

ERI

(Log10)

ERG

(Log10)

FBCC (30cm) 1,84E+07 3,52E+04 1,09E+04 1,81E+04 0,25 2,5

FBCC (120cm) - 3,35E+06 1,41E+06 5,08E+04 1,82 -

Segundo Silva (2010), um dos principais fatores que influenciam o comportamento dos

vírus em estações de tratamento de efluentes é o teor de sólidos suspensos nos reatores, já que

estes tendem a adsorvem as partículas virais e ‘ditar’ sua movimentação ao longo do tratamento

(BRADFORD et al., 2006). Comparando o gráfico apresentado na Figura 24, com os valores

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de SST da Figura 15 percebe-se com clareza essa correlação; que explica tanto a diferença entre

as concentrações de vírus no lodo e no sobrenadante, quanto a “remoção” destes

microrganismos em cada estágio do tratamento.

Figura 24 - Concentração de HAdV na Fossa Séptica Biodigestora: dados da FBCC

A persistência dos adenovírus junto ao lodo do reator, ao mesmo tempo que resulta em

uma redução de 2,5Log10 destes patógenos após o tratamento na FSB, torna ainda mais

preocupante a incerteza sobre o destino final do lodo deste sistema. Isto porque a concentração

média de HAdV presente no lodo do Reator 3 é 100 vezes maior do que costuma ser encontrado

em esgotos brutos e 100.000 vezes maior do que a dose infectante para seres humanos (VON

SPERLING, 2005).

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5.3. Análise do ciclo de funcionamento da FSB

Um dos fundamentos da Fossa Séptica Biodigestora é o percurso diferenciado de sua

biomassa, que, à priori, seria deslocada de um reator para o outro, até ser eliminada do sistema

em conjunto com o efluente ou ser reduzida via metabolismo endógeno (SILVA; MARMO &

LEONEL, 2017). Dessa forma, não haveria acúmulo significativo de biomassa nos reatores e,

portanto, sua eficiência na remoção de matéria orgânica seria prejudicada (VON SPERLING,

1996).

Como forma de “corrigir” esta situação, convencionou-se inserir mensalmente 10L de

uma mistura com 50% de água e 50% esterco bovino, que serviria como um inóculo de

biomassa, capaz de aumentar a eficiência do sistema na remoção de matéria orgânica e

contribuir para a remoção de microrganismos patogênicos em seu interior (GALINDO et al.,

2010; SILVA, 2012).

O Quadro 6 (pag. 37) aponta que a inserção mensal de inóculo foi um fator questionado

por pelo menos cinco das doze publicações analisadas na revisão de literatura. Contudo,

nenhum deles apresentou resultados conclusivos sobre a real necessidade de inserção periódica

deste inóculo, nem sobre sua quantidade ou frequência de aplicação. Buscando contribuir com

este processo, a terceira parte desta pesquisa expõe as variações percebidas nos parâmetros

analisados na FCBB ao longo dos seis dias amostrados, sendo três anteriores à inserção do

esterco e três posteriores à esta inserção. As características do inóculo, já diluído na proporção

supracitada, e os gráficos explicitando a variação de cada parâmetro analisado estão dispostos

nas Figuras 25, 26, 27, 28 e 29.

Tabela 11 – Características do Inóculo de esterco bovino inserido na FBCC no referido ciclo

Quantidade DQO

(mg/L)

Fósforo Total

(mg/L)

Nitrogênio Amoniacal

(mg/L)

10L 19472,3 165 mg/L 61,5

E. coli

(NMP/100ml)

Enterococcus spp

(NMP/100ml)

HAdV

(UFP/ml)

Salmonela sp.

(UFC/ml)

3,69E+07 2,42 E+07 Não detectado Não detectado

A primeira alteração percebida em decorrência da adição de esterco foi o aumento súbito

na concentração de sólidos totais da amostra superficial do primeiro reator. Este comportamento

– conforme descrito na Figura 25 – relaciona-se principalmente com o acréscimo na

concentração dos sólidos em suspensão voláteis, que por sua vez indica uma maior atividade

microbiológica neste reator (biomassa ativa). Com a inserção do inóculo, o R1 recebe, ao

mesmo tempo, uma grande carga de microrganismos e um aporte incomum de matéria orgânica;

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já que o esterco possui uma concentração de DQO aproximadamente 50 vezes maior do que a

da água fecal bruta.

Enquanto estes dois fatores propiciam um aumento de 350 mg/L na concentração de

biomassa (SSV) do R1, o R2 se mantém estável em relação a este parâmetro e registra

aditamento apenas na concentração de sólidos dissolvidos – o que sugere uma intensificação da

digestão da matéria orgânica neste reator nos primeiros dias do ciclo. Esta hipótese é

confirmada pela Figura 25, no qual observa-se que existe uma diferença de aproximadamente

80 mg/L entre a DBO registrada um dia antes da inserção do esterco e aquela do 11º dia do

ciclo, tanto no R2 quanto no R3.

A inserção do esterco na FBCC resultou em um salto da eficiência de remoção interna

(ERI) de DBO, de 16% – no dia antes da inserção do esterco – para 90% – no 11º dia do ciclo.

A partir deste dia, a eficiência voltou a diminuir, tendendo a atingir concentrações próximas

àquelas verificadas nas primeiras coletas. Com esta constatação, é possível fazer as seguintes

reflexões:

a. O fato da eficiência na remoção de DBO aumentar nos dias subsequentes à adição de

esterco sugere que, caso este inóculo não seja inserido, a FSB tende a se manter – a longo prazo

– nos níveis de remoção verificados antes da inserção do inóculo. Esta tese é corroborada pelos

resultados da FSB de Galavotti (2011) que, mesmo após a passagem do efluente por um filtro

de areia, obteve uma ERI média de 45%. Portanto, a inserção de esterco parece ser importante

para manter uma boa remoção de matéria orgânica no sistema.

b. Se a concentração de DBO no interior dos reatores muda de acordo com o dia do ciclo de

funcionamento da FSB, o período no qual é realizado a coleta influencia diretamente nos dados

apresentados pelas pesquisas, tanto em termos de desempenho do sistema na remoção de

matéria orgânica, quanto em suas concentrações efluentes. Dessa forma, em estudos futuros é

necessário especificar o dia do ciclo em que se coletou a amostra para que possam ser feitas as

comparações necessárias.

Partindo para uma análise do lodo na FSB, percebe-se uma nítida queda na concentração

de sólidos totais de todos os reatores a partir do dia da inserção do inóculo. Portanto, se a carga

afluente anômala de DBO aumentou a concentração de matéria orgânica no sobrenadante do

R1, no fundo deste reator a adição de esterco ocasionou o processo de decaimento endógeno,

aumentando a concentração de microrganismos sem prover substrato o suficiente para o

desenvolvimento de todos. Tal interferência ocasionou um rápido consumo do excedente de

matéria orgânica existente nos lodos e propiciou a autodigestão da massa celular dentro dos três

reatores da FBCC.

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Diferente do que aconteceu com a DBO da fase líquida, que permaneceu baixa mesmo

vários dias após a adição do esterco, a concentração de SSV nos lodos dos reatores voltou à

suas condições “originais” entre o 8º e o 11º dia do ciclo. Dessa forma, a adição do esterco não

contribuiu de forma concreta para a estabilização da biomassa no sistema, nem em termos de

redução da relação SSV/SST nem de remoção de patógenos.

Em relação à E. coli, os dados obtidos demonstram que a inserção do inóculo ocasionou

um aumento de sua concentração no sobrenadante de todos os reatores, ainda que o esterco

tenha apresentado concentração próxima e até mesmo inferior à da AFB. Tal fato pode estar

ligado à movimentação de sólidos decorrente deste processo, ocasionando um deslocamento

destes microrganismos do lodo para a fração líquida. Comportamento semelhante foi verificado

para os Enterococcus, que aumentaram de concentração apenas na fase líquida do R1 e

mantiveram-se em concentrações estáveis nos outros dois reatores, o que também pode estar

relacionado com o fato de que o inóculo apresenta concentração de Enterococcus spp. 1,06

unidades logarítmicas maior do que a água fecal afluente.

Quantos aos adenovírus e Salmonella sp., identificou-se uma ampla variação de sua

concentração ao longo dos dias coletados, porém não foi possível estabelecer correlação entre

essa e a inserção do inóculo. De qualquer maneira, sendo a E. coli o indicador de contaminação

fecal mais consolidado neste âmbito, a variação de sua concentração efluente ao longo do ciclo

sugere também uma variação do desempenho da FSB em relação à remoção de patógenos.

Assim como para a DBO, esta informação deve ser levada em consideração, tanto em projetos

que preveem a utilização deste efluente como fertilizante quanto em pesquisas científicas

dedicadas a este aspecto.

Outro parâmetro que apresentou comportamento cíclico no sistema foi o oxigênio

dissolvido. Conforme esperado, todas os pontos da FSB apresentaram menor teor de oxigênio

dissolvido no 8º dia do ciclo, quando a atividade microbiológica atingiu sua maior intensidade.

Ademais, esta etapa do trabalho pôde confrontar hipótese levantada no item anterior, de que a

temperatura interna dos reatores é influenciada mais pelo ambiente externo do que pelos

processos de degradação da matéria orgânica (SOARES et al., 2016b). Conforme observa-se

na Figura 30, tanto no lodo quanto na fase líquida, as temperaturas apresentaram valores mais

altos entre o 8º e o 15º dia do ciclo, quando a atividade de degradação da matéria orgânica foi

maior em todos os reatores. Tal fato, porém, não significa necessariamente uma independência

em relação ao meio externo, na medida em que também houve um ligeiro aumento na

temperatura ambiente no referido período. Por fim, não foi possível identificar qualquer

influência do inóculo na concentração de nutrientes nem no pH dos reatores.

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Figura 25 – Variação das concentrações de ST, SST e SSV ao longo do ciclo da FSB*

Profundidade de 30 cm (sobrenadante)

Profundidade de 120 cm (lodo)

*Obs: No 18º dia não foram analisadas as amostras de lodo e no 24º dia não foi feita análise de nenhum tipo de sólido.

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Figura 26 - Variação das concentrações de DBO, DQO e OD ao longo do ciclo da FSB*

Profundidade de 30 cm (sobrenadante)

Profundidade de 120 cm (lodo)

*Obs: Não foi realizada análise de DBO no 24º dia.

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Figura 27 - Variação das concentrações de E. coli, Enterococcus spp. e HAdV ao longo do ciclo da FSB*

Profundidade de 30 cm (sobrenadante)

Profundidade de 120 cm (lodo)

*Obs: Os indicadores microbiológicos não foram analisados no 24º dia.

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Figura 28- Variação das concentrações de Salmonella, NH +4 e Fósforo Total ao longo do ciclo da FSB

Profundidade de 30 cm (sobrenadante)

Profundidade de 120 cm (lodo)

*Obs: Os indicadores microbiológicos não foram analisados no 24º dia.

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Figura 29 - Variação das concentrações de pH e temperatura ao longo do ciclo da FSB

H= 30 cm

H = 120 cm

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5.4. Reflexões sobre a Fossa Séptica Biodigestora

Os estudos publicados de 2001 a 2018 sobre a FSB apresentam diversas variações

construtivas e, principalmente, de manejo do sistema. De toda forma, o conjunto dos resultados

obtidos demonstra que esta tecnologia apresenta um bom desempenho no tratamento anaeróbio

de águas fecais, cumprindo satisfatoriamente os objetivos de um tratamento secundário como

entendido por Metcalf e Eddy (2003); ou seja, a remoção de matéria orgânica biodegradável e

de sólidos em suspensão.

Os valores da literatura e da FBCC comprovam uma ótima capacidade de remoção de

matéria orgânica biodegradável, atingindo índices maiores do que 90% de remoção de DBO,

dependendo da época da coleta (em relação à adição de inóculo) e do TDH do sistema. Em

relação à matéria orgânica não biodegradável, parte dela é retida nos reatores via sedimentação

e parte é descartada junto com o efluente final, notadamente na forma de biomassa. Conforme

verificado no estudo de Faustino (2007), tal “excedente” de matéria orgânica presente no

efluente tem mostrado efeitos positivos após aplicação no solo, aumentando o teor de carbono

orgânico total e favorecendo, portanto, o desenvolvimento das culturas agrícolas.

Além da redução do teor de matéria orgânica a concentrações adequadas às atividades

agrícolas, outro ponto positivo da FSB é sua capacidade e gerar um efluente com altos teores

fósforo e nitrogênio. Tais nutrientes configuram substâncias essenciais ao crescimento dos

vegetais e estão presentes na maior parte dos adubos químicos utilizados na agricultura familiar.

A partir dos dados apresentados, o presente trabalho confirma o grande potencial de uso

da FSB dentro das diretrizes do saneamento ecológico, fornecendo um efluente que atua como

condicionador do solo e contribui para a diminuição da dependência da agricultura familiar em

relação aos insumos do agronegócio. Entretanto, o fato da FSB fornecer um efluente adequado

do ponto de vista agrícola (FAUSTINO, 2007) não é suficiente para que esta tecnologia seja

entendida como apropriada para uso em projetos de saneamento rural.

De acordo com ESREY et al., (1998), um sistema de saneamento que vise contribuir

com a redução da desigualdade social e a sustentabilidade de forma ampla deve atender – ou

pelo menos estar a caminho – dos seguintes critérios:

1. Prevenir doenças: O sistema de saneamento deve ser capaz de destruir ou

isolar patógenos fecais; 2. Ser acessível: Um sistema de saneamento deve ser acessível às pessoas mais pobres do mundo; 3. Proteger o meio ambiente: Um

sistema de saneamento deve prevenir a poluição, devolver os nutrientes ao

solo e conservar os valiosos recursos hídricos; 4. Ser aceitável pela

comunidade: Um sistema de saneamento deve ser esteticamente inofensivo e

coerente com valores culturais e sociais; 5. Simples: Um sistema de

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saneamento deve ser robusto o suficiente para ser facilmente mantido com as

limitações da capacidade técnica local, estrutura institucional e recursos

econômicos; 6 Estar alinhado aos princípios do saneamento ecológico: a

implementação bem-sucedida da visão de EcoSan e a aplicação desses

critérios exigem um entendimento do saneamento como um sistema (ESREY

et al., 1998, p.5).

Entendo a importância de uma análise sistêmica das tecnologias voltadas para o

saneamento rural, o presente item visa reunir as informações coletadas a partir de todas as etapas

desta pesquisa e avaliar a FSB a partir dos critérios estabelecidos pelo autor acima.

Prevenção de doenças

A avaliação do desempenho da FSB na redução do teor de patógenos do efluente final

foi um dos principais avanços alcançados por meio deste estudo. Conforme descrito no item

5.2.9, a remoção de indicadores biológicos foi bastante satisfatória para um sistema anaeróbio,

atingindo concentrações efluentes de E. coli na ordem de 10³ a 105 NMP/100ml e eficiência de

remoção por volta de 3,6 unidades logarítmicas (Log10). Ademais, foram alcanças eficiências

de remoção de 1,2 unidades logarítmicas para Salmonella sp.; 3,06 para Enterococcus spp. e

2,5 para HAdV.

Se por um lado tal desempenho é superior ao do tanque séptico convencional e da fossa

seca – principais formas de tratamento de esgoto em comunidades rurais brasileiras –, por outro,

é importante lembrar que ele ocorre majoritariamente às custas de sedimentação destes

patógenos no lodo dos reatores. Assim, além da concentração de patógenos no efluente, há que

se considerar também a fração que ficou retida nos reatores e que, em algum momento, deverá

ser tratada. Como a necessidade de remoção da biomassa nos reatores ainda é uma questão sem

consenso na literatura, este fato reforça a importância da realização de pesquisas que

aprofundem o entendimento sobre a cinética das reações na FSB, com ênfase no processo de

respiração endógena – que segundo Silva, Marmo & Leonel (2017) é o mecanismo que

possibilita a não retirada de lodos do sistema.

Apesar dos valores efluentes de E. coli serem, na média, adequados para as categorias

de irrigação restrita, alguns estudos sobre a FSB apresentam valores efluentes próximos ou até

mesmo acima dos limites recomendado pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2006) e

por Bastos et al. (2008). Portanto, dependendo das características do afluente (água fecal bruta),

tais concentrações podem facilmente chegar a níveis não aceitáveis, acarretando em riscos à

saúde pública maiores do que aqueles previstos nestas diretrizes. Outro fator agravante é o

pequeno número de estudos que avaliaram outros indicadores microbiológico no efluente da

FSB, o que dificulta um enquadramento mais adequado destes nas referidas classes de uso. Um

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exemplo disso é a concentração de ovos de helmintos, que, a despeito de ser um dos principais

parâmetros utilizados pela OMS, só foi avaliado até hoje por uma autora (SOARES et al.,

2016b) e somente em relação à presença/ausência.

Visando contribuir para uma diminuição dos riscos associados ao uso agrícola do

efluente da FSB, sugerem-se os seguintes cuidados adicionais no manejo da FSB:

• Utilização de EPI’s e vestimentas adequadas no momento de contato com o efluente;

• Retirada do efluente preferencialmente por meio de uma bomba se sucção lenta, que

não provoque o revolvimento dos sólidos sedimentados no fundo do Reator 3 e ofereça

ao produtor a possibilidade de visualizar a cor e turbidez do líquido que está sendo

coletado. Dessa forma, será possível identificar visualmente a concentração de sólidos

em suspensão do efluente e interromper a coleta no limite em que ela seja maior do que

a usual, evitando coletar os vírus e bactérias normalmente agregados a estes sólidos.

• Utilizar o efluente da FSB preferencialmente através de métodos de irrigação que

minimizem a exposição do produtor (irrigação subsuperficial ou irrigação por

gotejamento) e que permitam tempo suficiente para decomposição dos patógenos antes

das colheitas.

• Ainda como forma de minimizar os riscos desta atividade, sugere-se que sejam

realizadas mais pesquisas que abordem a concentrações de ovos de helmintos, vírus e

outros patógenos no efluente da FSB, bem como o comportamento destes indicadores

no solo e nos vegetais com ele irrigados. Sabendo que tanto a E. coli quanto os

Enterococcus spp. apresentaram concentrações maiores no período próximo à adição do

esterco, um objeto de estudo interessante seria também o comportamento cíclico destes

microrganismos a longo prazo, buscando a identificação padrões que possibilitem

estipular dias de menor e maior concentração de patógenos, tanto no sobrenadante

efluente quanto no lodo.

Por fim, caso se chegue à conclusão de que é necessária a remoção periódica do lodo

dos reatores, outro desafio – que influenciaria totalmente a viabilidade de implantação da FSB

em áreas rurais – seria desenvolver formas de extração e manejo do lodo, propiciando a inserção

segura deste recurso no ciclo dos nutrientes em propriedades rurais.

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Proteção do meio ambiente

A FSB é, desde sua concepção, uma tecnologia bastante avançada em termos de redução

de impactos ambientais. Transformando um resíduo líquido em fonte de nutrientes e matéria

orgânica para o solo, este sistema não só contribui para a manutenção do equilíbrio ecológico

das áreas onde é implantado, como diminui a demanda por adubos químicos e os diversos

impactos associados fabricação e uso destes adubos.

Além do bom desempenho da FSB no tratamento secundário, a disposição do efluente

da FSB no solo também configura um tipo de “pos-tratamento”, favorecendo a absorção dos

nutrientes pelos vegetais e até certo grau de remoção de patógenos. Este último acontece por

meio da filtração em biofilmes que se criam na superfície do solo, predação, adsorção nas

partículas de solo, irradiação solar e dessecamento (CHERNICHARO, 1997).

Acessibilidade e aceitação/ apropriação pela comunidade

De acordo com Silva (2013), o preço médio de construção de uma FSB para uma família

de até 5 pessoas é de R$1.500,00. Apesar deste valor estar próximo do investimento necessário

para implantação do tanque séptico – R$1.100,00 a R$ 2.400,00 (GIGLIO, 2011) – e de outros

sistemas do mesmo tipo – ex.: biodigestor pré-fabricado: R$1.600,00 (ACQUALIMP, 2017) é

importante levar em conta que a maior parte da população no campo não tem condições

financeiras de arcar com os custos de um sistema de tratamento de esgoto. Em 2010, dos quase

30 milhões de residentes nas zonas rurais do Brasil, 16.5 milhões (55% do total) integram

famílias com renda mensal per capita inferior a meio salário mínimo, sendo consideradas pobres

pelos critérios oficiais do IBGE (HESPANHOL, 2014).

Isto posto, um fator de primeira importância quando se fala de “acessibilidade às

comunidades” é justamente a responsabilidade do Estado na garantia de meios adequados de

saneamento para o atendimento da população rural, incluindo neste campo os serviços de coleta

e tratamento do esgoto doméstico (BRASIL, 2007). Dessa forma, pode-se dizer que a FSB e

qualquer outra tecnologia com a mesma finalidade apenas será acessível ao seu público-alvo se

desenvolvidas políticas públicas que propiciem esta acessibilidade. Exemplo disso foi o caso

dos biodigestores de domo fixo na China, onde o Estado promoveu formações técnicas e

incentivos fiscais que propiciaram a disseminação desta tecnologia ao longo das últimas

décadas (GREGORY, 2010).

Outro ponto relevante no diálogo ente a FSB e as questões socioeconômicas do campo

é o potencial do uso agrícola de esgotos na redução da pobreza e segurança alimentar das

comunidades (WHO, 2006). Diante disso, técnicas de manejo ou modificações construtivas que

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tornem este sistema mais eficaz na remoção de patógenos seriam importantes para ampliar suas

categorias de uso, atingindo, além de “culturas que se desenvolvem distante do nível do solo”,

hortaliças e plantas medicinais, essenciais para a manutenção da saúde e segurança alimentar

dos agricultores familiares.

As formas de apropriação da FSB e sua “aceitação” em projetos de saneamento rural no

Brasil não puderam ser abordadas de forma qualitativa nesta pesquisa. Para mais informações

sobre o assunto, sugere-se a consulta dos estudos publicados por Ramos (2017); Martinetti

(2015) e Britto (2009).

Simplicidade

A FSB, da forma como se apresenta hoje nas cartilhas e manuais de construção, é um

sistema bastante simples, que utiliza como técnicas de manejo apenas a inserção mensal de

esterco e a retirada do efluente do último reator após o seu preenchimento. Todavia, os

resultados obtidos nesta pesquisa apresentam indícios de que tais técnicas de manejo não

fornecem a segurança adequada aos produtores que a utilizam, na medida em que possibilitam

o contato com um efluente ainda com elevadas concentrações de patógenos. A inserção de

“cuidados adicionais”, conforme sugerido nos itens anteriores, deve agregar certa

complexidade ao manejo do efluente, o que ocasionalmente pode influenciar em sua

acessibilidade e aceitação pela comunidade.

A grande questão é: como tornar seguro e “simples” o reúso agrícola do efluente de um

sistema local, considerando as significativas variações na qualidade e quantidade da água fecal

bruta afluente do sistema? E mais: como viabilizar isso em um país ainda sem uma

regulamentação do reúso agrícola de águas residuárias e sem modelos de gestão em saneamento

adequados à realidade socioeconômica e cultural das áreas rurais? Longe de ser uma razão para

vetar o uso da Fossa Séptica Biodigestora, todos estes desafios devem ser considerados quando

se reflete sobre a simplicidade que se requer para este tipo de sistema.

Ainda no tema simplicidade x eficácia/segurança, outra questão pertinente são as

diversas adaptações construtivas e de manejo identificadas no estudos aqui discutidos (Quadro

6). A exemplo do sistema de Cachoeira do Campo (FBCC), cuja motivação da entrada pela

parte inferior do Reator 1 foi resultado de uma simples “confusão” do pedreiro que a construiu,

estas adaptações são inevitáveis e, inclusive, fazem parte do caráter de Tecnologia Social da

FSB. Ou seja, de uma tecnologia que se propõe “a ser desenvolvida e praticada na interação com a

população e apropriada por ela”(RODRIGUES; BARBIERI, 2008).

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Sobre os desafios que permeiam a disseminação de tecnologias sociais em políticas públicas,

Costa (2013, p.13) afirma que:

“Pensar em tecnologia social como estratégia de inclusão pela via governamental

requer uma série de cuidados e a superação de muitos desafios (...). Por exemplo, ao

implementar uma tecnologia social como política pública, corre-se o risco de impor

uma padronização desta tecnologia, perdendo de vista a dimensão da produção e

construção com os saberes, práticas e especificidades das comunidades participantes.

A depender da metodologia adotada para reaplicação e dos arranjos desenhados entre

Estado e sociedade civil, essas características seminais de uma tecnologia social

podem se perder, levando a situações de replicação de tecnologias em uma perspectiva

difusionista, o que obviamente deixaria de se caracterizar como tecnologia social. ”

Tendo em vista o desafio inerente à escolha de tecnologias sociais como propostas para

o tratamento de esgoto em áreas rurais, é importante lembrar que a participação da população

é sempre sugerida como forma de garantir a efetividade da solução tecnologica, pois “a vivência

cotidiana da população com a situação problema, aliada a seus conhecimentos e suas diferentes

formas de saberes, lhes confere capacidade de participar do processo de pesquisa e

desenvolvimento da tecnologia” (COSTA, 2013, p.19).

Partindo deste pressuposto, uma possível alternativa para minimizar os riscos à saúde

associados ao reúso agrícola do efluente da FSB seria o desenvolvimento de métodos

qualitativos – e participativos – de análise deste efluente. Um exemplo disso são os Protocolos

de Avaliação Rápida – PAR de rios, que geram dados representativos da qualidade dos

ecossistemas fluviais ao longo do tempo, sem que sejam necessários custos altos e profissionais

especializados no assunto (BIZZO; MENEZES & ANDRADE, 2014).

Alinhamento com as diretrizes do saneamento ecológico

A partir do que se discutiu no item 3.3, a priori a FSB cumpre todos os principais requisitos para

ser considerada uma tecnologia alinhada ao saneamento ecológico. Ou seja: é um sistema

descentralizado; que trata um efluente separado desde a sua fonte; e que tem como objetivo principal o

reúso de um dos subprodutos deste tratamento. Por outro lado, destaca-se que estes critérios também

não são suficientes e que “não existe um conjunto específico de tecnologias que se encaixe dentro do

paradigma do saneamento ecológico; já que as próprias tecnologias de saneamento não são sustentáveis

por si, mas apenas em relação a como elas são utilizadas em seu ambiente

imediato”(LANGERGRABER & MUELLEGGER, 2005).

Desse modo, não cabe neste item uma avaliação da FSB como tecnologia isolada de sua

realidade, mas sim de como tem ocorrido a integração da FSB com os demais subsistemas de produção

e a adaptação das propriedades rurais à atividade de reúso agrícola de águas residuárias. Tais

informações não puderam ser levantadas por meio desta pesquisa, devendo também ser investigadas

com mais profundidade em estudos futuros.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

1. A revisão de literatura identificou uma clara concentração da produção científica sobre a

FSB no eixo Sul-Sudeste e principalmente no estado de São Paulo, onde localiza-se a

Embrapa Instrumentação Agropecuária. Junto a isso, foi constatado que cerca de 42% dos

materiais publicados sobre este sistema possui algum tipo de ligação com a Embrapa, o

que significa que até hoje esta instituição continua à frente de grande parte das pesquisas

relacionadas à FSB e de seus projetos de implantação. A abordagem mais recorrente nas

publicações avaliadas foram os relatos de projetos de implantação da FSB (36%), seguida

de materiais que fazem a descrição da tecnologia a partir de dados secundários (24%).

Estudos que produziram dados primários sobre o desempenho da FSB no tratamento de

águas fecais somam 16% do total, ou seja, 17 estudos.

2. A FSB apresenta um bom desempenho no tratamento anaeróbio de águas fecais e alcança

satisfatoriamente os objetivos de um tratamento secundário. A temperatura, o oxigênio

dissolvido e o pH interno do sistema mostraram-se adequados à digestão anaeróbia em

todos os estudos analisados. Os dados da literatura e da FBCC apontaram uma ótima

capacidade de remoção de matéria orgânica biodegradável, atingindo índices maiores do

que 90% de remoção de DBO, dependendo da época da coleta e do TDH do sistema. O

tratamento também possui capacidade de gerar um efluente com altos teores fósforo e

nitrogênio, que pode atuar como condicionador do solo e contribuir para a diminuição da

dependência da agricultura familiar em relação aos insumos agrícolas externos.

3. A amostragem em duas profundidades diferentes na FBCC evidenciou o acúmulo de lodo

na parte inferior dos reatores, onde ficou retida parte da matéria orgânica carbonácea, do

fósforo e dos microrganismos patogênicos removidos do efluente. Por conseguinte,

constatou-se que todos os valores apresentados na literatura estavam muito distantes das

características identificadas neste lodo, o que dá indícios de que os demais autores que

avaliaram o desempenho da FSB coletaram amostras apenas na porção superior dos

reatores. Dessa forma, não existe até o momento dados sobre a taxa de produção de lodo

neste sistema nem consenso sobre a necessidade ou periodicidade de remoção de tal

resíduo.

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4. A FBCC apresentou uma capacidade de remoção de 3,63 Log10 para E. coli; 1,2 Log10

para Salmonella sp., 3,06 Log10 para Enterococcus spp. e 2,5 Log10 para HAdV. As

concentrações médias destes indicadores no efluente foram respectivamente 2,8.104

NMP/100 ml; 4,57 UFC/ml de Salmonella sp; 1,26.10³ NMP/100ml de Enterococcus spp.

e 1,81.104 UFP/ml de HAdV. Considerando as recomendações da OMS, este efluente pode

ser utilizado para: fertirrigação no caso de culturas que se desenvolvem distantes do nível

do solo (ex: frutíferas); em cultivos de alto nível tecnológico e produção mecanizada; ou

por meio de técnicas de irrigação com elevado potencial de minimização da exposição (ex:

irrigação subsuperficial)

5. O estudo de um ciclo de funcionamento da FSB revelou que após a adição de esterco

bovino na FSB registra-se o aumento da concentração de biomassa no sobrenadante do

Reator 1 e um processo de decaimento endógeno no lodo dos três reatores. Além disso,

verificou-se um incremento de 74% na eficiência de remoção da DBO nos dias posteriores

à adição do inóculo e aumento da concentração de E. coli no sobrenadante de todos os

reatores. Não foram identificadas alterações relevantes decorrentes da adição do inóculo

no pH, na concentração de nutrientes, nas concentrações de Salmonella sp e de HADV.

6. Potencialidades da FSB: é uma tecnologia social de baixo custo e simples manejo, capaz

de transformar um efluente que normalmente seria descartado em corpos hídricos em fonte

de nutrientes e matéria orgânica para o solo; obedece aos princípios do saneamento

ecológico; contribui para a autonomia produtiva e segurança alimentar dos agricultores

familiares e para a diminuição do consumo de fertilizantes químicos; ajuda na manutenção

do equilíbrio ambiental nas áreas onde está implantada.

7. Limitações da FSB: a variabilidade na qualidade e na vazão do afluente dificulta o controle

dos usuários sobre as concentrações efluentes de sólidos, matéria orgânica, nutrientes e,

principalmente, de indicadores microbiológicos; as alterações em aspectos construtivos e

no manejo resultantes da interação da tecnologia com a comunidades também dificultam o

controle sobre o desempenho do sistema, agregando maior risco ao uso agrícola de seu

efluente; ausência de regulamentação brasileira sobre o reúso agrícola de efluentes

domésticos; possível necessidade de remoção periódica do lodo; risco de contaminação de

produtores e consumidores em caso do manejo inadequado do efluente.

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8. Sugere-se como temas para estudos futuros:

▪ O monitoramento a longo prazo do ciclo de funcionamento da FSB, buscando padrões

de comportamento nos parâmetros físicos, químicos e, sobretudo, nos indicadores

microbiológicos;

▪ A cinética das reações na FSB, com ênfase no processo de respiração endógena;

▪ Desenvolvimento de formas de extração e manejo seguro do lodo produzido na FSB;

▪ Análise do desempenho do sistema na remoção de ovos de helmintos em termos

quantitativos;

▪ Avaliação da correlação entre o TDH do sistema e sua eficiência de remoção de

patógenos e matéria orgânica;

▪ Testes com inserção do inóculo em intervalos maiores do que um mês e

acompanhamento dos sistemas a longo prazo;

▪ Avaliação do nível de integração da FSB com os demais subsistemas existentes em

propriedades rurais de pequeno porte;

▪ Desenvolvimento de métodos qualitativos de análise do efluente da FSB (Protocolos de

Avaliação Rápida);

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APÊNDICE A – METODOLODIA DE ANÁLISE DE ADENOVÍRUS HUMANOS

Concentração das amostras para análise viral:

As partículas virais foram concentradas pelo método de Polietilenoglicol, seguindo o

protocolo descrito por Fongaro et al. (2014). Para este procedimento foram utilizados 20mL de

amostras dos sistemas, acrescidas de 20 ml de solução fosfato-salina (PBS 1×). Em tubos de

centrífuga, foram adicionados 20 ml de cada amostra e inoculados 200 µL de Cloreto de

alumínio (AlCl3), o pH foi ajustado para 3,5 e as amostras permaneceram em agitação durante

30 min. Após 2500 g por 30 min de centrifugação, o sobrenadante foi descartado e

o pellet ressuspendido em 10 ml de tampão glicina [0,25M – pH 9,5]. As amostras

permaneceram sob agitação durante 1h e posteriormente o pH foi ajustado para 7,0. As amostras

foram novamente centrifugadas, a uma velocidade de 10.000 g durante 30 min a 4ºC e

posteriormente o sobrenadante foi coletado e transferido para um novo tubo de centrifuga.

Adicionou-se 8% de Polietielenoglicol (PEG) 6000 ao sobrenadante coletado, deixando-se sob

agitação por 2h a 4ºC. Após isso, as amostras foram centrifugadas a 10000 g por 90 min a 4ºC,

o sobrenadante foi descartado e o pellet ressuspendido em 20 ml de PBS 1× [0,1 M – pH 7,2].

Por fim, as amostras foram aliquotadas em tubos Eppendorf de 2 ml de onde seguiram para

análises de viabilidade viral, imediatamente.

Cultivo de células animais

Células A549, derivada de carcinoma de pulmão humano, permissivas à infecção in

vitro pela maioria dos Adenovírus humanos, obtida através da American Type Culture

Collection (ATCC), foram cultivadas em garrafas com filtros acoplados às tampas e área de

crescimento de 125 cm², utilizando Meio Minimo Essencial Dulbecco com sais de Eagle’s e

alta concentração de glicose (DMEM high glucose 1x) (Gibco), suplementado com 5% de Soro

Fetal Bovino (SFB) (Gibco) e 1% de Piruvato de Sódio [100 mM] (Gibco).

Citotoxicidade amostraL

Para determinação da citotoicidade das amostras, as células A549 foram cultivadas na

densidade 3,0×105 células/ml em placas de 24 poços, durante 24h até atingirem a confluência.

Inicialmente, foram realizadas diluições das amostras em Minimum Essential Medium Eagle

(MEM 1×) nas proporções: 1:10; 1:100 e 1:1000. Em seguida, a monocamada celular foi lavada

uma vez com PBS 1×. Foram inoculados 150 µL das amostras nas respectivas diluições, em

duplicada, permanecendo durante 60 min a 37ºC sob atmosfera de 5% de CO2, com intervalos

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de 15 min para homogeneização das amostras. Posteriormente, o inóculo foi aspirado e o meio

de manutenção (DMEM high glucose suplementado com 4% de SFB, 2% de antibióticos PS

[(Penicilina G [100 U/ml] e Sulfato de estreptomicina [100 µg/ml]), 2% de Anfotericina B

[0,025 µg/ml], 2% de Cloreto de Magnésio (MgCl2 [25 mM] e 1% de Piruvato de sódio [100

mM]), foi adicionado. Durante o período de 5 dias, foram realizadas observações diárias em

microscópio invertido, a fim de verificar possíveis alterações morfológicas nas células.

Quantificação de Adenovírus infecciosos

a. Ensaios de Placas de lise

Com objetivo de quantificar os Adenovírus humano infecciosos, utilizou-se o ensaio de

formação de Placas de Lise, adaptado de Cromeans et al., 2008. As células A549 foram

cultivadas na densidade de 3,0x105 células/ml em placas de 6 cavidades. Após 2 confluência,

as células foram infectadas com o fluído viral de HAdV-2 (controle positivo), meio de

crescimento (controle negativo) e com amostras concentradas para quantificar HAdV

infecciosos.

Para as amostras, foram utilizadas diluição não citotóxica (1:100) inoculado diretamente

em DMEM alta glicose 1×. As monocamadas celulares foram inoculadas com 300 ul de cada

diluição amostral, em triplicata, incubadas por 60 min a 37ºC sob atmosfera de 5% de CO2,

realizando homogeneização em intervalos de 15 min. Após, adicionou-se o meio de manutenção

composto por DMEM alta glicose 2× suplementado com 2% de piruvato de sódio [100 mM],

2% de PS, 2% de Anfotericina B [0,025µg/mL], 2% de MgCl2 e de 4% SFB, sendo diluídos

em volume igual de Bacto-ágar (BD Biosciences) a 0,6%, previamente aquecido a 56°C. Em

cada cavidade da placa, adicionou-se 2,5 ml dessa mistura e incubou-se a 37°C em atmosfera

de 5% de CO2. Após o período de incubação de 5 dias o meio foi aspirado e a monocamada

celular fixada e corada com 1 ml da solução de Cristal Violeta. O número de Unidades

Formadoras de Placas (UFP) foi contabilizado.