Cerâmicas Porosas Obtidas a Partir de Hidróxidos de ... · percurso, aos meus pais Carlos e...

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Cerâmicas Porosas Obtidas a Partir de Hidróxidos de Magnésio e Alumínio Aluno: Rafael Alvim Regattieri Orientação: Prof. Dr. Rafael Salomão São Carlos, Julho de 2015

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Cerâmicas Porosas Obtidas a Partir de

Hidróxidos de Magnésio e Alumínio

Aluno: Rafael Alvim Regattieri Orientação: Prof. Dr. Rafael Salomão

São Carlos, Julho de 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS – EESC

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS - SMM

CERÂMICAS POROSAS OBTIDAS A PARTIR DE

HIDRÓXIDOS DE MAGNÉSIO E ALUMÍNIO

São Carlos, Julho de 2015.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Materiais (SMM), Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), como parte dos requisitos para conclusão do curso de Graduação em Engenharia de Materiais e Manufatura e na Universidade de São Paulo

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Dedico este trabalho antes de tudo a Deus que sempre me guiou durante todo o

percurso, aos meus pais Carlos e Silvia, meu irmão Felipe, meu primo Arthur, minha

madrinha Maristela, aos meus avós Waldemar, Lídia, Norberto e Magdalena. A

todos os meus colegas de classe que também são meus irmãos e ao meu

orientador, Rafael Salomão, mestre e amigo.

Obrigado a todos!

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Agradecimentos

A Universidade de São Paulo, a Escola de Engenharia de São Carlos

(EESC/USP) e ao Departamento de Engenharia de Materiais (SMM) e todo o

pessoal de apoio do nosso departamento que tornam possível o nosso trabalho na

melhores condições possíveis, meu muito obrigado.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Rafael Salomão, por toda a ajuda e apoio dado

ao longo do projeto.

A Alcoa Alumínio (Brasil), a Almatis (Brasil e Alemanha), a Magnesita

Refratários SA (Brasil) pela doação das matérias-primas e materiais necessários ao

desenvolvimento dessa pesquisa.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por

realizar o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e à

FAPESP (2010/19274-5) que tornaram este projeto possível.por meio de seu apoio

financeiro.

Aos técnicos do Departamento de Engenharia de Materiais da EESC-USP,

Silvano, Pedro, Tico e João pela ajuda com os ensaios, procedimentos e por

compartilharem toda a sua experiência comigo.

Aos colegas de laboratório Pedro, César, Lucíola, Adriane e Leandro que me

acompanharam e ajudaram, tanto tecnicamente como com companheirismo, durante

todo o processo.

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Resumo

REGATTIERI, R. A. Cerâmicas Porosas Obtidas a Partir de Hidróxidos

de Alumínio e Magnésio. Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de Engenharia

de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014.

Esse trabalho apresenta os resultados do estudo de cerâmicas porosas

obtidas a partir de hidróxido de magnésio e hidróxido de alumínio combinadas em

diferentes proporções em uma matriz de alumina. O objetivo dessa pesquisa foi

entender os mecanismos de formação de poros a partir da combinação de diferentes

proporções dos hidróxidos citados, que tem função porogênica, com alumina. Foram

preparadas diversas suspensões a partir da mistura dos pós cerâmicos. As

suspensões, depois de prontas, foram colocadas em um dispositivo de extrusão

para preparar as macroesferas. As amostras para análise foram preparadas a partir

do processo de gelcasting na presença de alginato de sódio para aglutinar a

suspensão cerâmica. Com várias macroesferas preparadas a partir da combinação

de diferentes proporções volumétricas de alumina com os hidróxidos, as amostras

foram então sinterizadas em diferentes temperaturas para a comparação das

porosidades obtidas em relação à temperatura de queima, a partir do princípio de

Arquimedes. Verificou-se que a composição da estrutura porosa é de grande

importância para manutenção dos poros em alta temperatura. As composições mais

porosas foram aquelas onde houve a formação da fase espinélio (MgAl2O4) e

espinélio com excesso de alumina. Esse efeito está associado à dificuldade

intrínseca que esse material tem em densificar. Em seguida, foram preparadas

estruturas cerâmicas formadas pelas macroesferas porosas dispersas em uma

matriz densa de alumina ligada com alumina hidratável (ligante inorgânico).

Verificou-se que tais estruturas apresentaram boa homogeneidade sem presença de

trincas ou outros defeitos.

Palavras-Chave: microestrutura cerâmica, gelcasting, porosidade, macroesferas.

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Abstract

REGATTIERI, R. A. Cerâmicas Porosas Obtidas a Partir de Hidróxidos

de Alumínio e Magnésio. Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de Engenharia

de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014.

This work presents results of porous ceramic study btained from magnesium

and aluminum hydroxide combined in different proportions wtih an alumina matrix.

The objective of this research was to understand pore forming mechanisms from

different combination proportions of hydroxides cited, which has porogênic function

with alumina. Several suspensions were prepared with this ceramic powders. The

suspensions after ready, were placed in an extruder to prepare BEADS. Samples for

analysis were prepared from gelcasting process made in the presence of sodium

alginate to bind the ceramic suspension. With several BEADS prepared from the

combination of different volumetric proportions of alumina hydroxides, samples were

sintered at different temperatures to compare the porosities obtained in relation to the

firing temperature using the Archimedes method. It was found that the composition of

the porous structure is very important for the maintenance of pores for high

temperature. The compositions with more porous were those where there was the

formation of spinel phase (MgAl2O4) and spinel with excess alumina. This effect is

associated with the intrinsic difficulty that this material has to densify. Then, the

porous ceramic structures were formed with BEADS spread and dispersed in a

dense alumina matrix made by hydratable alumina (inorganic binder). It was found

that such structures showed good homogeneity without the presence of cracks or

other defects..

Keywords: Ceramics microstructure, gelcasting, porosity, (BEADS).

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Lista de Figuras

Figura 1: Distribuição X Dispersão (SALOMÃO, 2012) ............................................. 23 Figura 2: (a) Gráfico típico de CPFT (esquerda) e (b) PSD (direita) (SALOMÃO,

2012) ......................................................................................................................... 24 Figura 3: Representação do método da decomposição de compostos inorgânicos

hidroxilados ou carbonatados para produção de cerâmicas macroporosas

(SALOMÃO, 2012). ................................................................................................... 26 Figura 4:Diagrama de equilíbrio do sistema MgO-Al2O3 (fonte:

http://www.crct.polymtl.ca/fact/phase_diagram.php?file=Al-Mg-O_MgO-

Al2O3.jpg&dir=FToxid) .............................................................................................. 28 Figura 5: Hélice utilizada nos testes de avaliação do comportamento reológico das

suspensões cerâmicas contendo ligantes poliméricos (elaborada pelo autor), ......... 32 Figura 6:Exemplo do programa de dispersão com a) rotação constante de modo a

avaliar b) o efeito de cada adição do dispersante ao sistema. (elaborada pelo autor)

.................................................................................................................................. 33 Figura 7:Exemplo do a) programa de rotação imposto pelo equipamento, b) leitura

dos valores de torque requeridos e c) valores médios de torque em função da

rotação. ..................................................................................................................... 34 Figura 8:Esquema do mecanismo de gotejamento da suspensão de alumina

contendo alginato de sódio em solução coagulante, Ca(NO3)2. (elaborada pelo

autor). ........................................................................................................................ 37 Figura 9:Molde utilizado para produzir a peça cerâmica (elaborada pelo autor) ....... 38 Figura 10:Determinação do teor ideal de DAC na suspensão de alumina pura e com

diferentes teores de alginato de sódio. ...................................................................... 41 Figura 11:Potencial zeta para a) Al2O3 e b) Al(OH)3 na presença dos dispersantes

DAC e PCE-2. ........................................................................................................... 42 Figura 12:Representação esquemática do mecanismo de adsorção das moléculas

de PCE-2 na superfície das partículas cerâmicas. .................................................... 42 Figura 13:Determinação do teor ideal PCE-2 nas suspensões de alumina e hidróxido

de alumínio. ............................................................................................................... 43 Figura 14:Macroesferas (aproximadamente 1 mm de diâmetro) produzidos por

extrusão..................................................................................................................... 44 Figura 15:Comparação das porosidades tendo Al(OH)3 como agente porogênico. . 45 Figura 16:Comparação das porosidades tendo o Mg(OH)2 como agente modificador.

.................................................................................................................................. 46 Figura 17:Peça desmoldada após secagem (verde) ................................................. 47 Figura 18:Observação da seção transversal da peça ............................................... 49 Figura 19: Observação da seção longitudinal da peça .............................................. 49

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Proporções volumétricas para preparação das microesferas com

Al(OH)3.........................................................................................................................35

Tabela 2 - Proporções volumétricas para preparação das microesferas com

Mg(OH)2.....................................................................................................................35

Tabela 3: Características das matérias-primas utilizadas.(*Almatis,

EUA)...........................................................................................................................39

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Sumário

Agradecimentos .......................................................................................................... 9

Resumo ..................................................................................................................... 11

Abstract ..................................................................................................................... 13

Sumário ..................................................................................................................... 19

1. Introdução ........................................................................................................... 21

1.1. Objetivos: ..................................................................................................... 22

2. Revisão Bibliográfica .......................................................................................... 23

2.1 Distribuição, Dispersão de Suspensões e Potencial Zeta (ζ): ...................... 23

2.2 Distribuição de Tamanho de partícula: ......................................................... 24

2.3 Preparação de Cerâmicas Porosas.............................................................. 25

2.4 Gelcasting .................................................................................................... 28

2.5 Sinterização ................................................................................................. 29

3. Materiais e Métodos............................................................................................ 31

3.1-Caracterização das matérias-primas ............................................................... 31

3.2-Dispersão das suspensões: ............................................................................. 31

3.3-Preparação das suspensões para o gotejamento das macroesferas .............. 35

3.4-Gotejamento das macroesferas: ...................................................................... 36

3.5-Caracterização da Porosidade: ........................................................................ 37

3.6-Preparação da suspensão da matriz: .............................................................. 38

3.7-Preparação das peças: .................................................................................... 38

4. Resultados e Discussão ..................................................................................... 39

4.1-Caracterização das matérias-primas: .............................................................. 39

4.2-Dispersão das suspensões: ............................................................................. 39

4.3- Gotejamento das Macroesferas: ..................................................................... 44

4.4-Porsidade: ........................................................................................................ 45

4.5-Macroestruturas: .............................................................................................. 47

4.6-Observação das Peças: ................................................................................... 48

5. Conclusões ......................................................................................................... 51

6. Referências Bibliográficas .................................................................................. 53

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1. Introdução

Cerâmicas porosas têm sido bastante estudadas devido ao seu grande

campo de aplicação como isolantes térmicos em processos industriais que envolvam

geração, troca ou manutenção de calor. Esse bom desempenho se explica pelo fato

desses materiais combinarem a baixa condutividade térmica dos materiais porosos

com a refratariedade das cerâmicas.

Um ponto que ainda necessita aprimoramento e estudo em relação a seu

desempenho, é a manutenção da capacidade de isolamento térmico em

temperaturas elevadas (acima de 1300ºC). Nesses casos, a densificação promovida

pela sinterização, reduz a quantidade de poros, comprometendo o desempenho do

material. A sinterização é o fenômeno que envolve a união, das partículas

empacotadas, a partir de diversos mecanismos, tendo como consequências a

redução dos níveis de porosidade, o aumento na resistência mecânica e retração.

Como alternativa para minimizar esse problema inerente da sinterização,

neste trabalho, foram preparadas diferentes combinações de alumina (Al2O3),

hidróxido de magnésio (Mg(OH)2) e hidróxido de alumínio (Al(OH)3), com a finalidade

de encontrar proporções que podem simultaneamente gerar poros (hidróxidos de

magnésio e alumínio após sua decomposição) e formar compostos resistentes à

densificação.

Trabalhos na literatura indicam que a preparação de estruturas porosas a

base de espinélio (MgAl2O4) apresentam boa resistência à densificação devido à

inerente dificuldade de sinterização que este composto apresenta. Isso ocorre

devido à expansão volumétrica que acompanha a formação deste composto e ao

fato de ele formar soluções sólidas (com excesso de Al2O3 ou MgO) em uma

extensa faixa de composição e temperatura (favorecendo assim crescimento de grão

em detrimento da sinterização). Embora esse efeito possa causar danos mecânicos

em cerâmicas densas, pode ter grande aplicação tecnológica em estruturas porosas

para isolamento térmico em alta temperatura.

Com o objetivo de minimizar a formação de fases de baixa refratariedade,

voláteis tóxicos e conferir resistência mecânica à verde, agentes ligantes orgânicos

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têm sido utilizados no lugar de compostos inorgânicos. Destaca-se entre eles o

polímero natural alginato de sódio, proveniente da extração do ácido algínico de

algas marinhas marrons, disponível comercialmente como um sal de alginato,

geralmente de sódio.

1.1. Objetivos:

O trabalho tem como objetivo obter estruturas porosas, com porosidades

acima de 50% em temperaturas de sinterização elevadas (1500ºC) e que sejam

resistentes à densificação.

A obtenção dessas estruturas deve ser feita via consolidação por gelcasting e

queima em diferentes temperaturas.

Por fim deseja-se incorporar as macroesferas em uma matriz densa de

alumina.

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2. Revisão Bibliográfica

2.1 Distribuição, Dispersão de Suspensões e Potencial Zeta (ζ):

Um dos meios mais utilizados para a preparação de peças cerâmicas é a

moldagem de suspensões aquosas, onde a aglomeração e a decantação das

partículas são evitadas com o uso de dispersantes ou defloculantes (GALASSI,

2006). A Figura X a seguir exemplifica os mecanismos de distribuição e dispersão de

partículas em uma suspensão aquosa:

Figura 1: Distribuição X Dispersão (SALOMÃO, 2012)

Uma suspensão estável deve combinar a presença dos dois fatores, a

distribuição espacial das partículas e sua dispersão para reduzir o número de

aglomerados. Para conseguir essas características, necessita-se entender o

conceito de potencial zeta (ζ). O PZ pode ser definido de forma geral como a

resultante das cargas elétricas positivas e negativas no plano de cisalhamento da

dupla camada que envolve as partículas em suspensão. O pH no qual o potencial

zeta (ζ) é nulo é chamado de ponto isoelétrico. Neste pH, a repulsão entre as

partículas é mínima e a suspensão flocula, resultando em um fluido muito viscoso.

No entanto, se o pH da suspensão estiver suficientemente distante do ponto

isoelétrico, ela poderá se manter dispersa e com baixa viscosidade, o que facilita,

por exemplo a extrusão da suspensão.

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Para que a dispersão ocorra, é necessário que seja alcançada uma condição

de equilíbrio entre as forças de atração e repulsão entre as partículas e a força de

gravidade. A função do dispersante é evitar aglomerações de partículas, o que pode

ser conseguido tornando-as eletricamente carregadas. Para isso modifica-se o pH

da suspensão adicionando-se uma base (OH- ) ou um ácido (H+ ). Quando as

cargas das partículas são idênticas, há uma repulsão eletrostática entre elas. Se

estas forças são suficientes para superar a atração de van der Waals, o sistema

ficará bem disperso. (OLIVEIRA, 2000). Uma suspensão bem dispersa mostra um

comportamento próximo ao newtoniano, em contraste com a floculada, que tem um

comportamento pseudoplástico. (SCHRAMM, 2006). Esse comportamento

newtoniano é o que é desejado para a manufatura da suspensão.

2.2 Distribuição de Tamanho de partícula:

Durante a caracterização das matérias-primas, é necessário conhecer qual o

tamanho das partículas que serão usadas e como elas se distribuem. A distribuição

do tamanho de partícula é muito importante para mecanismos como, por exemplo, o

empacotamento. Uma ferramenta que ajuda a entender a distribuição de partícula é

o gráfico de CPFT (Cumulative perfcent finer than, Figura 2a). Essa curva mostra as

informações sobre como é a distribuição de tamanho das partículas na matéria-

prima, relacionando o tamanho com a distribuição da amostra estudada e

comparando os diâmetros das partículas.

Figura 2: (a) Gráfico típico de CPFT (esquerda) e (b) PSD (direita) (SALOMÃO, 2012)

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Sendo assim, valores típicos são importantes para essa análise, o D50 e o D90.

O D50 mostra que 50% da população é menor do que esse diâmetro de partícula,

pode-se entender essa informação como o tamanho médio das partículas, e o D90

mostra que 90% das partículas são menores do que o diâmetro analisado, logo essa

informação apresenta o valor máximo da população.

A outra curva que auxilia essa análise é a curva típica de distribuição de

tamanho de partícula (particle size distribution, PSD, Figura 2b). Esse gráfico deve

ser analisado em conjunto com o do CPFT, como a Figura 2 nos mostra, a curva

PSD nos dá a informação de como os tamanhos estão distribuídos, e tem o formato

típico de uma curva gaussiana.

2.3 Preparação de Cerâmicas Porosas

Estruturas cerâmicas macroporosas são definidas como aquelas formadas

por um sistema bifásico contendo uma matriz cerâmica densa, formada por um meio

contínuo, e uma fase porosa (mínimo de 50 %volume) com tamanho médio de poros

(DP) acima de 50 nm. (STUDARD et al, 2006). Essas estruturas podem ser obtidas a

partir de uma ampla variedade de métodos, levando a um grande número de

possibilidades em relação à quantidade, geometria e distribuição de tamanho de

poros. Para o caso desse trabalho, onde a preparação dos materiais foi feita por via

de suspensões com compostos inorgânicos hidroxilados, a discussão será

concentrada nesse método e em como ocorre a decomposição desses compostos.

No método da decomposição de compostos inorgânicos hidroxilados, essas

partículas (por exemplo, argilas, Al(OH)3, Mg(OH)2, CaCO3, entre outros possíveis)

são introduzidas na matriz cerâmica durante a mistura das suspensões.(DENG,

FUKASAWA, ANDO, 2001). A Figura 3 apresenta o esquema do mecanismo de

formação de poro por decomposição de hidróxidos durante a sinterização.

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Matriz de Al2O3

a) Após a consolidação b) Durante a calcinação

Composto hidroxilado ou

carbonatado (Ex.: Al(OH)3)

Compostos de transição (Ex.: -

Al2O3): retração volumétrica,

alta área superficial e

porosidade intrapartícular

c) Início da sinterização d) Fim da sinterização

• Compostos de transição: redução da

área superficial, formação de fases

mais estáveis (Ex.: -Al2O3)

• Matriz densa: contração volumétrica

• Matriz densa +

porosidade residual

Figura 3: Representação do método da decomposição de compostos inorgânicos hidroxilados ou carbonatados para produção de cerâmicas macroporosas (SALOMÃO, 2012).

Durante o aquecimento inicial, dois mecanismos principais são responsáveis

pela geração de poros; uma fração da porosidade ocorre por conta da contração

volumétrica decorrente da decomposição dos compostos inorgânicos hidroxilados,

por exemplo, o Al(OH)3, liberando o espaço ao redor das partículas (Figura 3b). As

outras porções de poros formados vêm da elevada quantidade de defeitos, trincas e

irregularidades superficiais observados na superfície das partículas do material

recém-decomposto.(SALOMÃO, VILLAS-BÔAS, PANDOLFELLI, 2011).

Continuando o aquecimento, as fases de transição se estabilizam (Figura 3c),

diminuindo sua área superficial. Alguns cuidados são necessários para se utilizar

esse método; as rampas de aquecimento devem ser suaves e cuidadosas para

evitar a pressurização da estrutura na hora da saída do vapor de água, e a escolha

racional dos compostos hidroxilados ou carbonatados para que não haja formação

de fases de baixo ponto de fusão devido a reações com a matriz densa.

Comparados à outros métodos, este apresenta menor preocupação com

liberação de compostos voláteis tóxicos, isso porque trata-se de compostos

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inorgânicos e, devido à sua natureza sólida, estável e pouco reativa, podem ser

facilmente incorporados em diversas matrizes cerâmicas (inclusive concretos

refratários isolantes), utilizando-se os mesmos sistemas de dispersão e de ligantes.

(SALOMÃO, 2012).

Estruturas porosas obtidas a partir de óxido e hidróxido de alumínio

(respectivamente, Al2O3 e Al(OH)3) tem forte apelo tecnológico pela facilidade de

processamento que apresentam (mesmas condições de dispersão e ausência de

fases de baixa refratariedade) e por seu baixo custo. .(DENG, FUKASAWA, ANDO,

2001). Durante sua decomposição (250-400ºC), o hidróxido de alumínio (HA) sofre

uma contração volumétrica de aproximadamente 60%, gerando poros com

dimensões da ordem de 100 nm a 10 nm (SALOMÃO, VILLAS-BÔAS,

PANDOLFELLI, 2011). A combinação desses elementos pode gerar estruturas com

porosidade entre 50-80 %, após sinterização a 1000-1100ºC, variando-se o teor de

HA adicionado à formulação.

No entanto, quando a temperatura de sinterização ultrapassa esses valores,

há uma significativa redução de porosidade que ocorre mais intensamente nas

amostras com maior teor de Al(OH)3. Essa redução está associada à sequência de

transformações de fases que acompanha a decomposição do hidróxido de alumínio

(ZHOU R., SNYDER, R.L, 1991). Acima de 1000ºC a formação de partículas muito

pequenas de α- Al2O3 provenientes da decomposição do HA aumentam

significativamente a força motriz para a sinterização, o que por sua vez reduz a

porosidade.

Outros trabalhos apontam soluções para minimizar a forte tendência à

sinterização nesses casos. Um dos métodos avaliados na literatura, que apresentam

sucesso quando as cerâmicas são expostas por longos períodos de tempo a altas

temperaturas, é o uso de partículas de hidróxido de alumínio com menor área

superficial. (SHAN, CHOKSHI, RAJ, 2008). Essa substituição atrasa a formação da

α- Al2O3, diminuindo assim a força motriz para sinterização. Outros trabalhos

investigaram a introdução de elementos que dificultem a sinterização e a conversão

da alumina de transição em alumina alfa, como por exemplo, a combinação com

MgO (SALOMÃO, 2012).

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Na medida em que o aquecimento do material contendo MgO prossegue, a

sua combinação com Al2O3 começa a gerar espinélio (MgAl2O4) por volta de

1200ºC, ao longo da região em que os ocorreu a formação de poros. Por se tratar de

um composto tipo solução sólida, com ampla faixa de solubilidade na faixa de

temperatura de trabalho (900-1994ºC) (Figura 4) e apresentar uma significativa

expansão volumétrica no momento de sua formação, o espinélio possui forte

tendência a crescimento de grãos e baixa força motriz para sinterização e

densificação, o que garante uma melhor estrutura porosa.( BAYLEY J.T., RUSSEL

JR, 1968).

Fração molar (Al2O3/(Al2O3 + MgO)

Te

mp

era

tura

(°C

)

Figura 4:Diagrama de equilíbrio do sistema MgO-Al2O3 (fonte: http://www.crct.polymtl.ca/fact/phase_diagram.php?file=Al-Mg-O_MgO-Al2O3.jpg&dir=FToxid)

2.4 Gelcasting

A investigação e desenvolvimento de processos e técnicas inovadoras para a

fabricação de componentes cerâmicos avançados e sua aplicação estratégica, é

esforço de cientistas e engenheiros ao redor do mundo.

A conformação de geometrias complicadas com microestrutura homogênea é

o principal objetivo a ser alcançado, a fim de minimizar o custo de fabricação e

otimizar as propriedades do produto final.(RANJITH KUMAR, 2007). O esforço

contínuo nesta área resultou em uma infinidade de técnicas de conformação de

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29

componentes, desde o preenchimento convencional dos moldes até técnicas de

preenchimento diretas, como a técnica do gelcasting, que faz uso das propriedades

inerentes de suspensões cerâmicas densas para transformar-se num gel.

O gelcasting foi inicialmente desenvolvido por Omatete (OMATETE ET AL,

1991) e baseia-se nos conceitos derivados da conformação cerâmica tradicional e

da formação e química de polímeros. Gelcasting consiste em preparar uma

suspensão cerâmica com uma alta fração de sólidos combinado com uma solução

de monômero orgânico em um molde não poroso para que a rede polimérica deja

formada in-situ para manter as partículas de cerâmica em conjunto conferindo

resistência mecânica à peça verde. (JANNEY ET AL, 1998).

O uso dessa técnica é importante para a pesquisa, porque ela, além de

permitir o gotejamento da suspensão, ela confere resistência mecânica à verde para

as macroesferas, o que é muito importante para a caracterização do material.

2.5 Sinterização

A sinterização é um processo que ocorre espontaneamente na natureza, onde

partículas que possuem contato mútuo, sob a ação de temperatura, tende a se

transformar em um corpo íntegro e de maior resistência. Sua força motriz é a

diminuição da energia que o sistema de partículas tem em excesso. A superfície das

partículas é uma região de alta concentração de defeitos estruturais e de ligações

rompidas (alta energia). Em relação ao interior da estrutura cristalina, a energia de

superfície é muito maior, e é justamente essa possibilidade de diminuir sua energia

total que leva o sistema a criar as ligações a partir da adição de calor, levando à

sinterização.

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30

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31

3. Materiais e Métodos

3.1-Caracterização das matérias-primas

Alumina calcinada (CT3000SG, Almatis, EUA) e hidróxido de alumínio

precipitado (Hydral 710, Almatis, Germany) foram utilizados como partículas

cerâmicas. O polímero alginato de sódio (Labsynth, Brasil), foi utilizado como agente

ligante para gelcasting. Para o sistema com o alginato de sódio foi empregado o

citrato de amônio dibásico (DAC, Labsynth, Brasil) como dispersante, pois este

componente não interfere significativamente na complexação do polímero em

solução polivalente.

Para os pós de alumina e hidróxido de alumínio foram avaliados: distribuição e

tamanho de partícula (medição do D50/D90 no, DT-1202, Dispersion Technology

Inc, USA), potencial Zeta e área superficial específica (método BET de adsorção de

nitrogênio, Nova 1200e, Quantachrome Instruments,USA). Para a medida de área

superficial e densidade (feita pela técnica de picnometria de Hélio, Ultrapyc 1200e,

Quantachrome Instruments,USA) as amostras foram aquecidas a 150ºC, por 60

minutos, em vácuo, para remoção de umidade adsorvida.

3.2-Dispersão das suspensões:

Testes para medir a viscosidade de suspensões cerâmicas geralmente são

feitos em viscosímetros ou em reômetros rotacionais. Neste trabalho, o estudo do

comportamento reológico das suspensões teve dois objetivos principais: i)

determinar tipo e teor ideal de dispersante para cada sistema e ii) verificar se esse

dispersante seria compatível com o polímero utilizado como ligante no processo de

gelcasting. Nos testes convencionais em viscosímetros, uma suspensão sem

dispersantes é inicialmente preparada e, à medida que alíquotas de dispersante vão

sendo introduzidas na mistura, amostras são retiradas e testadas em relação à sua

viscosidade em certa taxa de cisalhamento constante. Considerando suspensões de

elevada concentração de sólidos e com polímeros dissolvidos, que elevam

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consideravelmente a viscosidade do sistema, esse tipo de ensaio intermitente

apresenta vários fatores de erro, como por exemplo, perda de material entre uma

amostra e outra, secagem da água na suspensão base, presença de impurezas,

entre outros.

Devido a esses pontos, neste projeto um método alternativo e contínuo foi

desenvolvido a partir de trabalhos encontrados na literatura sobre comportamento

reológico de concretos refratários. O método utiliza uma hélice especial com projeto

adequado para aprimorar a qualidade da mistura, impedir formação de aglomerados

e simultaneamente, maximizar o sinal de torque (a hélice que foi desenvolvida neste

trabalho e é apresentada na Figura 5). A hélice é acoplada em um misturador

mecânico instrumentado (PowerVisc, Ika, Germany) que, acoplado a um

computador, registra a rotação imposta e o torque correspondente para mantê-la

(taxa de coleta de 2 pontos por segundo, Figura 6).

Eixo cilíndrico:

• 10 mm de diâmetro

• 20 cm de comprimento

25 mm

60 mm

1 cm

1 mm

60 mm

Figura 5: Hélice utilizada nos testes de avaliação do comportamento reológico das suspensões cerâmicas contendo ligantes poliméricos (elaborada pelo autor),

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Foi preparada uma suspensão base (36 %volume de Al2O3 ou Al(OH)3) sem

dispersante que foi colocada sob agitação no misturador, sob rotação constante (400

rpm, Figura 6a). Após um minuto para homogeneização, alíquotas de dispersante

foram sendo adicionadas à suspensão e em cada passo os valores de torque

impostos pelo equipamento foram registrados (Figura 6b). Após a coleta dos dados,

foi feita uma curva dos valores médios de torque para cada intervalo em função do

teor de dispersante adicionado. O teor ideal de dispersante foi determinado pelo

ponto mínimo de torque ou com o valor máximo de dispersante a partir do qual não

se verifica variações significativas de torque.

0

100

200

300

400

500

0 30 60 90 120 150 180 210 240

0

3

6

9

12

0 30 60 90 120 150 180 210 240

Tempo (s)

Ro

taçã

o (

rpm

) T

orq

ue

(N

.cm

)

a)

b)Adição de dispersante

Homogeneização

Figura 6:Exemplo do programa de dispersão com a) rotação constante de modo a avaliar b) o efeito de cada adição do dispersante ao sistema. (elaborada pelo autor)

Uma vez realizado o teste com a suspensão de alumina sem ligante, o

alginato foi adicionado e o teste repetido nas mesmas condições para verificar sua

influência na dispersão.

Para acompanhar o comportamento reológico das suspensões em função do

teor de polímero ligante, ciclos de cisalhamento foram realizados variando-se a

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rotação do equipamento (50-600 rpm, Figura 3a). Após o teste, os valores médios de

torque (Figura 7b) foram representados em função da rotação criando uma curva

similar às curvas tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento

convencionais (Figura 7c). Como os testes foram conduzidos em condições fora do

regime estacionário laminar, a curva torque versus rotação fornece um indicativo da

viscosidade do sistema.

0

4

8

12

16

0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420

0

100

200

300

400

500

600

0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420

Tempo (s)

Rota

ção (

rpm

) T

orq

ue (

N.c

m)

0

2

4

6

8

0 100 200 300 400 500 600

Torq

ue (

N.c

m)

Rotação (rpm)

a)

b)

c)

Aum

ento

RPM

Dim

inuição RPM

Aumento

RPM

Dim

inuição RPM

Aumento RPM

Diminuição RPM

Figura 7:Exemplo do a) programa de rotação imposto pelo equipamento, b) leitura dos valores de torque requeridos e c) valores médios de torque em função da rotação.

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3.3-Preparação das suspensões para o gotejamento das macroesferas

Foram preparadas várias suspensões contendo diferentes teores dos

hidróxidos de alumínio e de hidróxido de magnésio tendo a alumina como elemento

base. Para as microesferas contendo alumina e hidróxido de alumínio foram

preparadas 5 proporções volumétricas diferentes que estão descritas na tabela a

seguir:

Tabela 1: Proporções volumétricas para preparação das microesferas com Al(OH)3.

Para as microesferas com alumina e hidróxido de magnésio foram preparadas 4

diferentes suspensões envolvendo esses componentes em diferentes proporções

Tabela 2

Tabela 2: Proporções volumétricas para preparação das microesferas com

Mg(OH)2.

Na proporção de 50-50 v% é onde ocorre a formação de espinélio.

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Todas as suspensões são preparadas em uma proporção em massa de 72% de

H2O, 1% de dispersante DAC e 0,1% de Tensiol 86, junto com 26% de solução de

alginato, contendo 5,5% em massa de alginato (em pó).

3.4-Gotejamento das macroesferas:

A suspensão contendo o polímero foi colocada em uma seringa de 10 ml, com

agulha de 0,5 mm de diâmetro e 1 cm de comprimento. A seringa foi, então,

conectada a um compressor de ar, operando a uma pressão constante de 20 kN.m-

2. A mistura foi gotejada em uma solução coagulante 0,1 M de Ca(NO3)2 (Labsynth,

Brasil). A presença dos íons Ca2+ induz a formação de ligações intermoleculares

fortes entre as cadeias de alginato, restringido a mobilidade das partículas sólidas e

preservando sua forma esférica. Detalhe do processo pode ser observado na Figura

8.

As esferas permanecem em contato com solução coagulante por cerca de 40

minutos Após esse período, as amostras foram então removidas da solução

coagulante, lavadas em água exaustivamente até remoção dos íons cálcio,

deixadas por 24 h em etanol absoluto, para que a água residual fosse removida,

então são secas a 80ºC por 24h e sinterizadas. No caso as esferas foram

sinterizadas em diferentes temperaturas a fim de se comparar as porosidades

obtidas.

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3.5-Caracterização da Porosidade:

A porosidade aparente (PA) foi medida utilizando-se o princípio de

Arquimedes (ASTM C373), utilizando-se etanol como fluido de imersão. As amostras

secas foram inicialmente pesadas (MSeca) e colocadas em recipiente com etanol, sob

vácuo, durante 1 h. Após esse período, o vácuo foi desligado e o material

permaneceu imerso por 24 h. Em seguida, utilizando-se uma balança com acessório

para pesagem imersa, a massa das esferas foi medida dentro do etanol (MImersa) e,

após secagem com papel-toalha, pesadas novamente (MSaturada). O valor da

porosidade aparente é dado pela expressão 1

PA (%) = 100% x (MSaturada – MImersa)/(MSaturada – MSeca) (1)

Moléculas de Alginato de Sódio dissolvidas na suspensão

Suspensão de Al2O3 + Alginato de Sódio

Solução coagulante -Ca(NO3)2

20 kN.m-2

Partículas de Al2O3

Esfera porosa de alumina consolidada

Figura 8:Esquema do mecanismo de gotejamento da suspensão de alumina contendo alginato de sódio em solução coagulante, Ca(NO3)2. (elaborada pelo autor).

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3.6-Preparação da suspensão da matriz:

Foi preparada uma suspensão contendo 79,09 %massa de alumina calcinada

(E-SY 1000, Almatis, Alemanha), 2,37 %massa de cimento de aluminato de cálcio

(CAC, CA270, Almatis, Holanda) e 18,54 %massa de água destilada. Misturou-se a

alumina calcinada com a água, o dispersante LA (0,08 %massa de pó seco) e o

antiespumante Tensiol 86 (1 gota a cada 50 g de pó seco). Depois de retirar a

suspensão do moinho, ela foi misturada com o CAC, que tem com função conferir

maior resistência mecânica à mistura.

3.7-Preparação das peças:

As macroesferas impregnadas com água (verdes) foram adicionados à matriz

de alumina já com CAC. Esta mistura foi colocada no molde (Figura 9) e mantida a

50ºC em ambiente saturado de umidade para completar a hidratação do cimento,

por 24 horas. Após esse período, as amostras foram desmoldadas e mantidas em

ambiente ventilado a 50ºC, por 24 horas.

Figura 9:Molde utilizado para produzir a peça cerâmica (elaborada pelo autor)

2 cm

7 cm

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4. Resultados e Discussão

4.1-Caracterização das matérias-primas:

Na Tabela 3, encontram-se os valores medidos de área superficial e

densidade.

Tabela 3: Características das matérias-primas utilizadas.(*Almatis, EUA)

4.2-Dispersão das suspensões:

Para as suspensões contendo alginato de sódio como ligante foram testados

dois dispersantes, o DAC e o PCE-2. O hidróxido de alumínio não foi testado com o

DAC, pois testes preliminares mostraram que a solução resultante apresenta

Alumina*Valores

Típicos / Medidos

Mg(OH)2

Área superficial específica (BET, m2.g-1)

7,5 / 7,2 18

Densidade (g.cm-3) 3,90 / 3,95 2,4

Tamanho de Partícula (D50, μm)

0,5 / 0,61 0,54

Tamanho de Partícula (D90, μm)

2 / 0,95 1,24

Impurezas

Na2O (%) 0,08 0,01

Fe2O3 (%) 0,02 0,001

SiO2 (%) 0,03 0,001

CaO (%) 0,02 0,005

MgO (%) 0,07 -

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elevada viscosidade e tensão de escoamento. Com base neste dado definiu-se que

para qualquer composição contendo hidróxido de alumínio seria utilizado apenas o

PCE-2 como dispersante.

A adição de um dispersante a uma suspensão de alumina permite uma maior

quantidade e regularidade na distribuição de cargas superficiais, podendo provocar

uma redução significativa de viscosidade, para uma mesma concentração de

sólidos. O DAC foi utilizado, pois possui uma alta densidade de carga e o tamanho

da cadeia da molécula de citrato dissociada é apropriado para elevados valores de

fração volumétrica de sólidos. A Figura 10 mostra o indicativo do efeito da

quantidade de DAC no indicativo de viscosidade (curva torque x RPM) de

suspensões 36 %volume alumina com e sem a presença do alginato de sódio (em

ambos os casos o pH da suspensão é de aproximadamente 9,5). Verificou-se que o

torque necessário para manter a rotação constante de 400 rpm diminuiu

significativamente com a adição de DAC, atingindo seu valor mínimo para um teor

igual a 0,28 mg DAC/m2 Al2O3 (0,20 %peso de DAC) (resultados similares podem

ser encontrados na literatura). Com um excesso de DAC, a viscosidade das

suspensões volta a aumentar e pode ser atribuída à redução da eficiência de

adsorção dos íons citrato na alumina e ao aumento na força iônica do líquido. Como

conseqüências, a interações entre as partículas se tornam mais fortes e a

viscosidade do sistema aumenta. Embora os níveis de torque sejam maiores com

adição de alginato, o ponto de dispersão otimizada não se alterou. Esse fato indica

que, além de atuar favoravelmente como dispersante, o DAC também apresenta

elevada compatibilidade com o alginato.

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0

15

30

45

60

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

mg DAC/ m2 Al2O3

To

rqu

e (

400

rp

m, N

.cm

) Al2O3 pura

0,45 %peso Alginato de sódio

0,9 %peso Alginato de sódio

0

15

30

45

60

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Al2O3 pura

0.45%peso Alginato

0,9%peso Alginato

Teor ideal (0,28 mg/m2)

Figura 10:Determinação do teor ideal de DAC na suspensão de alumina pura e com diferentes teores de alginato de sódio.

O bom desempenho do DAC nas partículas de alumina pode ser explicado

pelos resultados apresentados na Figura 11a. Esse efeito baseia-se principalmente

no aumento de cargas na superfície das partículas e, consequentemente, no

aumento das forças repulsivas da dupla camada. O DAC altera o ponto isoelétrico

das partículas de Al2O3 e Al(OH)3 para valores de pH 3,9 e 4,3, respectivamente.

O PCE-2 foi testado como dispersante, pois é apropriado para dispersão e

também para defloculação de outros materiais cerâmicos, como por exemplo,

cimento Portland, cimento de aluminato de cálcio, carbonato de cálcio, entre outros.

O princípio deste dispersante depende de forças repulsivas eletrostáticas e

estéricas, que se tornam efetivas após a adsorção das moléculas de PCE na

superfície das partículas (Figura 12).

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-160

-120

-80

-40

0

40

80

Al2O3 pura

Al2O3 + DAC

Al2O3 + PCE-2

-160

-120

-80

-40

0

40

80

0 2 4 6 8 10 12 14

Al2O3 pura

Al2O3 + DAC

Al2O3 + PCE2

-160

-120

-80

-40

0

40

80

0 2 4 6 8 10 12 14

Al(OH)3 pura

Al(OH)3 + DAC

Al(OH)3 + PCE-2

-160

-120

-80

-40

0

40

80

0 2 4 6 8 10 12 14

Al2O3 pura

Al2O3 + DAC

Al2O3 + PCE2

pH

Pote

ncia

l Z

eta

(m

V)

Pote

ncia

l Z

eta

(m

V)

a)

b)

pH da suspensão (8,7)

Figura 11:Potencial zeta para a) Al2O3 e b) Al(OH)3 na presença dos dispersantes DAC e PCE-2.

-

-

---

--

--

-

-

---

--

--

- -

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-

-

-

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-- --

----

--

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--

------

- -

--

-

-

-

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-- --

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--

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--

------

- -

--

-

-

-

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------

- -

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-

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-- --

----

--

--

--

------

- -

--

-

-

-

---

-- --

----

--

--

--

------

Adsorção

Éter

policarboxílicoPartícula

cerâmica

Figura 12:Representação esquemática do mecanismo de adsorção das moléculas de PCE-2 na superfície das partículas cerâmicas.

Devido a essas forças repulsivas eletro-estéricas os aglomerados presentes

na suspensão cerâmica são quebrados e a água que estava presa dentro deles é

liberada. O atrito entre as partículas é neutralizado tornando a suspensão fluida com

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pequena quantidade de água. A Figura 13 apresenta o efeito da quantidade de PCE-

2 no indicativo da viscosidade de suspensões (Torque x Rotação) 36 %peso de

alumina ou hidróxido de alumínio.

0,0

2,5

5,0

7,5

10,0

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

%peso PCE-2

To

rque (

400 r

pm

, N

.cm

)

0

2,5

5

7,5

10

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Al2O3

Al(OH)3

Al2O3

Al(OH)3

Figura 13:Determinação do teor ideal PCE-2 nas suspensões de alumina e hidróxido de alumínio.

O torque necessário para manter a rotação constante de 400 rpm para a

suspensão de hidróxido de alumínio atinge o seu mínimo em aproximadamente 0,3

%peso PCE-2 e para a suspensão de alumina esse valor é atingido por volta de 0,4

%peso PCE-2. Um ponto importante a ser mencionado é que mesmo com excesso

de dispersante o indicativo de viscosidade não volta a aumentar devido às

características eletroestéricas do polímero. Esse efeito decorre do fato de que a

quantidade de cargas presentes na cadeia do éter policarboxílico não altera

significativamente a característica da superfície das partículas, conforme demonstra

os resultados apresentados na Figura 11b.

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4.3- Gotejamento das Macroesferas:

A extrusão gerou um bom número de macroesferas, com tamanho e formato

bastante regulares, como é possível observar na figura a seguir (Figura 14).

Figura 14:Macroesferas (aproximadamente 1 mm de diâmetro) produzidos por extrusão.

Observa-se na Figura 14, que algumas das esferas apresentam alguns

problemas de forma, como por exemplo, esferas achatadas e disformes, e também a

presença de alguns fios de suspensão. Esses problemas ocorrem principalmente por

causa da variação de pressão na saída da seringa (esferas achatadas e disformes),

e a ocorrência de formação dos fios está ligada à posição (altura) que a seringa está

da solução de nitrato de cálcio. Para garantir uma maior homogeneidade entre as

esferas elas foram separadas manualmente retirando as que apresentavam os

defeitos citados acima.

1 cm

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4.4-Porsidade:

Foram preparadas e gotejadas várias suspensões contendo diferentes teores

dos hidróxidos de alumínio e de hidróxido de magnésio tendo a alumina como

elemento base. Com as esferas obtidas pela queima em diferentes temperaturas,

foram medidas suas porosidades aparentes. A partir desses dados foram traçados

os gráficos que relacionam a temperatura de sinterização, o tipo e o teor de

hidróxido utilizado com a porosidade apresentada. A Figura 15 apresenta os

resultados para a combinação de alumina (Al2O3) com o hidróxido de alumínio

(Al(OH)3).

Figura 15:Comparação das porosidades tendo Al(OH)3 como agente porogênico.

Inicialmente, para as amostras sinterizadas a 1100ºC, pode-se observar que,

quanto maior o conteúdo de Al(OH)3, maior o nível de porosidade atingido, como um

resultado da redução de volume que ocorre com a decomposição do hidróxido de

alumínio. Para queima à temperaturas maiores (1300ºC e 1500ºC), níveis menores

de porosidade foram alcançadoss. Estes resultados sugerem que os poros

inicialmente formadas em 1100ºC foram parcialmente eliminados pelos processos de

sinterização/densificação. Este comportamento pode ser compreendido

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considerando as transformações térmicas das reações que envolvem Al(OH)3, a

partir da sua decomposição até a temperatura de sinterização. O Al(OH)3 tem sua

decomposição térmica na faixa de temperaturas de 250-450ºC (dependendo do

tamanho da partícula e da área superfícial). Durante este processo o Al(OH)3 sofre

uma contração volumétrica de cerca de 60%.

A fim de analisar o uso da Mg(OH)2 como um agente porogênico, amostras

foram preparadas variando a proporção de hidróxido de magnésio na matriz de

alumina, como ilustrado na Figura 16. Do gráfico pode-se observar que em relação

às amostras preparadas com Al2O3 a porosidade à verde do material contendo

Mg(OH)2 é menor, isso se dá por causa da diferença existente entre os seus

tamanhos de partícula, que no caso fornece um melhor empacotamente para as

amostras preparadas com Mg(OH)2, por isso o menor nível de porosidade à verde

apresentado.

Figura 16:Comparação das porosidades tendo o Mg(OH)2 como agente modificador.

Em relação às temperaturas de queima, para as amostras sinterizadas a

1100ºC, pode-se observar que a porosidade aumenta devido à decomposição do

hidróxido de magnésio em óxido de magnésio (MgO) e água (H2O). Para

temperatura de 1300ºC o mecanismo de aumento de poros continua para todas as

proporções de Mg(OH)2 .

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Já no caso das amostras sinterizadas até 1500ºC, existem variações nos

valores de porosidade conforme o teor de Mg(OH)2. Na composição 50-50 v%, onde

é formado o espinélio, pode-se notar que o Mg(OH)2 atua como um agente

porogênico, isso também pelo fato da presença de espinélio, que impede

densificação devido à sua natureza expansiva durante a sua formação, na

composição com 40% de Mg(OH)2 (1,2:0,8) o comportamento é semelhante ao da

composição que forma o espinélio.

Para as outras composições (24% e 75% Mg(OH)2) o Mg(OH)2 acaba atuando

como um agente que impede o crescimento de grão, e assim faz com que a amostra

use a energia fornecida pela temperatura de 1500ºC apenas para densificar a

amostra, e é devido a isso essas composições apresentam valoras mais baixos de

porosidade aparente.

4.5-Macroestruturas:

Para a preparação da peça foi realizada a moldagem sob vibração para

melhor acomodação da suspensão no molde com as macroesferas e para a retirada

de bolhas nas laterais, a peça resultante é mostrada na Figura 17.

Figura 17:Peça desmoldada após secagem (verde)

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A maior dificuldade encontrada na produção dessa peça é fazer as

macroesferas ficaram no interior da matriz e apresentarem boa adesão com a

mesma. Esse problema é considerado difícil de resolver, já que uma das possíveis

soluções para ele envolve uma mudança na viscosidade da suspensão que forma a

matriz da peça. Isso foi pensado como solução a fim de melhorar a mistura entre a

suspensão e as microesferas, que no caso atual tendem a flutuar dificultando muito

a presença delas no interior da peça, bem como a adesão dos macroesferas com a

matriz. Apesar dessas dificuldades, a peça foi moldada e o resultado pode ser

observado nas Figuras 17, 18 e 19.

4.6-Observação das Peças:

Para observar se realmente ocorreu uma boa adesão, dispersão e distribuição

das macroesferas de Al(OH)3 na matriz de Al2O3, foi realizada uma preparação de

superfície nas peças. Essa preparação foi feita através de lixamento das

superfícies a serem observadas seguida de um ataque com líquido penetrante a fim

de facilitar o contraste entre as macroesferas e a matriz. A superfície da secção

transversal pode ser observada nas figuras a seguir, onde a região mais escura

representa as macroesferas (que absorveram mais líquido) e a mais clara a matriz.

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Figura 18:Observação da seção transversal da peça

Figura 19: Observação da seção longitudinal da peça

Sobre a moldagem e a impregnação das esferas em matriz de alumina,

existem outros trabalhos em andamento que estão buscando caracterizar essas

estruturas, não só quanto à porosidade, mas também em relação à suas

propriedades e comportamento mecânico.

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5. Conclusões

Com os resultados obtidos, verificou-se que é possível preparar suspensões

estabilizadas de Al2O3 e Al(OH)3 e Al2O3 e Mg(OH)2.

A adição de um dispersante em uma suspensão de alumina permite uma maior

regularidade na distribuição das cargas superficiais que por sua vez gera uma

redução muito significativa na viscosidade. O DAC foi escolhido por possuir alta

densidade de cargas. Com a adição do DAC na suspensão que estava em teste no

misturador, foi observado que o torque necessário para manter a rotação constante

(no caso de 400 rpm) diminuiu,ou seja, o DAC funcionou muito bem como

dispersante, tendo seu valor ótimo em torno de 0,2 %peso contido na suspensão.

Quando testado na presença de alginato, observou-se que o ponto ótimo de

dispersão não se alterou, indicando a compatibilidade do DAC com o alginato, por

causa dessa boa compatibilidade o DAC foi escolhido como dispersante para a

preparação de todas as suspensões.

O que motivou esse trabalho foi a dificuldade em se estabelecer um método

eficaz que garantisse a presença das macroesferas de maneira distribuída no

interior da matriz de alumina. Essa dificuldade está diretamente ligada à viscosidade

da suspensão que forma a matriz da peça. A partir dessas conclusões foram

produzidas as amostras pelo processo de extrusão que teriam sua porosidade

analisada para dar contornos finais ao trabalho.

As amostras preparadas com Al(OH)3 apresentaram maior sensibilidade para a

mudança de temperatura e uma redução significativa na porosidade a temperaturas

acima de 1100ºC. Este resultado foi associado com a elevada reatividade da

alumina de transição formada pela decomposição do Al(OH)3 e da consequente

densificação da matriz de alumina. No caso do Mg(OH)2 pode-se afirmar que na

proporção em que se forma o espinélio (1 Al2O3 : 1 Mg(OH)2 proporção 50-50%) o

hidróxido de magnésio atua muito bem como agente porogênico mantendo a

porosidade com valores elevados mesmo quando queimados a temperaturas mais

elevadas (1500Cº), o que mostra que esse material alem de apresentar boa

porosidade, tambem apresenta boa resistencia mecânica por causa da sua

temperatura de sinterização.

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Para evidenciar a importância de se manter a proporção correta para formação

de espinélio foram feitas amostras com proporções maiores de Mg(OH)2, que ao

contrário do que ocorre com o espinélio, sofrem densificação quando sinterizados à

temperatura de 1500ºC.

A formulação e o método escolhidos para a preparação da matriz, as peças

apresentaram um bom resultado. Isso ficou claro com a observação das peças, que

mostraram uma boa distribuição e adesão das macroesferas com a matriz.

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