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    a

    merica

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    merica Latina

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    Boris Fausto

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    MIGRA

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    FAZER A AMERICA

    menonitas e aos dissidentes da igreja russa ortodoxa) e atacado pelo grupo reli

    gioso dominante.

    Uma vez que

    as

    condi95es economicas constituem o fator de expulsao mais

    importante, e essencial saber por que mudam as condi95es e quais sao os fatores

    responsaveis pelo agravamento da situa9ao crftica que afeta a capacidade potencial

    dos emigrantes de enfrenta-la. Nessa formula, tres fatores sao dominantes: o primei

    ro e 0 acesso a terra e, portanto, ao alimento; 0 segundo, a varia9ao da produtividade

    da terra; e o terceiro, o numero de membros da famflia que precisam ser mantidos.

    Na primeira categoria estao

    as

    quest5es que erivolvem a mudan9a dos direitos sobre

    a terra, suscitada via de regra pela varia9ao da produtividade das colheitas, causada,

    por sua vez, pela moderniza9ao agrfcola em resposta ao crescimento populacional.

    Nas grandes migra95es dos seculos XIX e

    XX

    epoca em que chegaram a America

    mais de dois ter9os dos migrantes - o que de fato contava era uma combina9ao

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    KLEIN

    ... Migrarao Internacional

    na Hist ria

    das Americas

    15

    mudar os metodos tradicionais de arrendamento, cultivo e prodm;ao. Os enclosures

    cercados), a supressao dos tradicionais direitos de acesso a terra e outros instru

    mentos foram usados para a criac;ao de unidades economicas viaveis. Isso implicou

    na perda por muitos camponeses de seus direitos a terra, os quais foram forc;ados a

    trabalhar para outros. 0 aumento de produtividade e a crescente mecanizac;ao da

    agricultura europeia significaram menor necessidade de mao-de-obra, exatamente

    num momento em que surgia um excedente de

    forc;a de trabalho. Em virtude da falta

    de apoio governamental, a fome passou a ser uma seria ameac;a

    as

    populac;oes sem

    terra ou que possufam terras limitadas.

    Tao importante quanto

    as

    alterac;oes tecnol6gicas na utilizac;ao da terra e na

    produc;ao foi a crescente pressao sobre as novas divis5es de terra entre os campone

    ses que a possufam. Com a sobrevivencia ao nascimento de maior numero de crian

    c;as e foi o declfnio dos Indices de mortalidade infantil que exerceu o efeito mais

    dramatico sobre a estabilizac;ao

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    FAZER AAMERICA

    predominante em todas as Americas. A fronteira continua sendo um fator importan

    te em pafses como o Brasil, mas ate o infcio do seculo

    XX

    constitufa a regra

    em

    quase todos os pafses.

    Como a mao-de-obra podia ser escassa se havia cerca de 50 milhoes de Indios

    na America

    em

    1492? Novamente a explica9ao demografica tern muito a dizer nes

    se assunto. 0 isolamento em que as popula96es americanas estavam em rela9ao as

    doen9as europeias significava que as doen9as endemicas comuns na Europa torna

    vam-se epidemicas quando infectavam

    os

    Indios americanos. Ainda existe muita

    controversia sobre o percentual exato da perda, mas nao restam duvidas de que, por

    volta de 1650, a popula9ao indfgena americana reduziu-se a menos de cinco mi

    lhoes. Alem disso, mais de dois ter9os dessa popula9ao encontravam-se em socieda

    des camponesas altamente estratificadas das quais se podia facilmente extrair traba

    lho - o restante ou vi via em pequenas comunidades ou era seminomade. Os europeus

    tentaram escravizar os Indios, mas acabaram por descobrir a ineficacia dessa

    escraviza9ao. Foram os espanh6is os que revelaram maior eficiencia na explora9ao

    do trabalho indfgena, porque eram os unicos a possuir controle exclusivo sobre as

    principais sociedades camponesas no Mexico e no Peru.

    m

    regra, mantiveram tan

    to quanto possfvel as tradicionais sociedades pre-colombianas e extrafram trabalho

    . por meio de salarios e taxas discriminat6rias. Ja os portugueses foram mais eficien

    tes na escraviza9ao do indfgena, embora todas

    as

    na96es tenham, inicialmente, ten

    tado essa op9ao. Ate eles, porem, foram for9ados, por volta do seculo

    XVII

    a aban

    donar essa fonte de trabalho, devido ao seu aumento de custo e de ineficacia.

    Como a manuten9ao das colonias era uma opera9ao cara e diffcil para todas as

    na96es europeias, era essencial que, para sobreviver, essas sociedades coloniais ex

    portassem para o mercado internacional. A necessidade de constantes exporta96es,

    basieamente para suprir o mercado europeu, significava que a oferta de mao-de

    obra era sempre pequena em

    todas

    as

    na96es europeias que colonizaram a America.

    Assim, a demanda de mao-de-obra era constante nas colOnias e os salarios na Ame

    rica tendiam, em geral, a ser mais altos que

    os

    europeus. Os nfveis de qualifica9ao

    tambem eram mais baixos e o rfgido sistema de guildas nunca se implantou com

    pletamente nas Americas devido

    a

    desesperada escassez de artesaos habilidosos.

    Finalmente, a possibilidade de obter terra era uma constante atra9ao para todos

    os imigrantes. Com a terra tao barata - novamente em compara9ao com os padroes

    europeus - era grande a probabilidade de trabalhadores sem terra conseguirem suas

    pr6prias fazendas, muitas vezes num perfodo de tempo muito curto ap6s a chegada.

    Guilda

    corpora\:aO medieval que estabelecia privilegios em favor de seus membros e rfgidos contro

    les de qualidade e

    prei;:o

    dos produtos, constituindo-se, conforme o caso,

    de

    artesaos, artistas, comer

    ciantes etc. [N. do

    T.]

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    KLEIN igrariio Internacional

    na

    Hist6ria das Americas 17

    Esse acesso

    a

    erra era possfvel nao apenas em terras livres da fronteira, mas tam

    bem nas regioes habitadas que produziam hens agrfcolas para exporta9ao. Mesmo

    em regioes com mao-de-obra contratada ou migra9ao subsidiada, e contratos fixos,

    era possfvel obter terra poucos anos ap6s a migra9ao inicial.

    EVOLU

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    FAZER A

    AMERICA

    m

    virtude da riqueza

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    KL IN Migrarao Internacionalna Hist ria das mericas

    9

    norama nao se alteraria no seculo seguinte, mesmo com a abertura das Indias Oci

    dentais espanholas

    a

    mporta9ao africana.

    Com o progressivo declfnio dos imperios portugueses na Asia e na Africa, a

    partir do seculo XVII, e o crescimento contfnuo do Brasil, a importancia relativa do

    Brasil como centro potencial para a imigra9ao de brancos livres tambem mudou.

    Em 1700, a economia brasileira - que estava relativamente estagnada na segunda

    metade do seculo XVII - experimentou um crescimento extremamente rapido com a

    descoberta, na provfncia de Minas Gerais, das maiores jazidas de ouro

    d

    mundo

    ocidental. Isso abriu o interior brasileiro a enorme expansao e tambem estimulou a

    mudan9a da popula9ao para o Centro e o Sul do pafs. Tambem resultou

    em

    novas

    migra96es da Europa, agora que

    os

    salarios haviam mudado clara e definitivamente

    em favor da economia colonial portuguesa na America. Enquanto, nos dois seculos

    re 1700, haviam migrado para o Brasil cerca de cem mil portugueses, somente no

    seculo XVIII migraram cerca de 400 mil, e provieram de uma popula9ao de apenas

    dois milhaes

    de portugueses metropolitanos em 1700. Esse mesmo seculo tambem

    ~ ao apogeu da entrada

    de

    escravos africanos no Brasil, alcan9ando um in

    gresso anual

    de

    2

    m l

    africanos no final do seculo. Nesse seculo de crescimento da

    ~ a economia brasileira absorveu quase 1,9 milhao de africanos. Assim,

    po

    voita de 1800, poucas duvidas havia de que a col6nia brasileira se transformara

    na

    mais

    importante zona de todo o imperio portugues, ultrapassando de longe ate

    mesmo a economia metropolitana.

    Os Desenvolvimentos das fndias Ocidentais

    A expansao imperial holandesa e sua evolu9ao na America nao s6 afetou o

    desenvolvimento brasileiro, mas tambem exerceu profundo impacto sobre a cria9ao

    de novos centros de crescimento economico e populacional na America. Foi a inter

    ven9ao holandesa no Brasil e nas colonias portuguesas na Africa que deram origem

    a

    uma

    nova fase das migra96es europeias e africanas para o Novo Mundo.

    a

    nas

    Ultimas duas decadas do seculo XVI, exploradores franceses e ingleses haviam co

    ~ o

    a fundar colonias na America do Norte e nas lndias Ocidentais, e os france

    ses

    ja

    no infcio do seculo se haviam estabelecido no Brasil. Mas todas essas colo

    nias nao contavam com trabalhadores e nao tinham produtos de exporta9ao para a

    Europa. A manuten9ao dos trabalhadores era cara e muitos nao sobreviviam aos

    primeiros anos de residencia. Com poucos indfgenas para explorar e pouco capital

    privado disponfvel, os franceses e os ingleses, para trazerem trabalhadores euro

    peus a baixo pre90, recorreram aos contratos de trabalho temporario. Esses homens

    entao, na tentativa de produzir safras capazes de satisfazer um mercado europeu,

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    r

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    F ZER MERIC

    eram usados como fon;a de trabalho rural nao-paga. Aiem disso, ate 1700, se com

    pararmos os salarios entre, de um lado, a Fran9a e a Inglaterra (ambos os pafses

    enfrentavam en ao limita9oes nos mercados de trabalho) e de outro, os da America,

    OS

    ultimos eram grandemente favorecidos.

    m meados do seculo, o tabaco e o indigo, produzidos nas Indias Ocidentais e

    na Virgfnia, no continente americano, por mao-de-obra contratada, eram os princi

    pais produtos exportados dessas ilhas e das colOnias continentais, e os escravos

    africanos ainda constitufam nftida minoria da popula9ao. Mas a crescente riqueza

    gerada por esses produtos e a crise da produ9ao brasileira em virtude das guerras

    contra os holandeses e sua expulsao final de Pernambuco na decada de 1640 muda

    ram profundamente a economia local. Os holandeses expulsos forneceram capital

    para a importa9ao direta de escravos da Africa e para a introdu9ao do credito e da

    tecnologia no mercado mundial de a9t1car. A transforma9ao que o

    a9t1car

    provocou

    nas fndias Ocidentais foi realmente impressionante. No final do seculo XVII, essas

    ilhas haviam mudado de uma mao-de-obra predominantemente branca e contratada

    para uma for9a de trabalho predominantemente negra e escrava, quando 80 da

    popula9ao da maioria das ilhas eram de origem africana. Por volta de 1800, as colo

    nias espanholas, inglesas, francesas e holandesas no Caribe contavam mais de um

    milhao de escravos.

    s Colonias Continentais da America do Norte ate 18

    Quanto a isso, as colOnias inglesas e francesas na America do Norte, em luta

    constante entre si, ainda eram importadoras relativamente pequenas de escravos e

    de imigrantes europeus brancos. Por volta de 1700, as popula9oes livres das posses

    soes continentais britanicas e francesas consistiam de apenas meio milhao de habi

    tantes. Tambem em todas as colonias europeias da America do Norte o seculo XVIII

    foi

    um perfodo de grande crescimento da popula9ao branca livre. Essas colonias

    come9aram a se expandir, passando a fornecer transporte e suprimentos basicos

    para as grandes lavouras das ilhas produtoras de a9t1car das fndias Ocidentais. Alem

    disso, as

    c o l n i ~ s

    do sul da America do Norte britanica come9aram a produzir, em

    larga escala, primeiro tabaco e depois algodao, tornando-se, por isso, grandes im

    portadoras de escravos africanos. Ao longo do seculo XVIII as colonias sulistas

    absorveram cerca de 350 mil africanos e mais ou menos tim milhao de imigrantes

    europeus que ingressaram

    em

    toda a regiao. Esse ritmo aumentaria sensivelmente

    depois que a independencia da America abriu o mercado dos Estados Unidos a

    economia mundial.

    0

    comercio dos Estados Unidos com a Europa continental au

    mentou sensivelmente

    e

    em pouco tempo, a marinha mercante norte-americana perdia

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    KLEIN Migra :tiO

    Internacional

    na Hist6ria

    das Americas

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    apenas para a Inglaterra no comercio mundial. Na epoca do primeiro censo federal

    de 1790, contaram-se 3,1 milhoes de colonizadores brancos - todos, obviamente,

    imigrantes - e 757 mil escravos africanos. Por volta de 1820 - perfodo para o qual

    existem finalmente bons dados estatfsticos sobre a migrar;ao intemacional - a popu

    lar;ao norte-americana ha via subido para 7

    8

    milhOes de bran cos e

    l

    7 milhao de

    escravos. Estes ultimos, apesar do fechamento, em 1808, do comercio escravo do

    Atlantico para a America do Norte, aumentaram em numero. Os Estados Unidos

    haviam surgido, entao, como a terra de atrar;ao prioritaria para

    os

    migrantes euro

    peus, uma posir;ao que nao abandonaria nos dois seculos seguintes.

    A ultima regiao importante de grande imigrar;ao foi o Canada. Colonizado pe

    los franceses e conquistado pelos ingleses no final do seculo

    XVIII,

    seu clima ad ver

    so foi um dos principais fatores que determinaram uma colonizar;ao inicialmente

    baixa. A pesca e o comercio de peles foram as principais fontes de atrar;ao para

    as

    popular;oes residentes, muitas das quais engajaram-se tambem na produr;ao agrfcola

    local e regional. Por causa desse papel relativamente menor na economia atlantica,

    a popular;ao canadense,

    as

    vesperas da conquista inglesa,

    em

    1770, era composta de

    cerca de 70 mil habitantes. Mesmo em 1800, o total da popuJar;ao inglesa e francesa

    - apesar dos Indices extraordinariamente altos de crescimento populacional entre os

    camponeses franceses - oscilava entre 250 e 300 mil. Mas experimentaria tambem

    um aumento significativo no seculo

    XIX,

    secundado apenas pelos Estados Unidos

    em

    seu papel de receptor de mao-de-obra europeia imigrante.

    O Seculo XIX ate 188

    A economia

    em

    expansao

    ea

    fronteira dos Estados Uni dos ofereciam uma opor

    tunidade extraordinaria para a migrar;ao europeia. Ate 1880, essa migrar;ao - a cha

    mada Velha Imigrar;ao - era constitufda de camponeses europeus e trabalhadores

    rurais da Irlanda, das Uhas Britanicas e da Europa setentrional, que agora chegavam

    aos Estados Unidos

    em

    numeros extraordinarios. Entre 1821 e 1880, cerca de 9,5

    milhoes de europeus - sobretudo irlandeses e alemaes - desembarcaram nos Esta

    dos Unidos. A Irlanda, mesmo antes da grande fome dos anos 40, enviou 850 mil

    imigrantes para a America, enquanto

    os

    alemaes formavam o segundo maior contin

    gente, seguido por nativos das Ilhas Britanicas e depois pela Escandinavia. Essa

    massa de migrantes representava 80 de um total de 11,8 milhOes de imigrantes

    europeus que trocaram a Europa pela America nesse perfodo. Apesar desse enorme

    fndice de migrar;ao, os imigrantes estrangeiros constitufam uma parcela relativa

    mente pequena da popular;ao total dos Estados Unidos (cerca de 14,7 em 1910).

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    0 Canada, o segundo pafs receptor mais importante nesse perfodo, recebeu de

    1821 a 1880 cerca de 1,4 milhao de imigrantes europeus. Por volta de 1881, os imi

    grantes representavam 14 de toda a popula9ao canadense, e esse fndice subiria para

    22 no censo de 1921, tornando o Canada depois da Argentina a na9ao americana

    que mais dependia da imigra9ao estrangeira para manter seu crescimento populacional.

    A na9ao receptora mais significati va a seguir era o Brasil. Da mesma forma que

    o Canada, o Brasil, antes de 1880, absorveu uma rnigra9ao bastante importante de

    colonos agrfcolas oriundos da Alemanha e do norte da Italia. Quase todos evitaram

    as regiOes de trabalho escravo e se instalaram

    em

    regioes de clima temperado, ao sul

    de Sao Paulo.

    Por

    volta

    de

    1880, cerca de 455 mil

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    ... Migrarlio Internacional

    na Hist6ria das

    Americas

    23

    Nao podemos deixar de falar das importantissimas migra9oes de asiaticos du

    rante todo o seculo

    XIX

    que antecederam e se seguiram

    a

    radicional migra9ao

    antiga e nova de europeus. Esses imigrantes asiaticos eram

    em

    sua maioria traba

    lhadores contratados trazidos no inicio do seculo XIX para substituir os escravos

    ou para ajudar no desenvolvimento das ferrovias ap6s 1860. Entre 1838 e 1918

    entraram na Guiana Britanica cerca de 239 mil trabalhadores contratados no

    subcontinente asiatico; 140 mil desembarcaram em Trinidad e outros 47 mil foram

    para as Indias Ocidentais britanicas. Esse total de pouco menos de meio milhao de

    migrantes das Indias Orientais criaram uma mistura cultural muito particular nas

    Indias Ocidentais e na Guiana. Alem disso cules chineses eram levados para Cuba

    para os Estados Unidos e partes das Antilhas ou para complementar o trabalho

    escravo ou para trabalhar na constru9ao ferroviaria.

    Eotre

    1848 e 1874 cerca de 125 mil chineses foram levados para Cuba a fim de

    bahilbar no cultivoda cana-de-a9ucar. A partir de 1849 chegaram ao Peru onde cerca

    deOOmil aportaram antes de 1874 e 18 mil foram levados para a Guiana e

    as

    Indias

    britimcas Grande parte

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    FAZER A

    AMERICA

    Esse perfodo posterior a 1880 marca tambem uma mudanc;a fundamental na

    origem da imigrac;ao europeia. Se os europeus do Norte dominaram o fluxo de sa{da ,

    no perfodo anterior, eram agora os europeus do Leste e do Sul que predominavam

    no fluxo de cerca de 31 milhoes de imigrantes que cruzaram o Atlantico de 1881 a

    1915. As razoes disso estao claramente relacionadas com a mudanc;a das-condi96es

    nas regioes europeias de origem

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    KLEIN . . . Migrariio Internacional na

    Hist ria

    das mericas 25

    as mulheres imigrantes - muito altas em compara9ao com a popula9ao nativa de

    todos os paises da America - tambem diminuiriam, quando as mulheres europeias

    come9aram a adotar o espa9amento entre uma gravidez e outra usado pelos nativos,

    e varios metodos anticoncepcionais.

    0

    movimento de jovens trabalhadores estrangeiros do sexo masculino

    foi.

    o

    padrao dominante no fluxo migrat6rio p6s-1880 -

    ea

    regra constante entre os traba

    Ihadores asiaticos contratados

    -

    mas e possfvel perceber algumas varia96es impor

    tantes. claro que, no perfodo anterior a 1880, todas as colonias agrfcolas estabe

    Iecidas pelos europeus nas Americas eram constitufdas de grupos familiares. No

    entanto, mesmo ap6s 1880, o Brasil continuou a sublinhar mais a importa9ao de

    fanu1ias que de trabalhadores solteiros do sexo masculino. A causa disso foi a natu

    reza dos contratos de trabalho nas lavouras de cafe, ate entao tocadas por escravos.

    Elaborando um complicado sistema de salarios, de trabalho por tarefa e mesmo da

    mea9ao, os fazendeiros de cafe organizavam a produ9ao de suas lavouras com base

    no trabalho dos grupos familiares. Devido, tambem, a existencia competitiva dos

    trabalhadores negros livres

    ea

    resultante escala salarial baixa, mesmo quando com

    parada a Europa, era diffcil para o Brasil contratar grande

    m1mero

    de trabalhadores,

    sobretudo quando o pafs se defrontava com a concorrencia dos mercados de traba

    lho da Argentina e da America do Norte, em expansao. Viu-se, assim, for9ado a

    subsidiar trabalhadores

    e

    por causa da organiza

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    FAZER A

    AMERICA

    Italia - exportadora insignificante de trabalhadores antes de 1880 - expulsou cerca

    de 7,7 milhoes de trabalhadores entre 1881e1914. Os imigrantes do Imperio Austro

    hungaro atingiram o total de 4,2 milhOes, seguidos pelos espanh6is (3,2 milhoes),

    por contingentes russos e poloneses (2,5 milhoes) e, finalmente, pelos portugueses

    com um milhao, dos quais cerca de 80 dirigiram-se para o Brasil e o restante para

    os Estados Unidos.

    0 Declinio da Migrafao Internacional

    A Primeira Guerra Mundial foi um momento decisivo nessa longa hist6ria da

    migrac;ao internacional. A deflagrac;ao do conflito, em 1914, deteve temporaria

    mente grande parte da migrac;ao para a America. Voltou a recuperar-se na decada de

    20, porem nunca mais atingiu OS altos Indices do perfodo anterior aguerra. A queda

    dos

    prec;os

    de produtos primarios americanos no mercado mundial, no final dos

    anos 20 e o infcio da Grande Depressao nas

    nac;oes

    desenvolvidas ap6s 1929, tudo

    contribuiu tanto para limitar os mercados de trabalho nacionais quanto para promo

    ver um sentimento antiestrangeiro que comec;ou a encontrar expressao nas polfticas

    imigrat6rias cada vez mais restritivas. 0 ponto decisivo e final de tudo isso foi a

    decisao dos Estados Unidos, em 1921, de limitar com todo o rigor a imigrac;ao

    proveniente de todos os pafses. A essa decisao seguiram-se novas leis de imigrac;ao,

    mais rfgidas ainda, em todos os principais pafses americanos.

    Ao mesmo tempo, fatores que haviam estimulado a imigrac;ao na Europa tam

    bem estavam mudando. A queda dos antigos imperios, ap6s o Tratado de Versailles,

    contribuiu para o surgimento de um nacionalismo novo e intenso que nao via a

    emigrac;ao com hons olhos. Ainda assim, as taxas de natalidade haviam comec;ado a

    cair, e ao mesmo tempo os mercados locais passaram a expandir-se quando a indus

    trializac;ao chegou Europa oriental e meridional, diminuindo assim a pressao a

    migrar. Picou mais diffcil obter passaportes e muito mais diffcil cruzar

    as

    fronteiras.

    No curso da crise mundial da decada de 30 a migrac;ao internacional foi pequena, e

    a Segunda Guerra Mundial isolou de fato, mais uma vez, a America da Europa.

    Entre 1929 e 1945, a imigrac;ao atingiu seus nfveis mais baixos desde o infcio da

    migrac;ao macic;a.

    0 Cendrio P6s Segunda Guerra Mundial

    Poi somente no final dos anos 40 que a migrac;ao internacional e transatlantica

    readquiriu a importancia para a Europa. Essa migrac;ao, porem, era de um tipo novo,

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    .

    KLEIN ._ Migrai;ilo

    Internacional

    na

    Hist ria

    das

    Americas

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    agora de trabalhadores qualificados e profissionais. Nao s6 trouxe imigrantes para

    os pafses tradicionais de

    r e c e p ~ a o

    como o Canada, os Estados Unidos, o Brasil e a

    Argentina, mas tambem incorporou economias novas e rapidamente crescentes, como

    a da Venezuela. Ela tambem perdurou apenas por cerca de duas decadas e meia,

    quando os salarios comparativos e as ofertas de emprego o m e ~ a r a m a ser suplanta

    dos lentamente pelo mercado europeu. Cerca de 838 mil europeus foram subvencio

    nados por

    uma

    comissao intergovernamental, entre 1950 e 1972, na sua viagem de

    e m i g r a ~ a o

    a America. Os Estados Unidos absorveram mais ou menos 300 mil

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    FAZER AAMERICA

    ACULTURA

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    KLEIN

    r

    Migrar;ao

    Internacional na Hist ria das mericas 9

    dos Unidos chegaram atrasados ao processo de revolw;ao industrial e agrfcola. Os

    norte-europeus os haviam precedido nas terras livres e na fronteira agrfcola, fechan

    do-lhes, assim, essa oportunidade. Competiam acirradamente com os leste-europeus,

    muitos dos quais predominavam nas novas cidades manufatureiras do Centro-oeste.

    Isso levou

    os

    italianos a concentrar-se nas velhas cidades portuarias do Leste: Boston,

    Nova Iorque e Filadelfia. Nessas cidades os salanos eram altos, mas o status dos

    empregos era baixo. Para os italianos que ficaram, essas regioes industriais mais ve

    lhas ofereciam poucas oportunidades de ascenso e seus fndices de mobilidade foram

    muito baixos. Por vanas gerai;oes continuaram sendo, predominantemente, classe tra

    balhadora e ficaram confinados ao centro dessas cidades decadentes.

    m compensai;ao, na Argentina e no Centro-sul do Brasil foram os italianos um

    dos primeiros grupos importantes de imigrantes a chegar. Chegaram como trabalha

    dores rurais nao-qualificados ao contrario de sua definii;ao como trabalhadores

    urbanos nao-qualificados nos Estados Unidos), mas rapidamente acumularam di

    nheiro suficiente nos dois pafses para ingressar nas fileiras dos proprietarios de

    terra, mesmo nas areas tradicionais de exportai;ao de cafe, trigo e cames. m segun

    do lugar, sua chegada essas economias locais estavam comei;ando a decolar, de

    modo que os italianos conseguiram facilmente encontrar emprego nos setores urba

    nos e industriais em desenvolvimento recente. Tanto Buenos Aires quanto Sao Pau

    lo - duas metr6poles mundiais contemporaneas - eram cidades pequenas antes da

    chegada dos italianos. Formaram o setor majoritario dentre os trabalhadores nessas

    cidades em expansao. Foram tambem os trabalhadores italianos qualificados que

    instalaram muitas das primeiras industrias pesadas em ambos os pafses, uma area

    que, nos Estados Unidos, estava confinada aos nacionais. Desse modo, os italianos

    nessas duas nai;oes passaram rapidamente a compor as novas classes medias que

    estavam sendo geradas e, ja na segunda gerai;ao, muitos deles se colocavam muito

    acima do

    status

    dos pais. Os fndices de mobilidade social dos italianos, na Argenti

    na e no Brasil, sao impressionantes. Muitos alcani;aram posii;oes de alto nfvel - nao

    s6 na industria, mas mesmo na agricultura - na segunda e terceira gerai;ao. m

    virtude

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    FAZER A AMERICA

    atendidas por sacerdotes irlandeses, que haviam chegado antes deles. Confinados as

    cidades mais antigas, cerceados

    em

    termos de mobilidade inicial, os italianos ten

    diam a agrupar-se

    em

    distritos bem definidos e a votar em bloco em candidatos de

    origem exclusivamente italiana. Tendiam a concentrar-se em empregos de colari

    nho-azul*, mesmo quando ingressavam no servi90 publico local. A unica exce9ao

    significativa a esse padrao foram os italianos que migraram para a California. Essa

    pequena migra9ao - muito semelhante aos grupos que se dirigiram para a America

    do Sul - chegou cedo ao processo de coloniza9ao, enfrentou pouca competi9ao de

    grupos mais antigos e mais novos, e conseguiu ascender rapidamente. Gra9as a esse

    potencial, os italianos da California investiram em educa9ao e se aculturaram rapi

    damente, ao contrario de seus compatriotas da costa leste, que viam poucas vanta

    gens em sacrificar as rendas imediatas de seus filhos ou investir no avan90 de sua

    educa9ao. Somente na terceira gera9ao e que os italianos come9aram a ingressar nas

    universidades em numeros significativos.

    CONCLUSAO

    Como se pode ver por este rapido levantamento, o desenvolvimento nas Ameri

    cas esta baseado grandemente nos imigrantes estrangeiros. As condi96es locais de

    trabalho nas Americas determinaram os fluxos da imigra9ao estrangeira e seus pa

    droes finais de sucesso. 0 unico grupo de migrantes - neste caso, originalmente

    for9ado - que nao alcan9ou o exito possfvel pelas condi96es do mercado foi o dos

    africanos e seus descendentes. Aqui, a seu isolamento inicial nas regiOes de lavoura

    de base escravista seguiu-se, em todas as na96es americanas, um racismo persisten

    te que os impediu de explorar as condi96es de mercado. Existiu todo tipo de precon

    ceito contra todos os estrangeiros em todas as na96es americanas, mas nao era um

    discriminador tao impressionante quanto o preconceito racial. Mesmo na competi-

    9ao entre trabalhadores nao-qualificados, os negros livres e emancipados perdiam

    para os italianos e outros estrangeiros.

    Finalmente, o potencial de emigra9ao permanece grande, em virtude da conti

    nua expansao das economias americanas ate a decada de 80, do abandono dos em

    pregos de baixo status por trabalhadores nacionais e da crescente necessidade de

    profissionais qualificados nas areas de ciencia e tecnologia que os nacionais nao

    podem satisfazer. Os Estados Unidos e o Canada, mesmo em perfodos de relativa

    Blue collar jobs termo fundido a partir de white collar colarinho-branco, expressao que designa

    empregados administrativos e do comercio ), indicando aqueles empregos que exigem o uso de roupas

    de trabalho ou outras roupas especiais, como mecanicos, mineiros, estivadores etc. [N. do

    T ]

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    KLEIN Migrariio Internacional na Hist ria das mericas

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    estagnagao, como no infcio da decada de 90, ainda sao

    os

    grandes focos de atragao

    para os imigrantes. Porem, ate os pafses sul-americanos comparativamente mais

    instaveis, como a Argentina, o Brasil e a Venezuela, vem recebendo de nag6es vizi

    nhas mais pobres um fluxo sempre crescente de trabalhadores latino-americanos.

    Tais nagoes, muitas das quais viveram a transigao demografica somente na metade

    do seculo

    xx

    apresentam taxas de natalidade extremamente altas (com fndices de

    crescimento vegetativo de mais de 3 ao ano) e economias relativamente estagna

    das. Isso causa enorme pressao sobre a terra e estimula sobremaneira a emigragao.

    Portanto, embora as fontes sejam diferentes no ultimo tergo do seculo XX e tenha

    mudado a natureza dos mercados de trabalho americanos, a migragao internacional

    ainda constitui um aspecto fundamental do desenvolvimento americano em todo o

    hemisferio.