Metodologias de Detecção de Vestígios Biologicos

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 1 Universidade de Aveiro 2008 Departamento de Biologia JOSIANA ADELAIDE VAZ Metodologias de detecção de vestígios biologicos forenses

Transcript of Metodologias de Detecção de Vestígios Biologicos

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    Universidade de Aveiro

    2008

    Departamento de Biologia

    JOSIANA

    ADELAIDE VAZ

    Metodologias de deteco de vestgios biologicos

    forenses

  • 2

    dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos

    requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Biologia

    Molecular e Celular, realizada sob a Orientao cientfica do Doutor Lus

    Souto Miranda, Assessor do Departamento de Biologia da Universidade

    de Aveiro e Co-orientao de Doutor Antnio Carlos Matias Correia,

    Professor Associado com Agregao do Departamento de Biologia da

    Universidade de Aveiro.

    Universidade de Aveiro

    2008

    Departamento de Biologia

    JOSIANA

    ADELAIDE VAZ

    Metodologias de deteco de vestgios biologicos

    forenses

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    o jri

    presidente Doutora Maria de Lourdes Gomes Pereira,

    Professora Associada com Agregao, Departamento de Biologia, Universidade

    de Aveiro

    Doutor Francisco Manuel Andrade Corte Real Gonalves

    (arguente principal), Professor Associado, Faculdade de Medicina,

    Universidade de Coimbra, Largo da S Nova, 3000-213 Coimbra

    Doutor Antnio Carlos Matias Correia

    Professor Associado com Agregao, (co-orientador), Departamento de

    Biologia da Universidade de Aveiro

    Doutor Lus Manuel Souto de Miranda,

    Assessor (orientador), Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro

  • 4

    agradecimentos

    Este espao dedicado queles que deram a sua contribuio

    para que esta dissertao fosse realizada. A todos eles deixo

    aqui o meu agradecimento sincero.

    Em primeiro lugar agradeo ao Prof. Doutor Lus Souto a forma

    como orientou o meu trabalho. As notas dominantes da sua

    orientao foram a utilidade das suas recomendaes, a

    cordialidade com que sempre me recebeu e a pacincia, por

    tudo estou muito grata.

    Em segundo lugar, agradeo s minhas colegas e companheiras

    de Mestrado, de Licenciatura, de Amizade, enfim da Vida: Maria

    Joo Guedes e Amlia Rodrigues, sem elas no teria

    conseguido e no seria quem sou.

    Gostaria ainda de agradecer ao Bruno Queirs e sua famlia. O

    Bruno que sempre me acompanhou e esteve disponvel para

    ouvir os meus desabafos de tristeza e desespero bem como as

    minhas exploses de alegria, sem ele, eu era uma estrangeira

    em Chaves.

    Sou muito grata a todos os meus familiares pelo incentivo

    recebido. Aos meus pais, Maria e Manuel, ao meu irmo Ivo e ao

    Jhony, obrigada pelo amor, alegria e ateno sem reservas. Este

    trabalho por eles e para eles.

    Finalmente, gostaria de deixar trs agradecimentos muito

    especiais, Elisa, Ana Sofia e Sofia. s minhas trs meninas

    que no desistiram de colocar um sorriso no meu rosto, e

    conseguiram. Obrigada pela noite de sono perdida.

    O meu profundo e sentido agradecimento a todas as pessoas

    que contriburam para a concretizao desta dissertao,

    estimulando-me intelectual e emocionalmente.

  • 5

    palavras-chave

    Cincia Forense, Criminalistica, vestgios forenses, evidncia,

    indicio, prova, metodologia de deteco, fluorescncia,

    fosforescncia,sangue,smen, plos, dentes, saliva, ossos, urina,

    fezes.

    resumo

    O presente trabalho prope-se rever as mais significativas tcnicas

    e mtodos de deteco de vestgios biolgicos forenses. A

    Dissertao composta por uma apresentao geral da Cincia

    Forense (conceito, breve resenha histrica, objectivos, princpios e

    reas), uma exposio do Protocolo de Investigao de uma Cena

    do Crime e, por fim, uma compilao dos mtodos de deteco

    gerais e especficos dos vrios tipos de vestgios forenses presentes

    num cenrio de crime. A Metodologia usada para desenvolvimento

    da Dissertao baseia-se na reviso terica de uma vasta

    bibliografia de referncia na rea forense.

    A escolha do tema Metodologias de deteco de vestgios

    biolgicos forenses como corpus desta Dissertao deve-se,

    principalmente, constatao da importncia e protagonismo da

    Cincia Forense na actualidade, bem como a inexistncia de

    uniformizao de procedimentos nas vrias Polcias Cientficas no

    mundo.

    Contemporaneamente, a Cincia Forense vem recebendo valiosa

    ateno tanto por acadmicos, cientistas, especialistas nas mais

    diversas reas, como por simples curiosos que em nada esto

    associados Criminalstica. A popularidade da cincia forense est

    no auge, assim como a discusso dos seus mtodos e

    potencialidades. Existem inmeros mtodos e tcnicas associadas

    deteco de amostras biolgicas na cena de um crime, embora os

    seus princpios de aplicao estejam baseados sobretudo em

    fenmenos de Fluorescncia, Fosforescncia, Imunocromatografia e

    Precipitao. Estes so mtodos fundamentados na Biologia e

    Bioqumica podem ser vistos como uma triagem inicial dos vestgios

    com a vista identificao especfica por anlise de DNA na

    Gentica Forense, embora forneam muitos mais resultados

    fundamentais investigao.

    Independentemente dos mtodos utilizados pelos especialistas

    forenses, o grande objectivo da investigao a identificao

    positiva do perpetrador e a resoluo do crime.

  • 6

    .

    keywords

    Forensic Science, Criminalistic, trace, evidence, methods of

    detection, fluorescence, phosphorescence, blood, semen, hair, teeth,

    saliva, bone, urine, feces.

    abstract

    This paper proposes to revise the most significant techniques and

    methods of detection of biological forensic traces. The Dissertation is

    composed of an overview of Forensic Science (concept, historical

    summary, objectives, principles and areas), an exhibition of the

    Protocol for the Investigation of a crime scene and, finally, a

    compilation of methods to detect general and specific the various

    types of forensic traces in a crime scene. The methodology used for

    development of Dissertation based on the theoretical review of a vast

    bibliography of reference in the forensic field.

    The choice of theme - Methodologies for detecting traces of

    biological forensic corpus as this Dissertation is due, mainly, the

    finding of the importance and role of Forensic Science at present, as

    well as the lack of uniformity of procedures in several Forensic

    Science.

    Contemporaneously, the Forensic Science has received valuable

    attention both by scholars, scientists, specialists in several areas,

    such as by simply curious that in no way are associated with the

    Criminalistics. The popularity of forensic science is at its height, as

    well as the discussion of its methods and potential. There are

    numerous methods and techniques associated with the detection of

    biological samples at the scene of a crime, although the application

    of its principles are based mainly on phenomena of fluorescence,

    phosphorescence, immunochromatographic and precipitation. These

    methods are based on the biology and biochemistry are nothing

    more than a trace of initial screening with a view to identifying

    specifically for analysis of DNA in Forensic Genetics.

    Regardless of the methods used by forensic experts, the major focus

    of research is the positive identification of the perpetrator and the

    resolution of crime.

  • 7

    ndice

    NDICE DE FIGURAS .................................................................................................................... 10

    NOTA INTRODUTRIA ................................................................................................................. 12

    1. CINCIA FORENSE .......................................................................................................... 15

    2. CENA DO CRIME .............................................................................................................. 35

    3. VESTGIOS BIOLGICOS FORENSES .................................................................................. 43

    CONSIDERAES FINAIS........................................................................................................... 133

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    Sumrio

    NDICE DE FIGURAS .................................................................................................................... 10

    NOTA INTRODUTRIA ................................................................................................................. 12

    1. CINCIA FORENSE .............................................................................................................. 15

    1.1. Cincia Forense, conceito ......................................................................................... 15

    1.2. Cincia Forense, histria .......................................................................................... 15

    1.3. Cincia Forense: objectivos, princpios e caractersticas ......................................... 20

    1.4. Cincia Forense, vestgio, evidncia, indcio e prova .............................................. 23

    1.5. Idoneidade do vestgio .............................................................................................. 25

    1.6. reas da Cincia Forense ......................................................................................... 27

    1.7. Referncias bibliogrficas ......................................................................................... 30

    2. CENA DO CRIME .................................................................................................................. 35

    2.1. Cena do crime, Protocolo da investigao forense .................................................. 35

    2.2. Cadeia de custdia ................................................................................................... 39

    2.3. Referncias bibliogrficas ......................................................................................... 40

    3. VESTGIOS BIOLGICOS FORENSES ..................................................................................... 43

    3.1. Mtodos gerais de deteco de vestgios biolgicos na cena do crime ................... 43

    3.1.1. UTILIZAO DE FONTES DE LUZ .................................................................................. 43

    3.1.1.1. Alguns exemplos de aparelhos de deteco ................................................. 46

    3.1.2. FOTOGRAFIA DIGITAL ................................................................................................ 50

    3.1.3. TECNOLOGIA LASER .................................................................................................. 51

    3.2. Vestgios biolgicos forenses: o Sangue .................................................................. 54

    3.2.1. SANGUE, CONSTITUIO E FUNES ......................................................................... 54

    3.2.2. ESTUDO FORENSE DO SANGUE .................................................................................. 55

    3.2.2.1. Anlise macroscpica e colheita .................................................................... 55

    3.2.2.2. Testes presuntivos ......................................................................................... 56

    3.2.2.2.1. Reaces de cor: Reagente de Kastle-Meyer .......................................... 57

  • 9

    3.2.2.2.1. Reaces de cor: Reagente de Adler-Ascarelli ou Benzidina .................. 59

    3.2.2.2.1. Reaces de luminescncia: Reagente de Luminol ................................. 60

    3.2.2.2.1. Reaces das Oxidades ........................................................................... 70

    3.2.2.3. Testes confirmatrios ..................................................................................... 70

    3.2.2.4. Testes especficos ou de origem ................................................................... 72

    3.2.2.5. Testes de identificao individual .................................................................. 75

    3.3. Vestgios biolgicos forenses: os Plos .................................................................... 77

    3.3.1. ESTUDO FORENSE DO PLO ....................................................................................... 78

    3.3.1.1. Biologia do plo .............................................................................................. 79

    3.3.1.2. Formao e crescimento do plo ................................................................... 80

    3.3.1.3. Caractersticas morfolgicas .......................................................................... 81

    3.3.1.4. Plos: colheita e armazenamento .................................................................. 89

    3.3.1.5. Exame do Plo ............................................................................................... 92

    3.3.2. CONCLUSO ............................................................................................................. 96

    3.4. Vestgios biolgicos forenses: o Smen ................................................................... 97

    3.4.1. BIOLOGIA DO SMEN ................................................................................................. 98

    3.4.2. ANLISE FORENSE DO SMEN .................................................................................. 100

    3.5. Vestgios biolgicos forenses: os Dentes ............................................................... 106

    3.5.1. DETERMINAO DO SEXO ........................................................................................ 107

    3.5.2. DETERMINAO DA ORIGEM TNICA ......................................................................... 108

    3.5.3. DETERMINAO DA IDADE ....................................................................................... 109

    3.5.4. MARCAS DE MORDIDA ............................................................................................. 110

    3.5.4.1. Estudo das Marcas de mordida ................................................................... 110

    3.6. Vestgios biolgicos forenses: a Saliva ................................................................... 113

    3.7. Vestgios biolgicos forenses: os Ossos ................................................................ 117

    3.8. Outros vestgios biolgicos forenses ...................................................................... 121

    3.9. Referncias bibliogrficas ....................................................................................... 123

    CONSIDERAES FINAIS........................................................................................................... 133

  • 10

    ndice de figuras

    Figura 1-1 Retrato de Zacharias Jansen. ............................................................................................................... 16 Figura 2-1 Processo de evidncia fsica. ................................................................................................................ 35 Figura 3-1 - Representao esquematica do fenmeno de Fluorescncia. ............................................................... 44

    Figura 3-2 - Cabea de luz azul BMT e os culos mbar .......................................................................................... 46 Figura 3-3 - Fotografia de fragmentos de ossos humanos e dentes .......................................................................... 47 Figura 3-4 - Deteco de Fluidos corporais, saliva sobre ganga. .............................................................................. 47 Figura 3-5 - Deteco de Fluidos corporais, smen num lenol de cama.. ................................................................ 48 Figura 3-6 - Deteco de Fluidos corporais, urina num lenol de cama. ................................................................... 48

    Figura 3-7 HandScope e Mini-CrimeScope ............................................................................................................ 49 Figura 3-8 Lanternas BLUEMAXX . .................................................................................................................... 50 Figura 3-9 Fotografias com uso de fontes de luz alternativas. ............................................................................... 51

    Figura 3-10 Exemplo de um aparelho que usa a tecnologia laser .......................................................................... 52 Figura 3-11 Exemplo de um aparelho que usa a tecnologia laser. ......................................................................... 53 Figura 3-12 - Constituintes do sangue ...................................................................................................................... 54

    Figura 3-13 Reaces referentes ao reagente de Kastle-Meyer. ............................................................................ 58 Figura 3-14 Representao da hemoglobina e do complexo heme da hemoglobina. ........................................... 59 Figura 3-15 - Reagente de Benzidina e o produto de colorao azul. ....................................................................... 60

    Figura 3-16 Sntese do Luminol. ............................................................................................................................ 61 Figura 3-17 - Exemplo de um ambiente sem e com luminol ...................................................................................... 62

    Figura 3-18 - Mecanismo esquemtico da oxidao de luminol ................................................................................ 63 Figura 3-19 O Espectro Electromagntico .............................................................................................................. 64 Figura 3-20 Kit de reagente BlueStar ................................................................................................................. 65

    Figura 3-21 Procedimento de utilizao do reagente BlueStar ........................................................................... 66 Figura 3-22 Um exemplo prtico do uso do reagente BlueStar . .......................................................................... 66

    Figura 3-23 Superfcie de cermica pulverizada com BlueStar . .......................................................................... 67 Figura 3-24 Superfcie de cermica pulverizada com Luminol ................................................................................ 67

    Figura 3-25 Camisa de algodo pulverizada com BlueStar aps lavagem. ......................................................... 68 Figura 3-26 Camisa de algodo pulverizada com Luminol aps lavagem. ............................................................. 68

    Figura 3-27 Carpete pulverizada com BlueStar .................................................................................................. 69 Figura 3-28 Carpete pulverizada com Luminol ....................................................................................................... 69 Figura 3-29 Cristais de Teichmann. ....................................................................................................................... 71

    Figura 3-30 - Cristais de Takayama .......................................................................................................................... 71 Figura 3-31 Teste imunocromatografico Hexgono OBTI. ................................................................................... 74

    Figura 3-32 - Corte transversal de pele onde visvel a estrutura do plo ................................................................ 79 Figura 3-33 Folculo piloso ..................................................................................................................................... 80 Figura 3-34 Seco transversal de um plo ........................................................................................................... 81

    Figura 3-35 Bulbo do plo. ..................................................................................................................................... 82 Figura 3-36 Microfotografia de plo com Medula contnua e clara.......................................................................... 84

    Figura 3-37 Microfotografia de plo com Medula contnua e opaca. ....................................................................... 84 Figura 3-38 Microfotografia de plo com Medula interrompida. .............................................................................. 84

    Figura 3-39 Microfotografia de plo com Medula vacuolarizada. ............................................................................ 85 Figura 3-40 - Microfotografia de um plo onde visvel a distribuio dos grnulos de pigmentos ........................... 86 Figura 3-41 Microfotografia de plo humano .......................................................................................................... 86 Figura 3-42 Padro da cutcula de plo humano e plo animal. ............................................................................. 87

  • 11

    Figura 3-43 - Ilustrao da preparao da lmina. .................................................................................................... 93 Figura 3-44 - Espermatozide ................................................................................................................................... 99

    Figura 3-45 - Esquematizao do estudo do smen ............................................................................................. 100 Figura 3-46 - Esquema ilustrativo do mtodo de ELISA .......................................................................................... 104 Figura 3-47 - Exemplo de espectofotmetro de fluorescncia ................................................................................. 114 Figura 3-48 - Clula do epitlio bucal. .................................................................................................................... 114 Figura 3-49 - RSID resultados possveis. ................................................................................................................ 115

    Figura 3-50 - Canais de Havers. ............................................................................................................................. 118

  • 12

    Nota Introdutria

    Esta Dissertao insere no campo da pesquisa actual em Cincia Forense, mais

    propriamente na rea da Criminalstica Forense abordando especificamente as metodologias

    de deteco de vestgios biolgicos Programa de Mestrado em Biologia Molecular e Celular

    da Universidade de Aveiro Departamento de Biologia, e foi realizada entre os anos 2007 e

    2008.

    Actualmente, a Cincia Forense recebe valiosa ateno tanto por acadmicos,

    cientistas, especialistas nas mais diversas reas como por simples curiosos que em nada

    esto associados Criminalstica, a sua popularidade est no auge. Esta cincia tem se

    tornado, cada vez mais, uma parte vital da Justia Criminal. Como parte integrante desta

    cincia, a Medicina Legal ocupa um lugar de valor inestimvel e as suas percias de

    laboratrio so indispensveis na identificao do corpo de delito, principalmente quando os

    vestgios biolgicos forem sangue, esperma, plos, saliva, entre outros.

    Essas percias abrangem uma grande diversidade de anlises. Para isso, valem-se de

    princpios da Bioqumica, Serologia e principalmente da Qumica e Imunologia.

    Alm do reconhecido protagonismo e importncia da Cincia Forense no presente foi a

    constatao da escassez de material bibliogrfico, que reunisse informaes e tcnicas

    relativas a essas investigaes, bem como da inexistncia de uniformizao de

    procedimentos nas vrias Policias Cientificas do mundo que foram os principais motivos para

    a escolha do tema Metodologias de deteco de vestgios biolgicos forenses como corpus

    desta Dissertao.

    Esta Dissertao destina-se a estudantes e profissionais da Justia, da Medicina

    Legal, da Criminalstica, Especialistas e Peritos de Laboratrio e at aos simplesmente

    interessados em saber mais sobre esta cincia.

    Alm de poder ser considerado como uma espcie de manual de percias laboratoriais

    tm como objectivo orientar e familiarizar os leitores quanto s vrias tcnicas existentes,

    bem como os seus resultados e limitaes.

    Para isso foi realizada uma profunda e completa reviso bibliogrfica de revistas,

    publicaes da rea e manuais e recomendaes tcnicas de laboratrios forenses de

    referncia.

  • 13

    CAPTULO 1 CINCIA FORENSE

  • 14

  • 15

    1. Cincia Forense

    1.1. Cincia Forense, conceito

    A palavra vem do latim forense (legal - que significa "antes do frum") e refere-se a

    algo "relativo a, ou utilizado num tribunal de direito." Nos dias de hoje, refere-se quase

    sempre a um mtodo de obteno de provas criminais para fins de utilizao de um juiz de

    direito.

    Segundo a Policia Judiciria Portuguesa (Disponvel em: www.policiajudiciaria.pt,

    acesso a: 12 de Maro de 2008), a Cincia Forense um conjunto de componentes ou

    reas, entre as quais a medicina legal, antropologia e a entomologia, que em conjunto,

    actuam de modo a resolver casos de carcter legal. H ento que referir que a Cincia

    Forense no uma cincia nica. Esta est dependente de todas reas que sejam

    necessrias em casos especficos.

    Assim, a Cincia Forense resulta da interaco entre vrias cincias aproveitando os

    seus campos de aco e conhecimentos com o objectivo de resolver determinado delito.

    1.2. Cincia Forense, histria

    A Cincia Forense apresenta-se com uma histria de caminhos que se cruzam, afirma

    Lombroso Cesare (1924).

    Nos ltimos anos, o interesse do pblico pela Polcia Cientfica e tudo o que lhe est

    associado cresceu de forma espantosa. O facto de saber como se conduz um inqurito

    criminal para determinar os motivos e os autores de um crime desperta a curiosidade de

    muitos.

    Esta cincia, tal como a entendemos hoje, nasceu na China antiga. surpreendente

    que existam documentos do Sc. XVII que comprovam que um milhar de anos antes, Ti

    Chieh Yen ficou conhecido por usar a lgica e as evidncias forenses para resolver uma

    srie de crimes ocorridos no Sc. VII. O que Ti e os seus colaboradores fizeram foi estudar a

    cena do crime, analisar as pistas e falar com testemunhas e suspeitos. Obviamente, os

  • 16

    mtodos e instrumentos que tinham no podem ser comparados com os de hoje, no entanto,

    a atitude e o cuidado que colocava em cada um dos seus trabalhos de investigao um

    exemplo a seguir tantos sculos depois.

    No sculo XIII, na China, foi publicado um livro que explicava como reconhecer sinais

    de afogamento, estrangulamento, ou como as feridas podiam revelar qual o tipo, tamanho e

    qual a arma utilizada no crime.

    A Cincia Forense deve grande parte do arsenal de instrumentos e mtodos

    cincia ocidental dos sculos XVI a XVIII. Em meados do sculo XVII j se ministrava

    medicina forense em vrias universidades da Europa. O instrumental que foi surgindo

    progressivamente da revoluo cientfica foi aplicado rapidamente na luta contra o crime. O

    microscpio, inventado por Zacharias Jansen em 1590, permitiu obter imagens de objectos

    impossveis de observar vista desarmada, a Cincia Forense utilizou-se praticamente

    desde o seu aparecimento.

    Alguns dos pressupostos da investigao criminal baseiam-se na identificao dos

    agentes do crime, dos instrumentos por eles usados e dos sinais apresentados na vtima,

    permitindo assim reconstituir o acto criminal.

    Henry Goddar foi o pioneiro a associar uma bala com a arma utilizada. Desde os

    finais do sculo XVIII que a fabricao em srie das armas de fogo implicou algumas

    alteraes na produo das almas das armas (a parte oca do interior do cano da arma, que

    vai desde a culatra at a boca do cano). A partir da as almas passaram a possuir linhas ou

    sulcos que diferiam entre as diversas armas produzidas, assim cada arma tinha uma alma

    com sulcos diferentes, estes sulcos ficam gravados na bala quando a arma disparada

    permitindo atravs da bala a identificao da arma, foi o incio da Balstica.

    Em 1796, o Dr. Franz Josef Gall, desenvolveu a Frenologia. Esta cincia estudava

    as formas estruturais do crnio associadas s aptides e capacidades intelectuais dos

    indivduos. A Frenologia foi reformulada quando, em 1876, Cesare Lombroso, director do

    Figura 1-1 . Retrato de Zacharias Jansen.

  • 17

    Asilo de Pesaro, situado ao norte de Itlia, publicou "L'uomo delinquente". Aps ter estudado

    mais de 6.000 casos de delinquentes, Lombroso fez um exaustivo estudo (com mais de 6000

    delinquentes) e concluiu que existia uma correlao entre as caractersticas fsicas do

    indivduo e as suas tendncias criminosas (por exemplo: os pirmanos tinham a cabea

    pequena, os salteadores de caminhos eram muitos cabeludos e os burles costumavam ser

    fortes). Estas correlaes foram levadas muito a srio pelos tribunais da poca e os

    frenlogos eram considerados como peritos em Tribunal. Felizmente a Frenologia,

    comentada hoje em dia como exemplo de pseudo-cincia, foi perdendo adeptos, at

    desaparecer definitivamente.

    A partir destas ideias um pouco mirabolantes, Alphonse Bertillon extraiu uma

    premissa interessante: as medidas corporais podiam ter alguma utilidade podendo ser

    usadas para identificar com preciso um delinquente. Por uns actos histricos infelizes as

    ideias de Bertillon tiveram um escasso momento de glria e rapidamente caram no

    esquecimento. Os seus fundamentos no foram retomados at inveno do retrato falado,

    em que se descrevia a cara do delinquente segundo as suas pores: frente, nariz, queixo,

    orelhas e olhos. Nos anos 50 do sculo passado a tcnica tornou-se obsoleta com o

    Identikit, o Photofit e os arquivos computorizados, os herdeiros modernos de Bertillon.

    Em 1815 Mathieu Orfila converteu-se no pai da toxicologia ao publicar o livro

    intitulado "Trait des Poisons", uma classificao dos venenos mais comuns usados por

    peritos criminais. A partir de esse momento muito se evoluiu. Por exemplo, o qumico ingls

    James Marsh desenvolveu uma tcnica infalvel para detectar vestgios de arsnio. O

    arsnio especialmente fcil de detectar porque permanece nas unhas e no cabelo depois

    da morte. A lista de venenos manuseados pelos cientistas forenses muito extensa, por

    exemplo: cicuta (Conium maculatum), aconitina (acetilbenzoilaconina), atropina, estricnina,

    tlio, antimnio, arsnio, cianeto, Amanita phalloides so alguns venenos conhecidos

    popularmente.

    O acto de fotografar a cena do crime, fundamental na reconstituio do delito,

    permite ainda a documentao dos vestgios ai existentes no local do crime e nas prprias

    vtimas. A importancia da fotografia s foi reconhecida por Thomas Byrnes, em 1886. Este

    recolheu vrias fotografias de delinquentes e publicou-as de "fotos de rufies". Esta coleco

    de fotografias revelou-se de crucial importancia no reconhecimento e identificao dos

    criminosos, sendo um auxiliar actuao da polcia.

    Actualmente a pratica de reconstruo facial de restos sseos da responsabilidade

    da Antropologia forense. O anatomista Wilhelm His e o escultor Carl Ludwig Seffnerem em

    1894 foram os primeiros a desenvolver a tcnica, ao reconstruir os restos mortais do crnio

    do compositor Johann Sebastian Bach (1685-1750). A sua tarefa foi bem sucedida uma vez

    que quando comparada a reconstruo com retratos do msico pintados em vida, foi possvel

    demonstrar a sua autenticidade.

  • 18

    O sculo XIX foi sem dvida revolucionrio no que se refere s cincias forenses.

    Patrizi, contemporneo de Lombroso, desenhou o primeiro detector de mentiras: a luva

    volumtrica. O aparelho consistia numa luva de ltex, selada ao nvel do punho, que

    registava as alteraes da presso sangunea, supostamente associados tenso

    emocional. Mais tarde veio a confirmar-se a pouca fiabilidade deste mtodo, mas sem dvida

    que foi um instrumento pioneiro dos actuais detectores e dos diversos sistemas criados para

    comprovar a veracidade de declaraes de interrogados.

    Problemas-mito da Cincia Forense

    A exactido, no sentido lato da palavra difcil de atingir em qualquer cincia,

    originando problemas-mito. Por exemplo em Biologia existem vrias teorias em relao

    origem da vida em biologia, a prpria matemtica, a fsica, todas as cincias apresentam

    mitos e teorias defendidas por uns e contestadas por outros.

    A Cincia Forense no excepo, tambm tem questo mal-resolvidas. Ainda

    hoje existem crimes por resolver, pode-se destacar o exemplo de Jack o estripador. Na

    dcada de 1880, este assassino em srie cometeu inmeros crimes em Londres e

    actualmente so defendidas vrias hipteses sobres as aspiraes que o levaram a cometer

    tais crimes (OWEN, 2000).

    Tempos modernos

    A Cincia Forense acompanha a evoluo da tecnologia. Actualmente a deteco de

    drogas e txicos utiliza mtodos extremamente aprimorados, entre eles: cromatografia

    gasosa, cromatografia lquida de alta presso ou de filtrao no gel, espectrmetros de

    massa. A dificuldade da escassa quantidade da amostra tambm foi ultrapassada pelo uso

    tcnicas de ensaio imunolgico, baseadas no desenvolvimento de anticorpos que reagem

    com as substncias pesquisadas.

    No que diz respeito aos vestgios biolgicos forenses propriamente ditos, o exame

    forense deste tipo de amostras teve o seu incio no princpio do sculo XX com a aplicao

    dos grupos sanguneos ABO em evidncias relacionadas a crimes ou identificao de

    pessoas. Hoje, os grupos sanguneos eritrocitrios, como os sistemas ABO, Rh (CcDEe) e

    MNSs, foram substitudos na maioria dos centros, sendo pouco utilizados (BONACCORSO,

    2004).

    Marcando uma segunda fase na evoluo desta cincia, em 1954, foi demonstrada a

    ocorrncia de um sistema de histocompatibilidade mediado por antgenos na superfcie dos

    leuccitos, conhecido por complexo HLA (histocompatibility leucocyte antigen), determinado

    por genes allicos muito prximos localizados no brao curto do cromossoma 6, com

  • 19

    acentuado poder de discriminao individual ou determinao da individualidade gentica

    (BAR et. al., 1999).

    A terceira fase do desenvolvimento das cincias forenses voltadas identificao

    humana veio com a publicao de um artigo na Revista Nature, por Jeffreys e seus

    colaboradores (1985b), sobre certas regies de minissatlites do genoma humano que

    produziam uma espcie de impresses digitais de DNA.

    A tipagem molecular de material gentico foi utilizada oficialmente pela primeira vez,

    em 1985, por Jeffreys, na Inglaterra para a resoluo de um problema de imigrao

    (JEFFREYS et. al., 1985a). Um ano aps, o mesmo autor empregou esta tcnica para

    identificar o verdadeiro violador e assassino de duas vtimas. A partir deste caso, que ficou

    conhecido como Enderby (Queen v. Pitchfork), a Criminalstica e a Medicina Legal ganharam

    novo flego e tm usado a tcnica de tipagem molecular de DNA como potente arma no

    esclarecimento de diversos delitos e na identificao humana (MOURA-NETO, 1998).

    Uma vez que o "crime" , infelizmente, quase to antigo como a humanidade, a

    histria desta cincia no poderia ser curta. Sem dvida, os grandes avanos na tecnologia,

    software, anlise de evidncias biolgicas (identificao do DNA algo que significou uma

    verdadeira revoluo) permitiram polcia cientfica melhores meios para levar a cabo o

    seu trabalho, de tal modo que afecta directamente o sucesso da sua investigao. Assim,

    novos tempos, novos criminosos, novas tcnicas forenses.

  • 20

    1.3. Cincia Forense: objectivos, princpios e caractersticas

    A Cincia Forense centra-se na reconstruo de eventos nicos respondendo s

    questes Como aconteceu? O que aconteceu? Onde e quando aconteceu e quem

    esteve envolvido?

    Segundo Monter (2008) reconhecem-se cinco objectivos gerais da Cincia Forense:

    1. Investigar tecnicamente e comprovar cientificamente a existncia de um facto

    em particular.

    2. Determinar os fenmenos ocorridos e reconstruir a mecnica do acto,

    identificando os objectos e instrumentos de execuo, bem como as manobras de execuo

    do acto.

    3. Detectar evidncias, coordenar tcnicas e sistemas para a identificao da

    vtima e dos presumveis autores.

    5. Detectar e identificar evidncias para comprovar o grau de participao dos

    envolvidos no delito, tanto vitimas como suspeitos.

    Princpios bsicos

    No h unidade na Cincia Forense (GAUDETTE, 2000). Esta uma viso ampla,

    os prprios cientistas forenses vem esta cincia meramente como uma aplicao de

    conhecimentos generalizados de outras cincias, ignorando qualquer princpio ou teoria a

    ela subjacente. Este facto comprovado pelos vrios cientistas forenses como bioqumicos e

    ou qumicos.

    Assim, quando a Acusao apela a um cientista forense a Defesa opta pela opinio

    de um qumico, bioqumico ou geneticista considerada como mais qualificada. Os prprios

    cientistas forenses em tribunal deveriam pensar que auto-qualificar-se como cientistas

    forenses a melhor opo e questionar activamente as qualificaes de outros cientistas

    para aprontar provas ou detectar evidncias (ROBERTSON e VIGNEAUX, 1995).

    Cada crime ocorre em diferentes circunstncias e so afectadas por uma

    enormidade de variveis no replicveis. Acresce o facto da Cincia Forense usar amostras

    muito limitadas, tanto em quantidade como em qualidade e com uma histria desconhecida

    ou mesmo irreconhecvel. Adicionalmente, os processos legais impem constrangimentos e

    caractersticas nicas Cincia Forense, portanto a Cincia Forense necessita de

  • 21

    descrever os seus prprios princpios.

    Reconhecidas as dificuldades da Cincia Forense no que se refere sua unidade,

    Monter (2008) definiu 4 princpios bsicos da Cincia Forense:

    1. Princpio da troca. Em 1910 o francs Edmund Locard observou que todo o

    criminoso deixa uma parte si na cena do crime e leva algo consigo, deliberadamente ou

    inadvertidamente. Em termos gerais, sempre que dois objectos entram em contacto um com

    o outro haver sempre uma transferncia de material entre eles. Assim, a anlise destes

    indcios pode levar sua identidade.

    2. Princpio da correspondncia. Estabelece a relao entre os indcios e o autor

    dos factos. Por exemplo, se duas impresses digitais da mesma pessoa so detectadas

    numa arma quando foram disparadas dois projcteis pela mesma arma.

    3. Princpio da reconstruo dos factos. Para deduzir a partir dos elementos

    encontrados na cena do crime, como ocorreu o acto.

    4. Princpio de probabilidade. Deduz a possibilidade ou impossibilidade de

    ocorrncia de um fenmeno com base no nmero de caractersticas observadas.

    Outros cientistas forenses identificam apenas trs princpios fundamentais, a sua

    definio frequentemente confundida com o acima exposto: Princpio de uso; Princpio de

    produo; Princpio da segurana/certeza (ENCYCLOPEDIA OF FORENSIC SCIENCES,

    2000).

    Ser a Cincia Forense uma cincia subjectiva?

    Ser a Cincia Forense uma cincia objectiva? O dicionrio define objectivo como

    isento ou independente de sentimentos pessoais, opinio, preconceito, etc.. Para que

    formar um Parecer ou uma opinio necessrio o total conhecimento das circunstncias do

    caso, esta a chave para uma correcta interpretao dos factos, etapa considerada a base

    da Cincia Forense. Tambm deve ser levado em conta que todas as amostras forenses so

    de certa forma imprevisveis aos protocolos analticos padronizados

    Finalmente, como j foi referido a Cincia Forense preocupa-se essencialmente com

    a reconstruo de eventos nicos. O uso da estatstica permite alguma objectividade

    Cincia Forense.

    A subjectividade desenvolveu uma conotao negativa no mundo moderno, mas

    necessrio relembrar que o valor da objectividade, tal como da beleza, est na mente de

    quem o realiza. Alm disso, a fronteira entre objectividade e subjectividade , em si mesmo

    subjectiva. Para ser verdadeiramente objectivo, necessrio ignorar a experincia passada e

    o contexto (ENCYCLOPEDIA OF FORENSIC SCIENCES, 2000).

  • 22

    A experincia passada e as circunstncias do caso so factores que os cientistas

    forenses usam como grande vantagem na formao de uma opinio perita. Os cientistas

    forenses devem ser objectivos, no sentido da imparcialidade, e dando a devida importncia

    s hipteses alternativas. No entanto, deve ser lembrado que o objectivo da Cincia Forense

    s pode existir num quadro de julgamento subjectivo.

    Criminalstica Forense

    A cincia e a tecnologia tm um papel fundamental na investigao, deteco e

    identificao da prova material, com vista identificao dos agentes do crime. O conjunto

    dos princpios cientficos e mtodos tcnicos aplicados na investigao criminal, para provar

    a existncia de crime e o "modus operandi", afinal o cerne de uma rea de conhecimento

    designada por Polcia Cientfica, ou melhor, Criminalstica Forense. No entanto, h uma

    necessidade premente no sentido de uma abordagem introdutria Criminalstica num

    contexto global, interdisciplinar e transdisciplinar (ANES, 1991). Assim Criminalstica Geral

    vista como a cincia que se ocupa dos princpios metodolgicos de explicao e

    interpretao da evidncia fsica, apoiados pela estatstica e probabilidade. O'Brien e

    Sullivan, (1978) vo mesmo ao ponto de identificar a Criminalstica Geral com a designao

    de Cincia Forense.

    De acordo com a definio de Villanueva Caadas (1996), Criminalstica a cincia

    que estuda os indcios deixados no local do delito, graas aos quais se pode estabelecer,

    nos casos mais favorveis, a identidade do criminoso e as circunstncias que concorreram

    para o referido delito.

    Segundo Pinheiro (2008), o interesse mdico-legal da criminalstica reside no facto

    de se procurar vestgios anatmicos, biolgicos ou humorais que permitam estabelecer a

    identidade do autor do crime. Todavia, os referidos vestgios encontrados na cena do crime

    so de natureza muito diversa e, por isso, para a sua recolha deveriam participar indivduos

    especializados, designadamente, polcias, mdicos, peritos em balstica e impresses digitais

    e tcnicos do laboratrio onde so efectuados os exames, ou indivduos com informao

    suficiente de forma a fazerem a colheita e o acondicionamento dos vestgios nas melhores

    condies.

  • 23

    1.4. Cincia Forense, vestgio, evidncia, indcio e prova

    Os conceitos de evidncia, vestgio, indcio e prova so vulgarmente usados no

    nosso quotidiano, sem que se faa uma correcta distino entre estes vocbulos, assim

    torna-se importante esclarecer o significado de cada um deles.

    Numa investigao criminal, aquando do exame do local do crime, so detectados

    objectos, marcas, ou sinais que puderam estar ou no associados ao delito em questo,

    estes so designados de vestgios.

    No entanto somente quando os peritos procederem a todas as anlises e

    exames complementares estaro habilitados a determinar quais os vestgios que

    verdadeiramente estaro relacionados com o crime em questo.

    Para que um destes elementos seja considerado um vestgio necessrio: o agente

    provocador, o suporte e o vestgio em si. Assim sendo, o vestgio produzido pelo agente

    provocador da aco num determinado objecto ou local (suporte) (ESPNDULA, 2006).

    Desta forma conclui-se que o vestgio tudo o que esta presente na cena do crime.

    Apesar da ampla compreenso tcnica da palavra vestgio para a criminalstica, o

    seu significado pelo Dicionrio da Lngua Portuguesa impresso que o homem ou o animal

    faz com os ps no local por onde passa; pisada; marca; rasto; pegada; sinal de coisa que

    sucedeu.

    O vestgio passa a denominar-se evidncia quando provado atravs de exames

    complementares que de facto est associado com o crime.

    A evidncia, segundo definio do Dicionrio da Lngua Portuguesa, : qualidade ou

    carcter do que evidente, que incontestvel, que todos podem ver ou verificar, certeza

    manifesta. Por sua vez, na criminalstica, evidncia significa qualquer material, objecto

    ou informao que est relacionado com a ocorrncia do delito.

    medida que a investigao progride para a fase processual, estas duas

    nomenclaturas (vestgio e evidncia) passam a denominar-se no meio judicial, de indcios.

    Segundo Espndula (2006):

    Vestgio todo objecto ou material bruto detectado e/ou recolhido no

    local do crime para anlise posterior.

    Evidncia o vestgio depois de feitas as anlises, onde se constata

    tcnica e cientificamente a sua relao com o crime.

    Indcio uma expresso, utilizada no meio jurdico, que significa cada

    uma das informaes (periciais ou no) relacionadas com o crime.

  • 24

    Apesar destas diferenciaes conceituais entre as trs expresses, comum

    observarmos a utilizao indistinta das trs palavras como se fossem sinnimos.

    O conceito de prova esclarecido no Decreto-Lei n. 48/20071 do Cdigo de

    Processo Penal, que define objecto da prova como: todos os factos juridicamente

    relevantes para a existncia ou inexistncia do crime, a punibilidade ou no punibilidade do

    arguido e a determinao da pena ou da medida de segurana aplicveis. Se tiver lugar

    pedido civil, constituem igualmente objecto da prova os factos relevantes para a determinao

    da responsabilidade civil.

    1 Decreto-Lei n. 48/2007, de 29 de Agosto 15. alterao ao Cdigo de Processo Penal, aprovado pelo Decreto -Lei

  • 25

    1.5. Idoneidade do vestgio

    A Idoneidade no mais do que a garantia de o vestgio mantm as caractersticas

    necessrias para que possa tornar-se prova em Tribunal. Estas garantias so da

    responsabilidade de todos os intervenientes no processo (policias, especialistas forenses,

    entre outros).

    A importncia da idoneidade justifica a necessidade de seguir um protocolo rigoroso

    na abordagem ao vestgio. Este protocolo engloba a constatao, o registo, a identificao,

    exames e anlises necessrias para obteno de prova. Uma vez que pode comprometer

    todo o trabalho e, com isso, prejudicar o conjunto da investigao criminal e do

    processo judicial posterior.

    Muitos investigadores falham no modo como abordam a investigao de um crime,

    pelo simples facto de no capitalizarem o enorme potencial da evidncia (prova material). O

    investigador, para atingir os seus intentos de modo pleno, deve reflectir sobre:

    1 - que tipo de evidncia se trata;

    2 - como a obter e preservar;

    3 - como obter a informao que ela encerra (elaborao dos quesitos);

    4 - como interpretar a informao obtida (relatrios de peritagens).

    A evidncia pode ter forma e dimenses muito variveis. Pode ser constituda por

    armas, alavancas de ferro, fragmentos de engenhos explosivos, mas tambm, e o mais

    frequente, ser constituda apenas por vestgios de impresses digitais, pegadas, cabelos,

    pelos, vidros partidos, marcas de ferramentas, fragmentos de tinta, sangue, esperma, saliva,

    solo, fibras, etc., que o criminoso deixa ou com ele transporta, tornando-se tudo isto em

    testemunhas silenciosas.

    A evidncia factual, no se perjura a si prpria e que nunca est completamente

    ausente. S na sua interpretao pode haver erro, ou a incapacidade humana em encontr-

    la e estud-la nos seus contornos mais volteis, lhe pode diminuir o seu valor.

    Muito se fala sobre a importncia do exame pericial, considerado no seu sentido

    amplo. Todavia, devemos levar em considerao que essa importncia est relacionada ao

    somatrio de pequenas partes de todo o conjunto dos exames periciais.

    O exame pericial num local de crime divide-se numa srie de rotinas e

    procedimentos, em que a relevncia representada por cada uma das fases deste exame

    pericial, no contexto da valorao da idoneidade do vestgio, que a matria-prima.

    Neste sentido importante que o perito tenha em ateno a possibilidade de

    existncia de vestgios verdadeiros, ilusrios e ou forjados e a capacidade de os

  • 26

    distinguir eficazmente, a sua anlise do local do crime de fundamental importncia para o

    sucesso da percia.

    Vestgios verdadeiros

    O vestgio verdadeiro uma depurao total dos elementos encontrados no local

    do crime, pois somente o so aqueles produzidos directamente pelos autores da

    infraco e, ainda, que resultem directamente das aces do delito em si (ESPNDULA,

    2006).

    Para entendermos o que seriam esses vestgios da aco directa do delito, pode

    dizer-se que, p. ex., se o agressor coloca uma arma de fogo na mo da vtima para simular

    situao de suicdio, este um vestgio forjado e, portanto, no se trata de elemento

    produto da aco directa do delito em si.

    Vestgios ilusrios

    Alberi Espndula (2006) define vestgio ilusrio como todo elemento encontrado no

    local do crime que no esteja relacionado com as aces dos actores da infraco e desde

    que a sua produo tenha ocorrido de maneira no intencional.

    A produo de vestgio ilusrio no local de crime muito grande, tendo em vista a

    problemtica da falta de isolamento e preservao do local. Este o maior factor da sua

    produo, pois contribuem para isso desde os populares que transitam pela rea de

    produo dos vestgios, at os prprios elementos das polcias pela sua falta de

    conhecimento das tcnicas de preservao do local do crime.

    Vestgios forjados

    Por vestgio forjado entende-se todo elemento encontrado no local do crime, cujo

    autor teve a inteno de produzi-lo, com o objectivo de modificar o conjunto dos

    elementos originais produzidos pelos autores da infraco (ESPNDULA, 2006) tentando

    ludibriar os peritos e assim alterar o normal decurso da percia criminal podendo por at em

    causa toda a investigao e a identificao dos responsveis pela infraco.

  • 27

    1.6. reas da Cincia Forense

    Dependendo do tipo de casos e das caractersticas do meio em que so cometidos,

    a equipa de investigadores varia, sendo constituda por especialistas nas mais diversas

    reas como as que aqui esto referidas. Por exemplo:

    - Antropologia

    - Entomologia

    - Ondotologia

    - Patologia

    - Psicologia

    Apesar destas serem as reas que mais vezes so requeridas em investigao, h

    que referir que por exemplo reas como a Meteorologia ou Engenharias podem ser

    necessrias.

    Antropologia Forense

    A Antropologia Forense a aplicao da Antropologia e da Osteologia (Estudo do

    Esqueleto humano) em situaes em que o corpo j est bastante decomposto. Os

    antropologistas forenses ajudam na identificao de cadveres que se encontrem ou

    decompostos, ou mutilados, ou queimados ou que sejam impossveis de reconhecer por

    diversas outras razes podendo desvendar a idade que tinham quando morreram, a sua

    altura, sexo, tempo decorrido desde a morte, doenas e leses traumticas para determinar

    a causa da morte do indivduo quer seja suicdio ou homicdio.

    Entomologia Forense

    A Entomologia Forense consiste no estudo de insectos, aracndeos, crustceos e

    muitos outros tipos de animais com propsitos forenses. Esse estudo ir permitir descobrir a

    data e local da morte ao serem analisados os animais encontrados na vtima bem como os

    ovos que podem ter depositado nesta. Alm disso como certos insectos so especficos a

  • 28

    uma determinada estao do ano ou clima ser uma prova bastante conclusiva em tribunal

    em relao data e local da morte bem como para desmentir diversos falsos libis.

    Odontologia Forense

    A Odontologia Forense consiste na anlise e avaliao de provas com carcter

    dentrio podendo desvendar a idade das pessoas (caso sejam crianas devido dentio de

    leite) e a identidade da pessoa a que pertencem os dentes. Outro tipo de provas dentrias

    pode ser as marcas de mordeduras deixadas na vtima ou no assassino (devido a uma luta)

    ou num objecto deixado na cena do crime. Essas 38 marcas so tambm frequentemente

    encontradas em crianas que tenham sido vtimas de abusos sexuais.

    A Odontologia Forense tem no entanto sofrido as crticas de diversos especialistas

    que acreditam que esta no merece o carcter infalvel com que vista pois a comparao

    de marcas de mordeduras sempre subjectiva no havendo bases para comparao que

    tenham sido aceites no campo dessa medicina. No se procedeu tambm a nenhuma

    experincia rigorosa como forma de calcular as percentagens de erro dessa mesma

    comparao, uma parte chave do mtodo cientfico.

    Esta rea da Cincia Forense compreende diversos ramos de interveno que vo

    desde a avaliao do dano orofacial ps-traumtico (no mbito da clnica mdico-legal do

    direito penal, civil ou do trabalho), at identificao de indivduos mortos ou identificao

    de agressores, atravs das marcas de mordida (MAGALHES, 2003).

    Patologia Forense

    A Patologia Forense que se confunde com a Tanatologia Forense a rea da

    Cincia Forense mais preocupada em determinar a causa da morte de uma vtima. O

    mdico patologista, partindo do exame do local, da informao acerca das circunstncias da

    morte, e atendendo aos dados do exame necrpsico ou autopsia mdico-legal vitima,

    procura determinar: a identificao do cadver, o mecanismo da morte, a causa da morte, o

    diagnstico diferencial mdico-legal (acidente, suicdio, homicdio ou morte de causa natural).

    Santos (2003) afirma que Tanatologia Forense interessa desde logo o exame do

    local, as circunstncias que rodearam a morte, interessa tambm uma informao clnica o

    mais detalhada possvel com referncia ao resultado de exames complementares, interessa

    o estudo minucioso do cadver e os exames complementares que se entendam realizar no

    decurso da autpsia, por forma a poder-se elaborar um relatrio que ser enviado

  • 29

    autoridade judicial que requisitou a autpsia.

    Psicologia Forense

    A Psicologia Forense, apesar de no ter grande importncia na descoberta do

    assassino vai ser extremamente importante para determinar o motivo por trs do

    comportamento de um criminoso e em certos casos descobrir uma sequncia nos dos seus

    actos. Ser tambm extremamente importante em tribunal de forma a determinar a culpa ou

    inocncia de um suspeito sendo algumas vezes decisiva. Muitos advogados de defesa

    tentam salvar os seus clientes alegando que estes possuem problemas mentais ou que so

    insanos e psicologia que cabe o papel de verificar se isso verdade ou mentira.

  • 30

    1.7. Referncias bibliogrficas

    ANES, J. - Uma Introduo Criminalstica Qumica. Princpios; Problemas e Tendncias. Rev. Inv.

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  • 31

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    Importancia del indicio y del lugar de los hechos. Cuadernos de Medicina Forense. [S. l.: s. n.]: 3

    (1996).

    VILLANUEVA CAADAS, E. ACOSTA, M. ACOSTA J.- La medicina clnica ante los indicios criminales

    biolgicos y la identificacin gentica. Med Clin. Barcelona: [s.n.]. 102: 115 (1994).

  • 32

  • 33

    CAPTULO 2 CENA DO CRIME

  • 34

  • 35

    2. Cena do crime

    Segundo Villanueva Caadas (1996) A cena do crime o lugar relacionado com a aco do

    crime a determinada altura e que deve ter deixado algum vestgio ou sinal do agressor ou algumas

    das caractersticas do acto.

    2.1. Cena do crime, Protocolo da investigao forense

    A mecnica de investigao do local do crime parece simples, mas na verdade um

    processo intrincado que relaciona mltiplas tarefas.

    Segundo Rudram (1996), cada cenrio de crime diferente e pode exigir uma

    abordagem diferente, contudo existe um protocolo de base que deve ser respeitado em todas

    as cenas crime.

    O trabalho de um cientista forense pode ser visto atravs de cinco etapas do

    processo de evidncia fsica:

    Figura 2-1 Processo de evidncia fsica (adaptado ENCYCLOPEDIA OF FORENSIC SCIENCES, 2000).

  • 36

    O referido protocolo apresenta cinco etapas na investigao da cena do crime, em

    que existe uma grande interligao entre os vrios passos.

    Se a "teoria" do caso dita que o intruso fora a entrada na residncia atravs de uma

    janela, em seguida, o tcnico forense ter de analisar/examinar a rea da janela de forma

    obter os padres de calado, as evidncias das ferramentas usadas, evidncias biolgicas e

    impresses digitais latentes. Aps a concluso destes elementos de prova o tcnico ter de

    fotografar a sua localizao e possivelmente elaborar um esboo mostrando a localizao

    exacta das provas ou, talvez, um esboo do padro do calado. Esta combinao de todos

    os passos do protocolo continuar durante todo a investigao da cena do crime.

    Este protocolo dever ser utilizado em todas as cenas crime. Se a cena do crime

    um veculo roubado ou um mltiplo homicdio onde vrias cenas crime esto envolvidas o

    protocolo bsico o mesmo.

    O manuseamento posterior dos vestgios e objectos que constituem a prova material,

    deve ter em conta a manuteno da cadeia de custodia, a preservao em espcie e

    quantidade, e evitar qualquer contaminao com material estranho que possam confundir os

    elementos previamente recolhidos.

    No caso de acidentes com viaturas, comboios, avies, navios ou em destroos de

    indstrias sinistradas, o local da poro de material a recolher para anlise pericial nos

    laboratrios, deve ser fotografado antes e depois da colheita da amostra tendo como

    referncia os materiais circundantes, para se registar a sua posio exacta no contexto geral.

    Esta prtica impede o perjrio do local do crime em data posterior, quando novas recolhas se

    mostrem convenientes, face aos resultados analticos preliminares realizados pelos

    laboratrios forenses.

    Ocorrncia da evidncia

    O cientista forense est envolvido em todo o processo passando por cada uma

    destas etapas apresentados. A fundamentao pericial s estabelecida quando

    produzida a evidncia:

    - quando uma assinatura falsificada;

    - quando partculas de vidro so transferidas de uma janela partida para um par de

    luvas descartveis usadas por um ladro;

    - quando o sangue de uma vitima encontrado numa faca usada como arma de

    crime e persiste a uma lavagem imperfeita, entre outros exemplos.

    O conhecimento da ocorrncia de uma evidncia crucial para o desenvolvimento

    do processo, e assim passar fase seguinte.

  • 37

    Anlise do local do crime

    A anlise do local do crime engloba a entrevista, o exame, a fotografia e esboo.

    Entrevista

    A Entrevista o primeiro passo para a anlise do local do crime. O tcnico

    responsvel deve entrevistar o primeiro oficial que chegou ao local ou a vtima para verificar

    a "teoria" do caso. Basicamente o que teria acontecido, que crime ocorreu, e como o crime

    foi cometido. Esta informao pode no ser a informao factual, mas dar ao tcnico uma

    base a partir da qual se pode comear.

    Exame

    O Exame da cena de crime a segunda etapa do protocolo. O objectivo verificar

    se a "teoria" do caso apoiada por aquilo que tcnico observa. O exame da cena permite

    identificar possveis pontos de entrada e de sada, ficando, assim, com o layout geral da cena

    do crime.

    Fotografia

    Fotografar a cena do crime o terceiro passo do protocolo. Fotografando o crime

    para gravar uma vista pictrica daquilo que se parece com a cena e para gravar itens de

    eventuais provas. Desenho da cena do crime a quarta etapa no protocolo. Um esboo

    spero completado pelo tcnico forense para demonstrar a disposio da cena do crime ou

    para identificar a posio exacta de vtimas ou de provas. O esboo da cena de crime no

    pode ser preenchido em todos os casos, no entanto ocorre na maioria dos casos.

    Colheita

    A colheita de evidncias constri-se nesta base. Por vezes, a recolha de

    evidncias simples e directa. Por exemplo pedaos de plstico partido de um automvel

    envolvido num acidente e posto em fuga; noutros tempos fazia parte da rotina prtica ()

  • 38

    No local do crime, a localizao e posio relativa das evidncias tem um papel

    fundamental na reconstituio do evento/crime, portanto fundamental a gravao e

    documentao destas informaes.

    Anlise

    As evidncias recolhidas tm que ser analisadas. nesta fase do processo que a

    Cincia Forense entra no campo de outras cincias como a Qumica Analtica, Biologia

    Molecular, entre outras. Contudo, problemas nicos podem suceder porque os cientistas

    forenses lidam com amostras ou vestgios com histria desconhecida e muitas vezes

    degradadas, contaminadas ou outros desafios ambientais.

    Adicionalmente, as quantidades recolhidas no so as ideais que permitam

    mtodos analticos ou clnicos estandardizados, portanto, os cientistas forenses vem-se

    obrigados a criar protocolos analticos que vo de encontro s suas

    necessidades/circunstncias especiais.

    Interpretao

    A interpretao a quarta fase deste processo, a base da Cincia Forense.

    Baseado nos resultados do exame ao local o cientista forense desenha as concluses da sua

    interpretao emitindo um Parecer tcnico.

    Para permitir uma correcta interpretao da evidncia, o cientista forense sente a

    necessidade de possuir um completo conhecimento do caso e de todas as circunstncias

    envolventes.

    Antes considerava-se que o cientista forense deveria trabalhar isolado do resto da

    investigao, defendia-se que com conhecimento de todos os detalhes do crime o cientista

    iria perder a objectividade. Actualmente, j reconhecido que a interpretao s poder

    ser valorizada quando devidamente contextualizada (ENCYCLOPEDIA OF FORENSIC

    SCIENCES, 2000).

  • 39

    Apresentao

    A etapa final de Apresentao sumariza todo o processo de evidncia fsica.

    A Apresentao, na maioria das vezes assume a forma de um relatrio

    laboratorial e tambm pode envolver, em tribunal, depoimentos de especialistas no assunto

    em causa.

    2.2. Cadeia de custdia

    As possibilidades tcnicas de realizao de uma prova pericial esto sujeitas

    qualidade das amostras, o que, em muitos casos, inerente prpria amostra. Porm,

    muitas vezes, a qualidade depende dos processos de colheita e de armazenamento destas

    amostras at a chegada ao laboratrio para anlises. Acrescente-se que a admissibilidade

    e a robustez das provas nos tribunais dependem sobretudo de como foram realizados os

    ditos processos e do cumprimento da cadeia de custdia (SHIRO, 1998).

    A cadeia de custdia o processo que conduz a uma inspeco, cuidado e

    responsabilizao da qualidade dos indcios para que fiquem salvaguardadas a sua autenticidade

    e a integridade em todo o processo (BONACCORSO, 2004).

    Tendo sempre em conta a cadeia de custdia na prtica forense fica garantido que o

    indcio encontrado na cena do crime o mesmo que se apresenta como prova em julgamento

    perante uma autoridade judicial (MONTER, 2008)

  • 40

    2.3. Referncias bibliogrficas

    BONACCORSO, N. - Anlise Forense de DNA. So Paulo: Editora Fittipaldi, 2. Edio, 2004.

    Collection and preservation of evidence. Shiro, G. Louisiana: State Police Crime Laboratory,

    [1998].

    Evidence collection guidelines. California Commission on Peace Officer Standards and

    Trainings Workbook for the Forensic Technology for Law Enforcement, [S.l.:s.n.], [1998].

    Evidence submission. Handbook of Forensic Services. New York: FBI, [1999].

    MONTER, P. Introduccin a la Criminalstica de campo y de Laboratorio. Ciencia forense.cl

    rev on line de criminalstica (2008).

    VILLANUEVA CAADAS, E. ACOSTA, M. ACOSTA J.- La tecnologa del ADN en Medicina

    Forense: Importancia del indicio y del lugar de los hechos. Cuadernos de Medicina Forense. [S. l.: s. n.]:

    3 (1996).

  • 41

    CAPTULO 3 VESTGIOS BIOLGICOS FORENSES

  • 42

  • 43

    3. Vestgios biolgicos forenses

    A anlise de vestgios (alguns definem por "traciologia2") inclui manchas de sangue,

    cabelos, plos e outros que possam levar descoberta de criminosos, como smen, saliva,

    urina, fezes, ossos, peas dentrias (COSTA, 2008).

    3.1. Mtodos gerais de deteco de vestgios biolgicos na cena do

    crime

    3.1.1. Utilizao de fontes de luz

    A Espectroscopia a designao para toda a tcnica de levantamento de dados

    fsico-qumicos atravs da transmisso, absoro ou reflexo da energia radiante ou luz

    incidente numa amostra. Fontes de luz especiais so usadas na rea forense com a

    inteno de revelar indcios que no so visveis a olho nu sob a luz ambiente. A mesma

    fonte de luz pode ser usada para fotografar os vestgios, ou simplesmente para indicar a sua

    localizao fsica permitindo assim a sua colheita. Essas provas podem ser "invisveis" por

    vrias razes. Por exemplo, pode haver apenas um rasto, como uma pequena gota de

    sangue ou um nico cabelo. O material pode ser incolor, como uma mancha de smen. As

    fontes de luz podem ser usado para revelar essas evidncias, quer por fluorescncia quer

    por contraste. A ideia, em ambos os casos melhorar a visibilidade do prprio vestgio e/ou

    tornar o fundo mais escuro quando a cena varrida com a fonte luminosa.

    A fluorescncia um fenmeno em que um determinado objecto absorve a luz de

    um determinado comprimento de onda emitindo em seguida e praticamente em simultneo

    uma cor diferente. A cor emitida sempre o vermelho. Assim, a luz reflectida e espalhada

    na ausncia de material fluorescente, quase completamente obstruda, permitindo uma

    maior visibilidade de objectos fluorescentes. (Figura 3-1)

    2 COSTA, 2008

  • 44

    Figura 3-1 - Quando uma impresso digital ou outro vestgio fluorescente so iluminados por uma luz

    verde (ou azul), a fluorescncia facilmente distinguvel pela luz difundida usando um

    filtro laranja (Guffey, 2008).

    A primeira fonte de luz usada na rea forense foi a chamada "luz negra". O formato

    de uma lmpada de luz negra parecido com o de uma lmpada fluorescente, com

    algumas modificaes importantes. As lmpadas fluorescentes geram luz passando

    electricidade atravs de um tubo cheio de gs inerte e uma pequena quantidade de mercrio.

    Quando so electrizados, os tomos de mercrio emitem energia na forma de fotes

    de luz. Eles emitem alguns fotes de luz visvel, mas emitem principalmente fotes na faixa

    de onda ultravioleta (UV). As ondas de luz UV so curtas demais para que possamos v-las,

    sendo completamente invisveis. Desse modo, as lmpadas fluorescentes precisam

    converter essa energia em luz visvel. Elas fazem isso com um revestimento de fsforo ao

    redor do exterior do tubo.

    O fsforo uma substncia fosforescente. Quando um foto atinge um tomo de

    fsforo, um dos electres do fsforo salta para um nvel de energia mais alto, fazendo com

    que o tomo vibre e gere calor. Quando o electro retorna para seu nvel normal, liberta

    energia na forma de outro foto. Esse foto tem menos energia do que o foto original

    porque parte da energia foi perdida na forma de calor. Numa lmpada fosforescente, a luz

    emitida est no espectro visvel o fsforo emite a luz branca que podemos ver.

    A luz negra funciona por esse mesmo princpio. H, na verdade, dois tipos

    diferentes de luz negra, mas funcionam do mesmo modo:

    Uma luz negra de tubo uma lmpada fluorescente com um tipo diferente de

    revestimento de fsforo. Esse revestimento absorve as ondas nocivas de luz UV-B e UV-C e

    emite luz UV-A, do mesmo modo que o fsforo numa lmpada fluorescente absorve a luz

    Luz

    incidente

    Filtro

    Fluorescncia

    Luz

    difundida

  • 45

    UV e emite luz visvel. O prprio tubo de vidro "negro" bloqueia a maior parte de luz visvel,

    de modo que somente a luz UV-A de onda longa, que benigna e alguma luz visvel azul e

    violeta passam por ele.

    Uma lmpada de luz negra incandescente similar a uma lmpada domstica

    normal, mas usa filtros de luz para absorver a luz do filamento aquecido. Estes absorvem

    tudo excepto a luz infravermelha (IV) e UV-A, alm de um pouco da luz visvel.

    Nesses dois modelos de luz, a luz UV emitida reage com o fsforo externo

    exactamente do mesmo modo que a luz UV dentro de uma lmpada fosforescente reage

    com o revestimento de fsforo. O fsforo externo brilha enquanto a luz UV incide sobre

    ele.

    Assim, a lanterna de luz negra revela, basicamente, tudo o que contm fsforo, ou

    seja, os fluidos corporais, cabelos, fibras, entre outros vestgios. Para os fluidos

    corporais, como o smen, a saliva e fluidos vaginais, este tipo de luz o nico mtodo

    de revelao. Usando um contraste com radiao visvel, como por exemplo os culos

    cor-de-laranja, a deteco dos vestgios ainda mais fcil.

    Para cabelos e fibras, os investigadores utilizam dois tipos de iluminao: uma luz

    branca muito forte oblqua e paralela superfcie para revelar pequenos vestgios e permitir a

    colheita. Mas alguns fios de cabelo e fibras s aparecero sob radiao UV, sendo mais

    segura a colheita.

    Depois de amplamente utilizada a luz negra veio a fonte de luz alternativa

    (ALS), que era basicamente uma fonte de luz branca que emitia prximo da gama do visvel

    e ultravioleta, adicionando alguns filtros de luz.

    Mais recentemente, estes sistemas baseados na lmpada foram substitudos pelos

    sistemas de segunda gerao de ALS baseada em LEDs (Light-Emitting Diode). Cada LED

    nestes sistemas pode ser activada ou desactivada, dependendo da necessidade, assim,

    permite emitir mais de uma cor de diferentes comprimentos de onda.

    Actualmente existem vrios produtos qumicos com a funo de auxiliar os peritos

    forenses na investigao do local do crime. Estes qumicos reagem com os vestgios de

    forma a torna-los visveis facilitando a sua deteco, identificao, colheita e documentao.

  • 46

    3.1.1.1. Alguns exemplos de aparelhos de deteco

    Existem inmeros aparelhos utilizadores de fontes de luz alternativas

    comercializados actualmente. Alguns exemplos dos mais utilizados na rea forense:

    UltraLite-ALS de CAO Group INC., uma fonte de luz alternativa usada para

    encontrar, processar, documentar e preparar a evidncia forense para o processamento

    criminal. Permite seleccionar cabeas de luz com intensidades e filtros de luz diferentes

    dependendo do tipo de local de crime a investigar e quais os vestgios a detectar. Um

    exemplo a Blue-Merge Technology (BMT), uma cabea de luz que possibilita uma

    combinao de vrios comprimentos de onda para optimizar a investigao forense.

    Figura 3-2 - Cabea de luz azul BMT e os culos mbar (http://www.ultralite-als.com/)

    Alm da cabea de luz Azul BMT existem outras com diferentes comprimentos de

    onda, a cabea de 405 nanmetros UV produz luz prxima do ultravioleta (UV) com filtros

    mbar, a cabea de 525 nanmetros VERDE, produz uma luz que est na poro do verde

    no espectro visvel, mais usada para impresses digitais, a cabea de 590 nanmetros

    AMARELA, esta cabea com filtro mbar usada para detectar fibras e plos, e a cabea

    de 630 nanmetros VERMELHA.

    Em cincias forenses os comprimentos de onda mais curtos, como 450

    nanmetros (nm), so os mais teis na deteco de fluidos corporais, fragmentos de ossos

    e dentes, marcas mordedura e hematomas. Embora os comprimentos de onda mais

    longos, como 480 nanmetros (nm), sejam mais teis para detectar rastos e impresses

    digitais. Para proceder deteco dos vestgios no local de crime necessrio

    seleccionar um sistema de filtros de luz em vidro.

  • 47

    Figura 3-3 - Fragmentos de ossos humanos e dentes, na imagem da esquerda no usada nenhuma

    fonte de luz nem filtro, assim os vestgios em causa misturam-se com a areia e a

    gravilha; na figura da direita a mesma imagem com a cabea BMT TM

    com filtro de

    mbar (http://www.ultralite-als.com/).

    Figura 3-4 - Deteco de Fluidos corporais, saliva sobre ganga, na imagem da esquerda a mancha

    imperceptvel (imagem sem fonte de luz alternativa nem filtro), o vestgio visvel na

    imagem direita quando usada a cabea BMT TM

    com filtro de mbar

    (http://www.ultralite-als.com/).

  • 48

    Figura 3-5 - Deteco de Fluidos corporais, smen num lenol de cama, na imagem da esquerda a

    mancha demasiado tnue para ser visvel a olho nu (imagem sem fonte de luz

    alternativa nem filtro), o vestgio visvel na imagem direita quando usada a cabea

    BMT TM

    com filtro de mbar (http://www.ultralite-als.com/).

    Figura 3-6 - Deteco de Fluidos corporais, urina num lenol de cama, na imagem da esquerda a mancha

    demasiado tnue para ser visvel a olho nu (imagem sem fonte de luz alternativa nem

    filtro), o vestgio visvel na imagem direita quando usada a cabea BMT TM

    com filtro

    de mbar (http://www.ultralite-als.com/).

    Sistema Crimescope

    O crimescope, ou fonte de luz de uso forense, um instrumento precioso na busca

    de vestgios como plos, fibras, impresses digitais, amostras biolgicas. A j conhecida "luz

    azul" usada numa cena de crime apenas uma das muitas funcionalidades deste aparelho.

    Atravs do uso de luzes com diferentes comprimentos de onda (UV, infravermelhos, visvel),

  • 49

    o vestgio pode ser encontrado, mesmo aqueles que o olho humano no pode ver sem o

    auxlio de tecnologia. Esta fonte luminosa tambm porttil e pode ser levado cena do

    crime, sem ter que remover provas do local original; que pode ser extremamente

    importante. (FACT - http://www.abqcrimelab.com/)

    CrimeScope, Mini-CrimeScope e HandScope so fabricados em Edison, NJ,

    E.U.A. por JY Inc. SPEX Diviso Forense.

    Aplicaes: detecta impresses digitais, fluidos corporais, danos da pele humana

    (marcas de mordida e hematomas), pegadas, resduos humanos, fragmentos sseos,

    drogas, fibras, plos, entre outras (http://www.crimescope.com/).

    Figura 3-7 Do lado esquerdo est representado um HandScope; do lado esquerdo um Mini-

    CrimeScope. (www.evidentcrimescene.com/cata/spex/spex.html).

    Outros exemplos de sistemas utilizadores de fontes de luz alternativa so as

    lanternas BLUEMAXX da SIRCHIE. Estas lanternas portteis so capazes de tornar

    fluorescentes, ou fazer com que emitam luz, certos materiais de interesse forense - incluindo

    fluidos fisiolgicos (tais como urina, smen e saliva), certas drogas e materiais tratados com

    certos ps e corantes fluorescentes. Eles so especialmente teis como instrumentos para

    localizar evidncias para subsequente colheita e anlise atravs de buscas na rea do crime.

  • 50

    Figura 3-8 Lanternas BLUEMAXX (http://www.conecta190.com. Acesso a 18 Setembro 2008).

    3.1.2. Fotografia Digital

    A recente utilizao de fotografia digital com o uso de luz Ultravioleta e

    Infravermelha (UV/IR) aparece como grande ajuda aos peritos forenses. Desde a era digital

    por volta de 2000, cientistas e tcnicos forenses na comunidade, mdicos e professores

    universitrios comearam a procurar formas criativas de adaptar esta nova tecnologia s

    suas reas de investigao. Inevitavelmente, uma srie de talentosos investigadores

    forenses virou a sua ateno para o problema da projeco digital de imagem UV/IR. Em

    princpio, no tanto do ponto da velocidade e da melhoria da qualidade, mas simplesmente

    por se tratar de um mtodo moderno e acessvel.

  • 51

    Figura 3-9 Do lado esquerdo est representado uma foto da amostra no modificada; no lado direito

    est a foto da mesma amostra mas com filtros UV/IR (Disponvel em: www.Fujifilm.com

    Acesso a : 12 de Dezembro 2007).

    Na fotografia do lado direito ficam bem perceptveis as manchas de sangue enquanto

    que na fotografia do lado esquerdo so praticamente invisveis. E tudo isto observado em

    tempo real, sendo assim trata-se de uma mais-valia para os peritos, permitindo-lhes a

    deteco e identificao de evidncias fsicas, incluindo pele lesionada, resduos qumicos e

    fibras, e manchas de vestgios biolgicos.

    A capacidade de observar e identificar os detalhes no escuro em contraste tambm

    de grande ajuda em diferentes cenrios de crime.

    3.1.3. Tecnologia laser

    A Tecnologia Laser tambm utilizada na rea forense.

    Esta tecnologia permite varrer o local do crime procura de diferentes tipos de

    evidncias forense, num curto espao de tempo, fundamental para o sucesso de uma

    percia, especialmente porque a maioria dos cenrios de crime degradam-se com o tempo.

    Guffey (2008) afirma que num nico exame com este laser pode capturar todos os

    tipos possveis de vestgios (biolgicos, fibras, plos, etc), com maior sensibilidade e eficcia

    que as mltiplas buscas com filtros convencionais com alteraes tpicas da fonte de luz

    alternativa (ALS), como o caso das cmaras digitais. Juntamente com o facto de este novo

  • 52

    tipo de laser ser de manuseamento fcil sem exigir grande experincia, isto significa que o

    local do crime pode ser processado muito rapidamente, com o mnimo de pessoal e baixo

    oramento.

    A principal vantagem do laser sobre as ALS e outras fontes que as outras fontes

    de luz emitem uma grande gama de cores, j o laser emite toda a intensidade da sua luz

    numa nica cor. Alm disso, com apenas alguns watts de potncia, o laser pode dar

    resultados muito melhores do que uma lmpada com um quilowatt de energia.

    Igualmente importante, que se ultrapassa a necessidade de seleccionar qual a cor e filtros

    e filtro a usar.

    Antigamente esta tecnologia de raios laser era muito grande, pesada, cara e

    complexa demais para o amplo uso em medicina forense. Alm disso, era necessria uma

    linha de energia, e muitas vezes uma fonte de gua para arrefecimento. Actualmente existe

    laser verde e compacto, que usa tecnologia OPS (semicondutor de bombeamento ptico/

    estabilizao ptica de Imagem). Eles produzem uma intensa luz verde, mos livres,

    baterias, ferramentas, e so to fceis de usar como uma lanterna. Em alguns modelos, a

    bateria pode ser carregada novamente a partir do isqueiro do veculo e no caminho para o

    local do evento.

    Exemplos deste tipo de tecnologia so: o laser de rgon de SceneSweeperTM

    e o

    Leica ScanStation 2 scanner laser.

    Figura 3-10 Exemplo de um aparelho que usa a tecnologia laser (GUFFEY, 2008)

  • 53

    Figura 3-11 Exemplo de um aparelho que usa a tecnologia laser, Leica ScanStation 2 scanner laser

    (Disponvel em: www.leica-geosystems.com, acesso a: 23 Setembro 2008).

  • 54

    3.2. Vestgios biolgicos forenses: o Sangue

    O sangue um dos vestgios biolgicos mais comuns em qualquer cena de crime.

    Assim sendo o perito forense est bastante familiarizado com este tipo de vestgio, sendo um

    dos seus objectivos na anlise da cena do crime a deteco de evidncia de sangue.

    Existem situaes em que a mancha de sangue evidente. Quando se localiza, por

    exemplo, prximo ao corpo alvejado por um disparo de arma de fogo. Contudo, h casos em

    que a mancha no explcita. Existe a possibilidade, tambm, de que o criminoso limpe a

    cena do crime.

    3.2.1. Sangue, Constituio e funes

    Sendo responsvel por cerca de 8 % (em mdia) da massa corporal humana, o

    sangue pode ser descrito como uma mistura de vrios componentes, de entre eles

    destacam-se as clulas, protenas, substncias inorgnicas (sais) e gua. Cerca de 55 %

    (em volume) do sangue o que denominamos de plasma constitudo principalmente por

    gua e sais dissolvidos. Os componentes slidos so: eritrcitos, leuccitos e plaquetas com

    funes especficas no nosso organismo.

    Figura 3-12 - Constituintes do sangue (Disponvel em: http://www.cienciasbiologicas.org/sangue2.jpg

    acesso a 22 de Outubro de 2008).

  • 55

    O sangue tem inmeras funes. De destacar o transporte dos gases, oxignio e

    dixido de carbono pelo nosso corpo. Ele medeia a troca de substncias entre rgos e

    transporta os produtos metablicos. O sangue tambm distribui hormonas por todo o

    organismo.

    A homeostasia tambm funo do sangue. A manuteno da temperatura corporal

    realizada com sua ajuda, pois o calor transportado pelo sangue. Alm disto, o equilbrio

    cido-base regulado por ele em combinao com os pulmes, fgado e rins. Tambm a

    defesa contra agentes patognicos e auto-proteco, fenmeno conhecido como coagulao

    e que evita a perda excessiva do fluido vital, so da sua responsabilidade.

    3.2.2. Estudo forense do sangue

    O estudo deste vestgio biolgico forense crucial na investigao de um crime. O

    resultado deste estudo muitas vezes o principal responsvel pela resoluo de inmeros

    crimes.

    3.2.2.1. Anlise macroscpica e colheita

    As caractersticas do suporte da amostra devem ser relatadas atravs da sua

    descrio, como, por exemplo, o material em que confeccionado, cor e estado de

    conservao. As manchas devem ser localizadas e descritas quanto ao aspecto e tamanho.

    Deve ser verificado se apresenta quantidade suficiente ao exame, a possibilidade de ter sido

    lavada, se est livre de contaminaes, bem como as possveis dificuldades quanto a sua

    extraco para anlises de Biologia molecular. No local do crime, deve ser colhida e

    guardada de forma a evitar contaminao e/ou deteriorao (SCHULLER et. al., 2001).

    Colheita dos vestgios

    - Se o sangue se encontra em estado lquido deve colhido com auxlio de tiras

    de papel absorvente ou zaragatoa estril. As tiras devem estar completamente secas (a

    temperatura ambiente) antes de serem guardadas em envelopes de papel; a zaragatoa

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    deve colocar-se no seu suporte de transporte;

    - Se o sangue estiver seco, pode ser solubilizado em soro fisiolgico,

    colhido e guardado como a tcnica descrita no item anterior. Outra alternativa realizar a

    raspagem do suporte removendo a crosta (SCHULLER et. al., 2001).

    Anlises macroscpicas

    - Fazer a triagem das manchas, localizando-as no suporte, no caso das

    manchas terem sido lavadas, utilizar, reaces de luminescncia como descrito

    anteriormente;

    - Descrever o suporte e a mancha;

    - Observar se a mancha encontrada em quantidade suficiente para as

    anlises ou se apresenta contaminao;

    - Escolher o teste a ser utilizado de acordo com as anlises macroscpicas;

    - As solues devem ser testadas com controlos negativos e positivos

    (SCHULLER, 2001).

    3.2.2.2. Testes presuntivos

    Esses testes so reaces de oxidao que podem detectar a presena de

    sangue atravs de cor ou luminescncia. Eles no so especficos para sangue,

    podendo dar falso-positivo com outras substncias (extractos vegetais, pus, saliva e

    outros fluidos orgnicos nas reaces de cor e compostos de ferro e cobre nas reaces