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1 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número 22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs METODOLOGIA ATIVA: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A FERRAMENTA GLOSSÁRIO EM AMBIENTES VIRTUAIS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Eduardo Penna Gouvêa (CEUCLAR/FAFE) 1 Andrea Mayumi Odagima (UNIP) 2 Dorlivete Moreira Shitsuka (UNICSUL/FMU) 3 Ricardo Shitsuka (UNICSUL/UNIFEI) 4 Resumo A educação à distância (EAD) é uma modalidade educacional que, no Brasil, possui milhões de estudantes. Nessa forma de ensino, utilizam-se ambientes virtuais de aprendizagem. Nos ambientes, existem diversas ferramentas e uma delas é o glossário, no qual os estudantes trabalham a elaboração de um vocabulário ou léxico de palavras associadas ao conceito principal em estudo. O objetivo do presente trabalho é apresentar um estudo de caso sobre emprego da ferramenta glossário, como uma metodologia ativa. Realiza-se uma pesquisa qualitativa sobre essa ferramenta, em uma turma de alunos de um curso de pós-graduação. Este trabalho busca contribuir para a EAD brasileira e mundial, mostrando que é possível realizar trabalhos com metodologia ativa, a custo relativamente baixo, melhorando o aprendizado dos estudantes. Os cursistas elogiaram as atividades com a ferramenta, que permite pesquisar com autonomia, na velocidade de cada um, e aprender interagindo com os colegas, de modo a construir um saber coletivo. Palavras-chave: Metodologia ativa. Ensino a distância. Glossário. Ambientes virtuais. Tecnologia da Informação e Comunicação. 1 Pós-graduado em Gestão de Educação a Distância (EAD) e em Tecnologia da Informação pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais, CEUCLAR. Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão EAD pela Universidade Federal Fluminense, UFF. Graduado em Computação (CEUCLAR). Docente na Faculdade Fernão Dia, FAFE. 2 Pós-graduada em Educação a Distância e graduada em Direito pela Universidade Paulista (UNIP). 3 Mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Cruzeiro do Sul, UNICSUL. Pós- graduada em Redes de Computadores pela Universidade Federal de Lavras, UFLA. Licenciada em Computação pelo CEUCLAR. Docente nas Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU. 4 Doutor em Ensino de Ciências e Matemática na Universidade Cruzeiro do Sul, UNICSUL. Mestre em Engenharia de Materiais e Metalúrgica pela Universidade de São Paulo, USP. Licenciado em Computação pelo Centro Universitário Claretiano, CEUCLAR. Docente na Universidade Federal de Itajubá, UNIFEI.

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METODOLOGIA ATIVA: UM ESTUDO DE CASO

SOBRE A FERRAMENTA GLOSSÁRIO EM

AMBIENTES VIRTUAIS DE EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA

Eduardo Penna Gouvêa (CEUCLAR/FAFE)1

Andrea Mayumi Odagima (UNIP)2

Dorlivete Moreira Shitsuka (UNICSUL/FMU)3

Ricardo Shitsuka (UNICSUL/UNIFEI)4

Resumo

A educação à distância (EAD) é uma modalidade educacional que, no Brasil, possui

milhões de estudantes. Nessa forma de ensino, utilizam-se ambientes virtuais de

aprendizagem. Nos ambientes, existem diversas ferramentas e uma delas é o glossário,

no qual os estudantes trabalham a elaboração de um vocabulário ou léxico de palavras

associadas ao conceito principal em estudo. O objetivo do presente trabalho é apresentar

um estudo de caso sobre emprego da ferramenta glossário, como uma metodologia

ativa. Realiza-se uma pesquisa qualitativa sobre essa ferramenta, em uma turma de

alunos de um curso de pós-graduação. Este trabalho busca contribuir para a EAD

brasileira e mundial, mostrando que é possível realizar trabalhos com metodologia ativa,

a custo relativamente baixo, melhorando o aprendizado dos estudantes. Os cursistas

elogiaram as atividades com a ferramenta, que permite pesquisar com autonomia, na

velocidade de cada um, e aprender interagindo com os colegas, de modo a construir um

saber coletivo.

Palavras-chave: Metodologia ativa. Ensino a distância. Glossário. Ambientes virtuais.

Tecnologia da Informação e Comunicação.

1 Pós-graduado em Gestão de Educação a Distância (EAD) e em Tecnologia da Informação pelo Centro

Universitário Claretiano de Batatais, CEUCLAR. Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão

EAD pela Universidade Federal Fluminense, UFF. Graduado em Computação (CEUCLAR). Docente na

Faculdade Fernão Dia, FAFE. 2 Pós-graduada em Educação a Distância e graduada em Direito pela Universidade Paulista (UNIP). 3 Mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Cruzeiro do Sul, UNICSUL. Pós-

graduada em Redes de Computadores pela Universidade Federal de Lavras, UFLA. Licenciada em

Computação pelo CEUCLAR. Docente nas Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU. 4 Doutor em Ensino de Ciências e Matemática na Universidade Cruzeiro do Sul, UNICSUL. Mestre em

Engenharia de Materiais e Metalúrgica pela Universidade de São Paulo, USP. Licenciado em

Computação pelo Centro Universitário Claretiano, CEUCLAR. Docente na Universidade Federal de

Itajubá, UNIFEI.

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Abstract

The distance education (EAD) is an educational modality in Brazil has millions of

students. In this form of education are used in virtual learning environments. In the

surroundings there are several tools, and one of them is the glossary, in which students

work the development of a vocabulary or word lexicon associated with the main

concept in the study. The objective of this study is to present a case study on use of the

glossary tool, as an active methodology. qualitative research on this tool is carried out in

a class of students in a course graduate. This work seeks to contribute to the Brazilian

and global EAD, showing that it is possible to work with active methodology, the

relatively low cost and to improve student learning. The course participants praised the

activities with the tool that lets you search with autonomy, the speed of each, and learn

by interacting with colleagues in order to build a collective knowledge.

Keywords: Active methodology. Distance learning. Glossary. Virtual environments.

Technology of Information and Communication.

Introdução

A Educação a Distância (EAD) é uma modalidade já consolidada no Brasil,

com milhões de estudantes (INEP, 2014). O Portal Brasil afirma que em 2014 já havia

mais de sete milhões e trezentos mil estudantes matriculados no ensino superior e pouco

mais que 15% na EAD. Recentemente, Vidra (2016) mostrou que há cerca de 50%

estudantes em cursos a distância em algumas áreas de saber, como é o caso dos cursos

de Licenciatura para formação de professores. Em Pedagogia e História já são 60%. Os

dados apontam para a continuação da expansão da Educação Superior na modalidade

em foco.

Nessa forma de ensino, existe a separação física entre os atores e o aprendizado

tem que ocorrer de forma autônoma e autodidática, com o estudante tendo que ser o

agente do seu aprendizado, nas ferramentas disponíveis nos ambientes virtuais de

aprendizagem (AVA). Tendo essa informação como pano de fundo, o objetivo deste

trabalho é apresentar um estudo de caso sobre o uso de uma ferramenta de AVA

denominada glossário e verificar se ela pode servir para o trabalho com metodologia

ativa junto aos cursistas de pós-graduação de uma instituição localizada na região

sudeste do Brasil.

1) A interatividade e a construção do saber

Os seres humanos, num sentido lato, são seres sociais: vivem em grupos,

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dependem de outros para obter alimento, segurança, transporte, vestuário, educação etc.

Como considera Brandão (2007), esse homem não nasce humanizado. Ao longo das

suas interações na vida, vai se amoldando e construindo seu saber, adquirindo

habilidades. Com o desenvolvimento das tecnologias, mais especificamente, das

tecnologias da informação e comunicação (TICs), o homem não apenas se desenvolve

mediante as interações face a face, mas também com as relações virtuais.

Nesse contexto, a interatividade pode ser considerada como a interação que

acontece nas redes sociais, na web e nos cursos EAD. Para Valle e Bohardana (2012) na

EAD online, a interatividade é o meio, ou o contexto em que se pode, ou não, realizar

uma autêntica práxis, uma interação. Existem várias ferramentas nos ambientes virtuais

de aprendizagem, nas quais pode ocorrer interação: fóruns, chats, redes sociais,

glossário, wiki, celulares e blogs.

Na interatividade que ocorre nos ambientes virtuais, os cursistas têm a

oportunidade de fazer suas postagens e formular perguntas para os colegas e, ao receber

a resposta, podem se aproximar dos conceitos que já possuem, em sua estrutura

cognitiva. Neste processo comunicacional, de “idas e vindas”, ocorre a aproximação

conceitual, até se alcançar o entendimento.

Quando as informações recebidas pelo cursista passam a fazer sentido, elas se

encaixam no que Ausubel, Novak e Hanesian (1980) consideram como sendo o

subsumer e que Moreira (2006), posteriormente, traduziu para o idioma português como

sendo o subsunçor. Ao ocorrer esse encaixe, forma-se um novo conceito na cognição do

ser aprendente e se diz que ocorreu a aprendizagem significativa.

À medida que se recebem mais informações e essas são associadas no processo

mencionado e formam-se novos conceitos, expande-se o domínio conceitual na mente

do cursista. Conceitos, relações, habilidades, competências e suas aplicações vão

formando o saber que é construído por meio desse conjunto de elementos sistêmicos.

Quanto mais as pessoas sabem, mais podem atuar sobre o meio transformando-o ou

moldando-o conforme suas necessidades.

A interatividade nos ambientes virtuais nem sempre ocorre espontaneamente e,

muitas vezes, torna-se necessária a intervenção do personagem tutor de EAD e, além

disso, para que ocorra uma boa interatividade, os outros atores têm que estar

interessados, motivados e dispostos a participar de modo ativo nas ferramentas do

AVA.

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2) Metodologia ativa

Segundo Arendt (2014), a existência das pessoas é caracterizada por três

condições: labor, trabalho e ação. A primeira é relacionada com a existência e a vida dos

seres viventes. A segunda, é associada ao produto que é elaborado pelo ser. A terceira é

a atividade entre as pessoas. Para que esta última ocorra, torna-se necessário que

existam algumas condições, como iniciativa, autonomia, vontade; em suma, é preciso

que haja pessoas ativas.

Mas não basta que haja pessoas com iniciativa; elas precisam de um método. A

metodologia é o caminho para se alcançar algum objetivo. Sobral e Campos (2012)

consideram que Metodologia Ativa (MA) é uma concepção educativa que incentiva os

processos educacionais crítico-reflexivos, por meio dos quais o educando participa de

modo compromissado com o processo de aprendizado.

Berbel (2011) considera que as MA permitem aprender por meio de

experiências, desafios, práticas que ocorrem em atividades realizadas nas disciplinas.

Entre as atividades que ocorrem nas disciplinas podemos ter: resolução de problemas,

estudo de casos, realização de projetos, iniciação científica, elaboração de resenhas,

artigos científicos, trabalhos finais de graduação, monografias, dissertações e teses.

Como considera Campos (2009), os incentivos externos que ocorrem no

ambiente, podem resultar no surgimento da motivação interna às pessoas. Em relação às

MA, estas podem servir de incentivo para que aconteça o aprendizado, que pode ocorrer

por meio de busca de informações, leitura, elaboração textual, participação em blogs,

assistir vídeos e também elaborá-los, trabalho colaborativo, dentre outros.

Como escrevem diversos autores (ROCHA, 2012; BARBOSA; MOURA,

2013; GOUVEA et al., 2015a; GOUVEA et al., 2016), o aprendizado ativo pode ocorrer

desde as formas mais simples, nas quais os estudantes escrevem, até formas mais

complexas, que envolvem as pesquisas para realização de algum projeto ou resolução de

problemas.

Voltando-se para a questão do aprendizado em AVA, para Amarilla Filho

(2011) nesses ambientes, o estudante tem que mudar sua postura de passiva, dependente

e receptiva, para modos ativos, nos quais ele corre atrás das informações, se organiza e

participa, interagindo com os colegas e tutores. Nem sempre os estudantes têm a postura

ativa, principalmente, se o jovem está no seu primeiro curso. À medida que o jovem

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adquire experiência na vida e estudando em mais cursos, entende que ele tem que ter

uma atitude ativa, para aprender e alcançar o sucesso. Uma das ferramentas em AVA,

que podem ajudar esse estudante a progredir, é o glossário.

3) Ferramenta glossário

As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), utilizadas em

cursos à distância, envolvem a comunicação. Para Wolton (2011) comunicar é muito

mais que informar. Enquanto esta ocorre num só sentido, na comunicação existem idas

e vindas de informação que vão se ajustando às necessidades e possibilidades dos

interlocutores, à medida que esses interagem.

Para Quevedo, Vanzin e Ulbricht (2014), a comunicação na EAD atual ocorre

principalmente por meio dos AVA, que são mídias que funcionam no ambiente das

nuvens ou no espaço virtual da web. Uma das ferramentas dos AVA que podem ser bem

utilizadas nos processos de ensino e de aprendizagem virtuais é o glossário. Este

funciona de modo assíncrono, permitindo que os participantes realizem suas

contribuições de modo colaborativo e no tempo que puderem.

Cabe ao tutor, no trabalho com a ferramenta glossário, definir o objetivo e as

condições de participação dos cursistas que incluem, entre outros fatores, o prazo, a

quantidade mínima e/ou máxima de postagens, o foco (centrado na temática) das

participações dos cursistas, a polidez, o respeito à cidadania e o respeito a quem postou

primeiro, sobre um determinado conceito. No glossário, a partir de um tema ou conceito

principal, os participantes realizam suas postagens de autoria de conceitos relacionados

ao tema, com as respectivas citações e referências de suporte, realizadas de modo ativo

pelos cursistas.

4) Método da pesquisa por meio do estudo de caso

A pesquisa é a busca pelo saber. Batista e Campos (2013) afirmam que ela

pode ser qualitativa ou quantitativa. A primeira se foca em números, porcentagens e

estatísticas. Já a segunda, busca as opiniões das pessoas que estão relacionadas ao

trabalho em foco e também interpreta os fenômenos observados. Neste estudo trabalha-

se uma pesquisa qualitativa, na modalidade estudo de caso. Para Ludke e André (2013),

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o estudo de caso é um tipo de pesquisa qualitativa, na qual o pesquisador procura

estudar um fenômeno único de modo detalhado, utilizando uma linguagem acessível.

O estudo de caso realizado nesta pesquisa remete ao fenômeno colaborativo,

no emprego da ferramenta glossário, num ambiente virtual de aprendizagem de um

curso de pós-graduação lato sensu, na área de educação, de uma instituição pública

localizada na região sudeste do Brasil. Foram 25 alunos, desse curso, envolvidos na

pesquisa, que foi realizada no terceiro bimestre do ano letivo de 2015.

Observa-se que a disciplina na qual foi utilizado o glossário, possui um Guia

da Disciplina, na qual são colocados os critérios de participação por meio de postagens

dos cursistas. Por questões éticas e de respeito aos sujeitos envolvidos na investigação, e

atendendo à solicitação da tutoria, que pediu para não ser identificada, utilizam-se

nomes fictícios, neste trabalho.

5) O caso e discussões

Realizou-se um trabalho de glossário com os estudantes de uma turma de curso

de pós-graduação lato sensu. A Figura 1 ilustra a imagem da aparência de entrada da

ferramenta.

Figura 1 – Imagem da ferramenta Glossário

Fonte: Lante (2016)

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Por meio do uso da tela de interface, o cursista poderia adicionar um termo

novo clicando no botão “inserir novo item”, ou poderia localizar algum termo já

existente, digitando o nome e clicando no botão “buscar”. Todos os cursistas

participaram desta atividade e tiveram exatamente uma semana para concluir a

atividade, desde o início.

Quando se inseria uma determinada palavra, o sistema já a adicionava em

ordem alfabética. Para realizar as pesquisas, além da busca direta por nome, existe a

possibilidade da busca por ordem alfabética, busca por categoria, busca por data de

inserção e, por último, a busca por autor. As diferentes possibilidades de se realizar a

busca facilitam a localização e a rapidez da pesquisa pelo usuário. A Figura 2 apresenta

a imagem da busca por meio da opção de busca alfabética.

Figura 2 – Imagem de uma das telas com conceitos

Fonte: Lante (2016)

Observa-se que há vários conceitos iniciados pela letra “a”. No lado direito, há

dois pequenos ícones: o “x” corresponde a deletar ou apagar a postagem e o “*”

corresponde a editar para realizar alguma alteração.

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Verifica-se que tendo em vista que cada cursista teria que entrar com, pelo

menos, 10 ou mais conceitos (para cada aluno) relacionados ao tema principal, temos

um valor aproximado de:

Total = 10 (conceitos) x 25 (alunos)

Total = 250 conceitos

Apesar de existirem letras iniciais que têm poucos conceitos, como é o caso

das letras tipo “Y”, “W” e “Z”, há outras, nas quais, os cursistas colocaram a grande

maioria dos conceitos como é o caso das vogais. A quantidade de conceitos inseridos foi

muito grande, com poucas repetições. Ao término do trabalho, entrevistaram-se os

cursistas e recolheram-se algumas amostras de opiniões, como se apresenta a seguir:

Você já conhecia a ferramenta glossário?

A grande maioria foi unânime em responder que não conhecia e passaram a

conhecer neste curso.

Você gostou de trabalhar com a ferramenta glossário?

Amostra 1

Gostei. A gente tem a oportunidade de pesquisar as palavras com autonomia e temos

que verificar se alguém já postou a palavra antes, neste caso, a gente tem que procurar

outras palavras ou conceitos. Depois a gente vem, digita, coloca alguma opinião e a

fonte. Lendo o que os colegas postaram, a gente aprende muito.

A grande maioria dos cursistas afirmou que gostou de trabalhar com o

glossário. A ferramenta é simples. Ela depende mais do trabalho dos cursistas. Permite

que pesquisem de modo autônomo e apresentem os resultados da pesquisa para os

colegas do curso. As ferramentas também se mostraram fortemente dependentes da

qualidade do trabalho dos seus atores, de modo semelhante às ferramentas fórum e wiki.

Observa-se que o cursista trabalha de modo ativo, pois ele tem que pesquisar

as palavras. Desse modo, como consideram Campos (2009) e Berbel (2011) há

aprendizagem ativa, com o cursista tendo que procurar refletir sobre o que está

realizando, comparar e fazer sua postagem, que será vista pelos colegas e pelo tutor.

Amostra 2

Eu gostei do dicionário. Tive que pesquisar bastante pois quando entrei já tinha

passado alguns dias e já tinha muitos conceitos. Tive que procurar outros novos e para

isso tive que ler vários artigos e alguns livros. Eu anotava os conceitos e ia correndo

ver se alguém já tinha postado.

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Verifica-se pelas palavras do cursista que há a necessidade de ler ativamente.

Além da leitura, ele escrevia e procurava o conceito para ver se alguém já tinha postado.

Verifica-se que há o atendimento ao que consideram os autores Rocha (2012), Barbosa

e Moura (2013), Gouvêa et al (2015a), Gouvêa et al (2015b) e Gouvêa et al (2016)

como sendo aprendizagem ativa. Observa-se também que, em geral, quando os alunos

têm a oportunidade de realizar seus estudos e participações de forma autônoma, se

mostram mais motivados, como aconteceu neste trabalho e isso se constitui numa

aprendizagem ativa.

Questionados sobre “Como foi sua experiência de aprender em grupo,

colaborativamente, na construção do glossário?”. Apresenta-se a seguinte amostra:

Amostra 3

Minha experiência foi muito boa. A cada dia eu tinha uma ideia de alguns conceitos e

tinha que ler o que os colegas já tinham postado. Acho que no primeiro dia tem poucos

conceitos, mas na medida que vamos chegando aos dias do final da semana, aumenta

completamente com várias pessoas digitando conceitos novos e que nem sabíamos que

existiam mas passamos a conhecer.

Esta postagem representa a opinião da grande maioria dos cursistas. Tudo leva

a crer que todos os participantes gostaram de trabalhar colaborativamente na elaboração

do glossário. Houve envolvimento, o que é uma das maiores preocupações dos

professores e tutores, e esse envolvimento pode ser observado pelas palavras do cursista

quando diz “A cada dia eu tinha uma ideia...”. Esta afirmação indica que, diariamente,

durante a semana, o cursista pensava no estudo que estava em curso.

A amostra a seguir revela que houve aprendizado quando o aluno afirma que os

colegas haviam digitado conceitos novos “[...] e que nem sabíamos que existiam, mas

que passamos a conhecer”. O aprendizado relacionado à temática é um dos objetivos

pedagógicos da disciplina. Tudo indica que o objetivo foi alcançado.

Amostra 4

O glossário é uma ferramenta muito boa. Todos participam. A gente aprende sem fazer

muita força.

Quando se trabalha próximo de conceitos que os estudantes já conhecem, eles

aprendem sem maior desgaste. São incentivados e uma das melhores formas é deixa-los

trabalhar com seus colegas de curso. Estes entendem a linguagem dos colegas e isso

facilita a ocorrência do aprendizado. A seguir, apresenta-se mais uma declaração, desta

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vez do tutor, em relação à questão: “O que você considera que foi mais importante para

que o trabalho desse certo?”.

Amostra 5

Houve a definição de objetivos pedagógicos a serem alcançados. Foi feito um preparo

prévio com material e explicação aos alunos dos objetivos a serem alcançados, os

limites de prazo, quantidade, a qualidade exigida, o respeito aos colegas e os critérios

de avaliação. A boa organização permite que os alunos tenham liberdade e trabalhem

com autonomia, mas dentro do contexto preparado e acompanhado.

O tutor mostrou-se bastante seguro e experiente, quando fala na questão da

organização e quando se refere aos aspectos da didática, ou a aspectos pedagógicos que

são essenciais para qualquer tipo de trabalho educacional. A EAD é uma modalidade

na qual os alunos podem se sentir perdidos, caso não haja um bom preparo prévio e uma

boa explicação do que deve ser realizado. Um aspecto deve ser ressaltado, que é aquele

no qual apesar de um planejamento ser bem realizado, é preciso que a execução ocorra

com sucesso, atendendo ao planejamento. De fato, tudo indica que, neste caso, houve

sucesso, tanto no planejamento, como na realização do trabalho.

Considerações finais

No presente trabalho, apresentou-se um estudo de caso sobre o uso da

ferramenta glossário, realizado em AVA Moodle. Verificou-se que essa ferramenta

pode servir para o trabalho com metodologia ativa, com cursistas da modalidade EAD.

Os estudantes afirmaram de modo unânime que gostaram de realizar a atividade, que

aprenderam muitos conceitos novos e que gostaram de trabalhar com autonomia e de

modo colaborativo.

Para que os alunos aprendam de modo ativo, o tutor teve que preparar o

ambiente, definir objetivos pedagógicos claros e que foram passados para os cursistas.

Teve que definir limites como é o caso do número de postagens, do prazo, da qualidade

exigida e, principalmente, dos critérios para julgamento e atribuição de avaliação.

Observa-se que é muito importante que os diversos parâmetros sejam claramente

especificados e disseminados entre os estudantes, para que eles possam realizar um

trabalho com autonomia e colaboração, respeitando os parâmetros estabelecidos.

Este trabalho contribui para a EAD brasileira e mundial, mostrando que é

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possível realizar trabalhos utilizando a metodologia ativa, com custo relativamente

baixo e de forma a melhorar o aprendizado dos estudantes. Dessa forma, busca-se

incentivar o trabalho docente, nessa modalidade, pois, por meio das ferramentas citadas,

o processo de ensino-aprendizagem torna-se mais dinâmico, estimulando, nos alunos, a

busca pelo conhecimento, tão necessária nos tempos atuais.

Referências

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didática a partir dos ambientes virtuais. Educ. rev., Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 41-

72, Aug., 2011.

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BERBEL, Neusi A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de

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