Menêxeno de Platão: Tradução, Notas e Estudo Introdutório · Conte comigo, eu te sigo para...

96
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS CLÁSSICAS Menêxeno de Platão: Tradução, Notas e Estudo Introdutório Bruna Camara Versão Corrigida São Paulo 2014

Transcript of Menêxeno de Platão: Tradução, Notas e Estudo Introdutório · Conte comigo, eu te sigo para...

UNIVERSIDADE DE SO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLSSICAS E VERNCULAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS CLSSICAS

Menxeno de Plato: Traduo, Notas e Estudo Introdutrio

Bruna Camara

Verso Corrigida

So Paulo

2014

1

UNIVERSIDADE DE SO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLSSICAS E VERNCULAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS CLSSICAS

Menxeno de Plato: Traduo, Notas e Estudo Introdutrio

Bruna Camara

Dissertao apresentada ao Programa de

Ps-Graduao em Letras Clssicas do

Departamento de Letras Clssicas e Vernculas da

Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da

Universidade de So Paulo

para a obteno do ttulo

de Mestre em Letras Clssicas

Orientador: Prof. Dr. Daniel Rossi Nunes Lopes

Verso Corrigida

So Paulo

2014

2

Bruna Camara

Menxeno de Plato: Traduo, Notas e Estudo Introdutrio

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Letras Clssicas do

Departamento de Letras Clssicas e Vernculas da Faculdade de Filosofia, Letras e

Cincias Humanas da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em

Letras Clssicas.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr._______________________________________________________________

Instituio:_______________________ Assinatura:___________________________

Prof. Dr._______________________________________________________________

Instituio:_______________________ Assinatura:___________________________

Prof. Dr._______________________________________________________________

Instituio:_______________________ Assinatura:___________________________

3

RESUMO

Esta dissertao tem como objetivo apresentar a traduo do dilogo Menxeno,

de Plato, acompanhada de notas crticas com o intuito de auxiliar a leitura do texto, e

de um estudo sobre os principais temas e problemas suscitados pela obra, sobretudo no

que concerne aos anacronismos e distores presentes na orao fnebre platnica e sua

possvel relao com o discurso atribudo a Pricles presente no Livro II da Histria da

Guerra do Peloponeso, de Tucdides.

Palavras-chave:

1. Plato 2. Filosofia 3. Retrica 4. Gneros do Discurso 5. Orao Fnebre

***

ABSTRACT

This dissertation aims to present the translation of Platos Menexenus,

accompanied by critical notes in order to assist the reading, and a study of the main

topics and issues raised by the work, especially with regard to the anachronisms and

distortion in Plato's funeral oration and its possible relation with the speech attributed to

Pericles present in Book II of the History of the Peloponnesian War, by Thucydides.

Keywords:

1. Plato 2. Rhetoric 3. Philosophy 4. Genres of Discourse 5. Funeral Oration

4

A meu pai, Paulo Camara

5

Agradecimentos

FAPESP, pelo valioso auxlio que a bolsa concedida me proporcionou;

Ao Prof. Dr. Daniel Rossi Nunes Lopes, pela impecvel orientao, pelas ajudas

constantes, pelo incrvel profissionalismo que demonstrou ao longo do tempo e por ter

acreditado sempre em meu trabalho, o que indubitavelmente em muito contribuiu para

sua realizao. Ademais, agradeo por ter se mostrado to disposto e acessvel, de modo

a permitir que minha pesquisa tenha se dado de modo leve e prazeroso;

Ao Prof. Dr. Adriano Machado Ribeiro e ao Prof. Christian Werner, que compuseram a

banca de qualificao desta dissertao, pelas intervenes feitas e, sobretudo, pelo

cuidado que demonstraram ao ler minhas palavras, auxiliando-me em pontos de extrema

importncia para o desenvolvimento de meu trabalho;

Prof. Dra. Josiane Teixeira Martines, no apenas por compor a banca de defesa de

minha dissertao, mas tambm pelo imenso cuidado demonstrado na leitura de minha

pesquisa, pelas observaes pertinentes e pelas palavras todas ditas;

A Rafael de Souza, amigo e companheiro de tantos dias que passamos, de cus rseos.

No mais, terei sempre seu amor comigo num lugar chamado Oz;

A Erick Gustavo Savegnago, pelo amor que me oferece mesmo sendo eu simplesmente

uma errante. Pela vida que somos juntos e pelos risos infindveis todos os dias, quando

reinvamos no mesmo espao e tempo. Que seu corao sempre esteja em compasso

com o meu, de algum modo;

A Bruno Jardim Rodrigues, pelas danas na sala, por ser minha risada quando eu mal

consigo esboar sorrisos. Por cada trem, por cada msica, por cada incio e fim de dia

que compartilhamos nos anos que temos na histria um do outro, e pelas frases soltas,

tantas, que me tornam mais leve, me fazem ver que, afinal, no h problema que

persista aps uma boa dose de despretenso;

6

A caro Francesconi Gatti e Vincius Lacerda, pelas cores que me ofereceram nos

ltimos tempos de Castelo em risadas sinceras, por terem me oferecido diversos pontos

de vista, pelas viagens, pela pacincia absurda que demonstraram sempre com minha

voz gritante;

A Amanda Cerqueira, minhas vidas todas, a companhia mais incompreensivelmente

perfeita que pude experimentar nos meus dias, minha completude, meu corao batendo

noutro corpo. Grata por ter algum na Terra que compreenda que, sabe, prum bom

viajante, nada distante; prum bom companheiro, no conto dinheiro. Conte comigo, eu

te sigo para enfrentar o castigo ou ter glrias de um campeo. minha linda, o meu

caf ficou to sozinho, os meninos passam e eu olho sem ter pra quem mostrar. Me falta

tu mesmo e teu jeito de me contar. O sol se pe l na pracinha e eu me sentei cantando

sozinha. Gratido pelos bons momentos e por ter danado a juventude ao meu lado;

A Pedro Henrique Paschuetto, captulo encantado da minha histria, por cada pedra que

pulamos juntos, pelas estradas, milhares de estradas de terra, de asfalto. Pela pedra do

corao. Por seus olhos bonitos, pela vida infinita que me proporcionou ao cruzar o meu

caminho, pelo zelo que sempre teve mesmo quando eu nunca acreditei ou vi. Ao moo

de Paranapiacaba, eu sou grata; no meio da neblina sem fim em que mal se podia ver o

rosto do outro, impossvel calcular o que me faria enxergar: tudo aquilo que eu no

poderia ver sozinha. Por me aceitar de corao selvagem, bradando que o mundo inteiro

est naquela estrada ali em frente e que isso belo. Sem-tempo o meu amor;

A Duerer Guilhermetti de Carvalho, eu no sei exatamente o motivo, talvez por ter-me

sido agradvel desde o dia primeiro em que chegou. Grata por ter criado um canto novo

dentro de mim, num corao que j no tinha. Tem agora. Grata por ver trs luas em

uma, por se encantar com saguis no mato, por me fazer rir por mais de quatro horas,

incomodando toda a rodovia. Grata pela espontaneidade, pelas conversas boas, pela

energia, pela disposio, pela verdade, pela vida que me tem sido to cheia de cores;

A Teleco Teco, minha preciosidade maior, minha descoberta de amor verdadeiro, meu

corao puro. A ele eu agradeo e dedico os passos, os caminhos que eu ando pela

simples alegria de ser. Grata por ter me ensinado que amar praticar o desapego e ter a

7

certeza de que o ser amado est feliz, corre livremente, vive sua natureza conforme se

deve e com carinho guardado para quando eu chegar;

memria de Fuxico Xic, pela alegria que me trouxe, por ter me permitido amar,

cuidar e me doar pelos dias em que esteve comigo;

A cada um dos que cruzaram meus 27 anos de sonho. Pelos passantes de signos de fogo,

terra, ar e gua que me ofereceram os elementos que no tenho para seguir a estrada. Se

hoje sou, sou por vocs terem sido em mim;

msica, pela inspirao, pela companhia e pelo sentido que d minha vida;

A Inbia Paulista, Prainha Branca e suas trilhas e runas, a Monte Alegre do Sul e sua

Cachoeira do Sol, a Limeira e a Paranapiacaba; a So Paulo, por ter me ensinado a ser; a

Florianpolis, por ter me feito ver de longe o que no se v se muito perto; e com

especial carinho a Pirenpolis, lugares todos que me sabem to bem e por cujas ruas

caminho todos os dias de algum modo, percorrendo em sentimentos as estradas daqui

pra l. Em cada cu, em cada cho, minha alma l deixei;

Ao amigo que eu esperei a vida toda para reencontrar, pois j temos histrias unidas

certamente h mais tempo do que se pode pensar. Meu amigo, meu amado, meu

confidente, minha pureza, eu no faria nada que pudesse tocar em um fio do sentimento

que temos, e seu cuidado comigo beira o incondicional. Nunca ser possvel unir

palavras suficientes para demonstrar o amor que tenho, o carinho que sinto. Eu dividiria

todos os meus dias com Ticiano Curvelo Estrela de Lacerda;

Por fim, minha famlia. minha irm Carolina Camara, por ter me emprestado um

pouco de seu talento musical, por ter crescido comigo e por ser meu elo com o passado,

por gostar de mim ao contrrio, mas ainda assim gostar muito, e deixar isso transparecer

todos os dias. minha me Maria Rodrigues de Assis, pela alma de princesa, pela

delicadeza, pela disciplina com que soube me educar, por me amar, simples. A meu pai

Paulo Camara, por ser o homem mais incrvel que eu poderia pensar em conhecer,

inigualvel, por ter sido sempre o meu norte. Minha admirao infinita; se fao algo

na minha vida, por saber que, de algum modo, h sua presena acompanhando e seus

8

olhos seguindo. Grata por ser ele o meu pai, grata por ter tido ao seu lado uma viagem

magnfica, inesquecvel. Sinto sua falta todos os dias e todas as horas do dia. No h um

sol sequer sem que eu pense em v-lo ou ouvi-lo. Ouo, de certo modo, sempre que

penso, pois sou, sem dvida, parte indissocivel de meu pai. Enquanto houver voc do

outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar.

Para aquele homem que faz depender de si mesmo todas as coisas que

conduzem felicidade, ou disso se aproxima, e no fica na dependncia de

outros homens, cuja boa ou m fortuna foraria tambm a sua prpria

sorte a oscilar, para ele a vida est disposta da melhor maneira possvel.

Esse o homem temperante, esse o homem corajoso e prudente.

Menxeno, 247e9-248a5

9

NDICE

Apresentao ......................................................................................................... p. 10

Captulo 1 Consideraes Gerais Sobre a Orao Fnebre ................................ p. 11

Captulo 2 O Menxeno de Plato ...................................................................... p. 20

Captulo 3 Anacronismos e Distores no Menxeno ........................................ p. 26

Captulo 4 - Anlise Comparativa dos Discursos Fnebres nas Obras de Plato e

Tucdides ............................................................................................................... p. 36

Traduo do Menxeno ......................................................................................... p. 55

Bibliografia ............................................................................................................ p. 74

Anexo Menxeno: Texto em Grego ....................................................................... p. 80

10

APRESENTAO

O presente trabalho resultado de minha pesquisa de Mestrado, iniciada com

meu ingresso no Programa de Ps-Graduao em Letras Clssicas, em Agosto de 2011 .

O objetivo principal da dissertao apresentar: (i) a traduo em Portugus do dilogo

platnico Menxeno a partir do texto grego original, acompanhada de notas crticas a

fim de agregar informaes leitura para eventuais esclarecimentos de carter histrico,

filosfico, literrio e/ou lingstico; e (ii) o estudo introdutrio, aludindo aos principais

problemas levantados pelos estudiosos com o intuito de analisar a fundo algumas

relaes e questes suscitadas pela obra ao longo do tempo.

A traduo proposta segue rigor pertinente, sobretudo no que se refere acepo

dos termos-chaves necessrios ao entendimento da obra platnica. Para tal fim,

utilizada a edio de J. Burnet (Oxford Classical Texts, 1968).

O estudo introdutrio, por sua vez, busca elucidar diversos pontos essenciais

leitura e compreenso devida do texto platnico. Os captulos desenvolvidos tratam (i)

das consideraes gerais a respeito da orao fnebre enquanto instituio cvica, (ii) do

dilogo Menxeno em si e sua estrutura, (iii) das distores e anacronismos presentes na

obra e suas acepes e (iv) da anlise comparativa das oraes fnebres relatadas por

Plato e por Tucdides, no Menxeno e na Histria da Guerra do Peloponeso,

respectivamente. Em linhas gerais, a dissertao visa permitir uma leitura crtica da

obra, de modo que seja possvel relacion-la no espao e no tempo, inseri-la em seu

contexto e possibilitar uma abordagem capaz de relacionar diversos aspectos do

fenmeno para uma compreenso mais plena, que considere o discurso fnebre no

simplesmente como um texto escrito, como um discurso pblico, mas que o entenda em

seu determinado contexto histrico, poltico e social. As questes levantadas pelo

estudo, portanto, tem por intuito uma visualizao ampla da obra, para que se possa,

com maior eficincia, compreender de que maneira Plato tece uma orao fnebre e

com que intuito se utiliza desse gnero do discurso.

11

CAPTULO 1

Consideraes Gerais Sobre a Orao Fnebre

A orao fnebre, no contexto da oratria poltica de Atenas, tinha como funo

elogiar os mortos e reiterar o lugar dos homens como cidados atenienses, uma vez que

a histria da cidade era retomada e exaltada. Apenas um pequeno nmero desses

discursos chegou posteridade. A orao atribuda a Pricles por Tucdides na Histria

da Guerra do Peloponeso, datada do final do V ou comeo do sculo IV a.C. (o

discurso, contudo, teria historicamente ocorrido em 430 a.C., ao final do primeiro ano

da guerra entre Atenas e Esparta, segundo o relato do historiador)1, a mais

amplamente conhecida dentre elas. Encontram-se preservadas tambm outras quatro

oraes fnebres: a de Demstenes, a de Hiprides - ambas datadas da segunda metade

do sculo IV a.C. -, a escrita por Lsias cerca de 10 anos antes do Menxeno e um

pequeno fragmento de Grgias, preservado na obra de Dionsio de Halicarnasso.

Portanto, as cinco oraes aqui citadas compreendem o leque de oraes fnebres que

nos restaram. Bruce Rosenstock (1994, p. 334) assinala que alguns estudiosos

questionaram as autorias dos textos de Demstenes e Lsias2, mas em seguida

acrescenta que, por estar interessado em delinear as convenes do gnero, no se faz

necessrio se preocupar com questes de autenticidade. No caso do estudo em questo,

seguimos a metodologia de Rosenstock e, a despeito dos problemas concernentes

autoria, tambm teremos como foco as informaes presentes nos textos remanescentes,

independentemente da exatido das informaes sobre sua composio.

H grandes obstculos existentes na reconstituio do gnero, como o silncio

no qual se perdeu a maioria dos textos. Por dispormos de um nmero reduzido de

exemplares, certamente difcil falar em padres ou formas consolidadas de

composio. No entanto, possvel trabalhar com os pontos de contato existentes entre

as obras remanescentes. As frmulas recorrentes possibilitam aos estudiosos inferir

alguns padres quanto ordem dos tpicos e dos contedos das mensagens. No se trata

de regras fixas e consolidadas pr-estabelecidas, mesmo porque, neste momento

1 Cf. Thuc. 2.34. 2 Dover (1968, p. 193): A funeral speech, like any enkomion or panegyric, belongs to a genre naturally

attractive to anyone interested and skilled in oratory, even entertaining the possibility that he himself or

anyone else would deliver it at a real state funeral. Consequently, I see no reason why Lysias should not

have composed the Epitaphios.

12

histrico, a retrica se apresentava de maneira prtica, por assim dizer, sem que se

houvesse ainda uma sistematizao terica, como vemos, por exemplo, na Retrica de

Aristteles e na Retrica a Alexandre.

No tocante composio de uma orao fnebre, no parece haver campo para

novidades. Os exemplares que chegaram posteridade demonstram que havia padres a

serem seguidos. Em sua introduo traduo do discurso fnebre de Demstenes, A.

Lopes Eire (1985, 281-2), ao tratar da questo da autoria, traz alguns desses aspectos

sobre os modelos estruturais que orientam o gnero e que, em certa medida, no

permitem ao orador um exerccio demasiadamente livre de composio. O estudioso

tece consideraes teis acerca dessa questo, levando em conta que, ao compor o

discurso fnebre, o autor parece se submeter a alguns padres que permeiam sua

composio, no lhe cabendo ser original, mas sim corresponder a certas expectativas

prvias, e acrescenta:

Por consiguiente, en un espcimen de un gnero tan peculiar y estricto como el discurso

fnebre, no es extrao encontrar tpicos y coincidencias con las dems [obras] del mismo

carcter, pero lo que no cabe, precisamente por su marcada ndole particular, es compararlo

con otro tipo de discurso, ni de la oratoria judicial, ni de la simbulutica, ni de la epidctica,

a la que el prprio Epitafio pertenece.

As pues, hay en el discurso fnebre numerosos puntos de contacto con obras similares de

Lisias y Platn, y tambin se descubren en l claras influencias de Pericles y Tucdides (o

del Pericles de Tucdides, si se prefiere), de dos personajes, en suma, que haban interesado

vivamente a Demstenes.

Embora tenhamos de fato um nmero reduzido de textos, pode-se perceber que

h determinados parmetros que compem o corpo do elogio e alguns i essenciais

reformulados em cada discurso, dentro do que conveniente. A questo da

originalidade de fato no est posta, mas sim o cumprimento de uma determinada

estrutura, levando-se em conta os pontos de contato existentes entre os textos

remanescentes. Baseando-se no confronto das oraes fnebres, supe-se uma

expectativa sobre o gnero que orienta, de certo modo, sua composio, embora no a

defina por inteiro. H variaes na construo do discurso, mas sem que se afaste em

demasia dos elementos comuns e habituais de sua ordenao. A importncia est na

elaborao, na maneira como as questes so conduzidas por cada orador que se dispe

a compor um discurso, que dever, por sua vez, ser semelhante aos precedentes e

13

necessariamente novo. H uma estrutura formal recorrente, a partir do que possvel

inferir uma gama de aspectos provavelmente requeridos; no entanto, a orao fnebre

varivel, em certa medida, no que se refere maneira como o orador se coloca perante o

que requerido, e se relaciona diretamente com o contexto histrico e poltico em que

se insere.

Muitos estudos tm sido desenvolvidos a respeito das oraes fnebres nas

ltimas dcadas. Bronwen L. Wickkisier (1999, p.65) assinala:

Scholarship on the funeral speech, the epitaphios logos, runs in two main streams:

archaeological and literary. The archaeological approach uses the speeches as evidence for

the greater event of the public funeral (Jacoby, Clairmont, Morris) while the literary

examines the speeches as relics of a curious genre and as barometers of the democratic

movement (Ziolkowski, Loraux, Coventry). The result of the latter approach is a tendency

to isolate the epitaphios logos from the large event, while the former reduces the oration to

the status of evidence for reconstructing the funeral ceremony without considering that the

speech itself says. A recent trend in scholarship has approached the epitaphios logos as a

ritual unto itself (Carter, Ochs), but has failed to place the component ritual within its larger

context and explore the responsion between part and whole.

Desse modo, entende-se que a orao fnebre trata-se no apenas de um gnero

literrio associado escrita; pelo contrrio, pode-se entend-lo como um discurso

ativo, com funes e aplicaes prticas, de modo que o estudo do texto no feito

isoladamente, mas sim em consonncia com a anlise e o estudo de outros aspectos

histricos que, unidos, se prestam com maior eficcia a nos fazer compreender o

contexto e a importncia dos rituais fnebres como um todo.

Para delinear as formas do gnero, pode-se recorrer, por exemplo, a referncias

metarretricas, isto , asseres que apresentam reflexes sobre o prprio discurso,

como a seguinte passagem do Menxeno:

SCRATES - Certamente, Menxeno, em muitos aspectos pode vir a ser belo morrer em

guerra. E ainda que algum venha a ter seu fim na pobreza, recebe bela e magnfica

sepultura; ainda que seja insignificante, recebe louvor da parte de homens sbios e que no

louvam ao acaso, mas preparam seu discurso por muito tempo. Tais homens louvam de

maneira to bela que, ao dizer aquilo que cabe e o que no cabe atribuir a cada um, ao ornar

o discurso com as mais belas palavras, enfeitiam nossas almas. Enaltecem a cidade de

todas as maneiras e louvam os que pereceram na guerra, todos os nossos antepassados e

14

tambm a ns mesmos, ainda vivos, de modo que eu, por minha parte, Menxeno, sinto-me

muitssimo nobre ao ser louvado por eles; (234c-235a8)

- , ,

. ,

, , ,

,

, ,

, ,

,

, , ,

,

Alm de referncias metarretricas que podem nos indicar quais as expectativas

que orientavam tal gnero de discurso, encontramos indicaes a respeito da

composio da orao fnebre em Aristteles: na Retrica (1366b-1367a), ele apresenta

o gnero (ou melhor, sub-gnero) quando fala da retrica epidtica3. Aristteles salienta

que o belo , por si s, digno de louvor e, por sua vez, objeto da retrica epidtica, cujo

fim justamente o de enaltecer aquilo sobre o que se fala. Em seguida, tece

consideraes acerca das coisas que so belas:

Tambm so belas todas as coisas cujo prmio a honra; e as que visam mais a honra do

que o dinheiro. Igualmente as coisas desejveis que uma pessoa no faz por amor de si

mesma; coisas que so absolutamente boas, como as que uma pessoa fez pela sua ptria,

descuidando embora o seu prprio interesse. (...) So belas as coisas que possvel ter

depois da morte mais do que durante a vida; pois o que se faz em vida tem um fim mais

interesseiro. (...) Belos so ainda os actos memorveis, e tanto mais belos quanto mais

durvel for a memria deles. Tambm os que nos seguem depois da morte, os que a honra

acompanha, os que so extraordinrios.4

3 Taylor (1936, p. 42): Funeral orations belong to the type of oratory called by the Greeks epidectic,

and demand an artificial elevation of diction and use of verbal ornament avoided in forensic pleading

and political speaking. 4 ARISTTELE S. Retrica. Introduo de Manuel Alexandre Jnior. Traduo e Notas de Manuel

Alexandre Jnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena. Imprensa Nacional da Casa da

Moeda, 2005, p. 126-7.

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*swkra%2Fths&la=greek&can=*swkra%2Fths0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C0&prior=*swkra/thshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%2Fn&la=greek&can=mh%2Fn0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%29%3D&la=greek&can=w%29%3D0&prior=mh/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*mene%2Fcene&la=greek&can=*mene%2Fcene0&prior=w)=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pollaxh%3D%7C&la=greek&can=pollaxh%3D%7C0&prior=*mene/cenehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kinduneu%2Fei&la=greek&can=kinduneu%2Fei0&prior=pollaxh=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kalo%5Cn&la=greek&can=kalo%5Cn0&prior=kinduneu/eihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29%3Dnai&la=greek&can=ei%29%3Dnai0&prior=kalo/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C0&prior=ei)=naihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n0&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pole%2Fmw%7C&la=greek&can=pole%2Fmw%7C0&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29poqnh%2F%7Cskein&la=greek&can=a%29poqnh%2F%7Cskein0&prior=pole/mw|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C1&prior=a)poqnh/|skeinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&can=ga%5Cr0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tafh%3Ds&la=greek&can=tafh%3Ds0&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kalh%3Ds&la=greek&can=kalh%3Ds0&prior=tafh=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=te&la=greek&can=te0&prior=kalh=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C2&prior=tehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=megaloprepou%3Ds&la=greek&can=megaloprepou%3Ds0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tugxa%2Fnei&la=greek&can=tugxa%2Fnei0&prior=megaloprepou=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C3&prior=tugxa/neihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29a%5Cn&la=greek&can=e%29a%5Cn0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pe%2Fnhs&la=greek&can=pe%2Fnhs0&prior=e)a/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tis&la=greek&can=tis0&prior=pe/nhshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%29%5Cn&la=greek&can=w%29%5Cn0&prior=tishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=teleuth%2Fsh%7C&la=greek&can=teleuth%2Fsh%7C0&prior=w)/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C4&prior=teleuth/sh|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pai%2Fnou&la=greek&can=e%29pai%2Fnou0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29%3D&la=greek&can=au%29%3D0&prior=e)pai/nouhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Ftuxen&la=greek&can=e%29%2Ftuxen0&prior=au)=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C5&prior=e)/tuxenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29a%5Cn&la=greek&can=e%29a%5Cn1&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=fau%3Dlos&la=greek&can=fau%3Dlos0&prior=e)a/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%3D%7C&la=greek&can=h%29%3D%7C0&prior=fau=loshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28p%27&la=greek&can=u%28p%270&prior=h)=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29ndrw%3Dn&la=greek&can=a%29ndrw%3Dn0&prior=u(p'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=sofw%3Dn&la=greek&can=sofw%3Dn0&prior=a)ndrw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=te&la=greek&can=te1&prior=sofw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C6&prior=tehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29k&la=greek&can=ou%29k0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29kh%3D%7C&la=greek&can=ei%29kh%3D%7C0&prior=ou)khttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29painou%2Fntwn&la=greek&can=e%29painou%2Fntwn0&prior=ei)kh=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29lla%5C&la=greek&can=a%29lla%5C0&prior=e)painou/ntwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29k&la=greek&can=e%29k0&prior=a)lla/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pollou%3D&la=greek&can=pollou%3D0&prior=e)khttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pollou%3D&la=greek&can=pollou%3D0&prior=e)khttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=lo%2Fgous&la=greek&can=lo%2Fgous0&prior=xro/nouhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pareskeuasme%2Fnwn&la=greek&can=pareskeuasme%2Fnwn0&prior=lo/goushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%28%5C&la=greek&can=oi%28%5C0&prior=pareskeuasme/nwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%28%2Ftws&la=greek&can=ou%28%2Ftws0&prior=oi(/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kalw%3Ds&la=greek&can=kalw%3Ds0&prior=ou(/twshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29painou%3Dsin&la=greek&can=e%29painou%3Dsin0&prior=kalw=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%28%2Fste&la=greek&can=w%28%2Fste0&prior=e)painou=sinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C7&prior=w(/stehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=proso%2Fnta&la=greek&can=proso%2Fnta0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C0&prior=proso/ntahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&can=mh%5C0&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=peri%5C&la=greek&can=peri%5C0&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%28ka%2Fstou&la=greek&can=e%28ka%2Fstou0&prior=peri/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=le%2Fgontes&la=greek&can=le%2Fgontes0&prior=e(ka/stouhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ka%2Fllista%2F&la=greek&can=ka%2Fllista%2F0&prior=le/gonteshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pws&la=greek&can=pws0&prior=ka/llista/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Ds&la=greek&can=toi%3Ds0&prior=pwshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%29no%2Fmasi&la=greek&can=o%29no%2Fmasi0&prior=toi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=poiki%2Fllontes&la=greek&can=poiki%2Fllontes0&prior=o)no/masihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=gohteu%2Fousin&la=greek&can=gohteu%2Fousin0&prior=poiki/llonteshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28mw%3Dn&la=greek&can=h%28mw%3Dn0&prior=gohteu/ousinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5Cs&la=greek&can=ta%5Cs0&prior=h(mw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=yuxa%2Fs&la=greek&can=yuxa%2Fs0&prior=ta/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C1&prior=yuxa/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&can=th%5Cn0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=po%2Flin&la=greek&can=po%2Flin0&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29gkwmia%2Fzontes&la=greek&can=e%29gkwmia%2Fzontes0&prior=po/linhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kata%5C&la=greek&can=kata%5C0&prior=e)gkwmia/zonteshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pa%2Fntas&la=greek&can=pa%2Fntas0&prior=kata/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tro%2Fpous&la=greek&can=tro%2Fpous0&prior=pa/ntashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C2&prior=tro/poushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=teteleuthko%2Ftas&la=greek&can=teteleuthko%2Ftas0&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n0&prior=teteleuthko/tashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3D%7C&la=greek&can=tw%3D%7C0&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pole%2Fmw%7C&la=greek&can=pole%2Fmw%7C0&prior=tw=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C3&prior=pole/mw|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs1&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=progo%2Fnous&la=greek&can=progo%2Fnous0&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28mw%3Dn&la=greek&can=h%28mw%3Dn1&prior=progo/noushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28%2Fpantas&la=greek&can=a%28%2Fpantas0&prior=h(mw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs2&prior=a(/pantashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fmprosqen&la=greek&can=e%29%2Fmprosqen0&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C4&prior=e)/mprosqenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tou%5Cs&la=greek&can=au%29tou%5Cs0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28ma%3Ds&la=greek&can=h%28ma%3Ds0&prior=au)tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs3&prior=h(ma=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fti&la=greek&can=e%29%2Fti0&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zw%3Dntas&la=greek&can=zw%3Dntas0&prior=e)/tihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29painou%3Dntes&la=greek&can=e%29painou%3Dntes0&prior=zw=ntashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%28%2Fst%27&la=greek&can=w%28%2Fst%270&prior=e)painou=nteshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fgwge&la=greek&can=e%29%2Fgwge0&prior=w(/st'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%29%3D&la=greek&can=w%29%3D0&prior=e)/gwgehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*mene%2Fcene&la=greek&can=*mene%2Fcene0&prior=w)=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=gennai%2Fws&la=greek&can=gennai%2Fws0&prior=*mene/cenehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pa%2Fnu&la=greek&can=pa%2Fnu0&prior=gennai/wshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=diati%2Fqemai&la=greek&can=diati%2Fqemai0&prior=pa/nuhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29painou%2Fmenos&la=greek&can=e%29painou%2Fmenos0&prior=diati/qemaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28p%27&la=greek&can=u%28p%270&prior=e)painou/menoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tw%3Dn&la=greek&can=au%29tw%3Dn0&prior=u(p'

15

, . .

, ,

, (...)

: . (...) ,

. , ,

, , : .

Aqui aparece a raiz da orao fnebre: os feitos em prol da ptria, belos por

carregarem a bravura e a coragem de sobrepor interesses coletivos a interesses pessoais.

Num segundo momento, emerge a questo da morte como fator determinante, capaz de

gerar uma memria positiva por conta, justamente, do ato de dar a vida por um motivo

considerado nobre. A orao fnebre, em certa medida, contribui justamente para a

manuteno da memria, glorificando a morte pela ptria. Aristteles, adiante na

Retrica, define elogio como um discurso que manifesta a grandeza de uma virtude

( - 1367b) e, em seguida, aproxima

o elogio () do conselho (), dizendo que ambos pertencem a uma

espcie comum, baseando-se no fato de que um advm do outro, e de que possvel

depreender de um elogio um conselho e vice-versa. Ora, na orao fnebre, h esse

movimento de fato: um elogio bravura dos homens e cidade como um todo e, em

seguida, uma exortao aos vivos para que possam manter essas qualidades em suas

aes futuras, a partir do reconhecimento de seu papel como cidados e de um

determinado comportamento que se coadune com os belos feitos enaltecidos.

Ainda na Retrica (1368a), Aristteles fala sobre a amplificao do objeto

elogiado, ou seja, do ato de coloc-lo acima de outros objetos e de potencializar todas as

suas qualidades:

A amplificao enquadra-se logicamente nas formas de elogio, pois consiste em

superioridade e a superioridade uma das coisas belas. Pelo que, se no possvel

comparar algum com pessoas de renome, pelo menos necessrio compar-lo com as

outras pessoas, visto que a superioridade parece revelar a virtude. Entre as espcies comuns

a todos os discursos, a amplificao , em geral, a mais apropriada aos epidcticos; pois

estes tomam em considerao as aces por todos aceites, de sorte que apenas resta revesti-

las de grandeza e beleza.

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C33&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29f%27&la=greek&can=e%29f%270&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fsois&la=greek&can=o%28%2Fsois0&prior=e)f'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C8&prior=o(/soishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%3Dqla&la=greek&can=a%29%3Dqla0&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=timh%2F&la=greek&can=timh%2F0&prior=a)=qlahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kala%2F&la=greek&can=kala%2F2&prior=timh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C34&prior=kala/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29f%27&la=greek&can=e%29f%271&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fsois&la=greek&can=o%28%2Fsois1&prior=e)f'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=timh%5C&la=greek&can=timh%5C0&prior=o(/soishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ma%3Dllon&la=greek&can=ma%3Dllon1&prior=timh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%5C&la=greek&can=h%29%5C6&prior=ma=llonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=xrh%2Fmata&la=greek&can=xrh%2Fmata1&prior=h)/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C35&prior=xrh/matahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fsa&la=greek&can=o%28%2Fsa1&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&can=mh%5C0&prior=o(/sahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%28tou%3D&la=greek&can=au%28tou%3D0&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%28%2Fneka&la=greek&can=e%28%2Fneka0&prior=au(tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pra%2Fttei&la=greek&can=pra%2Fttei0&prior=e(/nekahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tis&la=greek&can=tis0&prior=pra/tteihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&can=tw%3Dn8&prior=tishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ai%28retw%3Dn&la=greek&can=ai%28retw%3Dn0&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C36&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C9&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28plw%3Ds&la=greek&can=a%28plw%3Ds0&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29gaqa%2F&la=greek&can=a%29gaqa%2F0&prior=a(plw=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fsa&la=greek&can=o%28%2Fsa2&prior=a)gaqa/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=te&la=greek&can=te4&prior=o(/sahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28pe%5Cr&la=greek&can=u%28pe%5Cr0&prior=tehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=patri%2Fdos&la=greek&can=patri%2Fdos0&prior=u(pe/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tis&la=greek&can=tis1&prior=patri/doshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29poi%2Fhsen&la=greek&can=e%29poi%2Fhsen0&prior=tishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=paridw%5Cn&la=greek&can=paridw%5Cn0&prior=e)poi/hsenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C6&prior=paridw/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C6&prior=paridw/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C39&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fsa&la=greek&can=o%28%2Fsa3&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=teqnew%3Dti&la=greek&can=teqnew%3Dti0&prior=o(/sahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29nde%2Fxetai&la=greek&can=e%29nde%2Fxetai0&prior=teqnew=tihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28pa%2Frxein&la=greek&can=u%28pa%2Frxein0&prior=e)nde/xetaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ma%3Dllon&la=greek&can=ma%3Dllon2&prior=u(pa/rxeinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%5C&la=greek&can=h%29%5C7&prior=ma=llonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zw%3Dnti&la=greek&can=zw%3Dnti0&prior=h)/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C7&prior=zw=ntihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&can=ga%5Cr9&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%28tou%3D&la=greek&can=au%28tou%3D3&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%28%2Fneka&la=greek&can=e%28%2Fneka2&prior=au(tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ma%3Dllon&la=greek&can=ma%3Dllon3&prior=e(/nekahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fxei&la=greek&can=e%29%2Fxei0&prior=ma=llonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C12&prior=e)/xeihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zw%3Dnti&la=greek&can=zw%3Dnti1&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C61&prior=dhloi=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C17&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mnhmoneuta%2F&la=greek&can=mnhmoneuta%2F0&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C62&prior=mnhmoneuta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C18&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ma%3Dllon&la=greek&can=ma%3Dllon5&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ma%3Dllon&la=greek&can=ma%3Dllon6&prior=ma=llonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C63&prior=ma=llonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28%5C&la=greek&can=a%28%5C1&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&can=mh%5C6&prior=a(/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zw%3Dnti&la=greek&can=zw%3Dnti2&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%28%2Fpetai&la=greek&can=e%28%2Fpetai0&prior=zw=ntihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C64&prior=e(/petaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%28%3Ds&la=greek&can=oi%28%3Ds1&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=timh%5C&la=greek&can=timh%5C2&prior=oi(=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29kolouqei%3D&la=greek&can=a%29kolouqei%3D0&prior=timh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C65&prior=a)kolouqei=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C19&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=peritta%2F&la=greek&can=peritta%2F0&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C66&prior=peritta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C20&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mo%2Fnw%7C&la=greek&can=mo%2Fnw%7C0&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28pa%2Frxonta&la=greek&can=u%28pa%2Frxonta0&prior=mo/nw|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kalli%2Fw&la=greek&can=kalli%2Fw0&prior=u(pa/rxontahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=eu%29mnhmoneuto%2Ftera&la=greek&can=eu%29mnhmoneuto%2Ftera0&prior=kalli/whttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%2Fr&la=greek&can=ga%2Fr2&prior=eu)mnhmoneuto/terahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fstin&la=greek&can=e%29%2Fstin0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=d%27&la=greek&can=d%275&prior=e)/stinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fpainos&la=greek&can=e%29%2Fpainos2&prior=d'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=lo%2Fgos&la=greek&can=lo%2Fgos0&prior=e)/painoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29mfani%2Fzwn&la=greek&can=e%29mfani%2Fzwn0&prior=lo/goshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=me%2Fgeqos&la=greek&can=me%2Fgeqos0&prior=e)mfani/zwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29reth%3Ds&la=greek&can=a%29reth%3Ds9&prior=me/geqoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fpainos&la=greek&can=e%29%2Fpainos2&prior=d'

16

: ,

: ,

, .

, .

Aristteles cita o dilogo Menxeno duas vezes na Retrica. O ponto especfico

trazido tona nos dois momentos o carter do pblico para o qual se faz um

determinado elogio, o que deve ser levado em conta para que o discurso possa surtir o

efeito desejado. Tais passagens so as seguintes:

Na definio de retrica epidtica (1367b8):

Importa tambm ter em conta as pessoas ante as quais se faz o elogio; pois, como

Scrates dizia, no difcil elogiar atenienses na presena de atenienses.

: ,

.

Mais adiante, ao retomar o mesmo ponto a respeito do gnero

(1415b30):

Nos discursos epidticos, necessrio fazer o ouvinte pensar que partilha do elogio,

ou ele prprio ou a sua famlia, ou o seu modo de vida, ou pelo menos algo desse

tipo. Pois verdade o que Scrates afirma no seu discurso fnebre: que no difcil

louvar os Atenienses diante dos Atenienses, mas sim diante dos Lacedemnios.

,

:

, ,

, .

Outra importante observao o fato de que as oraes fnebres perpassam os

trs tempos: constroem o passado, apresentam o presente e dispem uma exortao para

o futuro daqueles que ainda vivem. Ademais, o mbito individual deixado de lado,

uma vez que os mortos so tratados como um corpo coletivo, todos vistos sob a mesma

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pi%2Fptei&la=greek&can=pi%2Fptei0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=d%27&la=greek&can=d%2711&prior=pi/pteihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=eu%29lo%2Fgws&la=greek&can=eu%29lo%2Fgws0&prior=d'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28&la=greek&can=h%286&prior=eu)lo/gwshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29%2Fchsis&la=greek&can=au%29%2Fchsis0&prior=h(http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29s&la=greek&can=ei%29s8&prior=au)/chsishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs4&prior=ei)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pai%2Fnous&la=greek&can=e%29pai%2Fnous0&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n14&prior=e)pai/noushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28peroxh%3D%7C&la=greek&can=u%28peroxh%3D%7C0&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%2Fr&la=greek&can=ga%2Fr5&prior=u(peroxh=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29stin&la=greek&can=e%29stin6&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28&la=greek&can=h%287&prior=e)stinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=d%27&la=greek&can=d%2712&prior=h(http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28peroxh%5C&la=greek&can=u%28peroxh%5C0&prior=d'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&can=tw%3Dn23&prior=u(peroxh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kalw%3Dn&la=greek&can=kalw%3Dn3&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dio%5C&la=greek&can=dio%5C3&prior=kalw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ka%29%5Cn&la=greek&can=ka%29%5Cn1&prior=dio/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&can=mh%5C12&prior=ka)/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pro%5Cs&la=greek&can=pro%5Cs9&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs5&prior=pro/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29ndo%2Fcous&la=greek&can=e%29ndo%2Fcous1&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29lla%5C&la=greek&can=a%29lla%5C5&prior=e)ndo/coushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pro%5Cs&la=greek&can=pro%5Cs10&prior=a)lla/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs6&prior=pro/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Fllous&la=greek&can=a%29%2Fllous2&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dei%3D&la=greek&can=dei%3D7&prior=a)/lloushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=paraba%2Fllein&la=greek&can=paraba%2Fllein0&prior=dei=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pei%2Fper&la=greek&can=e%29pei%2Fper1&prior=paraba/lleinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28&la=greek&can=h%288&prior=e)pei/perhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28peroxh%5C&la=greek&can=u%28peroxh%5C1&prior=h(http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dokei%3D&la=greek&can=dokei%3D2&prior=u(peroxh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mhnu%2Fein&la=greek&can=mhnu%2Fein0&prior=dokei=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29reth%2Fn&la=greek&can=a%29reth%2Fn2&prior=mhnu/einhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Flws&la=greek&can=o%28%2Flws1&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C42&prior=o(/lwshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&can=tw%3Dn24&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=koinw%3Dn&la=greek&can=koinw%3Dn0&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29dw%3Dn&la=greek&can=ei%29dw%3Dn0&prior=koinw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28%2Fpasi&la=greek&can=a%28%2Fpasi0&prior=ei)dw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Ds&la=greek&can=toi%3Ds10&prior=a(/pasihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=lo%2Fgois&la=greek&can=lo%2Fgois0&prior=toi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28&la=greek&can=h%289&prior=lo/goishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=me%5Cn&la=greek&can=me%5Cn10&prior=h(http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29%2Fchsis&la=greek&can=au%29%2Fchsis1&prior=me/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pithdeiota%2Fth&la=greek&can=e%29pithdeiota%2Fth0&prior=au)/chsishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Ds&la=greek&can=toi%3Ds11&prior=e)pithdeiota/thhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pideiktikoi%3Ds&la=greek&can=e%29pideiktikoi%3Ds0&prior=toi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5Cs&la=greek&can=ta%5Cs6&prior=e)pideiktikoi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&can=ga%5Cr29&prior=ta/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pra%2Fceis&la=greek&can=pra%2Fceis1&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28mologoume%2Fnas&la=greek&can=o%28mologoume%2Fnas0&prior=pra/ceishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=lamba%2Fnousin&la=greek&can=lamba%2Fnousin0&prior=o(mologoume/nashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%28%2Fste&la=greek&can=w%28%2Fste2&prior=lamba/nousinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=loipo%5Cn&la=greek&can=loipo%5Cn0&prior=w(/stehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=me%2Fgeqos&la=greek&can=me%2Fgeqos1&prior=loipo/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=periqei%3Dnai&la=greek&can=periqei%3Dnai0&prior=me/geqoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C125&prior=periqei=naihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ka%2Fllos&la=greek&can=ka%2Fllos0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=skopei%3Dn&la=greek&can=skopei%3Dn0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C26&prior=skopei=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C85&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=par%27&la=greek&can=par%272&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%28%3Ds&la=greek&can=oi%28%3Ds2&prior=par'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28&la=greek&can=o%284&prior=oi(=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fpainos&la=greek&can=e%29%2Fpainos0&prior=o(http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%28%2Fsper&la=greek&can=w%28%2Fsper1&prior=e)/painoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&can=ga%5Cr21&prior=w(/sperhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28&la=greek&can=o%285&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*swkra%2Fths&la=greek&can=*swkra%2Fths0&prior=o(http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Flegen&la=greek&can=e%29%2Flegen0&prior=*swkra/thshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29&la=greek&can=ou%294&prior=e)/legenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=xalepo%5Cn&la=greek&can=xalepo%5Cn1&prior=ou)http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%29aqhnai%2Fous&la=greek&can=*%29aqhnai%2Fous0&prior=xalepo/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n9&prior=*)aqhnai/oushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%29aqhnai%2Fois&la=greek&can=*%29aqhnai%2Fois0&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29painei%3Dn&la=greek&can=e%29painei%3Dn1&prior=*)aqhnai/oishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n11&prior=stoxa/zesqaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C16&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Ds&la=greek&can=toi%3Ds9&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pideiktikoi%3Ds&la=greek&can=e%29pideiktikoi%3Ds2&prior=toi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%29%2Fesqai&la=greek&can=oi%29%2Fesqai0&prior=e)pideiktikoi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dei%3D&la=greek&can=dei%3D9&prior=oi)/esqaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=poiei%3Dn&la=greek&can=poiei%3Dn3&prior=dei=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=sunepainei%3Dsqai&la=greek&can=sunepainei%3Dsqai0&prior=poiei=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5Cn&la=greek&can=to%5Cn7&prior=sunepainei=sqaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29kroath%2Fn&la=greek&can=a%29kroath%2Fn2&prior=to/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%5C&la=greek&can=h%29%5C15&prior=a)kroath/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29to%5Cn&la=greek&can=au%29to%5Cn0&prior=h)/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%5C&la=greek&can=h%29%5C16&prior=au)to/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ge%2Fnos&la=greek&can=ge%2Fnos0&prior=h)/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%5C&la=greek&can=h%29%5C17&prior=ge/noshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pithdeu%2Fmat%27&la=greek&can=e%29pithdeu%2Fmat%270&prior=h)/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tou%3D&la=greek&can=au%29tou%3D1&prior=e)pithdeu/mat'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%5C&la=greek&can=h%29%5C18&prior=au)tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Fllws&la=greek&can=a%29%2Fllws0&prior=h)/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ge%2F&la=greek&can=ge%2F0&prior=a)/llwshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pws&la=greek&can=pws0&prior=ge/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%5C&la=greek&can=o%28%5C1&prior=pwshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&can=ga%5Cr18&prior=o(/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=le%2Fgei&la=greek&can=le%2Fgei0&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*swkra%2Fths&la=greek&can=*swkra%2Fths0&prior=le/geihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n12&prior=*swkra/thshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3D%7C&la=greek&can=tw%3D%7C11&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pitafi%2Fw%7C&la=greek&can=e%29pitafi%2Fw%7C0&prior=tw=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29lhqe%2Fs&la=greek&can=a%29lhqe%2Fs0&prior=e)pitafi/w|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fti&la=greek&can=o%28%2Fti8&prior=a)lhqe/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29&la=greek&can=ou%293&prior=o(/tihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=xalepo%5Cn&la=greek&can=xalepo%5Cn0&prior=ou)http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%29aqhnai%2Fous&la=greek&can=*%29aqhnai%2Fous0&prior=xalepo/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n13&prior=*)aqhnai/oushttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*%29aqhnai%2Fois&la=greek&can=*%29aqhnai%2Fois0&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29painei%3Dn&la=greek&can=e%29painei%3Dn0&prior=*)aqhnai/oishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29ll%27&la=greek&can=a%29ll%272&prior=e)painei=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n14&prior=a)ll'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*lakedaimoni%2Fois&la=greek&can=*lakedaimoni%2Fois0&prior=e)n

17

tica, pautada na maneira como as mortes se deram e no motivo pelo qual ocorreram. A

particularidade anulada, e a morte se transforma na oportunidade de se glorificar o

corpo coletivo da cidade, conforme assinala Nicole Loraux (1986, p. 60-9). Celebrar o

morto, nesse contexto, tem um sentido poltico que transcende o privado, na medida em

que a caracterizao de Atenas em tais discursos passa pelo modelo poltico da

democracia, de modo que o eixo principal a cidade, e no os homens em particular. A

vida privada de cada um no tem a mesma importncia que seus feitos na esfera pblica.

Nesse sentido, os funerais oficiais funcionavam, em certa medida, como a

emanao simblica da plis democrtica. Misturam-se os feitos guerreiros e a

exaltao do regime, assim como a esfera militar e a poltica. Ocorre aqui o que Loraux

(1986, p.69) encara como um trplice deslocamento: (1) a exaltao fnebre deixa de ser

parte apenas das cortes aristocrticas para tornar-se um discurso proferido

publicamente; (2) no mais um poeta a entoa, mas um orador, figura fortemente

presente nesse contexto; (3) ademais, h a sada do mbito da mtrica para o da prosa.

No contexto da democracia, o canto e a lamentao fnebre de outrora, que pertenciam

ao mbito da poesia, se transformam em em prosa e passam a se calcar no valor

de Atenas e do cidado ateniense; o epitfio se configura como uma exaltao glria

coletiva, e no mais glria de um aristocrata proeminente.

Os discursos fnebres esto associados, portanto, a questes sociais e polticas,

uma vez que os funerais, enquanto eventos cvicos, no s marcam como reforam as

caractersticas do momento histrico no qual esto inseridos. As oraes fnebres se

configuram como um louvor coletivo, e veneram os concidados considerados mais

valorosos por terem dado suas vidas pelo bem-comum da plis, de modo a demonstrar e

expressar a grandeza do corpo social perante os seus e perante os outros. Este aspecto

pode ser explicitado em um excerto da orao fnebre atribuda a Pricles por

Tucdides. Como sinal de igualdade entre os guerreiros, todos os homens que pereceram

durante o primeiro ano da Guerra do Peloponeso foram reunidos e enterrados num

mesmo tmulo, smbolo da unidade democrtica, de uma sociedade que no diferencia

os indivduos que deram a vida pelo bem coletivo. Isso fica claro na descrio dada por

Tucdides imediatamente antes do discurso fnebre, atribudo a Pricles, propriamente

dito:

(...) os ossos de cada um so postos no atade de sua tribo; um atade vazio, coberto por

um plio, tambm levado em procisso, reservado aos desaparecidos cujos cadveres no

18

foram encontrados para o sepultamento. (...) os atades so postos no mausolu oficial,

situado no subrbio mais belo da cidade; l so sempre sepultados os mortos em guerra,

exceo dos que tombaram em Maratona que, por seus mritos excepcionais, foram

enterrados no prprio local da batalha. (Thuc. 2.34. 3-5)5

.

, . (...)

, ,

, :

.

H, no enterro e na celebrao coletiva, uma apropriao desses mortos pela

cidade, enriquecendo sua honra e valor. Verifica-se, por conta do cunho coletivo das

cerimnias, a anulao de qualquer distino que se possa fazer entre os guerreiros. A

honra coletiva traz consigo essa necessidade do anonimato; entende-se que as batalhas

opem coletividades. A glria vira um conceito poltico, e a orao fnebre passa a ser

um elogio a Atenas, diante do qual o prprio louvor aos mortos se torna secundrio. O

discurso fnebre visto como coroamento do ato nobre de perecer em combate, em

favor da causa coletiva, e mais explica e exorta do que consola. So dois elogios

presentes nas oraes fnebres: o do corpo coletivo de homens de guerra e o de Atenas,

que concorrem para um mesmo fim. A glria dos mortos passa pela glria da plis e

dela necessita, inclusive, para existir. O discurso fnebre composto em tom mais

militar e guerreiro do que propriamente lamurioso; tem-se um discurso militar que

enaltece os feitos blicos e os valores pblicos.

Um importante ponto a ser tratado a presena do outro no contexto dos

funerais pblicos. A amplitude do discurso transpassa a cidadania: participam tambm

mulheres, crianas, estrangeiros6. A cidade demonstra uma abertura democrtica nesse

sentido, e h a clara inteno de impressionar estrangeiros, aliados, amigos e

adversrios reais e potenciais, que podem acompanhar a cerimnia e o discurso. A

presena e a importncia deles, no entanto, se d na medida em que faz emergir a

magnitude ateniense. Como exemplo, podemos citar dois momentos: no discurso

presente na obra de Tucdides, Pricles (2.36.4) anuncia que falar aos estrangeiros

5 Os excertos traduzidos do texto de Tucdides presentes neste trabalho so todos parte da seguinte obra:

TUCDIDES, Histria da Guerra do Peloponeso. Trad. Mrio da Gama Kury. 4 ed, Braslia; Editora

Universidade de Braslia, 2001. 6 A questo da presena do estrangeiro nos ritos funerais aparece em ambas as obras. Cf. Thuc. 2.34.4;

36.4 e Menex. 235b.

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fnesti&la=greek&can=e%29%2Fnesti0&prior=mi/anhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C2&prior=e)/nestihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%5C&la=greek&can=ta%5C1&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%29sta%3D&la=greek&can=o%29sta%3D1&prior=ta/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28%3Ds&la=greek&can=h%28%3Ds0&prior=o)sta=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%28%2Fkastos&la=greek&can=e%28%2Fkastos1&prior=h(=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%3Dn&la=greek&can=h%29%3Dn0&prior=e(/kastoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=fulh%3Ds&la=greek&can=fulh%3Ds1&prior=h)=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mi%2Fa&la=greek&can=mi%2Fa0&prior=fulh=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C3&prior=mi/ahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kli%2Fnh&la=greek&can=kli%2Fnh0&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kenh%5C&la=greek&can=kenh%5C0&prior=kli/nhhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=fe%2Fretai&la=greek&can=fe%2Fretai0&prior=kenh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29strwme%2Fnh&la=greek&can=e%29strwme%2Fnh0&prior=fe/retaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&can=tw%3Dn2&prior=e)strwme/nhhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29fanw%3Dn&la=greek&can=a%29fanw%3Dn0&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%28%5C&la=greek&can=oi%28%5C0&prior=a)fanw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%5Cn&la=greek&can=a%29%5Cn0&prior=oi(/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&can=mh%5C0&prior=a)/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=eu%28reqw%3Dsin&la=greek&can=eu%28reqw%3Dsin0&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29s&la=greek&can=e%29s0&prior=eu(reqw=sinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29nai%2Fresin&la=greek&can=a%29nai%2Fresin0&prior=e)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tiqe%2Fasin&la=greek&can=tiqe%2Fasin0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29%3Dn&la=greek&can=ou%29%3Dn0&prior=tiqe/asinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29s&la=greek&can=e%29s1&prior=ou)=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C0&prior=e)shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dhmo%2Fsion&la=greek&can=dhmo%2Fsion0&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=sh%3Dma&la=greek&can=sh%3Dma0&prior=dhmo/sionhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2F&la=greek&can=o%28%2F0&prior=sh=mahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29stin&la=greek&can=e%29stin0&prior=o(/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pi%5C&la=greek&can=e%29pi%5C1&prior=e)stinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%3D&la=greek&can=tou%3D0&prior=e)pi/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kalli%2Fstou&la=greek&can=kalli%2Fstou0&prior=tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=proastei%2Fou&la=greek&can=proastei%2Fou0&prior=kalli/stouhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%3Ds&la=greek&can=th%3Ds0&prior=proastei/ouhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=po%2Flews&la=greek&can=po%2Flews0&prior=th=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C4&prior=po/lewshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ai%29ei%5C&la=greek&can=ai%29ei%5C0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n2&prior=ai)ei/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tw%3D%7C&la=greek&can=au%29tw%3D%7C1&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=qa%2Fptousi&la=greek&can=qa%2Fptousi0&prior=au)tw=|http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs0&prior=qa/ptousihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29k&la=greek&can=e%29k0&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&can=tw%3Dn3&prior=e)khttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pole%2Fmwn&la=greek&can=pole%2Fmwn0&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=plh%2Fn&la=greek&can=plh%2Fn0&prior=pole/mwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ge&la=greek&can=ge0&prior=plh/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%5Cs&la=greek&can=tou%5Cs1&prior=gehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n3&prior=tou/shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=*maraqw%3Dni&la=greek&can=*maraqw%3Dni0&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29kei%2Fnwn&la=greek&can=e%29kei%2Fnwn0&prior=*maraqw=nihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C5&prior=e)kei/nwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=diapreph%3D&la=greek&can=diapreph%3D0&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&can=th%5Cn0&prior=diapreph=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29reth%5Cn&la=greek&can=a%29reth%5Cn0&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kri%2Fnantes&la=greek&can=kri%2Fnantes0&prior=a)reth/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tou%3D&la=greek&can=au%29tou%3D0&prior=kri/nanteshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C5&prior=au)tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5Cn&la=greek&can=to%5Cn1&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%2Ffon&la=greek&can=ta%2Ffon1&prior=to/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29poi%2Fhsan&la=greek&can=e%29poi%2Fhsan0&prior=ta/fon

19

assim como aos cidados, mas dirige a exortao e o consolo somente para os

atenienses (pais, filhos, amigos e esposas); e Scrates, no dilogo de Plato (235b1-8),

anuncia a presena dos embora deixe claro que h, por trs do discurso, a

inteno de louvar os atenienses diante deles mesmos, como dito neste excerto: quando

algum argumenta na presena daqueles mesmos a quem est louvando, no

admirvel que parea bem falar (

, - 235d7-8). Ainda se tratando da presena e da

relevncia do outro nos discursos fnebres, deve-se ressaltar que a plis referida e

elogiada nestes discursos parece ter adversrios sempre satisfeitos com sua condio e

que ressaltam, em suas atitudes, a excelncia ateniense. Logo, dizer que todos

reconhecem o valor da plis um topos presente em ambos os textos. Pricles afirma

que Atenas a nica cidade naquele contexto que jamais suscitou irritao nos inimigos

que a atacaram (

- Thuc. 2.41.3). Scrates, por sua vez, diz que

os inimigos de Atenas, mesmo depois de terem combatido contra seus homens, tecem

mais elogios sua temperana e virtude do que amigos o fazem aos seus prprios

amigos. (

: Menex. 243a5-7). J o apelo posteridade, que ocorre

na ltima parte do discurso em forma de exortao aos que sobreviveram, dirigido

primordialmente aos seus concidados (Loraux, 1994, p. 99-100).

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o(%2Ftan&la=greek&can=o(%2Ftan0&prior=eu)dokimh/sontoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%2F&la=greek&can=de%2F0&prior=o(/tanhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tis&la=greek&can=tis0&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e)n&la=greek&can=e)n2&prior=tishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%2Ftois&la=greek&can=tou%2Ftois0&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a)gwni%2Fzhtai&la=greek&can=a)gwni%2Fzhtai0&prior=tou/toishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou(%2Fsper&la=greek&can=ou(%2Fsper0&prior=a)gwni/zhtaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C2&prior=ou(/sperhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e)painei%3D&la=greek&can=e)painei%3D0&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou)de%5Cn&la=greek&can=ou)de%5Cn0&prior=e)painei=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=me%2Fga&la=greek&can=me%2Fga0&prior=ou)de%5Cnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dokei%3Dn&la=greek&can=dokei%3Dn0&prior=me/gahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=eu)%3D&la=greek&can=eu)%3D1&prior=dokei=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=le%2Fgein&la=greek&can=le%2Fgein1&prior=eu)=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C3&prior=e)/rxetaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mo%2Fnh&la=greek&can=mo%2Fnh1&prior=kai%5Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou)%2Fte&la=greek&can=ou)%2Fte0&prior=mo/nhhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3D%7C&la=greek&can=tw%3D%7C1&prior=ou)/tehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=polemi%2Fw%7C&la=greek&can=polemi%2Fw%7C0&prior=tw=%7Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e)pelqo%2Fnti&la=greek&can=e)pelqo%2Fnti0&prior=polemi/w%7Chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a)gana%2Fkthsin&la=greek&can=a)gana%2Fkthsin0&prior=e)pelqo/ntihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e)%2Fxei&la=greek&can=e)%2Fxei0&prior=a)gana/kthsinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u(f'&la=greek&can=u(f'0&prior=e)/xeihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi(%2Fwn&la=greek&can=oi(%2Fwn0&prior=u(f'http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kakopaqei%3D&la=greek&can=kakopaqei%3D0&prior=oi(/wn

20

CAPTULO 2

O Menxeno de Plato

O interesse pelo dilogo Menxeno tem crescido recentemente entre os

principais estudiosos da filosofia platnica. Durante boa parte do sc. XX ele foi

negligenciado, tendo em vista as dificuldades existentes para que se pudesse

desenvolver uma leitura satisfatria do dilogo. Trata-se, por assim dizer, de um escrito

repleto de dificuldades e complexidades. Charles Kahn (1963, p. 220) o define como o

escrito mais enigmtico de Plato. Pouca ateno tem sido dada obra por diversos

motivos, sobretudo por carregar consigo ambiguidades, anacronismos e questes para as

quais trabalhoso obter respostas definitivas. Stephen G. Salkever (1993, p. 133) atribui

essa negligncia por parte dos estudiosos dificuldade de se medir a ironia da

personagem Scrates que permeia o texto. Em seus estudos, tanto Kahn quanto Salkever

reiteram e concluem, por fim, que o texto no deve ser entendido simplesmente como

uma pardia ou stira, mas sim como uma reflexo jocosa feita para oferecer um ponto

de partida a partir do qual deve-se pensar os discursos polticos.

Com efeito, Plato dialoga em sua obra com diferentes gneros de discurso j

previamente estabelecidos, rompendo as barreiras entre o texto que ele prprio escreve e

aqueles com os quais indireta ou diretamente estabelece uma determinada ligao.

Mikhail Bakhtin (1984, p. 189 apud NIGHTINGALE, 1995, p. 6) afirma, sobre essa

relao intrnseca entre os gneros:

[the author of a hybrid text] make[s] use of someone elses discourse for his own

purposes, by inserting a new semantic direction into a discourse which already has, and

which retains, an intention of its own. Such a discourse (...) must be perceived as belonging

to someone else. In one discourse, two semantic intentions appear, two voices.

O Menxeno um exemplo dessa relao intergenrica, uma vez que traz cena

o discurso fnebre e se apropria de suas estruturas por um vis diferente. Nightingale

(1995, p. 5) observa:

It should be emphasized that Plato targets genres that have currency in classical Athens

genres which make some claim to wisdom or authority. Not surprisingly, then, when Plato

engages with a given genre of discourse, his stance is usually adversarial. As I will argue,

21

Plato uses intertextuality as vehicle for criticizing traditional genres of discourse and, what

is more important, for introducing and defining a radically different discursive practice,

which calls philosophy.

O gnero parodiado ou ironizado, portanto, serve a certos propsitos de Plato

em cada contexto especfico em que esse fenmeno acontece. No caso do Menxeno, a

reconstruo da orao fnebre a partir de seus prprios elementos carrega consigo um

projeto platnico de exposio de certas deficincias retricas. O texto pode ser

encarado como um comentrio jocoso a respeito do momento poltico vivenciado por

Atenas, se o entendermos como uma mera pardia das oraes fnebres, que eram, por

sua vez, eventos cvicos cuja funo poltica era de extrema importncia no contexto da

democracia ateniense do final do sc. V a.C. e comeo do sc. IV a.C., como analisado

na seo anterior. Todavia, o dilogo pode ser lido no apenas por esse vis negativo:

possvel tratar a obra como uma exposio de opinies, a partir do momento em que ela

prope reflexes acerca das possibilidades e dos limites da poltica democrtica ento

vigente.

Uma das preocupaes de Plato ao desenvolver a orao fnebre parece ser a

exposio das deficincias dos rtores e polticos contemporneos. A escolha da orao

como gnero a ser desenvolvido pode ser explicada, segundo Lucinda Coventry (1989,

p. 02), pelo fato de as caractersticas dos oradores, alvos da crtica platnica, estarem

claramente presentes em tais discursos. Para a autora, o epitfio como gnero tem o

carter essencialmente poltico e o Menxeno ilustra a necessidade da filosofia para a

poltica e as consequncias de ignor-la. Scrates est falando sua prpria cidade e,

para tal, utiliza uma linguagem e uma forma que a cidade, num mbito geral, parece

compreender consideravelmente melhor do que a linguagem do dilogo socrtico e do

.

O discurso de Scrates relata a histria de Atenas em termos brilhantes, de sua

origem autctone Paz de Antlcidas, no fim da guerra de Corinto em 386 a.C., ocasio

para o funeral pblico. O dilogo em questo tem incio quando Scrates encontra

Menxeno vindo da Assemblia dos cidados e informado pelo rapaz que os homens

discutiam a respeito da orao fnebre que deveria ser realizada, e decidiam quem seria

o poltico ideal para desempenhar tal funo. A partir da, Scrates se prope a fazer um

discurso fnebre e, para tal, compe trs partes distintas: um preldio, identificando o

discurso como requerido pela lei ateniense; uma orao para os homens mortos e para

22

Atenas; e uma exortao consolatria aos vivos. Vassiliki Frangeskou (1999, p. 319)

demonstra que, a partir do dilogo platnico, pode-se de fato compreender de que modo

eram compostas as oraes fnebres naquele contexto, uma vez que, aps a abertura,

verifica-se o louvor aos que pereceram na guerra, seguido de uma srie de conselhos aos

vivos - aos filhos dos mortos, em forma de exortao, e aos pais, em forma de

consolao. Em outras palavras, dever-se-ia esperar de uma orao fnebre essas trs

partes distintas: um louvor inicial contextualizando o discurso, um elogio a fim de que a

grandeza e nobreza da cidade fossem exaltadas e, por fim, a exortao (uma seo de

carter pedaggico) e a consolao.

Sandrine Berges (2007, p. 218) prope uma diviso do dilogo em quatro partes

principais: (i) a evocao de Scrates para que, a despeito de sua condenao retrica,

fosse possvel desenvolver um discurso digno e vlido; (ii) a origem de Atenas e dos

atenienses7; (iii) uma histria da cidade com traos de anacronismo e reviso; e (iv) uma

exortao aos viventes, numa espcie de prosopopia, como se falasse na voz dos

mortos em guerra, parte esta que Berges considera ser a mais obviamente filosfica.

Sobre este ltimo momento da orao, Rosenstock (1994, p. 336) ressalta:

After the historical narrative, Socrates turns to offer remarks to the assembled city, and

especially to the parents and children of the dead. In these final words he adopts the

rhetorical trope of prosopopeia, speaking in the voice of the dead, first to their sons, then to

their parents. This is the section of the oration which, as I mentioned above, Dionysius of

Halicarnassus (Dem. 30), in agreement with other critics, identifies as the best part of the

speech.

As concluses centrais a respeito de como os atenienses devem conduzir suas

vidas so ditas como se estivessem na voz dos homens mortos em guerra, como fica

evidente neste trecho do discurso:

Irei relatar a vs as coisas que escutei deles prprios e aquilo que eles mesmos diriam agora

a vs de bom grado se pudessem faz-lo, tendo como testemunho o que eles outrora

disseram. Mas necessrio que considereis as coisas que direi agora como se estivsseis

ouvindo de vossos prprios pais. (246c5-9)

7 Michael F. Carter (1991, p. 221) ressalta que o incio do discurso de Scrates leva seus ouvintes de volta

a suas razes comuns, com a celebrao de sua origem e de seu lugar especial no cosmos. Trata-se de um

tempo de lamentao: Scrates explica e justifica o evento que conduziu a esta lamentao. Dessa

maneira, segundo o autor, se estabelece um princpio ordenado para a situao catica do presente.

23

, .

:

H uma mudana de tom no momento da exortao reconhecida pela maior parte

dos estudiosos do dilogo, como observa Coventry (1989, p. 05). Scrates tira a

mscara de um orador vivo, cessa a narrao de fatos propriamente dita e incita a

suposta audincia ao comprometimento com a virtude8. Essa passagem destoa, em

alguns aspectos, do restante do texto, e considerada por Nightingale (1995, p. 12)

como no-pardica, pois a mistura de gneros parece ter outra finalidade que no

propriamente a ironia, mas sim uma crtica positiva:

In the non-parodic passages, Plato remains open to the possibility that a genre may in fact

make positive contribution to the philosophers enterprise. Instead of rejecting traditional

genres out of hand, Plato opts to explore the potentialities as well as the liabilities of these

discursive practices. (...) As this ambivalence reveals, Plato did not fix the boundaries of

philosophy once and for all. Perhaps he sensed that philosophy is not well served by a

permanent and closed border.

Se aplicssemos esse argumento de Nightingale para o caso especfico do

Menxeno, poderamos dizer que Plato recorre a outro gnero no apenas para ironizar

e trazer tona os problemas nele presentes, mas tambm para mostrar como possvel

servir-se de um discurso tipicamente democrtico em prol de seu pensamento filosfico,

fazendo emergir questes que, na sua viso, so de fato relevantes, como o

comportamento verdadeiramente virtuoso do cidado (246e-247d6).

Salkever (1993, p. 135) assinala que essa personificao dos mortos em guerra

no encontrada nas oraes fnebres dos scs. V e IV a.C. que se conservaram at os

dias de hoje, o que seria, portanto, uma particularidade do Menxeno. O autor prope,

na sequncia de seu artigo, (1993, pp.136-141), uma diviso do dilogo em trs partes:

Abertura: dilogo entre Scrates e Menxeno (234a-236d);

8 Dean-Jones (1995, p. 55): According to the Meno (99e-100a), a man who could achieve this [inspire to

acquire true virtue] among the living would be like Teiresias among the dead, a solid reality among

shadows.

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=fra%2Fsw&la=greek&can=fra%2Fsw0&prior=e)/mellonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C1&prior=fra/swhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28mi%3Dn&la=greek&can=u%28mi%3Dn0&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28%2F&la=greek&can=a%28%2F0&prior=u(mi=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=te&la=greek&can=te0&prior=a(/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tw%3Dn&la=greek&can=au%29tw%3Dn0&prior=tehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%29%2Fkousa&la=greek&can=h%29%2Fkousa0&prior=au)tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29kei%2Fnwn&la=greek&can=e%29kei%2Fnwn0&prior=h)/kousahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C2&prior=e)kei/nwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%28%3Da&la=greek&can=oi%28%3Da0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=nu%3Dn&la=greek&can=nu%3Dn0&prior=oi(=ahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28de%2Fws&la=greek&can=h%28de%2Fws0&prior=nu=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%5Cn&la=greek&can=a%29%5Cn0&prior=h(de/wshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29%2Fpoien&la=greek&can=ei%29%2Fpoien0&prior=a)/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=u%28mi%3Dn&la=greek&can=u%28mi%3Dn1&prior=ei)/poienhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=labo%2Fntes&la=greek&can=labo%2Fntes0&prior=u(mi=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=du%2Fnamin&la=greek&can=du%2Fnamin0&prior=labo/nteshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tekmairo%2Fmenos&la=greek&can=tekmairo%2Fmenos0&prior=du/naminhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29c&la=greek&can=e%29c0&prior=tekmairo/menoshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=w%28%3Dn&la=greek&can=w%28%3Dn0&prior=e)chttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%2Fte&la=greek&can=to%2Fte0&prior=w(=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Flegon&la=greek&can=e%29%2Flegon0&prior=to/tehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29lla%5C&la=greek&can=a%29lla%5C0&prior=e)/legonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=nomi%2Fzein&la=greek&can=nomi%2Fzein0&prior=a)lla/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=xrh%5C&la=greek&can=xrh%5C0&prior=nomi/zeinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=au%29tw%3Dn&la=greek&can=au%29tw%3Dn1&prior=xrh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29kou%2Fein&la=greek&can=a%29kou%2Fein0&prior=au)tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29kei%2Fnwn&la=greek&can=e%29kei%2Fnwn1&prior=a)kou/einhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28%5C&la=greek&can=a%28%5C1&prior=e)kei/nwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%5Cn&la=greek&can=a%29%5Cn1&prior=a(/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29pagge%2Fllw&la=greek&can=a%29pagge%2Fllw0&prior=a)/n

24

O epitfio propriamente dito (236d-249c), subdividido em trs partes: (i) a