Memórias de um Tempo_Esporte e Lazer_Bagé_Programas Sociais

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Uma das situações que mais me incomodava e entristecia quando percorria a periferia de Bagé, ...antes de ser eleito para a prefeitura, era ver nos bairros dezenas de crianças perambulando pelas ruas sem nada o que fazer ou jogando futebol, na maioria das vezes com bolas improvisadas, feitas de meias recheadas com papel. Na maioria dos casos em locais impróprios, expostas ao perigo. De outra parte, tínhamos dezenas de espaços, públicos e privados, em clubes, associações, entidades particulares, e unidades do exército, ociosas. A situação mexia comigo. Eleito para administrar o município, tinha na oposição o vereador Pedro Sabella. Professor de Educação Física, homem ligado ao esporte, dinâmico e irrequieto, Sabella tinha projetos para esta área, os quais, invariavelmente, acabavam sendo tema de nossas conversas sempre que tínhamos reunião. Enxergava nas propostas que ele apresentava boas ideias que poderiam ser encampadas pelo governo municipal, até mesmo porque apontavam caminhos para equacionarmos situações como as que narrei na abertura desta coluna. Uma das propostas apresentadas pelo então vereador do PSDB era a criação da Memórias de um tempo Esporte, lazer e cultura formando cidadãos Vila Olímpica. Certa vez perguntei se ele não queria ser secretário para, com nosso apoio, colocar em prática seus projetos. Sabella respondeu que, se eu convidasse, toparia. E assim foi. Com o projeto elaborado por ele, fomos a Brasília conversar com o então ministro dos Esportes, Agnelo Queiróz, que tinha sido meu colega na Câmara dos Deputados e com quem jogávamos futebol todas às terças à noite, no Clube do Congresso. Agnelo, hoje governador do Distrito Federal, relatou que sua equipe, naquele momento, no início do governo Lula, preparava um programa nos mesmos moldes. Voltamos para Bagé e, tempos depois, fomos informados pelo ministro que estava sendo criado o Segundo Tempo. Nos habilitamos e fomos contemplados com cinco núcleos, cada um com 200 vagas para jovens dos seis aos 17 anos. No turno inverso ao da escola, praticavam esportes, recebiam reforço escolar e lanchavam. Também conquistamos para Bagé 10 núcleos do Esporte e Lazer. Com uma proposta pouco diferente da do Segundo Tempo, atendia um público mais eclético.

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Uma das situações que mais me

incomodava e entristecia quando percorria

a periferia de Bagé,

...antes de ser eleito para a prefeitura,

era ver nos bairros dezenas de crianças

perambulando pelas ruas sem nada o que

fazer ou jogando futebol, na maioria das

vezes com bolas improvisadas, feitas de

meias recheadas com papel. Na maioria

dos casos em locais impróprios, expostas

ao perigo. De outra parte, tínhamos

dezenas de espaços, públicos e privados,

em clubes, associações, entidades

particulares, e unidades do exército,

ociosas. A situação mexia comigo.Eleito para administrar o município,

tinha na oposição o vereador Pedro

Sabella. Professor de Educação Física,

homem ligado ao esporte, dinâmico e

irrequieto, Sabella tinha projetos para esta

área, os quais, invariavelmente, acabavam

sendo tema de nossas conversas sempre

que tínhamos reunião. Enxergava nas

propostas que ele apresentava boas ideias

que poderiam ser encampadas pelo

governo municipal, até mesmo porque

apontavam caminhos para equacionarmos

situações como as que narrei na abertura

desta coluna.Uma das propostas apresentadas pelo

então vereador do PSDB era a criação da

Memórias de um tempo

Esporte, lazer e cultura formando cidadãos

Vila Olímpica. Certa vez perguntei se ele

não queria ser secretário para, com nosso

apoio, colocar em prática seus projetos.

Sabella respondeu que, se eu convidasse,

toparia. E assim foi. Com o projeto

elaborado por ele, fomos a Brasília

conversar com o então ministro dos

Esportes, Agnelo Queiróz, que tinha sido

meu colega na Câmara dos Deputados e

com quem jogávamos futebol todas às

terças à noite, no Clube do Congresso.Agnelo, hoje governador do Distrito

Federal, relatou que sua equipe, naquele

momento, no início do governo Lula,

preparava um programa nos mesmos

moldes. Voltamos para Bagé e, tempos

depois, fomos informados pelo ministro

que estava sendo criado o Segundo

Tempo. Nos habilitamos e fomos

contemplados com cinco núcleos, cada

um com 200 vagas para jovens dos seis

aos 17 anos. No turno inverso ao da

escola, praticavam esportes, recebiam

reforço escolar e lanchavam.Também conquistamos para Bagé 10

núcleos do Esporte e Lazer. Com uma

proposta pouco diferente da do Segundo

Tempo, atendia um público mais eclético.

Dos jovens aos idosos, passando por

portadores de necessidades especiais.

Mas também abria espaço para a

juventude, no contraturno escolar, praticar

esportes, com equipamentos adequados,

para que saísse das ruas. A arteOutro programa que desenvolvemos e

que possibilitava a ocupação de jovens no

turno inverso era o Rodarte. Quando a

Marcia Pilon Mainardi assumiu a

Secretaria da Educação, no início do

nosso segundo mandato de prefeito,

descobrimos que o Ministério da

Educação tinha um programa de Ações

Complementares. Nos preparamos e

conquistamos os recursos para

implementarmos o Rodarte que, em

quatro anos, funcionando no Colégio São

Pedro,atendeu quase quatro mil escolares

da rede municipal.Alunos eram selecionados nas escolas

e no Rodarte recebiam aulas de teatro,

violão, flauta, capoeira, artes circenses.

Tudo com vistas a estimular a recuperação

da autoestima daqueles jovens para que

Memórias de um tempo

voltassem a ter gosto pela escola.

Também levávamos mães para que nos

ajudassem nesse trabalho. Elas

participavam de cursos e se integravam

ao nosso projeto.Certa noite, quando participava da

apresentação do grupo coordenado pelo

professor Borges, ao ver um menino que,

meses antes ninguém apostaria um

centavo na sua reintegração, abrindo o

espetáculo, dizendo, com alegria,

"respeitável público", tive a certeza de que

era possível promover a reinserção. Com

carinho, atenção e o envolvimento de

pessoas comprometidas, era possível. E

nós fizemos. Escola integralSomados a outros programas, o

Rodarte, o Segundo Tempo e o Esporte e

Lazer colocavam em prática, de certa

forma, guardadas as proporções e

limitações do município, o conceito da

Escola Integral pregado por Brizola e Darci

Ribeiro. Mantínhamos em atividade, no

turno inverso da escola, quer com práticas

esportivas, educacionais ou culturais,

milhares de estudantes da rede pública.

Em determinado momento, tínhamos

quase a metade dos 13 mil alunos da rede

municipal em atividade no turno inverso.

Os resultados puderam ser quantificados

em médio prazo. Verificamos a redução

dos índices de repetência nas escolas da

rede municipal, entre 2001 e 2008, de 26

para 9% e de sete para 2% os indicadores

de evasão. Claro que não devemos atribuir

única e exclusivamente àquelas ações,

mas que elas contribuíram, contribuíram.

Mais importante do que tudo isso,

Memórias de um tempo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

ajudamos a formar cidadãos do bem. Ocupando os espaços Esta política, além dos benefícios

diretos que trazia para a nossa

comunidade, também proporcionava a

ocupação de ginásios de esportes que, se

não fossem os programas,

permaneceriam ociosos. A maioria deles,

na maior perto do tempo, só eram

utilizados à noite. Também nos levou a

construir dois novos ginásios de esportes,

nos bairros Morgado Rosa e Narciso Suñe.