MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas...

92
i BRASIL 2016

Transcript of MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas...

Page 1: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

i

BRASIL 2016

Page 2: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

MEMÓRIAS DA TURMA 169 NA EEAer

40 ANOS DEPOS

Brasil

2016

Page 3: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta
Page 4: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

i

Juramento à Bandeira

Este juramento foi feito por todos nós ao sermos considerados prontos para servir à Pátria como militares da Força Aérea Brasileira:

“Incorporando-me à Força Aérea Brasileira, prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado, respeitar os superiores hierárquicos, tratar com afeição os irmãos de armas, e com bondade os subordinados, e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja Honra, Integridade, e Instituições, defenderei com o sacrifício da própria vida.”

Compromisso do Especialista

Ao sermos promovidos a 3º Sargento Especialista todos nós assumimos este compromisso com a Nação e a FAB:

“Ao ser graduado Sargento da Aeronáutica, comprometo-me a cumprir com honestidade profissional as tarefas de minha atribuição, a empregar meus conhecimentos técnicos, aptidões de trabalho e capacidade criadora, com zelo, dedicação e senso de responsabilidade, em prol da segurança e do desenvolvimento do Brasil.”

Page 5: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

ii

Canção do Especialista

Letra e música do Aluno Especialista George Ayres Borges Arranjo musical do Tenente Músico João Nascimento

Com os pilotos e asas seremos Um conjunto de todo eficaz Por mais forte o inimigo não vemos Que possamos teme-lo jamais Disciplina, amor e coragem É o lema do nosso sucesso Da Bandeira da Pátria a imagem Nos aponta a ordem e o progresso Especialista, avante ao ar Para a frente com garbo varonil Agiganta a tua obra sem par Sob o céu deste grande Brasil

Quer na terra ou nos ares a lida Os perigos nos manda enfrentar Nos ufana e sentimos a vida Companheiros, viver é lutar Quando passa uma asa altaneira Sob o céu, sobre a terra e o mar Devorando o espaço ligeira Nós sentimos orgulho sem par Especialista, avante ao ar Para a frente com garbo varonil Agiganta a tua obra sem par Sob o céu deste grande Brasil

Page 6: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

iii

Índice

Juramento à Bandeira .................................................................. i Compromisso do Especialista ....................................................... i Canção do Especialista ................................................................ ii Prefácio ........................................................................................ 1 Rumo à Escola .............................................................................. 3 Dez de julho de 1976, o dia de deixar de ser guri sonhador ....... 5 Eu na rodoviária de Guaratinguetá ............................................. 7 A Quarentena .............................................................................. 9 Azul uma Geração de Mudanças ............................................... 10 O Flamenguista .......................................................................... 14 O “tumate” ................................................................................ 16 Banho a força ............................................................................. 17 O Acampamento ........................................................................ 18 A tirolesa .................................................................................... 20 Eu no acampamento .................................................................. 21 Ô pé frio!!! ................................................................................. 23 A “cola” ...................................................................................... 24 Eu colei ....................................................................................... 25 Acorda, Zé Honório!!! ................................................................ 27 Testemunha ocular .................................................................... 28 “Porteira Preta” ......................................................................... 29 Dedada mal dada ....................................................................... 30 A rabada ..................................................................................... 33 Quem viu, viu ............................................................................. 34 Disco Voador .............................................................................. 34 Lambisômi .................................................................................. 35 Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos ................................. 37 Como minha especialidade me escolheu!................................. 38 Minha especialidade: Bombeiro de Aeródromo. Por que? ...... 40 Acampamentos na Serra da Mantiqueira ................................. 42 Prancheta maluca ...................................................................... 44 Alergia à penicilina .................................................................... 45 Banho forçado ........................................................................... 46 Mais uma da turma de Desenho ............................................... 48 As vacas sapecadas .................................................................... 49 Com medo enorme, mas levantei ............................................. 50 O leitinho dos meninos ............................................................. 52 Uma refrescadinha numa tarde quente .................................... 54 À porta… já! ............................................................................... 55

Page 7: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

iv

A calça do Quinto ...................................................................... 58 O avião de garrafas .................................................................... 59 Final de basquete na Quarta Série ............................................ 60 O “Caveirinha” ........................................................................... 61 Suco diferente............................................................................ 63 Uma experiência ímpar: Aluno de Dia ao CA ............................ 64 Esqueceram de mim .................................................................. 67 Luto Azul .................................................................................... 68 Um “Fora de Forma” silencioso ................................................. 70 Dividindo não vai faltar ............................................................. 71 A noite anterior à formatura ..................................................... 73 Amanhã é a formatura .............................................................. 73 Um turbilhão de emoções ......................................................... 76 Os que já se foram... .................................................................. 79 Autores e colaboradores ........................................................... 81

Page 8: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

1

Memórias da Turma Professor Haroldo

169ª turma de alunos da Escola de Especialistas de

Aeronáutica

Prefácio A turma número 169 da Escola de Especialistas de

Aeronáutica começou suas atividades no dia 10 de julho de 1976. Éramos 501 alunos, muitos já com formação militar, cabos e soldados da Marinha, Exército e da própria FAB.

Durante dois anos convivemos juntos no maior complexo de formação militar da América do Sul. Foram dias de alegrias e tristezas, derrotas e vitórias, dificuldades e superação. Muita dedicação, muito estudo, dureza e também diversão porque, afinal, ninguém é de ferro.

Passaram-se 40 anos desde então, e a vida de cada um de nós tomou rumos não rigorosamente iguais. A maioria fez carreira e hoje estamos quase todos aposentados. Alguns se desligaram da vida militar e estamos espalhados por todos os cantos deste imenso país-continente. Perdemos o contato com a maioria e, infelizmente, alguns, seguindo o curso natural da vida, já não estão entre nós.

Mas, Aleluia!!!, com o progresso tecnológico de nosso tempo surgiram meios que, apesar de sempre sonhados, não tínhamos naquela época. Hoje temos computadores poderosos e mídias portáteis conectados numa rede mundial, e a distância entre nós é nada menos que um simples toque na tela de nossos telefones portáteis, o que na época de nossa juventude era apenas ficção. Através desses meios começamos a nos reencontrar virtualmente e preparamos esta festa para comemorar nosso aniversário de 40 anos. Pouco a pouco fomos nos conectando, com o esforço e a dedicação pessoal de um grupo que foi sendo construído e, nesse encontro, culminou no retorno ao nosso berço de formação militar e profissional para revermos face a face esta parcela de companheiros que conseguimos resgatar.

Como parte deste acontecimento, surgiu a ideia de compilarmos memórias individuais para fazerem parte deste livro que

Page 9: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

2

ora está nas tuas mãos. Aqui dentro, alguns de nós contam histórias de momentos que tivemos durante nossos dois anos de convívio na EEAr (que na nossa época era EEAer). Este documento, que é um registro totalmente fidedigno por ter sido escrito por testemunhas oculares dessas histórias, vai eternizar as nossas lembranças de bons tempos, de acontecimentos nem tanto assim, de histórias hilariantes e casos marcantes na vida daqueles garotos que estiveram ali se preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta nossa Força voando sob o céu, sobre a terra e o mar para garantir a soberania, a paz e a segurança nacional.

Luís Honório Rodrigues Aquino Ex-Al 76-815 Honório SO BCT Ref. Aquino Compilador e editor

Page 10: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

3

Rumo à Escola Por Trigueiro (ex-Aluno 76/864 TRIGUEIRO)

Retornei de Salvador no início de 1975, para onde havia ido com um tio cerca de dois anos antes, saindo da cidade do Rio de Janeiro para tentar dias melhores, sem sucesso.

Tomando fôlego para recomeçar, entretanto sem muita motivação, naquele ano estava a caminhar numa tarde, em mais um dia à procura de emprego, quando encontrei na rua um pequeno panfleto que incentivava a matrícula em um curso preparatório, com vistas ao futuro ingresso na Aeronáutica, do tipo “Jovem, este é o seu caminho: Força Aérea Brasileira”. Se tratava de um cursinho localizado na Rua da Constituição, próximo à Praça da República, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Aquele panfleto estaria fadado ao destino que eu costumava dar a muitos outros, dos mais variados assuntos: ser amassado ou rasgado. Mas aquele me interessou. Dobrei, guardei no bolso e aguardei voltar para casa, quando o mostraria aos meus pais.

Falei com eles sobre o meu desejo de conhecer o curso e, indagado se era realmente isso que desejava, respondi afirmativamente. Meu padrasto me deu o dinheiro da passagem de trem, uma vez que o local era perto da estação Central do Brasil e facilitaria a questão das despesas em casa.

O cursinho era bem humilde, de nome “ACADEMIA BRASILEIRA DE AVIAÇÃO”. As aulas eram apenas nos sábados, durante toda a tarde, e o valor da mensalidade poderia ser suportado, uma vez que nem de longe tinha condições de frequentar o curso top da época, o Soeiro de Cascadura.

Vem à minha lembrança todo o esforço empregado para pagar as mensalidades. Meu padrasto, que era alfaiate e mantinha um pequeno bazar na sala de casa, onde eu o auxiliava, durante todo o mês juntava, diariamente, parte do que conseguia comercializar, a fim de ter o valor necessário no dia do vencimento. Assim, por vezes pagava com um montante que obrigava o caixa recebedor a passar longo tempo contando cédulas e mais cédulas.

Page 11: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

4

O sacrifício e a dedicação começaram a ser recompensados quando, após prestar o concurso de admissão pela primeira vez, no lendário Estádio do Maracanã, vi o meu nome estampado na página rosa do “Jornal dos Sports”, em meio dos aprovados, depois de dias de angustiante expectativa.

Na EEAer vivi todos os momentos que forjam as noções de valores numa sociedade: companheirismo, espírito de corpo, disciplina, coragem, dedicação e perseverança.

Conheci instrutores e monitores que, inteiramente lançados ao objeto de tornar cidadãos em bons profissionais servidores da Pátria, emprestaram a essa missão comportamentos verdadeiramente paternais, a exemplo do saudoso Tenente AMOEDO, do mito Sargento RODRIGUES (o adorado “Caveirinha”) e do Sargento SÉRGIO.

Guardei, no subconsciente, situações marcantes que obrigatoriamente farão parte da minha história de vida: a “perseguição” do “Caveirinha” ao “Mr Magoo” na instrução de Ordem Unida; o grupo de alunos fugindo do Tenente ROBERTO, correndo pelo canteiro central da Dutra numa sexta-feira à tarde, com suas bagagens, após tentativa de carona; as vitórias nas Olimpíadas do Corpo de Alunos (OCA); a inauguração do grupo de bandeiras no pátio do Corpo de Alunos; o jantar dos 100 dias; o meu primeiro salto com paraquedas; a “pedra de gelo” que era o fuzil, quando eu estava de serviço de sentinela no aeroporto, no inverno de três graus positivos; os que se notabilizaram por suas características, como o “ADEMAR 700”, o MÍLTON “Zé Bolinho” com o seu apetite voraz, o suboficial “Búfalo Bill” e o folclórico professor de OT (Ordens Técnicas), sem falar do “estranho” PROCÓPIO, da Tarjeta Verde; e o desligamento e o falecimento dos companheiros de jornada.

Me despedi da EEAer com o potencial e a doutrina que me fizeram desempenhar com muito afinco e comprometimento todas as minhas atribuições na Força Aérea, e avalizaram a minha evolução na Instituição, onde permaneci em serviço ativo por 35 anos.

Page 12: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

5

Esses atributos, ressalto, foram e estão sendo basilares para o sucesso que alcanço na minha vida particular, e referencial para todos com os quais venho convivendo.

Eis a minha prazerosa história com a EEAer e a Turma 169. Dois memoráveis anos de convivência com um grupo em princípio heterogêneo, dadas as diversas origens e culturas neste País, mas que com o passar do tempo se consubstanciou numa coesão ímpar, capaz de mostrar àquela Escola, e à sociedade como um todo, o valor da sua gente espalhada pelo Brasil e pelo mundo.

Dez de julho de 1976, o dia de deixar de ser guri sonhador Por Junges (ex-Aluno 76/791 JUNGES)

Depois de mais de um ano de estudos no Cursinho Ícaro, do SO SANZONE, e três concursos para EEAer, a Escola de Especialistas de Aeronáutica, finalmente fui aprovado na 2ª chamada. Ainda faltavam os testes psicotécnicos e médicos. Depois, com tudo em ordem, fui chamado. Início de uma nova etapa na vida.

Dia 10 de julho de 1976. Um C-115 Buffalo me esperava no aeroporto em Porto Alegre. Uma despedida sem choro dos pais, mas um tanto pesada. Encontro alguns conhecidos do cursinho, o EICKHOFF e mais uns outros tantos jovens como eu.

Não sou mais só eu, somos nós; agora nos acomodamos como novos soldados, em bancos laterais. Afivelados, sentimos a nave toda vibrar e, após uma breve corrida nas asas da FAB, saltamos para o espaço. Não só o início de um voo, mas de uma vida.

Depois de cerca de quatro horas desde a saída de Porto Alegre, e ainda uma escala em Curitiba para levar mais alguns colegas, chegamos em Guaratinguetá, a cidade da escola que nos esperava. O corpo está dormente pelo frio e desconforto dos bancos e os ouvidos ainda zunem do ronco dos motores do Buffalo, mas nossos corações vibram de expectativa.

Page 13: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

6

Um ônibus azul nos leva além do pequeno aeroporto para dentro dos portões da escola que será nosso lar e vida pelos próximos dois anos. Somos identificados e já direcionados aos alojamentos de nossas esquadrilhas. Ali encontramos mais outros jovens, e eu me encanto com os as vozes doutras partes do Brasil; sons do norte, nordeste, Rio e Minas, um caleidoscópio cultural a que agora pertenço. Conheço meus irmãos deste imenso país.

Assim começamos a conhecer o que nos esperava nos dois anos futuros. Deixamos muita coisa para trás para sermos Sargentos da FAB. Amores mal começados, prazeres juvenis como ir ao futebol, ouvir nossa banda de rock preferida, pescarias ou um surf na praia, tudo ficou para trás. Talvez no futuro sejam retomados; agora não, só depois de formados.

Aprenderemos coisas novas, principalmente ser soldado e defender o país. Mas faremos mais: seremos Especialistas de Aeronáutica.

Ainda me sinto deslumbrado com tudo, e um pouco inseguro. Conheço meu parceiro de armário, meu xará SÉRGIO SCIENZA. O EICKHOFF também está na minha esquadrilha.

Vamos ao rancho, a fome está grande. Aqui todo deslocamento é em forma. Já há um “xerife”, não lembro se o CARPENTER ou o BONFIM. São nossos primeiros guias, pois já têm formação militar e podemos aprender com eles. No rancho a comida é básica; arroz, feijão, carne etc. Está ótima. Nestes próximos dois anos seremos bem tratados.

No dia seguinte quase todos os alunos novos já chegaram. Conhecemos os nossos superiores: o Comandante da Esquadrilha, Tenente SILVA, e o nosso sargenteante, Sargento ROCHA. Mas, hierarquicamente, toda a Escola estava acima de nós: éramos “bicharal”.

“Bicharal”, essa não foi a primeira gíria escolar que aprendemos, mas é a que se aplica a nós quando chegamos lá. A vida do “bicharal” não é fácil: correria pra cá, correria prá lá, mas tudo é

Page 14: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

7

festa. Ainda não temos farda nem a tarjeta do “milhão”; o “troféu” dos veteranos.

A ordem e disciplina são ainda, por muitos, pouco praticados. Sempre atrasados, ainda à paisana e cabeludos, parecemos um bando de molambentos tentando marchar. “Divertimo-nos” enquanto os veteranos, principalmente os “menos veteranos”, não chegam das férias.

Hoje cortamos os cabelos. Agora começamos a ficar iguais, mais limpos, as caras estão lavadas. Já marchamos melhor. Estamos entusiasmados. Agora é hora de tirar a foto para a identidade militar, e amanhã vamos receber os uniformes básicos, de instruções e treinamentos: calça, borzeguim, bute, meias, camisas, camisetas, quepe, um monte de coisas que mal sabemos como usar. Mais tarde, começamos a experimentá-los, orientados pelos “xerifes”.

Nesta semana aprendemos o básico da disciplina militar: marchar, sempre marchar. Para onde quer que nós desloquemos, é em forma; isto é fundamental. Também aprendemos a prestar continências, a nos apresentar. Aprendemos também identificar os toques de corneta: Alvorada, Silêncio e, é claro, o mais importante: Rancho... hora do rancho, que hora feliz.

Começou o semestre letivo. O que parecia agitado com a ordem unida básica no pátio de instrução, agora com vários alunos, é um murmúrio tão alto que ensurdece. Outros mil e quinhentos alunos chegaram. E a um toque de corneta tudo silencia. Acabou nosso paraíso. O pátio não é mais nosso.

Eu na rodoviária de Guaratinguetá Por Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO)

Estava nos meus 17 anos de idade e nunca havia feito uma viagem para fora do Rio de Janeiro, muito menos uma viagem só.

Estava chegando o dia de me apresentar na Escola e a insegurança me levou a ligar para o meu companheiro NEY ROCHA, do curso D´Augustinho, para combinar nossa chegada, juntos na escola.

Page 15: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

8

De tal ligação fiquei sabendo que a passagem dele era para às oito horas. Como a minha era a das seis horas, pensei: vou chegar em Guará e fico aguardando a chegada do NEY. Assim procedi.

Cheguei na rodoviária de Guaratinguetá lá pelas nove horas da noite.

Na bagagem, uma quantidade de coisas que nunca havia usado: barbeador, pincel e creme de barbear, luvas de couro que meu pai me deu, e um cobertor que ele havia trazido de sua viagem como Guarda Marinha, no Navio Escola Almirante Saldanha, passados uns 20 anos. Cobertor este que raramente era usado em minha casa em Campo Grande, interior do antigo estado da Guanabara (a fusão da Guanabara com o Rio de Janeiro ocorreu em 1975).

As horas foram se passando e o esperado ônibus que traria o NEY ROCHA nada de chegar.

Na rodoviária, as lojas e guichês das empresas estavam sendo fechadas. Fui ao guichê da empresa que eu havia usado para chegar em Guaratinguetá e perguntei ao atendente sobre o ônibus das oito horas e ele me disse que não havia outro ônibus da empresa para chegar.

Mas eu acreditava na declaração do NEY: “Vou no ônibus das oito horas”.

Em poucos instantes não havia mais ninguém na rodoviária.

Meu pai havia me dado um bom dinheiro, mas eu nunca havia entrado em um hotel na vida e o fantasma de que hotel era muito caro rondava a minha mente.

Também não passava pela minha cabeça ir para Escola sozinho. Solução: escolhi um local em uma escada lateral que dava acesso aos pontos de linhas urbanas e sentei com mais acomodação.

O frio foi chegando, tirei o cobertor da mala e me enrolei. Assim adormeci.

Era por volta das três horas da manhã quando acordei com vontade de urinar. Aquele frio eu nunca tinha passado na vida:

Page 16: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

9

respirava e parecia que tinha feito um trago em um cigarro. Travou-se uma batalha mental: vou urinar, mas está um frio do cão.

Quando a vontade de urinar ficou maior que o medo do frio, saí correndo, mas eu usava um macacão, cópia do Lee, que era moda na época, foi difícil de abrir. Não deu tempo!

Voltei para a escada e fiquei convivendo com o intenso cheiro de mijo.

Encorajado pelas circunstâncias, embarquei no primeiro ônibus que saiu para Escola. Lá chegando, pedi logo para ir a um local onde pudesse tomar banho. Fui designado para a 13ª. Esquadrilha, e logo estava vendo meu corpo largar fumaça embaixo da água fria, que seria rotineira pelos dois anos que se seguiram.

NEY ROCHA chegou mais tarde. A partir daí passei a considerar a diferença entre oito e vinte horas.

Este fato foi lembrado quando na Faculdade de Engenharia de Agrimensura, e a rodoviária de Guaratinguetá foi citada como um caso de erro de projeto de engenharia, uma vez que não se consideraram as alturas dos ônibus interestaduais nos acessos aos pontos de embarque e desembarque, resultando que os veículos não entravam nesses espaços.

Ao retornar a Guará para o XIV Encontrão, fiz questão de ir à rodoviária para rever o local onde passei a minha noite mais fria dos últimos cinco anos do ocorrido, mas a rodoviária já havia passado por uma enorme reforma para a correção do erro de engenharia e a escada já não mais existia.

A Quarentena Por Molina (ex-Aluno 76/1109 MOLINA)

A Quarentena foi o período de adaptação com a duração de 40 dias, durante o qual ficamos impedidos de sair da Escola. Um tempo de dedicação total e uma forma de estabelecer um vínculo forte entre o aluno, os seus pares e a Escola.

Page 17: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

10

Me recordo bem dos 501 alunos da turma na EEAer, Irmãos Azuis de todos os extremos do Brasil. Era uma "viagem" quando tínhamos folga das atividades: fazíamos uma roda e as piadas rolavam. O engraçado mesmo era a variação de sotaques e expressões, e por muitas vezes ficávamos sem entender até que o locutor se expressava com sinônimos. Assim íamos nos relacionando, nos conhecendo até que o toque de Silêncio ecoava no pátio, as luzes se apagavam e era para dormir.

Todos muito jovens, entre dezesseis e vinte e três anos, pouquíssimos eram ex-militares. Os demais éramos oriundos do meio civil e sem qualquer noção do que é ser militar, de modo que havia sempre alguém desorientado com as novidades. Éramos um grupo bem solidário, embora meios perdidos também.

A Quarentena foi muito estressante durante o dia, mas as noites eram um relax para o dia seguinte. Sempre tive a impressão de que nossos instrutores e monitores combinavam para nos levar à exaustão e alguém pedir pra sair, mas não me recordo de que algum companheiro tenha jogado a toalha.

Foram exatos trinta e sete dias de adrenalina, e só os fortes sobreviveram. Terminado esse período, alcançamos o status de Aluno e, a partir de então, passamos a ter o direito de sairmos às sextas-feiras ao fim do expediente e voltarmos para o regime de semi-internato nos domingos, até às vinte e duas horas.

Os dois anos que se seguiram foram de muito estudo e criamos laços de amizade que se eternizaram; sinto-me feliz por ter feito parte da história da minha turma de alunos.

Saudosamente, Santa Quarentena.

Azul uma Geração de Mudanças Por Luizão (ex-Aluno 76/1132 DA ROSA)

Imagine aquele garoto de 16 anos saindo de carona de Novo Hamburgo e fazendo quase 40 km para se juntar aos colegas BRENO, SÉRGIO SCIENZA, ROGÉRIO, LUÍS ANTÔNIO, ALDO e outros em Canoas

Page 18: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

11

para estudar no cursinho Atlas e se preparar para o concurso da EEAer. Era eu tentando uma oportunidade de fazer parte da Força Aérea. Consegui ser aprovado e fui chamado para a Escola. No dia da minha partida, lá na Praça do Avião em Canoas, estávamos todos reunidos e havia alguns que já eram soldados e estavam lá fardados, minha mãe chamou dois deles (o HERNANDES e o GEMELLI) e pediu para que cuidassem do seu menino. E lá começou tudo.

Chegando na Escola tudo era novidade, gente falado diferente e cada um tentando entender o outro, cariocas sacaneando os gaúchos e os aratacas, quanta coisa que eu queria aproveitar ao máximo toda aquela novidade. Queria aproveitar e praticar todos os esportes, mas no afã daquele garoto de 16 anos querendo abarcar o mundo com as mãos, eu acabei esquecendo o principal; eu estava lá para ESTUDAR... Percebendo isso o GETÚLIO gritava lá no alojamento da 6ª Esquadrilha; “DA ROSA, vai estudar, senão tu acaba é virando corneteiro”. Eu não conseguia entender como o GONÇALINHO conseguia dormir nas aulas, não estudava e só tirava notão. Eu pensei que podia fazer o mesmo, mas não me dei conta que ele tinha uma boa base de escolaridade que eu não tinha.

Vou contar um episódio que me marcou na primeira série e que pouca gente ficou sabendo. Em outubro de 1976 foram realizados os Jogos da Semana da Asa, eu era nadador e já tinha disputado um campeonato regional no Rio Grande do Sul, então fui selecionado juntamente com os irmãos UBIRATAN e UBIRACI mais o GONÇALINHO. No dia da disputa eu era o primeiro na prova de revezamento, isso deveria dar uma certa vantagem e o UBIRATAN, no final, fecharia com chave de ouro.

O que não estava nos planos foi a tremenda dor de barriga que eu tive minutos antes da prova. Eu suava frio, até pensei em ir no mato, mas tinha muita gente em volta e logo fui chamado para a disputa; fui, mas nadei tão mal que fiz o percurso todo em zigue-zague e cheguei por último, e o pior, todo sujo!!!

Graças ao equilíbrio de GONÇALINHO e UBIRACI e principalmente à calma do UBIRATAN nos sagramos campeões, valeu a comemoração, mas dentro d’água, porque eu tinha que me limpar.

Page 19: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

12

Lembro, também, quando tiramos as medidas para o uniforme, eu pesava em torno de 75kg. Dois dias depois fomos para o acampamento. Já no primeiro dia, após uma longa caminhada, nos puseram a correr e na virada de uma curva demos de cara com uma barraca, dentro dela havia gás lacrimogêneo e uma vala no chão. Caí e a turma que vinha atrás, liderada pelo MOLINA caiu toda em cima de mim.

O acampamento foi o meu pior tormento, sofri nas mãos do “Diabo Loiro”, o IENCZACK. Que sufoco, eu dava rateada em todas as oficinas e os colegas acabavam pagando castigo junto comigo. Foram dois dias de perda; perdi a dignidade, a confiança de muitos amigos, por que eles tiveram de pagar junto comigo pelas minhas rateadas, e também perdi dez quilos de peso.

Depois daqueles dois dias de tormento finalmente retornamos à civilização. Agora estávamos nos aprontando para a revista de final de fim de quarentena e prova do uniforme quinto “A” para o qual havíamos tirado as medidas antes do acampamento. Problema para o DA ROSA; o alfaiate disse que como eu havia perdido muitas medidas devido ao acampamento ele teria que cortar de novo, só que não havia tempo, então a solução foi alinhavar tudo.

Grande dia da formatura geral de fim de quarentena e revista de uniformes... Lá vem o nosso carinhoso Tenente LUCAS, o “Cavalo de Aço”. Veio logo em minha direção!!! Com aqueles olhos escondidos atrás daquele Ray-Ban olhando atentamente descobre um fio solto em meu uniforme e começa a puxar... acredito que mais ou menos um metro de fio foi puxado (tem uma piada que retrata essa situação na Revista da turma). Quando ele pede pra abrir a túnica então foi um desastre, caiu tudo, todas as abas alinhavadas despencaram... Resultado? Mais um fim de semana sem sair, a quarentena virou “cinquentena”.

Me lembro, ainda, de uma curiosidade na nossa turma; havia Dois PAULO ROBERTO DOS SANTOS. Um deles morava em Duque de Caxias e hoje mora no Recife, o outro era cantor e já faleceu. Este último ficou em segunda época em oito matérias na 1ª Série e em nove matérias na 2ª Série. Dizem as “boas Línguas” (falo Boas porque o

Page 20: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

13

PAULO ROBERTO era amigo de todos), que ele fazia despachos de macumba perto da Lagoa do Brigadeiro, se era verdade eu não sei, mas ele conseguiu aprovação em todas.

Por outro lado, chegando ao final do semestre eu me vi envolvido em 2ª época de Português; precisava de 6,8, mas tirei 6,61... faltou 0,19... A decisão final viria do Subcomandante da Escola, mas o tempo ia passando e a decisão não vinha. O nosso Sargenteante, o 3S SÉRGIO me consolava dizendo que se houvesse uma decisão favorável ela seria para mim, porque eu era o que precisava menor número de pontos.

Depois de uma semana de espera veio a decisão, o único aprovado foi um que ficara em matemática e precisava 0,23. Ele era um “cabo velho” que tina sido aprovado em segundo lugar da turma no concurso para ingresso na Escola. Naquele dia eu passaria para o “clube de reprovados” que, para cumprir o serviço militar, deveria permanecer na unidade como soldado e completar o tempo de serviço militar obrigatório.

Os desligados que ficaram na situação de ter que completar o tempo de serviço foram dispensados para passar o Natal em casa, mas devíamos retornar no dia 31/12/76, ao meio dia, para compor a escala de serviço do início do ano. Um de nós era o FERRUGEM, ele voltou bastante deprimido e disse que seus pais haviam dado um esculacho nele.

Naquele dia primeiro de ano de 1977 estávamos no alojamento por volta do meio dia e quinze e eu notei que ele estava agindo de maneira estranha, conversei com o FERNANDES e falei da minha preocupação. Foi então que assistimos aquilo que seguirá na minha mente como uma cena de um filme por todo o restante da minha vida: o FERRUGEM passou a bandoleira do mosquetão pela cama, colocou embaixo do pescoço e atirou...

Não estava acreditando no que via e até hoje parece que não foi verdade...

O oficial de dia, era o Tenente CLAYTON e foi chamado, mas o que mais pela vida do pobre poderia ser feito?

Page 21: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

14

Fiquei revoltado porque achei que ninguém ligava se nós. Garotos de 17 anos que havíamos perdido (ou pelo menos teriam que adiar) os nossos sonhos, por causa de uns pontinhos a menos na média escolar. Com toda aquela situação nossos superiores estavam apenas nos considerando como “peças da escala de serviço”.

Depois trabalhei no Reembolsável e no Cinema, de modo que sempre podia rever meus estimados colegas. Não fiquei distante de minha querida turma e acabei me tornando um exemplo de superação.

Prestei novo concurso e consegui aprovação voltando novamente como aluno em outra turma. Quando a 169 estava se formando eu estava novamente em prova final de Português e Inglês e desta vez consegui aprovação.

Levo até hoje o legado de que sou o primeiro ex-aluno a ser desligado, ficar na escola e a me formar.

O Flamenguista Por Torres (ex-Al 76/803 TORRES)

Chegando na EEAer fui escalado para ser o "xerife" da 15ª Esquadrilha e então comecei a comandá-la nos deslocamentos para o rancho, e também a Turma “J” para as salas de aulas. Como eu era Cabo da Aeronáutica, já estava acostumado com toda aquela formalidade e os horários para serem cumpridos, cobranças que em uma Escola de Formação são sempre mais rígidas. Como era início das aulas e se tratava de uma turma de jovens que iniciava a sua formação militar, não era de se estranhar a dificuldade deles diante da adaptação, já que a maioria provinha da vida civil.

Tudo começava pela manhã, quando íamos tomar o café, já com horário previsto para entrar em forma pois havia uma formatura antes do deslocamento para as salas de aulas. Então sempre se observava alguns alunos atrasados ou em desalinho, o que caracterizava as dificuldades de adaptação. Porém, com o passar do

Page 22: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

15

tempo tudo ia se ajeitando, se moldando e apenas um aluno tinha dificuldades para acompanhar aquele ritmo acelerado da turma.

Várias vezes, quando deslocava a turma, fui chamado à atenção por algum tenente, outras vezes por sargenteante, que me mandava "dar alto" (parar o deslocamento) na turma e me advertia, pois havia aluno que estava em desacordo com restante do grupamento.

Num belo dia, quando fazia o deslocamento de uma sala de aula para o alojamento, um tenente, que era considerado o "capeta" dos alunos, me mandou "dar alto" na turma e perguntou para o determinado recorrente aluno por que ele usava uma meia preta e outra vermelha, já que a Escola fornecia vários pares de meias para serem usados como uniforme. Então o aluno respondeu que era flamenguista, e que por isso estava usando uma meia preta e a outra vermelha, para homenagear o seu time de coração.

O tenente comunicou o fato ao comandante da Esquadrilha, que me chamou e ao tal aluno para puni-lo por estar usando o uniforme em desacordo com regulamento. Chegando na frente do comandante, em vez de se apresentar como "aluno tal", número tal (milhão), conforme manda o regulamento, esse aluno, cheio de intimidade, bateu a mão nas costas do oficial e disse: “Tenentinho, não esquenta comigo não, pois o senhor sabe como são os cariocas”.

Como era de se esperar, esse aluno foi punido, passando a maior parte dos finais de semana detido na Escola, cumprindo as punições varrendo o pátio do Corpo de Alunos.

Eu achei que ele não iria suportar tantas punições e cobranças que lhe foram impostas no decorrer das séries, porém na última série ele conseguiu "dar a volta por cima" e se formar, e eu fiquei feliz por tantas mudanças que aconteceram na sua vida, e também na nossa, com a formatura.

Page 23: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

16

O “tumate” Por Nelson Anaia (ex-Aluno 76/755 ANAIA)

Nas primeiras semanas na Escola nos deparamos com muitas novidades, como conviver com a grande variedade de culturas e colegas vindos de diversas partes do país, com sotaques e costumes típicos de casa região.

Isso me faz lembrar de uma brincadeira que fiz com um colega. Agora não me recordo quem foi o infeliz, mas sei que era da região Norte.

Aconteceu na hora do almoço, no rancho. Nesse dia a sobremesa era uma fruta que, pelo menos para mim, era bastante conhecida e que eu adorava: caqui. Eu fui um dos primeiros a terminar o almoço, e dirigindo-me à bandeja de frutas, comecei a escolher as que estavam em melhores condições.

Nesse meio tempo, chega o pobre coitado me olhando com uma cara de nojo e lasca a pergunta:

- Rapaz, aqui vocês comem “tumate” como sobremesa?

Aproveitando-me da ignorância do colega em relação à fruta, peguei uma e, dando uma boa mordida, respondi:

- Aqui a gente come “tumate” de qualquer jeito: sobremesa, com café, no meio do pão...

E fui saboreando aquele “tumate” com o maior gosto, vendo o coitado ir se afastando desconsolado.

Aí a consciência pesou e fui buscá-lo para explicar-lhe o que era aquele “tumate”.

Acho que não consegui convencê-lo, pois ele experimentou um pedaço com muita cautela, torceu o nariz e o deixou de lado. É, não é “tumate” mesmo, mas é muito esquisito.

Page 24: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

17

Banho a força Por Torres (ex-Al 76/803 TORRES)

Como a EEAer recebe alunos de vários estados da Federação, cada um com os seus costumes e hábitos de vida, há um encontro de diferenças entre regiões, mas, com o passar dos dias, uns vão se enturmando com os outros, fazendo amizades e descobrindo o que o outro gosta de fazer.

Havia um aluno na esquadrilha que tinha muita dificuldade de relacionamento, inclusive de tirar a roupa na frente dos colegas e de tomar banho, pois o estado de onde ele vinha era um lugar quente e não estava acostumado a ficar pelado no meio do grupo e ele não tomava banho.

Com o passar do tempo começaram a surgir reclamações. Primeiro, do aluno que dormia no beliche na cama de cima da sua, que me procurou dizendo que ele exalava mau cheiro. Procurei-o, disse-lhe que havia algumas reclamações e que deveria se cuidar para não mais acontecer tal fato. Porém, com o passar dos dias outras reclamações surgiram dos alunos que ocupavam as camas no entorno da dele. Então tive que levar o problema para o sargenteante, que comunicou ao comandante de esquadrilha, e este nos disse que caso viesse a acontecer novamente, deveria chamar os alunos que estavam reclamando para dar um bom banho no dito cujo.

Então me recordo que numa certa noite, muita fria, quando já passava das vinte e três horas, um aluno me procurou e disse que não suportava aquele cheiro de "inhaca".

Comuniquei a posição do Comandante da Esquadrilha e logo um grupo se formou e o pegaram à força, levaram para baixo do chuveiro e lhe deram aquele banho.

Esse aluno ficou tão revoltado que no outro dia procurou o comandante da Esquadrilha e pediu desligamento.

Page 25: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

18

O Acampamento Por Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO)

O “bicharal”, assim chamado todo aluno da Primeira Série da escola, desde que chegava ouvia falar do Acampamento. Alguns alunos de Infantaria de Guarda da Terceira e Quarta Séries eram citados como “os terríveis". Para mim, o mais destacado desses era o apelidado de “Diabo Louro”, da Tarjeta Verde, então da Quarta Série, mas também tinha os da Terceira Série, Tarjeta Branca.

Éramos amedrontados com o discurso de que descontariam em nós o que sofreram com a Tarjeta Azul que nos antecedeu.

Explicando melhor essas cores de tarjetas: cada turma que entrava na Escola pertencia a uma das tarjetas: Azul, Amarela, Verde e Branca. Com essas cores eram feitas as identificações onde constavam o “milhão”, número que o aluno recebia em função de sua classificação no concurso de admissão, e o seu nome de guerra, atribuído pela estrutura administrativa da Escola.

Mas, voltando ao Acampamento. Chegado o dia, após a Alvorada, vestimos o nosso uniforme de instrução feito de tecido de brim na cor entre azul e cinza, que era conhecido como o 10º Uniforme, e calçamos nossos “butes” (meia bota). Em poucos minutos já estávamos em forma, com nossas bolsas contendo alguns utensílios básicos, e o mosquetão (arma antiga das Forças Armadas), para nossa marcha rumo à área de acampamento que era na Estrada da Pedrinhas.

Na área do acampamento, deixamos nossas bolsas e fomos para as instruções de maneabilidade: muitas corridas, tínhamos que rastejar em diferentes solos, movimentações em pântano e muitos “pague 10” (repetições de flexões dos braços sobre o solo, só com apoio das pontas dos pés) toda vez que um do grupo errava algo, e que todos “pagavam” (executavam) juntos.

Chegou o final da tarde, caiu um temporal com granizo e a temperatura baixou muito. Jantamos e, depois das instruções noturnas, fomos para nossas barracas. Estávamos esgotados mas dormir estava difícil, pois a umidade era alta, o chão ficou encharcado,

Page 26: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

19

e a lona da barraca, molhada e fria. De joelhos e escorados nas nossas armas, cochilávamos. Quando o sono bateu pesado, me acordaram para o meu quarto de hora (duas horas como vigia do acampamento).

Quando terminou o quarto de hora, “apaguei” de sono e não lembro da posição em que dormi.

Toque de Alvorada. Tomamos café e partimos para as oficinas, sempre correndo pela mata, com forte barulho de bombas estourando perto de onde passávamos.

Com medo de ser um dos capturados dentro daquela mata, pois os exercícios previam esta possibilidade, me mantinha na segunda ou terceira posição da corrida.

Corríamos até um determinado ponto com área bem trabalhada, onde Sargentos ou Alunos de Infantaria de Guarda (IG) davam instruções, como Sobrevivência na Selva (cujo ponto alto era abater um frango e beber o seu sangue), armadilhas de guerra etc.

Mais uma corrida, bombas explodindo e alunos IGs com varas ameaçando-nos bater, e gritando: “corre, bicho”. Me deparei com uma barraca com fumaça e os olhos começaram a arder. Também a narina, a garganta e corpo, em uma ardência jamais sentida. Alguém caiu na minha frente e passei por cima: queria e precisava sair daquele local. Quando saí, abri um dos olhos o suficiente para saber em qual direção estava indo e continuei a correr. A tal fumaça, que era gás lacrimogênio, foi duro de enfrentar!

Outra experiência também marcante foi a travessia de um corpo hídrico no exercício chamado “Falsa Baiana”, com dois alunos IGs sacudindo as cordas para nos derrubar. Me lembro que quase no final um companheiro caiu, ficando apenas o seu capacete sobre a água. Me desequilibrei e ia também cair na água, mas aquele capacete serviu de apoio para que eu me projetasse ao solo. Nem sei quem foi, mas peço desculpas agora.

Ao final do segundo dia partimos para o retorno à Escola. Minha surpresa foi tamanha quando o percurso tomado chegou rapidamente ao fundo da Escola, onde existia o hospital.

Page 27: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

20

O acampamento foi puxado. Muitas bolhas ficaram nos pés por algum tempo, mas, na verdade, na verdade, eu gostaria de ter feito mais vezes, pois aprendi muito a superar limites.

A tirolesa Por Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS)

O Acampamento da nossa turma, que ocorreu na 1ª Série, foi muito proveitoso em termos de aprendizado, haja vista que 40 anos se passaram e me recordo de quase tudo o que aprendi naqueles dois dias de instrução.

Ficar dentro da pequena lagoa de água muito barrenta e várias vezes ter que mergulhar quando ouvíssemos o grito de “ALERTA AVIÃO”, ter que passar por dentro da “temida” barraca cheia de gás lacrimogêneo, beber sangue de frango, correr muito em trilhas dentro da mata ao som de rajadas de tiros e explosões e ficar muito atento às armadilhas são algumas das experiências que vivenciamos.

Quando assisti ao filme “Tropa de Elite”, uma cena de imediato me fez lembrar do nosso acampamento. Nesse filme há uma passagem em que, durante uma instrução noturna, o aluno cochila e o instrutor coloca em sua mão uma granada sem o pino e fala: “Se você dormir novamente, você vai se explodir e vai explodir todos nós aqui”. Tivemos uma instrução noturna, quase madrugada, estávamos cansados e com sono o instrutor percebeu e mandou distribuir entre nós “cordéis detonantes”.

O cordel detonante não explode com impacto, apenas une cargas explosivas ao detonador, mas, mesmo assim, me lembro que fiquei mais “esperto” e o sono rapidamente foi embora.

Quando chegou a hora dos exercícios “Falsa Baiana” e “Tirolesa”, pensei: isto aí até que é divertido. Ledo engano! Na “Falsa Baiana” passei sem maiores problemas, apesar da dificuldade de me manter sem cair, mas na “Tirolesa” a história foi outra.

Subi até o ponto de partida. O aluno 4ª Série me passou as instruções e agora eu estava pronto para fazer o trajeto. Pouco antes

Page 28: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

21

do final eu deveria soltar as mãos e cair na água, mas não deu tempo: fiquei segurando a carretilha até o fim do trajeto e dei uma pancada com a testa no batente. Sofri um corte de quase dois centímetros.

Levaram-me até a barraca que servia de ambulatório. Fui medicado, levei alguns pontos e logo após fui liberado sem maiores consequências. Para mim foi um grande alívio, pois fiquei com muito medo de perder a instrução ou ter um traumatismo maior.

Eu no acampamento Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Algumas histórias sobre nosso acampamento já foram contadas aqui, mas esta minha tem um gosto especial de safadeza e sentimento de serviço bem feito KKKKKKK...

A gente ia em forma, em grupos de mais ou menos cinquenta em cada pelotão, não lembro muita coisa, mas acho que não ia a turma toda, pois ficaria difícil colocar todos os 400 e poucos num local de selva e conseguir dar instruções proveitosas pra tanta gente.

Nós já havíamos recebido “bizús” de mais antigos que nos contavam como era mais ou menos por lá. Sabíamos, por exemplo, que em determinada altura havia uma barraca que deveríamos atravessar correndo e que estava cheia de gás lacrimogêneo; era o terror de todo mundo.

Apesar de ter ido para a Escola com a graduação de Cabo, eu nunca havia passado por uma situação daquelas e estava decidido a fazer algo para evitar aquele problemão. Eu havia sido escoteiro antes de entrar para a caserna e tinha uma certa experiência de locomoção e permanência na mata.

O deslocamento foi em silêncio e em forma por quatro colunas durante todo o trajeto até a entrada da mata. De repente começaram a nos deslocar em fila indiana (um atrás do outro em uma única coluna), e aí comecei a pressentir o que ia acontecer e me preparei.

Page 29: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

22

Inesperadamente começam rajadas de metralhadora e as granadas ofensivas explodem à nossa volta numa sequência infernal; começou a guerra.

Vemos vultos de alunos mais antigos do curso de Infantaria, camuflados e correndo pela mata em nossa direção, agitando pedaços de pau para nos bater, uma confusão dos diabos. “Corre bicho, corre!!!”, e começamos a correr meio sem rumo, sem qualquer referência que não a do militar à nossa frente. Trá!! Trá!! Trá !!! Bum! Bum! Trá!!! Uma loucura, adrenalina em alto nível! De repente, em uma curva do caminho, lá estava a temida e temível!! Um vulto com uma máscara antigás estava a uns cinco passos da entrada sinalizando como um demônio às portas do inferno: “Por aqui, aluno!!”.

Não pensei muito, vi a fumaça saindo e cheguei a sentir o cheiro ardido do gás. Percebi um pequeno espaço entre a parede da barraca e as árvores e, numa pernada só, desviei do caminho e passei por fora daquela coisa horrenda. Só ouvia o carrasco gritando: “Volta, aluno, volta!!”. Volta nada. Continuei correndo pela trilha e logo vi à minha frente um colega que corria chorando e babando, quase sem fôlego, e segui atrás dele. Fomos os primeiros a chegar à área descampada que era o local do acampamento, onde havia um ou dois sargentos para nos receber gritando: “Continua correndo em círculos, continua correndo, vamos!!”. A aparência dos pobres coitados que passaram pelo interior da barraca era como farrapos humanos, chorando e babando. Comecei a imitá-los, pois sabia que os instrutores estavam procurando o aluno que havia se desviado da barraca.

Felizmente não fui identificado e não comentei com ninguém o caso até o retorno dois dias depois. Como ficava feio pros mais antigos dizer que alguém havia conseguido furar o treinamento, eles também não deram publicidade ao caso e eu fiquei como o cara que não sofreu o gás.

Page 30: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

23

Ô pé frio!!! Por Nelson Anaia (ex-Aluno 76/755 ANAIA)

Fazia menos de uma semana que eu havia chegado na Escola (eu e mais dois colegas “vibradores” nos apresentamos dois dias antes do previsto!)

Todos sabíamos da famigerada Quarentena. Para quem não sabe, são 40 dias sem poder de ausentar do quartel. Dureza para quem nunca havia passado um dia sequer longe da família. Mas já estava psicologicamente preparado, e a rotina pesada dos primeiros dias dava a impressão de que eles iriam passar mais rápido.

Ocorre que, talvez por não estar acostumado a expor o corpo a intempéries, durante todo o período na Escola fui várias vezes acometido de gripe, numa sequência muito grande (basta dizer que no jantar dos cem dias eu fiquei no alojamento ardendo em febre). Essa sequência teve início numa quinta-feira e culminou com uma baixa ao hospital já na sexta, um pouco antes do almoço. Fui ter alta somente no domingo por volta das oito da manhã.

Ainda um pouco debilitado, fui caminhando em direção ao Corpo de Alunos (CA), que, salvo engano, ficava a uns três quilômetros do hospital.

Torcendo por uma carona, cheguei no CA sem ter visto nem uma bicicleta sequer! Mas o mais estranho é que tudo estava quieto demais.

Quando finalmente cheguei no Alojamento, o encontro praticamente vazio. Só alguns “gatos pingados” aos quais indago onde estava o resto da turma e, para minha surpresa, descubro que todos haviam sido liberados na sexta-feira à tarde. Só havia ficado na Escola quem morava muito longe.

Sem pensar duas vezes, arrumo a bolsa de aluno e corro para pegar um ônibus para a rodoviária. A essa altura, com energia renovada pela alegria de poder reencontrar meus pais e meu irmão.

Page 31: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

24

Tudo dando certo, chego na rodoviária de São Paulo por volta das quatorze horas; mais trinta minutos de caminhada e estou chegando em casa.

Ofegante, vou abrindo a porta lentamente para fazer uma surpresa, mas não encontro ninguém.

Um pouco decepcionado, toco a campainha da casa da vizinha e fico sabendo que todos tinham ido passar o domingo com uns parentes em Mairiporã, cidade que fica a uns 60 km de São Paulo.

Como normalmente nós retornávamos desses passeios antes de escurecer, fiquei na espera, pois o ônibus para Guará sairia às vinte horas e ainda sobrava um tempinho. Mas as horas vão passando e nada de deles chegarem. Fazer o que? O jeito era ir caminhando pra rodoviária e voltar pra Escola.

Desta vez a bolsa pesava muito, talvez levando a minha tristeza.

A “cola” Por Junges (ex-Aluno 76/791 JUNGES)

“Cola” na EEAer é um caso sério, dá cadeia e pode dar desligamento. Mas aluno sempre arrisca.

Uma vez levei uma “chamada” (advertência) discreta de um suboficial muito bacana que dava aula de regulamentos.

Combinei com o EICKHOFF e outros que eu daria uma ajuda: ia marcar bem grande a letra certa no quadro da questão, para todo mundo ver a resposta que eu tinha certeza. Não sei se ajudou, mas na semana seguinte esse suboficial estabeleceu novas normas para responder aos questionários: marcar apenas com um ponto a letra escolhida, pois havia um aluno exagerando na marcação. Era para mim. Eu e o EICKHOFF nos olhamos sérios. Foi quase.

No final da 1ª Série, alguns colegas estavam de recuperação em inglês comigo. Estudávamos juntos, e o LEANDRO inventou um código com os pés, para as respostas. Ensaiamos e parecia tudo bem.

Page 32: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

25

Próximo do final da prova começou o “arrasta-pés” e eu não consegui acompanhar. Pensei: seja o que Deus quiser, vou por mim. Essa eu “‘colei” do colega MUNIZ: “Quando a os neurônios (tico e teco) resolvem não trabaiá...” Me safei.

Para a última prova de desenho, a p... Daquelas perspectivas. Eu, o GUARDI e o VIANA montamos um “esquema” para tirar dúvidas. Só que um intendente de nome estrambólico desconfiou e mudou os lugares dos alunos da turma!

Eu colei Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Colei três vezes na minha vida escolar.

Na primeira era uma avaliação de Latim, no curso de admissão ao Ginásio (equivalente ao quinto ano do fundamental de hoje). Era uma escola de padres salesianos e o professor era o que eles chamavam de Irmão Mariano, não lembro o nome dele. Nunca entendi muito bem as tais de declinações, nem sabia para que serviam, de modo que o jeito foi tentar escrever na mão esquerda.

Na hora da prova tudo era silêncio e eu tentava “lembrar” olhando “discretamente” a mão semiaberta. Acontece que não percebi que o professor estava bem atrás de mim e de repente aquela mãozona pegou minha mãozinha, levantou meu braço e disse para a turma: “Vejam a sabedoria do colega de vocês”. Com exceção da vergonha, não lembro o que sucedeu depois.

A terceira foi na faculdade e não vem ao caso contar aqui.

Se a primeira foi um desastre e um vexame, a segunda foi a mais marcante e com um final completamente inesperado. Foi na Primeira Série na EEAer e o risco era enorme, ser desligado do curso. É claro que nessas circunstâncias e mesmo sendo um jovem ainda garoto, eu precisava levar em conta todos os ângulos de perspectiva. No caso, a matéria era Ordens Técnicas (OT), algo como aprender a ler e interpretar manuais de serviço e equipamentos. Era uma matéria que a gente reputava sem muito valor, chata e maçante, um saco. Mas

Page 33: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

26

para os parâmetros da EEAer, todas as matérias tinham a mesma importância e ser reprovado nela era sinônimo da palavra mais terrível que os alunos nem ao menos gostavam de pronunciar: DESLIGAMENTO.

O professor era um militar da reserva, parece que era um Suboficial, usava bigode e um chapéu meio característico, e logo recebeu o apelido de “Santos Dumont”. Um senhor muito sério, circunspecto, apaixonado pelo assunto e que não interagia muito com os alunos; dava sua aula e pronto.

O dia da prova de qualquer matéria era sempre um “dia de provação”. Lá estávamos nós sentados em nossas carteiras escolares, apreensivos, em silêncio e olhando para a frente ou para baixo, à espera das folhas de avaliação.

Começa a distribuição e quando chega a minha folha e começo a ler, tenho a grata surpresa e satisfação de ver que a tal prova era um verdadeiro “mamão com açúcar”.

Até hoje tenho para mim que o tal Santos Dumont foi um dos professores mais sábios que eu já tive. Ele sabia que toda aquela baboseira que ele tinha que ensinar por conta da exigência do currículo do curso era mesmo algo sem muita importância, pois geralmente os manuais são de compreensão bastante amigável e, sempre que nossas funções como especialistas carecessem do uso deles, temos um ou mais colegas mais antigos para nos auxiliar.

Digo que ele era sábio porque, de acordo como o que expus acima, ele elaborou uma prova que não traria risco para a continuidade do curso, facílima. Mas, como todo professor que se preze, uma ou duas questões eram o “pulo do gato”, as questões do mestre, só pra constar que ele não estava nos “dando” a aprovação.

Para mim, apenas uma questão me separava da nota DEZ. Rapidamente examinei a situação e percebi que não havia risco real e imediato que me impedisse de “escorregar o olho” para a prova do HEICKOFF. Bingo!! Descobri a solução e marquei a alternativa, na certeza de um DEZ. Na verdade, tenho até vergonha de contar isto com tanto orgulho. A nota foi dez, mas à custa de uma fraude.

Page 34: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

27

A ironia e o que mais marcou esse episódio foi que minha nota foi dez, mas a do HEICKOFF, de quem eu obtivera o dez, foi apenas nove.

Acorda, Zé Honório!!! Por Aquino (Ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Comecei a trabalhar com quinze anos de idade. Trabalhava numa tipografia que começava a funcionar às sete da manhã, agora imagine acordar às seis e quinze, no inverno, EM BAGÉ, NO EXTREMO SUL DO BRASIL. Mas esse tormento acabou me sendo muito útil para a vida na caserna: quando fui servir como soldado no QG da V ZONA AÉREA (hoje V COMAR) eu já não tinha problemas em levantar cedo no inverno.

Não foi diferente na EEAer. Chegamos lá em julho de 1976, em pleno inverno no Vale do Paraíba. A alvorada era às 6 da matina, ainda escuro. As luzes do Alojamento se acendiam e começava a baderna, todo mundo correndo pra tomar banho e fazer a higiene matinal. A maioria acordava de mau humor, mas eu que não tinha esse problema, acordava animado.

Quando servi em Canoas - RS, com meu primeiro salário de soldado de primeira classe eu havia comprado um radinho portátil que sintonizava FM, uma novidade à época. Era um radinho todo vermelho com uma capa de plástico transparente, o Dial era preto e tinha dois ponteiros brancos que se cruzavam no centro. Um corria horizontalmente e marcava as FM e o outro corria verticalmente marcando as AM. Era a minha joia. Eu acordava e já o ligava a todo o volume, porque numa emissora havia um programa desses matinais em que o locutor costuma chamar as pessoas aos gritos e ele chamava um tal de Zé Honório: “Acorda, Zé Honório!!! Tá na hora, seu preguiçoso!” Na Escola meu nome de guerra era HONÓRIO, daí a graça da coisa. Quando ele gritava chamando o tal Zé Honório eu gritava: “Já acordei, fulano!!!”

Eram muito gostosas aquelas alvoradas. Por algum tempo o JOÃO BORGES, meu vizinho de armário, me chamou de Zé Honório.

Page 35: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

28

Testemunha ocular Por Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO)

Eu estava de serviço de sentinela em um dos locais ermos da escola, em outras palavras, em uma “boca pobre”, que era tirar serviço no Almoxarifado.

O Almoxarifado ficava em uma estrada de terra batida que se iniciava na estrada que ia para a Vila dos Suboficiais e Sargentos da EEAer, bem depois da casa funcional do Comandante da Escola. Era um prédio único no meio do mato e se falava muitas coisas assustadoras nos serviços por lá.

Meu quarto de hora, período de duas horas de serviço de vigilância, era das vinte e duas às vinte e quatro horas.

Cheguei no Alojamento, ao término do quarto de hora, creio já se passavam 20 minutos da meia-noite. Encontrei vários companheiros promovendo inúmeras sacanagens com quem estava dormindo. Usavam creme dental, talco e até graxa de sapatos para suas arteiras obras.

Como eu tinha que descansar para o outro quarto de hora, não me envolvi com o que estava acontecendo. Tirei só os “butes” (meias botas) e me deitei, depois de avisar aos companheiros que promoviam a brincadeira para me livrarem por causa do serviço. E assim foi.

Amanheceu e a rotina na Escola seguiu o seu curso.

Após ao almoço, o “aluneante” (aluno que ajudava na secretaria da Esquadrilha) convocou a mim e a um gaúcho para irmos ter com o Tenente SILVA.

Lá chegando, fomos inquiridos se tínhamos visto quem fez toda a sacanagem da noite anterior. Eu prontamente neguei, mas o gaúcho “rasgou o verbo”.

Voltamos para o Alojamento, e um a um dos citados pelo gaúcho foram convocados a ir até a Sargenteação (nome da secretaria da Esquadrilha).

Page 36: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

29

Cada um que voltava trazia em seu semblante a decepção de ter sido alcaguetado e se virava para mim. Eu olhava para o gaúcho e ele, com a cara de pau, nem se tocava.

Enfrentei por muito tempo essa situação que me trouxe muito desconforto porque, na minha lógica, se eu não havia “entregado” os companheiros para o Tenente, também não fazia sentido entregar o gaúcho para os companheiros. Esta atitude eu havia aprendido com meu pai, que foi soldado Fuzileiro Naval e a incorporou à nossa formação (minha, dos meus quatro irmãos e de uma irmã) muito das instruções que havia obtido na caserna.

Sei que muitos podem ter mudado de ideia a meu respeito, em razão dos demais exemplos que dei enquanto estivemos juntos, mas quem continuou com aquela imagem pode agora saber, que o meu respeito aos companheiros sempre esteve por cima nas minhas considerações e atitudes.

Valeu a pena ter passado por mais essa, porque veio a reforçar as minhas convicções sociais, e não emito juízo sobre o comportamento do companheiro gaúcho, porque sei que esse episódio também o ajudou na sua formação pessoal.

“Porteira Preta” Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Existem coisas que a gente gosta de contar, mas sem falar o nome do sujeito ou sujeitos da história. Este caso é um deles.

Nossos passeios de fim de semana durante os dois anos de EEAer tinham alguns destinos comuns: almoçávamos no restaurante da Japonesa (que fazia um fiado pra gente), à noite passeávamos na pracinha da cidade, que era chamada de RPM1, porque ficávamos dando voltas e mais voltas sem sair do lugar (as meninas giravam em um sentido e os rapazes no sentido oposto), ou íamos às cidades mais próximas como Lorena, Taubaté, Itu e Aparecida.

1 Rotação por minuto – unidade de medição da quantidade de giros de motores.

Page 37: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

30

Na pracinha entrávamos em contato com as garotas da cidade, e até surgiram alguns casamentos dessas amizades. Vale lembrar que éramos todos garotos que ficavam trancados num ambiente exclusivamente masculino durante toda a semana, e sabe-se o que o nosso hormônio Testosterona provoca.

Num desses fins de semana, logo no início da Primeira Série, três desses garotos “bicharais” resolveram, digamos, namorar. Tomaram um ônibus e foram para Lorena, e lá chegando e não conhecendo a cidade, tiveram a infeliz ideia de chamar um táxi e pedir ao motorista para levá-los a um lugar onde houvesse algumas garotas. O motorista prontamente os conduziu para a zona do baixo meretrício (sei lá se existe algum “alto” meretrício), deixando-os na porta de uma boate com o sui generis nome de “Porteira Preta”.

Desceram do táxi e já a luzinha vermelha de alarme começou a piscar nas cabecinhas deles: “PQP, onde esse cara veio nos deixar!?”. Eles eram, mesmo, nada mais que garotos, e além disso completos estranhos naquele lugar, e vocês sabem como as pessoas costumam tratar gente estranha. O pessoal começou a olhar aqueles “forasteiros” de uma maneira nada amigável, começou aquele cheiro característico de encrenca no ar e o táxi já havia desaparecido. O que fazer?! Por sorte logo apareceu outro táxi e eles “se mandaram”.

Essa aventura quase deu encrenca. Como se diz na Escola, e com o perdão da má palavra: “Bicharal só faz merda.”

Dedada mal dada Por Piccoli (ex-Aluno 76/1042 PICCOLI)

Lá vinha mais um feriadão. Semana Santa de 1977. Estávamos na 2ª Série. E como sempre, sem um tostão no bolso. Por conta disso, os quatro guerreiros do apocalipse: MAEL, “NABA”, GUSMÃO (“Casquinha de Ovo”) e eu nos reunimos e resolvemos partir para a Dutra, para pedir carona. Coisa que era, e ainda deve ser, superproibida na Escola.

E lá fomos nós. Feriadão de quinta até domingo.

Page 38: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

31

Deixamos a galera dos ônibus partirem para depois nos lançarmos naquela aventura. E que aventura!

Já noite, resolvemos ir para um ponto onde os motoristas diminuíam a velocidade dos carros, para que pudéssemos nos aproximar. Então achamos por bem ir para o pedágio que fica entre Guará e Taubaté. Mas estava difícil.

Combinamos que, para não assustar, dois ficariam próximo ao pedágio e os outros dois, mais afastados. Foi quando, não sei precisar, mas era lá pelas dezoito horas, mais ou menos, um oficial chamado ROBERTO, vulgo Tenente “Robertinho”, da Tarjeta Amarela, veio gritando ordens para que entregássemos as identidades, voltássemos para a Escola e nos apresentássemos ao Aluno de Dia ao Corpo de Alunos.

Foi o que fizemos. Depois disso fomos para o Alojamento. Quando lá entramos, já havia aproximadamente uns dez alunos com cara de “cachorro debaixo de chuva”.

Logicamente aquela noite foi a pior que eu pude passar, sem “pregar o olho”, pois não sabíamos o que viria depois.

Na manhã seguinte, após o café, o Aluno de Dia nos orientou que ficássemos na Escola aguardando instruções.

Fomos ao cinema na parte da tarde quando alguém de serviço, no meio da exibição, entrou e gritou os nomes dos caroneiros. Fomos à sala do Aluno de Dia e o Oficial de Dia nos devolveu as identidades, nos liberando, pois não poderia nos prender sem sermos ouvidos, e isso só aconteceria na segunda-feira após o feriado.

Aí começou a guerra de nervos. “Bizú” pra tudo que era lado. Até o Tenente SILVA, da Tarjeta Azul, veio dizer que havia a possibilidade de sermos desligados como exemplo. Ocorre que, durante os depoimentos aos oficiais encarregados da sindicância, foi dito que naquela noite da carona havia também muitos alunos de outras turmas, inclusive da Tarjeta Amarela, que o Tenente ROBERTO viu na estrada e não parou para pegá-los.

Page 39: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

32

Vale ressaltar que havia uma rixa entre as duas tarjetas, Azul e Amarela. Na Olimpíada do Corpo de Alunos, quando ainda éramos da 1ª Série, houve algumas confusões durante alguns jogos e me lembro muito bem de um jogo de vôlei que ocorreu na quadra entre os prédios da DE (Divisão de Ensino). O “pau comeu” não só entre os jogadores, as torcidas também se enfrentaram. Houve até “bambuzada”. E como se não bastasse, houve ainda uma forte discussão entre os dois comandantes de turmas: da Azul, Tenente AMOEDO, e da Amarela, o dito Tenente ROBERTO.

Acho que este episódio foi fundamental para que os oficiais da nossa turma, junto aos mais antigos, fossem a nosso favor na questão do desligamento, haja vista ter ficado claro que o Tenente ROBERTO quis prejudicar a nossa turma, querendo mostrar que apenas os alunos da Azul estavam na transgressão.

Conforme disse anteriormente, fomos liberados na quinta-feira à tarde e, acredite minha gente, continuávamos “duros igual a um coco”.

E lá fomos nós para a Dutra "dedar" novamente. Mas, desta vez, fomos para o “Quinhentos”, parada de ônibus muito grande próximo à entrada de Guará.

Depois de tudo passado, fomos julgados e o Comandante do Corpo de Alunos resolveu que seríamos punidos com o estipulado nos regulamentos da Escola: 8 dias de prisão, sem fazer serviço.

Durante o cumprimento dessa punição éramos escoltados por um aluno de serviço, mais antigo, a cada deslocamento: Alojamento-sala de aula, Alojamento-rancho etc.

Nesse episódio, o que mais nos deixou constrangidos foi o fato de que nos colocaram no pátio do Corpo de Alunos, numa sexta-feira, durante a formatura de licenciamento para o fim de semana, enfileirados na sacada do prédio da 5ª Esquadrilha, de frente para todo o Corpo de Alunos, para servirmos de exemplo.

Nessa ocasião, me lembro que o MAEL não conseguia dar um passo para ir à sacada. Cheguei perto dele e disse: Cara, faz o seguinte:

Page 40: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

33

fica olhando para o céu. Não olhe para baixo. Você não vai ver que estão te olhando.

A rabada Por Molina (ex-Aluno 76/1109 MOLINA)

No nosso tempo de EEAr ainda não existiam mulheres na FAB, e por onde andávamos só nos deparávamos com alunos fardados de posse de suas pastas azuis e pranchas de estudos.

Para entenderem este relato, me valho de um velho ditado: “Em terra de cego quem tem um olho é rei”. E foi isso mesmo que aconteceu comigo.

Estávamos em sala de aula aguardando o professor e de repente entra uma mulher para lecionar inglês (acredito que era esta a matéria dela). Seu nome é segredo, claro. Sem comprometimento.

Começa então a escrever no quadro negro e, depois de umas explicações, determinou que copiássemos. Nesse ínterim, ia e vinha passeando suas ancas volumosas pelos corredores super alinhados, e então o Azul ao meu lado, 76/1115 A. ROCHA, balbucia: “Ô rabada gostosa”. E eu, de imediato, falei que era deliciosa. A mulher só ouviu a minha parte, virou-se para mim e mandou que eu repetisse as palavras. Suei frio e mandei de novo, só que acrescentei que a rabada do rancho era muito boa, me lambuzava com aquele prato e apreciava tudo o que terminava com “ada” (rabada, feijoada, peixada, buchada, panelada etc).

A "tia" saiu meio desconcertada e corada, pois creio que se tocou com as referências elogiosas, e deve ter gostado da esquiva relâmpago. Absorveu a situação, e no seu âmago deve ter se sentido feliz. Continuou com a sua instrução e não tirava os olhos de mim.

Quanto ao A. ROCHA, ele ainda me deve um almoço.

Page 41: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

34

Quem viu, viu Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Na nossa época na EEAer o Curso de Formação de Sargentos se dividia em duas partes: as duas primeiras séries era de instrução militar e científica, ficando a parte especializada para o segundo ano, na 3ª e 4ª Séries.

Na Primeira Série havia instrução de matemática, português, inglês e regulamentos militares entre outras disciplinas, na parte da manhã, em salas de aula, e à tarde havia instrução militar. Havia uma matéria digamos “enjoada”, regulamentos militares, de muita “decoreba” e pouco entendimento. Para mim, como “cabo velho” que era, não havia muito problema, mas para o pessoal vindo da vida civil era um tormento.

Um suboficial cujo nome não me recordo era o nosso monitor de regulamentos. Sujeito bonachão e boa gente, muito brincalhão e de cabeça fresca, bem fora dos padrões de um Infantaria de Guarda. Apesar disso as aulas eram uma chatice: leitura de regulamentos, ouvir, decorar...

Quando esse suboficial chegava na sala e começava a escrever no quadro, surgiam as perguntas de sempre: “Sub, é pra copiar?”. Ele fazia ouvidos moucos. Escrevia apressadamente e em silêncio, até encher o quadro. Num dado momento pegava o apagador e falava: “Quem viu, viu, quem não viu, sumiu”. E começava a aula.

Quase ninguém entendia a doidice do Suboficial, mas o “Cabo véio” aqui percebia e prestava muita atenção, copiando o máximo que podia. Aquela escrita toda ERA A PROVA PARA O DIA SEGUINTE.

Disco Voador Por Molina (ex-Aluno 76/1109 MOLINA)

Em uma das instruções relacionadas com codificação e decodificação de mensagens, ocorrida no cinema da EEAer, no Curso de Sargentos Especialistas, éramos quase cem alunos e no final da

Page 42: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

35

instrução o Tenente BONIM comunicou a falta de dois discos usados nas explanações.

Esse tenente era um “cara” sisudo e foi taxativo: deteve toda a turma até que os discos reaparecessem. Foram dois finais de semana "presos" e eu, particularmente, fiquei muito injuriado, pois não tinha nada a ver com aquela situação.

Em todo “fora de forma” (dispersão de tropa) tinha um grito de guerra e os “xerifes” mudavam temporariamente. Eu estava como “xerife” e ao apresentar a tropa para dispersão, a turma se lembrou do episódio dos discos e gritou "disco voador". Ninguém se lembrou que o oficial de dia ao Corpo de Alunos era o tal Tenente BONIM, e este ato imprudente resultou em mais um final de semana detidos.

Não sei até hoje se os tais discos aparecem ou se voaram pra Marte.

Lambisômi Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Não me lembro de nenhum carioca mais folgado e gozador em toda esta 169 que o REINALDO, tirava onda com todo mundo, sempre rindo e despreocupado. Pior decisão que qualquer um poderia tomar era tentar retribuir às gozações dele, ele morria de rir e acabava fazendo a gozação cair de volta sobre a pobre vítima.

Uma das manias dele era colocar apelidos, era especialista no assunto, e os apelidos pegavam.

Havia um outro colega, também carioca, que era todo explicadinho, sempre dando a razão e o porquê de tudo que fazia e acontecia, um “pé no saco”. Mas ele tinha outra característica marcante, era feio, não era horroroso, nem assustador; só, convenhamos, não era bonito. Vai numa que de repente o REINALDO vem com o apelido do rapaz: Lobisomem...

Page 43: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

36

O sujeito não tomou conhecimento assim de cara, mas o apelido começou pelas beiradas, aos sussurros; “Lobisomem, Lobisomem...”

A gente ia em forma deslocando de algum ponto a outro e começava: ”Lobisomem”, o cara ia ficando fulo. Quando dava o “Fora de Forma” ele começava as reclamações: “Vamos parar com essa coisa de apelido, eu acabo pegando um de vocês e aí vai ser dureza separar, acabo com o engraçadinho. ”

Isso só ia piorando mais a coisa, de repente nem era mais Lobisomem, era só Lobis, Lobis, Lobis. E aí foi indo e virou Lubis.

Em todo deslocamento um da testa sussurrava: “Lubis”, outro da retaguarda respondia: ”Lubis” e aí era só murmuração durante todo deslocamento.

Um dia o “Lubis” não aguentou e foi reclamar com o Tenente AMOÊDO.

O AMOEDÃO sempre tinha uma tarde destinada a doutrinamento no cinema da Escola, ele por si só já era uma figura engraçada; colocava uma mão na cintura e a outra, com o indicador esticado e o polegar levantado, ficava balançando em torno do pulso enquanto falava, o pessoal vivia imitando às escondidas.

Pois bem, naquela tarde ele tinha mais uma para nos brindar, lá em cima do palco do cinema ele começou o discurso: “Olha um aluno veio me reclamar que andaram colocando apelido nele (e uma mão na cintura e a outra balançando), vamos acabar com essa história, ele disse que estão chamando ele de Lobisomem”. Nessa parte o cinema todo desatou na risada, o AMOEDÃO então ficou mais fulo ainda e disse: “Não quero mais saber desse negócio de Lambisôme, Lubisôme, sei lá”. Ninguém conseguia segurar o riso e a coisa acabou descambando para pior.

Resultado; o apelido se consagrou e daquela hora em diante a Escola toda sussurrava um “Lubis, Lubis” cada vez que ele passava.

Page 44: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

37

Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos Por Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS)

No segundo semestre de 1976 estávamos na EEAer cursando a 1ª Série. Todas as manhãs deslocávamos para a Divisão de Ensino (DE) para mais um dia de estudos.

Num determinado intervalo de aula, notei uma aglomeração ao lado da Capela à sombra das árvores, eram vários Sargentos (todos 1S). Perguntei a um colega se ele sabia do que se tratava, ele respondeu que todos estavam na Escola para fazer o CAS (Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos).

Pensei: “Nossa, eu aqui iniciando minha vida militar e eles ali, já neste estágio da carreira. Com certeza devem ter vivido muitas experiências”.

Notei que a maioria deles estava feliz, conversavam e olhavam para tudo com admiração e saudosismo. Creio que a alegria que eles demonstravam era por estarem novamente naquele lugar onde foram formados e por reverem antigos e sinceros amigos. Hoje somos privilegiados, temos a nosso dispor a tecnologia que facilita nossos contatos e nos unifica. Naquela época a comunicação era só através de carta ou telefone, coisa que era raro alguém ter em casa. Por isso, acho que era tão importante para eles estarem ali novamente reunidos.

Em pensamento perguntei para mim mesmo: “Será que algum dia também estarei aqui para fazer o CAS e rever meus amigos?” Mas os tempos mudaram; quando chegou a nossa vez inventaram um tal curso à distância, recebemos as apostilas para estudar em casa e o exame final do CAS foi realizado nas localidades em que estávamos servindo.

Não fazer o CAS na Escola de Especialistas foi uma decepção para mim, pois seria uma oportunidade de voltar mais uma vez ao “nosso berço” e de rever meus “irmãos de turma”.

Page 45: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

38

Como minha especialidade me escolheu! Por Nelson Anaia (ex-Aluno 76/755 ANAIA)

Na nossa época de escola as especialidades eram escolhidas no final da Segunda Série. O primeiro ano era chamado de “básico” pois englobava as inúmeras matérias que serviriam de suporte para qualquer das especialidades disponibilizadas para turma.

A seleção era feita com base em inúmeros critérios: classificação por notas, avaliação psicológica e, em alguns casos, era exigido um pré-teste de aptidão. A necessidade desses pré-testes era clara: imagine um Controlador de Voo gago, um Enfermeiro com medo de sangue, e por aí vai...

Ocorre que esses pré-testes eram realizados na época das Olimpíadas do Corpo de Alunos, pois era um período em que não tínhamos aula e era feita uma lista das especialidades que os exigiam.

Assim, se um aluno queria ser enfermeiro punha seu nome na lista de alunos interessados nesse curso, e de igual modo ocorria para as demais especialidades: Controlador de Voo, Bombeiro, Desenhista etc.

Eu havia entrado na Escola com o firme propósito de ser Mecânico de Aviões, portanto nenhum daqueles pré-testes despertou meu interesse.

Quando as olimpíadas tiveram início, todos os dias antes da liberação da turma para os jogos, era lida a lista de alunos que deveriam comparecer aos galpões para realizar os ditos pré-testes.

Para meu espanto, meu nome constava de todas elas!

Tentei protestar com o responsável, mas não consegui nada. –“Se teu nome tá aqui vai fazer os testes e pronto!”

Já que não tinha jeito lá fui eu para os pré-testes: Controlador Voo, Enfermagem, Radiotelegrafia, Bombeiro etc.

Fazia todos com a maior rapidez possível, para poder acompanhar os jogos e torcer pelos colegas.

Page 46: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

39

Em alguns deles, após explicar para os monitores meu desinteresse, estes me dispensavam de fazer, mas a maioria não entendia a minha situação e seguia o regulamento:

“- Teu nome tá na rela, então vai fazer”.

O último desses testes foi no Galpão de Desenho e coincidia com uma das finais, se não me engano, do futebol. E o bendito do teste foi o mais demorado de todos!

Enfim, terminados os testes e a Olimpíada da qual nossa Série sagrou-se Campeã, voltamos às atividades normais.

Eu, ainda com a esperança de ser Mecânico de Aviões, fui no final do dia para a sala de aula estudar um pouco. Depois de algum tempo surge um colega considerado “naba” (inteligente), um dos primeiros colocados da turma e me pergunta se eu queria ser Desenhista. Respondi que não, mas o questionei da razão da pergunta. Então ele me respondeu:

–“Você foi o terceiro colocado no pré-teste e eu fui o décimo, como são nove vagas, se você desistir eu sou classificado. Então vá lá no Galpão de Desenho e assine sua desistência. ”

Aquela história me deixou intrigado, mas no dia seguinte fui ao galpão com o propósito de desistir da vaga.

Procurei então o sargento responsável pelos testes e declarei minha intenção. Ele olhou-me de cima a abaixo, meio ensimesmado, e falou:

-“Você é louco, aluno? Passa em terceiro lugar num pré-teste com quase duzentos candidatos e depois quer desistir pra ser Mecânico de Aviões? Te dou mais três dias pra pensar direito, e se ainda quiser fazer essa bobagem volta aqui”

Aquilo me deixou meio abalado e pensativo. “Mas o que será que esse cara tem contra os mecânicos?”

Dali fui ao Galpão de Mecânica, contei a história para um monitor da área e sua resposta foi a mesma:

Page 47: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

40

-“O colega do Galpão de Desenho tem razão, acho que você é louco!”

Bom, no final das contas acabei me tornando desenhista mesmo, e acho que os dois tinham razão: talvez se eu conseguisse pegar mecânica seria um péssimo profissional!

Mas até hoje admiro demais os colegas que se formaram nessa especialidade e nunca soube o que aconteceu com o colega que queria ser Desenhista. Talvez tenha sido um Mecânico de Aviões...

Minha especialidade: Bombeiro de Aeródromo. Por que? Por Domingues (ex-Aluno 76/1101 EDSON)

Primeiramente, é uma satisfação participar dos contos narrados neste livro da Turma Tarjeta Azul 169, por vários motivos. Um deles é a saudade da turma em geral: dos amigos com quem até hoje conjugo os problemas de família, outros com os quais a nossa amizade naquele período era muito sincera e o tempo nos afastou por diversos motivos, e alguns que já descansam na paz do Senhor.

Para começar a minha narrativa, tenho que reportar fatos anteriores à entrada e estada naquele berço de Guaratinguetá que nos formou e deu pilar e sustento de vida até os dias atuais.

Minha vida militar teve início na Escola de Aprendizes Marinheiros em Santa Catarina – Florianópolis (EAM-SC). Ingressei nessa escola por meio de concurso, em maio de 1972, e saí formado para embarcar num navio da Força de Transporte no mês de junho de 1973. Naquela época, com meus 17 anos, fiz o curso de Aprendiz Marinheiro, fui Grumete, depois me formei Marinheiro no Quadro Suplementar de Máquinas e estive embarcado por três anos e meio no navio Ary Parreiras G-21, a bordo do qual conheci muitos lugares neste BRASIL.

Meu local de trabalho era praça de máquinas, nas caldeiras, e nas horas de folga eu ia para a estação rádio de bordo, onde aprendi com o Cabo MIGUEL o “Código Morse”, que na época era usado na

Page 48: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

41

operação do telégrafo de pontos e traços, etc. Aprendi o serviço de telegrafista. Foi lindo esse conhecimento.

Quando fui aprovado para a Escola de Especialistas de Aeronáutica em 1976, a ideia inicial era ser especialista em radiotelegrafia de voo. Fui decidido.

Porém, o destino não queria que eu pedisse socorro pelo telégrafo usando o Morse. Me reservou uma missão nobre e linda: salvar vidas sendo Bombeiro de Aeródromo da Aeronáutica.

Após a conclusão da Segunda Série, fiquei sabendo que a especialidade Q AT VO (Radiotelegrafista de Voo) tinha sido extinta e que não seria mais formado profissional naquela especialidade.

Decepcionado, angustiado e sem rumo quanto à especialidade que poderia abraçar, recebi informações de que poderia cursar Armamento Aéreo (Q AR), Enfermagem (Q EF) ou Desenho (Q AT DI).

Não aceitei nenhuma dessas especialidades. Um dia, quando me encontrava num daqueles corredores onde ficávamos sabendo qual especialidade cursaríamos, de repente passa um grupo de alunos correndo e cantando diversas canções no ritmo da corrida. Esse grupo era coordenado pelo Cabo CELSO, monitor de Educação Física. Foram para a piscina praticar treinamento de natação e salvamento aquático. Fiquei encantado com aquela atividade, sobretudo pelo trabalho na água.

Perguntei a um Sargento do Setor de Classificação de Especialidades qual era aquela especialidade daquela tropa que passara por ali correndo e tinha ido para a piscina. E ele me disse:

- Essa especialidade é nova aqui na Escola. É a primeira turma de Bombeiros de Aeródromo, Turma Amarela. A turma Azul, de vocês, será a segunda a ser formada aqui.

Então lhe disse: Quero ser bombeiro.

Ao que ele me respondeu:

Page 49: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

42

- Aluno, primeiro vamos ver a sua média, pois há muitos alunos querendo esta especialidade. Se você tiver nota que possa concorrer a esta especialidade, terás que realizar um psicotécnico aqui, pelo CEMAL (Centro de Medicina Aeroespacial), para aplicação dos testes.

Coloquei meu nome na relação dos pretendentes daquela especialidade nova. Depois de alguns dias, estava na relação para concorrer à especialidade.

No dia do teste psicotécnico havia muitos alunos na sala de aula. Esse teste foi realizado o dia inteiro, foi desgastante, uma parte pela manhã outra à tarde. Para a minha felicidade, saiu o resultado e meu nome estava na relação dos oito alunos classificados.

Os meus colegas de especialidade foram: NILSON, NUNES, SOUZA, MARTINS, ESLI, TAVARES e MOLINA.

Assim me realizei, cumprindo minha nobre missão durante 32 anos e 6 seis meses: salvar vidas humanas. Embora em determinadas ocasiões tenha passado por situações difíceis e tristes, tendo que resgatar colegas tripulantes sem vida no meio de destroços. Durante o meu período de graduado muitas vezes me senti renovadamente realizado.

Acampamentos na Serra da Mantiqueira Por Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS)

Durante o tempo de aluno fomos três vezes até a Serra da Mantiqueira para acampar. Lembro que na 4ª Série fizemos o último acampamento. No que se refere à alimentação, estávamos bem servidos, pois o rancho da Escola nos fornecia água, biscoitos, café, doces, presunto, queijo, carnes etc. Geralmente nosso grupo era de 5 a 8 pessoas. Costumávamos escolher os feriadões, geralmente aqueles em que não era possível viajar para o Sul. Tínhamos companheiros de outros estados do Brasil que às vezes nos acompanhavam, mas aquelas aventuras eram realizadas majoritariamente por gaúchos. Dentre estes, eram presenças constantes, além de mim, o DALMAS, o

Page 50: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

43

G. CARDOSO (“Baixinho”) e o POMALIS. Em todos os acampamentos aconteciam fatos engraçados, curiosos e, às vezes, perigosos. Dentre esses fatos escolhi um que tem um pouco de cada um destes quesitos.

Mas antes gostaria de fazer referência a um acontecimento ocorrido no segundo acampamento. O meu amigo e colega de especialidade Nelson Reis (N. FILHO) era o nosso convidado dessa vez. Além dos mantimentos que recebíamos do rancho, era muito importante comprar algumas garrafas de bebida, pois na Serra da Mantiqueira faz frio e esse item não poderia faltar (risos). Fizemos uma “vaquinha” e compramos as garrafas, o Nelson Reis ficou com a missão de esconder nossa “preciosa aquisição” no riacho que passava na área de DLAT (espaço do terreno onde eram ministradas instruções de Defesa Local e de Teoria de Armamento e Tiro, à frente da entrada da 13ª Esquadrilha), até a hora da partida.

A hora chegou e quando o Nelson foi fazer o resgate o nosso tesouro, não estava mais lá. Que tragédia! Alguém deve ter visto o nosso amigo entrar na mata com um volume e sair sem nada e, logicamente, deve ter ido conferir do que se tratava.

Voltando ao outro fato: saímos à tardinha e não tínhamos muito tempo de sol, passamos na frente do hospital da Escola e seguimos por uma trilha para posteriormente pegarmos a estrada para Pedrinhas e logo após chegar a serra da Mantiqueira. Depois de um tempo de caminhada, já noite, nos deparamos com um ponto rural de coleta de leite. Como esse local era coberto, decidimos parar ali para descansar e dormir um pouco. O G. CARDOSO acendeu o lampião e pendurou na parte de cima, logo dormimos.

Acordei com uma grande claridade. Era o lampião, que possivelmente não foi bem regulado e “engolira” o fogo. Rapidamente chamei todos, pois o problema poderia evoluir para uma explosão. Vários tentaram, mas ninguém de imediato conseguiu extinguir o fogo. Nos afastamos para a rua e, para nossa surpresa, percebemos que o G. CARDOSO continuava dormindo profundamente. Gritamos: “BAIXINHO, BAIXINHO! ACORDA, CARA! O LAMPIÃO VAI EXPLODIR!” Quando falamos a palavra “explodir” ele acordou, arregalou os olhos

Page 51: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

44

e, num salto que fez lembrar o Homem Aranha, já estava ao nosso lado como num passe de mágica.

O lampião ficou avariado, mas não explodiu e tudo acabou bem.

Prancheta maluca Por Nelson Anaia (ex-Aluno 76/755 ANAIA)

Esta história se passou no período da Escola em que já estávamos na fase especializada (3ª e 4ª Séries).

Nossa turma de desenhistas era formada por nove alunos: três cariocas, dois paulistas, um gaúcho, um cearense, um, se não me engano, nascido em Goiás, mas criado no Rio, e um pernambucano.

Cada qual com sua personalidade: uns mais brincalhões e expansivos, outros mais ou menos quietos. Mas havia um mais “nervosinho”, como se diz, um “pavio curto”: ficava bravo por qualquer motivo. Esse “pavio curto” era o que mais fazia “artes” com a gente, mas como fazia cara de sério, sempre negava qualquer brincadeira e era meio “estourado”, nós ficávamos sempre na defensiva. Nessas condições, todos nós planejávamos devolver as “brincadeiras” usando do mesmo artifício, ou seja, negar sempre, e ninguém “entregaria” ninguém.

Até que um dia surgiu a oportunidade. Estávamos na aula de Desenho Topográfico, que consistia, a partir dos dados colhidos pelos topógrafos, ir traçando linhas que formariam o desenho de um determinado terreno. Esse desenho era geralmente feito em um papel vegetal tamanho A0 (A zero) que ocupava toda a extensão da prancheta de desenho.

Como nossas pranchetas eram reguladas na altura e inclinação por parafusos, e dadas as suas extensões, muitas das vezes éramos obrigados a apoiar todo o corpo sobre elas, principalmente em desenhos grandes. Daí veio a ideia, não me lembro quem foi o “iluminado”: “Vamos afrouxar os parafusos da parte dianteira da

Page 52: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

45

prancheta!” Dada a ideia, foi só aguardar o momento apropriado e pôr mãos à obra.

No instante em que nosso “amigo” foi ao banheiro o plano foi executado. E aí ficamos esperando o momento em que aquela prancheta ruiria com ele junto. A essa altura ninguém conseguia se concentrar no próprio trabalho; de quando em vez alguém soltava um riso meio contido. Porém, o tempo foi passando e, para nossa decepção, nada acontecia. Começamos a achar que não tínhamos soltado os parafusos o suficiente.

Eis que, quando já havíamos nos esquecido o assunto, ouve-se um forte barulho como de madeira quebrando e lá estava nosso amigo, deitado na prancheta com as pernas para o ar.

É claro que a gargalhada foi geral e ecoou pelo corredor do galpão, trazendo até nós alguns monitores que acabaram rindo com a gente, o que enfureceu ainda mais o nosso “amigo”, que tentava com dificuldade sair daquela posição ingrata!

É claro que, diante dos veementes protestos do “pobre coitado”, o sargento responsável pela aula nos passou um enorme “sabão”, mas durante o resto do dia ficamos todos com aquele sorrisinho de satisfação estampado no rosto.

Alergia à penicilina Por Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS)

Somente uma vez durante todo o período de aluno na EEAer tive problema de saúde. Foi uma gripe muito forte, com a garganta inflamada. Num certo dia, na 13ª Esquadrilha, acordei de manhã e quase não tive forças para sair da cama. Estávamos no início da 3ª Série e, após o café, as aulas no galpão de Mecânica de Aeronaves não tardariam a começar. Passei um dia muito complicado: dor no corpo, dor de cabeça, garganta “fechada” e um grande desânimo.

Naquele dia, logo que acabaram as aulas e fomos liberados, fui direto para o ambulatório. O médico me examinou e decidiu que

Page 53: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

46

eu deveria passar a noite no hospital para que me fossem ministrados os medicamentos.

O aluno enfermeiro da 4ª Série chegou para me aplicar uma injeção de Benzetacil, mas antes perguntou: “Você é alérgico à penicilina?”. Respondi que não sabia. Ele então saiu e logo após retornou dizendo que faria um teste. Aplicou uma pequena injeção sob a pele do meu antebraço e falou que deveríamos esperar um tempo para ver se haveria reação.

Não sei precisar quanto tempo se passou, mas fiquei surpreso, pois no local do teste houve um inchaço e a pele ficou vermelha. “Se eu tivesse aplicado esta injeção, você poderia até morrer com um choque anafilático!”, disse o aluno.

Será que a pergunta que o aluno 4ª Série me fez foi por orientação do médico ou foi por iniciativa dele? Não sei, nunca perguntei. Só sei que a partir dali, e até hoje, consta em meu prontuário: “ALÉRGICO À PENICILINA”.

Banho forçado Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Havia um “cara” na turma (não precisa dizer o nome porque todo mundo sabe quem é) que não gostava de tomar banho. A cama do “cara” parecia um cocho, lençóis amarelos. Embora tivéssemos serviço de lavanderia que lavava nossa roupa de cama toda semana, ele nem se dava ao trabalho de mandar a sua.

O seu cabelo encaracolado e sempre desgrenhado só não era pior porque éramos obrigados a cortar a cada duas semanas. O “cara” tinha a unha do mindinho crescida e estava sempre coçando a cabeça suja. Era um imundo.

Um dia a turma resolveu dar um banho nele (acho até que a ideia foi minha). O “cara” era grande, devia ter um metro e oitenta, por aí, e bem pesadão, além de tudo mal humorado. Imagina pegar um “cara” desses à força e levar pra baixo do chuveiro...não era uma tarefa fácil.

Page 54: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

47

Reunimos uma turma de uns seis ou sete, mais ou menos fortes (menos eu, que era magrinho e estava ali só pra agitar), e combinamos como fazer: “vamos esperar ele se deitar e aí a gente cerca a cama, um em cada perna e um em cada braço, e arrastamos ele pro banheiro, onde um já espera com o chuveiro aberto (acho que fui eu que abri o chuveiro)”.

Fácil assim de falar, mas na hora de fazer...

O “cara” deitou uniformizado, inclusive com as botas nos pés. Fomos chegando como quem não quer nada e de repente, a um sinal, o pessoal grampeou ele. Imaginem um touro se debatendo. Mais ou menos isso. O perigo era alguém levar uma botinada na cara. Com muito sacrifício conseguiram arrastar o dito até o banheiro, que não era muito perto da cama dele. O “cara” esperneava, dava braçadas, conseguia soltar um braço de vez em quando, e era só mãozada pra todos os lados, até que alguém o segurava de novo. Xingamentos, ameaças e impropérios era só o que se ouvia.

Conseguiram chegar até o chuveiro (gelado), que já estava aberto e sem o crivo. Desta forma saía um jato forte que ajudava a tornar o banho menos demorado naquele frio de Guaratinguetá no inverno. Soltamos o bicho embaixo da água e pulamos fora com toda a velocidade possível...e o “cara” atrás da gente. Corremos para o pátio, onde ele, por causa do desalinho e todo molhado, teria dificuldade de nos pegar. Nosso Alojamento ficava no segundo andar, de forma que ele foi para a sacada e ficou gritando xingamentos e ameaças por bastante tempo, até se acalmar.

Naquela noite a turma chegou no Alojamento bem tarde, depois de se apagarem as luzes e do toque de Silêncio. Foi uma noite tensa, na expectativa de uma possível vingança. Felizmente nada aconteceu, e nos outros dias o pessoal ficava fazendo piadinhas quando ele passava.

Page 55: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

48

Mais uma da turma de Desenho Por Nelson Anaia (ex-Aluno 76/755 ANAIA)

Para cada turma de especialidade era designado um “xerife” e um “subxerife”.

Ao “xerife” cabia comandar os deslocamentos da turma para os vários locais da Escola e outras responsabilidades, com repassar ordens, dentre outras. Na sua falta, essas atribuições eram passadas para o “subxerife”.

Ocorre que em certa época foi determinado que a cada semana um aluno da turma desempenhasse essa função, e dependendo do tamanho da turma, esse rodízio era diário.

Essa ordem tinha como fundamento que todos devessem treinar o comando de tropa. Nesse rodízio ficava evidenciado que nem todos, ou poucos, tinham o dom da Infantaria, ou seja, muita gente “se enrolava” na hora de comandar a tropa. Isso trouxe à memória um fato tragicômico ocorrido conosco. Cabe lembrar que o galpão de Desenho era o mais próximo do prédio do Comando da Escola.

Em uma ocasião, quando nos preparávamos para o deslocamento para o Alojamento, percebemos que um pouco à frente de onde teríamos que passar estava o Comandante da Escola, acompanhado de um civil. Nessa hora ninguém queria estar na pele do “xerife” de dia, pois para nós, alunos, um brigadeiro era quase um semideus.

Na esperança de que aquele homem se deslocasse para outro ponto mais distante de nós, o nosso infeliz “xerife” foi nos colocando em forma, na maior lentidão possível, porém o “homem” não saía do único caminho que tínhamos.

Iniciado o deslocamento, todos davam seus “pitacos”:

- “Não esquece, dá ´olhar à direita´ e faz continência”.

Tudo ia bem até que quando a tropa já estava bem próxima, o homem atravessou a rua por duas vezes, vai e volta para o mesmo lugar.

Page 56: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

49

Não teve conversa: nosso “sábio xerife” tascou logo a ordem:

- “Olhar pro Brigadeirooooo!”

Este, compreendendo a situação do pobre aluno, respondeu à continência e, com um sorriso, disse:

- “Ok, aluno.”

A essa altura do campeonato nem é preciso dizer como estava o estado emocional do nosso colega, e para completar o desastre, quando a tropa (que era composta por oito elementos) chega na esquina da rua da praça da Escola, recebe o comando:

- “Esqueeerda, volver!”

Quem sabe do que estou falando pode imaginar oito camaradas marchando, um ao lado do outro, em plena rua da praça!

O comando certo seria: “Em direção à esquerda, marche!”

Pobre “xerife”...

As vacas sapecadas Por Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS)

Para nossa turma de mecânicos as aulas práticas foram ministradas no hangar e outras instalações adjacentes à pista da EEAer. Tínhamos várias aeronaves para praticar: T-6, T-33, B-25, B-26 e também um T-21. Fazíamos de tudo: desmontagens, montagens, sanávamos panes de motor, células e combustíveis.

Lembro que havia um B-25 que estava no hangar parado já fazia muito tempo, e para nossa satisfação, foi na nossa turma que decidiram que essa aeronave teria que funcionar. Deu muito trabalho, mas depois de alguns dias lá estava o B-25 com seus motores “girando”. Também havia um B-26, este estava em melhores condições de funcionamento. Os T-6 foram aviões que tivemos também bastante contato.

Page 57: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

50

Mas a “cereja do bolo” eram os T-33. Todos queriam dar partida no caça, mas eles “bebiam” muito e o combustível era controlado.

Algumas aeronaves ficavam estacionadas com a cauda virada para uma cerca de arame farpado. Dentre as aeronaves que ali ficavam estavam os T-33. Do outro lado da cerca havia uma propriedade particular onde existiam vários cavalos e vacas.

Algumas vacas passavam bem perto da cerca de arame farpado para pastar. Alguém dava partida no T-33 e mantinha o motor no regime de marcha lenta e, o aluno que estava no “2P” (assento traseiro) ou outro aluno fora do avião, fazia um sinal quando alguma vaca estava na direção do escapamento. Nessa hora era “atacado” o motor para potência máxima.

Coitado do animal: levava aquele susto e, talvez, uma leve sapecada!

Com medo enorme, mas levantei Por Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO)

Saímos do galpão de Mecânica em euforia: era o final da Terceira Série. Tínhamos “camburado” (concluído com aproveitamento) a 3ª Série. A alegria era enorme.

Chegamos na esquadrilha felizes e cheios de vontade de continuar as comemorações. Em poucos dias estaríamos em nossas casas, com mais uma vitória em nossos currículos. Logo surgiu a ideia de aproveitarmos dos saquinhos plásticos brancos, com o símbolo da escola, nos quais recebíamos embalados nossos lanches, quase sempre contendo uma maçã (fiquei enjoado de maçã por muitos anos), para enchê-los de água e “batizar” quem por baixo da 13ª Esquadrilha passasse.

Batizamos muitos alunos das séries inferiores e até colegas de turma. Só não contávamos que uns de nossos muitos sacos d’água atingiria um colega de turma que estava de serviço de Auxiliar do Aluno de Dia ao Corpo de Alunos.

Page 58: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

51

Não deu outra, o companheiro não aliviou: lançou no Livro de Serviço, nas “Ocorrências”, o fato. Esse episódio só veio à tona quando o Tenente SILVA mandou que toda a esquadrilha fosse reunida nos fundos do Alojamento.

Ele chegou e começou dizendo que estava ali para fazer a expulsão dos alunos que participaram da brincadeira de mau gosto atingindo outros alunos com sacos d’água.

O pavor tomou conta de mim à medida que ele ia falando. E ele falou muito!

Em determinado momento ele fez a pergunta: “Quem estava nessa brincadeira?” Um “empurrão” de um fato ocorrido em minha infância me pôs de pé e eu declarei: Eu estava na brincadeira, Tenente!

Transcorreu um tempo até ele pensar qual atitude tomaria com relação a minha pessoa. Só eu, ele e o sargenteante estávamos em pé.

De forma inesperada, ele passou a elogiar minha atitude. Um calor tomou conta de meu corpo e a lembrança do meu pai tomou conta de minha mente, de uma forma adversa de quando eu era criança.

Na minha infância havia um garoto que sempre que me provocava eu lhe “sentava a mão”, até que um dia ele entrou em um treinamento de luta marcial e começou a “tirar onda” comigo. Só que, face aos comentários de sua evolução, eu ficava “na minha”. Até que um dia, quando eu brincava de tabuleiro de prego embaixo de uma luz no térreo de um prédio com outros colegas, o referido garoto foi ao terceiro andar e mandou um saco d’água que nos atingiu em cheio.

O sangue subiu e eu escalei as escadas a toda. Encontrei o dito cujo e “parti pra dentro” com toda energia, já que ele podia aguentar pancada. Resultado: arranquei um dente dele. A sua mãe veio falar comigo e, antes que eu tentasse explicar, armou para me dar um tapa, do qual eu facilmente me esquivei. Ela então esperou meu pai chegar e lhe contou que eu tinha batido e arrancado um dente do filho dela.

Page 59: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

52

Meu pai em casa começou a falar sobre o assunto e eu, inocente, querendo uma defesa, disse que ela também havia me batido. Levei uma das mais memoráveis surras da minha vida por ter supostamente apanhado fora de casa e, ainda, de uma mulher.

Pensando naquele episódio, julguei que era melhor enfrentar de peito aberto a situação que se apresentava, o que fiz ao me levantar quando da pergunta, mesmo com a ameaça de ver todo o meu sonho ir por água abaixo.

Após as considerações do Tenente SILVA, muitos dos que estavam na brincadeira do saco d’água levantaram.

Boa parte dos alunos da esquadrilha tiveram seus nomes mencionados na Quarta Parte – Justiça e Disciplina – do Boletim Interno do Corpo de Alunos com impedimentos (proibição de se ausentar da Escola), se não me engano, de quatro finais de semana. Fiquei livre dessa e reforcei a minha lógica de enfrentar as adversidades de peito aberto.

O leitinho dos meninos Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO), a partir de relatos de Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS)

Hoje passados 40 anos, me lembro daquelas histórias e, com saudades, conto pros filhos, netos e amigos dando muita risada, mas aquela vida de garoto recém-saído da puberdade, longe da família e “preso” numa imensa escola, morando em um alojamento junto com mais de 100 alunos, não era fácil. Só quem vivenciou sabe como foi. Mas tínhamos alguns meios de amenizar tudo aquilo, apesar da dureza imposta pela forja que estava firmemente nos transformando em homens e nos preparando, sem que notássemos, para a vida de militares e profissionais responsáveis e competentes como hoje somos.

Eu tinha uma turminha e em determinadas noites, após o pernoite (conferência de presenças antes das vinte e duas horas), nos reuníamos para estudar na área de um velho prédio localizado na

Page 60: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

53

região atrás do ambulatório e da padaria. Levávamos nossas apostilas debaixo do braço, uma garrafa térmica e o rádio de ondas curtas do DALMAS.

“São alunos sérios, estudiosos e compenetrados, fazendo nada além do que decorar fórmulas, regulamentos e manuais técnicos”, isso pensaria quem nos visse ali.

No caminho para o local de “estudo”, passávamos pela padaria e sempre dávamos um jeito de pedir uns pãezinhos para os padeiros, que sempre nos atendiam. Afinal, todos sabiam da dureza de enfrentar aquela pesada vida com apenas três refeições diárias feitas às pressas num refeitório para 400 pessoas, e algumas vezes sob a pressão dos gritos de “vamos lá aluno, depressa com isso, olha a chamada!”

Quando chegávamos ao local escolhido, sentávamos e começávamos a faina. Mas estudar mesmo era o que menos fazíamos. Naquela inocente garrafa térmica havia nada menos que uma batida de cachaça com coco!

Ficávamos ali sentados conversando, comendo os pãezinhos, escutando o rádio e bebericando nosso “precioso”, que mantínhamos escondido no armário do Alojamento sob o constante e iminente perigo de sermos de repente descobertos.

Mas tudo aquilo não tinha nada de relaxante. Até mesmo ali, naquela fictícia situação de estudo, corríamos o risco de ter nossa artimanha descoberta e acabarmos sendo punidos ou, o que é pior, desligados a bem da disciplina.

“Cara, e se de repente passa um Sargento por aqui e descobre a gente bebendo?!!” Um de nós perguntou.

E eu, com toda a naturalidade e “experiência” de um homem de 17 anos, saí com esta “pérola”: Ah, pessoal, a batida é branca, né? A gente fala pro sargento que é leite”.

Leite, hein! Com aquele bafo de cachaça!!!

Page 61: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

54

Uma refrescadinha numa tarde quente Por Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO)

Tínhamos acabado nossa instrução no Galpão de Mecânica e fomos para o alojamento, em uma tarde muito quente.

Eu e mais dois companheiros conversávamos sobre irmos para a piscina tomar um “refresco”. Devido ao tempo que se passou, não me recordo quais eram as regras de uso daquela piscina. Lembro de termos colocado nossas sungas de banho pretas, com o gládio alado da Aeronáutica bordado em amarelo, por debaixo de nosso uniforme de educação física e termos saído pela parte dos fundos das esquadrilhas, rumo a piscina.

Chegamos no local desejado sem passar por qualquer Aluno Patrulha. Abri a portinhola da área da piscina e fui logo para o chuveiro. A tal portinhola e o chuveiro ficavam próximos da parte funda da piscina, assim, logo eu já estava dando meu desejado mergulho refrescante.

Quando venho à tona, vejo meus dois companheiros em apuros: estavam se afogando. Imediatamente escolhi um deles e parti para ajudá-lo. O que eu não esperava era que, no desespero, ele iria me dar uma “gravata” daquelas.

Por puro instinto passei a promover minha imersão para o fundo. Assim, ele veio a me soltar.

Voltei à tona para pegar fôlego e vi que a situação ainda era crítica. Mergulhei e voltei ao salvamento, desta vez empurrando-o pela cintura para a borda da piscina. Quando já estava próximo do desejado – a borda –, voltei-me para o outro com o mesmo procedimento. Quando novamente voltei à tona (ufa!) os dois já estavam agarrados às suas respectivas bordas salvadoras, um de cada lado da piscina.

Para mim o refresco já estava de bom tamanho. Saí da piscina seguido pelos dois e retornamos para a nossa esquadrilha.

Page 62: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

55

Este episódio ficou na minha memória pelos muitos ensinamentos que dele tirei, dentre eles a necessidade do respeito às normas de segurança.

Hoje dá até para rir do ocorrido, mas me lembro que no retorno à esquadrilha minhas pernas tremiam, e é provável que meus companheiros nem tenham percebido.

À porta… já! Por Trigueiro (ex-Aluno 76/864 TRIGUEIRO)

Um dos pontos de destaque no curso de Infantaria de Guarda da EEAer, atualmente denominado Guarda e Segurança, é a Instrução Básica Aeroterrestre, Módulos I e II, quando são realizados dois saltos com paraquedas, na 3ª e 4ª Séries, respectivamente, um em cada. Essa instrução, acredito que ainda hodiernamente, é extensiva às especialidades de suporte à aeronavegação, tais como Enfermagem e Fotografia (atualmente Fotointeligência).

Em agosto de 1977 e abril de 1978 realizei essa instrução com os demais companheiros infantes da Turma 169, e esses eventos marcaram com muita emoção a minha passagem pelo curso.

Quando era criança eu ficava a admirar, ao longe, as aeronaves C-115 Buffalo (ora desativada) que nas manhãs decolavam da Base Aérea dos Afonsos e, como diz o poeta, “vomitavam paraquedas” sobre o lendário Campo dos Afonsos, no treinamento dos paraquedistas da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército Brasileiro, localizada na Vila Militar, em Deodoro, cidade do Rio de Janeiro, e vizinha à Base. Atividade almejada por muitos, e nem sempre possível para todos os que almejam, não imaginava que um dia pudesse realizá-la.

A instrução para o salto consistia de teoria sobre as particularidades da estrutura do paraquedas e procedimentos nas diversas situações possíveis na aterrissagem, tais como terreno alagadiço, contato com rede elétrica e vegetação densa, e evoluía para conhecimento e prática de técnicas de dobragem dos paraquedas

Page 63: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

56

(principal e reserva), esta última de especial atenção uma vez que era previamente avisado que seria da responsabilidade de cada um a dobragem do respectivo paraquedas por ocasião do salto real, o que nos incutia na mente a grande responsabilidade da tarefa.

O treinamento para o salto, ministrado pelos Sargentos VAZ, AMORIM e CARVALHO, paraquedistas Boinas Azuis da Escola na ocasião, era feito num planalto localizado à esquerda da via de acesso à Escola, após o Corpo da Guarda e os poucos painéis que existiam ao longo da via à época. Nesse local havia uma plataforma de cerca de 4 metros de altura, feita de troncos, com acesso até o topo por uma escada também de troncos, onde era presa uma estrutura de ferro apelidada de “aranha” que simulava um paraquedas. Na frente dessa estrutura, um terreno com areia fofa, para amortecer o impacto das simulações de aterrissagem.

Subíamos e descíamos a plataforma à exaustão, simulando inúmeros lançamentos e aterrissagens, na busca de resistência física e de técnica, fundamentais para o bom êxito do salto. Experimentávamos apenas pequenos intervalos de 10 minutos, quando nos era oferecido o grande prêmio pelo empenho: um pequeno copo com suco (ralo) de tangerina.

Seguia-se assim cerca de um mês em cada módulo, quando então era estabelecida a data do salto.

Por se tratar de uma instrução básica, o salto era do tipo “enganchado”, ou seja, o invólucro do paraquedas era preso por um gancho a um cabo de aço na aeronave no momento do lançamento, este a 800 metros de altura, fazendo com que esse invólucro se desprendesse e o velame (parte do paraquedas que abre) se abrisse automaticamente após alguns poucos segundos, com a ação do vento.

Tamanha foi a emoção, e apreensão, quando nos deslocamos para o aeroporto de Guaratinguetá para o primeiro salto. No local, em frente ao Buffalo - C-115, nos preparamos para o embarque, já todos paramentados (capacete, paraquedas principal às costas, o de reserva à frente do abdômen, todos com as amarrações previstas e ajustadas). Sob o comando do Sargento AMORIM, Mestre de Salto responsável

Page 64: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

57

pelo lançamento, fizemos a checagem final dos equipamentos, que era feita com a seguinte fraseologia, após a ordem de “Verificar Equipamento”:

“Gancho, pino, fita, capacete, jugular

Queixeira, caixa de abertura

Tirante das pernas,

Todo pé preto é imundo!”

Obs: A última frase indica que a checagem foi feita completamente e se traduz numa alusão ao principiante no paraquedismo (alguém como o “bicharal”), já que o paraquedista especializado usa botas marrons.

Feita a checagem, embarcamos na aeronave e nos posicionamos lado a lado, num banco de tirantes no centro do salão. O Buffalo se deslocou para a cabeceira da pista, ganhou potência e decolou.

O lançamento era feito na ZL (Zona de Lançamento) à direita da saída da Escola, sob a responsabilidade do sargento AMORIM. Chegando ao ponto a rampa da aeronave, ao fundo, desceu e deixou à mostra toda a imensidão que nos esperava. Seguiram-se então os procedimentos de salto, com as ordens proferidas para cada um pelo mestre de salto:

“Preparar! Levantar! Enganchar! À porta... já!!!

Em poucos segundos uma assustadora massa de ar nos envolveu por inteiro, seguindo-se um grande solavanco que nos impulsionou para cima, como alguém a nos segurar na queda. Olhei para cima e contemplei a maravilhosa imagem do velame do paraquedas totalmente aberto.

A partir daí passei a admirar toda a beleza do horizonte e a cidade de Guaratinguetá, emoção indescritível, ao mesmo tempo que via o meu hoje saudoso colega ROQUE passar por mim em igual felicidade, repetida na 4ª Série.

Page 65: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

58

A calça do Quinto Por Junges (ex-Aluno 76/791 JUNGES)

Era o início da Quarta Série. Mandei fazer uma calça nova no Alfaiate ROMÃO para usar com o 6º Uniforme quando de serviço, pois sempre havia o risco de sujar ou estragar e, para a formatura da sexta-feira, deveria estar impecável com o 5º-A. Passaram-se algumas semanas e em uma formatura eu usei a calça nova que, embora fosse de cor regulamentar (azul barateia), era um pouco diferente da textura do tecido da túnica (espécie de paletó que compõe o uniforme 5º-A).

Na revista à tropa, o sargento RODRIGUES viu a diferença e perguntou o porquê. Disse-lhe que não sabia e que não via nada de diferente. Ele chamou o Tenente SILVA, que olhou, olhou e perguntou o porquê de a calça estar assim, diferente da túnica. Novamente neguei saber. Eu já suava, e percebia; “isso não vai ficar legal”.

Veio outro oficial, o Tenente HEITOR, baixinho de óculos escuros que adorava contar histórias de caçar subversivos no Araguaia. Pensei: “Bom, agora que a ´porca torce o rabo’. Acho que esse cara vai me prender, vai fazer eu me contradizer”. Mas continuei na minha.

Estar com uniforme fora do padrão é uma coisa, mas mentir para um oficial é outra, muito séria. O Tenente SILVA me olhava de lado, sério, e o outro olhava de cima abaixo. E eu sério, nem piscava. Pensava: “Tô f..., mas não volto atrás”.

Não sei por que me dispensaram. Passei o “findu” quieto, que nem criança cagada. Na sexta-feira seguinte vesti o 5º com a calça original e fui para a formatura. O Tenente SILVA veio direto em mim, olhou a calça, olhou para mim, não falou nada e saiu. Me safei.

Até hoje penso nesse fato. Acho que não fui preso ou detido, não por ter razão, mas por não ter dado o braço a torcer. Mantive minha história mesmo sob pressão.

Page 66: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

59

O avião de garrafas Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO), a partir de relatos de Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS)

Naquela época da Escola de Especialistas todos nós tínhamos os amigos mais chegados, mas muitos outros também foram companheiros de aventuras. Geralmente nós que morávamos longe e só viajávamos para casa nos feriadões, saíamos todos os finais de semana.

Guaratinguetá, Lorena e Aparecida eram os destinos mais frequentes. Em um destes finais de semana fomos até Aparecida do Norte. Estávamos num total de quatro alunos e quando lá chegamos, encontramos mais três colegas que se juntaram a nós.

Alguém que não me recordo bem nos indicou o Bar do Peixe, e lá fomos nós pra beber umas cervas. Umas? Dizendo melhor, foram muitas.

Juntamos duas mesas e conversa vai, conversa vem, as garrafas se acumulando, conversa vai, conversa vem e as garrafas chegando... dá pra imaginar o final da história: uma tremenda bebedeira.

De repente vem o funcionário pra retirar as garrafas que estavam se acumulando, mas um de nós interrompe: “Não leva, deixa aí que nós vamos fazer um avião com essas garrafas”.

Pra fazer um avião com garrafas, como um brinquedo de lego, foi preciso um número, digamos, considerável de garrafas. Pra ter esse número a gente precisa consumir a cerveja, então dá-lhe descer mais cerveja. Cerveja descendo da geladeira e subindo pra cabeça da galera...

Juntamos mais uma mesa e começamos a obra; fuselagem, asas, empenagem e motores. Ficou uma obra prima nosso avião, afinal somos especialistas no assunto. Mas a altitude do álcool ultrapassou o teto de serviço e todos ficamos bem “altos”.

Page 67: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

60

Na hora de voltar, saímos do Bar do Peixe já bem acima do nível de cruzeiro, todos extremamente “alegres” e com passos mais firmes que palanque em banhado, subimos a rua em festa.

Num determinado momento, um de nós, se esparramou no chão:

- “Levanta Fulano, vamos embora!”

- “Não aguento mais!!!”, dizia ele com aquela voz pastosa, e ficou ali deitado enquanto tentávamos, sem resultado, erguê-lo.

- “ Vamos, cara!!!”

Aí ele se saiu com essa:

- “Cara, chama a polícia, os bombeiros, qualquer coisa.”

E eu pra sacanear falei: “Não seria melhor uma ambulância?”

E ele: “Se não encontrar a polícia, nem os bombeiros, pode ser uma ambulância mesmo”.

Nem me lembro como essa história terminou, só sei que estou aqui contando agora.

Final de basquete na Quarta Série Por Macedo (ex-Aluno 76/825 MACEDO)

Me lembro de um jogo de basquete da nossa turma, quando estávamos na Quarta Série, contra a tarjeta Verde que era Terceira Série. Era a final do campeonato e estávamos perdendo. Jogo difícil, a rivalidade entre as duas turmas era grande, e perder pra uma turma mais nova era muita humilhação.

Do lado de fora o MARCOS PEREZ, vulgo “Da Papada”, que, aliás, nunca tinha treinado com a nossa equipe, insistia em entrar. O time rival possuía dois gigantes de quase dois metros de altura, o BENEVIDES e o PAULÃO. Esses dois gigantes estavam aproveitando da altura para dominar o jogo.

Page 68: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

61

A turma da torcida começou uma enorme pressão para a entrada do PEREZ, pois o jogo e o campeonato estavam praticamente perdidos.

Continuamos a pressão até que foi autorizada a entrada do PEREZ. Ele entrou e conseguimos virar o jogo.

Tempo passando, e a grande dificuldade era neutralizar os gigantes da equipe da Terceira Série. O PEREZ, que era um fumante contumaz, começou a sentir o cansaço e num lance de catimba, conseguiu provocar a expulsão de um deles, o PAULÃO, mas apesar de toda a sua esperteza, acabou sendo expulso também.

Agora a gente estava vencendo e precisava administrar e amarrar a reação do adversário. Aí veio mais uma catimbada, desta vez do lado de fora da quadra, eu havia levado umas bombinhas de São João e paralisei a partida jogando um amarrado delas, que fizeram muito barulho e fumaça na quadra. Com o jogo paralisado, a reação do adversário esfriou e o nosso time partiu pra cima.

Dali a pouco nova reação deles, e outra vez as minhas bombinhas resolveram a situação.

O resultado foi que com toda nossa catimba e autoridade de antigões, conseguimos vencer o jogo e a Azul acabou sagrando-se campeã.

No amor e no jogo vale tudo.

O “Caveirinha” Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

Indo direto ao assunto: nosso grande amigo e instrutor, no início alvo de nossos medos e rancores, mas hoje amado como um pai por toda a 169: Suboficial RODRIGUES.

Não vou ser ingênuo ao ponto de pensar que o senhor não soubesse o apelido pelo qual toda a EEAer lhe conhecia: “CAVEIRINHA”. É lógico que ninguém se atrevia a usar esse nome para

Page 69: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

62

se dirigir ao senhor, aliás muito dificilmente algum aluno se dirigiria ao senhor a não ser no âmbito da instrução.

Pois bem, vou contar dois acontecimentos que me ficaram na memória, nos quais o senhor foi a personagem central.

Uma certa tarde, durante uma instrução de Ordem Unida na Primeira Série, presenciei o primeiro. Estávamos separados em dois pelotões, um comandado pelo “Caveirinha” e o meu por um dos Sargentos monitores que eu não me lembro quem era. Quando não era a gente que o “Caveirinha” comandava, nós achávamos muito engraçado o que acontecia entre ele e seus alunos. Quando nós éramos esses alunos a coisa era diferente.

Estávamos nos divertindo com a instrução que ele comandava, Ordem Unida com armamento (o terrível, pesado e amaldiçoado Mosquetão Mauser 1911):

- Ombro, ARMAS! Cruzaaar, ARMAS! ALTO! ARMAS SUSPENSAS, ordinááário, MAIRCHHH!

Meu Deus, nesse momento foi o fim do mundo para um aluno cujo apelido era “Mr. Magoo” (não é difícil imaginar o porquê daquele apelido). Coitado: pequeno, magrinho, mal conseguia segurar o tal mosquetão, imagine marchar com ele suspenso. O braço colado no corpo, antebraço em ângulo de 90º e os dedos fechados em torno da telha (parte média entre o cano e a empunhadura). Acredite quem nunca fez isso: é de lascar. Aquele troço pesa sete quilos (eu mesmo nunca levei fé nessa informação, pra mim ele pesa uma tonelada).

O coitado não conseguia segurar de modo satisfatório o armamento e suava frio. O “Caveirinha” começou a gritar com ele, na sua forma única de pronunciar as palavras: “Segura firme, não treme, levanta esse braço!! NÃO OLHA PRA TRÁÁÁIS!! SÓ PRA VOCÊ, ISQUEERDÁÁ VOLVÊIRI!!! Direção ao INFINITUU MAIRCHHH!”

A “direção ao infinito” para a qual ele estava voltado era um declive, seguido da lagoa no fundo do pátio, a “Lagoa do Brigadeiro”, assim chamada por ficar na área da casa do brigadeiro, comandante da Escola.

Page 70: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

63

E lá se foi o pobre “Mr. Magoo” cambaleando com o fuzil pendurado, e em direção à “Lagoa do Brigadeiro”. De vez em quando arriscava uma olhada pra trás apenas pra ouvir os esbravejos do “Caveirinha”: “NÃO OLHA PRA TRÁIS DIABO, VAI, VAI, VAI!!”

Mas o “Caveirinha” nunca foi um mau sujeito. Exatamente antes de o infeliz “MAGOO” colocar os pés na água, veio o grito: “ALTO!!”

A gente se divertia (quando não era com a gente).

Outra vez foi no final da OCA, a Olimpíada do Corpo de Alunos, na qual nossa turma se sagrou bicampeã.

Estávamos em êxtase, bandeiras agitando-se nas mãos, fanfarras gritos de “A-ZUL! A-ZUL! A-ZUL!!!” Uma baderna generalizada (mas bem fiscalizada) que as autoridades toleravam como um mimo para os sempre pressionados alunos.

Tira foto aqui, tira foto ali. Havia um fotógrafo da cidade que não conhecia as “manhas” da Escola. Num dado momento alguém sugeriu: “Vamos tirar uma foto com o “Caveirinha”! É claro que num volume de voz que ele não ouviu, mas que o fotógrafo ouviu.

Começamos a fazer a pose pra foto e o fotógrafo comandando: “Aperta pra esquerda, os mais altos atrás, CHEGA MAIS PRO MEIO CAVEIRINHA!!!”

- “CAVEIRINHA É A TUA MÃE, FILHO DE PUTA!!!”

Suco diferente Por Junges (ex-Aluno 76/791 JUNGES)

Nossa passagem pela EEAer foi uma época muito difícil: saudades de casa, solidão, medo de ser desligado, estudos até altas horas, pressão das turmas mais antigas querendo pegar o “milhão” de um “bicharal” desatento e até uma vigilância política e ideológica.

Page 71: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

64

Mas vou contar um fato mais leve. Realmente, hoje lembramos quase que exclusivamente das boas passagens, e isso é bom. Por que lembrar das más ou tristes?

Como já falei em outra narrativa, eu achava que éramos muito bem tratados no tocante à alimentação. A comida do rancho da Escola era do tipo a suprir as necessidades de jovens expostos a todo tipo de pressão. Era tão farta que muitos sem-noção se davam ao luxo de devolver as bandejas quase cheias e a comida ia toda para o lixo, um desperdício. Mas havia também aqueles que repetiam sempre que possível. Um item que nunca faltava era o suco, embora não fosse apreciado pela totalidade dos alunos.

Existia uma lanchonete explorada por terceiros na Escola. Lá podíamos encontrar sucos diversos e refrigerantes, e alguns alunos que não gostavam do suco do rancho e de vez em quando compravam refrigerante na cantina e levavam para o rancho.

No final da 4ª Série já éramos os “donos do pedaço”. Eu, o LUIZ CARLOS (o “CARLÃO”) e outros dois, que não lembro bem (acho que era o GUARDI e o CARDOSO), tivemos a ousadia de comprar vinho e levar em uma garrafa térmica para o rancho. Enquanto todos tomavam suco, nós, os “espertos”, bebíamos vinho e ríamos muito.

Éramos quase sargentos, mas ainda não havíamos deixado as coisas de meninos.

Uma experiência ímpar: Aluno de Dia ao CA Por Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO)

Uma das atribuições de um 4ª Série é exercitar a função de comando de tropa e, para tal, várias oportunidades lhe são apresentadas, desde a Primeira Série, na condução de um pequeno grupamento de faxina, ou mesmo da turma para as salas de aulas. Mas o ponto alto, sem sobra de dúvidas, é comandar o Corpo de Alunos.

Eu já tinha experimentado na 4ª Série vários comandos como Aluno de Dia de várias esquadrilhas, de outras séries, inclusive, da

Page 72: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

65

minha própria, mas me faltava ainda tirar o serviço que muitos nem queriam pensar: Aluno de Dia ao CA.

Chegou a minha oportunidade.

Logo após as onze horas, me preparei e fui ao encontro do Aluno de Dia que saía de serviço. Conversamos sobre os procedimentos e nos dirigimos para o local das formalidades de transmissão do serviço.

A tropa de todo o Corpo de Alunos foi posta em forma. Às onze e trinta horas ele se posicionou à minha direita, em frente de toda a tropa de alunos.

Foi dada a ordem ao corneteiro para tocar o comando de “sentido”, que imediatamente é executado por todos os alunos. Em seguida o toque de “cobrir”, para os últimos ajustes. Ato seguinte, o toque de “firme”. Tudo pronto, ordenou o toque de “ombro armas”.

Executamos simultaneamente a “meia-volta volver” e ficamos frente a frente com o comandante da cerimônia, quando o aluno que passava o serviço proferiu:

- Com licença, comandante. Aluno (declinou o seu número e nome de guerra), da (declarou a esquadrilha à qual pertencia). Saindo de serviço de Aluno de Dia ao Corpo de Alunos, solicita autorização para proceder à passagem do serviço.

Obtida a autorização, nos voltamos um para o outro, segui a continência por ele feita e, em seguida, o substituído declarou:

- Passo o Serviço de Aluno de Dia ao Corpo de Alunos ao Aluno 76/934 N. FILHO, da 13ª Esquadrilha de Alunos!

Ao que respondi:

- Assumo o Serviço de Aluno de Dia ao Corpo de Alunos!

Desfeitas as continências, virei-me para o Oficial Comandante da Cerimônia e proferi:

Page 73: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

66

- Aluno 76/934 N. FILHO, da 13ª Esquadrilha de Alunos. Assumindo o serviço de Aluno de Dia ao Corpo de Alunos, solicita autorização para dar prosseguimento ao cerimonial.

Após a sua autorização, voltei-me para a tropa com o substituído e, ordenando ao corneteiro a sequência de toques de comandos estabelecida, avancei com o cerimonial de hasteamento da Bandeira, seguida do acompanhamento musical da banda marcial da escola. Em seguida tocaram-se os comandos para o desfile de toda a tropa em continência ao Comandante do Corpo de Alunos, maior autoridade do cerimonial.

Feito o percurso que contornava a época um galpão onde eram guardados os mosquetões por nós usados em instruções e eventos, passamos em frente à tribuna das autoridades com as regulamentares formalidades.

O ponto final do desfile era no rancho. A partir daí o Aluno de Dia ia autorizando cada uma das Esquadrilhas a adentrar ao racho, sequencialmente da 4ª para a 1ª Série, para o almoço.

Tudo transcorrendo conforme a lógica estabelecida, até que chegou a vez da turma de meu irmão carnal, então na Segunda Série. Logo que foi dada a autorização para avançar a primeira fila, este saiu da tropa e adentrou correndo ao rancho. Não gostei do desrespeito, mas fiz vista grossa.

Daí para frente tudo correu dentro do previsto.

O Aluno de Dia ao CA ficava sem participar das aulas e passava o dia inteiro em uma sala conhecida também por Corpo de Alunos.

No dia seguinte foram repetidas as sistemáticas e, após a passagem do serviço, foi feita a finalização do Livro de Ocorrências onde são apontados vários aspectos relacionados ao dia-a-dia do Corpo de Alunos.

Mas o mais gratificante do meu dia de “poder” na EEAer foi escrever no item “Ocorrências” o termo: Sem Alterações.

Page 74: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

67

Refletindo hoje, penso que o serviço de Aluno de Dia e os demais serviços do dia estavam sob a responsabilidade da 13ª Esquadrilha, a “turma da graxa”, que quando de serviço era muito mais flexível em relação à parte disciplinar.

Sobre a questão familiar, a recorrência da reclamação foi ao velho Nelson Reis, meu pai, no final de semana. Com sua intervenção, o “Lobinho” (apelido de meu irmão na escola) e o “Lobão” (meu apelido decorrente) continuaram unidos, respeitosos e felizes para o sempre!

Esqueceram de mim Por Batalha (ex-Aluno 76/779 BATALHA)

Um fato marcante que ocorreu comigo na Escola na 4ª Série, no finalzinho do curso, quando tínhamos licenças para viajar para o Rio de Janeiro e voltar nos ônibus chamados corujões, por que saiam do RJ à meia noite.

Por fazer parte da "Sociedade", constantemente era escalado para ser fiscal do ônibus que saia da escola para o Rio de Janeiro.

Um belo final de semana ao me dirigir a garagem do ônibus da viação Sampaio, que ficava na avenida Brasil, altura da entrada da Ilha do Governador, eis que, para minha surpresa, ao chegar lá por volta das vinte e três horas e trinta minutos, recebi a notícia de que o ônibus já tinha saído.

Reclamei com o encarregado da empresa dizendo que o ônibus só poderia sair com a minha presença, mas mesmo assim senti que toda minha reclamação não teria mais eco.

A realidade era que estava no mato sem cachorro, pois àquela altura do campeonato não conseguiria nem pegar um ônibus da rodoviária do Rio para Guará.

Fiquei completamente desnorteado e sem saber o que fazer, já pensando que não seria perdoado pelo Tenente AMOEDO, quando fosse me justificar pelo ocorrido.

Page 75: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

68

Minha cabeça era só números. Quantos dias devo pegar de punição? Que vergonha ser punido faltando poucos dias para a formatura.

Saí da garagem, já passava de meia noite, fardado de Quinto A, em direção a residência dos meus pais em Bangu, que já estavam dormindo quando cheguei e também ficaram surpresos com o meu retorno a casa.

Expliquei a situação e confesso que nessa noite não consegui dormir. Por fim, amanheceu, e me dirigi a rodoviária Novo Rio e de lá em direção a Guará.

Fui à paisana, por que naquela fase na Escola era permitido a entrada e saída em traje civil para a 4ª Série. Lá chegando, me preparei para o tão esperado encontro com o Tenente AMOEDO, que com aquele jeito dele peculiar me deu um esporro: "porra aluno, o que houve?"

Contei-lhe o que tinha realmente acontecido e ele olhando pra mim com aquela cara de mau, me disse: "Ainda bem que você contou a verdade. Vejo aqui na sua ficha que você é um aluno disciplinado, e que apesar do ocorrido, o ônibus chegou na Escola no horário previsto e com todos os alunos presentes".

UFA, dessa eu escapei, mas devo muito ao amigão Al Q EA ES 76 1207 JESUS, que ao perceber que eu não estava no ônibus, tomou as providências necessárias, indicando ao motorista os lugares onde os nossos companheiros iriam pegar o ônibus.

Obrigado JESUS !!!!!!!!

Luto Azul Por Molina (ex-Aluno 76/1109 MOLINA)

Pense um assunto complicado, é a morte, representante cruel do fim, a interrupção repentina e, às vezes, uma partida anunciada.

Mas, pensando bem, lembre-se do sucesso que você obteve para chegar até aqui. Recorde-se da corrida desenfreada que só você

Page 76: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

69

venceu (alguns foram gêmeos), milhões de espermatozoides sendo descartados, isto mesmo, você “detonou” aquela galera, você venceu.

Nascemos com a única certeza de que iremos embora, não sabemos nossa hora, e nesse intervalo as coisas acontecem. Não importa quanto tempo temos, o relógio não para, nem que queiramos, e seguimos adiante. Algumas máquinas engripam, mas tem quem faça os reparos.

Muitos relógios são interrompidos muitas vezes de forma inesperada, como foi o caso do nosso amigo Azul FERRUGEM, jovem de 17 anos, desligado na Primeira Série do curso de Sargentos da EEAer e que deveria cumprir o resto do seu tempo militar como soldado na Companhia de Infantaria, que num surto atirou contra a própria cabeça com um fuzil mosquetão e teve morte instantânea, explodindo desta maneira seu precioso marcador de tempo.

A morte é inevitável e dolorosa, mesmo que silenciosa.

Me lembro ainda do nosso irmão GONÇALINHO, que teve sua trajetória interrompida em um acidente automobilístico no Rio de Janeiro. Exímio nadador, seu relógio parecia estar com o alarme ligado direto, pois era muito bem relacionado com todos.

Outro Azul que também se foi durante o curso, nosso irmão MORGADO, sofreu complicações operatórias e não voltou mais.

Casos adversos, suicídio, acidente e cirurgia são fatores que ceifam vidas todos os dias.

Não é só a partida que nos deixa tristes. Somos viventes egoístas, traçamos planos para o amanhã e muitas vezes o amanhã não chega, somos apagados de repente e então, quando acontece com nossos entes queridos, nos revoltamos (principalmente quando a partida é banal).

Precisamos amar mais, precisamos nos ater ao presente. Presente de Deus, pois o futuro a Ele pertence.

Durante esses 40 anos do Grupo Azul, posso infelizmente dizer que muitos já se foram, deixaram suas sementes.

Page 77: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

70

A vida é eterna. Não sou apreciador de partidas, mas é preciso encarar este ato como uma vitória até então.

Procuremos ser felizes enquanto nossos relógios fazem o seu tic-tac, tic-tac, tic-tac, e lembre-se: o céu é azul.

Um “Fora de Forma” silencioso Por Junges (ex-Aluno 76/791 JUNGES)

Junho de 1978, final de semestre e de curso também. A maioria dos alunos da Turma 169 já estava aprovada, alguns, já fazia um mês que não tinham compromisso com instruções, apenas passeavam na Escola. Mas na turma de Eletrônica, os Q AT RA MR ainda estavam sujeitos às provas finais. Era o curso mais extenso da EEAer que os alunos tinham que passar para se formarem Sargento da FAB.

Havia um pouco de euforia e relaxamento no ar. As provas seriam na sexta-feira, a duas semanas da formatura. Os alunos de Eletrônica já haviam tirado as fotos para a revista da turma e até provado os novos uniformes de 3º Sargento. Na segunda-feira seguinte, notícia triste: quatro alunos não tiveram nota suficiente: CIRÍACO, P. DA SILVA e CORREIA (o “Português”) e Eu.

E agora, o que acontecerá? Após uma reunião na Divisão de Ensino (DE), resolveram desligar meus três colegas de infortúnio. A meu favor tive a intervenção do suboficial KOLESKI, que revisando meu histórico argumentou que em outras ocasiões eu havia tirado boas notas. Eu estava com vergonha, e muito triste pela situação dos companheiros desligados do curso.

A semana foi de pesar no Corpo de Alunos. Reuniões de alunos, de orientadores e comandantes, mas de nada adiantou: a DE manteve o desligamento dos três alunos, a poucos dias da formatura.

Na sexta-feira, quando foi dado o comando de “Fora de Forma” para a 4ª Série, não houve o tradicional grito de “AZUL!!!” ou o número de dias que faltavam para a formatura. Um silêncio, absoluto, reinou. Um protesto.

Page 78: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

71

Hoje, passados quase quarenta anos, lembro do fato com tristeza. Na época, não me causou euforia o fato de ser salvo. Foi uma pena perder esses três camaradas, com dois anos de luta como alunos e investimentos da FAB.

Há alguns anos encontrei o CIRÍACO em Brasília. Estava bem-vestido e era gerente de uma grande instituição comercial, o que me deu um grande alívio e alegria. Espero que os outros dois parceiros tenham obtido sucesso também.

Dividindo não vai faltar Por Breno Caldas (ex-Aluno 76/810 BRENO)

Faltavam uns trinta dias para a formatura e o fato que vou narrar começou numa sala de aula no Galpão de Armamento, onde tinha um sargento de nome CASTRO que estava falando para a turma que certa feita ele estava voando em um helicóptero UH-1H com as portas abertas e avistou algumas perdizes voando em formação perto do helicóptero. Então ele prontamente sacou a espingarda de caça da bolsa de sobrevivência, efetuou um disparo e abateu uma pobre ave.

Todos tomados de espanto ficaram engolindo a gargalhada, mas eu não aguentei e comecei a rir, o que desencadeou uma explosão de risos em geral com todos os presentes.

O tal sargento ficou vermelho e p.. da vida, e me “pegou na curva” logo após, me escalando sucessivamente para as tarefas de manutenções que fazíamos nas armas após atirarmos no estande. Ele trocava a equipe toda e só eu ficava permanente.

Quando da última manutenção, estávamos na posição de “Sentido” em frente ao galpão e o “xerife” apresentou a turma para o encarregado, que era o 1º Sargento MORAES. Logo em seguida o referido perseguidor mencionou meu nome para fazer a manutenção, eu fiquei cego e saí correndo para pular no pescoço do incauto. Os colegas me seguraram e o resultado foi 20 dias de prisão disciplinar.

Logo em seguida a turma toda foi liberada para os preparativos para a formatura e, é aí que entra um parceiro, o RABELO,

Page 79: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

72

que para aliviar um pouco a minha dor me abasteceu com vários litros de bebidas, antes de todos viajarem.

Eu preso e ainda fui pego pelo 1º Sargento RODRIGUES, que me deu um flagrante com as bebidas alcóolicas.

Eu estava bêbado em cima da minha cama na hora em que deveria estar respondendo a chamada de pernoite na sala do Sargento de Dia ao CA, eu lá não fui e este ele é quem foi ao meu encontro. Deu uma geral nos armários e achou meu o tesouro. Ficou mais feliz que “pinto no lixo”!

Passei a ter visitas diárias do Sargento RODRIGUES e do Suboficial JUAREZ para certificarem-se de que eu não iria beber muito e, é claro, aproveitavam para tomar algumas “poucas” comigo acompanhadas das orientações para eu “não dar mole” para outros Sargentos.

Dividir toda a carga de “cana” com eles valeu a pena!

Daí em diante, nos 30 anos de caserna, nunca mais engoli almoço para comer na janta, só sobrou foram muitas saudades.

As voltas que a vida dá levaram o Sargento CASTRO a ser transferido para a Base Aérea de Campo Grande (BACG).

No ano de 1980 eu servia no Parque de Material Bélico do Rio de Janeiro (PAMB-RJ) e ele veio recolher pistolas Colt 45, e aí eu tirei um baita de um Inquérito Policial Militar (IPM) das suas costas, quebrando-lhe um “galhão”, porque ele não tinha como responder pela falta de uma das armas.

Fui num container de destruição de armamentos, peguei uma das armas descartadas, remarquei-a e demos como se a tal arma tivesse dado entrada normalmente.

Os caminhos de Deus são insondáveis.

Page 80: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

73

A noite anterior à formatura Por Junges (ex-Aluno 76/791 JUNGES)

A noite anterior à formatura foi realmente uma loucura. Eu estava fora: tinha ido a São Paulo receber meus pais que iram no outro dia para Guará assistir à minha formatura e promoção a 3º Sargento. Perdi o último ônibus para Guará e peguei um que ia para São José dos Campos, chegando lá a 1 hora da manhã do dia da formatura. Lá embarquei em outro ônibus, agora que ia para o Rio de Janeiro, e desci na Via Dutra junto viaduto de Aparecida. Como não achei nenhuma condução que me levasse até Guará, tive que encarar uma longa caminhada. Acabei chegando em Guaratinguetá mais de três horas da manhã, daí achei um táxi e consegui chegar na Escola.

A Escola estava um caos, uma zoeira só: gente correndo de cuecas, as árvores na pracinha todas envolvidas em papel higiênico e notícias de que havia vários alunos presos.

E eu, cansado e com um sono fdp, fui procurar meu Alojamento, pois havíamos sido realocados nos alojamentos dos Cabos e Soldados. Tentei dormir nem que fosse meia hora, mas já apareceu alguém com uma sacanagem: pôs uma garrafa d’água junto do travesseiro e em 5 minutos eu estava todo molhado. Não achei o fdp. Resultado: fui fazer zoeira também.

Na hora formatura meu corpo doía e os olhos ardiam, mas eu estava muito feliz.

Um abração a todos que, junto comigo, viveram tudo isso.

Amanhã é a formatura Por Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO)

A noite anterior à formatura já é um acontecimento em si fora de série. Naquela noite já nos consideramos Sargentos, apesar de sermos sempre advertidos (na verdade ameaçados) de que até o momento da declaração do comandante da Escola no final da cerimônia nada está garantido.

Page 81: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

74

À tarde já somos realocados em outros alojamentos para dar lugar aos alunos “bicharal” que estavam por chegar, nos mudamos de malas e cuia para outro alojamento (geralmente os destinados aos cabos e soldados) e ali passamos a noite à espera da tão sonhada cerimônia de graduação e formatura. A grande maioria só quer saber de festar e brincar, bagunçar mesmo. Libertos do fantasma do DESLIGAMENTO, o pessoal “põe as manguinhas pra fora” e mostra a verdadeira face daqueles compenetrados Sargentos que se tornarão no dia seguinte. Mas como eu disse, isso é a maioria. Eu nunca gostei muito do “pensamento da maioria”.

Naquela noite eu só queria dormir tranquilo esperando o tão sonhado momento da graduação. Havia voltado da cidade, onde fora acomodar num hotel minha mãe, uma irmã e a noiva que vieram para assistir à formatura e me deitei para descansar, apesar de toda a bagunça. Havia gente correndo de um lado pra outro, alguns decidiram enfeitar as árvores ao redor com o papel higiênico que restou das nossas cotas, outros faziam farra dentro dos alojamentos. Inventaram uma sacanagem de colocar uma garrafa cheia de água embaixo do travesseiro dos que estavam dormindo e o cara acordava encharcado. Deitado na minha cama eu tentava ser alheio a tudo e, digamos, “ficar invisível”.

Não adiantou muito. Um “espírito de porco” passou e me encheu os cabelos de talco. Fiz que não era comigo e continuei tentando dormir. Pois o cara voltou e repetiu a “brincadeira” e eu continuei na minha, mas fervendo por dentro. Na terceira vez eu olhei bem pro cara falei: “se você fizer isso de novo eu te encho de porrada, seu fdp!!”.

Foi a mesma coisa que convidar o cara gentilmente para repetir. Lá veio ele de novo. Naquela época eu tinha o triste hábito de dormir de meias porque sinto muito frio nos pés, isso me foi por armadilha. O cara jogou o talco e eu pulei da cama e saí atrás dele, mas como estava de meias, escorregava no chão bem encerado e lustrado como só os militares sabem fazer. O infeliz desceu as escadas e ganhou a rua, ele estava vestido e eu só de cuecas e meias. Não tive coragem de sair com toda aquela gente lá fora, inclusive muitas famílias de

Page 82: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

75

convidados. Fiquei ali na porta remoendo minha fúria quando ouvi atrás de mim um colega rindo pra valer. Sem sequer pensar, virei a mão fechada e desferi um soco no infeliz. Na verdade o infeliz fui eu, porque ele virou a cabeça e eu acabei acertando o osso atrás da orelha, o osso mais duro do corpo humano: o occipital. Só me lembro do estalo de osso quebrado, mas não foi o dele: quebrei o quinto metacarpo, aquele ossinho da mão abaixo do dedo mínimo. A mão? A direita. A dor veio forte e eu vi toda a bobagem que havia feito, acabara de quebrar a mão à véspera da minha formatura.

Vamos procurar ajuda. Fui até a Sala do Sargento de Dia pedir pra me mandar pro ambulatório. Lá chegando, encontro uma turma de colegas já detidos por indisciplina à espera de solução para seus casos. Quando falei do meu caso, inventei a esfarrapada mentira de que havia caído da cama e batido a mão.

O Sargento não engoliu a história e queria me deixar detido também. Fui salvo por um dos detidos que me conhecia e colocou literalmente a mão no fogo por mim dizendo que eu era um cara boa gente e que não mentia (que vergonha, eu estava mentindo).

A ambulância foi acionada e, ao ser examinado, o médico constatou a fratura: “Vamos ter que engessar”. Mas, e a formatura? “Bom, aí você não pode participar com a mão engessada”, disse.

Ok, deixe assim, aguento até amanhã e depois da formatura eu volto pra engessar.

Passei dor a noite toda, me levantei para a higiene, banho, barba, vestir o uniforme branco novinho em folha, com os olhos cheios de lágrimas naquele misto de dor, raiva, frustração e alegria pela formatura.

Ainda hoje, aos sessenta anos de idade, luto contra esse tipo de reação intempestiva que me persegue desde garoto.

Page 83: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

76

Um turbilhão de emoções Por Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO)

Chegou o tão esperado dia da véspera da formatura. Eu tinha usado parte da “bolada”, assim chamado o depósito em dinheiro na conta para compra de todo o enxoval de formatura, e outros ganhos regulamentares, para pagar um ônibus para trazer parentes e convidados para a formatura.

O ponto de partida era em frente à minha casa em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e o meu pai ficou encarregado da organização dos passageiros.

Perto da hora da partida, eu, cheio de fichas de telefone, estava no "orelhão" perto do Cassino dos Alunos checando com meu pai a saída, prevista para vinte e três horas e trinta minutos.

Devido às preparações para receber os novos alunos, minha esquadrilha foi deslocada da “Fazendinha” (como era chamado o prédio da 13ª a 16ª Esquadrilhas) para os alojamentos perto da piscina dos alunos e também perto do local reservado para estacionamentos dos ônibus de convidados para a formatura.

A alegria era contagiante e alguns companheiros já estavam com seus pequenos e camuflados estoques de vinho e outras bebidas a serem servidos aos mais chegados.

Fui para o tal alojamento descansar um pouco e aguardar pela chegada do meu ônibus. Esta era a expectativa de muitos outros companheiros, razão pela qual, quando meu ônibus chegou, fui logo localizado e parti para o estacionamento, um pouco depois das quatro horas da manhã.

Abraços mil, beijos e surpresas, sendo as principais toda a família de uma ex-namorada e também a menina por quem eu estava apaixonado.

Saí com algumas pessoas caminhando pela Escola com o fito de mostrar um pouco de nossa rotina, quando cheguei próximo ao pátio dos alunos e fiquei estupefato com tanto papel higiênico enfeitando as árvores e fiações elétricas.

Page 84: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

77

Passei também a administrar o fato de que nem meus pais e nem os pais da minha ex-namorada tinham conhecimento de que tínhamos terminado o namoro quatro meses antes, bem como a presença da garota minha pretendida.

Um zum-zum-zum de que havia muitos companheiros presos e outros bizús, mas o vinho camuflado continuava a ser compartilhado às escondidas com os chegados.

A Alvorada Festiva se inicia com tiros de canhões e alegrias estavam estampadas nos rostos dos companheiros.

Aos poucos iam aparecendo os companheiros vestidos com suas túnicas brancas e prontos para a cerimônia de formatura, e um caso ou outro de companheiros pedindo uma madrinha emprestada, pela falta de parentes para a cerimônia.

Marcadas as nossas posições na tropa para facilitar a entrega das divisas de 3º Sargento pelas madrinhas (no meu caso, minha mãe), fui também me arrumar e pouco depois estava em forma para o tão sonhado evento.

Nossos distintivos de graduação foram entregues por nossas madrinhas enquanto estávamos dispostos no formato das três divisas que passaríamos a usar em nossos braços.

Page 85: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

78

Um avião de pequeno porte estava fazendo as fotografias aéreas do evento quando tivemos a forte emoção de ver dois aviões “Xavante” passarem em formação, em voo rasante, e o deslocamento de ar fez com que aquela aeronave de pequeno porte executasse movimentos diferentes do normal. Mas tudo saiu perfeito.

Seguiu-se o desfile em continência às autoridades e, logo após, o ponto alto da solenidade: o “Fora de Forma”. Nossos quepes subiram ao ar: estávamos definitivamente saindo da EEAer.

Dali a alguns momentos se encerraria a passagem de uma turma que se diferenciou de muitas e se tornou referência para tantas outras que ainda passariam pela EEAer.

Creio que os companheiros que foram detidos no episódio dos papéis higiênicos foram anistiados, pois não soube de implicações maiores.

Page 86: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

79

Foram dois anos de muito convívio, e de amizades que

perduram até os dias atuais.

A História da 169ª Turma da EEAer passa pelas vitórias nos dois Festivais Internos da Canção do Corpo de Alunos - FICCA - e nas duas Olimpíadas Internas do Corpo de Alunos (OCA), participações destacadas no Concurso Revelação (crônicas, contos e poesias), Maratona Cultural e programas semanais radiofônicos, “O Especialista no Ar”, na Rádio Aparecida FM. Fomos ousados, criativos, irreverentes, cumplices, participativos e muito mais, tornando a existência da turma um marco indelével naquela Instituição.

Os que já se foram... “Há tempo para tudo debaixo do sol... há tempo de nascer e tempo para morrer”

Livro de Eclesiastes.

Este livro com as nossas memórias não poderia chegar ao fim sem uma homenagem a todos os componentes desta turma que não mais estão entre nós.

Nomes Milhão Especialidades

Antônio Constantino 76/1010 Q IG FI

Arthur Fernandes Gonçalinho 76/712 Q FT

Carlos Alberto Teixeira de Amorim 76/870 Q AT TP

Carlos Eugênio Bianco 76/798 Q AT RA MR

Cezar Ferreira (Ferrugem) 76/--- Desligado na 1ª Série

Donizete da Silva Zaggo 76/994 Q AT MO

João Claudio Viana Cardoso 76/749 Q AT CV

Cléber de Carvalho 76/1106 Q AT RA MR

Elias dos Santos 76/1138 Q AT LP

Francisco Cloves Vasconcelos 76/944 Q AT MAV

Francisco Eliseu Marques da Silva 76/750 Q AR

Haroldo João Anselmo 76/770 Q AT RA MR

Heudes Caetano Alberini 76/1020 Q AR

Isaias Almeida Constantino 76/878 Q AT RA MR

João de Deus Alves de Souza 76/1167 Q AT MF

Page 87: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

80

Jorge Tadeu Nunes Macambira 76/1001 Q AT TS

José Amancio Morgado 76/786 Q AT CM

José Roberto Biral 76/1009 Q AT TG

José Ruceman Araújo Pereira 76/1087 Q AV

Joubert dos Santos Lima 76/954 Q EA AL

Luiz Alberto de Lima 76/817 Q AT MF

Luis Antonio Lelis Coelho 76/1182 Q AT SE

Luiz Henrique Ribeiro 76/1043 Q AT CV

Luiz Ricardo da Silva 76/1018 Q AT LP

Luiz Roberto Cosme Semana 76/826 Q AT RA MR

Paulo Gilberto Oliveira de Andrades 76/1048 Q AR

Paulo Roberto Courtes Rosa 76/1045 Q AT RA MR

Paulo Roberto dos Santos 76/869 Q AT MO

Pedro de Almeida Andrade 76/852 Q AT RA MR

Renato Hozório Gemelli 76/764 Desligado na 1ª Série

Rodolfo Moura de Souza 76/1081 Q AT SOB

Roque de Oliveira 76/915 Q IG FI

Rubens Machado Ferreira 76/1147 Q AT SE

Vitor Gregorovitch Sawtschenko 76/793 Q AT DI

Quarenta anos se passaram desde que demos entrada pelo

portão da EEAer. Somos mais que privilegiados por este tempo que Deus tem nos concedido, podemos nos considerar como sobreviventes desta batalha da vida. Mas queremos de uma maneira toda especial lembrar nominalmente aqueles companheiros que ficaram pelo caminho, aqueles que não chegaram até aqui, mas que estiveram um dia entre nós e que nos foram, igualmente, caros.

A todos vocês nossos amigos, nossa homenagem e eterna saudade na esperança de que um dia tornemos a nos encontrar nas mansões celestiais.

Turma Professor Haroldo, 169ª da EEAer.

AZUL!!!

Page 88: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

81

Autores e colaboradores

Escrevemos este livro a várias mãos. Escritores, editores, revisores, ilustradores, diagramadores, todos pertencentes à Turma 169 AZUL que estamos espalhados por este imenso Brasil, mas unidos pela origem e convivência daqueles dois anos de alegrias e tristezas na EEaer. Unidos pela Disciplina, pelo Amor e, sobretudo pela Coragem que nos fizeram muito mais que amigos e companheiros, mas irmãos.

A todos vocês irmãos o nosso abraço e reconhecimento.

AZUL!!!

Aquino (ex-Aluno 76/815 HONÓRIO) Luís Honório Rodrigues Aquino Foi diretor Locutor da Sociedade de Alunos Formou-se 3S Q AT CV em 14/07/1978 Serviu nas seguintes Unidades: Aeroporto Afonso Pena, Curitiba; Aeroporto internacional das Cataratas, Foz do Iguaçu; Aeroporto de Londrina; Aeroporto Jorge Teixeira, Porto Velho; Aeroporto de Internacional de Rio Banco. Membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Graduado em Letras/Inglês pela Universidade Federal de Rondônia. Pós-graduado em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Rondônia. Professor concursado na Rede Estadual de Ensino do Estado de Rondônia. Transferido para a reserva em abril de 1999. Reformado em novembro de 2011.

Batalha (ex-Aluno 76/779 - BATALHA) Paulo Roberto Batalha Januário Formou-se 3S Q AT ES em 14/07/1978 Participou da Revista da Turma 169 com artigos como "Nossa passagem pela Escola, tudo azul" e orgulha-se de ter sido escolhido para escrever a última página da Revista, com o tema "Expressão de uma Saudade " Serviu nas seguintes Unidades: AFA, PAMA-GL, DIRMA, PAMA-RF e DIRINT. Constam no seu curriculum cursos na área de Gestão pela Qualidade Total (São Paulo), Análise e Melhorias de Processos, docência na ENAP (Brasília - DF) e Curso de Auditoria (Recife - PE). Transferido para a reserva/reformado em 18/08/2008.

Page 89: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

82

Breno Caldas (ex-Aluno 76/810 BRENO) Breno da Silva Caldas Formou-se 3S Q AR em 14-07-1978 Serviu nas seguintes unidades: PAMB RJ; BACO no 1º/14º GAC; BAAN, no 1º GDA; BASM, no 5º/8º GAv e DIRMAB. Transferido para reserva em dezembro de 2008 como Suboficial.

Luizão (ex-Aluno 76/1132 DA ROSA) Antônio Luiz da Rosa Formou-se 3S Q AT PAV em 01/12/1979 Foi desligado em dezembro de 1976, prestou novo concurso EEAER em novembro de 1977 e reingressou na escola em janeiro de 1978. Serviu na Comissão de Aeroportos da Região Amazônica - COMARA (1980/1983 - 1987/1990 - 1998/2006), Base Aérea de Anápolis (1984/1987); COMARA-MANAUS (1983/1984); PAMA BELÉM (1990/1994); COMAR 5 (1994/1998 - 2007) Passou três anos prestando serviço na CAMARA Federal. É Arbitro de Futebol de Salão da Federação Gaúcha. Foi Assessor de Comunicação Social da COMARA. Passou para reserva remunerada em março de 2007 e reformado em agosto de 2013.

Domingues (ex-Aluno 76/1101 EDSON) Jorge Edson Domingues Soares

Formou-se 3S Q AT BO em 14/07/1978

Serviu nas seguintes Unidades: Base Aérea de Santa Maria RS, Batalhão de Infantaria de

Aeronáutica, Quartel General do Quinto Comando Aéreo Regional, Base Aérea de

Canoas, Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo.

Fez o curso de Oficiais Especialistas de Aeronáutica.

Foi para reserva em 2008 como Capitão.

Junges (ex-Aluno 76/791 JUNGES) Sergio Luiz Junges

Formou-se 3S Q AT RA MR em 14/07/1978

Serviu na Base Aérea de Anápolis (1ª ALADA) de 1978 a 1985, e na Base Aérea de Canoas,

de 1985 a 1986

Cursou Geologia na UNISINOS de 1988 a 1993

Mestrado em Geologia pela UnB em 1998

Trabalhou no laboratório de Geocronologia da UnB de 1988 a 2010 e no laboratório de

Geocronologia da UFRGS de 2010 a 2014.

Transferido para a reserva/reformado em 1986.

Macedo (ex-Aluno 76/ 825 MACEDO) José Carlos de Macedo da Silva

Formou-se 3S Q AT MO em 14/07/1978

Serviu na Base Aérea de São Paulo, 1º/10º GAV - Santa Maria (RS). Base Aérea do Galeão

no 1º/1º GT (Esquadrão Gordo).

Fez viagens internacionais para ANTÁRTICA, ARGENTINA e FRANÇA.

Transferido para a reserva em 2014.

Page 90: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

83

Molina (ex-Aluno 76/1109 MOLINA) Daniel Marcio Molina Formou-se 3S Q AT BO em 14/07/1978 Serviu nas seguintes Unidades: CATRE (Natal - RN), HFAG (RJ), BASP (SP), BASV (Salvador - BA) e BARF (Recife - PE) Cursou as faculdades de matemática e pedagogia. Lecionou muitos anos e em 2014/2015 foi diretor escolar.

Morais (ex-Aluno 76/828 MORAIS) Paulo Gilmar Scherer de Morais Formou-se 3S Q AT MAV em 14/07/1978 Serviu nas seguintes Unidades: Academia da Força Aérea (1978 a 1982, 1992 a 1996, 2003 a 2006 e 2009); Base Aérea de Santa Maria (1983 a 1991); e Base Aérea de Canoas (1997 a 2002) Cumpriu missão de dois anos no exterior (Santa Cruz de La Sierra - Bolívia) desempenhou a função de Auxiliar do Assessor de Ensino no “Colégio Militar de Aviación” (COLMILAV), de 2007 a 2008 Atuou nas seguintes aeronaves: T-23 Uirapuru, T-25 Universal, T-27 Tucano, AT-26 Xavante e C-95 Bandeirante. Transferido para a reserva em 2009

Nelson Anaia (ex-Aluno 76/755 ANAIA) Nelson Francisco Anaia Formou-se 3S Q AT DI em 14/07/1978 Serviu nas seguintes Unidades: Academia de Força Aérea, Centro Tecnológico de Aeronáutica e 1º/ 11º Grupo de Aviação Cursou Engenharia Civil em São José dos Campos-SP em Especializou-se em pintura com ênfase na Arte Aeronáutica, tendo pintado até hoje cerca de 400 obras, grande parte delas compondo o acervo de inúmeras Unidades da FAB. Premiado em vários concursos no Brasil e no exterior, teve a honra de fazer parte da ilustração de vários painéis das turmas da EEAer. Transferido para a reserva em nov/2005, e reformado em fev/2014.

Nelson Reis (ex-Aluno 76/934 N. FILHO) Nelson Rodrigues dos Reis Filho Formou-se 3S Q AT MAV em 14/07/1978. Serviu nas seguintes Unidades: Academia de Força Aérea, Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos, Comissão de Estudos da Infraestrutura Aeronáutica e Instituto de Aviação Civil. Formado em Engenharia de Agrimensura pela Faculdade de Engenharia de Agrimensura de Pirassununga - SP. Mestre em Engenharia de Transportes pela COPPE/UFRJ e atualmente fazendo doutorado em Engenharia Civil no Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Transferido para a reserva não remunerada em maio de 1991.

Page 91: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta

84

Piccoli (ex-Aluno 76/1042 PICCOLI) José Márcio Piccoli

Formou-se 3S Q EA AL em 14/07/1978 Serviu: PAMA SP – PAMA GL - DIRMAB - ECEMAR. Transferido para RR em 01/08/2005. Trabalhou em PTTC no período de 05/01/2006 a 31/07/2013.

Torres (ex-Aluno 76/803 TORRES) Paulo Roberto Torres Pinheiro Formou-se 3S Q EA AL em 14-07-1978 Serviu na Prefeitura de Aeronáutica dos Afonsos e no Instituto de Aviação Civil. Formado em Engenharia Civil pela Faculdades Reunidas Nuno Lisboa e Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Aeroportos pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Transferido para reserva remunerada em 2003.

Trigueiro (ex-Aluno 76/864 TRIGUEIRO) Eduardo dos Santos Trigueiro Formou-se 3S Q IG FI em 14/07/1978 Serviu nas seguintes Unidades: QG do IV COMAR, QG do III COMAR, QG do II COMAR e DIRAP Formado em Gestão Estratégica de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas em 2005 Admitido no Quadro Suplementar da Ordem do Mérito Aeronáutico, grau de Cavaleiro, por decreto de outubro de 2011 Transferido para a reserva em dezembro de 2011 Capitão R/1, atua como Chefe da Seção de Pessoal, em regime de prestação de tarefa por tempo certo, no Batalhão de Infantaria da Aeronáutica Especial de Recife.

Page 92: MEMORIAS DA TURMA 169 26 06 - veteranoseear.org · preparando para servir ao Brasil com nossas atividades profissionais na FAB, dando suporte para manter as asas altaneiras desta