Memória e otimização cognitiva

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  • 8/8/2019 Memria e otimizao cognitiva

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    A manuteno da eficcia cognitiva no envelhecer constitui-se em uma condio diferencial dequalidade de vida e de preservao da autonomia. Embora possa ser freqente a observao dedeclnio cognitivo entre idosos, no podemos concluir que isso seja inevitvel ou inerente aoprocesso de envelhecimento. necessrio abordar esta questo sob uma perspectiva dinmica emque se considere a ao de intrincados e numerosos fatores que atuam na vida do homem.

    O desenvolvimento da inteligncia humana ocorre ao longo de todo o curso de vida sob a ao defatores genticos e epigenticos. Implica em ganhos e perdas, preponderando os ganhos na infnciae as perdas na velhice. O processo multifuncional e multidirecional, de tal forma que as diferentesfunes/ capacidades evoluem em ritmos e direes muito prprios, fazendo com que as diferenasindividuais tendam a se ampliar com o avanar da idade.

    No envelhecimento saudvel, apesar de existirem mudanas tais como a diminuio na velocidade

    de processamento das informaes, o esperado que a mente permanea apta aprendizagem,mantendo-se capaz de se adaptar aos estmulos. Contudo, ainda no temos sido capazes deproporcionar um envelhecimento saudvel maior parte da populao. As mudanas biolgicasassociadas ao envelhecimento tornam o indivduo mais frgil e, assim, propenso a doenas quepodem atuar direta ou indiretamente, comprometendo suas capacidades cognitivas.

    Por outro lado, um nmero cada vez maior de idosos no mundo expressa vitalidade cognitiva, dentreestes alguns centenrios que se tornam exemplos de que possvel manter um alto padro dedesempenho (Fillit, 2002). Essas observaes propiciam uma perspectiva de preveno, ao sugerirque o declnio cognitivo possa ser evitado mesmo em idade avanada. Um grande nmero depesquisas na dcada de 1990 analisou a influncia de variveis relacionadas ao estilo de vida econdies de sade sobre o desempenho cognitivo. Nos ltimos anos, tm sido identificados fatoresde risco para declnio cognitivo potencialmente reversveis (Fillit, 2002; Anstey, 2004). Estes achadosse somam s produes no campo da Psicologia do Envelhecimento e s descobertas em

    Neurocincia e fornecem uma slida base conceitual para o desenvolvimento de intervenes deotimizao cognitiva para idosos.

    A Memria no envelhecimento

    A memria uma complexa funo mental que proporciona ao ser humano uma capacidadeextraordinria de adaptao ao meio ambiente. Somos o que somos, em grande parte, em razo daexpresso de nossa memria celular gentica , aliada s aprendizagens advindas dos diferentesmomentos de nossas vidas, conscientes e no conscientes, que se encontram arquivadas em nossosistemas de memria. A perspectiva de perda de memria , portanto, algo assustador, j que trazem si o temor perda da prpria identidade. Quando associada ao processo de envelhecimento,per odo em que se espera maior vulnerabilidade f sica e maior risco de comprometimento daautonomia, essa perspectiva pode ser devastadora.

    So esperadas mudanas sutis na cognio no envelhecimento saudvel.Porm, a memriaapresenta peculiaridades que a torna mais suscet vel ao de fatores que promovem suaineficcia. A partir dos 40 anos podem ser observadas pequenas mudanas na memria que tendema se ampliar com o tempo. O modo com que o indiv duo lida com essa questo interpretaes,encaminhamentos , suas condies de sade e seu estilo de vida interferem sobremaneira naevoluo de seu desempenho. Por outro lado, existe uma capacidade cognitiva de reserva que podeser mobilizada para a manuteno ou aprimoramento do desempenho mnmico e global em qualqueetapa do curso de vida. Contudo, essa capacidade de reserva ou plasticidade cognitiva menorquanto maior a idade e encontra-se marcadamente comprometida nos processosneurodegenerativos (Calero, 2004). Esta observao tem sido utilizada como um parmetro de

    Memria e otimizao cognitivaTania Guerreiro

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    avaliao, diagnstico e prognstico de transtornos cognitivos. O trabalho de otimizao cognitiva aomobilizar as capacidades de reserva oferece condies especiais para se inferir a plasticidadecognitiva, por exemplo, ao observar a aprendizagem de uma lista de palavras a partir do uso demnemotcnicas.

    Normalidade e transtornos cognitivos

    O conceito de cognio normal pouco preciso, havendo vrias possveis definies. Destacam-se,no entanto, dois grupos de idosos que so classificados como normais. O primeiro formado porindivduos hgidos que vivenciam o que denominamosenvelhecimento bem-sucedido. Um nmeroainda pequeno de idosos compe este grupo e apresenta resultados semelhantesaos adultos jovensnos testes neuropsicolgicos. O segundo o grupo do tpico idoso, constitudo por indivduos queapresentam co-morbidades, e obtm nos testes um desempenho de at 1dp inferior mdia doadulto jovem. O termo AAMI (Crook,1986) - age-associated memory impairment(prejuzo cognitivoassociado ao envelhecimento) utilizado para denominar as mudanas ocorridas na cognio noenvelhecimento normal ( segundo grupo).

    A compreenso dos transtornos cognitivos que afetam os idosos considerada hoje uma prioridadenas pesquisas nesse campo. Estudos tm demonstrado que indivduos portadores de prejuzocognitivo leve - MCI - mild cognitive impairment (Petersen, 2001) apresentam maior risco de evoluirpara demncia. Desse modo, h grande interesse no desenvolvimento de intervenes de carter

    preventivo para esse grupo.

    Otimizao Cognitiva A experincia da Oficina da Memria

    A otimizao cognitiva (Guerreiro, 2001) se baseia na concepo da teoria de curso de vida dapsicologia do envelhecimento e comporta a noo de potencialidades e limites. Visa conquista deuma renovada condio de equilbrio entre perdas e ganhos para a manuteno da eficciacognitiva. O trabalho desenvolvido na Oficina da Memria possui uma abordagem terico-vivencialque prioriza a assimilao de conhecimentos metacognitivos e relativos a cuidados de sade, almda estimulao de funes mentais, tais como a cognio, o afeto, a criatividade e a motivao. Aotimizao cognitiva se d a partir dos mecanismos de Seleo, Otimizao, Compensao eAutomatizao; da aquisio de conhecimentos metacognitivos; da construo de novas estratgiascognitivas e da melhoria das condies de sade. Existem cursos e eventos com formataesdistintas, definidas a partir do perfil dos participantes (nvel de escolaridade; condies de sade;status cognitivo; interesses, etc.)

    A Otimizao Cognitiva, ao intervir a partir de uma abordagem multifatorial, vem se revelando comoum caminho de preveno e adiamento do declnio em atividades crticas do cotidiano, favorecendo amanuteno da autonomia e conquista de melhor qualidade de vida no envelhecimento.

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