MEIOS, IMAGINÁRIO, SOCIEDADE DE CONSUMO E O OLHAR...

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1 Tema MEIOS, IMAGINÁRIO, SOCIEDADE DE CONSUMO E O OLHAR DESENCANTADO PARA O MUNDO Aula dada por Maria do Socorro M. Freire de Carvalho [email protected] 26 de julho de 2011 Universidade Anhembi Morumbi

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Tema MEIOS, IMAGINÁRIO, SOCIEDADE DE CONSUMO E O OLHAR DESENCANTADO PARA O MUNDO Aula dada por Maria do Socorro M. Freire de Carvalho [email protected] 26 de julho de 2011 Universidade Anhembi Morumbi

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• Resumo:

• Serão considerados autores que se preocupam com a diluição do universo mítico acentuada pela sociedade industrial capitalista,para tanto, discutiremos as implicações disso para o homem contemporâneo.

• Evidenciaremos os estudos feitos por Malena Contrera, em seu livro Mediosfera – Meios, imaginário e desencantamento do mundo, ressaltando a maneira como o fenômeno do consumismo tem contribuído para que os elementos do imaginário cultural coletivo percam sentido, reduzindo-se, muitas vezes, a uma mercadoria.

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• Para atingir tal finalidade, faremos um pequeno contraponto com as sociedades anteriores à sociedade capitalista, como a civilização grega antiga, em que o pensamento mítico era a forma de explicação do mundo .

• O sistema religioso grego baseava-se no politeísmo e panteísmo, o que permitia ao homem viver a experiência do divino a partir de seu contato com a natureza. Nesse sentido, a experiência religiosa passava por uma ligação íntima entre o homem e a natureza.

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Com o advento do capitalismo, o monoteísmo ganha força, o que,seria um dos motivos que explicaria o desencantamento do mundo. Conforme demonstra Max Weber, em A ética protestante e o espírito do capitalismo, o monoteísmo apresenta uma força centralizadora, ao pregar um Deus único, o que vai ao encontro da ideologia capitalista, que reforça o individualismo. Esse Deus não está na natureza, mas em outra esfera, o que faz com que o homem na atualidade se desvincule cada vez mais do ambiente natural que o circunda em busca da experiência com o divino. Esta é a principal causa desse desencantamento.

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• Comunicação e desencantamento

• Contrera relacionará a questão do desencantamento trabalhado por Weber com a noção de Noosfera proposta por Morin.

• Noosfera ( do grego: noos = mente – alma, espírito, pensamento, conciência, - e sphera = corpo limitado por uma superfície redonda) é uma palavra que representa a camada psíquica nascida da noogênese, que cresce e envolve nosso planeta acima da Biosfera ( camada formada pela multidão de seres vivos, que cobre a superfície do globo).

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• Sobre a noosfera e o desencantamento do mundo

• As últimas décadas do século XX e a primeira década do século XXI trouxeram a esse desencantamento uma dimensão que requer uma considerável atenção, especialmente quando a dinâmica sociedade industrial/ capitalismo teve e tem como seu aliado e viabilizador, todo um aparato mediático eletrônico que encontrou, especialmente desde a implantação da televisão no Ocidente, meios efetivos para fazer triunfar o que Weber chamaria de o espírito do capitalismo, ênfase dada aqui para a palavra “espírito”, por se tratar de uma construção da noosfera, como propomos adiante. (Contrera, 2010, p.26).

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• Essa questão apresentada por Weber e por pesquisadores da sua obra aproxima-se das teorias propostas por Edgard Morin no que tange aos estudos do Imaginário mediático – Noosfera. A autora dando suporte à sua teoria, apoia-se no seguinte trecho em que E. Morin (1992: 101) apresenta a noosfera:

• “ As Representações, os símbolos, mitos, idéias, são englobadas simultaneamente pelas noções de cultura e de Noosfera. Sob o ponto de vista da cultura, constituem a sua memória, os seus saberes, os seus programas, as suas crenças, os seus valores, as suas normas. Sob o ponto de vista da Noosfera, são entidades feitas de substância espiritual e dotada de certa existência. Saída das próprias interrogações que tecem a cultura de uma sociedade, a Noosfera emerge como uma realidade objetiva, dispondo de uma relativa autonomia e povoada de entidade que vamos chamar de seres do espírito”.

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• Racionalidade e racionalização

• Em seus estudos sobre a sociologia das religiões, M. Weber aponta para a evidência de que o processo de racionalização da visão de mundo foi responsável pela passagem de uma religiosidade mágica a uma religiosidade ética.(...). (Contrera, 2010, p.38)

• Esse tipo de nova racionalidade (melhor seria dizer racionalização) proposta pelas religiões éticas se distingue das formas de racionalidade anteriores, e para entender esse processo talvez seja importante recorrer à proposta que E. Morin que faz de distinção entre racionalidade e racionalização (esta última referente às religiões éticas), não por acaso relacionando a racionalização exatamente ao modelo mecanicista de pensar o mundo.

• (...) A racionalização é fechada, a racionalidade é aberta, a racionalização se crê racional porque constitui um sistema lógico, fundamentado na dedução e indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se a contestação de argumentos e verificação empírica(...) ( Apud: Contrera, Malena Segura. Mediosfera-Meios, Imaginário e Desencantamento do Mundo, 2010,p.38).

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• Uma cultura do excesso

• Desencantar a natureza, expulsar dela os Deuses, é uma decorrência do pensamento racional, gerando abismos, de modo a não conseguir construir pontes. Para a autora, esse abismo contemporâneo denomina-se: êxtase. Em virtude do excesso, típica da era industrial capitalista, o êxtase passa ser a resposta do homem contemporâneo a este vazio e ao desaparecimento do objeto que o seduziu.

• O êxtase era um meio para a ampliação da consciência ou para a comunicação com os deuses (exemplo: xamanismo), e não um fim em si mesmo. O êxtase não era como nos dias atuais, uma prática de divertimento ou busca do prazer individual.(Contrera, Malena Segura. Mediosfera- Meios, Imaginário e desencantamento do mundo. São Paulo: Annablume, 2010, p 53).

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• Por que propor a existência de uma Mediosfera?

• Ao pensar na Mediosfera, como sendo parte da Noosfera, um núcleo no centro desta, que cresceu e inflou titanicamente, de modo a vampirizar aos poucos a energia dos outros conteúdos da Noosfera, pressionando os limites da primeira por dentro, Contrera faz analogia com um tumor e diz que esta pode ser de mau gosto, mas fica bem claro e real.

• A mediosfera vai, gradativamente, inflando e roubando de outros núcleos do imaginário cultural seu poder de centralização dos olhares.(Contrera, Malena Segura, 2010, Annablume, São Paulo, p. 57,58).

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• As imagens exógenas, as que vemos nos ambientes urbanos, nas grandes metrópoles, seja nos ambientes virtuais, na televisão, à telefonia, consomem uma considerável parte do nosso tempo e atenção, e estas são alimentos do nosso processo imaginativo e aqui a autora cita Baitello Júnior:

• “Como alimento das imagens é o olhar é um gesto do corpo, transformamos o corpo em alimento do mundo das imagens, refiro-me aqui a um dos tipos de iconofagia” possíveis (...). A redução do corpo a “observador daObservação “é o testemunho mais potente de um processo de perda da propriocepção (o sentido do corpo para a percepção de si mesmo).

• (BAITELLO JÚNIOR, Norval. A era da Iconofagia, Ensaios de Comunicação e Cultura – São Paulo – Ed Hacker, 2005, p. 86).

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• Com a proliferação das imagens exógenas, como citado acima nos consumindo e absorvendo, nos esquecemos e damos pouca atenção às imagens endógenas. Gastamos uma boa parte da nossa energia no celular, na TV, no facebook, e o tempo que dedicamos ao devaneio, ao ócio, à contemplação, à meditação, à yoga, à dança, ao que realmente nos dá prazer (....).

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• A sociedade da emissão e o esvaziamento do sentido

• o século XX e a primeira década do século XXI têm sido cenários de multiplicação das emissões. A sociedade da emissão e também da histeria, onde há transbordamentos de discursos, exemplo: os blogs, onde as pessoas apenas encenam papéis, verdadeiros atores, sem almas, abrigam infinitas simulações onde o espetáculo não pode parar.

• A sociedade da emissão faz com que as imagens que os homens fazem de si mesmos seja o seu novo capital, nesse processo mais do que a produção de si, o que vemos é a transformação do ‘SI MESMO’em capital de giro.

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• TECNOLOGIA E AUTO-REFERÊNCIA

• A questão do sentido: a crise das competências simbólicas

• Uma das questões centrais de desencantamento do mundo, conforme apresentado por Weber, é a da crise da magia, a qual se refere ao processo pelo qual as coisas concretas deixaram de participar da esfera do sagrado, por terem se tornado produtos mercantis.

• Os meios de comunicação, como blogs, twitters, etc., evidenciam o esvaziamento da dimensão simbólica da linguagem, havendo uma coisificação da palavra.

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• IMAGEM - DEPOIS DA DESSACRALIZAÇÃO , A BANALIDADE.

• Para Hobbes, o homem em seu estado natural é essencialmente violento. Em Girard, a violência é ritualística, já para Edgar Morin é fruto do medo da morte, e para Cyrulnik, matar passa a ser um acontecimento talvez fundador da humanidade.

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• Depois do voyeurismo, a banalidade da mídia

• O erótico perde o seu valor na sociedade do espetáculo, onde a banalidade dos Reality Shows e outros espaços televisivos, que a mediosfera propõe, ganham espaço na sociedade contemporânea.

• Mono-imagem e patriarcado

• No que diz respeito às religiões, o Islamismo e o Protestantismo são as que mais crescem no Mundo e no Brasil respectivamente isso porque coincidem com a visão desincorporadora que a ideologia capitalista possui. (Max Weber) .

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• Na Contemporaneidade, a produção da indústria da imagem tem sido tão ou mais predatória quanto a produção industrial que lhe antecedeu. Ilusão pensarmos em alguma sustentabilidade desta sociedade.

• O consumo desenfreado, como diz Baumann, passa a ser de fato a doença da alma, pulsão suicida da espécie (...). A noção de patriarcado vem se desmoronando, cai a figura do pai – cai a figura do chefe – cai a figura do estado, enfim, cai a figura da autoridade social, não parece mais o poder simbólico suficiente para conter a neo-barbárie que vemos no crime organizado, no terrorismo (...)

A crescente busca por comunidades virtuais ou concretas tem sido a saída para o homem contemporâneo, para o resgate de um senso de participação possível. Por isso, o sucesso das redes sociais da internet, e também o sucesso das igrejas neo-pentecostais.

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• Partindo desse pressuposto: como é possível propor práticas comunicativas partindo de uma visão tão mecanicista e racionalista de comunicação, voltada mais para o mercado de consumo tecnológico do que para a complexidade da alma humana?

• Assim, é relevante colocar em evidência questões como afeto, silêncio, e vínculo.

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Referêncial Bibliográfico

• Referencial Bibliográfico

• BAITELLO jr., N. A era da iconofagia, ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker, 2005.

• _____________A Serpente, a maçã e o holograma. São Paulo: Paulos, 2010.

• BAUMAN, Z. Amor Líquido: Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

• _____________Comunidade, a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

• _____________Vida para consumo, a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

• ________________ Comunidade, a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

• Referencial Bibliográfico

• BAITELLO jr., N. A era da iconofagia, ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker, 2005.

• _____________A Serpente, a maçã e o holograma. São Paulo: Paulos, 2010.

• BAUMAN, Z. Amor Líquido: Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

• _____________Comunidade, a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

• _____________Vida para consumo, a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

• ________________ Comunidade, a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

• BAUDRILLARD, J. As estratégias fatais. Rio de Janeiro, Rocco, 1996. • _____________O sistema dos objetos. São Paulo, Perspectiva, 2006. • CONTRERA, M, S. Mídia e pânico – saturação da informação, violência e crise cultural na mídia.

São Paulo, Annablume, 2002. • • CYRULNIK, B. Do sexto sentido. Lisboa: Inst. Piaget, 1999. • ____________O murmúrio dos fantasmas. São Paulo, Martins Fontes, 2005. • • DOWLEY, TIM. Trad. Cipolla,Marcelo Brandão. Os Cristãos Uma História Ilustrada. Martins Fontes

Ed. São Paulo, 2009.

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• _______________O Método 5- A humanidade da humanidade, a identidade humana.trad. Juremir Machado da Silva, Porto Alegre, 2007.

• • • MORIN, E. O Método 4- As Idéias. trad. Juremir Machado da Silva, Porto Alegre, Sulina 1998. • _________. Cultura de Massas no Século XX, Volume 2: Edição Brasileira de O Espírito do Tempo,

trad. Agenor Soares Santos - Forense Universitária, Rio Janeiro – 2009. • • ____________. Cultura e Barbárie Européias, trad. Daniela Cerdeira, - Bertrand Brasil, Rio de

Janeiro, 2009. • • ______________Introdução ao Pensamento Complexo, trad. Eliane Lisboa, Editora Sulina, Porto

Alegre, 2007. • • MAFFESOLI M. O Tempo das Tribos. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2006. • • WEBER, Max. Sociologia das Religiões; trad; Cláudio J. A. Rodrigues, 1. Edição, Ícone, São Paulo,

2010. •