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Matéria: literatura Assunto: modernismo - guimarães rosa Prof. IBIRÁ

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A PROSA REGIONALJOÃO GUIMARÃES ROSA (1908-1967)

Obras:

Contos: Saragana (1946); Primeiras estórias (1962); Tutaméia (1967); Estas estórias (1969);

Novelas: Corpo de baile (Manuelão e Miguilim; No Urubuquaquá do Pinhém; Noites do Sertão (1956)

Romance: Grande Sertão: Veredas (1956)

Ao contrário da maioria dos escritores brasileiros que se lançam na literatura muito jovens sem a suficiente maturidade temática e estilística Guimarães Rosa estreou na literatura aos trinta e oito anos, em 1946. O seu livro de estreia era de contos: Saragana.

Havia contos fortes e belos como A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrês, porém o autor não foi entendido. O universo incorporado a sua ficção parecia estranho para o público urbano. Aquele Sertão de jagunços e bichos, dominado por visões e conceitos arcaicos, distante dos valores capitalistas do litoral, tinha algo de complicado. Fora isso, havia a questão da linguagem: durante os seus anos de médico, o futuro escritor recolhera um extraordinário linguajar que ficara imune ás mudanças ocorridas na língua portuguesa falada nas regiões mais modernas do país. Era um linguajar imobilizado no tempo.

Disso resultaria o seguinte:

Linguajar + Recriação = LinguagemSertanejo + Estilística = revolucionária

Linguajar sertanejo + descrição estilística = linguagem revolucionária

A escrita do autor está cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopeias, inversões, novas construções sintáticas, etc. Observe, por exemplo, o inicio de Grande Sertão: Veredas:

“Nonada. Tiros que o senhor ouviu foi de uma briga de homem, não Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, deste mal em minha mocidade. Daí vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos que nem ser-se viu e com máscara de cachorro. Me disseram: eu não quis avistar.

Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feita pessoa. Cara de gente; cara de cão; determinaram - era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem For. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente - depois então se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o Sertão.”

A linguagem é genial, mas Riobaldo julga-se incapaz de dominar as palavras e dar sentido á sua história:

“Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que tem certas coisas passadas de fazer balance, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos. Uns com os outros acho que nem não se misturaram. Contar

Literatura

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seguido, alinhavando, só mesmo sendo coisas de rara importância. O senhor foi bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. O senhor mesmo sabe; e se não sabe, me entende. Toda saudade é uma espécie de velhice.”

A prosa se aproxima da poesia:

“A gente essas tristezas... O Senhor sabe que o silêncio é? É a gente mesmo, demais.”

A temática da “jagunçagem” e a prosa inovadora atingiram seu apogeu com o Grande Sertão: Veredas. O romance estabelece o jogo dialético do presente e do passado. Assim:

Plano presente

O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, narra a história de sua vida para um “doutor” da cidade. O “doutor” nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em solilóquio. Ao lado das reminiscências, Riobaldo, no presente, formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do bem x mal, a presença real ou fictícia do demônio, etc.

Plano passado

São as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza uma longa travessia pelo sertão mineiro. É uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando, com cheiros, vozes, bichos, guerras e selvagerias. Numa espécie de “banalidade do mal”, os bandos armados se exterminam a mando dos grandes latifundiários. Mas como o “sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente”, esta travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com os outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará o processo do amor. O segundo, força demoníaca, invocará o ódio, o sangue e a perfídia.

O Realismo Mágico

O terceiro estágio da travessia origina-se de um tipo de consciência mítica (Riobaldo – jagunço). O primeiro tipo de consciência comum aos indígenas e aos povos do interior brasileiro e da América Latina explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico, os fenômenos indicam locais de potências superiores á razão: diabos, lobisomens, mortos, etc. O segundo tipo de consciência desenvolvida pelo capitalismo, interpreta o mundo a partir de sua maternidade concreta. À medida que a modernidade avança, o mítico tende a ser dissolvido. Assim, no romance, o diabo é um protagonista fundamental, no plano do passado, dentro do universo sacralizado onde se movem os jagunços. Já no plano do presente, Riobaldo, convertido em fazendeiro, próximo da civilização capitalista, duvida da viabilidade do demônio, recusando a visão mágica da juventude.

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