Materialidade, Gestão e Serviço · dra. ana Beatriz Pereira de andrade (unesP) dr. andré Luiz...

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Materialidade, Gestão e Serviço ORGANIZADORAS Marizilda dos Santos Menezes Mônica Moura

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  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio i

    Materialidade, Gesto e Servio

    ORGANIZADORASMarizilda dos Santos Menezes

    Mnica Moura

  • Rumos da Pesquisa no design ContemPoRneo:

    Materialidade,

    Gesto e servio

    oRganizao

    marizilda dos santos menezes

    mnica moura

    2013

  • ruMos da Pesquisa no desiGn ConteMPorneo: Materialidade, Gesto e servio

    Copyright 2013, todos os direitos de reproduo estao das Letras e Cores Ltda.

    Rumos da pesquisa no design contemporneo: materialidade, gesto e servios (e-book)/. marizilda dos santos menezes; monica moura. so Paulo, sP: estao das Letras e Cores editora Ltda., 2013.

    322 p. isBn. 978-85-60166-81-7 1. Pesquisa em design. 2. design Contemporneo. 3. estudos em design. 4.design e

    pesquisa cientfica.Cdd

    CooRdenao e oRganizao editoRiaL marizilda dos santos menezes (Profa. dra.) e mnica moura (Profa. dra.)

    CaPa, PRojeto e PRoduo gRfiCajoo marcelo Ribeiro soares e Rodrigo Holdschip

    Conselho editorial da Coleo ruMos do desiGn ConteMPorneo

    dr. aguinaldo dos santos (ufPR)dra. alice Cybis Pereira (ufsC)

    dra. ana Beatriz Pereira de andrade (unesP)dr. andr Luiz Battaiola (ufPR)

    dr. andr Pinho de santos de Pinho (ufRn)dr. andr soares monat ueRj)dr. Carlo franzato (unisinos)

    dr. Carlos de salles (ufma)dra. Cassia Leticia C. domiciano (unesP)

    dr. denilson moreira santos (ufma)dr. eugenio merino (ufsC)

    dr. fbio Parode (unisinos)dr. fabio gonalves teixeira (ufRgs)

    dra. ftima aparecida dos santos (unB)dr. filipe Campelo Xavier da Costa (unisinos)

    dr. galdenoro Botura junior (unesP)dra. gisela Belluzzo de Campos (uam)

    dr. jairo jos drummond Cmara (uemg)dr. jos Carlos Plcido da silva (unesP)

    dr. joo eduardo Chagas sobral (uniViLLe)dr. joo eduardo guarnetti dos santos (unesP)

    dr. jos guilherme santa Rosa (ufRn)dr. joo Roberto gomes de faria (unesP)

    dr. Leonardo Castilho (ufPe)dra. Ligia maria sampaio de medeiros (ueRj)

    dra. Lucy niemeyer (ueRj)dr. Luis Carlos Paschoarelli (unesP)dr. Luiz fernando goncalves (ufsC)dra. Luisa Paraguai (uam)dr. joo fernando marar (unesP)dra. maria antonia Benutti (unesP)dra. marizilda dos santos menezes (unesP)dr. marcelo soares (ufPe)dr. marco antonio Rossi (unesP)dra. maria Regina lvares Correia dias (uemg)dra. marli teresinha everling (uniViLLe)dra. mnica moura (unesP)dra. monique Vandressen (udesC)dr. murilo scoz (udesC)dr. nilton gonalves gamba junior (PuC-Rio)dr. olmpio jos Pinheiro (unesP)dra. Paula da Cruz Landim (unesP)dr. Raimundo Lopes diniz (ufma)dr. Roberto alcarria do nascimento (unesP)dra. Rachel zuanon (uam)dra. sebastiana Luiza Braganca Lana (uemg)dra. taciana de Lima Burgos (ufRn)dr. Vinicius gadis Ribeiro (uniRitteR)dra. Virginia tiradentes souto (unB)dra. zoy anastassakis (ueRj)

    estao das letras e Cores editora ltda.Rua Cardoso de almeida, 788 Conj. 144CeP 05013-001 Perdizes so Paulo sP

    tel.: (11) 4191-8183 | e-mail: [email protected]

    aPoio

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    ApresentAo

    O estabelecimento do Design como campo de pesquisa cientfica recente em nosso pas, embora possa ser obser-vado o avano expressivo deste campo nos ltimos vinte anos pautado principalmente pela estreita relao entre en-sino e pesquisa. Vivenciamos nas ltimas dcadas um cres-cente nmero dos cursos de graduao e a implantao e consolidao dos programas de ps-graduao em Design no Brasil que foram propulsores da produo cientfica e, consequentemente, atuaram diretamente na ampliao da produo bibliogrfica deste campo de conhecimento.

    O fato de o design estar ao nosso redor e em tudo com o que nos relacionamos exige e intensifica a necessidade da pesquisa e do desenvolvimento do conhecimento cientfico a esse respeito.

    Na contemporaneidade o design se caracteriza como um campo plural e complexo, disseminado a partir das reflexes, anlises, crticas, discusses e revelaes que s a pesquisa cientfica traz no caminho da constituio de novos saberes, na construo do conhecimento e na ampli-tude da epistemologia.

    a soma de novos pensamentos e atitudes mediante a prtica cientfica que abre novos caminhos que levam ex-perimentao de novos processos e mtodos, bem como a novos sistemas de comercializao, de comunicao e di-vulgao, de formao e aperfeioamento, resultando na

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    consolidao da rea e no fortalecimento de bases slidas que visem a um futuro melhor para a sociedade por meio da ao de pesquisa, questo fundamental na construo do conhecimento, na vida e na cultura contempornea.

    Pensar e elaborar novos processos que visem melho-ria da qualidade de vida das pessoas, do ambiente, das re-laes e dos objetos s se tornar realidade e ser possvel se desenvolvermos a capacidade criadora por meio da ao no pensamento reflexivo e crtico que a pesquisa cientfica nos possibilita. Devemos aproveitar o campo aberto e plu-ral do design na contemporaneidade para gerar e produzir conhecimentos, o que s ser possvel pelo estabelecimento de dilogos ricos e profundos no caminho da construo do conhecimento e da cincia.

    Nesse sentido, a coleo Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo abre espao para as produes desenvol-vidas com base nas pesquisas realizadas nos programas de ps-graduao em Design brasileiros a respeito das rela-es entre Tecnologia e Humanidades; Materialidade, Ges-to e Servios; Insero Social. A reunio destes textos a partir destes enfoques permite discutir a atual situao da pesquisa e ps-graduao em Design no Brasil, bem como estabelecer dilogos e gerar novas discusses, descobrir futuras perspectivas, apontar diferentes e novos caminhos pelos quais o design contemporneo envereda.

    O presente volume, Materialidade, Gesto e Servios, rene textos com questionamentos, reflexes, experincias e propostas desenvolvidas com base em pesquisas no cam-

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    po do design que estabelecem intensa troca de saberes com outros campos de conhecimento, visando contribuio para a sociedade e para o meio ambiente.

    A Materialidade discutida e pesquisada para en-contrar solues mais viveis aos processos produtivos em sintonia com o nosso tempo. Os textos apresentados trazem anlises, avaliaes e simulaes para as futuras implementaes. Tratam a respeito do bambu laminado colado e suas contribuies para o design de mobilirio; do gesso com adio de terras de diatomceas na inds-tria de imagens sacras; do processo de compostagem uti-lizando desenho paramtrico; e das proeminncias da inovao e criatividade a partir dos materiais e processos industriais tendo como objeto de estudo as cadeiras Tho-net, Wassily e Cellular.

    A Gesto aqui abordada e apresentada a partir do envolvimento e da ao do design como elemento de di-ferenciao competitiva na implementao de polticas e programas, no desenvolvimento de melhores estratgias, na conscientizao ou construo de valores, da inovao e da qualidade. Nesse sentido, os textos apresentados tratam a respeito da gesto de design dirigida ao planejamento e comunicao dos empreendimentos econmicos solid-rios; da insero do design na cadeia de valor de arranjos produtivos locais no segmento de gemas e joias; e das rela-es entre design grfico e branding para a criao e gesto de marcas no cenrio da sustentabilidade.

    A questo dos Servios e o design de servios indicam

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    a prpria desmaterializao do design ou o chamado de-sign imaterial que atua no sentido da busca de solues que equacionem e resolvam problemas do nosso tempo, bem como das relaes e interaes sociais, no desenvolvimen-to de novos modelos de servios e de plataformas de ao, visando melhoria e qualidade de vida das pessoas. Os textos reunidos expem reflexes sobre o escopo da rea design de servios; sobre o ensino do design de servios a partir do relato de experincias em ferramentas na fase conceitual; o desenvolvimento de conceitos para servios por meio do objeto mgico; e a atuao de uma equipe de neuroergodesign em busca da melhoria da qualidade de vida e da re-insero social.

    Este volume tambm rene captulos com textos que inter-relacionam os trs enfoques, em que materialidade, gesto e servios so apresentados e discutidos de forma integrada a partir de relaes simblicas, identitrias, emocionais e sustentveis. Assim, temos a ao do signo do videojquei: leituras diagramticas de relaes entre maquinrio e humanidades; a anlise da figura feminina como elemento simblico da marca Brahma; o design emo-cional e os objetos de desejo da marca Melissa plastic dre-ams; as relaes entre moda e mobilirio; o design, a iden-tidade e a cultura material em suas relaes possveis com o territrio; o design, a sustentabilidade e a modelagem na criao de produtos de moda; e as discusses sobre os no-vos rumos do design para a formao de uma mentalidade ecolgica e o desenvolvimento do Brasil.

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    Esperamos que a reunio destes textos propicie leituras e experincias significativas para os leitores, constituindo novos saberes sobre os rumos da pesquisa no design con-temporneo.

    Marizilda dos Santos Menezes e Mnica MouraOrganizadoras

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    sumrio

    1. aPResentao .................................................................................V

    2. a ao do signo do Videojquei: LeituRas diagRamtiCas de ReLaes entRe maquinRio e Humanidades ...................................................................................1

    3. anLise do PRoCesso ConstRutiVo BamBu Laminado CoLado: ContRiBuies PaRa o design de moBiLiRio 22

    4. aVaLiao do gesso Com adio de teRRas de diatomCeas na indstRia de imagens saCRas ..........42

    5. CadeiRas tHonet, WassiLY e CeLLuLaR: PRoeminnCias da inoVao e CRiatiVidade a PaRtiR dos mateRiais e PRoCessos industRiais .............................................................56

    6. CeRVeja & muLHeR: anLise da figuRa feminina Como eLemento simBLiCo da maRCa BRaHma .......................71

    7. o design emoCionaL e os oBjetos de desejo: meLissa PLastiC dReams ............................................................................ 88

    8. design gRfiCo e BRanding: a CRiao e gesto de maRCas no CenRio da sustentaBiLidade ................... 103

    9. design PaRa seRVios: RefLeXes soBRe o esCoPo da Rea .................................................................................................. 120

    10. design, identidade e CuLtuRa mateRiaL: ReLaes PossVeis Com o teRRitRio .................................................. 140

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    11. design, sustentaBiLidade e modeLagem na CRiao de PRodutos de moda ...................................................................159

    12. disseRtaes de mestRado do PPgdesign-unesP e suas CaRaCteRstiCas: um PanoRama ............................176

    13. a gesto de design diRigida ao PLanejamento e ComuniCao dos emPReendimentos eConmiCos soLidRios ..................................................................................... 190

    14. gemas e joias: a inseRo do design na Cadeia de VaLoR de aRRanjos PRodutiVos LoCais ....................... 207

    15. moda e moBiLiRio: uma foRte tendnCia .................. 226

    16. neuRoeRgodesign: equiPe PLuRidisCiPLinaR na Pesquisa & desenVoLVimento Com Vistas meLHoRia da quaLidade de Vida e Re-inseRo soCiaL .......................241

    17. noVos Rumos do design estRatgiCo PaRa a foRmao de uma mentaLidade eCoLgiCa e o desenVoLVimento do BRasiL. ............................................. 249

    18. o oBjeto mgiCo aPLiCado ao desenVoLVimento de ConCeitos PaRa seRVios e disPositiVos mVeis ..... 269

    19. simuLao do PRoCesso de ComPostagem utiLizando desenHo PaRamtRiCo............................................................ 288

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    A AO DO SIGNO DO VIDEOJQUEI: LEITURAS DIAGRAMTICAS DE RELAES

    ENTRE MAQUINRIO E HUMANIDADES

    Miguel Luiz Contani, Dr. ([email protected])

    Guilherme Henrique de Oliveira Cestari, Mestrando

    UniversiDaDe estaDUaL De LOnDrina

    Com foco em processos sintticos, cognitivos e de ra-ciocnio diagramtico, este trabalho apresenta uma forma de leitura das interaes entre teoria semitica - e produo audiovisual performtica, campo de atuao do qual o videojquei (VJ) representante expressivo. O vi-deojquei articula estmulos luminosos, visuais e sonoros de modo a constituir uma performance: ao projetar, dina-micamente, colagens e abstraes em grandes telas e/ou em fachadas arquitetnicas, prope cartografias ldicas, intervm no espao urbano para recombin-lo. Interaes entre teoria peirceana e universo das performances vide-ogrficas podem trazer contribuies para a competncia de ler imagens. O trabalho do VJ , tambm, cognitivo: ele utiliza tecnologias eletrnicas e digitais para experimentar

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    e criar esquemas de fruio sensorial; em sua apresenta-o, as relaes entre aparelho e homem funcionam como uma mente fervilhante de ideias e de aprendizado. Cultu-ras eletrnicas de performance e vdeo se desenvolvem no mago da cidade; de interpenetraes e sobreposies digi-tais emergem singularidades, modelos ambivalentes de en-tretimento, criao, fruio e formas de pensar: h volio e mutabilidade no trabalho do VJ. Apesar de a lide do per-former com as imagens permear-se de improviso, sries de planejamentos e sistematizaes fazem-se indispensveis para realizao da apresentao: invariavelmente, existe uma demanda a ser atendida pelo show; por exemplo, ao frequentar o ambiente do VJ, cada integrante da audincia nutre, sua maneira, uma expectativa com relao expe-rincia a ser ali conformada.

    O VJ compe uma obra aberta, rege conjuntos de apa-relhos e valores para descobrir e sintetizar sintaxes hbri-das em constante formulao e reformulao. A imagem na tela , tambm, resultado do funcionamento continuado de um modelo sistemtico que permite articulao, mistura e sintonia entre padres sonoros, figurativos e luminosos. Nas imagens e nos espaos em que o VJ atua, estmulos sensoriais combinam-se vertiginosamente, adquirindo, assim, valncias e efeitos bastante peculiares, entre eles: carnavalizao, euforia, transe, delrio, fantasia, catarse e emotividade aflorada. A ao do signo sobre o pblico se-dutora, gil e enleante. O signo na tela influi na conduta de homens e mulheres; a imerso orienta o pensamento. Em

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    sua complexidade, o pblico produz e comporta-se como signo, uma vez que determina usos, aplicaes e desdobra-mentos para outros signos; da mesma forma, suas condu-tas so determinadas pela incorporao de signos at ento externos; o homem-signo adquire/incorpora informao e passa a significar mais do que significava antes; assim como palavras, sons e imagens (CP5, 313). Para Zellweger (1982, p.17-18), estudos em design, engenharia e cincia da informao - que sistematizam criao e dinmica dos signos podem permitir que nos familiarizemos progressi-vamente com os processos mentais constituintes da prtica criativa: H, portanto, uma engenharia dos processos de representao do ser-humano-signo!

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    Quadro 1: resumo da proposta deste artigo.

    Quadro-resumo

    Pergunta-problema Objetivo geral Objetivos especficos

    Que tipos de dilogo podem acontecer entre

    cultura audiovisual performtica urbana e

    a noo de signo?

    Promover e explorar interaes

    entre processos codificadores da

    imagem e as dinmicas peculiares encontradas

    nos ambientes influenciados pelo VJ.

    (i) apurar caractersticas recorrentes na apresentao do VJ para situ-la como processo que envolve raciocnio diagramtico e planejamento, apesar do carter de improviso e deentretimento implcito na atividade;

    (ii) identificar e descrever algumas contexturas do vdeo e da performance no ambiente urbano;

    (iii) apresentar signo e semiose como processos contnuos, onipresentes, complementares e autossimilares;

    (iv) Descrever um modelo diagramtico que explique os tipos de semiose identificveis na ao do VJ.

    (Fonte: elaborado pelo autor)

    Ocupaes urbanas do VJ

    A metrpole trama que suscita encontros , ali se conjugam e se reformulam conhecimentos; vdeo e perfor-

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    mance constituem recursos expressivos que permitem que a cidade reconhea a si prpria em suas alteraes. O vdeo ajuda a mapear as mutaes que, vagantes, percorrem as estruturas urbansticas. A cmera permite que a urbe flo-resa ao olhar, que suas caractersticas adquiram, por meio de cortes, efeitos, projees e manipulaes videogrficas, poesia. A projeo performtica audiovisual-luminosa , por vezes, utilizada para excitar latncias, incentivar bus-cas pelo gozo, por viagens prazerosas, por fruies trans-cendentais. Dos aspectos passionais e efervescentes do en-tretenimento no se destacam somente desdobramentos estticos, mas tambm ticos e lgicos.

    O pensamento de estar perdido imps-se ento, a mim, mais do que como uma deciso: como um abandono quase aderente ao fluir das emoes. (CANEVACCI, 1990, p.14). Na disperso e no desencontro desapressados, a cidade se deixa observar; perder-se transitar emocionalmente entre confins polifnicos, explorar e identificar cruzamentos, problemas, poesias e personalidades na urbe. Perder-se abrir-se, surpreender-se, admirar, intervir e conjecturar; tambm desvendar cdigos sem deixar de traduzir, rein-terpretar e recodificar. Desenraizamento e estranhamento permitem atingir novas possiblidades cognitivas rumo a cartografias da cidade.

    O vdeo formato pululante, fervilhante, formigante; conduz, recorrentemente, fundies eletrnicas entre esti-los, vises e territrios. gil, sedutor e passional, o vdeo insinua-se jovial e publicitariamente; desperta, transfigu-

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    ra e geometriza desejos. Para Canevacci (1997, p.22-23), a vista (landscape) metropolitana impregna-se de padres eletrnicos reprodutveis e insistentes, convertendo-se em paisagem videogrfica (videoscape). Tais estmulos expan-dem-se sobre corpos, territrios e construes: roupas, ros-tos, olhares, comportamentos, arquiteturas e tecnologias contaminam-se da presena ininterrupta do vdeo, incor-porando-a (1990, p.44). Nos lugares da cidade, onde publi-cidade e entretimento confundem-se e arraigam-se, o v-deo, capilarizado e hiperbolizado, pode estar a caminho de se tornar, durante uma performance audiovisual qualquer, uma espcie de firmamento, sustentculo atual da unidade delirante msica-dana-sexo.

    A ao do signo

    Distinguir articulao e projeo de vdeos em tempo real como legtima produtora de conhecimentos, estmulos e insumos para o funcionamento de uma mente permite que a atividade tenha seus limites ainda mais expandidos e complexificados. O VJ modifica suas condutas de acordo com estmulos externos; adqua suas intervenes confor-me as respostas que lhe so direcionadas; altera o rumo da apresentao, escolhe, improvisa e aprende, contnua e evo-lutivamente, na medida em que lhe vo sendo apresentadas novas situaes. Como difusor de um tipo especial e catr-tico de entretenimento, o VJing (a ao do VJ) tem gran-des chances de suscitar e catalisar ludicidades nas mentes e

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    condutas dos participantes. As imagens do VJ mexem com instinto e com noes de bom senso; o desenrolar da per-formance videogrfica alinear, tremeluzente e desencon-trado e, apesar disso, acontece em sucessivas evolues.

    Primeiridade, secundidade e terceiridade so as condi-es elementares s quais a teoria dos signos est integral-mente sujeita (CP8, 328; CP5, 66). Tanto categorias quanto nmeros so unidades de unificao sntese - de varieda-des mltiplas; as categorias referem-se, respectivamente, a qualidade, relao, representao. Primeiridade o modo de ser daquilo que tal como sem referncia a nenhum outro, sem partes ou seccionamentos (CP1, 25). Secundida-de o modo de ser daquilo que em relao a outro, mas sem observar ou vincular-se a qualquer terceiro, conexo didica que diz respeito a um propsito (CP1, 532). Tercei-ridade o modo de ser daquilo que em relao a outro de maneira que a relao s se efetiva pela mediao de um terceiro, qualquer relao representacional s pode emer-gir da terceiridade (CP1, 26). Terceiridade implica secun-didade que envolve primeiridade. [...] o acaso est para a primeiridade assim como a fora bruta do inconsciente e do real esto para a secundidade e o autocontrole para a terceiridade. (SANTAELLA, 1992, p.126). A mera ou ca-sual sobreposio de dois, trs ou mais componentes no constitui, necessariamente, duplas ou trades genunas, para identific-las faz-se necessria ateno s relaes e s complementaridades entre os elementos.

    Signo padro, arranjo, estrutura lgica, ligao geral

  • 8 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    entre trs termos irredutivelmente mediados e conecta-dos. A ideia de manifestao a ideia de signo; um signo algo, A, que denota designa - um fato ou objeto B para um pensamento do interpretante C (CP1, 346). Por semio-se, entende-se a ao ou influncia que ou envolve uma cooperao entre trs temas, tais como o signo, seu objeto e seu interpretante; uma relao tri-parente que no pode ser resumida em pares (EP2: 411). Na semiose a funo dos ele-mentos pode se alterar conforme a perspectiva adotada. Se-miose a ao do signo, cadeia relacional interpretativa ad infinitum em que os signos combinam-se e, gerativamente, fazem-se objetos (determinam) e interpretantes (so deter-minados) mediante outros signos. Determinao, para Peirce, possui sentidos complementares: um causal (din-mico) e um lgico (formal). A percepo mais abrangente que a cognio; competncias perceptivas, resultados de esforos interpretativos, permitem leituras e identifica-es mais apuradas. O estabelecimento de crenas cada vez mais requintadas objetivo de qualquer indagao ou processo racional; para pensar necessrio deslocar-se no tempo; significado e pensamento residem em padres de comportamento. A semiose fenmeno evolutivo que pode ser observado e, portanto, diagramado.

    Um virtual algo que faz vezes de, que, em determi-nado contexto, tende equivalncia a outro. Um X virtu-al (em que X seja um substantivo comum) algo que no da natureza de X e que possua a eficincia (causa, validade, legitimidade, virtus) de X. O termo vem sendo confundido

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    com potencial, quase seu contrrio; X potencial da na-tureza de X, porm, sem sua eficincia efetiva e atual (CP6, 372). Qualquer processo representativo exige, em maior ou menor grau, algo () que est para outro (); portanto, em todo processo sgnico h virtualidade.

    Por meio do signo, mundo interior e mundo exterior se interseccionam: a linguagem medeia relaes entre mente e matria, entre psquico e fsico (SANTAELLA, 1992, p.104). A semiose peirciana prev universalmente dois momentos complementares: a ao didica: mecnica, eficiente, de causao e existncia irracional, fora bruta que se refere a uma incorporao emergente de um conjunto combinat-rio de qualidades-potencialidades positivas confluentes; e a ao tridica: inteligente, representacional, sgnica, respal-da-se na interdependncia levando em conta leis ou regras como poderes vivos, geradores de autonomia. Por meio do funcionamento autossimilar destas aes, o universo ten-de a adquirir novos hbitos. Onde quer que haja tendncia para aprender, processos autocorretivos, mudanas de h-bito, onde quer que haja ao guiada por um propsito, a haver inteligncia, esteja onde estiver [...] (SANTAELLA, 1992, p.79).

    O pragmaticismo peirciano pressupe que uma mente, ao deparar-se com uma experincia, interioriza-a, adap-tando-se, estabelecendo costumes, mapeando seu modo de lidar com o mundo e adequando suas futuras condu-tas a possveis circunstncias e convenincias semelhantes. Toda a experincia um confronto, e s dele tomamos

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    conscincia. (SILVEIRA, 2007, p.98). Tudo o que ou pode ser perceptvel e cognoscvel, apenas o por suas relaes; sistemas de signos lidam com relaes. A disposio-dia-gramao visual e grfica de um sistema convm porque, alm de tornar simultaneidades perceptveis, opera por meio de correlaes de semelhana organizacional. Os gra-fos existenciais so fundamentos da sintaxe diagramtica, representaes bidimensionais nodais que podem tender configurao rizomtica. Reproduzir e projetar relaes ge-omtrica, algbrica e matematicamente (por meio de pon-tos, linhas e entrecruzamentos, por exemplo), tornando-as visveis, contribui para a observao de algumas faces e comportamentos inerentes e suscitados por um fenmeno.

    Da produo e evoluo de diagramas

    O Diagrama, estrutura formal desenvolvida com base na experincia e no aprendizado, sempre passvel de aperfeioamento. Seu grau de especificidade e codificao relaciona-se com a necessidade que uma mente possui de apropriar-se do fenmeno real referido no Diagrama. O Diagrama uma imagem mais ou menos codificada da Re-alidade: sem ele, impossvel a existncia, pois no h codi-ficao e organizao. Quanto mais analtico e detalhado, mais parcial e especfico ser o Diagrama. A Realidade pura inconcebvel, infinita e contgua. O Diagrama diz respeito a um recorte especfico e pontual do Real, problematiza e limita o mundo Real para torn-lo acessvel, compreensvel.

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    Esta burocratizao da Realidade inerente ao ser. Fatos em estado bruto no significam, a partir do momento em que so apreendidos adquirem um potencial de represen-tao, este potencial varia de acordo com as experincias, memrias e com o aparato sensorial do receptor.

    [...] a construo de diagramas um recurso instru-mental cuja vantagem conferir a necessria materialidade a um pensamento, ideia ou percepo. Trata-se de tir-los do estado fugidio inicial e preparar-lhes as formas para as sucessivas converses. (PANICHI e CONTANI, 2003, p.55). A diagramao - manejo e composio de sistemas, cones e tradues visuais que faam ver as operaes presentes nas estruturas de mente e signo procedimento que per-mite aplicao e experimentao de conceitos ligados te-oria lgica dos signos. As relaes formais internas de um diagrama representam, por meio de um tipo particular de semelhana, as relaes de um sistema externo, indepen-dente do diagrama. As relaes entre as partes de um dia-grama (ou hipocone diagramtico) mostram-se anlogas s relaes entre as partes do referente (CP2, 277).

    Em meio a tramas de singularidades, o design pode ser vetor multipolar, sensvel e flexvel para a soluo de pro-blemas. A inciativa projetual presume uma abrangncia participativa, constitui-se em uma esfera que exige postura altrusta dos participantes. Nada se constri sem colabo-rao. A atuao do design atividade mobilizadora por-que pensamento e expresso projetual , como no poderia deixar de ser, comunga, polui-se convenientemente, com

  • 12 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    histria, moda, arquitetura, lingustica, poesia ou qual-quer tipo de arte, interveno e manifestao expressiva. Potencialidades de representao latejam em qualquer ma-nifestao formal que, invariavelmente sujeita a inmeros tipos de leitura e significao, perspectiva-se e subjetiva-se ao projetar-se no contnuo movimento histrico e social. A guisa da influncia cultural, poltica e econmica, uma interferncia sempre mutvel, seus padres so sempre recalculveis, nunca estticos. O inacabamento sobrevive nas possiblidades catalisando movimentaes coletivas. Ao existirem em contextos humanos, forma, diagrama e arte-fato revelam, no contato com o olhar, uma dinamicidade intrnseca. O ato de projetar se encarrega da materializao de fluxos e cruzamentos cognitivos; submetido a esta con-dio, o raciocnio social transfigura-se continuamente por meio do lido com a cultura material. Diante da atividade criativa, o repertrio emprico engrandece.

    Design e VJing no e para o mundo complexo no preci-sam sair em busca de frmulas para a inovao, so muito mais entusiastas da experimentao, exploram a experin-cia cotidiana em busca de releituras, adaptaes e solues conjuntas e integradas; ao designer e o VJ so incumbidas programaes de correspondncias, sugestes de associa-es empricas, proposies de transferncias psquicas de valor. Admite-se, portanto, a existncia de densidade poti-ca tanto no resultado quanto no processo projetual.

    A rede metfora do tempo; cidades, corpos, mquinas, memrias, identidades, estilos e instituies so pensados

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 13

    de acordo com este conceito, por si s, mltiplo e ambguo. Convm ao designer, como projetista, usurio e reconfigu-rador de bens, ideias e ideais, considerar, num exerccio de reflexo e criao, as possveis variaes de tramas que se dizem e pretendem complexas. O ponto de vista influi so-bre identidade, e vice-versa. O repertrio contamina o re-ferente nos processos de significao e rememorao. Da profuso de temporalidades que converge, geralmente sob a forma de produto desejo - mercadolgico, em direo ao sujeito contemporneo, brotam colagens identitrias. Ape-sar da impresso catica que temos, primeira vista, dos sistemas em rede, estes resultam da sobreposio e mes-cla de efetivas polticas organizacionais, atuaes celulares sem as quais a rede se desmantelaria, colapsaria em pouco tempo (CARDOSO, 2012, p. 67).

    A ao projetual e mental dos signos do VJ

    O perptuo transitar da mente entre criaes-fruies sgnicas acontece de modo varivel e alternante; constitui-se, ento, um ciclo virtuoso: a Realidade em movimento mostra--se ponto de partida para a generao arbitrria, contnua e colaborativa, por meio da semiose, da verdade em movimen-to; simultaneamente, verdades prvias, obtidas por meio de estgios semiticos anteriores, embasam recortes percepti-vos pontuais da Realidade. As caractersticas particulares de cada semiose variam de acordo com o propsito que as guia; as semioses so to variadas quanto so as formas de vida e

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    de outros sistemas auto-organizativos (SANTAELLA, 1992, p.113). A Figura 1 delineia as principais diretrizes para uma esquematizao-sintetizao da ao do signo no ambiente do VJ. Crculos (polgonos regulares de infinitos lados) pre-tendem fazer ver o carter cclico, dinmico, multifacetado e expansivo da atuao em busca da Verdade, esta que n grdio e desafio ltimo da investigao emprico-cognitiva. A sobreposio entre tons de verde exprime a transio gra-dual entre aes do signo contempladas nas categorias pri-meiridade, secundidade e terceiridade; os limites demarca-dos so meramente didticos e ilustrativos.

    O crculo relativo primeiridade est mais prximo Realidade, enquanto secundidade e terceiridade constituem formas cada vez mais distantes da Realidade e, portanto, modelos confluentes Verdade, cada vez mais habituais e convencionados. O signo representado como uma esp-cie de ponte ou cinturo que, passando por primeiridade, secundidade e terceiridade, medeia, num movimento in-terdependente, Realidade e Verdade. Num diagrama como este, pode haver incontveis cintures partindo de todas as direes, podem, inclusive, estar sobrepostos. Cada signo mediando singularmente, tecendo parcialmente relaes entre Realidade e Verdade, operando trocas de acordo com critrios e aspectos lgicos prprios e particulares. O dia-grama busca exprimir a natureza simultaneamente tridi-ca (primeiridade - secundidade - terceiridade) e dialgica (Realidade 1 Verdade) de todo e qualquer signo.

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 15

    Figura 1: signo como mediador entre realidade e verdade.

    (Fonte: elaborado pelo autor)

    Como uma mente pode se mover entre os caminhos mos-trados na Figura 1? Mover-se no sentido de distribuir(-se), descobrir(-se) e decifrar(-se). A distribuio de funes en-tre a descoberta, sua decifrao e transmisso [e aplicao] flui, assim, numa continuidade espiralada. (SANTAELLA, 1992, p.117). Participar da semiose dedicar-se perdio com o intuito de aprender; perder-se para descobrir-se e para, logo em seguida, mudar-se em busca de novas des-cobertas. Qualquer soluo revela, virtualmente, caminhos para novos problemas; faz parte da semiose enveredar-se pelas trilhas incertas e criativas da boa provocao e da curiosidade. A semiose infindvel e imperfeita sucesso

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    de escolhas em que a vida busca autoconhecer-se; tran-sitar misteriosamente atravs de confins; e sempre ser apenas parcialmente descritvel e diagramvel. A Figura 2 pretende ilustrar alguns dos infinitos modelos de semiose, levando em conta a influncia do acaso, alm de eventuais degeneraes na constituio de cada uma delas.

    Acerca do processo criativo artstico, Panichi e Contani (2003, p.12) afirmam:

    Na ligao entre massa de lembranas [repertrio] co-locada a servio da experincia artstica, o movimento espiralado no sentido que essa massa de lembranas pro-duz uma modificao na experincia artstica do autor e essa mesma experincia artstica modificada pela massa de lembranas. Num nvel acima, como na imagem de uma espiral, parece voltar para o mesmo lugar pelo qual j pas-sou numa poca anterior. No entanto, ao faz-la, est numa situao modificada.

    Figura 2: alguns modelos de semiose.

    (Fonte: elaborado pelo autor)

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    Conforme procuram exprimir as extremidades ponti-lhadas das linhas na Figura 2, a continuidade espiralada no possui comeo nem fim, entremeio que flui segui-damente, de fora para dentro, do at ento meramente potencial em direo sempre aperfeiovel constituio arbitrria de regras e disposies interpretativas mais apuradas. No diagrama, o pontilhado representa uma su-presso indefinida no obrigatria, apenas possvel, ima-ginvel. No percurso caracolado, a mente revisita o mesmo signo diversas vezes, mas, a cada volta, seu olhar torna-se diferente, numa abordagem mais requintada, permitindo interpretaes, apreciaes e fruies mais sensveis. A Se-miose #1 exemplo padro, gradualmente generativa, sem intervenes bruscas. Na Semiose #2 imaginado um tipo de pensamento em que, em dado momento, estabelecido por certa frequncia fixa, acontece uma degenerao sbi-ta; nem por isso a mente deixa de tender ao centro, buscan-do a Verdade. A Semiose #3 inconstante, no parece ofe-recer nenhum padro para generao e degenerao, que acontecem, tambm, por acaso.

    Devido autossimilaridade - e consequente infinitude - inerente a ao sgnica, as Semioses #1, #2 e #3 podem, ainda, fazer parte de um mesmo pensamento, referindo--se apenas a estgios diferentes de uma nica ao mental (Figura 3). Como a semiose segue initerruptamente ad in-finitum, cabe ao pesquisador, ciente do recorte, estabelecer abrangncia, incio e fim de qualquer semiose por ele anali-sada (SANTAELLA, 1992, p.198-201); nos termos do VJing,

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    pode-se tomar como signo, por exemplo, apenas uma ima-gem vinculada em uma apresentao especfica, um con-junto de apresentaes algo como uma turn de shows -, ou ainda, abrangentemente, a cultura de entretenimento digital que permeia a vida metropolitana.

    Figura 3: Modelos de semiose aplicados em uma mesma ao mental.

    (Fonte: elaborado pelo autor)

    Algumas analogias fsicas podem ser empregadas para descrever simultaneidades que o conjunto de diagramas procura evidenciar: voltando a observar a Figura 1, a interao reverberante entre Realidade e Verdade que es-tabelece as diretrizes de trajeto a serem percorridas pelo intrprete em direo Verdade. Como uma pedra lanada

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    no lago contguo da Realidade, o ncleo-Verdade-em-mo-vimento produz, de dentro para fora, interferncias ondu-lares expansivas. Os crculos concntricos produzidos por um suposto encontro-choque entre Verdade e Realidade se espalham - de dentro para fora - produzindo linhas-guia para a mente explorar espiraladamente, de fora para dentro - a Realidade em direo Verdade. O movimento encaracolado Figuras 2 e 3 - sugere um intrprete orbi-tante; que ocupa espaos em torno da Verdade, sempre em direo a ela. O intrprete surfa entre as ondas produzi-das pelo impacto da Verdade na Realidade. Neste motor, a Realidade se impe e, ao ser parcialmente apreendida pelo intrprete, serve de impulso rumo Verdade (ao centro), alvo nico das atenes e intenes do intrprete.

    Observam-se, a, dois processos simultneos, comple-mentares e de sentido oposto: (i) sucessivos impactos entre Verdade em movimento e Realidade em movimento geram continuamente, de dentro para fora, crculos concntricos que agendaro a rota da semiose; (ii) a rota a ser percorrida por cada intrprete ser influenciada singularmente pelos crculos concntricos, ainda assim, tais rumos preservam caractersticas comuns, como espiralidade, infinitude, au-tossimilaridade e o fato de partirem de fora para dentro. Na semiose, caminhos so percorridos (ii, de fora para dentro) ao mesmo tempo em que so criados (i, de dentro para fora), num movimento cclico e evolutivo a se perder de vista.

    O carter da ao do signo comporta-se proporcional-mente s interferncias geradas pela conjuno lgica en-

  • 20 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    tre Realidade e Verdade; deste modo, obtm-se em termos matemticos: semiose (Realidade 1 Verdade). A proporo preservada na interao entre ambos de ordem direta, ou seja, ambos os elementos geram-se juntos mediante um fa-tor comum (o signo).

    Consideraes finais

    Considerando VJing e dinmicas imagticas urbanas, foi proposto, sob a tica de Peirce, um modelo diagram-tico eminentemente falvel e sempre aperfeiovel - que busca apontar alguns aspectos complexos dos processos de representao. Nos ambientes do VJ - lugares imersivos e, por vezes, convulsivos e hipnotizantes que privilegiam o pensamento fragmentado e combinatrio - fruio e cog-nio acontecem de modos heterodoxos. Os crculos con-cntricos e a espiral mostram-se promissores na diagra-mao de conceitos peirceanos. Imagem e figurao que acontecem por intermdio do aparelho e pipocam na tela irrompem-se em novos e mutantes tipos de subjetividade. Compondo tramas originais entre maquinrio e humani-dades, o VJ, com ajuda de princpios diagramticos, pro-move obras expressivas e projetuais que, em sua hibridez e incompletude, esto em contnua construo, colaborao, expanso e evoluo.

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    Referncias

    1. CANEVACCI, Massimo. Antropologia da comunicao visual. So Paulo: Bra-siliense, 1990.

    2. ______. A cidade polifnica: ensaio sobre a antropologia da comunicao urbana. So Paulo: Studio Nobel, 1997.

    3. CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. So Paulo: Cosac Naify, 2012.

    4. CP volume, pargrafo; HARTSHORNE, Charles; WEISS, Paul (eds); Collected pa-pers of Charles Sanders Peirce, vols. 1-6. Cambridge: Harvard University Press, 1931-1935.

    5. CP volume, pargrafo; BURKS, Arthur W. (ed.). Collected papers of Charles Sanders Peirce, vols. 7-8. Cambridge: Harvard University Press, 1958.

    6. EP volume: nmero da pgina; HOUSER, Nathan; KLOESEL, Christian (eds.). The Essential Peirce: selected philosophical writings, vol. 1 (1867-1893). Bloo-mington and Indianapolis: Indiana University Press, 1992.

    7. PANICHI, Edina; CONTANI, Miguel L. Pedro Nava e a construo do texto. Lon-drina: EDUEL; So Paulo: Ateli Editorial, 2003.

    8. SANTAELLA, Lucia. A assinatura das coisas: Peirce e a literatura. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992.

    9. SILVEIRA, Lauro F. B. da. Curso de semitica geral. So Paulo: Quartier Latin, 2007.

    10. ZELLWEGER, Shea. Sign creation and man-sign engineering. Semiotica, v.38, p.17-54, Jan. 1982.

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    ANLISE DO PROCESSO CONSTRUTIVO BAMBU LAMINADO COLADO: CONTRIBUIES

    PARA O DESIGN DE MOBILIRIO

    Rafaela Nunes Mendona, Mestranda ([email protected])

    Juliano Aparecido Pereira, Dr.

    Aline Teixeira de Souza, Ma.

    UNiveRSiDADe FeRDeRAl De UbeRlNDiA

    A sustentabilidade tem sido alvo de discusso em v-rias reas profissionais, no design no diferente. Hoje em dia, os aspectos sustentveis em um pro-jeto de design, so considerados de extrema necessidade. Pesquisas por novos materiais e estudos aprofundados so-bre todas as etapas do ciclo de vida um produto at seu des-carte, esto sempre em busca de inovaes que minimizem os impactos prejudiciais ao meio ambiente.

    Na produo de mobilirios, a sustentabilidade um as-pecto determinante. Pesquisadores e profissionais se envol-vem na gerao de alternativas para seus projetos a fim de amenizar impactos ambientais, como por exemplo, o uso excessivo da madeira.

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    Neste contexto, o bambu se enquadra perfeitamente por se tratar de um material renovvel, resistente e de rpido crescimento. Em muitos pases, o bambu tem representa-do uma fonte de renda, e sido utilizado como estruturas para residncias, papel, alimento, utenslios domsticos e mveis. Pesquisadores mostram que um material alter-nativo de grande potencial mecnico e qualidade esttica. No Brasil, ainda no muito utilizado pela inexistncia de uma organizao coerente, do processamento e produo em escala industrial e comercial. Essa deficincia, que aos poucos est sendo superada, motivo de dificuldade na disseminao do uso de derivados dessa matria prima, como o caso do laminado de bambu.

    Espera-se que, pesquisas, seus desenvolvimentos tcni-cos e avaliaes por meio de prottipos, alavanquem o uso dessa matria despertando o interesse das indstrias mo-veleiras no Brasil.

    1. Referencial terico

    1.1 O Bambu - alternativa ao uso excessivo da madeira

    A escassez de recursos naturais um fato preocupante da atualidade. Considerando que o design tem papel fundamen-tal na busca de novas tecnologias e recursos que minimizem os problemas socioambientais, o bambu surge como uma aceitvel opo, podendo representar uma alternativa ao ex-

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    cessivo uso da madeira. Seja na produo de revestimentos, objetos ou mveis, esta uma matria prima que apresenta grandes vantagens como, por exemplo, suas caractersticas fsicas e mecnicas, seu baixo custo e gasto de energia, seu crescimento rpido e sua facilidade de obteno.

    Sabe-se que o consumismo desenfreado uma das fon-tes do esgotamento de recursos naturais, e que o avano da tecnologia no ser capaz de recompor o meio ambiente. nesse contexto que o design vem sendo percebido cres-centemente como um meio fundamental para projetar o uso mais eficiente de recursos atravs do planejamento do consumo e da eliminao do desperdcio. Como as ame-aas ambientais advm do consumo indiscriminado de matrias-primas e do acmulo de materiais no degrad-veis descartados como lixo, ento o aperfeioamento de sis-temas de reciclagem e de reaproveitamento deve se tornar uma prioridade para o design em nvel industrial (DENIS, R.C. apud POLUCHA, WATANABE e FERNANDES, 2006).

    Percebe-se que gradativamente, o conhecimento atra-vs de estudos e pesquisas, desenvolvidas no pas, das van-tagens que o bambu proporciona, est alavancando a usa-bilidade desse material em diversos produtos.

    As caractersticas do bambu enquanto planta, suas no-tveis propriedades como material e sua crescente aplica-o no mundo indicam uma gama de utilizao com poten-cial para atender a um desenvolvimento que proporcione maior eqidade social, menor custo de produo, melhoria ao meio ambiente, aumento da qualidade de vida, gerao

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    de renda na propriedade agrcola e melhor produtividade da terra. (POLUCHA, WATANABE e FERNANDES, 2006).

    O Brasil um pas que oferece timas condies para o cultivo e desenvolvimento tecnolgico do bambu. Aqui, possvel encontrar uma das maiores diversidades de es-pcies. Segundo Filgueiras e Gonalves apud Barelli (2009) estudos apontam que existe no pas mais de 18 tipos de bambu que permitem um vasto campo de uso e grande po-tencial para industrializao, que so os bambus caracteri-zados como lenhosos.

    Em contra mo, observamos que ainda so raras, no nosso pas, normas especficas para a regularizao e uni-formizao dessas propriedades, sendo necessria a adap-tao das normas que regem o uso da madeira no processa-mento do bambu.

    Com base nos resultados obtidos das pesquisas sobre bambu durante as duas ltimas dcadas, em vrias par-tes do mundo, incluindo-se o Brasil, foi possvel criar as primeiras normas para tal utilizao. Sabendo que o co-nhecimento das normas importante no apenas para o uso seguro, mas tambm para a divulgao de um mate-rial, o INBAR (1999) - International Network for Bamboo and Rattan usou os resultados dessas pesquisas mundiais e props normas para a determinao das propriedades fsi-cas e mecnicas dos bambus. As normas propostas foram analisadas pelo ICBO International Conference of Buil-ding Officials e publicadas no relatrio AC 162: Acceptance

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    Criteria for Structural Bamboo, em maro de 2000 (ICBO, 2000). (GHAVAMI; MARINHO, [2006?])

    1.2 Bambu Laminado Colado (BLC)

    Alguns profissionais como, engenheiros, arquitetos e designers engajados em questes sociais e ecolgicas, in-teressados em pesquisas sobre novos materiais, apontam o bambu como material alternativo de grande potencial me-cnico e qualidade esttica, e defendem o uso do BLC em seus projetos a fim de aplicar novos conceitos ambientais aos produtos.

    No Brasil a deficincia em tecnologia para a fabricao do BLC existe, porm, vem sendo superada com estudos aprofundados de plantio, manejo, corte, tratamento do bambu vegetal e de suas potencialidades, alm da adap-tao de mquinas e normas aplicadas a madeira em pro-cessamentos do bambu e empresas, que reconheceram os benefcios do bambu e optaram por investir nessa ideia.

    A empresa LATIC (Laminados Taquaruu Indstria & Comrcio ME) especializada em confeccionar maquinrios para o processo de obteno de lminas de bambu, citada por Barelli (2009), est firmada no Brasil desde 2006 tendo como objetivo desenvolver mquinas e ferramentas indi-tas nas Amricas e com alto grau de segurana e tecnologia voltadas para a realidade brasileira. Ainda no que foi apre-sentado por Barelli (2009), em uma entrevista com o respon-svel pela empresa Edson Marques da Rocha, aponta que a

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    falta de conhecimento sobre a cadeia produtiva do bambu, causado pela ausncia histrica de uma cultura que obser-ve o bambu como alternativa vivel para a amenizao do uso da madeira, intensifica a ausncia de uma sistematizao para a produo do BLC e sua insero no mercado.

    1.3 Processo de obteno do BLC

    O processo de obteno do BLC comea desde a planta-o do vegetal e em sua colheita. o destino que se deseja para o bambu que determina a melhor fase para o corte, em geral entre 2 e 6 anos, segundo Lopez apud Gaion, Pascho-arelli e Pereira (data no informada), neste perodo que o bambu est no auge de sua resistncia mecnica.

    Aps a escolha e corte dos colmos necessrio que se faa a secagem, pois a seiva um atrativo para pestes, e principalmente o tratamento qumico, que mais efetivo no combate a fungos e insetos, e garante uma vida til pro-longada ao colmo. Ainda conforme Gaion, Paschoarelli e Pereira (data no informada), a utilizao do tratamento qumico o mtodo mais eficiente, consiste na imerso dos colmos de bambu depositados horizontalmente em um tanque com o defensivo qumico durante 12 horas. Em se-guida o colmo deve ser cortado transversalmente a fim de obter partes menores para serem seccionadas longitudinal-mente originando as chamadas taliscas.

    As taliscas recebem tratamento e so processadas de maneira que, a parte mais interna da cavidade do colmo

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    seja eliminada e uma fina camada da casca tambm, de acordo com Lapo e Beraldo (2008), essas camadas tem bai-xa aderncia aos adesivos. Aproveita-se ento, as camadas intermedirias prximas a casca, onde existe mais concen-trao de fibras, sendo, portanto, mais resistentes.

    Logo, na prxima etapa, deve ser feito o aplainamento e padronizao dessas ripas, at a espessura necessria para dar inicio a usinagem, a limpeza e preparao para cola-gem e por final a conformao.

    Assim como nos laminados de madeira, a contraposi-o perpendicular das fibras oferece garantia de resistncia maior pea, a justaposio vertical das linhas de cola de-vem ser evitadas, pois isso acarretaria um ponto de fragili-dade comprometedor resistncia da pea.

    1.4 Desenvolvimento de mveis com uso do BLC

    A situao encontrada hoje no Brasil, com relao produ-o de mobilirios compostos inteiramente de bambu lamina-do colado, se abrevia basicamente na confeco de prottipos.

    Constata-se que a maioria das produes e estudos de prottipos, desenvolvida em meios acadmicos, como por exemplo, o Laboratrio de Experimentao com Bambu da Unesp- Bauru, coordenado pelo Prof. Dr. Marco Antnio dos Reis Pereira.

    Com base nesses dados, sero apresentados exemplos de prottipos desenvolvidos com o prprio BLC e em con-traponto, uma linha de mobilirio desenvolvida no intuito

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 29

    de difundir o uso do BLC como produto final, cuja fabrica-o do prottipo foi realizada utilizando a madeira. A ex-posio desses exemplos servir de fomento para anlise e discusso, dos benefcios do uso do bambu como matria prima e alguns obstculos encontrados na gerao no s de prottipos, mas, de mobilirios como produto final, vol-tados para comercializao.

    2. Material e Mtodos

    Como o objetivo deste trabalho era apresentar caracte-rsticas da aplicao da tcnica construtiva BLC, foi esco-lhida como mtodo, a anlise de trs prottipos desenvol-vidos em universidades brasileiras, sendo: dois prottipos realizados com derivado do bambu, e um, empregando de-rivado da madeira. Utilizando como critrios: peso, dureza, resistncia, estabilidade, durabilidade, nmeros de maqui-nas envolvidas no processo, contato manual do operador, facilidade de corte, facilidade de unio de peas e facilidade de acabamento. Os critrios foram estabelecidos com base na reviso bibliogrfica da rea de materiais e processos industriais e design (LIMA, 2007; Manzini, 1993; Lefteri, 2009/2010).

    2.1 Objetos de anlise

    2.1.1 Prottipo 1: Cadeira de balano Este prottipo resultado do Projeto de Concluso do

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    Curso de Desenho Industrial desenvolvido na Unesp Bauru, realizado por Breno Giordano Bareli, Marco Ant-nio Pererira dos Reis e Paula da Cruz Landim.

    Segundo Barelli, Pereira e Landim (2006), o desenvol-vimento da cadeira de balano iniciou-se com estudos so-bre o bambu e seu processado, laminado, alm de vrias anlises de similares considerando caractersticas fsicas e histricas. Somente aps esses estudos, deu-se inicio a con-cepo formal do produto passando por croquis e modelos.

    Partindo de estudos com modelos entre formas cur-vas e retas, observou-se que a cadeira geraria uma melhor atuao no balano se fosse feita por uma pea nica que, consequentemente, deveria ser curvada e esse curvamento das lminas de bambu, s possvel atravs de confeco de moldes. Como a inteno da proposta de reduzir a ma-tria prima e evitar perdas de materiais, varias situaes foram avaliadas e estudas juntamente com o processo ergo-nmico do produto, o que ajudou para o desenvolvimento de novas formas. Estabelecido o modelo final, deu-se inicio ao processo de prototipagem que passa pela escolha da es-pcie mais adequada at a montagem da cadeira.

    De acordo com Barelli, Pereira e Landim (2008), no Laboratrio de Experimentao com Bambu da Unesp- Bauru, todo desenvolvimento de prottipos em BLC, se orientam pelo seguinte processo: desenvolve-se o projeto acompanhado de uma metodologia particular, gera-se um memorial descritivo especfico para tal produto e logo de-senhos tcnicos detalhados, a fim de guiar o plano do pro-

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    cesso de confeco de cada parte que compe o prottipo. Assim ento, se pode definir a quantidade e o tamanho do bambu a ser processado e transformado no produto final, evitando as perdas.

    Conforme descrito por Barelli, Pereira e Landim (2006), para essa cadeira, foi utilizado o bambu gigante, Dendro-calamus giganteus, processado em lminas que foram cola-das e prensadas de acordo com as peas que o projeto exigia. Algumas peas foram diferenciadas pelo tipo de colagem. A pea referente ao assento foi dada atravs da colagem la-teral das ripas, formando assim planos de laminado que posteriormente foram colados e prensados. A outra pea, o p que confere o balano, foi gerada atravs da colagem por sobreposio das ripas, dimensionadas e prensadas a partir de um molde feito de madeira. A finalizao se deu com a montagem, utilizando de meios como a colagem, prensa-gem e fixao por cavilhas de bambu.

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    Figura 1: Croqui da cadeira de balano.

    2.1.2 Prottipo 2: Mesa de Bambu laminado e vidro recicladoEste prottipo foi desenvolvido a fim de experimentar,

    aplicar e apresentar a possibilidade de se usar o bambu laminado colado como material para confeco de uma mesa, unida ao uso de vidro reciclado, tornando evidentes os conceitos de sustentabilidade. O trabalho foi desenvolvi-do por Fernanda S. Polucha, Hanna Lie Watanabe e Dulce Maria Paiva Fernandes, no curso de graduao em Design de Produto da Universidade Federal do Paran (UFPR).

    Para o desenvolvimento desse mvel, obteve-se uma vasta pesquisa sobre o bambu e os processos de fabricao do laminado, assim como o desempenho desse material laminado e sua aplicabilidade em mbito moveleiro. Se-gundo Polucha, Watanabe e Fernandes (2006), as etapas de construo das placas de laminado de bambu, seguiram o

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    processo descrito na tese de mestrado de Rivero (2003), ob-tendo assim o modelo contraplacado, com nmero mpar de camadas, a fim de que, alternando os sentidos das fi-bras, as camadas externas apresentem o mesmo sentido de orientao das fibras. No caminhar do processo, na etapa de colagem, percebeu-se que a porosidade da superfcie do bambu praticamente nula, diferentemente das madeiras. Ento, foi necessrio adicionar uma quantidade maior de gua mistura de cola.

    Aps o processo de colagem, seguido pela prensagem, foram obtidas as placas que seriam usadas na construo do mobilirio. Ainda segundo Polucha, Watanabe e Fer-nandes (2006), o produto trata de uma mesa que permite ao usurio, mont-la ora como mesa de centro, ora como mesa lateral com prateleiras para guardar objetos e ainda, aliada a funo de luminria.

    Figura 2: croqui da mesa montada nas opes de uso lateral e central.

    Ao final desse trabalho de gerao de prottipo, os re-

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    sultados observados por Polucha, Watanabe e Fernandes (2006), foram que, o bambu um excelente material para se aplicar na produo moveleira. Apresenta um bom de-sempenho esttico e estrutural, aceita bem os acessrios de fixao e apesar de o bambu ser uma matria prima bastan-te resistente, pode ainda assim ser trabalhado com maqui-nrios de marcenaria. Porm, observou-se maior desgaste em lminas e lixas, em comparao s madeiras, devido presena de slica em sua composio.

    Este ltimo item ressalta a necessidade de investir no de-senvolvimento de maquinrios especficos para essa produ-o, a exemplo de outros pases, o que colaboraria para a oti-mizao da produo do laminado de bambu no Brasil. Essa otimizao seria um fator determinante, para que os proces-sados de bambu atingissem nveis de produo comercial.

    2.1.3 Prottipo 3: Linha de mobilirio Poltrona e mdulos flexveisEste ltimo exemplo, trata da confeco dos prottipos

    de uma linha de mobilirio, elaborados para o trabalho de concluso do curso de graduao em Design, na Universi-dade Federal de Uberlndia (UFU). O desenvolvimento das pesquisas, que nortearam a gerao do projeto, foi cumpri-do por Rafaela Nunes Mendona e Juliano Aparecido Pe-reira. A construo execuo dos produtos foi realizada no Laboratrio de Modelos e Prottipos (LAMOP) da prpria instituio acadmica, sob a orientao do tcnico em mar-cenaria Fbio Reis Souza.

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 35

    O trabalho iniciou-se com o seguinte propsito: desenvol-ver uma linha de mobilirio utilizando como material prin-cipal o laminado de bambu, considerando as suas caracters-ticas ligadas ao tema da sustentabilidade em design. Assim como, contribuir com a difuso deste material, no que diz respeito ao uso e a viabilidade tcnica, econmica e social.

    Os primeiros mtodos tomados foram de obteno e avaliao de informaes sobre o desenvolvimento de pes-quisas, anlises e testes realizados em Universidades, bem como estudos de alguns prottipos tambm produzidos por estas instituies.

    Foram investigados, tambm, produtos inteiramente feitos de BLC, que j estivessem lanados no mercado bra-sileiro, como o caso do Banco Peque do designer Marko Brajovic. Sendo o nico exemplar encontrado, procura-ram-se todas as informaes possveis sobre o processo de criao e produo do produto. Em contato direto com o designer (Marko Brajovic) e o representante (Rafael Paoli-ni) da empresa TIVA Design, que confeccionou do produto, obtiveram-se as seguintes informaes: antes de produzir o produto, foram feitos vrios estudos em conjunto (desig-ner e fabricante), que confirmaram a capacidade mecnica e esttica do laminado de bambu para a fabricao do pro-duto. A idealizao do designer se tornou realidade, mas a empresa fabricante apontou como grande ponto negativo, o desgaste do maquinrio utilizado no processamento da madeira, que foi adaptado. Esse aspecto poderia ser resol-vido importando mquinas dos pases asiticos, que j tra-

  • 36 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    balham com o material, mas isso no se faz vivel para a empresa. Outra soluo que citaram, mas que tambm no interessante para a fbrica, seria de importar o laminado pronto desses pases.

    Com esses dados levantados e toda pesquisa elaborada, deu-se inicio a gerao dos aspectos formais que essa linha deveria apresentar, considerando o mximo aproveitamen-to do material e evitando as sobras, o que faz parte do car-ter sustentvel de um produto. Ao mesmo tempo, iniciou-se a busca pelo laminado avaliando, dentro das possibilidades e limitaes, se seria possvel produzir as chapas de lami-nado em conjunto com outras instituies acadmicas que j produziam esse tipo de material ou, a probabilidade de importar chapas disponveis no mercado.

    Devido s barreiras encontradas para se adquirir o ma-terial, e sabendo que a definio de prottipo reproduzir de maneira real as funes do objeto, mas no necessaria-mente, ser executado com os mesmos materiais que so indicados para a fabricao real, optou-se por utilizar no processo de fabricao das peas o laminado de madeira.

    Para tal, foi necessria a confeco de trs moldes feitos de MDF. Para a conformao em formas curvas, pesqui-sou-se um material que desencadearia menos tempo e me-nor custo na fabricao, assim como, maior facilidade de obteno atravs de compra. A melhor opo encontrada foi o compensado flexvel. Com esse material seria possvel dispensar o uso de um contramolde e tcnicas de confor-mao por aquecimento.

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 37

    Atravs do projeto e desenho tcnico, foram cortadas as chapas com as medidas corretas e a quantidade exata para cada parte que comporia o produto. Feito isso, iniciou-se o processo de colagem e amoldamento, com a cola ainda fresca. Passado o tempo de secagem, obteve-se a pea curva como almejado.

    Figura 3: Moldes e processo de conformao do laminado flexvel de madeira.

    Depois de receber o acabamento final, feito por aplica-

  • 38 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    o de frmica, deu-se inicio a etapa de montagem dos pro-dutos. Para essa fase foram usados mtodos de fixao por cola, cavilhas e parafusos, dobradias e peas de encaixe desenvolvidas especialmente para o produto. As figuras se-guintes mostram os mdulos produzidos e suas peas para encaixe, e o conjunto com a poltrona de brao.

    Figura 4: Mdulos e seus encaixes.

    Figura 5: Prottipo finalizado e montado conforme uma das opes de uso.

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 39

    3. Sntese dos resultados

    Tabela 1: Sntese dos resultados da anlise dos prottipos.

    Sntese dos resultados da anlise dos prottipos

    Critrios Prottipo 1 Prottipo 2 Prottipo 3

    MaterialLaminado de

    bambu Bambu Gigante

    Vidro reciclado e laminado de

    bambu Bambu Giagante

    Compensado flexvel de madeira

    Sumama

    Obteno do material

    Colheita e processamento da

    matria-prima

    Colheita e processamento da

    matria-primaCompra

    Tcnica

    Colagem, prensagem, curvamento

    por prensagem em molde e

    contramolde

    Colagem e prensagem

    Colagem, prensagem e

    curvamento por amoldamento

    Estabilidade Alta Alta Alta

    Dureza Alta (contm alto teor de slica)Alta (contm alto

    teor de slica) Satisfatria

    Resistncia Alta Alta Alta

    Maquinrio de processamento

    Adaptado ao material

    Adaptado ao material Especfico

    Contato manual do operador

    Integral (desde o processamento da

    matria- prima)

    Integral (desde o processamento da

    matria- prima)

    Parcial (a partir da confeco do

    molde para o produto final)

    Facilidade de corte

    Possvel, porm h desgaste maior

    das lminas da mquina

    Possvel, porm h desgaste maior

    das lminas da mquina

    Aceitao total ao corte

    Facilidade de acabamento Boa aceitao Boa aceitao Boa aceitao

    Processo ambientalmente

    limpoIntegral Integral Parcial

  • 40 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    3. Discusso e Consideraes finais

    A apresentao de estudos cientficos e tcnicos acerca do desenvolvimento de mobilirios feitos a partir do bam-bu, como matria prima, refora a viabilidade e a propos-ta de design inovador, apresentando esse material em al-ternativa ao uso da madeira, para esse tipo de produo. Percebe-se que a produo de mveis, feitos inteiramente de BLC, mais ocorrente em mbito acadmico, com uma produo basicamente artesanal e ainda assim, poucas unidades educacionais dispem de meios facilitadores para tais estudos. J se pode notar tambm, aos poucos, sinais de interesse na produo comercial de artefatos compostos inteiramente por esse material, e que o grande empecilho para que isso ocorra hoje, no Brasil, a ausncia de uma sistematizao completa para esse ciclo produtivo.

    Neste sentido, a colaborao cientfica e o desenvolvi-mento de prottipos so fundamentais para a incorporao mais efetiva, do uso bambu e seus processados, nas inds-trias e mercados moveleiros nacionais.

    Referncias

    1. LEFTERI, Chris. Como se faz: 82 tcnicas de fabricao para design de produ-tos. So Paulo: Blucher, 2009. 240 p.

    2. LIMA, Luis Antonio Magalhes. Introduo aos materiais e processos indus-triais para designers. Rio de Janeiro: Cincia Moderna, 2007. 225 p.

    3. MANZINI, Ezio. A matria da inveno. Porto: Centro Portugus de Design, 1993. 223 p.

    4. POLUCHA, Fernanda S.; WATANABE, Hanna Lie; PAIVA, Dulce Mmaria. Design

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 41

    para sustentabilidade: bambu laminado e vidro reciclado na produo de mveis. 7 Congresso Brasileiro de Pesquisa & Desenvolvimento em Design, Paran, p. 1-12, 2006.

    5. BARELLI, Breno Giordano Pensa. Design para a sustentabilidade: modelo de cadeia produtiva do bambu laminado colado (blc) e seus produtos. 2009. 152 p. Dissertao - Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (Unesp), Bauru - So Paulo, 2011.

    6. GHAVAMI, Khosrow; MARINHO, Albenise B. Propriedades fsicas e mecnicas do colmo inteiro do bambu na espcie Gadua angustiflia. Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e Ambiental, Campina Grande, v.9, n.1, p.107-114, 02 de abril 2004. 2005.

    7. GAION, Cristiane Pinheiro; PASCOARELI, Lus Carlos; PEREIRA, Marco Antnio dos Reis. O bambu como matria prima para o design industrial: um estudo de caso. Bauru. 6p.

    8. LAPO, Luis Eduardo Rebolo; BERALDO, Antnio Ludovico. Bambu Laminado Colado (BLC). Revista em Agronegcios e Meio Ambiente, Maring, v.1, n.2, p. 165-177, maio/agosto 2008.

    9. Barelli, Breno Giordano Pensa; PEREIRA, Marco Antnio dos Reis; LANDIM, Paula da Cruz. Design e sustentabilidade, cadeira de balano em bambu lami-nado. XIII SIMPEP, Bauru, p. 1-12, novembro de 2006.

    10. Barelli, Breno Giordano Pensa; PEREIRA, Marco Antnio dos Reis; LANDIM, Paula da Cruz. A tecnologia na confeco de prottipos em bambu laminado colado desenvolvida na Unesp-Bauru. Design, Arte e Tecnologia 4, So Paulo, p. 1-14, 2008.

  • 42 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    AVALIAO DO GESSO COM ADIO DE TERRAS DE DIATOMCEAS NA INDSTRIA DE IMAGENS SACRAS

    Marcelo Manoel Valentim Bastos, Graduado ([email protected])

    Camila Loricchio Veiga, Graduanda

    Dr. Nelson Tavares Matias, Dr.

    Dr. Paulo Sergio de Sena, Dr.

    Dr. Jorge Luiz Rosa, Dr.

    Dr. Rosinei Batista Ribeiro, Dr.

    Faculdades Integradas Teresa Dvila FATEA

    O gesso um material caracterizado a partir da cal-cinao da gipsita (CaSO4.2H2O), mineral abun-dantemente encontrado na regio nordeste do pas. Neste contexto, por meio da utilizao de pequenas quan-tidades de aditivos, geralmente em concentraes menores do que 1% possvel aprimorar tanto na propriedade me-cnica e fsica da pasta de gesso no estado fresco quanto as suas propriedades fsicas no estado endurecido de forma a atender as especificaes desejadas para cada tipo de uso (BALTAR, 2009). O gesso um material muito utilizado pela humanidade, seja na rea da construo civil, como

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 43

    revestimento e reboco, na rea de ornamentao, como na construo de esttuas e afrescos, na medicina, na odon-tologia, entre outros. Vrios estudos recentes foram feitos visando melhorar a resistncia mecnica do gesso, entre outras propriedades, como rugosidade e aderncia tinta.

    De acordo com HENAO (1997) e DOMINGUEZ & SAN-TOS (2001) as cargas retardadoras do tempo de pega do material podem ser classificadas em trs famlias, conso-nante com a sua forma de atuao:

    1. Substncias que diminuem a velocidade de dissolu-o do hemidrato;

    2. Substncias que forma reaes complexas, resultan-do em produtos pouco solveis ou insolveis ao re-dor dos cristais;

    3. Produtos orgnicos com massa molecular elevada que, misturados com gua, formam um gel ao redor dos gros.

    As terras de diatomceas, tambm denominadas diato-mito ou kiesselguhr, compostas principalmente por slica, formada pela precipitao de restos microscpicos de um grupo de protistas denominados diatomceas, so utiliza-das como elemento auxiliar no processo de filtrao de be-bidas como cerveja e chopp, alm de diversas outras utili-dades. um dos resduos que tem se tornado problemtico por no ter uma destinao muito bem aproveitada, geral-mente enviadas a aterros como material inerte. Os resduos

  • 44 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    provenientes dessa etapa de filtrao so denominados trub fino, as terras de diatomceas compem aproximadamente de 0,2% a 0,4% do mosto e de 15 a 20% da massa seca desse trub. (VEIGA, 2012)

    O Brasil o quinto maior produtor de cerveja no mun-do, e justamente devido a esse ranking, equivalente a 8,5 bilhes de litros ao ano, os efluentes, resduos slidos e emisses atmosfricas so abundantes. A quantidade de terras de diatomceas geradas por ano chega a ser enorme em uma cervejaria que produz um milho de hectolitros de cerveja, ir obter como resduo, em apenas um ano, 2000 toneladas do resduo.

    As organizaes de gesso na rea de imagens possuem destaque na economia de cidades dependentes do turismo. O projeto focou-se na cidade de Aparecida, localizada no Vale do Paraba, no Estado de So Paulo, que rene mais de 10 mi-lhes de turistas por ano, a cidade, fundada em 1717, embora s tenha se emancipado da cidade vizinha Guaratinguet em 1928, tem mais de 35 mil habitantes, de acordo com dados do IBGE, e possui um turismo intenso, principalmente religio-so, despertando o interesse de comerciantes locais.

    Dentro deste contexto, o presente trabalho ir contri-buir para a melhoria do processo de produo da JAB, uma empresa de imagens de gesso localizada em Aparecida, utilizando para isto a adio das terras de diatomceas ao gesso, contribuindo em fatores econmicos, de logstica e tambm em questes ambientais.

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 45

    Objetivos

    A proposta do projeto de pesquisa reside na avaliao da cadeia produtiva do gesso de Terras de Diatomceas como aditivo (5, 10, 15% de carga) na Indstria de Imagens Sacras, em uma empresa de imagens sacras localizada no municpio de Aparecida/SP. Dentre os objetivos especfi-cos, destacam-se:

    Organizar todo o processo e estrutura de fabricao na microempresa (Gesto da Produo e Operaes);

    Caracterizar a microestrutura do gesso com dife-rentes porcentagens de terras de diatomceas via Microscopia ptica e Eletrnica de Varredura;

    Determinar a resistncia mecnica do material por meio de ensaios mecnicos, tipo flexo e microdureza;

    Reaproveitamento de recursos (gua) e de matria--prima;

    Reduzir as paredes estruturais da imagem sacra, re-estruturando a geometria interna das imagens;

    Desenvolver estudos de tratamento de superfcie, modelagem e diferentes formas de texturas 3D.

    Desenvolvimento do trabalho

    Inicialmente, foi analisada a produo de todo o mate-rial diretamente na empresa JAB Fbrica de Imagens N. Sra. Aparecida, localizada em Aparecida, So Paulo, obten-

  • 46 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    do conhecimento necessrio para avaliar a cadeia produ-tiva e caracterizar o material com diferentes composies qumicas do gesso com adio de terras de diatomceas.

    Neste processo, foram avaliadas imagens com dimenses de 200 mm. Para caracterizao das propriedades mecni-cas e fsicas do gesso com adio de terras de diatomceas em diferentes composies, tais como: gesso puro e adies de 5%, 10% e 15% de terras de diatomceas em peso.

    O processo para confeco e de pesagem dos corpos de prova foram realizados no Laboratrio de Qumica do Ins-tituto Santa Teresa FATEA, a partir do clculo estequio-mtrico para definio da proporo ideal de gesso e gua, conforme as Figuras 1 e 2 a e b:

    Figura 1: Pesagem do material (gesso e terras de diatomceas) em diferentes composies balana analtica.

    (Fonte: VEIGA, 2012)

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 47

    Figura 2: (a) e (b) Fotografia dos moldes e corpos de prova nos valores de 5%, 10% e 15% de terras e gesso puro.

    (Fonte: VEIGA, 2012)

    Foram realizados os ensaios mecnicos de flexo trs pontos nos corpos de prova nas dimenses 110 mm x 25 mm e espessura de 8 mm, numa maquina universal tipo EMIC no Laboratrio de Ensaios Mecnicos do Departa-mento de Engenharia de Materiais da Escola de Engenharia de Lorena/SP, USP. O objetivo do ensaio foi determinar a influncia da adio das terras de diatomceas no gesso e sua funo na propriedade mecnica do produto.

  • 48 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    Figura 3: Ensaio mecnico de flexo trs pontos.

    (Fonte: VEIGA, 2012)

    Os resultados obtidos com o ensaio mecnico de flexo demonstram que a resistncia mecnica do material que se aproxima do comportamento ideal do gesso puro a compo-sio com a adio de 5% de terras de diatomceas em peso.

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 49

    Figura 4: Curva de tenso (fora N) e deformao (mm) do material com diferentes composies de terras de diatomceas.

    (Fonte: VEIGA, 2012)

    As curvas tenso e deformao revelam que no campo representado pela letra a, demonstra uma maior fora de resistncia mecnica a partir do gesso puro; no campo b apresenta uma reduo em torno de 20% na resistncia me-cnica do material com aditivo de 5% de terras de diatom-ceas. Pode se observar na legenda c uma reduo significa-tiva no material com 10% de carga.

    A microscopia ptica e eletrnica de varredura foi re-alizada no Laboratrio de Materiais de Texturas e Mo-delagens Prof. Wilson Kindlein Jnior na FATEA e no Departamento de Engenharia de Materiais EEL USP, respectivamente Figuras 5 e 6.

  • 50 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    Figura 5: Laboratrio de Materiais de Texturas e Modelagens Prof. Wilson Kindlein Jnior FATEA.

    (Fonte: Os autores, 2013)

    Figura 6: Laboratrio de Microscopia Eletrnica de Varredura USP.

    (Fonte: Os autores, 2013)

    O objetivo das sesses de microscopia foram avaliar a morfologia e a distribuio das partculas de terras de dia-tomceas na interao com o gesso aps o processo de fa-bricao. Para a realizao do MEV, as amostras sofreram um revestimento de ouro em sua superfcie de fratura aps

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 51

    o ensaio mecnico de flexo trs pontos. O equipamento uti-lizado foi o Baltec MED 020. Na microscopia foi utilizado o mtodo operacional com eltrons secundrios para avaliar a topografia da superfcie do material. Quanto ao gesso puro, a anlise morfolgica representa visualmente a formao de cristais provenientes de clcio no formato de agulhas em sentidos desordenados, conforme as Figuras 7 a e b.

    Figura 7 (a) e (b): Microscopia eletrnica de varredura do gesso puro.

    a b

    (Fonte: Os autores, 2013)

    As amostras com carga de terras de diatomceas na con-centrao de 5% promovem uma alterao na morfologia unidimensional dos cristais no formato angular e evidencia--se a possvel formao de fungos conforme a Figura 8 a e b.

  • 52 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    Figura 8 (a) e (b): Microscopia eletrnica de varredura do gesso com 5% de adio de terras de diatomceas.

    a b

    (Fonte: Os autores, 2013)

    Com o aumento da concentrao e carga das terras de diatomceas em at 10% , visualiza-se uma homogeneidade na concentrao morfolgica dos gros de acordo com a Figura 9 a e b.

    Figura 9 (a) e (b): Microscopia eletrnica de varredura do gesso com 10% de adio de terras de diatomceas.

    a b

    (Fonte: Os autores, 2013)

    Com os corpos de prova adicionados com 15% de carga,

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 53

    predomina-se a formao de fungos e de gros irregulares, alterando completamente sua morfologia.

    Figura 10 (a) e (b): Microscopia eletrnica de varredura do gesso com 15% de adio de terras de diatomceas.

    a b

    (Fonte: Os autores, 2013)

    Consideraes finais

    A proposta do projeto perpassa pelos conceitos de inova-o tecnolgica, na relao design de produto e engenharia de materiais, contextualizado pela condio socioeconmi-ca do circuito religioso do Vale Histrico no interior de So Paulo. Avaliou-se no projeto um estreitamento na relao Universidade Empresa e Comunidade, no desenvolvimen-to de produto de imagens sacras, implicando na mitigao da precarizao dos processos na empresa estudada.

    A porcentagem de carga que se aproximou do gesso puro no ensaio mecnico de flexo trs pontos foi a 5% de carga aditivada com terras de diatomceas no gesso, ca-

  • 54 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    racterizou-se via microscopia eletrnica de varredura com morfologia unidimensional dos gros e partculas de ter-ras, contribuindo para melhoria na propriedade mecnica e fsica do produto.

    Os resultados obtidos durante este processo foram mui-to satisfatrios para a empresa, superando as expectativas do produtor. Sua produo exige em mdia de 1 tonelada de gesso por ms, o que resulta numa compra de 3 toneladas a cada trs meses devido o fato dos custos de transportes serem altos em relao ao peso do material. Com a adio das terras de diatomceas houve uma reduo de cerca de do peso do material, fazendo com que os custos de trans-porte fossem reduzidos, reduo do uso de gesso, imagens finais consideravelmente mais leves, trazendo uma econo-mia grandiosa para a microempresa.

    Figura 11: Pesagem das imagens finais (a) gesso puro, (b) adio de terras de diatomceas.

    a b

    (Fonte: Os autores, 2013)

    Agradecimentos

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 55

    Os autores agradecem ao CNPq pela concesso da bolsa PIBIC Processo: 116094/2013-3.

    Referncias

    4. BALTAR, Leila Magalhes. Influncia da adio de polissacardeos nas proprie-dades fsicas do gesso alfa. Dissertao de Mestrado Universidade Federal de Pernambuco, 2009.

    5. DOMNGUEZ, L.V.; SANTOS, A.G. Manual del yeso. Madrid: Asociacin Tcnica y Empresarial del Yeso - ATEDT, 2001.

    6. HENAO, A.H.; CINCOTTO, M.A., Seleo de substncias retardadoras do tem-po de pega do gesso de construo. So Paulo: Escola Politcnica, USP,1997. (Boletim Tcnico).

    7. ULOA, P.C.; SANCHEZ, M.E.M.; RIBEIRO, R.B.; FERREIRA, B.; SILVA, J. B. A., Apro-vechamiento de los residuales cerveceros. IV Conferencia Internacional de Manejo Integrado de Zonas Costeras CARICOSTAS, 2009.

    8. VEIGA, C. L.; RIBEIRO, R.B.; SENA, P.S.; MATIAS, N.T., Avaliao da Cadeia Produ-tiva do Gesso com nano partculas de Terras de Diatomceas na Indstria de Imagens Fsicas: Dados Preliminares. 10 Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, Universidade Federal do Maranho, 2012.

  • 56 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    CADEIRAS THONET, WASSILY E CELLULAR: PROEMINNCIAS DA INOVAO E CRIATIVIDADE A

    PARTIR DOS MATERIAIS E PROCESSOS INDUSTRIAIS

    Aline Teixeira de Souza, Doutoranda.

    Paula da Cruz Landim, Dra.

    PPGDesign FAAC UniverSiDADe eSTADUAL PAULiSTA

    UniverSiDADe FeDerAL De UberLnDiA

    Este trabalho tem como objetivo apresentar uma an-lise crtica sobre o emprego dos materiais e processos industriais como fator de inovao no design de mo-bilirio. Em muitos estudos sobre inovao em mobilirio, outros fatores como valores semnticos, simblicos e con-ceituais so considerados importantes. Existe ainda a ideia equivocada de que a materializao do projeto uma etapa posterior etapa de criao e, portanto, no corresponde aos aspectos criativos e de inovao. Este trabalho apre-senta o estudo de trs mveis de estilos e pocas diferen-tes que contm todos os atributos esperados pelo design de objetos: qualidade formal/esttica, viabilidade industrial e comercial, alm de contemplar os aspectos de sade e se-

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 57

    gurana dos usurios. Entretanto, esses objetos no foram criados a partir de premissas que definiram especificamen-te os aspectos visuais, mas sim a partir da explorao de uma ideia de material construtivo novo.

    Muitos trabalhos discutem os conceitos de inovao e criatividade relacionando-os originalidade e novidade que o objeto apresenta como o caso de Ferreira (2008). Entretanto, essas questes, quando discutidas no mbito do design so abordadas no vis da inovao formal, de modo que a etapa de criao fique isolada daquelas de concretizao.

    Lima (2007), Manzini (1993) e Lefteri (2009) dedicaram suas pesquisas aos materiais e processos industriais de modo a contribuir com formao de designers proativos, evidenciando a importncia do conhecimento nesse campo para a criatividade e implementao de ideias.

    Esse estudo foi motivado pelo fato da atividade de de-sign ser complexa e mesmo sendo conduzida pela criativi-dade deve atender questes do domnio tcnico. Pretende-se contribuir com a rea de materiais e tcnicas construtivas e design, a partir do entendimento de que para ser um profis-sional atuante, o designer necessita compreender e dominar tcnicas construtivas e, saber que muitas vezes estas so as responsveis pela originalidade ou a novidade do projeto.

    1. O processo de design e a materialidade

    Os projetos de design podem ser entendidos como uma

  • 58 Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio

    srie de procedimentos ordenados que visam buscar uma soluo que atenda s necessidades dos usurios e s res-tries industriais. sequncia lgica de execuo desses procedimentos se d o nome de mtodo. O planejamento e o cumprimento de etapas estabelecidas tornam o desen-volvimento do projeto mais produtivo em menos tempo. As fases de operaes do mtodo de projeto so formadas por instrumentos que ajudam os designers a organizar e planejar o que ser feito. Apesar de se encontrar um gran-de nmero de bibliografia sobre metodologia do projeto, o mtodo de design no absoluto, nem definitivo, ele pode ser modificado de acordo com as especificidades de cada projeto. (SOUZA; MENEZES, 2010).

    As propostas de metodologia de projeto de Baxter (1998), Lbach (2001) e Munari (1998), mais comumente recomendadas para projetos gerais, possuem algumas di-ferenas bsicas, de seqncia das aes e de nomenclatu-ra, no entanto, essencialmente, elas so constitudas por quatro fases fundamentais: 1 - Levantamento de dados; 2 - Gerao de propostas; 3 - Avaliao das propostas; 4 - Realizao e implementao do produto. Essas etapas so formadas por ferramentas e tcnicas de pesquisa e projeto, que podem ser adaptadas conforme a demanda do produto a ser desenvolvido.

    Para uma viso especfica no processo projetual, a fase de preparao essencial para Gomes Filho (2006, p.234):

    Consiste na reunio dos dados relativos ao problema. Processo em que a mente fica mer gulhada em diversas

  • Rumos da Pesquisa no Design Contemporneo: Materialidade, Gesto e Servio 59

    ideias, trabalhando com associaes, combinaes, ex-panses, etc., at de ideias j existentes. Envolve raciocnio consciente e concentrado. Obviamente, ne cessrio contar com informaes acerca do problema para que seja possvel desencadear solues criativas.

    Para Ferreira (2008) as caractersticas de originalidade, novidade, singularidade e atipicidade do produto, ou seja, o que o torna nico e o distingue dos demais no mercado podem ser consideradas como um conjunto de fatores que definem o conceito de inovao. Entretanto, esses fatores no devem estar necessariamente atrelados a um ou outro atributo de design, como a aparncia do produto ou a novi-dade tecnolgica.

    Conforme Petroski (2008) no basta ter uma boa ideia. Muitas vezes, para que a ideia se concretize necessrio de-senvolver em paralelo, materiais adequados e mquinas para a produo. Isso envolve investimento, persistncia e muita experimentao at se chegar a um produto vivel. A concre-tizao de ideias envolve uma complexidade de fatores.

    Essa complexidade se torna ainda mais evidente quando se trata do ensino de materiais e processos industriais nos cursos de Design. Para Lima (2007) existe dificuldade na relao ensino/aprendizagem quando se tratam os assuntos materiais e processos industriais, pois a abordagem mui-to tcnica para os alunos e muito extensa para o professor.

    Pode-se dizer que as disciplinas de projeto trabalham num campo especulativo, com temas/problemas fictcios que em raras ocasies so prototipados. Ainda existe o fato

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    dos projetos serem generalistas, com temas que variam da caneta ao automvel, no sendo possvel tratar de todos os materiais e processos industriais de forma aprofundada.

    Manzini (1993) cita ainda que existem mais de 70.000 tipos de materiais industriais catalogados que podem ser utilizados em produtos. Esse nmero aumenta a cada dia com o desenvolvimento de pesquisas em universidades e indstrias. Lefteri (2010) explica que a forma como as in-dstrias processam os materiais nem sempre aberta ao pblico ou a designers em formao.

    Ferrante (1996) cita que alm das propriedades dos ma-teriais (que podem ser simuladas), o processo de fabricao, os suprimentos, os custos, as certificaes, o acabamento e as questes ambientais como questes imprescindveis nesse processo.

    Todos esses fatos conduzem para uma formao in-completa. Muitos designers tentam responsabilizar outros profissionais pelas questes tcnicas dos projetos, alm de confundirem a materializao do projeto com uma etapa dentro do processo que pode ser separada das demais.

    2. A Cadeira Thonet n14, a Cadeira Wassily e a Cadeira Cellular

    Existem na histria do design inmeros exemplos de objetos bem sucedidos cujo principal fator de inovao e criatividade consiste no material construtivo empregado ou na tcnica de fabricao utilizada. Dentre eles, foram

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    escolhidos para esse estudo trs mobilirios, de pocas dis-tintas, que se destacaram, influenciaram e revolucionaram a histria do mobilirio no mundo.

    2.1 A Cadeira Thonet n14

    A Cadeira Thonet n14 foi criada em 1856 por Michel Thonet. Conforme Brdek (2006) as Cadeiras Thonet apre-sentaram um sistema de produo que foi a base para um sucesso mundial: o processo de vergar madeira a quente. Sob essas cadeiras manifestava-se o princpio de grande produo com esttica reduzida, o princpio de padroniza-o utilizado para usar apenas alguns componentes idnti-cos propiciava uma reduzida linguagem formal.

    Pode-se considerar que a Thonet, na linha popular, an-tecipou o design moderno, j que funcional, atraente, ba-rata e pode ser desmontada para facilitar seu transporte. O mvel possui apenas seis peas de madeira, presas somente por parafusos. Revolucionando a ideia de uma cadeira em seu tempo, pelo fato de ser desmontvel e de ter um proces-so racional de construo.

    Segundo Brdek (2006) o modelo n14 teve, at 1930, uma produo de 50 milhes de exemplares e ainda pro-duzida atualmente, sendo a nica cadeira a ter produo continuada por mais de 150 anos. A figura 1 mostra um esboo da Cadeira Thonet.

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    Figura 1: Cadeira Thonet n14 com braos.

    (Fonte: COPYriGHT de Kelenson Silva, 2010)

    2.2 A Cadeira Wassily

    A Cadeira Wassily (figura 2) foi desenvolvida pelo designer Marcel Bre